5 minute read

GEOVANA MOMO NOGUEIRA

Next Article
FOCUS

FOCUS

“MINHA RESPONSABILIDADE ERA FAZER A DIFERENÇA NA VIDA DAS PESSOAS”

É PRATICAMENTE IMPOSSÍVEL PENSAR NA VITÓRIA FRENTE À PANDEMIA SEM ASSOCIAR À FIGURA DA MÉDICA DRA. GEOVANA; CONFIRA UM POUCO DO DIA A DIA DE TRABALHO DA CAPITÃ DA LINHA DE FRENTE NO COMBATE À COVID-19 EM LENÇÓIS PAULISTA

Advertisement

ANGELO FRANCHINI NETO

Imagina só ser um médico infectologista durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19)? Que responsabilidade! Enquanto muitos de nós fi camos em casa com medo de um inimigo invisível e morta, pessoas com a Dra. Geovana Momo Nogueira vestia o jaleco, as luvas e a máscara, e ia para a linha de frente no combate à doença.

Incansável, Dra. Geovana chorou de tristeza e também de alegria, perdeu noites e mais noites de sono, perdeu também amigos, pacientes diversos, mas nem por isso desistiu. Seguiu em frente e salvou muitas vidas. Tanto que, hoje, é praticamente impossível desvincular o nosso processo de vitória sobre a Covid-19 sem antes nos lembramos da Dra. Geovana.

Entrevistamos essa heroína, que merecidamente, estampa a capa do Guia Médico e representa todos os profi ssionais da saúde. Confi ra!

O COMEÇO DE TUDO

“Comecei a ter notícias do início de uma doença no fi nal de novembro de 2019, na China. Era uma espécie de pneumonia diferente. Nós, no meio médico da infectologia, conseguimos ter acesso a essa doença com certa antecedência. Em dezembro do mesmo ano, quando houve

Foto: Cíntia Fotografi as

a primeira notifi cação do novo vírus que levava à morte, logo tivemos certeza de que aquilo iria chegar ao Brasil e acometer todas as cidades do nosso país.

No Carnaval de 2020, bem na Quarta-feira de Cinzas, tivemos a confi rmação do primeiro caso no Brasil. E lógico, nós já sabíamos que a Covid-19 já estava circulando aqui. Em março de 2020, eram poucos casos, mas na Europa, o número de mortes e casos explodia. Havia disputa por oxigênio. E, de repente, precisamos aprender a cuidar da nova doença.

Bem naquela época, eu estava grávida e a previsão do parto da minha Cecília era para agosto de 2020. Comecei então a atender os primeiros casos da doença ainda gestante e sem estar vacinada. Tomava todos os cuidados, como o uso de máscara e a higienização frequente das mãos, mas o distanciamento do doente era impossível manter. Como eu iria examinar o paciente?

Tínhamos medo muito grande, mas eu precisei assumir a linha de frente totalmente. Minha responsabilidade era cuidar das pessoas, fazer a diferença na vida delas, entender que a intervenção precoce, aquela de cuidar e manter em vigilância precocemente, era o que fazia a diferença na Covid-19.

Daí veio a primeira onda, a segunda... E talvez teremos uma terceira, quarta. Não conseguimos prever tudo isso”.

DRA. GEOVANA MOMO NOGUEIRA DE LIMA

A LINHA DE FRENTE

“A linha de frete foi muito dolorida. Foi onde eu perdi parentes, amigos, conhecidos, profi ssionais médicos, da enfermagem, fi sioterapia. E também foi onde fi zemos grandes amizades e parcerias. A cada dia tínhamos informações do mundo inteiro sobre a Covid-19. Eu lia vários artigos com estudos europeus, americanos, canadenses, asiáticos, enfi m, passava madrugadas inteiras fazendo leitura. Sabíamos as características virais de outras pandemias, então tínhamos esse background. Mas a Covid-19 foi uma doença muito diferente e nova, uma pandemia com um viés diferente, de redes sociais, mídia, conhecimento, mas também de desinformação.

Voltando à linha de frente, era eu quem dava o diagnóstico e às vezes a notícia triste de que era necessário transferir um pai, um fi lho, um marido para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva). E também, em muitos casos, eu não conseguia dar uma esperança para próximo dia. Mas me mantinha ali, forte.

Lembro que consegui intervir em várias famílias, ajudar pacientes. Hoje encontro eles na rua e me dá um calor no coração muito grande de pensar que os atendi e estão bem vivendo com a família, retornando à vida. E a linha de frente me trouxe muito isso. Conseguir fazer a diferença na vida das pessoas e falar ‘vamos fazer isso neste momento’, ‘confi a em mim que vamos lidar juntos com essa doença’. Por isso o saldo é muito positivo. Perdi, é verdade, mas sei que ganhei muito hoje. E saio contente, feliz com uma ideia de missão cumprida”.

A SEGUNDA ONDA

“Estamos vivendo um momento de mudanças da pandemia. Na primeira fase, internávamos pessoas com idade mais avançada com várias doenças e comorbidades. E tudo em uma época sem vacina. De repente, algo mudou. Essas pessoas começaram a receber vacina e não internavam mais. Em seguida, pessoas da minha idade ou mais novos começaram a terem complicações, fi carem vários dias em UTI, intubados, sedados, com pulmão ruim para trabalhar.

Foi naquele momento que aprendi que a Covid-19 não era doença somente pulmonar. Era uma doença que pegava o corpo inteiro. E eu precisava ser a melhor médica, pois precisava lidar com aquele ser humano aguardando os meus cuidados de uma forma integral. Perdi várias pessoas novas para Covid-19. E foi então quando a pandemia doeu mais em mim. Eu fi cava lutando ‘gente, vamos vacinar, vamos mudar essa faixa etária. Não pode sobrar vacina. Tem que estar no braço da pessoa. Vamos melhorar, otimizar’. Foi uma luta diária”.

RAZÃO X EMOÇÃO

“Não tem como diferenciar a emoção da razão. Eu sou médica, sou mãe, esposa, fi lha, irmã. E tudo isso faz parte do ser humano. Sempre fui uma pessoa muito aplicada aos estudos, racional com conhecimento. Sempre fui ávida por ter conhecimento e não somente informação. Mas é mentira que dissociamos razão da emoção. A emoção esteve presente a todo lado, em todo momento. Me emocionava com diagnóstico, quando a família me ligava para perguntar algo e a notícia não era boa.

Sempre fui uma pessoa que valorizou as pequenas coisas, afi nal, a felicidades está nos detalhes, não nas grandes obras. Talvez por sempre lidar com doenças infecciosas em grandes hospitais e laboratórios. Sempre valorizei a pessoa, o ser humano. Então, hoje em dia em que sou mãe, valorizo ainda mais. A convivência vale muito mais que o bem material, deixo isso muito claro em minha vivência. Sempre tive sucesso e sorte por pensar assim, por valorizar quem está por perto.

Estamos vencendo a pandemia, mas nunca é trabalho de uma pessoa só. É um trabalho de todos. Esse dia a dia com outros colegas, funcionários da saúde, profi ssionais variados, enfi m, sempre foi de muita parceria. E essas parcerias foram todas revigoradas durante a pandemia”.

Rua São Paulo, 489 - Sala 6 - Centro Telefones: (14) 3264-9511 | (14) 99640-9511 Lençóis Paulista - SP

This article is from: