20 minute read
NOSSAS FESTAS
Chanucá e as Sefirot Emocionais
O mandamento primordial de Chanucá é o acender de candelabros com óleo de oliva ou velas durante as oito noites desta festividade. Suas luzes nos fazem lembrar e celebrar o milagre ocorrido logo após a vitória dos Macabeus contra os greco-sírios: quando os Macabeus recapturaram o Templo Sagrado de Jerusalém, encontraram uma única jarra com azeite de oliveira não profanado para com ele acender a Menorá.
Advertisement
ED’us realizou um milagre: aquela única jarra de azeite, que deveria durar apenas um dia, ardeu ininterruptamente durante oito dias – tempo suficiente para que o Povo Judeu pudesse produzir mais quantidade do azeite ritualmente puro. Para celebrar esse triunfo dos Macabeus, simbolizado pelo milagre do suprimento de azeite que manteve acesa a Menorá por oito dias, nossos Sábios instituíram a Festa das Luzes – Chanucá.
Como se trata de uma festa de oito dias, o candelabro que usamos durante a festa, a Chanuquiá, tem oito braços. Contudo, a Menorá do Templo possuía sete braços. Na Torá, o número sete é altamente significativo, sendo uma das razões o fato de D’us ter criado o universo em um processo que durou sete dias.
Veremos, a seguir, o que cada um dos sete braços da Menorá representa e o significado do braço adicional, o oitavo, da Chanuquiá.
Os sete braços da Menorá representam os sete pastores do Povo de Israel – as figuras centrais que influenciam a vida espiritual de todos os judeus. Eles são: Avraham, Yitzhak, Yaakov, Moshé, Aharon, Yossef e David e aparecem em diferentes contextos e ocasiões. São os Ushpizin, os visitantes celestiais, que visitam toda Sucá durante os sete dias de Sucot. Os sete braços da Menorá representam cada uma de suas contribuições espirituais singulares. E cada um deles personifica um dos sete atributos da Árvore da Vida da Cabalá, também conhecidos como as Sete Sefirot Emocionais.
O estudo das Sefirot é um dos alicerces da Cabalá. Elas são modos ou atributos mediante os quais D’us Se manifesta – três delas são intelectuais e sete, emocionais. É imperativo enfatizar-se que as Sefirot não representam D’us, mas sim, o meio pelo qual a Torá atribui ao Infinito qualidades e atributos específicos. Exemplificando: é um grave erro acreditar que D’us é amor. D’us é Infinito e Indefinível. O amor – uma manifestação da Sefirá de Chessed – é uma emanação de D’us. Esse mesmo conceito vale para as demais Sefirot: não constituem D’us, e sim, emanações Divinas por meio das quais D’us cria, sustenta e Se relaciona com toda a Sua Criação.
As Sefirot constituem a composição espiritual de cada ser humano. Um dos significados do ensinamento da Torá de que D’us criou o homem à Sua imagem é que assim como D’us opera por meio das Sefirot, o homem também
o faz. Quando uma pessoa utiliza as Sefirot que tem dentro de si – isto é, os poderes de sua alma – em seu serviço a D’us aqui em nosso mundo, ela tem condições de impactar sua origem, as Sefirot, nos mundos superiores.
Como nosso propósito neste artigo é explicar o significado cabalístico de cada um dos sete braços da Menorá, discutiremos as sete Sefirot emocionais que eles representam – e não as três intelectuais. Nosso objetivo ao descrevê-las é indicar de que forma o ser humano pode utilizá-las em seu relacionamento com D’us. os mundos para que Ele tivesse sobre quem derramar Sua bondade – como nos é explicado em Etz Chaim1: “Fazer o bem é da natureza d’Aquele que é bom”.
Uma das razões para a Torá descrever a criação do mundo como um processo de sete dias é o fato de que cada dia da semana corresponde a uma das sete Sefirot emocionais. Como nos ensina a Torá, no Primeiro Dia, D’us criou a luz. Na linguagem da Cabalá: “No início, uma luz infinita, não condicionada, preencheu toda a Criação”. Essa luz construiu toda a Criação.
