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Alimentação é coisa séria!
por Emanuele Pereira • fotos divulgação
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que, no Brasil, 22,1% da população é obesa e 56,5% tem sobrepeso. A nutrição de qualidade adequada, a cada perfil metabólico, é um dos primeiros passos para a adoção de um estilo devida com alimentação que respeite às necessidades de cada organismo. E nesta edição da Revista Alpha iremos bater um papo com o nutricionista especialista em nutrição clínica funcional, Daniel Cady. O profissional formado pelaUniversidade Federal da Bahia (UFBa) orienta artistas e esportistas que deseja manter uma rotina nutricional adequada.
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REVISTA ALPHA FITNESS: Daniel Cady, quando falamos em nutrição precisamos abordar diversos fatores, inclusive educacionais e econômicos, que afetam a saúde da população. Enquanto nutricionista funcional, poderia apontar os piores hábitos que potencializam o aumento da obesidade?
DANIEL CADY: A obesidade é um problema multifatorial, que vai muito além não só da parte física – só do que comer e gasta energia do que consome – é um problema que envolve também uma pequena parte da genética e, sobretudo, das questões comportamentais. Então a discussão sobre a influência das emoções no comportamento alimentar, além do ambiente em que as pessoas vivem, é pouco vista nos dias de hoje. Temos que sair dessa visão superficial, míope, que emagrecer é um passaporte para a saúde, e que basta se alimentar menos e malhar que resolve esse problema tão complexo. O que se come é importante, mas o como, com quem, quando e o ritmo que se come também influencia. A vida corrida e o stress físico e mental faz com que muita gente use a comida como válvula de escape para os problemas do dia a dia. Além disso tem a mídia que dita os padrões de beleza, e isso causa uma série de distúrbios de imagem nas pessoas e uma compulsão por exercícios e compensação por alimentação, e acaba criando uma obsessão por toda essa questão que envolve o comportamento alimentar. O nível de industrialização dos alimentos é preocupante, porque quanto mais forem industrializados teremos mais açúcares, sal e menos nutrientes.O valor nutricional desse alimento será menor e, infelizmente, as pessoas estão se alimentando desse jeito. Do ponto de vista nutricional, o maior problema é a ingestão desses alimentos de baixo valor nutricional e a mentalidade de fazer a dieta em um curto espaço de tempo, cortando grupos alimentares e sendo radical. Comisso, as pessoas acabam perdendo o prazer de comer, e esse medo de comer causa um ambiente social e emocional muito conturbado.Também acaba elegendo alimentos vilões e mocinhos, e nós sabemos que isso não existe pois o que existe é uma alimentação saudável. Esse estilo de vida está causando não só a obesidade, mas outras doenças também.
R.A.F: Existe uma diferença entre emagrecer e perder peso. Quais os cuidados nutricionais necessários para que o indivíduo possa emagrecer e atingir a saúde integral?
D.C.: Quando falamos em perder peso você pode perder gordura e massa muscular. A água depende muito de como você se movimenta e organiza sua alimentação. Muitas dietas restritivas fazem com que as pessoas, no início, percam água. A dieta da proteína, por exemplo, que exclui carboidratos fez com que o indivíduo perca muita água e fique achando que está perdendo gordura, e isso não é tão bom porque acaba focando só no peso. E em processo de longo prazo faz com que esqueça de coisas importantes, como mudança de comportamento, controle do estresse, do sono e do exercício, então perder peso é muito relativo. Um plano alimentar personalizado, sem grandes restrições e bem orientado faz com que ela perca peso de gordura, de forma saudável, sem que a pessoa fique desnutrida. O desnutrido tem falta de nutrientes, então a pessoa pode ser obesa com uma alimentação rica em energia, com poucos nutrientes reguladores, ou seja, ela pode ter pouco cálcio, zinco e ferro no organismo, e ter baixa desses nutrientes que são moduladores da nossa fisiologia que são importantes para a nossa saúde e o sistema imunológico. A desnutrição vai além do peso e da magreza. O indivíduo pode ser obeso, mas desnutrido.
R.A.F: De acordo com o levantamento da Associação Internacional de Fomento ao Universo de Saúde, o Brasil é o segundo país no mundo com maior concentração de academias. Dados também apontam que 42% dos brasileiros estão praticando alguma atividade física. Além dos exercícios físicos, quando falamos em estilo de vida saudável, qual o peso dos hábitos alimentares?
D.C.: O estilo de vida envolve como você se movimenta, como regula o estresse e o sono, e como e o que você come. Não gosto de dizer que a alimentação é mais importante do que o exercício físico, o estresse ou o sono. O ideal é investir em cada fator, pois os hábitos alimentares são tão importantes quanto os hábitos do sono e do controle do estresse.
R.A.F: O quanto os alimentos funcionais contribuempara que a dieta possa apresentar osresultados almejados para cada indivíduo?
D.C.: A alimentação deve ser personalizada. O que é remédio para um pode ser veneno para o outro. A gente sabe que cada pessoa tem uma individualidade bioquímica. Por exemplo, você pode não se dar bem com pão, mas eu posso me dar bem ou você pode ser dar bem com leite e outra pessoa não. É preciso fazer uma personalização do que vai ser consumido. É levado em consideração quais os alimentos que serão selecionados e se a pessoa tem uma alergia alimentar. Quando é feita uma orientação alimentar personalizada, o indivíduo é conduzido a um estado de saúde melhor, proporcionando um emagrecimento mais rápido, com mais saúde, bem-estar e conforto.
R.A.F: Até que ponto a frase “você é o que você come” está correta?
D.C.: A frase está incompleta porque você é o que você come e digere, mas nem tudo que a gente come é digerido, pois depende da saúde digestiva. Você é como você come também. A gente percebe na prática o que provoca quando se come transtornado, na correria, em pé e distraído vendo TV. Por isso a gente orienta o comer com atenção plena, que é o comer com a presença saboreando o alimento, identificando os sinais de fome e saciedade para saber a hora certa de comer e o momento que deve parar para não ficar empanzinado. Comer somente quando tiver fome. É preciso diminuir a quantidade de açucares e beber mais água, água de coco, suco de fruta natural, chás e menos refrigerantes e bebidas açucaradas, que fazem mal por causa da ausência de nutrientes.