ano 29 n.º 137 Janeiro/Fevereiro | 2013 Mensal | 2€
Recusa de medicamentos pode ser crime pág. 50
Polémica Racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS pág. 36
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Revista da Ordem dos MĂŠdicos Ano 29 N.Âş 137 Janeiro/Fevereiro 2013
s
sumĂĄrio
30 Despacho 15630/2012
PROPRIEDADE: Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos
31 Declaraçþes do presidente do Conselho de Administração do CHSJ
SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Telefone geral da OM: 218427100
34 Unidades Privadas de SaĂşde Esclarecimento sobre a Portaria 287/2012
Presidente da Ordem dos MĂŠdicos: JosĂŠ Manuel Silva
35 Tabela de Nomenclatura para medicina dentĂĄria
Director: JosĂŠ Manuel Silva Directores Adjuntos: AntĂłnio Pereira Coelho, JosĂŠ Ă vila Costa e Miguel GuimarĂŁes Directora Executiva: Paula Fortunato E-mail: paula.fortunato@omcne.pt Redactora Principal: Paula Fortunato
actualidade 05 CĂłdigo DeontolĂłgico
36 Racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS
editorial
50 Recusa de medicamentos pode ser crime
06 A ĂŠtica teoriza-se, mas tambĂŠm se deve praticar!
informação
Dep. Comercial: Helena Pereira
10 Sustentabilidade, Recursos Humanos e Racionamento em SaĂşde
AntĂłnio JosĂŠ Cruz
15 Mapa de vagas do Concurso IM2013B
Redacção, Produção e Serviços de Publicidade: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Tel.: 218 427 100 – Fax: 218 427 199
17 Parecer da Associação Portuguesa de BioÊtica sobre Racionamento em Saúde
ImpressĂŁo: Zona Industrial da Pedrulha Apartado 8041 3021-997 Coimbra DepĂłsito Legal: 7421/85 Preço Avulso: 2 Euros Periodicidade: Mensal Tiragem: 43.000 exemplares (11 nĂşmeros anuais) Isento de registo no ICS nos termos do nÂş 1, alĂnea a do artigo 12 do Decreto Regulamentar nÂş 8/99
29 DemissĂŁo do Coordenador do CNEDMOM
53 Carta aberta aos dirigentes polĂticos e autoridades de saĂşde da Europa 56 Que Futuro para a estratĂŠgia de segurança nacional?
opinião 60 Racionalização? Racionamento? 64 SNS – não hå dinheiro? Uma ideológica aldrabice
22 Parecer do CNEDMOM sobre o parecer 64 do CNECV
67 A revisĂŁo dos estatutos da Ordem dos MĂŠdicos
23 Nova CĂŠdula Profissional
68 A mentira do “dever de empobrecer�
24 Declaraçþes do Presidente do CNECV de 24 de Dezembro de 2012 25 NotĂcias relativas a documento inacabado e interno da OM 26 Pedido de retratação pĂşblica 27 Carta ao coordenador do CNEDMOM 28 DemissĂľes no CNEDM da Ordem dos MĂŠdicos
72 Este paĂs nĂŁo ĂŠ para velhos 74 Um novo regime de trabalho mĂŠdico... 77 Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) 83 O Medo 86 Fumo sem fogo?
histĂłrias da... 87 Azevedo Neves (1877-1955)
Nota da redacção: Os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos MÊdicos.