O primeiro braço da Menorá, que simboliza Chessed, a primeira Sefirá emocional, refere-se a Avraham Avinu, primeiro dos Patriarcas do Povo de Israel, ele próprio a personificação desse atributo e que sintetiza o “homem de bondade e
1 Etz Chaim (em hebraico, ,
“Árvore da Vida) é uma obra cabalística escrita em 1573. Esse livro é um sumário dos ensinamentos de Rabi Yitzhak Luria, o Arizal (1534-1572), e publicado por seu aluno, o Rabi Chaim Vital. Chessed, Guevurá e Tiferet
O primeiro braço da Menorá representa a primeira Sefirá emocional, Chessed – amor, bondade, generosidade e benevolência. Chessed também é conhecida como Guedulá – grandeza – porque a vida provém de D’us e é dirigida a um número quase ilimitado de mundos e criaturas. O Zohar, obra fundamental da Cabalá, se refere a Chessed como “o primeiro dia (o primeiro atributo) que acompanha todos os demais dias da Criação” (Zohar 1, 46a). E representa a benevolência ilimitada com que D’us criou e permeou toda a Criação, como bem o descreve um versículo do Livros dos Salmos (89-3): “O mundo foi construído com Chessed”.
A Cabalá nos ensina que Chessed foi o motivo para a Criação. D’us criou
benevolência”, que amava D’us e os homens e praticava uma ilimitada generosidade – material e espiritual.
Em nosso relacionamento com D’us manifestamos Chessed ao expressar nosso amor por Ele e por outros seres humanos. Como nos ensina o Talmud, uma das formas de se unir a D’us é emular Suas qualidades, as Sefirot. Quando uma pessoa pratica Chessed, realizando atos de bondade, amor e generosidade, ela está emulando D’us, unindo-se, assim, a Ele.
O segundo braço da Menorá simboliza a segunda Sefirá emocional – Guevurá – que significa disciplina, força, bravura e justiça. Guevurá é um movimento que segue em direção oposta a Chessed. Se, este, por um lado, representa doação e compartilhamento, mesmo quando de forma incondicional e não criteriosa, Guevurá representa o contrário – retenção e retraimento. Como um poder da alma, representa o atributo emocional da reverência, do temor e da restrição. Chessed é atração, ao passo que Guevurá é repulsa. O primeiro determina que se deve doar generosa e incondicionalmente, sem considerar o mérito de quem irá receber. Já Guevurá argumenta contra a doação àquele que não a merece ou que fará mau uso do que receber.
Contudo, Guevurá também possui um aspecto essencial da bondade
Iluminura representando a Menorá de ouro de acordo com a visão do Profeta Zacharias (Zechariah 4:2–7). BÍBLIA DE CERVERA, ESPANHA, 1300 Divina, pois se a torrente de Chessed de D’us fosse irrestrita, provocaria o anulamento de toda a existência. Como nos ensina a Matemática, qualquer número, por maior que seja, é anulado no Infinito. Assim sendo, Guevurá, como Chessed, mantém a existência do mundo. A Sefirá de Guevurá é a manifestação do poder Divino em restringir e ocultar Sua Luz Infinita, possibilitando que Suas criaturas recebam o Chessed Divino segundo sua capacidade – sem serem anulados por Sua Infinitude.
A Sefirá de Guevurá caracteriza o Segundo Dia da Criação – quando D’us criou o Firmamento – em hebraico, Rakía – uma barreira restritiva sem a qual a vida na Terra não seria possível.
Guevurá é a Sefirá emocional associada a Yitzhak Avinu, nosso segundo Patriarca. O evento paradigmático na vida de Yitzhak foi quando ele anulou sua vontade, permitindo ser amarrado no altar a fim de ser sacrificado por seu pai, Avraham. O Midrash descreve como Yitzhak estava em completo controle de si mesmo. Ele personificou a bravura, a Guevurá, em sua capacidade e força de dominar seu sentido natural de autopreservação, exercendo total disciplina e resiliência ao se dispor a sacrificar sua vida em obediência à ordem de D’us.
Servimos D’us com Guevurá por temor e reverência a Ele. Aquele que serve a D’us com Guevurá exerce disciplina ao cumprir Seus mandamentos, não cedendo à tentação. A Cabalá nos ensina que assim como um pássaro necessita duas asas para voar, também nós, seres humanos, devemos amar e temer a D’us, ao mesmo tempo, ou seja, servindo a D’us com os
atributos de Chessed e de Guevurá.
O terceiro braço da Menorá simboliza a terceira Sefirá emocional – Tiferet, que tem várias definições: beleza, harmonia, compaixão, misericórdia, verdade e paz.
