Revista Ordem dos Médicos Nº137 Janeiro/Fevereiro 2013

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ano 29 n.º 137 Janeiro/Fevereiro | 2013 Mensal | 2€

Recusa de medicamentos pode ser crime pág. 50

Polémica Racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS pág. 36


Quer ser revisor AMP? A Acta MĂŠdica Portuguesa (AMP) ! " " " " # $ " % & ' ( ) * ) *+ $ ) , - . / ' ) 0 !

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Revista da Ordem dos MĂŠdicos Ano 29 N.Âş 137 Janeiro/Fevereiro 2013

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sumĂĄrio

30 Despacho 15630/2012

PROPRIEDADE: Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos

31 Declaraçþes do presidente do Conselho de Administração do CHSJ

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Telefone geral da OM: 218427100

34 Unidades Privadas de SaĂşde Esclarecimento sobre a Portaria 287/2012

Presidente da Ordem dos MĂŠdicos: JosĂŠ Manuel Silva

35 Tabela de Nomenclatura para medicina dentĂĄria

Director: JosĂŠ Manuel Silva Directores Adjuntos: AntĂłnio Pereira Coelho, JosĂŠ Ă vila Costa e Miguel GuimarĂŁes Directora Executiva: Paula Fortunato E-mail: paula.fortunato@omcne.pt Redactora Principal: Paula Fortunato

actualidade 05 CĂłdigo DeontolĂłgico

36 Racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS

editorial

50 Recusa de medicamentos pode ser crime

06 A ĂŠtica teoriza-se, mas tambĂŠm se deve praticar!

informação

Dep. Comercial: Helena Pereira

10 Sustentabilidade, Recursos Humanos e Racionamento em SaĂşde

AntĂłnio JosĂŠ Cruz

15 Mapa de vagas do Concurso IM2013B

Redacção, Produção e Serviços de Publicidade: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Tel.: 218 427 100 – Fax: 218 427 199

17 Parecer da Associação Portuguesa de BioÊtica sobre Racionamento em Saúde

Impressão: Zona Industrial da Pedrulha Apartado 8041 3021-997 Coimbra Depósito Legal: 7421/85 Preço Avulso: 2 Euros Periodicidade: Mensal Tiragem: 43.000 exemplares (11 números anuais) Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alínea a do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99

29 DemissĂŁo do Coordenador do CNEDMOM

53 Carta aberta aos dirigentes políticos e autoridades de saúde da Europa 56 Que Futuro para a estratÊgia de segurança nacional?

opiniĂŁo 60 Racionalização? Racionamento? 64 SNS – nĂŁo hĂĄ dinheiro? Uma ideolĂłgica aldrabice

22 Parecer do CNEDMOM sobre o parecer 64 do CNECV

67 A revisĂŁo dos estatutos da Ordem dos MĂŠdicos

23 Nova CĂŠdula Profissional

68 A mentira do “dever de empobrecer�

24 Declaraçþes do Presidente do CNECV de 24 de Dezembro de 2012 25 Notícias relativas a documento inacabado e interno da OM 26 Pedido de retratação pública 27 Carta ao coordenador do CNEDMOM 28 Demissþes no CNEDM da Ordem dos MÊdicos

72 Este país não Ê para velhos 74 Um novo regime de trabalho mÊdico... 77 Serviço Nacional de Saúde (SNS) 83 O Medo 86 Fumo sem fogo?

histĂłrias da... 87 Azevedo Neves (1877-1955)

Nota da redacção: Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos MÊdicos.

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conselho cientĂ­fico

PRESIDENTES DOS COLÉGIOS DAS ESPECIALIDADES ANATOMIA PATOLĂ“GICA: Pedro Oliveira ANESTESIOLOGIA: Paulo Ferreira de Lemos ANGIOLOGIA/ CIRURGIA VASCULAR: JosĂŠ Fernandes e Fernandes CARDIOLOGIA: Mariano Pego CARDIOLOGIA PEDIĂ TRICA: JosĂŠ Monterroso CIRURGIA CARDIOTORĂ CICA: Manuel Antunes CIRURGIA GERAL: Pedro Coito CIRURGIA MAXILO - FACIAL: Paulo Coelho CIRURGIA PEDIĂ TRICA: Paolo Casella CIRURGIA PLĂ STICA RECONSTRUTIVA E ESTÉTICA: VĂ­tor Fernandes DERMATO - VENEREOLOGIA: Manuela Selores DOENÇAS INFECCIOSAS: Fernando Maltez ENDOCRINOLOGIA - NUTRIĂ‡ĂƒO: MĂĄrio Rui Guerreiro Mascarenhas ESTOMATOLOGIA: RosĂĄrio Malheiro FARMACOLOGIA CLĂ?NICA: Henrique Luz Rodrigues " # $ % & GENÉTICA MÉDICA: Jorge M. Saraiva GINECOLOGIA / OBSTETRĂ?CIA: JoĂŁo Silva Carvalho HEMATOLOGIA CLĂ?NICA: Alexandra Mota IMUNOALERGOLOGIA: Elza TomĂĄs IMUNOHEMOTERAPIA: Maria Helena Alves MEDICINA DESPORTIVA: Paulo Beckert Rodrigues MEDICINA FISICA E DE REABILITAĂ‡ĂƒO: Cecilia Vaz Pimto MEDICINA GERAL E FAMILIAR: JosĂŠ Silva Henriques MEDICINA INTERNA: AntĂłnio Martins Baptista MEDICINA LEGAL: Francisco Corte Real MEDICINA NUCLEAR: Maria do RosĂĄrio Vieira MEDICINA DO TRABALHO: AntĂłnio Lopes Pires MEDICINA TROPICAL: JosĂŠ Lopes Martins NEFROLOGIA: JoĂŁo Ribeiro Santos NEUROCIRURGIA: Nuno Maria Salema Pereira dos Reis NEUROLOGIA: JosĂŠ Fernando da Rocha Barros NEURORRADIOLOGIA: JoĂŁo Abel Marques Xavier OFTALMOLOGIA: Rui Daniel Mateus Barreiros Proença ONCOLOGIA MÉDICA: Maria Helena GervĂĄsio ORTOPEDIA: Paulo FelicĂ­ssimo OTORRINOLARINGOLOGIA: Artur CondĂŠ PATOLOGIA CLĂ?NICA: Manuel Cirne Carvalho PEDIATRIA: JosĂŠ Lopes dos Santos PNEUMOLOGIA: Henrique Queiroga PSIQUIATRIA: Luiz Carlos Viegas Gamito PSIQUIATRIA DA INFĂ‚NCIA E DA ADOLESCĂŠNCIA: (a designar) RADIOLOGIA: Maria AmĂŠlia Ferreira EstevĂŁo RADIOTERAPIA: Ă‚ngelo Oliveira REUMATOLOGIA: JosĂŠ AntĂłnio de Melo Gomes SAĂšDE PĂšBLICA: Pedro Serrano UROLOGIA: JosĂŠ Palma dos Reis

COORDENADORES SUBESPECIALIDADES CARDIOLOGIA DE INTERVENĂ‡ĂƒO: Vasco Ribeiro CUIDADOS INTENSIVOS PEDIĂ TRICOS: JosĂŠ Filipe Farela Neves ELECTROFISIOLOGIA CARDĂ?ACA: Pedro AdragĂŁo EEG/NEUROFISIOLOGIA: Maria Regina Brito GASTRENTEROLOGIA PEDIĂ TRICA: Jorge Amil Dias HEPATOLOGIA: Rui Tato Marinho MEDICINA INTENSIVA: Rui Paulo Moreno MEDICINA DA REPRODUĂ‡ĂƒO: Carlos Calhaz Jorge NEFROLOGIA PEDIĂ TRICA: Fernando Rosa NEONATOLOGIA: Daniel Virella NEUROPEDIATRIA: JosĂŠ Carlos da Costa Ferreira ONCOLOGIA PEDIĂ TRICA: Maria JosĂŠ Ribeiro ORTODONCIA: (a designar)

COORDENADORES COMPETĂŠNCIAS ACUPUNCTURA MÉDICA: JoĂŁo Pires EMERGĂŠNCIA MÉDICA: Carlos Mesquita GESTĂƒO DOS SERVIÇOS DE SAĂšDE: JosĂŠ Pedro Moreira da Silva HIDROLOGIA MÉDICA: LuĂ­s Cardoso Oliveira MEDICINA DA DOR: Beatriz Gomes MEDICINA FARMACĂŠUTICA: Ana Maria Nogueira MEDICINA HIPERBĂ RICA: Oscar Camacho

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Código Deontológico Relações dos médicos com terceiros capítulo I '*+;<'= >KW '=Y+['*'>\W']YK= ^' >_\^+^K= W`^\>K=

Artigo 142.º (Liberdade de escolha dos meios de diagnóstico e tratamento) 1. A liberdade de escolha pelo médico dos meios de diagnóstico e tratamento não pode ser limitada por disposição estatutária, contratual ou regulamentar, ou por imposição da entidade de prestação de cuidados médicos.

2. O disposto no número anterior não impede o controlo médico hierarquizado do acto médico, o qual deve realizar-se sempre no interesse do doente.

3. O disposto anteriormente não obsta à existência de orientações, normas e protocolos respeitantes à utilização de meios complementares de diagnóstico e tratamento, desde de que aprovados por uma Direcção Clínica, após ampla discussão e consenso com os médicos abrangidos.

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editorial

A ĂŠtica teoriza-se, mas tambĂŠm se deve praticar!

Encaro como positivo todo o diĂĄlogo sobre preceitos ĂŠticos, se bem que a continuação da presente discussĂŁo, a que nĂŁo posso eximir-me, nĂŁo aconteça pelos motivos mais positivos. Pela minha parte, esta matĂŠria ďŹ ca aqui deďŹ nitivamente encerrada. Fazendo um pouco de histĂłria dos momentos mais recentes... Dia 23 de Dezembro sou surpreendido pelo contacto do JN para me pronunciar sobre um documento interno da Ordem, produzido pelo Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdicas (CNEDM). Fui reservado nas palavras, para evitar escusadas polĂŠmicas. InglĂłrio. No dia 24 de Dezembro sou procurado intensivamente por toda a comunicação social, w y {

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e pouco ĂŠticas declaraçþes do Presidente do CNECV. O Presidente do CNECV faltou grosseiramente Ă verdade quanto } ~ € € € eu escondera um documento do CNEDM durante mais de um mĂŞs! Um comunicado dos trĂŞs Presidente Regionais, publicado nesta Revista, repĂľe factualmente a verdade. Esclarecido e instado a assumir um pedido de desculpas, o Presidente do CNECV nunca o fez. Ficamos esclarecidos quanto Ă sua interpretação da Ética.

Perante a avassaladora insistência da comunicação social, que inicialmente nem atendi por se tratar de um dia de Família, e em função de alguns telefonemas de Amigos e Colegas inquietos, dizendo-me que era imprescindível uma reacção, elaboro um comunicado pessoal, que tambÊm se publica nesta Revista, e dialogo com alguns meios de comunicação social. Estranha vÊspera de Natal. O parecer do CNEDM, agora igualmente publicado nesta


In “ Correio da ManhĂŁâ€? - 20 de Dezembro de 2012

Revista, porque nada temos a esconder, surpreendeu-me. Informalmente discutido no CNE de 21 de Dezembro, foi decidido aguardar-se pelos esclarecimentos solicitados ao CNEDM. Entretanto, em vez de respostas, recebemos os pedidos de demissĂŁo de trĂŞs membros do CNEDM, entre os quais o Presidente, Prof. Filipe Almeida, o que motivou a carta que lhe enviei, e que aqui ĂŠ divulgada. O Dr. Pedro Ponce pediu oralmente a sua demissĂŁo ao Presidente da SRS, conforme soubemos posteriormente. Em resposta ‹ { determinado momento apenas dois conselheiros reiteram a sua demissĂŁo. Mais uma vez, os membros demissionĂĄrios, ou alguĂŠm por eles, foram (ou foi) pressurosamente para a comunicação social lançar mais ruĂ­do pĂşblico sobre a Ordem dos MĂŠdicos, com objetivos certamente muito pouco nobres, o que apenas desabona em relação ao sentido ĂŠtico dos prĂłprios. O que acaba por aclarar alguns comportamentos. O Prof. Filipe Almeida, inamovĂ­vel, persiste no pedido de demissĂŁo, naturalmente aceite, divulgando-se a carta que o mesmo solicitou que fosse publicada. Na Ordem nĂŁo hĂĄ tabus e nĂŁo hĂĄ pessoas insubstituĂ­veis. Lastimo profundamente que os elementos agora demissionĂĄrios nĂŁo tenham protelado um pouco a sua demissĂŁo, para poderem responder Ă s dĂşvidas legitimamente colocadas pelo CNE. Compreendo que teriam € € y ÂŒ Â? Fui acusado de “apoucarâ€? o parecer do CNEDM! Pena foi que os Conselheiros demissionĂĄrios tenham perdido a oportunidade

de “agigantarâ€? o referido parecer dissecando e elaborando sobre os assuntos controversos do mesmo. Resumido o historial e enquadrados os documentos que agora se publicam, sĂŁo inevitĂĄveis alguns comentĂĄrios. - A Ordem dos MĂŠdicos, vertebradamente, continuarĂĄ a defender, com intransigĂŞncia, os Doentes e a Qualidade dos Cuidados de SaĂşde e nĂŁo aceitarĂĄ racionamentos impostos por ne Â€ ~ qualquer Governo nem os custos de oportunidade de decisĂľes no mĂ­nimo discutĂ­veis, que muito tĂŞm penalizado o SNS. Como bem lembrou Donald Berwick, na sua recente conferĂŞncia na Fundação Calouste Gulbenkian, “apostar em cuidados de excelĂŞncia sairĂĄ sempre mais baratoâ€? e â€œĂŠ importante conquistar a sociedade civil e  ~ processos de tomada de decisĂŁo sĂŠrios e com maturidadeâ€?. - Causa alguma perplexidade que os responsĂĄveis pela “fugaâ€? do parecer do CNEDM para a comunicação social tenham preferido discutir um documento na comunicação social em vez de o fazer internamente. Em nada  Âƒ~ { „ e a Ordem dos MĂŠdicos. - As “fugasâ€? de informação, que aparentemente tiveram origem em alguĂŠm do CNEDM e a que os Colegas da Secção Regional do Norte sĂŁo completamente alheios, ocorreram por meios de comunicação do Porto. Sobre o parecer do CNEDM da Ordem dos MĂŠdicos: - É absolutamente espantoso e ~ † € ‡ que o parecer 64/2012 do CNECV “evitou a controvĂŠrsia estĂŠrilâ€?! Um parecer que o Dr. BagĂŁo ˆ ‰ € € Š €~ Jan/Fev | 2013 | 7


—{ € – yÂ? % Oliveira, indirectamente, referiu como uma reintrodução da pena de morte em Portugal, que ĂŠ duramente criticado pela Associação Portuguesa de BioĂŠtica, que foi amplamente rejeitado pela Sociedade, que admite o racionamento por idade‌, evitou a “controvĂŠrsia estĂŠrilâ€??!... Sem comentĂĄrios‌ - Para alĂŠm de algumas ressalvas € w ‰˜ Â’ rentes, o parecer do CNEDM fugiu/evitou todos os aspectos mais polĂŠmicos do parecer 64 do CNECV e demitiu-se antes ~ w ‰˜ adicionais solicitadas! Ao requerer um parecer ao CNEDM sobre o parecer 64, o CNE esperava que os aspectos que mais intensa discussĂŁo pĂşblica motivaram fossem alvo de meditação ĂŠtica do nosso Conselho de Ética. Infelizmente, tal nĂŁo aconteceu.  w ~ ~ - No CNECV hĂĄ quem, por ocupar cargos de nomeação polĂ­tica do Governo e aspirar a ser nomeado para outros, deveria, eticamente, ter-se escusado a participar de um parecer elaborado a pedido desse mesmo Governo. Sobre ~ w ~ ~ Presidente do CNECV nada diz?! - Recentemente foram nomeados pelo Governo dois novos elementos para o CNECV, para substituir dois que abandonaram. NĂŁo serĂĄ passĂ­vel de dĂşvidas que o Governo nomeie pessoas, cujo Â? € † ~ { um ĂłrgĂŁo ĂŠtico a que depois vai pedir pareceres?! NĂŁo deveria ter † w ‰‘ y ~ € dos elementos agora nomeados pertencer ao mesmo Instituto da relatora do parecer 64/2012 do CNECV? A Lei 24/09 deveria ser revista e corrigida nas suas vĂĄrias fragilidades. 8 | Jan/Fev | 2013

- HĂĄ elementos do CNEDM da OM que deveriam ter pedido escusa de se pronunciarem sobre o parecer 64 do CNECV. O principal ĂŠ mesmo o ex-Coordenador do CNEDM, pois trabalha no mesmo Instituto de BioĂŠtica que tem como Directora a relatora do parecer do CNECV, facto que nem sequer assinalou! O CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos „ ~ ‰ ~ † € € ~ Â? w ~ ~ € ‘ devem dar pareceres nessas circunstâncias. Do debate na Ordem dos MĂŠdicos sobre racionamento vs racionalização em SaĂşde, nĂŁo posso deixar de fazer um comentĂĄrio. O Presidente do CNECV apresentou na Ordem dos MĂŠdicos uma interpretação do parecer que, em alguns aspectos, contraria frontalmente a letra desse mesmo parecer. ~€ ~ { Â’ Â’ crever o parecer com a nova e agora pĂşblica interpretação, porque tornaria o parecer 64 muito mais consensual e passĂ­vel atĂŠ de ser subscrito por mim prĂłprio. Inesperadamente, o Prof. Miguel Oliveira da Silva recusou-se a passar a forma de letra o seu discurso oral. Ficamos esclarecidos. Porque o que conta Â? ~“ € ~ escrito e nĂŁo aquilo que ĂŠ dito. A conclusĂŁo ĂŠ simples. O que estĂĄ escrito no parecer 64 ĂŠ de tĂŁo fraca qualidade que necessita de interpretação, mas a interpretação nĂŁo pode ser escrita porque contraria o parecer‌  { ‘ imprevisto, atentas as trapalhadas que vieram posteriormente a pĂşblico, com o Presidente do % %• – ~ que os Hospitais G14 nĂŁo teriam

In “ Correio da ManhĂŁâ€? - 3 de Janeiro de 2013

editorial


contrĂĄrio, sĂł lhe criou problemas adicionais. Fica demonstrado,

~ { que o Ministro da SaĂşde, caso o pretenda, farĂĄ melhor em pedir pareceres Ă Ordem dos MĂŠdicos, que tem um potencial de experiĂŞncia e conhecimento acumulados que nĂŁo se encontra em nenhuma outra instituição. Finalmente. Do mesmo modo como foram nomeados, os membros do CNEDM que se demitiram jĂĄ foram tranquilamente substituĂ­dos de acordo com os Estatutos da Ordem dos MĂŠdicos. SĂŁo os procedimentos normais em qualquer instituição. Tal como agora dois membros do CNECV tambĂŠm foram substituĂ­dos sem qualquer polĂŠmica... Enquanto assistirmos ao contĂ­nuo enterrar de milhares de milhĂľes de euros no obscuro processo do BPN, entre muitos outros desperdĂ­cios, situaçþes pouco transparentes e aviltantes desigualdades, contestaremos todo e qualquer processo de racionamento em saĂşde com redobrada energia. A desumanidade e facilidade com que alguns aceitam o desfavorecimento dos mais pobres recorda-me o conto de MĂĄximo Gorki, “Seres que outrora foram humanosâ€?. A Ordem dos MĂŠdicos defenderĂĄ e praticarĂĄ sempre a Ética do CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicos. Continuemos, todos, a ser Seres Humanos.

In “ Correio da ManhĂŁâ€? - 17 de Janeiro de 2013

colaborado com o CNECV, o que ‘ † { obrigado a emitir um comunicado explicativo a lamentar o “mal entendidoâ€?! Estranhamente, a resposta do G14 nĂŁo circulou por todos os Conselheiros, nem sequer por todos os relatores! SintomĂĄtico. Depois de meses de insistĂŞncia y ~ † ~ carta que o Ministro da SaĂşde dirigiu ao CNECV a solicitar o parecer. A carta nada tem de extraordinĂĄrio, solicitando “a elaboração de um parecer sobre a implementação de medidas que visem a racionalização da oferta de tecnologias de saĂşde, em particular de medicamentos, no quando da sustentabilidade do SNS‌ Agradecemos um enfoque sobre as medidas que estĂŁo a ser implementadas por vĂĄrios hospitais no sentido de se agregarem para a aquisição‌â€?. Curiosidade 1: O Ministro da SaĂşde solicitou um parecer sobre racionalização e o CNECV, “mais papista que o papaâ€?, respondeu com uma estratĂŠgia de racionamento! Elucidativo. Curiosidade 2: Conforme constava da carta do Ministro, era importante analisar a estratĂŠgia do G14, mas o respectivo documento nĂŁo foi considerado pelo CNECV, nĂŁo foi entregue a um dos relatores e nĂŁo era do conhecimento do seu Presidente. ™ A grande lição de todo este processo ĂŠ que o Parecer 64 do CNECV em nada ajudou o Ministro da SaĂşde. Bem pelo

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informação

Miguel Guimarães Presidente do CRNOM

Sustentabilidade, Recursos Humanos e Racionamento em Saúde

As declarações do Presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar de São João (CHSJ) em entrevista ao programa “Olhos nos Olhos” na TVI24 nos dias 17/12/2012 e 07/01/2013, e toda a sequência de acontecimentos públicos relacionados com o parecer 64/2012 do Conselho Nacional

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de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) mereceram do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (CRN) o máximo de atenção e preocupação, o que resultou em diversas intervenções públicas na defesa dos médicos e do direito de todos os cidadãos a cuidados de saúde de qualidade

e em igualdade de circunstâncias (ver documentos publicados nesta revista). As sugestões dos Presidentes do CA do CHSJ e do CNECV anteciparam a apresentação pública do relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual, em termos genéricos, aponta para que Portugal não


pode continuar a ter um Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) de qualidade, que respeite os Direitos Humanos e os direitos sociais consagrados na nossa Constituição. Sem prejuĂ­zo de uma anĂĄlise mais formal das declaraçþes proferidas pelo Presidente do CA do CHSJ, ĂŠ profundamente lamentĂĄvel que um mĂŠdico manche abertamente o bom ~ que trabalham no SNS e no CHSJ, ao sugerir que os mĂŠdicos, e designadamente os especialistas de todas as especialidades cirĂşrgicas do paĂ­s, e em particular os do CHSJ, nĂŁo cumprem os seus deveres no SNS como cirurgiĂľes e como cidadĂŁos. A sugestĂŁo de que operam pouco, e de que “baixam a produtividade no SNS para operar os doentes nas instituiçþes privadasâ€?, nĂŁo % %š os mĂŠdicos. Pelo contrĂĄrio, estigmatiza todos os mĂŠdicos do CHSJ e apenas contribui para aumentar a indignação dos mĂŠdicos e dos doentes. De resto, a informação alarmista de que 30 cirurgiĂľes do CHSJ nĂŁo iriam ao bloco ĂŠ incompreensĂ­vel, na medida em que, a ser verdade € › ‡€ ~ ‹‘ aceitĂĄvel, a responsabilidade ĂŠ tambĂŠm dos respectivos directores de serviço, nomeados pelo CA, e do prĂłprio CA do CHSJ. Foi completamente ignorada a constituição das equipas cirĂşrgicas (que, no mĂ­nimo, tĂŞm que ser constituĂ­das por um cirurgiĂŁo e um cirurgiĂŁo ajudante) e a multiplicidade de ocupaçþes a que um especialista estĂĄ sujeito no seu serviço, desde a formação dos internos de especialidade Ă s tarefas administrativas e de organização,

passando pela consulta externa e interna, serviço de urgĂŞncia, serviço em unidades de cuidados Âœ { Â? ~ dos doentes internados, formação contĂ­nua, actividade docente e investigação. Uma simples anĂĄlise do relatĂłrio de monitorização mensal da actividade assistencial, publicado pela Administração Central do Sistema de SaĂşde (ACSS), revela que em 2012 e atĂŠ Outubro foram realizadas 448.043 cirurgias programadas (208.218 convencionais e 239.825 em ambulatĂłrio) e 89.074 cirurgias urgentes. Ou seja, um total de Â?žÂ&#x;Â?  Â&#x; € { € 2012 rondarĂĄ as 671.396 cirurgias. Um nĂşmero substancialmente diferente do referido pelo Presidente do CA do CHSJ (196.695 cirurgias). Na realidade, o rĂĄcio de cirurgias por cirurgiĂŁo ĂŠ muito superior Ă quele que foi sugerido na referida entrevista. Adicionalmente, a referĂŞncia } { particular Ă carreira mĂŠdica, com a alusĂŁo negativa aos “cargos Â? € ~› ~ a vidaâ€?, foi particularmente infeliz e contrĂĄria aos princĂ­pios fundadores do prĂłprio SNS, e mostrou uma confusĂŁo inquietante entre a progressĂŁo ÂĄ € ‹‘ competĂŞncias mĂŠdicas) e os lugares de direcção (de nomeação e da exclusiva responsabilidade do CA do CHSJ). Interpretando de forma literal os dados apresentados pelo Presidente do CA do CHSJ, sĂł podemos concluir que resultaram € w ‰‘ €~ Âœ~ quem tem responsabilidades directas na matĂŠria. Em Ăşltima anĂĄlise, se a actividade mĂŠdica e cirĂşrgica do CHSJ nĂŁo corresponde aos parâmetros

€ ‹‘ { “ ‡€ ~ € ~ acontece e tomar as medidas necessĂĄrias para inverter a situação. Jamais tal poderĂĄ servir para julgar em praça ¢ Â€ declaraçþes que entendemos serem difamatĂłrias. € ‹˜  taxa de absentismo no CHSJ (cerca de 6% em 2011, e nĂŁo 11% como foi dito) e sobre a exclusividade de funçþes (a dedicação exclusiva, regime de trabalho que jĂĄ nĂŁo ĂŠ uma opção dos mĂŠdicos desde 2009 e que nem sempre correspondia a mais horas de trabalho) sĂŁo reveladoras das intençþes mais desastrosas do poder polĂ­tico e da sua ‘refundação do estado social’. Por isso, e no pressuposto € saĂşde estivessem todos em exclusividade, o Presidente do CA do CHSJ referiu que poderia dispensar cerca de 20% dos recursos humanos, mantendo ou reforçando a actividade e qualidade de serviços. A imensa maioria dos mĂŠdicos naquele hospital jĂĄ trabalha no limite do que ĂŠ ĂŠtica e humanamente aceitĂĄvel. E todos sabem bem disso. E serĂĄ que os mĂŠdicos em exclusividade de funçþes trabalham mais que os mĂŠdicos que nĂŁo estĂŁo em exclusividade? E serĂŁo os mĂŠdicos em ‰ € † ~ que aqueles que nĂŁo estĂŁo em exclusividade, em função do seu vencimento mensal e horĂĄrio de trabalho? E o CA do CHSJ ~ € pagar um regime equivalente ao da exclusividade a todos os mĂŠdicos? E se todos os mĂŠdicos do CHSJ solicitarem ao CA a passagem para o novo regime das 40 horas semanais recentemente Jan/Fev | 2013 | 11


informação

publicado, o CA do CHSJ aceitarĂĄ os pedidos formulados? Numa altura de crise social, em que todos os portugueses se sentem injustiçados, e em que o bom senso deveria constituir um imperativo pĂşblico, as declaraçþes proferidas sĂŁo lamentĂĄveis, inaceitĂĄveis e contraproducentes. O CHSJ foi considerado, pelo terceiro ano consecutivo, o melhor do SNS no estudo realizado pela Escola Nacional de SaĂşde PĂşblica. Tal avaliação nĂŁo seria possĂ­vel se nĂŁo tivesse ‰ ~ { € tal estudo deveria tambĂŠm ser entendido como um elogio aos recursos humanos de que dispĂľe %š Â? € hospital nĂŁo mereciam tanta falta de respeito e tanto desprezo. y ~ { saĂşde, e em particular os mĂŠdicos, sĂŁo os principais responsĂĄveis pela melhoria da qualidade dos cuidados de saĂşde prestados aos cidadĂŁos e pelo sucesso internacional do nosso SNS, tendo estado intimamente associados aos mĂŠritos do nosso serviço de saĂşde sistematicamente destacados pela OCDE e pela OMS. Os indicadores conhecidos e regularmente divulgados falam por si. Acresce, ainda, que os mĂŠdicos portugueses sĂŁo internacionalmente reconhecidos como ‰ ~ € mais prestigiaram um serviço pĂşblico em Portugal. Na entrevista de 07/01/2013, o Presidente do CA do CHSJ deixou claro porque induziu em erro a população portuguesa. É que a grande fatia do Orçamento de Estado para a saĂşde estĂĄ alocada aos recursos humanos. E se no inĂ­cio desta segunda entrevista ~ ~ € € y ‡€ ~ ~ ‹˜ 12 | Jan/Fev | 2013

produzidas na primeira, a realidade ĂŠ que insistiu em falar de um regime de trabalho que jĂĄ nĂŁo estĂĄ disponĂ­vel desde 2009 (dedicação exclusiva) e que a enorme maioria dos portugueses nĂŁo entende. De resto, nĂŁo nos parece credĂ­vel que o CA do CHSJ esteja disponĂ­vel para aceitar a transição das 35 para as 40 horas a todos os mĂŠdicos que assim o solicitarem ao abrigo da nova legislação da Carreira MĂŠdica. É que, provavelmente, o CHSJ nĂŁo terĂĄ orçamento disponĂ­vel para tal desiderato. Fica mais uma vez, agora de forma mais directa e sem a necessidade de sugerir que os seus funcionĂĄrios ‘ € { de que o CHSJ tem cerca de 20% ‰ { ou, dito de outra forma, tem 20% de mĂŠdicos dispensĂĄveis. E se no “melhor hospital do PaĂ­sâ€? ĂŠ assim, como serĂĄ nos outros! O cĂ­rculo estĂĄ portanto quase encerrado. A mensagem € € Â? ~ da comunicação social no dia seguinte. E o relatĂłrio do FMI

€ € se quis antecipar. AtĂŠ parece que jĂĄ estava tudo combinado! Profundamente deplorĂĄvel. Neste contexto, quero mais uma vez aqui expressar a mĂĄxima solidariedade para com todos os %š Â? seu trabalho tem sido altamente prestigiante para a Medicina nacional e tem contribuĂ­do de forma decisiva para que o seu hospital seja uma referĂŞncia de rigor e excelĂŞncia na prestação de cuidados de saĂşde. E qual a relação entre recursos humanos, racionamento em saĂşde e sustentabilidade? Bom, menos recursos humanos e mais racionamento igual a maior sustentabilidade. Ou melhor

ainda, menos doentes e menos € sustentabilidade. O primeiro passo no “racionamento em saĂşdeâ€? foi dado pelo agrupamento dos hospitais do Norte (liderado pelo CHSJ) conhecido por G14. O acordo assinado entre os 14 hospitais, e que posteriormente foi alargado €~ Â? ~ { na prĂĄtica a existĂŞncia de protocolos terapĂŞuticos em ĂĄreas Âœ { ~ ou excluĂ­do a determinados tipos ~ ~ ~ ~ ~ comprovados como vĂĄlidos e aprovados a nĂ­vel nacional e internacional. A situação criada permitiu desigualdades marcadas no acesso a diversos tipos de tratamentos. Os doentes dos hospitais fora do G14 tinham mais possibilidades terapĂŞuticas, e os hospitais do G14 tinham mais poupanças. A contestação social subiu de tom e foi necessĂĄrio legitimar eticamente o racionamento em ¢ Â?  { € em medicamentos, equipamentos e dispositivos mĂŠdicos ocupam a outra grande fatia do Orçamento de Estado para a saĂşde. Assim, e a pedido do Ministro da SaĂşde, foi emitido um parecer (64/2012) % %• € ~ ~ ‡€ ~ eticamente o racionamento em saĂşde, sugerindo o racionamento administrativo e introduzindo a ideia do racionamento com base na idade. AlĂŠm disso, e questionando as regras em vigor € † ‹‘ ~Âœ e fĂĄrmaco-econĂłmica, o mesmo parecer aborda a questĂŁo da

€† € medicamentos, colocando em causa o trabalho do próprio INFARMED e da Agência Europeia do Medicamento, centrando-se em três grupos de medicamentos:


retrovirais (doentes VIH+), oncolĂłgicos e biolĂłgicos (doentes com artrite reumatĂłide). O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) nĂŁo podia simplesmente ignorar este parecer. As implicaçþes no âmbito dos direitos dos doentes e dos cidadĂŁos, da qualidade dos cuidados de saĂşde, da ĂŠtica e ~ ‘ e da investigação e progresso

~Âœ { ‰ % € tomada de posição pĂşblica. Foi o que aconteceu. Contestamos as questĂľes polĂŠmicas do referido y  Â‡ ~ † Â? Em respeito pelos princĂ­pios fundamentais plasmados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que tĂŞm como base a igual dignidade de todos os seres humanos, e em defesa da verdadeira equidade nacional no acesso aos cuidados ¢  ~ ÂŒ e coerente ao desperdĂ­cio, apoiado em mais organização e › ‰ € de saĂşde. O contributo para a sustentabilidade do SNS nesta matĂŠria pressupĂľe uma discussĂŁo ampla e aberta na sociedade com base em critĂŠrios de legitimidade e justiça, centrando o debate em prioridades ĂŠticas em saĂşde e nunca em racionamento ĂŠtico, com base na adopção do utilitarismo (discriminação com base na idade), como sugerido pelo parecer do CNECV. De resto, e como realça a Associação Portuguesa de BioĂŠtica (APB) no seu parecer: “o estabelecimento de prioridades na saĂşde para ser eticamente aceitĂĄvel pressupĂľe que situaçþes mais graves tenham prioridade sobre situaçþes menos gravesâ€?Â? y€ { ‹‘ do nosso trabalho diĂĄrio. Existem prioridades no acesso Ă s consultas externas e internas,

prioridades nas inscriçþes dos doentes para cirurgia, prioridades na marcação de consultas de vigilância, prioridades na observação dos doentes internados, prioridades no serviço de urgĂŞncia, etc. Claro que, no limite, ‹‘ ~ ‹‘ exclusiva de prioridades pode restringir de forma muito ~ † ~ tratamentos por parte de doentes com patologias menos graves. E, { €Œ Ă exclusĂŁo de determinados tratamentos no SNS, como por exemplo a cirurgia plĂĄstica com intuitos meramente estĂŠticos. O Presidente do CNECV nĂŁo entendeu a posição da Ordem dos MĂŠdicos. E no dia 24 de Dezembro de 2012, a propĂłsito do parecer interno do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos ÂĄ% „§{ € – “o BastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos consegue durante mais de um mĂŞs censurar e nĂŁo divulgar este documento, o que ĂŠ gravĂ­ssimoâ€? e “obviamente o " ~ y ÂŒ Â? devia retirar as consequĂŞncias, porque neste momento ĂŠ Ăłbvio que hĂĄ imensas e insanĂĄveis divisĂľes no interior da Ordem „ —Â? ~ ‹˜ sĂŁo falsas e mancharam publicamente o bom nome da Ordem dos MĂŠdicos e do seu BastonĂĄrio, logo de todos os mĂŠdicos. É inaceitĂĄvel que um presidente de um conselho de ĂŠtica falte Ă verdade na praça pĂşblica. Desacredita o seu CNECV e coloca em causa a sua idoneidade ĂŠtica e como cidadĂŁo. Tudo em nome da suposta sustentabilidade do SNS. Uma anĂĄlise detalhada dos y ~  compreender toda a polĂŠmica

criada pelo Presidente do CNECV e que foi deliberadamente tornada pĂşblica: em 30 de Outubro, o CNE pediu ao CNEDM para elaborar o seu parecer sobre as questĂľes consideradas polĂŠmicas levantadas pelo parecer do CNECV; em 23 de Novembro reuniu em Coimbra o CNEDM; em 11 de Dezembro, foi enviado por carta o parecer do CNEDM para os serviços administrativos do BastonĂĄrio/CNE; em 17 de Dezembro, o referido parecer chegou ao BastonĂĄrio; em 21 de Dezembro, em reuniĂŁo do CNE em Lisboa, o BastonĂĄrio entregou o referido parecer a todos os membros do CNE. Nessa mesma reuniĂŁo, o CNE decidiu manter sob reserva o referido texto, uma vez que o mesmo nĂŁo respondia concretamente Ă s questĂľes polĂŠmicas suscitadas pelo parecer 64/2012 do CNECV, e cujo esclarecimento solicitara. Por esse mesmo motivo, o texto disponibilizado nĂŁo foi considerado um documento ~ † { ~‘ “ € ~ ‰~ preliminar e, como tal, nĂŁo passĂ­vel de ser homologado. O Presidente do CNEDM, em resposta aos esclarecimentos pedidos pelo BastonĂĄrio, apresentou a sua demissĂŁo, e mostrou-se incomodado com a posição assumida pelo CNE e, em especial, pelo Conselho Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos. E porquĂŞ? O que fez o CRN atravĂŠs do seu Presidente em conferĂŞncia de imprensa? Defendeu a honra do nosso BastonĂĄrio e dos mĂŠdicos ao desmascarar publicamente as declaraçþes difamatĂłrias do Presidente do CNECV, repondo a verdade com base em factos objectivos que estĂŁo devidamente documentados. Todos eles relacionados com o parecer emitido pelo CNEDM e que o seu Jan/Fev | 2013 | 13


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presidente bem conhecia. Melhor que qualquer outra pessoa, o Presidente do CNEDM sabia que o BastonĂĄrio da OM nĂŁo tinha censurado o seu parecer, e muito menos durante mais de um mĂŞs

y Â? O Presidente do CNEDM demitiu-se, mas sem antes repor a verdade que tĂŁo bem conhecia. E nem uma palavra atĂŠ ao momento sobre o comportamento deplorĂĄvel do Presidente do CNECV. – € Œ‘ € Presidente do CNECV que o BastonĂĄrio reteve o documento mais de um mĂŞs? TerĂĄ tido ‘informaçþes privilegiadas’ de quem conhecia o teor do parecer hĂĄ mais de um mĂŞs? TerĂĄ sido enganado por algum dos seus colaboradores? Quem ĂŠ que conhecia bem todo o processo? Tal como foi sugerido por um ĂłrgĂŁo de comunicação social, a demissĂŁo do Presidente do CNEDM terĂĄ alguma relação com o facto de ser um colaborador do Instituto de BioĂŠtica da Universidade CatĂłlica do Porto, o qual ĂŠ presidido precisamente por um membro do CNECV?

No seio da Ordem dos MĂŠdicos existem posiçþes diferentes sobre algumas matĂŠrias. E tal facto ĂŠ salutar e estimulante para o trabalho que todos ajudamos a desenvolver. As decisĂľes sĂŁo tomadas por maioria e procurando consensualizar posiçþes, como acontece em democracia. O CNE tem nos seus arquivos (disponĂ­veis a todos os mĂŠdicos) € ~ € verdade dos factos sobre todas ‹˜ €Œ Â? necessĂĄrio, tudo serĂĄ publicado. A exigĂŞncia da retratação pĂşblica ao Presidente do CNECV ĂŠ o mĂ­nimo que podemos fazer, em defesa da dignidade dos mĂŠdicos e do nosso BastonĂĄrio. A exigĂŞncia de explicaçþes fundamentadas e a reposição da verdade ao Presidente do CA do CHSJ ĂŠ o mĂ­nimo que podemos fazer, em defesa da dignidade dos mĂŠdicos e da relação mĂŠdicodoente. ‹˜ €Œ ambos apenas contribuĂ­ram para deteriorar de forma irreparĂĄvel ‹ ‘ mĂŠdicos em quem preside ao CNECV e em quem governa o

CHSJ. Neste momento, jĂĄ ninguĂŠm tem dĂşvidas sobre as intençþes do Governo no que diz respeito ao Estado Social. A refundação anunciada assenta num Estado Social diferente, mais dependente da iniciativa privada e convencionada. A deterioração que estĂĄ a atingir o SNS ĂŠ bem conhecida de todos, dos doentes ¢ Â? ‘ podemos aceitar que, no nosso paĂ­s, o acesso aos diferentes cuidados de saĂşde dependa do ~ ~ { € €~ Â? A opção de cortar nos recursos humanos e racionar tratamentos para assim supostamente se assegurar a sustentabilidade do SNS tal como estĂĄ consagrado na nossa Constituição. Existem outros caminhos e outras opçþes. A começar pela percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) que ĂŠ atribuĂ­da Ă saĂşde (inferior a 5%) e pelo modelo de ~ €~ ÂŒ Â? temos a obrigação de manter, ~ Â? começar por quem tem o poder ‘ Â?

