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NOSSAS GRANDES FESTAS
Shabat Shuvá - O Shabat da Teshuvá
O Shabat da semana entre Rosh Hashaná e Yom Kipur é conhecido como Shabat Shuvá, o Shabat do Retorno, devido à porção lida durante a Haftará1, um trecho do livro de Hoshea, que se inicia com as palavras “Shuvá Israel”, “Retorna, ó Israel”. Esse Shabat também é chamado de Shabat Teshuvá pelo fato de cair durante o período dos Dez Dias de Teshuvá – Asseret Yemei Teshuvá – que se inicia em Rosh Hashaná e termina no final do Yom Kipur.
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Se as palavras Shuvá e Teshuvá têm som muito semelhante, é porque ambas compartilham uma raiz comum. A palavra Teshuvá tem várias definições e traduções, tais como arrependimento e contrição, mas seu significado real é “retorno” – Shuvá.
A palavra Shabat também incorpora um elemento de retorno. Essa palavra hebraica deriva de Shevitá, que significa a interrupção de uma ação, mas também está relacionada ao verbete Shiva – retorno. O Shabat é um retorno a um ponto antes que o mundo viesse a existir. É a conclusão de tudo o que existe – o sétimo e último dia da semana – mas é, também, um retorno ao estado anterior à Criação – o estado de não-existência – ao dia anterior ao primeiro dia. Encontramos o conceito de que o Shabat precede o mundo no lindo poema Lechá Dodi, do Rabi Shlomo Alkabetz, que todas as comunidades judaicas cantam para receber o Shabat, nas noites de sexta-feira. O Lechá Dodi descreve o Shabat como a “fonte de bênçãos”, o que significa que o Shabat não é o epílogo dos Seis Dias da Criação, mas seu prólogo.
As palavras Shabat e Teshuvá são conectadas, semanticamente. Ambas expressam um sentimento de retorno – Shuvá. No entanto, há um problema com a combinação do Shabat com a Teshuvá, que é o tema do Shabat Shuvá. A maior parte das pessoas entende e define Teshuvá como uma mudança interior que acarreta introspecção – centrada no aspecto negativo da conduta passada da pessoa. Quem está plenamente satisfeito com suas ações e comportamento passados não tem nada a lamentar. Em contraposição, o desejo de fazer Teshuvá advém do repúdio do passado e da necessidade interior e genuína de melhorar. A Teshuvá contém um aspecto de esperança – apagando o negativo e iniciando uma vida nova. Mas indica, também, uma certa medida de rejeição a esse passado. A opção por um caminho diferente – a virada de uma nova página – pode ser dramática e dolorosa. Quando o profeta, falando em Nome de D’us, diz: “Rasguem seus corações, não apenas suas roupas” (Joel 2:13), ele está indicando que a Teshuvá não pode ser apenas externa e superficial – ela tem que penetrar nosso coração e envolver o mais íntimo de nossa essência.
1 Haftará é a parte sobre os Profetas lida no Shabat, ao término da leitura da porção semanal da Torá. A Haftará também é lida após a leitura da Torá nos Dias Sagrados e de jejum do Judaísmo.
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Encontramos esse aspecto da Teshuvá em nossas preces diárias, particularmente na Amidá – que dedica uma de suas bênçãos a esse tema – e, imediatamente após, no Vidui (Tachanun) – onde admitimos nossas transgressões e pecados e rogamos a D’us por Seu perdão.
Mas esse aspecto da Teshuvá – arrependimento e confissão de transgressões – faz um contraste com o Shabat. Na verdade, nunca recitamos o Vidui no Shabat. A Amidá do Dia Santificado não inclui as bênçãos recitadas nos seis dias da semana referentes ao pecado e à Teshuvá. Sentimentos negativos, como o luto, a tristeza e o remorso, ainda que pelos motivos justos, são uma contradição do Shabat – dia de júbilo, prazer, bem como descanso, físico e espiritual. Dizemos, ao recitar as orações desse dia: “Em amor e favorecimento, Tu nos deste Raiva, tristeza, ansiedade e remorso violam o espírito do Shabat. Por esta razão, as orações desse dia sagrado excluem temas como pecado e arrependimento.
De forma aparente, o Shabat e a Teshuvá não podem coexistir – o que nos leva à questão do nome Shabat Shuvá: como então esta combinação de palavras pode existir num nome? Como pode haver um Shabat Teshuvá, especialmente durante os dias mais sagrados do calendário judaico?
Teu sagrado Shabat, como uma herança”. O profeta Isaías chamou o sétimo dia de “deleite” (Isaías 58:13). O descanso no Shabat não envolve apenas a interrupção do trabalho físico, mas também o alcance da calma e tranquilidade interiores.
Um nível mais alto de Teshuvá
O misticismo judaico nos ensina que são dois os níveis de Teshuvá – o inferior e o superior. O inferior significa lamentar pelos pecados e transgressões, redimir-se por eles e a eles renunciar, permanentemente.
