MACONDO revista literária
N.º 5 TRIMESTRAL fev mar abr 2012 ANO II
apresenta ronaldo cagiano, geraldo lima, thiago cervan, carolina almeida, isabela penov, jorge luiz mendonça martinez, dagmar braga, frederico spada silva, renato tardivo, ronie von rosa martins, rafael zen, ari marinho bueno, fabrício fernandes, artur bicalho, paula oliveira, roberto prado barbosa jr., johann heyss, angelo colesel, gledson vinícius, hugo crema
POESIA POESIA VISUAL RESENHA BIBLIOPHILIA CONTO HAICAI DOMÍNIO PÚBLICO +
expediente
EDITORES
francisco mariani casadore marcos mariani casadore COLABORADORES
os autores dos textos publicados na presente edição estão listados, por ordem alfabética, nas páginas finais da revista. IMAGENS CAPA:
Carolina P. Almeida POESIA VISUAL: Thiago Cervan
não nos responsabilizamos por ideias e demais conceitos expostos pelos autores, bem como pela autoria dos textos. APOIO À PAGINAÇÃO
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Cada um de nós é por enquanto a vida. Isso nos baste. José Saramago
editorial
J
á na sua quinta edição, a Revista Macondo comemora, também, o “fechamento” de um primeiro ano de existência - ano especialmente positivo, com ótima recepção do público-leitor e milhares de visualizações das edições digitais online. Temos uma proposta de publicação trimestral e, consequentemente, a cada ano, quatro novos números recheados de boa litera-
tura vêm à tona. * Nesta primeira edição do recém-inaugurado segundo ano da revista, porém, começamos com um pequeno atraso no lançamento: como sempre acabamos reiterando aqui, a Macondo é um projeto editorial paralelo às nossas práticas profissionais e, muitas vezes, nos vemos obrigados a trabalhar com ela em horas vagas que não existem. Prevista, a priori, para o
começo de maio, este número acabou saindo somente agora, quase no final do mês. * Há um reinício implícito aqui, também, numa espécie de “nova fase” mais objetiva: voltamos a enfatizar as colaborações e a produção literária. Deste modo, o número prioriza, essencialmente, as seções com contos, poemas e haikais selecionados dentre a grande quantidade de obras recebidas
POESIA
DOMÍNIO
CONTO
página 6
PÚBLICO
página 25
página 20
HAICAI página 22
nesses últimos meses. * Aproveitamos a oportunidade para agradecer à amiga Carolina Almeida, que aceitou nosso convite e nos presenteou com a admirável imagem que ilustra a capa da edição. * E nosso agradecimento especial, também, aos colaboradores da Revista Macondo: mais uma vez, fechamos um número com excelente qualidade literária.
* Muitos outros bons textos acabaram de fora, por conta da formatação - já é de praxe salientarmos aqui o quão árduo é o processo de seleção e como a sensação de deixar grande parte dos trabalhos fora da edição acaba sendo difícil -, mas mantemos, todavia, o mesmo convite e incentivo de sempre para que continuem mandando suas produções: somente graças a vocês é possível prosse-
guirmos com um periódico de tão boa qualidade dentro do cenário da literatura atual. * Nos vemos na Macondo 6. Grande abraço!
RESENHA
POESIA VISUAL
COLABORA-
página 39
página 47
DORES página 55
BIBLIOPHILIA página 51
poesia
Meus bens com cinzel muita bordoada foi ferindo meu peito cortando a pele e furando meu coração - isso não é amor! já me diziam sangrei manchei a camisa (branca) o vento varava o buraco no peito (vazio) - isso não é amor! repetiam depois de levar >>
segundo trimestre 2012
7
poesia
meu coração levou por fim meus bens mais preciosos meu fígado e pâncreas nunca mais álcool nunca mais açúcar...
roberto prado barbosa jr.
De mim para mim Luto por mim, no final das contas, Sem discursos ideordinários. Vivo por mim. No máximo, de vez em quando, piedade. Morro por mim, Mas se alguém se habilitar...
gledson vinícius
8
MACONDO revista literária
“O suor de João ficou...” O suor de João ficou nos alicerces da casa e João ficou sem nome mãos sujas de pó de cimento João fumava João matuto tatuagem velha de âncora no braço João estava de luto mas nunca vi João chorar.
“Nada se foi...” Nada se foi, de lá pra cá nada ficou. No caminho a gente se tornou, (e entornou) outras pessoas À nossa volta; deixou corações partidos como dominó.
>>
segundo trimestre 2012
9
poesia
Restam garrafas inteiras daquele sentimento, olhos de gueixa só, à mesa: se move e engole de um gole. dispersa, despede me deixa.
artur bicalho
Partida Vamos fundar um buraco pra julgar profundo todas as cartas deixadas em calças sem bolso e jogar um bilhar. A lua é a bola branca céu é ímpar estrelas par.
10 MACONDO revista literária
Poema dado (Jogue o dado e monte a frase com as seis sentenças que caírem. Caso a sentença repetir na mesma frase, jogue novamente o dado, até que apareça outra que ainda não tenha caído.)
segundo trimestre 2012 11
poesia
______________________ Memorando nº 15.04.2012 A/C de Revista Macondo Assunto: Material humano Encaminho esse material, contendo os itens descritos a seguir. .01 .02 .03 .04 .05 .06 .07 .08 .09 .10 .11 .12 .13 .14 .15 .16 .17 .18 .19 .20
dentro da repartição o tédio é patrimoniado® promovido trabalha, mas não bate ponto. os sonhos seguem anexos nos memorandos o sol Não bate o pino o ar É condicionado à terra O mezanino. a água é a fuga no copinho Descartável como material humano.
Cordialmente,
jorge luiz mendonça martinez 12 MACONDO revista literária
Gramática dos Sonhos § 1. EXEGESE “Só há poesia na surpresa” * – e a vida, aos sustos, verseja.
§ 2. LIÇÃO DE COISAS Extrapola a confidência, o mar, o medo, para, de mãos dadas, suportar o mundo.
§ 3. Lúdica é a razão quando diz, a se gabar, que é maior que o coração. Não sabe ela que, para fazer-se viva, calamos a emoção? >> *Verso de Anna de Pontbriand Vieira.
segundo trimestre 2012 13
poesia
§ 4. O homem que sonhava engolir o mundo com um bocejo morreu entalado com não-se-sabe-o-quê.
§ 5. (DES)CONSERTO (A Luana Barcelos) desconstrua. debalde o esforço de fazer-se. vale a decomposição dos signos dos sinais. assim amplia-se o horizonte do olhar alarga-se a beleza do sorriso e o desafio que se vislumbra passa a chamar-se poesia.
§ 6. pedagogia do olhar >>
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: tatear palavras recitar universos para ver no ar a poesia refratada entre os homens
§ 7. Brincar de infinitivo (sem tempo por conjugar ou gerúndio que nunca acaba): a gramática dos sonhos só o que não quer é regência.
§ 8. É noite, e ceio o sono que me alimenta. [Ninar poemas requer vigílias e dicionário.]
