revista onze.

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Jornalismo e Publicidade andam juntos.

esta capa ĂŠ sua. A outra ĂŠ nossa.


Agora na NeoBand, Banner PET reciclável Resolution Conheça as vantagens da nova mídia: mais resistente, mais leve e mais colorido.


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violência suave A força, o vigor. Arquétipo: A luta com o dragão. Letra: Kaph = K, símbolo = mão semifechada, que amassa. Número: 11 = o número do pecado. Um passo além dos 10 mandamentos. O carnaval começa no dia 11.11, às 11 horas e 11, e é liderado por um concílio de 11 membros. Todas as batalhas importantes você trava no seu íntimo. Sua única vitória consiste na rendição de si mesmo. Qualidade: Violência suave, força moral, autodisciplina, coragem, orgulho, controle, energia. Somos uma equipe de 11 pessoas e estamos no 11º andar. Seja bem-vindo à Revista ONZE.

Convidados Especiais Andréa del Fuego, escritora, inaugura nosso caderno de ficção assinando um conto sobre suor, bolas e o número 11. (delfuego.zip.net) Caio Reisewitz é especialista em fotos arquitetônicas e de paisagens. Nesta edição, reproduzimos imagens de florestas brasileiras presentes na exposição não tem coisa certa. (britocimino.com.br) Li kia Ming tem um nome brasileiro que não gosta de revelar. Da China, ele fez um retrato do pop no país. Luis Badona voltou da Itália, onde estava estudando com Olivero Toscani, direto para a produção das fotos da matéria com Ney Matogrosso. Também clicou a imagem que abre nossa matéria odisséia ilegal. (luisbadona.com.br) Márcio Banfi viajou pela rotina do acordar, dormir e sonhar para construir o moda. (marciobanfi.com.br) Nazareno, artista plástico, fez uma curadoria especial com fotos de presentes de criança para o caderno de arte. (galeriavirgilio.com.br) Rafael Assef assina as fotos do editorial de moda que termina – ou começa, você escolhe – esta edição. (fillphotographic.com)

Colaboradores Alê de Souza, Alexandre Paschoalini, André Gagliardo/Abá Mgt, Andréa del Fuego, Caio Reisewitz, Cisma, Drica Cruz, Eduardo Recife, Gabriel Saccomano, Gui Bobb, Letícia Ramos, Li kia Ming, Luciana Suemi Higa, Luciane Pisani, Luis Badona, Márcio Banfi, Maria Helena Zerba, Marina Lopes, Mario Amaya, Mario Níveo, Nazareno, Rafael Assef, Rapha Capello, Rochelle Costi, Rodrigo Braga, Wagner Antunes, Yendoo Jung.

CAPA Fernanda Lima concepção de imagem, Fernanda Lima e Alê de Souza foto e beleza, Alê de Souza tratamento de imagem, Gabriel Saccomano, Rodrigo Braga, Damas Design agradecimentos, Antônio Amâncio, Henrique Fischer, Artcênicas Idéias e Soluções Artísticas (artcenicas.com.br) SUBCAPAS fotos, Thany Sanches, Maria Helena Zerba (arte e criação) e Luis Badona (ficção e política ambiental)


música



Ney sempre quis voltar para Matogrosso.

Não lhe bastava o nome assumido artisticamente em 1971, depois da sua temporada hippie no Rio de Janeiro, já em terras cinzas e paulistas, ele estava prestes a entrar no Secos&Molhados.

Ney queria voltar. Matogrosso era sobrenome do pai, da terra que o pariu, do lugar de onde veio. Era em Matogrosso que estava a terra que acolhia seus pés descalços nas andanças com os cachorros, as lembranças miúdas e transparentes da infância que resultam no que se é. Voltar para Matogrosso. Mas para onde mesmo? O tempo passava em largos passos. Ninguém estava

lá, as constantes mudanças impostas pelas transferência do pai militar haviam apagado rastros antigos. Anos 80. Sua passagem pela Aeronáutica já era uma lembrança distante, junto com as peças em couro vendidas para sobrevivência, o mundo já não era mais seco e molhado, e ele ainda queria voltar. Para Matogrosso.

“Em 85, conheci um sítio perto do Rio de Janeiro. Um lugar completamente preservado, com nascentes, cachoeiras, rio de água de beber, bichos. Decidi comprar e só descobri o nome da serra onde ele está localizado na hora de assinar a escritura. Serra do Mato Grosso. Eu havia voltado.” Neste exato momento, Ney começa a sorrir.




Estamos na casa dele, no Rio, um lugar alto, claro, onde é possível andar de pés descalços e enxergar mar, montanha e céu. Por entre nossas pernas passeiam Nêga e Rita, gatas destas que amam imediatamente determinadas pessoas e ainda assim mantêm uma distância socialmente aceita. É ali que ele, que toda vez que se expõe no palco carrega verdade artística desde sempre transgressora e corajosa, exercita a normalidade. “Quero distância desta mentalidade horrorosa, eu corro desta exposição ridícula, desta exposição gratuita que não me interessa. Minha vida particular é minha vida particular e eu zelo por ela.” Silêncio. Será que vai chover? O fotografo pede uma expressão agressiva. “Eu não sou agressivo.” Lembro de seu primeiro CD lançado em 75, um ano após a sua saída do Secos&Molhados, que tinha uma capa de papelão cru, com o corpo de Ney vestido com pelos de macacos, chifres, pulseiras e dente de boi. Das coreografias erotizantes, dos shows em que expunha/expõe corpo e masculinidade lado a lado de maquiagens e adereços. Dos contrapontos. Estamos um de frente para o outro. Seus olhos são escuros e serviriam de farol apenas em dias quentes. “Já fui muito agressivo. Mas era preciso. Nós vivíamos em uma ditadura filha da puta e era preciso ser agressivo para sobreviver. Se não fosse assim, tinham me destruído. Hoje ainda provoco, este sou eu. As pessoas esperam isto de mim. Mas não tem nada de agressivo nisto. É uma faceta. A arte não precisa ser bruta. É possível realizar arte sem ser só reação.”

músic a por Cristiane Lisbôa; fotografia, Luís Badona.

O sol sopra as nuvens e entra na sacada com generosidade. O fotógrafo comemora discretamente. O roqueiro com postura de bailarino abre todas as janelas. “Tenho fé em mim. E sei que sou protegido, tenho protetores. Tenho a nítida noção disso. Mas esta fé não significa exatamente uma crença. Acredito em um princípio amoroso e agregador e não em um senhor que fica lá em cima apontando e dizendo que neste mundo não se pode nada e que somos culpados de tudo. Eu não sou culpado de nada. Isso é uma loucura da igreja. Uma bobagem, esse pecado da cópula. Será mesmo que quem criasse tudo isso – aponta para fora, para si, para o que está em volta – iria criar defeitos e restrições?” Ele não teme as respostas. Também não teme “não”, morte, exercita o “sim”, sorri com parcimônia e espera em pé, jamais sentado. Recebe muito material de novos compositores, ouve tudo, uma, duas, 20 vezes. Costuma gostar do que desconhece. Mas não aponta. “Pra ser sincero, não sei o que se tem de melhor no mercado, porque essa história mudou muito, né? Você não pode se guiar apenas pelo que ouve no rádio. Porque tem muito mais gente fazendo coisas interessantes fora do rádio e eu prefiro ir atrás disto. Na verdade, escuto rádio justamente para saber do que se trata naquele momento. Para que eu possa passar longe. Eu quero sempre o original. Copio e repito apenas a mim mesmo.” O que neste caso, não deve ser uma coisa fácil. Muito é dito, as palavras caminham solenes pela sala deste que viaja apenas a trabalho, defende que felicidade é paz, não a branca, da pomba, mas paz, e que acha graça ao se falar de novos formatos de musica. “Eu não conheço novas formas, as minhas são as de sempre. Eu gravo um disco, faço um show. Porque o que me bancou a vida toda, o que sempre me bancou, foram os shows. Eu nunca dependi da venda de discos”, explica. Lembro de Drummond, eu não quero ser moderno, eu quero ser eterno. “Embora eu não tenha nada contra formatos como a internet, por exemplo. Mas os acordos tem que ser muito bem feitos, pois com a internet não se ganha dinheiro”, ele ri, anda, andamos, esta é uma conversa em movimento, o gravador está no bolso. Ney Matogrosso emenda um trabalho no outro há mais ou menos 15 anos. Debutante. Neste momento, está em turnê com Inclassificáveis, aquele descrito pela crítica como uma volta da transgressão de Secos&Molhados. “Bobagem. Rótulo.” Ele pensou que duraria menos, mas não consegue parar e, aliás, já está ensaiando um próximo trabalho. “Um piano, tchelo, violino e uma


percussão. Eu, cantando tudo que quero cantar, que é desde “Canto com a Tereza” até “As Ilhas”, que gravei em 75 e nunca cantei. Isso misturado com Tom Jobim, Vinicius de Moraes. Meu critério de escolha foi apenas gosto, crença na música, mais nada.” E a gravadora não deu palpite? A voz fica dois ou três tons abaixo. Ele está olhando para dentro da câmera fotográfica, eu olho para suas mãos. “Apenas uma vez fui obrigado a colocar em um disco meu uma música que não havia sido feita ou escolhida para ele. Foi “Telma Eu Não Sou Gay.” Aquilo é uma paródia dentro do disco do João Penca e Seus Miquinhos Amestrados que eu gravei para eles. Quando fui lançar um disco, a gravadora impôs que eu colocasse a música deles. Tivemos brigas, pois eu dizia que essa música não era minha, eu tinha gravado pra eles e a música tinha a ver com a história deles, não com a minha. Daí o diretor da gravadora me disse que se eu não botasse a música, o disco do João seria retirado de circulação. Coloquei. E isso nunca mais voltou a acontecer.” Porque a liberdade é o que mais preza. Não é uma escolha nem um caminho. É o que veio antes. Agora. Depois. Sofá. Ele deita. Eu sento. Consigo entender a imagem da camiseta preta de malha bem simples do filme “O Bandido da Luz Vermelha”, em que ele interpreta o próprio. “Aceitei porque era desafiador e eu gosto das coisas que me desafiam. E acho que não vou passar vergonha não, viu? E quero fazer mais cinema. E eu fiz o irmão da Xuxa Lopes em um filme da Ana Carolina, que era um irmão incestuoso, e eles tinham uma relação e tal. Fiz também um filme sobre o poeta Manoel de Barros, onde dividiam ele em três fases da vida e eu era uma delas. E recentemente, um curta-metragem também. De um menino chamado Rafael Saar, que fala sobre o relacionamento homossexual de dois senhores. Eu faço um desses senhores que é casado e vai visitar seu amante e volta pra casa. Todos os dias eu vou visitá-lo e vou embora.” Triste. Naquele ponto frágil em que a tristeza ainda consegue ser bonita. Não posso dizer se ele concorda com a frase ou com a opinião, pois me ocorreu agora, neste momento que giro no carrossel do que foi. Falamos mais de cinema e dos sons. Era dia alto, a cadeira de novo show parece de confeitaria de interior, as nuvens estão gordas, cinzas, carregadas da chuva carioca que viria logo. Hora de ir. Mesmo que houvesse muito mais para ouvir. Faço a última pergunta. “Não, não canto no chuveiro. Na verdade, isto nunca me ocorreu.” Neste exato momento, Ney começa a sorrir.


músic a por Ademir Correa; fotografia, divulgação.

absoluta-a

muito barulho por nada ou stefhany


Na supremacia do acesso à arte, clipes, vídeos, depoimentos, acontecimentos peculiares e experiências pessoais são alçados à categoria de entretenimento. A indústria cultural recebe a tecnologia e a democratização da informação (e dos meios) como canal para o escracho, o deboche, o escárnio, o desmedido. Na música, especificamente, mudam-se os suportes de propagação e surgem atitudes independentes instantâneas de artistas sem público ou de anônimos sem dotes artísticos. Os sites são a grande alternativa à massificação televisiva e sua imutável programação – alicerçada por pesquisas de opinião e não por inovações – e também representam um campo obscuro de gags com espaço para a exacerbação do cotidiano documentado. Funcionam ainda como um teste de audiência, o aplauso do povo que exalta anti-heróis com obras definitivo-efêmeras. Como diva caseira desta Era em que se expõe nossa comédia dos erros, surge Stefhany, a “Bioncê do Piauí” – uma adolescente em crise de desamor com uma canção de autorreverência e autoajuda (versão não autorizada de “A Thousand Miles”, de Vanessa Carlton) e um videoclipe feito artesanalmente, uma cópia malfeita com boas intenções (talvez). Nas reviravoltas do pop, ela ganhou acesso, voz, fãs de carne e osso, uma passagem livre para a TV e virou um caso comum de apropriação da vida. A menina sonhadora que quer um ônibus de turnê conquistou o Cross Fox, antes imortalizado apenas em letra, e nem pode dirigir. E já construiu uma imagem "sólida” bem ao gosto de todos – romântica, corajosa, engraçada, ingênua, como uma Julieta contemporânea e árida em busca de príncipes encantados e terras longínquas onde a felicidade e a fama são eternas. E mais um fenômeno de celebrização online torna-se real – ao vivo, às lágrimas. Tentamos várias conexões – os e-mails e as ligações nunca foram respondidos por problemas de agenda. Mas 11 das questões enviadas para Stefhany estão aqui (em versão reeditada)... Você começou como backing vocal aos oito, nove anos na banda de sua mãe, a Nety. Parece que ganhava algo em torno de R$ 30. E hoje, tem dinheiro? Quanto custa seu show? Sua vida mudou loucamente depois do YouTube? Muito se fala que esses hits internéticos ganham acessos porque são vídeos caseiros mesmo, precários de recursos, sinceros. O que acha? Você participou de uma apresentação da Preta Gil no Rio de Janeiro. Imaginou que sua trajetória tomaria esse rumo? O que mais gosta em sua musicalidade e que canções ainda quer interpretar? Já pensou em gravar um disco com versões do Amado Batista, seu grande ídolo? Vislumbra uma carreira internacional? Quem são suas cantoras-inspiração? De alguma forma, acha que está ajudando o Brasil a ver a música que é feita no Piauí? Além de ter conquistado um carro amarelo na TV, que desejos já realizou e quais ainda têm? E se o seu sucesso acabar instantaneamente, da mesma forma que começou?


hoje, o pop feito no país que se tornou protagonista do mundo está limitado à ditadura do bom-mocismo

músic a por Li kia Ming; fotografia, flickr.com/guibobb e Luciana Suemi Higa.

pop chinês

Enquanto o mundo inteiro comprava discos dos Beatles, Bob Dylan trocava o violão pela guitarra e Travolta preparava o look polyester, a China cantava o refrão que embalou o país durante os dez anos da Revolução Cultural: “Hurrah, Mao Zedong é o grande salvador do povo!/Onde existe um Partido Comunista/ Hurrah, o povo será libertado! ('O Oriente é Vermelho')”. Como a música tinha um papel revolucionário a cumprir, o simples fato de se ter um instrumento musical ocidental era muitas vezes suficiente para configurar traição à causa comunista. A autonomia criativa da música nunca foi grande amiga de regimes totalitários – não foi diferente nesse caso. Morre Mao. Vem o Deng. Reforma. Abertura. Após 40 anos isolada na ficção das letras da revolução, a música começa a ganhar um outro significado que não o dos eventos em massa da China maoísta. A multidão se aglomera em torno de novos ícones. Começa a febre de Sartre e Nietzsche, da maquiagem, do natal, do jeans, do Mando-POP (música pop cantada em mandarim) e do C-POP (música pop de Hong Kong, geralmente cantadas em cantonês). Esses últimos trouxeram – por fitas cassetes piratas e de péssima qualidade – a estética e o som melódico das bandas e cantores que faziam sucesso em Hong Kong e Taiwan e que já estavam há tempos ligados à lógica do mercado e da indústria da música e do cinema. A partir desse momento, iniciava-se um processo irreversível de dominação da música pop na cena chinesa. Um dos maiores sucessos dos anos 80 na China foram as baladas melosas de Teresa Teng, que contrastavam com as músicas pseudoépicas e pesadas da revolução. Só “Eu sempre vou sentir falta do seu amor/ Sinto falta do seu coração quente/ Sinto falta do seu doce beijo", de "Goodbye My Love”, conseguia tirar suspiros dos chineses. Toda essa nova modinha de baladas de amor, danças, maquiagem e vestidos-um-pouco-mais-sensuais-que-um-uniforme-comunista tinha um quê de contrarrevolucionário até o governo começar a tolerar a entrada dessas canções. Mais impactante foi o surgimento da figura de Cui Jian (pronuncia-se tsuei jien) e a sua guitarra. Originalmente um membro da renomada Filarmônica de Beijing, entrou em contato com fitas cassetes piratas dos Beatles, dos Rolling Stones e do The Police e, a partir de então, passou a experimentar composições que se aproximavam do som dessas bandas. Cui é o ponto fora da curva. É o mito do herói: a personificação do simbolismo do rock rebelde, idealista e inconformado. Cui deu um novo sentido à música na China, ela não era mais instrumento de alienação como nas décadas anteriores e não se contentava em chorar o amor perdido. É o primeiro do gênero no país e a sua ascendência coincidiu com a crescente insatisfação dos estudantes com o governo, que culminou na manifestação da Praça da Paz Celestial em 89. Se Cui é mais causa ou consequência do fervor urbano é o que menos importa, o fato é que ele estava lá, naquele momento, e compôs o hino que marcou uma geração. “Eu quero te dar os meus sonhos/ e te dar a minha liberdade/ mas você sempre ri de mim", de "Nothing to My Name”, são os versos do hino que cantou em plena Tiananmen em frente a sede do governo e a centenas de milhares de estudantes pulando e cantando aos gritos – comportamento esse totalmente não usual do público chinês na época.