Tiferet promove a harmonia entre Chessed e Guevurá. Se D’us emanasse apenas Chessed, o mundo seria anulado perante sua Guedulá, sua Grandeza Infinita. Por outro lado, se D’us manifestasse apenas Guevurá, se Ele Se contivesse totalmente, o mundo deixaria de existir. Nosso mundo somente pode existir se Chessed e Guevurá se equilibrarem, uma à outra. Tem de haver uma constante interação, uma reciprocidade, entre essas duas Sefirot. Tiferet possibilita que as duas se autoequilibrem, uma à outra, a fim de que este nosso mundo finito possa absorver a Infinita benevolência Divina, sem deixar de existir. expressamos Tiferet ao estudar a Sua Torá, que representa a busca pela harmonia, verdade, compaixão e paz. Também exercitamos esta Sefirá glorificando D’us por meio do embelezamento do cumprimento dos mandamentos de Sua Torá.
No Terceiro Dia da Criação, D’us determinou um equilíbrio entre água e terra, de forma que ambos sustentassem o reino vegetal – e, subsequentemente, o reino animal e o humano.
Yaakov Avinu, o terceiro e último dos Patriarcas, é o pastor que personifica a Sefirá de Tiferet. O Patriarca Jacob foi a primeira pessoa na Torá a revelar o espectro total das emoções humanas. Ele combina o Chessed de seu avô, Avraham, com a Guevurá de seu pai, Yitzhak. Em nosso relacionamento com D’us, Netzach, Hod e Yessod
O quarto braço da Menorá representa a quarta Sefirá emocional – Netzach – que significa “conquistar” ou “vencer”. Denota a ideia de dominação, ambição e a iniciativa necessária para se chegar à vitória.
Esta Sefirá caracterizou o Quarto Dia da Criação – quando D’us criou as estrelas e os corpos celestes. Estes são uma expressão de Netzach pelo fato de exercitarem uma medida de dominação sobre todos os seres vivos. Exemplificando: a luz do Sol é imperativa para a existência de vida na Terra. Dia e noite, as quatro estações, o Shabat e os
Chaguim – os dias festivos no calendário judaico – dependem do ciclo lunar e do ciclo solar.
Os corpos celestes expressam
Netzach de uma outra forma: eles não se desviam de sua missão, seguindo as rígidas leis que lhes foram impostas por
D’us.
Entre os sete pastores, cabe a Moshé Rabenu – o maior dos líderes e profetas judeus, em todas as épocas – personificar a Sefirá de Netzach. Todas as ações de Moshé foram duradouras, especialmente ao trazer a Torá à Terra e a transmitir ao Povo Judeu.
Aquele que serve a D’us com o atributo de Netzach está determinado a cumprir Sua Vontade, quaisquer que sejam os desafios ou dificuldades. A qualidade de Netzach que reside na alma de cada pessoa depende da confiança que ela tem na missão Divina que lhe cabe. E essa pessoa a executará com total determinação até chegar à vitória.
A quinta Sefirá emocional é Hod, traduzida como humildade, entrega, gratidão e aceitação. Hod representa o poder da alma que complementa Netzach. Enquanto Netzach nos impele para a frente, vencendo barreiras, Hod assegura que nosso sucesso se baseie em nosso reconhecimento da origem Divina de nosso poder e força. Assim sendo, Hod representa sinceridade, humildade e gratidão.
É a Sefirá de Netzach que energiza nossa ambição. Mas é a Sefirá de Hod que nos obriga a reconhecer
que devemos nosso sucesso à Providência Divina. A qualidade de Hod instila dentro de nós a humildade de reconhecer que não somos senhores únicos de nossa vida e nosso destino. Se Netzach implica em dominação, Hod implica em submissão. Na vida, temos por vezes que exercitar Netzach e impor nossa vontade, ao passo que em outras vezes temos que agir com Hod, submetendo-nos à vontade dos outros.
A Sefirá de Hod caracterizou o Quinto Dia da Criação. Neste dia, D’us criou as aves e as criaturas marinhas – os primeiros a receber Sua benevolência.
Entre os sete pastores, Aharon, irmão de Moshé, que foi o primeiro Cohen Gadol, primeiro Sumo Sacerdote, é quem personifica a Sefirá de Hod. Sua capacidade de fazer a paz entre as pessoas era proveniente de seu desejo de se submeter aos outros em troca de promover a união entre eles.
