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novos bilionários do Brasil
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abre novas fronteiras para o consumo no país
RIQUEZA: Quem são os
18 FEV/2013 - ANO 15 - Nº 190 R$14,90
ESTUDO: Evolução da classe média brasileira
FOTOS: FOTOS: DANIEL LIMADANIEL LIMA DinheiroDinheiro 12/11/2012 12/11/2012
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Dinheiro Fevereiro de 2013
DiretodaRedação
CAPA
O Brasil conquistou destaque no cenário econômico mundial e isso não é novidade. A ascensão da classe C aos patamares de consumo antes reservados à classe B tornou-se o foco de análise de sociólogos, estatísticos e marqueteiros.
O dinheiro que está colorindo a economia paulistana pág. 06
A economia friendly
RIQUEZA
Conheça a atual geração de bilionários brasileiros pág. 30
ESTUDO
Evolução da classe média brasileira pág. 33
FINANÇAS
Zona do Euro autoriza segunda parcela do resgate bancário para a Espanha pág. 35 DIRETOR EDITORIAL: Adriano Santos DIRETOR EDITORIAL ADJUNTO: Adriano Santos DIRETORA DE NÚCLEO: Adriano Santos ORIENTADORA: Cristina Almeida EDITOR EXECUTIVO: Adriano Santos EDITOR: Adriano Santos REPORTAGEM: Adriano Santos DIAGRAMAÇÃO E ARTE: Adriano Santos, Danilo Barroso e Marcelo Gomes FOTOS: Daniel Lima
Paralelamente a esse fato, a cidade de São Paulo abrigou o surgimento de um novo nicho de mercado que está redefinindo alguns aspectos da economia na cidade, o fenômeno conhecido em inglês como “Pink Money”, ou como é chamado em terras brasileiras, o Mercado Gay. Para realizar a reportagem de capa desta edição, nossos repórteres visitaram os pontos de encontro gays em busca de estabelecimentos que investiram nesse segmento da população e estão obtendo resultados satisfatórios. Entrevistaram também frequentadores de redutos homossexuais, como as ruas Frei Caneca, Augusta e Vieira de Carvalho, a fim de relatar suas percepções sobre o Pink Money. Djs, blogueiros, jornalistas, publicitários, escritores e ativistas dão suas impressões a respeito do Mercado Gay na capital paulista e apontam tendências para o nicho nos próximos anos. Ainda nesta edição você encontrará uma entrevista com o responsável pelo grupo Diversidade Tucana, que fala das políticas públicas direcionadas aos gays. Boa leitura!
Adriano Santos Editor
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ECONOMIA
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MERCADO DA
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classe C representa metade da população nacional, segundo dados de 2012 da Secretaria de Assuntos Estratégicos do Governo Federal, e vem ganhando força no mercado brasileiro. Incentivos como crédito facilitado, acesso a financiamentos e diminuição do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis e produtos da linha branca, como geladeiras, máquinas de lavar e fornos de microondas, têm feito o grupo consumir mais, colaborando com o aquecimento da economia no país. De acordo com o estudo “Vozes da Classe Média” financiado pelo Governo Federal e divulgado no ano passado, os 35 milhões de brasileiros que ascenderam à classe média possuem renda familiar entre R$ 1.064,00 e R$ 4.561,00, consomem mais os serviços particulares, como escolas e planos de saúde, e poupam mais do que as classes mais baixas (32%). Com esse poder de compra, o público homossexual da classe C, passou a despertar o interesse dos setores de comércio e serviços. Estabelecimentos como bares, pet shops, casas noturnas e shoppings centers começaram a adotar uma postura amigável (friendly) com essa parcela da população e foram abertas lojas direcionadas especificamente para ela.