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c
conselho cientĂfico
PRESIDENTES DOS COLÉGIOS DAS ESPECIALIDADES ANATOMIA PATOLĂ“GICA: Pedro Oliveira ANESTESIOLOGIA: Paulo Ferreira de Lemos ANGIOLOGIA/ CIRURGIA VASCULAR: JosĂŠ Fernandes e Fernandes CARDIOLOGIA: Mariano Pego CARDIOLOGIA PEDIĂ TRICA: JosĂŠ Monterroso CIRURGIA CARDIOTORĂ CICA: Manuel Antunes CIRURGIA GERAL: Pedro Coito CIRURGIA MAXILO - FACIAL: Paulo Coelho CIRURGIA PEDIĂ TRICA: Paolo Casella CIRURGIA PLĂ STICA RECONSTRUTIVA E ESTÉTICA: VĂtor Fernandes DERMATO - VENEREOLOGIA: Manuela Selores DOENÇAS INFECCIOSAS: Fernando Maltez ENDOCRINOLOGIA - NUTRIĂ‡ĂƒO: MĂĄrio Rui Guerreiro Mascarenhas ESTOMATOLOGIA: RosĂĄrio Malheiro FARMACOLOGIA CLĂ?NICA: Henrique Luz Rodrigues " # $ % & GENÉTICA MÉDICA: Jorge M. Saraiva GINECOLOGIA / OBSTETRĂ?CIA: JoĂŁo Silva Carvalho HEMATOLOGIA CLĂ?NICA: Alexandra Mota IMUNOALERGOLOGIA: Elza TomĂĄs IMUNOHEMOTERAPIA: Maria Helena Alves MEDICINA DESPORTIVA: Paulo Beckert Rodrigues MEDICINA FISICA E DE REABILITAĂ‡ĂƒO: Cecilia Vaz Pimto MEDICINA GERAL E FAMILIAR: JosĂŠ Silva Henriques MEDICINA INTERNA: AntĂłnio Martins Baptista MEDICINA LEGAL: Francisco Corte Real MEDICINA NUCLEAR: Maria do RosĂĄrio Vieira MEDICINA DO TRABALHO: AntĂłnio Lopes Pires MEDICINA TROPICAL: JosĂŠ Lopes Martins NEFROLOGIA: JoĂŁo Ribeiro Santos NEUROCIRURGIA: Nuno Maria Salema Pereira dos Reis NEUROLOGIA: JosĂŠ Fernando da Rocha Barros NEURORRADIOLOGIA: JoĂŁo Abel Marques Xavier OFTALMOLOGIA: Rui Daniel Mateus Barreiros Proença ONCOLOGIA MÉDICA: Maria Helena GervĂĄsio ORTOPEDIA: Paulo FelicĂssimo OTORRINOLARINGOLOGIA: Artur CondĂŠ PATOLOGIA CLĂ?NICA: Manuel Cirne Carvalho PEDIATRIA: JosĂŠ Lopes dos Santos PNEUMOLOGIA: Henrique Queiroga PSIQUIATRIA: Luiz Carlos Viegas Gamito PSIQUIATRIA DA INFĂ‚NCIA E DA ADOLESCĂŠNCIA: (a designar) RADIOLOGIA: Maria AmĂŠlia Ferreira EstevĂŁo RADIOTERAPIA: Ă‚ngelo Oliveira REUMATOLOGIA: JosĂŠ AntĂłnio de Melo Gomes SAĂšDE PĂšBLICA: Pedro Serrano UROLOGIA: JosĂŠ Palma dos Reis
COORDENADORES SUBESPECIALIDADES CARDIOLOGIA DE INTERVENĂ‡ĂƒO: Vasco Ribeiro CUIDADOS INTENSIVOS PEDIĂ TRICOS: JosĂŠ Filipe Farela Neves ELECTROFISIOLOGIA CARDĂ?ACA: Pedro AdragĂŁo EEG/NEUROFISIOLOGIA: Maria Regina Brito GASTRENTEROLOGIA PEDIĂ TRICA: Jorge Amil Dias HEPATOLOGIA: Rui Tato Marinho MEDICINA INTENSIVA: Rui Paulo Moreno MEDICINA DA REPRODUĂ‡ĂƒO: Carlos Calhaz Jorge NEFROLOGIA PEDIĂ TRICA: Fernando Rosa NEONATOLOGIA: Daniel Virella NEUROPEDIATRIA: JosĂŠ Carlos da Costa Ferreira ONCOLOGIA PEDIĂ TRICA: Maria JosĂŠ Ribeiro ORTODONCIA: (a designar)
COORDENADORES COMPETĂŠNCIAS ACUPUNCTURA MÉDICA: JoĂŁo Pires EMERGĂŠNCIA MÉDICA: Carlos Mesquita GESTĂƒO DOS SERVIÇOS DE SAĂšDE: JosĂŠ Pedro Moreira da Silva HIDROLOGIA MÉDICA: LuĂs Cardoso Oliveira MEDICINA DA DOR: Beatriz Gomes MEDICINA FARMACĂŠUTICA: Ana Maria Nogueira MEDICINA HIPERBĂ RICA: Oscar Camacho
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Código Deontológico Relações dos médicos com terceiros capítulo I '*+;<'= >KW '=Y+['*'>\W']YK= ^' >_\^+^K= W`^\>K=
Artigo 142.º (Liberdade de escolha dos meios de diagnóstico e tratamento) 1. A liberdade de escolha pelo médico dos meios de diagnóstico e tratamento não pode ser limitada por disposição estatutária, contratual ou regulamentar, ou por imposição da entidade de prestação de cuidados médicos.
