Revista LiteraLivre 35ª edição

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Volume 6, nº 35 – Set./Out. de 2022.

ISSN 2595-363X

SNIIC: AG-67335

Jacareí – SP - Brasil

Expediente:

Publicação: Bimestral

Idioma: Português

Distribuição: Gratuita online em pdf

Conselho Editorial: Ana Rosenrot, Julio Cesar Martins eAlefy Santana

Editora-chefe: Ana Rosenrot

Diagramação: Ana Rosenrot –Alefy Santana

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Olá, amigos(as) leitores(as) e autores(as), chegou a 35ª edição da LiteraLivre: nossa primavera das letras.

Nesta edição, temos uma infinidade de trabalhos inspiradores, vindos de várias partes do mundo, onde os autores(as) e artistas mostram o melhor das letras e da arte.

Temos também, o resultado do Concurso promovido pela Revista SerEsta, o Guia de Filmes, criado pelo meu amigo J. Marcos B., e duas oportunidades imperdíveis: a Antologia “Origens” e o ”Declame para Drummond 2022”.

Quero agradecer aos autores(as) participantes e aos nossos queridos(as) leitores(as), que acreditam na importância e na força das palavras em suas vidas! Literatura com liberdade sempre!

Vamos mudar o mundo através das palavras!!

Vote com consciência!!Vote com consciência!!

Neste Número:

Fantasia Visual 3

Roberto Schima..........................................3

Bicentenário da Independência do Brasil (pintura)...............................................4

Cristiane Ventre Porcini.........................4

Foto 5

Elidiomar Ribeiro.....................................5

África Gomes........................................6

Agnes Morgana Silva.............................7

Alberto Arecchi.....................................8

Alessandra Cotting Baracho................11

Aline Bischoff 13

Amélia Luz..........................................14

André Luiz Greboge............................17

Augusta Maria Reiko 18

Benedita Azevedo...............................19

Benjamim Franco................................20

Beto Filho...........................................22

Caique de Oliveira Sobreira Cruz.........24

Carlos Jorge Azevedo..........................27

Carmem Aparecida Gomes..................28

Catarina Dinis Pinto............................29

Charles Burck.....................................30

Cleidirene Rosa Machado....................33

Conceição Maciel................................35

Cristiane Ventre Porcini......................37

Daniel Cardoso Alves..........................38

Daniela Genaro 39

DéboraSConsiglio...............................40

Dias Campos......................................42

Dorilda Sousa de Almeida...................45

Edna das Dores de Oliveira Coimbra...46

Elaine Farias.......................................47

Elidiomar Ribeiro................................48

Elza Melo 49

Eva Irene Corrêa Martins.....................50

Fernando Manuel Bunga......................51

Francisco Cleiton Limeira de Sousa 52

Gabriela Alves.....................................53

Giulianno Liberalli...............................54

Guilherme Hernandez Filho.................58

Hélio Guedes......................................60

Ilmar Ribeiro da Silva..........................61

Iraci Marin..........................................62

Ivo Aparecido Franco..........................64

Jailma Pereira......................................65

JAX.....................................................66

Jeferson Ilha 69

Jeong Hana.........................................70

João Vitor Tóffoli................................72

Joedyr Bellas.......................................73

Jonathan Barbosa................................75

Joaquim Cesário de Mello....................76

Jorge Gonçalves de Abrantes...............77

José M. da Silva...................................78

José Manuel Neves..............................81

Joyce Nascimento Silva........................82

Juliana Moroni.....................................83

L. S. Danielly Bass...............................84

Leandro Emanuel Pereira.....................85

Lizédar Baptista 86

Luan Araújo de Souza.........................88

Lucca Lopes Dias Santos.....................89

Luís Amorim.......................................90

Marcel Luiz 93

Maria Carolina Fernandes Oliveira.......94

Maria Evelyn.......................................95

Maria Pia Monda.................................96

Mario Gayer do Amaral.......................98

Maura Ferreira Fischer........................99

Mayara Lopes da Costa.....................101

Mestre Tinga das Gerais 103

Mônica Monnerat..............................104

Nanna Fazzio....................................106

Nazareth Ferrari 107

Nercy Grabellos................................108

Ornélia Goecking Otoni.....................109

Ovidiu-Marius Bocsa.........................110

Paulo Cezar Tórtora..........................111

Paulo Luís Ferreira............................112

Paulo Vasconcellos...........................115

Poliana Zamboni...............................117

Raquel Lopes....................................119

Regina Alonso...................................120

Reinaldo Fernandes..........................121

Renato Massari.................................122

Ricardo Ryo Goto..............................124

Roberto Schima 126

Rommel Werneck..............................128

Roque Aloisio Weschenfelder............129

Rosa Maria Soares Bugarin 130

Rosangela Maluf...............................132

Ruan Vieira 135

Sinval Farias......................................136

Sonia Re Rocha Rodrigues.................137

Taís Curi...........................................141

Tauã Lima Verdan Rangel..................143

Teresa Azevedo................................144

Vanderlei Kroin.................................146

Vitor Sergio de Almeida 147

Wagner Azevedo Pereira...................148

Fotografia.........................................149

Roberto Schima....................................149

Fotos................................................150

Jamison Paixão......................................150

Artista do Mês..................................153

Adam West..............................................153

Caricaturas.......................................154

Jamison Paixão......................................154

Confiram a lista de Selecionados No 9º

Concurso da Revista Seresta “A Vida e a Obra de Maurício de Sousa”..............157

Declame para Drummond 2022 158 Guia De Filmes (Movie Guide)............159

Participem da antologia gratuita “Origens”..........................................160

LiteraAmigos....................................161

Modelo de envio de textos para publicação na revista........................166

Fantasia Visual Roberto Schima Itanhaém/SP
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Bicentenário da Independência do Brasil (pintura)

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LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 Foto Elidiomar Ribeiro Rio de Janeiro/RJ Cajueiro da Praia, Piauí Novembro de 2018 https://www.instagram.com/labeuc.elidiomar/ https://twitter.com/Elidiomar_ 5

África Gomes Luanda, Angola

A Chegada do Wayame!

Ela gemia por tudo que era canto, gritava mais bem suavemente, nunca antes havia presenciado algum sem igual, ela só dizia quero ir embora, sai já, esta demora muito, procurava enis posições para assim a doer bradar, e em leves segundos tentar desanuviar, era uma guerra impossível, era dor forte, eu conseguia sentir seu frio e medo ao mesmo tempo, era primeira vez ,ela só queria dessa sensação se livrar, mais era uma emoção sem explicação que á deixava stressada com o corpo dorido, coração transbordante e esperança nos braços !

Eu juro que fiquei com certa pena, pois eu não tinha como ajudar minimizar nada, só podia dizer que vai ficar tudo bem, aguenta falta pouco, mais as horas passavam e nada , que desespero , era anseia, vontade medo, desejo mais força que movia ela para todo canto. Que espera mais agonizante mas fascinante, e foi então que ao sol se pôr veio a luz, a esperança, a certeza, o sonho esperando, a pureza no olhar, a representação mais pura do amor, é que depois da tempestade vem sempre a bonança e certeza de que o amanhã é primavera.

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O Amor Tem Dessas Coisas

Ali, sentada na cadeira do meu quarto, Me encontrei em um estado deplorável de agonia absoluta, Não queria ser incomodada, não queria ser encontrada.

Tal sentimento uma hora agradou-me, outra hora doeu.

Talvez eu tenha perdido o habito de sorrir.

Mas o amor é uma das coisas mais belas e naturais deste mundo, Você me disse,

O amor tem dessas coisas...

E apesar dessa sua alegre manifestação agradar-me, Não a quero mais, pois o mesmo amor que me salvou, também me destruiu.

E embora eu escreva para dar vida de novo a quem eu amei, Essa será a última vez que te darei vida em palavras.

Agnes Morgana Silva Juazeiro do Norte/CE
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Amor Sem Esperança

Há muitos anos, eu estava ensinando em Argel, na Faculdade de Arquitetura. Conheci uma jovem, recém-formada, que tinha aviado um relacionamento por correspondência com um pintor espanhol. Os dois se encontraram em sintonia, trocaram fotos, e se conheceram durante umas férias na França, chegando a amar-se. Ele vinha a Argel para vê-la cada vez que podia. A menina pertencia a uma das famílias mais proeminentes de Argel e tinha um grande medo dos pais, porque sabia que eles nunca teriam aprovado, nem aceite, um relacionamento ou até um casamento com um estrangeiro. Naquele país, a igualdade social das mulheres mantinha-se um objetivo distante. O casamento de uma argelina com um homem estrangeiro não tinha nenhuma validade legal (enquanto o oposto era admitido). Para obter o seu passaporte, uma mulher devia apresentar uma garantia assinada por seu pai, marido ou

um parente do sexo masculino, “responsável” dela.

Uma história corria naqueles dias em todos os lábios, havia mesmo sido publicada na imprensa internacional. Uma jovem argelina tinha-se casado com um jovem europeu, apesar da oposição de sua família. Seus irmãos tinham-na muito perseguida e haviam-na seqüestrado repetidamente, na França, na Bélgica e, finalmente, com a ajuda dos serviços secretos do país, até no Canadá, onde o casal havia-se refugiado sob um apelido falso. Uma vez reconduzida ao país em um avião privado, a menina foi obrigada a casar com um homem a quem sua família havia prometido, desde a infância dela.

Voltemos para as minhas memórias. A jovem recém-formada quis matricular-se em um curso de especialização. Assim, cada dia, o

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motorista da família a acompanhava até a Faculdade, indo do centro até à periferia leste da cidade. Ali estava o pintor apaixonado, à sua espera, quando vinha a Argélia por ela. De táxi, ou com outros meios, eles passavam a viver sua história de amor efêmero. Por parte da tarde ela voltava à universidade, onde o motorista vinha para levá-la para casa. O pintor alugava um quarto em uma pensão no centro da cidade, mesmo em frente à casa da amada, a fim de oferecer-lhe um último adeus da noite. Ela olhava por trás das persianas semicerradas da janela, com uma lâmpada acesa que dava vislumbres.

A menina era amiga de uma estudante que participava de minhas aulas. Eu não posso negar que entre essa estudante e mim intercorresse uma atração. Sua família, no entanto, estava também rigidamente ancorada na tradição. Nesse emaranhado de situações amorosas difíceis, várias vezes aproveitamos de algumas horas de liberdade para nos dedicar a “fugidas de quatro”. Saíamos com o meu carro para as mais belas praias a oeste da cidade, perto das ruínas de Tipasa, entre as memórias dos marinheiros fenícios, da

colonização romana, do cristianismo primitivo.

Sob o céu limpo, as ondas espumosas do Mediterrâneo corriam a bater na areia, evocando mitos antigos. O riso de meninas felizes. Praias fabulosas, em que podíamos tomar sol nos dias da semana, longe de olhares indiscretos, no meio dos esqueletos fósseis de tartarugas gigantes petrificadas, como fossem navios no desembarque, atingidos pelos raios vingadores de uma divindade antiga. Eu estava deitado dentro de uma dessas tartarugas, cuja carapaça havia sido perfurada pelas vicissitudes do tempo. Era uma cama incômoda, pois na placa ventral ficava incrustada uma parte do esqueleto petrificado da tartaruga... Mas quanto charme, no sentimento de sentir-me “incorporado” em um ser, vivido quem sabe quantos milhares de anos antes.

LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 No meio da tarde tínhamos que voltar para a Faculdade, onde a namorada do pintor podia esperar o motorista do pai dela. O pintor voltava à cidade comigo e jantávamos juntos. Ele me contou um

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pouco sobre sua vida. Era um homem bem-sucedido, que assistia a alta sociedade e conhecia o mundo, bem como era ardente prosélito da Maçonaria. Imbuído com racionalismo e com a fé no progresso humano, ele não podia perceber que uma brilhante família da sociedade argelina consideraria sua filha como uma propriedade, em vez de tratá-la como um ser humano, e respeitar sua própria vontade. Depois de jantar, íamos para uma caminhada ao longo da rue Didouche Mourad, a que os franceses chamavam rue Michelet, entre as mansões da era colonial, o tráfego que enfrentava rugindo a subida, as pessoas que saíam do restaurante para o cinema, a prostituta na esquina, vestida com um véu branco e seu rosto coberto pelo haik (que nos chamávamos de açaimo). No horário combinado, o pintor ficava sob a janela de sua amada, para oferecer-lhe um último adeus de despedida. Parecia reviver a fabulosa história de Romeu e Julieta.

Um dia, com a cumplicidade de uma irmã casada e do marido dela, a jovem argelina conseguiu obter um passaporte

e fugiu para a Europa, onde se casou com o pintor. Uma ação muito romântica, com o clássico recado deixado para os pais, sobre a mesa em seu quarto. Eu gostava de tentar imaginar o cheiro de pó de arroz que aquele bilhete de recado devia ter, e a moldura dourada, ou talvez rosa ou turquesa, como a dos bilhetes de outra vez.

Naquela época eu estava de férias, então aprendi a notícia só quando voltei. Um oficial da inteligência veio para entrevistar a metade da faculdade de arquitetura. Eu estava entre os candidatos nessas entrevistas, e realmente não sabia se o casal tinha ido para França, Espanha ou para qualquer outro lugar. Eu nunca soube exatamente como acabou a história, mas poucos meses depois vi a jovem de regresso em Argel. Ela havia retornado sozinha. Eu não encontrei a coragem de perguntar-lhe o que tinha acontecido. Nunca mais vi o pintor. Ainda guardo, no fundo de uma gaveta, algumas fotos dessas escapadas românticas para a praia.

https://www.liutprand.it

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A cor da penitência

Dizem que quanto mais avermelhado o céu, mais seco será o dia seguinte. “Nenhum sinal de chuva hoje.” Diana murmurou pra garota que passou por ela feito um raio. “Vem, quero te mostrar uma coisa.” De onde eu a conheço? Não consigo me lembrar, filha de alguém, talvez... “Vem comigo!” Devo estar sonhando. Vamos, lembre: apertar os olhos, beliscar o braço e abrir os olhos de uma vez. Estava à beira de um penhasco. “Olha, Frigilliana, a cidade branca da Espanha.” Pôde ver um emaranhado de casinhas alvas que desciam recobrindo a serra, em algumas partes pareciam brotar pelas frestas. “É linda, mas tenho que ir agora.” Desceram, não conseguindo se desvencilhar do convite “Você ainda tem tempo, vem, vou te levar na catedral.” Seguiram por uma rua estreita até chegar a uma construção de pedra marmorizada. Na parte superior, uma porta semiaberta chamou a atenção dela. “Chamam de quarto da

penitência.” se apressou a menina. No cubículo havia uma cama e uma vela branca apagada sob a janela, dela se via uma parede montanhosa. Nenhuma cor, nenhuma luz. Uma clausura. De repente estavam no litoral – Um sonho dentro do sonho –Viu-se correndo atrás da garota desconhecida, outra vez a sensação de estar fora da realidade. “Vem ver que lindo.” A garota saiu em disparada. Chegaram a uma praia de areia escura, o mar escorrendo dentre as formações rochosas. Diana tentava alcançá-la, mas ela parecia cada vez mais distante, a voz se tornando um eco que se fundia ao som das ondas. A garota olhou pra trás, o sorriso se transformado numa expressão de dor. Então ela percebeu que a menina tinha a fisionomia da filha.

Acordou exacerbada, o cabelo carapinha empapado de suor e lágrimas azedas. O mesmo gosto

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salobro, o mesmo embrulho no estômago, a mesma paisagem do pátio que nada lembrava o cenário do seu martírio, já a água presente em cada pesadelo estava lá, era de verdade, impunha-se aos jorros pelo chafariz que adornava o banho de sol estático. Podia

sentir os respingos no braço, a umidade trazendo a lembrança da filha sendo tragada pelo mar. Trinta anos se passaram sem que nenhum consolo houvesse pra ela, apenas a bruma espessa, a brancura que não a deixava se desvencilhar do passado.

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Relógio Parado

Naquele concomitante instante, O meu relógio atônito parou, Quando meu amado, hesitante A sua última frase, pronunciou.

Ao ar, me vi então suspensa, Dentro de uma bolha imensa, Sobrevoando placidamente, A tudo olhando, claramente.

Os galhos não mais balançavam, Os pássaros não mais cantavam, Meu coração não mais se ouvia, Menor ação que fosse, ali havia.

E desde esse infausto momento, Vivo em um mundo paralisado, A espera do relojoeiro do tempo, Ter o meu relógio consertado. https://www.facebook.com/AlineBischoffArtes

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Crônica:Triângulo Doloroso: Guerra Dos Sexos.

— Não, não posso! Saiba que a minha direção corre sempre no sentido da sua, de estar com você o resto da minha vida. Preciso ser feliz, conquistar a minha liberdade, mas não posso!

— Como deixar os meus compromissos, os meus clientes, a organização à qual estou profissionalmente ligado? Como deixar meus números, famosos números, ditadores de toda a minha vida? Ah!... Tenha paciência, sem eles eu não sobreviveria... Aqui onde moro está a minha independência, o meu status, a minha situação de relevância na sociedade em que estou inserido. Deixar? Estou batalhando. Estou contornando. Vai dar tudo certo, certinho, você vai ver.

É aqui o meu ponto de apoio comercial, onde posso manter o meu carro novo, a minha casa recém-reformada, a posição privilegiada da minha família. Aliás, por falar nela, como deixar os meus filhos sozinhos, sem a minha cobertura, sem a minha proteção?

Sim, é de você que eu gosto, é só com você que eu converso, com quem eu troco

minhas idéias. Você é o meu “papocabeça”. Mas, veja, é complicado! Tudo é muito complicado! Sim, quinze aninhos já se passaram, já estamos com quase sete décadas de vida, mas continuo contornando, continuo batalhando...

Assim, acho melhor você se conformar com esse meu esquema costumeiro. Uma vez por semana, sim, a sabatina, os jornais, as revistas, os deliciosos biscoitos açucarados que eu levo com carinho para adoçá-la um pouco, deixando-a menos amarga com as suas perguntas que me confundem...

Imagine o que faria a Madame X se eu me decidisse e rompesse com tudo? A casa cairia na minha cabeça! Não quero nem pensar, sair de cuecas de um casamento de mais de quatro décadas? E os bens? Conquistados com o suor da minha cara! No fundo penso que tudo, tudo me prende até o ressonar da Madame X. É com ela com quem me deito todas as noites, dividimos a cama, os cobertores, o quarto, a casa, o bom ou o mau humor, os

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Pirapetinga/MG
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filhos, os netos e até os bisnetos e tataranetos que um dia virão. Não tem jeito!Avida nos fez assim, nós somos indivisíveis: eu, ela e os nossos bens!

Sei que você está sozinha, passando uma baita solidão, sem ninguém a seu lado para lhe dar atenção. Isso me dói, tenha certeza, mas, na prática, nada posso fazer. A não ser continuar engabelando os seus sonhos de mulher meio “desantenada”. Repito, a culpa é toda minha eu é tenho que tomar uma posição!

Percebeu que nem mais respondo como no princípio do nosso relacionamento: “Deixo tudo por sua causa. Vamos ficar sempre juntos... Vou lhe trazer para o Vale da Ilusão, lhe dar uma casa com flores nas jardineiras, um rosto, uma definição digna”?!

Sabe, eu nem pensava que você iria acreditar! Pensei numa conquista barata, num contato relâmpago, coisa sem importância e depois cada um para o seu canto, mas que contratempo, a coisa veio para durar!

Olha, time que está ganhando não se mexe e o meu casamento já tem quase meio século. Já planejam até a festa de Bodas de Ouro. Na verdade, vou ser sincero não me amarro muito nos seus problemas, você tem se virado bem até agora, não me incomoda, não me exige nada e comodamente vamos vivendo esse circo que construímos para nós até que a lona pegue fogo. Eu finjo que vou

um dia e você finge que acredita que eu irei decidir a seu favor e tudo continua na mesma novela, que nós dois, entre tapas e beijos, vamos vivendo. E mais janeiros vão passando, tudo arrumadinho do meu modo. As regras do jogo estão aqui em minhas mãos... Não se esqueça de que o HOMEM sou EU e as regras do jogo estão sempre em MINHAS mãos. Não, não é machismo, é lidar com a realidade, com os pés no chão, sem pender para sentimentalismos.

Sei que sente falta de mim e tenho até uma ponta de remorso por causa disso. Confesso que sou agarrado, agarrado a muitas amarras... Não quero desapontála... Você é a pessoa ideal para mim..., mas tantas coisas me acorrentam. Se eu acabei com o seu casamento eu sei, você poderia ter levado vida dupla. Preferiu dar uma de Maria Honesta abrindo mão de tantos anos de convivência. Para mim não é tão fácil. Você foi impetuosa, no impulso da paixão. Com os homens é bem diferente, dá para acomodar relações duplas, triplas sem nenhum problema de consciência. Não, não sou canalha não! Sou prático e calculista.

Os homens são muito complicados nessa relação “números x coração”. A vida tem que ser vista de forma real, ou melhor, comercial. O meu mundo, imperdível

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mundo, é o meu trabalho que está em primeiro plano para mim. Sempre digo e repito “quando não se tem solução para a causa é porque ela já foi solucionada”, palavras que não são minhas e que li nas “essências”. E não se esqueça de que para todo problema “o silêncio é sempre o melhor remédio”!

Ir aí, hoje??? Nem pensar!!! Sei que é feriado, dia santo, natal, seu aniversário, sei lá, isso não me importa! O que me importa é que tenho compromisso de trabalho e trabalho para mim está acima de todas as coisas. É o meu mundo comercial que você não alcança. E depois que desculpa teria para dar à Madame X? Ela está lá sempre à Luiz

XV me esperando com o chicote da autoridade nas mãos. Casamento é casamento. Literalmente carrego a cruz até o fim.

Ah! ...Agora tenho pressa, já estou na pista e tenho que ir logo. São aqueles contatos com clientes de sábados e domingos, tão importantes para garantirem os meus números. Por favor, entenda! Amante tem de ser amante, se comportar como amante, viver como amante, calar a boca como amante sem direito a reclamar. Afinal, você já sabia que eu era... CASADO!

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O poeta na borboleta

Mas que careta É essa de quem não gostou? Você quer? Te dou uma flor violeta!

Já disse que não te dou! Mas deixa de ser xereta! Fique aí mesmo onde parou!

Não te dou as minhas palavras secretas!

E quem te disse que sou poeta Que te ama, minha borboleta?

Eu te dou o sorvete antes que derreta, Mas não te dou a minha caneta Nem as minhas palavras da gaveta.

Te dou pimenta malagueta Se você mexer na minha papeleta. Curiosa querendo saber da historieta!

Já te dei flor violeta E você ainda reclamou Querendo a luz do cometa ou Tocaria trombeta

Para eu não dormir após o seu show. Mas é problema seu se não gostou!

Querendo as minhas palavras de poeta Só porque você me completa Como a flor que de novo desabrochou.

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Naquela noite bendita

Ao som de canção bonita, Ao te encontrar lá na festa; Levando-me pelo braço Num doce e gostoso abraço Coração se manifesta.

São tão grandes emoções Que somente tu transpões, Ao levar-me junto ao peito; A terna coreografia Com toda aquela harmonia Deixou-me um pouco sem jeito.

Mas, com firme decisão, Seguraste em minha mão Logo entrei em teu compasso; Levas-me então a girar E teu passo acompanhar Esquecendo o embaraço.

Gemendo o bandoneon Com música em meio-tom Apertas-me na cintura; Teu corpo junto do meu No balanço estremeceu Abraças-me com ternura.

Levitando no salão Senti que meu coração Ritmado com o teu... No tango comemorou Palpitando, se enredou E em teu peito se perdeu.

Nosso tango!

Benedita_azevedo@yahoo.com.br www.beneditaazevedo.com

Benedita Azevedo Praia do Anil, Magé/RJ
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Escrito-Tempo

Estar longe do coletivo não era assustador como imaginava. Na verdade, era libertador. As histórias dos antigos, de monstros reais e imaginários, e a prática do banimento como castigo máximo – tudo isto era mais assustador do que aquilo que estava vendo.

Por mais que o mormaço e o calor machucassem, Enzo se sentia leve, livre. Queria cantar, mas sabia não ser sensato: não estar sob o olhar dos antigos, o alcance dos guerreiros, também não significava segurança. Não poderia imaginar como fora o campo: as curvas das montanhas eram bonitas o bastante. Melhor do que o alojamento, tão claustrofóbico.