Em nosso relacionamento com D’us, expressamos a Sefirá de Hod mediante a auto abnegação e o reconhecimento da transcendência Divina que desafia nosso entendimento enquanto meros mortais. Exercitamos Hod em nosso serviço a D’us mediante o reconhecimento de que, apesar de nosso grande empenho e determinação, a Vontade de D’us sempre prevalecerá. Por meio de Hod, nós, seres humanos, reconhecemos depender totalmente de D’us. E percebemos que nossa visão limitada se deve à nossa perspectiva material e finita. Expressamos nossa gratidão a D’us por todos os favores que Ele nos concede e a Ele oferecemos graças por todos os Seus louváveis feitos, atributos e trabalho na criação dos mundos superiores e inferiores. Neste contexto, Hod significa ser sincero em nossos atos de gratidão.
O sexto braço da Menorá representa a sexta Sefirá emocional – Yessod, que significa “a base, o fundamento”. Explicamos acima como a Sefirá de Tiferet harmoniza e equilibra Chessed e Guevurá. De modo análogo, é a Sefirá de Yessod que promove a harmonia e o equilíbrio entre Netzach e Hod.
Netzach e Hod têm a ver com dominação ou submissão, ao passo que Yessod constitui o equilíbrio entre a manutenção e a rendição da identidade da pessoa. E isto é válido tanto no relacionamento entre o ser humano e D’us como entre duas pessoas.
A Sefirá de Yessod caracterizou o Sexto Dia da Criação – quando D’us criou o primeiro ser humano. O homem e a mulher constituem a base da Criação. D’us dá a todas as Suas criaturas, mas os seres humanos retribuem cumprindo o Seu propósito na Criação. O homem e a mulher expressam Yessod quando mantêm sua identidade exercitando o livre arbítrio, mas também renunciam a ele para cumprir os desejos Divinos.
A Sefirá de Yessod une D’us e Sua Criação em um vínculo de empatia e amor. Um Tzadik, ser humano justo, personifica Yessod por constituir um elo entre Céu e Terra. Ele desperta na humanidade a busca por D’us. Ao mesmo tempo, atrai a compaixão e a bondade Divina para o mundo. Daí se origina o ensinamento de que “Um Tzadik é a base do mundo” (Provérbios 10:25).
Yossef HaTzadik, José, filho de nosso patriarca Jacob, personifica a Sefirá de Yessod. Pilar de integridade e retidão, Yossef resistiu à tentação e teve sucesso em todos os seus esforços, trazendo bênçãos, salvação e prosperidade para o mundo, pelo fato de estar constantemente conectado com D’us.
Utilizamos o poder de Yessod em nossa alma ao sermos fiéis a D’us com intensa vontade e prazer. Conta um antigo Midrash que os seis primeiros dias da Criação constituem dois conjuntos de três dias cada, sendo que o segundo conjunto aperfeiçoa e complementa o primeiro. A primeira composição espiritual das Sefirot – Chessed, Guevurá e Tiferet – se compara à segunda – Netzach, Hod e Yessod. No primeiro dia (Chessed), D’us criou a luz; no quarto dia (Netzach), Ele criou os corpos luminosos. No segundo dia (Guevurá), D’us criou os oceanos ao dividir as águas; no quinto dia (Hod), Ele criou os peixes. No terceiro dia (Tiferet), D’us criou a terra seca; até que, no sexto dia (Yessod), Ele criou o homem.
Malchut – a sétima Sefirá
O sétimo braço da Menorá representa a sétima Sefirá emocional – Malchut. Definida como “realeza”, essa Sefirá é única entre as sete Sefirot emocionais: as seis primeiras são ativas ao passo que Malchut é passiva, transmitindo a ideia de receber. Yessod, a sexta Sefirá, combina todas as demais Sefirot e as conecta a Malchut. Tendo recebido a luz de todas as demais Sefirot, Malchut canaliza e direciona uma luz unificada ao mundo, harmonizando todos os diversos atributos das demais Sefirot e os projetando para baixo, para a Criação.