Se os pulos e gritos passaram a ser permanentes nos shows de qualquer gênero musical, a imagem libertária da balada mais melosa e do rock mais rebelde dos anos 80 desapareceu. A estética do C-POP e do MandoPOP já não era mais novidade e o rock não era mais engajado politicamente, pelo menos não da mesma forma como foi há 20 anos. “Muitas pessoas acham que uma banda de Rock na China deveria ter mensagens políticas, mas se você analisar as bandas no ocidente, qual a porcentagem delas que faz música com mensagens políticas? Nós queremos que a nossa música reflita mensagens mais profundas e mais pessoais”, diz a vocalista da Hang on the Box (uma das bandas alternativas de maior prestígio na China). Se por um lado a resposta parece ser uma racionalização conveniente da falta de liberdade do país (do tipo “ah, política não importa”), por outro sinaliza um aspecto importante que permeia a divisão que se criou entre o pop (que toca nas rádios e que aparece na TV) e a música que toca no underground e que trespassa a batalha – que todo ocidental quer ver – entre os oprimidos em busca da liberdade e os ditadores. O underground, na China, também busca a novidade. A provocadora a la Madonna, o criminoso a la 50cent e a descompensada a la Britney Spears são estereótipos que não cabem no pop chinês. A imagem vendida é a de garoto bonzinho e de garota comportada e esta mesma receita reflete na falta de variedade musical (o rock, o rap, o R&B são todos distorcidos para caber na fórmula que dá certo). Mesmo que a cena pop chinesa ainda dependa muito da importação dos artistas de Hong Kong e Taiwan, parece que o caráter rebelde do punk, o inconformismo do rock e a crítica do rap ficam na alfândega. É óbvio que existe censura do Partido, mas contestar o governo não é o determinante para o confinamento nos porões dos bares de Beijing, já que a grande maioria das bandas de outros gêneros nem abordam política diretamente. A música pop na China só existe porque se transformou em modelo de conduta para a juventude e reproduz os valores de uma sociedade altamente verticalizada. Traduzindo em termos musicais: Jay Chou, talvez o maior nome do pop chinês, é dono de uma das músicas mais conhecidas, reproduzida por milhões nos Karaokês do país. Em "Listen to Your Mother", ele canta: “Você vai começar a imitar os seus amigos e vai escrever coisas na sua mochila/ Mas eu aconselho que você escreva: Mãe eu vou me esforçar para aprender, eu vou estudar duro”. Apesar dos números incríveis, até agora a importância da música pop chinesa se restringe às fronteiras da China e dos países ao seu redor. É verdade que meio mundo – literalmente – canta o Mando-Pop, mas certamente não é a nossa metade. Em uma parte do documentário Shanghai SuperGirl, que conta a trajetória de Yang Lei, uma das participantes de um dos maiores shows da história da televisão – o Mongolian Cow Sour Yogurt Super Girl Contest, versão chinesa de American Idol que contou com a espetacular audiência de mais de 400 milhões de espectadores – Yang Lei aparece ao lado de um boneco de cera da Madonna e pergunta em um inglês capenga e entusiasmado: “Sou a Shanghai Super Girl! Você sabe quem eu sou?” A Madonna não respondeu.


pergu ntas ilustração, divulgação. A Banda de Joseph Tourton deixou o regionalismo de lado em busca da música instrumental universal.(myspace.com/josephtourton) músic a/

a banda de joseph tourton Como a banda começou?

E vocês fazem intercâmbio musical com essa galera?

Gabriel Izidoro: A banda surgiu da vontade que a gente tinha de tocar só por tocar. Inicialmente, éramos eu, Pedro, Laga e Antonio. Estávamos sem fazer nada e resolvemos nos juntar para tirar um som mesmo, só curtir. Pouco tempo depois, a gente chamou o Diogo pra participar das jams e essa é a formação de hoje.

Somos muito parceiros da Monodecks, apesar de nunca termos tocado juntos. Já fizemos um show com Chambaril, que também são amigos.

De onde veio a ideia de fazer música instrumental? A gente começou só fazendo jams sem vocal mesmo e em nenhum momento isso incomodou. Ninguém na banda canta nem escreve. Foi bem natural.

As composições saem sempre de jams? Geralmente alguém traz uma ideia e a banda toca junto em cima daquilo e vai criando. Às vezes, também saem músicas do nada, começamos a tocar algo, quando fica massa, a gente guarda pra trabalhar melhor depois.

As influências são basicamente bandas de pós-rock, como Explosions in the Sky e Godspeed You! Black Emperor? Eu não conheço nenhuma dessas duas. [risos]

E quais são? As influencias são muito variadas. A gente gosta muito de rock mesmo. Teríamos que citar várias bandas. Também tem muita coisa de Ska, um pouco de Jazz, música brasileira.

Acha que vocês fazem um som diferente do que vem sendo produzido aí em Pernambuco? Talvez. Existem algumas bandas instrumentais bem legais aqui em Recife, como Monodecks, Rivotrill, Chambaril. Mas cada uma tem a sua cara.

Vocês ainda são bem novos. Você mesmo tem 18 anos, não é isso? Como o público encara esse fato? Sou o mais novo, com 18, e Diogo o mais velho, com 20. Mas talvez esse fato de idade seja um diferencial. Eu mesmo acharia bem interessante ver uma banda de pessoas novas tocando algo totalmente diferente do que geralmente quem tem 18 anos faz.

Por falar em público, você acha que cada vez mais a música vai ser feita pra amigos e conhecidos, em vez de grandes plateias? No nosso caso, não é feito pensando primeiramente no público. A gente faz pra agradar a nós mesmos, claro que a gente não deixa de pensar em quem vai ouvir. Mas em primeiro plano vem o nosso próprio gosto.

Quando eu conheci vocês, rolava um EP com três músicas, mas o show tinha mais. Como anda o processo criativo da banda? A gente gravou no mês de estarão no nosso disco. Ele e Marcelo Machado, ambos fazendo a edição, mas tudo

maio oito músicas que foi produzido por Felipe S do Mombojó. Eles estão sem pressa.

Qual a expectativa para os primeiros shows de vocês em São Paulo? A gente nunca tocou fora de Recife e a primeira vez ninguém esquece, né? Algumas pessoas de São Paulo já entraram em contato pra pedir o disco, elogiar. Estamos com boas expectativas.


tv


foto: BOX3

www.elasticafilmes.com.br


nos últimos anos, a televisão vem passando por uma nova fase. diminuiu o monopólio de uma das maiores redes do mundo e entrou a concorrência, promovida por outros dois canais que passaram as últimas décadas à margem, e a interação exagerada com o espectador. só que se há renovação, ela parte de uma disputa de mercados, e não de uma revolução de ideias. enquanto milhões saem dos bolsos de empresários direto para apresentadores e artistas, a qualidade da TV aberta decai a cada dia. assistimos ao melhor da programação e separamos momentos e situações únicas. fica a pergunta:

a tv aberta acabou?

13h15 TV CULINÁRIA Gazeta

11h30 JOGO ABERTO

Bandeirantes

22h10 RODA VIVA Cultura

9h30 TV GLOBINHO Rede Globo

Os desenhos mais chatos do mundo com apresentadores que já estão na segunda fase oral da vida.

Convidada para circular no Roda Viva em uma noite de segunda-feira, a professorinha de moda e etiqueta comportamental Glória Kalil teve um de seus melhores momentos: “Até os anos 50 os homens iam de terno e gravata para o Maracanã. Hoje em dia parece uma fuga da Febem".

Enquanto discutiam o futuro do técnico Muricy Ramalho, o exárbitro Roberto Godoy disse: “Acho isso de ficar discutindo se vai ou não vai [pro Palmeiras] uma grande besteira. Estou preocupado com a renovação do meu contrato, que vence mês que vem. Não vejo ninguém discutindo que canal de TV tá me disputando. Eles que vão pro inferno”.

A amiguinhá (sic) Palmirinha dá oi para cada uma das pessoas do estúdio, citando nomes e falando do sorriso, que obviamente o telespectador não vê. Ela passa o tempo todo falando com a equipe, ora no ponto eletrônico, ora olhando para o lado onde a câmera não está filmando. Um deles reclama que está engordando desde que começou a trabalhar ali. “Gordo não é gordo. Gordo é aquela pessoa que é gorda mesmo.”

13h45 VÍDEO SHOW Rede Globo

O programa começa com apenas dois dos quatro apresentadores. Ao vivo, André Marques entra por telefone para contar que não está bem. Estava na Argentina, voltou com febre e mais todos os sintomas da gripe, que na manhã seguinte se confirmou como a tal da Suína. Fiorella, outra apresentadora, não estava bem também, mas não entrou ao vivo para contar seus sintomas. Pior só a blusa sem manga que a corajosa Angélica usou no Vídeo Game, quadro do programa.


tv por Cristiane Lisbôa; fotografia, Thany Sanches.

no país da piada pronta, os programas de humor cada vez mais assumem: a vida real é bem mais engraçada que a ficção

quem ri por último é brasileiro


Michael Jackson morreu. Ou supostamente morreu. Em cinco minutos, todo blog, twitter, facebook ou nick de MSN que fosse escrito por algum brasileiro tinha uma piada sobre o assunto. Que era imediatamente completada por outra melhor ainda. Ou vai dizer que você não escutou a do Menino Jesus se escondendo atrás das nuvens? Este é só um exemplo da capacidade de piada que se tem aqui, do lado de baixo do Equador. Qualquer assunto acaba tendo um lado cômico e os humoristas profissionais usam cada vez mais descaradamente as manchetes diárias como matériaprima. Para o bem e para mal. Saem um pouco as referências de sempre: o popularesco, as insinuações sexuais e o descompasso social (rico ri do pobre e vice-versa) que quase nunca são suficientes para fazer rir ao mesmo tempo o empresário e a empregada, a sua mãe e você, e entra em cena o dia anterior. Que por ter sido vivenciado por todos, torna-se realmente universal. Quem começou a fazer isso com agilidade jornalística e estrutura global (o que sempre facilita e muito) foi o Casseta & Planeta. Desde sempre fez graça com o que havia acontecido na semana ou há duas horas atrás, fosse na novela, no futebol ou no cenário de Brasília. Atualmente, seus Cassetas devem estar de olho na concorrência. Porque os programas contemporâneos de humor estão mudando nossa maneira de ver o riso. Ele pode ser ácido, pode assustar politicos, pode ter o mesmo sentido independente da classe social. E não deixa de ser uma piada. O primeiro programa a desbravar este caminho fora da Vênus Platinada foi o Pânico na TV. O programa que migrou do rádio chegou chutando a porta da tv brasileira. E sentou na sala. Com o sentido de nonsense no botão “on” eles tiram sarro de Robinho (Pedaaaaala) a Luiz Inácio Lula da Silva, passando por Roberto Jeferson, Carolina Dieckmann e outras personas mas. A graça quase tosca de humor fácil, simples, direto, diário não esconde o sentido político e – porque não? – educativo “Tornar uma situação engraçada funciona como uma espécie de lubrificante que faz com que o assunto seja digerido e compreendido com mais facilidade e rapidez. Mesmo as dores e mazelas podem ser tratadas com humor sem que isso signifique leviandade. Rir de si mesmo ou de uma situação complicada é sinal de inteligência, de capacidade de resolver”, diz Jane Tavares, psicopedagoga. Ou seja, até a Dança do Siri é uma contribuição para que o telespectador reflita sobre

onde estamos, para onde vamos e afinal, meu Deus do céu, que país é este? Outros canais resolveram apostar no tema. Marcelo Adnet e seu 15 Minutos é hoje um dos programas mais assistidos entre os espectadores de 15 a 29 anos. Com roteiros simples e um raciocínio muito rápido, Adnet fuça o Google, jornais e o que mais for possível para colaborar com o roteirista do programa, Theo Poppovic. “O roteiro é uma base, né? Sigo mais ou menos o texto, depende do meu cansaço e da inspiração do dia.” Ele revela falando algo que nem é tão secreto assim. O humor atual vive uma espécie de improviso com script. E tome shows de Stand-up comedy, expressão que significa espetáculos onde o artista tem como suporte apenas o microfone, um texto construído a partir de observações do cotidiano e grande talento para o súbito. Aliás, é desta escola que veio quase toda a turma do CQC (Custe o que Custar), o programa que já teve seus apresentadores vetados do congresso nacional e fez uma campanha de liberdade de imprensa em cima do fato. “Sou fã do CQC há mais de dez anos, quando cruzei com os caras em Buenos Aires. Tivemos uma identificação imediata por conta do Ernesto Varela, que um deles já conhecia. Topei o convite da Band porque acredito que o nível de exigência editorial e qualidade técnica do CQC é uma forma de aperfeiçoar o trabalho que faço na TV desde sempre. E também porque acredito que o telespectador brasileiro esteja aberto e com vontade de mais irreverência e humor para ajudar a digerir as notícias absurdas dos nossos dias”, disse na época do lançamento Marcelo Taz, um dos nomes do time que já era bem conhecido antes do programa. E, para aqueles que acham que o Brasil não vai pra frente justamente porque ri demais, um aviso: este é um preconceito muito século retrasado. “Nos séculos 18 e 19, quem ria era rotulado de abobado. Hoje, a neurôciência prova que rir aumenta a inteligência. E pode não parecer, mas esta não é uma informação recente, ou você nunca escutou: fulano é tão emburrado!” E emburrado quer dizer o quê? Embrutecido, amuado e tolo”, fala o professor Silvio Passarelli, consultor em Criatividade e Humor. Ou seja, a gente ri para seguir em frente. Sem cair. E ainda por cima, se torna mais safo por isso. Você já ouviu uma piada hoje? Não? Ligue a tv. Ou abra o jornal.


ainda não.

20h45 A FAZENDA Record

tv

O áudio é mal equalizado, a edição é estranha e os participantes que estão na Roça (o paredão da Record) levam muito tempo até chegar ao local onde será feita a eliminação, sempre aos domingos. A imagem mostra esta caminhada rumo ao grande nada. Eventualmente, a trilha é a mesma de Twin Peaks. Brito Jr. é a falta de carisma em pessoa e ao anunciar que Dado Dolabella não seria eliminado, ganhou um abraço apertado e um tanto vergonhoso do atorcantor-batedor-de-LuanaPiovani. Ele pegou Brito Jr. no colo e os espectadores puderam ver a calça do apresentador enfiada em uma parte íntima.

21h15 JORNAL NACIONAL Rede Globo

Fátima Bernardes e William Bonner anunciam um momento histórico: Fátima Bernardes: "Seis anos depois da invasão do Iraque, soldados americanos deixam as maiores cidades do país, que reassume o controle do seu território". Bonner: "Esses soldados deixam as cidades e vão fazer o quê?" Correspondente: "Vão ficar em quartéis em várias áreas e podem fazer ações de fronteira com autorização de Bagdá".

22h15 CQC

Bandeirantes

O sério Marcelo Tas parece estar perdendo a linha, depois de 20 anos de jornalismo responsável. Ele falou demais. Chamou as atrizes pornôs Sabrina Boing Boing, Carol Miranda e Júlia Paes de prostitutas: “Olha o perfil das meninas. Sexy Dolls: são seis prostitutas”. Foi corrigido e disse: “Não, sem piadinha, são três atrizes pornôs”.

1h FALA QUE EU TE ESCUTO Record

Entre temas polêmicos, como aborto, homossexualismo e drogas, o Fala Que Eu te Escuto coloca em pauta a “Obsessão pela beleza”. O que se gerou foi o excelente comentário dito por um jovem anoréxico: “Cheguei a tomar detergente e sabão em pó para emagrecer”.

15h55 MÁRCIA Bandeirantes

“Você é um bagaço. E olha que eu tenho senso de estética.” Márcia avisa para um homem que está preso a fios que dizem se ele está falando a verdade ou não. A esposa dele ri e bate palmas. A plateia também. Ele estava mentindo.


cinema



a internet revoluciona o acesso à cultura enquanto transita entre o “proibido e o acessível”

odisséia ilegal

Carros buzinam em frente a um famoso cinema paulistano em uma tarde de domingo, enquanto, no meio fio, passantes observam cartazes de filmes antigos, alguns clássicos cults e outros blockbusters que também estão em exibição – todos expostos ordenadamente em uma pequena banquinha. Ali é a loja de rua do argentino Emanuel Robles, que há um mês vende DVDs no coração da cidade de São Paulo. Sua aparência soa bem aos jovens e descolados clientes, moderninhos e estranhos que sobem e descem. Ele está acompanhado de amigos que tocam melodias no violão, sentados na frente da porta fechada de uma loja. Professor de técnicas circenses e estudante de design de interiores, Emanuel se preparava para voltar a seu país quando a crise financeira começou, em setembro de 2008. Decidiu ficar no Brasil, mesmo sem emprego. Foi aí que se tornou um trabalhador informal: “Comecei a fazer isso quando um amigo me disse que dava para tirar uma grana para o fim de semana,” explica. No

seu cardápio, filmes como Cinzas do Passado, do coreano Wong Kar-Wai, e Cidadão Kane, de Orson Wells. Nem a dez passos acima da barraquinha de Emanuel ficam os ativistas Leandro Chaves e Daniela Souza, integrantes do Movimento Humanista. Há dois anos na mesma rua, eles se limitam a vender obras undergrounds, sempre e somente aos domingos. Ali as atrações são documentários políticos, vindos de toda a Europa e dos Estados Unidos, além de raridades como Powaqqatsi: Vida em Transformação, de Godfrey Reggio, um filme composto apenas de imagens e músicas. “Aqui vem muito professor, muito estudante e gente ligada à arte”, explica Leandro, justificando seus produtos. E se você olhar para toda a extensão da Rua Augusta neste, ou em qualquer outro domingo, o que se vê é um sem-número de Emanuéis ou Leandros, todos alimentando uma enorme parcela da indústria de entretenimento: a pirataria cinematográfica.


cinema/ longa por Artur Tavares e Cristiane Lisbôa (box); fotografia, Luis Badona; ilustração, Mário Niveo.

PRIMEIROS PIRATAS Tudo começou com o advento do Torrent como principal forma de compartilhamento de arquivos pela internet, no começo da década. O formato permite a troca online de arquivos muito pesados, como jogos de videogame e de computador, e os próprios filmes. De repente, uma busca e três cliques se tornaram o suficiente para que qualquer pessoa pudesse ter sua necessidade de cultura – ou alienação – saciada. Assim, pouco a pouco, lançamentos nas salas de cinema passaram a estrear no mesmo dia de sua distribuição online. Hoje o mundo virtual já é responsável pelo vazamento de diversas produções que ainda nem foram mostradas em lugares reais (muitas ainda nem finalizadas são disponibilizadas até mesmo sem efeitos especiais, como aconteceu com X-Men Origens – Wolverine). Não menos importante é a troca de seriados, que chega a mobilizar 50 mil downloads em todo o mundo logo no dia seguinte de sua exibição nos Estados Unidos, como é o caso de Lost. Se antes fãs de todo o mundo dependiam da boa vontade de emissoras e de uma exibição bem cuidada de séries, hoje é raro aquele que espera um novo episódio passar na televisão. Estudos da APCM (Associação Anti-Pirataria de Cinema e Música) indicam que, no Brasil, foram comercializados 41 milhões de CDs e DVDs piratas em 2008. Em toda a América Latina, foram perdidos US$ 1 bilhão com a venda de filmes no comércio legal. Mais: 59% dos DVDs comprados em todo o país são falsos, e ainda assim o faturamento de estúdios com as bilheterias brasileiras chega a R$ 700 milhões em um ano. Determinada a ouvir o que a APCM tem a dizer sobre estes fenômenos, a ONZE ouviu um belo “não” dos porta-vozes do conglomerado. Outro órgão que não quis se pronunciar foi a MPA (Motion Pictures Association), que “não quer se posicionar sobre o assunto neste momento”.