A cidade antiga estava ao alcance. O que sobrou dela. Fora ignorada no Dia do Juízo, segundo as histórias herdadas dos antigos: mas conflitos, fome, e doença a fizeram secar e morrer. O estômago de Enzo roncou: ele não queria mais cantar. Símbolos e marcações demarcavam o lugar: pintados nas paredes, fincados em postes, gravados e arranhados nas mais diversas estruturas. Para ele, não importava nada.

Com a exceção de VENENO, PERIGO, NÃO ENTRE, e, mais importante, ENZO, as palavras não lhe significavam nada. Talvez seja por isso que aquela caixa de metal no meio da praça, grande o bastante para abrigar meia dúzia de pessoas, lhe foi apelativa. “Capaz de ter comida lá”, ele disse, pensando alto. Mal lembrava que precisaria levar o que encontrasse para o alojamento.

Como o menor macho do coletivo, a tarefa era feita para ele. Como adulto mais jovem, era descartável o suficiente: não faria falta se não voltasse.

Na porta de correr, buracos de balas. Mas era um abrigo. O trovejar, e as primeiras gotas de chuva, reforçaram a ideia de conferir o que havia ali. A porta era pesada, estava travada. Enzo precisou de toda a força para levantá-la, e mesmo assim, apenas o suficiente para alguém de seu tamanho passar. Enzo sacudiu seu bastão, procurando por perigos, bichos, armadilhas: não encontrando nada, decidiu entrar.

O céu escurecia, e a luz que vazava através dos buracos de bala desaparecia. Enzo ligou sua lanterna:

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dentro da caixa, haviam pilhas de papel dobrado, porosas ao toque.

Nas paredes de metal, haviam cartazes envelhecidos, com fotos de coisas que pareciam 3 pás, propaganda política, e banners cheios de objetos do passado, espremidos entre textos e cores. E havia um expositor, repleto de cacos de vidros, com apenas um objeto dentro, uma mistura entre cartaz, foto, e livro, tão pequeno e delicado.

Refletia a luz da lanterna: era vermelho, e na sua frente, havia o retrato de um velho raivoso. Enzo o apanhou, e o objeto se abriu. Dentro dele, estavam as coisas mais lindas que ele já viu.

Havia pessoas, gente feia, sim: velhas e feias e bravas, mas de trajes novos, bem-cuidados, inteiros. A comida era tão grande, reluzente, e apetitosa, mesmo que Enzo não soubesse se era doce, amargo ou salgado. Havia carros brilhantes e prédios imensos; bichos de pelagem cheia, lustrosa, sem falhas. Os homens musculosos e as mulheres esbeltas faziam até mesmo os membros mais belos do coletivo parecer feios,

comuns, ridículos. E mesmo as palavras, de tão nítidas e vivas, lhe soavam como importantes segredos.

Enzo olhava as imagens de novo e de novo, até a chuva passar, através da noite, e até a bateria da lanterna acabar; lambeu a comida, apalpou os prédios e objetos e as pessoas, se deu prazer ao ver aqueles corpos. Foi o melhor dia de sua vida.

Era meio-dia quando ele acordou, cansado, faminto, dolorido. Assustado pelas batidas na porta de metal. Gritavam para que ele abrisse a porta. Ele não sabia o que fazer.

Um homem grande ergueu a porta; Enzo levantou as mãos, ainda segurando a revista, e levou um tiro.

Após o disparo, silêncio.

Os homens trocaram palavras. “Achou alguma coisa?”

“Nada de mais. Só uma revista”.

O atirador a tomou da mão de Enzo. Folhearam a revista, gargalhando.

twitter.com/benjamimfranco

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Sapatos De Salto

Os saltos eram altinhos, uns seis ou oito centímetros.

Ao mirar a cena desenhada em minha cama, tentei imaginar por quantos lugares esses saltos haviam passado.

E se tivessem tocado as ruas do centro da cidade? Ratazanas, baratas, urina, fluídos diversos. E se tivessem amassado um cocô de cachorro? Ou coisa pior...

Mesmo se tratando de um salto alto, o solado suspenso, o fato é que alguma coisa sempre respinga na gente.

Pensei no chão dos banheiros das boates e dos bares, nas cabines químicas. O chão aceita tudo.

Pois eu não podia entender como ela fora capaz de dormir com os sapatos!

Até que com a roupa do corpo, suada e suja, vá lá. Com a maquiagem e um gosto de uísque na boca, também vá lá.

Mas com os sapatos?!

Ela continuava deitada ali, na minha cama, virada para o lado do seu braço esquerdo e imóvel.

Espiei o seu corpo magro, jovem, liso e vi manchas de cor amarronzada nas laterais do pé direito. Reparei bem

os pés, os dedinhos delicados, embora as pontas das unhas, pintadas de um vermelho descascado, também estivessem um tanto amarronzadas.

Observei com bastante cuidado e constatei que aquela textura não era de cocô de cachorro; e nem de gente.

O mais provável é que ela tenha afundado os saltos numa superfície de terra úmida, talvez ao sair de uma casa modesta da periferia. Pisou e não recuou; foi em frente, soberana.

Eu não sabia nada a seu respeito. Tínhamos nos conhecido de madrugada, numa avenida movimentada da região sul, quando fui sugado por suas pálpebras azuladas, por sua boca vermelha, por seu semblante indefinido e aéreo.

Um vestidinho colante realçava as suas poucas curvas, os seios estavam empinados pelo sutiã. O cabelo era tão comprido que devia ser falso. E as longas unhas nos dedos das mãos, certamente, eram tão postiças quanto os cílios.

Mas foi aquele semblante vago, displicente, o que realmente me dominou.

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Sem ter muito o que dizer, parei o carro, olhei para ela e disse “oi”. Ela me respondeu com outro “oi”. A sua voz estava meio travada, assim como a minha.

Ofereci carona para lugar nenhum e ela aceitou.

Segui para a minha casa e não me lembro do que falamos no trajeto. Acho que nem cheguei a dizer para onde íamos, e ela também não fez nenhum questionamento. Mascava um chicletes sabor hortelã, que deixava um cheirinho gostoso no carro.

Quando chegamos, ela quis saber se havia uísque. Fui ao banheiro e ao voltar ela já dormia, encolhida e com os sapatos. Dormi também, mas tirei os meus.

Nem sei por que fomos parar na minha cama, na minha casa. Por algum motivo, eu queria levá-la comigo. Era só isso.

Por volta das dez horas da manhã, ela acordou meio atordoada. A expressão em seu rosto era outra. O semblante era tenso. Precisava partir às pressas. Havia a filha pequena, a moça que tomava conta da criança, o horário opressor.

Sugeri um café. Recusou. Conferindo o celular, equilibrou-se nos saltos. Ajustou o cabelo e a roupa do

corpo, que nem havia tirado, enquanto mirava o espelho do armário.

Perguntei se precisava de alguma coisa, ela me pediu uma ajuda para o táxi. Dei uma quantia boa. Agradeceu e disse tchau. Nem fez xixi.

Ouvi o “toc toc” dos saltos e a porta da rua se abrindo; depois, a porta se fechou num barulho seco.

Imaginei que poderia encontrá-la pela noite, o rosto marcado de gliter, a pele branca e macia como a neve; e aquele semblante aéreo, indefinido, tão incerto quanto os sentimentos que me vinham.

Por que ela não tirou os sapatos? Preguiça? Pudor? Por nada?

Difícil saber, mas sei que aqueles sapatos de salto eram inibidores. Eles como que formavam uma rede de proteção para os pés e o corpo todo. Eles me repeliam.

Levantei-me da cama e, na saída do quarto, pisei em algo grudento. Era um chicletes sabor hortelã, levemente amarronzado.

Tive vontade de guardar aquela massinha suja.

Joguei-a no lixo, tomei água gelada, voltei a dormir.

Eu nem sabia o nome dela.

@sorbilliroberto
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Vó Odete

É surpreendente e invejável o extremo vigor da minha avó, "Dona Odete", com os seus avançados 88 anos de idade. Uma raiz extraordinariamente fincada que segue resistindo ante as piores tempestades e calamidades, com o afronte de quem sabe resistir, persistir e superar barreiras de todas as ordens. O grande literato do século XIX, Honoré de Balzac, mediante o seu realismo estético, provavelmente lavraria tal personagem, a grosso modo, da seguinte forma:

As mãos, com incontáveis calos, demonstram o ardor de uma vida inteira de trabalho, destinada a realizar as obras da sociedade, gerando novo valor e, portanto, caracterizando-se como uma inveterada trabalhadora, pertencente ao "populacho", à "plebe" e aos famosos "pés de poeira", em nosso contexto, às "massas". A pele é totalmente marcada pelas agruras da seca e do sol quente na face, por décadas (88 primaveras), sem a

proteção de fórmulas químicas destinadas a absorver e amortecer a intensidade da radiação ultravioleta, de tal sorte que tanto o UVA quanto o UVB já se tornaram os seus principais companheiros. Os olhos, incontornavelmente espezinhados, tão caídos que podem expressar, por intermédio de uma linguagem não vocalizada, que estes globos oculares, em conjunto com as órbitas, presenciaram muitas catástrofes sociais e, também, individuais, que, talvez, nem mesmo a aritmética possa precisar, apenas assinalar com um símbolo: ♾. As olheiras apontam para alguém que guarda os sofrimentos de todos para si. Ao "decair do crepúsculo" encontra-se digladiando contra esses sofrimentos, um embate recorrente, datado para todos os dias antes de adormecer. Todavia, apesar dos pesares, sabores e dissabores da vida, os olhos continuam abertos, atentos e

Caique de Oliveira Sobreira Cruz Salvador/BA
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prontos para distribuir afeto. Somente o universo orgânico e a natureza podem compreender a razão desses olhos, diante de todas as mazelas, não fecharem. Eu, no limiar dos meus parcos 28 anos de idade, tendo compartilhado, em muito, algumas tragédias familiares que ela também sofreu amargamente, tenho preferido que os meus olhos se fechem para sempre e eu possa descansar intimamente com a natureza. Noutro giro, como é possível essa mulher que logo completará nove décadas ainda estar de pé? Como pode ser a matriz fundante da nossa casa (os “Oliveiras”), o pilar da nossa árvore genealógica? Nem os melhores livros que eu li, apontam-me uma resposta aproximada, mas, a bem da verdade, é que ela é muito mais forte do que eu, e nenhuma intelectualidade me concedeu tal envergadura. Os cabelos pintados, registram o desejo de permanecer como sempre foram, sendo a mais categórica representação de que há uma guerreira disposta a continuar o seu trajeto por mais anos, com a sabedoria de que ainda há muito o que fazer, por nós e, pelo mundo. A caneta nas mãos de quem nunca teve acesso e direito à alfabetização escolar-formal, são

significativos da busca por alcançar aquilo que a sociedade lhe negou. Relembrando aos incautos que os seres humanos fazem a sua própria história, porém, não a fazem sob as circunstâncias que querem ou que escolhem como mais viáveis, mas, sim, pelas tendências que o sociometabolismo do capital lhes impõem como horizontes limítrofes. Ela teve que aprender sozinha e mostrar que podia neste mundo em que nunca fomos, haja vista que, no mundo em que queremos e seremos, todos devem ter acesso ao conhecimento (muito mais do que o escolar-formal). Porquanto que, a despeito das desigualdades sociais, ela se levantou diante do capital e do Estado que restringiram o seu direito básico a saber escrever o seu próprio nome. Seca, miséria, exploração, opressão, falta de oportunidades, o não acesso à “educação”, discriminação, o pão que o diabo amassou, não foram capazes de derrubá-la.

Essa arcada lhe confere a força física, mental e a retidão moral para estar de pé. Essa é a envergadura da classe trabalhadora, os mais fortes

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que temos. "Dona Odete" é um exemplar clássico do que observou Marx ao ter os seus primeiros contatos com os trabalhadores, e avistou ali, segundo ele, a verdadeira civilidade, a verdadeira solidariedade que abria um leque de possibilidades para uma nova sociedade igualitária, livre e justa. A bondade estava lá, também a ajuda mútua, o respeito e, sobretudo, o “calejamento” (não a técnica artística, mas na terminologia do senso comum) para aguentar sustentar a sociedade nas costas.

Então, não podemos deixar de acreditar que esse mundo possa ser transformado, pois existem várias "Donas Odetes" nele, que guardam em si a potencialidade e a vitalidade capaz de revirar a nossa história e, pelas suas mãos, construir novos horizontes

LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 A verdade é que "Dona Odete", aos 88 anos, é a mais forte trabalhadora que temos em uma ramificação de mais de 50 descendentes. Se entre os patrícios, eles têm uma "Rainha" de 96 anos, nós, aqui, teremos certamente, uma proletária centenária, em breve.

societais. A classe trabalhadora é portadora das possiblidades de um novo mundo, "as parteiras do novo mundo" em alusão ao camarada Engels, é a classe que contém as condições objetivas e, se amadurecidas, as subjetivas, para carregar o destino da humanidade, a emancipação geral do gênero humano, o fim das explorações e opressões, impondo fim ao nosso “interregno” de “sintomas mórbidos”.

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Abrigo

São os sonhos que nos têm de pé E fazem prosseguir por objetivos Mantendo a esperança e a fé E todos os projetos bem ativos. Fundemos um forte pra albergar Qualquer ser sensível com a sua crença, Abrigo aberto de par em par, De todos, onde caiba a diferença. Que o arco-íris se aviste do forte E qual seja o género ou raça Se sinta que é lugar de inclusão, Ninho onde ninguém perca seu porte E retidão naquilo que se faça, Que aí domine a união!

Santa Marinha do Zêzere- Baião, Portugal
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Carmem Aparecida Gomes Ipameri/GO

Leia Com Cuidado

Talvez eu esteja pagando caro, não sei se é o preço justo por deixar-te me amar.

Leia com cuidado essas tristes palavras para que os seus dedos não afunde em minhas lágrimas. Enquanto escrevo com dificuldade, com lágrimas nos olhos, coração ferido eu peço mais uma vez que leia com cuidado para não machucar mais ainda as minhas feridas.

Não são feridas líricas, são versos tristes e fúnebres embalados em papel negro, com laços catastróficos.

Você não me magoou somente me amou e depois como uma folha seca no vento partiu. Voou...

Levo-te comigo “in memorian” em minhas lembranças, nessa minha triste memória. Não culpe o mundo ou o meu e seu amor profundo. Foi um erro na penumbra da madrugada.

Eu estou agora no mundo frio do lamento... Eu só queria poder te levantar e trazê-lo de volta e nosso amor nobre despertar, juntar as cinzas de nossa história. Leia com cuidado, pois essa história triste de amor jaz nas asas de um lindo Beija-flor andarilho que vive de beijar todas as flores a procura de meu amor e de minha alegria que se foi.

Leia com cuidado, pois acabo de deixar cair sobre o poema duas gotas de lágrimas... É que um certo Beija-flor me contou que as cinzas de nosso amor jaz para sempre no fundo do mar azul.

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Catarina Dinis Pinto Amarante, Portugal

Expedição Divina

O amor desenha-se com tinta, Melodia que grita, Que há tanta ilusão, No incerto coração.

E ainda há quem insista, Que diga que viva como ermita, Sem conhecer a sensação, De amar com inspiração.

Não há palavra que minta, Quando o teu olhar me finta, A alma não tem condição, Presa a tua afeição.

O meu corpo tilinta, A mente faminta, Em ti faço uma expedição, Por viver com tanta devoção.

2022-07-28

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O desafio das trevas

Eu morava no rosto de uma mulher

Que morava tão longe, Sem portos, sem mar

Eu morava na face de uma mulher a namorar as ondas, A velejar as distâncias E namorava uma mulher que nem sabia que eu a via E caminhava na praia sem saber que me afogou o navegador, Num refluxo de beijos de mares revoltos Como uma loucura amorosa Sem um destino sequer no mapa do amor

Eu morri nos olhos de uma mulher que me cegou o horizonte Que sangrou o meu nome no veio de uma solidão

Eu bebi do meu sangue ácido em nome de um amor mais doce, De uma revelação

Que assaltado por dias de mágoa, Como a última refeição de um condenado. Eu a vi de branco num barco na enseada, Quando as faces se afundam nas águas,

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Quando as crianças desenham os rostos na areia

Nos dias em que as praias se recolhem

E as gaivotas fogem das ondas que se perderam do mar

Quando o futuro veio cheio de fome até mim, eu dei-lhe o meu pão

E partilhei com ele a única esperança que me mantinha preso a uma tábua que flutua

o cântico de um homem, a fome de um sol negro, o desejo de uma rocha que espia no nível das ondas

Quem és tu?

A fazer mapa em meu corpo, a lançar meteoros para projetar luz em meus olhos, reflexos nas águas

Quem és tu que me cegas todos os dias para que eu não a espie mais?

As minhas mãos ainda seguram esse corrente que me arrasta ao fundo das noites, para as órbitas dos delirantes, no fio da morte, nas costuras da lua crescente

Nas almofadas dos sonhos que desejam os teus seios como um lugar de descanso Eu ainda moro

E ainda vivo em teu rosto apesar das mortes constantes

Ainda que as manhãs me continuem tão estranhas

Nos traços dos mistérios de um apelo alguém me indicou um falso caminho, uma voz que chamou-me ao fim de tudo, e me disse

“ Não olhe para o antes e nem para o depois, essa canção nunca termina numa cama, num leito ou nos braços de uma mulher

No findar da maré, se curve e ore, livre-se dos pecados da miséria, entregue tua face à loucura,

E abençoe essa boca que grita esse nome,

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E reconheça-a como uma crença, como uma prece que o protege dos demonios, Desfaça essa boca em outros beijos, Cala-te para que não te ouça o amor, a desgraça de todos os homens, Enterre no fundo dos olhos essa face, silencia sua voz antes que seja tarde

Como sendo o mar que encolhe, até uma última gota no canto dos olhos”

E eu que ainda delirava sem saber do meu destino, tapei os ouvidos à ira daquela voz, salivei pela boca, e fechei os meus olhos

A noite é tão escura e ainda temo as trevas, mas tateio na luz dos poemas, Como a única chance que possuo, Como um último desígnio

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Sobre um velho couro de boi, uma canção, uma estória

E hoje algo me chamou muito a atenção. As vezes tenho problemas com meus sapatos, as fôrmas no meu pé sempre oscilam. Tenho números desde 35 até 38 e quando algum deles me aperta, levo em um sapateiro aqui na minha cidade para que resolva meu problema. Na verdade, são dois, e sempre os mesmos sapateiros. São velhinhos, mas me parecem bastante espertos.

Então hoje, fui buscar um de meus sapatos que foram para lá com o fim de que amaciassem o couro e quando cheguei, notei que por algum aparelho de som ao fundo, tocava aquela velha música de sertanejo caipira:

"Para o senhor se mudar, meu pai, eu vim lhe pedir:

Hoje, aqui da minha casa, o senhor tem que sair

Leve este couro de boi que eu acabei de curtir

Pra lhe servir de coberta aonde o senhor dormir."

Bem, durante o desenrolar da música, um dos senhorzinhos trouxe de dentro de um cômodo privativo onde trabalhavam, um pequeno pedaço de couro preto, ainda com todos os pelinhos rústicos próprios da pele da vaca, colocou-o aberto em uma mesa diante de mim.

Voltei para a casa, mas essa cena ficou em minha mente.

Ruminei mais uma vez tudo o que vi e fiz as minhas próprias ligações situacionais me baseando em evidências.

Na verdade, aqueles dois sapateiros, não são meramente sapateiros comuns, mas, eles também fazem sapatos artesanais, sandálias e botinas, algo pouco visto hoje em dia, mas, tudo feito perfeitamente bem e com uma riqueza de detalhes incrível.

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E o que isso tem a ver com a velha música: "Couro de Boi"? Pois bem. Tem tudo a ver.

Imagine que o velhinho que foi expulso de casa pelo próprio filho, (conforme a música) e ainda ganhou apenas um pedaço de couro para cobrir a noite do sono frio... Imagine também que ele teve que dividir a metade desse couro com o neto, pois, houve o argumento de que entregaria a outra metade a seu pai futuramente, quando esse também seria expulso de casa... Bem, é possível ainda imaginar que esse velhinho que foi embora, olhou cabisbaixo e notou que tinha belos pés para andar por uma longa estrada e que

por ironia do destino ele poderia e seria capaz de criar um sapato para esses pés.

Provavelmente talvez, foi o que aconteceu, em explicação, ao ganhar um pedaço de couro, diante das necessidades, e ele também ganhou um novo ofício para sobrevivência, cobriu de inteligência outros pés que ainda estavam descobertos ou que precisavam de algo novo para serem realçados.

Sem perguntas diretas ou indagações naquele ressinto, o que dizer? Apenas, que o empreendedorismo também é vida, também é arte.

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Conceição Maciel Capanema/PA

Eternamente

Há que se sentir um amor gigantesco

Que cresça e se fortifique

Que seja como uma árvore amiga Que florescendo frutifique

E alimente as almas perdidas E seja alimento na gente Que seja oração comedida

E acalme o corpo e a mente. Que seja doce e sincero Como o encanto que espero Que escorra dos olhos

E se aconchegue no coração Do jeito que eu quero. Que seja rio caudaloso

E faça da vida um gozo De bom sentimento amoroso Que seja eterno e bondoso.

Que inspire sorrisos

E encante com o riso Cada dia da vida Que seja flor colorida Que não negue guarida Seja rosa ou margarida

Mas que faça alegre a vida. Que seja alimento para a alma Que venha logo e espalme Respire fundo e desarme Com carinho as mentes

E a pobreza da alma. Que seja sempre companhia Que semeie a poesia Que tanja para longe a nostalgia Que seja a grande magia

E faça da vida eterna alegria.

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@conmacielescritora 35

Camisa 10

Jogador correndo no campo Acelerou o coração da torcida

Um dia, o menino humilde sonhou

Vestir a camisa com as cores de seu país.

Jogava com uma bola de pano.

Mostrou seu talento e chegou ao time dos grandes.

O amor pelo esporte falou mais alto.

E ele foi defender a posição de seu país na copa. Dribles rápidos, agilidade

Gol de bicicleta, gol de cabeça, golaço. Gol de campeão!

Ganhou títulos: Bola de Prata, Bola de Ouro, Chuteira de Prata, Atleta do Século.

Jogador habilidoso, camisa 10! Time inesquecível do coração Geração de campeões!

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Jogador de Futebol

Cristiane Ventre Porcini São Paulo/SP
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(Re)nascer

A vida é assim, de uma hora para outra, tudo muda

A dor chegou inesperada, sorrateira e se revelou em crueldade desnuda Veio sob o pseudônimo de sepse, vulgo infecção generalizada aguda

Infecciosos foram os áridos dias que se seguiram Assombrados pelo medo da partida Inflamados pelo sofrimento dos meus

Em claudicante clausura, supliquei: socorre-me, Deus!

Ele me ouviu. Não desampara os seus

À desesperadora súplica, lá fora, mas em livre prisão, minha mãe ora, chora e implora:

Salvai meu filho, Nossa Senhora!

Divina mãe, que por mim, não titubeou, intercedeu na hora

E vivo estou! Por milagre?

A ciência disse que foi sorte

Mas pode, por acaso do destino, no dia do seu nascimento contrariar o diagnóstico da morte?

Não há coincidência (re)nascer no dia do seu nascer Pelo simples fato de que viver é antítese de morrer

Por isso, firmo: a bem-aveturança chegara naquele leito de morte no dia e na certa hora

E me dara a dádiva da vida como presente daquele agora Portanto, refirmo: foi Deus!

Senhor da minha sorte!

Pai que me torna forte!

@danielcalves_

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Daniela Genaro
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DéboraSConsiglio Jacareí/SP

Quinze Anos, Um Adeus.

Tentei encontrar o que você escondeu no sorriso sem graça, nas palavras mal colocadas, nas explicações imaturas.

Quinze anos juntos, um molho de chaves deixado em cima da mesa. Simples assim.

Meus fantasmas de adolescente voltaram. O abandono deixou de ser medo para se tornar companhia, do momento em que vejo as primeiras horas do dia no celular até à noite, quando tento dormir.

Hoje abro os olhos assustada pela imagem que não reconheço refletida no espelho em frente à cama e ando até o banheiro como se fosse o quilômetro final de uma maratona. Minhas pernas pesam.

Mudei a pasta de dentes, a marca que você usava passou a me dar aftas (o coração arde há dias) e joguei fora suas antigas escovas antes que embolorassem na gaveta. Não tenho nada para fazer.