2. O disposto no número anterior não impede o controlo médico hierarquizado do acto médico, o qual deve realizar-se sempre no interesse do doente.
3. O disposto anteriormente não obsta à existência de orientações, normas e protocolos respeitantes à utilização de meios complementares de diagnóstico e tratamento, desde de que aprovados por uma Direcção Clínica, após ampla discussão e consenso com os médicos abrangidos.
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e
editorial
A ĂŠtica teoriza-se, mas tambĂŠm se deve praticar!
Encaro como positivo todo o diĂĄlogo sobre preceitos ĂŠticos, se bem que a continuação da presente discussĂŁo, a que nĂŁo posso eximir-me, nĂŁo aconteça pelos motivos mais positivos. Pela minha parte, esta matĂŠria ďŹ ca aqui deďŹ nitivamente encerrada. Fazendo um pouco de histĂłria dos momentos mais recentes... Dia 23 de Dezembro sou surpreendido pelo contacto do JN para me pronunciar sobre um documento interno da Ordem, produzido pelo Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdicas (CNEDM). Fui reservado nas palavras, para evitar escusadas polĂŠmicas. InglĂłrio. No dia 24 de Dezembro sou procurado intensivamente por toda a comunicação social, w y {
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e pouco ĂŠticas declaraçþes do Presidente do CNECV. O Presidente do CNECV faltou grosseiramente Ă verdade quanto } ~ Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x20AC; eu escondera um documento do CNEDM durante mais de um mĂŞs! Um comunicado dos trĂŞs Presidente Regionais, publicado nesta Revista, repĂľe factualmente a verdade. Esclarecido e instado a assumir um pedido de desculpas, o Presidente do CNECV nunca o fez. Ficamos esclarecidos quanto Ă sua interpretação da Ă&#x2030;tica.
Perante a avassaladora insistĂŞncia da comunicação social, que inicialmente nem atendi por se tratar de um dia de FamĂlia, e em função de alguns telefonemas de Amigos e Colegas inquietos, dizendo-me que era imprescindĂvel uma reacção, elaboro um comunicado pessoal, que tambĂŠm se publica nesta Revista, e dialogo com alguns meios de comunicação social. Estranha vĂŠspera de Natal. O parecer do CNEDM, agora igualmente publicado nesta
In â&#x20AC;&#x153; Correio da ManhĂŁâ&#x20AC;? - 20 de Dezembro de 2012
Revista, porque nada temos a esconder, surpreendeu-me. Informalmente discutido no CNE de 21 de Dezembro, foi decidido aguardar-se pelos esclarecimentos solicitados ao CNEDM. Entretanto, em vez de respostas, recebemos os pedidos de demissĂŁo de trĂŞs membros do CNEDM, entre os quais o Presidente, Prof. Filipe Almeida, o que motivou a carta que lhe enviei, e que aqui ĂŠ divulgada. O Dr. Pedro Ponce pediu oralmente a sua demissĂŁo ao Presidente da SRS, conforme soubemos posteriormente. Em resposta Â&#x2039; { determinado momento apenas dois conselheiros reiteram a sua demissĂŁo. Mais uma vez, os membros demissionĂĄrios, ou alguĂŠm por eles, foram (ou foi) pressurosamente para a comunicação social lançar mais ruĂdo pĂşblico sobre a Ordem dos MĂŠdicos, com objetivos certamente muito pouco nobres, o que apenas desabona em relação ao sentido ĂŠtico dos prĂłprios. O que acaba por aclarar alguns comportamentos. O Prof. Filipe Almeida, inamovĂvel, persiste no pedido de demissĂŁo, naturalmente aceite, divulgando-se a carta que o mesmo solicitou que fosse publicada. Na Ordem nĂŁo hĂĄ tabus e nĂŁo hĂĄ pessoas insubstituĂveis. Lastimo profundamente que os elementos agora demissionĂĄrios nĂŁo tenham protelado um pouco a sua demissĂŁo, para poderem responder Ă s dĂşvidas legitimamente colocadas pelo CNE. Compreendo que teriam Â&#x20AC; Â&#x20AC; y Â&#x152; Â? Fui acusado de â&#x20AC;&#x153;apoucarâ&#x20AC;? o parecer do CNEDM! Pena foi que os Conselheiros demissionĂĄrios tenham perdido a oportunidade
