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Lira Vargas

Lira Vargas Niterói/RJ

Chuva na Vidraça

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A chuva no passado, parecia diferente! Começava com gotas. Eu abria a veneziana e ficava olhando, torcia para não virar chuvarada, e a vidraça se misturava e borboleta se afogava, e eu chorava. Sabia que dia de chuva não podia ir ao parque namorar, ai que dor! Não podia ver o meu amor! O céu ficava cinza e a vidraça também, até o apito do trem era triste, o trilho brilhava e o farol também, ai de mim! Não podia ver meu bem. Os pássaros escondidos, numa folha qualquer e eu na vidraça batucava ansiosa, para a chuva parar de chover, queria ver meu bem querer. Subia ansiosa, na janela para ver, se no caminho tinha água da chuva que caia, E lá da cozinha minha mãe dizia :hoje ninguém sai de casa. Como casar? se chovia e não podia ver meu amor. Que horror! E torcendo para a chuva parar, de roupa nova, cabelos arrumados, blush no rosto e olhos pintados. Na rádio a melodia assim: descendo a rua da ladeira, só quem viu que pode contar, cheirando a flor de laranjeira “ e meu coração acelerado descia uma ladeira sem fim, ai de mim, que chuva ruim. E hoje passeando no passado, a chuva foi tão boa. Desci a ladeira e fui ver meu amor, de roupa molhada, ele sorria e dizia é linda minha flor de laranjeira, e eu toda faceira... Ai chuva que bom, no aconchego do frio, sorrindo assim, beijos molhados, roupas coladas e corpos entrelaçados. Chuva que ficou no passado e que fim! Ai de mim. E sem vidraça, sem pingos de chuva, sem borboletas afogadas, uma melodia triste assim: hoje vou rezar uma prece, que apresse a lembrança, que saudade! Que tristeza que nada, é um passeio no lugar que não se acaba, o passado lá longe, passado sem fim. Ai de mim. Ainda ouço o apito do trem, que saudade de meu bem! E olhando pela janela, ele não vem. Vejo uma estrela no céu, será ele também? Chuva na vidraça, passado que não passa.

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