Alguém disse, ou li em algum lugar que o domingo é o pior dia depois que uma

relação acaba. Tudo se estende, as horas, a preguiça, o tédio, a duração do Luciano Huck e do Fantástico.

Acordei depois da uma.

Eu não saí ontem e nem dormi tarde, só não tinha motivo pra levantar mais cedo, pra mais um dia de saudade me escorrendo pelas mãos, deslizando pelos pisos que você escolheu enquanto eu criava a ilusão de que éramos para sempre e não deixaríamos ninguém se meter entre nós.

Onde você está agora? Solto meus cabelos oleosos e entro no chuveiro aquecido com a maior temperatura que meu corpo pode aguentar.

Braços, pernas, barriga, costas ensaboadas em câmera lenta, demoro para não ter que voltar para a sala, a sacada, a cozinha e perceber que não caibo mais nelas e nem nas transformações a que sua partida me obriga todos os dias.

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Sento no chão do box e rezo como não fazia em décadas. Peço a Deus forças e segurança para carregar meu corpo cansado de uma mulher de quase quarenta anos pelas estações que virão, pelas novidades da vida que agora me assusta. E imploro para que Ele entenda minha covardia, pois quero morar aqui, encolhida pelos meus espaços como um bebê que não quer sair da barriga da mãe porque o mundo é um lugar muito cruel.

Assim como minha casa agora também é. Duvido que um dia terei coragem de colocar tudo à venda, de partir, fechar a porta de uma felicidade que construí com a certeza de que nunca desmoronaria.

Já não sei se nesse universo ainda haverá um lugar para mim.

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Dias Campos São Paulo/SP

Era feliz, e não sabia.

Cleber morava sozinho em uma quitinete no centro da cidade. E se quisessem definir em que se resumia a sua vida nesses últimos dez meses, acertariam se escolhessem a palavra rotina.

O que mais o entediava era ter que lavar a própria louça. – menos mal que tinha o que lavar.

É fato que essa mesmice vinha sendo quebrada há alguns dias pela visita das conhecidas e teimosas formiguinhas de cozinha.

Em um vaivém disciplinado, esses insetos atravessavam toda a extensão da pia, alcançavam uma lixeira de plástico, escalavam-na confiantes, entregavam-se à comilança, e retornavam para o orifício de onde saíram, felizes e bem nutridas.

No entanto, essas incursões, porque regulares, também já começavam a cansar. E o ramerrão voltou.

Certa noite, quando Cleber lavava, com pressa, o último copo de requeijão – a novela estava prestes a começar –, um pouco de espuma desgarrou-se da esponja e foi cair sobre a fila de formigas, matando algumas e interrompendo o fluxo. É claro que houve um baita tumulto entre as

comensais, incluindo as que ainda não sabiam do acontecido, visto que prosseguiam com a marcha, encostavam suas antenas nas bolhas de detergente, e retornavam de ré, esfregando-as instintivamente no tampo, numa tentativa desesperada de se limparem. Por força disso, aglomerações começaram a se formar em ambos os lados da montanha branca.

Cleber sorriu...

Não que essa diversão fosse entretê-lo por muito tempo. Sabia que dali a alguns dias voltaria ao feijão-com-arroz. Mas se o acaso resolvera intervir, que aproveitasse ao máximo!

Daí que bastava começar a lavar os pratos para que o sarcástico prazer ressurgisse. E ele pingava sobre as vítimas as borbulhas letais.

Às vezes, Cleber não se contentava com um único ataque. E gotejava a morte em pontos diferentes das carreiras, distribuindo o pânico entre as sobreviventes e deliciando-se com o corre-corre.

Outras vezes, ele sequer esperava muito tempo para pôr fim

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àquela correria. Enchia de água o copo que acabara de ensaboar e jogava o conteúdo na parede, de modo que o líquido precipitava-se sobre as colunas feito enxurrada, levando para o ralo um grande número de cadáveres.

Esse divertimento perduraria por um tempo razoável. E Cleber até se espantaria por não se haver enjoado mais cedo.

Mas quando o deleite acabou, um hiato ficava. Era preciso, pois, preenchêlo o mais rápido possível, haja vista que, pelo que pressentia, os nós do quotidiano retornariam ainda mais apertados!

Foi quando Cleber ouviu a gata da vizinha...

Por não ter sido castrada, o cio desse estupor volta e meia o incomodava; sobretudo quando ela teimava em miar madrugada adentro. E como Cleber tinha sono leve, a libido desafinada impunha aos seus pobres ouvidos uma tortura sem fim.

Ora, se acabar com simples formigas tinha sido tão eficaz no combate à sua monotonia, imagine-se o bem que experimentaria se eliminasse aquele ronronar ambulante?

Neste instante, a campainha soou no andar de cima. Isso, por si só, pouco ou nada o incomodaria, não fosse o fato de que o morador daquela unidade possuía dois poodles, que, como é notório, desandam a latir, aguda e irrefreavelmente, toda vez que alguém aperta o malfadado botão.

O sorriso de Cleber aumentava... Primeiro, ele acabaria com a caçadora de ratos. E os efeitos desse sumiço proporcionariam um bom tempo sem tédio. Após, quando o aborrecimento voltasse, ele desapareceria com os sacos de pulgas. E o consequente alvoroço garantiria um período maior de distração.

E se depois desse extermínio ele voltasse a ficar enfastiado, quem sabe não seria o caso de estender aquela prática para toda a vizinhança, para todo o bairro, para toda a cidade? Afinal, quanto mais comoção causasse, menos entediante seria a sua vida.

Cleber começou a maquinar o gaticídio. Assim como ele, sua vizinha saía para trabalhar um pouco antes da aurora despontar e só retornava tarde da noite. Ao que supunha, ela deixava água e comida suficientes para que o felino aguentasse o dia todo. Mas e se uma “alma caridosa” oferecesse ao bichano algo muito mais apetitoso do que aquela velha ração a que estava acostumado? De certo seria a sua última refeição! O que precisaria fazer, portanto, seria comprar algum tipo de guloseima, temperá-la com um pouco de veneno, torcer para que o apetite da condenada fosse muito maior do que o seu olfato, e introduzir o presente de grego através do vão da

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porta, que, por óbvio, só era tapado por uma cobrinha de pano quando a locatária estava em casa.

Mas, e se a sortuda já tivesse comido o suficiente? e se ela fosse tão acostumada àquela dieta que não admitisse nenhuma novidade? e, pior, se ela cheirasse o petisco, mas dele se afastasse porque percebeu a toxina?

Bem, concluía Cleber, mesmo que a isca não a atraísse, o burburinho seria instalado, e isso já lhe seria benéfico.

Pois que saísse, comprasse o melhor dos quitutes, e aguardasse a segundafeira, quando, então, colocaria em prática o seu plano.

Mas bastou Cleber abrir a porta para que estacasse diante do cano de um revólver calibre 38!

Em atitude de puro reflexo, ele ainda tentou fechá-la!...

Mas o sujeito era corpulento, e não teve dificuldades em empurrá-lo para trás.

O estranho entrou, mandou que sentasse, advertiu-o de que ficasse em silêncio, e assobiou.

Em seguida, sua filha, uma jovem de dezesseis anos, entrava bastante

encabulada. E não vinha só, pois em cada braço havia um bebê, gêmeos univitelinos a que dera luz há pouco mais de um mês.

Cleber reconheceu-a no ato! E relembrando o que fizeram, deduziu quem era o pai daqueles anjinhos cabeludos.

Trancada a porta, e o “gentil” senhor foi muito persuasivo em sua explanação – pouco lhe importava que casassem, contanto que morassem sob o mesmo teto, a fim de que o sedutor assumisse as suas responsabilidades, provendo o sustento da família e a educação dos filhos.

O rapaz não teve escapatória; até porque, o convincente avô foi bem claro ao afirmar que visitaria filha e netos semanalmente, e armado.

Nem se precisaria dizer que a vida de Cleber deixava de ser enfadonha, rotineira... E a ficha caiu no exato momento em que os bebês abriram o berreiro – um por causa da fome, e o outro porque a fralda ficou cheia.

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A cura está dentro dos mistérios

A vida é uma passagem

Que nos faz amadurecer

Viva todo o seu potencial

Para você não adoecer

As emoções negativas existem, e sempre existirão, Para nos defender

A doença, por exemplo, é falta de movimento Alegria é o sentimento de cura

Doença do corpo, da mente e da alma Quem se cura é a pessoa olhando para seu próprio interior Novas forças são fundamentais

O cuidado, o perdão e o amor São ações terapêuticas

Que nos ensinam a lidar com as suas defesas E aliviar a dor

A dor traz sempre uma mensagem

De humildade e de reflexão para libertação

A cura está dentro dos mistérios da vida

Alguns curam-se e outros, Infelizmente, não!

Dorilda Sousa de Almeida Salvador/BA
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Negação

Eu não sou manipulada muito menos controlada sou guardada por alguém que me ama de verdade. Para mim não falta boas roupas e comida farta mas ele só fica nervoso se por algum motivo eu me atraso. Minhas roupas ele escolhe porque tem muito bom gosto e seleciona as amigas com quem me relaciono. Ele está sempre atento à minha agenda social mas visito apenas os nossos queridos pais. Algumas vezes ele me ofende e me dá fortes empurrões mas a culpa é minha pela sua explosão. Depois me pede perdão e aumenta a sua dedicação jurando que em mim jamais levantará a mão.

https://www.facebook.com/edna.coimbra.921

Edna das Dores de Oliveira Coimbra Rio de Janeiro/RJ
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Vem de súbito a onda que agita o vento que fica só por um enquanto no entretanto arremedo de pranto até outra toada em tanto de mais muito de pouco nada demais nunca do novo espécie de teimosia verdadeira cisma de insistir no que varia para fazer a arte que sacia

Cisma

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Brasilidade de Bicho Povo Coisa Santa Planta

Ararajuba masca jujuba Arariboia vê piramboia Ararinha pisa na pinha Aratinga entorna pinga

Arecal perto do pantanal Arengador o cantador Arerê cheio de irerê Arenito mistura granito

Aritana planta banana Ariaxé com muito axé Aripá vai nos vingar Ariranha caça aranha

Aroeira é da padroeira Arocá Aiocá Iemanjá Aroroba faz maniçoba Aromoso cheiro gostoso

Aruanda é da Umbanda Aruanã chama Nanã Arumbé com carumbé Aruaque bate atabaque

https://www.instagram.com/labeuc.elidiomar/ https://twitter.com/Elidiomar

Elidiomar Ribeiro Rio de Janeiro/RJ
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Elza Melo Capanema/PA

Floresço em sorrisos

Em sonhos realizados

Em abraços apertados

Floresço a cada setembro

Em cada momento

Em sabedoria e felicidade

Quando troco de idade

Quando minhas pétalas São só gratidão

Sou flor de janeiro a dezembro

Fico mais colorida em setembro

Floresço pra se feliz minha vida

Pra fazer o outro feliz

Pra colorir meus dias

Sou orquídeas coloridas

Flor vermelha, azul e amarela

Forte como um girassol

Sou constante primavera.

Florescer

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O Maior Valente

Parece que a vida é boa.

A cada dia que passa deixa de lado os desagrados para vencer os obstáculos.

Se há espinhos nas estradas caminhemos com cuidado. Empunhemos a bandeira cada um será soldado.

É dever lutar para termos vitória e felicidade.

Para ser dignamente gente, saber é um grande dever.

Homem sábio é grande, valente. De tudo quer saber, entender. Escrever, cantar, falar. De tudo no mundo compreender.

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Solidão

É noite de inverno em Angola e, é ensurdecedor o silêncio no quintal. Ligo o rádio, ao som do "Não me deixe só" de Vanessa da Mata, olho para as estrelas pensando no sentido da vida. Com um pé fora da rede de descanso, balanço-a de um lado para o outro, em meio a isso, súbito apagão na cidade do Uíge. Rádio desligado, a Vanessa deixa-me só na companhia dos fantasmas da minha voz, a noite parece insegura, a escuridão vai até onde a vista alcança e, como se não bastasse, distorce as imagens dos objetos a minha volta. Mas, diferente da Vanessa, eu não tenho medo do escuro. Enquanto isso, o largo silêncio da noite é cortado...

Solidão de inverno –Barulho das gotas d'água que caem da torneira

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Descartes

Se desfez das minhas roupas Canções, fotos. Ignorou meus medos e sonhos Rejeitou meus abraços e gemidos Opiniões nunca aceitas Comidas não provadas Convites recusados

Ligações desatendidas Viagens descumpridas E promessas irreais

Não se adapte ao mínimo Sinto que hoje minhas asas crescem Por antes estarem acorrentadas Minha boca fala

Meus pés andam para a luz Meus ouvidos escutam minha intuição Meu corpo é morada dos meus desejos É livre, mono ou poli

Se abre, se fecha, se flexiona, Exceto, se regozija pelo barato

Já fui armário - frágil. Me fez gaveta quebrada. Hoje, nenhum deles. Conversão em mármore, lustre. E, em ilustre momento, Estarei puxando-lhe o melhor assento Para assistir minhas glórias.

https://cleitonlimeira3930.wixsite.com/poesie-sea-1/blog/ https://www.facebook.com/cleiton.limeira.3

Francisco Cleiton Limeira de Sousa Poço Dantas/PB
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Poesia não é só escrever Poesia é sentir, sentir e passar sentimentos, ela tem um pouco de mim e eu tento ter sempre mais dela, já você, és a mais bela parte dela. (Aluna do 9º ano A – Escola Edgar Guedes da Silva)

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A Noite Mais Estranha

A noite estava calma na pequena cidade de Mucugê na Bahia e o céu claro e sem nuvens oferecia um espetáculo para os observadores das estrelas ou de outros fenômenos astronômicos como chuvas de meteoros, por exemplo. Por volta das nove horas da noite um homem alto, de cabelos desgrenhados trajando uma camisa xadrez vermelha e calça jeans empoeirada entrou na delegacia.

Pela aparência das suas botas de couro ele deveria estar andando por horas. O policial da recepção olhou de maneira desconfiada para o homem e o jeito com o qual ele se comportava era estranho, agia como se estivesse levemente embriagado ou sobre os efeitos de algum entorpecente, mas não gritava e nem gesticulava de forma agressiva. Na verdade parecia apenas estar perdido, sem ter noção de onde se encontrava ou o que estava fazendo.

Com cautela o Cabo Odilon aproximou-se dele, esperando qual seria a reação do homem à sua presença. Ele somente percebeu o policial quando este estava bem próximo.

— Boa noite, meu amigo. Posso lhe ajudar?

A voz do Cabo causou um efeito de despertar no homem, antes ele olhava para os lados como se tudo lhe

parecesse estranho, surreal e ele estivesse vivendo um sonho estando acordado. Ele olhou para o policial e falou com uma voz calma e arrastada.

— Oi. Qual cidade é essa?

— Aqui é Mucugê, amigo. Onde queria estar?

— Eu moro perto de Igatú.

— Não é longe daqui. Então por que está em Mucugê? Se perdeu de alguma excursão?

— Excursão? Não. Eu desci na estrada aqui perto e andei meio sem rumo, aí vi a delegacia e pensei em entrar para pedir ajuda.

— Ajuda? Está com problemas?

— Não, só quero ir para casa. Estou viajando tem algum tempo e tenho saudades da minha fazenda.

— Viajando é? Por onde esteve? — O Cabo não conseguiu acreditar muito no que ele falava e, pela aparência, ele deveriaterfeitooutrotipodeviagem.

—Parasersinceroeunãosei.

— Vamos sentar ali e o senhor tenta me explicar melhor, tudo bem? Querágua?

—Águaseriabom.

Odilon acomodou o homem em uma cadeira e foi buscar um pouco de água para ele, a Sargento Lindaura aproximou-se do Cabo curiosa com a

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cena que se desenrolava na recepção da delegacia.

— O que está acontecendo com ele, Odilon?

— É o que estou tentando entender, Sargento.

— Tudo bem. Só toma cuidado, ele pode ser um maluco desse que aparece poraquiàsvezes.

— Pode deixar. Se ele ficar estranho boto algema e deixo descansando na cela até o Coronel chegar e decidir se levamos paraumhospitalouparaumhospício.

Odilon deu o copo para o homem que bebeu rapidamente como se não sentisse o gosto de água há muito tempo.

O Cabo esperou o homem terminar e continuou com a conversa, perto deles Lindaura acompanhava o desenrolar da história.

—Qualoseunome?

—Eunãoconsigolembrar.

—Temdocumentos?

—Nãosenhor.

— Qual a última coisa de que se lembra?

— De estar vendo um jogo... — O homem coçou a cabeça com ar pensativo.

— Era da Copa do Brasil. O Palmeiras venceu o Coritiba no Couto Pereira na segunda fase por 1 a 0, eu estava com meus amigos e voltei para casa a pé, depois só lembro que tudo ficou brilhante e quando dei por mim estava perto daqui. Aliás,quediaéhoje?

— Você teria um telefone de alguém que conheça? — O Cabo pegou seu celular eohomemolhoucomassombroparaele.

— Que aparelho é esse? — Perguntou apontando para o telefone do policial.

—Umcelular.

— Celular? — Pareceu maravilhadocomoaparelho.

—Esperauminstante.

O Cabo chamou a Sargento em umcanto.

— Eu acho que esse homem sofreu um tipo de acidente que mexeu com a cabeça dele. O jogo sobre o qual ele me falou foi há vinte e cinco anos. Ele estranhou o meu celular. Acho que vou levá-lo ao Hospital de Igatú para versealguémsabesobreele.

— Não é melhor esperar o Coronelchegar?

— Creio que não tem problema, ele é inofensivo e só está confuso. E Igatú é perto, uns quarenta minutos e estareilá.

— Ok. Vai, mas mantenha o celularàmão.

Odilon pegou uma viatura com o homem e partiram. Pouco mais de dez minutos depois o Coronel Cirqueira chegouparaoplantãonoturno.

— Boa noite, Sargento. Tudo bem poraqui?

— Boa noite, senhor. Sim, tirando um homem estranho que apareceu por aqui. O Cabo Odilon está levando-o para oHospitaldeIgatú.

— Como assim, sem me avisar? É umacidentado?Contaessahistóriaaí.

A Sargento Lindaura narrou a situação para o Coronel, ele não achou nada estranho até a parte sobre as últimas lembranças do homem. Uma

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coisa passou por sua cabeça, achou que não seria possível, mesmo assim foi ao seu escritórioevoltouminutosdepoiscomuma pasta na mão. Tirou dela algumas fotos e mostrou-asparaLindaura.

— Olha ele aí. É esse homem mesmo, Coronel, e estava com essas roupas.

— Deus. Vou ligar para Odilon, ele precisavoltaragoramesmo!

— Não estou entendendo sua preocupação,senhor.

— Vocês são novos na cidade e não devem conhecer a história de Marcos Simeão. Ele desapareceu sem deixar rastros na noite de 25 de março de 1997 depois do jogo que ele citou e seus amigos disseram que ele havia ido para casa sozinho, pela estrada e a pé. O caso dele ficou famoso pois foi taxado de abdução pelo pessoal que estuda os avistamentos de OVNI dessa região e, coincidência ou não, naquela noite houveram vários relatos de luzes estranhas no céu. Eu era sargento ainda e a delegacia ficou caótica, de tão impressionado que fiquei guardei uma pasta com todos os detalhes. Foi classificadocomo‘SemSolução’.

— Minha Nossa Senhora… Odilon estácomelenocarroagora,naestrada!

O Coronel ligou para o Cabo, sentia quealgoestavamuitoerrado.

— Coronel! Boa noite, estou indo para…

—Odilon!Ondevocêestáagora?

— Estamos na BA-142. Sargento Lindaura contou para o senhor sobre o homem que estou levando para o Hospital deIgatú?Históriamaisestranhaadele…

— Volta para a delegacia, Odilon. Dámeia-voltanocarro,imediatamente!

— Qual o problema, Coronel? Espera um pouco… O que foi? Oxe! Que coisa doida. Tem umas luzes coloridas nocéuvoandonadireçãodaChapada… Cirqueira sentiu um frio na espinha quando ouviu o Cabo mencionar as luzes. A situação piorou quando ele ouviu o barulho do carro parando.

— Odilon?! O que está acontecendo? E o homem que está com você?

— O carro morreu e estamos a pé, Coronel. Ele está comigo… Apontando para cima e… Que luzes são essas?

De repente Cirqueira ouviu outra vozaofundodaligação.

—Voltaram…Elesvoltaram…

— Odilon! — Mas não houve mais resposta e a ligação caiu. — Vamos Lindaura.Pegaooutrocarro!

Os policiais saíram a toda velocidade pela BA-142 temendo pelo destino do companheiro. Alguns quilômetros depois encontraram a viatura abandonada na beira da estrada e nenhum sinal do Cabo e nem do homem misterioso que poderia ser o desaparecido Marcos Simeão. Olharam o céu e viram diversas luzes voando rapidamente na direção da Chapada Diamantina.

Caído no asfalto estava o celular do CaboOdilon,intactoporémqueimado.

— Coronel? O que houve aqui e aonde está o Odilon? — Lindaura olhou para os lados, não sabia explicar o

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motivo, mas sentia muito medo por estar ali.

De repente o rádio da viatura abandonada ligou sozinho, os policiais ficaram assustados e aproximaram-se do veículo para ouvir melhor a voz que identificaram como sendo do Cabo Odilon.

Essas foram as últimas palavras que ouviramdopolicial:

“É tão brilhante. Tudo aqui em cima é tão bonito e brilhante. Vocês deveriam estar vendo isso.”

O rádio silenciou e as luzes sumiram em meio às estrelas do céu noturno.

FIM

https://scriv.com.br/giulianno/

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Bairro d’antanho

Sempre que vejo crianças correndo em playgrounds, rindo e gritando, recordo-me de minha infância solta em nossa cidade de tempos atrás.

Depois de mais de quarenta anos fora, voltamos a morar no mesmo bairro, um pouco mais próximos da praia.

Naquele tempo morávamos em frente a uma pracinha, onde já há anos construíram uma igreja, acabando com o jardim. Será que as necessidades espirituais do povo seriam maiores que a distração, as brincadeiras, a alegria da meninada? Não sei.

O largo era gramado, com caminhos cimentados tortuosos que o cruzavam, ladeados por árvores variadas. Bancos de cimento ofereciam descanso, estrategicamente colocados nas sombras das árvores, que, em sua maioria, tinham flores amarelas, quase douradas, que se penduravam em cachos parecendo uvas. Suas sementes ficavam protegidas dentro de uma vagem

comprida e redonda, como um salame, e quando secas eram de um marrom escuro profundo. Brincávamos muito com estas vagens, quebrando-as só para observar o conteúdo, que eram duras semente.

Algumas goiabeiras e pitangueiras nos colocavam mais perto de uma natureza diferente da que vemos hoje na cidade, e o gramado gostoso, diariamente, era logo transformado num pequeno campo de futebol, onde começamos a nos exercitar no chamado “esporte bretão”. Nossa turminha era até grande, conseguíamos montar dois times, mais alguns torcedores.

Não havia playground, nos moldes que hoje vemos, feitos artificialmente. O nosso era natural. Era subir em árvores, correr pelo gramado, trepar em bancos e muros, e onde a grama deixasse

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exposta a terra, cavávamos ou jogávamos “bolinhas de gude”.

Poucos carros circulavam pelas ruas e nossos pais nos deixavam sair de casa sozinhos para nos reunirmos com outros amigos da vizinhança, sem problemas.

Hoje já não se pode deixar as crianças tão livres, e por isso vemos a disseminação destes playgrounds

“artificiais" em locais cercados onde a segurança passou a ser prioridade. Alguns até tentam, dentro do possível, reproduzir condições naturais, com toras de madeira, redes, e lonas, mas elas precisam de pouco e se divertem de qualquer maneira. Viva a inocência e a alegria natural da garotada.

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Jaci e o Bem-Te-Vi

Uma sucuri eu vi, Na boca, um bem-te-vi.

Ele gritava:

— Me tira daqui! Me tira daqui!

Peguei a cobra como me ensinaram lá em Pacuri.

— Me tira daqui! Me tira daqui!

Apertei a cabeça da cobra, forte igual javali.

— Me tira daqui! Me tira daqui!

Ela esqueceu e largou o bem-te-vi.

Enrolou-se no meu peito: parecia flecha de índio tupi.

— Quero sair daqui! Quero sair daqui!

No meu peito nunca tanta dor senti, Nem no desencanto do amor de Jaci.

— Quero sair daqui! Quero sair daqui!

