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Amélia Luz

Amélia Luz Santo Antônio de Pádua/RJ

Gretas da História

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A avó cansada repara a poeira do tempo cochilando na cadeira de balanço do velho casarão da fazenda sob os Trópicos. A mesa farta além do pão e do vinho sonhos guardados de uma pátria distante que deixou na mocidade escondida além das ondas do oceano. As contas do terço passam vagarosas em seus dedos envelhecidos Ao cair da tarde, ao quase anoitecer. Um chalé de lã cobre-lhe os ombros arqueados quando na vitrola um fado chorado ao bandolim relembra a Mouraria e toda a sua gente. Fita um tempo distante olhando uma paisagem do Tejo dependurada na parede caiada da sala de visitas. Há de ser quase centenária para no seu silêncio interior ouvir o longínquo chamar da sua terra palpitando suas raízes na raça lusa que traz no sangue abençoado e corajoso. Anciã recolhe em seus braços os últimos ecos que teimam a contar a sua história de trabalho e de conquistas. E no dobre do sino da capela do cruzeiro Revive a infância perdida que continua viva nas lágrimas quentes de saudades que correm entre as rugas profundas do seu rosto santo de mulher.

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