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Essa forma de Teshuvá se aplica a toda a humanidade, como aprendemos em Yom Kipur – dia do perdão pelos pecados. A Haftará lida nos serviços de Minchá de Yom Kipur é o Livro de Jonas (Sefer Yoná), onde está relatada a forma como D’us enviou o profeta para alertar o povo de Nínive, capital da Assíria, para que se salvassem da destruição por meio da prática da Teshuvá – isto é, através do arrependimento por seus pecados e da reparação por eles.
O propósito do nível mais baixo de Teshuvá é a correção de pecados e transgressões. Não é necessário ser religioso, basta ser apenas um pouco esclarecido para perceber que más ações acabam tendo consequências negativas. O Talmud nos ensina que sábio é aquele que pode prever o resultado de seus atos.
Podemos comparar essa forma de Teshuvá a remédios amargos – que são desagradáveis, mas necessários, já que nos trazem a cura. Mas como evoca um quê de tristeza – de remorso e talvez até de vergonha – o nível mais baixo de Teshuvá é incompatível com o Shabat – o sagrado dia de júbilo. O Shabat Shuvá – sem dúvida o Shabat mais importante do ano – consegue unir o Shabat com a Teshuvá pelo fato de nos forçar a alçar a um nível mais elevado de Teshuvá.
Esse nível mais elevado de Teshuvá não está vinculado ao pecado, ocorrendo mesmo que não haja nenhuma transgressão. Implica no ser humano ter que retornar (Shuvá) a D’us. Por meio desse nível superior de Teshuvá, a pessoa chega mais perto e aumenta ainda mais sua íntima conexão com D’us. Ela segue por um caminho em direção ao Infinito – um caminho sem fim onde anda para sempre, em um estado de retorno a D’us ao longo de sua vida. Encontramos essa ideia em uma passagem do Zohar, a obra clássica da Cabalá, que escreve que o Mashiach irá “liderar os Tzadikim ao caminho da Teshuvá”. Tal declaração provoca uma pergunta óbvia: por que razão os Tzadikim teriam que fazer Teshuvá, se o Tzadik é aquele que está intimamente conectado com D’us? A resposta: como D’us é Infinito, o caminho para estar mais próximo d’Ele nunca tem fim.
Isso significa que mesmo os Tzadikim precisam constantemente evoluir. E como D’us espera coisas extraordinárias de pessoas extraordinárias, o Tzadik deve perseguir, ininterruptamente, o nível mais elevado de Teshuvá. Grandes rabinos e eruditos em Torá se empenham, dia após dia, em chegar mais próximos a D’us. Como ensinava o Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Ba’al HaTanya: “Deves te lembrar de D’us, Abençoado é Seu Nome, sempre, como está escrito: ‘Coloquei o Eterno diante de mim, sempre’ (Salmos 16:8). O Baal Shem Tov ensinou: ‘Se O esqueceres ainda que por um momento sequer, considera-o um pecado, e isso fará com que nunca O esqueças. Feliz é esse homem’ ” (Kitvei Kodesh, pg. 24). Rabi YaacovYitzhak Horowitz, o Vidente de Lublin (Morashá, Edição 74 - Dezembro de 2011), pairava em nível tão elevado ao ponto de nunca se esquecer de D’us - ainda que fosse pelo mais ínfimo momento. Certa vez, disse: “Se um homem se esquece de D’us por um único segundo dos 3.600 segundos de uma hora, seria melhor ele passar a ser um corpo sem alma...”.
O nível mais elevado de Teshuvá não define o pecado como comumente o definimos – como uma transgressão contra a Vontade de D’us –, e sim, como uma falha – um hiato – entre o
homem e D’us. Para alguém que acaba de começar a estudar o Judaísmo, um nível mais elevado de Teshuvá pode ser colocar Tefilin diariamente. Mas para o verdadeiro Tzadik, significa nunca se esquecer de D’us – nem por um segundo sequer. O nível mais elevado da Teshuvá não significa se afastar das transgressões, mas se aproximar de D’us.
Os dois níveis de Teshuvá – tanto o inferior como o superior – são necessários, mas, no Shabat e especialmente no Shabat Shuvá, é preciso que nos dediquemos a uma forma mais elevada de Teshuvá, que nada tem a ver com as transgressões. Mas que tem tudo a ver com o retorno a D’us.
A Torá diz, imperativa, que temos que servir a D’us com alegria. Uma das porções da Torá, Ki Tavô, que lemos algumas semanas antes de Rosh Hashaná, diz: “E virão sobre ti todas estas maldições ... (porque) não serviste ao Eterno, teu D’us, com júbilo e bondade de coração” (Deuteronômio 28:45-47). Em nosso relacionamento com D’us devemos sempre progredir e aspirar a muito mais. Não devemos, nunca, descansar sobre os louros, satisfeitos com o que já alcançamos. Somente em questões materiais é próprio ser grato pelo que temos, ainda que não seja muito. Já espiritualmente, não há fim para o que podemos almejar. Ensinam nossos Sábios que todo judeu deve perguntar a si próprio: “Quando meus feitos alcançarão os dos Patriarcas - Avraham, Itzhak e Yaacov?”. E a resposta é que ninguém, nem o maior dos Tzadikim, jamais chegará perto do que foram nossos Patriarcas, cuja proximidade a D’us era sem paralelo a tudo o que se conhece. Mas devemos, sim, nos fazer a pergunta acima, pois ao menos devemos aspirar a chegar a isso, empenhando-nos e sonhando com isso, percorrendo esse caminho, ainda que seja inatingível.