Bem longe quem me olhava era o bem-te-vi

Que cantava:

— Você-ama-Jaci! Você-ama-Jaci!

Eu morri de dor no peito, igualzinho ao desamor de Jaci. https://www.facebook.com/helio.oliveira.771282

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Dia Mundial do Meio Ambiente: 05 de junho

Como seria maravilhoso

Se cada um de nós, hoje Plantássemos uma árvore

O mundo ficaria formoso.

Que não existissem caçadores

Os animais vivendo em paz Em seu habitat Sem serem incomodados.

A Natureza exalando oxigênio Todos os seres vivos Respirando o ar puro Sem sintomas respiratórios. Infelizmente não é assim Muita maldade no mundo O fogo lastra no capim Só destruição e desmatamento.

ilmarribeiro@yahoo.com.br

Ilmar Ribeiro da Silva Rio de Janeiro/RJ
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Janelas

— Por que me colocaram o nome de Marcelina? – perguntou um dia para sua mãe, depois de adiar por infinitas horas a pergunta.

— Era o nome da tua bisavó.

— Era o nome de minha bisavó? Não acredito...

Sorriu com ironia, sua expressão foi de franca surpresa.

A mãe tivera a ideia de homenagear a matriarca imigrante, uma mulher que mostrara muita fibra e determinação. Perdeu o marido poucos meses depois de terem chegado da Europa, com cinco filhos pequenos. Ele mal terminara de erguer a casinha de madeira, numa clareira no meio do mato, na encosta de um morro. Uma cobra o picou e não teve chás ou ervas que pudessem vencer o veneno da peçonhenta.

A bisavó – a mãe lhe falou um dia, mais tarde – foi uma guerreira. Precisou se desdobrar no trabalho para sustentar a família, mas conseguiu. Pelo menos os filhos não passaram fome, como tantos outros filhos de imigrantes. Não merecia uma homenagem?

Marcelina ouviu a mãe em silêncio. Depois, mais exclamou do que perguntou:

— Mas logo eu?!

A mãe, compassiva, sorriu triste.

— Sua bisavó era muito bonita.

Marcelina olhava-se no espelho: também era bonita. Não que fosse um consolo para o nome que tinha, mas a beleza física era uma vantagem. Sem ser sensual, tinha um corpo bem-feito, o rosto de uma rara esbeltez e seios firmes. Dava-se conta das muitas vezes que ouvira assobios, na rua, quando passava. Nem ligava. Eram apenas falsos pretendentes a querer deliciar-se com seu corpo e sua beleza. Sentia-se desejada, mas não amada.

Até que um dia apareceu em sua casa um tal de Felisberto. Chegou com um ramalhete de rosas vermelhas e uma dedicatória em versos, assinados por ele. Ela não estava. Quando retornou e a mãe lhe disse que eram para ela, um certo tremor perpassou seu corpo. Nunca tinha recebido flores, menos ainda uma dedicatória em versos que cantavam o amor... Ficou logo alegre, e um pouco arrepiada também, depois de ler os octossílabos rimados.

Foi para o quarto com o presente. Sentada na cama, leu novamente os versos, com o ramalhete no colo. Sentiu uma alegria diferente, uma

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certa emoção, o que não lhe era comum.Escondia facilmente seus sentimentos. Mas ali, no silêncio de seu quarto, não tinha como não extravasar o que sentia. Então começou a cantar.

A mãe, surpresa com o canto da filha, sorriu de alívio e satisfação. O nome não era empecilho para a felicidade. Não devia ser. Talvez sim a sua instabilidade e a vacilação quando precisava decidir. O oposto da bisavó.

Logo Marcelina se desimportou do presente. A alegria inicial foi por conta de ter sido o primeiro. Sabia que tinha pretendentes escondidos, platônicos. Mas ela não dava chances, restringia-se. Parecia guardar sua beleza e vitalidade para si própria.

No dia seguinte, a mãe viu o pátio coberto de pétalas vermelhas. Olhou para a janela do quarto da filha, fechada. Ela fez isto com as flores que ganhou?- perguntou-se e seu ânimo murchou. Foi para a cozinha, precisava começar o dia. Marcelina apareceu, sorridente. A mãe olhou para ela, significativamente.

— Sim, mãe. São as pétalas das rosas que recebi ontem.

— Por que fez isto?

— Achei que ficariam melhor no pátio do que escondidas em meu quarto. Enfeitam o ambiente de todos.

— Isto pode parecer desprezo... Marcelina ficou calada. Em seu íntimo respondeu que não, não era desprezo. Apenas não quis mais as flores; não queria criar vínculos com o tal Felisberto.

— Se você receber outras flores, vai fazer o mesmo?

— Acho que sim.

A mãe balançou a cabeça, tristemente.

Alguns dias depois, outro ramalhete de flores; no bilhete, sem assinatura, estava escrito: “Você é linda!” Ela envaideceu-se e se esqueceu da perturbação que lhe causava o nome de batismo. Um sorriso aberto iluminou seu rosto. Mas a mãe permaneceu séria. Ia ver mais pétalas no pátio, na manhã seguinte. Para sua surpresa, não havia pétalas no pátio. Olhou para a janela do quarto da filha: estava aberta.

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Ivo Aparecido Franco

São Bernardo do Campo/SP

Procura-se alguém

Que por mero ato nostálgico ou de saudade Queira ser eu

Seja movido por puro amor Ou por uma dor insuportável

Eu não perceberia Pelo simples fato De que não estaria mais por aqui

Por incrível que pareça Você também não notaria Minha sutil presença em você

Sem perceber, dia desses Você pediria um bife com fritas Leria meus livros preferidos Tomaria café preto à tardinha Tocaria horas de violão!

Os outros entenderiam Suas idiossincrasias Como loucura, esquizofrenia

Eu não precisaria De conselho nenhum de Freud Para compreender a grandeza E o valor de teu gesto

Já você, vagaria por aí Sem a compreensão dos outros Nem da tua própria!

Te ofereço derradeiro conselho: Não precisa me dedicar Tantas partes de tua vida

Reserve para mim Só um canto pequeno do coração Onde, vez por outra, nos encontraremos!

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O vento

O vento que no seu toque me faz sentir arrepios, paz no coração e a alma alegre.

O vento que me leva em lugares incertos e me faz voar e voar e que com sua brisa suave me deixa leve.

(Aluna do 9º ano A – Escola Edgar Guedes da Silva)

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Brilha Outra Luz Em Pirapetinga

De Paris, a Cidade-Luz por excelência, ao mais simples burgo na face da Terra, toda urbe possui brilho próprio e emblemático. Algumas cidades brilham, entre outros aspectos, por suas belezas naturais, como Capetown, Vancouver e Rio de Janeiro. Há aquelas que se iluminam com monumentos históricos, tais quais Cartago, Jerusalém e Roma, ou com arrojadas construções modernas, a exemplo de Dubai. Vários centros urbanos resplandecem por meio de seus filhos ilustres. Para não fugir à Zona da Mata mineira, na qual se centra a presente crônica, é o caso de Volta Grande, berço do renomado cineasta Humberto Mauro. Nessa mesma região das Gerais, Pirapetinga vê nova luz brilhar em seu firmamento. Luz com maiúscula, diga-se de passagem. Nessa simpática cidade, que o rio de nome idêntico separa do vizinho estado do Rio de Janeiro, Amélia Luz estendeu suas atividades do magistério à arte literária. Compôs

poemas e aldravias de grande criatividade, bem como crônicas e outros textos em prosa de aprazível leitura.

Amelinha, como é conhecida por seus familiares e amigos, acendeu seu sobrenome com a energia do talento. Antes mesmo de aventurar-se pelo campo literário, já dava mostras de sua inteligência e saber nas rodas de conversa. Não ficava restrita ao mundinho típico do interior brasileiro. Ia além, trazia aprendizados e conhecimentos adquiridos em suas leituras e mostrava-se atenta ao que ocorria por todo esse Brasil e mundo afora.

Veio a casar-se com um querido e saudoso primo do narrador, tornando-se sua prima por imediata afinidade, a qual vale bem mais do que os elos de sangue restritivamente definidos pela frieza das leis. O prefácio que elaborou para o livro “Ibitinema”*, ademais do conteúdo

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primoroso, demonstra o carinho com que ela desde logo se integrou à nova família. Da mesma forma, o texto que escreveu sobre o velho engenho existente na então propriedade da sogra exala sensibilidade na apreensão e interpretação de tantas histórias ali passadas.

Escapa ao propósito desta crônica eleger as melhores criações literárias da nossa escritora e poetisa. Afigura-se mais realista refletir que cada um dos afortunados leitores da Amelinha terá sua preferência própria e certamente justificável.

Não se pode furtar, porém, de citar mais alguns exemplos da obra da artista em questão. Seu conto de fantasia infantil, “A Menina que Queria Voar”, na revista eisFluências, não só cria uma fábula tocante sobre o desfecho dos sonhos da personagem, mas também sugere relativa cumplicidade entre a criatura e sua criadora. Assim como a menininha, Amélia desejou alçar voo desde cedo em sua existência. À diferença de sua personagem, no entanto, e para felicidade de quantos a conhecem, logrou fazê-lo por aqui mesmo, sem precisar voar até dimensões mais etéreas e inacessíveis à

ampla maioria da plateia terrena. Transformou suas bem traçadas linhas em sucessivas pistas de decolagem.

Entre tantas belas poesias que escreveu, cabe recordar duas, a juízo do cronista. “Canção de um Tempo” foi merecidamente selecionada como uma das melhores do ano de 2019, publicadas na Revista LiteraLivre. Nesse poema, Amélia reflete que, em sua vida, tudo se mostrou passageiro e que nada do que a cercou lhe pertenceu de fato. Sem dúvida, uma reflexão extensiva a todos os seres conscientes de sua mortalidade e imunes às reluzentes ilusões da realidade. Por outro lado, como numa antítese, os versos revelam a eternidade da arte e geram a convicção de que o talento pertence a quem o possui (desde que não seja enterrado, como na parábola bíblica, e sim multiplicado e dividido em operação mais do que simplesmente matemática).

Outra interessante poesia da autora, publicada no Portal CEN, levanos à longínqua Planície de Gizé, cujos encantos ela saboreia em seu lirismo e convida o leitor a

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igualmente saborear. Viagem poética emblemática da trajetória da artista, quem ultrapassou as fronteiras de Minas e do Brasil, ampliando seu horizonte cultural e conquistando numerosos prêmios literários, inclusive internacionais.

Quem quiser saber mais, fica a sugestão do livro “Luz e Versos” (ed. Becalete, SP, 2017), no qual a escritora erige imaginativas construções líricas em torno de “linhas”, “pontos”, brinquedos e jogos de infância, amores, Marias mil e uma infinidade de temas enfocados com graça, argúcia e o particular poder da palavra.

Aproxima-se a festa de Sant’Anna, padroeira de Pirapetinga. Embora as comemorações devam ser contidas em função da triste pandemia deste 2020, esperemos que não falte a tradicional animação. Que haja muita luz a iluminar os caminhos de todos, rumo à superação de tempos tão difíceis e ao reencontro da alegria! E que uma Luz, particularmente, continue a brilhar nesse e em outros firmamentos!

Como não poderia faltar em texto de narrador carioca: valeu, prima!

Recanto das Letras, Escrivaninha, julho de 2020.

* JAX, Ibitinema e Outras Histórias, ed. Lamparina Luminosa, SP, 2016.

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Ato nulo, ser nulo

É inadmissível o seu ser nulo!

Entregar o direito que é seu De bandeja para o outro.

Ficando assim sem a sua voz.

Por não votar, você se anula

E transfere a escolha do outro Como sendo a sua escolha, Porque você é nulo.

A escolha do outro passa a ser a sua,

A voz do outro passa a ser a sua.

Você optou por ser nulo, sem voz. Sem direito e sem consciência

Pois se a tivesse, não se anularia, Tornando-se conivente, Cúmplice, irresponsável e nulo.

Quem jogou fora o seu direito, É igualmente culpado

Porque é nulo.

Você deixou acontecer!

A responsabilidade é sua! Assuma!

Compreenda a sua responsabilidade! Assuma a sua responsabilidade!

E tente ser mais

Do que apenas a sua nulidade.

https://www.facebook.com/jeferson.ilha @jeferson_ilha

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Jeong Hana Manaus/AM

Não entendo, mas sinto

Queria eu ensinar, e ensinei. O que deu, o que pude, o que o tempo permitiu.

Ela sente, sofre, balbucia, mas não fala. Observa, sonha, planeja e escreve. Sempre foi assim.

Mãe!

Eu procurava a chave do portão de casa quando chegamos. Percebi, ao meu lado, que o bracinho abriu a mochila jeans com detalhes cor-de-rosa e retirou um caderno com capa dura amarela. Abriu na página marcada e o levantou até onde eu avistaria. Espiei e vi olhinhos ansiosos em busca de um gesto de aprovação.

Entra minha filha, lá dentro mamãe vê tudinho.

Li então os quatro versos de amor relativos ao dia das mães que se aproximava. Seus lábios ficaram com inveja dos meus e sorriu disfarçadamente, baixando a cabeça envergonhada.

A mandei pro banho. Peguei o caderno da escola. Segredo absoluto. Era como ler a mente de alguém sem permissão. As páginas eram usadas como rascunhos de poesias que retratavam tanta emoção que ninguém imaginaria pela feição quieta e tímida. As palavras delicadas pulsavam e riam.

Exalavam o café da manhã em família e o gosto de amor açucarado.

As últimas laudas eram tão utilizadas quanto os conteúdos ministrados em sala de aula, e assim tomava conta de metade da brochura. Então comprei um presente: um caderno só pra sua arte. Logo ele virou “Versos e Poesias da Paulinha”.

Tentei reiteradamente fazer com que ela verbalizasse seus medos e desejos.

Quero ser sua amiga, pode falar comigo sobre o que precisar. Quando tiver um namoradinho, eu não falo pro seu pai.

Não adiantou.

Logo aquele caderno se transformou em diário, que foi mais utilizado que os livros didáticos. Tentei, mas não consegui ler. Apresentava uma fechadura fraca, inútil, mas que se eu abrisse a quebraria e meu delito estaria à mostra. O que se sucede naquele pequeno universo?

Na escola descobri que gostava de conversar com a melhor amiga. Sempre pedia pra ir pra casa dela. Porque falava com a amiga e não

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comigo? De resto, boa aluna, quieta, comportada, nenhum incidente.

Descobria um pouco sobre minha primogênita em cada data comemorativa. Cartões, cartas, mini livros artesanais, obras infantis que revelavam sentimentos, exprimiam desejos, elaboravam felicitações. Sempre desenhava nós duas ou a família inteira.

E as cartinhas da noite? Sempre entravam por baixo da porta do meu quarto. Insatisfações disfarçadas e pedidos de desculpas que finalizavam sempre com o “eu te amo” e corações. Desculpa por ter demorado pra calçar o sapato. Desculpa por não estar na porta da escola quando a senhora chegou. Desculpa por demorar tanto pra almoçar. Um eterno desculpar. Gerava isso? Pressionava? Comecei a refletir.

Carinho, atenção, cuidado e um pouco de limite. Conversa também, ou pelo menos sempre tentei. Eu odiava os monólogos e como eu não podia falar nada na minha infância. Queria que com meus filhos fosse diferente, e assim fiz, mas com não deu muito certo. Porque é tão tímida?

Eu perguntava e a resposta sempre era: - Aham, sim, tá, é, hum, an? Muitas

vezes nem isso, só acenava com a cabeça. Eu falava e ela me fitava. Eu chorava, ela chorava junto. Me fazia cafuné da mesma forma como eu a afagava.

Seus olhos sempre pareciam percorrer minha alma em busca de uma mentira ou um segredo, era o que eu achava. Comumente desse jeito: olhava, olhava e olhava. Eu tinha que brigar pra parar de ficar encarando as pessoas na rua porque muitas se sentiam incomodadas. Em casa não era diferente.

Será que já pressentia e queria decorar cada gesto, cada trejeito, ou cada sinal que havia no meu corpo? Tive que ir, fui chamada a contragosto. Agora vejo que me observou mais do que deveria. Lembra e relembra cada memória antiga e sofre.

Nesse instante ela escreve não só pra extravasar, mas pra tentar entender o ser humano, superar os traumas e amenizar a dor. Suas cartinhas atualmente tem cheiro de lágrimas e sabor de saudade. E disso eu entendo.

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Indo Com Você Das Palavras à Mercê...

Nós temos de ir embora daqui, com cartas de amor a priori, nesta constante perseguição dos teus lábios, das mágoas salgadas nos tornando tão sábios.

A decisão nossa fora fugir, nossas asas iriam refletir, um tamanho sonho imparável a vencer, enquanto que o teu canto fosse prescrever.

Fugimos de tais condenações, quando as palavras eram prisões, tentação fora conceber o nosso amor, sem termos de calcular está nossa dor.

Ignoramos as suas maldições, dos quais nos ditavam definições, pois, somente o teu único calor me descongelasse, a geleira deste meu coração lhe desmoronasse.

Correríamos incessantemente, morros uivantes do onipresente, tamanha fora está tua voz de essência, meu anjo da música de tal iminência.

Os seus olhos, eu só contemplaria,

deparar estrelas de nostalgia, desmistificando estas constelações de utopia, a melodia decretará a nossa euforia.

Por infelicidade, o nosso tempo é limitado, grandiosa eternidade por algum mero legado, mas os nossos momentos serão meras lembranças, dispersos dos inúmeros toques de alianças.

Nossas mãos ficariam entrelaçadas, mesmo distantes, elas estão grifadas, através destas nossas mil composições, intermináveis notas das nossas canções.

Os muros construídos, por si só se quebraram, nestes inúmeros beijos já lhe dizimaram, os tantos eu te amo eram mais de mil inconversos, compondo o nosso amor em sonetos pelos versos.

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Joedyr Bellas São Gonçalo/RJ

“Um Dia, Talvez”

Tirei o carro da garagem e fui rodando pela cidade, pegar a estrada, a intenção era subir a Serra e aterrissar em Friburgo.

Fiquei na intenção. Desvios, curvas, encruzilhadas e Silvia fez sinal para que eu parasse. Não a conhecia. Era uma moça muito bonita e, mais tarde, depois de uns goles, soube que o nome dela era Silvia. O sinal que ela havia feito era um sinal de angústia, percebi que ela não estava bem. Agitada. Olhava para os lados, como se fugisse de alguém ou de alguma coisa. Os fantasmas, nesta época, infestavam as mentes e as cidades. Pensei um ou dois minutos se eu me intrometeria na vida da moça. O som no carro era uma flauta doce, não me lembro do nome da banda. Era um rock progressivo. Piano, flauta doce, guitarra, bateria e um som que pedia estrada, que me arrastava para a Serra de Friburgo, onde eu iria tomar mais um chocolate quente na casa de Fernanda. Começávamos com um chocolate

quente, rolavam outras coisas e tudo acontecia. Ou aconteceria.

Mas houve Silvia. Parei o carro, desci e perguntei se estava tudo bem, pergunta retórica, para começar um papo, para oferecer ajuda. Ela ficou quieta e me olhou meio assustada. Fiz que ia embora, disse que minha intenção não era assustá-la, virei as costas e ela me agarrou pelo braço. Pensei no verbo segurar. Mas não foi segurar, foi agarrar mesmo como se eu fosse uma tábua de salvação no meio de um naufrágio. Ela estava naufragada. Pelo menos, foi a ideia que me passou naquele momento. Cabelos desgrenhados, um suor hemorrágico brotando dos poros, o girar da cabeça. Os olhos esbugalhados. Eu, já arrependido, pensei em me livrar daquele aperto no braço. Ela não chegava a enfiar a unha na minha carne, mas eu percebi que eu não conseguiria me livrar daquele aperto se eu não desse um puxão no meu

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braço ou segurasse no braço dela e o arrancasse de mim. Não consegui. Fiquei olhando pra ela, sem nada falar, só olhando nos olhos dela, e ela foi relaxando. Afrouxou a pressão dos dedos no meu braço e chegou até sorrir. Perguntei se queria beber alguma coisa. Um suco? Uma vitamina? Uma água? Um refrigerante?

Ela me pediu que eu estacionasse o carro e fôssemos andar um pouco. Sem rumo. Que tal? Beleza. Pra mim, tudo bem, mas e você, está legal, parecia fora de si? Tudo bem. Foi um momento. Sei lá, parecia que estava sendo seguida, vigiada, olhos de tocaia em mim, garras querendo me sequestrar, querendo me levar para um lugar desconhecido. Mas passou. Está com medo? Estava. Eu morria de medo, sem deixar transparecer, mas era uma vontade de sair correndo. Não saí. Fiquei e fui me acalmando. A vontade de correr era por conta dos pensamentos que me assaltavam a mente. Ela vai surtar. Vai se jogar na frente de um caminhão, um ônibus, um carro em disparada, um

trator, sei lá. Vai se jogar e como eu explicaria aquele corpo esmigalhado no chão. Estava com o senhor, diria um policial já querendo me enquadrar. Alguém diria que até me viu empurrando a menina para a rua. Coitada. Um louco, um assassino. Corre, pega. Não houve nada disso. Ocultei os meus medos para ela e seguimos. Passo sobre passo. Paramos em um bar, ao acaso, ela pediu para ler a minha mão, não leu, ficou segurando a minha mão entre as mãos dela. Aquele toque macio, aveludado. Pediu um Martíni pra ela com azeitona e duas pedrinhas de gelo, pedi um uísque sem gelo, pra arranhar a garganta. Meu nome é Silvia, ela disse, o meu ela não perguntou e eu esqueci de dizer. Só me lembrei de como antigamente se dizia. Qual é a sua graça? E ficamos rindo. Esquecidos do tempo, esquecidos da vida. Talvez, um dia, eu suba a Serra para tomar mais um chocolate quente com Fernanda.

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Poema

fico me perguntando se a alma tem nome qual seria o meu verdadeiro som é aquilo que os ouvidos não sentem porque é a pele do espírito que escuta a altura da verdade singela até mesmo ao tom da beleza menos bela o corpo para um silêncio

dura uma eternidade quieta tudo o que é estridente eu condenso as memórias em atrito no quadro negro com um risco trêmulo minha mão sozinha não afina um coração

https://www.instagram.com/jonathandibarbosa/

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A Imortalidade Repentina dos Minutos

Cadê o minuto que aqui estava que a pouco me absorvia e eu inteiro nele existia?

Para onde vão os minutos essas minguadas partículas das horas quando se soltam dos relógios deixando-me sozinho com suas ausências no exato instante em que aqui respiro?

O que leva dos meus pretéritos presentes os fugidios minutos de mim furtados pelas garras incorpóreas do tempo? Para onde se foram o cheiro do café coado o toar estridulante dos grilos e o resfriado sereno das madrugadas?

Nos minutos vindouros ainda lembrarei

da mudez distante das estrelas do assoviar da vizinha ao lado e do ocaso do Sol de soslaio flagrando?

Dos milhões dos minutos passados quantos até lá me restarão no interior das retinas no caducar exaustado das miopias?

Na fogueira incandescente do presente os minutos que me antes eram brasas tornam-se farelos espalhados de cinzas no amontoar sobrante das memórias Queria nem que fosse por um átomo segurar este meu agora minuto e nele para sempre poder me fincar

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Jorge Gonçalves de Abrantes Lastro/PB

O Templo da Sabedoria

Se quiseres chegar ao Templo da Sabedoria, Terás que caminhar por cima da Serpente Que finda ao pé da Cruz de madeira esculpida, Jacente defronte à Catedral da Glória, Onde a voz do Profeta se torna eloquente E penetra no âmago da ideia corrompida!

Doravante deves seguir um caminho reto Até ficares defronte do Gigante Ceto! Aí chegando avistarás os Portões da Vitória Que lhe guiará para as entranhas da história!

Ao entrares avistarás o Grande Templo Que ser-lhe-á por toda a vida um exemplo!

