6 minute read

Mestre Tinga das Gerais

Mestre Tinga das Gerais Corinto/MG

Sintonia e Qerer

Advertisement

O janeiro chuvoso onde as águas beijam as barrancas com gosto, o sertão em êxtase com a terra molhada e mais uma vez, lá os dois protagonistas de mais um encontro. Tudo que é bom se repete e porque não voltar a um lugar aprazível, onde tudo ao redor conspira a favor daqueles que são dominados pela ânsia de estarem sempre junto. Mais uma vez, aos pés da imponente Serra do Cabral, onde aconteceu um dos mais lindos encontros. Desta vez, sem mergulhar profundamente na espera em madrugadas frias, mas, com os olhos no firmamento e ouvindo o barulho da chuva que pelo chão ecoava e deixava o ambiente lindo. Eu desta vez, cheguei mais calmo, pois, sabendo que não demoraria a chegar aquela que tanto aguça a minha saudade, ali sentado esperando aquela que carinhosamente a chamo de “meu

anjo”.

Veio-me a mente mais uma de minhas brincadeiras com ela, onde, nós o fazemos muito bem quando em nosso cantinho, e reciprocamente nos tornamos crianças e em momentos adolescentes por entre carinhos e olhares penetrantes. E chega o ônibus trazendo aquela que faz dos meus momentos, um porto seguro. Eu no embalo da surpresa resolvi me esconder e uma das garçonetes fazendo parte da trama me avisa da sua descida do ônibus. Eu ligo em seguida dizendo que estaria em outro município, pois, o ônibus havia quebrado e eu chegaria após as 21h. Ela olha por todos os lados e a minha procura, não se contém e senta-se no banco da rodoviária. Notei certa tristeza em seu olhar e não me contive e passei à sua frente onde a ignorei olhando para outro lado. Ela silenciou-se e voltei e ao me direcionar a ela meu coração pulsou fortemente e nos abraçamos como se fossemos não mais desgrudar. Direcionamo-nos ao hotel e ali mais uma vez foi o cenário de mais um encontro de almas ávidas pela distância. Abraços e beijos, roupas pelo chão, bocas vorazes, mãos atrevidas, suores incontidos e o sal batizando aqueles que não medem esforços para vivenciarem momentos de pura entrega. Corpos cansados e olhares intensos, ela em meu braços e a minha mão acariciando a sua fronte, deixei a

128

minha alma penetrar à dela e a dela já moradora da minha, se misturavam e a pergunta:

- Por quê? Explica-me?

Eu calado, respondi com os olhos num sinal de mistério e atônito, pois, mergulhava num labirinto lindo, cheio de descobertas e magias. O adormecer, foi preciso para deixar os corpos leves e soltos para que tão logo a esperada noite chegasse, pudéssemos esbaldar nas delícias supimpas do aconchegante e feliz restaurante. Desta vez, não tomamos o chope sonhado, pois, como até as máquinas adoecem, a válvula havia estragado, mas, pudemos tomar aquela cerveja gelada e ela escolheu mais uma das iguarias dentre muitas do maravilhoso cardápio. Ela ficou incumbida de escolher o prato e lembrando-se da “Costelinha ao Molho Barbecue” ela preferiu o: “Lombo com Fritas ao Molho e Queijo”. Delicia! E a cerveja gelada ajudava na condução daquele belo momento. A chuva chega e entra em cena e os alaridos são sufocados pelos pingos no telhado, mas, ali continuava a imperar toda a alegria daquelas pessoas que também se sentiam felizes aos sorrisos e degustação e nós, aos carinhos, éramos observados ao ponto da D. Marta nos apelidar de: “Casal 20” e os nossos sorrisos fartos brotaram para a felicidade de nossas almas. Hora de recolhermos e mesmo debaixo de chuva nos dirigimos aos aposentos e ela num olhar que me cativa propôs a uma dança ao som de músicas românticas, onde abraçados e viajando no tempo, nossos corpos bailavam e em instantes foi impossível não iniciar mais uma cena de amor, por entre casquinhas –carinhosamente ditas por nós – que entre beijos e abraços, mergulho profundo e carícias, começamos novamente o ato amor numa cama aconchegante de lençóis alvos e travesseiros como espiões daqueles que invadem um ao outro em sintonia com o querer. Depois de todo aquele ato, vem a pedido dela pra que rezássemos para dormirmos e assim os inocentes embriagam em sono profundo, da famosa “conchinha” e grudados, deixando os seres respirar bem suave reger a noite chuvosa e aos dengos dos pingos na janela. Ao acordarmos, nossas bocas colaram-se e depois o “bom dia” seguido do recomeço e a volúpia entra em ação, deixando-nos nus e envolvidos num querer sem fim. O banho a dois deixou os nossos corpos serenos e leves e a mesa do café, esperando para atenuar a fome, que os dois corpos exalavam. Passear pela cidade estava no roteiro e foi cumprido, onde saímos pelas ruas a contemplar a serra e também as pessoas e até mesmo sondar a sorte na lotérica, mas, a sorte já estava ali entre nós dois, o sentimento de poder sentir o calor do

129

outro. Por entre o almoço e o retorno ao hotel, mais cumprimentos às pessoas e a chegada ao quarto para aquele sono da tarde. Ao levantarmos ela:

- Vamos tomar café na rua?

E eu:

Com pastel?

E ela:

- Pode ser.

E fomos até a padaria e após nos dirigimos à Igreja de Nossa do Carmo e rezamos o terço com fervor, aonde, somente nós dois na igreja e a rápida chegada do Coroinha que ao nos vir, nos cumprimentou rapidamente e saiu. Saímos e curiosamente resolvemos ir pelo outro lado da cidade, aonde deparamos com uma boate e adentramos as ruas e chegamos a um lindo riacho com suas águas cantantes e uma mata virgem cercada de um verde magnífico. E veio a hora de maior alegria do meu “anjo”. Ao ver os trilhos da Central do Brasil, notei que se incorporou nela o desejo de andar por sobre eles e de mãos dadas o fizemos em meio às lembranças e os nossos equilíbrios deixavam a gente mais crianças ainda, num fim de tarde maravilhoso. Chegamos novamente ao hotel e não precisa dizer mais nada. Mais carinhos e entregas e beijos e sorrisos e um delicioso banho, para que logo mais nos deliciássemos de mais uma das iguarias supimpa. A noite chega e depois dos momentos lindos a cabeça já deixava armazenar a despedida no domingo e nós dois nos adormecemos e pela manhã ao arrumar as malas, e cada peça de roupa que era colocada na mala, expandia a tristeza do ir e o silêncio rodeava as roupas e os nossos movimentos. Chegam hora da partida e a monotonia ali contida e até mesmo um silêncio mórbido em saber que cada uma iria para seu destino. E chega o ônibus que ela ia viajar. O inevitável beijo e olhares úmidos e ela embarca sob o clima de solidão daquele que a partir daquele momento iria para outra paragem. Meus olhos furtando a saída do ônibus fui até á margem da 135 para acompanhar a ida daquele carro até a curva tomar ele de mim e ali selava mais um encontro por entre a sintonia e querer. Que venha logo outro encontro para que as teclas do meu computador possam bailar e criar mais uma história de amor entre dois seres ávido pela liberdade.

This article is from: