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Henrique Cyrne de Carvalho: novo presidente do CEMP
ENTREVISTA HENRIQUE CYRNE DE CARVALHO PRESIDENTE DO CONSELHO DE ESCOLAS MÉDICAS PORTUGUESA [2021-2022]
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Henrique Cyrne OConselho de de Carvalho foi o Escolas Médinome escolhido para cas Portugueliderar o órgão que sas (CEMP) é um órgão representa as oito constituído pelas oito esescolas médicas colas médicas portugueportuguesas no sas, nele representadas biénio 2021-2022. O pelos seus diretores ou diretor do Instituto de presidentes, que procura Ciências Biomédicas promover a harmonizaAbel Salazar (ICBAS), ção da atuação das Escofoi eleito, no passado las de Medicina do país dia 9 de dezembro, e em matérias de interesse ambiciona representar comum, com vista ao de“com dignidade e senvolvimento da dimenelevação” o Conselho são académica e da quade Escolas Médicas lificação da Medicina Portuguesas. Portuguesa. Henrique Cyrne de Carvalho é o novo presidente deste órgão desde 1 de janeiro de 2021, e espera “conseguir concretizar as propostas apresentadas como linhas de ação principais, gerir a agenda das condições que surgirão durante este Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign período e representar com dignidade e elevação o CEMP”. O diretor do ICBAS vai ocupar o lugar até agora ocupado por Fausto J. Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A sede do CEMP passará, assim, para o Porto e Henrique Cyrne de Carvalho pretende “dar continuidade ao excelente trabalho iniciado pelos presidentes do CEMP” que o antecederam, “reforçando o foco na melhoria contínua da educação médica a nível nacional”, como confidenciou em entrevista à Nortemédico.
(nortemédico) – Foi o nome escolhido para liderar o CEMP para o biénio 20212022. Como surgiu e como vê este cargo?
(Henrique Cyrne de Carvalho) – A Coor- de uma relação médico-doente que dese- sua profissão além da doença. Estamos denação do Conselho das Escolas Mé- jamos que seja estabelecida e enraizada a desenvolver modelos que permitam fedicas Portuguesas (CEMP) é um órgão na formação dos jovens médicos. O se- char com sucesso estes assuntos. que associa os diretores e presidentes gundo refere-se a um acompanhamento das escolas médicas portuguesas. Existe interventivo sobre a saúde física e, so- Como vê o futuro do ensino médico em já há vários anos e tem tido como coor- bretudo, psíquica de estudantes e res- Portugal? denador um dos referidos diretores, que tante comunidade académica, num mo- Estamos num importante momento de é escolhido entre os pares. O meu nome mento em que as condições associadas à reflexão sobre o ensino médico. As consurgiu de uma proposta do anterior pandemia vieram agravar situações de dições mundiais atuais mostram à evicoordenador, Professor Fausto Pinto, re- stress emocional, depressão, isolamento dência que a formação dos médicos do unindo o consenso de todos os restantes e “burnout”, que já adquiriam impor- século XXI não se pode cingir à aquisidiretores. Este ano e, após a assinatura tância preocupante antes do agrava- ção de competências técnicas dependenda escritura de constituição do CEMP mento provocado pela atual pandemia e tes de uma formação de carácter cognicomo uma “Associação Privada Sem das condições sociais a que se associa. tivo, como se passava anteriormente. Os Fins Lucrativos”, em 28 de dezembro de Em terceiro lugar, pretendemos incluir médicos do futuro terão que associar 2020 na FMUL, a coordenação passou nas nossas preocupações e iniciativas conhecimento transversal que os inclua a ser denominada presidência, tendo enquanto CEMP, a introdução do pro- na realidade do meio global e, simultaem conta os estatutos da recém-cons- jeto associado ao conceito “One Health”, neamente, no meio específico em que se tituída associação. Este é um cargo de procurando cruzar a realidade da saúde enquadram. Temos responsabilidade de enorme responsabilidade, uma vez que humana com a saúde animal e do am- os ajudar a sentir a importância da sua tem o dever de representar todas as es- biente, na intenção de constituir um mo- intervenção na sociedade como elemencolas médicas do país junto delo único do “olhar tos de ação e reflexão, que inclua a reade todo o tipo de interlocutores, desde os de natureza académica, aos de naturezas profissional, política e social. Tenho um legado de desempenho de excelência de todos os colegas que me antecederam, que me esforçarei para manter. Neste primeiro mandato, quais são os objetivos traçados? Em termos estratégicos, defini três objetivos essenciais. O primeiro será o de manter o foco primordial no fortalecimento da qualidade do ensino da medicina a níEstamos num importante momento de reflexão sobre o ensino médico (…) A formação dos médicos do século XXI não se pode cingir à aquisição de competências técnicas (…) Os médicos do futuro, terão que associar conhecimento transversal que os inclua na realidade do meio global e, simultaneamente, no meio específico em que se enquadram. para a saúde”, num contínuo, cuja falha está bem ilustrada pela presença da atual pandemia. Tem já alguns projetos/iniciativas programados? Há assuntos que, além dos que antes indiquei, que correspondem a intervenções estratégicas, necessitam de continuar a ser geridos, porque são muito importantes e estavam já em agenda. Deslidade da doença no âmbito mais vasto de saúde global. Para que tais objetivos se concretizem, é necessário que o modelo formativo, centrado no estudante, seja também constituído pela aquisição de soft skills e de outras competências, como as de gestão em saúde, entre outras, que associem um core curriculum robusto a um componente optativa complementar inovadora. Devemos, no entanto, enquanto formadores e médicos, conseguir mostrar à evidência a importância do ato médico no tratamento da doença, humanizando e valorizando o modelo. A importância da relação médico-doente e a valorização do ato médico, devem ser das nossas principais prioridades. Claro que temos também que atualizar modelos e, aqui, a simuvel nacional, reforçando a tes destaco um que lação médica, constitui-se como uma posição de destaque que já está atualmente em enorme mais-valia complementar na assume no plano europeu. discussão, que é re- formação dos futuros médicos. Devemos Nestes anos que se seguem lativo à possibilidade ser capazes de adicionar à componente a 2020, é necessário estabilizar opções de acesso dos estudantes de Medicina de relação humana que caracterizou a de orientação pedagógica diferentes das ao processo clínico eletrónico. Outros, medicina nos séculos anteriores, as nodo passado, iniciadas em muitos dos ca- como a gestão da organização das Es- vas metodologias educativas e as novas sos muito recentemente, reforçando os colas Médicas de acordo com evolução tecnologias associadas à formação. O componentes das competências trans- da pandemia, serão prioritários. Deseja- CEMP, sob coordenação do ICBAS, está versais e do humanismo, que se associa- mos que os modelos adotados na forma- a concluir um documento que será purão a um componente cognitivo revisto ção dos nossos estudantes não a compro- blicado ainda durante este ano, que ene atualizado. A participação das novas metam pelas atuais condições adversas, quadra a definição curricular e as comtecnologias no modelo formativo, de que mas, pelo contrário, possam ser encon- petências nucleares para a formação destacamos a simulação médica, passa- tradas mais-valias de oportunidade, que em medicina, refletindo a nossa visão rão a ser um componente de reforço à transformem os nossos atuais estudan- sobre o que deve ser o médico do século formação, mas nunca serão substitutos tes, em médicos capazes de entender a XXI. n