* Observação: EMERGÊNCIA Em caso de tédio, quebre o silêncio.
frederico spada silva segundo trimestre 2012 15
poesia
Canção de Mercúrio Quando o Sol nasceu a luz andou lado a lado largando rastro perene pulsante totem e ruído de sirene Quando a Lua nasceu a estrela da manhã derreteu gota a gota transbordando verde viscoso na taça de ouro que o Sol chorou quando morreu
Imagens no espelho quando abri a caixa de pandora percebi de imediato que essa era a hora então joguei-me (não sem medo) no fundo onde reside toda a escuridão & experiência do mundo a lua escondida cicatrizava sua ferida o mar incandescente emanava um vapor dormente meu barco chegou tranqüilo à praia enquanto a noite recolhia sua saia >> 16 MACONDO revista literária
meus demônios agora não são mais jogados fora então se chamam não mais legião; mas clarão seus olhos na alturas & profundezas são a lua cheia iluminando a teia na qual nos metemos: eu & você. Agora eu caminho na areia da praia enquanto a noite joga, redonda, a sua saia
johann heyss
“Teu corpo aí...” teu corpo aí assim estirado é feito um telhado de nuvens onde dorme vadio o meu silêncio
segundo trimestre 2012 17
poesia
“Olho...” olho dentro dos seus olhos negros como antes de se jogar o suicida ereto confirma do prédio a altura de cima
ari marinho bueno
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Vergonha alheia no outono, é triste o jugo das folhas- amarelas, confessam seus delírios: cometem suicídioenvergonhadas, atiram-se ao chão amontoadas - inferno seco: cotidiano humano
angelo colosel
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domínio público
Fernando Pessoa
Trechos do livro “Páginas íntimas e de auto-interpretação” (1966, Edições Ática - Lisboa):
Nasceu em Lisboa, no ano de 1888. Em 1895, parte para a África do Sul com a mãe e o padrasto; retorna a Portugal, sozinho, em 1905. Fundador da revista Orpheu e criador dos mais conhecidos heterônimos, morre em 1935, de complicações hepáticas. Considerado uma das grandes vozes da literatura portuguesa.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros). Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Não sei quem sou, que alma tenho.
***
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Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são — como são para os outros. Sinto isto. ***
nha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carácter consiste no ódio, no horror da e na incapacidade que impregna tudo aquilo que sou, física e mentalmente, para actos decisivos, para pensamentos definidos. Jamais tive uma decisão nascida do auto-domínio, jamais traí externamente uma vontade consciente. Os meus escritos, todos eles ficaram por acabar; sempre se interpunham novos pensamentos, extraordinárias, inexpulsáveis associações de ideias cujo termo era o infinito. Não posso evitar o ódio que os meus pensamentos têm a acabar seja o que for; uma coisa simples suscita dez mil pensamentos, e destes dez mil pensamentos brotam dez mil inter-associacões, e não tenho força de vontade para os eliminar ou deter, nem para os reunir num só pensamento central em que se percam os pormenores sem importância mas a eles associados. Perpassam dentro de mim; não são pensamentos meus, mas sim pensamentos que passam através de mim. Não pondero, sonho; não estou inspirado, deliro.
Cumpre-me agora dizer que espécie de homem sou. Não importa o meu nome, nem quaisquer outros pormenores externos que me digam respeito. É acerca do meu carácter que se impõe dizer algo. Toda a constituição do meu espírito é de hesitação e dúvida. Para mim, nada é nem pode ser positivo; todas as coisas oscilam em torno de mim, e eu com elas, incerto para mim próprio. Tudo para mim é incoerência e mutação. Tudo é mistério, e tudo é prenhe de significado. Todas as coisas são «desconhecidas», símbolos do Desconhecido. O resultado é horror, mistério, um medo por demais inteligente. Pelas minhas tendências naturais, pelas circunstâncias que rodearam o alvor da minha vida, pela influência dos estudos feitos sob o seu impulso (estas mesmas tendências) — por tudo isto o meu carácter é do género interior, au- * Para este e mais textos do autor, visite tocêntrico, mudo, não auto-suficiente www.arquivopessoa.net mas perdido em si próprio. Toda a misegundo trimestre 2012 21
haicai
a seu lado lá l o
n
g
e
estranho todo dia a luminosa clareza da primeira vez
um corpo amanhecido (frêmito da matéria) à poça e a porta aberta
ari marinho bueno
segundo trimestre 2012 23
haicai
hoje eu passo. se falta amor, até em meio colchão sobra espaço
enrolados no lençol: eu cara, ele col
rafael zen
24 MACONDO revista literária
contos
contos
Câncer (Está tudo escuro aqui; o cheiro é novo, não o ambiente, e eu tento esquecer o diagnóstico proferido pelo médico – mais parecia um veredito saído da toga de um juiz sádico –; não contei para ninguém (ainda), tenho direito ao segredo, tampouco argumentei mas doutor, sempre acreditei que estava vacinado contra isso, ele não acompanharia o raciocínio e, mesmo que acompanhasse, discordaria; ou talvez julgasse se tratar de alguma manifestação canhestra da doença e salivaria ante a possibilidade de publicar em algum periódico internacional de primeira a sua incrível descoberta, e eu tento deixar isso tudo entre parêntesis enquanto me enredo nesse orifício e ela faz careta, se contorce, pede para eu parar e, em seguida, muda de ideia; implora para que eu não pare, não agora, agora, isso, e me acerta o queixo com o joelho e se assusta, ri, recua, para, não para, e aqui de dentro eu ouço sua voz com eco de ondas reverberadas por todo seu corpo, voz que parte daqui e aqui mesmo finda, e afogado nos seus gemidos eu questiono onde a vacina pode ter dado errado , sempre segui à risca a cartilha e ela parecia fazer tanto sentido (ela berra agora, como se eu a 26 MACONDO revista literária
fizesse sofrer), vai ver fez tamanho sentido que deu a volta, como dá a volta a cobra que come o próprio rabo; isso, ela diz, isso, só pode ser isso, eu penso, ela roça uma perna na outra, sinal de que está chegando lá, mas agora me dá com o calcanhar na panturrilha; parece insatisfeita com o meu serviço e talvez esteja certa, eu estou preso ao cheiro novo deste lugar que conheço como a palma da minha mão, preso para não mais sair, e é o contrário do que sempre fiz, pois a cartilha dizia que, enquanto meu corpo ejaculasse palavra, estaria livre de células autodestrutivas; os textos, crescidos em liberdade, contaminariam uns aos outros, e seria uma escritura sem fim, como a cobra que come o próprio rabo mas vomita no instante seguinte, e dessa forma não haveria núcleo duro, nódulo, esponja; nada dessa natureza cresceria pelo avesso aqui dentro, e aqui dentro, a língua enredada em seus pelos pubianos, lanço mão da última cartada: com a língua transformo seus pelos em palavras, palavras em frases, frases em fluxo, tudo isso azeitado ao seu corrimento espesso, e ela inclina os joelhos para dentro, bate um no outro, uma, duas, várias vezes, falta-me o sangue à cabeça, mas para que preciso disso agora?, basta-me a língua, e num esporro – vômito de afeto – dou
sequência à escritura por ora interminá- estava morta. Já não havia sibilações, vel; ela uiva, grita, ladra, e sequer sus- vibrações... como o demo, o som havia peita da matéria-prima deste texto.) sido excomungado para infernos outros. As cordas já não vibravam nem tiniam.