30 Anos do Curso MÊdico 1977-1983 4 de Maio de 2013 Vai realizar-se o jantar comemorativo dos 30 Anos do Curso MÊdico 1977-1983 da Faculdade de Medicina de Coimbra. O encontro vai ter lugar no Hotel Tryp Melia, na cidade de Coimbra, no próximo dia 4 de Maio pelas 20 Horas. Inscrição e informaçþes atravÊs do e-mail: baga@ambientesperfeitos.pt

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Mapa de vagas do Concurso IM2013B Divulgamos em seguida a carta que a OM dirigiu a Manuel Teixeira, SecretĂĄrio de Estado da saĂşde a propĂłsito do mapa de vagas do Concurso IM2013B. ÂŤExmÂş Senhor SecretĂĄrio de Estado, A Ordem dos MĂŠdicos manifesta a sua preocupação relativamente Ă publicação do mapa de vagas do Concurso IM2013B. Como ĂŠ sabido no aviso de abertura do IM2013B nĂŁo foi publicado o Mapa de Vagas, tal como previsto no Regulamento do Internato MĂŠdico. Esta situação causou naturalmente muito desconforto nos candidatos a este concurso, que na data da Prova Nacional de Seriação (PNS) nĂŁo sabiam ainda para que vagas estavam a concorrer. De referir que antes mesmo do aviso de abertura ser tornado pĂşblico, o MinistĂŠrio da SaĂşde, atravĂŠs da ACSS, tinha publicado na sua pĂĄgina electrĂłnica a informação de que haveria pelo menos 1 vaga por Especialidade. Ter ainda em conta que os candidatos do concurso IM2012B (do ano transacto) assistiram a € € ~ ~ † €‹‘ do nĂşmero de vagas desse concurso, sem qualquer aviso prĂŠvio, tendo sido um corte muito forte nas suas expectativas e criado atĂŠ situaçþes dramĂĄticas. DaĂ­ que ĂŠ da mais elementar justiça que haja pelo menos uma vaga por

especialidade, para que haja de facto incentivo Ă meritocracia daqueles que fazem o esforço de realizar a PNS pela segunda vez, garantindo e o mĂ­nimo de igualdade de oportunidades. Destaca-se que esta situação deve ~ } € angariação de vagas para suprir o nĂşmero total de candidatos ao concurso IM2012A + IM2013B, € ~ ‡ † † nos Ăşltimos anos mas que, este ano, com o aumento do nĂşmero de candidatos, ganha especial visibilidade. A Ordem dos MĂŠdicos, atravĂŠs dos seus ColĂŠgios de Especialidade, atribuiu cerca de 1550 capacidades formativas para a elaboração dos mapas de vagas dos concursos IM2012A e IM2013B. Foi feito um esforço redobrado, mesmo nesta situação limite, para que se encontrassem capacidades formativas para todos os candidatos ao IM2012A e para um nĂşmero de vagas semelhante (~90) ao ano passado para o IM2013B, tal como acordado em reuniĂŁo realizada em Setembro com os responsĂĄveis da ACSS. Retirando as idoneidades formativas preenchidas pelos can-

didatos ao IM2012A, sobram cerca de 90 capacidades formativas hospitalares, Ă s quais haverĂĄ que retirar as que foram preenchidas pelo contingente militar, das quais os dados nĂŁo sĂŁo pĂşblicos. No entanto, serĂĄ seguro €  Â?Â?ÂŹ Â? † pelo menos 60 a 70 capacidades formativas hospitalares Ă s quais se juntarĂŁo as capacidades extrahospitalares. Dito isto ĂŠ certo que existem capacidades formativas para cerca de 90 a 100 candidatos, o que perfaz um compromisso muito aceitĂĄvel na situação que vivemos e em linha com as expectativas dos candidatos. No entanto, nem todas estas capacidades formativas neste momento a ser consideradas para os mapas de vagas por parte do MinistĂŠrio da SaĂşde, por desacordo quanto ao orçamento disponĂ­vel para pagamento aos MĂŠdicos Internos por parte das diversas Unidades de SaĂşde. É urgente que o MinistĂŠrio da SaĂşde resolva rapidamente os diferendos de ordem orçamental para que todas as capacidades formativas reconhecidas pela Ordem dos MĂŠdicos sejam colocadas a concurso no mapa de vagas IM2013-B. Jan/Fev | 2013 | 15


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A não divulgação do mapa de vagas do concurso B na altura do aviso de abertura foi jå uma maneira de adiar parte do problema atÊ esta altura, altura na qual se realiza a escolha desses colegas. Porventura esperou-se assim ganhar mais tempo para esta negociação, mas não se pode deixar de parte as legítimas expectativas daqueles que, mesmo estando a trabalhar, dedicaram o último ano ao esforço de se prepararem para a PNS. Hoje, esses colegas jå sabem os resultados da PNS sem saber para que vagas concorrem! Nas reuniþes que teve com a ACSS, a OM insistiu para que fosse reservada pelo menos uma capacidade formativa por especialidade para o concurso IM2013B, para poder com segurança assumir o compromisso assumido, situação que sabemos não ter acontecido para todas as especialidades, infelizmente. Para alÊm de cumprir essa garantia Ê fundamental garantir um mapa de vagas digno que atenda às expectativas dos concorrentes. Não se pode cair no erro de entender o Concurso B, que ~ ~ ¢ possibilidade de mudança de especialidade, como um concurso de menor importância. Para alÊm do legítimo direito de vontade de mudança daqueles que não se adaptam às particularidades

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de uma ou outra especialidade mĂŠdica, o Concurso B representa a oportunidade daqueles que, por motivos de saĂşde, de vida pessoal ou familiar, nĂŁo sĂŁo capazes de prosseguir o seu rumo na especialidade que escolheram. É assim inaceitĂĄvel que o MinistĂŠrio da SaĂşde nĂŁo tenha seguido os nossos apelos, o que nos coloca neste momento na situação de poderem existir especialidades nas quais nĂŁo poderĂĄ haver vaga, por terem sido usadas todas as capacidades formativas na construção do mapa do IM2012A. A OM, atravĂŠs dos seus colĂŠgios de especialidade estĂĄ a fazer um esforço para que se possam rever capacidades formativas em algumas dessas especialidades, no sentido de nĂŁo prejudicar as expectativas dos candidatos. O aumento exponencial do numerus clausus em Medicina nos Ăşltimos anos vem agora culminar no cenĂĄrio a que assistimos. A carĂŞncia de vagas para o internato do ano comum, a carĂŞncia de vagas para o ~ ~ y ‹‘ Âœ e o desemprego dos jovens mĂŠdicos forçados Ă procura de oportunidades no estrangeiro sĂŁo realidades do presente. É premente que o MinistĂŠrio de SaĂşde e o MinistĂŠrio da Educação e CiĂŞncia tenham este ponto no topo das suas prioridades e

atuem no sentido de diminuir o numerus clausus jå no próximo ano letivo, aliås como plasmado no relatório do Grupo de Trabalho para a revisão do Internato MÊdico. Caminha-se para o agravamento desta situação, o que forçosamente culminarå na deterioração da formação mÊdica e dos cuidados de saúde prestados aos portugueses. De resto, e mantendo-se a política irracional dos últimos anos de ultrapassar largamente as capacidades formativas de todas as Escolas MÊdicas, não só diminui claramente a qualidade da formação mÊdica prÊ-graduada

~ Â’ metida a formação mĂŠdica pĂłsgraduada, e aumentarĂĄ realmente a possibilidade da existĂŞncia de mĂŠdicos indiferenciados. NĂŁo foi por isto que nos esforçamos durante todo este tempo. A qualidade da Medicina e do nosso SNS depende fortemente das novas geraçþes de jovens mĂŠdicos. A Ordem dos MĂŠdicos estĂĄ disponĂ­vel para ajudar a resolver rapidamente esta situação. Aproveito a oportunidade para apresentar a V.Exa os melhores cumprimentos, O Presidente Prof. Doutor JosĂŠ Manuel Silva


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Parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica sobre Racionamento em SaĂşde Publicamos em seguida a nota de imprensa do Conselho Nacional Executivo sobre o Parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica sobre Racionamento em SaĂşde. O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) tomou conhecimento do parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica (APB) sobre Racionamento em SaĂşde, elaborado a propĂłsito do parecer 64/2012 do Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida (CNECV). O documento produzido pela APB e apresentado publicamente pelo seu Presidente, Prof. Doutor Rui Nunes, em 10 de Dezembro, consubstancia uma posição equilibrada, informada e com verdadeiras preocupaçþes ĂŠticas e sociais, a que a Ordem „ ‘ indiferente. De facto, a defesa da verdadeira equidade no acesso aos cuidados de saĂşde em todas as instituiçþes do Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) e o combate ÂŒ ~ Âœ { com base em mais organização e › ‰ € de saĂşde, sĂŁo absolutamente

essenciais para que se considere a possibilidade de discutir na sociedade, de forma aberta e abrangente, a questão das prioridades Êticas com base em critÊrios de legitimidade e justiça. A discussão deve ser centrada precisamente em prioridades Êticas em saúde, como sugere a APB, e nunca em racionamento administrativo sugerido pelo parecer emitido pelo CNECV. De resto, a proposta de adoção do utilitarismo no acesso aos cuidados de saúde sugerida pelo parecer do CNECV, a propósito da discriminação com base na idade, Ê contråria aos princípios fundamentais plasmados nos direitos humanos, que têm como base a igual dignidade de todos os seres humanos, em acordo com o igualitarismo sueco, por exemplo. O CNE, reunido a 21 de Dezembro de 2012, manifesta

formalmente a sua concordância genÊrica com o teor do parecer emitido pela APB, que não só reforça a posição que a Ordem dos MÊdicos tem sustentado sobre esta matÊria, em defesa da dignidade da pessoa humana e no respeito pela irrepetível individualidade de cada doente, como condensa de forma objetiva e fundamentada o seu enquadramento Êtico e social. Finalmente, o CNE subscreve na generalidade as recomendaçþes apontadas pela APB, com particular enfâse para a inaplicabilidade e inadmissibilidade das recomendaçþes do parecer 64/2012 do CNECV.

O CNE da Ordem dos MÊdicos Lisboa, 21 de Dezembro de 2012 Nota da redacção: Publicamos nas påginas seguintes o parecer de APB.

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Parecer da APB sobre Racionamento em Saúde Publicamos em seguida, pela sua relevância, o parecer da Associação Portuguesa de BioÊtica sobre racionamento em saúde, datado de 24 de Novembro de 2012. Racionamento em Saúde Relator: Rui Nunes

O direito Ă proteção da saĂşde ĂŠ, hoje, considerado como uma conquista civilizacional, o que implica que a salvaguarda deste direito ĂŠ uma responsabilidade da sociedade e das suas instituiçþes democrĂĄticas. Tal como noutros paĂ­ses ocidentais, a existĂŞncia em Portugal de um sistema pĂşblico de proteção da saĂşde enquadrase nesta dinâmica, sendo um fator decisivo para a melhoria sustentada dos indicadores de saĂşde da nossa população. Este sistema, de carĂĄter universal, dependeu nĂŁo apenas de um y ~ † ~ ~ ao longo dos Ăşltimos anos mas, tambĂŠm, de um elevado nĂ­vel de Â? € as carreiras mĂŠdicas sĂŁo um bom exemplo. Mais do que um direito constitucional, a proteção da saĂşde deve ser considerada como um dos grandes pilares de uma sociedade democrĂĄtica e plural1. PorĂŠm, e nĂŁo obstante o contributo fundamental do Serviço

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Nacional de SaĂşde (SNS) para a melhoria dos indicadores de saĂşde dos portugueses, a sua sustentabilidade econĂłmica e ~ € ~ e os governantes tentam diri ~ w ~ ­ ~ necessidade de providenciar um bem social, como a saĂşde, Â? › € perspetiva econĂłmica – tentando a convergĂŞncia de dois fatores aparentemente irreconciliĂĄveis: a equidade no acesso e a otimização da utilização dos recursos disponĂ­veis. EstĂĄ em causa a necessidade de se pro † › ~ † adequada gestĂŁo dos recursos Â?€ e materiais. PorĂŠm, nĂŁo restam dĂşvidas de € y } † €‹‘ dos paĂ­ses ocidentais torna-se difĂ­cil a incorporação imediata de algumas tecnologias inovadoras (medicamentos, dispositivos mĂŠdicos, etc.) nos sistemas de saĂşde ocidentais surgindo progressivamente o debate em torno da necessidade de se estabelecerem prioridades ĂŠticas na saĂşde2. Este ĂŠ um problema transversal a todas

as sociedades democråticas onde o direito à saúde Ê legalmente protegido existindo diversos modelos possíveis para a sua concretização3. Mas em todos estes países, nomeadamente a Holanda, a Dinamarca, a SuÊcia, o Canadå, o Reino Unido, ou a Austrålia, a priorização Êtica na saúde implicou um esforço prÊvio de racionalização de recursos de modo a que o desperdício seja mínimo e, portanto, seja justo e adequado efetuar este tipo de escolhas4. Assim, consciente de que o estabelecimento de prioridades Êticas na saúde Ê um debate que deve ser concretizado com a maior abrangência e serenidade possíveis, a Associação Portuguesa de BioÊtica decidiu emitir este parecer na tentativa de

~  € ‹‘ desta problemåtica na sociedade portuguesa. ! " Em Portugal, e não obstante esta temåtica ser jå debatida ao longo da última dÊcada em diferentes meios acadÊmicos


{ ~ €’ uma controvĂŠrsia Ă­mpar na nossa sociedade fruto de um pedido de parecer do Ministro da SaĂşde ao Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida (64/CNECV/2012 – Parecer sobre um Modelo de Deliberação para Financiamento do Custo dos Medicamentos) com vista (presume-se) Ă formulação de polĂ­ticas pĂşblicas em matĂŠria de racionamento na saĂşde. Ao abordar esta temĂĄtica deve ter-se em atenção nĂŁo apenas as especiais circunstâncias sociais e econĂłmicas que o paĂ­s atravessa, nomeadamente a quebra acentuada do rendimento mĂŠdio familiar, bem como os Ϡ › ~ da saĂşde que continuam ainda acima do que ĂŠ socialmente aceitĂĄvel, gerando importantes custos de oportunidade. A primeira das prioridades deve ser, entĂŁo, melhorar os nĂ­veis de › ‰ ~ ~ {  ~ o desperdĂ­cio, otimizando os recursos disponĂ­veis5. Recorde-se € ~ † ‹ Nacional de SaĂşde repousa essencialmente nos impostos (diretos e indiretos). E que sendo esta a modalidade de justiça ~ { ~ do SNS estĂĄ indexado, em grande medida, ao rendimento dos cidadĂŁos estando estes no limite da sua capacidade de ~ ¢ ÂĄ outras prestaçþes sociais). Ainda assim, e sendo desde jĂĄ questionĂĄvel a oportunidade da introdução do debate pĂşblico do racionamento na saĂşde face aos graves constrangimentos econĂłmicos da maioria da população, entendeu o MinistĂŠrio da SaĂşde iniciar este debate junto da sociedade portuguesa. O estabelecimento de prioridades

na saĂşde6 – para ser considerado justo e equitativo – deve cumprir obrigatoriamente dois critĂŠrios sob pena de ser apenas uma forma administrativa de racionamento de bens essenciais7: legitimidade8 e justiça9. # $ Em democracia a fonte de legitimidade (substantiva e nĂŁo meramente formal) pode advir de duas vias diferentes. Em primeiro lugar da vontade popular expressa atravĂŠs do voto no quadro de propostas claras e inequĂ­vocas que sejam sufragadas em atos eleitorais Âœ Â? ~ priorização ĂŠtica na saĂşde esta nĂŁo ĂŠ a solução mais utilizada € w ~ vontade da maioria em detrimento de opiniĂľes e perspetivas das minorias que, pelas regras da democracia representativa, tĂŞm € y ÂŒ ۠ a sua voz. Uma fonte alternativa de legitimidade, seguida aliĂĄs na maioria dos paĂ­ses que se debruçaram sobre o estabelecimento de prioridades na saĂşde, advĂŠm do envolvimento ativo e participado da sociedade e dos diferentes atores sociais (empowerment). Esta participação da sociedade nos desĂ­gnios coletivos implica, para ser legĂ­tima, uma ampla base de sustentação, para que a ausĂŞncia do voto dos cidadĂŁos possa ser colmatada por uma representação adequada, alargada e transparente10. Em Ăşltima anĂĄlise, estĂĄ em causa uma verdadeira justiça processual: procedimentos justos, transparentes e sob o olhar atento da sociedade. O conceito de public accountability11 inscrevese nesta dinâmica, isto ĂŠ, na

1- Daniels N: Is there a right to health care and, if so, what does it encompass? A Companion to Bioethics, Blackwell Companions to Philosophy, Helga Kuhse and Peter Singer (Editors), Blackwell Publishers, Oxford, 1998. 2- Nunes R, Rego G: Prioridades na SaĂşde, McGraw-Hill, Lisboa, 2002. 3- Choices in health care. A Report by the † ~ % & %Â? Heath Care, the Netherlands, 1992. 4- Wall A, Owen B: Health policy. Gildredge Social Policy, The Gildredge Press, Eastbourne, 1999. Ver tambĂŠm Leathard A: Health care provision. Past, present and into the 21st century. Stanley Thornes, Cheltenham, 2000, 2nd Edition. 5- Antunes M: A doença da saĂşde. † ‹ ¢ › Âœ Â? °Â€ Âą ~ Â?  { 2000. 6- Rego G, BrandĂŁo C, Melo H, Nunes R: Distributive justice and the introduction of generic medicines. Health Care Analysis 10; 2002: 221-229. 7- Precisamente a diferença entre o estabelecimento de prioridades ĂŠticas na saĂşde e “racionamentoâ€? ĂŠ a presença ou ausĂŞncia de legitimidade e justiça no quadro dos valores mais representativos da nossa sociedade. Nomeadamente aqueles que estĂŁo plasmados na Constituição da RepĂşblica. 8- Daniels N, Light D, Caplan R: Benchmarks of fairness for health care reform. New York, Oxford University Press, 1996. Ver tambĂŠm Mullen P, € – – ~$ & ~Â? € Â? Âł „ – { Abingdon, 2000. 9- Daniels N: Just health care. Studies in Philosophy and Health Policy. New York: Cambridge University Press, 1985. • ~  {  & limits fairly. Oxford University Press, New York, 2002. 10- Wiseman V, Mooney G, Berry G, Tang K: Involving the general public ~$ & ‰ y Australia. Social Science & Medicine 56; 2003: 1001-1012. 11- Nunes R, BrandĂŁo C, Rego G: Public accountability and sunshine healthcare regulation, Health Care Analysis 19 (4); 2011: 352-364. Ver tambĂŠm Daniels N, Sabin J. The ethics of accountability in y Â? š ~Â? Âł  Â&#x; (5); 1998: 50-65.

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12- Nunes R, Rego G, BrandĂŁo C: The rise of independent regulation in health care, Health Care Analysis 15 (3); 2007: 169-177, e tambĂŠm Nunes R, Rego G, BrandĂŁo C: Healthcare regulation as a tool for public accountability, Medicine, Healthcare and Philosophy 12; 2009: 257-264. 13- Sobre deliberação democrĂĄtica ver Solomon S, Abelson A: Why and when should we use public deliberation, Hastings Center Report 424 (2), 2012: 27-29, e tambĂŠm $ & Âľ % ‡€ † Âś y “accountability for reasonablenessâ€? through the courts? Medical Law Review 16 (1); 2008: 127-140.  ¡Â’ Â?& ¸¸œœœÂ? ~ Â? Â? ¸ 15- A tĂ­tulo de exemplo refere o Parecer 64/CNECV/2012 “Assim, pensamos incluir mais um ponto que deverĂĄ ser objeto de escrutĂ­nio ĂŠtico: 6) Analisar cuidadosamente as questĂľes de justiça distributiva referentes Ă s diferentes faixas etĂĄrias, incluindo: (‌) a avaliação dos cuidados disponĂ­veis para ~ ~ € ~ y vida e em fase terminalâ€?. 16- Daniels N, Sabin J: Limits to health care: Fair procedures, democratic deliberation, and the legitimacy problem of insurers. –Â? Â?$ š –€ ³ Ÿ ¥¡§½  žžÂ&#x; žž’ 350. 17- Nunes R: Evidence-Based Medicine: a new tool for resource allocation? Medicine, Health Care and Philosophy 6 (3); 2003: 297301. 18- Atente-se a esta passagem do Parecer 64/ CNECV/2012: “A fase clĂ­nico-administrativa deverĂĄ envolver o grupo da primeira fase e agora (‌) reunir com as administraçþes hospitalares. Estes, perante a anĂĄlise benefĂ­cio/custo, poderĂŁo alterar, ou nĂŁo, a ordenação dos fĂĄrmacos a disponibilizar em contexto hospitalar para determinada patologiaâ€?. 19- De facto, o Parecer 64/CNECV/2012 sugere “a avaliação da permissibilidade de racionamento por idadeâ€?. 20- Artigo 13.Âş, PrincĂ­pio da igualdade: 1. Todos os cidadĂŁos tĂŞm a mesma dignidade social e sĂŁo iguais perante a lei. Artigo 64.Âş, SaĂşde: 1. Todos tĂŞm direito Ă proteção da saĂşde e o dever de a defender e promover. 2. O direito Ă proteção da saĂşde ĂŠ realizado: a) AtravĂŠs de um serviço nacional de saĂşde universal e geral e, tendo em conta as condiçþes econĂłmicas e sociais dos cidadĂŁos, tendencialmente gratuito. 21- A avaliação tecnolĂłgica em saĂşde pode € ~ $ process that summarises information about the medical, social, economic and ethical issues related to the use of a health technology in a systematic, transparent, unbiased, robust manner. Inclui a avaliação de dispositivos mĂŠdicos bem como a ‹‘ ~ € €~ ÂŒ ‹‘ Â? Ver Garrido M, Kristensen F, Nielsen C, Busse R: Health technology assessment and health policy-making in Europe. Current status, challenges and potential. Observatory Studies Series 14, 2008. 22- Nunes R: Regulação da SaĂşde, Vida EconĂłmica, Porto, 2009, 2ÂŞ edição.

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necessidade de se prestar contas dos procedimentos utilizados e dos fundamentos das decisĂľes12. A justiça processual, enquanto denominador comum Ă maioria das vertentes da justiça distributiva, pode nĂŁo ser a melhor, mas a Ăşnica solução numa sociedade onde os cidadĂŁos se encontram com distintas mundividĂŞncias e onde nĂŁo existe uma visĂŁo unânime do bem comum. Em sĂ­ntese, ĂŠ essencial que os fundamentos e o rational das decisĂľes de priorização tenham uma ampla participação de todos aqueles que possam ser implicados nestas decisĂľes. Assim, para ser legĂ­timo, ou seja para que nĂŁo se trate de simples racionamento mas sim do estabelecimento de prioridades ĂŠticas na saĂşde, devem encontrarse as soluçþes adequadas para alcançar a legitimidade deste tipo de decisĂŁo13. Desde logo tendo como referencial outros paĂ­ses que implementaram jĂĄ soluçþes desta natureza. Ou seja para que exista uma sintonia substancial entre as decisĂľes polĂ­ticas e a vontade dos cidadĂŁos. %# & ' Nas democracias plurais, a legitimidade ĂŠ condição necessĂĄ ‘ € ~ € processo desta natureza ser ĂŠtica e ~ ‡€ ~

† Â? y ~ { o pilar das sociedades modernas e desenvolvidas ĂŠ considerar-se que todas as pessoas tĂŞm igual dignidade e devem poder gozar de um conjunto alargado de direitos bĂĄsicos, inalienĂĄveis e inderrogĂĄveis. Esta igualdade fundamental entre todos os seres Â?€ y  Â‹Â‘ da doutrina dos direitos humanos e ĂŠ, de facto, o mais ~ ~ ~ €

humanidade Ă escala global. Pelo que ainda que se entenda que alguns critĂŠrios utilitaristas possam estar subjacentes Ă s polĂ­ticas sociais da atualidade, nĂŁo ĂŠ eticamente admissĂ­vel uma mudança radical de paradigma no referente ao exercĂ­cio do direito Ă proteção da saĂşde. Uma crĂ­tica recorrente a esta tese ĂŠ a de que o utilitarismo permite intervençþes discricionĂĄrias, isto ĂŠ, a discriminação de grupos de { ~ ~ { as minorias culturais ou os idosos, colocando em causa, nomeadamente, o princĂ­pio da solidariedade intergeracional. Permitindo assim prĂĄticas discriminatĂłrias inaceitĂĄveis em qualquer democracia plural. De facto, o utilitarismo tem sido sistematicamente rejeitado em Portugal. A tĂ­tulo de exemplo o Prof. Daniel SerrĂŁo, em entrevista ao Centro de BioĂŠtica do CREMESP, refere “Quer dizer que a sociedade ĂŠ assim, uns pagam pelos outros? Se nĂŁo somos utilitaristas, somos personalistas, olhamos assim: isto ĂŠ uma estrutura humana, e eu respeito a vida humana em todas as suas manifestaçþes. Portanto, nĂŁo devo destruĂ­-laâ€?14. Em nossa opiniĂŁo, o aludido parecer do CNECV sobre o racionamento em saĂşde evoca pelo menos trĂŞs situaçþes de potencial injustiça e iniquidade: ( ' ! ")

O estabelecimento de prioridades na saúde para ser eticamente aceitåvel pressupþe que situaçþes mais graves tenham prioridade sobre situaçþes menos graves (a triagem de Manchester Ê um bom exemplo). O oposto do sugerido pelo Parecer 64/ CNECV/2012 que legitima o racionamento de medicamentos em doentes com cancro, SIDA e


doenças crĂłnicas graves15, mas nada diz sobre intervençþes que nĂŁo correspondem a verdadeiras necessidades em saĂşde (mas simples preferĂŞncias como defende aliĂĄs Norman Daniels16), tal como a cirurgia plĂĄstica meramente estĂŠtica, medicamentos sem evidĂŞncia clĂ­nica de efetividade comprovada17 ou intervençþes de simples melhoramento; x * " + : O conteĂşdo substantivo do parecer nĂŁo exclui a possibilidade de diferentes hospitais poderem implementar diferentes polĂ­ticas e em diferentes pontos do paĂ­s18Â? € ‡ † em Portugal como o prĂłprio parecer refere. A priorização ĂŠtica da saĂşde, ao contrĂĄrio do racionamento administrativo, pressupĂľe a obtenção de nĂ­veis ‰ › ~ ¢ ÂĄ € ‘ † no SNS) sem comprometer a equidade horizontal e vertical. Em suma, todos os cidadĂŁos devem ter acesso ao mesmo tipo de provisĂŁo pĂşblica de cuidados de saĂşde independentemente do ponto do paĂ­s em que se encontrem e do hospital pĂşblico a que tenham acesso; 3 '

' $ 6 ) O Parecer 64/CNECV/2012 abre a porta Ă discussĂŁo da possibilidade da discriminação com base na idade. A mudança de paradigma proposta – mudança que preconiza a adoção do

utilitarismo como doutrina base no acesso Ă saĂşde – permite a limitação do fornecimento de cuidados de saĂşde apenas com base neste critĂŠrio19. Para alĂŠm de ser eticamente inaceitĂĄvel a limitação de cuidados de saĂşde a uma pessoa apenas pelo facto de se ser idoso (sendo aliĂĄs impossĂ­vel determinar com clareza a linha a partir da qual se ĂŠ idoso), o utilitarismo na saĂşde permite em abstrato qualquer tipo de discriminação sendo que a idade ĂŠ apenas uma das suas formas possĂ­veis. E isso ĂŠ contrĂĄrio Ă doutrina da igual dignidade de todas a pessoas. Em sĂ­ntese as inferĂŞncias do Parecer 64/CNECV/2012 evocam reservas do ponto de vista ĂŠtico nĂŁo sendo adequado a sua implementação sem uma ampla discussĂŁo pĂşblica sobre as suas principais aplicaçþes. Para alĂŠm de, salvo melhor opiniĂŁo, o conteĂşdo do parecer estar em desacordo com o art.Âş 64 e o art.Âş 13 da Constituição da RepĂşblica Portuguesa20. * : ' Assim, e face ao exposto, a Associação Portuguesa de BioĂŠtica recomenda: a) Que o MinistĂŠrio da SaĂşde suspenda a aplicação das recomendaçþes do Parecer 64/ CNECV/2012 dado que algumas das inferĂŞncias – nomeadamente o racionamento com base na idade – sĂŁo eticamente questionĂĄveis e de constitucionalidade duvidosa; b) Que a Assembleia da RepĂşblica proceda Ă nomeação de uma

comissĂŁo plural e independente, € ‡ w ‰ y ~ quadrantes da sociedade e que inclua necessariamente os y ~ € { associaçþes representativas dos doentes, os distintos operadores da saĂşde e outras forças vivas, incluindo as diferentes forças polĂ­ticas com representação parlamentar, de modo a ser possĂ­vel efetuar um debate sereno e participado sobre a problemĂĄtica do estabelecimento de prioridades na saĂşde, garantindo o exercĂ­cio da igualdade de acesso e impedindo prĂĄticas discricionĂĄrias e arbitrĂĄrias por parte dos hospitais pĂşblicos portugueses; c) Que seja aprofundada a implementação da avaliação tecnolĂłgica em saĂşde por parte das autoridades de saĂşde competentes21, em estreita articulação com a Ordem dos MĂŠdicos, sendo mesmo de considerar a possibilidade da sua implementação em moldes semelhantes Ă metodologia utlizada pelo NICE (National Institute for Health and Clinical Excellence)22, para que o estabelecimento de prioridades na saĂşde se concretize de acordo com os valores e referĂŞncias da sociedade portuguesa.

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Parecer do CNEDMOM sobre o parecer 64 do CNECV Divulgamos em seguida o parecer do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM) sobre o Parecer 64/CNECV/2012 acerca do modelo de deliberação para ďŹ nanciamento dos medicamentos. ÂŤRecebeu o Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM) um pedido de parecer solicitado pelo Conselho Nacional Executivo sobre o Parecer 64/CNECV/2012 Acerca do modelo de deliberação ~ Â’ camentos. 1 – O parecer do CNECV estĂĄ bem redigido, ĂŠ equilibrado, evita a controvĂŠrsia estĂŠril, em suma, ĂŠ um bom documento

† } w ‰‘ ~ Â? 2 – De sempre, particularmente ~€ { w ‰‘ no documento, envolvendo mas nĂŁo se esgotando nos conceitos de racionamento de recursos em saĂşde e na racionalização da sua distribuição, ĂŠ indispensĂĄvel. Vivemos, hĂĄ muitos anos, num ambiente em que esse mesmo racionamento decorre diariamente de forma clandestina, escamoteada, sem conhecimento ou consentimento da comunidade que servimos; sem normas de orientação, sujeito correntemente a estritos 22 | Jan/Fev | 2013

~ frequentemente princĂ­pios de equidade e de justiça distributiva; quantas vezes, decidido arbitrariamente quer pelas autoridades de saĂşde, quer pelos prestadores de saĂşde, que, € ~ ~Âœ ~ { supostamente maximizam o benefĂ­cio da comunidade em detrimento do doente individual. 3 - Visando propor um modelo  Â‹Â‘ ~ do custo dos medicamentos, nĂŁo deveria este documento ter ‡€ ~ ‹‘ ~ ~ › € de medicamentos para doentes Âœ ~ ~ † doentes VIH+, “oncolĂłgicosâ€? e “biolĂłgicos para doentes com artrite reumatoideâ€?. Antes, deveria assumir-se inequivocamente, e apesar da solicitação ministerial expendida, como proposta universal para modulação estatal do ~ ~ Â? 4 – Porventura discutĂ­vel ĂŠ o seu timing. JĂĄ em falta hĂĄ muito tempo, surge agora por encomenda expressa das

autoridades de saĂşde, ditado prioritariamente por constrangimentos econĂłmicos que suscitam inadiĂĄveis cortes na despesa. Esta pressĂŁo ĂŠ um mau conselheiro w ‰‘ ~ ~ e para a sua divulgação junto da sociedade. 5 – Deve o Parecer 64/CNECV ser considerado fundamentalmente

€ € ~ w ‰‘ ĂŠtica sobre um problema a um tempo real e acutilante, apontando estratĂŠgia de ação, mas nĂŁo dispensando aturada w ‰‘ † € ~ ~€ na demanda de claros caminhos com consequĂŞncias prĂĄticas para o nosso dia-a-dia de decisores clĂ­nicos. Com efeito, conclusĂľes como: “9. O CNECV nĂŁo deixa de enfatizar que hĂĄ tambĂŠm, seguramente, muito a fazer para conter despesas os quais, deverĂŁo ser reavaliados regularmente na sua efetividade e respetivos gastos pelo Estadoâ€? - Vamos abater cerca de 70% dos medicamentos inscritos no SimpĂłsio TerapĂŞutico


efectivamente sem prova de

Ă€ € “ € ‘ Ă€ “10. Nos fĂĄrmacos comparticipados pelo SNS, o CNECV considera premente reavaliar gastos correntes em termos de custo-oportunidade e custo-efetividade, com possĂ­veis substituiçþes, desinvestimentos ou suspensĂľes. Com efeito, o debate nĂŁo pode restringir-se Ă contenção de custos adicionais, mas Ă melhor utilização dos recursos jĂĄ existentes e ao combate contra o desperdĂ­cio

- HĂĄ limiares quantitativos do custooportunidade, ou do custoefectividade que recomendem a eliminação de uma opção terapĂŞutica? Estes ratios serĂŁo calculados na perspectiva do utente, do SNS, ou da sociedade? Os resultados poderĂŁo ser muito diferentes. Deixam em aberto interrogaçþes para as quais urge adequar respostas eticamente aceitĂĄveis. “11. O CNECV considera importante enfatizar a redução dos custos de prestação em ĂĄreas como intervençþes e meios auxiliares de

Estas devem ser objeto de criteriosa "#

$ modelos Êticos para fundamentar as decisþes� - Deveria ter sido

€ ‘ auxiliares de diagnĂłstico e ~ ›€~ ‡€ ~ ¸ ou desnecessĂĄrios! Na verdade, serĂĄ difĂ­cil atribuir a NOC’s a responsabilidade da fundamentação das decisĂľes, o que sempre deverĂĄ estar nas mĂŁos dos clĂ­nicos! Por tal, nĂŁo seria preferĂ­vel instigar fortemente † w ‰‘ ~ na observância de uma ĂŠtica distributiva a que cada mĂŠdico deve atender na fase construtiva da sua decisĂŁo? “12. Em qualquer caso, o CNECV tem como essencial que tudo o que se faça nĂŁo pode de modo algum pĂ´r

%# % %

- Neste ponto, jĂĄ temos a prova de que vamos no bom caminho! 6. No ponto 6 do capĂ­tulo “D. ConclusĂľesâ€?, deveria ter sido mais abrangente a recomendação de uma bem cuidada preparação ĂŠtica nos cursos de saĂşde, jĂĄ que em cursos como por exemplo Direito, GestĂŁo ou mesmo Administração Hospitalar, podendo nĂŁo ser explicitamente cursos de saĂşde, assim se poderĂŁo excluir desta incontornĂĄvel obrigatoriedade pedagĂłgica, com w ‰ € ~ €

nĂŁo devidamente considerados no plano curricular de futuros agentes no terreno da saĂşde. 7 – Em resumo, trata-se de um documento bem elucidativo, versando sobre um tĂłpico relevante, inĂłcuo, eticamente pouco controverso, que recoloca em cima da mesa uma instante necessidade de preparar eticamente os nossos estudantes de medicina e reavivar aos ~ ‹‘ sobre questĂľes de um exercĂ­cio € { Â? ‡ { ~ € { ‰ Âœ preparação em bioĂŠtica. BioĂŠtica que extravasa o mero patamar da relação de empatia ‹ € ~ ~ e mĂŠdico se hĂĄ-de estabelecer, alcançando patamares de intervenção que atendam a uma justiça distributiva que a cada ~ ~ com denodo. Coimbra, 23 de novembro de 2012 O Coordenador do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos, Prof. Doutor Filipe AlmeidaÂť

† % € – Com vista a esclarecer todas as dĂşvidas que tĂŞm sido manifestadas pelos MĂŠdicos, a OM publicou no site ~ } € ~˜  Â† ‹‘ % € – { € principiou no inĂ­cio de Outubro de 2012. Recorda-se que jĂĄ foram publicados anteriores esclarecimentos nos meios de comunicação interna da OM, portais, revistas e emails, pelos que os actuais vĂŞm acrescentar informação complementar. Caso persistam algumas dĂşvidas, continuamos inteiramente disponĂ­veis e empenhados em que todas as questĂľes sejam cabal e transparentemente elucidadas. O acesso a estas informaçþes ĂŠ fĂĄcil: os documentos estĂŁo em destaque na home page do portal (www.ordemdosmedicos. ~§ €{ € {  ~ † € ~ Ă… † ‹‘ € Æ que surge de imediato a informação completa com a resposta Ă s perguntas frequentes sobre a nova % € – „Â?

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Declaraçþes do Presidente do CNECV de 24 de Dezembro de 2012 Divulgamos a nota de imprensa do Conselho Nacional Executivo da OM sobre as declaraçþes do Presidente do CNECV de 24 de Dezembro de 2012 a propĂłsito do parecer do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDM). O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) tomou conhecimento das declaraçþes proferidas pelo Presidente do Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida (CNECV) em 24 de Dezembro, a propĂłsito do parecer do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDM). – ~ % %• € na RTP que “o BastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos consegue durante mais de um mĂŞs censurar e nĂŁo divulgar este documento, o que ĂŠ gravĂ­ssimoâ€? e “Obviamente o BastonĂĄrio y ÂŒ Â? † retirar as consequĂŞncias, porque neste momento ĂŠ Ăłbvio que hĂĄ imensas e insanĂĄveis divisĂľes no interior da Ordem dos MĂŠdicos, † Â’ € " ~ facto, nĂŁo tem legitimidade para dizer todos os disparates que tem dito.â€? ~ ‹˜ ‘ quem as faz nem a estrutura que ~ Â? ‘ porque sĂŁo FALSAS e mancham publicamente o bom nome da

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Ordem dos MĂŠdicos e do seu BastonĂĄrio e, portanto, de todos os mĂŠdicos. É completamente inaceitĂĄvel que um Presidente de um Conselho de Ética minta na praça pĂşblica. Desacredita o seu CNECV e coloca em causa a sua idoneidade ĂŠtica e como cidadĂŁo. Que

‹ Presidente do CNECV? Factos a saber: . Em 30 de Outubro foi pedido pelo CNE ao CNEDM para elaborar o seu parecer sobre as questĂľes consideradas polĂŠmicas levantadas pelo parecer do CNECV; . Em 23 de Novembro reuniu em Coimbra o CNEDM; . Em 11 de Dezembro foi enviado por carta o parecer do CNEDM para os serviços administrativos do BastonĂĄrio/CNE; . Em 17 de Dezembro (Ă noite) o referido parecer chegou ao BastonĂĄrio; . Em 21 de Dezembro, em reuniĂŁo do CNE em Lisboa, o BastonĂĄrio entregou o referido parecer a todos os membros do CNE. Nessa

mesma reuniĂŁo o CNE decidiu manter sob reserva o referido texto, uma vez que o mesmo nĂŁo respondia concretamente Ă s questĂľes polĂŠmicas suscitadas pelo parecer 64/2012 do CNECV cujo esclarecimento se solicitara. Por esse mesmo motivo, o texto disponibilizado nĂŁo foi considerado um documento ~ † { ~‘ “ € ~ ‰~ meramente preliminar e, como tal, nĂŁo passĂ­vel de ser homologado antes de completado. Vimos desta forma exigir publicamente ao Presidente do CNECV a sua retratação pĂşblica sobre esta matĂŠria, em defesa da dignidade dos mĂŠdicos e do nosso BastonĂĄrio. O CNE tem nos seus arquivos (disponĂ­veis a todos os mĂŠdicos) € ~ € conteĂşdo desta nota informativa. Os Presidentes dos Conselhos Regionais do Sul, do Centro e do Norte, Pereira Coelho, Fernando Gomes e Miguel GuimarĂŁes Portugal, 28 de Dezembro de 2012


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NotĂ­cias relativas a documento inacabado e interno da OM

Divulgamos a nota de imprensa que a Ordem dos MĂŠdicos elaborou na sequĂŞncia de notĂ­cias surgidas na comunicação social no dia 24 de Dezembro relativas a um documento inacabado e interno desta instituição. A Posição da Ordem dos MĂŠdicos sobre o parecer 64 do CNECV, relativo ao racionamento em SaĂşde, foi estabelecida por unanimidade em reuniĂŁo do Conselho Nacional Executivo (CNE), por todos os seus dez Conselheiros. ‹‘ y Ordem dos MĂŠdicos ĂŠ, por conseguinte, de rejeição do parecer 64 do CNECV. A Ordem dos MĂŠdicos recorda que foi inequĂ­voca a reprovação do parecer 64 do CNECV de forma alargada pela Sociedade e pelos Doentes. Mesmo contra a vontade de alguns, a Ordem dos MĂŠdicos continuarĂĄ sempre a defender o direito dos doentes terem acesso a todos os cuidados de saĂşde de que necessitem. Sublinha-se que, na sua reuniĂŁo do dia 21/12/2012, o CNE decidiu manifestar a sua concordância genĂŠrica com o teor do parecer emitido pela Associação Portuguesa de BioĂŠtica (APB), recentemente apresentado, profundamente crĂ­tico do parecer 64 do CNECV, que nĂŁo sĂł reforça

a posição que a Ordem dos MĂŠdicos tem sustentado sobre esta matĂŠria, em defesa da dignidade da pessoa humana e no respeito pela irrepetĂ­vel individualidade de cada doente, como condensa de forma objetiva e fundamentada o seu enquadramento ĂŠtico e social. O CNE subscreve na generalidade as recomendaçþes apontadas pela APB, com particular enfâse para a inaplicabilidade e inadmissibilidade das recomendaçþes do parecer 64/2012 do CNECV. Foi prematuramente divulgado na comunicação social um curto e singelo documento interno, nĂŁo homologado e nĂŁo € ~ ~ €~ { Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdica (CNEDM) da Ordem dos MĂŠdicos, sobre o parecer 64 do CNECV. Estranhamente, o parecer do % „{ ‘ w ~  algumas questĂľes ĂŠticas da mĂĄxima importância, pelo que foi solicitado ao Conselho que ÂŒ ~ w ‰˜ € ~

anĂĄlise, tais como: 1- O CNEDM nĂŁo faz qualquer menção Ă proposta de racionamento por idade que consta do parecer 64 do CNECV. Considera-o ĂŠtico? Mais paradoxal, inacreditĂĄvel e cru se torna este “racionamento por idadeâ€? sabendo-se que 2012 foi considerado como o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Geraçþes! Racionar por idade ĂŠ primariamente anti-ĂŠtico e viola grosseiramente o CĂłdigo DeontolĂłgico (CD) da Ordem dos MĂŠdicos (artÂş 6Âş do CD). Quem aceita a discriminação por idade tambĂŠm estĂĄ disponĂ­vel para aceitar outras formas de discriminação! Discriminar por idade representa um trĂĄgico retrocesso civilizacional de laivos nazistas. 2- O CNEDM nĂŁo faz qualquer alusĂŁo ao facto da decisĂŁo Ăşltima sobre o racionamento, sem qualquer recurso, ser da exclusiva responsabilidade da administração, em todas as situaçþes de desacordo, o que relega para segundo plano

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e torna irrelevantes todas as eventuais discussĂľes prĂŠvias. SerĂĄ o Governo que vai decidir questĂľes ĂŠticas, do ponto de vista meramente administrativo? Passaremos a estar sob a ĂŠgide da Š ~ — † ~ † Ă€ É preciso recordar que aceitar o racionamento nas mĂŁos do Estado implicaria aceitar nĂŁo tratar doentes de acordo com o Estado da Arte MĂŠdica, o que constitui uma indisputĂĄvel violação do CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicos (nomeadamente do nÂş 2 do artÂş 3Âş do CD). AlĂŠm disso, o parecer sujeita as Normas de Orientação ClĂ­nica,

elaboradas pela Direcção Geral da SaĂşde e pela Ordem dos MĂŠdicos, Ă s decisĂľes arbitrĂĄrias das “administraçþes hospitalaresâ€? que passariam a poder alterĂĄ-las, o que ĂŠ totalmente inaceitĂĄvel (violando o artÂş 3Âş do CD). 3- Ao contrĂĄrio da Associação MĂŠdica Mundial, o CNEDM nĂŁo faz qualquer consideração sobre o dever Ético de exigir € € ~ ~ ~ os doentes, nomeadamente num paĂ­s que ainda nĂŁo combateu muitas ĂĄreas de desperdĂ­cio, de corrupção e de interesses pouco ĂŠticos. SerĂĄ Ético aceitar

passivamente o orçamento da SaĂşde sem o questionar? O Parecer do CNECV “desconhece por completo a dimensĂŁo constitucional do direito Ă saĂşdeâ€? e “cede Ă mensagem subliminar de que pode haver uma ĂŠtica na saĂşde a partir dos interesses dos nossos credoresâ€?, segundo Fernanda Palma, Professora CatedrĂĄtica de Direito Penal. Ordem dos MĂŠdicos Coimbra, 24 de Dezembro de 2012

Pedido de retratação pĂşblica Publicamos em seguida a carta, datada de dia 5 de Janeiro, a qual foi dirigida a Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida, pelos presidentes das trĂŞs secçþes regionais da OM solicitando uma retratação pĂşblica relativamente a aďŹ rmaçþes falsas do representante do CNECV. ÂŤSenhor Prof. Doutor Miguel Oliveira da Silva, O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) tomou conhecimento das declaraçþes proferidas pelo Presidente do Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida (CNECV) em 24 de Dezembro, a propĂłsito do parecer do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDM). € ‹˜ € Š " ~ „ € € ~ € ›

€ ‘ †€ ~ € ~ { € †œ — ‘ € y ÂŒ ~ €~€ € ~ Â? ‘ € ‘ ˆ Â? € ~  dos MĂŠdicos e do seu BastonĂĄrio e, consequentemente, de todos os mĂŠdicos. Em 30 de Outubro foi pedido pelo CNE ao CNEDM para elaborar o seu parecer sobre as questĂľes consideradas polĂŠmicas levantadas pelo parecer 64/2012 do CNECV. Em 23 de Novembro reuniu em Coimbra o CNEDM. Em 11 de Dezembro foi enviado por carta o parecer do CNEDM para os serviços administrativos do BastonĂĄrio/CNE. Em 17 de Dezembro o referido parecer chegou ao BastonĂĄrio. Em 21 de Dezembro, em reuniĂŁo do CNE em Lisboa, o BastonĂĄrio entregou o referido parecer a todos os membros do CNE. Face a estes factos conhecidos e comprovados, vimos desta forma exigir a sua retratação pĂşblica. Os Presidentes dos Conselhos Regionais do Sul, do Centro e do NorteÂť.