SIDADE Por Adriano Santos
ECONOMIA
Foto: Arquivo Pessoal
A cidade de São Paulo concentra 40% da população brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBT). Segundo o censo de 2010, em toda a cidade, 7.527 pessoas declararam morar com um cônjuge do mesmo sexo. Os distritos preferidos pelos casais gays situam-se no centro: República (551 casais), Bela Vista (386 casais) e Consolação (324 casais) aparecem no topo da lista. Logo depois, aparecem Jardim Paulista (303 cônjuges declarados) e Santa Cecília (293 casais). A escritora Laura Bacellar, autora do livro O Mercado GLS e fundadora da editora Malagueta, acredita que essa tendência de o público LGBT se movimentar constantemente para os centros urbanos tem relação com a busca por um ambiente menos opressor. “Os LGBTS migram porque é muito desconfortável viver a sua identidade homossexual, bissexual ou transgênero num lugar muito preconceituoso. Então a tendência é a procura por um lugar que seja mais friendly”, informa. Os centros de consumo mais frequentados pelos homossexuais em São Paulo estão localizados na região da Paulista, Jardins, Consolação, Vila Madalena, República e Bela Vista. A Rua Vieira de Carvalho, por exemplo, tem um histórico de presença desse público desde a década de 40 quando foi aberto o bar Caneca de Prata,
Laura Bacellar, autora do livro O Mercado GLS
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na época conhecido como Bar Pierrot, cujos frequentadores estão na faixa etária acima dos 40 anos. Além de bares, a região concentra casas noturnas, cafés, lojas de roupa e editoras GLS. Já nas redondezas da Avenida Paulista, estão dois dos mais movimentados “guetos” LGBTs, as ruas Frei Caneca e Augusta, que atraem membros da classe C de diversas regiões da cidade. “De onde vem essa gente? Vem da periferia e também de fora de São Paulo. Eles vão atrás do lugar que seja mais confortável. Com isso começa a se criar centros, ruas, bairros completamente friendly pelo excesso de gays e lésbicas que circulam por ali. Esses lugares vão sendo treinados para receber bem, atender bem e acaba sendo um negócio que se autoalimenta”, analisa Laura Bacellar. A visibilidade conquistada por esse público, aliada ao seu alto poder de compra, permitiu a criação de serviços caracterizados pelo atendimento personalizado, com funcionários atentos as suas necessidades, além de produtos feitos exclusivamente para os homossexuais e vendidos em lojas gay-friendly. Marcus Ribeiro, dono do Dex, bar localizado na Rua Augusta, acredita que estão ocorrendo mudanças significativas nesse mercado e, como exemplo, cita a abertura de casas noturnas GLS em regiões periféricas de São Paulo. “Recentemente tomei conhecimento de uma boate em São Matheus direcionada a um público gay que não tem paciência de vir até o centro para se divertir. Este é um tipo de trabalho mais difícil de ser feito pelos empresários que desejam abrir um novo negócio porque não dá para você sair do centro, chegar na periferia e simplesmente abrir a sua boate. É necessário conhecimento do público e das pessoas que moram no local para investir nesse tipo de estabelecimento. Mas acho que é um nicho pouquíssimo explorado e com muito futuro”, avalia. Ribeiro cita ainda outro exemplo de investimento no público gay de classe C: casas de pagode GLS. “Conheço uma na Vieira de Carvalho e sei que tem mais duas na zona leste. O público é fiel às casas e gosta desse tipo de som. Esse é um nicho de mercado praticamente ignorado, quase ninguém sabe que existe, mas está ali, pronto para ser explorado”, completa. O designer Thiago Vicente, no entanto, não crê ser possível essa expansão do mercado gay em regiões periféricas de São Paulo. “Acho complicado abrir um estabelecimento abertamente gay na comunidade, em
Foto: Daniel Lima
Marcus Ribeiro, dono de bar no baixo Augusta aponta mudanças no mercado gay da cidade
pontos mais periféricos, como a Vila Brasilândia ou a Vila Nova Cachoeirinha. Por que colocar um point gay na Vila Nova Cachoeirinha? Quem vai frequentar: meia dúzia? Além de muitos preferirem ir ao centro, há a questão de alguns não serem assumidos. É complicado você ser um homossexual assumido numa periferia”, comenta. O jornalista André Pomba afirma que a profissionalização do mercado de produtos e serviços direcionados ao público gay tem permitido aos investidores lucrarem muito na cidade. “Há pessoas enriquecendo com o meio LGBT, que é o termo que hoje se usa mais, embora eu considere GLS um conceito mais amplo, principalmente focado no noturno. A evolução desse nicho dos anos 90 para os anos 2000 é que criou um mercado efetivo para os homossexuais em São Paulo”, explica. Questionado sobre como é o comportamento dos gays de classe C, Pomba responde que esse grupo
sente a necessidade de se inserir nos mesmos ambientes dos homossexuais de renda elevada. “No meio GLS tem muitas pessoas que frequentam baladas acima do seu poder aquisitivo. Elas se esforçam para ter uma roupa melhor, para mostrar o que elas não são. Mas isso é uma realidade também em baladas heterossexuais de alto poder aquisitivo, não é uma coisa inerente ao GLS. Essas pessoas buscam a qualidade, têm possibilidades de comprar dentro dos padrões econômicos delas. Eu não creio que sigam as classes A e B. Se estão viajando de avião hoje, é porque os preços das passagens baratearam e podem pagar a prestação. Se compram carro, é porque o governo dá subsídios e podem pagar em 160 vezes”, informa. André Pomba, que também atua como DJ nos clubes mais requisitados de São Paulo, viu de perto o crescimento de casas noturnas abertamente homossexuais na cidade e presenciou mudanças significativas na noite gay nas duas últimas décadas. “Nos anos 90, Dinheiro Fevereiro de 2013