renato tardivo
O verbo suprimido Foi em um dia normal. Qualquer dia de normalidade próxima ao abismo. Mas normal. Todo o dia é dia. E ponto. E acabou. O dia. No ponto. Exato ponto onde já não é mais dia... então ele parou. Opção pensada. Doença cruel e irremediável. Loucura advinda de genes moralmente abalados de um passado obscuro. Obscuro era o motivo, a razão da ausência do verbo na boca de Ermiliano Girondino. O silêncio, tal como demônio que possui corpo abandonado de alma, dominara todos os ecos e vibrações sonoras do corpo de Ermiliano. A língua
E assim Ermiliano, vulgo seu Liano, continuava sua vida, agora balizada por um silêncio que era seu, mas que por onde passasse mais silêncio assim somava o dele e o do outro e o daquele que ao não ouvir a voz alheia, cansado de a sua ouvir calava o som exterior e falava no cérebro, pra dentro da cabeça e a voz dormia na língua que já não batia. Na rua, cumprimentava o povo com os olhos grandes e castanhos, e a intensidade e nuances determinava o humor de seu corpo e espírito. A mulher, ainda longe da velhice, mas já bem distante da mocidade, nos primeiros tempos chorava e implorava para que ele falasse. Ele sorria. Mexia a cabeça afirmativamente ou negativamente. Afagava carinhosamente o rosto da esposa e dormia sorrindo. No seu silêncio ela foi. Com a filha e o filho. Taxia na porta. Malas e maletas. Desilusão e lágrima. Ainda na cama segundo trimestre 2012 27
contos
Ermiliano dormia. E no seu sono ela ia Mas ninguém ouvia os olhos de Ermiembora. A família emudecera. Já não liano, ouviam só o que diziam. Comiam havia mais. suas próprias palavras. Alimentavam-se da própria carne. Então resolveu que o escritório não era adequado para o seu silêncio. Fotos. Muitas fotos retratavam ErDeitou na cama e fez a grande recusa. miliano. A imagem. A imagem e o verbo Desligou o rádio. A televisão. infernal. Ambos em prol da representação de Ermiliano Girondino. Um dia, percebido na ausência que permitira a sua percepção, recebeu Já não era ele. Seu Liano que esa visita de um colega de trabalho. tava ali. Mas sua representação. ResuO outro falou. Falou. Argumentou mido em pequenos textos, consumido de todas as formas e maneiras que pôde. em artigos pessimamente elaborados. Nada conseguiu. No telefone chamou Retorcido através de uma ótica doentia outro amigo, e outro. Em seguida uma e perversa. Difamado em letras simplóemissora de TV local estava no local. rias que construíam um Ermiliano bufão Todos falavam. Todos perguntavam. O e engraçado. Um bobo? O verbo recorverbo se enroscava entre as línguas feri- tava o perfil. Definia o psicológico. A nas, libidinosas. O verbo lambia o silên- imagem, correndo atrás, focava o olho cio de forma imoral. O verbo possuía. excludente de sua visão parcial nos obEstuprava, violentava. Poluía. Ar, rio, jetos que poderiam significar algo além matas e cérebros. O verbo se inscrevia do que significavam. nas árvores e as apodrecia, infiltrava-se nas intenções e tudo deturpava ao seu A mulher foi encontrada para dar interesse. entrevista, ficara famosa. “A mulher do homem sem voz. A mulher do homem Preso e de olhos esbugalhados mudo. A mulher do sem voz. A mulher diante daquele circo de horrores, Ermi- do silêncio.” E agora já não chorava. Faliano pensava em chorar. Pensava em lava. Possuída pelo verbo. Proferia frenmorte, suicídio. Seus olhos tentavam te às câmaras fotográficas e aos gravaatravés de códigos vários, nuances in- dores sua triste história junta ao marido. findáveis se comunicar com os outros. 28 MACONDO revista literária
Rejuvenescera. Comprara roupas novas. De alma vendida. Como prêmio recebera as benesses da mídia. Dinheiro casa e alguns contratos.
tratados sobre as nuances e significados do brilho dos olhos eram escritos. As proximidades eram mais pretendidas que as distâncias. Então os manicômios perderam sua importância e Ermiliano Sem o mérito da defesa e ausen- voltou para casa. te de voz verbal, Seu Liano foi colocado em um manicômio. Louco. Foi em um dia normal. Qualquer dia de normalidade próxima ao abismo. No primeiro dia tímido, mas já no Mas normal. Todo o dia é dia. E ponto. segundo começou a grande revolução. E acabou. O dia. No ponto. Exato ponto Coisa nunca antes vista. Falava com os onde já não é mais dia... então ele paolhos. E os outros entendiam. E tudo rou. Opção pensada. Doença cruel e ircomeçou a silenciar. Vasto e grandioso. remediável. Loucura advinda de genes Denso e poderoso. O silêncio começou moralmente abalados de um passado a tomar conta de todos e de tudo. E o obscuro. Obscuro era o motivo, a razão verbo começou a ser esquecido. A pala- da presença do verbo na boca de Ermivra abolida. liano Girondino. O manicômio era como um grande “buraco negro” na rua, espaço da anti-matéria, e logo em seguida toda a rua começou a emudecer. As pessoas já não queriam falar. Já não havia interesse. O verbo doía, soava estranho em bocas que se contorciam e gargantas que se espremiam em guturais sentidos.
Então falou.
ronie von rosa martins
Passado alguns anos um grande silêncio tomara conta de tudo, e o discurso agora era do silêncio. Os gestos eram mais bem entendidos, as expressões faciais estudadas e interpretadas, segundo trimestre 2012 29
contos
O destino de Mohammed Mergulhei numa espécie de homem estirado no céu escuro contemplando o mar O soldado Mohammed mostra sua tatuagem no braço a uma mulher, e também as cicatrizes provocadas por fragmentos de granadas. Tinha um olhar esquivo e escuro, como se vivesse por anos e anos num cativeiro, talvez por imposição própria, ou talvez se obrigasse a manter-se aprisionado. Ele estava pálido e magro. De passagem pela cidade, Mohammed havia chegado para uma parada de três dias. Era o tempo que a escolta precisava para montar guarda na entrada da cidade. Assim, o comando teria visão privilegiada da fronteira. Sabe-se Mohammed passara a adolescência odiando os pais por eles terem se dedicado integralmente ao Exército. Ele ainda mostrava a uma mulher a sua tatuagem, que é a imagem do dorso de um velho que olha e contempla o 30 MACONDO revista literária
mar. Disse que fez o desenho em homenagem ao pai. Comentou também que pensa em abandonar o navio, a atividade de escolta, e poder levar uma vida normal como pescador. - Largaria tudo e passaria a trabalhar apenas como pescador num vilarejo, disse Mohammed à mulher. Passaram-se alguns anos e o soldado Mohammed então decidiu abandonar a zona de guerra. Ele estava cônscio de que sempre quis um dia ser um deles, e que esse desejo lhe perseguia desde criança. Mas Mohammed pensa que muitas vezes os desejos que brotam de nós mesmos nos são tão somente engodos – “que nos impomos para satisfazer os desejos dos outros”. Ele sabia que iria a alguma hora desistir de atuar como soldado, e que restringiria sua vida sendo pescador de um vilarejo com no máximo quinhentos moradores. Quando Mohammed presenciou pela primeira vez a ação da patrulha, reconheceu os limites de sua resistência, lançando a si um raio de desesperança. Assumiu o grau de estupidez e violência a que estava afundado. No passado sua mãe tentava dissuadi-lo. A primeira vítima, dizia ela, é sempre o soldado. Sei pai lhe dizia o contrário, seria ele também do Exército – nascera para dar
continuidade àquele destino. Mas essas lembranças e do que diziam seus pais não se sobrepôs à imagem que o soldado presenciou num museu da cidade onde desempenhava pela última vez suas funções de militar. Era uma imagem, mais especificamente uma obra de arte, em que galhos folhosos de árvores atravessavam a figura de dois corpos masculinos. Galhos a furar arrebentar fígado coração braço, a se embolar e esgarçar veias de dois homens. E esses mesmos galhos que brotavam de um e de outro impedia que os dois homens se separassem. Mas isso de impedir que os dois se separassem, fisicamente ou não, era o que sentia e pensava Mohammed. Do lado de fora do museu, naquele último dia de militar, o sol começava a se por. Chegara a hora de montar e intensificar a ofensiva, mas o soldado já havia se decidido. Abandonaria a zona de guerra. Agora, o pescador que havia acabado de chegar naquele vilarejo e adotara o lugar pra viver esfrega a sola dos sapatos rasgados no chão empoeirado do quarto alugado. Tirou os sapatos com a ajuda dos pés. Levou o cigarro à boca e deu uma tragada. Ouviu o barulho das ondas no quebra-mar, e enquanto alisava o braço esquerdo onde estava a tatuagem de um homem contemplando
o mar, enquanto isso ele observava os contornos de uma nova tatuagem que fizera ao adotar o vilarejo como lugar para viver, era a imagem de uma cigana de cabelos negros e olhos grandes. O quarto tinha cheiro de mofo, ferrugem e suor. Seus cabelos estavam encharcados de suor e a face descorada; no canto dos olhos, rugas acentuadas. Ainda ouvia o barulho das ondas no quebra-mar. Naquele instante, os olhos do pescador tinham coloração azul-cintilante, proveniente do reflexo do mar... estava ali parado na areia da praia enquanto pensava se fizera uma escolha ou se teria em verdade abandonado tudo... porque o pescador, a bem da verdade, pouco entendia da atividade pesqueira, e muito sabia que se comprazia no Outro, embora não entendesse bem o que seria isso. O pescador estranhava-se sendo pescador; enquanto soldado, se entendia mas não tinha recompensas, apenas punha-se violentamente errático, o porquê disto também não compreendia? Agora ele escutava melhor sendo pescador – escutava o ronco das ondas no mar. E sentia-se como se tivesse uma água-viva queimando-lhe todo. O recém-pescador intuía que era do ódio que nascia uma dor incomensurável, era do ódio e também da gransegundo trimestre 2012 31
contos
quantidade de amor que havia dentro dele que brotava a tenacidade capaz de lhe aprisionar na trincheira, e o desejo de viver perto do mar, tudo ao mesmo tempo. De novo ele ouviu o ronco das ondas, agora no quebra-mar, lugar mais distante, e ouviu que não conseguia suportar o medo de ser ver livre. O pescador que havia acabado de chegar naquele vilarejo e adotara o lugar pra viver era Mohammed, ex-combatente do Exército.