Nada supera a pipoca, a grande tela, o cheiro de bala de menta e os possíveis beijos. Gostamos de salas fora de shoppings, de cadeiras sem muita frescura e de mandar os outros calarem a boca porque o filme está começando. Ver filmes no computador ou em casa não tem graça alguma, além do fato de que é possível fazer isso em trajes sumários e vexatórios. Na dúvida, baixe o filme, assista e depois vá ao cinema mais próximo, reclame do valor do ingresso, entre mesmo assim e, por duas horas, se deixe ser enganado.

“A gente sempre discute a questão do direito, mas não do direito autoral, e sim do corporativo. Conhecemos uma galera que dirige filmes e que sabe que vendemos esses produtos aqui”, começa a explicar Leandro Chaves. “Os que nós vendemos não afetam em nada a indústria, mas acho que essas barracas com blockbusters atingem sim.” Assim que começamos a debater o quanto a internet e a pirataria aumentaram o acesso do cidadão comum à cultura, um simpático senhor japonês entra na conversa: “O que você acha disso, Seu Osvaldo?”, pergunta a ele Leandro. “Aqui, procuro coisa que não têm no cinema, que não têm pra comprar em lojas. Sempre quero o original, mas às vezes não têm para vender. A maioria das coisas que têm aqui, por exemplo, nem vi passar no cinema!.” Osvaldo Takeda havia acabado de comprar três filmes e cobrava do vendedor mais produções científicas – “aquelas que passam no Discovery” – e também documentários sobre espiritismo e ufologia. “Tem mercado para isso, mas os que podem lançar não lançam, ou não fazem propaganda o suficiente. Venho procurar aqui e não tem também”, desabafa. PIRATA DO FUTURO Se o acesso é difícil pelas escolhas de lançamentos que as distribuidoras tomam, é também pela falta de tempo das pessoas. Pensando nisso, o físico Daniel Topel fundou a NetMovies, a maior locadora online de filmes do Brasil. Ela funciona da seguinte maneira: o internauta paga uma taxa mensal de assinatura e pode pedir os filmes que quiser. Eles são entregues por motoboy e não têm prazo de devolução. São quatro estados atendidos – SP, RJ, MG e PR –, com intenção de expansão para todo o território nacional ainda em 2009. “A ideia da NetMovies surgiu com a megafrustração de pagar multa e pegar trânsito ao voltar de uma locadora tradicional. Hoje, nossa missão é manter tudo que é bom do ato de assistir filmes em casa, removendo tudo que era ruim no esquema convencional de fazer isso.” Topel ainda diz que as mais de cinco milhões de locações que fez em 2008 são resultado da combinação de fatores como: “preço, tamanho do acervo e comodidade”. Para ele, a própria locadora como forma final de acesso ao cinema está em declínio, devido ao modelo de cobrança adotado e também ao fato de priorizar lançamentos. A verdade é que clientes da NetMovies não são tão diferentes assim daqueles dos camelôs do centro paulistano: “Acredito que a ilegalidade só existe por haver uma demanda não atendida pelo mercado. Em geral, nossos assinantes consomem um mix de lançamentos, seriados, clássicos e uma boa dose de produções obscuras. No formato de assinatura, o assinante fica livre para escolher e a liberdade faz com que o foco não fique exclusivamente em lançamentos”. E se o novo consumidor sabe que o que importa é assistir a um filme largado no sofá, quem também está ligado na tendência são os integrantes de equipes de legendas, que passam madrugadas a fio traduzindo filmes e seriados com uma única intenção: se divertir. “Numa época em que a tecnologia possibilita fluxo de montantes vultuosos de dados em grande velocidade, séries serem lançadas com atraso de alguns ou muitos meses no Brasil, já é uma das razões pela qual a divulgação de séries na internet tem tantos adeptos. Há


canais ainda cujas legendas apresentavam qualidade sofrível, as legendas da Warner para The Big Bang Theory, por exemplo, é um ultraje à obra e gera o sentimento no fã de confeccionar algo digno da série,” explica Capitão DarkSide, um dos comandantes do grupo Dark Legendas. DarkSide, que não quis se identificar, disse que não apoia o comércio paralelo, e que o que sua equipe – com mais de 80 integrantes! – faz não tem nenhuma relação com a pirataria: “Acompanhamos as séries desde as primeiras notícias de pré-produção, legendamos vídeos promocionais, criamos comunidades no Orkut, blogs, sites, fóruns. Quando a série é efetivamente lançada no Brasil, já tem milhares de fãs!” Porém, ele não perde a oportunidade de criticar a indústria: “É preciso adequar os meios de difusão de cultura de modo a prestigiar os proprietários intelectuais e oferecer a custos e

velocidade compatíveis com o imenso potencial de acesso da internet. Mas a indústria prefere adotar a retrógrada postura de tentar barrar o intercâmbio de cultura da rede em vez de se adaptar e oferecer serviços consonantes com a demanda do público contemporâneo. Não é mais necessário papel para ler um livro, CD para ouvir uma música ou DVD para ver um vídeo e o conceito de legalidade atual remonta a esse tempo em que informação e o material físico no qual estava contida eram indissociáveis”. Indissociável ou não, certo é que a pirataria democratizou um pouco mais o acesso à cultura. Todos concordam: os legendadores, os camelôs, o usuário final – fã ou curioso – e mesmo as indústrias cinematográficas. Só que estas ainda acham que a banalização é mais importante para a sociedade do que o ser crítico e pensante.

O que é? Torrent é uma forma de compressão e compartilhamento de arquivos. Permite que usuários online compartilhem arquivos de qualquer tamanho – qualquer um mesmo. É possível transferir um filme de um computador a outro em duas horas, seriados em uma hora, e discos inteiros em dez minutos. O formato é uma revolução também por conseguir agregar em um mesmo arquivo discografias inteiras, ou mesmo coleções inteiras de um cineasta ou artista.

Como baixar? Baixar um torrent é mais simples do que procurar um arquivo em sites como Rapidshare, e mais seguro do que em programas como o eMule, repletos de vírus. Para baixar um torrent, primeiro de tudo é preciso ter um cliente (um programa como o uTorrent, ou o Azureus) que leia o formato. Depois, é só ir para sites de procura, conhecidos como trackers. É praticamente impossível não encontrar alguma coisa na internet.

Por que existem diversas versões do mesmo filme? O iniciante no mundo dos torrents pode ficar meio perdido quando vai procurar um filme e encontra diversas versões deles. Qual baixar? Imagine que você está procurando a segunda parte de Che. Você vai encontrar as seguintes versões: Che.Part.Two.2008.LIMITED.DVDRip.XviD-BeStDivX; Che. Part.Two.2008.LIMITED.DVDRip.XviD-BeStDivX.[www.FilmsBT.com]; Che.Part.Two.2008.LIMITED.NTSC.DVDR-BeStDvD, entre outros. Perceba que em cada um deles se repete a tag DVDRip (Ou DVDR), que significa que a imagem tem qualidade de DVD. Há também aqueles classificados como CAM, ou TS, que são de gravações feitas por câmeras de mão em cinema, com qualidade pior. Na hora de baixar, procure versões maiores (em tamanho de megabytes) e com a melhor qualidade possível.

Ei! Eu não entendo inglês (e outras línguas). Como usar uma legenda? Uma vez que o filme foi baixado para o computador, o usuário precisa de um programa para executá-lo. Para os fluentes em inglês e outras línguas, e que não precisam usar legendas, um simples Windows Media Player basta. Já aqueles que usam legenda precisam ficar atentos. As equipes que fazem traduções para filmes escolhem apenas uma versão para legendar. Voltando ao exemplo de Che, a legenda feita para Che.Part.Two.2008.LIMITED.DVDRip. XviD-BeStDivX será diferente daquela preparada para Che. Part.Two.2008.LIMITED.DVDRip.XviD-BeStDivX.[www.FilmsBT. com], principalmente devido à linguagem e ao tempo de sincronização. Fique esperto para não assistir a um filme com delay entre áudio e legenda.

Fiz tudo certinho, mas o filme não roda... Se isso está acontecendo, o motivo mais provável é a falta de algum codec instalado na sua máquina. Para um vídeo funcionar perfeitamente, é preciso que códigos específicos leiam informações de áudio e vídeo. Hoje, existem pacotes gratuitos de codecs para download, como o K-Lite, que resolvem todos esses problemas de uma vez só.

E se eu uso Macintosh, também consigo ver filmes? Sim, inclusive os mesmos programas para download podem ser usados. Já para assistir, a coisa fica um pouquinho mais complicada. O visualizador que recomendamos é o Classic Player, mas para a legenda e o filme funcionarem juntos, eles precisam ter exatamente o mesmo nome, cada um com sua extensão: AVI para vídeo e SRT para legenda.


cinema/ média por Ademir Correa; fotografia, divulgação.

atriz nova-iorquina, homônima da esposa de William Shakespeare, completa dez anos de carreira sem (muitos) escândalos, drogas ou nudez proibida

desconstruindo

anne


A Rainha Branca de um faz de conta gótico ou a desequilibrada que atormenta a família nos preparativos de um casamento. A agente secreta que presencia uma sucessão de gafes bem filmadas. Uma assistente que sofria alfinetadas da chefe monstro-fashion enquanto trabalhava em uma revista. Por algum tempo, viveu a escritora Jane Austen, mas também já foi uma vencedora de rodeio apaixonada por um cowboy gay. Em sua trajetória, lutou em guerra de noivas e começou tudo isso como nobre de um país fictício que tinha Julie “A Noviça Rebelde” Andrews como majestade. Mas, fora das telas, são tempos cruéis. Daqueles que transformam curvas em retas (anorexia leve para personagens em queda), fazem dos lábios, almofadas vermelhas (para evitar rugas, ganhar contratos milionários de cosméticos e beijar em close) e deixam seios iguais a coletes salva-vidas. Mesmo assim, Anne Jacqueline Hathaway se destaca como “atriz” e inspira sua carreira em nomes como Kate Winslet e Meryl Streep. E essa nova-iorquina do Brooklin coleciona pouquíssimos escândalos próprios. Precisou explicar a vida de sua ex-cara-metade – o empresário italiano Raffaello Follieri, preso por conspiração, fraude e lavagem de dinheiro –, mas conseguiu manter seu carisma intacto. Anne nunca teve uma imagem roubada por paparazzi. Não foi encontrada muitas vezes a bordo de blusas transparentes ou vestindo calcinhas invisíveis embaixo das saias. Sequer viu vazar sex tapes ou precisou explicar sua intimidade em um programa de entrevistas, e nem saiu cambaleando de uma festa, visivelmente alterada e amparada por um segurança. Não tem ficha por porte de drogas ou por dirigir sob efeito. Talvez tenha contratado o melhor agente de atores do mundo. Ou, quem sabe, nem precise de um desses tipos salvadores de imagem. Muito pouco, ou quase nada, se fala sobre seu cotidiano certinho (deve ser daquelas espertas que escondem o que não pode ser dito ou visto). Hathaway não contribui para a venda de tablóides, uma exceção em uma geração de garotas-problema que chamam mais atenção pelo corpo e pelas compras do que pelas boas cenas. Lindsay Lohan, por exemplo, é a “problemática” de plantão que vive em um documentário (sustenta um lesbianismo temporário) e agora tenta, a todo custo, voltar à ficção. Scarlett Johansson? Uma lolita de carne com muito mais atributos físicos do que intelectuais (até agora). Mischa Barton cria bolsas para grifes pela simples falta de papéis e Sienna Miller coleciona namoros. Ah, tem ainda Megan Fox: a modelo de lingerie da hora (deve substituir Angelina, a máquina de adoção, na boca e nas tatuagens). Anne parece, sim, se entregar aos papéis, aos diretores e aos bons roteiros, comerciais ou não. Bendito Ang Lee, que a colocou na traseira de um carro tirando seu figurino country para uma rapidinha. Em segundos inesquecíveis, seus seios fartos, movimentando-se ao sabor da volúpia e da gravidade, quase interpretam. Êxtase. Safadeza. Boa arte. Com dez anos de carreira, estreou na série de tv Get Real, ela não buscou a fama e acha curioso ser tratada como uma celebridade (boa máxima para ser dita a repórteres de porta de estreia, não?). Mas está pronta para encarnar Judy Garland, estrela do passado, com a qual sempre foi comparada. Interpretações à parte, Anne Hathaway também é a nebulosa esposa do dramaturgo inglês William Shakespeare que nunca se interessou por ler uma página da obra do marido (diz a história). Muito se conta sobre as traições que sofreu e sabe-se dela por especulações seculares e por sua presença no livro de Robert Nye, O Relato Intimo de Madame Shakespeare. Discrição parece ser a tônica das mulheres que carregam esse nome.


cinema/ cu rta por Ademir Correa; fotografia, divulgação.

bette davis, we love you

porque um clássico precisa de vícios e vilões


o trailer

o filme

(Sala. Jornalista e estrela estão sentados lado a lado no sofá) O repórter: Srta. Davis, desde que cheguei no set, só ouço discussões sobre Eve. Poderia me dar sua opinião sobre ela? Bette Davis: É a garota dourada, a garota ambiciosa, a garota comum, a garota na Lua. O tempo tem sido bom para Eve e a vida vai aonde ela vai. Ela foi estudada, noticiada; fizeram sua crítica, seu perfil... O que ela veste, quem ela conhece, onde ela estava e quando ela irá. Eve tem talento e ambição insaciáveis. Uma pessoa com um desprezo pela humanidade e uma inabilidade para amar ou ser amada. O repórter: Mas como uma mulher assim consegue enganar tanta gente? Bette Davis: Como todas as Eve fazem... (ela olha para o lado, com desdém)

Traillers são quase sempre muito melhores do que os filmes. Esse definitivamente não é o caso de A Malvada (All About Eve, 1950, dirigido por Joseph L. Mankiewicz), obra máxima da sétima arte que narra o declínio de Margo Channing (Bette Davis) nos palcos da Broadway e a ascensão de Eve Harrington (Anne Baxter) nesses mesmos teatros, cau-te-lo-samen-te. O título em português parece remeter a possíveis maledicências de Bette (sempre uma vilã da arte), mas as cenas narram a ação da inescrupulosa Eve – a manipuladora com cara de “posso ajudar?”. É ainda da velha Hollywood – quando estrelas arriscavam papéis que poderiam falar sobre elas indiretamente, o que aumentava a mitologia em torno das histórias filmadas. Também vem de uma safra de vícios explícitos – álcool, chocolates, cigarros – e pregava um antimaniqueísmo – todos são bons ou maus, como na vida. Diálogos certeiros (para repetir em momentos reais cruciais), clima de glamour e decadência, fotografia em preto e branco, ousada (para a época) narrativa em flashback, elenco consagrado e novas promessas (como Marilyn Monroe, ainda sem vento, interpretando a casta Miss Casswell). “Apertem os cintos de segurança. Vai ser uma noite turbulenta”, dizia Margo Channing ao receber seus convidados de cena e da plateia. A Malvada, baseado em um acontecimento real envolvendo a atriz Elizabeth Bergner nos anos 40, é a queda explícita do bom-mocismo, a falência do caráter, a relevância das aparências, a aura fake da indústria cultural e seus bastidores. Festas sob efeito de drinques e decotes definem papéis; os limites da cama formam estrelas; talento e suas conexões mais sujas. Uma ode à ironia, um tributo à inveja, uma celebração do cinismo. Ego. Fama. Glamour. Luxúria. Sonhos de todos aqueles que amam o cinema e suas memórias.


pergu ntas ilustração, poster do filme. Com 20 anos, o estudante de cinema Matheus Souza pegou uma câmera emprestada da faculdade e fez um filme que deu certo. cinema/

matheus souza Como era a sua vida antes de dirigir o longa Apenas o Fim?

Como tem sido a recepção do público?

Matheus Souza: Eu ia ao cinema todos os dias, ia para a faculdade, escrevia bastante, saía com os amigos, jogava videogame, etc.

Quem gosta, gosta muito, o que é bacana.

De que jeito você viabilizou as filmagens? Tentei superar os obstáculos de uma forma criativa, sem desanimar. E bati na porta de todo mundo que poderia me ajudar. Bati na porta do diretor do departamento de Comunicação Social da minha universidade para conseguir os equipamentos, do Marcelo Camelo para conseguir uma música, da Mariza Leão para ajudar na finalização...

Se você tivesse mais dinheiro, as coisas teriam sido muito diferentes? Teríamos feito os mesmos acertos e erros. A única diferença é que sentiríamos uma culpa maior pelos erros.

O quanto da sua própria vida está presente neste roteiro? Muito. Para mim, já era meio megalomaníaco fazer um longa aos 20 anos. Então, resolvi ser simples na temática e no conteúdo, falando sobre o que sabia falar.

Quem trabalhou com você nessa? Meus amigos da faculdade na equipe e meus amigos do teatro Tablado no elenco (Erika Mader e Gregório Duvivier). Eles se empolgaram e resolveram embarcar sem ganhar nada.

Tem conferido a bilheteria de perto? Acompanho de maneira saudável. Sou muito neurótico, então resolvi que ia tentar segurar um pouco a minha ansiedade em relação aos números envolvidos.

Ser visto como uma aposta para o cinema nacional encoraja ou atrapalha? É um título que pressiona. Mas é bom ser pressionado, porque aí não farei algo preguiçoso logo em seguida.

Com referências típicas dos jovens dos anos 90, você acha que Apenas o Fim pode ficar datado ou direcionado para um público específico? Ao mesmo tempo, falo do assunto mais universal possível, as relações humanas, os relacionamentos. Ou seja, vale pra qualquer um.

Para você, o nosso cinema ainda está muito engessado na linguagem das novelas? Não. A produção nacional está cada vez mais plural. Vejo aqui como um dos melhores nichos da produção mundial, com defeitos e acertos como em qualquer outro país.

Já assistiu pornochanchada? É uma das melhores opções da tv a cabo de madrugada.


crítica


Móveis planejados. Do seu jeito.