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Carta ao coordenador do CNEDMOM Publicamos em seguida a carta que o presidente da Ordem dos MĂŠdicos, JosĂŠ Manuel Silva, dirigiu a Filipe Almeida, coordenador do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM). ÂŤExmÂş Colega, Recebi o seu email de 27/12/2012, que agradeço. Antes de responder decidi dedicar-lhe alguns dias de w ‰‘ ‰ Âœ de Festas, que tambĂŠm convida a uma meditação mais tranquila e profunda sobre os valores da Vida e da Humanidade. A carta que teve a amabilidade de me enviar logo no dia 2 de Janeiro de 2013 repete, no essencial, o conteĂşdo do email, pelo que respondo nesta oportunidade ao conjunto das duas comunicaçþes que recebi de V. Exa. 1. Lamento visceralmente os acontecimentos originados pela divulgação abusiva e intempestiva de um documento interno da Ordem dos MĂŠdicos e pelas mentiras deliberadas e inopinados comentĂĄrios produzidos acerca do mesmo pelo Presidente do CNECV. 2. Esta matĂŠria foi levada para discussĂŁo pĂşblica por alguĂŠm que, comprovadamente, tem da Ética e dos Direitos Humanos um conceito radicalmente diferente do meu. 3. NĂŁo me associo Ă queles que, analisando a temporização do mesmo, consideram ter sido implementado um processo metodicamente preparado para desencadear a polĂŠmica pĂşblica ocorrida.

4. Lastimo que o coordenador do CNEDM nĂŁo tenha uma palavra explĂ­cita para se dissociar e verberar o comportamento do Presidente do CNECV. 5. Procurei evitar ao mĂĄximo a intervenção na comunicação social, conforme o demonstram as minhas parcas declaraçþes ao JN, na vĂŠspera do dia 24. 6. No dia 24, jĂĄ um dia de FamĂ­lia, que dedicava aos meus Â? { € ~ † ouvir quaisquer notĂ­cias nem a responder aos nĂşmeros de telefone da comunicação social, mas fui compelido a dar atenção ao problema quando comecei a receber inĂşmeros contactos de Colegas preocupados com a ausĂŞncia de qualquer resposta da minha parte ao impressionante teor acusatĂłrio e Ă s mĂşltiplas intervençþes do Presidente do CNECV. 7. Fui obrigado a reagir de imediato, procurando desvalorizar as circunstâncias e a polĂŠmica, o que deu origem Ă nota de imprensa que lhe enviei e que tambĂŠm visou evitar mais declaraçþes Ă imprensa, o que se revelou absolutamente impossĂ­vel, face aos insistentes contactos. 8. Segundo os Estatutos da Ordem dos MĂŠdicos e sem qualquer

desprimor, todos os Conselhos Nacionais sĂŁo ĂłrgĂŁos consultivos, sem poder deliberativo atribuĂ­do, pelo que os respectivos pareceres podem ser sujeitos, como ĂŠ hĂĄbito, a discussĂŁo e votação no CNE ou no PlenĂĄrio, para que se transformem ‹˜ dos MĂŠdicos. Como deverĂĄ ser com qualquer ĂłrgĂŁo consultivo de qualquer instituição. 9. A discussĂŁo interpares, com dignidade, humildade e espĂ­rito ~ {  a Ordem dos MĂŠdicos e jĂĄ conduziu Ă alteração de alguns pareceres ou posiçþes da Ordem, nomeadamente como resultado das opiniĂľes do CNEDM. O sentido inverso nĂŁo ĂŠ menos digno ou menos aceitĂĄvel, no respeito pela indeclinĂĄvel independĂŞncia de opiniĂľes e competĂŞncias de cada ĂłrgĂŁo, atĂŠ porque a verdade absoluta ĂŠ uma verdade divina. 10. Se os elementos do CNE se demitissem sempre que a sua razĂŁo nĂŁo prevalece, jĂĄ nĂŁo terĂ­amos nem BastonĂĄrio, nem CNE. A Democracia ensina a respeitar as decisĂľes da maioria, de acordo com a legislação enquadradora. 11. Por conseguinte, e porque o CNEDM tem desenvolvido um trabalho de Qualidade e sentido Ético, nĂŁo aceito o pedido de Jan/Fev | 2013 | 27


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demissĂŁo de V. Exa. e continuarei a contar com a sua valiosa colaboração. 12. AliĂĄs, nem seria compreensĂ­vel a demissĂŁo do CNEDM a meio de € w ‰‘ bioĂŠtica relativamente a uma matĂŠria tĂŁo sensĂ­vel e complexa quanto a presente, situação que poderia prestar-se a outro tipo de interpretaçþes. 13. Assim, venho solicitar formalmente a V. Exa. que promova entre todos os elementos do CNEDM uma importante e urgente w ‰‘ { emitido inicialmente, da forma mais objectiva possĂ­vel, a resposta Ă s questĂľes seguintes, originadas pelo parecer 64/2012 do CNECV: a) O racionamento discriminatĂłrio por idade, proposto no parecer do CNECV, respeita a Ética MĂŠdica e o CĂłdigo DeontolĂłgico, particularmente no que concerne ao artÂş 6Âş deste Ăşltimo? b) Entregar as decisĂľes sobre racionamento ao Governo, ultrapassando todos os outros patamares de anĂĄlise e avaliação, condicionando a prĂĄtica mĂŠdica e a obrigação ĂŠtica de respeito pelo Estado da Arte, a que o mĂŠdicos estĂŁo deontologicamente obrigados, respeita a Ética MĂŠdica e o CĂłdigo DeontolĂłgico, nomeadamente no que respeita Ă letra e ao espĂ­rito do artÂş 3Âş? c) SerĂĄ ĂŠtico racionar medicamentos

em doentes com cancro e SIDA, por exemplo, sem implementar previamente um sistema justo e transparente de priorização ĂŠtica na saĂşde? d) O que considera o CNEDM que, em SaĂşde, deve prevalecer, o racionamento ou a racionalização, conceitos que tambĂŠm sĂŁo distintos na literatura anglo-saxĂłnica? e) Ao contrĂĄrio da Associação MĂŠdica Mundial, o CNEDM nĂŁo faz qualquer consideração sobre o dever Ético de exigir recursos € ~ ~ ~ ~ { nomeadamente num paĂ­s que ainda nĂŁo combateu muitas ĂĄreas de desperdĂ­cio, de corrupção e de interesses pouco ĂŠticos. SerĂĄ Ético aceitar passivamente o orçamento da SaĂşde sem o questionar, o que jĂĄ representa uma importantĂ­ssima forma de macro racionamento e de estabelecimento de macro prioridades por parte da tutela, com prejuĂ­zos potencialmente sĂŠrios para os doentes? f) Segundo Fernanda Palma, Professora CatedrĂĄtica de Direito Penal, o parecer do CNECV “desconhece por completo a dimensĂŁo constitucional do direito Ă saĂşdeâ€? e “cede Ă mensagem subliminar de que pode haver uma ĂŠtica na saĂşde a partir dos interesses dos nossos credoresâ€?. O que pensa o CNEDM sobre esta dimensĂŁo do parecer do CNECV, considerando que a Constituição

da RepĂşblica Portuguesa regula e baliza a Ética nacional? g) O parecer do CNEDM refere que o parece 64/2012 do CNECV “evita a controvĂŠrsia estĂŠrilâ€?. SerĂĄ legĂ­timo y ÂŒ ~ ‹‘ † ÂŒ como meramente estĂŠril toda a controvĂŠrsia desencadeada pelo parecer, bem como todas as alusĂľes mais controversas do prĂłprio parecer 64? Esta matĂŠria ĂŠ tĂŁo controversa e sensĂ­vel que o prĂłprio Papa Bento XVI exortou as estruturas de SaĂşde a evitarem que “a saĂşde deixe de ser um bem universal, que se deve assegurar e defenderâ€?, manifestando o seu receio que pudesse “passar a ser uma mera mercadoria, sujeita Ă s leis do mercado e reservado apenas a algunsâ€?, obviamente discriminando negativamente os doentes mais desfavorecidos. h) Finalmente, venho solicitar a V. Exa. que informe o CNE se algum(ns) membro(s) do CNEDM, tendo em conta os artÂşs 118Âş, 119Âş e 120Âş do CĂłdigo DeontolĂłgico, poderia(m) ou deveria(m) ter ¸ € w ~ de interesses que eticamente o(s) impedisse(m) de participar na discussĂŁo e assinar o parecer do CNEDM sobre o parecer 64/2012 do CNECV. Com os melhores cumprimentos, O Presidente da OM JosĂŠ Manuel SilvaÂť

DemissĂľes no CNEDM da Ordem dos MĂŠdicos Face Ă s notĂ­cias divulgadas hoje na comunicação social, o Conselho Nacional Executivo (CNE) da Ordem dos MĂŠdicos, reunido em sessĂŁo ordinĂĄria, em Coimbra, esclarece o seguinte: - O CNE tem conhecimento de dois pedidos reiterados de demissĂŁo de membros do CNEDM, que ĂŠ constituĂ­do por sete elementos. - O CNE sempre respeitou a independĂŞncia do funcionamento dos seus ĂłrgĂŁos consultivos. - O CNE solicitou ao CNEDM que respondesse a questĂľes, objectiva e institucionalmente colocadas, relativas ao parecer 64/2012 do Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida (CNECV). - O CNE continua a aguardar a resposta Ă s questĂľes colocadas, que sĂŁo consideradas como essenciais para a Sociedade. - No caso de persistirem pedidos de demissĂŁo, a sua substituição serĂĄ concretizada de acordo com as regras estatutĂĄrias. CNE, Coimbra, 11 de Janeiro de 2013 28 | Jan/Fev | 2013


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DemissĂŁo do Coordenador do CNEDMOM A pedido do autor, publicamos o texto que se segue e cujo tĂ­tulo original foi ÂŤDo Parecer do Conselho Nacional de Ética e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM) sobre o Parecer do 64/2012 do CNECV, Ă minha demissĂŁo do Coordenador do CNEDMOMÂť ÂŤNa sequĂŞncia das conturbadas notĂ­cias e conferĂŞncias pĂşblicas em volta do parecer elaborado pelo CNEDMOM sobre o parecer 64/2012 do CNECV, de cuja natureza e estilo me distancio em absoluto, apresentei no passado dia 27 de dezembro ao Senhor BastonĂĄrio da OM a minha demissĂŁo de Coordenador do CNEDMOM. O CNEDMOM foi solicitado a pronunciar-se sobre o parecer 64/2012 do CNECV. FĂŞ-lo na sua reuniĂŁo plenĂĄria ordinĂĄria, e do documento elaborado deu conhecimento ao Sr. BastonĂĄrio, como lhe competia. Por circunstâncias estranhas ao CNEDMOM, este documento viria a ser publicamente utilizado ~ ~ y { num aproveitamento que lamento lhe tenha sido dedicado. Neste pĂşblico fogo cruzado, lateral ao CNEDMOM, o seu parecer mereceu de diversas estruturas diretivas da OM crĂ­ticas, tambĂŠm pĂşblicas, de apoucamento, de “menorizaçãoâ€?, rotulado que foi de , fuga Ă s questĂľes mais importantes, curto, singelo

# . Fez-se crer, pois, tratar-se este

de um “parecerzinhoâ€?, porque inacabado, porque em fase de discussĂŁo...! Na verdade, o parecer que o CNEDMOM elaborou (por isso ĂŠ o parecer do CNEDMOM e nĂŁo o parecer da OM!) nĂŁo ĂŠ um parecer inacabado e que esteja em fase de discussĂŁo. O parecer do CNEDMOM, bom ou mau, ĂŠ o seu parecer ~ † { €œ { ~€ ĂŠ o corolĂĄrio de uma discussĂŁo, nĂŁo o passo de uma discussĂŁo, pelo qual, por isso mesmo, o Conselho se sente obviamente responsĂĄvel. E nĂŁo ĂŠ um parecer laudatĂłrio do parecer do CNECV. NĂŁo! Faz-lhe uma apreciação global positiva, como importante contributo para uma inadiĂĄvel w ‰‘ ÂĄ ‘ “ portuguesa e na comunidade mĂŠdica, mas tambĂŠm nas estruturas decisĂłrias da saĂşde) € Ϡ w€‰ de ponderação (no qual serĂŁo convocados a participar os ¢ { doentes e seus representantes, e, naturalmente, os responsĂĄveis pela Ăşltima decisĂŁo), atinente Ă fundamentação ĂŠtica que deve informar as deliberaçþes polĂ­ticas e econĂłmicas que, queiramos ou

nĂŁo, estĂŁo inerentes Ă s decisĂľes em saĂşde. Mas faz-lhe tambĂŠm crĂ­ticas, coloca-lhe dĂşvidas, ~ Â’ Â? € › y Â’ lhe sugestĂľes. Naturalmente que o parecer do CNEDMOM nĂŁo ĂŠ um documento doutrinal sobre matĂŠrias que, em redor da temĂĄtica em apreço, naturalmente se levantam. Para essas, e se o CNE o tivesse oportunamente solicitado, o CNEDMOM tambĂŠm teria dado o seu contributo, como sempre o fez, aliĂĄs. Mas, nĂŁo! Isso nĂŁo foi pedido ao CNEDMOM. O que efectivamente lhe foi pedido foi um parecer sobre um documento, e nĂŁo um documento original que, de sua autoria, versasse sobre as temĂĄticas (e tantas sĂŁo!) que lhe podem ser adjacentes. O parecer pedido foi concluĂ­do e, nesta condição, foi enviado ao Sr. BastonĂĄrio. Ă€ OM compete naturalmente dar-lhe o destino que entender, discuti-lo ou nĂŁo, aceitĂĄ-lo ou nĂŁo, publicĂĄlo ou nĂŁo. Esta ĂŠ agora matĂŠria da sua competĂŞncia. Todavia, nas entranhas do CNEDMOM, que o pensou e o escreveu, o parecer nĂŁo estĂĄ em fase de discussĂŁo. No decurso dos acontecimentos, publicitou a OM o seu apoio

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a um parecer da Associação Portuguesa de BioÊtica, versando as questþes em aberto em torno do parecer 64/2012 do CNECV, cujo texto integral não nos Ê possível conhecer, mas de cujo teor tivemos públicos comentårios do seu autor. Decidiu pois o CNE da OM apoiar, na legitimidade das suas competências, um parecer que, pelo noticiado, se antagoniza com o parecer do CNEDMOM. Percorrendo dÊdalos Êticos inconfessados, este parecer apoiado pela OM Ê gizado por quem desrespeitou as funçþes para que foi pela mesma OM (concretamente pelo seu Conselho Regional do Norte) designado. Convocado tambÊm para a reunião plenåria do CNEDMOM onde seria discutido o parecer que aqui nos traz à colação, assim expresso na respetiva agenda de trabalho, nela não compareceu, escusandose portanto a participar, em sede própria, na respetiva discussão. Em conferência de Imprensa

convocada pelo Sr. Presidente do Conselho Regional do Norte da OM e na sua presença, assim relatada na imprensa diĂĄria de 27/12/2012, foi referida a estranheza pessoal por nĂŁo ter sido “ouvidoâ€?, exatamente sobre este parecer para cuja discussĂŁo havia sido convocado!!!.....O CNEDMOM que coordenei nĂŁo sustenta, obviamente, atitudes deste jaez, assim, de forma tĂŁo displicente, publicamente passeadas. E, pasme-se, acobertadas com a bandeira institucional do CRN da OM! € Â’  manto e, embora sem o ruido que nos tem sido dispensado, desta recusa pretendo dar pĂşblico testemunho. Subscrevo em absoluto o teor do parecer que ajudei a construir no seio do CNEDMOM (exatamente e sĂł do que nele objetivamente se escreve! Denego todos os processos de intenção que lhe foram abusivamente adjudicados). NĂŁo deixarei de, neste como

noutros areĂłpagos onde me ‡ Ϡ ~ † { sustentar as minhas convicçþes, em prol de um exercĂ­cio mĂŠdico justo, humano, eticamente bem cuidado, distanciando-me das visĂľes minimalistas e dos ‰ Âœ y

w ‰‘ bioÊtica. Reconhecendo, serenamente mas com a necessåria clarividência, de que não sou capaz de responder aos desígnios da estrutura de poder da OM, cumpre-me, nessa medida e vertebradamente, deixar livre um lugar que possa agora ser ocupado por quem tenha competência para o fazer! Neste cenårio e apesar da ~ ‹ € { sequência dos acontecimentos, me foi patenteada pelo Sr. Bastonårio, não foi possível, desde então, continuar a coordenar o CNEDMOM. Filipe Almeida

Despacho 15630/2012 Divulgamos em seguida a nota informativa do Conselho Regional do Norte aos mÊdicos sobre o Despacho 15630/2012 (autorização para abertura de concurso para os mÊdicos que concluíram o internato na segunda Êpoca de 2012). Vimos desta forma avisar todos os mÊdicos especialistas que não possam concorrer aos concursos que vierem a ser abertos com base no Despacho 15630/2012, que o CRN deliberou colocar à disposição destes mÊdicos os serviços jurídicos da SRN. Assim, os mÊdicos que concorram e vejam as suas candidaturas excluídas, poderão enviar e-mail para conselhoregionalnorte@nortemedico.pt de modo a que possamos agendar reunião, com vista à preparação dos respectivos processos judiciais. O CRN suportarå os custos judiciais inerentes a tais acçþes. porque entende que o Despacho 15630/2012 prejudica a Carreira MÊdica, coloca em causa os princípios da transparência, equidade e igualdade de oportunidades no SNS, sendo uma medida que favorece a injustiça do sistema, premiando a idade dos candidatos em detrimento do seu desempenho e competências adquiridas e não resolve as assimetrias existentes na colocação de � Porto, 19 de Dezembro de 2012 O CRN da Ordem dos MÊdicos

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Declaraçþes do presidente do Conselho de Administração do CHSJ O Conselho Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos (CRN) tomou conhecimento das declaraçþes do presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar SĂŁo JoĂŁo (CHSJ) em entrevista ao programa “Olhos nos Olhosâ€? na TVI24 no dia 17/12/2012, que foram amplamente difundidas nos restantes ĂłrgĂŁos de comunicação social. Sem prejuĂ­zo de uma anĂĄlise mais detalhada das declaraçþes proferidas pelo presidente do CA do CHSJ, o CRN lamenta profundamente que um alto dirigente da administração pĂşblica, mĂŠdico inscrito na Secção Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos, manche abertamente o bom nome de ~ € trabalham no SNS e no CHSJ, ao sugerir que os mĂŠdicos, e designadamente os especialistas de todas as especialidades cirĂşrgicas do PaĂ­s, e em particular os do CHSJ, nĂŁo cumprem os seus deveres no SNS como cirurgiĂľes e como cidadĂŁos. A sugestĂŁo de que operam pouco, traduzida em nĂşmeros ~ ~  a actividade cirĂşrgica no CHSJ, e de que “baixam a produtividade no SNS para operar os doentes nas instituiçþes privadasâ€?, nĂŁo % %š os mĂŠdicos. Pelo contrĂĄrio, estigmatizam todos os mĂŠdicos do CHSJ e apenas contribuem

para aumentar a indignação dos mĂŠdicos e dos doentes. De resto, a informação alarmista de que 30 cirurgiĂľes do CHSJ nĂŁo iriam ao bloco ĂŠ incompreensĂ­vel, na medida em que, a ser verdade € › ‡€ ~ ‹‘ aceitĂĄvel, a responsabilidade ĂŠ tambĂŠm dos respectivos directores de serviço nomeados pelo CA e do prĂłprio CA do CHSJ. Foi completamente ignorada a multiplicidade de ocupaçþes a que um especialista estĂĄ sujeito no seu serviço, desde a formação dos internos de especialidade Ă s tarefas administrativas, passando pela consulta externa, serviço de urgĂŞncia, serviço em unidades € Âœ { Â’ panhamento dos doentes internados, formação contĂ­nua e investigação. Adicionalmente, a referĂŞncia } { particular Ă carreira mĂŠdica, com a alusĂŁo negativa aos “cargos Â? € ~› ~ a vidaâ€?, foi particularmente

infeliz e contrĂĄria aos princĂ­pios fundadores do prĂłprio SNS e mostrou uma confusĂŁo inquietante entre a progressĂŁo ÂĄ € ‹‘ competĂŞncias mĂŠdicas) e os lugares de direcção (de nomeação e da exclusiva responsabilidade do CA do CHSJ). Numa altura de crise social, em que todos os portugueses se sentem injustiçados, e em que o bom senso deveria constituir um imperativo pĂşblico, as declaraçþes produzidas sĂŁo inaceitĂĄveis e contraproducentes. O CHSJ foi considerado, pelo terceiro ano consecutivo, o melhor do SNS no estudo realizado pela Escola Nacional de SaĂşde PĂşblica. Tal avaliação nĂŁo seria possĂ­vel se nĂŁo tivesse ‰ ~ { € tal estudo deveria tambĂŠm ser entendido como um elogio aos recursos humanos de que dispĂľe o CHSJ. y ~ { saĂşde, e em particular os mĂŠdicos, como pilar essencial Jan/Fev | 2013 | 31


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do SNS, sĂŁo os principais responsĂĄveis pela melhoria da qualidade dos cuidados de saĂşde prestados aos cidadĂŁos e pelo sucesso internacional do nosso SNS, tendo estado intimamente associados aos mĂŠritos do nosso Serviço de SaĂşde sistematicamente destacados pela OCDE e pela OMS. Os indicadores de saĂşde conhecidos e regularmente divulgados falam por si. Acresce ainda que os mĂŠdicos portugueses sĂŁo internacionalmente reconhecidos como excelentes { € prestigiaram um serviço pĂşblico em Portugal e no resto do Mundo. Interpretando de forma literal os dados apresentados pelo presidente do CA do CHSJ, sĂł podemos concluir que resultaram

€ w ‰‘ €~ Âœ~ quem tem responsabilidades directas na matĂŠria. Em Ăşltima anĂĄlise, se a atividade mĂŠdica e cirĂşrgica do CHSJ nĂŁo corresponde aos parâmetros € ‹‘ { “ ‡€ ~ € ~ acontece e tomar as medidas necessĂĄrias para inverter a situação. Jamais tal poderĂĄ servir para julgar em praça ¢ Â€ declaraçþes que entendemos ser difamatĂłrias. Expressando a mĂĄxima solidariedade com todos os pro %š { CRN considera que o seu trabalho ĂŠ altamente prestigiante para a Medicina nacional e contribui de forma decisiva para que o seu hospital seja uma referĂŞncia de rigor e excelĂŞncia na prestação

de cuidados de saĂşde. Dadas as circunstâncias e o impacto das declaraçþes proferidas, o CRN exige ao presidente do CA do CHSJ explicaçþes fundamentadas sobre € ‹˜ { € contribuĂ­ram para deteriorar de y † Ϡ ‹ dos mĂŠdicos e dos doentes em quem governa o CHSJ. Em nome dos doentes e do PaĂ­s, todos temos a obrigação de ~ { ~ SNS. A começar por quem tem ‘ Â? cuidado do Senhor Ministro da SaĂşde. Porto, 19 de Dezembro de 2012 O Conselho Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos

Livros

Analgesia, sedação e anestesia prĂŠ-hospitalares A Universidade do Porto editou o livro ÂŤAnalgesia, sedação e anestesia prĂŠ-hospitalares: princĂ­pios e protocolosÂť, da autoria de Patrick Hertgen e Claude Fuilla, uma adaptação e tradução para portuguĂŞs coordenada por Romero Bandeira. O livro ĂŠ um guia prĂĄtico de analgesia, sedação e anestesia prĂŠ-hospitalares para actuação em medicina de urgĂŞncia prĂŠ-hospitalar, nomeadamente em situaçþes de † Â? ˆ ~ Ă… ‰ › ~ renoÂť de socorro Ă s pessoas ao serviço da mĂ­tica Brigade de Sapeurs-Pompiers de Paris (BSPP) e destina-se a mĂŠdicos anestesistas-reanimadores, mĂŠdicos de urgĂŞncia, homens do terreno. O livro pode ser € € Â?& ¸¸œœœÂ?Âś #Â? ~¸ Â? ¸ Â’ Â’ Â’ ~ Â’ Â’Â? ~ Â’¸ ¸ ¸ ÂžÂŹÂ?¡¡Ă‹ € Â?& ¸¸œœœÂ? ‡ Â?€ Â? ~¸ conteudos/?conteudo=contactos

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Paulo Sancho Consultor JurĂ­dico

Unidades Privadas de SaĂşde Esclarecimento sobre a Portaria 287/2012 Face Ă entrada em vigor da Portaria 287/2012 de 20 de Setembro de 2012 que veio regulamentar, no âmbito de uma das tipologias possĂ­veis, o Decreto-lei 279/2009, de 06.10, foi colocada a seguinte questĂŁo ao Departamento JurĂ­dico: “O conceito de consultĂłrio mĂŠdico (no âmbito daquela lei) abrange o tradicional consultĂłrio mĂŠdico de prĂĄtica isolada de consultas?â€? Passamos a transcrever o parecer-resposta. ÂŤA Portaria 287/2012 estabelece os requisitos mĂ­nimos Ă organização e funcionamento, recursos humanos e instalaçþes tĂŠcnicas para o exercĂ­cio da actividade dos consultĂłrios mĂŠdicos (artigo 1Âş). Nos termos do seu artigo 2Âş considera-se consultĂłrio mĂŠdico as unidades ou estabelecimentos de saĂşde privados que prossigam actividades de prevenção, diagnĂłstico, tratamento mĂŠdico e reabilitação, independentemente da forma jurĂ­dica e da designação adoptadas, no âmbito das competĂŞncias legalmente atribuĂ­das aos mĂŠdicos. Parece, assim, claro que o “tradicional consultĂłrio mĂŠdico de prĂĄtica isolada de consultasâ€? estĂĄ regulamentado por esta Portaria e pelo DL 279/2009.

1- Quando se diz “no caso dos consultĂłrios unipessoaisâ€?. 2- Quando se estabelece que o consultĂłrio mĂŠdico ĂŠ tecnicamente dirigido “por um director clĂ­nico inscrito na Ordem dos MĂŠdicos salvo no caso dos consultĂłrios unipessoais em que sĂł existe um mĂŠdicoâ€?.

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De resto, tal conclusĂŁo retira-se ainda do preceituado nos artigos 4Âş1 e 10Âş nÂş12, da dita Portaria 287/2012. A conformação a esta nova realidade legislativa tem, no entanto, um prazo que permite tratar da regularização do seu consultĂłrio de forma ponderada. Com efeito, o DL 279/2009, de 06.10, que estabelece o regime ‡€ Âœ € €‡ ~  ~€ { ‹‘ e o funcionamento das unidades privadas de saĂşde, cuidou de estabelecer no seu artigo 19Âş que as unidades privadas de serviços de saĂşde em funcionamento, que nĂŁo se encontrem licenciadas ao abrigo de legislação anterior, dispĂľem de um ano desde a entrada em vigor do dito decreto-lei para se adequarem ao que nele estĂĄ disposto. Todavia, o legislador, conhecedor que ĂŠ da sua prĂłpria morosidade na regulamentação de diplomas, estabeleceu ainda no artigo 27Âş do citado Decreto-Lei 279/2009 que este sĂł produziria efeitos,

para cada tipologia, com a publicação da portaria que aprove os respectivos requisitos tĂŠcnicos. Quer isto dizer que as clĂ­nicas e consultĂłrios mĂŠdicos terĂŁo, ainda, quase um ano para requererem o seu licenciamento, jĂĄ que o prazo sĂł terminarĂĄ no dia 23 de Setembro de 2013. Face ao artigo 21Âş do citado DL 279/2009 os titulares de estabelecimentos privados prestadores de cuidados de saĂşde jĂĄ existentes “podem solicitar a dispensa dos requisitos de funcionamento (‌) quando, por razĂľes estruturais ou tĂŠcnicas, a sua estrita observância seja impossĂ­vel ou possa inviabilizar a continuidade da actividade, desde que a dispensa nĂŁo ponha em causa a segurança e saĂşde dos utentes ou de terceirosâ€?. O nÂş 2 do artigo citado no parĂĄgrafo anterior refere que “consideram-se susceptĂ­veis de criar condicionantes estruturais ou tĂŠcnicas, nomeadamente o funcionamento de unidades privadas de serviços de saĂşde em


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' regional ou local, bem como em edifĂ­cios de reconhecido valor histĂłrico, arquitectĂłnico, artĂ­stico ou culturalâ€?. A competĂŞncia para decidir sobre o pedido de dispensa cabe Ă ARS, apĂłs parecer da ACSS. A ARS tem 30 dias a contar da apresentação do requerimento para tomar a decisĂŁo de dispensa, sob pena de se entender que o pedido ĂŠ deferido. Nesta matĂŠria o legislador teve

em atenção que, ao longo de dĂŠcadas, permitiu, sem critĂŠrios, a abertura e funcionamento de unidades privadas de saĂşde e que se as entidades licenciadoras tivessem agora de seguir sem excepção este novo regime seriam, certamente, encerrados mĂşltiplos estabelecimentos que se sabe, Ă partida, nĂŁo reunirem, por impossibilidade legal ou estrutural, os requisitos ora exigĂ­veis, nem ser possĂ­vel ~ ~ yÂœ em que as unidades funcionam.

Assim e em conclusĂŁo: A Portaria 287/2012 regula o licenciamento e funcionamento dos consultĂłrios mĂŠdicos de prĂĄtica isolada, devendo as suas normas ser interpretadas em conjunto com as constantes do Decreto-Lei n.Âş 279/2009, de 6 de Outubro. As exigĂŞncias que decorrem da Portaria 287/2012 tĂŞm de ser enquadradas em cada caso concreto. 2012-11-02

Tabela de Nomenclatura para medicina dentĂĄria Perante as dĂşvidas de vĂĄrios colegas especialistas em estomatologia e a solicitação do respectivo ColĂŠgio, foi questionado o departamento jurĂ­dico sobre a legalidade e a aplicabilidade do CNVRAM, no que se refere a essa especialidade. Transcrevemos o parecer jurĂ­dico que peremptoriamente estatui que os Estomatologistas sĂł podem ser obrigados por documentos emanados da OM. As dĂşvidas apresentadas pelos colegas deviam-se ao facto de a Tabela da Ordem dos MĂŠdicos Dentistas, jĂĄ publicada em DiĂĄrio da RepĂşblica, ter entrado em vigor no dia 2 de Janeiro de 2013 surgindo a questĂŁo de saber se os estomatologistas tinham que submeter-se ou nĂŁo Ă respectiva terminologia, uma vez que - no artigo 2Âş desse diploma - se fala, genericamente de SaĂşde Oral: ‘A utilização das nomenclaturas e da tabela ĂŠ obrigatĂłria em todos os actos relacionados com o âmbito da saĂşde oral e em particular com a medicina dentĂĄria ou com os mĂŠdicos dentistas’. Segue-se o esclarecimento do Departamento JurĂ­dico da Ordem dos MĂŠdicos: ÂŤA Tabela de Nomenclatura para a Medicina DentĂĄria, publicada pela

Ordem dos MĂŠdicos Dentistas, e que consta do Regulamento 501/2011, do DR II SĂŠrie nÂş 161, de 23 de Agosto, ĂŠ exclusivamente aplicĂĄvel aos mĂŠdicos dentistas. Os estomatologistas nĂŁo estĂŁo abrangidos por este Regulamento jĂĄ que a OMD nĂŁo tem poder regulamentar sobre mĂŠdicos nem as entidades que adoptam a tabela a podem impor a outros Â? O mĂŠdico estomatologista tem de cumprir os preceitos deontolĂłgicos do respectivo CĂłdigo da Ordem dos MĂŠdicos e estĂĄ exclusivamente sujeito Ă acção disciplinar da OM. Quer isto dizer que os estomatologistas podem e devem usar o CNVRAM no exercĂ­cio da € ~ † Â? As entidades para as quais os

estomatologistas trabalhem deverĂŁo, pois, respeitar o CĂłdigo de Nomenclatura e Valor Relativo dos Actos MĂŠdicos para os estomatologistas da mesma forma que o fazem para a Tabela de Nomenclatura para a Medicina DentĂĄria relativamente aos mĂŠdicos dentistas. ˜ ‘ confundir, a nomenclatura dos actos praticados por elas tambĂŠm nĂŁo. Em conclusĂŁo, nĂŁo releva para os mĂŠdicos, designadamente para os especialistas em estomatologia, a tabela aprovada pelo Regulamento 501/2011 da OMD. O Consultor JurĂ­dico Paulo Sancho

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actualidade

Racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS Realizou-se no passado dia 9 de Janeiro mais um debate na Ordem dos MĂŠdicos em Lisboa. Um painel de oradores composto por Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ética para as CiĂŞncias da Vida (CNECV), Nuno Fernandes Thomaz, vogal do Conselho de Administração e da ComissĂŁo Executiva da Caixa Geral de DepĂłsitos, S.A., Rui Nunes, director do Serviço de BioĂŠtica e Ética da FMUP, JosĂŠ Manuel Silva, bastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos e Serpa Oliva, deputado Ă Assembleia da RepĂşblica pelo CDS-PP, discutiu a temĂĄtica ‘racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS’. A moderadora deste debate, no qual ďŹ caram bem explĂ­citas as vĂĄrias posiçþes, foi a jornalista Marina Caldas. O debate foi, pela primeira vez, transmitido em directo, via skype, para a distrital do Algarve da OM. No inĂ­cio foi sorteada a ordem das intervençþes tendo a sorte ditado que a primeira seria a do presidente da Ordem dos MĂŠdicos, JosĂŠ Manuel Silva, promotor destes encontros e, neste caso, um dos intervenientes da noite. Faremos a transcrição da sua introdução Ă temĂĄtica e, em seguida, um resumo alargado das restantes intervençþes e subsequente debate. Intervenção introdutĂłria do presidente da Ordem dos MĂŠdicos: ÂŤDesde Setembro de 2011, altura em que assinou, por sinal, nesta mesma sala, um inĂŠdito acordo com a DGS, na 36 | Jan/Fev | 2013

presença do Ministro da SaĂşde, ~ as associaçþes de doentes, a OM vem fazendo o seu trabalho de casa, interpares, para racionalizar atravĂŠs das Normas de Orientação ClĂ­nica, que sĂŁo sujeitas a uma prĂŠvia discussĂŁo pĂşblica antes da sua aprovação formal, e a posteriores auditorias. NĂŁo precisamos de liçþes sobre racionalização e racionamento. Na nossa Ăłptica, aceitar o racionamento ĂŠ aceitar a discriminação negativa dos mais desfavorecidos. É aceitar um limite para a solidariedade em SaĂşde, ĂŠ agravar as desigualdades sociais em Portugal, um dos paĂ­ses com um dos maiores

~ €

† ÂŒ { ~ € as desigualdades da distribuição dos rendimentos. Este nĂ­vel de desigualdades, sim, fere a nossa Ética Social. Entre os paĂ­ses da UniĂŁo Europeia, a Lituânia era aquele que, em 2009, registava a distribuição de rendimentos mais € { € ~ Gini de 37%, seguida de perto pela LetĂłnia com 36%. Portugal, a par da Espanha, registava para este indicador o terceiro valor mais elevado da UniĂŁo Europeia: ž¡ĂŽÂ? ~ ~ ~ { ~ Gini portuguĂŞs agravou-se com as medidas de austeridade, que estĂŁo a ser aplicadas de forma desigual, discriminatĂłria e antiĂŠtica!


Os problemas do parecer 64 do CNECV sĂŁo estruturais e conceptuais, para alĂŠm de aplicabilidade duvidosa. Como jĂĄ dissemos em editorial da ROM, a Ética ĂŠ pluralista, mutĂĄvel e individual. Fernando † ~ € ƒ~ uma “arte de viverâ€?. Mas a Ética deve respeitar as regras, princĂ­pios e valores globais, sob pena de entrar em litĂ­gio com a Sociedade. Certamente, nesta sala, ninguĂŠm hoje partilha da Ética MĂŠdica nazi, que tambĂŠm era fortemente discriminativa. Por isso mesmo, nĂŁo aceitaremos nunca que a Ética possa ser racionada, discriminatĂłria e colocada ao serviço do poder, para a prĂłpria Ética nĂŁo se descredibilizar e suicidar, uma das razĂľes pela qual nĂŁo partilhamos a “arte de viverâ€? do CNECV. AliĂĄs, estranhamos que nĂŁo seja divulgado o teor do pedido do Sr. Ministro ao CNECV, conforme solicitĂĄmos, por carta, ao Sr. Ministro. A transparĂŞncia fragilizarĂĄ alguĂŠm? A Ética deve ser a Ăşltima guardiĂŁ dos valores intemporais do Homem, da Sociedade, da Solidariedade. NĂŁo pode ser uma Ética filosoficamente comprometida ou politicamente correcta, nem pode ser uma Ética subjugada aos interesses Â? Segundo Fernanda Palma, Professora CatedrĂĄtica de Direito Penal, o parecer 64 do CNECV “desconhece por completo a dimensĂŁo constitucional do direito Ă saĂşdeâ€? e “cede Ă mensagem subliminar de que pode haver uma ĂŠtica na saĂşde a partir dos interesses dos nossos credoresâ€?. Como ignora, igualmente, um dos mais importantes documentos ĂŠticos universais, que ĂŠ a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, que proĂ­be qualquer forma de discriminação e que, no seu artigo 25Âş estabelece que “Toda a pessoa tem direito a um Ϡ † € ~ Â? assegurar e Ă sua famĂ­lia a saĂşde e o bem-estar, ‌â€?. Vale a pena recordar o artigo 1Âş desta Declaração: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razĂŁo e de consciĂŞncia, devem agir uns para com os outros em espĂ­rito de fraternidadeâ€?. Contrariando as suas prĂłprias declaraçþes pĂşblicas, nas quais preconizava a racionalização e nĂŁo o racionamento, o Sr. Ministro mandou “aplicarâ€? o parecer 64 do CNEVC ao Infarmed e Ă DGS. CĂĄ estaremos, mĂŠdicos e doentes, para ver e analisar os resultados prĂĄticos deste parecer, que consideramos incoerente e inexequĂ­vel. Para alĂŠm destes problemas estruturais, deixamos para o debate os problemas conceptuais que encontrĂĄmos no parecer 64 e que elencamos: - Aceitar o racionamento por idade, como estĂĄ textualmente escrito no parecer 64, ĂŠ aceitar qualquer outra forma de discriminação, ĂŠ um chocante retrocesso civilizacional e viola grosseiramente o CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicos (artÂş 6Âş do CD), que proĂ­be todas as formas de discriminação.