frabrício fernandes
Técnicas Avançadas para Buscar Inutilidades no Entulho Chamava-me todas as tardes. Eu aparecia esbaforido, ele sugando uma sopa barulhenta. Até nesse barulho parecia se arrastar o seu sotaque português. É engraçado, quando só se sabe uma coisa sobre uma pessoa, essa pessoa fica sendo só aquilo em cada gesto. Ele era o velho português, sempre velho e português em tudo o que fizesse. A sopa barulhava e ecoava dentro da minha barriga - refeição repetida das tardes todas da sua vida de velho, nunca oferecida e jamais pedida. Isso me deu um repertório inteiro de sabores imaginados, que pululam ainda agora na tentativa de adivinhar o gosto da sopa rala e perfumada. Sobre o prato, em meio a
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uma fumacinha saborosa, a sua cara de quem não é pai nem filho, de quem é só, por natureza e vocação. Estendia-me uma moeda e eu pegava disfarçando a avidez. Àquela moeda equivaliam quatro ou cinco figurinhas. Terminava a sopa e caminhava comigo até algum dos terrenos baldios dos arredores, onde se sentava num pequeno banco de armar, um assento de madeira que carregava por toda parte, e observava meu afinco na realização da tarefa: catar pelos entulhos todos os pregos que visse, todos os pregos possíveis. Também servia parafuso e qualquer pequenice de metal. Eu ficava uma ou duas horas catando pregos nos terrenos baldios em troca de mais moedas em quantidade que variava pelo número de pregos. Não era tarefa simples, porque prego não é coisa que brilha, é coisa que se mistura fácil com matérias um pouco inúteis. Mas depois o que acontece é que os olhos são atraídos pelos pregos, como se eles florescessem em cores nas ruínas. Você não pode ir procurando nos centímetros de chão. Tem que olhar para o chão de restos como para um grande horizonte, como se os olhos não vissem partes, mas vissem sim um mar inteiro. E então o entulho todo forma uma coisa bela e se abre,
conquistado. É como se agradecesse porque não foi visto como é, porque se viu nele outras coisas. Não que se perca uma dor de abandono do lugar assim baldio, mas se cria uma amizade mesmo ali entre os pés e os acidentes de lixo, entre os olhos e aquela riqueza não explorada, aquela riqueza de coisas que ninguém quer. (Um pouco como era o velho, tão português na sua solidão. Passava-se assim por ele, velho sempre velho e português, sem nunca vê-lo com olhos de horizonte. Ele esperava.) Apertando um pouco os olhos, o que se quer brilha, reluz sem cor, como seduzindo. E aos poucos as matérias de interesse ficavam vivas, pipocavam ali, no entulho fértil. S endo assim, em algumas semanas eu já possuía até que uma porção orgulhosa de moedas. Minha mãe desconfiou, falou num tom de razão que não era possível que alguém são pagasse tanto por parafusos enferrujados e pregos já curvos de uso, e me disse em tom pouco definitivo que tratasse de parar com esse serviço de doido. Evidente é que continuei o serviço de busca ávida por moedas disfarçadas de prego. O velho português, que não arrastou seu nome para minha memória, tinha uma expressão, um cair de sobrancelhas e uma curva dos lábios, um nariz segundo trimestre 2012 33
contos
de abas móveis, umas orelhas esticadas do tempo, uma expressão que me convencia de que para ele não se podia fazer perguntas. Nosso diálogo era entre o barulho da sopa e o roncar do estômago, entre o tilintar dos pregos e o tilintar das moedas, entre os passos largos e lentos dele e os meus saltos ofegantes de menino. Uma conversa que transcorria serena durante as horas em que não exigíamos mais nada. Sendo tudo dessa maneira, continuei buscando as peças de valor duvidoso e de utilidade a se pensar, sem ousar esclarecer as dúvidas. Antes que se pense que ele era um velho explorador da minha agilidade de menino, vigiador de minhas distrações, esclareço que nunca me pareceu que sentasse no banquinho de armar para vigiar as preguiças e preguices várias. Parecia-me sempre que a intenção era compartilhar a tarefa, como parte da sua rotina portuguesa de velho, mas que seu corpo não podia mais do que observar a catança. Seu olhar procurava os pregos junto com o meu, e algumas vezes ele apontava alguns que eu imediatamente pegava, entendendo que sua coluna não mais se dobraria. Creio que ele deve ter desempenhado a tarefa até o limite de sua escassa agilidade, até que o limite se fizesse inteiro nele. Já o conheci como um velho de pouca 34 MACONDO revista literária
massa, um senhor ensimesmado e pequeno que parecia nunca ter chorado – e esse choro coagulado ficava perambulando nos seus olhos sempre úmidos e baços. Onde paravam aquelas inutilidades, aquelas ferrugens? Devia ele vendê-las por muito mais do que as moedas que me dava. Ou quem sabe dentro de sua casa sombria haveria um quarto enorme repleto de pregos, montanhas, caminhos, caixas repletas, pregos, pregos, e mais montes de nada-que-prestasse. Ou quem sabe não serviriam para nada a não ser aquela procura lenta, aquela procura cuidadosa que preenchia as tardes e cruzava uma vida murcha e transbordante de velho com uma vida brotando, uma vida ávida de menino. E assim eu-menino de vida ávida ia bebendo dele, e o português de corpo e vida murchos ganhava um tantinho mais de seiva. Aquelas moedas, aquelas tardes, podiam ser somente a paga para que alguém finalmente observasse sua vida acontecendo tímida em intervalos e dias sempre iguais. (Há umas coisas assim que brilham repentinamente no meio dos entulhos de dentro, umas lembranças inúteis, tortas do uso, inesperadas como aqueles pregos, como aquele velho. Nem sempre é preciso procurar. Às ve-
zes uma mão vacilante nos aponta, imediatamente pegamos, sortudos. E por vezes se tropeça nelas, um acidente, e o instante se alonga, se alonga, escolhido pela memória.)