I N S TA L A Ç Õ E S

COMERCIAIS & RESIDENCIAIS

www.jcfonline.com.br


SEMÁFORO Para pessoas Em frente ao conjunto nacional

CINEMA A Erva do Rato Dirigido por Júlio Bressane

Para amar o cinema. O realismo ensaiado e uma plausível banalidade das relações. Uma situação de Deus ex machina para abalar a insensibilidade tela-plateia. A construção de um elaboradíssimo pensamento através da fotografia, como uma boa escola de contemplação. Autorreferência, comentários de autor unidos às cenas. Experimentação visual que põe em discussão a tradição e o declínio do cinema como conhecemos. Concessões de um diretor visto como maldito para todo o sempre. Um ator chama-público, uma atriz rebelde (e nua), um roedor coadjuvante – os três testando nuances de seus próprios estereótipos. São essas as características que levantei sobre A Erva do Rato, obra-prima suprema escrita e dirigida por Júlio Bressane, uma semana depois da exibição. (Ademir Correa)

MANGÁ Gourmet Escrito por Jiro Taniguchi e ilustrado por Masayuki Kusumi

CD Far Regina Spektor

Cantar no chuveiro será uma nova experiência Com voz doce e um dedilhar de pianos bem colocados, o novo álbum de Regina Spektor, Far, ganha uma crescente pop para embalar seus vocais debochados. A fórmula continua a mesma dos álbuns anteriores, de instrumental bem marcado e os vocais seguindo os altos e baixos das faixas, mas agora aparentemente mais bem colocados em arranjos elaborados e referenciados com um toque blasé característico da cantora. Soa como a canadense Cat Power, sem a tristeza de suas músicas. Perfeito para alegrar dias nublados. (Fábio Polido)

LIVRO A memória que vem dos pratos. O protagonista da história é um comerciante de produtos importados. Em suas andanças pelo Japão, passa sem muitos detalhes por reuniões de negócios, pela busca por um local onde possa abrir uma loja, e o forte da história acontece mesmo nos momentos em que a fome aperta. É nessa hora que o enredo ganha peso e forma. Nada sobre a vida deste comerciante é revelado, você passa a conhecê-lo pala escolha de seus pratos – muito bem descritos –, e pelas memórias que estes sabores incitam. Sem contar as boas observações das ruas japonesas, como esta: “Não entendo por que as lanchonetes de fast food do Japão têm uma aparência tão infantil”. (Adriana Alves)

O Milagre dos Pássaros Autor: Jorge Amado

O conto do melhor romancista. Livro com um conto ilustrado por Joana Lira e suas cores que queimam os olhos. Sexo, graça, lirismo, o impossível. Está tudo ali, condensado no gênero pouquíssimo usado pelo autor. Talvez porque ele preferisse as largas ruas do romance, onde é possível espalhar os fatos. Ou, como explica Ana Miranda, chamada para comentar a edição, Jorge Amado tenha escrito e publicado apenas oito contos ao longo da carreira pelo simples fato de ser frondoso. Bons os dias em que ele acordava disposto à prosa miúda. Boa ideia esta de lançar livros com edição caprichada e preço dentro do nível da decência. Milagres são sempre bem-vindos. (Cristiane Lisbôa)

O de sempre com som sem fúria Por incrível que pareça, 90% das pessoas realmente atravessa na faixa de segurança, todas ao mesmo tempo e em passinhos ritmados como se fosse alguma imagem de Nova York ou Hong Kong. Se for de dia, tudo vai ser muito rápido e sem sustos, mas a noite reserva surpresas. Na espera tem um som de sax, as pessoas se olham bem de perto e, em momentos de sorte, alguém interessante puxa um papo. Converse. Se possível, ria. Mas dispense a 'possibilidade de' assim que pisar na calçada. Não se pode descer a Augusta com desconhecidos. (C. L.)

TV E-24 TV Bandeirantes

Sangue e desorganização na saúde brasileira. Reality shows baseados em questões de saúde costumam ser os mais abusivos dentre todos os possíveis nesta categoria de entretenimento. Mostram dramas familiares e violência gráfica – sangue, ossos expostos, vômito, muita gente chorando – em histórias que servem mais para expôr alguém do que para ensinar algo prático e verdadeiro sobre a medicina. Com E-24 não poderia ser diferente. O programa mostra de forma crua a rotina dos prontos socorros e hospitais brasileiros. Tem corre-corre, gente que bate no pai idoso, fraturas expostas, médicos que fazem de tudo para salvar vidas humanas. A diferença aqui é que a realidade da medicina brasileira não é tão linda quanto consultórios de cirurgiões plásticos hollywoodianos (você já viu um procedimento de implante de silicone pelo umbigo?). Tem fila de espera, corredor de chão sujo, mau atendimento por conta dos servidores públicos. Perfeito para tomar um chazinho antes de ir pra cama. (Artur Tavares)


BALADA ChaChaCha São Paulo, 16 de junho / Vegas Club

crític a Quanto vale a rodada? 0 lata (nojo), 1 lata (golpe), 2 latas (pode melhorar), 3 latas (até rolou), 4 latas (muito legal), 5 latas (incrível).

CINEMA Ação entre amigos. A jornalista e curadora de arte Alessandra Marder veio tentar a vida em São Paulo – já tinha muitos contatos, bons trabalhos e uma tendência avassaladora de criar vanguardas e sobreviver no mundo pop. Para não perder amigos, criou um churrasco de domingo (indicado aos gaúchos e agregados) e uma festa mensal (com mais dois parceiros). Eram tempos de trocas com os hermanos, ela já sabia disso bem antes, e sua balada recémsurgida celebrou a musicalidade latina. Isso tudo, há dois anos. O churrasco também virou semifesta à tarde, mas agora é um projeto sazonal. A noite, conhecida como "ChaChaCha”, continua todo mês – foi de um minibar cult (o Astronete), para uma casa underground de dois andares (a FunHouse) até chegar a um club (o Vegas). Essa última edição teve show do coletivo Zizek, que levou sua cumbia eletrônica para um público cativo que fez das noites de terçafeira um tempo de bailar. (A.C.)

Transformers 2: A Vingança dos Derrotados Dirigido por Michael Bay

SEMÁFORO

Robôs, ação, humor e uma mulher muito gostosa. Promessa de ser o maior blockbuster do ano, a continuação do também grandioso Transformers já começa a todo vapor. Carros que se transformam em robôs se metem em uma perseguição cheia de explosões e efeitos especiais, o suficiente para situar os espectadores da evolução da história, que pula dois anos do fim da primeira produção. Daí pra frente, Shia LaBeouf e a maravilhosa Megan Fox travam os olhos dos espectadores na tela por quase todas as duas horas e meia de filme, que decai só nos extremamente tediosos 20 minutos de sequência no deserto egípcio. Os robôscarros gigantes são um atrativo a mais, claro. Eles estão mais reais. Falam, se mexem e têm uma textura que realmente fazem o fã acreditar que eles estão lá. Só que de todos os méritos que Transformers 2: A Vingança dos Derrotados tem, o filme ganha mesmo em seu humor. As sequências entre LaBeouf e seus pais são impagáveis, dos conselhos do chefe da família em relação as universitárias à superproteção da mãe, muito mais evidente depois da ingestão de meia dúzia de cookies de maconha. (A.T.)

Para carros Rua Oscar Freire esquina com a Augusta

RESTAURANTE Churrascaria Tendal Grill Rua Martinho Prado, 165. Bela Vista, SP

Não use o tempo parado para tirar a sobrancelha com pinça. Se você tem carro e precisa chegar a algum lugar, tente não pegar esta rua em momento algum. Se você quer ver e ser visto, corra para lá. Vindo da Rebouças, os carros andam devagar para que as pessoas possam olhar as vitrines. Todo mundo fala no celular dando abaninhos discretos para sabe-se lá quem. Quando chega no semáforo, nada anda mas ninguém buzina. Elegância. Educação. Tempo para jogar no trânsito. Perto da Osklen tem um tio que vende pipoca com queijo e leva dentro do carro. Não esqueça desta informação. (C.L.)

Rodízio por 12,90 com o melhor arroz de São Paulo. O chão escorrega, como em toda boa churrascaria. A carne é decente, não vem torrada, seca e cheia de alho. O buffet tem uma salada de maionese que nunca fez mal a ninguém e um arroz branquinho, solto, com gosto de “minha mãe que fez”. Bom até pra quem não gosta de carne porque tem feijão preto sem as partes pudendas do porco e sempre uma opção de peixe assado. Um quadro a óleo do Senna (o Ayrton) e duas TVs que não são de plasma decoram com simplicidade elegante o local. Vale mais do que custa. Mas o drink rosa e leitoso, sem álcool, que o garçom oferece é à parte. (C.L.)

CD Pelo Sabor do Gesto Zélia Duncan

Igual, mas diferente. O CD com bom título foi dirigido por John Ulhoa e Beto Villares. É todo agridoce. Parece o de sempre, mais um da Zélia Duncan com poesias musicais, mas tem umas pequenices novas, um sopro de violão e brinquedos de plástico. Há uma versão bonita de “Telhados de Paris”, clássico de Nei Lisboa que, aliás, não é meu parente. Tem letras que se aprende logo e sons bons de escutar aos domingos, quando chove. Não vai fazer quem não gosta da Zélia Duncan começar a gostar, mas e dai? (C.L.)

MULTIMÍDIA Voltaic Björk

Estética do frio extremo. A esquimó islandesa que parece nunca crescer (ela não quer ser a Wendy) traz Voltaic em três versões – standard, deluxe e vinil deluxe. É uma declaração de Björk para seus amantes (fãs inveterados), um presente de comemoração ao seu último disco, o étnico Volta, de 2007 (na época declarado pela própria artista como seu trabalho mais popular – só que ninguém concordou com essa afirmação pela inconstância e multiplicidade de escolhas musicais experimentais que passavam bem longe de uma tentativa de ser pop). O Box Set vem com dois CDs – o primeiro com um ao vivo no Olympic Studios, o segundo de remixes – e dois DVDs – um show em Paris e Reykjavik (ela é de lá) e o outro com 15 vídeos. Mas nada disso é realmente relevante quando estamos falando da única artista capaz de soltar teias de aranha pelas mãos na frente de todo o mundo. (A.C.)


SAPATO Melissa Zaha Hadid

CINEMA A Era do Gelo 3 Dirigido por Carlos Saldanha

Mais do mesmo. Quando se chega na terceira sequência de um filme, é óbvio ululante afirmar que ele foi um sucesso. E também que talvez seja fácil fazer mais um campeão de bilheteria. Será? O terceiro A Era do Gelo certamente vai render espectadores, licenciamentos e tal. Mas decepciona um pouco. O humor é aquele de sempre, o problema é que no terceiro pedaço de bolo de chocolate ele continua bom, mas já nem tanto, né? Agora são dez personagens “principais” na tela em uma aventura pelo mundo dos dinossauros. Scrat, o esquilinho louco pela noz ganha mais espaço e uma fêmea, Scratita, mais burra e louca que ele. Buck, uma doninha caolha e pirada guia a bicharada pela história. E faz rir com gosto. A novidade tecnológica é que A Era do gelo 3 tem cópias em formato 3D. O que não significa que seja obrigatório assistir neste formato. De qualquer modo, é legal, mas não muito. Faz rir. Mas só as vezes. Vale o ingresso. Se for sábado e você estiver cuidando da afilhada do namorado. (C.L.)

DVD Milk – A voz da Igualdade Dirigido por Gus Van Sant

Design em plástico de saltinho . Melissinha com design da arquiteta iraniana Zaha Hadid e que, assim como as obras da artista em questão, tem recortes especias e formas sinuosas, quase impossíveis. Linda. Mais de ver do que usar, fato. É preciso boa vontade para adequar a forma ao pé, esta coisa tão humana e pouco anatômica. A canela engrossa um pouco pelas tiras e o andar de gazela fica um tanto prejudicado nas primeiras tardes de uso. Nada que o tempo e uma bacia de água morna com sal grosso não cure. Até porque, vale a pena. (C.L.)

CD 3 Nouvelle Vague

Bom para assovios. Em seu terceiro álbum, os franceses do Nouvelle Vague voltam com pegada intimista e melodias country. Como sempre, segue-se a fórmula de fazer covers que agora contam com participações de Ian McCullough (Echo & The Bunnymen) – em “All My Colors”, uma das melhores músicas do disco – e Martin Gore (ex Depeche Mode) em “Master & Servant”, com trotes típicos de música country. Ainda há espaço para Sex Pistols (“God Save The Queen”), Violente Femmes (“Blister In The Sun”), Talking Heads (“Road To Nowhere”) e outras, reconstruídos em arranjos de bossa nova, country e até uma mistura de surf music com ska, que dá bem certo. Boa pedida para ouvir no carro, no iPod e nas horas de se pensar um pouco. (F.P.)

CORPO Boca da Babi Xavier Ativismo gay sem desmunhecar. Milk, do celebrado diretor Gus Van Sant, e estrelado pelo ganhador do Oscar Sean Penn (por sua atuação no filme), chega às telas caseiras para aplacar o coração das donas de casa que ainda não descobriram sobre a sexualidade e um possível espírito militante de seus filhos. Com um ritmo clássico de cinebiografias, o filme consegue se equilibrar bem para contar a trajetória de Harvey Milk, primeiro político assumidamente gay a conquistar um cargo público nos EUA. O tom é de ativismo gay, e segue reforçado por um roteiro afinado e a atuação incorporada de Sean Penn, que não trava nas poucas cenas calientes e compõe um personagem real, para uma luta mais séria ainda. (F.P.)

HQ Três Dedos Roteiros e desenhos: Rich Koslowski

Mickey bêbado amputa dedos de colegas. Os americanos acabam de passar pela Depressão de 29. O mundo é parecido com o de Roger Rabbit, no qual cartuns animados e pessoas normais convivem com harmonia – ou quase isso, já que os desenhos são marginalizados em guetos. Só que tudo isso muda quando Rickey Rat, um ratinho divertido, estoura no mundo do entretenimento. O documentário em quadrinhos Três Dedos, escrito e desenhado por Rich Koslowski, chega ao Brasil para explorar a relação entre Rickey e seus companheiros (versões distorcidas de Patolino, Gaguinho, Frangolino, Piu-Piu, entre outros) no difícil mundo da fama. O mote é explicitar o quanto uma pessoa se vende pelo sucesso, usando como metáfora a dilaceração do polegar opositor para se parecer com o astro da vez. Rickey, o rato de três dedos, força direta e indiretamente seus companheiros a perder seus dedos – causando gangrenas, amputações e traumas psicológicos em cada um deles. A HQ, vencedora do Ignatz Awards – o mais importante prêmio dos quadrinhos independentes –, chega por aqui em uma época de gibis independentes em baixa, muito devido a um quase-monopólio da maior editora do país. Mesmo assim, é um alívio que ela finalmente tenha chegado, quase quatro anos após seu lançamento. (A.T.)

LIVRO Bili com Limão Verde na Mão Autor: Décio Pignatari

Biquinho eterno. Bom, quem acompanhou nos últimos tempos a ex-apresentadora, exMTV, ex-qualquer-coisa-no-SBT e ex-bonita Babi Xavier, sabe que ela deu uma arrumadinha na boca. Não sei ao certo se “arrumadinha” é o termo correto, mas que aquilo ficou estranho, ah ficou. Parece que ela esta eternamente fazendo um bico e questionando “to sensual?”. Angelina Jolie não exerceu uma boa influência para os lados de cá. Babi achou que se talvez tivesse lábios menos finos, poderia conseguir melhores trabalhos. Realmente isto não aconteceu. Ela foi parar na Record, dentro do reality show de celebridades C, A Fazenda, que é muito bom de tão ruim. (A.A.)

Gênio de ler. Décio Pignatari conta uma odisséia infantil, para adultos, com a precisão da poesia e com a necessidade pungente de transformar escritos em formas, formas em letras, letras em possibilidades de história. Concretismo, experiência, falta de pontuação para testar simultaneidades de acontecimentos. Bili com Limão Verde na Mão é de ler, de ver, de ter. É de um mestre. Visualmente irretocável, mantém o cuidado de um livro-objeto, quase uma escultura de papel. (A.C.)


DVD O Dia Em Que a Terra Parou? Dirigido por Scott Derrickson

BALADA

PESSOA Maysa com ou sem Silvio Santos SBT

Quem são os pais desta criança. Silvio Santos vitou aquele avô sem noção que belisca o neto até ele fazer uma careta engraçada e faz a família inteira rir disto. Até aí, oito entre 11 pessoas devem ter uma história parecida. Mas ninguém passou por nada deste tipo ao vivo, na TV, diante de uma plateia e milhares de espectadores. Maysa é uma criança chatinha, crespa e cuja falta de educação é interpretada como graciosa. Mas precisa levar umas palmadas - sim, juizado de menores eu acredito em palmas bem dadas e uns xingões da própria mãe, não do patrão. E em casa. Por hora, a justiça teve que se meter e proibir a chatinha de trabalhar com Silvio. Não vai adiantar nada, mas o show tem que continuar. Lalalalaaaaaaa-la-la (C.L.)

DVD

crític a

Coraline e o Mundo Secreto Dirigido por: Henry Selick

Tim Burton está com inveja. Uma portinha é aberta e um mundo todo se revela para uma menina. A história pode até parecer uma velha máxima, mas tirada de um livro do britânico Neil Gaiman e animada pelo diretor Henry Selick (o mesmo que fez O Estranho Mundo de Jack), Coraline e o Mundo Secreto consegue torcer com o imaginário de crianças e adultos. Agora na versão em DVD, a bela animação lançada no começo do ano ganha extras especiais com cenas excluídas, bastidores contando a evolução da história, a preparação dos bonecos e palco, que para se ter ideia, contou com a presença de 250 mil pipocas pintadas de rosa só para forjar as flores de uma árvore. O resultado é das coisas mais divertidas lançadas nos últimos tempos, misturando fofurices com pesadelos e algumas músicas que logo se perdem no inconsciente. (F.P.)

Obviedade com efeitos especiais. Tudo está muito normal no mundo quando caem na Terra algumas esferas vindas do espaço. Em uma delas, a principal (que cai obviamente no lugar mais importante do mundo para os norte-americanos, Manhattan), está o alienígena que traz a notícia da tragédia: a Terra precisa ser salva e para isto os seres humanos precisam ser eliminados. Óbvio que ele muda de ideia e óbvio que isto acontece quando ele nota os sentimentos caros à nossa espécie. Vale pra ver de madrugada, quando estiver chovendo, não houver mais nada na TV aberta e você estiver completamente à toa, com todos os seus amigos viajando. E antes que eu me esqueça, o ET é o Keanu Reeves e – caso isto ainda importe – o DVD tem muitos extras. (A.A.)

