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Sérgio Soares

Sérgio Soares

Simão Pereira/MG

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Doutor Jota Brasilino: a história do homem que copiava

Entrei na venda do Geraldo para pegar uns mantimentos e, enquanto esperava o vendeiro separar as encomendas, assisti na TV a notícia sobre uma denúncia de plágio em material entregue aos alunos de uma Rede de Ensino que, por conta da pandemia, foram obrigados a acompanhar as aulas através de apostilas e aulas dadas pela TV. Fiquei chocado e revoltado com a matéria e, não me contendo, soltei um sonoro palavrão que causou risada no Geraldo e nos frequentadores que estavam na venda, chamando até a atenção do Professor Pandolfo que, sentado numa mesa ao fundo, me convidou para sentar com ele. Vendo minha indignação com o ocorrido, o bom e velho Professor decidiu me contar que mesmo Prosperidade, sendo uma pequena cidade do interior, já tinha sofrido com uma situação parecida com a relatada na notícia. Tudo começou quando chegou à cidade, vindo da capital, um tal Doutor Jota Brasilino, “Especialista” encaminhado pelo Governo Central para remodelar o material pedagógico utilizado pela Rede Municipal de Ensino. O forasteiro chegou ostentando um currículo que, além de extenso, era recheado de títulos e honrarias que bastaram para convencer do Prefeito às Diretoras das Escolas a aceitar, como verdade absoluta, tudo que o “especialista” dizia, por isso não tardou para que todos os cadernos pedagógicos da cidade estivessem atualizados, com as obras assinadas pelo ilustre Doutor. Tudo ia bem até que uma sabida professora da cidade, Dona Fatinha, percebeu algo de errado no material oferecido aos alunos. Em um dos cadernos havia uma citação, que chamou a atenção da professorinha. Na abertura de um dos conteúdos estava assim grafado “Feliz aquele que transfere o que sabe, e aprende o que ensina”, Jota Brasilino. Dona Fatinha sabia que já tinha visto

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aquela frase em algum lugar e, pesquisando nos livros, descobriu que era uma citação famosa de uma outra professorinha, chamada Cora Coralina. Em seguida àquela descoberta vieram outras, e mais outras e mais outras, e foi assim que a cidade inteira descobriu que o tal Doutor era, na verdade, um copiador contumaz que tinha por mau hábito se apropriar das ideias e escritos de outros, divulgando-os como se dele os fossem. Pesquisando a biografia do larápio, descobriram também que aquele imenso e recheado currículo, da graduação ao doutoramento, era fruto de roubo de direitos autorais alheios. O espertalhão saiu corrido de Prosperidade, para nunca mais voltar. Enquanto Geraldo terminava de ensacar minhas compras, Professor Pandolfo encerrou nossa conversa lembrando que apropriar-se de ideias alheias é uma das mais abjetas formas de roubo, pois, significa tomar do outro um bem tão valioso, quanto subjetivo, que é a inspiração e a transpiração, resultado do esforço para produzir algo original. Ainda surpreso e desconcertado com a aula de ética e respeito que recebi do sábio Professor, peguei minhas encomendas, me despedi e segui o meu caminho.

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