isabela penov
O amor é um moinho de vento e agora que sabe, o espectador se sente retrospectivamente culpado por sua falta de atenção (Kelvin Falcão Klein) O Saulo não sabia onde estava com a cabeça quando, além de se matricular num cursinho de inglês do qual todo mundo sabia que ele ia desistir, ainda por cima, comprou o material adiantado. Uma caixa que, diz o cursinho, serve
pro curso inteiro: uns três quatro livros, três cds, uns folhetos: todos com umas fotinhos de umas pessoas, sempre diversidade racial, sorrindo e interagindo, uma nota o negócio. Tradicionalmente o Saulo dura menos de um dia em cada cursinho de inglês e quando desiste põe a culpa no professor ou no método; por ser uma nota o negócio, ele até se esforçou pra ir às aulas, foi a três e depois inventou uma desculpa. Ele sempre inventa essas desculpas e eu é que pago o pato, literalmente. Pois bem, assim que ele desistiu, preferiu ficar em casa assistindo televisão com a Vivianne no sábado de manhã, a primeira coisa que eu perguntei e que ele respondeu preguiçoso pra variar foi se tinha como devolver o material, conseguir um reembolso, se tinha um prazo alguma coisa assim. A resposta preguiçosa foi que segunda-feira sem falta ele ligava na escola. A caixa ficou um tempão lá em casa juntando poeira. Mesmo conhecendo o bicho-preguiça que eu tenho em casa, não queria desperdiçar o dinheiro; cheguei a sugerir que ele estudasse por conta própria, cheguei a sugerir que ele e a Vivianne estudassem juntos, que quem sabe a irmã dele não queria comprar a caixa pro Arthur. Sempre que o Saulo ensaia tomar uma atitude, um revés volta tudo pra estaca zero. segundo trimestre 2012 35
contos
A solução surgiu do nada quando eu comentei o assunto com o Estevão do departamento e ele falou pra anunciar a caixa na internet, vende rapidinho, falou de um site que dá pra confiar que o pessoal paga certinho, até se ofereceu pra botar o anúncio pra mim e dar uma olhada de vez em quando que eu podia ficar descansada. Vendeu até rápido mesmo, coisa de duas semanas. O único trabalho do Saulo, então, era postar a caixa no correio, combinamos que ele tinha três dias pra isso. Tem uma agência dos correios em cima da nossa quadra. Por mais que ele não goste de levar o nosso cachorro pra aqueles lados porque tem que passar perto de um descampado onde uns quero-queros atacaram eles dois uma vez, ele levou o Iguana pros correios. O Iguana foi ficando ansioso conforme chegava perto, latia pra quem passava, esticava a coleira ao máximo, meio tentando fugir. Cinco minutos caminhando debaixo do solão, trinta minutos cravados na fila, o dono sentado numa cadeira daquelas enfileiradas, debaixo de um ar-condicionado gritando, e o cachorro do lado de fora amarrado no corrimão da rampa pra cadeira de rodas, zanzando e ganindo. Enquanto esperava, rabiscava um papel qualquer, chutava mentalmente o nome da atendente, o Saulo entreou36 MACONDO revista literária
viu uma mulher puxando assunto quase num sussurro com a mulher do lado dela, as duas sentadas na fileira da frente da dele. Pegou a conversa pelas metades, quando uma já perguntava para outra como anda Anaju, cadê Anaju. A outra respondeu que tem tentado fazer a menina sair de casa, arejar um pouco, mas ela se recusa. Faz uma semana, o namorado dela terminou o namoro de três anos do nada pra ficar com outra e só o que ela faz é escutar Cartola, não come, fica acordada a noite inteira, dorme o dia inteiro, fuma feito uma condenada, outro dia a mulher estranhou que ela estava demorando demais no banho, quando foi ver a menina estava lá parada debaixo do chuveiro, só levando água na cabeça e chorando, celular na pia, tocando Cartola a toda. Nesse dia a mulher tinha conseguido sair com a menina um pouco, na hora em que o Saulo ouviu a conversa, a Anaju estava inclusive no carro naquela hora, esperando com o rádio ligado. A mulher conta que a música que a menina tanto ouve é Corre e olha o céu, que era a música do namoro, que o desgraçado tocava no violão, fazia serenata. A mulher nunca gostou desse namorado, mas agora é bola pra frente que homem nenhum merece tanto. Pelo que o Saulo contou, a mãe da Anaju não soou ex-
extremamente triste enquanto contava a história pra outra mulher, soou mais pra vitoriosa ou pra resignada, com um tom de eu avisei aquela menina que ia dar nisso. Durante essa espera, eu estava no trabalho e liguei pra ele no celular pra pedir pra ele comprar chá e aspirina e pra perguntar se ele tinha levado a caixa no correio. Ele respondeu apressado, disperso comigo mas interessado em outra coisa, claramente querendo desligar logo, disse sim pra tudo. As mulheres continuavam lá baixinho quando chegou a vez do Saulo e ele se levantou meio a contrariado de perder o fim da conversa. Postou, pagou, desamarrou o Iguana e seguiu pro mercado. Quem ficou na agência, até a mulher, poderia olhar pra rua através das vidraças da fachada da agência e não desconfiaria; ninguém tinha como saber que nesse meio tempo a tal da Anaju roubaria o carro e se jogaria dentro dele da ponte do Bragueto. Tanto é que o Saulo só me contou essa história dessas duas mulheres na agência do correio no dia seguinte, depois de ler no jornal sobre a menina e associar o nome à história. Me ligou no trabalho pra contar, no meio da manhã, assim que leu a notícia, sua voz era enlutada como se fosse namorada dele a morta, ou como se tivesse sido ele o abandonado pelo seresteiro.
Quando cheguei pro almoço, as coisas estavam mais sossegadas, mas eu reparei em como ele tentava disfarçar que tinha chorado. Pra dizer em poucas palavras, a história assustou. Nessa tarde mesmo, ele comprou um cd do Cartola que fez todo mundo na casa ouvir milhares de vezes, até furar não porque cd não fura. À noite começou a transformar as histórias que a Vivianne pede pra ele contar antes de ela ir dormir em histórias de perdas, de amores malfadados, sempre um final trágico, até a menina percebeu de cara a bobeira do negócio, ainda bem que não se deixou contagiar, perguntou para o pai por que ele estava contando só essas histórias bestas, pediu para ouvir alguma mais engraçada. Depois de por a Vivianne pra dormir ele ainda me fez assistir a uma comédia romântica na televisão. Mais ou menos uma semana dessas chatices, de me mandar rosas no trabalho, de comprar gravatinha borboleta pro Iguana, de tomar vinho no jantar, de aconselhar a Vivianne sobre como escolher bem um namorado, dá licença, a menina tem sete anos, tem nada nem que ouvir falar de namorado. Eu estava vendo o dia em que ele ia mandar um carro de som daqueles com mensagens pra mim e pra Vivianne, ele começou a nos tratar por amores da minha vida. Isso durou uma segundo trimestre 2012 37
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semana, até eu confiscar o cd do Cartola e mandar ele parar com a palhaçada. No início ele melindrou, ficou ofendido e tal, perguntou onde é que tínhamos perdido o romantismo, mas depois melhorou, passou pra outra mania.