CD West Ryder Pauper Lunatic Asylum Kasabian

Rock pra bater cabelo. Os dois primeiros singles deram indícios de que este seria um trabalho muito melhor do que o anterior da banda, Empire (2006). “Fire” é um western rock incrível, e “Vlad The Impaler” é um rock acelerado e insano calcado nos anos 70. De brinde, esta faixa ainda serviu de base para um clipe sensacional, baseado em filmes de terror também dos 70. Mas aí o disco chegou e se manteve brilhantemente à altura das expectativas geradas com estes dois primeiros lançamentos. Abre com “Underdog”, climão épico, guitarras rasgadas, depois passa pela dançante “Where Did All The Love Go” e vai para faixas mais psicodélicas, algumas mais lentinhas, outras muito aceleradas. Belíssimo. (A.A.)

CORPO Juliana “Bunda” Paes e Dira “Peitos” Paes Caminho das Índias

Peito, bunda e cérebro? O que dizer das curvas dessa família? Juliana esconde seu tesouro debaixo do sari e Dira mostra os gêmeos no decote, são os personagens que pedem esse recato e essa entrega. As duas têm talento (até que se prove que fazem sempre o mesmo papel na ficção) e ambas causam desejos (reais). Mulher brasileira precisa de carne no corpo e tem que ter aquela cor que dá vontade de lamber – a verdade é essa. A bunda abunda, os peitos peitam, e o queixo cai. (A.C.)

Secret Cinema Filme e festa itinerante/ Londres

Uma surpresa para os olhos e o fígado. Quinta-feira, recebo a locação e uma pista sobre o filme que seria exibido no sábado. “Verão, brilho, dança e chapéu!” dizia o e-mail. A Secret Cinema seria em South “medo” London e era minha primeira vez. Ficamos meia hora na fila, mas isso não foi um problema. A visão era surreal – todo mundo tinha feito um esforço com chapéus que iam desde viseiras até cocares. Atores vestidos a caráter davam mais dicas sobre a sessão secreta. Entramos e era uma grande festa jamaicana, linda e bem produzida. O filme era The Harder They Come – o moço sentado na nossa frente, de imediato, vai à loucura! Já minha amiga e eu saímos depois dos dez primeiros minutos para comer a carne que estavam servindo no fundo do clube. Pela fila para fazer uma boquinha dava para perceber que não era só a gente que não estava entendo bulhufas do longa com o sotaque forte do Jimmi e sem legendas... A experiência teria sido ótima se a cerveja não custasse mais de quatro libras e estivesse quente, se tivesse faca para comer o frangão assado e se o pessoal tivesse ficado para a after party. Vamos ver como será a próxima. (Marina Lopes)

CD Octahedron Mars Volta

Psicodelismo e calmaria no mesmo álbum. A tensão que surge no ar cada vez que um disco do Mars Volta começa a tocar também está neste Octahedron, o quinto do grupo. Só que este está mais tranquilo ao longo de seus 50 minutos. De volta ao rock progressivo, a banda deixou de lado a piração com a Ouija e com o islamismo; mais calmo, quase dançante para casais que vivem colados, de rostos e corpos juntos. Os dois singles lançados, “Since We’ve Been Wrong” e “Cotopaxi” provam o dito. Fato é que em tempos em que o rock parece sempre o mesmo – grupos com guitarras estridentes e repetitivas, vocais que parecem iguais, todos integrados por britânicos milimetricamente desarrumados –, ouvir o Mars Volta traz uma tranquilidade quanto ao futuro da música. (A.T.)


PESSOA

TÊNIS

Christiane Pelajo Jornal da Globo

Nike Air Max

DVD Use com parcimônia. Manter um tênis prata com solado branco não é tarefa das mais agradáveis. Além de sujar só de ficar guardado (possuo algum tipo de obsessão por limpeza – nunca achei descolado desfilar sapato podre), ele é praticamente uma bola de espelhos individual. Resolvi fazer dois testes de adaptação ao modelo. Tentei sair totalmente de preto; e ele refletia a luz com tanta intensidade que me senti ofuscado. Depois coloquei algo mais colorido – calça jeans e moletom – e pareci um habitante dos anos 80 fazendo uma viagem no tempo. Tudo bem. Mas esse Nike Air Max é confortável (extremamente), não aperta na lateral (faço yoga, meus pés são de pato), e tem design arredondado, praticamente um minifusca. Trazem amortecedores, ideais para running. Por ele ser prata, imagino que sirva para “running at night”. Ganhei um holofote próprio, mas sou uma das poucas pessoas que poderia usá-lo sem dramas (ou até com dramas mesmo). (A.C.)

Pagando Bem, Que Mal Tem? Dirigido por Kevin Smith

DVD

HQ

Quem Quer Ser um Milionário? Dirigido por Danny Boyle

DC Universo Especial: Começa a Crise Final Roteiros: Grant Morrison e Geoff Johns Desenhos: George Pérez, Tony Daniel, Carlos Pacheco e outros

A Índia de Romeu e Julieta. Misture Cidade de Deus, Bollywood e tragédias gregas e você terá Quem Quer Ser um Milionário?. Na mais improvável das histórias de amor, Jamal vai ao programa que dá nome ao filme para ganhar o prêmio máximo e também a chance de ser visto na TV por seu maior amor, Latka, garota vendida a um mafioso indiano por seu próprio irmão. Não há muita novidade na produção – um favela movie internacional. Não é o primeiro do gênero a ser feito fora do Brasil. Em 2008, a Itália viu o lançamento de Gomorra, sobre a máfia napolitana, a mais perigosa do mundo. Mas Milionário? desperta o espectador mesmo assim. Porque tem uma história muito bem amarrada. Porque tem atores desconhecidos atuando muito mais realisticamente que muito velho de guerra de Hollywood. E, claro, porque tem uma dancinha indiana antes dos créditos finais. No DVD, a falta de extras incomoda porque poderia mostrar mais da Índia, do passado dos desconhecidos jovens escalados, além de conversas com o próprio diretor. (A.T.)

Veja e faça isto em casa. Você já assistiu este filme em que dois amigos resolvem fazer um pornô caseiro para pagar as contas. Ou seja, não vou explicar muito além de lembrar que o filme é ótimo, que o humor é debochado, maldoso e sem vergonha. O lançamento em DVD serve apenas para que se tenha este filme em casa para quando é preciso rir até que a barriga doa. Ou perceber que existem mesmo pessoas que tem ideias imbecis como as suas. Com a diferença de que estas pessoas podem transformá-las em filmes. Os extras são apenas uma espécie de power point com fotos do elenco e não há aquelas coisas de entrevistas com atores e processo criativo. Melhor. É sempre um pouco decepcionante ver os atores falando como eles mesmos. É, o que importa é o filme e ele está lá. Sem a propaganda que te obrigam a ver no cinema apesar do ingresso custar 22 reais. (C. L.)

Prepara os fãs para um ano de boas histórias. Os Novos Deuses foram relegados a corpos de mortais. O céu está ficando rubro novamente. É o prenúncio de uma nova crise no universo DC Comics, casa dos mais grandiosos heróis em quadrinhos já criados – Superman e Batman, só para citar os dois maiores. Este especial, escrito pelos roteiristas Grant Morrison e Geoff Johns, tão grandiosos quanto a verdadeira dupla dinâmica da editora, serve para estabelecer os preceitos para Crise Final, megassaga da editora para este ano. Mais. Ele prepara terreno para a morte de Batman, para a noite mais densa do Lanterna Verde, para a queda da Mulher Maravilha como campeã das amazonas, e, muito mais importante que tudo isso, para a volta de Barry Allen, o segundo e mais amado de todos os Flashes, morto em 1985 quando salvou um Multiverso e todas as Infinitas Terras da editora. Parece conversa furada de nerd, mas para um verdadeiro fã de HQs – e hoje estes são mais raros do que cantoras pop virgens –, Universo DC Especial: Começa a Crise Final é um dos maiores deleites do ano. (A.T.)

Era da anticredibilidade pop. Quando a Rede Globo redefiniu sua estratégia jornalística prevendo interação entre suas duplas de apresentadores, a emissora simplesmente deu um passo para a renovação necessária do humor brasileiro. Hoje, Fátima Bernardes não tem mais aquela seriedade inatingível e comete mais gafes que o Didi. E quem dirá Christiane Pelajo e William Waack, que precisam suportar links internacionais de Nova York (mesmo quando a reportagem cobre conflitos no Oriente Médio), chamam os textos poéticos de Ilse Scamparini direto da Itália e ainda têm de levantarse da bancada “para dar agilidade à informação”. Noite dessas, Carlos Sardenberg, o comentarista de economia, explicava mais um capítulo da crise mundial e suas consequências para países (entre primeiro mundo e emergentes). Foi quando Pelajo, munida de sua mais pura sabedoria e informalidade, levanta alguma questão que não vem ao caso agora. Sardenberg estica os braços, gira o corpo em direção ao gráfico que estava mostrando ao telespectador e diz: “Are baba, Christiane”. Ela faz pescocinho e responde: “Tick”. Fiz um minuto de silêncio para o fim do jornalismo. E comecei a rir logo depois. (A.C.)

CD Feriado Pessoal Bruna Caram

Pop de todo mundo. Um disco bem feito, bem produzido, fácil de ouvir e pop de doer. “Caminhos para o interior” é tranquila, bucólica, pop caipira e leva o prêmio de melhor melodia deste segundo trabalho de Bruna Caram. O disco conta com uma boa versão para “Gatas Extraordinárias”, de Caetano Veloso, algumas canções mais intimistas e melancólicas como “Nascer de Novo”, “Alquimia” e “Amor Escondido” . Em outras, como “Fim de Tarde” e “Gargalhadas”, os arranjos dão uma boa esbarrada na cafonice. No geral, o álbum está prontinho para fazer sucesso nas rádios, virar trilha de novela e integrar o repertório de todos os violões de bar deste país. Essa parte não sei se é muito boa. (A.A.)


RESTAURANTE Cantina do Zelão Avenida Francisco Prestes Maia, 1255 – São Bernardo do Campo

CORPO Pescoço do Raj Caminho das Índias

Pra quê se contentar em só segurar a cabeça? Are baba! Nas dancinhas difamatórias diárias da casa de Opash, uma coisa impressiona mais do que o que um ator precisa fazer para ganhar a vida: o pescoço de Raj. Ele mexe independente do corpo, como se tivesse vida própria, aponta direções, chora pela falta da firangi estrangeira e nos dá a ilusão de que Rodrigo Lombardi está dançando. Fora que deve ter cheiro de patchouli. Atchá! (C.L.)

Pessoa

crític a

Galvão Bueno Copa das Confederações

O narigudo mais chato da TV (se salvou, Rafinha Bastos). É dia de jogo da Seleção Brasileira de Futebol. Kaká, Robinho, Júlio César e o pífio técnico Dunga estão em campo. Fora dele, um insuportável “Beeeeeeem amigos...!” ressoa na casa de milhares de espectadores. Está na hora de Galvão Bueno dar seu show. Tão chato quanto uma poesia abstrata de seu companheiro de emissora Pedro Bial, Galvão é um daqueles gênios eternos da televisão. Ele não narra o jogo de futebol. Em vez disso, torce. Faz comentários tão dispensáveis quanto o próprio Dunga com seus companheiros Arnaldo César Coelho e Paulo Roberto Falcão. Ufanizam a CBF e seus cartolas, escondem do povo os problemas de escalação e administração da camisa verde e amarela, tudo por uma boquinha mais do que já garantida na distante Copa de 2014 – que inclusive é prometida como a última do narigudo, e potencialmente sempre chapado de “jujubas”, narrador. Fosse eu no estádio, estaria com uma placa escrita “Galvão. Pega aqui no meu pin...” Só pra rimar. Se é que vocês me entendem. (A.T.)

DVD O Menino do Pijama Listrado Dirigido por Mark Heyman

Minha vida sob listras. Como não tive tempo de ver o filme, e sabia que era mais uma visão do nazismo, procurei a sinopse para adiantar a história de O Menino do Pijama Listrado, adaptada do livro homônimo de John Boyne. “Bruno (de 9 anos) vive em Berlim e muda com a família para uma casa ao lado do campo de concentração de Auschwitz, seu pai é um oficial nazista que responde diretamente a Hitler. O menino não tem o que fazer e acaba saindo para brincar no pátio. Um dia, encontra Shmuel, o do pijama listrado, do outro lado da cerca de arame. E a amizade dos dois é maior do que a Segunda Guerra.” Então, minha crítica aqui vai para jornalistas lotados de prazos de entrega que fazem de uma informal sessão de DVD um trabalho. Também poderia criticar o dramalhão que é acompanhar histórias cinematográficas trágicas contadas da perspectiva de uma criança – mas não vou fazer isso em respeito a uma obra ainda não vista. (A.C.)

LIVRO Zazie no Metrô Autor: Raymond Queneau

Leia em voz alta. Duas vezes. Os diálogos sem (ou com) sentido passeiam pela história de um menina de 15 anos que tem duas obsessões na vida: usar uma calça jeans e andar de metrô. Isto, na Paris de 1950 acompanhada de personagens que nunca sabemos quem são. Um tarado? Um papagaio? Zazie não tem humor, educação nem decoro. Diz e faz o que lhe vem na telha e joga conversa fora sem parar. Maravilhosa. O livro é impresso em papel bíblia e tem fragmentos de cartazes da época reproduzidos ao longo das páginas. Um romance destes sem pares por ai. Que talvez você ou eu nem mereça ter lido. (C.L.)

Parmegiana gigante para dias de ressaca. Na cidade dos metalúrgicos, dos sindicatos e do berço da democracia no final do período ditatorial, nada traduz mais a grandiosidade de São Bernardo do Campo (risos) do que a Cantina do Zelão, um enorme restaurante em uma das mais movimentadas (risos) esquinas do centro. Lá, entre um caldo de mocotó e uma cerveja bem gelada, os apreciadores da culinária caseira encontram um gigantesco filé à parmegiana – que dizem que dá para duas pessoas, mas que três comem satisfatoriamente. É forrado de queijo, e de um molho de tomate grosso, mas não enlatado e artificial. O restaurante é muito simples, mas está sempre cheio. Tem mesas de madeira cobertas de toalhas de papel nada absorventes. As mãos engorduradas ficam difíceis de se limpar. O preço é honesto – o parmegiana não passa de R$ 40, e o restaurante ainda vende a mais forte das pimentas malaguetas de garrafa, a preços também acessíveis. O serviço é de se aplaudir. Os garçons são daqueles que parecem estar lá há décadas, muito atenciosos e rápidos nos pedidos. (A.T.)

CD Very Best Definitive Ultimate Greatest Hits Collection Faith No More

O melhor que o bonitão do rock já fez. O Faith No More está preparando uma reunião, e nada melhor para aquecer os fãs dos já distantes anos 80 do que uma coletânea com o melhor da produção do grupo de Mike Patton, que desbancou Chili Peppers e todos os outros cabeludos metaleiros de duas décadas atrás. No disco – duplo, com direito a milhares de extras: b-sides e raridades –, os maiores sucessos do grupo, da chiclete “Epic” aos grandes sucessos “A Small Victory” e “Everything’s Ruined”. Nada de novo, mas serve para matar a saudade dos fãs, e também das garotas que envelheceram, mas nunca deixaram de achar Patton um dos mais lindos homens com “h” maiúsculo da história do rock. Se tudo em Very Best Definitive Ultimate Greatest Hits Collection vale, pelo menos a capa poderia fazer jus ao retorno. Mas em vez disso, a banda escolheu colocar ali um tubarão. Vai entender... (A.T.)


consumo


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ficção


BREVE



ficção por Andréa del Fuego; fotografia, Alexandre Paschoalini.

11 vira 22, que vira 44

No gramado, há 11 jogadores de um lado, 11 do outro. Não contarei os bandeirinhas nem o juiz. Cada homem guarda entre as pernas duas bolas, portanto, temos 44 bolas não-oficiais no gramado. Elas não rolam, só refrigeram a perpetuação. Uma bola oca, a que está sem cueca e livre, vai por entre os pés, toca em coxas roliças, chuteiras tiram pedaço da grama. É ela que deve invadir o travessão e esticar a rede. Homens driblam a bola livre como tentam gingar mulheres, por exemplo. Algumas, na imperfeição da circunferência, a personalidade facetada, pontas e esporas, fariam estancar o movimento em campo. Nem precisa chutá-las, as mulheres rolam sem que isso seja de sua vontade. As 44 bolas não-oficiais vão pra lá e pra cá, não quicam como a outra que obedece a intenção do atacante mesmo que ele tenha pernas tortas. As 44 coxas roçando outras, engenho de farinha que produz gol quente. Na concentração, joelhos flexionam-se e o foco se retesa. O uniforme se enruga no corpo que se estica e se dobra azeitando rótulas e tendões. Na rede, a meta, mãe, filho, aposentadoria dos parentes, a História. Fora dela estão olhos abertos ao limite, atentos às pernas que correm, técnicos de futebol de botão, a pressão enfartando os cansados, a pressão dinamizando os girinos adolescentes. A torcida tem milhares de bolas não-oficiais e nada pode fazer com elas, todos pegam para si as 22 coxas do time, e suas bolas. Querem a vitória. Vitória de quem? Das sementes refrigeradas das 22 bolas não-oficiais, que fertilizarão moças confusas e de família. As 22 bolas não–oficiais também servem de apoio ao adversário, que as aperta para resgatar a outra, oficial. Jogo baixo fora da visão do juiz, sujeito sem retrovisor nos ombros. A escalação é um quadro do pintor de praça, agrada mais ao pintor que ao público. As 44 bolas não-oficiais se enfileiram para a fotografia. As coxas cavalgam os cavalos sagitarianos de um épico, favorecem o patrocinador, entorpecem traumas. Faz o Coliseu lotar, o leão ser solto, os guerreiros postarem as lanças e César abrir os trabalhos. Com vitória ou derrota, quando a bandeira sair da janela e voltar à garagem, as coxas receberão seus cheques, o motorista de ônibus acende um cigarro, o verdureiro embrulha bananas com o craque, as esposas das bolas não-oficiais ganham um rubi, as mães das coxas ganharão apartamentos no Guarujá, a camelô pinta o cabelo de acaju com o dinheiro da venda de buzinas. Eu passo a bola.