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ECONOMIA era uma coisa muito restrita ao centro da cidade, alguns pontos de encontro, como o Metrópole, que fica perto da Praça Dom José Gaspar, a Vieira de Carvalho, o Largo do Arouche, uma coisa bem enrustida. Existiam dois mundos GLS, na década de 90, o do centro, que era o pessoal mais pobre, de mais idade, e o do Jardins, que era o pessoal de maior poder aquisitivo. Nesse período existia uma distinção clara entre os dois grupos. Isso acabou após a pressão de moradores da região, que ocasionou o fechamento das boates gays nos Jardins. Com isso, todo mundo desceu para a Augusta e para a Frei Caneca”. O jornalista não concorda com o método utilizado pelo governo para delimitar as classes sociais e contesta essa classificação social. “Não considero essa classe C, uma classe C efetiva. Por exemplo, uma família que tem uma renda por pessoa de R$ 200 não pode ser classe C. Dentro do padrão do governo, eu virei um rico, pois ganho mais de R$ 5.000 por mês. Sou solteiro, logo, sou rico. Onde eu sou rico? Se eu gasto mais de R$ 2.000 para pagar o meu apartamento, fora os R$ 500 de condomínio. No padrão do governo, classe A é quem ganha mais de R$ 5.000. Isso pra mim é inexistente”, conclui.
Dadosdada nova Classe C C Dados nova Classe l Renda mensal domiciliar total entre R$ 1.064,00 e R$ 4.561,00 l Correspondem a 50,5% da população l Detêm 46,24% do poder de compra e supera as classes A e B (44,12%) e D e E (9,65%) l 68% dos jovens da classe C estudaram mais que os pais l 79% da nova classe média confiam mais nas recomendações de parentes do que na propaganda da TV l A nova classe média tem maioria jovem, negra e que sofre menos de problemas de excesso de peso que as classes mais ricas
Foto: Arquivo Pessoal
l É responsável por 78% do que é comprado em supermercados, 70% dos cartões de crédito no Brasil e 80% das pessoas que acessam a internet
O Dj André Pomba presenciou as transformações da noite paulistana direto das pickups 10
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Fonte:Secretaria Secretaria de de Assuntos Assuntos Estratégicos Fonte: Estratégicos- 2012 - 2012
Foto: Divulgação
A Parada Gay é o evento mais importante para o calendário homossexual paulistano
Um dos melhores exemplos de como a população LGBT aquece a economia da cidade de São Paulo é a Parada Gay, evento que acontece anualmente na Avenida Paulista, centro financeiro da cidade e que na sua última edição atraiu 270 mil pessoas, segundo o instituto Datafolha. Em artigo veiculado no site da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, o jornalista e coordenador de comunicação da entidade, Leandro Rodrigues, relata que a primeira Parada LGBT aconteceu “em um sábado chuvoso marcado pelo típico clima da terra da garoa” e diz ainda que, depois disso, “a apática rotina dos que obrigatoriamente circulam todos os dias na Avenida Paulista nunca mais seria a mesma”. De tão importante para o comércio local, a Parada Gay tornou-se o segundo evento mais lucrativo de São Paulo, precedida apenas pela Fórmula 1, de acordo com dados da APOGLBT, organização responsável pela passeata. “A prefeitura estima que 400 mil pessoas visitam São Paulo durante a Parada Gay e gastam R$ 500 ou R$ 600 per capita. Ou seja, estamos
falando de R$ 80 milhões ou R$ 90 milhões em circulação. Por isso, quanto mais organizado for o evento, melhor para a cidade economicamente falando”, reforça Fábio Pina, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio). O publicitário Cesar Salvador aponta para uma mudança que vem ocorrendo nos últimos anos na Parada Gay em São Paulo. De acordo com o publicitário, o evento não possui mais a conotação de militância existente nas primeiras edições. “A Parada já não tem essa conotação de militância há muitos anos. O que ela movimenta em termos de dinheiro, sim, é de grande significado para a cidade”. André Pomba concorda que houve uma mudança significativa na passeata. “As Paradas continuam sendo uma demonstração de força, mas não como eram antes. Há 15 anos elas atendiam à necessidade da comunidade de se tornar visível. Hoje, como a comunidade já dispõe dessa visibilidade, a Parada se tornou um portavoz de algumas demandas políticas, como a criminalização da homofobia”, analisa o jornalista. Dinheiro
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A mídia
LGBT paulistana
A imprensa especializada em homossexuais está ganhando cada vez mais espaço na cidade de São Paulo. Revistas como Junior, A Capa, H e Bernardo Magz têm voltado seu foco para nichos dentro da comunidade LGBT: homens malhados, jovens, amantes da cena noturna, admiradores de pornografia e ursos (gays acima do peso, com a barba por fazer, corpo não depilado e uso de roupas e acessórios de couro).