hugo crema
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resenha
resenha
Um escritor sem subterfúgios: Ronaldo Cagiano
Perdição, Luiz Vilela. Record, 400p. (2011)
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Desde que estreou na literatura no final dos anos sessenta com “Tremor de terra” (vencedor do Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal), a prosa de Luiz Vilela destaca-se por duas características fundamentais: o resgate das histórias comuns, que transcorre numa atmosfera narrativa que busca a simplicidade e a clareza, sem perder a densidade; e a contenção formal, particularizada pelo do diálogo, que poucos como ele conseguem manusear, sem cair na obviedade, na simplificação ou na fadiga. Em “Perdição”, que marca seu retorno triunfal ao romance, esses aspectos tornam-se ainda mais evidentes, porque trabalhados com mais rigor e estilo e adensam o enredo. A trama se passa numa fictícia Flor do Campo, microcosmo do interior mineiro, a partir do qual descortina-se um cenário de mazelas e conflitos. Leo é o personagem culminante, âncora de uma bem humorada história sobre os descaminhos de um jovem
perdido e a inviabilidade da vida interiorana. Aliás, o humor em Vilela é a crítica e a reflexão em estado de sutileza e refinamento e funcionam em todo o conjunto como uma espécie de amálgama, equilibrando forma e conteúdo. Pelas mãos de Ramon, jornalista de uma pequena tribuna local, seu amigo de infância e narrador onisciente, conhecemos o percurso, às vezes sem sal, às vezes atilado, de um vendedor de peixes na feira. Entediado com a vida que leva e com a falta de perspectiva de sua atividade, repentinamente afetada pela chegada da empresa de Diske-Peixe, que veio explorar o ramo na cidade, ele decide tentar outra sorte. Só que sua esperança vai bater em outras águas, cooptado por um pregador evangélico, cuja cantilena o seduz a ir para o Rio com a missão de salvar os homens do pecado, a partir do que traveste-se no Pastor Pedro, numa alusão ao pescador de almas da bíblia. Ao entrar num mundo completamente desconhecido, atraído pela promessa de vida nova e de salvação, na verdade Leo (Pedro) encontra a própria perdição ao perceber que foi manipulado pelo vezo maniqueísta e comercial de um tal Mister Jornes, figura que muito bem metaforiza essa onda protestante avassaladora e hipócrita que vem
tomando conta do nosso país com seu impune estelionato espiritual. Leo, como milhões de fieis que acabam caindo no conto do vigário das pregações massificantes e histriônicas, acaba migrando para esse despudorado mercado da fé. Hipnotizado por uma promessa irrealizável, a engrenagem o aprisiona e ele afunda cada vez mais nesse terreno pantanoso, babélico e ilusório. Por fim percebe a canoa furada em que se meteu, sendo forçado a abandonar aquela máscara e a retornar à sua terra natal, voltando à vidinha sem ênfase de sempre e enfrentando o julgamento e a execração dos que o viram partir. Durante toda a história, Vilela desloca sua narrativa para outros pequenos focos, ao apresentar fatos e ocorrências que mobilizam a vida do pequeno lugar, mas que têm, no fundo, a função de revelar esse caldeirão de tipos e situações, muitas vezes bizarras, expondo todo um universo povoado pelas crendices, pelo misticismo, pela politicagem e pelo vazio da falta de horizontes. Em Perdição está em jogo essa luta entre o bem e o mal, entre a mentira e as falsas verdades das instituições, entre o sagrado e o profano das relações, bem como a guerra entre a carne e o espírito, algo que vem sendo aprosegundo trimestre 2012 41
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priado - indevidamente e com todo fanatismo e fervor farisaico - pelas seitas protestantes que procriam por aí, principalmente com a exposição freqüente de falsos milagres na tevê, o que na obra de Vilela é sutilmente denunciado, quando a história do acidente da filha de Leo vem à tona e mostra a incapacidade da fé e da religião de curá-la, não há graça possível, só a desgraça real no mundo de verdades e caminhos perecíveis. Vale ressaltar a força dos diálogos em toda a obra vileliana e que nesse caudaloso romance funcionam como um grande rio por onde escoam as perplexidades, as dúvidas, as angústias e críticas dos personagens. No espaço das conversas corriqueiras alimentam o dia a dia dessa gente, verdadeiras pérolas garimpadas na prosa dos observadores da vida quotidiana, discutem-se valores e inquietações, tudo carregado de uma ironia ferina, compondo um painel psicológico, moral e profundamente humano de Flor do Campo. No romance, personagens secundários – como sua mulher, Gislaine; Nenzinha, a dona da pensão; além Mosquito, reles vendedor de pimentas – constituem um caleidoscópio de hipocrisia, pequenez, preconceito e cinismo de uma sociedadezinha refratária e 42 MACONDO revista literária
sem rumo. E a pescaria simboliza o mergulho de Leo em águas profundas, nas quais ele enfrentará a escuridão e o lodo e conhecerá uma outra verdade – a do engodo das crenças – que verdadeiramente o libertará, trazendo-o de novo à tona, à claridade de suas raízes, ainda que doloroso o retorno sem a pretendida salvação ou redenção. Ao tocar em temas tão profundos que habitam a alma e a consciência das pessoas, mas encontradiço em qualquer lugar do mundo, Vilela aponta para o universalismo de sua prosa, sem necessidade de contorcionismos de linguagem nem afetações estilísticas. O que é essencial e profundo na condição humana é o ponto central em toda a obra do autor e em “Perdição” é captado com maior liberdade e tensão crítica. Vilela expõe senso agudo senso de objetividade e clareza, calcado na sua experiência com a cultura oral, com o imaginário rural e com a coloquialidade, cujas verdades e sentimentos não requerem nenhuma invencionice formal ou técnica, tão somente a reconstrução da realidade a partir de sua atmosfera mais elementar, para o que a linguagem concorre com sua carga de realismo e espontaneidade e aqui, o diálogo, repita-se, como forma de recontar esse mundo, empresta autenticidade, leve-
za, crueldade e poesia. Vilela é um desses estuários que formam o oceano de uma grande literatura. Assim como um Graciliano Ramos e um Tchecov, sua ficção é virtuosa, sem subterfúgios, porque a palavra não é usada para enfeite, mas para comunicar, dizendo sempre mais com o mínimo de recursos. E no bojo de seu projeto criativo, incorpora uma visão estética da arte e do homem, sua literatura tem um compromisso ético com a verdade e com os destinos do mundo.
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resenha
Universo mental povoado por seres minúsculos Geraldo Lima Notas de pensamentos imperfeitos, Anderson Fonseca. Multifoco, 85p. (2011)
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O que se pode esperar de uma obra literária é que ela provoque, no mínimo, o estranhamento no leitor, arrancando-o do automatismo da vida ordinária. O leitor que se aventurar na leitura de ‘Notas de Pensamentos Incomuns’, de Anderson Fonseca (Editora Multifoco, 2011), será, com certeza, tocado por esse estranhamento. O livro é composto de minicontos, sem título, e quase sempre narrados em primeira pessoa, ou fragmentos que se articulam como se fizessem parte de uma única história, mas que, ao mesmo tempo, mantêm uma independência em relação ao todo. E esse já é um dado do estranhamento que o livro provoca, pois, ao final, sabemos tratar-se de uma obra cuja tessitura só se completa com a junção de todos esses fragmentos aparentemente autônomos. E o estranhamento se aprofunda com a presença dos seres minúsculos, bizarros, fantásticos, que povoam o uni-