de â&#x20AC;&#x153;agigantarâ&#x20AC;? o referido parecer dissecando e elaborando sobre os assuntos controversos do mesmo. Resumido o historial e enquadrados os documentos que agora se publicam, sĂŁo inevitĂĄveis alguns comentĂĄrios. - A Ordem dos MĂŠdicos, vertebradamente, continuarĂĄ a defender, com intransigĂŞncia, os Doentes e a Qualidade dos Cuidados de SaĂşde e nĂŁo aceitarĂĄ racionamentos impostos por ne Â&#x20AC; ~ qualquer Governo nem os custos de oportunidade de decisĂľes no mĂnimo discutĂveis, que muito tĂŞm penalizado o SNS. Como bem lembrou Donald Berwick, na sua recente conferĂŞncia na Fundação Calouste Gulbenkian, â&#x20AC;&#x153;apostar em cuidados de excelĂŞncia sairĂĄ sempre mais baratoâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;ĂŠ importante conquistar a sociedade civil e  ~ processos de tomada de decisĂŁo sĂŠrios e com maturidadeâ&#x20AC;?. - Causa alguma perplexidade que os responsĂĄveis pela â&#x20AC;&#x153;fugaâ&#x20AC;? do parecer do CNEDM para a comunicação social tenham preferido discutir um documento na comunicação social em vez de o fazer internamente. Em nada  Â&#x192;~ { Â&#x201E; e a Ordem dos MĂŠdicos. - As â&#x20AC;&#x153;fugasâ&#x20AC;? de informação, que aparentemente tiveram origem em alguĂŠm do CNEDM e a que os Colegas da Secção Regional do Norte sĂŁo completamente alheios, ocorreram por meios de comunicação do Porto. Sobre o parecer do CNEDM da Ordem dos MĂŠdicos: - Ă&#x2030; absolutamente espantoso e ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x2021; que o parecer 64/2012 do CNECV â&#x20AC;&#x153;evitou a controvĂŠrsia estĂŠrilâ&#x20AC;?! Um parecer que o Dr. BagĂŁo Â&#x2C6; Â&#x2030; Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x160; Â&#x20AC;~ Jan/Fev | 2013 | 7
Â&#x2014;{ Â&#x20AC; Â&#x2013; yÂ? % Oliveira, indirectamente, referiu como uma reintrodução da pena de morte em Portugal, que ĂŠ duramente criticado pela Associação Portuguesa de BioĂŠtica, que foi amplamente rejeitado pela Sociedade, que admite o racionamento por idadeâ&#x20AC;Ś, evitou a â&#x20AC;&#x153;controvĂŠrsia estĂŠrilâ&#x20AC;??!... Sem comentĂĄriosâ&#x20AC;Ś - Para alĂŠm de algumas ressalvas Â&#x20AC; w Â&#x2030;Â&#x2DC; Â&#x2019; rentes, o parecer do CNEDM fugiu/evitou todos os aspectos mais polĂŠmicos do parecer 64 do CNECV e demitiu-se antes ~ w Â&#x2030;Â&#x2DC; adicionais solicitadas! Ao requerer um parecer ao CNEDM sobre o parecer 64, o CNE esperava que os aspectos que mais intensa discussĂŁo pĂşblica motivaram fossem alvo de meditação ĂŠtica do nosso Conselho de Ă&#x2030;tica. Infelizmente, tal nĂŁo aconteceu.  w ~ ~ - No CNECV hĂĄ quem, por ocupar cargos de nomeação polĂtica do Governo e aspirar a ser nomeado para outros, deveria, eticamente, ter-se escusado a participar de um parecer elaborado a pedido desse mesmo Governo. Sobre ~ w ~ ~ Presidente do CNECV nada diz?! - Recentemente foram nomeados pelo Governo dois novos elementos para o CNECV, para substituir dois que abandonaram. NĂŁo serĂĄ passĂvel de dĂşvidas que o Governo nomeie pessoas, cujo Â? Â&#x20AC; Â&#x2020; ~ { um ĂłrgĂŁo ĂŠtico a que depois vai pedir pareceres?! NĂŁo deveria ter Â&#x2020; w Â&#x2030;Â&#x2018; y ~ Â&#x20AC; dos elementos agora nomeados pertencer ao mesmo Instituto da relatora do parecer 64/2012 do CNECV? A Lei 24/09 deveria ser revista e corrigida nas suas vĂĄrias fragilidades. 8 | Jan/Fev | 2013