O que na década de 70 era ativismo, nos anos 90 virou pornografia e dos anos 2000 em diante se tornou o espelho cotidiano da vida de gays, lésbicas e simpatizantes. “Acredito que a mídia gay hoje em dia está mais superficial. As revistas estão se limitando a falar simplesmente de lifestyle. Esse cenário tem que evoluir e é exatamente ao encontro disso que vem a Bernardo Magz. A gente quer mostrar uma coisa mais natural para uma pessoa que pensa, independentemente de sua
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orientação sexual e de ser urso ou não”, informa Danilo Barroso, editor-chefe da revista digital Bernardo Magz. Paralelamente a isso, os blogs também ganharam importância para os membros da comunidade LGBT. Servindo como uma opção, esses sites abordam temas que não são tratados na mídia convencional e atingem um público cada vez mais amplo. A popularização dos blogs permitiu que jovens investissem cada vez mais nesse tipo de mídia, transformando diversão em profissão. Katylene, Cleycianne, Te Dou um Dado, Superpride, Que Delícia né Gente são apenas alguns dos blogs que estão entre os mais acessados no país. E seus criadores, além de ganhar notoriedade, passaram a lucrar com eles, seja atuando como promoters, divulgando festas ou discotecando nos eventos mais concorridos da cidade. Veja no quadro abaixo o perfil de três blogueiros que fizeram do hobby profissão:
Fotos: Daniel Lima e Arquivo Pessoal
Thiago Armani
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Os blogueiros profissionais: Thiago Armani (1), Berg Flores (2) e Fabio Cardoso (3)
Colaborador do Superpride, Thiago Armani aborda de forma abrangente, bem humorada e ao mesmo tempo crítica a música pop internacional. Além de escrever no blog e atuar como Dj, trabalha em uma empresa de telemarketing na área de RH. Questionado sobre o que acha do mercado gay na cidade, o jovem diz acreditar que agora chegou a vez dos homossexuais obterem destaque. Lembra ainda da presença de gays da classe C em clubes que antes eram frequentados apenas por homossexuais da classe A, o que representa, para ele, o aumento do poder de compra desse grupo. 11
Mercado de Para quem procura a primeira oportunidade de trabalho, independentemente da orientação sexual, o setor de telemarketing pode ser uma opção valiosa. Atualmente 1,4 milhão da força produtiva brasileira é contratada por empresas do ramo. Dados recentes do Sindicato Paulista das Empresas de Telemarketing, Marketing Direto e Conexos (Sintelmark) indicam que cerca de 550 mil operadores atuam em empresas terceirizadas, sendo 350 mil em São Paulo, sem contar os 850 mil que trabalham em setores de call center próprios das empresas. Ainda segundo o Sintelmark, 55% dos atendentes de telemarketing em São Paulo têm entre 18 e 25 anos de idade. Os jovens que encontram na área a oportunidade do primeiro emprego, em muitos casos, usam a profissão como “trampolim” para vagas em outros setores. Wagner Assueiro, coordenador na Compuline, acredita que os jovens homossexuais se interessam por esse setor pelo fato de o preconceito ser menor. “Eles procuram trabalhar nessa área porque o atendimento é feito somente por telefone. Isso faz com que se sintam mais seguros, já que não sofrerão agressões do público e muito menos dos demais funcionários”, analisa.
trabalho mercado. Geralmente são independentes e já saíram de casa para exercer sua opção sexual. São também atenciosos, objetivos, diretos, práticos, proativos e se sentem reconhecidos nessas empresas, podendo até se tornar bons gestores ou crescerem em outras áreas”. Rodrigues cita ainda a flexibilidade da função e a possibilidade de os profissionais poderem conciliar a rotina com algum curso superior em outra área. “Eles gostam da flexibilidade que esse tipo de trabalho pode trazer, pois podem conciliar com algum curso da profissão de seus sonhos (moda, mídia, jornalismo, estética...) que geralmente custa caro, e o trabalho pode ajudar a custear”. Outra vantagem indicada pelo gerente de projetos é a existência de gestores homossexuais trabalhando juntos, o que faz com que os atendentes se sintam mais aceitos no ambiente corporativo. “Isso permite um reconhecimento imparcial em relação a outras empresas, que mesmo avaliando bem um funcionário homossexual podem protelar ou declinar sua promoção”, completa.
Alexandre Rodrigues, gerente de projetos na Contax, afirma que ainda existem jovens homossexuais que encontram dificuldades em encontrar emprego. “As empresas do meu segmento têm grande dificuldade de conseguir talentos. Os jovens gays de baixa e média renda têm certa dificuldade de encontrar trabalho no
Para o estudante de jornalismo Henrique Libanio, 21 anos, a orientação sexual não interferiu em sua participação no mercado de trabalho. O jovem, homossexual assumido, trabalhou por um ano como analista de departamento de pessoal na região central de São Paulo. Ele sempre teve preferência por manter sua vida social na região central de São Paulo, bem longe de
Berg Flores
Fabio Cardoso
Dono do extinto blog Adelaide, Berg Flores dedica-se agora à promoção da festa homônima que reúne gays, lésbicas e héteros. A Adelaide é uma festa de cultura pop realizada no Hotel Cambridge, no centro de São Paulo. Sempre ligado às tendências da internet, o jovem realiza toda a divulgação da festa baseando-se nos acontecimentos mais comentados da rede. Berg é gerente de eventos no Hotel Cambridge e afirma que não encontra problemas para conciliar sua profissão com a carreira de DJ.
Colunista do Que Delícia né Gente, Fabio Cardoso escreve sobre cultura pop e produz mixtapes para o blog. Diretor de arte web, ele considera tão difícil conciliar o trabalho com o blog que, para dar conta de tudo, dorme apenas cinco horas por dia. Acreditando que o mercado, principalmente fonográfico, alimentase bastante do poder de compra dos gays, afirma que, além do aumento do poder de compra, o que cresce atualmente é o discernimento sobre escolhas mais atentas com relação ao dinheiro. Dinheiro Fevereiro de 2013
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sua residência, no extremo da Zona Leste de São Paulo. “Depois de me assumir gay, minha vida saiu do lugar onde eu moro para outras regiões. Não conheço meus vizinhos, eles passam na rua e é buxixo pra cá e pra lá. Trabalhando no centro, tenho liberdade muito maior de falar o que eu quiser, agir como eu preferir, estar com quem eu quero”.
Foto: Arquivo Pessoal
ECONOMIA
Quando questionado sobre seus hábitos de consumo, o jovem informou que usa sua renda para frequentar baladas na região central e na zona oeste da cidade. “Gasto muito com balada. Mas, em certas épocas do ano, dispenso a balada para gastar com roupas, óculos de sol e perfumes”, conta. Thiago Vicente, 31 anos, é formado em design digital, trabalhou na RedeTV! e ESPM e hoje atua como designer gráfico e web designer em uma agência da região da Paulista. O jovem costuma investir seu salário em produtos de tecnológicos e materiais de trabalho, como cadernos, lápis de cor e tintas. “Não vou ao teatro, ao cinema, e só compro livros pela internet. Gasto com tecnologia: computador, pendrive, celular novo, uma mídia. Eu não sou uma pessoa muito consumista, não gasto com balada, mas gosto de comer e de beber bem”. O designer informa que não é adepto a esse consumo desenfrado, não se importando com o mundo da moda e com as tendências de roupas que muitos gays seguem. O jovem diz ainda que já foi vítima de preconceito por conta de sua aparência. “Cheguei em uma loja, e estava de olho em um produto da Apple. O vendedor me olhou, reparou na minha aparência e senti como se ele estivesse duvidando de que eu tivesse condições financeiras para comprar algo ali. Se você for a uma loja na Paulista, terá esse probleminha”, observa.