Aí jazem confinados os Sábios Mestres, Cujos nomes hão de ficar nos Panteões Rupestres Assinalados por décadas, séculos e temporalidades, Enquanto mostrar-se de pé a imponente estrutura, Que jamais declinará em face de nenhuma ruptura! Vossas pilastras manter-se-ão firmes e de pé, Pois os que aí habitam são Criaturas de muita fé, Que hão de ser cultuados no altar do tempo como Deidades!

https://insular.com.br/produto/poesia-desmedida-multiversos/

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O que te excita?

a pergunta certa a resposta correta a longa conversa o assunto diverso a luz do luar a penumbra do quarto o cheiro do livro a discussão filosófica a viagem utópica o dinheiro no banco a cachaça no bar o sonho de amor o filme de terror o conhecimento o apaixonamento o arroz com feijão a rotina diária a inovação, o inesperado o perfume francês o seio semiescondido, ou semidesnudo a insaciável libido a lubricidade a fidelidade o casamento a emoção do momento o sexo a dois o poliamor o tesão solitário a lingerie sedutora o volume entre as pernas o corpo vestido o corpo desnudo

o mesmo sexo o outro sexo todos os sexos o tempero da comida o filme de Goddard o céu e o mar o solo da guitarra, o glissando da harpa o poema infalível, a novela incrível a notícia política o estupidismo da crítica a formação discursiva o paradoxo de Einstein a gramática transformacional o cálculo estrutural a primavera brotando o verão esquentando o outono outonando o inverno esfriando a folha que cai o amigo que morre o ar que se esvai a saudade do porre o sexo, o amor, o tesão a dor o tesão na dor a dor no tesão a dor do amor a política, a dialética a sofística, a estética um quadro de Chopin uma sinfonia de Miró

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o pensamento escondido de alguém a lembrança do cheirinho da loló o sol no mar o poente a coxa da discente a arrogância do docente o membro dormente do amor doente a parede a prisão o absurdo o aluvião o frio o calor o tiro o estertor o sangue o corpo exangue o sentimento estanque a farda a polícia a sevícia a violência da polícia mais um cpf cancelado, mais um preto pobre gaseificado o trabalhador que saiu e não voltou o explorador que sorriu e te ignorou o sistema, o dilema o que te excita o genocídio, a canalhice o desgoverno, o negacionismo a filhadaputice o autoritarismo enfim o que te excita o que te habilita o que te motiva o que te ativa um computador um gozo no escuro

um senador o suborno de pau duro a mulher do vizinho, o marido sozinho o cidadão de bem o mas sem porém a entidade do além um amém violência, incoerência deus, o perdão o índio, o sertão folhas e árvores e animais destruídos rios e montanhas e mananciais poluídos asfalto e concreto abraços fraternos céus e infernos um olhar convidativo um estapear intempestivo a violência doméstica o abandono do incapaz o encontro de céu e mar o entardecer as minúcias do poder o medo, a coação, o achaque o estupro, a agressão, o ataque a virgem, o menor a mulher do próximo a criança indefesa o fio terra da macheza a presunção de inocência o falso auto de resistência a ocupação, a invasão, a extorsão a operação policial o massacre consensual o copo vazio, o copo cheio, o copo no meio a abastança, o fastio a verdade que não te interessa a democracia que não tem pressa o passado, o presente, o futuro

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o olhar por cima do muro o que te excita diga-me, conte-me não esconda, quero saber por mera curiosidade o que te move o que te comove o que te excita

certamente,obviamente, simplesmente o que te excita é o que te agita legal ou ilegal para o bem ou para o mal o demenos ou o demais e nada mais

@microstoriesjms https://operamea.weebly.com/

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E se fosse proibido abraçar?

E se fosse proibido abraçar? Não havia forma de partilhar, Os sentimentos que despertam, Quando a alma sente a solidão E quase pára de bater o coração, Quando as tristezas nos apertam.

Se o terno abraço fosse proibido, Esse carinho por nós sentido, Por não se poder demonstrar, Ficava perdido entre a gente, Nesse espaço onde não se sente, Dois braços para nos apertar.

A criança que o medo acordou, Do pesadelo que a despertou, Ficava, só, para ali a chorar. Sem o colo que a aconchegava, Sem a ternura que a consolava, Por não ser permitido abraçar.

Ao amigo a quem se escreveu, Notícias da vida que aconteceu, Numa carta, que ao terminar, Apenas se escreviam desejos, Para a vida e seus ensejos, Mas um abraço não podia enviar.

E o mundo está carente, De mais amor entre a gente, Que faça o sofrer parar. Mesmo não havendo proibição, Há muito que se perdeu a noção, Que nos devemos abraçar.

https://joseneves.tambemescrevo.com/

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A fome clama

Dê-me de comer... Dê-me de beber...

Dê-me algo...

Nem que seja sobra de tuas rejeições

Migalhas caídas ao pé do chão

Dê-me, suplico um pouco de teu pão.

https://linktr.ee/Literaturaja

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A saudade contida no significado do “nunca mais”

Disseram-me que eras silêncio, eu não pude acreditar, procurei, perdida na tua ausência, rastros da tua presença na esperança de um dia te encontrar.

Contaram-me que eras despedida, desesperada, percebi que a tua missão foste cumprida, dignidade e generosidade, traços de espíritos elevados, imaculados em suas jornadas, enviados pela Divindade para ensinar almas descrentes de humanidade a amar.

Gritaram-me, aflitos, que tinhas morrido, chorei a saudade contida no significado do “nunca mais”.

Saudade do que se desfez, de tudo o que o tempo levará, das manhãs de alegrias agitadas, das tardes sonolentas, aconchegadas em realidades esperançadas

e de noites esquecidas em sonhos de viver.

Saudade do que para sempre se foi, das histórias, agora, transformadas em cinzas, do pão doce no café da tarde, das tuas risadas festivas e dos comentários divertidos sobre a vida cotidiana.

Saudade da casa cor-de-rosa, do cachorro te espiando através da porta semiaberta, da música diária, da tua voz cantarolando, do cheiro da tua comida e da tua presença encantada, abençoando cada ser por você amado.

Saudade, Palavra dolorida, Associada à tua ausência, Eternizada na despedida da Mãe querida.

Mãe, Anjo de Deus, obrigada por tudo!

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https://fragmentosilusoes.blogspot.com/ 83

Mar de Letras

Há tempos eu quero escrever você Digo, escrever você literalmente Quero colocar você em palavras

Mas você me escapa

As palavras não encaixam seu ser Você é como as águas do mar, só que mais molhada

Ah... As águas que me banhavam, molhavam-me Era como se nunca secasse, a chuva não parava Mas eu falei, eu não sei nadar e, mesmo assim, entrei nesse mar

E eu, que tenho medo de mar, Aventurei-me em você, afogava-me no seu ser E, por suas águas, às margens eu fui jogada

Hoje, fico ali, parada, vendo as águas escorrer

Contendo minha vontade de se precipitar em você, posso não sobreviver Não sentindo você, questiono o meu viver

Se hoje escrevo você, coloco em palavras secas, é porque, Dentro do mar, meus olhos não abriam, mas meu corpo sentia Fora do mar, vejo, e sinto, por já não mais sentir, as águas que outrora me banhavam.

@l.s.daniellybass

https://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=222558

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Real murmúrio

O património da minha dor; Pertence à alma fracassada; Doente de valor;

Que se agacha enfadada…

Truz, truz, velhos hábitos; Aqui estou no marasmo; Onde moram medos séticos; Que enganam o sarcasmo…

Se esta folha está perto do fim;

É o destino que implora;

Que eu termine assim;

O desígnio que chora…

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A Forma Amorfa

Da rua ouvia-se o som de tambores, e a cada minuto o barulho ficava mais alto; já era madrugada e não havia motivo para toda aquela balbúrdia do lado de fora. Curioso, um genérico morador interiorano afastou um pouco as cortinas para que pudesse espiar o que acontecia na rua pela estreita fenda. "Dum dum dum", ouviu-se o barulho do tambor, dessa vez, dentro do quarto. O homem tomou um baita susto e nem chegou a ver o que sucedia lá embaixo; seu coração foi a mil e parecia que infartaria naquela noite. Ele tomou coragem, decidiu afastar as cortinas rapidamente e todos os ruídos cessaram; ficou estupefato, começou a achar que poderia ser coisa da própria cabeça, então, tomou um calmante, deitou-se e desligou a luz.

"Dum dum dum" soou o tambor, naquele momento muito próximo aos ouvidos dele, fazendo que ele acendesse o abajur o mais rápido possível. Não viu nada, como não conseguia dormir,

decidiu ligar a televisão e levou uma surpresa ao perceber que a maçaneta da porta estava girando sozinha. A porta abriu-se e ele não viu ninguém, mas, estapafurdiamente, um véu finíssimo e branco que rastejava no chão entrou no quarto. O homem não o percebeu entrando, sendo surpreendido pelo tecido que esbarrou em uma de suas pernas quando começou a girar e se elevar, tornando visível uma mulher com uma luz saindo de sua testa, sendo visível embaixo do pano.

A pândega parecia ter começado. Naquela hora foi possível escutar uma música sem qualquer melodia sendo tocada com instrumentos de sons atípicos enquanto uma corda feita de véus semelhantes e unidos por nós entrou na alcova de maneira muito mais espalhafatosa. Os véus desfizeram os nós entre si e passaram pelo mesmo processo do primeiro pano, posteriormente,

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começaram a dançar e a música ficava cada vez mais alta.

O homem não sabia mais o que fazer diante daquela situação e encolheu-se em posição fetal enquanto ouvia sussurros de várias vozes que diziam coisas ininteligíveis. Quando já não havia jeito de resolver aquilo, os véus começaram a se fundir em um só enquanto a música diminuía. O grande

tecido, nadando no ar como um majestoso peixe betta, uniu suas pontas e transmutou-se em uma grande ameba cristalina com uma membrana furta cor que estendeu seus pseudópodes e envolveu o homem dentro de si, ele, exausto, parou de relutar e finalmente encontrou o nirvana, assim, dormindo tão bem quanto nunca antes.

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A ordem do fator

Eu te juro que eu fui o primeiro a tentar fazer com que o seu coração viesse a me conceder, eu tentei de tudo. Falei de como era o meu mundo e principalmente sobre o meu dom de escrever, em alguns momentos eu te fiz renascer ao perceber que o brilho do teu sorriso tinha voltado a resplandecer, mas em um curto prazo de tempo apareceu outro cara que fez o seu coração se contorcer. A ordem do fator não altera o que sentimos juntos, então eu vou esperar a bela hora da gente se envolver, nessa grande disputa eu sinceramente não sei se o meu amor vai vencer, peço aos meus sentimentos que cuidem do meu coração para que nessa guerra ele possa sobreviver, o outro cara sabe jogar eu admito. Mas só eu consigo lhe descrever, ele te faz sonhar, pensar e eu te faço totalmente reacender, no momento ele está ganhando. Mas eu espero ansiosamente a minha vez de fazer com que você olhe para ele e venha amargamente a se arrepender. A ordem do fator não altera o que sentimos juntos, então eu vou esperar a bela hora da gente se envolver, essa luta iniciou de uma maneira tão natural que não dá mais para desfazer, cupidos façam as suas apostas e Vejam o show acontecer, ele fala das suas belas histórias para fazer o momento se favorecer, já eu tomo as suas dores e vejo você chorar de alegria e também percebo o seu coração vindo a se comover, não digo que sou melhor do que ele, estamos aguardando a decisão de quem vai se promover. A ordem do fator não altera o que sentimos juntos, então eu vou esperar a bela hora da gente se envolver, observo a sua amiga vendo você quase enlouquecer, você está totalmente dividida e não sabe o que fazer. Pois os dois têm um bom caráter com maneiras diferentes de fazer você florescer, está tão indecisa e no momento só pensa em desaparecer, fica tranquila que eu não entro em bola dividida mas eu quero que você saiba, eu pretendo te dar algo muito mais do que prazer. A ordem do fator não altera o que sentimos juntos, então eu vou esperar a bela hora da gente se envolver.

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Lucca Lopes Dias Santos Anápolis/GO

Um Universo

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Luís Amorim Oeiras, Portugal

Descrever a casa

Entrou na casa e sabia que teria de bem descrever tudo o que visse, se espaçosa ou mais diminuta, pormenorizar as divisões e seus conteúdos valorosos, rodea dos por cores de eventuais tonalidades que mais luz trouxesse ou talvez não, re lativamente à exterior luminosidade. Mas a descrição apenas pediu que o início fosse lá por fora e durante, pelo menos, a seguinte hora, devido a inesperadas dificuldades, olhando para a envolvente discreta da residência, antes de procurar descrever os interiores pormenores. Quantas janelas existiam, mais varandas e terraços que faziam pontos longínquos de vistas perceptíveis à natural contem plação e se todas elas estariam por ampla considerada sintonia em complemen taridade ou, eventualmente, na disposta concorrência de perspectivas consoante os ângulos existentes. Tentou perceber, optando por ficar imobilizado durante al gum tempo no lado exterior, mas encontrou-se bastante indeciso se conseguiria realizar tarefa com notório sucesso ou se, por outro lado, teria mesmo de ir lá dentro para tirar as dúvidas todas que muitas lhe tomavam quase o pleno do tempo. Repetindo o ver do interior pelo lado de fora, depressa percebeu que não seria possível ir ao espaço abrigado da casa e, portanto, com grande urgência te ria de resolver o pendente na sua melhor descrição pelo exterior, antes de bem fazer o complemento na parte onde estivera no início, tendo então sido retribuído para fora e de pronto ao quintal, bem pequeno no posto certo, mas apenas o su ficiente ao preencher de linhas poucas. O problema que muito o apoquentava es tava assente em conseguir reunir a informação sobre as vastas perspectivas que poderiam ser escritas, reportando ao que se via para o ambiente em ar livre de certa janela vezes todas as outras, acrescidas de varandas conferidas e dos ter raços, em idêntico processo. Não percebia como iria conseguir bem resolver tais singularidades, ainda para mais sem quaisquer pontos de referência trazidos,

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motivo pelo qual, improviso de aplauso feito, certamente iria dar-lhe um belo rasgado sorriso. Pensou em afastar-se um pouco, conferindo o que mais distanci ado estivesse para, havendo considerável desafogo no regresso visual à casa, en tão poderia muito bem ser essa zona onde chegasse que veria desde certo ponto da residência, pela janela, varanda ou terraço. Pareceu-lhe razoável solução e no imediato meteu disposição à tarefa, acreditando que atingiria um bom desempe nho. Começou pelo lado esquerdo da casa e afastou-se os metros necessários enquanto conseguia manter visualização da origem para no fim retribuir por es crito através do ponto onde chegara. Em casos alguns, afastou-se pouco, até dar pela sua frente a moradia da vizinha, convicção eminente de ser essa particular vizinhança que veria da residência que estava a descrever. Por outras situações, deslocou-se ainda mais, rumo aos campos de milho, poste da luz, videiras e mes mo até vistoso monte. Por cada janela, varanda ou terraço, tinha de alongar pas sadas ao caminho, por vezes imenso, até onde houvesse pé a ser percorrido com vista que fosse desafogada para a casa da origem, aquela do trabalho que lhe era solicitado. O pior foi quando passou à descrição do piso mais superior, sendo que até essa altura, fizera em descrição o equivalente à fachada ao nível da rua mais o patamar de cima. Chegara enfim a uma parte da vivenda, somente vista do alto, à qual muito teria de erguer sua cabeça sempre atenta para nada falhar nessa questão das visualizações perspectivadas que muito teriam de ser eficazes ao nível da precisão que lhe era exigível. Mas não esmoreceu, pois tinha um escadote de seis talvez, degraus para subir alturas quase inimagináveis. Descansava tal objecto no seu estacionado ligeiro de mercadorias, desde o momento em que precisara dele para colar alguns imponentes cartazes, quais publicidades nada discretas ao seu curioso serviço referente a descrição de casas, para o qual recebia inúmeras solicitações. Então devidamente munido com escadote grandioso, tratou de fazer recuo as vezes que foram necessárias, não passando despercebido à vizinhança, porque motivo estaria um homem em ponto tão alto, no cimo de raro objecto naquelas paragens, com tantos degraus como nunca visto, de altura superior a muros e escrevendo num bloco de notas depois de segundos quase intermináveis a olhar para todo o lado. Alguns curiosos pardais sobrevoa-

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vam bem perto dele, obviamente intrigados sobre o que se estaria a passar fora do comum, ali naquela zona. E a sua mediatização, do homem, não parava de crescer, quando bem dentro dos campos de milho e das suculentas adjacentes vi deiras, ele quase a tocar o espantado céu, ia observando tudo e demasiado es crevendo sob intensos olhares e até rasgados humores de tanta gente. Mais à frente, uma vez em pleno monte, aproveitou para dar um salto do escadote para uma árvore, qual macaco de vigorosa genica e, na companhia de indiscretos co loridos binóculos, mais escrita de pormenores ele acrescentou. Porém, na arrisca da saída tentada é que lhe surgiu percalço, ao tropeçar em ramo ligeiramente torto, dando um pontapé inadvertidamente no escadote. Houve quem, de pronto o ajudasse, erguendo, embora com notória dificuldade o acessório para ele poder descer. Quando ficou a salvo com pé assente, o trabalho pareceu-lhe concluído e regressou, puxando o seu fiel utensílio de observações até à residência, toda ela anotada com sucesso nas vistas existentes desde a sua origem, registadas no destino dos supostos contemplares, por si bem deduzidos em convicção acres centada de que mais ninguém conseguiria fazer este seu trabalho com tal eficiên cia, o qual raramente tinha envolvência assim tão abrangente. Nem sempre lhe era pedido nessa forma o que acabara de fazer, mas quando surgia tal necessidade, ele aprestava-se para ter uma boa tarefa desempenhada com grande eficácia e recebida como elogiada, aquando da aliviada conclusão de trabalho, a exemplo do presente caso, à ocasião, um deveras estranho caso. É que transpirava e não era pouco, de imenso cansaço pelo frequente ir e voltar similar até origem, a tal casa no ser bem descrita, por incontáveis vezes. Só que para estupefacção sua, disseram-lhe que teria de repetir todo aquele curioso trabalho, estaria tudo bem feito por certeza mais do que convicta, mas a vivenda tinha adicionais fachadas, realmente vistosas do outro lado, muitas janelas, espaçosas varandas e largos terraços que muito pediam para serem pormenorizados quanto às existentes, desafogadas e longínquas vistas.

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enterrei meus pés na terra! a luz que penetrava meus cabelos encontrava eco na cicatriz do meu rosto no coração costurado com arame farpado eu aguardei na inocência o futuro que me atravessaria ansioso pelo tempo da colheita do algodão que me adornaria a fronte (suspiro profundo)

percebi, bem mais tarde: somente ascendemos quando somos olvidados

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Entrelinhas

Em persistente estado de provisoriedade, as folhas da pequena samambaia permanecem sobre o chão da sala a marca dos meus dedos poeirentos macula ainda a parede do quarto os livros continuam pelos cantos é sabido que a mudança urge na acelerada frequência dos agudos de Audrey nos ventos inesperados dessa estação as possibilidades estão sobre a mesa posta diariamente com filosofia e café mas como irei organizar meus livros limpar as paredes e apanhar as folhas velhas se ainda são entrelinhas confusas os meus versos mais sinceros?

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Sobre o amor

O amor seja de amigos ou irmãos Tanto faz...

Desde que venha do coração e nós façamos o bem para assim fazer bem aos outros que nos transborde de felicidade para assim, se sentir feliz e bem com nós mesmos.

(Aluna do 9º ano A – Escola Edgar Guedes da Silva)

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Para o que eu disse não?

A leveza do olhar transcende o peso do corpo e espero minha vez de me aproximar ao balcão e pedir algo que cale a boca do meu estômago, alimentando a curiosidade com os detalhes do ambiente ao meu redor.

A fila do fast-food, no domingo à noite, é esparsa e se distribui no caminho sinuoso em manchas singulares de identidades sem nomes.

A mulher no caixa está repetindo em voz alta, pela terceira vez, o pedido recebido. Suponho que seja a forma com que ela tenta se convencer que não perdeu nada, enquanto o tempo de quem espera que ela se apresse está todo perdido.

Aproveito dessa lentidão para rever a galeria de imagens expostas atrás do balcão, cada uma retratando comidas coloridas, insalubres e altamente calóricas, imaginando, não sem culpa, o quanto terei que andar, pedalar, suar, me sacrificar, para compensar meus pecados de gula.

Não deveria estar aqui. Não, se quero parar de me comparar com as outras mulheres e de me sentir horrível ao considerar como elas conseguem ser tão magras e lindas e confiantes, enquanto eu sou um fracasso.

Penso nisso e, ao mesmo tempo, gostaria de me esconder, de ficar invisível e, talvez, se eu ficasse parada, se prendesse a respiração, se não dissesse uma palavra, eu conseguiria.

Mas é uma ilusão que dura apenas o tempo que o rapaz que, por último, entrou na loja, leva para me escolher entre tantas pessoas e se aproximar de mim.

— Moça, vai me pagar um jantar?

Não é a primeira vez que isso acontece e sei que eu não vou conseguir recusar.

Os outros clientes estão nos observando, estão me observando, esperando para ver o que vou responder.

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O rapaz também está esperando minha resposta. Ele tem aproximadamente vinte anos e uma expressão rebelde e zombeteira, que me leva a lembrar um colega da escola primária, que sempre me olhava desse jeito, quando me gracejava.

Enquanto isso, a mulher do caixa finalmente chama o próximo cliente, que seria eu.

Vou perguntar para o rapaz o que ele gostaria de comer, mas ele está distraído, parece ter esquecido.

Pois ele volta em si e me encara.

— E aí, gorda! Você vai pagar meu jantar?

Meu sangue congela. Meu constrangimento, minhas inseguranças, minha vergonha a respeito da minha aparência confluem numa raiva que não sei como deter.

— Não! E fique longe de mim! Se afaste! Agora!

O rapaz não retruca nada. Simplesmente levanta as mãos- sinal de rendição ou paz- e se afasta. Ele tenta se aproximar de uma garota que prontamente balança a cabeça, depois consegue convencer uma mulher.

Afinal, ele encontra seu sim. Eu, por outro lado, ainda não sei exatamente para o que eu disse não.

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Lições de Uma Tempestade

Essa semana, a tempestade tropical “Yakecan”, trouxe grandes lições para nós. A principal delas é que a maioria da população, pelo menos aqui em Pelotas e em todas as cidades litorâneas onde a tempestade passou, levou os avisos a sério e tomou as providências necessárias para evitar uma catástrofe, apesar dos desdéns de alguns.

Com isso, também respeitaram as forças da natureza que respondem as dores que o homem causa, como cortar árvores, poluir rios, matar animais por esporte, na forma destes eventos climáticos como tornados, terremotos, nevascas, enchentes constantes e secas prolongadas.

Outra lição que a “Yakecan” nos deixa é a de que os meteorologistas deveriam ser mais valorizados pelo trabalho que fazem todos os dias.

Não é fácil prever o tempo e é uma missão crucial que impacta o dia-a-dia de todos nós.

O clima é parte importante da história da Humanidade e quem compreendeu isso, venceu guerras e fez seus povoados se desenvolverem rumo ao progresso.

No entanto, a ganância desenfreada também feriu a natureza e o clima está mudando aos poucos no planeta.

E é por essas e tantas outras coisas que não somente os meteorologistas como toda a ciência pode e deve ser valorizada.

Ou esperarão uma nova catástrofe para só depois investir na ciência e preservar a natureza ainda não destruída pelo homem?

O governo realmente deve levar as coisas a sério ou senão as próximas gerações sofrerão com as “Yakecans” ainda mais fortes do que esta.

Afinal, não se brinca com as forças da natureza e sai assim impune, certo?

Ou agem logo ou nossa história acaba aqui.

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Reencontro(s)

Estava cansada de ser tão responsável. Queria agir sem pensar. Pegar um caminho diferente. Sair da curva. Não seguir um padrão. Beber além da conta. Tomar banho de chuva. Perder a hora. Agir por impulso.

Não queria mais aquela vida adiada, na qual os sonhos ficavam relegados à uma próxima oportunidade. Tantos planos nunca priorizados. Tantos desejos reprimidos. Pressentia estar ficando sem tempo para tudo aquilo que achou que faria um dia.

Sentiu a areia morna sob os pés descalços. O horizonte tingia-se com as cores do pôr do sol, como uma incrível e irreplicável aquarela. As gaivotas voavam rente ao mar. O som das ondas batendo nas rochas sobrepunha-se a todos os demais. Ao longe avistava-se uma pequena embarcação, já com as luzes acesas. Uma névoa suave invadia lentamente a costa.

O calor dos últimos raios de sol em seu rosto e o arrepio de frio provocado pelas gotículas de água salgada que salpicavam seu corpo, a fizeram perceber outros contrastes. Sua pele macia ardia levemente com a aspereza da barba dele. O cheiro doce dos seus cabelos e o sabor salgado que a maresia deixara em sua boca. A pressa lasciva das mãos dele e a serenidade da alma dela. De um lado o frescor do ar livre, de outro a calidez de um reencontro depois de tantos anos. Estava segura, mas ao mesmo tempo era tudo tão novo e empolgante.