verso ficcional criado por Anderson Fonseca. Tamagotchi, Delírios, Gloeb, Jhungols, Flopers, Dabie-Dabie e Móbile são alguns dos estranhos personagens com os quais o leitor irá se deparar durante a leitura de ‘Notas de pensamentos incomuns’. Alguns desses seres minúsculos habitam a cabeça (e às vezes dela brotam) ou outras partes do corpo de um quase sempre atormentado narrador-personagem. É o caso de Apple, um “bichano muito interessante, redondo, peludo, amarelo e saboroso” que um dia escapa da cabeça do narrador-personagem: “E para que eu não me esqueça do propósito inevitável da vida, evoluir, Apple agarra-se a certas partes do meu corpo iconoclastas da evolução humana: uma hora está numa das pernas, outra na nuca para que me lembre da coluna vertebral, e noutra sobre a cabeça” (pág. 51). Às vezes esse processo de coabitação é mais radical, e o ser intruso penetra o corpo do narrador-personagem ou interfere na sua capacidade de articular o pensamento. Imagine uma mosca que pousa certo dia na mão do sujeito e, depois de algum tempo, já se encontra morando embaixo da sua pele. Ou seja, ele se torna o seu hospedeiro. Noutro miniconto, uma bactéria começa a interferir nos pensamentos
do narrador-personagem. Diz ele: “Faz um tempo que meus pensamentos estão sob a regência de uma bactéria” (pág.85). E para que o leitor não ache que isso seja inverossímil, improvável, o narrador-personagem cita como argumento de apoio a matéria publicada na Scientific American confirmando a existência de uma bactéria capaz de “alterar o estado cognitivo do ser humano”. Mas nem precisava usar esse argumento, pois, desde o início, o leitor terá notado que a narrativa de Anderson Fonseca, nesse ‘Notas de pensamentos incomuns’, dá-se fora dos limites do realismo. O que se vê aí é a mais viva manifestação do fantástico e do absurdo. E é nesse sentido, dessa forte presença do fantástico e do absurdo, que podemos falar das influências que permeiam essa obra de Anderson Fonseca. É visível o diálogo dessas suas narrativas curtas com a obra de Jorge Luís Borges (estão lá os espelhos que simulam outras realidades ou imagens, os corredores formando labirintos, o espírito de fábula), a de Julio Cortázar (o seres minúsculos e fabulosos lembrando cronópios, famas e esperanças), a de Kafka (a metamorfose, a sujeição do personagem a uma realidade que escapa à sua vontade) e, também, o universo mágico da obra de Escher. Esse, aliás, é citado lisegundo trimestre 2012 45
resenha
literalmente numa das narrativas: “É embaraçoso viver numa casa desenhada por Escher, e muito mais embaraçoso saber que ela existe numa folha de papel...” (pág. 73). De tudo isso surge um texto de feições próprias, mas que mantém suas raízes fincadas na tradição que subverte o real. Mais que qualquer outro mecanismo de forjar realidades, é a imaginação que prevalece nesses textos ficcionais de Anderson Fonseca. É da imaginação do narrador-personagem, do seu pensamento incomum, atormentado, que brotam todas essas notas e todos esses seres e universos perturbadores. E, aqui, o leitor irá se deparar com outro elemento que destoa do normal: o narrador-personagem e o autor fundem-se, aparentemente, numa só pessoa. O autor Anderson Fonseca, à maneira de Borges, se coloca na narrativa. (E os limites entre realidade e fantasia quase que se dissolvem.) Todo esse universo de perturbações e estranhamentos situa-se na sua mente. E diante da sugestão do médico para extirpá-lo (a cura mataria a capacidade criativa do autor), ele escolhe permanecer coabitando com os seres que, muitas das vezes, sugam a sua energia e a sua paz de espírito: “Vendo hoje o meu estado, tenho vontade de esmurrá-lo, lançá-lo para longe 46 MACONDO revista literária
dos meus olhos; (...) me apeguei de tal modo a essa pequena criatura inocente, que sacrificá-la seria o mesmo que me destruir”, diz ele sobre Gloeb (pág. 18). Criador e criatura estão, nesse caso, unidos de maneira indissociável. Criar é, de certa maneira, deixar-se habitar pela existência do ser criado. E o leitor que se aventurou por esses estranhos mundos criados por Anderson Fonseca não escapará ileso: os minúsculos seres que pululam na mente do autor, ou do narrador-personagem, passam a habitar também agora a sua imaginação.
poesia visual
thiago cervan (foto de jaime k. skatema)
thiago cervan (foto de jaime k. skatema)
thiago cervan (foto de tuga martins)
bibliophilia
bibliophilia
Eles eram muitos cavalos LUIZ RUFFATO, RECORD,
160P. 2007
Paula Oliveira O primeiro romance de Luiz Ruffato é composto por 68 pequenos textos que formam um mosaico da sobrevivência numa megalópole, nesse caso, a cidade de São Paulo. A estrutura narrativa é inovadora pela amálga52 MACONDO revista literária
ma de gêneros textuais e pela fragmentação. Cada história relata uma situação, sem introdução e conclusão, como se fosse uma fotografia. Porém os textos são totalmente inteligíveis. O título é baseado num poema de Cecília Meireles: “Eles eram muitos cavalos, / Mas ninguém mais sabe os seus nomes, / Sua pelagem, sua origem...”. As personagens não têm nenhuma relação, só o fato de viverem na mesma cidade. São ocorrências vividas desde um professor a um taxista ou de um evangelista a um índio, assim, o autor consegue demonstrar a diversidade humana, além da textual. Essa técnica é totalmente concernente ao “enredo”, pois tem o objetivo de enfatizá-lo. Com isso, a obra possui ainda classificados, horóscopo, simpatia e até uma relação de livros de uma estante.
Uma obra catártica aos paulistanos e/ou moradores de São Paulo e reveladora para quem não a conhece. Mas sobretudo singular em sua estrutura narrativa.
bibliophilia
Incompleto movimento ALBERTO BRESCIANI, JOSÉ OLYMPIO
110P. 2011
Dagmar Braga A poesia de Alberto Bresciani espelha a perplexidade diante do desejo, do encontro, do atordoamento, da incompletude. Em Dos gestos que transfiguram, no primeiro poema (Queimadura), ele anuncia a
fragilidade do discurso para, em seguida, afirmar: “em silêncio, todavia, / um sol oculto no corpo”. Entramos no universo do desejo – que pressupõe, por um lado, o impulso, o movimento, a descoberta e, por outro, a falta. Há o espanto, a entrega, a oferenda: “Estamos a um passo/de nos sentirmos / alados/sagradamente nus.” (Look). Corpo e texto, são “versos, mel sobre a pele/ a unção/ que lenta lenta refaz/ toda a vida e nos revela/ justifica e aquece.”(Um jardim). Está criado um espaço de erotismo e força, aliado à fluidez e à delicadeza, que se abre à iluminação do encontro, com a linguagem sinestésica, sensorial e lúdica, em Dos gestos que iluminam: “Demorasse a tua mão/ um pouco mais/ sobre o meu ombro / e me nasceriam asas”. Ou ainda: “grades e escarpas/ ruindo sob as pernas/ cúmplices,
entrelaçadas” (Harmonização). Em Dos gestos que atordoam, a impossibilidade e a incompletude se anunciam – “As trancas da porta/ agora falam por nós/ e o frio no corredor/ é a sua, a nossa resposta.” (Decisão). “Em cada foco/ a distância se amplia / Nada nos une/ ou decifra.” (Opostos). E o poeta inicia Dos gestos que paralisam com uma indagação: “São meus / este tempo/ a casa/ corpo/ e palavra?”. Espreita a semente “que entretanto/ germina.” (Ironia), pressente o descaminho, o esvaziamento, a deserção: “o que deixei/ sempre/ seria depois” (Extradição). Constata que “Não há alívio/ nas imperfeições dessa terra/ já tão antiga/ esquecida de ser outra.” (Implosão). “Na dança do tempo/ o nosso reflexo: / não há certeza/ de rota / cada aceno/ é risco” (Fatalidade). segundo trimestre 2012 53
bibliophilia
Uivo ALLEN GINSBERG, ERIC DROOKER, GLOBO 274P.