O estudante Henrique Libanio prefere trabalhar no centro de São Paulo onde pode agir naturalmente.
Principais marcos do movimento LGBT
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1978 Lançamento do jornal “O Lampião da Esquina” 14
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Fotos: Reprodução
Retirada do termo Homossexualismo da Classificação Internacional de Doenças
Políticas
Foto: Reprodução
públicas
O público gay possui demandas em outras áreas além da econômica. No campo político, por exemplo, surgiu a necessidade da aprovação de leis que amparem os homossexuais em casos específicos, que vão desde a união civil até questões de saúde pública, como políticas de prevenção a Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Uma das principais conquistas da comunidade LGBT foi a equiparação da união homossexual à heterossexual, aprovada em 2011 por decisão unânime do Superior Tribunal Federal. No estado de São Paulo, o Tribunal de Justiça decretou em 2012 a autorização do casamento gay, obrigando cartórios a lavrar escrituras de casamento civil para casais homossexuais que já tenham realizado o registro de união estável ou não. O Partido dos Trabalhadores (PT) criou estruturas governamentais em prefeituras e em governos estaduais em prol dos direitos LGBT. Grande parte dos projetos aprovados em Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas e Congresso Nacional são de parlamentares petistas. Em 2004 o partido criou o Programa Brasil Sem Homofobia com o objetivo de promover a cidadania e os direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas. O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) também possui um histórico de políticas públicas direcionadas a essa parcela da população. Dentre elas, registra-se a inauguração do primeiro ambulatório dirigido a travestis e transexuais, a criação da primeira Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual de uma prefeitura municipal e a promulgação de lei que
1997 Primeira edição da Parada Gay reúne 2 mil pessoas em São Paulo
A Revolta de Stonewall inspirou a criação de grupos ativistas que apoiam os homossexuais no Brasil
pune a discriminação homofóbica. Entidades como Somos (Rio de Janeiro), Grupo Gay da Bahia, Dialogay (Sergipe), Um Outro Olhar (São Paulo) e Nuances (Porto Alegre) destacam-se em grande parte dessas conquistas. O movimento ativista no Brasil começou a tomar forma na década de 70, passou pela luta contra o conceito da Aids como a “peste gay” nos anos 80, ganhou visibilidade nos anos 90 e chegou aos anos 2000 sob os holofotes da grande mídia. Atuando em diversas frentes, os ativistas da causa LGBT lutam por visibilidade, igualdade de direitos e legislações que auxiliem no combate à homofobia. O público homossexual constitui uma parcela economicamente ativa, que consome nas áreas de turismo, entretenimento, serviços e lazer. A tendência para os próximos anos é a de que o mercado gay cresça cada vez mais, trazendo benefícios para São Paulo. A Parada Gay é um exemplo prático de como o mercado se beneficia com os LGBTs, visto que o evento atrai turistas do mundo todo, aquecendo a economia da cidade. Da mídia ao mercado de trabalho passando pela política, a forte presença do grupo fez com que diversos setores se adaptassem para garantir o desenvolvimento da cidade. “A grande sacada agora é o mercado gay”, conclui Fabio Pina da Fecomercio. $$
2011 STF decreta a equiparação da união homossexual à heterossexual Fotos: Reprodução
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Foto: Daniel Lima
Imagem: Reprodução
DEBATE ECONOMIA
A equipe da IstoÉ Dinheiro desceu a Rua Augusta e perguntou para um grupo de gays o que eles acham do chamado Pink Money.
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Augusta - Sexta-Feira 23h
Já o jornalista e blogueiro André Pacheco não concorda com a opinião de Danilo por não considerar válida Ainda é começo de noite quando entramos no a teoria do Pink Money, “Acho que o Pink Money é a Dex, bar instalado no final do Baixo Augusta, que ofere- teoria mais babaca que existe. Você não pode julgar e ce programação eclética e bebidas baratas. Reunidos no enquadrar um grupo social inteiro apenas pela maneira estabelecimento, um grupo de homossexuais participa como ele consome a sua renda, e, sejamos realistas, qual de um debate sobre o Pink Money. é a renda dos gays?”