- HĂĄ elementos do CNEDM da OM que deveriam ter pedido escusa de se pronunciarem sobre o parecer 64 do CNECV. O principal ĂŠ mesmo o ex-Coordenador do CNEDM, pois trabalha no mesmo Instituto de BioĂŠtica que tem como Directora a relatora do parecer do CNECV, facto que nem sequer assinalou! O CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos Â&#x201E; ~ Â&#x2030; ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ Â? w ~ ~ Â&#x20AC; Â&#x2018; devem dar pareceres nessas circunstâncias. Do debate na Ordem dos MĂŠdicos sobre racionamento vs racionalização em SaĂşde, nĂŁo posso deixar de fazer um comentĂĄrio. O Presidente do CNECV apresentou na Ordem dos MĂŠdicos uma interpretação do parecer que, em alguns aspectos, contraria frontalmente a letra desse mesmo parecer. ~Â&#x20AC; ~ { Â&#x2019; Â&#x2019; crever o parecer com a nova e agora pĂşblica interpretação, porque tornaria o parecer 64 muito mais consensual e passĂvel atĂŠ de ser subscrito por mim prĂłprio. Inesperadamente, o Prof. Miguel Oliveira da Silva recusou-se a passar a forma de letra o seu discurso oral. Ficamos esclarecidos. Porque o que conta Â? ~Â&#x201C; Â&#x20AC; ~ escrito e nĂŁo aquilo que ĂŠ dito. A conclusĂŁo ĂŠ simples. O que estĂĄ escrito no parecer 64 ĂŠ de tĂŁo fraca qualidade que necessita de interpretação, mas a interpretação nĂŁo pode ser escrita porque contraria o parecerâ&#x20AC;Ś  { Â&#x2018; imprevisto, atentas as trapalhadas que vieram posteriormente a pĂşblico, com o Presidente do % %Â&#x2022; Â&#x2013; ~ que os Hospitais G14 nĂŁo teriam
In â&#x20AC;&#x153; Correio da ManhĂŁâ&#x20AC;? - 3 de Janeiro de 2013
editorial
contrĂĄrio, sĂł lhe criou problemas adicionais. Fica demonstrado,
~ { que o Ministro da SaĂşde, caso o pretenda, farĂĄ melhor em pedir pareceres Ă Ordem dos MĂŠdicos, que tem um potencial de experiĂŞncia e conhecimento acumulados que nĂŁo se encontra em nenhuma outra instituição. Finalmente. Do mesmo modo como foram nomeados, os membros do CNEDM que se demitiram jĂĄ foram tranquilamente substituĂdos de acordo com os Estatutos da Ordem dos MĂŠdicos. SĂŁo os procedimentos normais em qualquer instituição. Tal como agora dois membros do CNECV tambĂŠm foram substituĂdos sem qualquer polĂŠmica... Enquanto assistirmos ao contĂnuo enterrar de milhares de milhĂľes de euros no obscuro processo do BPN, entre muitos outros desperdĂcios, situaçþes pouco transparentes e aviltantes desigualdades, contestaremos todo e qualquer processo de racionamento em saĂşde com redobrada energia. A desumanidade e facilidade com que alguns aceitam o desfavorecimento dos mais pobres recorda-me o conto de MĂĄximo Gorki, â&#x20AC;&#x153;Seres que outrora foram humanosâ&#x20AC;?. A Ordem dos MĂŠdicos defenderĂĄ e praticarĂĄ sempre a Ă&#x2030;tica do CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicos. Continuemos, todos, a ser Seres Humanos.
