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Nuno Marques Pereira

Nuno Marques Pereira

Guaratinguetá/SP

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O Príncipe: A Fantástica História do Menino que falava com o Luar

KALED – Storax! (Vendo que o criado não responde, inicia-se um monólogo.) Venho hoje contar-lhe uma história que foi a primeira que a minha irmãzinha me contou quando eu era pequenininho. Tal história é um fabuloso conto de fadas:

Era uma vez na Ásia um admirável país milenar chamado China.

Na China havia no período dos primeiros tempos dois homens de origem árabe chamados Mustafá e Mohamad. Este último desde quando era bem pequeno tinha o hábito de se dirigir ao cume duma montanha para meditar e ver o luar. Certo dia Mustafá decidiu se trancar no quarto e ter uma conversa séria com seu irmão, e nela questionou-lhe o porquê de estar ele vendo a lua toda vez que ia à montanha, ao que o menino replicou: – É que o luar, Mustafá, tem falado para mim em várias ocasiões que o meu irmão ainda vai ter vontade de deitar água em minhas mãos e eu hei de repelir.

Assustado e sem saber o que fazer, Mustafá decidiu no dia seguinte ir à casa do sábio Jonas – um amigo seu que era ermitão e morava na casa ao lado de onde ele vivia com Mohamed – e relatou-lhe o que o seu irmão lhe falara, ao que ele retrucou: – Entendo que Mohamad quer avisar que você um dia ainda será servo dele; a melhor coisa a ser feita vai ser colocá-lo deitado dentro de um baú e deixá-lo à correnteza. Por você ter me consultado no que deveria ser feito, deve entregar-me cinquenta mil vinténs. – Bem, é o dinheiro que ganhei ontem depois de ter vencido o campeonato de arco-e-flecha, mas valeu muito a pena a sessão, por isso vou lhe pagar, pois você foi muito sábio em solucionar o meu problema. Tome aqui o seu dinheiro, Jonas – falou Mustafá, tirando o dinheiro do bolso e entregando-lhe a quantia.

Depois disso, o sábio Jonas (que não passava de um tremendo charlatão), pegou o dinheiro que ganhara, abandonou a casa e partiu para a Tessália, indo continuar a viver sua vida.

Foi Mustafá procurar um baú e, quando anoiteceu, esperou o seu irmão ir dormir primeiro para que, quando Mohamad estivesse no seu momento de sono mais profundo, pudesse pô-lo dentro do baú, deitá-lo e colocar o baú à correnteza do mar. O baú permaneceu três dias à deriva no mar até que parou

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numa terra demasiado longínqua – lá nos confins das Américas (que eram colonizados pelos árabes) –, e os marinheiros daquela região foram os primeiros a vê-lo boiando no mar, sem rumo, e, supondo que ali estivesse guardado uma grande quantidade de riquezas, raras e preciosas, decidiram levá-lo até o sultão Aladim Lobato. O sultão ordenou que o abrisse a fim de verificar o que havia por dentro e, ao abrirem e virem que era um garoto bem bonito, falou que havia de cuidar dele e que o menino passaria a ser, a partir de agora, a sua criança adotiva (posto que o sultão ficara viúvo muito cedo, sem ter dado tempo de a sua esposa deixar-lhe herdeiros).

Ordenou o sultão Aladim Lobato que o garoto fosse instruído da mesma maneira em que se educa um príncipe (como se o menino o fosse) e, no momento no qual alcançou a idade dos vinte anos, ofereceu-lhe o sultão uma quantia para que ele pudesse viajar com um vasto acompanhamento de gente, tal qual lhe era oferecido. O príncipe resolveu, pois, viajar à terra onde crescera –à admirável China. Atualmente, encontrava-se o irmão do agora príncipe derrubado à miséria e foi pôr um albergue numa terra para lucrar para sustentarse e sentia a todo momento um infindável pesar por aquilo que fizera ao irmão.

Chegou o príncipe com o seu séquito à China e foram se abrigar ao albergue de Mustafá, de um modo que ele não identificasse o príncipe. Mal ali chegara o príncipe, apareceu imediatamente o seu irmão para deitar água em suas mãos, com o intuito de que Mohamad pudesse se lavar; o príncipe, porém, repeliu – e tal atitude fez o irmão recear. O príncipe, pois, tendo percebido tal comportamento, questionou-lhe: – Por que é que você receou no momento no qual deitou água em minhas mãos?

Ao que o irmão retrucou: – É que eu me recordei neste momento de que possuí um irmão que se hoje estivesse vivo teria os mesmos anos de vivência que Vossa Alteza tem, e que foi colocado deitado dentro de um baú para ser lançado à correnteza do mar, pois ele me tinha falado em certa ocasião que eu iria algum dia deitar água em suas mãos para que ele as lavasse e ele repeliria. – Mas que possuo eu com o seu irmão? – perguntou o príncipe. – Você não possui nada; você é filho de sultão e eu, de um pobre albergueiro.

O príncipe, pois, dirigiu-se ao sultão Aladim Lobato para relatar-lhe todo o acontecimento que vira e, após vários questionamentos e surgimento de explicações, surgiu a conclusão de que o príncipe se tratava do irmão do albergueiro. Assim, este já desejava que o seu irmão passasse a morar com ele, porém, o sultão mandou que o próprio Mustafá viesse viver ao palácio, porque, quando Aladim Lobato viesse a falecer, o príncipe sucederia o trono, como sultão.

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Assim, aquilo que o luar outrora tinha dito ao príncipe, concretizara-se: foram todos viver ao palácio, Mustafá virou servo do sultão e do príncipe e, posteriormente – quando o sultão Aladim Lobato veio a falecer –, tornou-se servo do seu novo sultão, que era seu irmão Mohamed, que logo depois se casou com a mulher mais linda daquela região, Lady Badroulbadour, e com ela teve um filho, Beowulf – que posteriormente se tornou célebre ao ser protagonista do renomado épico anglo-saxão homônimo –; depois, foi a vez do destino levar Mohamad, e de o seu filho Beowulf assumir o trono, e, mesmo assim, Mustafá continuou a ser o servo do sultão –, mas, apesar de todos as distinções, todos viveram felizes para sempre...

Assim que Xerazade concluiu sua história, ela disse ao rei Xariar: “E, no entanto, ó rei venturoso, esta história não é mais maravilhosa do que a notável história de ‘Aladim e a Lâmpada Mágica’.”

(Kaled sai de cena.)

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