Diferentemente das demais Sefirot, Malchut não tem nenhuma característica nem mesmo uma qualidade própria, e isto lhe permite unificar todas as Sefirot dentro de si e as projetar para nosso mundo. Malchut é o instrumento por meio do qual todo o plano da Criação passa a existir. A Cabalá nos ensina que “nada ocorre com os seres inferiores a não ser que seja através de Malchut” (Tikunei Zohar 19:40b, Zohar Chadash, 11a). Esta Sefirá é conhecida como “o arquiteto mediante o qual se fez toda a Criação” (Pardes Rimonim 11:2). A receptividade inata em Malchut, que chega mesmo à sensação de vazio, é personificada pelo rei judeu ideal, que deve ser excessivamente humilde. Ele precisa estar constantemente ciente de sua nulidade perante o verdadeiro Rei dos Reis. A humildade é como um copo vazio – pronto para receber. A humildade de um rei é o portão que se abre para que ele possa receber o influxo Divino, o qual ele, por sua vez, pode compartilhar com os demais. David HaMelech, o Rei David, é o sétimo pastor e A Sefirá de Malchut caracteriza o Sétimo Dia da Criação – o Shabat. Como vimos acima, as seis primeiras Sefirot emocionais são ativas, ao passo que a sétima, Malchut, é passiva. Essa ideia se aplica ao ciclo semanal. A Torá nos ordena trabalhar seis dias da semana e descansar no sétimo – o Shabat. O sétimo dia, o Shabat sagrado, recebe bênçãos dos outros seis dias que o precedem – assim como Malchut recebe das demais seis Sefirot, mas então as retribui, tornando-se, pelo fato de abençoar os dias da semana que o seguem, um doador. O Zohar justamente nos ensina que “Através dos dias de Shabat, todos os outros dias se tornam abençoados”.
Nós expressamos Malchut mediante a aceitação da soberania Divina e do cumprimento de Sua Vontade. A alma que serve a D’us com humildade está manifestando o poder de Malchut.
Vitrais (1984) de Mordecai Ardon, no saguão, da Biblioteca Nacional de Israel, Givat Ram, Jerusalém
personifica a Sefirá de Malchut. Em seus Salmos, ele se autodescreve como “pobre e carente”, apesar de descender de uma das famílias judias mais ricas e distintas. No entanto, ele se considerava pobre, pois assim como alguém que nada possui depende da generosidade dos demais, o Rei David reconhecia que todas as suas posses – seu reino, suas riquezas, seu poder – provinham exclusivamente de D’us. Malchut é o poder que D’us nos dá para que possamos receber d’Ele. Essa Sefirá expressa um relacionamento no qual o que recebe pode retribuir, tornando-se um doador.
O oitavo braço da Chanuquiá
Os sete dias da semana, que são caracterizados, respectivamente,
Chanuquiá. nuremberg, Alemanha, c. 1770
pelas sete Sefirot emocionais, constituem um ciclo natural. O número oito representa aquilo que está acima da Natureza, ou seja, o sobrenatural. No Judaísmo, o número oito representa o milagroso. Na história de Chanucá, o azeite ardeu por oito dias para indicar que a vitória militar dos Macabeus sobre os greco-sírios tinha sido um milagre.
A Menorá do Templo tinha sete braços, sendo o sétimo representado pela Sefirá de Malchut, personificada pelo Rei David. Já a Chanuquiá tem oito braços. O oitavo braço simboliza um descendente do Rei David, o Rei Mashiach, cuja vinda trará o Shabat eterno. Essa época será uma era de paz, alegria e prosperidade para a humanidade, caracterizada por fenômenos sobrenaturais. A Menorá e a União do Povo Judeu
A Menorá tem sete braços porque basicamente há sete caminhos diferentes para se chegar a D’us. Todo ser humano contém todas as sete Sefirot emocionais, mas uma delas exerce um papel central na vida da pessoa. Alguns judeus sentem-se mais inclinados à alma de Avraham – eles são guiados por Chessed – ao passo que outros preferem a linha de Yitzhak – são mais rigorosos e disciplinados. Cada pessoa recebe uma determinada Sefirá que determina a estrutura de sua personalidade. Quanto maior a receptividade da pessoa, mais ela pode receber dos braços da Menorá. Alguns amam D’us (Chessed) mais do que O temem; outros O temem (Guevurá) mais do que O amam. Há judeus que servem a D’us basicamente por meio do estudo da Torá (Tiferet), que traz paz para o mundo harmonizando Chessed e Guevurá. Há judeus que servem a D’us por meio de pura determinação (Netzach), enquanto há outros que conseguem anular totalmente sua vontade diante da Vontade Divina (Hod). Algumas almas são naturalmente atraídas a D’us (Yessod) e conseguem unir Céus e Terra, num só conjunto. Mas há, também, pessoas cuja humildade lhes permite receber a generosidade da plenitude Divina – o conjunto completo das demais seis Sefirot – e a compartilhar com o restante do mundo.
