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JAX
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A menina, o menino e a casa mágica
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A menina e o menino estão eufóricos com a descoberta de uma casa mágica na qual tudo acontece e é possível.
Quase todos os adultos com quem conversaram sobre o assunto consideram a magia como simples truque para entreter plateias. Os poucos que acreditam em magia, dela têm verdadeiro pavor. Chegam a benzer-se quando mencionam a palavra.
Entre a incredulidade da maioria e o medo da minoria, as crianças sabem que existe um ponto de equilíbrio, que elas já descobriram sozinhas.
A magia existe e pode quase sempre ser do bem. Basta a dose correta de coragem e bom-senso para lidar com ela.
A menina e o menino eram ainda bem pequenos quando descobriram a tal casa. Na primeira vez em que ali entraram, é verdade que se assustaram um pouco. Deram logo de cara com os três porquinhos, perseguidos pelo lobo mau.
Aprenderam, num instante, que o lobo somente tem o nome de mau. Não passa de um cachorrão manso, grande ator que finge perseguir os porquinhos (chega a babar como se estivesse faminto). Findo o espetáculo, vai com eles tomar um chope no bar da esquina. Aliás, basta olhar a barriga dos quatro para ver que gostam muito de comer e de beber. Folgazões, vivem no seu conto de fadas como se a vida fosse fácil. Não é bem assim, mas cada um se ajeita como pode.
Quando seus horários de batente permitem, eles têm a companhia da Chapeuzinho Vermelho, embora ela procure ser ajuizada e não exagerar na cerveja. Trata de manter a silhueta para quando for jovem e adulta. Quem sabe não encontra seu príncipe encantado?
Na visita seguinte à casa mágica, as crianças maravilharam-se com as aventuras de outro menino,
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pouco maior do que elas, que percorre o mundo a bordo de pequeno veleiro. Não se trata do jovem capitão de quinze anos, nem de Nils Holgersson, conhecidos personagens da literatura infanto-juvenil, mas o explorador mirim também faz das suas, para encanto de quem o acompanha.
A menina e o menino admiram-se das peripécias que o petiz vive em diversos lugares. Na África, impressionam-se com o conhecimento que ele tem de tantas espécies vegetais e animais. Ficam sensibilizadas, ademais, pelo carinho que o navegante demonstra pela Natureza. Seria bom se todos fossem assim e soubessem valorizar melhor esse mundo que também é uma casa mágica.
Na companhia do pequeno herói, os dois sobem as montanhas dos Andes, navegam pelo rio Amazonas, atravessam as Rochosas, no Canadá, visitam castelos na Europa e experimentam comidas exóticas na Ásia. Quanta novidade para descobrir! Em outra ocasião, as crianças conhecem ninguém menos que Robin Hood! O célebre arqueiro encontrava-se na casa mágica, a praticar com seu arco e flechas certeiras. O menino gostou de ver a precisão das flechadas e logo propõe à menina que desenhe um belo alvo colorido para se divertirem em seu quintal.
Alguns dias depois, é a vez de D. Quixote entretê-los com seus ares de pretenso cavaleiro andante, mas de triste figura, à imagem do seu pangaré claudicante (a rima é meramente casual). A menina e o menino contêm o riso, no entanto, pois enternecem-se com o drama do quixotesco sonhador.
Ambos vibram com as delirantes aventuras do Barão de Munchausen. Seria possível alguém enfrentar tantos desafios e sair são e salvo? Bem, a magia funciona dessa maneira: o que parece impossível às vezes traduz certa falta de vontade ou de imaginação. As crianças aprendem a importância de esforçarse, de dar tratos à bola até chegar a uma solução pelo menos razoável para o desafio. Solução perfeita é querer demais. Só o bom Deus tem o dom da perfeição.
Em mais de uma oportunidade, a turma do Picapau Amarelo está presente na casa mágica. A menina aprecia a inteligência e a
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sensibilidade de Narizinho enquanto o menino vibra com a valentia do Pedrinho. Ambos divertem-se muito com os disparates da boneca Emília. Passear pelo sítio na companhia dessa turma constitui um extraordinário prazer.
Tristes, porém, ficam as crianças no dia em que veem dois batalhões de soldados a defrontar-se. Que horror, a guerra! Chegar a tal extremo de insensatez e crueldade nega a condição humana. Em terra de magia, alguém até consegue assistir a essas lutas insanas com relativa indiferença, por saber que são de mentirinha, mas ai de nós se ocorrem na vida real!
Mais aprazíveis, para a menina e o menino, parecem as inventivas charadas decifradas pelos detetives da sua casa mágica. Charlie Chan, Sherlock Holmes, Arsène Lupin e tantos outros craques em resolver mistérios desfilam ante seus olhos, a surpreendê-los com suas deduções. Quantas situações enigmáticas surgem e desvendam-se, para seu deleite!
Dos mistérios policiais aos do amor, muito mais vai ocorrendo para estimular a imaginação de quem freqüenta a casa mágica. Aventureiros nela aparecem em profusão, ao lado de cidadãos pachorrentos, nobres, pobretões, mocinhas encantadoras, vilões, gente feia, gente bonita, jovens, velhos, bichos variados, locais deslumbrantes, o que for.
A menina e o menino não cessam de ir ali. Desde cedo adquiriram o hábito.
Crescem, casam, constituem família e continuam a comparecer à casa mágica, na companhia de filhos e netos. O gosto pela magia há de perpetuar-se por gerações a fio.
Para quem não descobriu, o verdadeiro nome da casa mágica é biblioteca.
Com mil histórias, mil aventuras, na infinita magia dos livros.
Março 2022.