- Entregar as decisĂľes sobre racionamento ao Governo, ultrapassando todos os outros patamares de anĂĄlise e avaliação, condicionando a prĂĄtica mĂŠdica e a obrigação ĂŠtica de respeito pelo estado da arte, a que os mĂŠdicos estĂŁo deontologicamente obrigados, desrespeita a Ética MĂŠdica e o CĂłdigo DeontolĂłgico, nomeadamente no que respeita Ă letra e ao espĂ­rito do artÂş 3Âş. O CNECV nem sequer teve a preocupação e interesse de sugerir uma ComissĂŁo independente, baseada no Infarmed, com ¢ { € a participação da Ordem dos MĂŠdicos, e doentes, para tomar a Ăşltima decisĂŁo nas situaçþes mais delicadas e polĂŠmicas. NĂŁo! Entregou essas decisĂľes, de bandeja, ao MinistĂŠrio da SaĂşde. A isto chama-se, objectiva e realisticamente, na nossa mui modesta opiniĂŁo, fazer um imenso frete ao Governo, por muitos e veementes protestos que se possam ‹ ~ ~ Â? - SerĂĄ ĂŠtico racionar medicamentos em doentes com cancro, SIDA e artrite reumatĂłide, por exemplo, sem implementar previamente um sistema justo e transparente de priorização ĂŠtica na saĂşde? - Consideramos que, em SaĂşde, deve prevalecer a racionalização sobre o racionamento, conceitos Jan/Fev | 2013 | 37


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que, sublinhamos, tambĂŠm sĂŁo distintos na literatura anglosaxĂłnica. É lamentĂĄvel que se importem conceitos que nĂŁo se aplicam Ă realidade do nosso paĂ­s e que representam uma visĂŁo muito parcial de uma Ética condicionada pelos poderosos interesses econĂłmicos prevalecentes. - Ao contrĂĄrio da Associação MĂŠdica Mundial, o parecer 64 do CNECV nĂŁo faz qualquer consideração sobre o dever Ético de exigir recursos suficientes para tratar os doentes, nomeadamente num paĂ­s que ainda nĂŁo combateu muitas ĂĄreas de desperdĂ­cio, de corrupção e de interesses pouco ĂŠticos. !> @ K K> Q RR T >U >

o orçamento da Saúde sem o questionar, o que jå representa uma importantíssima forma

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de macro racionamento e de estabelecimento de macro prioridades por parte da tutela, com prejuĂ­zos potencialmente sĂŠrios para os doentes? SerĂĄ Ético causticar os doentes sem exigir mudanças profundas no Estado? Vale a pena transcrever um parĂĄgrafo do editorial de hoje de Pedro Santos Guerreiro, Director do Jornal de NegĂłcios: “DifĂ­cil ĂŠ mudar o Estado. A cultura do Estado. A › ~ Â? ~ € Estado estĂĄ capturado nĂŁo sĂł por grupos de interesse empresariais, mas tambĂŠm por um grupo que nĂŁo mudou nada, rigorosamente nada, durante a austeridade: os partidos polĂ­ticos. Antes e depois da Troika, os partidos da governação sĂŁo mesas redondas de distribuição de poder e de dinheiro. E nĂŁo vĂŁo abdicar da inĂŠrcia que perpetua essa distribuiçãoâ€?. Racionar em SaĂşde ĂŠ tĂŁo paradoxal que a prĂłpria ComissĂŁo Europeia vem dizer que o racionamento pode aumentar a despesa em cerca de 16% a mĂŠdio e a longo prazo, por razĂľes absolutamente Ăłbvias. Racionar em SaĂşde ĂŠ tĂŁo antiĂŠtico que atĂŠ o Papa Bento XVI exortou as estruturas de SaĂşde a evitarem que ÂŤa saĂşde deixe de ser um bem universal, que se deve assegurar e defender, para passar a ser uma mera mercadoria, sujeita Ă s leis do mercado e reservado apenas a algunsÂť. Uma “respostaâ€? inequĂ­voca do Papa aos defensores do parecer 64 do CNECV‌ Sim, porque hĂĄ alguns que sabem que nunca lhes tocarĂĄ o racionamento! Racionar em SaĂşde ĂŠ um inaceitĂĄvel absurdo enquanto nĂŁo se corrigirem as disfuncionalidades do prĂłprio SNS, poupando atravĂŠs da melhoria

› Â? Um exemplo chocante que nos ĂŠ dado por uma recente auditoria do Tribunal de contas dia respeito Ă s aquisiçþes para o SNS. Cito: â€œâ€Ś por exemplo, o medicamento docetaxel 80 mg que, em 2011, constava no CatĂĄlogo de Aprovisionamento PĂşblico da SaĂşde pelo montante de â‚Ź 400,00/ unidade, mas foi adquirido pelo Centro Hospitalar Barreiro Montijo por â‚Ź 41,72/unidade (89,57% de poupança) e pelo Hospital Garcia de Orta por â‚Ź 55,00/unidade (86,25% de poupança), a outros fornecedores que nĂŁo se encontravam no referido CatĂĄlogo.â€? Esta disparidade de preços de aquisição traduz perdas anuais para o Estado de centenas de milhĂľes de euros e a mais completa ausĂŞncia de circulação horizontal e vertical de informação dos preços de aquisição de medicamentos, dispositivos mĂŠdicos e consumĂ­veis para o SNS. JĂĄ chamĂĄmos a atenção do MinistĂŠrio e apresentĂĄmos soluçþes para esta situação, que urge resolver de imediato – ~€ ~ { hesitaçþes, que aceitar prejudicar alguns doentes pelo racionamento em SaĂşde, nas circunstâncias actuais do paĂ­s, ĂŠ pactuar com este indigno estado de coisas, tĂŁo bem descrito por Pedro Santos Guerreiro, estado de coisas esse que levou Portugal Ă bancarrota e ainda nĂŁo foi ~ † ~  Â? NĂŁo contem com a Ordem dos MĂŠdicos para estas cedĂŞncias colaboracionistas com o desper Âœ { › ~ instituĂ­dos. Racionar poderĂĄ ser mais fĂĄcil do que racionalizar, mas ĂŠ seguramente menos justo e menos ĂŠtico.


Faz sentido, nesta fase da anĂĄlise,

~ Â? ~ Âą{ { prĂŠmio Nobel da Economia, no seu prefĂĄcio ao livro “A Grande Transformaçãoâ€?, de Karl Polanyi. “Hoje, a tese segundo a qual os mercados, entregues a si prĂłprios, engendram resultados ÂŒ { ‡ ‘ ÂŒ equitativos, nĂŁo tem qualquer credibilidade intelectual sĂŠria.â€? E, mais Ă frente: “Polany via o mercado como parte de uma economia mais vasta, e essa economia mais vasta como parte de uma ainda mais vasta sociedade. Via a economia de { ‘ € prĂłpria, mas como um meio em † ~ y€ ~ Â?— TrĂŞs perĂ­odos mais Ă frente, ~ Âą † Š † ÂŒ ~  ~ † esquecem os muitos indivĂ­duos que sĂŁo precipitados na pobreza, ou os muitos postos de trabalho destruĂ­dos por comparação com os criados, ou o aumento dos nĂ­veis de violĂŞncia, ou a extensĂŁo do sentimento de insegurança ou de redução Ă impotĂŞncia. Polanyi falava de valores mais profundos.â€? É em defesa destes valores mais profundos que a Ordem dos MĂŠdicos rejeitou firme e fundamentadamente as mais controversas afirmaçþes do parecer 64 do CNECV e da sua defesa do racionamento em SaĂşde, branqueando todos os erros cometidos e todos os desperdĂ­cios mantidos a montante e a jusante. A OM tem sobre os valores da Sociedade as mesmas preocupaçþes de Miguel Torga, “Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciĂŞncia? Peçam-me tudo,

menos que tape os olhos.â€? Porque nĂŁo aceitamos fechar os olhos e porque “nada temos a temer senĂŁo o medoâ€?, como € ˆ # † ~{ e porque a racionalização, o combate ao desperdĂ­cio, à › } € ‹‘ exigĂŞncia de uma boa governação sĂŁo as respostas inteligentes aos que tentam impor o racionamento em SaĂşde, sem corrigir primeiramente todos os erros do “sistemaâ€?, a Ordem dos MĂŠdicos continuarĂĄ, vertebradamente, a pugnar pelo direito dos Doentes ao Estado da Arte MĂŠdica e a defender a independĂŞncia da Medicina e dos mĂŠdicos portugueses de qualquer tutela polĂ­ticoadministrativa. A nossa Ética, aquela que respeitamos, ĂŠ a que estĂĄ plasmada no CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicosÂť, concluiu JosĂŠ Manuel Silva. VWUX >U Y ZW> R> RR> W >

a sustentabilidade do SNS O segundo interveniente no debate foi Serpa Oliva, mĂŠdico e deputado Ă AR pelo CDS-PP, o qual, apĂłs fazer uma anĂĄlise linguĂ­stica dos dois conceitos ÂĄ † ÂŒ § Â’ mou que da leitura do parecer 64 do CNECV tinha concordado com o conteĂşdo no que se refere Ă fase clĂ­nica e Ă fase clĂ­nicoadministrativa, referindo que nesse parecer, a tĂ­tulo de exemplo, o objectivo da fase clĂ­nica ĂŠ ÂŤavaliar a adequação e valor clĂ­nico dos fĂĄrmacos existentes para determinada patologiaÂť, os intervenientes nessa fase sĂŁo ÂŤmĂŠdicos, investigadores das ciĂŞncias da vida e da saĂşde da ĂĄrea e comissĂľes de farmĂĄcia e terapĂŞuticas em redeÂť, € Ă…~

os envolvidos tĂŞm que fazer a ~ † ‹‘ w ~ de interesses de forma clara e com acesso pĂşblicoÂť, etc., tudo indicaçþes com as quais o orador concorda. ÂŤNesta fase clĂ­nica do parecer do CNECV nĂŁo encontro rigorosamente nada a que me oponhaÂť. JĂĄ na fase clĂ­nicoadministrativa realçou, entre outros aspectos, que tem que se y ÂŒ € † ‹‘ { ÂŤo que ĂŠ perfeitamente correctoÂť, e ÂŤgarantir o processo justo na avaliação de novos fĂĄrmacosÂť e € ‘ ~ † ~ Ă dispensa do medicamento em ambiente hospitalar tem sempre a ressalva de alteraçþes ao estado da arte. Em face desta { † € que, enquanto mĂŠdico, nada do parecer 64 o leva a considerar que o mesmo deva ser suspenso,

~ ~ ~ € foi dado a esse parecer como uma ÂŤincrĂ­vel distorção jornalĂ­sticaÂť, como se podia ler num dos slides que apresentou. Centrando em seguida a sua intervenção na questĂŁo da sustentabilidade do Jan/Fev | 2013 | 39


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SNS, referiu que ÂŤPortugal ĂŠ um dos primeiros paĂ­ses do mundo que mais gasta em saĂşdeÂť, nĂŁo per capita mas em relação ao PIB, e que considera essencial que se determine ÂŤonde estĂŁo os desperdĂ­ciosÂť. Situando esta questĂŁo, Serpa Oliva defendeu a necessidade de diminuir a fraude em saĂşde, ÂŤque pode atingir os 100 milhĂľes de eurosÂť, frisando que este ĂŠ um problema € y ~ † ˜ ĂĄrea (ÂŤmĂŠdicos, farmacĂŞuticos, enfermeiros, delegados de propaganda mĂŠdica, etc.Âť). Elogiando o empenho do Ministro da SaĂşde em mexer com ÂŤos poderes instaladosÂť, resistindo Ă s pressĂľes que se sabe que existem, e que o prĂłprio orador jĂĄ sentiu enquanto deputado, referiu em seguida as medidas em execução pelo MinistĂŠrio, entre as quais: reorganização da rede hospitalar com gestĂŁo mais ~ € Â?€ e responsabilização das equipas, garantia da cobertura pelos cuidados primĂĄrios, aumento da oferta com a racionalização de recursos, instituição de uma rede nacional de cuidados paliativos, revisĂŁo da polĂ­tica de taxas moderadoras por forma a garantir que sĂł se isenta quem realmente necessita dessa isenção, programa de redução de custos hospitalares, promoção da transparĂŞncia na saĂşde, fomento de uma cultura de melhoria da qualidade e da segurança, etc. ÂŤOutra poupança que estĂĄ a ser preconizada pelo MinistĂŠrio da SaĂşde ĂŠ a ligação em rede: quando estivermos ligados em rede, pĂşblico e privado, vamos poupar milhĂľes porque a TAC ou as anĂĄlises feitas hĂĄ oito dias nĂŁo vĂŁo ser repetidasÂť. ÂŤ2012 foi o ano do maior orçamento de sempre para a saĂşdeÂť, valor no 40 | Jan/Fev | 2013

qual se incluiu o pagamento de dĂ­vidas em atraso a fornecedores. ÂŤA sustentabilidade do SNS vem directamente do bolso dos contribuintes (‌) portanto todos nĂłs quando discutimos estes temas temos que perceber que hĂĄ um esforço muito grande da parte dos contribuintes portuguesesÂť, relembrou. Uma das referĂŞncias feitas por Serpa Oliva foi relativamente Ă necessidade de entregar aos utentes uma nota informativa com os valores dos cuidados de saĂşde prestados no SNS porque ÂŤninguĂŠm sabe quanto custa uma cirurgia num hospitalÂť e salientou que ÂŤuma simples consulta num hospital central custa ao Estado 110 eurosÂť. ÂŤEstaremos a racionar ou a racionalizar? Penso que estamos a racionalizar. É possĂ­vel, essencial e mesmo fundamental para nĂłs que se assegure a sustentabilidade do SNSÂť, concluiu. Mais Ă frente, no debate Serpa Oliva explicaria nĂŁo estar mandatado quanto a que posição deveria tomar sobre este assunto e que, ainda que representando o CDS-PP, nĂŁo sabe que opiniĂŁo o seu partido tem quanto ao parecer do CNECV. Decidiu tomar a sua posição sobre a matĂŠria de forma descomprometida: ÂŤestudei este assunto aprofundadamente e entendo que, quando o Prof. Rui Nunes vem propor que a AR proceda Ă nomeação de uma comissĂŁo plural e independente € ‡ w ‰ y ~ quadrantes da sociedade e que inclua necessariamente repre ~ ~ † ˜ { associaçþes, etc. teremos com certeza uma comissĂŁo com 30 pessoas e como eu acho que uma comissĂŁo com mais de 3 pessoas nĂŁo vale a pena reunir porque nĂŁo chega a conclusĂŁo nenhuma,

acho que isto ĂŠ demagogia puraÂť. Ă… ‘ € ~ espantosa do mundo, amo-a apaixonadamente. Lidamos com o que hĂĄ de mais sagrado: a saĂşde. Nunca podemos usar de demagogia quando estamos a falar de saĂşdeÂť, referiu nas alocuçþes finais pedindo aos colegas que nĂŁo assustem as pessoas efectuando, ‰ { ‹˜ televisĂľes de que irĂŁo faltar medicamentos. O PIB ĂŠ baixo. (‌) DevĂ­amos gerar mais riqueza para podermos gastar mais em saĂşde Seguiu-se a intervenção de Nuno Fernandes Thomaz, vogal do Conselho de Administração e da ComissĂŁo Executiva da CGD, que falou sobre o relatĂłrio do FMI, tornado pĂşblico no dia deste debate, e em algumas das sugestĂľes para corte dos 4 mil milhĂľes de euros: subida de taxas moderadoras, redução do pagamento de horas extraordinĂĄrias, redução do pacote de cuidados assegurado pelo Estado, fusĂŁo de todos os subsistemas no SNS, etc. ÂŤMas importa mesmo decidir que modelo de sociedade estamos dispostos a


pagar, porque vamos ter mesmo que o fazerÂť, defendeu. Na sua intervenção, Nuno Fernandes Thomaz apresentou aquilo que € Ă… € para o sector da saĂşdeÂť as quais referimos neste resumo da sua intervenção: ÂŤcomo gestor tendo a gostar de qualquer reforma orientada para resultados; gosto sempre de mais transparĂŞncia ~ ½ ~ Â? €  Â€ ~ o preço de um acto mĂŠdico; mesmo sendo um leigo, tenho a certeza que a qualidade implica menores custos; as despesas de saĂşde sĂŁo de facto altas face ao PIB mas isso ĂŠ porque o PIB ĂŠ baixo; temos que crescer em termos econĂłmicos; este ĂŠ o mal de todos os males: se voltarmos a crescer economicamente as despesas face ao PIB deixarĂŁo de ser elevadas; mas, para voltar ao caminho do crescimento, nĂŁo podemos querer tudo: temos que baixar os impostos, mas nĂŁo podemos reduzir impostos sem cortar na despesaÂť, advertiu. Referiu igualmente ser um defensor dos incentivos e lamentou que esse sistema nĂŁo tivesse sido aplicado a toda a base no sector da saĂşde. Embora ŀ † em termos de costumes e um liberal em termos econĂłmicosÂť, o sector da saĂşde ĂŠ, como confessou, aquele que lhe levanta mais dĂşvidas e defendeu ser necessĂĄrio evitar o racionamento e combater o desperdĂ­cio (fase que € † € € necessidade de racionamento), advogando que nĂŁo ĂŠ desejĂĄvel uma ÂŤliberalização excessiva do sector da saĂşdeÂť, algo que seria trĂĄgico e altamente perigoso em seu entender pois pode levar Ă fragmentação do sistema. A Ăşltima ideia que quis expressar

foi o seu orgulho no Serviço Nacional de SaĂşde portuguĂŞs, depois de ter vivido em dois paĂ­ses estrangeiros nos quais teve contacto com o sistema de saĂşde: ÂŤtenho o maior orgulho no nosso SNS. É dos melhores. SĂł espero que depois do corte que tem que haver, que a qualidade possa ser mantida ou pelo menos nĂŁo muito prejudicada. (‌) Tem sempre que haver equilĂ­brio entre valor e prioridades e princĂ­pios de equidadeÂť. ÂŤAcredito que uma boa qualidade em medicina representa menos custos. DevĂ­amos gerar mais riqueza para podermos gastar mais em saĂşde. (‌) O mal do paĂ­s ĂŠ nĂŁo crescer. Era a isso que devĂ­amos tentar responderÂť, concluiu. Num ambiente de escassez de recursos tĂŞm que se fazer escolhas ĂŠticas Rui Nunes, director do Serviço de BioĂŠtica e Ética da FMUP, começou por referir que o modelo social europeu ĂŠ uma grande conquista civilizacional, modelo no qual acredita e que tem defendido. Demonstrou a sua perplexidade por a Europa estar a negar os seus valores no preciso momento em que os Ă? { Ă… ~› ~Âœ e cultural da actualidadeÂť, estĂŁo a abrir o seu sistema para esses valores e exemplificou ainda

com a China que anunciou que em 2020 vai ter uma cobertura universal de saĂşde para mais de mil milhĂľes de pessoas. ÂŤO sistema de saĂşde portuguĂŞs e concretamente o nosso modelo social e o nosso estado social nĂŁo tĂŞm que ser refundados nos seus valores, tĂŞm que ser reinventados no modo como sĂŁo geridos os vĂĄrios subsectores de modo a garantir a sustentabilidade e a viabilidade futura destes valoresÂť. Este orador referiu que a riqueza econĂłmica ĂŠ, e deve ser, para os Estados, instrumental para proporcionar riqueza em ¢ { ~Âœ { € ~€ { ~ Â? ÂŤTemos um bom sistema de saĂşde; nĂŁo ĂŠ perfeito e podemos fazer mais, mas nĂŁo vamos destruir o que conquistĂĄmos e construĂ­mos durante largas dĂŠcadasÂť. ÂŤSe ĂŠ verdade que a provisĂŁo de bens sociais ĂŠ indexada Ă economia tambĂŠm ĂŠ verdade que haverĂĄ sempre mais procura do que aquilo que se pode darÂť, quer devido ao consumismo exagerado, quer ao surgimento de novas tecnologias, etc., tudo factores que levam a que a procura de cuidados de saĂşde seja superior Ă oferta, conforme foi explicado. A solução encontrada por paĂ­ses como CanadĂĄ, AustrĂĄlia e Nova Zelândia, por exemplo, foi escolher prioridades, sendo a

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primeira delas racionalizar, ou ‡ Å ~ › { ~ Ê combatendo o desperdício. O

 ~ } › { € Rui Nunes, mais importante atĂŠ do que o combate Ă fraude para a garantia da sustentabilidade do SNS. Defendeu que na questĂŁo entre a proposta de racionamento administrativo e a defesa de prioridades ĂŠticas no sistema de saĂşde deverĂĄ ser resolvida atravĂŠs de ÂŤum debate nacional onde estejam representadas todas as forças vivas da sociedadeÂť, { ~ { ~ Â? A priorização ĂŠtica na saĂşde nĂŁo ĂŠ impeditiva de qualidade e o debate alargado trarĂĄ legitimidade Ă polĂ­tica a impor, com o maior consenso social possĂ­vel, defendeu. Relativamente ao parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica explicou que o mesmo nĂŁo ĂŠ de oposição ao parecer do CNECV mas antes de oposição a uma polĂ­tica pĂşblica que se quer implementar e que apelidou de ilegĂ­tima – por nĂŁo ter tido por base um amplo debate ­ € € € ÂŤregressĂŁo civilizacionalÂť. AlĂŠm disso o modelo de racionamento administrativo defendido pelo CNECV, em que se propĂľe o debate do racionamento com base na idade, ĂŠ inconstitucional por violar os artigos 13 e 64 da Constituição da RepĂşblica Portuguesa, explicou. ÂŤUm dos pilares da nossa sociedade ĂŠ o princĂ­pio da nĂŁo descriminação com base em caracterĂ­sticas arbitrĂĄriasÂť. E se fosse esse o caminho, qual seria a idade e quem teria legitimidade para a definir, questionou Rui Nunes. Em conclusĂŁo defendeu que a avaliação de novos medicamentos ou dispositivos mĂŠdicos venha a ser feita por uma agĂŞncia independente, semelhante ao 42 | Jan/Fev | 2013

NICE britânico, de forma a evitar disparidades. O orador referiu ainda que existem neste momento Ă… ‡€ ~ ‹ Æ paĂ­s pois existem diferentes hospitais a aplicar diferentes critĂŠrios e polĂ­ticas quanto, por exemplo, aos medicamentos a disponibilizar a doentes com uma mesma patologia e defendeu assim que a alternativa ĂŠ fazer um debate pĂşblico, com a devida transparĂŞncia. Quanto } ‹‘ ~  { relembrou que mesmo o relatĂłrio do FMI defende a aplicação do princĂ­pio de ‘primeiro tratarse o mais grave e depois o restante’. Reconhecendo que ÂŤnum ambiente de escassez de recursos tem que se fazer escolhas mas ĂŠticasÂť, terminou € ~ † ‹‘ peremptoriamente que ÂŤĂŠ a sociedade portuguesa que vai ter que fazer esta escolhaÂť. ‘Priorização’ ĂŠ a tradução em linguagem soft dos economistas da saĂşde para ‘racionamento’ Miguel Oliveira da Silva começou por salientar que o parecer 64 do CNECV foi aprovado por unanimidade dos conselheiros, sublinhando tratar-se de pessoas de sensibilidades ĂŠticas e polĂ­ticas muito diferentes. Enquadrando historicamente o termo racionamento considerou que se tentou suscitar medo na população atravĂŠs da distorção da informação. Citando uma das conclusĂľes do parecer 64 do CNECV, o presidente desse Conselho referiu: ÂŤem qualquer caso – quer dizer sempre - o CNECV tem como essencial que tudo – ‘tudo’ ĂŠ sempre o que se passa nĂŁo pode de modo algum – sempre - pĂ´r em

€ ~ ‹ e a aliança relação terapĂŞutica

~ ~ saĂşde, isto diz-se em respeito a todo o parecer. Quaisquer dĂşvidas, ambiguidades que o parecer suscitar por a linguagem nĂŁo ser perfeita, por nĂŁo termos feito uma nota de rodapĂŠ a explicar que racionamento nĂŁo era um termo coloquial mas a sua acepção tĂŠcnica, resumemse aqui: em qualquer caso, sempre, tudo estĂĄ ao serviço da ‹‘ ‹ { ‹ terapĂŞutica entre os doentes e os ¢ € aliança desta natureza nĂŁo hĂĄ exclusĂŁo de velhos.Âť Este orador explicou Ă assistĂŞncia que o CNECV nĂŁo faz, nem fez, um frete ao governo e que ÂŤnĂŁo propĂľe o racionamento administrativoÂť, mas antes ÂŤpromove a liberdade de saĂşde dizerem nĂŁo: eu nĂŁo concordo com esta guideline a liberdade de dizer nĂŁo estĂĄ clarissimamente escrita no parecer, € € { ~ Æ{ sublinhou. ÂŤA transparĂŞncia ĂŠ defendida no nosso parecer atravĂŠs de ‹‘ ¢ w ~ de interesses de todos: mĂŠdicos, enfermeiros, farmacĂŞuticos, jornalistas, associaçþes de doentesÂť. Salientou que nos comentĂĄrios ao parecer nunca se falou ~ € ~‘ w ~ interesses. ÂŤQue extensĂŁo deve ter essa declaração?Âť, questionou, defendendo o aprofundamento do conceito. ÂŤDeve ser pĂşblico? É importante que as pessoas saibam se recebemos dinheiro da indĂşstria para fazer conferĂŞncias ou ensaios clĂ­nicos? Claro que sim! Mas nĂŁo apenas eu, todos os que estĂŁo aqui nesta sala devem poder aceder a essa informação!Âť Mais Ă frente no debate, Miguel Oliveira da Silva referiria o facto de nĂŁo encontrar as declaraçþes


w ~ ~ relativas Ă s NOCs no site da DGS e que considerava que uma ampla (pĂşblica) divulgação das mesmas ĂŠ essencial, realçando que a sua estĂĄ divulgada e de forma pĂşblica e acessĂ­vel. Considerando ter havido manipulação do conteĂşdo do parecer, Miguel Oliveira da Silva explicou: ÂŤO que disse o parecer do CNECV sobre o factor etĂĄrio? O racionamento implĂ­cito – e todo o parecer ĂŠ obviamente construĂ­do para condenar o racionamento implĂ­cito e defender o racionamento explĂ­cito – pode ser discriminatĂłrio, e ĂŠ quase sempre, se se basear em factos como a idade – coisa que ninguĂŠm quer -, classe social ou gĂŠnero, perpetuando a exclusĂŁo de grupos marginalizados – com certeza que ninguĂŠm quer perpetuar essa exclusĂŁo – assim deve haver um debate e incluir um escrutĂ­nio ĂŠtico sobre a avaliação de racionar por idade, obviamente para a recusar. É o que quer dizer o ‘assim’. Se eu cito as duas Ăşltimas linhas e omito as cinco de cima‌ acusam o CNECV de querer matar os velhosÂť. É evidente que ninguĂŠm quer fazer nenhuma descriminação por idadeÂť, sublinhou este orador jĂĄ na fase de debate. ÂŤClaro que hĂĄ racionamento ĂŠtico. Com certeza que ĂŠ uma †  na bioĂŠtica e na economia da saĂşdeÂť, explicou Miguel Oliveira da Silva fazendo em seguida diversas citaçþes (de Correia de Campos, do parecer do CNEDMOM, do Conselho de BioĂŠtica AlemĂŁo) que exempli ~ ~ ‹‘ termo ‘racionamento’, da qual

referimos apenas uma a título de exemplo: racionamento Ê esforço de distribuição de forma equitativa de recursos limitados. Todo o racionamento inclui racionalização. Não são conceitos opostos (João Lobo Antunes numa sessão clínica do HSM/ FMUL no dia 20 de Dezembro de 2012). Para Miguel Oliveira da Silva, a sua opinião de que racionamento e racionalização são conceitos complementares e não opostos estå fundamentada em diversos autores. Não Ê racionamento ou racionalização

mas sim racionamento com racionalizaçãoÂť, acrescentou. ÂŤO vocĂĄbulo sĂł ĂŠ perigoso porque na acepção comum invoca tristes memĂłrias da segunda guerra mundial; o CNECV devia ter feito uma extensa nota de rodapĂŠ ou um glossĂĄrio a dizer ‘vamos usar o termo em sentido tĂŠcnico’, assumiu. ÂŤPortanto quando agora se vem falar em planeamento em saĂşde, mas nĂŁo racionamento, priorização, mas nĂŁo racionamento: deixemo-nos de eufemismos, isto ĂŠ tudo a mesma coisaÂť, defendeu Miguel Oliveira da

Silva. O orador explicou como ĂŠ pernicioso permitir que se mantenha o racionamento implĂ­cito: ÂŤo racionamento implĂ­cito varia de local para local, ĂŠ aleatĂłrio e inibe o prescritor. Isso nĂŁo queremos. O que eu defendo ĂŠ que esse racionamento deverĂĄ ser tanto quanto possĂ­vel explĂ­cito, com revisĂŁo periĂłdica – discutido por todos – com uma declaração pĂşblica extensa acessĂ­vel num site, com as comissĂľes de farmĂĄcia em rede para que nĂŁo suceda recusarse um medicamento na Alfredo da Costa e comprĂĄ-lo em Santa Maria, para doentes com a mesma situação, excepção fundamentada do prescritor sempre. O mĂŠdico nĂŁo ĂŠ nunca um executor do Estado. NĂŁo hĂĄ racionamentos administrativos, nem coisas do gĂŠnero. Isto mantĂŠm a

‹ ~ ÆÂ? Defendeu, portanto, que o que o CNECV pretende ĂŠ ÂŤacabar com o racionamento silenciosoÂť e que ’priorização’ ĂŠ a tradução em linguagem soft dos economistas da saĂşde para ‘racionamento’. Para terminar, o orador repetiu que qualquer dĂşvida suscitada pelo parecer 64 do CNECV, se resolve, resumindo, na conclusĂŁo nÂş 12 do parecer: ÂŤEm qualquer caso, o CNECV tem como essencial que tudo o que se faça nĂŁo pode de modo algum pĂ´r € ‹‘ ‹ e de aliança terapĂŞutica entre ~ saĂşde. Foi para que isso nunca aconteça que se elaborou este parecerÂť, concluiu. A resposta ĂŠ fĂĄcil‌ Mas as implicaçþes da resposta nĂŁo se Jan/Fev | 2013 | 43


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estĂŁo a querer aceitar Seguiu-se um profĂ­cuo debate do qual damos conta transcrevendo resumos de diversas posiçþes. Esta fase iniciou-se com a opiniĂŁo do economista [>X [ \ ] R a pedido da moderadora, Marina Caldas. Para o economista, o termo ‘racionamento’ nĂŁo o incomoda e explicou porquĂŞ: ÂŤo racionamento ĂŠ um conceito que em economia sempre esteve presente. Sempre foi preciso fazer escolhas porque nĂŁo hĂĄ recursos que cheguem para tudo e qualquer escolha implica um racionamento: implica abdicar de algo para fazer outra coisa, portanto esta ĂŠ uma discussĂŁo que me parece um pouco estĂŠril. A questĂŁo ĂŠ com que regras se fazem essas escolhas. Racionamento

Se respondermos que sim a esta questĂŁo estaremos entĂŁo tambĂŠm a fazer um juĂ­zo sobre se devemos pĂ´r Ă frente alguĂŠm que jĂĄ satisfez um tempo de vida longo, face a alguĂŠm que ainda nĂŁo teve esse tempo de vidaÂť. Este ĂŠ o tipo de debate ĂŠtico a € – – & " ~ † de assistir ÂŤporque a pergunta em si mesma leva a uma resposta fĂĄcil‌ Mas as implicaçþes da resposta sĂŁo aquelas que nĂŁo se estĂŁo a querer aceitarÂť, afirmou peremptĂłrio. O economista realçou ainda que ÂŤquando se fala em estabelecer prioridades, nĂŁo acho € € ‘ ~ ~ Â? € ~ ~ € e sĂł depois passo aos seguintes. – ~ ~ menores recursos. Mas passar

pode ter muitas conotaçþes por isso pode ser melhor falar em escolhas inteligentes ou racionalização se preferiremÂť. ÂŤArranjem outro nome qualquer, chamem-lhe arco-Ă­ris, tanto fazÂť, gracejou, explicando que ÂŤo facto ĂŠ que temos que fazer Â? ~ ~ os mecanismos pelos quais as vamos fazerÂť, mecanismos esses que tĂŞm que ser muito claros, conforme frisou. O essencial ‹‘ € se quer seguir: ÂŤDevemos como sociedade considerar que toda a gente tem direito a um tempo de vida em boas condiçþes?

de estabelecer prioridades para ‘matar pessoas idosas’ pareceme um passo muito grande e muitas das decisĂľes que sĂŁo tomadas neste campo sĂŁo na margem. NĂŁo fazer algo porque nĂŁo vale a pena ĂŠ diferente de simplesmente nĂŁo fazer nada ou de gastar mesmo que jĂĄ nĂŁo valha a penaÂť, concluiu. O radiologista Cansado Carvalho realçou o grande impacto econĂłmico da ÂŤmodulação da qualidadeÂť, considerando que esse ĂŠ um aspecto ÂŤque nĂŁo ĂŠ devidamente sublinhadoÂť. ÂŤSe nĂłs conseguirmos aumentar a qualidade e se reduzirmos

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critÊrios de segurança, poderemos ter resultados e uma capacidade de resposta muito superiores, referiu explicitando a sua posição com o exemplo de um cenårio de guerra em que se se exigir todas as condiçþes de segurança para o transporte dos doentes então não se vão obter bons resultados. A medicina durante vinte sÊculos teve como objectivo principal aumentar a longevidade. As mudanças de perspectiva têm que ser feitas com lentidão para não criarem pânico mas toda a gente vai morrer um dia; o sofrimento da morte, quer do próprio quer dos seus familiares, depende da conjugação das expectativas com a realidade: por exemplo, ninguÊm tem a esperança de fazer um transplante hepåtico como fez o Steve Jobs porque não estå na nossa gama de expectativas. Temos que repensar qual o nosso objectivo: a måxima longevidade ou a måxima qualidade total de vida, o que Ê um

~ yÂœ que inevitavelmente vai ter que ser abordadoÂť, concluiu. Manuel Castelo Branco, jurista de Coimbra interessado em temas de bioĂŠtica, explicou que pretendia sair deste debate mais tranquilo: ÂŤVim para o debate ~ € ÂŒ € € Senhor BastonĂĄrioÂť, referiu, aproveitando para elogiar a defesa que o presidente da OM faz da medicina, do Estado Social, do SNS e desta matĂŠria civilizacional. ÂŤFiquei igualmente tranquilizado ao ouvir o Dr. Rui Nunes. Mas ouvir o Dr. Miguel Oliveira da Silva nĂŁo me deixa nada tranquilo... O que estĂĄ em causa ĂŠ saber se a dignidade da pessoa humana ĂŠ um valor absoluto ou relativo. A questĂŁo


de fundo do racionamento ĂŠ saber se uma vida humana idosa ou com uma patologia particular ­ € › { € €~ { SIDA, etc. – ĂŠ ou nĂŁo um valor absolutoÂť. Manuel Castelo Branco defendeu que ÂŤeste nĂŁo ĂŠ um problema de saĂşde ou da economia ou gestĂŁo de saĂşde: ĂŠ um problema da concepção “ Â?€ { € problema de introdução do relativismo moralÂť, algo que

€ ~ † Â? ÂŤOnde a barreira do humano cede, abrimos a porta a tudoÂť, concluiu. ~ €~€  ~ incluiu, naturalmente, resposta e comentĂĄrios intercalados por parte dos oradores convidados. Citando uma das encĂ­clicas o papa Karol Wojtyla, Miguel Oliveira da Silva € € ÂŤa vida humana nĂŁo ĂŠ um valor absolutoÂť. *W ^WU>R, por seu lado, defendeu que o CNECV propĂľe ÂŤuma mudança de { ~ Æ para um ÂŤparadigma utilitaristaÂť € € € ‹‘ sempre oposta Ă do economista Allan Williams, pois nĂŁo aceita que existam ÂŤvidas que nĂŁo valem a pena ser vividasÂť. É esta sociedade que nĂłs queremos?Âť, questionou. ÂŤO problema ĂŠ que priorizar implica um pacote base. O mĂ­nimo decente de cuidados de saĂşde que podem ser prestados Ă s pessoasÂť. JĂĄ para Serpa Oliva muitas das questĂľes levantadas a propĂłsito do parecer do CNECV demonstram que ÂŤas pessoas nĂŁo conhecem o parecer ou nĂŁo leram as conclusĂľesÂť o que acaba por, em seu entender, originar ÂŤmuita demagogia no debate deste assuntoÂť pois considera que ninguĂŠm ÂŤpĂľe causa o valor da vida das pessoas idosasÂť e que o prĂłprio parecer do CNECV

ÂŤnunca o pĂ´s em causaÂť e relembrou que o mesmo foi pedido ÂŤpara analisar a possibilidade de racionar a aplicação de medicação em trĂŞs ~ Âœ Æ{ nada mais. JosĂŠ Manuel Silva interveio nesta fase para explicar que a Ăşnica razĂŁo pela qual nunca se falou da € ~‘ w ~ de interesses ĂŠ por ser Ă… Âœ Æ Ă… ~ { por exemplo, no âmbito do protocolo que a OM tem com a DGS para a elaboração de normas de orientação clĂ­nicaÂť, ainda que possa ser melhorada. Referindose a rankings explicou que nem sempre as estatĂ­sticas referidas estĂŁo certas pois ÂŤos Ăşltimos dados publicados pela OCDE, actualizados em Outubro de 2012 mas que sĂŁo referentes a 2010, dizem que Portugal estĂĄ em 7Âş lugar nos gastos com saĂşde em termos de percentagem de PIB. Mas se atentarmos Ă percentagem da despesa pĂşblica com saĂşde nos paĂ­ses da OCDE, o nosso paĂ­s estĂĄ em 25Âş; o gasto pĂşblico em Portugal corresponde apenas a 65,8% enquanto que, por exemplo, na Holanda, que estĂĄ em segundo quanto a percentagem do PIB, a despesa pĂşblica com saĂşde ĂŠ de 85,7%, na Alemanha 76,8%, em França 77%. Se olharmos Ă despesa per capita estamos em 23Âş, com uma mĂŠdia de 2728 dĂłlares/ano contra uma mĂŠdia per capita na OCDE de 3265 dĂłlares/anoÂť, o que significa que estamos muito abaixo da mĂŠdia da OCDE. ~  Â€ ‹˜ ~

CNECV, JosĂŠ Manuel Silva referiria uma forma de resolver a divergĂŞncia de opiniĂľes. ÂŤQuero saudar a interpretação feita pelo Prof. Miguel Oliveira da Silva relativamente ao parecer 64 do % %•Æ{ €{ € o parecer seja rescrito para que essa interpretação seja plasmada no texto: ÂŤgostava de ver escrita a rejeição da admissibilidade do racionamento por idade. Escreva-se para que nĂŁo haja dĂşvidasÂť, para que o parecer seja

Ă… ~‘ primeiros a apoiar esse parecerÂť, algo que, em sua opiniĂŁo, deveria incluir o glossĂĄrio a explicar em que sentido se usa o termo ‘racionamento’, sublinhou. Miguel Oliveira da Silva considera ser desnecessĂĄrio fazĂŞ-lo, frisando que estĂĄ estatuĂ­do no parecer que o mĂŠdico ĂŠ soberano no que se refere Ă prescrição, nomeadamente no ponto 4 das conclusĂľes: ÂŤem todos os protocolos ou normas de orientação clĂ­nica, o CNECV Jan/Fev | 2013 | 45


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entende dever recordar que, sendo a independência e a responsabilidade na prescrição inseparåveis da boa pråtica clínica, o direito à excepção, devidamente fundamentada, deve estar contemplado (tal como a penalização da excepção não fundamentada). Jå *W ^WU>R entendeu estar-se a iludir a essência indo ao acessório pois um modelo de priorização Êtica na saúde tem que ser concebido a nível macro, tem que ser concebido e estruturado com base nos grandes referenciais do nosso modelo social, portanto são decisþes que competem a todos os parceiros. A questão do

w ~ ~ y ÂŒ ~ a uma escala micro mas nĂŁo nesta perspectiva holĂ­stica de enquanto sociedade sabermos que sistema de saĂşde queremos e se queremos ou nĂŁo o sistema de priorizaçãoÂť. O director do Serviço de BioĂŠtica e Ética considerou que nada do que possa ser dito invalidarĂĄ o que foi escrito: ÂŤassim, pensamos incluir

enorme falta de sensibilidade socialÂť fazer este tipo de anĂĄlises, por estarmos num momento em que ÂŤa população estĂĄ a passar por tantas carĂŞnciasÂť, defendendo que o debate dobre a priorização em saĂşde deveria ser feito num momento em que houvesse estabilidade e crescimento, e em que o sistema de saĂşde estivesse a ter bons resultados. Nas suas conclusĂľes referiria ainda a necessidade de uma reforma profunda e estrutural do sistema de saĂşde ÂŤa qual nĂŁo se antevĂŞÂť. ÂŤMas concordo que podemos ‘andar e mastigar’ ao mesmo tempo. Portanto nĂŁo vejo inconveniente € †  Â€ w ‰‘ profunda, plural e alargada em termos do modelo de priorização ĂŠtica que queremos. Sem uma participação activa da sociedade nĂŁo hĂĄ hipĂłtese de se aplicar um sistema de racionamento ĂŠtico sem que as forças vivas da sociedade

‡€ ~ ~ € modelo queremos.

falaciosa a comparação de gastos em saúde entre países mais pobres e mais ricos. Porque Ê que não se fala nos desperdícios na justiça? De processos que nunca mais acabam e que nem sequer levam à condenação dos culpados, questionou. Luís Campos, mÊdico internista, director do Serviço de Medicina IV do Hospital de S. Francisco Xavier e presidente do Conselho Nacional para a Qualidade na Saúde, interveio no debate defendendo que o que estå em causa foi alguma falta de cuidado no uso de alguns termos no parecer do CNECV, porque as conclusþes são mais ou menos consensuais, afirmou, considerando ainda que terå havido, por parte da OM, demasiada radicalização da discussão. Procurando recentrar o debate, Luís Campos defendeu: o que se devia discutir era o seguinte: os países gastam em saúde em função da riqueza que têm. A Polónia gasta 1000 euros, nós dois mil e

mais um ponto que deverĂĄ ser objeto de escrutĂ­nio ĂŠtico: 6) Analisar cuidadosamente as questĂľes de justiça distributiva referentes Ă s diferentes faixas etĂĄrias, incluindo: (‌) b) a avaliação da permissibilidade de racionamento por idade; (‌)Âť, in parecer 64Âş do CNECV. Considerou tratar-se de ÂŤuma

Quanto vale um ano de sobrevida num doente com cancro? HeloĂ­sa Santos, geneticista mĂŠdica e pediatra, presidente de trĂŞs comissĂľes de bioĂŠtica, entre as quais a comissĂŁo de ĂŠtica do INSA, referiu que a mĂŠdio prazo os custos de tratar mal os doentes serĂŁo mais elevados e apelidou de

a Holanda 3800 euros. Portanto a percentagem do PIB que gastamos ĂŠ realmente superior Ă riqueza que temos, mas na despesa em medicamentos somos o 4Âş paĂ­s da Europa a gastar mais. Gastamos 391 euros, o Reino Unido 290, a Dinamarca 229. Por isso ĂŠ que a Troika considerou esta ĂĄrea da

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despesa com saĂşde como uma em que devĂ­amos fazer um esforço de contenção. Reduzir um terço nessa despesa ĂŠ pĂ´r um tecto. E quando se pĂľe um tecto temos que fazer escolhasÂť. ÂŤQuanto vale um ano de sobrevida num doente com cancro?Âť questionou afirmando ser essa uma das decisĂľes que tĂŞm que ser tomada ÂŤmas previamente ao momento em que o mĂŠdico estĂĄ com o doenteÂť. Ă€ semelhança do radiologista Cansado carvalho, LuĂ­s Campos tambĂŠm considera que ÂŤa falta de qualidade sai muito caraÂť: ÂŤsomos o paĂ­s da Europa com maior taxa ~ Â’ resistentes; eu sei a variabilidade que existe com a mortalidade por AVCÂť, confirmou, dando apenas dois exemplos para concluir que ÂŤa variabilidade da qualidade ĂŠ atentatĂłria da equidade e do acesso aos cuidados; a diminuição dessa variabilidade ĂŠ uma missĂŁo que vai economizar muito dinheiroÂť. AntĂłnio Vilar, mĂŠdico reumatologista e secretĂĄrio-geral da ANDAR, referiu que, quanto aos custos dos medicamentos, ÂŤĂŠ preciso ĂŠ que as entidades oficiais façam o seu trabalho porque nĂŁo ĂŠ possĂ­vel que os medicamentos em Portugal sejam mais caros quando fazem parte de um cabaz onde estĂĄ Espanha, ItĂĄlia e GrĂŠcia ‘ ‘ † ~ € anos, enquanto que os outros paĂ­ses o fazemÂť. Especificamente sobre a utilização de biolĂłgicos, AntĂłnio Vilar referiu que existem normas para a sua prescrição e que hĂĄ de facto desperdĂ­cios quando ÂŤnalguns hospitais essa terapĂŞutica ĂŠ dada como primeira alternativaÂť. Sobre o parecer do CNECV, AntĂłnio Vilar fez uma anĂĄlise crĂ­tica: ÂŤ(‌) O problema ĂŠ que o parecer deixa a porta

completamente aberta para a entrada de um racionamento polĂ­tico. E ĂŠ em relação a isso que estamos contra. (‌) O que ĂŠ certo ĂŠ que neste momento hĂĄ mĂŠdicos a serem chamados pelos conselhos de administração para serem intimados a alterar a sua prescrição‌ Fernando Esteves Franco, ortopedista que assistia em directo do Distrito MĂŠdico do Algarve, tambĂŠm interveio no debate apelidando a discussĂŁo de ÂŤextemporâneaÂť por considerar que existem outras questĂľes prĂŠvias a resolver, nomeadamente ÂŤeliminar desperdĂ­cios do SNSÂť. ÂŤSe eu tiver 20 doentes a necessitar de prĂłteses da anca e tiver 15 prĂłteses estou simplesmente a racionar; Mas se tiver 20 doentes com idades diferentes, e puser nos mais jovens prĂłteses muito mais caras de cerâmica e nos mais velhos prĂłteses cimentadas, estou a racionalizar. Ou seja, nĂŁo podemos analisar as questĂľes de forma cegaÂť, explicou, reafirmando que ÂŤantes de discutir o dinheiro que hĂĄ, devemos pensar na racionalização dos prĂłprios cuidados de saĂşde e pensar numa verdadeira articulação entre nĂ­veis de cuidadosÂť e ÂŤem função dessas alteraçþes, ganhar melhor produtividade com menores custosÂť, concluiu. Miguel Oliveira da Silva explicou Ă assistĂŞncia que o pedido de parecer foi anĂłdino e feito em termos simples: ao abrigo da sustentabilidade do SNS foi pedido ao CNECV que se pronunciasse sobre ÂŤos fundamentos ĂŠticos da contenção de custos – ou da prioridade de custos – na ĂĄrea dos medicamentos biolĂłgicos, oncolĂłgicos e retroviraisÂť. A

propĂłsito do extremar do debate concordou com LuĂ­s de Campos e € € € nĂŁo ter sido colocado no parecer um glossĂĄrio que esclarecesse o âmbito dos termos utilizados. € ‘ ‹ € € apelidou ser o ÂŤruidoso silĂŞncio sobre o parecer do CNEDMOMÂť e voltou a frisar que considera que racionamento e racionalização sĂŁo conceitos complementares, que existe racionamento ĂŠtico e € ‘ prescritor, concluindo reforçando a referĂŞncia Ă s declaraçþes w ~ Ă… ‰~ ~ importante que a OM e os ¢ Â’ volvam uma polĂ­tica extensa e pĂşblica de declaração de

w ~ ~ institucionais. Defendendo que o combate ao racionamento implícito não se faz transformando-o em racionamento explícito, JosÊ Manuel Silva relembrou que a variabilidade excessiva Ê obviamente um sinal de menor qualidade e aumenta a despesa mas que o caminho jå estava a ser percorrido em termos de racionalização dos gastos em saúde, precisamente com as Normas de Orientação Clínica e as respectivas auditorias,

~ ‹‘ mĂŠdicas, a melhoria da gestĂŁo e o combate ao desperdĂ­cio, Ă fraude e Ă corrupção, isso sim ĂŠ racionalização (e nĂŁo racionamento que nĂŁo sĂŁo sinĂłnimos)Âť; Medidas que ÂŤirĂŁo reduzir tendencialmente a variabilidade e melhorar a qualidade, o que levarĂĄ naturalmente a uma redução de custosÂť. É numa ĂŠtica fundamentada no CĂłdigo DeontolĂłgico, e nĂŁo uma ĂŠtica politicamente comprometida, em que se deve basear a nossa prĂĄtica clĂ­nicaÂť. Sendo certo que Jan/Fev | 2013 | 47


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a sustentabilidade do nosso SNS depende da sustentabilidade do paĂ­s e que ĂŠ aĂ­ ÂŤque as energias se devem concentrarÂť, o bastonĂĄrio da OM nĂŁo tem dĂşvidas que a sustentabilidade do SNS ÂŤĂŠ inquestionĂĄvelÂť e que os dados da OCDE atestam esse facto.

