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Ariane de Medeiros Pereira
Ariane de Medeiros Pereira Caicó/RN
O sertão do meio dia
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Ao longe avistava-se aquelas sombras que caminhavam em uma sintonia cambaleantes pelas areias quentes e solitárias daquelas paisagens sertanejas que não sabiam para qual lugar os levariam. Pelo marejado dos corpos pareciam que eles estavam bastante sofridos e devastados com o tanto que já haviam andado por aquelas cercanias inóspitas. Por diversas vezes, paravam, trocavam falas e seguiam rumo a imensidão.
Caminhar pelas veredas do sertão, ao meio dia, não era uma tarefa fácil para o homem do sertão. O corpo pedia clemência, resmungava por água, tremia no sol escaldante e forte. O sertanejo, todavia, não se abatia e seguia em seu intuito que não, rara as vezes, era seu cotidiano. Aquele caminhava abundante e tranquilo mesmo sentindo o calor que fazia ao meio dia no sertão.
Vez por outra, parava embaixo de uma bela árvore para apreciar sua natureza, esfriar a grandeza da temperatura e seguia firme. Aquela paisagem parecia fazer parte de sua alma; homem e natureza davam a impressão que era uma junção de vida, de corpos e de luta. O homem do sertão era forte, resistente, seco, assim, como a paisagem sertaneja, mas também, amável, verde, fluído e vivente. Ao menor compasso de esperança florescia em exuberância. Assim, não seria a caatinga? Forte, resistente, bela, e mais, única.
Aqueles serem enigmáticos se conheciam, desfrutavam e se entendiam nas diversas facetas que um imponha ao outro. Nenhuma das partes dava mais ou menos que o outro pedia. Todavia, e aqueles que não conhecia a vivência da caatinga poderia encará-la? O ser humano que não conhecia aquela resistência natural entenderia aquelas paisagens? Conseguiria desfrutar daquele sol que se impunha forte e exaltado?
Parece-me que nossos viajantes já sentiam a dureza e as imposições que a natureza sertaneja colocava em sua frente. Mas, o interessante, eles não desistiam e caminhavam. A caatinga parecia sorrir, a cada novo passo dado pelos transeuntes, e pensava em colocá-los um pouco mais a prova. Neste momento, os nossos caminhantes estavam a passos de conhecer as juremas, os cactos, as urtigas e as faveleiras dos sertões. Mas, aqueles pareciam não se abaterem, mesmo em meio a paisagem de secura,
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Imagem: Zona rural de Jardim do Seridó/RN
Fonte: Acervo pessoal da autora.
Assistia a todas aquelas cenas da minha janela e pensava o que trazia aquelas pessoas desconhecidas ao nosso sertão? A garra deles pareciam não desvanecer e eles continuavam em sua saga, cada momento mais próximo de minha casa, mesmo sem saber que eu os observava. Em meio ao caminho encontraram um alento, um juazeiro verdinho que destoava em meio a paisagem seca do sertão. Ali os andarilhos descansaram e sorriram.
E não é que o sertão tem destas coisas, exaurir e acalentar com a mãe que faz seu trabalho educativo, assim, quando o corpo parece que não vai mais aguentar, o misterioso sertão resolve aliviar os passos daqueles que já se encontram sem força para caminhar. Passado o momento de descanso, os viajantes voltam ao seu trajeto regozijados e esperançosos para concluir sua tão sonhada empreitada.
O sol continuava sem clemência, forte, altivo e quente, bem, muito quente. A andança continuava desafiadora, e agora, eu já conseguia perceber mais detalhes daqueles corpos humanos que locomoviam. Percebo que eles caminham parando por entre a vegetação e apreciando a natureza. Não como antes, desolados, castigados, mas parecia que a reconhecia, tocava, admirava e seguiam.
Vez por outra, coletavam algumas espécies e em uma das curvas feitas naquelas veredas, encontraram um açude no qual se deliciaram. Seus corpos aproveitaram aquela água em temperatura natural que não deixava de ser gelada, pois era aquecida pelos raios solares, mas também, não era quente ao extremo, pois no sertão até água impõe suas vontades,
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Imagem: Águas represadas no sertão
Fonte: Acervo pessoal da autora.
Ali os transeuntes encontraram uma felicidade simples, sem aspectos da modernidade, mas com valores que aqueciam a alma. Brincaram, sorriram, e continuaram, por estes tempos, percebia que suas vozes já eram audíveis. Eles conversavam e sorriam. Pelo que podia entender, falava justamente, desse sertão conhecido e me perguntava: será que eles conhecem este sertão? Quem são estas pessoas? O que desejam por estas terras?
As minhas indagações logo seriam sanadas, pois não demorou muito tempo, e ouvi: “oi de casa”? sai apressadamente, sem cerimônia ou modéstia, apenas queria saber quem me chamava. Daí, para minha grande surpresa, quando vi que era meu sonho do passado. Me dei conta que estava sonhando, revivendo meus tempos do passado quando caminhava enamorado com minha alma pelas matas, sol, açudes e alegrias daquele sertão encantado.
Depois de tantos anos, podia perceber que o sertão se faz presente mesmo que distante muitas léguas daquelas paisagens sertanejas. O sertão vivia em mim e em meus sonhos desde daqueles momentos que foram experimentados. Não habitava mais as terras sertanejas de outrora, contudo suas marcas estavam impregnadas em meu ser. Talvez, considerando que o sertão é tão forte que segue contigo a cada recôncavo de minha alma. Quem passa pelo sertão descobre a grandiosidade de alma.