LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Maciel Moura da Silva Pau dos Ferros/RN
UMÁRIO Mário estava cansado, deitado em seu quarto escuro, refletindo, pensando como mudaria sua situação. Morava sozinho, tinha perdido os pais ainda na adolescência, fazia seis meses que o tinham despedido do último emprego. Seu apartamento
sem
energia,
água
também
cortada,
parecia
que
estava
abandonado há muitos anos; roupas sujas, garrafas e plásticos por todos os lados, na pia uma mistura de lodo escuro, pratos cinzas e restos de comida estragada, o zumbido do moscaral verde e os objetos derrubados pelas ratazanas rompia o silêncio daquele lugar sombrio. Os amigos tinham sumido, ninguém queria estar perto de Mário. Três anos antes companhia não faltava para beber, fumar, farras na lancha nas noites claras em alto mar, drogas e orgias sem fim. Naquela época, o dinheiro ganhado na loteria parecia ser infinito, mas a cada manhã seguinte Mário se sentia mais triste e incompleto, nada o deixava tão sensível do que a sensação de abandono, um vazio incompreensível, era como estar no meio de uma multidão em um show incrível de rock, vozes loucas gritando, bebidas jogadas para cima, som muito alto e nada ver, ouvir, só sentir as batidas do próprio coração e da respiração alterada. Aos poucos o mundo de luxúria e ostentação foi dando vez às drogas, isolamento e abandono. Ele se deu conta da sua real importância para os que o rodeavam-no. A depressão chegou e fez moradia. Os choros constantes não eram mais supridos por nenhuma substância tóxica ou álcool, a vontade de se matar estava crescendo. -Será que misturar remédios e drogas daria certo? Essa dúvida não saía de sua cabeça. Pensamentos confusos, na boca o gosto de cerveja amarga, cabeça girando lentamente, o quarto se movendo, as paredes amareladas esverdeando-se, com
109