O CNECV devia ter sido mais cauteloso na anĂĄlise e mais rigoroso nas conclusĂľes O mĂŠdico JosĂŠ Poças, especialista em Medicina Interna e Doenças Infecciosas, defendeu que o parecer do CNECV deveria ter sido emitido mesmo sem qualquer pedido, sendo que o seu âmbito deveria ter sido muito mais alargado. ÂŤO cerne da questĂŁo ĂŠ qual a pertinĂŞncia de se fazer este parecer sobre trĂŞs patologias? Porque ĂŠ que nĂŁo se fez um parecer sobre a inovação terapĂŞutica?Âť. Uma anĂĄlise mais ampla ÂŤservia quer para a artrite reumatoide quer, por exemplo, para a hepatite CÂť, patologia que Ă… ~ Â? ~ € do pedido do MinistroÂť. JosĂŠ 48 | Jan/Fev | 2013

Poças relembrou que as soluçþes de sustentabilidade ÂŤtambĂŠm tĂŞm que ter em linha conta que a inovação ĂŠ o principal factor do aumento dos gastos com saĂşde, nĂŁo o envelhecimento da populaçãoÂť e que existe ÂŤum desperdĂ­cio inerente Ă actividade humanaÂť: ÂŤnĂŁo podemos miri € Ă? Âœ ÂŒ Ă‘ nĂŁo existeÂť. Jorge EspĂ­rito Santo, especialista em Oncologia MĂŠdica e Medicina Interna, manifestou a sua perplexidade por certas questĂľes estarem na ordem do dia neste preciso momento, quando ÂŤa OM jĂĄ tinha denunciado hĂĄ muito tempo a existĂŞncia de racionamento implĂ­cito, por exemplo, em ÆÂ? Âœ salientou que Portugal tem custos por doente tratado muito baixos, ÂŤcerca de um terço da mĂŠdia da UniĂŁo Europeia e quase 1/5 relativamente aos paĂ­ses que gastam maisÂť. Uma anĂĄlise que leva este especialista a questionar porque razĂŁo essa ĂĄrea foi incluĂ­da no parecer solicitado pelo Ministro visto

que ÂŤclaramente, os oncologistas portugueses jĂĄ fazem as melhores escolhasÂť. Jorge EspĂ­rito Santo terminou a sua intervenção expressando profunda preocupação porque ÂŤo modelo proposto dĂĄ o poder de decisĂŁo { ~ † ~ } Â? { ao poder polĂ­tico do momento e nĂŁo sei como isso se compagina com uma relação terapĂŞutica de

‹ ÆÂ? JoĂŁo Gamelas, mĂŠdico especialista em Ortopedia e Medicina Desportiva, regozijou por ter ~ €  ~ ~Âœ sobre um tema particularmente pertinente: ÂŤo racionamento ĂŠ um tema que estĂĄ presente na nossa prĂĄtica clĂ­nica diariamente e que nos obriga a fazer escolhasÂť. O especialista felicitou os intervenientes por se ter reduzido a radicalização da discussĂŁo e por se estar a ÂŤconstruir sobre as vĂĄrias posiçþesÂť. Quanto aos argumentos de um lado e de €~ { ‘ Â? ~ € que ÂŤnos dias de hoje todos os combates sĂŁo prioritĂĄrios e tĂŞm que ser simultâneos: contra a fraude e contra o desperdĂ­cio, seja na saĂşde, na justiça ou em qualquer outra ĂĄreaÂť. Simplesmente porque ÂŤnĂŁo interessa qual ĂŠ a percentagem do PIB: a questĂŁo ĂŠ que jĂĄ nĂŁo temos margem para acomodar desperdĂ­cios e fraudesÂť, afirmou. Relativamente Ă polĂŠmica provocada pelo parecer do CNECV, JoĂŁo Gamelas tambĂŠm tem uma posição muito firme: ÂŤos pareceres sĂŁo todos importantes para questĂľes em que nĂŁo temos solução e todos devem ser bem recebidosÂť. ÂŤSe temos uma procura excessiva vamos ter que fazer escolhas... Felizmente o debate estĂĄ lançado: ĂŠ importante decidir a quem vamos dar o quĂŞ e quem, como e quanto paga. (‌)


Se numa avĂł de 65 anos ponho uma prĂłtese de 2500 euros e numa avĂł de 85 uma prĂłtese de 100 euros, o que acabei de fazer? Racionei? Racionalizei? É boa prĂĄtica? É implĂ­cito? ExplĂ­cito? HĂĄ critĂŠrios?Âť. Esta Ăşltima questĂŁo ĂŠ de facto a que JoĂŁo Gamelas considera essencial: ÂŤo importante ĂŠ que haja cada vez mais critĂŠrios e que nĂŁo admitamos que de um lado da rua para o outro haja diferenças nas regras que se aplicamÂť. Jaime Teixeira Mendes, cirurgiĂŁo pediatra aposen-tado, explicou considerar que a palavra ‘racionamento’ foi infeliz e explicou com alguns exemplos limite nomeadamente o do doente de Cabo Verde que precisava de um transplante hepĂĄtico que se fazia na BĂŠlgica. ÂŤContactĂĄmos o hospital belga e o valor que foi pedido era tĂŁo elevado que quando o comunicĂĄmos Ă assistente social cabo verdiana a resposta que nos foi dada foi ‘se nĂłs tivĂŠssemos esse dinheiro vacinĂĄvamos as crianças todas; ĂŠ evidente que nĂŁo vamos pagar esse transplante hepĂĄtico’ e concluiu: ÂŤisto ĂŠ racionamentoÂť. Este cirurgiĂŁo defendeu o papel fundamental das ComissĂľes de Ética Hospitalar: ÂŤnĂŁo podem ser nem o mĂŠdico nem os polĂ­ticos a tomar estas decisĂľes: (‌) as ComissĂľes de Ética Hospitalar tĂŞm a obrigação de, com os mĂŠdicos, decidirem sobre estes casosÂť. Arsisete Saraiva, presidente da ANDAR, demonstrou o seu incĂłmodo com o facto de usarem a artrite reumatĂłide como ÂŤbode expiatĂłrio dos gastosÂť e explicou que a associação jĂĄ se ofereceu vĂĄrias vezes para ir Ă s farmĂĄcias hospitalares

fazer o levantamento de quem Ê que estå a fazer tratamentos biológicos, por especialidade, mas tal proposta nunca foi aceite. TambÊm como presidente do comitÊ executivo do Fórum Saúde referiu que apresentaram vårias soluçþes e uma delas Ê a existência de uma central de compras única, com auditorias sem dia nem mês certo, pois quem não deve não teme. Para acentuar a relevância de tratar bem os doentes como forma de poupar dinheiro, Arsisete Saraiva relembrou o caso da

doente do Hospital de Braga que esperou um ano para um y Âœ Â? † que ÂŤhĂĄ seis meses que a doente estĂĄ a fazer essa medicação e jĂĄ entrou em remissĂŁo, o que quer dizer que a doente voltou ao trabalhoÂť. ÂŤDiagnĂłstico precoce e doentes bem tratados: quando mais depressa se diagnostica, mais facilmente se trata e mais recursos se irĂŁo pouparÂť. Fernando Gomes, presidente do Conselho Regional do Centro (CRC) da OM, achou que em alguns momentos do debate se ÂŤfugiu a discutir coisas essenciaisÂť. Relativamente Ă

percentagem do PIB que se gasta com saĂşde, sugeriu Ă assistĂŞncia que procurasse na internet a anĂĄlise de Richard Wilkinson, no que se designam por Ted Talks, e que explica de forma clara como as grandes disparidades de rendimentos, ou seja a desigualdade econĂłmica e social, tem efeitos reais nefastos na saĂşde, tempo de vida e mesmo em valores bĂĄsicos

‹ Â? ~ † uma comparação de sistemas de saĂşde, Wilkinson demonstra ÂŤque essas comparaçþes atravĂŠs do PIB nĂŁo traduzem a realidadeÂť. Fernando Gomes explicou que, nessa anĂĄlise, ÂŤo paĂ­s que aparece com maior desigualdade social ĂŠ os EUA, depois Singapura e em 3Âş lugar PortugalÂť. O presidente do CRC realçou a importância do relatĂłrio do FMI do ponto de vista da anĂĄlise que faz mas nĂŁo teve dĂşvidas em € ‡ ~ de redução de despesas lhe parecem desadequadas e em ĂĄreas que nĂŁo sĂŁo as melhores para fazer cortes. ~  parecer 64, Fernando Gomes saiu do debate devidamente esclarecido: ÂŤnĂŁo tenho dĂşvidas de que o CNECV devia ter sido mais cauteloso na anĂĄlise e mais rigoroso nas conclusĂľesÂť.

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Recusa de medicamentos pode ser crime Segundo a professora catedrĂĄtica de direito penal, Fernanda Palma, em artigo publicado no Correio da ManhĂŁ de dia 20 de Janeiro, a recusa de medicamentos pode consubstanciar um crime e, como tal, originar um procedimento criminal. Paulo Sancho, advogado responsĂĄvel pelo Departamento JurĂ­dico da OM, considera que as queixas crime a, hipoteticamente, apresentar, neste contexto, devem ocorrer apenas numa ÂŤclara situação de perigo para a vidaÂť e, entre outros factores a ter em conta, quando esse perigo resulte da omissĂŁo do tratamento indicado e desde que os decisores tenham conhecimento das consequĂŞncias da sua decisĂŁo na saĂşde ou para a vida do doente. A recusa de medicamentos pode consubstanciar um crime de homicĂ­dio ou ofensas Ă integridade fĂ­sica. É essa a opiniĂŁo de Fernanda Palma, professora catedrĂĄtica de direito penal, secundada pelo Departamento JurĂ­dico da Ordem dos MĂŠdicos. Qualquer um desses crimes pode ser cometido por negligĂŞncia (arts. 137Âş e 148Âş, nÂş 3 do CĂłdigo Penal). Esta situação ĂŠ agravada pela ‘posição de garante’ dos mĂŠdicos, conforme referiu Fernanda Palma: ÂŤHaverĂĄ uma omissĂŁo dos que detĂŞm uma ‘posição de garante’, ou seja, estĂŁo obrigados a zelar pela saĂşde dos doentes, que pode ter como consequĂŞncia a morte ou uma ofensa corporal. A omissĂŁo traduzir-se-ĂĄ na nĂŁo aquisição, 50 | Jan/Fev | 2013

nĂŁo disponibilização ou nĂŁo prescrição de medicamentos e podem estar em causa homicĂ­dios ou crimes contra a integridade fĂ­sicaÂť, explica. A mesma conclusĂŁo se pode retirar da consulta feita ao advogado Paulo Sancho: ÂŤse a nĂŁo aquisição de medicamentos ou a nĂŁo disponibilização dos mesmos, por parte daqueles que estĂŁo obrigados a fornecĂŞ-los, gerar um perigo concreto para a saĂşde ou vida dos doentes pode haver matĂŠria para participação por crime de ofensa Ă integridade fĂ­sica eventualmente agravado pelo resultado morte se esta for uma sua consequĂŞnciaÂť. °Â€ ~ } ‡€ ~ ‹‘ ~ de que os mĂŠdicos estĂŁo a agir no cumprimento das ordens

superiores, nomeadamente da tutela, Fernanda Palma foi igualmente peremptĂłria ao referir que ÂŤa Constituição determina que o dever de obediĂŞncia cessa perante ordens que conduzam Ă prĂĄtica de crimesÂť, ou seja, o cumprimento de uma ordem que leve Ă prĂĄtica de um crime nĂŁo relevarĂĄ para efeitos de desculpabilização ou descriminalização do mĂŠdico que potencialmente cometa o acto de recusa de um determinado medicamento. A professora catedrĂĄtica nĂŁo ~ ¢Â† € Ă… a omissĂŁo for dolosa, ou pelo menos, negligente e originar a morte ou uma ofensa, estarĂŁo preenchidos os elementos de um crimeÂť, crime esse que, na opiniĂŁo


do departamento jurĂ­dico da OM seria, numa primeira anĂĄlise, um crime de ofensa Ă integridade fĂ­sica grave e, no caso de morte, agravado pelo resultado. Divulgamos em seguida o parecer do Departamento JurĂ­dico da OM que responde a vĂĄrias perguntas, nomeadamente, a de saber o que fazer quando as administraçþes Â? ~ € ~ a medicamentos e se ĂŠ possĂ­vel fazer queixa Ă Procuradoria em face dessa situação.

Tiragem: 15 4475

ID: 457395 31

PaĂ­s: Portu gal

20-01-2013

Period.: DiĂĄri a Ă‚mbito: Inform ação Geral

Parecer do Departamento JurĂ­dico da OM ÂŤA possibilidade de apresentar uma participação na Procuradoria-Geral da RepĂşblica imputando um determinado crime a uma administração hospitalar ou, genericamente, aos decisores administrativos, por nĂŁo ser disponibilizado o acesso a medicamentos depende do caso concreto e da prova que possa ser produzida sobre a actuação dos ditos decisores e do resultado na saĂşde ou vida dos doentes. Se a nĂŁo aquisição de medicamentos ou a nĂŁo disponibilização dos mesmos por parte daqueles que estĂŁo obrigados a fornecĂŞ-los gerar um perigo concreto para a saĂşde ou vida dos doentes pode haver matĂŠria para participação por crime de ofensa Ă integridade fĂ­sica eventualmente agravado pelo resultado morte se esta for uma sua consequĂŞncia. – { { € o enquadramento desta factualidade no crime de homicĂ­dio ou no de ofensa Ă integridade fĂ­sica grave, consoante a situação, sendo que nos inclinamos para este Ăşltimo que, no caso de morte, seria agravado pelo resultado. Vejamos o que nos diz o tipo de

crime de ofensa Ă integridade g fĂ­sica grave grave, previsto e punido no artÂş 144Âş do CĂłdigo Penal (CP). Artigo 144.Âş Ofensa Ă integridade fĂ­sica grave Quem ofender o corpo ou a saĂşde de outra pessoa de forma a: a) PrivĂĄ-lo de importante ĂłrgĂŁo ou $

+ permanentemente; b) Tirar-lhe ou afectar-lhe, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais, de procriação ou de fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou a linguagem c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente,

ou anomalia psĂ­quica grave ou incurĂĄvel; ou d) Provocar-lhe perigo para a vida; ĂŠ punido com pena de prisĂŁo de dois a dez anos. Em consonância com as anotaçþes da Prof. Doutora Paula Lobato de Faria ao “ComentĂĄrio Conimbricense do CĂłdigo Penalâ€? – 2ÂŞ Edição, pag. 351, na alĂ­nea d) do artigo supra transcrito: “(‌) contemplam-se situaçþes em que a lesĂŁo da integridade fĂ­sica (que pode nĂŁo ser grave) gera um perigo para a vida da vĂ­tima. Coloca-se a questĂŁo de saber se esta alĂ­nea consagra um crime de perigo concreto ou um Jan/Fev | 2013 | 51

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crime de perigo abstrato, ou seja, se

o preenchimento do tipo que das circunstâncias do caso seja razoåvel deduzir um perigo para a vida da vítima (mesmo que em concreto ele não tenha existido), ou se se torna

%# concreto (‌). O nosso legislador nĂŁo enumerou as vĂĄrias formas de realização pelas quais a ofensa Ă integridade fĂ­sica dolosa se torna “perigosaâ€? para a vida (isto ĂŠ, nĂŁo presumiu a perigosidade de certas condutas, o que aproximaria a incriminação dos crimes de perigo abstrato), mas preferiu acentuar a importância da criação do perigo enquanto resultado, que pode surgir de vĂĄrias formas, e o que parece depor a favor 3 %#

' crime de perigo concreto. (‌) Aceitando tratar-se de um crime de perigo concreto, só se deve considerar que existe um perigo para a vida tipicamente relevante quando os sintomas apresentados pela vítima,

" < casos similares, forem susceptíveis de determinar com elevado grau $ $ morte (supþe-se, em princípio, a perturbação de funçþes orgânicas = ># < possibilidade de um desenlace fatal para se poder falar de perigo para a $

que o perigo efectivo perdure por um curto espaço de tempo. (‌) Por outro lado, e como ĂŠ evidente, nĂŁo se poderĂĄ concretizar o resultado

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morte, jĂĄ que nesse caso estarĂ­amos perante o crime agravado pelo resultado previsto pelo art. 147Âş.â€? Por outro lado e ainda seguindo as anotaçþes do ComentĂĄrio Conimbricense supra referido (pag. 357), diz-se que o dolo † ~€ € ~ preenchimento do tipo subjectivo de ilĂ­cito, exigindo-se no que toca Ă al. d) “o conhecimento das circunstâncias que tornam o comportamento perigoso sob o ponto de vista do bem jurĂ­dico protegido (neste caso, a vida), nĂŁo se tornando necessĂĄria a vontade da lesĂŁo efectiva do mesmo bem jurĂ­dicoâ€?. Qualquer dos tipos de crime mencionados – homicĂ­dio ou ofensas Ă integridade fĂ­sica – podem ser cometidos por negligĂŞncia (arts. 137Âş e 148Âş, nÂş 3 do CP). A participação por cometimento de qualquer destes tipos de crime na situação que nos foi € “ † ~ € – para que tenha probabilidades de ter sucesso - quando se † € Âœ € ‰ ~ uma clara situação de perigo para a vida, directamente criada por restrição de acesso aos medicamentos e consequente omissĂŁo do tratamento indicado e se possa imputar aos decisores administrativos o conhecimento das circunstâncias em que actuam e das consequĂŞncias que a sua decisĂŁo pode originar para a saĂşde ou para a vida de uma pessoa.

Ou seja, para que se possa apresentar uma participação crime devem ser recolhidos os dados concretos relevantes e necessĂĄrios para que, pelo menos o doente e o mĂŠdico sejam ~ Â? ‘ ~ conhecimento de quem tomou a decisĂŁo de nĂŁo disponibilizar o(s) medicamento(s), na medida em que nada obsta que a queixa seja dirigida contra incertos. Todavia, jĂĄ serĂĄ necessĂĄrio que existam documentos e/ou testemunhas que demonstrem indiciariamente que foram transmitidos aos decisores os elementos bastantes para que estes tenham a noção do dano que a saĂşde ou a vida do doente poderĂĄ sofrer no caso do medicamento nĂŁo ser disponibilizado. Assim e salvo melhor opiniĂŁo, a actuação da OM neste tipo de situaçþes e para estes efeitos – apresentação de participação crime – estĂĄ limitada porquanto precisa que os mĂŠdicos lhe dĂŞem conhecimento explĂ­cito e minimamente detalhado dos casos. Contudo, uma vez que disponha de tal informação, poderĂĄ participar os factos Ă PGR para que seja desencadeado inquĂŠrito penal e apuradas as responsabilidades criminais que existam.

O Consultor JurĂ­dico Paulo Sancho AdvogadoÂť


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Carta aberta aos dirigentes políticos e autoridades de saúde da Europa Foi apresentada no dia 15 de Janeiro a Carta aberta aos dirigentes políticos e às autoridades de saúde da Europa, documento subscrito pelos presidentes das associaçþes mÊdicas de Portugal, Espanha, GrÊcia e Irlanda (e vårias outras personalidades relevantes das respectivas comunidades acadÊmicas e mÊdicas). A Carta foi apresentada ao longo de uma semana nos quatro países subscritores: Portugal, Espanha, GrÊcia e Irlanda. No nosso país, este documento foi apresentado numa conferência de imprensa que contou com a presença de JosÊ Manuel Silva, bastonårio da Ordem dos MÊdicos e Constantino Sakellarides, presidente da Fundação para a Saúde/ SNS. JosÊ Manuel Silva, fez um apelo à mobilização em defesa do direito à saúde dos cidadãos europeus e apelou a que essa årea seja vista pelos governantes como uma verdadeira prioridade. Constantino Sakellarides, uma das personalidades portuguesas que subscreveu a carta, falou sobre os y ~ y ~ na saúde das populaçþes e realçou a sua perplexidade perante a total ausência de referências a esses mesmos efeitos potenciais no memorando da Troika por considerar que não

se pode, de forma alguma, negligenciar o impacto das medidas preconizadas nesse documento na saĂşde dos cidadĂŁos. Uma das ĂĄreas em que o impacto da crise tem sido mais nefasto ĂŠ a saĂşde mental: ÂŤa depressĂŁo tem aumentado nos que ficam no desemprego, nos que se endividam, etc.Âť, referiu, recordando que ÂŤos antigos chamavam Ă depressĂŁo a ‘tristeza maligna’. O aumento dos estados depressivos tem como consequĂŞncia ÂŤo aumento da taxa de suicĂ­diosÂť o que se tem † y ~€ nos paĂ­ses com intervenção econĂłmica. Por outro lado, a crise tem tambĂŠm impacto nos comportamentos fazendo com que ÂŤas pessoas assumam mais facilmente comportamentos de risco como o consumo de ĂĄlcool ou drogasÂť. A falta de recursos † € Ă… ~ ~ apenas o que dĂłi, ignorando, por exemplo, a diabetes e a

hipertensĂŁoÂť. Constantino Sakellarides referiu ainda que, enquanto que em todos os paĂ­ses da Europa a taxa de mortalidade de pessoas a partir dos 65 anos, no Inverno, aumentou, em Portugal e Espanha esse aumento ~ † Â’ ~ Â’ bĂŠm entre os 60 e os 64 anos. O presidente da Fundação para a SaĂşde defendeu a necessidade de se efectuarem ÂŤavaliaçþes Ă priori das consequĂŞncias ou efeitos da crise na saĂşde. Em Portugal nĂŁo envelhecemos bemÂť, explicou, ÂŤum portuguĂŞs de 65 anos que tempo espera viver sem qualquer doença? Apenas 5 anos e meio, enquanto que um sueco terĂĄ mais 14 anos e um irlandĂŞs mais dez anos e meioÂť; esta situação aumenta o peso para o nosso SNS mas a questĂŁo que se coloca para Constantino Sakellarides nĂŁo ĂŠ esse acrĂŠscimo de despesas para o SNS mas sim perceber se, perante estes indicadores, ainda nos podemos permitir piorar

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mais. Mas nĂŁo ĂŠ sĂł na terceira idade que se estĂĄ a sentir o peso da crise na saĂşde da população: ÂŤnas crianças hĂĄ repercussĂľes permanentes do stress crĂłnico  ÂŒ € w ~ capacidade de aprendizagemÂť; É por essa razĂŁo que este subscritor da Carta aberta aos dirigentes polĂ­ticos e Ă s autoridades de saĂşde da Europa refere ser essencial que as pessoas percebam que

se continuarmos a empobrecer € ~ Âœ ~ w ‰ na aprendizagem das nossas crianças e, consequentemente, € ‹˜ y€~€ Â?  Carta realçou tratar-se de um documento simbĂłlico por ter sido subscrito pelos quatro paĂ­ses mais afectados pela crise e que ÂŤo que se pretende ĂŠ tambĂŠm dar um sinal de que nĂŁo podemos fazer

isto sozinhos: tem que ser mÊdico com mÊdico, pessoas da cultura, da política, de todos os sectores da sociedade naquilo que foi apelidado como um movimento europeu de conciliação nacional, sendo a carta um convite à actuação de todos os sectores e entidades. Se não conseguirmos pôr em cima da mesa as vårias dimensþes do problema, não vamos sair da crise, concluiu.

Carta aberta aos dirigentes polĂ­ticos e Ă s autoridades de saĂşde da Europa 1. Ă? ~ † y ~ Âœ~ ~ { ¢ { y Â? ~ € qualquer polĂ­tica pĂşblica deve ter em conta as suas repercussĂľes no bem-estar individual e das comunidades: - O Tratado Europeu de Maastricht adotado em 1992 determinou que “as exigĂŞncias em matĂŠria de proteção da saĂşde constituem uma componente das demais polĂ­ticas comunitĂĄrias.â€? Â’ Š € € — ~ € €  ¥Â&#x;§ ˜ € Š ‹‘ ‰ €‹‘ € Âœ~ açþes, a UniĂŁo tem em conta as exigĂŞncias relacionadas com a promoção de um nĂ­vel elevado de emprego, a garantia de uma proteção social adequada, a luta contra a exclusĂŁo social e um nĂ­vel elevado de educação, formação e proteção da saĂşde humana.â€? - O Livro Branco da ComissĂŁo Europeia, “Juntos para a saĂşde: uma abordagem estratĂŠgica para a UE (2008-2013)â€?, estabeleceu como um dos seus princĂ­pios fundamentais o da “saĂşde em todas as polĂ­ticasâ€?. - Na ConferĂŞncia ministerial europeia da OMS sobre “Sistemas de saĂşde. SaĂşde e prosperidadeâ€? (2008), todos os seus estados membros adotaram a Carta de Talin onde se estabeleceu que “os Ministros da SaĂşde devem promover a inclusĂŁo de matĂŠrias respeitantes Ă saĂşde em todas as polĂ­ticas‌â€?. Os princĂ­pios polĂ­ticos europeu formalmente adotados exigem que todas as polĂ­ticas pĂşblicas tenham em conta o seu impacto na saĂşde e que sejam exploradas e seriamente consideradas as opçþes alternativas que tenham efeitos negativos mĂ­nimos na saĂşde. Isto nĂŁo estĂĄ a acontecer na Espanha, GrĂŠcia, Irlanda e Portugal. 2. Ă‹ € ~ Âœ € € † † € { “ ~ ~ consequĂŞncias sociais e na saĂşde. A atual crise ĂŠ o resultado de um conjunto complexo de fatores: Â’ €’ ~ ½ - Expandiu-se devido a uma fragilidade bem conhecida da arquitetura do Euro; - Tornou-se mais perigosa devido Ă resposta tardia e Ă falta de antecipação dos seus efeitos; - Teve consequĂŞncias mais desastrosas nos paĂ­ses mais vulnerĂĄveis como consequĂŞncia das suas incapacidades imediatas e estruturais. ~ € ~ Âœ ‘ ~  Â€Âœ ~  Â€ ~ mas estĂŁo a sofrer o pesado encargo das suas consequĂŞncias. 3. A ComissĂŁo Europeia, o Banco Central Europeu, o Fundo MonetĂĄrio Internacional e os governos nacionais tomaram medidas de importância crĂ­tica no campo da economia e dos sistemas de proteção social nos vĂĄrios paĂ­ses, nomeadamente nos Ăşltimos dois anos. NĂŁo hĂĄ indicaçþes de que em tais processos de decisĂŁo o pagamento da dĂ­vida tenha gerado alternativas que incluĂ­ssem avaliaçþes objetivas do seu impacto na saĂşde, conforme exigido pelos princĂ­pios referidos acima. NĂŁo ĂŠ aceitĂĄvel tal omissĂŁo. 4. A crise econĂłmica e social da dimensĂŁo agora sentida em muitos paĂ­ses europeus tem implicaçþes bem conhecidas na saĂşde: - Baixa da autoestima, aumento da depressĂŁo e suicĂ­dio; - Suscetibilidade acrescida a doenças transmissĂ­veis;

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- Aumento de comportamentos de risco tanto em termos de dependĂŞncias como em relação aos fatores de risco de doenças crĂłnicas; - Diminuição de acessos a serviços de saĂşde apropriados; Â’ % ‹˜ ~  Â? ~ ¢ Â? Os serviços pĂşblicos tĂŞm sido privados das verbas necessĂĄrias para desempenhos adequados ao mesmo tempo que aumentam as necessidades em saĂşde na comunidade. € ~ ~ ‰~ y€ y ~ Â?€ ­ € ¢ ~ ~€ ‹˜ € bĂĄsicas e ĂŠticas noçþes de dignidade humana. ~ ¢ ‹‘ ­ ‹‘ € ~ ‡ † { longa duração e as baixas taxas de fertilidade – terĂŁo certamente consequĂŞncias de longo prazo, afetando as geraçþes futuras. 5. Uma das mais notĂĄveis consequĂŞncias de nĂŁo se antecipar o impacto esperado na saĂşde de muitas das decisĂľes ~ y ~ ~ † ‹‘ y ~ ~ † “ e de uma resposta efetiva atempada, aos nĂ­veis internacional, nacional e local, a estes efeitos adversos. Isto ĂŠ lamentĂĄvel. 6. Os signatĂĄrios desta carta aberta apelam Ă s autoridades de saĂşde e polĂ­ticas, nacionais e internacionais, para que: Â’ % Âœ € ~‘ ~ { y ~ ‹‘ ‹‘ ¢ † ‹‘ nacional e europeia; Â’ € € { ~ ~ ¢ ˜ “ ~ recente, resultem numa rĂĄpida revisĂŁo de tais decisĂľes de modo a urgentemente evitar mais deterioração da saĂşde e dos serviços de saĂşde nas nossas comunidades; Â’ ~€ ~ ~ ÂŒ ‡ ~ y ~ ¢ Â? - Mobilizem e orientem para o bem comum o extraordinĂĄrio potencial da inteligĂŞncia, conhecimento e inovação das sociedades dos nossos dias, em vez de enfraquecer as possibilidades dos sistemas de saĂşde evoluĂ­rem, transformarem { Â? Â? € y€ ‹˜ { ~ Â’ ~ ‘ atuais e futuros.

Assinaturas Os presidentes das associaçþes mĂŠdicas GrĂŠcia, Espanha, Irlanda e Portugal e outras personalidades relevantes das comunidades acadĂŠmicas e mĂŠdicas: GrĂŠcia - Dr. Michael Vlastarakos, President, Hellenic Medical Association - Dr. George Patoulis, President, Athens Medical Association - Dr. Nikolas Maroudias, President of Hospital Medical Directors - Dr. Bodossakis-Prodromos R. Merkouris, President, Greek Association of General Practitioners: ELEGEIA - Dr. Andreas Seretis, President of Central Health Council - Mrs Olymbia Chaldaiou – Bitrou, President, OEKK “Agaliazoâ€? National Association Against Cancer - Professor John Kyriopoulos, Dean, National School of Public Health, Professor of Health Economics - Professor Christos Lionis, Professor of General Practice and Primary Health Care, Faculty of Medicine, Uni-versity of Crete - Professor Aris Sissouras, Prof. Emeritus, Operational Research (Health Policy and Management), University of Patras - Dr. Charalampos Economou, Assistant Professor of Health Policy, Dept. of Sociology, Panteion University Irlanda - Dr Paul McKeown, President of the Irish Medical organisation, Senior Lecturer in Epidemiology and Public Health in the Royal College of Surgeons Ireland and Consultant Physician in Public Health at the Health Protection Surveillance Centre in Dublin Professor Charles Normand, Edward Kennedy Chair of Health Policy and Management, Centre for Health Policy and Management, Trinity College Dublin - Professor Cecily Kelleher, Professor of Epidemiology and Public Health and Head of the School of Public Health, Physiotherapy and Population Science, University College Dublin. - Professor Hannah McGee, Dean of the Faculty of Medicine and Health Sciences, Royal College of Surgeons Ireland - Professor Ivan Perry, Professor of Public Health and Head of the Department of Epidemiology & Public Health, University College Cork - Professor Joe Barry, Chair of Population Health Medicine, Department of Public Health and Primary Care, Trinity College Dublin - Dr. Steve Thomas, Resilience of the Irish Health Systems project, Centre for Health Policy and Management, Trinity College, Dublin Portugal - Professor JosĂŠ Manuel Silva, President of the Portuguese Medical Association - Dr. Maria de BelĂŠm Roseira, Member of Parliament, Ex-Minister of Health - Dr. Paulo Mendo, Ex-Minister of Health - Professor Adalberto Campos Fernandes, Health Policy, National School of Public Health - Professora Ana Escoval, President of the Portuguese Association of Hospitals - Professor Constantino Sakellarides, Prof. Emeritus Health Policy, National School of Public Health - Professor Henrique Barros, Director of Department of Clinical Epidemiology, Predictive Medicine and Public Health, Medical School, University of Porto - Dr. JosĂŠ Aranda da Silva, 1st President of the Portuguese Institute of Pharmacies and Medicines - Maria Augusta Sousa, nurse, Board of Directors, Foundation for Health - NHS - Dr. VĂ­tor Ramos, family doctor, pioneering team, Portuguese primary health care reform. Espanha - Dr. Juan- JosĂŠ RodrĂ­guez-SendĂ­n: General Practitioner and President of the Spanish General Council of Medical Colleges. Professor Dr. JosĂŠ-MarĂ­a Segovia-de-Arana: Emeritus Professor and Member of the Royal Academy of Medicine. - Professor Dr. Joan RodĂŠsTeixidor: President IDIBAPS of the Clinic Hospital of Barcelona. - Professor Vicente OrtĂşn Rubio: Health Economist and Dean of the Faculty of Economics of the PompeuFabra University in Barcelona - Professor Dr. Alfonso Moreno GonzĂĄlez: Clinical Pharmacologist and President of the Spanish Council of Post-graduate Health Specialization. - Professor Dr. JosĂŠ-Manuel FreireCampo: Head of the Department of International Health at the National School of Public Health in Madrid - Professor Dr. JosĂŠRamĂłn Repullo-Labrador: Head of the Department of Health Planning and Economics at the National School of Public Health in Madrid

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Que Futuro para a estratĂŠgia de segurança nacional? No dia 22 de Novembro a Ordem dos MĂŠdicos recebeu o general Loureiro dos Santos para uma conferĂŞncia sobre o futuro da segurança nacional. Esta conferĂŞncia integra-se num ciclo promovido pelo presidente da OM, JosĂŠ Manuel Silva, com o objectivo de reunir um conjunto de contributos exteriores (de sociĂłlogos, polĂ­ticos e mĂŠdicos, entre outros) que permita enriquecer a visĂŁo da Ordem dos MĂŠdicos na anĂĄlise dos problemas do paĂ­s que, directa ou indirectamente, inuenciam e afectam o estado da SaĂşde em Portugal, por forma a apontar novos e melhores caminhos. O general Loureiro dos Santos começou por explicar que ĂŠ normal que, de dez em dez anos, se faça uma anĂĄlise para manutenção da segurança nacional e que a sua intervenção iria ter por base precisamente o documento em cuja elaboração participou e cujo  Â‡ ~ † ‹‘ † conceito estratĂŠgico do paĂ­s. ÂŤA segurança nacional nĂŁo ĂŠ apenas uma questĂŁo militarÂť e, no caso de um paĂ­s com a nossa dimensĂŁo, a principal preocupação ĂŠ ÂŤsobreviver como EstadoÂť. A ‘segurança nacional’ prende-se com ÂŤa liberdade de acção que um paĂ­s tem para defender os seus interessesÂť. Se na GrĂŠcia antiga sĂł se recorria aos estrategas quando estĂĄvamos perante um

w ~ { Å� ‡ usa-se estratÊgias mesmo quando ~ ~ € w ~

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apenas do foro económico, explicou. No âmbito económico hå duas estratÊgias essenciais: a acomodação ou a competição. TambÊm hå estratÊgia quando os países competem pelos mercados ou quando se acomodam porque escolhem a que outros países ou situaçþes se vão acomodar e não Ê despicienda a forma como um Estado escolhe acomodarse a A mas não a B. Que activos nacionais temos para incluir na estratÊgia de segurança nacional? - Identidade e coesão nacional, pois falamos a mesma língua e temos as mesmas grandes referências históricas o que se traduz em elementos que devem ser aproveitados para actuar em grupo, por potenciarem a coesão e a identidade; - Existência de um regime democråtico consolidado;

- ÂŤRiqueza de recursos humanos e o potencial de investigação e desenvolvimentoÂť; Â’ Ŗ ~ Æ Â’ Portugal ĂŠ um espaço central do oceano Atlântico o que o torna importante para outras potĂŞncias; ao mesmo tempo somos uma ÂŤvaliosa plataforma continentalÂť; - Temos um ÂŤespaço linguĂ­stico relevanteÂť; - e uma ÂŤpresença histĂłrica de Portugal em vĂĄrios continentesÂť. O estudo referido pelo general Loureiro dos Santos incluĂ­a igualmente as vulnerabilidades potenciais do nosso paĂ­s: - ÂŤEconomia que nĂŁo consegue gerar riquezaÂť; - ÂŤEndividamento externo que limita a nossa liberdade de acçãoÂť, facto que consubstancia, conforme foi sublinhado, uma ÂŤfortĂ­ssima vulnerabilidadeÂť;


- ÂŤExistĂŞncia de enormes desigualdades sociais e pobrezaÂť, o que afecta a coesĂŁo nacional; Â’ Ă…Âˆ ~ € ‹‘ € humanosÂť, vulnerabilidade que pode restringir as nossas possibilidades; Â’ Ŗ ~ Æ - Por ter interesse para outros paĂ­ses, o nosso posicionamento torna-nos vulnerĂĄveis, ainda que, se for bem aproveitado, se torne uma grande vantagem; Â’ Ă… ~ y€ ~ sistema de justiçaÂť; - ÂŤExcessiva dependĂŞncia externa em termos de energiaÂť - se houver problemas no norte de Ă frica, conforme explicou o conferencista, Portugal terĂĄ gra† € ~ ½ - ÂŤDependĂŞncia alimentarÂť pois importamos cerca de 70% do que comemos sendo necessĂĄrio e urgente ÂŤreconstruir os sistemas produtivosÂť; - ÂŤTerritĂłrio sujeito a vulnerabilidadesÂť, como catĂĄstrofes naturais, por exemplo. Perante o quadro traçado relativo Ă s mais valias e Ă s ĂĄreas ~ – ~€ { € dos Santos abordou em seguida os objectivos da nação em termos de segurança nacional: os objectivos permanentes sĂŁo, naturalmente, a independĂŞncia e soberania, a preservação da identidade e da coesĂŁo nacionais, a defesa e valorização da nossa condição marĂ­tima e a liberdade de acção dos ĂłrgĂŁos de soberania. Mas, para atingir ~  Â‡ ~ † ~ ~ ĂŠ essencial primeiro alcançar os objectivos conjuncturais: restaurar a credibilidade externa, corrigir as vulnerabilidades, valorizar a condição atlântica (o que implica ter Marinha, bons portos, meios de transporte para conduzir os produtos para o

interior da Europa, etc., caso contrĂĄrio de nada releva o nosso ~ Â’ tratĂŠgico), preservar uma defesa militar autĂłnoma nesta conjuntura em que ĂŠ necessĂĄrio racionalizar e rentabilizar recursos. No domĂ­nio da defesa nacional, que ameaças existem aos nossos objectivos? Loureiro dos Santos explicou que as ameaças residem w ~ † ĂĄreas do mundo (onde existem recursos que podem ser importantes), na proliferação das armas de destruição maciça (o € ~ w ~ € afectar-nos), a multiplicação de Estados desestruturados que nĂŁo conseguem garantir o bem estar dos seus povos, o terrorismo transnacional, o ciberterrorismo e a cibercriminalidade, a criminalidade transnacional organizada, a pirataria que pĂľe em causa as vias de comunicação marĂ­timas, a disputa de recursos naturais escassos (nomeadamente minerais raros que sĂŁo indispensĂĄveis para determinados tipos de tecnologia), desastres naturais, atentados intencionais ao ecossistema, pandemias potencializadas pela globalização, etc. AlĂŠm das ameaças gerais, existem ainda os chamados ÂŤriscos de vizinhançaÂť: resultante da nossa localização, um clima de seca na PenĂ­nsula IbĂŠrica teria consequĂŞncias graves para Portugal em virtude das alteraçþes dos caudais dos nossos ½ Ă? w ~ ÂŒ Mediterrâneo afectaria o nosso paĂ­s, a produção de sucessivas vagas de emigração clandestina do norte de Ă frica para a Europa, possibilidade de, como resultado das revoltas ĂĄrabes, criação de grupos extremistas que se instalem no norte de Jan/Fev | 2013 | 57


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à frica, efeitos radioactivos de potenciais ataques terroristas às instalaçþes nucleares espanholas, possibilidade de agravamento do

w ~ ~ €~ espanholas, aumento das acçþes de pirataria no Golgo da GuinĂŠ e na costa do Norte de Ă frica, riscos tecnolĂłgicos, etc. ÂŤAmeaças para as quais temos que estar preparadosÂť para que nĂŁo sejam impeditivas de atingirmos os objectivos enunciados. ÂŤMas tudo isto se passa num contexto em que os outros actores tambĂŠm tĂŞm os seus objectivos e estratĂŠgias com as quais temos que nos ir conjugandoÂť, explicou o conferencista, referindo que, por exemplo, os EUA estĂŁo a alterar a sua estratĂŠgia ÂŤretirando-se da € Æ € € { Â? ۠ w ~ † ÂŒ Â? ‹ { terĂĄ que ser o velho continente a lidar com eles sozinho. Outras questĂľes essenciais para os nossos objectivos nacionais, que foram referidas pelo general Loureiro dos Santos, sĂŁo a relação com os paĂ­ses da CPLP e o papel da aliança atlântica (ÂŤa Nato vai manter-se como uma aliança estrutural para Portugal?Âť) que ~ y ~ w€› ‹‘ ~ ~ y€~€ Â? Foram explicados alguns factores da acção estratĂŠgica nacional que se traduzem da seguinte forma: Â’  ~ vulnerabilidades e ameaças (ÂŤpor exemplo: resolver a crise de desenvolvimento, gerir o envelhecimento da população, garantir o abastecimento energĂŠtico e alimentar, etc.Âť) - forte ligação com as questĂľes de soberania (ÂŤcomo ĂŠ que a diplomacia deve agir? Como gerir os sistemas de informação? Que informaçþes nos interessam? Quais os nossos aliados?...Âť) - defesa nacional/defesa militar 58 | Jan/Fev | 2013

(ÂŤuma vez que vĂŁo aumentar os riscos, com a retracção norte americana, a volatilidade do norte de Ă frica, etc. Teremos que fazer face Ă necessidade de reforço nesta ĂĄrea, sem gastar mais dinheiro‌) - participação na produção da segurança internacional (ÂŤporque as questĂľes de segurança internacional afectam directamente a nossa segurança nacionalÂť; ÂŤĂŠ importante que se empregue as nossas forças militares nesse apoio Ă polĂ­tica de segurança internacionalÂť).