guerra


o bad hair day n達o existe. 11 8270 1243 daidone80@hotmail.com


quando não se calar As

A lei iraniana classifica como

conturbadas eleições iranianas, que reelegeram

crime ofensas aos altos

de forma um tanto estranha o presidente Mahmoud

dirigentes da República

Ahmadinejad, ganharam a atenção do mundo quando um

Islâmica, podendo ser

vídeo disponibilizado e alardeado pela internet mostrou

punidas com até dois anos

uma jovem protestante nos seus últimos segundos de

de prisão; a taxa atual

vida. A iraniana Neda Agha Soltan, 16 anos, levou um

de desemprego do país

tiro fatal enquanto gritava por um Irã melhor nas ruas

é de 17%; é o único país

da cidade de Teerã. Naquele momento, Arash Hejazi,

que executa crianças,

médico e escritor, tentou salvá-la, sem sucesso. A

levando a pena de morte

aparição de Arash no vídeo o tornou imediatamente

a elas, de preferência, por

uma possível vítima do governo iraniano e das forças

enforcamento; homossexuais

que apoiam a (des)ordem estabelecida. Ele precisou de

são invariavelmente punidos

nome falso e de uma fuga para Londres para garantir

com a morte; a imprensa

vida e integridade própria e também de sua família.

estrangeira está proibida nos

Com amigos como Paulo Coelho e outros tantos com

protestos “não-autorizados”.

visibilidade na imprensa, o médico conseguiu fazer o

Amputação de membros é

vídeo – gravado por um amigo dele e primeiramente

pequenas ou grandes batalhas para tornar a vida melhor

tudo novo no front

uma grande possibilidade

exibido em um blog – passar em quase todas as tvs

para casos de roubo,

do planeta. Certamente, não no Irã. Arash não conseguiu

consumo de

salvar Neda, mas fez com que o planeta olhasse para

bebidas alcóolicas

o Irã e sua ação talvez mude parte da história do país em que não pode mais viver.

ou adultério.


quando a casa cai

Especialistas estimam

O Sharer Program (outro

Imigrantes, refugiados e sem-teto agora podem ter um

Na Índia, existem programas de microcrédito com regras

abrigo próprio (no presente) e ainda manter a consciência

compatíveis à realidade dos mais pobres e destinados

ecológica tranquila (para o futuro). A Universidade de

exclusivamente à população feminina. Essa ideia começou

Bauhaus, na Alemanha, e a empresa suíça The Wall

com

AG (fundada pelo arquiteto Gerd Niemöller), selaram

(economia do lar) pois acreditava que esta economia,

uma parceria para a criação da Wall House, uma casa

feita basicamente por mulheres poderia desafiar a política

desenvolvida com resina e celulose – resultado do

inglesa de centralização. Hoje em dia, alguns programas

processamento de jornais e papelão. Ela tem um custo

baseados nesses moldes mudam realidade, presente e

de aproximadamente R$ 10 mil e é dividida em cozinha,

futuro. Um deles, chamado Grameen Bank (gremeen

varanda e dois quartos. O projeto tem 36m2 ao todo (o

significa aldeia) foi criado pelo Professor Muhammad

banheiro pode ser comprado separadamente). A morada

Yunus, Prêmio Nobel da Paz. A fórmula de todos eles é

de papel é resistente e, segundo seus fabricantes, eficaz

muito simples: baseia-se na confiança. As mulheres são

para áreas de terremoto, simples de montar e à prova

confrontadas com perguntas como: "Tem algum búfalo?"

d’água. Alguns países já fizeram suas encomendas. Já

ou "Que tipo de telhado tem a sua casa?". Todos os

na Tailândia, a Universidade de Ciência e Tecnologia

empréstimos tem de ser pagos em prestações semanais

da Noruega concebeu o projeto das Butterfly Bamboo

e, assim que a dívida estiver quitada, pode-se pedir um

Homes, quiosques para crianças órfãs do vilarejo de

novo crédito. Quem banca isso são empresários indianos

Noh Bo. São pequenos quartos com espaço para

ou de origem indiana em colaboração com bancos

dormir, brincar e aprender. A construção, ecologicamente

internacionais. É uma forma da alta finança descer até

responsável, usa bambus locais e tem o teto pensado

as camadas mais pobres e dar as pessoas uma chance

para armazenar água das chuvas.

real de mudar a realidade.

que, até o ano que vem, 18 milhões de crianças

fiquem orfãs na África sub-

saariana em decorrência da

epidemia de Aids que assola

a região; a Organização

das Nações Unidas (ONU) calcula que existam 42

milhões de refugiados e

deslocados em todo o

planeta; a crise mundial

provocou queda do número

de imigrantes que tentam

a sorte, e a vida, em países desenvolvidos; um ciclone

deixa aproximadamente

400 mil desabrigados na

Índia; pesquisas apontam a

gu erra

quando a mulher sonha

existência de 30 milhões de

sem-teto no Brasil.

programa de microcrédito)

já ajudou 300 mil pessoas,

Mahatma

atingindo um total de 75

Ghandi,

que

pregava

o

Swadeshi

milhões de dólares em

empréstimos. Segundo as estatísticas, em projetos como este, 95% dos

empréstimos são pagos. As mulheres costumam pedir aproximadamente duas

mil rúpidas, que significam

mais ou menos 45 dólares. Esses microcréditos são

uma maneira de transformar a parte mais renegada da

população em pessoas com poder de compra.

Aproximadamente 40%

das pessoas mais pobres do mundo vivem na Índia.


quando falta o ar

As algas foram os primeiros

Ambientalistas e praticamente todo tipo de pseudoteórico

seres vivos a aparecerem

quando aperta a dor

O grupo Emocionais

Quem se sente deprimido, infeliz, sozinho, inseguro, com

o pulmão do mundo. Há um erro nesta afirmação: não é

qualquer outro tipo de sentimento que altere sua

a floresta tropical que produz a maior parte do oxigênio

condição emocional, pode contar com grupos especiais

do mundo, e sim as algas marinhas.

para amenizar esse descompasso psicológico.

na Terra. São responsáveis pelo surgimento do

oxigênio no planeta e,

consequentemente, de todo

medo,

Anônimos foi fundando em

que estude o meio ambiente afirma que a Amazônia é

ansioso,

irritado,

impaciente

ou

com

1971 nos EUA e só chegou ao Brasil 16 anos após a

sua criação; o Japão tem a maior taxa de suicídios por

Embora nos dias atuais seja quase um consenso de

Claro que nesse caso não se trata de uma depressão

que o aquecimento global exista, e que ele é causado

pós-sexo, balada ou término de namoro, os Emocionais

pelo aumento das concentrações de CO2 na atmosfera,

Anônimos tratam em reuniões de grupo, vide AA

pouco se sabe sobre como solucionar o problema. Fala-

(alcoólicos anônimos), de gente que sente demais e, por

se em redução da atividade industrial, fim da queima

isso, precisa de apoio e acompanhamento especial para

de combustíveis fósseis e produção intensiva de energia

não acabar surtando enquanto segue a vida.

o tipo de vida baseada em

carbono. Estima-se que as

algas são responsáveis pela produção de 70% a 90%

de oxigênio no mundo. São,

junto com o krill (minúsculos

elétrica através de métodos eólicos e solares.

crustáceos invertebrados),

habitantes do mundo, sendo

uma das principais causas de mortes do país; Porto Alegre

é a cidade com maior número de óbitos suicidas do Brasil; existem várias graduações

Nos encontros, os integrantes discutem seus problemas

do quadro de depressão e

E há James Lovelock, que nos anos 70 foi um dos

e dão seus depoimentos para lavar a alma. Quem quiser

primeiros a alertar as sociedades para o problema da

se manter calado, tem todo o direito, mas falar sempre

abertura do buraco na camada de ozônio. Para ele,

alivia as dores. Isso é fato e uma das principais formas

a melhor forma de combater o aquecimento global é

dos emocionalmente abalados se tratatarem.

base da cadeia alimentar

marítima. Devido ao aumento de CO2 na atmosfera,

cientistas preveem um

crianças também podem

contrair a doença; todas as

pessoas do mundo sofrem, até as mais abonadas;

instalando enormes tubos verticais nos oceanos, todos

As sedes do E.A. estão espalhadas por todo o território

furados. Eles serviriam para bombardear ar no mar,

nacional, e seus endereços estão aos montes a apenas

aumentando a concentração de algas. Assim, mais CO2

um clicar de mouse no Google. Não é cobrada nenhuma

seria consumido, e mais oxigênio seria produzido. O

taxa para participar das reuniões e nem é preciso estar

resultado é a diminuição da temperatura terrestre.

no pé da cova da tristeza para participar.

aumento na temperatura terrestre, apenas neste

século, de 1ºC no melhor dos casos, e 6ºC no pior deles.

depressão pode matar

sim, mas tem tratamento disponível até nas redes públicas de saúde.


por Adriana Alves; fotografia, Letícia Ramos. gu erra/ gu erra íntima

meu carro pegou fogo. meu seguro está confuso. e agora?

tem coisas que só a grosseria faz por você


Assunto: Autorização dos Reparos / Sinistro - 4815162342 De: Kelly Almeida Para: reveg, mim Sr. Marcelino, boa tarde! Autorizo a execução dos reparos abaixo: - Proprietário: ADRIANA ALVES DOS SANTOS - Veículo: CLIO AUTHENT. 1.0 8V 4P 2004 - Placa: DNS2952 - Chassi: 93YBC0Y064J404562 Valor a Faturar: 1.345,24 Grata, Kelly Almeida SulAmerica Associada ao ING Depto. de Sinistro Auto Assunto: RE: Autorização dos Reparos / Sinistro – 4815162342 De: mim Para: Kelly; reveg; imprensa SulAmerica; Karine Alguém pode me dar alguma informação confiável? Durante estes 10 dias que meu carro está com vocês, recebi ao menos 4 versões diferentes do meu caso. Kelly, este valor a faturar é referente à franquia, correto? Como me foi informado, o valor dos reparos poderá ficar superior ao valor da franquia. Portanto, caso estes reparos fiquem com maior valor, eu optarei pela franquia, que segundo a Karine, da Renove, ficará no valor R$1.371,00. Amanhã farei uma reclamação oficial e acionarei o Procon. Tô bem impressionada com o descaso e com as informações desencontradas que tenho recebido. Neste email, copiei também a assessoria de imprensa da SulAmerica. Ao menos esta área deve ter noção de que um péssimo atendimento como o que tenho recebido pode prejudicar e muito a imagem pública que a marca SulAmerica, imagino, tente manter. Esta autorização que me enviaram, por exemplo, eu não dei... Estava aguardando uma resposta da seguradora se eu pagaria ou não a franquia. Em nenhum momento fechei com vocês o valor do orçamento descrito neste email. Já que um de vocês da SulAmerica me informou que este orçamento não é um valor fechado, podendo subir até o final do serviço. Para facilitar a vida de vocês, vou escrever de forma clara e enumerada as minhas questões. 1) Este serviço será cobrado? (Uma das atendentes da SulAmerica disse que não por se tratar de um incêndio, outra atendente também disse que não, mas por se tratar do primeiro sinistro, e uma outra pessoa ainda me disse que não era nem uma coisa nem outra). 2) O valor R$1.345,24 é o valor fechado do que pagarei pelos reparos? 3) Com estas questões resolvidas, quando terei meu carro de volta? Bom, é isso. Aguardo um retorno um pouco mais competente da parte da seguradora. Obrigada, Enc: Autorização dos Reparos / Sinistro - 4815162342 Assunto: Adriana De: Luiz Vieira Oliveira Para: mim, Kelly, reveg, Karine Sra. Adriana, Bom dia! Conforme nosso contato telefônico, venho a informar que, conforme contrato securitário, em caso de incêndio parcial, o segurado não participará com o valor da franquia, sendo totalmente isento desta obrigação. Portanto o orçamento apresentado pela oficina será de total responsabilidade da Cia, não tendo nenhum ônus ao segurado. Peço-lhe desculpas pelas informações contraditórias que a Sra. recebeu durante o andamento do processo e as pessoas envolvidas serão devidamente orientadas. Grato. Luiz Vieira


egos inflados estremecem a relação de Valmir e Josy, “a dupla brasileira mais famosa no mundo pop gay internacional". entenda essa disputa travada no blog deles

vale tudo

gu eraa/ convidado de gu erra fotografia, divulgação.

Assim que o clipe de “Gimme More”, da dupla Valmir e Josy saiu, começaram a pipocar fofocas sobre a dupla. Uma delas é a seguinte: “Valmir e Josy mantendo as aparências” Parece que não anda muito bem a relação entre os dois amigos e popstars Valmir e Josy. Desde que a carreira (deles) deslanchou no Brasil, a disputa de egos tem falado mais alto do que a amizade, tudo por que Josy estaria tendo ataques de estrela e exigindo aparecer mais nos videoclipes, pelo menos é o que conta uma fonte próxima aos dois: "Ela tem ficado muito estressada e desanimada. Pensou em abandonar o sucesso e voltar a ser anônima, mas seu amigo Alex deu muito apoio e a fez mudar de ideia". Quem está próximo garante que Josy deseja brilhar mais nos vídeos. É fato que no novo hit “Gimme More” ela aparece mais minutos do que o normal. "Josy está um pouco gorda e sabe disso, mas queria muito gravar esse clipe. Valmir ficou sem ação, embora não concordasse. Ele acha que todo mérito é seu e pronto. Mas os amigos e editores do clipe acabaram dando apoio para Josy", revela Hiago. Durantes os primeiros dias de junho, o “Gimme More” foi gravado sob muita tensão, mas acabou sendo editado normalmente e foi ao ar. Um making of teria sido produzido para mostrar que o clima entre os dois, na verdade, era de amizade. Porém, Hiago denunciou: “o making of é pura atuação!". Em tempo, a dupla já lançou os vídeos de “Circus”, “If U Seek Amy” e “Womanizer”. Valmir afirma que o clipe “Gimme More” não é o seu favorito, mas que é um dos melhores da carreira da dupla!


criação



criar uma fonte exige muito trabalho; fazer um tipo deixar de existir é tarefa impossível

tipo assim

the quick brown fox jumps over the lazy dog Zviezda/ Mario Amaya

As letras nascem seguindo o movimento do corpo humano, a desenvoltura do braço e das mãos que imprimem e registram informações, difundem e constroem conhecimento. A escrita acompanha seu tempo e reflete costumes e linguagem do povo que a desenvolve. Da caligrafia para a invenção dos tipos, dos tipos móveis para o período digital, ainda se busca os mesmos objetivos: beleza e comunicação. Às portas da segunda década do século 21, o trabalho de criação de tipos não é menos intenso do que foi no início da tipografia. Harmonia, ritmo, funcionalidade (nem sempre), intensidade, pausas e muita, mas muita paciência são alguns dos itens necessários a quem queira criar um tipo. Mas antes de chegarmos a esse processo de criação, é bom explicar algumas terminologias. “Tipo” é o nome do desenho estético dos caracteres e “fonte” é uma variação específica de um tipo: normal, itálico, negrito, condensado, etc. “Família” é como se chama a reunião das fontes de um mesmo tipo. “É normal que uma família contenha várias fontes, o que naturalmente multiplica o trabalho do designer. Por exemplo, um dos tipos mais usados do mundo, Univers, é uma família com mais de 60 fontes, cada uma desenhada separadamente e todas funcionando em harmonia entre si”, explica o designer Mario Amaya, que mergulha nesse universo desde 1996. Para fazer um tipo tornar-se real, o trabalho é árduo: requer pesquisa, estudos detalhados, definição de padrões. “Dependendo do estilo da fonte e do processo criativo do designer, ela pode ser desenhada à mão e depois convertida para o meio digital, ou desenhada diretamente na tela do computador. É um trabalho detalhado, longo e repetitivo, especialmente se incluir muitos caracteres alternativos, ligaduras (pares de letras combinados), ornamentos”, enumera Amaya, que, na função de diretor de arte, já desenhou diversos tipos completos e exclusivos. “A imaginação e a paciência são o limite, mas desenhar as letras é só o começo. Depois, ainda é preciso definir o espaçamento, fazer testes e ajustes com textos impressos e na tela.”


criação por Adriana Alves.

the quick brown fox jumps over the lazy dog Relava/ CISMA

Pseudo Marasmo Criativo Com a Microsoft e seus computadores, muitas fontes se tornaram populares e um amplo e novo mercado surgiu. Os mesmos tipos (baseados em releituras de antigas famílias) começaram a ser encontrados no computador de qualquer escritório, quarto ou colo e passaram a existir em livros, embalagens, propagandas, televisão, cartazes e impressos. Times New Roman, Arial ou Comic Sans tornaram-se onipresentes na estética de quase toda e qualquer coisa. Por outro lado, a internet fez com que tipógrafos de diversos lugares do globo tomassem a iniciativa de tornar pública suas criações. Aquém do rico e diversificado mundo pago dos tipos, muitos sites disponibilizam novas maneiras de se exibir um texto gratuitamente, todos os dias. “Acho que grandes novos talentos surgiram de uns anos para cá. A cada dia aparecem novas famílias tipográficas e um novo tipógrafo. O problema é que hoje quase tudo se parece com tudo, é difícil encontrar algo realmente novo”, comenta o designer e ilustrador Eduardo Recife, que coleciona grandes clientes em seu portifólio, como a banda Panic at the Disco e o canal de TV HBO. Já para Mario Amaya, o panorama é mais otimista: “Acho que com a nova geração de criadores talentosos e com ferramentas mais refinadas, a boa tipografia está vivendo mais um renascimento. A tipografia digital já passou há muito tempo da fase de reciclar tipos importantes do passado e agora se concentra em criações mais originais, sofisticadas e ousadas”. Denis Kamioka, a.k.a. CISMA, designer e diretor de filmes, acredita que essa fase de digitalização pode também deixar obsoleta uma das mais antigas artes humanas. “Acho que vivemos uma fase estranha em que as pessoas não escrevem mais com a mão, só digitam. O que significa que estamos lendo poucas letras cursivas. Como a leitura de uma fonte depende do costume de reconhecer seus símbolos, a caligrafia pode cair em desuso. E isso é bem triste”, lamenta CISMA, que começou a se interessar pelo tema em 1999 através do grafite e, em 2002, criou uma fonte – ainda não finalizada – no estilo da pixação paulistana.


the quick brown fox jumps over the lazy dog LeKing/ Eduardo Recife

Morra, Comic Sans “A Comic Sans, fonte que causa desespero, aflição e depressão profunda.” “Mas o que fazer quando vemos sites, panfletos, folders, catálogos e até outdoors com Comic Sans? Se matar?” Estas duas frases – e muitas outras – podem ser encontradas em uma rápida pesquisa no Google sobre o fim da Comic Sans. Um grupo de designers aborrecidos criou o site Ban Comic Sans com o intuito de extinguir do planeta o pobre tipo inspirado em letras de HQs. “Coitada da Comic Sans, ela é realmente feia, mas acho que esse ódio vem mais por ela ser da Microsoft”, aposta CISMA. Já para Amaya, o problema está no acesso cômodo a ela. “Se um tipo é liberado e usado em massa, como é o caso das fontes que vêm com o Microsoft Word, não há muito o que fazer quando ele é mal utilizado pelo público leigo. Já vi processos judiciais e teses de mestrado impressos em Comic Sans. É uma tragédia. Mas há também em ação uma inércia do usuário. A Arial, por exemplo, uma das razões dela ser tão popular é simplesmente porque é fácil de achar no menu de fontes em qualquer computador.” Para ajudar na campanha, um vídeo foi feito com depoimentos de especialistas e com a reação de designers ao ver a fonte em logotipos famosos. A frase que abre o vídeo é de Vincent Connare, criador da Geni do mundo gráfico. Ele diz “Se você a ama, você não sabe muito sobre tipografia. Se você a odeia, você realmente não entende de tipografia e deveria encontrar outro hobby”. Bom, a favor da odiada foi possível encontrar um dado. Em um teste com disléxicos, a Comic Sans foi o tipo que obteve a melhor legibilidade. Interessa?