In â&#x20AC;&#x153; Correio da ManhĂŁâ&#x20AC;? - 17 de Janeiro de 2013
colaborado com o CNECV, o que Â&#x2018; Â&#x2020; { obrigado a emitir um comunicado explicativo a lamentar o â&#x20AC;&#x153;mal entendidoâ&#x20AC;?! Estranhamente, a resposta do G14 nĂŁo circulou por todos os Conselheiros, nem sequer por todos os relatores! SintomĂĄtico. Depois de meses de insistĂŞncia y ~ Â&#x2020; ~ carta que o Ministro da SaĂşde dirigiu ao CNECV a solicitar o parecer. A carta nada tem de extraordinĂĄrio, solicitando â&#x20AC;&#x153;a elaboração de um parecer sobre a implementação de medidas que visem a racionalização da oferta de tecnologias de saĂşde, em particular de medicamentos, no quando da sustentabilidade do SNSâ&#x20AC;Ś Agradecemos um enfoque sobre as medidas que estĂŁo a ser implementadas por vĂĄrios hospitais no sentido de se agregarem para a aquisiçãoâ&#x20AC;Śâ&#x20AC;?. Curiosidade 1: O Ministro da SaĂşde solicitou um parecer sobre racionalização e o CNECV, â&#x20AC;&#x153;mais papista que o papaâ&#x20AC;?, respondeu com uma estratĂŠgia de racionamento! Elucidativo. Curiosidade 2: Conforme constava da carta do Ministro, era importante analisar a estratĂŠgia do G14, mas o respectivo documento nĂŁo foi considerado pelo CNECV, nĂŁo foi entregue a um dos relatores e nĂŁo era do conhecimento do seu Presidente. Â&#x2122; A grande lição de todo este processo ĂŠ que o Parecer 64 do CNECV em nada ajudou o Ministro da SaĂşde. Bem pelo
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informação
Miguel Guimarães Presidente do CRNOM
Sustentabilidade, Recursos Humanos e Racionamento em Saúde
As declarações do Presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar de São João (CHSJ) em entrevista ao programa “Olhos nos Olhos” na TVI24 nos dias 17/12/2012 e 07/01/2013, e toda a sequência de acontecimentos públicos relacionados com o parecer 64/2012 do Conselho Nacional
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de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) mereceram do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (CRN) o máximo de atenção e preocupação, o que resultou em diversas intervenções públicas na defesa dos médicos e do direito de todos os cidadãos a cuidados de saúde de qualidade
e em igualdade de circunstâncias (ver documentos publicados nesta revista). As sugestões dos Presidentes do CA do CHSJ e do CNECV anteciparam a apresentação pública do relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), o qual, em termos genéricos, aponta para que Portugal não
pode continuar a ter um Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) de qualidade, que respeite os Direitos Humanos e os direitos sociais consagrados na nossa Constituição. Sem prejuĂzo de uma anĂĄlise mais formal das declaraçþes proferidas pelo Presidente do CA do CHSJ, ĂŠ profundamente lamentĂĄvel que um mĂŠdico manche abertamente o bom ~ que trabalham no SNS e no CHSJ, ao sugerir que os mĂŠdicos, e designadamente os especialistas de todas as especialidades cirĂşrgicas do paĂs, e em particular os do CHSJ, nĂŁo cumprem os seus deveres no SNS como cirurgiĂľes e como cidadĂŁos. A sugestĂŁo de que operam pouco, e de que â&#x20AC;&#x153;baixam a produtividade no SNS para operar os doentes nas instituiçþes privadasâ&#x20AC;?, nĂŁo % %Â&#x161; os mĂŠdicos. Pelo contrĂĄrio, estigmatiza todos os mĂŠdicos do CHSJ e apenas contribui para aumentar a indignação dos mĂŠdicos e dos doentes. De resto, a informação alarmista de que 30 cirurgiĂľes do CHSJ nĂŁo iriam ao bloco ĂŠ incompreensĂvel, na medida em que, a ser verdade Â&#x20AC; Â&#x203A; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; aceitĂĄvel, a responsabilidade ĂŠ tambĂŠm dos respectivos directores de serviço, nomeados pelo CA, e do prĂłprio CA do CHSJ. Foi completamente ignorada a constituição das equipas cirĂşrgicas (que, no mĂnimo, tĂŞm que ser constituĂdas por um cirurgiĂŁo e um cirurgiĂŁo ajudante) e a multiplicidade de ocupaçþes a que um especialista estĂĄ sujeito no seu serviço, desde a formação dos internos de especialidade Ă s tarefas administrativas e de organização,
passando pela consulta externa e interna, serviço de urgĂŞncia, serviço em unidades de cuidados Â&#x153; { Â? ~ dos doentes internados, formação contĂnua, actividade docente e investigação. Uma simples anĂĄlise do relatĂłrio de monitorização mensal da actividade assistencial, publicado pela Administração Central do Sistema de SaĂşde (ACSS), revela que em 2012 e atĂŠ Outubro foram realizadas 448.043 cirurgias programadas (208.218 convencionais e 239.825 em ambulatĂłrio) e 89.074 cirurgias urgentes. Ou seja, um total de Â?Â&#x17E;Â&#x;Â?  Â&#x; Â&#x20AC; { Â&#x20AC; 2012 rondarĂĄ as 671.396 cirurgias. Um nĂşmero substancialmente diferente do referido pelo Presidente do CA do CHSJ (196.695 cirurgias). Na realidade, o rĂĄcio de cirurgias por cirurgiĂŁo ĂŠ muito superior Ă quele que foi sugerido na referida entrevista. Adicionalmente, a referĂŞncia } { particular Ă carreira mĂŠdica, com a alusĂŁo negativa aos â&#x20AC;&#x153;cargos Â? Â&#x20AC; ~Â&#x203A; ~ a vidaâ&#x20AC;?, foi particularmente infeliz e contrĂĄria aos princĂpios fundadores do prĂłprio SNS, e mostrou uma confusĂŁo inquietante entre a progressĂŁo ÂĄ Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; competĂŞncias mĂŠdicas) e os lugares de direcção (de nomeação e da exclusiva responsabilidade do CA do CHSJ). Interpretando de forma literal os dados apresentados pelo Presidente do CA do CHSJ, sĂł podemos concluir que resultaram Â&#x20AC; w Â&#x2030;Â&#x2018; Â&#x20AC;~ Â&#x153;~ quem tem responsabilidades directas na matĂŠria. Em Ăşltima anĂĄlise, se a actividade mĂŠdica e cirĂşrgica do CHSJ nĂŁo corresponde aos parâmetros
Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; { Â&#x201C; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; ~ acontece e tomar as medidas necessĂĄrias para inverter a situação. Jamais tal poderĂĄ servir para julgar em praça ¢ Â&#x20AC; declaraçþes que entendemos serem difamatĂłrias. Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC;  taxa de absentismo no CHSJ (cerca de 6% em 2011, e nĂŁo 11% como foi dito) e sobre a exclusividade de funçþes (a dedicação exclusiva, regime de trabalho que jĂĄ nĂŁo ĂŠ uma opção dos mĂŠdicos desde 2009 e que nem sempre correspondia a mais horas de trabalho) sĂŁo reveladoras das intençþes mais desastrosas do poder polĂtico e da sua â&#x20AC;&#x2DC;refundação do estado socialâ&#x20AC;&#x2122;. Por isso, e no pressuposto Â&#x20AC; saĂşde estivessem todos em exclusividade, o Presidente