Não devemos ficar estacionários, principalmente em questões relacionadas a D’us e Sua Torá. Como um grande Mestre Chassídico, o Rabi Aharon de Karlin, ensinava: ou estamos subindo ou estamos descendo. O sucesso não é medido vendo-se se caímos ou não caímos, sobre que transgressões cometemos ou que mitzvot cumprimos. A pergunta é: Subi, hoje, mais alto do que ontem? Hoje está sendo um dia melhor do que ontem? E se a resposta for “não”, estamos descendo. E para não cair, temos que realizar ações maiores e mais ousadas. Aquele que cumpre os mandamentos da Torá, mas não se
D’us não deseja que O louvemos levados pela melancolia. O profeta Malachi – cujas palavras constituem o último livro dos Profetas – adverte o Povo de Israel a não cultuar D’us levados pela tristeza e melancolia: “Vagamos levados pela melancolia por causa do Senhor dos Exércitos” (Malachi 3:14). O Santo, Abençoado é Ele, é um D’us vivo, a Origem da Vida, e um Rei que Se rejubila com a vida. E isso é especialmente válido acerca do Shabat, especialmente do Shabat Shuvá. Os Dez Dias de Teshuvá, Dez Dias de Retorno, devem ser um momento quando retornamos a D’us com vitalidade e júbilo.
SEDE DO MOVIMENTO LUBAVITCH, BROOKLYN, Nova York
Hechal (Aron Hakodesh), ARMÁRIO SAGRADO, EM MADEIRA E MARFIM. SINAGOGA BEN EZRA, CAIRO
sente inclinado a seguir adiante, não consegue se elevar. De fato, não é alguém que está retornando a D’us, mas alguém que é simplesmente um judeu que cumpre as obrigações, mas que continuará estacionário. A verdadeira Teshuvá – do tipo mais elevado – não depende de onde a pessoa está, mas da direção em que está indo.
A Haftará do Shabat Shuvá
Como vimos acima, o Shabat Shuvá recebe esse nome da Haftará que lemos nesse Shabat, e que se inicia com as palavras “Retorna, ó Israel” (Hoshea, 14:2) – palavras que contêm a mensagem essencial desse Shabat e dos Dez Dias de Teshuvá: o chamado para retornar a D’us.
A maioria de nossos profetas enfatizam a Teshuvá, pois esse era seu propósito principal – inspirar o Povo Judeu a abandonar o pecado e optar pelo caminho do bem. No entanto, a maior parte de suas profecias são repletas de censuras duras sobre as transgressões e as punições que os indivíduos e o povo todo sofreriam caso não abandonassem o caminho do mal. A maioria dos profetas conclamou o Povo de Israel a se engajar no nível mais baixo de Teshuvá.
Contrariamente, a mensagem do profeta Hoshea lida na Haftará do Shabat Shuvá contém pouquíssimas palavras de censura, pedidos ou súplicas pela revogação dos castigos. Sua essência é uma conclamação por um nível mais elevado de Teshuvá. Suas palavras são de conciliação, aceitação e reafirmação para aqueles que estão à procura de D’us. O verdadeiro profeta transmite as palavras que D’us lhe ordena dizer. O profeta Hoshea transmite palavras Divinas de conforto, ditas com grande delicadeza, de modo a inspirar o povo de forma mais elevada. O profeta conta ao Povo Judeu como é bom buscar abrigo sob as asas da Divina Presença. E lhes conta do enorme amor com que D’us brinda Seu Povo e todos aqueles que O amam.
Contrariamente à maioria dos demais profetas do Tanach, cujas reprimendas se referem ao nível mais inferior de Teshuvá – pecados e punições – a Haftará lida no Shabat Shuvá não evoca temas negativos. Pelo contrário, estimula o Povo Judeu a buscar a Teshuvá por amor, cuja essência é o retorno a D’us – aproximando-se d’Ele. Essa Haftará reflete a essência do Shabat Shuvá – um chamado para o despertar espiritual e a constante e infindável jornada a D’us.
A essência do Shabat Shuvá - o Shabat que se interpõe ao julgamento de Rosh Hashaná e o perdão de Yom Kipur - é o apelo para que todo ser humano se aproxime cada vez mais do Infinito, ficando cada vez mais intimamente conectado com o Santo, Bendito é Ele.
SINAGOGA HURVA. JERUSALÉM, ISRAEL