Naquela manhã, haviam se esbarrado sem querer em uma livraria. Ele alcançoulhe os dois romances entre os quais ela tentava se decidir. Os livros foram ao chão com o choque desajeitado dos seus corpos. Reconheceram-se imediatamente, mesmo após tanto tempo sem nenhum contato. Abraçaram-se de forma comedida e um tanto embaraçosa. Ele fez um comentário positivo sobre um dos livros e ela resolveu levar ambos. Foram juntos até o caixa da loja e, enquanto aguardavam sua vez, atualizaram rapidamente os acontecimentos dos últimos vinte e dois anos. Suas vidas seguiram caminhos muito diferentes, mas, por acaso, naquele dia, cruzaram-se novamente. Já na porta do estabelecimento, um convite para um café. “Porque não?”, pensou ela.

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O desconforto inicial foi dando lugar à antiga intimidade e logo já sorriam animadamente. Uma caminhada pelo bairro histórico após o café. Conversa boa, repleta de recordações. Nem perceberam o tempo passar. Quando se deram conta já almoçavam num pequeno bistrot de fachada discreta que ela almejava conhecer. As duas taças de vinho ajudaram a relevar as diferenças latentes entre suas expectativas para aquele momento de suas trajetórias individuais.

E agora estavam ali, juntos, naquela praia onde tudo começara, quando eram ainda muito jovens e cheios de esperanças.

Enquanto seus corpos fundiam-se no desejo em comum, ela centrou-se no agora e em seus próprios sentimentos. Não conseguia compreender as palavras sussurradas em seu ouvido, abafadas pelo ronco contínuo do oceano. Ainda assim elas aumentavam seu desejo. Moveu-se no ritmo das batidas do seu coração e se esqueceu de qualquer compromisso. Entregou-se sem pudor ou preocupações. Já não sentia aquele nó dolorido na garganta que anunciava o choro que por vezes surgia repentinamente. Não havia melancolia ou culpa. Um pouco de nostalgia, quem sabe. Percebeu que estava realmente feliz.

Viveu aquele momento sem idealizar o passado e sem sonhar com o futuro. Impossível prever as consequências daquele ato. Não queria prevê-las. Não queria evitá-las. Talvez nunca mais desejasse beijar outra boca ou se aninhar em outro abraço. Talvez nunca mais o visse.

Suas certezas se dissiparam tal qual uma flor de dente-de-leão que num sopro se desfaz facilmente, espalhando assim, ao sabor do vento, suas sementes para que, no tempo certo e sob as condições ideais, brotem e floresçam.

A despeito do que fosse acontecer, teve a convicção de experimentar uma liberdade irreprimível e renovadora. Se tudo aquilo durasse um dia apenas, ainda seria suficientemente capaz de mudar seu destino. Planejaria menos. Viveria mais.

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Minha Metamorfose

Me disseram para não ser artista. Que era uma realidade distante, muito longe da minha, que não me permitia viver de sonhos. Que era uma quase utopia, uma fantasia criada, uma tremenda ilusão, e quem sabe até uma histeria. Tentaram interromper a minha metamorfose, quiseram que eu ignorasse a minha veia artística, e que todas as minhas ideias eu abandonasse, por isso me contaram todas essas mentiras.

Disseram que ser artista não dá dinheiro. Que eu deveria apegar-me à razão o tempo inteiro, abandonar os meus apelos e silenciar minhas inquietações. Que eu não deveria ser como sou. Não deveria me doar muito nem deveria dormir menos. Que deveria pregar meus pés no chão, viver uma sina desvairada, que não deveria me importar, mas sim me contentar. Que não deveria viver indignada, e foi no que me fizeram acreditar... por um longo período.

Em resumo, me ditaram todas as regras, cujas determinações eu já tinha escutado falar. As que eu ignorava, as tais das regras que ditam o padrão ao qual eu deveria urgentemente me acostumar. Ou melhor, me adequar. Me disseram tudo que eu deveria ou não deveria ser e fazer. Mas, ninguém se importou com o que eu queria, ninguém me disse para ser quem sou, ou ao menos feliz. Ninguém pensou se eu conseguiria ser outra coisa a não ser eu mesma. A todo momento aparece alguém para me dizer que não devo ser artista. Mas ninguém nunca parou para pensar se um artista consegue deixar de ser um artista.

É assim que seguimos presos dentro de nós mesmos. E nessa linha, as pessoas não se dão ao “luxo” de serem quem são, pois, se assim fosse, ninguém gostaria delas. Sim, ser de verdade virou luxo. Porque seres humanos não gostam de outros seres humanos, mas sim do padrão que criaram, quase como se fossem um experimento de vida e não a própria existência. Como se só

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existisse isto ou aquilo, como se houvesse apenas “A” ou “B”, mas não “C”, “Z” e uma infindável combinação disso tudo. Como dar margem a essas limitações, se os seres humanos são tão mais complexos? Quem inventou as regras, o tal padrão? O que sai desse padrão os assusta. O diferente, então, os enlouquece.

A tentativa de ser quem se é por si só já custa um preço caro demais, e gera uma tormenta generalizada, quando deparada com uma série de seres que quase nunca se questionam. Afinal, para que algo se torne comum, é necessário que alguém vá e comece a fazer, pelo menos, algumas vezes. Para os que se inquietam comigo, eu gostaria de dizer que também me assombram. É que a banalidade da comodidade contemporânea tem me incomodado. E presenciar as sombras do próprio medo me apavora. Ou seria eu, excessivamente excêntrica, cheia de obsessões e manias, a impossibilitada de habitar neste mundo?

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Mestre Tinga das Gerais Corinto/MG

Piaba no Leite

No interior das Minas Gerais, ainda se compra o leite nas carroças,e tem aquele que atende às freguesias ,e a leiteira ou outro vasilhame fica ora no portão,ora o freguês vai até a porta e recebe o leite.

E tem gente que diz:

— Diacho esse leite ta ralo dimais!

E lá vem o Ataíde com a carrocinha a gritar:

— Óia o leite fresquin,fresquin!Foi tirado agorinha mesm!

O Seu Mandruvachá ouvindo o leiteiro sai à porta e grita:

— Ô Seu Taíde!Achegue aqui!

O Ataíde atendeu a vizinha do lado calmamente e se dirigiu até ao Seu Mandruvachá e:

— Dia Seu Mandruvachá!Como passô de onte?

Seu madruvacha um pouco nervoso respondeu:

— Óia Seu Taíde,no leite que o sinhô dexô onte,eu incontrei inté uma piaba!Assim num dá!O leite tava mais ralo que lágrama de neném!

O Seu Ataíde com muita calma respondeu:

— Óia Seu Mandruvacha.O sinhore compro só um litro e incontrô uma piaba?

E ele:

— Foi sim sinhôre!

E ele com um ar de sorriso respondeu:

— Se o sinhôre tivesse comprado dez litro, tinha incontrado um surubim grandãooooooo!

Dizendo aquilo, o Ataíde saiu mais do que depressa e deixou o Seu Mandruvachá resmungando, na certa deve ter perdido a freguesia!

E o seu leite? Não tem um piabinha ?

Será que o seu leiteiro aumenta o leite das braúnas com as águas dos córregos?

Inté

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A Amiga Bobinha ( ou Ingênua Adolescência )

Conheci Marcinha nas férias escolares. Eu era novíssima na turma da rua, e havia acabado de completar 13 anos. Ela completaria 15 na semana seguinte. Logo fizemos amizade e ela me falou de seu grande amor por Cadu. Só que ele havia terminado com minha nova amiga no fim do verão anterior.

O que me chamou a atenção em Marcinha, foi a forma intensa como entendia sua paixão por ele. Eu e as outras meninas dávamos conselhos a ela para que não chorasse, não valia a pena sofrer por menino algum. No dia de sua festa de aniversário, ela voltou com seu “príncipe”. Dizia-se feliz, mas volta e meia chorava quando brigavam.

Durante aquele mês de férias, de convivências e descobertas, notei que alguma coisa sempre me deixava intrigada com relação ao seu modo de ser, mas naquela época não conseguiria analisar nada. Ainda não tinha maturidade para isso.

No meio de janeiro, certos comentários surgiram a seu respeito por parte dos meninos. Diziam que ela estava quase sempre com uma roupa normal e que quando o Cadu chegava ao prédio, punha outra bem decotada... Nós, suas fiéis escudeiras, não concordávamos com essas acusações... Como o discurso dela tinha a marca do sofrimento (ela era a coitadinha que amava e perdoava com todas as forças), nós a defendíamos calorosamente. Sim, ela era tontinha, por sofrer por amor, mas não era dissimulada, isso não combinava com sua personalidade.

No finalzinho da temporada, Cadu terminou com minha amiga sofredora, que, muito abalada, retornou para sua cidade. Lá, conheceu Patrick, que já tinha 22 anos e trabalhava. Muito triste por conta de Cadu, começou a ficar com ele para tentar esquecer sua eterna paixão. Fez amizade com as suas duas irmãs, e mesmo triste, seguiu a vida. Ficou sabendo que Patrick estava indo bem na firma em que trabalhava.

Ela, sempre tão atenciosa com as amigas, sugeriu às irmãs fazerem uma faxina no quarto dele, já que era tão esforçado. No meio do trabalho, Marcinha encontrou uma caixa de preservativos e cortou as pontinhas. Nos dias que se seguiram, deu um jeito de visitá-lo, sem que os pais dele percebessem (as irmãs a ajudavam, também a achavam bobinha)... E assim foi.

Nas férias de verão do ano seguinte, ela não apareceu na praia. Chegou, porém, o seu convite de casamento, o que surpreendeu a todas nós, pois Marcinha estava com apenas 16 anos. Ela e Patrick se casaram, em uma cerimônia simples, na qual ostentava uma nada discreta barriguinha.

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Quando Beatriz, sua filha, completou seis meses, minha amiga bobinha foi morar em outro estado. Só depois de 12 anos, fomos nos reencontrar, com ela de volta a sua cidade. Continuamos amigas e notava como sua personalidade era surpreendente. Um dia me disse:

— Tenho uma novidade pra você.

— Já sei, você está grávida novamente.

— Eu não, a Bia.

Eu congelei. Bia mal tinha completado 13 anos...

— Não posso expulsá-la de casa. Mas a família do rapaz tem posses, então ela se sacrifica durante uns cinco anos e quando tiver dezoito vai viver a vida dela...

Dali a uns meses, nasceu um garotão. E minha amiga mais uma vez chorou de emoção ao ser avó com menos de 30 anos.

Minha amiga bobinha mudou-se novamente e perdemos o contato. Cheguei à conclusão de que vários aspectos da personalidade são formados na adolescência, mas a compreensão deles pode ser muito equivocada nesse período.

Confesso que durante muito tempo admirei sua habilidade em passar imagens dúbias para as pessoas. Seu amor infinito por Cadu, o qual foi facilmente substituído por outra pessoa; e a menina calculista e já bem amadurecida para sua idade, a qual só era percebida desta forma pelos meninos.

Quando terminei a crônica, questionei o título e me vi várias vezes tentada a alterá-lo. Depois, pensando bem, concluí que não poderia ter sido outro, pois retratou fielmente a amiga bobinha, que acredito, foi facilmente identificada pelo leitor...

(Crônica premiada com Menção Honrosa no IVConcurso Literário Beleza e Simplicidade)

https://www.facebook.com/monica.monnerat.18/

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Caminhos incertos

Eu vou trilhando caminhos incertos No desespero de encontrar contigo. Sempre enfrentando medos e perigos, te chamando por campos e desertos.

Vou divagando pelo mundo afora E te buscando pelo mar imenso. Eu vou padecendo de um mal intenso Desde o instante em que você foi embora.

Vou chorando por becos e calçadas E gritando teu nome aos quatro ventos. Seu rosto não sai do meu pensamento, Vou te perdendo pelas madrugadas.

Eu vou correndo por longas estradas, Te perseguindo em cada entroncamento, Te procurando em cada vão momento, Mas nada encontro, nem sequer pegadas.

E na solidão eu vou seguindo triste, Desiludida com meu sofrimento.

Será que não escuta esse meu lamento?

Ou é verdade que já não mais existe?

https://www.facebook.com/anadefreitas.freitas.3/

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Nazareth Ferrari Taubaté/SP
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Nercy Grabellos Rio de Janeiro/RJ

Na Vila Rosa (Haicais)

Meus avós chegaram

Na Vila Rosa

Com sua gente corajosa.

No bairro fui criança Fiz amigos queridos Que ficaram na lembrança.

Os pioneiros chegaram

Na vila luminosa

Chamada Rosa

O ônibus na avenida, Havendo poucas opções Era a melhor saída

Nas trilhas verdejantes

Seguiam os moradores, Para o trabalho triunfantes.

Quando chovia o lamaçal Atormentava os transeuntes

Até a avenida principal.

Era uma casa aqui outra acolá Nas moradas a luz do lampião Penso que nada foi em vão.

No alto da colina Via o tempo passar, Na baixada a nos olhar.

Eu morei na vila Com nome de Rosa Uma vida amorosa.

Agora é tudo moderno, Ninguém vai acreditar Na história que estou a contar.

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Martini Cereja

Na sua alma chovia fina chuva, fria e lenta.

As janelas permaneciam fechadas, ventava.

Nada acalentava aquele dia mesto.

Na vitrola, Carlos Gardel bolerava, tristemente.

De versos em versos, chorou todas as músicas.

Sentia-se só, da vida ausente.

Lembrou do gosto do dry martini , com saudade do abraço caloroso, daquele amor gostoso, que fora embora no verão.

Pós um casaco cereja, pintou a boca carmim.

Baita saudade.

Mas pensou, saudade maior é a que tenho de mim…

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Amor-em-uma-névoa

Meu querido Love-in-a-mist, se perguntar a este cérebro Quem era realmente louco: Abel ou Kane? Dois irmãos que amavam uma linda garota, Tanto cabelo loiro, grosso com muitos cachos

Não precisa de roupas para cobrir o corpo dela Brilhando como dizer: “Coloque suas mãos em mim Para ver se estou vivo ou apenas o seu sonho! Sob o sol derretendo apenas um sorvete.

Mas enganando sombras ou tons de cinza Dá a ela esse poder de perturbar todos os dias; Então, só o deus da chuva pode me tocar. Todas as tribos, mesmo que tentem, nunca se sentirão livres

E nunca pode ver essa liberdade na névoa. Pense, para eles é quase como se eu não existisse. Talvez um escale uma montanha de felicidade Para contar as sardas neste rosto celestial.

Alguém disse que a Beleza salvará o mundo; Devo pedir de novo e de novo meu bom Deus, Se nesta guerra vencerá a Bela ou a fera? Love-in-a-mist desaparecido na missão para o Oriente!

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Consulta Médica

Cheguei ao consultório do doutor

Um tanto aperreado e muito aflito, Achando que teria um faniquito Morrendo mais de medo que de dor.

O médico era um bárbaro agressor, Socava meu pulmão como um maldito.

Enquanto eu devorava o próprio grito, Mais forte ele esmurrava seu tambor.

Depois de cutucar minhas costelas, Deu tapas, safanões e apalpadelas

Que quase me desmontam o esqueleto.

Saí dali repleto de sequelas

E, mesmo que eu arranje outras mazelas, Num consultório, eu nunca mais me meto!

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Devaneios

Quando se morri, quando se vive? Quando se renasce, quando pensa!... Ele se pergunta, ele se exclama, mas só se responde quando recorre as indagações de seu interior: quando passamos a acreditar em deuses, nações e direitos humanos; a confiar no dinheiro, em livros e leis; e a ser escravizados pela burocracia, pelo consumismo publicitado, pela busca incessante da felicidade e do sucesso. Que papel temos nisso tudo?

Ele apenas sabe que os pássaros voam não por que têm o direito de voar, mas por que têm asas. Nós, ao contrário, podemos ir ao supermercado e encher o carrinho com mercadorias ao nosso bel

prazer. Para fazermos a janta predileta ao nosso paladar, e provavelmente iremos devorá-la diante uma enorme TV Full HD. Que nos projetará uma torrente de outras novas invenções. Enquanto isso, deglutimos nosso prato, sem ao menos sentirmos seu sabor. Podemos viajar para mil lugares incríveis. Mas, para onde quer que formos, é bem provável que estaremos muito mais atenciosos a tela do smartphone, do que à paisagem, o lugar. Temos tantas opções como nunca antes vista, mas quão boas são essas opções, se perdemos a capacidade da percepção?

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E lembra das manhãs que se iluminavam cheia de descobertas, atordoadas pelo cheiro do café quente, do pão com manteiga... Manhãs em que recebia com os pés descalços; e se divertia com as trapalhadas dos passarinhos... Manhãs que se faziam querer só uma coisa nessa vida, e essa coisa era a inocência eterna num mundo que não lhe fazia querer mais nada... E isso significava poder sempre brincar de manhã, correr com as outras crianças atrás das enxurradas, ir à escola para aprender a ser um bom filho e crescer para poder ajudar as outras pessoas a salvar os animais, para melhorar o mundo... Enfim, para se dar, se dedicar, viver de carinho e do bastante.

Todas as manhãs, num breve sopro ele sentia o hálito da vida, um hálito doce nascido da imagem das flores, do brilho do verde dos arbustos, do laranja-vermelho do céu vespertino. E essa imagem o fazia rememorar o bom hálito, a suscitar em si memórias passadas, dos sonhos vividos no paladar já perdido, dos bolinhos de chuva, das nuvens de açúcar que, do baixo do céu, cobriam o campo e anunciavam que a tarde, então, começava.

Certo dia viu na TV que o homem era o mais poderoso dos bichos e que seria capaz de destruir o mundo com o simples ato de plantar nos corações humanos desejos distantes. Meu Deus, isso não seria possível, exclamou! Resolveu sair de casa para caminhar além dos muros dos seus sonhos, além das fronteiras da sua pequena cidade de

esperança, muito acima do seu céu de algodão doce.

E então luzes mágicas lhe encantaram, lhe convenceram, lhe envolveram com a pele do animal magnificamente raro e o conduziu por estradas de mármore, de diamantes e prazeres, corredores de luxo que talharam por atalhos claustrofóbicos no poente, dos quais encontrou encantos sobejamente expostos em vidros sobrepostos, milimetricamente apostos e diametralmente dispostos em quadriláteros e esquinas, a sua íntima convicção de nada precisar.

E então parado, estranho, insosso, conduzidamente disposto, engoliu o coração que estava na boca e regurgitou, desesperado, a bile de uma necessidade inexplicável de eternizar toda a sensação presente no suspiro de cada dia.

Trabalho, trabalho... As luzes... As coisas... A vida!

Encantos em couro, um estouro de plumas, matadouros em linho, olhos brilhantes e a sensação de ser uma estrela. Conversas vazias travestidas em pelica de pompa, interesses eróticos sublimados na inveja, prazeres criados, induzidos, implantados no vácuo do eu, na paz tão sensata que se esvai sem pudor.

LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 Nesse breve sopro a vida muda de rumo... Um hálito doce de amêndoas... Será veneno? O brilho do verde é radioativo, o laranja do agente, o vermelho do chumbo hoje

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colore seu céu. A imagem que faz retumbar o mau hálito suscita em si receios futuros, dos sonhos perdidos num paladar já vivido, dos bolos de nêutrons, das nuvens atômicas que, de um vão coração, recobrem o mundo e anunciam que a tarde não vai mais chegar.

Ele se ama muito, um milhão na mesma vida! E merece de tudo um monte. Por favor, duas balas, uma bomba. Buuum! Um comprimido e felicidade e outro de êxtase, uma dose exagerada de Jack Daniel’s e a euforia na sarjeta do shopping center predileto.

“Não! Não recolha os estilhaços dos meus devaneios! Eles estão perfeitos, brilhando como meus lábios e

como as estrelas de Hollywood... Não! Não recolha meus devaneios! Leve meu raio laser! Afinal, não preciso mais nada ver... Já me são bastante as ofertas promocionais da liquidação dos meus opacos amores... Seriam essas tantas palavras sinal de vida sadia? Ou matarei eu essa vida publicitada para viver uma vida poetizada?” – ele se grita para dentro em desespero.

Absorto nestes pensamentos vagos, disse-se: se ontem eu morri para matar meus sonhos, hoje eu não mais morrerei. Em algum momento você tem que escolher entre a vida que nos obrigam ser vivida ou a ficção das poesias na vida.

https://www.facebook.com/pauloluis.ferreira.10

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Carta ao poeta

Há filosofias que nos norteiam, apontando caminhos que nos levam a qualquer lugar.

O poeta escreve certo por linhas tortas, tentando dar explicações do que faz e até se entorta com tantas palavras que escreve, encontrando dificuldade para pronunciá-las.

O poeta tem muita fé em Deus, porque Deus escreve certo por linhas mais do que certas. O poeta continua pensativo, resolvendo o que vai apontar em seu caderno, pega um lápis ou uma caneta, rabisca o primeiro verso, quer fechar pelo menos uma estrofe, cantarola enquanto pensa, procurando o ápice da inspiração. Esse poeta é harmonioso e cheio de oportunismo, não se esquece de agradecer a Deus.

As pedras foram retiradas do caminho do poeta, ele assegura que não as chutará, ao invés de fazer isso... o poeta junta as pedras para edificar seu poema preferido. No meio do caminho, há um obstáculo, o poeta ergue sua cabeça e medita, encontra saída por outro caminho, deixa as amarguras de lado e segue sozinho.

No fim do caminho, há um túnel escuro e sem saída, o poeta faz nova reflexão, ensaia um cálculo matemático, colocando dividendos em questão como medida cautelar.

O poeta retorna à sua jornada, usando o mesmo caminho que o levou à escuridão, continuando suas andanças, avistando o norte que deve seguir;

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ainda confuso, não definira aonde ir no auge de sua sabedoria e, na busca do viés da subordinação, o poeta quer fazer sua declamação, apropriando-se de rebuscados versos cintilantes ao seu linguajar coloquial, confirmando eficiência a toda prova, nunca desistindo de seus ideais, escrevendo textos sem se preocupar com as regras, mantendo o equilíbrio gramatical.

O poeta é um ser incisivo que nunca desiste de seus sonhos; mesmo sofrendo, mantém-se calado, esbraveja quando necessário, repreende se houver necessidade,

recusa-se a tomar medidas incorretas, medita para não cometer injustiça, elabora seus incrementos poéticos com exatidão.

Ele agradece a Deus, dizendo-se ser iluminado por ele, resigna-se e não se auto vangloria, encoraja-se para manter-se enlevado.

O poeta é genial, ele trabalha bastante, nunca está desocupado, sua mente é deveras evoluída.

Esse cara é o poeta, verdadeiro artífice da poesia, poetizando com excelência, ele permanece de bem com a vida.

https://paulovasconcellospv.blogspot.com

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Poliana Zamboni Vacaria/RS

Se mudar de ideia

Se mudar de ideia E resolver arriscar na gente Saiba que eu vou estar esperando Contente.

No que depender de mim Quero ficar sempre perto de você Mesmo que em amizade assim Eu te admiro e me "enamoro" de longe.

Mas se mudar de ideia, Assim que sua boca pronunciar essas palavras A minha vai arrebata-la em um beijo Repleto de desejo Por tanto tempo contido.

Vou colar meu corpo ao seu, Minhas mãos irão passear Pelo cabelo louro seu, Vou mergulhar nesses olhos de esmeralda Que me embriagam, Mergulhar,afundar me arrebatar Nesse olhar

Que desde a primeira vez que lhe vi Está a me fascinar, Me embriagar com a melodia da sua voz, Seja meu algoz.

Por suas mãos Deixar-me acariciar Até ofegar, Deixar meu corpo deitar sob o chão Com o seu sobre ele

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A me beijar com gosto, Também quero sentir seu gosto.

Vou tirar minha blusa devagar Depois os botões da sua camisa Um a um desabotoar Até sua tatuagem de cruz

Em meio ao peito enxergar, Essa que sempre quis tocar, Agora vou beijar.

Se você mudar de ideia Vamos nos entregar ao desejo, Atender nossos anseios, Nos arrebatarmos no ardor dos beijos, Na brasa da pele, Nos queimarmos um no outro, Não apague meu fogo Incendeie comigo, Eu gosto disso De estar nem que por um minuto De devaneio Desse jeito contigo.