Encontre Seu Tipo: Eduardo Recife www.misprintedtype.com Mario Amaya marioav.blogspot.com CISMA www.cisma.tv http://www.t26.com/fonts/5129-Relava Ban Comic San bancomicsans.com


criação/ c aderno de artista

por Titi Freak. (www.tfreak.com/ www.titifreak.blogspot.com)



como uma exposição de arte ganha vida

da construção da arte, da construção do artista

criação por Fábio Polido; fotografias, Bárbara Aguiar.

Uma casinha de madeira com quase um metro de altura atravessou o caminho da artista Rochelle Costi em São Paulo. Passado um mês da descoberta, uma série de fotos estava pronta para ser pendurada às paredes brancas da Luciana Brito Galeria. Brincando com escalas, objetos pessoais e orgânicos, a artista recriou nos pequenos cômodos da casinha um mundo real, cheio de sentimentos, luzes e vida. Rochelle então fotografou os pequenos ambientes criados e a exposição começou a ganhar forma. Você pode ir lá e ver – ou comprar –, pode reparar que está tudo devidamente encaixado e até conversando com a porta e a janela de madeira que foram construídas no espaço para a ocasião, mas até chegar aos seus olhos, um artista, três montadores, assessoria e funcionários da galeria tiveram que se mobilizar para que tudo ficasse pronto. Para entender como a dita arte ganha vida, passamos três dias acompanhando a montagem da exposição Desmedida, simplificando a história em um passo a passo dessa trajetória, que parte de uma ideia e vai até as marteladas finais.

A galeria de arte se mantem em contato com seus artistas representados e vice-versa. Quando o artista tem em mãos um projeto, a sondagem para uma exposição entra em pauta. Definidos espaços, datas e quem vai estar envolvido no processo, os funcionários da galeria entram em contato com os montadores explicando o que, quem, para quando e em quanto tempo a exposição deve estar pronta.

Decidido os pormenores, neste caso, três montadores são chamados para a montagem da exposição: Adalberto, Laércio e Luciano. Os três são contratados em um esquema de freela, o que não significa falta de ligação com o espaço, todos os montadores já conhecem o trabalho da artista e participaram pelo menos de alguma de suas mostras. O primeiro dia de montagem é uma terça-feira, em 23 de junho. Os despojos da outra exposição ainda estão presentes: buracos na parede e pintura a ser feita. O piso é isolado para não cair tinta, os parafusos são tirados, a massa corrida é aplicada e tudo está novamente à espera das telas.

A artista conversa com os montadores e decide que uma parede de madeira deve ser feita na entrada da sala expositiva e outra no local da janela. Parede essa simulando os espaços da casinha, uma porta e uma janela, respectivamente. A ideia não é recriar, mas sim fazer uma alusão ao universo lúdico. Essa é a parte mais complicada do serviço, cortar as madeiras e adequá-las à sala. Um dia inteiro e a manhã seguinte são gastos para que porta e a janela sejam instaladas.

Estamos na quarta-feira à tarde e até quinta as montagens ficarão em stand-by, já que simultaneamente os montadores estão revezando entre outra exposição que será inaugurada no mesmo dia. O que se faz é limpar a serragem deixada pela madeira cortada, encerar o chão e guardar expectativas para sexta-feira, quando as fotografia emolduradas chegam.


As molduras atrasam e a montagem fica adiada para o sábado de manhã. Às 10h22 do dia seguinte, um caminhãozinho estaciona em frente à galeira e nove telas com moldura de madeira e tampo em acrílico, todas envoltas em plásticos bolha, chegam. O cuidado a ser tomado para o transporte da rua até a sala expositiva fica por conta de luvas de pano, prevenindo manchas de gordura. Enquanto isso, uma maquete em escala do local onde as obras serão expostas é trazida pela artista, que simula a posição exata onde cada coisa deve ficar e, a essa altura, as fotografias já estão situadas nos seus devidos lugares.

A retirada dos plásticos só pode ser feita na presença do artista, um desencargo de consciência para os funcionários e o aval de que tudo pode ser pendurado. Depois de simulado o espaço e desembaladas as telas, as obras sobem do chão para a parede, milimetricamente colocadas a uma média de 1,60m, para que sejam compreendidas por alturas diversas.

Depois é só conferir se tudo está como o esperado, as sensações de impacto, o espaçamento da obra e qualquer outro detalhe que possa ter passado despercebido. A dona da galeria dá um aval e a última limpeza é feita.

Agora é só esperar você fazer cara de intelectual em frente às fotos e depois seguir a vida, como se tudo já estivesse por lá.


pergu ntas fotografia, arquivo pessoal. Felipe Morozini acha-se indefinível. “Sou mais um no meio de tantos feios”, ele admite. (http://feionafoto.wordpress.com/) criação/

felipe morozini Como teve a ideia de publicar imagens que, à primeira vista, não deram certo, no Feio na Foto?

Você se colocando como objeto fotografado é uma saída para que as pessoas peguem leve?

Felipe Morozini: Tinha um arquivo enorme de fotos feias que ia aumentando todos os dias. Chegava para editá-las e ficava rindo sozinho... Então decidi compartilhar essa alegria.

Eu no meio só serve para reafirmar que todos saem feios, mais cedo ou mais tarde. Veja a quantidade de fotos que são tiradas. Impossível ninguém piscar ou estar em um mau momento.

De que tamanho é esse arquivo?

Tem como ficar sempre bem na foto?

São 1200 fotos. Mas como acabei de cobrir o São Paulo Fashion Week, pode colocar mais umas 200 aí na sua conta.

Só se você não sair de casa, não deixar ninguém te fotografar e não fazer nenhum autorretrato.

Com esse blog, se abre um pouco do processo de edição de um fotógrafo, não? Ele reflete meu jeito de pensar, e as legendas dele fazem parte do meu processo criativo sim.

Como surgem essas legendas engraçadíssimas? Elas são o mais legal, na minha opinião... As pessoas amam.... Faço um humor fino, sem querer agredir ninguém, o que é quase impossível nos tempos de hoje.

E quando uma pessoa sai bem? Mesmo os feios podem ser bonitos.

Sim, porque a beleza é subjetiva. Ela vem de dentro. As pessoas ficam bonitas quando estão felizes.

Quem não saiu bem no álbum pode tentar se redimir? Como?

Imagens bem-humoradas. Você já tinha pensando isso?

Não. Somos o que somos. No meu caso, se a pessoa que está no blog não gostar, ela pode me mandar um e-mail que eu retiro imediatamente. Mas é tudo uma questão de autoaceitação.

Na verdade, o humor é uma coisa minha, está em todo meu trabalho.

Já teve muitos problemas com os retratados?

Quem é seu alvo? Um pequeno grupo de pessoas que vive em São Paulo e sabe quem é quem no mundo fashion-celebswannabes-descolados-amigos.

Apenas uma mulher do Rio, mas ela nem saiu no blog – talvez por isso tenha ficado triste. A saber, o Reynaldo Gianecchini me enviou um e-mail no dia seguinte em que postei uma foto dele para dizer que se divertiu muito com a ideia.


polĂ­tica ambiental



sacolas plรกsicas sรฃo as malditas da vez. mas dรก pra viver sem elas?

que saco


polític a ambiental por Cristiane Lisbôa; fotografias, Rodrigo Braga.

A sacola plástica foi criada em 1950. Era motivo de orgulho das redes de supermercados e símbolo de modernidade entre as donas de casa viciadas em laquê e jantar às sete da noite. Exatos 59 anos depois, são as grandes vilãs da vez. São delas as culpas pela morte das tartarugas, pelo empobrecimento dos solos e pelo visual demodê da saída do mercado da esquina. Porque hoje em dia, cool mesmo é tirar do bolso, da bolsa ou da cartola sua ecobag que custou pelo menos três dígitos e que nada mais é do que a velha sacola de lona que sua mãe ainda usa na feira de sábado de manhã. “I’m not a plastic bag” exibe um modelo vendido como água em NY e que tem nas celebrities suas maiores entusiastas porque podem associar a sua imagem ao tal marketing verde e, quem sabe, apagar a impressão que aquela antiga foto onde estava usando apenas um casaco de pele pode ainda causar. Na vida real, a coisa ainda é um pouco diferente. As sacolas plásticas são feitas de PEBD (Polietileno de Baixa Densidade) que recebe um composto para aumentar a sua resistência, o que a torna incapaz de se decompor em curto prazo. E, em todo o mundo, estima-se que são produzidas 500 bilhões de sacolas plásticas a cada ano, o equivalente a 1 milhão por minuto. Só no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), o consumo é de 12 bilhões, repito, 12 bilhões de sacolas todos os anos. Isso significa que cada brasileiro utiliza, em media, 66 unidades ao mês, que, depois de carregarem as compras, viram sacos de lixo improvisados. Na sequência, vão parar no mar, onde asfixiam animais marinhos que confundem as sacolas com comida, e nos aterros sanitários ou lixões a céu aberto. Nestes dois últimos, dificultam e impedem a

16 dias sem usar sacolas plásticas

1° dia Sexta. Saí da redação depois das 20h para o aniversário de uma amiga. Decidi levar umas flores e uma garrafa de vinho. A garrafa não coube na bolsa e tive que carregar vinho e flor pela Rua Augusta durante a noite. Um carro parou do meu lado e o motorista me disse: “você já vem prontinha”.

2° dia Sábado. Frio. Como chovia sem parar, fui à locadora tirar todos os filmes possíveis. Eles colocaram em um saquinho de papel que derreteu na chuva. Fiquei no toldo de uma padaria, com os filmes na mão, esperando ser resgatada por uma carona. Usei sacos plásticos para limpar a areia dos gatos. Decidi driblar a regra apenas nisto. Até achar outra solução.

3° dia

4° dia

Domingo vou à feira. Sempre. Uso o carrinho de metal dourado mas, mesmo assim, ele tem furos e preciso dos sacos. Não consegui levar morangos e a rúcula desmontou inteira. Pelé, que vende alho e limão, achou este teste uma bobagem. Não sabia como tirar o lixo sem usar os saquinhos que roubo do supermercado. Usei sacos de lixo. Não sei qual é a diferença.

Segunda. Precisava comprar absorvente, shampoo, e um esmalte vermelho chamado “Deixa Beijar”. Fui na farmácia como sempre: com dinheiro no bolso da calça. Percebi que as sacolinhas da farmácia são menores do que as normais. Coloquei tudo que dava nos bolsos. Tive que voltar para o trabalho com um pacotinho de O.B. na mão. Danos morais pelo resto do dia.


decomposição de materiais orgânicos e biodegradáveis, deixando o terreno muito impermeável. É possível que elas sumam sim, mas podem demorar pelo menos 300 anos. Lembrando ainda que plástico vem de petróleo, uma coisa rara, cara e que, apesar de oferecer emissões de dióxido de carbono em larga escala, vai acabar logo, logo. Em alguns países, o problema ganha possíveis soluções. China, EUA, Japão e alguns lugares da Europa têm leis que impedem a distribuição gratuita de sacolas nos supermercados e farmácias. Na África, mais exatamente em Zanzibar, quem usar um saco plástico pega seis meses de cadeia ou paga o equivalente a dois mil dólares em multa. Em Bangladesh, na Índia, a manufatura, compra e posse de sacos de polietileno é proibida e implica multa paga imediatamente e uma ida até a delegacia para cadastro. A reincidência pode significar até sete anos de cadeia. Aqui no Brasil, muitos projetos de lei estão tramitando em assembléias no Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. Em São Paulo, o governador José Serra vetou um projeto de lei de autoria do deputado Sebastião Almeida (PT) que exigia a adoção de sacolas plásticas oxibiodegradáveis por parte dos estabelecimentos comerciais da cidade. As sacolas chamadas oxibiodegradáveis são produzidas a partir da inclusão de um aditivo no processo de produção que acelera a decomposição em contato com luz, água ou terra. O prazo é até 100 vezes menor. “A impressão que se tem é que se ouviu apenas um lado nessa discussão. Parece que o lobby das indústrias de plástico influenciou a decisão”, afirma Almeida. Os tucanos dizem que são questões técnicas. “A tecnologia permite que o plástico se esfarele em pequenas partículas até desaparecer a olho nu,

5° dia Terça. Tentei carregar em uma mão a areia e na outra a comida dos gatos. Derrubei. O saco da areia explodiu, morri em 11 pilas e ainda fui xingada por uma véia que achou que eu tava despejando sujeira na calçada. Ainda com o problema “onde armazeno lixo?”.

6° dia Quarta. Fiquei neurótica. Fui ao cinema e disse para a moça do bar que era estranho ela entregar uma garrafa d’agua dentro de uma sacola. Ela riu. Mas eu tava falando sério. Na saída, comprei uma revista, o jornal e um chocolate. Perdi o chocolate antes de chegar em casa.

7° dia Quinta. Ganhei uma sacolinha de pano. Ok. Ganhei uma ecobag. Esqueci de levar a dita cuja na padaria e equilibrei pão, leite, manteiga e bolo de rolo nas mãos. Mudei a tática: encostei as coisas todas no peito. Não derrubei nada.

8° dia Sexta. Saí mais cedo da redação para ir atrás de um vestido para um casamento. A loja tinha sacolinhas de pano. Falei desta matéria e a vendedora disse que muita gente acha que a sacola de pano é só embalagem e pede uma de plástico para carregar.


polític a ambiental por Cristiane Lisbôa; fotografias, Rodrigo Braga.

mas que continua presente na natureza”, disse em entrevista recente Xico Graziano, secretário estadual do meio ambiente. No Paraná, essas sacolas já são distribuídas gratuitamente. Mas nem tudo são flores de plástico. Ninguém tem um laudo que prove por a+b que esta decomposição em tempo recorde é completamente inofensiva à natureza e incapaz de liberar metais pesados no meio ambiente sem qualquer forma de controle. Devemos então abolir de vez as sacolinhas? A indústria do plástico publicou um informe em alguns jornais brasileiros onde, entre outras coisas, afirma que: “as sacolas plásticas são reutilizáveis, práticas, higiênicas e têm múltiplos usos. São particularmente importantes para 80% dos consumidores que fazem compras a pé ou de ônibus”. Taí uma verdade. Porque independente de qualquer coisa, a sacolinha quebra um galho e tanto. “Cem por cento das sacolas que trazem produtos para o lar são utilizadas pelo cidadão para retirar e dar um destino aos resíduos produzidos em seu ambiente doméstico. Tais sacolas prestam-se ainda muito bem para fazer a separação seletiva do lixo, dada a conveniência e facilidade de seu uso. A proibição do uso de sacos plásticos para o transporte de compras representará um problema para o cidadão quando este for remover os resíduos produzidos em sua residência, na medida em que não lhe será tão fácil encontrar substitutos com as mesmas características de praticidade da sacola plástica. Tal proibição dificultaria sobremaneira, se não tornaria impraticável, a feitura da separação seletiva de lixo no ambiente doméstico”, afirma em artigo no site Universia (www.universia.com.br) Caio Cesar Saraiva, consultor e professor da Anhanguera Educacional Unibero e do Instituto Europeu de Design em São Paulo.

9° dia Sábado. Perdi a sacolinha de pano/ecobaaaag no supermercado. Andei 15 minutos procurando e acho que fui roubada. Perguntei no caixa se eles tinham sacolas de papel. Não tinham. Encontrei sacos “ecológicos” de 50 litros. O pacote com 15 unidades custava 18 reais. Não comprei nada e descrevi a minha bolsa em um papel destinado à diretoria. Coloquei meu celular e e-mails verdadeiros porque já não tinha mais de que sentir vergonha.

10° dia Domingo. Não fui à feira. Depois do roubo da sacola, ops, ecobag, levei a bolsa que uso todo dia, sem nada dentro, para o supermercado. Coloquei macarrão, tomate, azeite, queijo e duas garrafas de vinho. Ficou pesada, Meu amigo se recusou a carregar porque era “uma bolsa de mulher”. Tentei colocar o lixo dentro de sacos de papel e foi um nojo por causa das cascas do tomate.

11° dia Segunda. Fui nadar de manhã cedo. Sempre enrolo o maiô molhado em uma sacola de plástico. Como não dava, torci mais do que o costume. No fim do dia, minhas roupas estavam fedendo a rato morto. Tenho muito mais lixo seco e quase nada de orgânico, Uma amiga me disse no MSN: “enterra”. Mas onde, meu Deus?

12° dia Terça. Fiquei pior da gripe e pedi Naldecon-dia por telefone. Eles entregaram dentro de uma sacola. Falha. Mas eu tava com febre e decidi não me aborrecer.


À procura de uma saída para ao menos reduzir o impacto ambiental da produção das sacolas, a Brasken, petroquímica brasileira líder latino-americana em produção de resinas, apresentou o primeiro polietileno “verde” certificado do mundo, produzido a partir do etanol de cana-de-açúcar. O produto é uma composição de gases obtidos da cana e é chamado de “plástico verde” e, mesmo não sendo biodegradável porque ao substituir a nafta fóssil pelo etanol renovável o polímero resultante é idêntico ao de origem petroquímica, ele diminui consideravelmente as emissões de gases-estufa. O que já ajuda e muito. Por outro lado, como a única coisa que está sendo trocada é a matéria-prima, significa que se for mal utilizado e não reciclado, ainda leva muito tempo para se decompor. Ainda mata animais marinhos e causa os já todos citados problemas. Fora que o modelo de produção de cana não é exatamente um modelo ambientalmente sustentável. E, qual o sentido de se usar terra fértil e água, recursos naturais cada vez mais raros para plantar cana, para fazer plástico e que ainda irá durar muito mais tempo do que a própria pessoa que o utiliza? Radicalismos à parte, a grande questão não é do que são feitas as sacolas, mas sim o que fazemos com ela. Usamos para carregar as compras e depois para guardar o lixo. Mas e este lixo é despejado onde? Existe uma coleta seletiva mesmo? Funciona? Seu lixo é tirado de dentro da sacola e esta sacola encaminhada para reciclagem? O que fazer por hora? Perguntas nem sempre têm as repostas, mas são válidas exatamente por isso. A solução imediata é usar o menos possível e tentar encontrar uma saída. Quem achar, me conta. Por favor.

