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Sandra Modesto

Sandra Modesto Ituiutaba/MG

Vem cá, Luiza

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A primeira vez que vi Luiza, ela era uma menina. Cabelos presos num rabo de cavalo, laços vermelhos, vestido florido. A segunda vez que vi Luiza, ela chorava. Chorava baixinho. A gente estudava na mesma escola. E lá estava ela. Eu meio desajeitado, mas os cabelos de Luiza, ah, esses eu sempre notei. Por alguns instantes reparei no elástico apertado prendendo os cabelos dourados, sei lá, a cor certa eu nunca soube definir. De repente, a professora chamou a secretária, Luiza chorava o motivo ninguém sabia. A mãe de Luiza chegou apressada. – Já demos chá de boldo, ela não parou de chorar. É melhor levar pra casa. A terceira vez que vi Luiza, ela tinha parado de chorar. Imperdoável. Soube da mãe dela. Lavou os cabelos de Luiza, penteou com amor, e amarrou com elástico. Desses que agora, a gente usa para prender nossas máscaras. Mas Luiza, no caso, sentiu o elástico muito puxado, muito apertado no rabo de cavalo. Cabelos molhados, daí... Dor de cabeça diagnosticada. Coitada da Luiza. Coitada nada. A menina resolveu não seguir regras impostas. Nunca mais prendeu cabelos, nunca mais. Tomava banho e os cachos daquela hora em diante, soltos ao vento. Porque a vida é um redemoinho. Quando a gente acorda o ar é diferente. Pelos menos que sejam livres os cabelos de uma mulher. A quarta vez que vi Luiza, foi numa noite triunfal. Tínhamos envelhecidos. Cabelos brancos com o mesmo corte. Não, o corte de Luiza era Joãozinho. – Cabelos curtos, Luiza? – Sim. Eu gosto. Soube depois que a moça de cabelos curtinhos andava com dificuldades. A Última vez que vi Luiza, não era Luíza. Não a que eu conheci. Pele enrugada, olhos perdidos. Tremor nos braços, pernas sem força. “As mãos geladas”. Tudo em Luiza se enrijeceu. Um lento silêncio. E o céu a iluminar os cabelos dourados de Luiza.

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