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Amar o Crepúsculo

Amar o crepúsculo da tarde

É olhar teus olhos puros, diurnos

A tua janela está limpa e escura, escondem na verdade sua verdadeira face

Amar um tempo que não é meu

É momento passageiro que se perdeu

Sem arte não quis mover os passos

E me arrasto

À tarde

descendo em meu compasso Perco-me de vez...

Amar é o que me resta nesse momento

E beijo tua terna estrela se movendo.

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Ondas do tempo

Difícil reprimir o sentimento de pura inveja, quando a filha da vizinha colocava a pequena cadeira de balanço na calçada. Todo dia, à tardinha, acontecia para me enlouquecer de desejo. A menina punha em mim olhos brilhantes de soberba e via os meus implorando... Nunca me ofereceu seu lugar, nem por um instante. Ao escurecer retirava o troféu bem devagar, com um sorriso de escárnio.

Quando o tio comprou uma cadeira inglesa toda de palhinha, fartei-me. Tantos anos haviam se passado, mas o balanço teve o sabor do vaivém das ondas do mar. E naveguei até a calçada de outrora.

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Quem entende as mulheres?

A loja de departamento era longe. Decidiu ir ali mesmo no bairro, na Home Decorating, casa de decoração. Foi a pedido dela: a companheira queria varões novos para a cortina da suíte.

Foi atendido por uma moça muito simpática que lhe mostrou os modelos, fez sugestões, vendeu e pediu que lhe acompanhasse até o balcão “para tirar a nota” (fiscal).

— Qual seu nome completo?, perguntou, simpática.

— Bruno... Bruno Araponga.

— Marido da Sônia, que foi minha professora...

— Onde? Quando?

Na escola “x”, respondeu, há uns seis anos atrás. “Ótima professora”, completou, enquanto completava os últimos dados na nota fiscal. “Diz pra ela que mandei um abraço!”, disse na saída da loja, entregando-lhe a mercadoria.

Em casa entregou o abraço:

— Encontrei uma ex-aluna sua, mandou um abraço.

— Qual aluna? Como é o nome dela.

— Ritinha.

— Nossa, já tive tanto alunos... como ela é?

— Normal.

— Normal como?

— Ah! Morena, cabelos longos e pretos, olhos esverdeados, um belo sorriso de dentes brancos, muito simpática, um rosto diferente, lábios carnudos e úmidos, elegante, olha pra gente assim, cheia de mistério... bonita... muito bonita, um jeito de andar assim sexy, peitos...

— TÁ BOM! JÁ ENTENDI!, grita ela, com aquele jeito enfurecido.

E ele sai, resmungando: “Quem entende as mulheres? Não foi ela que perguntou?”

https://www.facebook.com/reinaldo.13.fernandes/

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Singelamente, Cris

Chove e vejo as gotas da chuva com meus ouvidos. São pérolas brilhantes que escorrem do céu. Quero senti-las, por isso abro a janela. Pode se resfriar, Cris. Ouço isso desde pequena. Se liga, mãe, já tenho quinze anos. Mãe é mãe, ela responde, e diz que quando eu tiver um filho vou saber o que é ter preocupação. Tá bom, mãe, mas me deixa continuar vendo a chuva. Encharquei as mãos. Por quanto tempo? Ah, isso não importa. Vi a chuva sem pressa, no ritmo que a vontade ditou. Pego agora uma toalha macia, com cheiro de lavanda, seco bem os dedos e vou para o computador. Ele é quase igual ao que todo mundo usa, só tem alguns programas especiais e está conectado a uma impressora braille. O que vou escrever? Ainda não sei. Ontem conversei com as flores. No meu quarto há rosas, madressilvas, jasmins, peônias. Cada cheiro é uma linguagem que tem suas próprias palavras e me faz sentir o mundo de um jeito especial. As rosas me acalmam, especialmente as brancas. Os jasmins despertam minha curiosidade. Depois da conversa, escrevi um poema. Você é muito criativa, Cris. Mãe é mãe, mas sei que ela gosta do que escrevo.

Pronto, liguei a máquina. Acho que vou escrever uma história. Começo: estou pegando um pouco de sol na varanda e ele chega. É o meu herói preferido, dois anos mais velho do que eu, o Super Dezessete. Logo me pergunta:

– Bora sair, Cris?

– Pra onde, tá ligado?

– Tipo voar por aí.

Concordo. Ele me toma nos braços tatuados e fortes. Levantamos voo.

– Me empresta seus olhos? Pergunto quando ganhamos altura.

– Já é – ele responde –, a voz bem firme, quente, gostosa.

Voamos sobre a cidade. Não vejo ninguém dormindo nas ruas nem catando comida no lixo, na minha história a pobreza acabou. As praças estão cheias de gente que brinca, que baila, que ri. A tarde vai caindo de mansinho e o sol se deita no colo das águas, procurando a mais bela das ninfas, que tem cabelos de estrelas. Super Dezessete quer saber se vamos pousar em algum lugar. Não, tá

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ligado? Prefiro voar mais. Quero ir mais longe, até a Amazônia, podemos voar na velocidade da luz. Ele diz já é, e num piscar de olhos vejo matas exuberantes, sem qualquer vestígio de queimada. Vejo também índios cantando, onçaspintadas correndo, araras-azuis se acasalando. Na minha história a vida viceja, é a flor mais cheirosa do jardim que chamo de mundo. Retornamos a minha casa. Meu herói me tira dos braços e me põe de pé diante dele.

Tô vazando, diz, mas lhe faço um sinal para que ainda não vá. Quero música, música alegre para dançar. Então dançamos e nossos corpos parecem um só. A dança bem que podia durar para sempre, mas logo vou tirar os sapatinhos de cristal e calçar as sandálias novas que minha mãe comprou. Hoje a gente vai jantar fora, é meu aniversário. Super Dezessete faz cara de espanto. Pensei que os super-heróis soubessem de tudo, só que disso ele não sabia.

– E o meu presente? Não pergunto, quase suplico.

Ele me beija, então perco o ar. Nisso, minha mãe me chama. Não quero ir, o gosto do beijo ainda não me saiu da boca. Digo que já vou e fico parada, a alma leve, tão leve que me sinto suspensa no ar. Super Dezessete vazou e de novo minha mãe me chama.

Bom, tchau, computador, por ora deixo você descansar. Mas me aguarde. Quando a madrugada chegar e a casa estiver mergulhada no mais delicioso silêncio, eu volto. Assim vou vivendo como gosto de viver. Assim sou: singelamente, Cris.

https://www.facebook.com/renatojosede.oliveira.7/

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Em Busca do Tempo Desperdiçado

“Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente ; nada se lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isso faz Deus para que haja temor diante dele”-Eclesiastes, 3,14

-Mestre, vale a pena eu gastar meu tempo lavando a louça do jantar de modo a não deixar nenhum resíduo, gordura e sabão nos pratos e talheres, secando-os muito bem e guardando-os em seus devidos lugares no armário ?

-Se você estiver preocupado que estará perdendo uma atividade recreativa de seu agrado, não deve executar a tarefa. Não é bom que seu corpo esteja num lugar e sua alma em outro. Se, porém, estiver interessado em praticar a solidariedade para com seus colegas do mosteiro, então terá sido um tempo bem empregado.

-E se meus colegas não tiverem a mesma dedicação, empenho e zelo nas tarefas domésticas, fazendo tudo às pressas e malfeito ?

-Então sua atitude terá mais valor ainda, porque além de demonstrar a solidariedade para com eles, mostrará que uma ação bem feita traz satisfação tanto a quem faz quanto para quem ela é dirigida.

-E se, como costuma ocorrer, alguns deles vierem zombar de mim, falando que essa atividade é própria de mulheres ?

-Então seu trabalho terá atingido um nível mais alto ainda, pois possibilitará que você exercite sua paciência e tolerância.

-E se, com o passar do tempo eles me isolarem das suas atividades por puro preconceito ?

-Então você poderá exercitar também o perdão e a compaixão.

-E se, distante do convívio de meus colegas eu me tornar depressivo, irritado, malcriado e agressivo ?

-Então poderá exercitar a paz e a humildade.

-E se, eu me encher de ódio e mágoa e pensar em me suicidar ?

-Então poderá exercitar a gratidão.

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-Gratidão ? Como, se eu estiver pensando em me matar ?

-Se estiver pensando em devolver sua vida ao Criador, então é porque você não a deseja enquanto oportunidade para se aperfeiçoar e se redimir de seus erros. Você estará sendo ingrato a Deus pela chance que Ele lhe deu.

-E se, apesar dos ensinamentos que o senhor transmitiu eu não me convencer de que devo agir dessa maneira, este tempo terá sido bem empregado ?

-Claro, nunca sabemos a hora em que isso ou aquilo deve ocorrer. Se o momento de você atingir um grau mais elevado de consciência for daqui algum tempo, esta conversa terá sido oportuna para prepará-lo. Se isso não acontecer, terá sido importante para eu manifestar minhas opiniões a respeito deste assunto no intuito de esclarecê-lo. De todas as maneiras terá sido útil, para mim e para você.

-Então se eu for agora me juntar aos colegas para compartilhar de suas

atividades evitando me tornar um excluído, intolerante, raivoso e orgulhoso, será um tempo bem empregado ?

-Sim, você estará exercitando a responsabilidade em tornar o mundo melhor a partir da melhora de si mesmo.

-O que quer que eu faça estará bem feito ?

-A beleza está nos olhos de quem vê e não no objeto visto. O que quer que você faça, sempre terá consequências. Se boas ou más, depende do ponto de vista. O importante é que Deus dá a todos a mesma oportunidade para aproveitar o tempo concedido. Seja qual for o critério empregado para usá-lo, a decisão terá sido tomada. Ao escolhermos uma, estamos abdicando de todas as outras coisas deixadas de lado. Aí então estará exercitando a sua capacidade criadora, o livrearbítrio, a de saber perder sem se arrepender.

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O Ocaso de Minhas Estações

Aqui na praça, à sombra de uma árvore, sou apenas um velho a observar o Sol se pôr para além do horizonte.

Sou a personificação do Outono, um Outono ressequido, enrijecido, lenta e inexoravelmente despido de minhas folhas ante o açoite do tempo.

Nuvens cinzentas passam sobre minha cabeça, se não anunciam tempestade; ao menos, uma chuva fina e persistente. Suspiro. São nuvens que somente eu vejo através de minha vista fraca; nuvens de uma estação que somente eu, aqui nesta praça, sinto dentro do peito, pois, em verdade, estamos no auge do verão e o céu é de um azul de brigadeiro.

Sou Outono.

Jovens passam por mim, indiferentes, como se eu não existisse, ou sorriem entre a misericórdia e o pouco caso. Eles são o frescor do Verão no compasso da brisa que agita seus cabelos e da folhagem tenra, lisa, verde e macia que constituem suas peles em diferentes matizes e na mesma graça e jovialidade. Vejo a exuberância da vida a cintilar em seus olhos e a beleza ansiosa e atrevida da sua plenitude em seus corpos.

São Verão.

De todo o desenrolar do ano, é o ápice das estações. Tudo são cores, risos e energia. O mundo inteiro parece desfilar diante de seus olhos em pinceladas de arco-íris.

São Verão.

Que maravilha!

De meu banco duro na praça observo-os correrem, pularem, sorrirem e tagarelarem. Grito com todos os meus botões em pensamento: eu já fui como vocês!

Vim ao mundo em trajes de Primavera, esfolei os joelhos nas brincadeiras de rua, joguei bolinha de gude, brinquei de esconde-esconde, assisti desenhos animados, colecionei figurinhas, li um monte de gibis e fartei-me de doces de venda.

Fui Primavera.

A seguir, vi surgirem pelos debaixo dos braços e por entre as pernas. A inibição e o pudor substituíram a indiferença da criança que não relutava em fazer xixi aos pés de uma árvore.

Tornara-me Verão.

Sim, Verão, como vocês!

E, tal e qual, transpirei juventude, hormônios, ansiedades e inseguranças de um mundo para o qual seria atirado feito Daniel à cova dos leões. Não sei se pela fé ou pelos azares e sortes da vida, vi, vivi, sobrevivi e segui em frente. Um Verão a seguir adiante. Isso dá a pensar em um movimento voluntário, como se tivesse controle sobre o solstício e o equinócio. Nada disso. Era o fluxo do Rio das Estações ao qual todas as estações estão sujeitas.

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Assim, o Verão dentro de mim se foi. O vigoroso sol do meio-dia cedeu lugar ao mormaço do entardecer. E cá estou.

Os jovens na praça são surdos aos meus gritos. Eu compreendo. Ao meu tempo, fui surdo também.

Tive meus amigos, conversamos, rimos, pulamos, sonhamos. E tudo passou tão rapidamente quanto esses jovens são incapazes de me enxergar com suas idades, sonhos e delícias de Verão.

Meu corpo cedeu à intempérie do Outono.

Tornei-me Outono.

O vento frio faz erguer a poeira. O orvalho traz arrepios. A memória não é mais a mesma, os pensamentos fluem de forma mais lenta e vacilante. Entretanto, ainda sou eu, ainda trago dentro de mim a Primavera e o Verão. É verdade! Eles estão aqui, dentro da decrepitude deste corpo, a observar através de olhos falhos o mundo a prosseguir, a girar, a viver, sempre em frente nas águas cristalinas, ignorando

***

aquilo que ficou para trás. Os rostos, os acontecimentos, as cores e os odores do passado foram-se para sempre no horizonte avermelhado do entardecer. Todavia, suas imagens e sons persistem em meu coração. Enriquecem-me.

Ah, Verão, se vocês soubessem!

Fito o céu azul sobre minha copa cinzenta.

Uma brisa suave acaricia meu rosto trincado de rugas.

Inspiro o gentil odor do gramado e dos arbustos mais próximos.

Oh, o fluxo das Estações!

A melancolia do Outono, às vezes, faz-me ansiar pela paz do Inverno.

As Estações se vão, porém, para além do véu do tempo, as recordações aguardam límpidas por nós que vivemos na esteira do ocaso.

Pelo que um dia fomos.

Pelo que, para sempre, seremos.

NOTA DO

:

antologia

4 Estações",

Clube

LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022
AUTOR
O presente texto foi originalmente publicado na
"As
organizada por Shirlei Pinheiro e Fernando Raine e lançada através do
de Autores. *** http://www.revistaconexaoliteratura.com.br/search?q=roberto+schima https://clubedeautores.com.br/books/search? where=books&what=roberto+schima https://www.wattpad.com/user/RobertoSchima rschima@bol.com.br 127

Oferta a Tlaloc

Em cromias de gris os degraus em escala

A pirâmide, o céu, as neblinas, o pote... E, diante do deus, o senhor sacerdote, E a criança em panglor, piamente vassala...

Contemplavam o infante ofertado por dote, Os longínquos cristãos escondidos na vala... A carniça o xamã retirava na sala Do fatal peitoral do rapaz num serrote.

Pluviais gratidões apagaram as tochas, Trovejou o silêncio, esquelético exausto, Um encanto assustou os astecas e as rochas:

Colossal o sofrer em sanguíssima lava

Que depois do serviço, apesar do holocausto, Arrancado, o feroz coração palpitava!

Saturnália de 2021

www.rommelwerneck.com

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Ipês Floridos

Correm, em linha, pelo canteiro central, Olham alegres aos caminhantes na lateral; Vendem suas cores por um olhar, Guardam os perfumes para o final.

Ó, ipês amarelos!

Vós sois os primos dos roxos Das matas de minha infância.

Nos tempos sem flores, As folhas comem o carbono das fumaças De carros, ônibus e caminhões, E de nossos suspiros saudosos...

Ó, ipês ameaçados!

A ganância por espaço quer-vos tirar De nossa visão, do nosso convívio!

Nos tempos do Tape Porã, A vida dos ipês recupera sequência, O verde da cidade persiste E nossos sonhos viram evidência.

www.facebook.com/roquealoisio.weschenfelder

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Rosa Maria Soares Bugarin Brasília/DF

Onde Reside o Amor?

Onde reside o amor?

Onde pode ser achado? E possuído?

Ah! O amor!

Ele está no olhar que entende silêncios. Troca preciosa que acalma e sustenta, cria pontes.

O amor está na mão que apoia, no abraço quente, que revigora, no coração que bate aceitações, sem julgamentos, nas sombras que se desfazem, na encorajante partilha dos receios, no fortalecimento das luzes que dissipam incertezas.

O amor está na generosidade, na altruísta visão do outro, no incrível recriar benesses, no transportar discordâncias, no equilíbrio das análises, das sem razões...

Ah! O amor!!!

Onde reside o amor?

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O amor reside nas descobertas, nas origens dos recuos, no minimizar obscuras angústias e acender centelhas de renovo.

O amor perdoa e reconstrói.

O amor tece fios de empatia. Costura benéficos recordares.

O amor tem o dom do embelezamento e reintegra a suprema dignidade do humano ser, por ter, o mágico dom de cristalizar o sentir, em rútilas expressões de afinidades.

Ah! O amor!

Nele reside o sentido do eterno. As tintas que colorem um existir. Os sons que alegram, a passagem dos dias. A suprema paz dos corações refeitos, plenos, restaurados, assistidos.

Em consonância com o divino preceito:

Amai! E tudo vos será dado por acréscimo. Eis então onde reside o dom de amar!...

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Presentes que me dou ...(3) - A Música

O dia é longo. Ainda bem, assim poderei fazer tudo que quero. Hoje é segunda feira, dia de dar uma ajeitada na casa. A faxineira que antes vinha duas vezes por semana (no apartamento enorme), agora vem de quinze em quinze dias (no apartamento pequenino). Nos demais dias, me organizo para deixar tudo do jeito que eu gosto, muito arrumado, muito limpo, muito cheiroso: me sinto bem assim! Alguns dizem que é neurose, mas cada um na sua “vibe”! Antes de começar o trabalho do dia procuro pelo Spotify. Tenho várias seleções dos meus compositores preferidos. Quase todas as sinfonias de Vivaldi. Muitas de Bach e muitas de Beethoven também. São eles os que mais me inspiram. Ouçoos sempre. Quase todas as noites. Quando chove, ouço o dia inteiro. Acho que combinam com livro e café. Aí, me dou folga e não faço mais nada a não ser sonhar os sonhos que eles me permitem. Quando eu tinha uns sete, oito anos de idade descobri que meu pai ouvia, no rádio, músicas que não eram cantadas. Não havia nelas nenhuma palavra. Eram instrumentos variados, alguns deles eu não conhecia e nem conseguia distinguilos. Era um som muito diferente do que a gente ouvia o dia inteiro, seguindo o gosto musical de Naná, nossa cozinheira, que não desligava o rádio pra nada. Foi assim, perguntando “cadê as palavras” que fui me informando pouco a pouco sobre a música clássica, também chamada de erudita e que viria ser uma grande paixão em minha vida.

Uma década depois fui morar em BH. Havia passado no vestibular e diante da nova vida universitária, conheci o Palácio das Artes de onde nunca mais saí. Lá admirei as primeiras exposições de pintura e fotografia. Assisti a peças memoráveis com atores famosos. Foi lá que assisti a primeira ópera da minha vida. Vi também cantores internacionais, grandes figuras conhecidas no mundo inteiro. E principalmente, pude deliciar-me com a música sem palavras que eu ouvira muito tempo atrás, no rádio de cabeceira do meu pai. Hoje, minhas manhãs não são iguais.

A pandemia tudo mudou, desorganizou, assustou, resignificou!

Sempre tenho o que fazer, sempre. Mesmo durante a pandemia, com um tempo elasticamente aumentado, tenho horários para os meus cursos de arte, as visitas aos museus, hora para cozinhar ainda que só pra mim. Fazer meu bolo de laranja, ler muito, escrever muito, meditar, sempre tendo a música clássica como

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fundo. É um hábito antigo que carrego até hoje. Acordo com música, durmo com música. Só no meio da madrugada é que desligo o celular, invariavelmente sintonizado em uma emissora de rádio, no Youtube ou no Spotify .

Entretanto, depois que o sol se esconde minha preferência musical muda completamente. Pego o violão e o caderninho com MPB & sucessos antigos. Adoro relembrar os bons tempos ainda que ouse tocar algo mais moderno, como “ O Meu abraço”, do Trio Melim. Altar particular, da Maria Gadu, é outra canção que adoro. Há umas poucas e raras composições que ainda (e a duras penas) conservam a qualidade musical a que estávamos acostumados, nos bons tempos. Mas são raríssimas.

Pareço uma velhinha falando, mas a deplorável qualidade da grande maioria das canções atuais não nos permite sequer ouvi-las por inteiro. Os erros de português se acumulam. As rimas são de uma pobreza espartana. Métrica, o que é isso? E quando são vistas na TV, o figurino é sempre de inquestionável mau gosto. O vocabulário é visivelmente descuidado. A postura, dependendo do artista, é absolutamente ridícula, espalhafatosa, inadequada. Sem falar no linguajar pra lá de danado...

Do sertanejo antigo eu gostava. Letras simples, escritas com cuidado, rimas e métrica, com um mínimo de decência musical. Acordes bem feitos, muito diferentes do que se ouve hoje. Saudosismo? Também. A verdade é que, reclamando ou não, sem música – definitivamente - não sobrevivo. Da alegria de cantar ao prazer de apreciar uma sinfonia orquestrada, a presença da música em minha vida é e será sempre, uma dádiva. Poucas coisas me dão prazer maior do que, em uma terça-feira, assistir aos concertos gratuitos, na hora do almoço no Palácio das Artes. Nas noites de quinta feira, sessões absolutamente mágicas na Sala Minas Gerais. Aos domingos, pela manhã sempre possível assistir a Profa. Berenice Menegale, na Fundação de Educação Artística ou ainda pegar um ou outro Concerto no Parque Municipal, espaço lindo e mágico. Tudo ao ar livre. Verde por todo lado. Notas musicais vagando pelo ar. Crianças quietinhas ouvindo, como eu ouvi um dia, aquelas músicas sem palavras. Enche-se de alegria o meu coração ao ouvir uma sinfônica que eu aprecie, regida por um maestro que já tenha visto pessoalmente ou pelo Youtube e que eu já conheça os movimentos da peça em execução. É uma meditação sonora. Nada se passa em minha mente a não ser a entrada de cada nota. Lá no fundo da minha alma ecoa o som de cada instrumento: os de corda, os de sopro, a percussão. Cada um desempenhando seu papel naquele momento, despertando em mim os melhores sentimentos e as mais profundas emoções. Sou grata pelas sensações vividas, pelas ondas de puro encantamento que me invadem a cada compasso. Muitas emoções me são despertadas, numa

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avalanche. Sou grata pelo calor que me invade. Sinto uma vontade imensa de chorar ou de sorrir, nem sei muito bem. E vontade também de dançar. Fecho os olhos e vou girando, girando como bailarina, na pontinha dos pés.

Só lembranças, muitas lembranças, sweet memories.

Obviamente nada mais é assim desde que a pandemia se instalou entre nós e só nos resta esperar..,esperar...esperar!

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Histórias dessa vida

São os causos dessa vida achar entradas, não encontrar saídas São histórias dessa vida são vidas cruzadas, vidas destruídas Os mesmos erros, as mesmas ambições os mesmos medos, as mesmas intenções É o mesmo amor, as mesmas decepções é a mesma dor, as mesmas ilusões São histórias dessa vida com atores diferentes em cenas repetidas São os encontros e as despedidas as chegadas e partidas Mais feridos, mais suicidas balas com propósito e balas perdidas Os mesmos sonhos enterrados sob o chão a mesma insegurança, a mesma frustração Apenas humanos, não tem segredo são as cópias das cópias das cópias das cópias (...) No mesmo enredo.

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Sinval Farias Fortaleza/CE

Poema do amor que nunca tive

o amor que nunca tive me encontrou sem tramelas feito presságio aninhou-se em estado de ventre minguado de palavra o recolhimento corria pelas preces sem avexar as horas entre maldizer e gozo

aviamos costumes polinizados quase em inocência éramos mas a gaiola à margem do não dito abriu-se ao mar como nunca houvéssemos — lição tardia entrançada de espelhos

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Cena de família

Kátia passara a manhã arrumando os livros. Como acontecia sempre que resolvia mexer na estante, descobria poemas de amor escritos para Abraham,revelando um sentimento profundo e intenso. Desde a época de estudante fora apaixonada pelo professor, embora só começassem a namorar quando ela começou a residência médica, no mesmo hospital, em outra especialidade. A conquista havia sido difícil. Ele era um solteirão calado, quinze anos mais velho que ela. Kátia suspirou. O calendário marcava 29 de dezembro e ela não vira o namorado depois do Natal.

— Como vai ser o Natal ? - havia perguntado a mãe, uma semana antes da festa.