Loureiro dos Santos defendeu que ĂŠ possĂ­vel, atravĂŠs de uma restruturação das polĂ­ticas de recrutamento, ÂŤdiminuir os custos das forças armadas € ~ €

Æ{ sendo que algumas necessidades poderĂŁo resolver-se por recurso a serviço militar obrigatĂłrio. Uma das reformas que defende como potencial solução seria o recurso a reservistas como se faz nos EUA (ÂŤos reservistas fazem os seus treinos e, quando ĂŠ preciso, sĂŁo chamados e estĂŁo preparados, mas com custos inferioresÂť.

Atribuído pela Ordem dos MÊdicos e pela Fundação Merck Sharp & Dohme


Outra forma de reduzir o pessoal que preconizou foi a aquisição ~ ~ ‰ € helicĂłpteros pois deslocam as forças de forma mais rĂĄpida e terĂŁo sempre ÂŤcustos inferiores ao envio de uma coluna por terraÂť. ÂŤA poupança de recursos tambĂŠm se faz com a modernização dos equipamentosÂť, concluiu. Como jĂĄ tinha sido referido pelo conferencista, ÂŤaquilo que nos distingue dos outros deve ser usadoÂť em nosso proveito e salientou a aposta no

conhecimento, a boa utilização e valorização da faixa atlântica e da língua portuguesa. Jå na fase de debate, JosÊ Manuel Silva, bastonårio da OM, tomando como ponto de partida o exemplo da Costa Rica que não tem exÊrcito, questionou se não seria possível Portugal seguir o mesmo caminho e se teríamos de facto condiçþes para nos defendermos sozinhos. Loureiro dos Santos considerou que a eliminação do exÊrcito seria sinónimo de pôr em causa a nossa capacidade de auto determinação e soberania

MÉDICO

RECOMENDA-SE! A Ordem dos MĂŠdicos e a Fundação Merck Sharp & Dhome criaram o PrĂŠmio Miller Guerra de Carreira MĂŠdica a ďŹ m de galardoar um proďŹ ssional mĂŠdico que se tenha distinguido por uma carreira exemplar dedicada ao serviço dos doentes privilegiando sobretudo a atitude humanista na practica clĂ­nica, como era apanĂĄgio de Miller Guerra.

A 1ÂŞ edição do prĂŠmio, que serĂĄ entregue em 2013, destina-se a um MĂŠdico com Carreira no âmbito da Medicina Geral e Familiar. As carreiras mĂŠdicas dos candidatos deverĂŁo caracterizar-se por uma dedicação inexcedĂ­vel aos princĂ­pios do juramento de HipĂłcrates e por uma capacidade de liderança pelo exemplo de humanitarismo, aliadas a sĂłlidos conhecimentos tĂŠcnicos e cientĂ­ficos. DeverĂŁo ainda distinguir-se pelo impacto positivo que tĂŞm na instituição em que trabalham bem como na sociedade mĂŠdica e na sociedade em geral. O PrĂŠmio destina-se a mĂŠdicos ainda em actividade ou reformados, nĂŁo podendo ser atribuĂ­do a tĂ­tulo pĂłstumo. As propostas de candidatura podem ser apresentadas por Instituiçþes de SaĂşde pĂşblicas ou privadas, entidades civis, grupos de proďŹ ssionais de saĂşde, grupos de doentes e grupos de cidadĂŁos.

mas admitiu que, na verdade, Portugal nĂŁo tem, nem nunca teve, capacidade militar para se defender sozinho e que precisa sempre de um forte aliado. Manuel Mendes Silva, presidente do Conselho Disciplinar do Sul da OM, tambĂŠm presente na conferĂŞncia, referiu ser ÂŤvirtuoso os mĂŠdicos interessarem-se por assuntos de estratĂŠgia porque tambĂŠm eles se dedicam Ă elaboração de estratĂŠgias e interveio na fase de debate questionando se entre as vantagens que possuĂ­mos em termos estratĂŠgicos nĂŁo deverĂ­amos contabilizar o clima e o potencial turĂ­stico, tendo o conferencista concordado e atĂŠ salientado que esses aspectos foram analisados no documento estratĂŠgico em que participou, defendendo como fundamental a ÂŤmarca PortugalÂť e a promoção do seu prestĂ­gio. Nas conclusĂľes, Loureiro dos Santos referiu ainda que temos uma grande vulnerabilidade no que se refere Ă segurança alimentar € ~ ‹‘ Âœ { ~ ÂŒ interior, pĂľe em causa a coesĂŁo e, consequentemente, a segurança nacional.

O PrĂŠmio Carreira MĂŠdica serĂĄ constituĂ­do por um diploma e uma dotação pecuniĂĄria no valor de 50.000,00 â‚Ź, disponibilizada pela Fundação Merck Sharp & Dohme. O prazo para a apresentação de candidaturas vai atĂŠ 15 de 2013 2013. 30de defevereiro Março de

Para mais informaçþes: www.ordemdosmedicos.pt | Tel: 21 842 71 00

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opiniĂŁo

AntĂłnio Gentil Martins

Racionalização? Racionamento? Artigo recebido no dia a seguir ao debate que decorreu na OM sobre o tema em epĂ­grafe, cuja reportagem integral se encontra igualmente nesta edição da ROM. Assistimos ontem, louvavelmente, na Ordem dos MĂŠdicos a um debate extremamente ~ ~ { ‡€ ~ Â’ mente extremado e radicalizado. Se ĂŠ fundamental que cada um defenda aquilo que pensa certo e exponha as suas posiçþes, isso ‘ ‡€ ~ € agressividade. E tenho de concluir que se lutou mais por palavras do que por conceitos, pois considero que todos pensam o mesmo, mas situando-se em tempos diferentes de um mesmo processo. Foi dito, e bem, que nĂŁo temos de pensar em percentagens do – " € reais disponĂ­veis. A boa ‘dona de casa’ sabe verdadeiramente o que pode gastar. E a quem competirĂĄ, senĂŁo aos Governos que, eleitos, se considera representarem o povo de um paĂ­s, a decisĂŁo ‹‘ € Ă€ SĂł se pode gastar em função da riqueza que se tem e das opçþes que se fazem. Lembro-me de que, hĂĄ cerca de 30 anos atrĂĄs, nos Estados Unidos, se gastava mais dinheiro em cosmĂŠticos do que em 60 | Jan/Fev | 2013

medicamentos! Mas ao comparar os gastos com medicamentos nĂŁo podemos esquecer que eles sĂŁo de facto, pelo menos teoricamente, iguais em preços, tanto nos paĂ­ses ricos como nos pobres e portanto nestes a % de gastos em relação ao global nĂŁo pode deixar de ser diferente e maior. Fala-se constitucionalmente de um Serviço Nacional de SaĂşde, universal e tendencialmente gratuito, embora se aceitassem sempre taxas moderadoras Agora, o pensamento tem evoluĂ­do e jĂĄ se interpreta a gratuitidade apenas no Acto da prescrição. NĂŁo serĂĄ tempo de tornar a Constituição realista, e, mantendo a universalidade, dar verdadeiramente liberdade de escolha Ă s pessoas, jĂĄ que esta liberdade darĂĄ maior satisfação aos doentes e nĂŁo deixarĂĄ de poupar dinheiro, o que todos desejam, cada um pagando para o Sistema proporcionalmente } € { seja individual seja colectiva. A liberdade evitarĂĄ duplicaçþes desnecessĂĄrias e uma medicina defensiva.

Basta comparar o que se gasta por pessoa em cada paĂ­s para perceber que o chavĂŁo demagĂłgico do Estado Social Europeu de que todos falam (sem no entanto ousar caracteriza-lo objectivamente), nĂŁo pode ser igual nesses vĂĄrios paĂ­ses. E jĂĄ nĂŁo falo, nesta ĂŠpoca de globalização, do que se poderĂĄ dar a cada um, quando os gastos per capita, na SaĂşde sĂŁo 4000 dĂłlares (Alemanha), 2000 dĂłlares (Portugal) ou simplesmente 200 (em certos paĂ­ses africanos). Dizer que se darĂĄ o mesmo ĂŠ simplesmente mentir e enganar; e atĂŠ apenas o pensar ĂŠ, hoje em dia, um erro de ignorância indesculpĂĄvel. Assim ĂŠ indispensĂĄvel e sem demagogia € { sociedade, o pacote bĂĄsico que serĂĄ possĂ­vel dar a todos, sem descriminaçþes. A Sociedade Internacional de Oncologia PediĂĄtrica criou um ~ Âœ ~ ~ das quimioterapias “mais econĂłmicasâ€?, a utilizar nos paĂ­ses ditos em desenvolvimento, procurando o melhor, do possĂ­vel. É disso exemplo o caso do linfoma


"€ # &{ € { ciclofosfamida se curam cerca de 40% dos doentes, mas que, com quimioterapias mais caras, ~ Ϡ { poderia chegar a uma cura de 90%! Toda a gente fala e diz defender os valores, mas nĂŁo ĂŠ costume referir aquilo a que ~ y Ă honra, Ă solidariedade, Ă honestidade, Ă dedicação ao trabalho, ou serĂĄ que estĂŁo apenas a pensar no lucro e na € ÂŒ Ă€ Fala-se na defesa da vida e da sua qualidade, rejeitando, e bem, a qualquer tĂ­tulo, a discriminação entre as pessoas, mas hĂĄ quem aceite o aborto, apesar de

~ ~

† quando se inicia a vida dos seres humanos (o que jĂĄ HipĂłcrates, no seu clĂĄssico Juramento, claramente repudiava, considerando-o vedado Ă acção dos mĂŠdicos). SerĂĄ que tudo ĂŠ relativo? Pensamos que nĂŁo.  claramente a insustentabilidade do actual SNS. Mas o que serĂĄ, de facto, o que pensam, sabendo que esse mesmo SNS tem jĂĄ uma dĂ­vida de trĂŞs biliĂľes de euros!, e nĂŁo sĂł em Portugal, mas tambĂŠm em todo o mundo, os custos com a saĂşde sobem mais rĂĄpido do que o desenvolvimento econĂłmico? Foi dito e bem, que sĂł pode haver boa sustentabilidade na SaĂşde se a economia crescer (o que neste momento, infelizmente, todos sabem que nĂŁo acontece, e obriga jĂĄ a fazer escolhas, por vezes bem difĂ­ceis e mesmo dilemĂĄticas). É indiscutĂ­vel que os gastos continuam, e continuarĂŁo, a aumentar (avanços na ciĂŞncia, maior esperança de vida, inovação terapĂŞutica, novas

tecnologias, etc., etc.), e ao eliminar, atĂŠ prioritariamente como se considera ser essencial, os tĂŁo falados desperdĂ­cios, nada mais se farĂĄ, no longo prazo, senĂŁo adiar as decisĂľes mais difĂ­ceis, como limitaçþes inalienĂĄveis, jĂĄ que serĂĄ pura demagogia alguĂŠm dizer que “se poderĂĄ dar sempre, tudo, a todosâ€?. E nĂŁo podemos desconhecer que, se hĂĄ desperdĂ­cios corrigĂ­veis com melhor informação, controlos, auditorias e responsa ÂŒ ‹‘ { € ~ ~ † delas nĂŁo deixarĂĄ de ser sempre consequĂŞncia da falibilidade da acção de qualquer ser humano, e de que os mĂŠdicos nĂŁo sĂŁo excepção. Cada paĂ­s terĂĄ necessariamente que decidir o que darĂĄ para os cuidados mĂŠdicos, numa saĂşde que ĂŠ sem dĂşvida transdisciplinar (pensando sempre nela, nunca como negĂłcio, mas sim como investimento, na qualidade de vida das pessoas, jĂĄ que a mĂĄ qualidade sai cara). E porque nĂŁo se fala noutro pilar ainda mais prioritĂĄrio que os cuidados mĂŠdicos, e que ĂŠ a alimentação, isto jĂĄ sem esquecer a educação e a justiça? AliĂĄs o artigo 25Âş da Declaração Universal dos Direitos do Homem diz que todo o Homem tem direito a um nĂ­vel de vida € ~ Â? € } sua famĂ­lia a saĂşde e o bem estar (nomeadamente alimentação e assistĂŞncia mĂŠdica) mas o precedente artigo 23Âş diz que toda a pessoa tem direito ao trabalho e que ĂŠ atravĂŠs dele que terĂĄ lugar uma existĂŞncia conforme com a dignidade humana. Fala-se na qualidade de vida que se procura obter, recusando e bem a obstinação terapĂŞutica, mas ĂŠ indesculpĂĄvel nĂŁo

reconhecer que, com meios limitados, haverĂĄ sempre que fazer escolhas, nas quais o elemento mais importante ĂŠ sem dĂşvidas a consciĂŞncia dos mĂŠdicos, obviamente condicionada Ă decisĂŁo de um doente correctamente informado. Exemplo paradigmĂĄtico ĂŠ o problema das prĂłteses de anca, com modelos mais duradoiros, mas muito mais caros e € Â’ ‘ permitirem adquirir apenas das primeiras: qual utilizar num doente jovem, com larga esperança de vida, ou num doente jĂĄ relativamente idoso e com esperança de vida mais curta? A quem se vai dar, quando e o quĂŞ, sĂŁo dilemas que todo o dia assaltam o mĂŠdico, atĂŠ porque a medicina nĂŁo e uma ciĂŞncia exacta, uma das razĂľes bĂĄsicas do valor fundamental da relação do doente com o seu mĂŠdico, maximizada pela liberdade de escolha que sempre defendemos como essencial em qualquer Sistema de SaĂşde. No Lancet Oncology podemos ler um artigo em que se enfatiza o dilema do custo/benefĂ­cio dos medicamentos na terapĂŞutica das hemopatias malignas, citando o uso do rituximab no linfoma folicular nĂŁo Hodgkin. Estudos terĂŁo mostrado melhor tolerância mas idĂŞntica esperança e qualidade de vida. † Â’ € ~ Â’ caz aos tratamentos jĂĄ existentes, a AgĂŞncia Francesa do Medicamento aprovou o seu uso. Mas a pergunta feita ĂŠ simplesmente esta: serĂĄ que o pequeno benefĂ­cio encontrado ‡€ ~ { { um custo de 30.000 dĂłlares por ano? SerĂĄ possĂ­vel? SerĂĄ prioritĂĄrio? NĂŁo serĂĄ melhor Jan/Fev | 2013 | 61


opiniĂŁo

usar essa verba para outros  ~ Ă€ ƒ evidente que o problema ĂŠ bem diferente para os novos tratamentos da hepatite C, jĂĄ que € ~ ~ † ~ possibilidades de cura. Qual serĂĄ entĂŁo a opção da sociedade, jĂĄ que ao mĂŠdico competirĂĄ sempre dar o mĂĄximo do que estiver aos seu alcance? A Associação MĂŠdica Mundial { Ă’  Â€ € Declaração de Lisboa, que sempre que a legislação, acção governamental ou qualquer outra entidade, negue aos doentes os seus direitos, os mĂŠdicos devem

DE IAS O L NC CIC ERĂŠ NF 2013 O C

procurar os meios apropriados para assegurar ou restabelecer tais direitos. Mas tambĂŠm na mesma Declaração, a AMM nĂŁo esquece a existĂŞncia de circunstâncias { € { Š circunstâncias em que deve ser feita escolha entre pacientes para um tratamento especial e limitado, todos os outros pacientes devem estar cientes de que a selecção daquele procedimento foi feita de forma justa e que essa escolha deve ser feita baseada em critĂŠrio mĂŠdico e sem qualquer descriminação. Este ĂŠ hoje em dia um debate

crucial mas que tem de ser encarado construtivamente, com realismo e sem demagogia, tendo em vista o interesse primordial do doente, mas sem menosprezar a justiça social global. E a verdade ĂŠ que sĂł poderĂĄ ser legĂ­timo vir a limitar as verbas para a SaĂşde, se se tiver tentado tudo o que for possĂ­vel para evitar desperdĂ­cios e despesas inĂşteis. E mesmo nesses casos, terĂĄ sempre que se explicar e ‡€ ~ € y ÂŒ € simplesmente impor. Lisboa, 10 de Janeiro de 2013

NĂşcleo de HistĂłria da Medicina da Ordem dos MĂŠdicos SessĂŁo temĂĄtica A BioĂŠtica e os MĂŠdicos, Ontem e Hoje

Conferência 14 de Maio, terça-feira, 21h

6 de Abril, sĂĄbado, 15h

ÂŤCĂłdigos DeontolĂłgicos - evolução temĂĄticaÂť AmĂŠlia RincĂłn Ferraz ÂŤO renascimento das virtudes mĂŠdicas - o lugar de PellegrinoÂť Jorge Cruz ÂŤBioĂŠtica - nascimento, apogeu e crise de um conceitoÂť Daniel SerrĂŁo Local: Sala Braga – Secção Regional do Norte

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ÂŤAs plantas na histĂłria da dorÂť Figueiredo Lima Local: Biblioteca histĂłrica da OM, em Lisboa.

Mais informaçþes e inscriçþes: D.ª Manuela Oliveira - manuela.oliveira@omcne.pt


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>V>LiÂś Responda em: https://www.facebook.com/QueremQueAImprensaMedicaEspecializadaAcabe NotĂ­cias publicadas previamente em www.univadis.pt

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opiniĂŁo

Jorge F. Seabra Membro da ComissĂŁo Nacional da Ordem dos MĂŠdicos para o SNS

SNS – nĂŁo hĂĄ dinheiro? - Uma ideolĂłgica aldrabice “ Se tu roubas um banco ĂŠs preso. Se um banco te rouba, nĂŁo te resgatam a ti, resgatam o banco.â€? – Brad Pitt* † € { governantes, comentadores e os suspeitos do costume, o SNS e o Estado Social contribuem † ~ e a dĂ­vida pĂşblica? SerĂĄ que os portugueses tĂŞm, para continuarem a usufruir do conjunto de direitos designado como “Estado Socialâ€?, de pagar mais impostos nĂŁo estando disponĂ­veis para o fazer? SerĂĄ necessĂĄria uma “refundaçãoâ€? (liquidação) do Estado (Social)? Raquel Varela, autora do estudo “Quem paga o Estado Social em Portugal?â€? (Bertrand 2012), acha € ‹‘ € ‘ Â? dinheiro para o sustentar e que ĂŠ forçoso cortar benefĂ­cios, ĂŠ falsa. “CalculĂĄmos quanto, quem trabalha e vive do salĂĄrio, entrega aos Estado em contribuiçþes e impostos (directos e indirectos) e quanto recebe em serviços pĂşblicos prestados (saĂşde, educação, segurança social, transportes, desporto, espaços pĂşblicos, cultura). ChegĂĄmos Ă # 3 <

@ não podem ser imputados aos gastos sociais e, na maioria dos anos, hå mesmo um excedente.�.** E quando a autora analisa 64 | Jan/Fev | 2013

aspectos da intervenção dos Ăşltimos governos no SNS, ‡€ ~ Â? € ~ Â’ ~  { y “Uma das conclusĂľes que apresentamos ĂŠ a de que, desde que se iniciaram os hospitais-empresa, o custo com os salĂĄrios baixou (de 2,4% do PIB em 1995 para 0,9% em 2010), a contratação de serviços externos aumentou (no mesmo perĂ­odo passa de 2% do PIB para mais KR= do serviço prestado aumentou (mais do que o aumento dos gastos totais em 0,5% do PIB). Ou seja, a produtividade caĂ­u, com um custo acrescido para os contribuintes.â€? De facto, desde os primordios dos anos noventa, a “governamentalizaçãoâ€?, ou melhor, a progressiva partidarização dos Hospitais e dos serviços de SaĂşde, feita a pretexto de os tornar mais ÂŒ { ÂŒ €’ tivos para benefĂ­cio do doente

(passado a “utenteâ€? e, depois, a “clienteâ€?), corroeu as formas democrĂĄticas de intervenção dos mĂŠdicos e de outros tĂŠcnicos e trabalhadores da SaĂşde nos orgĂŁos de gestĂŁo clĂ­nica e administrativa das unidades de

SaĂşde, substituindo-as por uma  ÂŠ —{ “empresarialâ€? e “responsĂĄvelâ€?, anunciada com a plĂŠtora de boas intençþes de que o diabo e seus associados andam sempre cheios. Em consequĂŞncia disso, as

� œ ~ ~ † passaram a ser escolhidas


nas reuniĂľes das comissĂľes distritais ou concelhias dos partidos no governo, e o pudor inicial depressa se desvaneceu, comentando-se abertamente nos corredores e nas mesas dos cafĂŠs as lutas de galos da nomeação dos boys and girls para os poleiros disponĂ­veis. Rapidamente, o “jobs for the boysâ€? estabeleceuse como prĂĄtica normal da estruturação das

Â? ¢ { se, paradoxalmente, a prĂłpria perversĂŁo das virginais intençþes inicialmente anunciadas, constituĂ­sse um ritual inerente Ă modernidade do sistema. Com a implementação ~ w€› Â’ cias e a passagem das nomeaçþes para o interior dos partidos do governo - onde os cargos sĂŁo, quase sempre, atribuĂ­dos co Â’ dade ao aparelho, - a esperança de daĂ­ resultar bom senso, rigor e competĂŞncia, passou a sustentar-se na vaga hipĂłtese de, por feliz acaso, o resultado desses “negĂłciosâ€? coincidirem na nomeação de pessoas capazes de gerir os delicados equilĂ­brios das unidades de SaĂşde. Contudo, mesmo essas poucas excepçþes, - que se foram tornando mais raras com o aprofundamento do processo - acabaram, em regra, por  ~ ~ ‹ que possuĂ­am, com a aceitação subserviente de orientaçþes † ~ w ~€ ~ com os interesses dos doentes

logotipos, acessorias de imagem e de imprensa, consultores de tudo e de coisa nenhuma, controladores da qualidade das esquinas, “outsourcingsâ€? e contrataçþes dispendiosas, fazendo inchar brutalmente os custos (que diziam querer cortar) e os empregos “for the boysâ€?. Tudo na busca do Santo Graal de uma “produçãoâ€? americanizada, cheia de nĂşmeros e estatĂ­sticas marteladas, com consultas desnecessĂĄrias ou desmultiplicadas num ping-pong de altas e regressos e cirurgias aumentadas pela contabilidade das incisĂľes, contruindo um cenĂĄrio Š › — € { o apregoado “rigorâ€? e a revolucionĂĄria descoberta de que a atenção deve ser centrada no doente (utente, cliente), passa-ram a constituir as ideias fĂŠtiche do discurso provinciano e naif com que passaram a bombardear tudo e todos. E enquanto as reuniĂľes da administração com os responsĂĄveis dos Serviços centravam toda a sua atenção na redutora anĂĄlise do nĂşmero de consultas e operaçþes “produzidasâ€?, sem Viver acima das possibilidades... qualquer caracterização da sua extensĂŁo ou € ~ { ‡€ ~ complexidade - recusando dispela “modernidadeâ€? e pelos tinguir a ressecção de uma “novos paradigmasâ€?, afastando, unha, de uma longa e difĂ­cil cada vez mais, a gestĂŁo do seu intervenção ao fĂ­gado -, o que papel primordial de apoio Ă passou a ser implementado foi actividade clĂ­nica, desviando precisamente o contrĂĄrio do ~ ~ † Â? { › ~ para um administrativismo ~ { }  ~ ‹‘ estĂŠril e opressivo, com de um “lucroâ€? virtual, mesmo mudanças de nomes e de esse conseguido com a aplicação e do SNS, facilmente trocados pelo sonho de uma de ascenção a instâncias mais altas do poder. O processo de partidarização e “empresarializaçãoâ€? da SaĂşde, abriu as portas a uma mirĂ­ade de actividades parasitĂĄrias ou de

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opiniĂŁo

aldrabada de regras ministeriais feitas com o objectivo Ăşltimo de inculcar, nos serviços pĂşblicos, os piores vĂ­cios da lĂłgica “do mercadoâ€?. “O melhor que temos no Serviço Nacional de SaĂşde sĂŁo os

W # os administradores nomeados pelos partidos polĂ­ticos.â€?. Assim começa o artigo, publicado no jornal “PĂşblicoâ€?, de Paulo Moreira, director do International Journal of Heathcare Management, de Londres. Mais Ă frente, o autor, salienta: “... o futuro do SNS e do sistema de saĂşde como fonte de geração de riqueza e bem-estar terĂĄ que promover a liderança das

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da acção subversiva da måquina administrativa. A regulação pro

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' forma de regulação que estå livre 3 nomeação partidåria, e que entende a realidade dos cuidados de saúde, as necessidades das populaçþes e Ê merecedora de elevada credibilidade. Y " %#

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%# %# comum, ĂŠ a Ăşnica via para combater

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dos seus cĂłdigos deontolĂłgicos,

$ + Z de uma mĂĄquina administrativa incompetente e, por vezes, limitada por processos de corrupção e de fraude.â€?.*** Basta ler todo o texto para se perceber que Paulo Moreira estĂĄ longe de ser um crĂ­tico radical da polĂ­tica desestruturante e † ~ ÂŒ € ~ w o SNS e o National Health Service inglĂŞs. O autor critica apenas erros de gestĂŁo, que considera gravosos e grosseiros, sem, voluntaria ou involutariamente, levantar a questĂŁo da estratĂŠgia que os implementa e estimula. Contudo, o problema da gestĂŁo 66 | Jan/Fev | 2013

~ ~ pouco a ver com a existĂŞncia ou nĂŁo de bons administradores (que os hĂĄ) ou de haver dinheiro que chegue. O que condiciona tudo ĂŠ a orientação polĂ­tica a dar Ă s administraçþes, levandoas a trabalharem a favor do interesse pĂşblico ou usando-as como mediadoras da degradação progressiva do SNS, transferindo ~ ~ os grandes privados. A questĂŁo nuclear, ĂŠ a de gastar dinheiro no desenvolvimento do SNS ou investi-lo em aplicaçþes duvidosas e pouco consensuais – tapar os “buracosâ€? dos bancos, isençþes } Gestoras de Participaçþes Sociais (SGPS), submarinos desnecessĂĄrios com contra-partidas

{ € Œ F-16 encaixotados, SIRESP de

€ ~ { y † ³’ Â? „ { €~ Â’ estradas excessivas, estĂĄdios abandonados e vazios, subsĂ­dios ‡€ ~ y€ ‹˜ interesse, rendas feudais dadas Ă EDP, etc. “A dĂ­vida cresce porque os trabalhadores pagam cada vez mais para o Estado Social e esse valor ĂŠ desviado das funçþes sociais do Estado para o pagamento de rendas privadas, entre elas os casos Ăłbvios das parcerias pĂşblico-privadas, do BPN, das contrataçþes externas nos hospitais-empresa.â€?, conclui Raquel Varela. Na realidade, a despesa de Portugal em benefĂ­cios sociais baixou de 33,1% do PIB em 2011, para 32,1% em 2012,

~ € ~ † ~ abaixo da mÊdia europeia que, pelo contrårio, subiu (36,5% em 2011; 36,8% em 2012). Para alÊm disso, um governo que antecipa o pagamento de cerca de 4.000 milhþes de euros

da dĂ­vida que a CGD assumiu para “salvarâ€? os accionistas das “imparidadesâ€? do BPN (vendido por 1% desse valor), inscrevendo essa amortização num Orçamento de Estado (2013) que corta no SNS e em salĂĄrios e subsĂ­dios de todos os fucionĂĄrios pĂşblicos (poupando um valor que pouco ultrapassa metade do que vai gastar com o banco), nĂŁo tem qualquer credibilidade moral para pregar a insustentabilidade do serviço pĂşblico de SaĂşde e do Estado Social. Dizer aos portugueses que terĂŁo de pagar mais impostos ou abdicar de serviços atĂŠ aqui prestados (ou pagĂĄ-los a privados) ĂŠ, pois, uma descarada aldrabice de quem, esmagando as famĂ­lias portuguesas com uma imparĂĄvel escalada de cortes salariais e impostos, utiliza sem vergonha o dinheiro dos contribuintes para proteger os interesses predadores de uma pequena elite que, de hĂĄ muito, mantĂŠm sequestrado o poder do Estado. É isso que ĂŠ insustentĂĄvel. É isso que tem de acabar.

Ă” " – & ­ ~ † ~ ~ y ~ por Francisco Ferreira para o semanĂĄrio “Expressoâ€? (Revista) de 24 de Nov. 2012. ** Raquel Varela - “O Estado ĂŠ totalmente sustentado por quem vive do seu salĂĄrioâ€?, jornal “PĂşblicoâ€?, 22 de Nov. 2012. *** Paulo Moreira – “Estado na SaĂşdeâ€?, jornal “PĂşblicoâ€? 25 de Nov. 2012


opiniĂŁo

Jaime Mendes CirurgiĂŁo pediatra aposentado

A revisĂŁo dos estatutos da Ordem dos MĂŠdicos (revisitada) Uma revisĂŁo de Estatutos ĂŠ um processo dinâmico que deve ser discutido em todas as secçþes distritais, com a participação activa do maior nĂşmero de mĂŠdicos possĂ­vel, com o objectivo de melhorar a sua redacção ďŹ nal e nĂŁo sair sĂł da mente de meia dĂşzia de iluminados. A Lei nÂş 2/2013, publicada recentemente, estabelece o regime jurĂ­dico de criação, organização e funcionamento das associaçþes { ~ † 30 dias apĂłs a sua publicação. Na Revista da Ordem dos MĂŠdicos, nas pĂĄginas 66 e 67 do ano 28, nÂş 130/2012, escrevi um artigo de opiniĂŁo sobre a revisĂŁo dos Estatutos, em que dava conta do trabalho realizado pela ComissĂŁo de RevisĂŁo de Estatutos, nomeada pelo Exmo. Sr. BastonĂĄrio. A ComissĂŁo, que foi nomeada em Junho de 2011, foi constituĂ­da por 15 elementos e reuniu semanalmente durante seis meses, consumindo mais de mil horas de trabalho Ă maioria dos seus membros. Terminou a sua tarefa em Janeiro de 2012. As decisĂľes foram sempre por consenso de todos os membros nunca tendo sido necessĂĄrio recorrer a uma votação, o que mostra uma unanimidade nas ideias mestras do futuro Estatuto, que sĂŁo a democraticidade e transparĂŞncia, com separação dos poderes executivo, disciplinar e Â?

A nossa proposta de revisĂŁo de Estatutos, que designamos por Proposta A, visto nĂŁo termos conhecimento, atĂŠ Ă data, de outra, foi entregue ao Exmo. Senhor BastonĂĄrio em Fevereiro de 2012. Nesta data, pedimos uma apreciação pelo gabinete jurĂ­dico da Ordem que nunca nos foi dada, desconhecendo se existe alguma. JĂĄ passou quase um ano! A Lei agora publicada difere muito pouco da anterior, 6/2008, que serviu de base ao nosso trabalho. Os membros da comissĂŁo estavam e estĂŁo disponĂ­veis para uma ampla discussĂŁo com todos os sĂłcios e organismos da Ordem. Melhor que os subscritores para tirarem dĂşvidas de um texto tĂŁo inĂłspito como uns Estatutos! No artigo publicado em Maio de 2012, na Revista da Ordem, disse: “Uma revisĂŁo de Estatutos ĂŠ um processo dinâmico que deve ser discutido em todas as secçþes distritais, com a participação activa do maior nĂşmero de mĂŠdicos possĂ­vel, com o objectivo Â? € ‹‘

e nĂŁo sair sĂł da mente de meia dĂşzia de iluminadosâ€?. Reitero o que escrevi. Todos os membros da comissĂŁo ~  Â? ~ projecto, conscientes que os actuais Estatutos, obsoletos e antidemocrĂĄticos, nĂŁo servem. Muita gente pensou que seria impossĂ­vel ter pronta uma revisĂŁo de Estatutos neste mandato, mas enganou-se! De que estamos Ă espera para iniciar a divulgação e discussĂŁo da - ou das - proposta de revisĂŁo dos Estatutos existentes? O atirar para o fundo de uma gaveta todo um trabalho voluntĂĄrio realizado por sĂłcios da Ordem ĂŠ um exemplo de desrespeito pela sua acção cĂ­vica a que o Conselho Nacional Executivo nĂŁo pode ser alheio.

NOTA: Para quem tiver interesse em conhecer a Proposta A, da revisĂŁo de Estatutos, e de ler o artigo publicado na Revista da Ordem, Ano 28, nÂş130/2012, pode solicitar a jaime.t.mendes@gmail.com

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opiniĂŁo

M. M. Camilo Sequeira Chefe de Serviço de Medicina Interna

A mentira do “dever de empobrecerâ€? O empobrecer como dever cĂ­vico ĂŠ um valor que nos estĂĄ a ser imposto de forma cuidadosamente (ardilosamente?) estruturada para que integre sem ser questionado o nosso patrimĂłnio psicolĂłgico. O objectivo parece ser o ďŹ carmos ricos num futuro incerto‌ Trata-se de uma medida polĂ­tica que tem subjacente todo um edifĂ­cio ideolĂłgico que acredita que quanto maior for a separação entre “quem temâ€? e “quem nĂŁo temâ€? melhor serĂĄ o mundo. Porque sendo poucos os que tĂŞm serĂŁo muitos os que, por nĂŁo terem, se ocuparĂŁo digladiandodigladiando

se por migalhas que, iludidos quanto ao seu valor individual, permitirĂŁo criar mais valor para os outros, poucos, que tĂŞm. Se a saĂşde, e apenas como exemplo, ĂŠ um mercado de negĂłcio interessante quantos mais quiserem saĂşde e tiverem de a pagar maior serĂĄ o lucro do negociador. E naturalmente que quem nĂŁo tiver como a pagar nĂŁo pode aspirar a ter saĂşde. É uma lĂłgica clara, precisa e inquestionĂĄvel. Se a saĂşde ĂŠ cara nĂŁo pode ser direito de todos. Esta verdade que hoje nos querem impor ĂŠ absolutamente falsa. DirĂŁo alguns que este comentĂĄrio nĂŁo ĂŠ de economista. No entanto lembro-lhes que Amartya Sen, economista nobelisado, quando estudou as fomes de Ă frica e a falta de solidariedade dos ricos em relação Ă s mesmas se interrogou sobre “como ĂŠ que estes ricos nĂŁo percebem que ajudar os carenciados {

Amartya Sen

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~ { € ~ ~ Â’ vamente o nĂşmero de consumidores e, por isso, os seus prĂłprios lucros?â€?. Sendo necessĂĄrio, apenas, dar tempo ao tempo e nĂŁo desejar o lucro para um tempo imediatamente prĂłximo. Claro que este economista fala, pelo menos neste estudo, de investimento com responsabilidade social, com cunho humanista. Mas de facto o meu comentĂĄrio ĂŠ feito como cidadĂŁo comum que pensa. E que por isso olha para o mundo que temos hoje, quer em termos de bem-estar social em termos abrangentes quer na vivĂŞncia do programa de saĂşde colectivo que conseguimos construir, e percebe que este ĂŠ o resultado de uma polĂ­tica em que investimos como necessitados e onde os ricos investiram como potenciais Â? † ~ Â’ ceiras. Entre outras. Porque com pelo menos igual importância sĂŁo as vantagens da w€› Â? Podemos com um razoĂĄvel


€ ~ ÂŒ € programa de desenvolvimento dos paĂ­ses do sul da Europa foi considerado como viĂĄvel (pelos investidores) por se ter reconhecido que, por nĂŁo sermos zona de grandes fomes colectivas, ĂŠramos potenciais geradores de lucro em tempo considerado como Ăştil. Quer por † ~ quer por perdermos a nossa autonomia. O que, para eles, o devia ser sem alternativa. Porque a dĂ­vida se foi acentuando com o investidor (mas de quem ĂŠ o dinheiro dele?) a nĂŁo se preocupar com isso mantendo sempre o apoio Ă sua persistĂŞncia e ao seu agravamento. AtĂŠ ao tempo em que decidiram por um lado que deverĂ­amos passar a ser tratados como os pobres de Ă frica e por outro que devĂ­amos ser auxiliados a atingir esse estatuto atravĂŠs de € ~ € ~ destinado apenas ao pagamento dos juros da tĂŁo promovida, tĂŁo desejada, tĂŁo bem preparada (por eles, quem duvida?) dĂ­vida. (Ser pobre nĂŁo ĂŠ um dever) Ou seja, percebemos agora que estes emprĂŠstimos (mas de quem ĂŠ o dinheiro emprestado?) nĂŁo sĂł nĂŁo se destinavam a criar e manter um estatuto de ~  que os recebiam como ainda, percebemos agora repito, nos confrontam abruptamente com a circunstância perversa de esse apoio ter sido dado com o objectivo exclusivo de gerar um acrĂŠscimo no rendimento dos investidores. As consequĂŞncias desta forma de existir sobre o sentimento de quem julga ter um direito e se passa a confrontar, de um dia para o outro, com a

perda do mesmo (que com toda a legitimidade associava a crescimento social em conjunto e que tinha como adquirido por ser progresso) deixam este investidor indiferente. Ele tem. Porque haviam outros de tambĂŠm ter? E atĂŠ ĂŠ capaz de ter a desfaçatez ~ { desenvolvimentista, promotor de felicidade e bem-estar, gerador de riqueza. Porque, diz ele e dizem os seus agentes, faz “girarâ€? o dinheiro. Como se porventura a eventual (eventual, repito) mĂĄ utilização do dinheiro que foi emprestado fosse resultado exclusivo da acção do utilizador. Como se o dono do dinheiro pudesse ser indiferente Ă sua aplicação por estar apenas interessado em, num tempo determinado, ir buscar o lucro que esse falso investimento lhe iria dar. SerĂĄ que estou a ser perverso? Ou serĂĄ que a perversidade ĂŠ o prĂłprio deste tipo de investidor? (NinguĂŠm me diz de quem ĂŠ o dinheiro que ele empresta. Ou deverĂĄ dizer-se “que ele

empestaâ€??). Neste momento preciso, a conclusĂŁo do cidadĂŁo comum que sou, em relação a este tipo de experiĂŞncia social que parte da Europa estĂĄ a viver, ĂŠ que, no mundo actual, a solidariedade nĂŁo faz parte dos modelos de gestĂŁo da “coisa pĂşblicaâ€? (e nĂŁo vale a pena dizer que sempre foi assim porque nĂłs ainda acreditamos que progredir si ~ † ™ melhor). Claro que esta conclusĂŁo nos faz compreender, com tristeza, o porquĂŞ da continuada exclusĂŁo de tanto mundo (a misĂŠria de muitas Ă frica, Ă sia, AmĂŠrica) do conceito de progresso em que a sociedade europeia e de tradição cultural europeia se tem construĂ­do. Mas faz mais: faz recear que esta exclusĂŁo se torne mais acentuada com integração nela de paĂ­ses cujas comunidades humanas sejam, quiçå, simplesmente latinas. Ou talvez porque, por terem um grande nĂşmero de imigrantes de ĂĄreas onde serse miserĂĄvel ĂŠ o estado natural, Jan/Fev | 2013 | 69


opiniĂŁo

a aceitarão passivamente. Estes deslocados atÊ poderão ajudar a comunidade do país de acolhimento a construir essa passividade e a integrarse naturalmente no mundo da misÊria. Para eles nada haveria de invulgar porque bem sabemos que mudar de terra não tem que ser sinónimo de mudar de condição social. - TambÊm esta interpretação Ê perversa. Mas, infelizmente, jå pareceu mais improvåvel.

