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Rosangela Maluf

Rosangela Maluf Belo Horizonte/MG

Alô, Floripa!

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Há três meses ela recebera, pelo Facebook, um pedido de amizade. Doze eram os amigos em comum. Um rosto naturalmente maduro. Um homem ainda bonito. Grisalho. Sorridente na foto. Nada mal, pensou. Aceitou sem mesmo olhar o perfil do novo amigo. Uma semana se passou. Talvez duas. Numa manhã, ainda na cama, recebe um bom dia, seguido de vários pontos de exclamação. Um e-moji piscando um olhinho e dois corações, cor de rosa. Respondeu com uma carinha sorridente, e só. Ficou por isto mesmo e nada mais recebeu nos dias seguintes. Uma semana ou mais... Já era tarde e antes de dormir, uma olhadela no celular. Um boa noite, com um coraçãozinho. Só isto. Sorriu e não respondeu. Deixou pra manhã seguinte quando daria bom dia ao novo amigo. Entretanto, ficou curiosa e resolveu dar uma olhada no perfil dele. Gostou muito do que leu e gostou também do que viu. Sorriu ao ver seu sorriso escancarado, num parque com o netinho – foi o que ela supôs. No mais, fotos em família, banners de filmes antigos, restaurante com amigos, nada especial. Sem nenhum outro interesse, saiu do Face e foi para o Whats onde seu filho a esperava para um bate papo, já marcado para aquela hora. Várias eram as solicitações para novos amigos surgidas no dia a dia. Nos finais de semana, talvez por culpa dos algoritmos, o número dos interessados aumentava muito e se não havia foto, nem informações, nem amigos em comum, ela não aceitava. Não valia a pena se arriscar. E, pela primeira vez, surgia um grande interesse por aquele homem da foto. Como deveria ser a sua voz? Seria agradável, gentil e educado como parecia ser? Qual seria o seu perfume? (Ela & sua eterna mania de cheiros!) Mais um tempo se passou. Em todas as manhãs havia um “bom dia, princesa” ou “bom dia, minha rainha”. Ela apenas sorria e não respondia. Naquela semana em especial, no sábado, ele enviou um vídeo, sobre o amor. Nada meloso, mas um vídeo com paisagens lindas, em francês e dublado em português. Ela esperou acordar de verdade. Fez mais uma horinha na cama, criou coragem e se levantou. Fez um café bem forte, voltou pro quentinho do edredom, ajeitou os travesseiros e foi passear pelo Face.

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No Messenger encontrou um bom dia, com dois coraçõezinhos entrelaçados, cor de rosa. Respondeu, em francês, com duas frases simples, desejando bom dia e agradecendo pelo vídeo. Veio uma resposta em francês. Surpresa boa. Continuaram a conversar, a rir, a contar coisas de cada um, tudo muito bom e muito divertido. Naquela manhã de domingo, quando o telefone tocou, era ele. Frio na barriga. Como assim, é possível falar pelo messenger/facebook? Até então eles não haviam trocado telefone, nem se falado. Só por mensagens. E agora? Muito receio de que fosse uma ligação com câmera. Ela detestava esta invasão de privacidade e ainda mais, logo de manhã, com a cara amassadinha, cabelo desgrenhadinho, etc etc. Não atendeu. O telefone tocou mais uma vez. Outro friozinho na barriga. Atende ou não? Atendeu. (Suspiros) Uma hora de papo. Um papo divertido, alegre. Ele sentindo-se um adolescente, enviando corações entrelaçados. Riram muito os dois. Conversaram sério também. Ele tinha duas filhas, uma morando na França, outra em Portugal. Ela tinha dois filhos, um na Inglaterra e o outro na Austrália. Descobriram que viviam bem sozinhos, apesar do quão desagradável estava sendo vivenciar a pandemia. Entretanto, nada os afetava em seu modo individual de ser. Estavam felizes em seus casulos, em plena liberdade do fazer, do pensar, do sentir. Compartilharam leveza e gratidão. Música clássica. Bach, Beethoven. Vivaldi a preferência dela, Mozart a preferência dele. MPB sim, os dois curtiam. Desfilaram cantores e cantoras que lhes agradavam. Livros. Viciados, os dois. Falaram dos vários estilos, dos autores preferidos. E o papo fluía solto, sem hora pra terminar. Falaram sobre futebol, gastronomia, viagem – uma paixão que parecia unir os dois. Falaram sobre tudo, até sobre o presidente, a CPI, a vacinação e outros assuntos menos agradáveis. Assim, entre mensagens carinhosas e conversas animadas ao telefone, passaram-se mais dois meses. Contato diário, mas não obrigatório. Havia um singelo código entre os dois. – Cada vez que você pensar em mim, poste um coração e eu farei o mesmo. – Combinado, ela disse. E assim continuaram por mais algum tempo. Como adolescentes. Postando corações e sorrindo a cada gravura recebida. Retribuição imediata. Uma sensação gostosa e leve, isenta de compromissos. O inesperado acontece. O improvável também. E o inusitado se fez presente ... O dia amanhece claro e radiante. Ela termina de organizar a mala. O avião sai dentro de quatro horas. É preciso colocar um casaco mais pesado. O frio em Santa Catarina anda muito forte, intenso. Até neve já houve nesta semana, na Serra Catarinense. Troca o pijaminha sexy por um outro

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sem muito charme, mas bem quentinho. Nada de aparentar o que não é. Nesta altura da vida, ela não tem o menor receio de se mostrar exatamente como é, da idade que aparenta ter, das cicatrizes internas e externas que lhe foram dadas pela vida. Das marcas do tempo, do que sofreu e das coisas boas que lhe aconteceram. Inclusive a presença dele neste momento, em seu viver. Ela já sabe que, na casa onde ele mora, existe uma lareira na sala e outra no quarto dele. Ele sabe que ela, como ele, gosta de um bom vinho tinto. Os dois na expectativa do primeiro encontro presencial. Como será o primeiro abraço, longo e demorado? Tímido, sem palavras? Depois de tanto tempo, o calor de um outro corpo, desconhecido. Depois de tantos meses, corações acelerados como dois namoradinhos. E quem sabe o que virá depois? Ela fecha a mala. Chama o Uber. Respira fundo e rumo ao aeroporto vai se preparando para a surpresa. O celular toca. É ele. Perguntando sobre os horários dos voos, sobre como está seu coraçãozinho – o de verdade, não aquele cor de rosa que ambos enviam no Messenger. Sorriem e dizem palavras carinhosas um para o outro; e cada um, à sua maneira, inicia a contagem regressiva para o grande e esperado momento do encontro. No fundo do seu coração – não o cor de rosa, mas o verdadeiro- uma voz calma e feliz: - Floripa, aqui vou eu!

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