Cada um de nós tem o seu caminho, sua maneira de chegar a D’us, e nenhum deles é melhor que o outro. Mas, apesar desses diferentes caminhos, temos que ter em mente que a Menorá original que Moshé construiu no deserto era feita de um único pedaço de ouro, representando a ideia de que nosso povo, o Povo de Israel, constitui um todo, uma plenitude, apesar de a Menorá ter sete diferentes braços. O fato de a Menorá original ter sido feita inteiramente de ouro simboliza a beleza do Povo Judeu. Como está decantado no Cântico dos Cânticos: “Amor meu, és bela por completo” (Shir HaShirim 4:7).
Não há um ser humano idêntico a outro, ensina o Talmud. Cada alma é diferente e singular. Mas o Povo Judeu constitui um único organismo – e cada um de nós é responsável pelos outros na singularidade de sua essência.
BIBLIOGRAFIA Kaplan, Rabbi Aryeh, Inner Space - Introduction to Kabbalah, Meditation and Prophecy, editado por Abraham Sutton, Moznaim Publishing Corporation Steinsaltz, Rabbi Adin Even-Israel, The Candle of G-d - Discourses on Chassidic Thought, editado e traduzido Yehuda Hanegbi, Maggid Books
acendendo a Chanuquiá
Todas as noites, antes de acender as velas, DIZ-SE as seguintes bênçãos:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, asher kideshánu bemitsvotav, vetsivánu lehadlic ner Chanucá.
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos santificaste com Teusmandamentos, e nos ordenaste acender a vela de Chanucá.
A cada noite, após recitar as bênçãos, acende-se as velas da Chanuquiá com o shamash, que é colocado na Chanuquiá de modo a ficar mais alto do que as demais chamas. Após acender as velas, recita-se em seguida Hanerothalálu:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, sheassá nissim laavotênu, bayamim hahêm, bazeman hazê.
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que fizeste milagres para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época.
Apenas na primeira noite, depois de recitar as duas bênçãos, recita-se o shehecheyánu:
Baruch Atá A-do-nai, E-lo-hê-nu Mêlech haolam, shehecheyánu vekiyemánu vehiguiyánu lazeman hazê.
Bendito és Tu, Eterno, nosso D’us, Rei do Universo, que nos deste vida, nos mantiveste e nos fizeste chegar até a presente época.
Hanerot halálu ánu madlikim, al hanissim veal hapurkan, veal haguevurot veal hateshuot, veal haniflaot, veal hanechamot, sheassita laavotênu, bayamim hahêm, bazeman hazê, al yedê cohanêcha hakedoshim. Vechol shemonat yemê Chanucá, hanerot halálu côdesh hem, veen lánu reshut lehishtamesh bahem êla lir’otam bilvad, kedê lehodot lishmêcha, al nissêcha, veal nifleotêcha, veal yeshuotêcha.
Acendemos estas luzes em virtude dos milagres, redenções, bravuras, salvações, feitos maravilhosos e auxílios que realizaste para nossos antepassados, naqueles dias, nesta época, por intermédio de Teus sagrados sacerdotes. Durante todos os oito dias de Chanucá, estas luzes são sagradas, não nos sendo permitido fazer qualquer uso delas, apenas mirálas, a fim de que possamos agradecer a Teu grande nome, por Teus milagres, Teus feitos maravilhosos e Tuas salvações.
Costuma-se colocar a Chanuquiá sobre uma mesa no lado esquerdo da porta de entrada, em frente à mezuzá, ou na janela que dá para a via pública. Os seguintes horários são referentes apenas a São Paulo.
1ª noite
25 de Kislev Domingo, 18 de dezembro, a partir das 18:51 horas
2ª noite
26 de Kislev Segunda-feira, 19 de dezembro, a partir das 18:51 horas
3ª noite
27 de Kislev Terça-feira, 20 de dezembro, a partir das 18:52 horas
4ª noite
28 de Kislev Quarta-feira, 21 de dezembro, a partir das 18:52 horas
5ª noite
29 de Kislev Quinta-feira, 22 de dezembro, a partir das 18:53 horas
6ª noite
30 de Kislev Sexta-feira, 23 de dezembro,
18:33 horas, antes de acender as velas de Shabat
7ª noite
1 de Tevet Sábado 24 de dezembro, a partir das 19:32 horas, após a Havdalá
8ª noite
2 de Tevet Domingo, 25 de dezembro, a partir das 18:54 horas