 ÂŒ  ou mal. O que interessa ĂŠ o que conseguimos fazer e que isso ĂŠ exemplar). Mas no entanto, na saĂşde, o mercado privado estĂĄ aparentemente prĂłspero o que (ignorando a parte do dinheiro pĂşblico que o mantĂŠm) demonstra que hĂĄ um espaço de negĂłcio ~ € ‡€ ~ investimento. EntĂŁo porque nĂŁo se aplica o mesmo raciocĂ­nio ao serviço

ser a “bengalaâ€? do privado a que o cidadĂŁo tem de recorrer quando “deixou de poder pagar ou de ter alguĂŠm a pagar por eleâ€?? Parece-me Ăłbvio que se o serviço pĂşblico pode ser essa “bengalaâ€? entĂŁo ĂŠ porque ainda tem espaço de competĂŞncia e de solidariedade que nĂŁo existe (nĂŁo pode existir?) no mundo do lucro como objectivo funcional. E digamos bem alto que sĂŁo estas competĂŞncia e solidariedade que (ainda?) associamos a progresso,

Porque assistimos a um continuado destruir dos benefĂ­cios sociais, como por exemplo a saĂşde que inventĂĄmos, com o pretexto de nĂŁo ser possĂ­vel manter o seu custo (e nĂŁo vem

pĂşblico? Mas principalmente qual ĂŠ a vantagem da sua destruição? Ainda mais principalmente: porque serĂĄ que o serviço pĂşblico, o tal que nĂŁo ‡€ ~ † { †

democracia, civilidade, reconhecimento do outro como outro igual a nĂłs mesmos (algo parecido com isto jĂĄ foi escrito hĂĄ 5 sĂŠculos por Montaigne. SerĂĄ que estamos a recuar assim tanto?)

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(Ser pobre nĂŁo ĂŠ uma obrigação) Todos nĂłs, sem qualquer excepção, estamos obrigados a interrogarmo-nos sobre se ĂŠ progressivo um mundo do qual se pretende excluir a solidariedade, a partilha, a entreajuda. Um mundo no qual se pretende impor a lei do mais forte (leia-se “do mais ricoâ€?), o princĂ­pio da individualidade egoĂ­sta que olha o seu interesse como motor do existir. Contra todos os projectos de crescimento conjunto que ofereçam ao maior nĂşmero de pessoas as vantagens do estar-se vivo. E pretender que quem procede deste modo estĂĄ a defender o possĂ­vel da democracia e o bom da sociedade que conseguimos atingir ĂŠ uma mentira. Porque o empobrecimento ĂŠ uma inexorĂĄvel e cada vez maior aproximação, integração, nos que nada tĂŞm e que vivem bem diante dos nossos olhos. Alguns deles muito prĂłximos. E o potencial “enriquecimentoâ€? que nos querem convencer que este “empobrecimentoâ€? pode ajudar a construir (???) ĂŠ o dos ricos. Que tambĂŠm existem bem diante dos nossos olhos no meio da misĂŠria dos “sem nadaâ€?. Esta ĂŠ uma profundĂ­ssima mentira. Que deve ser denunciada com um grito mais profundo que o de Munch. (Ser pobre nĂŁo ĂŠ um direito) JĂĄ ouço alguns perguntarem: mas qual ĂŠ a alternativa? A resposta ĂŠ fĂĄcil se a quisermos encontrar. Se o que alcançåmos ĂŠ bom para muitos e muito melhor do que o que tĂ­nhamos

~ { € € permitiu aqui chegar nĂŁo pode ser destruĂ­do. E se houve dinheiro para investir nesse crescimento social (mas vindo de quem?) ĂŠ Ăłbvio que quem agora pretende o lucro respectivo nĂŁo deixou de o ter. É Ăłbvio que continua a ter dinheiro para investir. E fĂĄ-lo-Ă ou neste propĂłsito de progresso que € €~ ‘ { de recuo social, de atraso civilizacional, de ir contra o outro, se o entender como mais lucrativo. Porque o que estĂĄ em causa ĂŠ o poder do poder representativo. E este existe para promover o crescimento colectivo. Governar ĂŠ criar bem para todos. Pelo que nos cabe impedir que o investidor possa utilizar no seu exclusivo interesse o produto que investe. Cabe-nos o dever de sĂł lhe reconhecer direito a lucro se investir criando “bemâ€?. E chegaremos lĂĄ pela renegociação dos termos em que se paga a dĂ­vida pĂşblica. Impondo-a em nome do poder representativo a quem se julga com direito a esse pagamento; ou atĂŠ mesmo assumindo os custos da sua anulação começando tudo de novo com regras que impeçam o seu crescimento descontrolado; defendendo a construção de um sistema de controlo colectivo do que ĂŠ o investimento social um pouco por todo o lado; promovendo um sistemĂĄtico alargamento de direitos a tantos mais cidadĂŁos quanto possĂ­vel; construindo modelos de crescimento abrangentes que integrem no trabalho

o trabalhador. Mesmo que com sacrifĂ­cio temporĂĄrio da tecnologia; reformulando as normas existenciais valorizando o relativo e impondo a partilha como mĂŠrito e a sua aceitação como valorização ½ { pratiquemos medidas que ainda que integradas no espĂ­rito do liberalismo e do capitalismo evitem ao investidor o risco de ser confrontado com a violĂŞncia que, mais cedo ou mais tarde, o deserdado “que jĂĄ teve algo de seuâ€? começarĂĄ a promover. Porque esta violĂŞncia nem o promotor da desigualdade a deseja. Porque sabe estar obrigado a temĂŞ-la. Porque sabe ser a Ăşnica expressĂŁo popular que nĂŁo controla e que ĂŠ ubĂ­qua na escolha das suas vĂ­timas. É necessĂĄrio, absolutamente necessĂĄrio, ter bem presente que o dinheiro do rico, do investidor desconhecido (ou talvez nĂŁo depois de se saber de quem ĂŠ, de facto, o dinheiro que ĂŠ emprestado aos Estados) ĂŠ altamente improvĂĄvel que nĂŁo resulte do trabalho de alguĂŠm. E quem trabalha sĂŁo os homens. Os homens que trabalham. Que continuam a querer trabalhar e se mantĂŞm de mĂŁos dadas esperando por um pouco do muito que a sociedade produz. E bem sabemos o quanto desse produto ĂŠ destruĂ­do para manter preços. Como se fosse o preço do produto que mata a fome ao faminto.

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opiniĂŁo

Jorge A. Paulino Pereira MĂŠdico

Este paĂ­s nĂŁo ĂŠ para velhos Este paĂ­s nĂŁo ĂŠ para velhos. Mas se o for, entĂŁo nĂŁo foi este Portugal que eu quis para mim e para os meus ďŹ lhos‌ Ao chegar um destes dias ao meu local de trabalho, numa ĂĄrea restrita ao pessoal hospitalar, deparei com um monte de prospectos, iguais aos que apresento, recrutando jovens mĂŠdicos para iniciarem carreira no estrangeiro, no Reino Unido e na Irlanda. NĂŁo se trata dum caso pontual, mas dum processo sistematizado, jĂĄ conhecido e amplamente divulgado no meio hospitalar. Ă€ primeira vista, nĂŁo sendo uma situação inĂŠdita, pode † { { € } € jovem (e ainda ambicioso) mĂŠdico, jĂĄ evidenciado pelas suas qualidades e determinação. Poderia atĂŠ tornar-se numa situação que deixaria orgulhosos ~ mĂŠdico no nosso paĂ­s, em que eu tambĂŠm reivindico uma posição por direito prĂłprio. Invertendo uma lĂłgica em que esbracejamos para tentar alcançar o progresso que nos prometem e que sempre nos escapa, ĂŠ-nos comunicado, por meias palavras, que este paĂ­s nĂŁo ĂŠ para novos: sĂł nos resta a resignação.

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Mas o que, na minha perspectiva, ĂŠ chocante e muito preocupante, ĂŠ a indiferença e o total alheamento em relação a esta realidade por parte dos responsĂĄveis do destino colectivo de todos nĂłs. A triste conclusĂŁo que podemos tirar ĂŠ que Portugal se tornou num paĂ­s sem rĂŠstia de esperança para quem quiser decidir o seu futuro com base na formação } € ~ tantos sacrifĂ­cios.

Esta hemorragia descontrolada a que, sem dúvida, iremos assistir em breve, representa a total negação de investimento no futuro, o desperdício da nossa energia vital, neste caso na årea da Saúde, mas que se vai repetindo noutras åreas fundamentais. Quem desperdiça assim, levianamente, os seus recursos humanos (pagos a peso de ouro por todos nós contribuintes, numa factura que ronda os 6000 euros anuais por


aluno de Medicina), num gritante silĂŞncio em que nada mais hĂĄ a dizer aos jovens licenciados alĂŠm do encorajamento Ă emigração, transportarĂĄ na sua consciĂŞncia, o colapso dum paĂ­s pelo qual ainda luto com todas as minhas forças. Nesse paĂ­s, deixado Ă s geraçþes cada vez mais desesperadas, sem a energia da renovação e Ă mercĂŞ de vĂĄrios interesses que defendem tudo menos o colectivo, serĂĄ cada vez mais difĂ­cil respeitar e perpetuar as convicçþes e os valores que os nossos pais nos transmitiram. Se nos querem demonstrar que este paĂ­s nĂŁo ĂŠ para novos, hĂĄ que inverter a resignação subjacente a esta perspectiva que nos envergonha a todos, porque, bem pelo contrĂĄrio, este paĂ­s nĂŁo ĂŠ para velhos. A situação a que chegĂĄmos ĂŠ grave demais para continuarmos a ter lideranças velhas, com interesses velhos, que recuperem falsas soluçþes velhas, que nĂŁo se indignem com estes sinais de alarme, que pensem “...que remĂŠdio...â€? em vez de “tem de haver remĂŠdio!â€? ou que, com uma indiferença velha, nĂŁo se sintam colectivamente mais pobres e ainda mais velhos, quando assistem a uma debandada de jovens licenciados, semana apĂłs semana, no velho aeroporto da Portela. Podemos ter a nossa HistĂłria, a nossa generosidade ou o nosso espĂ­rito empreendedor, mas se nĂŁo tivermos a quem passar o testemunho, o Serviço Nacional de SaĂşde estarĂĄ ferido de morte e os direitos dos nossos doentes nĂŁo serĂŁo mais que uma memĂłria. EntĂŁo, irĂĄ imperar a lei da oferta e da procura, com geraçþes de ¢ }  reforma tranquila, “radiantesâ€? com o futuro “risonhoâ€? que nos aguarda a partir dos 65

{ ~ € ~ €~€ hospitalar baseada em quadros restritos, que encolham os ombros perante honorårios residuais, numa sociedade cada vez mais envelhecida, com uma taxa de natalidade cada vez menor, onde a Geriatria substituirå a Pediatria, sempre governados por velhos conhecidos, pertencentes a velhos partidos, com as velhas

soluçþes de sempre, e em que a Ăşnica rĂŠstia de remota esperança ĂŠ a miragem dum emprego em Angola... ou um talĂŁo do euromilhĂľes permanentemente no porta moedas. Este paĂ­s nĂŁo ĂŠ para velhos. Mas se o for, entĂŁo nĂŁo foi este Portugal que eu quis para mim e € Â? Ă–

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opiniĂŁo

Luis Filipe Silva SecretĂĄrio Regional do SIM Centro

Um novo regime de trabalho mĂŠdico... Ao longo da HistĂłria, a organização do trabalho mĂŠdico tem evoluĂ­do para patamares de complexidade crescente exigindo legislação diferenciada que acolha e regulamente as particularidades desta proďŹ ssĂŁo. No nosso paĂ­s, desde o mĂŠdico das MisericĂłrdias dos anos 60 atĂŠ ao mĂŠdico do SNS regulado pelo 73/90, houve uma evolução enorme na estrutura das vĂĄrias vertentes de organização da ‘ ‹‘

{ € ‹‘ mĂŠdica, nas ĂĄreas de exercĂ­cio { y ‹‘ mĂŠdica, na regulação das formas de exercĂ­cio da actividade, nas grelhas de remuneração. Para possuir uma equipa com capacidade tĂŠcnica e competĂŞncia legislativa para discutir e regular estas matĂŠrias, tĂŞm os mĂŠdicos mantido um conjunto de organizaçþes internas (constituĂ­das por mĂŠdicos voluntĂĄrios e gabinetes jurĂ­dicos que se vĂŁo especializando neste objecto) que constituem um patrimĂłnio inalienĂĄvel e que deve ser preservado. De facto, a iniciativa de promover a adaptação, Ă ~ € ~ ‘ { as sucessivas reformas da legislação geral do trabalho (CĂłdigo do Trabalho) tem partido sempre das organizaçþes mĂŠdicas, nomeadamente dos

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Sindicatos MĂŠdicos. ApĂłs a Ăşltima reforma do CĂłdigo do Trabalho, com a revogação de legislação anterior referente â€œĂ s carreiras especiaisâ€?, os Sindicatos mĂŠdicos iniciaram o processo de negociação colectiva que levou Ă publicação em 23 de Setembro de 2009 do Acordo Colectivo de Trabalho (ACT) que contempla “o nĂşcleo essencial das normas que regulam o exercĂ­cio de funçþes mĂŠdicasâ€?. Optaram nessa data as associaçþes sindicais por garantir a aprovação legislativa de um acordo incompleto, mas que face Ă agitação politica que se † Â? † ­ † ­ alcançava objectivos importantes. Faltava a atribuição dos nĂ­veis remuneratĂłrios correspondentes Ă s posiçþes da carreira mĂŠdica. €  ~ ~ Â’ ceiro instĂĄvel, com parceiros governamentais mal preparados e acossados por condiçþes internas e externas que todos conhecemos, foi difĂ­cil nos anos seguintes, Ă s comissĂľes negociadoras, estabelecer con-sensos viĂĄveis. Inicialmente foi necessĂĄrio conquistar a atenção da tutela:

uma ameaça de greve Ă s horas extraordinĂĄrias em Dezembro de 2011 obteve a promessa do MinistĂŠrio da Saude (MS) de que se dispunha a negociar. O primeiro semestre de 2012 foi um perĂ­odo difĂ­cil em que a seriedade das negociaçþes foi posta em causa pela aparente apatia dos representantes do MS. Culminou a 11 e 12 de Julho com a maior greve dos mĂŠdicos de sempre em Portugal! { „  Â€ € negociaçþes com as associaçþes sindicais mĂŠdicas eram para “levar a sĂŠrioâ€?. Durante o VerĂŁo de 2012 houve um trabalho ĂĄrduo (com dezenas de reuniĂľes de preparação, quer entre associaçþes da classe quer depois com o MS), delicado (pelo ~ ‰ ‹‘ que atravessamos), complexo (pelo enredo legislativo que ĂŠ necessĂĄrio conhecer para evitar “surpresasâ€?) que levou Ă assinatura de um difĂ­cil acordo de entendimento negocial em 14 de Outubro de 2012. NĂŁo se tratou apenas da actualização duma grelha salarial


degradada por mais de 10 anos de marasmo e de decisĂľes desarticuladas, mas acima de tudo tratou-se de evitar a destruição de uma Carreira que se dirigia para a anarquia mercantil em termos de contratação, com a chegada recente dos contratos “na praça pĂşblicaâ€? pelo mais barato! Com a aproximação do excesso ­ €› de uma polĂ­tica de acesso Ă s Escolas MĂŠdicas desajustada e atĂŠ irresponsĂĄvel – o excesso de y ~ { ~ ‹‘ de gastos pĂşblicos, os reajustes administrativos das unidades prestadoras de saĂşde, e a gula dos grupos econĂłmicos nos lucros derivados dos cuidados mĂŠdicos, tudo se encaminhava para a destruição dos princĂ­pios ancestrais do SNS e a transferĂŞncia dos montantes monetĂĄrios hoje recebidos em Horas ExtraordinĂĄrias e em Contratos Individuais de Trabalho mais favorĂĄveis aos mĂŠdicos, para as mais-valias das referidas empresas fornecedoras de trabalho mĂŠdico a preços “de mercadoâ€?. A previsĂŁo, a curto prazo, seria uma situação semelhante para todos os mĂŠdicos: a negociar o seu contrato de trabalho directamente com a entidade empregadora. Os “mais novosâ€? obrigados, os “mais velhosâ€? indemnizados: regras da economia de mercado! Esta negociação nĂŁo tratou, portanto, da defesa de interesses instituĂ­dos, nem da “recauchutagemâ€? de regimes em vigor, mas da criação dum novo regime de trabalho para os mĂŠdicos que o queiram escolher preservando, naturalmente, o ~ ‹‘ que nĂŁo pretendam mudar. Com este novo Regime de trabalho:

- HĂĄ uma integração da remuneração dos MĂŠdicos na Tabela RemuneratĂłria Ăšnica da Função PĂşblica, tendo como valor de entrada, em Assistente o Ă­ndice 45 (2.746,24 euros), terminando no Ă­ndice 90 (5.063,38 euros) para a Ăşltima posição de Assistente Graduado SĂŠnior. Comparando com a anterior grelha das 35h e como exemplo, para as primeiras posiçþes remuneratĂłrias de cada categoria, o aumento de 14,2% do horĂĄrio (passar das 35 para as 40), representa um aumento de 48% na remuneração de Assistente, 43,2% na de Assistente Graduado e 49,1% na de Assistente Graduado SĂŠnior. - A Transição para o novo modelo serĂĄ imediata para todos os novos contratos a partir de 2013 e ~ % € € † inferiores Ă primeira posição remuneratĂłria respectiva. Em 2013 e 2014, a transição serĂĄ em função da necessidade para o bom funcionamento do serviço e tendo em conta as disponibilidades orçamentais, sendo a situação acompanhada pela comissĂŁo tripartida. A partir de Janeiro de 2015, para todos os que o requeiram, 120 dias apĂłs esse pedido. - O HorĂĄrio de trabalho no novo regime de trabalho corresponde a 40 horas de trabalho semanal, com prestação de atĂŠ 18 horas de trabalho em serviços de urgĂŞncia. NĂŁo pode ser exigida a prestação diĂĄria de mais de 12 horas de urgĂŞncia, nem em mais de duas jornadas de trabalho em cada semana. A aferição do total de horas realizadas em urgĂŞncia ĂŠ feita num perĂ­odo de referĂŞncia de 8 semanas, sendo pago como trabalho extraordinĂĄrio aquele que exceda as 144 horas do perĂ­odo normal de trabalho, relativamente ao referido perĂ­odo

de aferição. Num perĂ­odo de referĂŞncia de 6 meses, os mĂŠdicos nĂŁo podem prestar, em mĂŠdia, mais de 48h por semana. Em relação Ă s Horas extraordinĂĄrias/UrgĂŞncia haverĂĄ obrigatoriedade de prestar atĂŠ 6 horas de trabalho extraordinĂĄrio, se necessĂĄrio. Durante 2013 e 2014, a majoração da remuneração das Horas Extra prevista no DL 62/79 serĂĄ mantida em 50% (de notar que no que respeita aos restantes trabalhadores da Função Publica, as Horas ExtraordinĂĄrias serĂŁo pagas com majoração de 25%). Para quem se mantenha em 35h, de forma semelhante ao que acontecia com o DL 62/79, serĂĄ criado um regime de pagamento melhorado das horas extraordinĂĄrias, passando a partir da 5ÂŞ hora a ser o previsto na nova grelha salarial para as 40h. - Manutenção do atual regime jurĂ­dico de dispensa do trabalho noturno (acima dos 50 anos de idade) e do serviço de urgĂŞncia (acima dos 55 anos). Contudo, os mĂŠdicos que transitarem para o novo modelo prescindem dessa dispensa durante 2 anos. - O recurso a empresas de prestaçþes de serviços mĂŠdicos deve ter lugar apenas em situaçþes de estrita necessidade e devidamente fundamentadas, com acompanhamento da comissĂŁo tripartida. - Nos CIT manutenção do valor acordado de horas de UrgĂŞncia, ainda que superior ao previsto no Acordo. - Manutenção do descanso compensatĂłrio pĂłs-serviço de urgĂŞncia. - Em 2013 serĂĄ aplicado na Ă­ntegra, e pela primeira vez, o sistema de avaliação anual do desempenho da carreira mĂŠdica Ăşnica – fundamental para a progressĂŁo na grelha salarial. Jan/Fev | 2013 | 75


opiniĂŁo

- Na Medicina Geral e Familiar a lista de utentes de cada mÊdico passa a ter uma dimensão måxima 1900 utentes, correspondentes a 2358 unidades ponderadas. As listas de utentes serão organizadas, com o envolvimento direto dos mÊdicos de MGF, por forma a adequå-los às necessidades reais do país. - Quanto à Mobilidade, aplica-se o regime geral da Administração Pública, de atÊ um måximo de 60km. Outro assunto importante, em degradação crescente nas recentes contrataçþes de trabalho mÊdico, que foi factor marcante na negociação, foi a reintrodução de critÊrios clínicos de mÊrito na progressão da carreira e na contratação pública de mÊdicos: - Abertura de vagas para

ingresso de cerca de 2.000 recÊmespecialistas em 2013/2014. - Procedimentos concursais para promoção para a categoria de Assistente Graduado SÊnior, de acordo com o levantamento das necessidades. - Abertura de concursos para Consultor (jå a decorrer), a ocorrer com regularidade, evitando acumulação de mÊdicos em condiçþes de concorrer. - Manutenção da passagem automåtica dos Consultores a Assistentes Graduados. No início de 2015 deve ser aberta uma mesa negocial, com vista a avaliar e renegociar o Acordo. Este foi o resultado do trabalho de uma equipa que, com conquistas e cedências como Ê próprio de qualquer processo negocial, contando sempre com

o apoio e a colaboração (com propostas e criticas mais ou menos construtivas) de imensos colegas que perceberam desde o inĂ­cio a dimensĂŁo do propĂłsito, se bateu para obter um enunciado legislativo em que os MĂŠdicos tĂŞm uma Carreira regulamentada em defesa da qualidade do exercĂ­cio da Medicina, do SNS e dos utentes. No futuro todos contamos com a determinação e empenho dos MĂŠdicos e das suas Associaçþes – ~ ~ Â’ vamente na protecção e melhoria Âœ { apoiando as suas organizaçþes y objectivos que forem sendo alcançados.

Livros

Protocolos em Medicina Interna Protocolos em Medicina Interna ĂŠ o tĂ­tulo do projeto editorial da autoria e coordenação de LuĂ­s Campos, mĂŠdico internista que dirige, atualmente, o Serviço de Medicina IV do Hospital de S. Francisco Xavier (CHLO) e preside ao Conselho Nacional para a Qualidade na SaĂşde. Este manual pretende ajudar o mĂŠdico a tomar decisĂľes quando estĂĄ perante o doente e constitui tambĂŠm uma base de apoio ~ ~ €~ € y ÂŒ ~ € saĂşde. O livro apresenta os protocolos referentes Ă s situaçþes mais comuns com que os mĂŠdicos se deparam num serviço de Medicina Interna, incluindo tambĂŠm escalas de avaliação clĂ­nica, psicolĂłgica, social e nutricional, alĂŠm de descrever as principais tĂŠcnicas realizadas. Estes protocolos sĂŁo o resultado do trabalho desenvolvido por uma € € ~ € €~ ÂŒ † ‹ „ • CHLO, e que, atravĂŠs da sua compilação, os torna agora acessĂ­veis a ~€ ~ { ~ ~ ¢ € ~  Â? nos serviços de Medicina. Segundo LuĂ­s Campos, “o nosso objetivo, enquanto mĂŠdicos, ĂŠ pensar sempre nos doentes e na nossa obrigação ĂŠtica de tudo fazermos para lhes prestar os melhores cuidados possĂ­veis, com a consciĂŞncia de que a qualidade reduz custos e a mĂĄ prĂĄtica sai muito caraâ€?.

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opiniĂŁo

Heloísa G. Santos Geneticista mÊdica e pediatra. Anterior Diretora do Serviço de GenÊtica do Hospital de S. Maria. Anterior Professor Convidado de GenÊtica da Faculdade de Medicina de Lisboa. Presidente das Comissþes de BioÊtica da Sociedade Portuguesa de Pediatria, da Sociedade Portuguesa de GenÊtica Humana e INSA.

Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) E porque nĂŁo criar atendimento privado nos hospitais pĂşblicos? E porque nĂŁo trabalharmos para uma Ăşnica entidade patronal? Tenho, como muitos dos que viram nascer e ajudaram a crescer o SNS, seguido com apreensĂŁo muitas das preocupantes sugestĂľes, ditas indispensĂĄveis, para a sobrevivĂŞncia do mesmo. „€ ~ € defensores da manutenção do serviço pĂşblico, proclamando € ‹˜ € Â’ nizam pretendem manter a sua sustentabilidade, servem vĂĄrios interesses e as receitas preconizadas irĂŁo, isso sim, reduzir a qualidade dos serviços prestados e ampliar os lucros do setor privado ~ † ~ com dinheiros pĂşblicos. Os mĂşltiplos representantes das apelidadas “clientelas de cos~€ —  necessĂĄria a redução de gastos do Estado, nomeadamente na ĂĄrea da saĂşde, estĂŁo a receber crescentes pagamentos Ă custa do Â? ~ ~ ¢ Â? { ao SNS, em nome do desperdĂ­cio e da contenção de despesas, com o declarado objetivo da indispensĂĄvel poupança num paĂ­s em crise, vĂŁo – lhe sendo alteradas, sem um sensato acautelamento, nomeadamente consequĂŞncias a curto e mĂŠdio prazo no nĂ­vel da saĂşde das populaçþes, condiçþes de apoio aos doentes. Infelizmente,

muita dessa poupança vai-se perdendo em lucros para alguns grupos privados oportunamente introduzidos na engrenagem. E, dentro de poucos anos, se nada ÂŒ { € Â? { e do qual nos orgulhamos, vai dar lugar a um serviço pĂşblico de saĂşde frequentado apenas pelos desprotegidos da sorte e com Â?  ~ e, por isso, rejeitados pelas, no futuro mais exigentes, instituiçþes privadas. Acredito que o setor da saĂşde estatal, que, ainda hoje, tem mais elevada qualidade que os restantes serviços pĂşblicos nacionais e que ~ ‰ ~ { incluindo gestores, pode e deve reagir, com urgĂŞncia, a esta situação de refĂŠm de outros interesses, contrariando, enquanto pode, esta invasĂŁo do exterior. Tentemos virar o bico ao prego‌ Uma medida que me parece muito adequada ao momento que vivemos serĂĄ a da criação e desenvolvimento, nos nossos principais hospitais, de um setor privado, explorado pela respetiva administração. Tal como acontece hĂĄ muitos anos nos hospitais pĂşblicos ingleses e de outros paĂ­ses europeus. Os lucros desta iniciativa, se esta for corretamente gerida, poderĂŁo fornecer algum

~ ~

~ † Â? qualidade a permanecerem no SNS. Para fundamentar a minha proposta, vou começar por analisar com rigor a frase feita, e crescentemente aceite, de que os mais ricos devem passar a pagar mais quando utilizam o SNS, para que este sobreviva e possa continuar a ser universal. Em primeiro lugar, “os mais ricosâ€?- ou, melhor, os menos pobres – pagam para a manutenção do SNS e restantes despesas de Estado, atravĂŠs dos seus impostos. Sem o dinheiro dos impostos, em especial do IRS, daqueles que, em teoria, usufruem de maior rendimento, o serviço nacional de saĂşde nĂŁo poderia sequer existir. É defendido, como um conceito bĂĄsico entre economistas, que o nivelamento da riqueza entre os cidadĂŁos deverĂĄ ser realizado atravĂŠs do respetivo montante dos impostos que lhes sĂŁo cobrados. Assim, ~€ y ~ † € muitos dos nossos economistas, e comentadores encartados, advoguem um pagamento escalonado na utilização do SNS, revelando uma amnĂŠsia lacunar em relação ao conceito. E, digo, lacunar, porque nĂŁo me lembro de os

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opiniĂŁo

ter ouvido apresentar idĂŞntica proposta em relação a outros serviços pĂşblicos, alguns tambĂŠm  ~ ~ ~ { transportes pĂşblicos, a educação, o pagamento de documentos obtidos nas repartiçþes pĂşblicas ou os gastos com a justiça. Admitindo o justo alargamento deste princĂ­pio defendido para a saĂşde, em todos os referidos serviços estatais, passaria a ser igualmente indispensĂĄvel calcular o custo do bilhete, ou o valor do pagamento de despesas, de acordo com o escalĂŁo do IRS‌ Esta medida ĂŠ injusta e iniqua. Injusta porque, ao contrĂĄrio de alguns exemplos que citei, serĂĄ exercida sobre pessoas que, sem culpa ou opção, se encontram doentes e fragilizadas. E ĂŠ iniqua porque estes cidadĂŁos terĂŁo de paradoxalmente pagar mais, em presença dos restantes

‘ { € { se duma multa se tratasse! Estes utentes, jĂĄ anteriormente contribuĂ­ram com o que lhes foi exigido por lei para terem direito aos seus tratamentos, e para garantirem os daqueles cidadĂŁos que nĂŁo pagam ou pagam menos im-postos, num serviço universal e tendencialmente gratuito que lhe ĂŠ, tal como aos restantes, com menos rendimentos, garantido constitucionalmente! PoderĂŁo alguns, voluntariamente, como mecenas, decidir oferecer uma dĂĄdiva em dinheiro, ou outra, a um hospital ou serviço, se y € ~ ~ pretenderem, como ĂŠ hĂĄbito nos EUA, mas eticamente nĂŁo podem ser discriminados negativamente. Claro que concordo com taxas moderadoras, no verdadeiro sentido da palavra, num paĂ­s em que as pessoas, infelizmente, ainda nĂŁo apresentam um nĂ­vel mĂŠdio de educação e cidadania, 78 | Jan/Fev | 2013

que as impeça, conscientemente, de abusar levianamente dos seus direitos e que nĂŁo manifestam qualquer preocupação pelas suas nefastas consequĂŞncias. Mas, inclusive estas taxas, que foram criadas para moderar, ou seja, evitar abusos, jĂĄ estĂŁo hoje a ser utilizadas de forma menos transparente, nomeadamente penalizando os internamentos, uma pĂŠssima decisĂŁo, incompreensivelmente iniciada pelo ministro Correia de Campos. { { ~ w ~ hoje, em tempo de crise, sobre o alargamento de algumas ‹˜ Â? ‰ { ~ perĂ­odo difĂ­cil, as crianças (OMS = atĂŠ aos 18 anos) deveriam passar  Â‹Â‘ ~ ‰ moderadora nĂŁo apenas atĂŠ aos 12 anos mas atĂŠ Ă maioridade. Os jovens dos 12 aos 18 anos, que tambĂŠm vivem com os pais, tĂŞm esse direito por ainda serem crianças e, como tal, igualmente dependentes de maior proteção do Estado. Muitos de nĂłs, mĂŠdicos, tivemos o privilĂŠgio, menos graças ao estado empregador e mais a fundaçþes particulares e, ainda, ao apoio de laboratĂłrios farmacĂŞuticos, de frequentar serviços estrangeiros em estĂĄgios ou visitas de estudo. Eu nĂŁo fui exceção e posso acrescentar, no que me diz pessoalmente respeito, tambĂŠm, frequentemente, Ă minha prĂłpria custa. Infelizmente, muitos gestores hospitalares e tĂŠcnicos com funçþes polĂ­ticas na saĂşde, nĂŁo tiveram este tipo de experiĂŞncia e nĂŁo analisam as caracterĂ­sticas dos serviços pĂşblicos de saĂşde de outros paĂ­ses da europa, salvo em assuntos estritamente despesas comparadas. E, por isso, sem conhecimento de

~ ~ † { ~ raciocinam em cĂ­rculo tentando ~ € ~ y ‌ para deixar tudo na mesma por dentro! E, infelizmente, atĂŠ agora, sĂł elevaram as exigĂŞncias { €Œ ~  criaram novas regras e parcerias Âœ ~‘ que se revelam muitas vezes, como vamos sabendo, ruinosas para a entidade pĂşblica. E, nem sequer lhes ocorre comparar o SNS com outros sistemas semelhantes de outros paĂ­ses e substituir alguns aspetos menos favorĂĄveis ~€ €› Â? { racionalizar em vez de racionar‌ Ora bem, nesses estĂĄgios no ~ † € € { muitos hospitais que frequentei do SNS inglĂŞs (Londres, Manchester, Oxford, Cambridge) e, tambĂŠm, em hospitais pĂşblicos franceses (Paris, Marselha, Lyon) existe atendimento privado, gerido pelas respetivas administraçþes estatais e realizado pelos diferenciados. Os clientes escolhem o mĂŠdico, o circuito ĂŠ diferente desde inĂ­cio, as salas de atendimento podem, ou nĂŁo, ser as mesmas, por vezes utilizadas com horĂĄrio distinto, os aspetos burocrĂĄticos sĂŁo semelhantes aos dos serviços privados de outros locais e o pagamento ĂŠ feito de y ‹‘ com qualquer apoio estatal mas apenas baseado em rendimentos prĂłprios ou seguros de saĂşde. Estes serviços incluem o regime ambulatĂłrio mas tambĂŠm de internamento e realização de exames complementares. E tĂŞm a colaboração do restante pessoal tĂŠcnico e de enfermagem. Apenas os administrativos sĂŁo prĂłprios. Trazem rendimento Â? ~


que distribuem pelos mĂŠdicos, enfermeiras, tĂŠcnicos envolvidos diretamente nesta atividade e, ainda, rentabilizam material e instalaçþes. Para o hospital, a realização da medicina privada no mesmo local garante-lhe a manutenção dos tĂŠcnicos, habitualmente os melhores, por serem melhor remunerados, atravĂŠs do pagamento direto e imediato que ĂŠ recebido dos utilizadores privados. No referente aos mĂŠdicos, e provavelmente outros { € remuneratĂłrio seja um pouco menos favorĂĄvel, as condiçþes de trabalho em serviços pĂşblicos sĂŁo mais atraentes que as de trabalho em instituiçþes privadas e permitem utilizar melhor o tempo para a formação e investigação, nomeadamente clĂ­nica, e, ainda, o desenvolvimento da carreira docente e investigação. E, tambĂŠm, pela existĂŞncia de serviços com condiçþes Ă­mpares para o desenvolvimento de trabalho em equipa. A permanĂŞncia dos melhores Â? ~ € condição indispensĂĄvel para impedir que se crie uma medicina para as elites nos hospitais privados, que poderĂŁo pagar ordenados mais elevados, e uma medicina para os pobres, com ~ ~ de menor qualidade nos hospitais pĂşblicos do SNS. A discriminação negativa em relação Ă s pessoas com mais rendimentos, que se estĂĄ a propor para os hospitais do SNS, em vez € ~ ~ { sĂł irĂĄ aumentar o nĂşmero de utilizadores dos serviços privados fora dos hospitais pĂşblicos. Estou jĂĄ a imaginar que, os mais incrĂŠdulos, irĂŁo contraargumentar com a crise e com

o fraco poder econĂłmico dos ~€ € € esta proposta de setor privado nos hospitais nem sequer serĂĄ rentĂĄvel. Responderei que hĂĄ um potencial de clientes ricos de fora do paĂ­s que teriam de ser conquistados. Como os Africanos dos nossos ex-territĂłrios coloniais que tĂŞm atualmente uma relação de proximidade muito grande connosco e nos visitam constantemente. TambĂŠm, clientes europeus ou de outros paĂ­ses que, tendo conhecimento do nĂ­vel elevado atingido pela medicina portuguesa, poderiam, apĂłs devidamente aliciados, preferir, por razĂľes de privacidade (por exemplo, intervençþes de natureza estĂŠtica), ou de custo (se os valores pagos forem inferiores Ă mĂŠdia europeia), iniciar a prĂĄtica do chamado “ turismo de saĂşdeâ€? e deslocarem-se a Portugal. Os ingleses tĂŞm estas consultas do National Health Service repletas de estrangeiros e sabem muito bem aproveitar estes nichos de mercado. Bem assim como alguns paĂ­ses emergentes, como a India e o Brasil. Bom, irĂŁo comentar os mais cĂŠticos, qual serĂĄ a vantagem desta oferta em relação aos serviços privados que por aĂ­ pululam? Acredito que nos hospitais pĂşblicos se encontram ainda muito bons ­ ‘ Â? Â? circuito privado, embora muitos sejam comuns‌ - e as melhores condiçþes para se praticar uma adequada medicina. E os portugueses sabem disto e, como consequĂŞncia, mesmo aqueles que ~› ‰ ~ ‹˜ Â’ ceiras, ainda preferem, quando tĂŞm um problema mais grave, ser tratados ou internados num Â? ~ ¢ { aspetos hoteleiros e outras

comodidades. Se as condiçþes de acesso e de instalaçþes puderem ser idĂŞnticas, e nĂŁo dependentes do nĂ­vel progressivamente decadente previsto para manter a € ~ ~  ¥ § SNS, muitos utentes irĂŁo preferir esta alternativa, em vez de estarem sujeitos Ă indigna iniquidade de um duplo e elevado pagamento, sem qualquer vanta-josa contrapartida, cada vez que se dirigirĂŁo, com todo o direito, ao serviço pĂşblico do mesmo hospital. „ { ~ { € ~ minha proposta funcione, deverĂĄ, ainda, mudar o regime de trabalho €~ de saĂşde (enfermeiros e, tĂŠcnicos de laboratĂłrio ou de radiodiagnĂłstico) e, tal como nos paĂ­ses e hospitais que referi, passar a existir um regime exclusivo, ou para o Estado ou para uma entidade privada. Mas isto jĂĄ foi compreendido, embora por ~ † ~ ~ ~ { pelo MinistĂŠrio da SaĂşde (embora, incompreensivelmente, tenha sido referida a exigĂŞncia de exclusividade apenas para os mĂŠdicos, esquecendo a restante equipa de saĂşde‌). E ĂŠ evidente que, para alĂŠm do horĂĄrio de trabalho mais alargado de 40 horas, atualmente exigido na contratação dos mais novos com o objetivo de reduzir o pagamento de horas extraordinĂĄrias, ĂŠ necessĂĄrio garantir que toda a equipa deverĂĄ permanecer diariamente no mesmo local de trabalho. Os turbo-mĂŠdicos – tal como os turbo-enfermeiros ou os turbo-tĂŠcnicos - terĂŁo de acabar rapidamente e, como nas restantes ˜ { ~ † ‰ Â’ € ¢ Â? PĂşblico ou privado. Se nĂŁo, arriscam-se a voltar a ser tratados como mulheres-a-dias e pagos como tal, quer pelos privados Jan/Fev | 2013 | 79


opiniĂŁo

quer pelo Estado e, ainda, a ser explorados por agĂŞncias sem escrĂşpulos. E, muito pior, a contribuir para que a nossa medicina, a joia da coroa dos serviços pĂşblicos portugueses, baixe muito de nĂ­vel. Incluindo a da, tĂŁo citada, baixa mortalidade infantil que, segundo se diz, estarĂĄ jĂĄ a sofrer o primeiro impacto negativo. Ÿ{ € o internato no Hospital S. Maria, os mĂŠdicos hospitalares nĂŁo recebiam ordenado mas apenas uma pequena remuneração Š ~ ‹‘ —Â? realização de serviço de urgĂŞncia exterior e de urgĂŞncia interna eram de Ă­ndole obrigatĂłria e nĂŁo eram especialmente remunerados por elas. Podiam ser dispensados, a qualquer momento, pela Direcção do respetivo hospital, invocando ocasional falta de verba. As faculdades de medicina, ofereciam, por isso, guarida aos despedidos com a promessa de realização de tese de doutoramento, sĂł excecionalmente cumprida, e, nesse perĂ­odo, a escolha acadĂŠmica raramente se baseava no relativo ~ relaçþes pessoais e humanas. Os docentes, pagos pelas faculdades de medicina, e, tambĂŠm, em regime precĂĄrio, alĂŠm das aulas, apoiavam a formação de internos e, muitas vezes, dirigiam o trabalho das enfermarias. Muitos nĂŁo-docentes participavam no ensino, por convite, sem receberem, qualquer retorno Â? š † { € hospitais, medicina privada e internamento de doentes que vinham do exterior, enviados pelo mĂŠdico assistente que, com frequĂŞncia, trabalhava no mesmo hospital. Os diretores dos serviços responsĂĄveis pelo apoio a estes 80 | Jan/Fev | 2013

pacientes privados, recebiam uma pequena parte do pagamento cobrado pela instituição que distribuĂ­am pelos mĂŠdicos que tinham colaborado ativamente na assistĂŞncia a estes casos. NĂŁo havia na ĂŠpoca, grande tradição ou incentivo na realização de investigação, salvo a obrigatĂłria para a realização de teses de licenciatura ou doutoramento e era, quase sempre, indispensĂĄvel a intervenção ativa de terceiros nĂŁo mĂŠdicos ou mĂŠdicos pertencentes as equipas internacionais. Neste perĂ­odo, os mĂŠdicos mais diferenciados, ostensivamente, nĂŁo cumpriam horĂĄrios de trabalho. Mas revelavam-se muito orgulhosos com a diferenciação hospitalar a que tinham direito e que exibiam, quer nas tabuletas de consultĂłrio, quer no respetivo papel de receitas (Assistente dos Hospitais Civis de Lisboa, Professor de Medicina Interna da Faculdade de Medicina de Lisboa‌). Devo salientar que, nesta ĂŠpoca, a falta de cumprimento do reduzido horĂĄrio previsto ou a intempestiva interrupção de atividades hospitalares para apoio a atividades privadas era aceite pela, como se diz hoje, tutela, com total complacĂŞncia. É evidente que achariam que pagando tĂŁo pouco e de forma tĂŁo precĂĄria, nĂŁo podiam exigir que os “senhores doutores / professoresâ€?, tĂŁo prestigiados pela sociedade, colocassem os seus deveres para com as instituiçþes pĂşblicas acima dos deveres para com a rentĂĄvel clĂ­nica privada. Assim, existiam condiçþes muito stressantes para a nossa aprendizagem, de† } € de contacto com os colegas mais preparados, incluindo durante a realização das urgĂŞncias internas

nas enfermarias. Nestas, embora outros mais diferenciados esti† ~  ~ escalados, nĂłs realizĂĄvamos o apoio aos doentes, (desde o ~ { “ § ~ sozinhos. NĂŁo posso contudo deixar de referir que, embora