MERCADO
O designer Danilo Barroso acredita que os gays possuem uma condição econômica melhor, pois buscam desde cedo um crescimento financeiro para se sentirem aceitos na sociedade. “O homossexual já sofre muitas agressões, não só físicas, mas de todo tipo, desde preconceito a ser reduzido como cidadão. É fato que hoje existam gays muito bem sucedidos e o homossexual, por já ter tantos traumas na vida, busca um crescimento pessoal. Então ele vai estudar mais, vai buscar mais cultura. É nessa questão do ‘bem-sucedido’ que entra o Pink Money.”
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O estudante Henrique Libanio acha complicado definir um grupo social considerando como base apenas o consumo e alega que atualmente todo mundo possui as mesmas facilidades em relação ao crédito. “Acredito que hoje é fácil para qualquer um ser consumista, independente de ser gay ou não. Com o crescimento econômico, todo mundo pode comprar o que quiser e existem formas diferentes de pagamento e facilidades de financiamento”, conclui o estudante de jornalismo. “Para mim, vai além disso”, replica Pacheco. “É ‘money’ como outro qualquer. A renda é maior que a média?
Não acredito. A verdade, por mais dura que seja, é que os gays são o grupo social mais vasto e ímpar que existe, mais que os negros”.
Hábitos de consumo dos homossexuais em São Paulo
Libanio concorda com o jornalista e levanta outra questão. “Creio que o grupo é sim ímpar e também acredito que os gays das classes A e B exercem uma influência muito forte sobre os gays da classe C. Esses gays de classe mais baixa têm necessidade de provar para o mundo que, mesmo pobres, sabem se vestir bem”, complementa. O gerente de projetos Alexandre Rodrigues considera válido o ponto de vista de Libanio e acrescenta: “Os gays que estão próximos das classes A e B acabam se inspirando nesse grupo. Mas nem todos. Há aqueles que não querem sair das origens, do bairro em que moram, dos locais que conhecem. Esses preferem não gastar tanto para comprar um ‘terreninho’ na região em que moram”, observa.
“Você não pode julgar e enquadrar um grupo social inteiro apenas pela maneira como ele consome a sua renda(...)” André Pacheco - Jornalista Thiago Vicente acha que, quando um gay da classe C vê que alguém da classe B tem um Ipod no bolso, fica com vontade de ter um também. “Não importa se é Apple, Samsung, Nokia, ele quer um player de música. Ele até se inspira no consumo da classe A, mas, para obter os bens de consumo desejados, parcela tudo em 48 vezes”. “Vamos pegar como exemplo São Paulo”, argumenta Pacheco. “Os gays dessa cidade são apenas os que circulam com seus cabelos moicanos e barbas milimetricamente mal-aparadas na Paulista? Se os únicos gays dessa cidade são esses, podemos, sim, falar de Pink Money. Mas não são. Existe toda uma infinidade de tipos, com ânsias diferentes, sonhos diferentes e que não se enquadram no ‘gay descolado, consumista e que fala mais inglês que português’. Nem todo gay só usa Zara e come cupcakes”, finaliza.
Renda Mensal Menos de 1 Salário Mínimo 5% 1 a 2 Salários Mínimos
25%
2 a 3 Salários Mínimos
30%
3 a 5 Salários Mínimos
16%
Mais de 5 Salários Mínimos 21%
Escolaridade 1º grau Completo
1%
1º grau Incompleto
1%
2º grau Completo
18%
2º grau Incompleto
11%
Ensino Superior Completo 34% Ensino Superior Incompleto 34%
Zona paulistanas frequentadas
58% 41% 34% 29%
25%
Zona Sul
58%
Zona Leste
34%
Zona Norte
29%
Zona Oeste
25%
Centro
41%
Uso da renda Alimentação 94% Pagamento de contas 94% Vestuário
82%
Produtos de beleza
65%
Livros DVDs CDs Cinema Teatro Baladas
54% 49% 42% 80% 51% 73%
94% 94% 82%
80% 73%
65% 54%
49% 42%
51%
Pesquisa realizada com 74 homossexuais nas ruas Augusta, Frei Caneca e Vieira de Carvalho em agosto de 2012
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Foto: Daniel Lima
ENTREVISTA
O Diretor Estadual de Comunicação da Diversidade Tucana, Marcos Freitas, fala da visibilidade gay em São Paulo, cita conquistas do grupo e destaca as políticas públicas focadas nos membros da comunidade LGBT na cidade. DINHEIRO – De que forma a comunida- Parada. Então, a importância econômica do de homossexual obteve visibilidade em evento é gigantesca. São Paulo? MARCOS – Quando a Parada Gay começou DINHEIRO – Nos Estados Unidos ocorrem em 1995, com ajuda de um sindicato, devia boicotes às empresas que agem contra os reunir pouco mais de 200 pessoas. Mas foi homossexuais. Você acha que vai demorar ganhando corpo, ganhando forma, e hoje di- muito para esse tipo de ação acontecer no zem que mais de quatro milhões de pessoas a Brasil? frequentam. Embora ache esse número irreal, pois é pouco provável que a Avenida Paulista e a Rua da Consolação comportem esse número de pessoas, foi com a Parada que o movimento ganhou visibilidade perante a mídia.
