LiteraLivre Vl. 5 - nº 29 – Set./Out. de 2021
Nuno Marques Pereira Guaratinguetá/SP
O Príncipe: A Fantástica História do Menino que falava com o Luar KALED – Storax! (Vendo que o criado não responde, inicia-se um monólogo.) Venho hoje contar-lhe uma história que foi a primeira que a minha irmãzinha me contou quando eu era pequenininho. Tal história é um fabuloso conto de fadas: Era uma vez na Ásia um admirável país milenar chamado China. Na China havia no período dos primeiros tempos dois homens de origem árabe chamados Mustafá e Mohamad. Este último desde quando era bem pequeno tinha o hábito de se dirigir ao cume duma montanha para meditar e ver o luar. Certo dia Mustafá decidiu se trancar no quarto e ter uma conversa séria com seu irmão, e nela questionou-lhe o porquê de estar ele vendo a lua toda vez que ia à montanha, ao que o menino replicou: – É que o luar, Mustafá, tem falado para mim em várias ocasiões que o meu irmão ainda vai ter vontade de deitar água em minhas mãos e eu hei de repelir. Assustado e sem saber o que fazer, Mustafá decidiu no dia seguinte ir à casa do sábio Jonas – um amigo seu que era ermitão e morava na casa ao lado de onde ele vivia com Mohamed – e relatou-lhe o que o seu irmão lhe falara, ao que ele retrucou: – Entendo que Mohamad quer avisar que você um dia ainda será servo dele; a melhor coisa a ser feita vai ser colocá-lo deitado dentro de um baú e deixá-lo à correnteza. Por você ter me consultado no que deveria ser feito, deve entregar-me cinquenta mil vinténs. – Bem, é o dinheiro que ganhei ontem depois de ter vencido o campeonato de arco-e-flecha, mas valeu muito a pena a sessão, por isso vou lhe pagar, pois você foi muito sábio em solucionar o meu problema. Tome aqui o seu dinheiro, Jonas – falou Mustafá, tirando o dinheiro do bolso e entregando-lhe a quantia. Depois disso, o sábio Jonas (que não passava de um tremendo charlatão), pegou o dinheiro que ganhara, abandonou a casa e partiu para a Tessália, indo continuar a viver sua vida. Foi Mustafá procurar um baú e, quando anoiteceu, esperou o seu irmão ir dormir primeiro para que, quando Mohamad estivesse no seu momento de sono mais profundo, pudesse pô-lo dentro do baú, deitá-lo e colocar o baú à correnteza do mar. O baú permaneceu três dias à deriva no mar até que parou
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