~ w ~ ~ { havia habitualmente grande ~ ~ ~ respeito pelos doentes e, quando era indispensĂĄvel, as orientaçþes terapĂŞuticas solicitadas aos especialistas de serviço eram obtidas pelo telefone – habitualmente do consultĂłrio - ou havia, logo que possĂ­vel, uma deslocação ao hospital para serem resolvidos os problemas mais complicados. Os menos diferenciados, com ›‰ ~ € em formação, para sobreviverem e, dada a incerteza da manutenção do contrato hospitalar, trabalhavam ainda em consultas nas intituladas “Caixasâ€?, embriĂľes muito imperfeitos dos atuais Centros de Saude, em consultas, onde observavam, em tempo mĂ­nimo, porque mais nĂŁo lhes era permitido, doentes ambulatĂłrios. Recebiam, por esta atividade de medicina ambulatĂłria de duas horas diĂĄrias, uma modesta remuneração mas, contudo, havia maior estabilidade na manutenção de funçþes e de reforma. Resta-me ainda acrescentar, que aos hospitais, e tambĂŠm Ă s referidas consultas pĂşblicas, acorriam, quase exclusivamente, pessoas humildes que nĂŁo ~ Â? para utilizar os serviços privados e aquelas que, por razĂľes { † documentos especiais sĂł obtidos em serviços pĂşblicos ou as que apresentavam patologias apenas tratĂĄveis, cirurgicamente ou medicamente, nos hospitais


estatais ou, ainda, que exigiam isolamento especial. A seguir a este perĂ­odo, seguiuse, na segunda metade dos anos setenta, a implementação do SNS e a progressiva diferenciação e otimização das atividades docentes. E tudo mudou substancialmente para melhor. Com o imprescindĂ­vel contributo das Carreiras MĂŠdicas e o nosso entusiasmo e dos outros ¢ { † ‹ Nacional de SaĂşde deixou de nos envergonhar e os principais marcadores aproximaram-nos rapidamente dos outros paĂ­ses da europa. PorĂŠm, mesmo para aqueles com vinculo apenas ao serviço pĂşblico, o Estado, ao contrĂĄrio do que se passava com funcionĂĄrios pĂşblicos de €~ ˜ { € € devidamente a formação e o contacto entre especialistas da mesma ĂĄrea ou com os centros mĂŠdicos de excelĂŞncia internacionais. Felizmente, como anteriormente referido, essa grave lacuna foi colmatada pelo valioso contributo dos laboratĂłrios farmacĂŞuticos e de algumas fundaçþes, como a incontornĂĄvel Gulbenkian. Os primeiros, embora tendo como principal objetivo a defesa dos seus interesses { ~ Â’ camente corretos, apoiaram a realização de estĂĄgios e congressos nacionais e internacionais, a compra de livros e revistas pelos servi-ços hospitalares, e outras atividades indispensĂĄveis no estabelecimento de adequada articulação da nossa medicina Ă do restante mundo desenvolvido. €  # y Â’ nanceiramente deslocaçþes e estĂĄgios no estrangeiro mas tambĂŠm a aquisição de material indispensĂĄvel ao desenvolvimento de novas tĂŠcnicas nos

hospitais. Desde hĂĄ alguns anos, tambĂŠm instituiçþes ligadas ao MinistĂŠrio da Cultura e da Investigação, ou Ă prĂłpria europa, iniciaram o apoio a ‡ ~ † ~ ‹‘ ~Âœ nacionais ou internacionais e esta lacuna tambĂŠm se desvaneceu. As remuneraçþes dos mĂŠdicos passaram a ser ligeiramente mais elevadas, as horas extraordinĂĄrias consideradas como tal, a haver uma ligação entre as mesmas e o grau da carreira hospitalar ou universitĂĄria e, mais importante, passou a haver contratos estĂĄveis, como em qualquer outro setor do funcionalismo pĂşblico. Contudo, grande parte dos mĂŠdicos, porque mantinham importante e rentĂĄvel atividade privada, optou por horĂĄrios reduzidos e nunca aderiu a um regime de trabalho apenas pĂşblico, quer vinculado Ă carreira hospitalar ou Ă universitĂĄria ou, inclusive, acumulando ambas. Mesmo como Diretores de Serviço. E continuaram muitos, mesmo com estes novos contratos estĂĄveis, a saltitar do pĂşblico para o privado e do privado para o pĂşblico. Infelizmente em muitos casos, sem respeito pelo horĂĄrio previsto. Alguns, poucos, nomeadamente idealistas com ambiçþes de mudar ou criar consultas ou serviços e desenvolverem ĂĄreas de especialidade ou de investigação, aceitaram o repto de se manterem apenas nos hospitais com horĂĄrio alargado mas, a obtenção deste tipo de contrato era difĂ­cil e exigia † ‡€ ~ ‹‘ do Diretor de Serviço e ainda a renovação anual do mesmo contrato, sendo o valor pago mensalmente pouco superior aos dos outros colegas. Quando Leonor Beleza foi Ministra da SaĂşde, percebeu o que se passava e pensou, creio, que obteria maior

rentabilidade e tambĂŠm melhores condiçþes de liderança de gestĂŁo (Diretores de Serviço) se, tal como se passa noutros paĂ­ses - e no nosso paĂ­s com a quase totalidade €~ ‘ ligados ĂĄ saĂşde – criasse as condiçþes indispensĂĄveis para que os mĂŠdicos optassem por trabalhar exclusivamente no SNS. Para o efeito, decidiu aumentar o valor do pagamento ~ e garantir a estabilidade dos contratos. Enfatizou, contudo no nome -regime de dedicação exclusiva – a necessidade de disponibilidade total dos mĂŠdicos em relação Ă atividade pĂşblica, a mesma que, sem alardes, jĂĄ era exigida para outros licenciados da função pĂşblica. E pretendeu que os diretores de Serviço fossem obrigados a escolher o novo regime. Infelizmente, esta iniciativa foi mal sucedida. Embora este regime nĂŁo seja impeditivo de outras atividades, como pedagĂłgicas ou de investigação, os honorĂĄrios, sendo dignos sĂŁo relativamente baixos embora bastante superiores aos que nĂŁo optaram por esta alternativa. E isto levou a que a maioria dos mĂŠdicos nĂŁo o aceitasse e, para o desacreditar, apontasse o dedo aos casos em que as pessoas nĂŁo cumpriam os respetivos horĂĄrios ou que nĂŁo demonstravam maior rentabilidade. Claro que os exemplos citados sĂŁo uma previsĂ­vel consequĂŞncia dos colegas que escolheram este novo contrato nĂŁo terem sido devidamente enquadrados e controlados pelas respetivos diretores de serviço que deveriam ter passado a ter obrigatoriamente o mesmo horĂĄrio de trabalho para se manterem diretores. Se assim fosse teriam tido total disponibilidade para Jan/Fev | 2013 | 81


opiniĂŁo

organizar o serviço e fomentar esta nova maneira de trabalhar e o desenvolvimento de uma nova dinâmica na utilização y ~ Â? Infelizmente, atĂŠ agora, no SNS, como noutras estruturas do estado, apenas se dĂŁo alguns retoques mas ninguĂŠm se atreve a mudanças de fundo porque os que nĂŁo querem mudanças quando perdem regalias, criam todos os argumentos para que nada mude e tambĂŠm porque dĂĄ muito trabalho aos gestores alterar o que jĂĄ estĂĄ implementado. Creio que o falhanço das boas intençþes de Leonor Beleza foi nĂŁo se ter apercebido a tempo da força das crescentes movimentaçþes subterrâneas que se começaram pouco a pouco a formar. š € ~ † € { com alguma surpresa, que os consultĂłrios privados em que o mĂŠdico continua a ser patrĂŁo de “ { ~ † € lucrativos e que, nalguns casos, os colegas mais velhos que nĂŁo tinham transferido a sua clĂ­nica para hospitais privados onde deixariam de ser a entidade patronal, estavam a atravessar € “ dado que tambĂŠm as reformas que recebem, em consequĂŞncia dos horĂĄrios hospitalares

reduzidos que escolheram, sĂŁo demasiadamente pequenas. { ~ † ‘ Â? ~“  condiçþes de trabalho e regime remuneratĂłrio nos hospitais pĂşblicos, que escrevi para esclarecer os mais novos que nos acusam de termos vivido sempre num mar de rosas, tĂŞm, porĂŠm, como objetivo principal, articular esta revisĂŁo com a minha proposta inicial de mudar alguns tabus. Se queremos que o SNS se mantenha com a qualidade a que os portugueses se habituaram e merecem, temos de o mudar por dentro e nĂŁo apenas realizando tacanhas “contas de merceeiroâ€? ~ cortar e poupar. Concordo com algumas destas medidas de combate ao desperdĂ­cio mas nĂŁo sĂŁo determinantes. Com elas estamos a retocar os serviços e a sua organização. Mas nĂŁo estamos a transformĂĄ-lo. Estamos a tentar criar condiçþes € ~ ~ Â’ ~ mas nĂŁo para o adaptar a novos tempos. E arriscamonos, mudando para pior muitas condiçþes e nĂŁo alterando o modelo, a que o serviço nacional de saĂşde portuguĂŞs deixe de alinhar, em relação a muitos marcadores, com os melhores a nĂ­vel internacional. Deveremos

analisar mais profundamente o que se passa no SNS de outros paĂ­ses. A Finlândia, por exemplo, quando em tempo de crise, nĂŁo mexeu no seu serviço pĂşblico de saĂşde. PorquĂŞ? – ‡ { € € ~  Â€~ - crie-se um setor privado dependente do Estado que possa € ~ ~ hospitais pĂşblicos e alteremse as condiçþes de trabalho de mĂŠdicos, enfermeiros e tĂŠcnicos para aumentar a rentabilidade e a qualidade dos serviços prestados. % ~ { † y que apĂłs ter, hĂĄ jĂĄ alguns meses, apresentado estas sugestĂľes em algumas reuniĂľes, nomeadamente no Hospital S. Maria e numa reuniĂŁo da Fundação para o Serviço Nacional de SaĂşde, sem encontrar da parte dos principais participantes grande ~€ { † €

grande satisfação, atravÊs dum artigo publicado pelo semanårio Expresso a 22 de Dezembro, no dia seguinte a ter terminado a escrita destes comentårios, que o desenvolvimento do turismo de saúde, associado à criação, para este efeito, dum setor privado nos hospitais públicos, começou a ser avaliado pelo MinistÊrio da Saúde.

% € y ~ ~  Âž % € ˆ ~ ~ „ { ÂŒ ~ ~ „ ~¢ { tem por objectivo fomentar, reconhecer, premiar e difundir a criatividade dos mĂŠdicos apaixonados y ~ € ~ ‰ ‘ ~Âœ ~ Â? €  ~ ~ ~ OM e tem tema livre. Os trabalhos deverĂŁo ser enviados (por email) atĂŠ 30 dia de Abril de 2013. SerĂŁo seleccionados vinte trabalhos para participar numa exposição a inaugurar no dia 22 de Junho em SetĂşbal. A informação relativa ao email encontra-se no regulamento que deve ser lido antes de qualquer envio (regulamento disponĂ­vel em www.ordemdosmedicos.pt)

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opiniĂŁo

& { | W>Y ^WU>R }* K~

O Medo Nota da redacção: este artigo de opiniĂŁo foi enviado para a ROM ainda em 2012 e aguardava publicação. Em face das declaraçþes do ministro das ďŹ nanças japonĂŞs sobre os benefĂ­cios econĂłmicos da morte, consideramos que a sua actualidade se tornou inexorĂĄvel, pelo que o inserimos nesta edição. E=mc2 talvez nĂŁo contenha todas as variĂĄveis que mudam o tempo. Talvez outros factores como a angĂşstia, o medo, o relembrar, o querer viver mais, o desejar ardentemente, o aproximar vertigi { ~ €~ dimensĂľes do tempo e um instante possa intemporal, transcenderse, e coadjuvado, tornar-se incomensurĂĄvel‌ No rĂŠs-do-chĂŁo do hospital, hĂĄ a sala dos cuidados continuados onde os “acabadosâ€?, alguns ali hĂĄ muito tempo, esperam hirtos que a auxiliar que leva os mortos, detenha sobre eles o seu olhar indagador e atento, que os sobressalta e apavora. Se pedirmos a cada um dos acabados, ainda capazes, que abram Â? ~ ~ Â’ Â’ atingidos por uma tristeza que nos fustiga como uma aragem viscosa e tectrica, que se nos cola e besunta como um gel gelado. É perturbador, quase insuportĂĄvel, esse olhar que adensa, soma e retĂŠm, a expressĂŁo de mil cĂŁes espancados e escorraçados pelo dono, sem razĂŁo, e assemelha-

se em todos os seres humanos informados e convencidos de

Â? y { € Â? descarga de catecolaminas que nos exalta e sustĂŠm, vem o desânimo avassalador, ĂĄlgido, terrĂ­vel. Se corajosos ou sĂĄdicos, olharmos com mais demora e atenção esses Â? ~ “ { † € nalguns deles, em muitos deles, hĂĄ mil lampejos pequeninos luzindo intermitentes, que interpretados, sĂŁo mil apelos por uma injecção de ânimo e que dissecados em anĂĄlises profundas e contextualizados, colocam a esperança a par do oxigĂŠnio, ambos de importância vital, indispensĂĄveis‌ Quase todos os que ali estĂŁo, ~› Â? € y Âœ € ‘ querem ou os nĂŁo podem ter, por centenas de razĂľes plausĂ­veis, explicĂĄveis e explicadas quase sempre, com minĂşcias, expressĂľes e tons pungentes, entrecortados por suspiros, haustos e ais, e por lĂĄgrimas que teimam em nĂŁo correr, limpas ritmada e tristemente, a lenços enxutos‌ HĂĄ dias que um rumor insinuando-

se sorrateiramente, vindo nĂŁo se sabe de onde, acrescentou mais uma labareda a este inferno jĂĄ de si tĂŁo triste. Foi a notĂ­cia de que fora aprovado no Parlamento uma lei sobre a eutanĂĄsia, (nĂŁo ainda a executada pelo venenozito ou pela injecção letal, mas outra ainda mais pavorosa, levada a cabo pela suspensĂŁo da terapĂŞutica e dos meios de suporte vital) que liberalizando-a, a tornava aplicĂĄvel, nĂŁo sĂł a pedido do doente mas tambĂŠm a pedido da sua famĂ­lia mais chegada. Os acabados que ~ Âœ Â? † Â? os netos, com a ternura amorosa de quem contempla o Ăşnico elo material da sua eternidade, olham-nos agora de soslaio, sub-repticiamente, como quem avalia Ă socapa a pujança de um inimigo impiedoso e temido; as visitas, antes encaradas como um bĂĄlsamo terno, sĂŁo agora esperadas com medo que a breve trecho degenera num rancor ĂĄcido, de pH € ~ ~  Â‰ { € ĂĄpice, corroer e extinguir todos os afectos, pois nĂŁo podem existir ou

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opiniĂŁo

persistir amor ou sentimentos de benquerença, por quem nos quer, nĂŁo sĂł fora do seu caminho, o que atĂŠ se aceita e se perdoa, mas fora do mundo, o que ĂŠ totalmente inaceitĂĄvel e imperdoĂĄvel, seja por que motivo for, que no nosso interesse, nĂŁo o Ê‌ HĂĄ entre os “acabadosâ€? muitos infelizes, que afĂĄsicos e privados da eloquĂŞncia do gesto, se vĂŞm limitados a esgares ininteligĂ­veis onde se nĂŁo vislumbra nada que ateste o seu entendimento e ultrapassem a nossa competĂŞncia de decifração‌Sabe-se lĂĄ o que

e se esmerava por prever todas as hipĂłteses, eram excluĂ­dos da herança o mĂŠdico e o padre que tivessem assistido o moribundo € y { € tinham de sugestionar o infeliz, um prometendo-lhe a cura e o outro prometendo-lhe a vida eterna. IncluĂ­am-se os familiares, como herdeiros legĂ­timos, mas presumese que a estes o doente conhecia sobejamente, para se deixar iludir‌ É por isso que outorgar-se Ă famĂ­lia, o poder de representar o incapaz, interpretando-lhe a vontade, me parece extremamente

animais estĂşpidos, que nĂłs seres supremos, presumimos que sĂŁo, serĂĄ horrorosa e escusadamente cruel, a alameda do aviĂĄrio onde de ovos passam a pintos, de pintos a frangos e de frangos a frangos degolados. SĂŁo galinhas videntes, mais competentes do que o professor Karamba ou do que a astrĂłloga Magda; do seu princĂ­pio † Â? € Â? " ~ † bifurcar a recta, ocultando ao todo o destino de uma parte, para criar a esperança e acalentar em cada frango o desejo e o sonho utĂłpicos, de escaparem Ă decapitação.

lhes vai na alma e se esta barreira que os separa das pessoas nĂŁo ĂŠ unidireccional, e se aterrados, percebem tudo‌e se hĂĄ alguma coisa mais medonha do que qualquer vida, ĂŠ a morte‌atĂŠ os mais crentes, da gente simples aos mais altos clĂŠrigos, mesmo nĂŁo o admitindo, provam-no, agarrando-se ao “aquĂŠmâ€? atĂŠ que lhes decepem os dedos‌ No tempo em que as leis eram para aplicação “universalâ€? e o legislador era sĂŠrio, tinha brio

inadequado. Sem obviamente pĂ´r em dĂşvida que a maior parte das famĂ­lias querem o melhorâ€?para o seu doenteâ€?, desde tempos imemoriais que se sabe que o interesse prevalece em geral sobre os afectos‌e a censura dos mortos, sĂł exequĂ­vel por “vidĂŞncias mediĂşnicas,â€? ou pelo remorso, que pressupĂľe consciĂŞncia, ĂŠ peso de pouca monta para os vivos e de nenhuma serventia para os mortos‌ Se as galinhas nĂŁo forem os

Façamo-lo aos nossos velhos, aos nossos doentes crĂłnicos, aos nossos invĂĄlidos‌ AtĂŠ os Nazis, no seu apogeu ‰~ Âœ { ÂŒ Â? grandes matadouros/crematĂłrios de Dachau, Treblinka, Auschwits, Sobibor,Maidanek,Chelmo, Belzev, etc,etc, etc ‌(nĂŁo sĂł de judeus mas de todos os que divergissem da linhagem ideal dos arianos de “raça puraâ€?, como os PIGS) os recĂŠm chegados a eliminar, eram sob o pretexto de

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uma desinfestação (pediculose) e de um banho, levados a um recinto, onde lhes pediam que se despissem e que nus, passassem a um simulacro de balneĂĄrio, onde encerrados, eram pulverizados com o insecticida Ciclon B. Os nazis nĂŁo lhes tinham mentido. Morriam sem piolhos‌Façamolo aos nossos infelizesâ€?acabadosâ€? por que informar seja quem for, do momento em que o vamos abater, mesmo que com o seu “acordoâ€?, ĂŠ de uma maldade excessiva‌ O que os “acabadosâ€?nĂŁo sabem, porque sabendo-o sentir-se-

iam apaziguados com a morte prĂłxima, ĂŠ que no mundo a que nĂŁo tornarĂŁo, tudo ĂŠ agora triste, sombrio e desolador e as pessoas atordoadas se movem em cĂ­rculos entre escombros, cinzas e pĂł ‌ do que foram sonhos, projectos, vidas‌ E todos os dias vĂŞm acusĂĄ-los de uma dĂ­vida, mesmo aos que nada tiveram nunca, fazendo-as sentirem-se culpadas como nos pecados mortais da infância, em que se acreditava sem contudo se

perceber. Os que se atrevem a olhar para o recĂ´ndito onde as verdades se despem, hĂĄ muito que perceberam, sem margem para ilusĂľes, que: A exorbitância dos juros da “dĂ­vidaâ€? exclui por si sĂł, qualquer propĂłsito de ajuda A relutância obstinada em renegociar os “jurosâ€? alegando honra e credibilidade quem nĂŁo teve pejo, de enganar os cidadĂŁos que o elegeram, e de descer Ă vileza maldita, de amargurar os Ăşltimos dias dos velhos, nĂŁo ĂŠ crĂ­vel. A pressa frenĂŠtica que demonstram em privatizar tudo, por “quanto menos melhorâ€?, mostra claramente ao que vieram‌ A prĂłpria maneira exagerada como representam o seu, jĂĄ de si, odioso papel, acrescentandolhe incerteza, “suspenseâ€? e uma desalmada canalhice, ĂŠ excessiva, pelo que obviamente faz parte do plano, porque nĂŁo se pode ser tĂŁo estĂşpido e ter-se aprendido o abecedĂĄrio. Â? ~“ { ‘ que viveu acima das suas posses, o suposto pedido depois de uma reuniĂŁo de todos os banqueiros, prova, na minha opiniĂŁo que estamos a viver um enormeâ€?conto do vigĂĄrioâ€?. AtĂŠ Sua ReverĂŞncia o Senhor Cardeal nos veio advertir da inutilidade das contestaçþes‌ Depois de um emprĂŠstimo sabiamente calculado para extrair o mĂĄximo ao pedinte, este esvaĂ­do, deixa tambĂŠm o penhor. É assim que hĂĄ milĂŠnios os agiotas enchem as suas arcas de ouro, e ĂŠ por isso que nem os que lhes deveram, lhes ~ Â? Findo o seu desempenho de “mandarete de rapinaâ€?, o eleito vai desarvorar deixando um paĂ­s devastado, cruzado por abundância de auto estradas onde se paga por nĂŁo passar, conduzindo a desertos desabitados e a frondosos

eucaliptais, pronto Ă invasĂŁo do “capitalâ€? , sobretudo dos que muito levam, pouco trazem e nada dĂŁo‌ Os nossos grandes empresĂĄrios quase todos estabelecidos no ramo da mercearia, explorarĂŁo tambĂŠm a saĂşde no cargo trĂ­plice da engorda, do tratamento e da matança‌ Quem podia fazer alguma coisa age prudentemente, que cautela nĂŁo ĂŠ medo, nĂŁo vĂĄ o poder cair-lhe precocemente no colo, derreando-o‌ Raio de mundo: esbulham-se os velhos, os doentes, os cidadĂŁos contribuintes, impede-se-lhes o acesso aos medicamentos, Ă s terapĂŞuticas, aos cuidados paliativos, criam-se situaçþes de medo e de motivo para o ter, e abre-se-lhes a porta Ă morte garantida pelo Testamento Vital, cuja coexistĂŞncia com uma medicina idĂłnea, bem praticada e de acesso garantido seria de interesse residual, mas que num futuro prĂłximo em que a saĂşde seja o “Grande NegĂłcioâ€?, farĂĄ todo o sentido. Os doentes pobres vĂŁo morrer mal esgotem o pecĂşlio ou o crĂŠdito e os doentes ricos (desde que saibam precaver-se dos herdeiros) vĂŁo aproveitar-se de todas as evoluçþes, e de terapĂŞutica em terapĂŞutica, de transplante em transplante, viver atĂŠ de que deles prĂłprios sĂł sobrem, meia dĂşzia de neurĂłnios entre ateromas e glia, mantendo vagas reminiscĂŞncias do que foram num passado distante, sem contemporâneos sobrevivos‌ EstĂŁo a comer-nos as papas na cabeça. Tudo ĂŠ preferĂ­vel a este buraco negro onde o medo e o desespero abundam e alastram e de onde a esperança se esvai‌

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opiniĂŁo

A. EleutĂŠrio Macedo Consultor de S.P.- Aposentado

Fumo sem fogo? O Presidente do CA do Hospital de S. JoĂŁo, Dr. AntĂłnio Ferreira, deu uma entrevista Ă T.V.I. no passado dia 17 de dezembro(Olhos Nos Olhos) ,com Judite de Sousa e Medina Carreira, que deve ter deixado perplexos muitos telespectadores ,atentos a tudo que Ă sua saĂşde diga respeito e impressionando mesmo o Sr. Ministro da SaĂşde. Começou o entrevistado por dizer que cerca de 30 cirurgiĂľes daquele Hospital nĂŁo terĂŁo efectuado qualquer intervenção cirĂşrgica, durante o corrente ano. Ora como Administrador daquele Hospital o 2Âş maior do paĂ­s - o entrevistado nada referiu sobre os porquĂŞs de tal situação. Se fĂ´r por incumprimento de horĂĄrios ou outros “compromissosâ€? extra-empregador (o hospital) sĂł lhe restava dizer que tais mĂŠdicos estĂŁo ou vĂŁo ser alvo de € ~ { € respectivo processo disciplinar. Se o ~ † € €~ Â? “~ { hĂĄ que as ponderar: A) NĂŁo escalamento, semanal, elaborado pelo Director do Serviço, entĂŁo peçam-se responsabilidades ao Director; B) Se os motivos sĂŁo a doença (baixas mĂŠdicas), incapacidade fĂ­sica ou psĂ­quica, avançada idade para operar, entre outras, entĂŁo aproveitem-se estes cirurgiĂľes para fazerem consultas de cirurgia, acompanhamento de doentes no pĂłs-operatĂłrio, fazerem peque-nas cirurgias ou cirurgias de ambulatĂłrio, geralmente de menor responsabilidade que as grandes cirurgias. TambĂŠm, ainda podem ser muito Ăşteis como 1Âş ou 2Âş 86 | Jan/Fev | 2013

ajudantes no Bloco OperatĂłrio... O segundo ponto focado na entrevista, diz respeito aos FuncionĂĄrios PĂşblicos (civis, militares e forças militarizadas), embora tivesse apenas, tocado nos abrangidos pela ADSE (os restantes tĂŞm ADM e Hospitais Militares o que os separa dos Hospitais Civis). Dizia o Dr. A. Ferreira que a ADSE deveria acabar e os seus utentes integrados no SNS, porque a ADSE ‡€œŒ € ~ € ÂĄĂ–Ă–Ă–§ prejuĂ­zos. Quem criou a AssistĂŞncia na Doença aos Servidores do Estado—ADSE---foi Salazar, em contra-ponto aos trabalhadores por conta de outrem, que jĂĄ  Â† – † › (na SaĂşde e na Doença). E, como diz MĂĄrio Soares, nem Salazar teve coragem de extinguir a ADSE!!!! Mas, nĂŁo sejamos demagogos. A ADSE ĂŠ um dos melhores sub ~ ¢ pelos seus Utentes que o SNS. • ‡ nossos impostos (IRS) e pelas Taxas Moderadoras (estas sĂł uma minoria as paga); A ADSE ĂŠ paga pelos nossos impostos (IRS) - pelo desconto mensal de 1,5% dos n/ vencimentos ou pensĂľes e pelas Taxas Moderadoras, quase em žÂ?ĂŽ  Â?  ~ assunto voltaremos numa outra ~€ { € € farei ao Sr. Ministro. A terceira incongruĂŞncia do entrevistado, feita malevolamente com intenção de denegrir toda a classe mĂŠdica e enganar os portugueses, menos familiarizados com as Carreiras MĂŠdicas (como

qualquer outra carreira na Função PĂşblica, ou em qualquer empresa) hĂĄ graus, hĂĄ promoçþes, hĂĄ escalĂľes, que se vĂŁo ganhando com Concursos, com anos de serviço e, em alguns casos, por mĂŠrito. Nas Carreiras MĂŠdicas, o mĂŠdico que atinge o grau de Assistente Graduado ou Chefe de Serviço, diz o Sr. A. Ferreira, nĂŁo volta para trĂĄs, isto ĂŠ, nĂŁo desce. Perguntase: JĂĄ se viu passar um General a Brigadeiro ou Coronel a Major, ou a um Sargento passar a Furriel ou um Super-Intendente da PSP passar a Intendente, etc, etc, etc.? JĂĄ se viu um Prof. CatedrĂĄtico passar a Prof. Auxiliar ou a Assistente? E isto passa-se tambĂŠm em qualquer estação televisiva, embora a Judite de Sousa tenha mostrado um sorrisinho “amareloâ€?, enquanto o Dr. Medina Carreira nĂŁo se tenha manifestado. Foi para a TVI por simples amor Ă camisola, Judite? Finalmente e para terminar, aguardando a prĂłxima entrevista no dia 07 de Janeiro, p.f. o n/ entrevistado ĂŠ a favor que todos os Meios Auxiliares de DiagnĂłstico e TerapĂŞutica se deveriam realizar nos Hospitais E.P.E. (Estado/SNS). Imagine-se: A) Listas de espera de anos‌ B)Ter que colocar nos Hospitais todos os Especialistas das vĂĄrias especialidades deste campo da Medicina, nos Hospitais, para fazer face ĂĄs necessidades daĂ­ decorrentes; C) Quantos postos de trabalho se perderiam? Quem suportaria tal desemprego? Colocar todos ~ Â? Hospitais PĂşblicos?


histĂłrias da histĂłria

Carlos Marques Pontinha Interno do Ano Comum Centro Hospitalar e UniversitĂĄrio de Coimbra E.P.E.

Azevedo Neves (1877-1955) MemĂłria para a HistĂłria da Medicina Legal portuguesa1 JoĂŁo Alberto Pereira de Azevedo Neves nasceu, a 12 de Maio de 1877, em Angra do HeroĂ­smo (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Aos 17 anos, apĂłs ter conluido o Liceu, mudou-se para o Continente onde ingressou em Medicina na Real Escola MĂŠdico-CirĂşrgica de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a). Formou-se em 1900, ~ € ~ de curso ao estudo da morfologia macro e microscĂłpica do ovĂĄrio (Costa Sacadura S, 1958a). Posteriormente, trabalhou em vĂĄrios hospitais de Lisboa sob a direção dos Professores CustĂłdio Cabeça (1866-1936) e Curry Cabral (18441920); tendo partido de seguida para Berlim onde trabalhou no LaboratĂłrio de Anatomia PatolĂłgica do Professor David Paul Von Hansemann (18581920), famoso patologista alemĂŁo e um dos pioneiros do estudo das cĂŠlulas anaplĂĄsicas (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Ainda na Alemanha, por sugestĂŁo do Professor CustĂłdio Cabeça, foi convidado para Diretor do LaboratĂłrio de AnĂĄlises ClĂ­nicas do Real Hospital de SĂŁo JosĂŠ (Costa Sacadura S, 1958b). Anos mais tarde voltou a partir

para o estrangeiro, desta feita para a Dinamarca, onde foi aprender as novas estratĂŠgias terapĂŞuticas, que ali estavam a ser desenvolvidas, para o tratamento do lĂşpus (Costa Sacadura S, 1958b). De regresso a Portugal implementou, no Hospital de SĂŁo JosĂŠ, um serviço com os aparelhos necessĂĄrios Ă aplicação dos raios Finsen no tratamento desta doença (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Naquela altura, o Professor Curry Cabral desejava que Azevedo Neves se dedicasse Ă Anatomia PatolĂłgica e o cirurgiĂŁo, Professor CustĂłdio Cabeça, queria orientĂĄlo na Cirurgia (Costa Sacadura S, 1958a). Foi, contudo, a Anatomia PatolĂłgica que mais fascinou o jovem, mas jĂĄ ilustre, mĂŠdico. Azevedo Neves ĂŠ o pioneiro do estudo do cancro em Portugal (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Na Folha   ž¡ aparece nomeada a 1ÂŞ ComissĂŁo para o Estudo do Cancro, sob a presidĂŞncia do Professor Ferraz de Macedo (1838-1907), e para a qual Azevedo Neves ĂŠ nomeado secretĂĄrio (Azevedo Neves J, 1906). É nesta condição que concebe, executa e analisa

€ X>K >U R) O autor testemunha o seu agradecimento ao Prof. Doutor Jorge Costa Santos que incentivou e autorizou a apresentação pĂşblica deste breve resumo histĂłrico na Delegação do Sul do INMLCF, I.P. bem como Ă Dr.ÂŞ Manuela Marques pela sua preciosa colaboração na €   } ¢ ~ sugestĂľes. O autor agradece ainda a total  Â€ y  Serviço de Patologia Forense durante o estĂĄgio que ali realizou.

1 - O presente artigo corresponde, em parte, ao apoio escrito à preleção apresentada na Sessão de Medicina Legal e Ciências Forenses que teve lugar, no dia 25 de Maio de 2012, na Delegação do Sul do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P.

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histĂłrias da histĂłria

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os resultados do primeiro grande estudo epidemiológico oncológico realizado em Portugal (Azevedo Neves J, 1906). Destacam-se dois objectivos desse estudo: desenvolver novas estra~ ~ ›€~ ‰ (Azevedo Neves J, 1906). Azevedo † ~ €{ ‡ € Êpoca, que os håbitos etanólicos e o tabagismo constituem fatores de risco para certos tipos de 88 | Jan/Fev | 2013

neoplasias malignas (Azevedo Neves J, 1906). Numa Êpoca em que as atençþes se concentravam na doença, jå Azevedo Neves alertava para a importância da prevenção (Azevedo Neves J, 1906). Azevedo Neves foi convidado pelo Professor Silva Amado (1840-1925) para o auxiliar no Conselho MÊdico-Legal e na Morgue de Lisboa, que fora

criada pelo Rei D. Carlos (18631908) atravĂŠs da Carta de Lei de 17 de Agosto de 1899 (Azevedo Neves J, 1922; Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988). Este convite mudou o rumo ~ ~ ~ { tornando-o num dos mais prestigiados mĂŠdicos legistas portugueses (Costa Sacadura S, 1958a). Assim, em 1911, o Professor Azevedo Neves sucede


Azevedo Neves

ao Professor Silva Amado como Diretor da Morgue de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988). À Morgue tinha sido destinada uma velha enfermaria do Hospital de São JosÊ, escolha essa ditada pela proximidade à Escola MÊdica e ao hospital (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). Naquela Êpoca a Morgue de Lisboa encontrava-se reduzida ao estatuto de um mero

entreposto de cadåveres, cujas instalaçþes infectas ameaçavam ruir (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). A Morgue de Lisboa era desprovida de qualquer laboratório, sendo que grande parte dos exames periciais encontrava-se dispersa por vårias instituiçþes (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). Pelas descriçþes da Êpoca ali trabalhar era um duplo encontro quotidiano com a morte: com os cadåveres que se acumulavam à espera de serem autopsiados e com a ameaça de contågio, nomeadamente por tuberculose, dada a insalubridade das instalaçþes (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). Serå com verbas provenientes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que o Professor Azevedo Neves irå conseguir organizar e pôr a funcionar, ainda em 1911, o Serviço de Clinica MÊdico-legal e os Laboratórios de Química Forense, de Biologia Forense e de Antropologia Criminal e Polícia

% ~Âœ ÂĄ ÂŒ † † { 1922; Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC 1988). Em 1918, os esforços do Professor Azevedo Neves foram recompensados com a publicação de vĂĄrios decretos (Azevedo Neves A, 1922). ApĂłs uma reuniĂŁo, a 2 de Setembro desse ano, com o entĂŁo Presidente da RepĂşblica, SidĂłnio Pais (1872-1918), Azevedo Neves consegue que lhe seja concedida uma quantia inicial de 300 contos para a construção de um novo edifĂ­cio e para a transformação „ € ~ ~€~ de Medicina Legal de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988). Arrancaram, em 1919, os trabalhos de construção dirigidos por uma comissĂŁo presidida pelo prĂłprio Professor Azevedo Neves e da qual faziam ainda parte o Engenheiro LuĂ­s de Melo e o Arquiteto Leonel $ Â? €’ € ‹ amplo e repleto de luminosidade (Azevedo Neves J, 1922; Costa Sacadura S, 1958a). Instituiçþes, como a Fundação Rockfeller, e € ~Âœ ~ Â’ nacional elogiaram-no pelo trabalho desenvolvido no “seuâ€? instituto, considerando-o uma instituição de referĂŞncia mundial (Azevedo Neves J, 1922). Relembrando que, em 1911, quando se tornou Diretor da „ €  Â€{ ~  { responsĂĄvel pela docĂŞncia da Medicina Legal nas Faculdades de Medicina e de Direito da Universidade de Lisboa hĂĄ, ainda, que referir que estruturou um plano curricular inovador, que alĂŠm das aulas magistrais incluĂ­a a participação dos alunos em autĂłpsias foren-ses (Azevedo Neves J, 1914; Costa Sacadura S, 1958a). ApĂłs a jubilação do Professor Azevedo Neves, em 1947, segue-se um perĂ­odo Jan/Fev | 2013 | 89


histĂłrias da histĂłria

de 10 anos em que nĂŁo houve nenhum diretor mĂŠdico legista e simultaneamente Professor CatedrĂĄtico. SĂł em 1957, o Instituto de Medicina Legal de  ¥ € § † ~ € ~ um novo diretor detentor desta dupla condição, o Professor ArsĂŠnio Nunes (1919-1957). Para alĂŠm dos inĂşmeros trabalhos

~Âœ € € Â€ âmbito da Medicina Legal foi, ainda, o impulsionador e o ~ € † ~ ~Âœ portuguesa, de publicação periĂłdica, dedicada a esta ĂĄrea da Medicina, a qual intitulou de Archivos do Instituto de Medicina Legal. VĂĄrias das suas obras continuam, ainda hoje, a ser de leitura obrigatĂłria para quem estuda e exerce Medicina Legal, como o Guia de AutĂłpsias (Azevedo Neves J, 1915; Sacadura C, 1958a). Trabalhos como Le Masque du Cadavre, ~Âœ ~ polĂŠmicos, sĂŁo revestidos de importância intemporal pela inovação do exercĂ­cio intelectual que constituĂ­ram Ă ĂŠpoca (Azevedo Neves J, 1931). Neste trabalho, sob a orientação do Professor Azevedo Neves, foram registadas, em moldes, dezenas de expressĂľes cadavĂŠricas de rostos humanos. Azevedo Neves concluĂ­u que apĂłs a morte as expressĂľes desapareciam na fase de resolução muscular, reaparecendo depois a expressĂŁo “ Â?  ~€ ÂĄ ÂŒ † Neves J, 1931; Santos JC, 1988). PorĂŠm, o Professor Azevedo

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Neves nĂŁo esgotou as suas capacidades intelectuais somente na Medicina, mas abraçou ainda um vasto leque de iniciativas de Ă­ndole social (Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988; Filomena MĂłnica M, 2006). Foi jornalista, vogal do Conselho de Justiça PĂşblica, SecretĂĄrio de Estado e depois Ministro do ComĂŠrcio, Ministro interino dos NegĂłcios Estrangeiros, Presidente da Sociedade de CiĂŞncias MĂŠdicas de Lisboa, Diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa, 1Âş Reitor da Universidade TĂŠcnica de Lisboa e 24Âş Presidente da Academia das CiĂŞncias de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a; Filomena MĂłnica M, 2006). A 10 de Abril de 1958, 3 anos apĂłs a sua morte, o Professor Costa Sacadura proferiu naquela academia o elogio histĂłrico ao Professor Azevedo Neves (Costa Sacadura S, 1958a). Por todo o seu legado, a RepĂşblica Portuguesa agraciou Azevedo Neves com a Ordem Militar de Sant’iago da Espada e a Ordem de MĂŠrito Civil (Filomena MĂłnica M, 2006). O Professor Azevedo Neves ĂŠ patrono do atual Agrupamento de Escolas Dr. Azevedo Neves cuja sede se localiza na freguesia da Damaia. Citando as emĂŠritas palavras do Professor Costa Sacadura, poderse-ĂĄ assumir que a vida e a obra do Professor Azevedo Neves “nos mostra que a verdadeira Arte de viver ĂŠ aquela que encontra o seu lugar no tempo e assim perduraâ€? (Costa Sacadura S, 1958a).

*>V>  UK R Y @ K R DiĂĄrio do Governo. 1904; 16, 21 de Janeiro. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. Le masque du cadavre. Separata dos Archivos do Instituto de Medicina Legal. 1931; 3: pp. 3-4. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. Serviços MĂŠdico-Forenses. Archivos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, vol. I, 1922, pp. 194-247. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. Guia de autĂłpsias. Lisboa: Instituto de Medicina Legal de Lisboa; 1915. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. O Ensino da Medicina Legal. Archivos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa. SĂŠrie A, vol. I, 1914, pp. 225-258. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. O cancro em Portugal. Medicina Contemporânea. SĂŠrie II, 1906, pp. 393-401. FILOMENA MĂ“NICA, Maria ÂĄ §Â? " Parlamentar (1834-1910), vol. III, pp. 52-53, Assembleia da RepĂşblica, Lisboa, 2006. COSTA SACADURA, SebastiĂŁo. Elogio histĂłrico do Professor Azevedo Neves. Separata do Boletim da Academia das CiĂŞncias de Lisboa. 1958a; 30. COSTA SACADURA, SebastiĂŁo. Azevedo Neves, fundador do LaboratĂłrio de AnĂĄlises ClĂ­nicas do Hospital de SĂŁo JosĂŠ. Separata do Boletim ClĂ­nico dos Hospitais Civis de Lisboa. 1958b; 22: pp. 397-410. SANTOS, Jorge Costa. A Morgue e a Morte. Revista Povos e Culturas, n.Âş 3, Lisboa, Universidade CatĂłlica Portuguesa, 1988, pp. 491-510.


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