DINHEIRO – Qual a relação da Parada Gay com o mercado paulistano?
MARCOS – Hoje a Parada Gay é um dos eventos que mais geram renda para a cidade de São Paulo. Os hotéis têm sua agenda lotada, o circuito gastronômico fica mais movimentado, vem turista até de outros países para a nossa
MARCOS – O movimento LGBT como um todo, boicotando esse produto ou aquela marca, eu nunca vi. Aqui a gente vê muitas manifestações como os beijaços, a exemplo do ocorrido em frente à confeitaria Ofner onde um beijo gay foi reprimido. Há também o caso do Shopping Frei Caneca em que um casal foi convidado a se retirar e fizeram um beijaço dentro do Shopping. Parece que a militância do Brasil acaba reagindo de outra forma, que não é menos agressiva, do tipo: “isso está aqui, vamos mostrar isso em grupo”. Mas acho que, se a gente fizesse um boicote econômico, os resultados seriam bem melhores. Dinheiro
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“As pessoas em ascensão social sentem a necessidade de mudar seus padrões de comportamento” DINHEIRO – A classe C está em expansão e, segundo as estatísticas, já representa mais da metade dos brasileiros. Como os empresários podem se adaptar a esse novo padrão de consumo, levando em conta que muitos homossexuais integram parte a classe C? MARCOS – Este é um grande desafio, porque o gay vive muito de glamour. Ele quer ter um produto diferenciado, às vezes, ele não tem os meios, mas quer ir a The Week, por exemplo, e acaba gastando 1/10 do seu salário em uma noite. Acho complicado trabalhar essa questão porque os produtos para o público LGBT são diferenciados, caros. O que vejo é que as empresas que trabalham com o público LGBT cobram caro por esse serviço. 22
Dinheiro
Fevereiro de 2013
DINHEIRO – O que você acha do mercado voltado aos LGBTs em São Paulo? Ele está progredindo? As pessoas estão se interessando mais? MARCOS – Mesmo que a passos lentos, o mercado está progredindo sim. A questão econômica tem se inclinado para nós com outro olhar. É como na questão dos direitos civis, que também está andando a passos lentos, mas está andando. Veja a decisão histórica [do Superior Tribunal de Justiça] que concedeu [em 25.10.2011] o direito do casamento civil a duas mulheres [do Rio Grande do Sul], a qual abriu precedentes para que pareceres jurídicos espalhados pelo Brasil inteiro também sejam encarados dessa forma. Então, é claro que o cenário está mudando. Eu só gostaria que fosse mais acelerado, mas rápido. DINHEIRO – Quais são os próximos passos que a comunidade LGBT precisa realizar em São Paulo? O que ainda falta ser conquistado pelos homossexuais? MARCOS – Respeito. E esse respeito vem com a aprovação do casamento civil e de uma lei que combata a homofobia. Não mais o PLC122, que acabou sendo desfigurado. Acredito que falta o respeito que a gente recebe através de políticas públicas. $ Foto: Daniel Lima
DINHEIRO – De que forma você acha que a política voltada aos LGBTs está relacionada com a questão do mercado? MARCOS – De nenhuma forma. Se houvesse relação, a gente seria mais respeitada. Não vejo nenhum respeito político aos LGBTs. Há uma bancada evangélica enorme que se opõe aos nossos direitos. São aqueles candidatos que falam: “sou o candidato da família”. Nas entrelinhas, estão agredindo os LGBTs. Eles veem a família como um homem, mulher, crianças e cachorro, não enxergam outro modelo. O gay hoje é totalmente órfão na questão política, são poucos os políticos que têm um olhar mais humano para a comunidade e esses, por estarem isolados, não têm tanto sucesso.