13° dia Quarta. Amigos iriam assistir ao jogo na minha casa. Todo mundo trouxe cerveja dentro de sacolas. Expliquei que o propósito desta matéria era não utilizar de maneira nenhuma o objeto. Chegamos juntos à conclusão de que, tecnicamente, eu não havia utilizado nenhuma. As latinhas vazias ficam bem dentro de sacos de papel. Mas sacos de papel são difíceis de encontrar e os que eu tinha acabaram.

14° dia Quinta. Seu Felipe, o zelador do prédio, me disse que pega meus sacos de papel com o lixo e coloca dentro de sacos plásticos. Expliquei que eu tava me esforçando e ele disse para eu me preocupar em ouvir o som mais baixo porque a música da minha casa era alta e ruim.

15° dia Sexta. Tive que comprar uma antena para a televisão. Dispensei a sacola apesar de estar chovendo. Acho que estragou. Ou não sei instalar.

16° dia Sábado. Passei o dia bebendo água por causa de uma ressaca e não sai de casa nem tirei o lixo. Já não sou tão jovem quanto já fui.


polític a ambiental/ a bela da c apa

por Ademir Correa; fotografia, Thany Sanches.

fernanda lima ONZE: Que mudanças ecologicamente corretas você adotou no dia-a-dia? Fernanda Lima: Sou uma pessoa econômica por natureza. Em casa, procuro orientar sobre o consumo exagerado de água, sobre o aproveitamento total dos alimentos, sobre a separação do lixo, o encaminhamento do lixo seco para reciclagem e do lixo orgânico para as plantas. O orgânico fica debaixo da terra por uns meses e depois esta terra é utilizada como adubo. Para o jardim, usamos água de poço artesiano. Quanto ao gasto de energia, sempre apago luzes e desligo TVs que não estão sendo usadas. Quando vou sair de carro, aproveito o trajeto para resolver mais de uma obrigação – usando-o o mínimo possível. O ar condicionado só é utilizado em noites extremamente quentes e, assim, vou acostumando também meus filhos. Folhas de papel são aproveitadas dos dois lados. E é proibido lavar calçadas e telhados. Acredita que as ações individuais podem realmente tornar o mundo sustentável? Não basta agir individualmente. Temos que debater o assunto e intervir, pelo menos, no nosso comportamento doméstico. Mas precisamos disseminar cada vez mais as informações. Explicar realmente, para os que não sabem, o que significa tornar o mundo sustentável. Estamos todos cometendo excessos, diariamente, em casa e no trabalho. Meu sonho pessoal seria plantar e colher meus alimentos, desacelerar um pouco e tentar encontrar uma paz verdadeira. O que vê no mundo de hoje que poderia ser facilmente alterado e que traria um enorme beneficio para o futuro? A diminuição do desperdício. Sua história começou no mundo da moda, uma indústria que sofre protestos pelo uso de peles e tecidos politicamente incorretos em favor da beleza. O que acha? Não tinha conhecimento das ações da PETA (Pessoas Pelo Tratamento Ético dos Animais) até vê-los perseguindo modelos na passarela. Acho esse trabalho, muitas vezes, eficiente. Sem eles, jamais saberíamos

que a pele dos animais é arrancada enquanto ainda estão vivos, para maior qualidade do produto. E jamais saberíamos que, para isso, eles pisam na cabeça dos bichos enquanto seus olhos piscam em desespero e o sangue escorre pelos seus focinhos. Só de lembrar fico deprimida. Quando vi este vídeo, passei o dia inteiro mal, pensando nisso. Aqueles coitados que cometem esta brutalidade devem ganhar uma esmola pelo serviço e, sem informação, agem com truculência para sobreviver a um mundo desigual, enquanto uma perua ignorante compra o casaco grifado por alguns “thousand dollars” e o estilista desfila sorridente na semana de moda com seu cigarro no canto da boca. Enquanto você apresentava o Mochilão MTV, visitou vários paraísos. Onde viu o melhor exemplo de modo de vida sustentável aliado à natureza (e não lutando contra ela)? Por onde andei, tirando alguns parques protegidos pelo Ibama, não consegui enxergar alguma expectativa em relação à preservação e nem presenciei exemplos de vida sustentável. Infelizmente. Está preocupada com efeitos como o aquecimento global, devastação (ou privatização) das nossas florestas, poluição do ar e dos rios? Sim, me preocupo muito em ver lugares maravilhosos que há pouco tempo eram intocáveis e que vêm sendo habitados sem nenhum planejamento e ordem urbana ou, sequer, saneamento básico. Vivemos no Brasil, onde o cumprimento da lei e da ordem, o respeito e a educação viraram uma “moeda” em desuso. Qualquer país do mundo, sensato ou coerente, que tivesse a riqueza natural que temos, tomaria uma atitude vigorosa no que se refere à preservação desse bem comum à humanidade. Acho que a responsabilidade cabe a todas as esferas da sociedade, começando pelo Estado até o cidadão comum. Fico indignada quando percebo que qualquer milionário compra o que quer. O dinheiro sempre fala mais alto, independentemente de seus interesses mesquinhos e egoístas. Mas, antes


de reclamar do macro, precisamos de ações de consciência, de educação e de assumirmos isso como uma responsabilidade nossa. Quando vejo um cara pilotando um barco e jogando sua lata de cerveja ao mar, ou um motorista que abre a janela do seu carro e joga um saco de MacDonald's para fora, tenho vontade de chorar, pois vejo que estamos muito aquém de sermos cidadãos. Sempre se viu atuante nessas questões relacionadas ao meio ambiente? Ou esta atitude se acentuou após o nascimento de seus filhos? Sinto pena das próximas gerações. Elas não têm culpa de nada, mas terão um mundo muito doente. Para meus filhos, tento dar uma vida parecida com a que tive. Moro em um lugar muito calmo, distante de carros, da poluição visual e sonora, onde cultivo plantas, frutas. Construí uma casa sem suítes ou grandes espaços, preservei o terreno e usei somente o canto para a obra. Vejo no meu condomínio casas que ocupam 90% dos terrenos. Fico imaginando que tipo de lazer é oferecido às crianças. Meus filhos ficam na grama, pegam flores do chão, cheiram, mexem na terra, se sujam, olham as minhocas, as galinhas, imitam o som dos bichos, comem frutas, verduras, vão até a varanda e colocam a mãozinha para sentir a chuva... Estou tentando minimizar os danos de um mundo que, em breve, irá mostrar a eles sua outra face. Sua consciência social e ecológica vem de sua educação familiar? Acho que veio de uma criação muito livre, no meio do mato, pulando em cipós e andando de trator, mesmo sendo uma criança da cidade (Porto Alegre). Desde pequena via meus pais metendo a mão na massa, mexendo com terra, com plantas, cozinhando e vivendo de forma a ter prazer com coisas simples. Quando tive minha primeira bicicleta, senti uma sensação de liberdade incrível. Enquanto minhas amigas na praia tinham mobilete (quase todas ganharam), meus pais nunca me deram e deixavam claro que meu transporte

era a bicicleta. Andava o dia inteiro, com chuva ou com sol. A partir daí, comecei a surfar e passava o dia dentro d'água. Sentia paz dentro de mim, mesmo sem saber ao certo o que era isso. Depois comecei a viajar, fui criando referências e vendo o que me agradava e o que me machucava. Ao crescer, a realidade ganha mais foco e vamos nos desapontando com os adultos. Hoje, mal consigo entrar no mar para pegar onda. Moro em um paraíso cuja as águas estão comprometidas (com espumas cor de ferrugem) e os surfistas brigam (verbal e fisicamente) por se acharem donos da onda. Inacreditável! Como imagina o planeta daqui a 30 anos? Não gosto nem de pensar nisso. Se não acelerarmos o nosso ritmo (de mudança), nesse caso, vislumbro um quadro muito feio. O que pensa de pessoas públicas que levantam a bandeira do “ativismo”? Qualquer forma de alerta é valida. E penso que poderíamos fazer muito mais. Teve uma época em que achava que poderia mudar o mundo, mas fui ficando descrente, pois ao ser chamada para campanhas beneficentes, conheci a "pilantropia”. Daí em diante, resolvi melhorar a minha vida e a das pessoas que estão por perto. Mas, às vezes, tenho rompantes de esperança e sinto que é necessário usar meu nome, que é publico, em causas sociais. Na verdade, quem deveria fazer este papel é o Estado, com vinhetas informativas na televisão, por exemplo. Você pode usar sua imagem em campanhas que você acredita (como fez recentemente com a do parto natural) e que sejam veiculadas em outras mídias, mesmo tendo contrato com um canal de TV? Sempre vou aceitar convites para campanhas cuja finalidade seja melhorar a vida das pessoas, desde que esta iniciativa não sirva para forrar o bolso de nenhum corrupto oportunista.


agora, você pode fechar esta revista e começar tudo de novo. ou não. polític a ambiental por Silveira Correa; fotografia, divulgação.

a vingança dos derrotados contra o capitalismo selvagem?

homens de lata

“A lata é o novo bob”, diz a editora de moda em sua crítica sobre o último desfile de verão da estilista carioca rococó que trouxe o alumínio nos penteados. Pode ser uma denúncia aos olhos, ou apenas futilidade explícita (quem sabe um simples patrocínio), mas essa imagem faz alarde para um dos nossos maiores motivos de orgulho e tristeza: o alto índice de reciclagem de latinhas no Brasil. O futuro desses recipientes vazios de sucos, refrigerantes, cervejas e energéticos faz parte de um caminho viciado – boca, chão, catador, cooperativa ou mercado – de onde voltam retransformados (o material pode ser reciclado inúmeras vezes e retorna para o consumo em cerca de 30 dias). A cadeia produtiva de reaproveitamento levou o Brasil ao primeiro lugar no pódio da consciência, liderando o ranking de reciclagem por sete anos consecutivos, segundo a Abal, Associação Brasileira do Alumínio, e a Abralatas, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade. Essa vitória também é a derrocada e o flagrante de um ciclo maculado de subemprego e subserviência, um sintoma grave de desigualdade com ares de educação para a ecologia (a saber: uma tonelada de alumínio reciclado evita a extração de 5 toneladas de bauxita, matériaprima para a produção da liga alumina). O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, através de seu programa de Apoio a Catadores de Materiais Recicláveis já designou, este ano, R$ 7,4 milhões de reais para 11 cooperativas na tentativa de possibilitar que trabalhadores sejam incluídos oficialmente nessa cadeia produtiva (e ganhem dignamente pela sua mão-de-obra, imagino). O próprio BNDES, que tem 34 projetos aprovados nesse campo, afirmava, já em 2007, que existiam entre 300 mil e 1 milhão de catadores no país (sem informar as condições desses subprofissionais). O Brasil é citado ainda no relatório “Empregos Verdes”, divulgado em 2008 pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), como responsável pela criação de 500 mil vagas nessa área. Mas o estudo alerta para a natureza duvidosa desses “jobs” (não só aqui), vistos como sujos, perigosos e difíceis – ligados a baixos salários, insegurança nos contratos e exposição a materiais tóxicos. Discute-se o fato de que o futuro dos diversos setores que buscam níveis de produção sustentáveis está exatamente nesses empregos verdes – que reduzem o impacto ambiental nas empresas. O Gestor de resíduos, ou lixólogo, seria um desses profissionais ecologicamente corretos, por exemplo. Mas muito antes de respostas ou alternativas de desenvolvimento (ou do possível lucro que essa atitude pode proporcionar), ainda carecemos de ações concretas – capacitação, conhecimento e oportunidade – que tirem crianças, adultos e idosos dos depósitos de restos de humanos. Há muito a ser feito – porque até aqui só estamos falando de números, não de pessoas. E de todo esse lixo que gera dignidade.



polític a ambiental Na página anterior, Paraná, 2002. Abaetetuba, 2008. Ao lado, Bosque Rodrigues Alves, PARÁ, 2008.



polĂ­tic a ambiental MamanguĂĄ, 2007.


arte



nazareno é um artista plástico paulista. Reúne, como hobby, fotos de crianças em seus aniversários – momento no qual, entre outros, se inicia uma generosa sociabilização na infância. É quando, ao presentear, o pequeno se desprende do seu querer para satisfazer o outro. Nestas imagens, se veem crianças, seus presentes e vestígios das festas de aniversário

yendoo jung é coreano, como sugere o nome oriental. Faz arte em fotos, com gente de verdade e suas vidas descolando do papel fotográfico para um plano mais real. Suas lentes já miraram casais dançando em bailes, famílias em suas saletas e também garatujas (desenhos de criança) reconstruídas em cenários estrategicamente criados, respeitando o lúdico sugerido nos rabiscos, que você confere virando estas próximas páginas


arte



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ao lado, acervo Rochelle Costi.



arte


modas



acordo, sonho, durmo fotos Rafael Assef (fill photographic) edição de moda Marcio Banfi styling Drica Cruz beleza André Gagliardo (abá mgt) modelos Gabriel

Schuber e Jeniffer Fritz (way model) assistente (fotos) Wagner Antunes assistente (beleza) Rapha Capello agradecimentos Porkão, CB Bar, Villa Grano e Fulô Flores

créditos foto 1 ele máscara Walério Araújo; corselet João Pimenta; calça Amapô para Surface to Air; bolsa Cavalera ela vestido Alexandre Herchcovitch; bolero Mario Mag; casquete Walério Araújo foto 2 ela gola Glória Coelho; casaco Brechó B. Luxo Vintage; saia Elisa Chanan; sandália Gazar foto 3 ele colete Alfaiataria Paramount; calça Ronaldo Fraga; correntes Mario Hag atum (o cachorro) usa corrente Mario Hag foto 4 ele camisa e chapéu Neon; calça Amapô; óculos Chilli Beans ela casaco Cantão; maiô Batom; colar Neon; meias Lupo; arranjos Fulô Flores foto 5 ele casaco Amapô; camiseta Alexandre Herchcovitch; colares Imaginarium; calça Ronaldo Fraga ela vestido Neon; braceletes Francesca Romana; legging Shoesserie; bota Regina Rios; óculos Chilli Beans foto 6 ela camisa Damyller ele túnica João Pimenta; underwear Calvin Klein foto 7 ela camisa Damyller; bolero Espaço Fashion foto 8 ele camisa e calca João Pimenta; sapato Triton; pérolas acervo stylist foto 9 ela vestido Espaço Fashion; broche Walério Araújo foto 10 ela vestido Glória Coelho; casquetes Walério Araújo; sapato Zara Hadid para Melissa; luva acervo stylist foto 11 ela vestido Espaço Fashion; broche Walério Araújo ele camisa e calça João Pimenta; pérolas acervo stylist

contatos de moda Alexandre Herchcovitch R. Haddock Lobo, 1551 (11) 3063 2888 Alfaiataria Paramount Al. Franca, 1185 (11) 3554 8311 Amapô para Surface to Air Al. Lorena, 1.989 (11) 3063 4206 Brechó B. Luxo Vintage R. Augusta, 2633 loja 1 (11) 3062 6479 Calvin Klein R. Oscar Freire, 716 (11) 3898 0229 Cantão Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232 / L.12 (11) 3031 7007 Cavalera Al. Lorena, 1682 (11) 3083 5157 Chilli Beans chillibeans.com.br (11) 3062 3266 Damyller dmylr. com.br Elisa Chanan elisachanan.com.br (11) 3384 1868 Espaço Fashion Av. Roque Petroni Jr., 1089 (11) 3061 2842 Francesca Romana Diana (21) 2266 2694 Gazar Al. Araguaia, 900 (11) 4191 5053 Glória Coelho R. Bela Cintra, 2173 (11) 3085 6671 Imaginarium Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232, L. 2C (11) 3816 1784 João Pimenta R. Mourato Coelho, 67 (11) 3034 2415 Lupo 0800 7078220 lupo.com.br Mario hag R. Augusta, 2.690 ( 11) 3088 8983 Neon R. Baronesa de Itu, 42 (11) 3828 1920 Regina Rios Av. Roque Petroni Jr, 1089 (11) 5189 4505 Ronaldo Fraga R. Aspicuelta, 259 (11) 3816 2181 Shosserie (11) 3037 7838 Triton R. Oscar Freire, 993 (11) 3085 9089 Walério Araújo (11) 7239 8383


















começa onde as outras terminam

rua Álvaro de Carvalho, 386, 11o andar 01050-070 Centro São Paulo SP

Redação

a revista ONZE é impressa pela NeoBand em papel couchê 150 gramas na capa e papel 90 gramas no miolo.

Fábio Polido, Fernanda Lisboa, Artur Tavares, Thany Sanches, Rafa Carvalho, Adriana Alves, Bárbara Aguiar, Cristiane Lisbôa, Mateus dos Anjos, Marcelo Grillo, Ademir Correa.

Tiragem desta edição 22 mil exemplares + pdf + áudio

Revisão Lidia Paula Sahagoff

Números atrasados (risos)

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Criativo Estratégico Mateus Prado mateus@revistaonze.com.br

Consultor Ricardo Cavallini relações públicas Fábio Queiroz e Helô Ricci assessoria de eventos

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Bárbara Aguiar MTB: 43908

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Atendimento ao leitor Rafaela Maravilha sac@revistaonze.com.br (11) 3256.8888

Agradecimentos: Lady GaGa, Henrique Fischer, Antônio Amâncio, São Jorge, Dan Nakagawa, Thomas Knoll, Renata Sbardelini, Giovana Mollona, Nety Levaeu, Alcione Sombra Azul, Tchatcha Ananda e toda família de Opash, Xico Sá, gengibre, Ronaldo Bressane, Dona Iara, Maria de Fátima Alves dos Santos, Gustavo Silvestre, Lanchonete Madri, Geráldine Belga, o Índio, amores, ex-amores, maços de cigarro, chá branco, verde e vermelho, Susan Miller, Adir Lisboa, Nara Tavares, bergamotas, videokê e bailarinas. E o Chico Buarque. Exatamente nesta ordem.

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