2012
O famoso poema do norte-americano Allen Ginsberg chegou novamente às livrarias, em abril de 2012, numa edição primorosa e bastante artística, dedicada somente a ele. “Uivo” foi publicado originalmen54 MACONDO revista literária
te em 1956 – envolto, naquele momento, por grandes polêmicas (inclusive jurídicas) e censuras diversas. As 274 páginas da Editora Globo, porém, não estão preenchidas somente com os versos de Ginsebrg; para além da denominada “Graphic novel”, o livro é, essencialmente, um “Graphic poem” montado a partir de ilustrações encomendadas para uma animação homônima, lançada em 2010 – todo ele desenhado por um bom amigo do autor, o renomado ilustrador norte-americano Eric Drooker. “Eu vi as melhores cabeças da minha geração destruídas pela loucura, famélicos histéricos nus, arrastando-se pelas ruas do bairro negro ao amanhecer na fissura de um pico, hipsters de cabeça feita ardendo pela ancestral conexão celestial com o dínamo estrelado da maquinaria da noite (...)” – o uivo de toda
uma geração, composto de um lirismo ao mesmo tempo sensível e contundente, traz mais do que uma simples ilustração do underground beatnik compartilhado por Kerouac e Burroughs: apresenta, sim, uma provocação intensa, uma reflexão que extrapola o racional e vem à tona com toda a força – e, desta vez, não resumida simplesmente nas palavras de Ginsberg, mas acompanhada dos traços de Drooker.
colaboradores
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colaboradores ANGELO COLESEL ::: natural de Imbituva, Paraná, Professor da Rede Municipal de ensino há 12 anos, Professor de Artes, Artista Plástico e Assessor de Cultura, criador e coordenador do projeto Fazendo Arte, da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Imbituva, atualmente vem colaborando em revistas e jornais com seus poemas e contos. ARI MARINHO BUENO ::: natural de Ourinhos, SP. Autor. Mantém o blog http://vacasnoceu. blogspot.com/; contato: arimabueno@hotmail.com. ARTUR BICALHO ::: 17, escreve desde os quatorze anos, publicando poemas no blog “meu, Jardim” (http://arturbic.blogspot.com). No ano passado, foi selecionado para o projeto Terças Poéticas Especial 2011, realizado pela Fundação Clóvis Salgado/Palácio das Artes. No tempo livre, ouve a coleção de vinis herdados dos pais. CAROLINA ALMEIDA ::: Ilustradora responsável pela capa da Macondo #5. Tumblr: http:// www.ouime.tumblr.com/ DAGMAR BRAGA ::: é poeta e contista. Autora do livro de poemas Geometria da Paixão, finalista do Prêmio Jabuti em 2.010. Sua poesia está também publicada em revistas e portais especializados em literatura. Mantém, em Belo Horizonte, o espaço Cultural Letras e Ponto. FABRÍCIO FERNANDES ::: Sou autor do livro-reportagem Rosa Helena – Para além da folha de vento (Editora da Universidade Federal do Espírito Santo - Edufes). Também produzi a noveleta O Concurso – A caminho-do-azul-cintilante-majestoso (Editora Encanto das Letras), publicada inicialmente numa coluna literária do Jornal de Brasília. Hoje escrevo o primeiro romance, intitulado provisoriamente O eu sem lastros. Além disso, disponibilizo o livro de microcontos Quitinete (independente) pelo blog http://oimpulso.wordpress.com. Formei-me em Jornalismo pela Faesa, no Espírito Santo. Como jornalista, atuei em assessorias de comunicação governamental e empresarial. Também trabalhei como repórter e subeditor do Jornal de Brasília por três anos. FREDERICO SPADA SILVA ::: Nascido em Belo Horizonte, em 1982, vive em Juiz de Fora desde 1990. É Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Escreve desde a adolescência e já participou de diversos concursos literários, tendo obtido alguns resultados relevantes. Os poemas selecionados fazem parte de seu primeiro livro, Arqueologias do olhar (Funalfa, 2011). Twitter: @fredspada GERALDO LIMA ::: é professor, escritor e dramaturgo. Já publicou alguns livros, entre eles Baque (conto, LGE Editora) e Tesselário (minicontos, Selo 3x4, Editora Multifoco). É colunista dos sites O BULE www.o-bule.com e Portal Entretextos www.portalentretextos.com.br e
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colaboradores do blog Dona Zica tá braba http://donazicatabraba.wordpress.com/ Colabora com o Jornal Opção, o Jornal de Sobradinho e a Revista TriploV: www.triplov.com Bloga ainda em: www. baque-blogdogeraldolima.blogspot.com. E-mail:gera.lima@brturbo.br GLEDSON VINÍCIUS ::: Poeta. E-mail: gvsmrj@yahoo.com.br; site: http://www.poemese. com/ HUGO CREMA ::: (Brasília, 1990) produziu até aqui narrativas, poemas, resenhas e traduções veiculadas em lugares esparsos na internet e fora. Pessoal e inadiavelmente, dá pitaco em http://calopsitaescapista.wordpress.com. ISABELA PENOV ::: é atriz, arte-educadora e escritora. Atualmente escreve em dois blog literários: Semeaduras (isabelapenov.blogspot.com), seu blog pessoal de contos e poemas, e Filacantos (filacantos.blogspot.com), um blog de autoria coletiva que abrange diversas linguagens artísticas. JOHANN HEYSS ::: sou músico, tradutor e escritor. Meu blog: http://heyss.blogspot.com/ JORGE LUIZ MENDONÇA MARTINEZ ::: Faço poesias desde os meus catorze anos, não o tempo todo. As vezes não ando com a poesia, mas sei que ela está lá. Isso me conforta. Moro em Santos onde nasci, sou funcionário público. Tenho quinze anos. http://textosinfimos.blogspot.com.br/ PAULA OLIVEIRA ::: Bibliófila e revisora. Especialista em Literatura pela PUCSP. Colaborou na primeira edição desta revista. Skoob: http://www.skoob.com.br/usuario/362959 RAFAEL ZEN ::: rafikizen@hotmail.com. http://www.rafikizen.blogspot.com. RENATO TARDIVO ::: é mestre e doutorando em Psicologia Social da Arte pela USP e escritor. Foi professor universitário e é autor de Porvir que vem antes de tudo – literatura e cinema em Lavoura Arcaica (Ateliê/Fapesp), além dos volumes de contos Do avesso (Com-Arte) e Silente (7 Letras), este a ser publicado no segundo semestre de 2012. E-mail: rctardivo@uol.com. br Blog: renatotardivo.blogspot.com ROBERTO PRADO BARBOSA JR. ::: 51 anos, funcionário público. E-mail: rpjbarbosa@fazenda.sp.gov.br RONALDO CAGIANO ::: Nasceu em Cataguases (MG), viveu 28 anos em Brasília, onde formou-se em Direito. Atualmente mora em São Paulo. Colabora em diversos jornais e revistas,
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colaboradores publicando artigos, ensaios, crítica literária, poesia e contos. Obteve 1º lugar no concurso “Bolsa Brasília de Produção Literária 2001” com o livro de contos “Dezembro indigesto¨. Livros publicados: Palavra Engajada (Poesia, SP, 1989),Colheita Amarga & Outras Angústias (poesia, SP, 1990), Exílio (poesia, SP, 1990), Palavracesa (poesia, Brasília, 1994), O Prazer da Leitura, em parceria com Jacinto Guerra (contos juvenis, Brasília, 1997), Prismas – Literatura e Outros Temas (crítica literária, Brasília, 1997). Canção dentro da noite (poesia, Brasília, 1999), Espelho, espelho meu (infanto-juvenil, em parceria com Joilson Portocalvo, Brasília, 2000), Dezembro indigesto (contos, 2001 – prêmio Bolsa Brasília de Produção Literária 2001), Concerto para arranha-céus (contos, LG, DF, 2005),Dicionário de pequenas solidões (contos, Língua Geral, Rio, 2006) e O sol nas feridas (poesia, Dobra Editorial, SP, 2011). Organizou as coletâneas Poetas Mineiros em Brasília (Varanda Edições, DF, 2002), Antologia do conto brasiliense (2003, Projecto Editorial, DF) e Todas as gerações – conto brasiliense contemporâneo (LGE, Brasília, 2006) RONIE VON ROSA MARTINS ::: Professor - Português/Inglês - Pedro Osório/Cerrito – RS – Brasil; Pós-graduado em Literatura Contemporânea Brasileira – UFPEL; Pós-graduado em Linguagens Verbais Visuais e suas Tecnologias – IFSUL. Trabalhos publicados nos mais variados portais e periódicos de literatura. THIAGO CERVAN ::: (1985) é filho das ruas cinzas do ABC. Poeta, articulador cultural, músico frustrado, publicitário e videomaker.
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www.revistamacondo.co.cc 2012