— Como sempre - respondera Kátia.

— Antes não tínhamos o Abraham. Ele vai passar conosco?

— Ele é judeu, não comemora o Natal.

— Ele não vem jantar, por ser Natal? - a mãe levantou a voz, irritada com o tom da filha, e à noite, dirigira - se ao pretenso genro:

— Escute, Abraham, esta segunda é véspera de Natal, tu sabes, nós todos os anos fazemos uma pequena ceia, só nós três, nosso familiares moram muito

longe, mas nós comemoramos e neste dia ao invés de jantar, fazemos uma ceia bem mais tarde, lá pelas onze, com peru, castanhas, essas coisas da época, eu sei que tu não comemoras, mas querendo vir fazer companhia a nós, já sabes, nessa noite ceamos tarde. Vens?

Abraham compareceu. Kátia fizera seu pudim Getúlio Vargas de todos os natais e comprara a tradicional torta de nozes. À meianoite, Kátia havia arrastado o namorado para a árvore e lhe dera seu presente de Natal, discos de Brahms e Mozart.

— Gostas ? - perguntou ansiosamente.

Abraham havia lhe dado um beijo e colocado os discos junto a sua carteira. Os pais de Kátia haviam permanecido discretamente afastados.

Um toque de campainha despertou Kátia de suas lembranças.

— É o teu Abraham - anunciou Alzira secamente.

Kátia escondeu no bolso a poesia, a caminho da porta.

— Oi, benzinho, que saudades! -e após o beijo costumeiro : Você perdeu meu endereço ? Não deu mais

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sinal de vida, não esteve doente, por acaso ?

— Não - o outro sacudiu a cabeça.

— Entra.

— Não. Estou com pressa. Só vim avisar...

— Entra, Abraham, boa tarde! - a mãe surgiu, excessivamente amávelComo tens passado ? Bem ? Entre, fique à vontade - e sem esperar resposta dirigiu-se à filha - Kátia, estou arrumando teus vestidos, quer que eu desmanche a barra do rosa ?

— Não, mãe, o rosa é para tirar os bolsos, o azul é que é para encurtar.

— É isso mesmo, agora me lembro. com licença, Abraham.

O médico havia entrado e deixarase ficar parado no meio da sala, mãos às costas. Foi a moça quem rompeu o silêncio::

— Ouviu os discos que eu te dei?

— Não tive tempo.

— Você não está de férias?

— Sim, mas estive estudando.

— Ah ... - Kátia tentava convencerse de que não estava decepcionada.Sabe, a Solange nos convidou para passarmos o Réveillon no Guarujá. Vamos ? Eu nunca passei o Réveillon fora de casa, deve ser tão divertido !

Ele demorou a responder.

— Vou viajar hoje à tarde. Só volto dia 3.

— Viajar ? Para onde ?

— Ubatuba.

— Ah, vais passar os feriados com teus pais na praia?

— Meus pais não estarão lá.

— Mas então...

— Olhe, Kátia, tenho de pagar os impostos atrasados antes do fim do ano.

Kátia lembrou - se do que diziam a mãe e a avó: “um homem não gosta de ser pressionado”, “uma mulher não deve implorar”, “mantenha a classe”, “uma mulher não deve imiscuir - se na vida particular de um homem”, “seja meiga e submissa”.

— Terei saudades - disse, simplesmente.

Abraham tentou sorrir e disse uma de suas raras piadas:

— É só até o ano que vem. Até.

Alzira voltou ao ouvir a filha bater a porta, e encontrou a moça pálida, e com os olhos brilhantes.

— Ele já se foi ? Brigaram ?

— Não, mãe. - respondeu a filha, a olhar pela janela.

— Bem, ele disse porque não apareceu todos esses dias ?

— Não, mãe - a voz macia de Kátia, seu olhar perdido na paisagem.

— O que ele achou dos discos ?

— Ele nem os ouviu.

— O que ? Não ouviu? Mas como ? Escute, Kátia, que poucocaso, tu não achas ? Se ele tivesse ao menos piedade de ti, teria mentido...

A moça retirava da estante outra pilha de livros e os espanava com excessivo zelo.

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— Preciso pensar, - continuou Alzira, que nunca desistia antes de arrancar toda a verdade da filha - no que farei para o teu “dileto amado” no Réveillon. Que achas, Kátia, de um pernil com abacaxi e ameixas ? E uma torta de ...

— Podes fazer o xexelento cardápio de todos os anos.

— Kátia, o Abraham não vem ?

— Não.

— Mas por que ?

— Porque ele tem de ir a Ubatuba pagar uns impostos. - a moça sentia as faces queimarem, lutando para fingir um ar inocente e crédulo. Inútil.

— Pagar impostos ? - e o timbre agudo da voz de Alzira tornou - se estridente e desagradávelFrancamente, Kátia! Como tu aceitas isto ? Tu finges - te de inocente! Tu não tens vergonha, permitir que um homem te trate com este descaso, com essa desconsideração ! O que ele te disse, Kátia, não foi uma simples mentira, foi um desacato! No Réveillon! Francamente!

— Enfim, o que há ? - ouviu - se a voz do pai.

— Oh, - Kátia tentou driblar a conversa - Abraham não vem jantar no Ano Novo e mamãe está fazendo drama.

— Conta direito, menina! Sabes, marido, o “amado” veio dizer que vai para Ubatuba pagar não sei que impostos e só volta dia 3. Nem ouviu os discos dela. E nem explicou porque não apareceu nem telefonou depois do Natal. Aliás, nem ao menos quis sentar,

ficou em pé, estava louco para ir embora.

— Ele não veio porque estava estudando - Kátia ainda tentou defender o namorado.

A mãe, indignada, mal respirava. O pai, com um riso escarninho nos lábios, pôs -se a pensar em voz alta:

— Daqui a Ubatuba são três horas de viagem, vai - se e volta - se no mesmo dia. Aquilo, os pais dele, que ele não quer que tu conheças...

— Os pais dele não estarão lá... - tarde demais, ela deu - se conta de ter falado o que não devia.

— Ah, sim, é claro.... - Rolando ria francamente _ Sabes que dia é hoje, minha filhinha? Sábado. Prefeitura nenhuma recebe impostos hoje, todos os balanços do ano foram fechados ontem. Mesmo que assim não fosse, o teu Abraham chegaria em Ubatuba somente à noite, e domingo e dia 31 e dia 1° todos os órgãos públicos estarão fechados. Sem contar que, se ele pagasse mesmo alguma dívida, nada o impediria de voltar amanhã. Se os pais dele não vão estar lá, com quem tu achas que ele …

— Ele não precisaria mentir, se fosse passar o Réveillon com os pais, nós todos compreenderíamos - e a mãe acrescentou, sarcasticamentePorém, como ele se enjoou de lambiscar o sorvetinho, vai é saborear os manjares de alguma amante muito bem sortida!

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— Chega - disse Kátia.

— Tu és uma boba! E concordas, e aceitas, aí toda cheia de nhe - nhenhem... - continuou a mãe - Tu não tens vergonha! Eu não te criei para isso!

— Chega - repetiu Kátia.

— Tu não precisas passar por essa humilhação, minha filha. Este homem te desconsidera e tu desconversas, ora, não te faças de boba, pois ele mente e tu sabes que ele mente. A única explicação possível é que ele vai passar o Réveillon na companhia de outra mulher.

— Cala a boca, pai.

— Ele prefere passar o Ano Novo com outra e tu, idiota, te fazes de sonsa. Eu tenho pena de ti, minha filha, que te sujeitas, sem necessidade, a uma tal humilhação.

— Pára.

— Não, minha filha, eu não paro, tu és uma tola e o teu namorado é um grosso, um mentiroso e um mau mentiroso. O que ele quer é se

aproveitar de nós, que vem encher o bucho em nossa mesa, comer e beber às nossas custas, mas que não tem a menor intenção de casar contigo, senão ele não faria esta injúria de passar o Réveillon com a amante.

— Pare.

— Entenda de uma vez: o teu Abraham tem uma amante!

Os estilhaços de compoteira, que Kátia agarrou e atirou no pai, dispersaram-se com estrépito em todas as direções. A mãe gritou, assustada, e o pai esquivou - se do golpe com presteza.

Kátia tremia, percebendo tardiamente a gravidade de seu ato, ela, filha sempre tão obediente. Olhou assustada para o pai, que riu triunfantemente antes de sair. Somente então a mãe recuperou a voz :

— Tu quebrastes o meu cristal de quatro mil reais!

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Aprendendo com a natureza

Todos os dias a natureza nos oferece lições. Nem sempre as percebemos. Nem sempre nos valemos delas para avançarmos no aprendizado da vida. Mas elas estão lá. Basta um olhar mais atento. Tudo está em movimento, agindo, crescendo e se adaptando, quando necessário. É uma luta e um trabalho constante, nos surpreendendo a cada momento e nos indicando que a sobrevivência e a vitalidade encontram lugar mesmo nos ambientes mais inóspitos.

Se contemplarmos um rio, veremos que ele não teme o perigo e nem se deixar abater por obstáculos. Contornaos e segue em frente, acreditando no destino final: transformar-se em oceano. Mesmo que em alguns momentos seja preciso deixar de ser rio e tornar-se cachoeira, ele não se intimida. Entregase às circunstâncias. Lança-se em queda livre, até alcançar novamente o leito e dali segue seu curso, vivenciando a jornada diária de altos e baixos.

Com os pássaros, outro aprendizado. O de que devemos tirar os pés do chão e alçar voos em busca do novo, do desconhecido. Há sempre os riscos e o medo da primeira vez, mas se não o fizermos dificilmente concretizaremos o que povoa o nosso

imaginário. No voo conjunto das aves é ainda possível observar a sintonia perfeita, alcançada pela linguagem corporal, pela energia próxima, a nos indicar que a harmonia nem sempre necessita de palavras.

E o que dizer das borboletas, com sua aparência sensível e frágil? Vida curta, mas carregada de ensinamentos. A metamorfose vivenciada nos estágios de formação: ovo, lagarta e casulo, de onde emergem belas e aladas, é a metáfora perfeita para as transformações que precisamos enfrentar até nos tornarmos seres completos, interna e externamente. E na vida breve das borboletas, mais um alerta: mesmo que a existência humana não seja tão curta, o tempo passa rápido e exige que aproveitemos o momento presente.

Mas foi observando as árvores que extraí uma lição ainda mais significativa. E a aula me foi dada pelo abacateiro plantado há anos no quintal de uma casa vizinha. Exuberante, oferecia frutos e sombra, até quando sofria com secas, ventos fortes e chuvas volumosas. Aguentava firme a quebra de galhos, a raiz exposta, reequilibrando-se nas

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sucessivas vezes em que era obrigado a dobrar o corpo. Nada disso, porém, foi suficiente para torná-lo agradável aos olhos dos moradores. Em uma manhã ensolarada, deceparam-lhe os galhos e boa parte do tronco. Deixaram-no quase morto. Só faltou arrancá-lo do solo.

Abandonada, a pobre árvore – ou o que restou dela – não se entregou ao fim. Reuniu forças e, aos poucos, começou a produzir pequenos brotos, que foram se erguendo com alguma dificuldade até se transformarem em novos braços. Agora, sem qualquer harmonia com o antigo tronco.

Renasceu como um abacateiro defeituoso, mas com uma vontade de viver enorme. Cresceu, cresceu, pendendo mais para um dos lados, e deu mostras de perdão. Retribuiu com frutos a violência contra ele praticada.

Ao dono da árvore, que talvez nem tenha valorizado o esforço do sobrevivente abacateiro e tampouco aprendido a lição que lhe ofereceu, coube somente a tarefa de repartir com a vizinhança a grande quantidade de abacates que colheu.

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Decanato de Saudade

Sentimento indômito é a desmedida saudade

Arrebata o sorriso da face, leva toda felicidade

Sensação de impotência diante da realidade

Uma profusão sentida em avassaladora dor Uma mistura de sensações e um grande amor Fere o coração, traz consigo um odioso ardor

Corre pela face em lágrimas em uma profusão

Aperta tanto o peito e retira todo o ar do pulmão Sem possibilidade de revidar, chora o coração

Saudade sentimento sem fim que habitam em mim

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Seriam sequelas da COVID?

Já perdi as contas de quantas vezes me senti desanimada por dias, portadora de transtorno afetivo bipolar, mesmo seguindo à risca o tratamento. Tive muitos períodos depressivos na vida, mas desta vez não me sinto deprimida, sinto-me emocionalmente bem, mas fisicamente exaurida...

Além da exaustão física, a mental também tem me pegado de jeito, e não são poucas as vezes que começo falar sobre algo e, se sou interrompida, me esqueço do que falava. E as tonturas e calafrios então, coisas doidas... Muitos amigos e conhecidos tem comentado que têm sentido todos ou alguns desses sintomas.

Seriam sequelas da COVID? Por duas vezes fiz exames que deram negativo. Das outras vezes que alguns sintomas rápidos e eu ignorei, mas que estranho são, não aqueles, mas esses sintomas que permanecem...

Relendo alguns textos meus antigos, feitos em diferentes épocas, tenho dúvida se foi a COVID que me deixou assim desta vez...Vejam como eu estava das outras vezes...

A inércia me toma pelas mãos. Percebo-me falha. Neutra e vazia. Fraca.

Nula de mim.

Perco-me atrás de pilhas de teses. Sólidas e consistentes, de outrem. Abstratas e inexistentes, minhas.

Basta-me o passar das horas. Ficam as badaladas idas, Horas extraídas do tempo.

Inclinações desmanteladas. Já é tarde... O que fazer?

E passa o tempo...

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Voam as horas e eu aqui. Estática, fraca, vazia... Como flor que perdeu o viço...

Encolhida me deixo passar, Recolhida me pego a ficar, Não que não pretenda esticar-me Não que não pretenda avançar, Mas deixo-me simplesmente Mais um pouco, mais um dia Mais alguns dias e mais... Não de forma perene Até que o gancho me ice e então Serei eu novamente, serei...

Quem lê pode me achar indolente, ingrata a Deus por tudo o que tenho e como Ele é bom, mas não é isso, são oscilações que me perseguem e então como se nada houvesse volto a ser eu. Desta vez, porém, tenho demorado a me reerguer, por isso me pergunto: seriam sequelas da COVID?

Seja como for, pelos caminhos da vida, ainda que eu não perceba. Deus me mostra uma trilha e saída.

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Jogo

Sigo teus passos e já sinto teu cheiro. Está perto, tão perto que o coração já bate, ...apressado.

Tão depressa que me controla descontrolando e vou andando, andando e então, enfim te vejo despreocupada como mais uma peça do jogo do mundo ainda não movida do lugar. E eu sigo e passo e olho e volto e nada faço e já estou desistindo então você se volta e sai do lugar despreocupada e vem enigmática em minha direção ao meu encontro, a um canto mas estamos no meio do jogo, no meio da rua. E cantarolando me passa ao lado. Depois, fico com a impressão de que foi só entusiasmo de um lance que a matemática e as regras não permitiram acontecer.

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Valorizar não apenas o vencedor como também o perdedor

Perder sem audácia é desprestigiar a vitória do oponente.

Perder sempre teve uma significância “robusta”, porém, tentando e perseverando.

Ao não tentar, dá margem ao “se”, “se” tivesse [...].

Ao tentar com ética, cumpriu-se um dever de hombridade.

O vencer é não “acomodar”, nem aceitar a meritocracia, e sim, acabar com o temor do “quase”, da desigualdade estrutural e do conformismo. Ganhar é perseverar, fazer uma autorreflexão, saber perder, porém não atônico ou de “braços cruzados” ou raivoso.

A derrota – sob a tentativa e o jogo limpo – é valorosa.

A vitória – sob a tentativa e o jogo limpo – é ainda mais valorosa.

É engraçado e até irônico como tudo passa, menos os bons combates.

Enfim, deve-se valorizar não apenas o vencedor como também o perdedor.

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Som e Imagem

Dos acordes do violão nasce não uma canção Cria-se aquela que por desejo de ver a beleza fluir do encontro da cor com a real pulsação. Quem vê nem imagina, mas eu tenho certeza!

Fico sempre a buscar porque é sem medo Que o som se espalha na imensidão do olhar E reflete o segredo que muitos bem cedo Supõem-na florir sem mistério naquele lugar.

A melopeia que a perpassa em tom de pintura Inunda o mundo como uma noite festiva!

E de amores em cores que essa estrutura

Lega o que de todas nenhuma mulher lhe imita!

Quão formosa formada em decorosa figura Realça, embala, deseja que tudo consiga!

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Fotografia

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Fotos

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LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 https://www.facebook.com/paixaodeoliveira https://www.facebook.com/jpartes.desenho.3 152
LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 Artista do Mês Desenho: Márcio Apoca Campo Mourão/PR Adam West Ator e dublador norte-americano 19/09/1928 – 09/06/2017 (88 anos) https://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_West https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/os-melhores-momentos-de-adam-westna-serie-do-batman/ 153

Caricaturas

Jamison Paixão Las Palmas de Gran Canária/ Espanha

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https://www.facebook.com/paixaodeoliveira https://www.facebook.com/jpartes.desenho.3

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LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 Confiram a lista de Selecionados No 9º Concurso da Revista Seresta “A Vida e a Obra de Maurício de Sousa” https://revistaseresta.blogspot.com/p/selecionados.html 157

Declame para Drummond 2022

É com o coração transbordando de alegria que lanço a este vasto mundo o projeto Declame para Drummond edição 2022!

O projeto é amorosamente coordenado pela poeta e ativista social Marina Mara e, desde 2010, o projeto vem colocando Poesia no meio do caminho de muita gente pelo Brasil. Fica que vai ter bolo e sarau no aniversário do nosso querido poeta Carlos Drummond de Andrade!

Para participar do Declame para Drummond 2022, faça um vídeo caprichado com seu Poema Autoral de tema livre de até um minuto e envie para o WhatsApp (61) 98242-2944. Nos informe também qual é a sua cidade e seu perfil do Instagram, caso tenha.

Os vídeos selecionados farão parte de uma playlist no YouTube a ser largamente divulgada pelas redes sociais dos poetas participantes e também ficará disponível no Instagram @declameparadrummond a partir do dia 31 de outubro de 2022, dia que Drummond faria 120 anos. No dia 31/10 faremos um Sarau Live às 19h30 com a participação de alguns poetas desta edição no perfil do Instagram @poetamarinamara !

Participe!

Viva Drummond! Viva a poesia!

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Guia De Filmes

Guia De Filmes (Movie Guide)

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Do Blog RMBS Rock (4,07 MB) Atualizado em 22/09/2022. Aplicativo desenvolvido na linguagem de programação Java, mas não é celular e sim para desktop. https://rmbsrock.blogspot.com/p/filmes.html 159
LiteraLivre Vl. 6 - nº 35 – Set./Out. de 2022 Participem da antologia gratuita “Origens” A “Obook”está selecionando contos com a temática “Vampiro e/ou Lobisomem”. Para saber mais acesse o edital no link abaixo: https://drive.google.com/file/d/1G6QiqputUf9SGQxye5OyyNjyHmMMdwbf/view 160

LiteraAmigos

Espaço dedicado a todas as entidades e projetos amigos que de alguma forma nos ajudam ou possuem proposta de trabalho semelhante a nossa:

Corvo Literário

O Corvo literário é um espaço para propagação da arte, em especial da literatura. Mas também para discussões e debates, por isso sempre traremos opiniões,

https://corvoliterario.com/

https://corvoliterario.com/contact/

entrevistas, notícias, e contamos com a participação de todos.

Acessem o site e enviem seus textos com tema livre:

“Blog Concursos Literários”

Blog criado em 2011, com o objetivo de divulgar editais e resultados de concursos literários e prêmios literários.

É considerado por muitos autores como uma fonte completa e acessível de editais e resultados de premiações realizadas no Brasil e em todo o mundo. O projeto também é elogiado por não incluir

em suas postagens os concursos que cobram quaisquer taxas de inscrição ou publicação dos autores. Além disso, muitos organizadores de concursos literários reconhecem este espaço como uma referência no apoio à divulgação.

Acessem o site e conheçam os Concursos do mês, do ano e as seleções permanentes:

Blog: https://concursos-literarios.blogspot.com.br/

Facebook: https://www.facebook.com/concursosliterarios/

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Editora Pé de Jambo -Fundada em fevereiro de 2019, em meio a pandemia do Covid19 pelo escritor Mikael Mansur-Martinelli, a Editora Pé de Jambo é uma empresa prestadora de serviços editoriais, revisão gramatical, copidesque e orientações textuais para autores independentes. O principal objetivo da Editora é contribuir para a disseminação da Literatura, principalmente de novos autores e transformar em uma forma acessível a todos.

Veja os editais no site: https://editorapedejambo.wixsite.com/editorapdejambo/antologias

Blog Alan Rubens

No blog do autor Alan Rubens, o leitor terá a oportunidade de ler textos incríveis escritos pelo próprio Alan e também de autores convidados de todos os lugares, numa reunião de talentos eclética e divertida.

https://alanrubens.wordpress.com/

Mulheres Audiovisual” - uma plataforma criada para unir as mulheres e a arte em geral, cadastre seu portfólio e participe:

http://mulheresaudiovisual.com.br/

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Literatura já No canal e podcast “Literatura já”, criado pela escritora Joyce Nascimento, você encontrará muita leitura e narração de textos: poesias, contos e crônicas autorais e de outros escritores. Entrevistas, bate-papo com convidados, dicas e informações sobre o que está acontecendo no mundo literário. Tudo em formato de áudio publicado toda sexta-feira, a partir das 19h. Se inscrevam e não percam nenhum conteúdo!

https://open.spotify.com/show/7iQe21M7qH75CcERx5Qsf8

Maldohorror - Coletivo de escritores fantásticos e malditos

Aventurem-se lendo o que há de melhor na literatura de Terror/Horror. Visite o site do Coletivo Maldohorror, que reúne os melhores contos de terror, poesias malditas, crônicas ácidas e histórias imorais, escritos

por autores consagrados e também por iniciantes, numa grande mistura de estilos.

Site oficial: www.maldohorror.com.br

Página do facebook: https://www.facebook.com/maldohorror/

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Tenha acesso gratuito e legalizado à milhares de textos, sons, vídeos e imagens do Brasil e do mundo em domínio público.

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp

Sci-fi Tropical

Semanalmente, o site Sci-fi Tropical traz um artigo, resenha de livro ou análise sobre o cenário do fantástico nacional, permitindo que os fãs do gênero, tão acostumados a ler obras estrangeiras, conheçam também autores nacionais que ajudaram a consolidar a ficção-científica por aqui. O site traz ainda O PROJETO MINIBOOKS FANTÁSTICOS, com obras de autores de FC em língua portuguesa para download. Com um design

exclusivo, o leitor terá uma experiência imersiva nas histórias. Rubens Angelo, criador do site Sci-fi Tropical, é formado em design, mestrando em mídias criativas e, principalmente, fã incondicional da ficção científica.

Venha conferir:

https://scifitropical.wordpress.com/

Canal “Conto um Conto” - Canal do Youtube criado pelo locutor Marcelo Fávaro, onde podemos “ouvir” clássicos da literatura mundial. O canal proporciona entretenimento

Portal Domínio Público
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inclusivo e de qualidade para todos os amantes da boa literatura; tem Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Stephen King, Edgar Allan Poe, Machado de Assis e muito mais. Conheçam, se inscrevam e aproveitem. Ouvir histórias é relaxante e instrutivo!!

https://www.youtube.com/channel/UCsqheVzvPGoI6S3pP3MBlhg

Site “Seleções Literárias”

https://selecoesliterarias.com.br/

Podcast Toma aí um poema

O Podcast Toma Aí um Poema tem com objetivo declamar o máximo de poemas brasileiros possíveis e disponibilizá-los em áudio para torna-los mais acessíveis, nos diferentes canais e formatos. Acesse o site e envie seu poema!!

https://www.jessicaiancoski.com/toma-ai-um-poema

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Modelo de envio de textos para publicação na revista

No meio do caminho (título)

Carlos Drummond de Andrade (nome para publicação – este nome não será trocado)

Rio de Janeiro/RJ (cidade e estado onde vive – país somente se for do exterior)

(no máximo 3 textos com até 3 páginas)

(texto – utilize fonte arial ou times new roman)

No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho, tinha uma pedra, no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho, tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma pedra.

https://www.pensador.com/melhores_poemas_de_carlos_drummond_de_andrade/ (site, página ou blog – pessoal ou de divulgação de obras)

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