do CA do CHSJ referiu que poderia dispensar cerca de 20% dos recursos humanos, mantendo ou reforçando a actividade e qualidade de serviços. A imensa maioria dos mĂŠdicos naquele hospital jĂĄ trabalha no limite do que ĂŠ ĂŠtica e humanamente aceitĂĄvel. E todos sabem bem disso. E serĂĄ que os mĂŠdicos em exclusividade de funçþes trabalham mais que os mĂŠdicos que nĂŁo estĂŁo em exclusividade? E serĂŁo os mĂŠdicos em Â&#x2030; Â&#x20AC; Â&#x2020; ~ que aqueles que nĂŁo estĂŁo em exclusividade, em função do seu vencimento mensal e horĂĄrio de trabalho? E o CA do CHSJ ~ Â&#x20AC; pagar um regime equivalente ao da exclusividade a todos os mĂŠdicos? E se todos os mĂŠdicos do CHSJ solicitarem ao CA a passagem para o novo regime das 40 horas semanais recentemente Jan/Fev | 2013 | 11
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publicado, o CA do CHSJ aceitarĂĄ os pedidos formulados? Numa altura de crise social, em que todos os portugueses se sentem injustiçados, e em que o bom senso deveria constituir um imperativo pĂşblico, as declaraçþes proferidas sĂŁo lamentĂĄveis, inaceitĂĄveis e contraproducentes. O CHSJ foi considerado, pelo terceiro ano consecutivo, o melhor do SNS no estudo realizado pela Escola Nacional de SaĂşde PĂşblica. Tal avaliação nĂŁo seria possĂvel se nĂŁo tivesse Â&#x2030; ~ { Â&#x20AC; tal estudo deveria tambĂŠm ser entendido como um elogio aos recursos humanos de que dispĂľe %Â&#x161; Â? Â&#x20AC; hospital nĂŁo mereciam tanta falta de respeito e tanto desprezo. y ~ { saĂşde, e em particular os mĂŠdicos, sĂŁo os principais responsĂĄveis pela melhoria da qualidade dos cuidados de saĂşde prestados aos cidadĂŁos e pelo sucesso internacional do nosso SNS, tendo estado intimamente associados aos mĂŠritos do nosso serviço de saĂşde sistematicamente destacados pela OCDE e pela OMS. Os indicadores conhecidos e regularmente divulgados falam por si. Acresce, ainda, que os mĂŠdicos portugueses sĂŁo internacionalmente reconhecidos como Â&#x2030; ~ Â&#x20AC; mais prestigiaram um serviço pĂşblico em Portugal. Na entrevista de 07/01/2013, o Presidente do CA do CHSJ deixou claro porque induziu em erro a população portuguesa. Ă&#x2030; que a grande fatia do Orçamento de Estado para a saĂşde estĂĄ alocada aos recursos humanos. E se no inĂcio desta segunda entrevista ~ ~ Â&#x20AC; Â&#x20AC; y Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2039;Â&#x2DC; 12 | Jan/Fev | 2013
produzidas na primeira, a realidade ĂŠ que insistiu em falar de um regime de trabalho que jĂĄ nĂŁo estĂĄ disponĂvel desde 2009 (dedicação exclusiva) e que a enorme maioria dos portugueses nĂŁo entende. De resto, nĂŁo nos parece credĂvel que o CA do CHSJ esteja disponĂvel para aceitar a transição das 35 para as 40 horas a todos os mĂŠdicos que assim o solicitarem ao abrigo da nova legislação da Carreira MĂŠdica. Ă&#x2030; que, provavelmente, o CHSJ nĂŁo terĂĄ orçamento disponĂvel para tal desiderato. Fica mais uma vez, agora de forma mais directa e sem a necessidade de sugerir que os seus funcionĂĄrios Â&#x2018; Â&#x20AC; { de que o CHSJ tem cerca de 20% Â&#x2030; { ou, dito de outra forma, tem 20% de mĂŠdicos dispensĂĄveis. E se no â&#x20AC;&#x153;melhor hospital do PaĂsâ&#x20AC;? ĂŠ assim, como serĂĄ nos outros! O cĂrculo estĂĄ portanto quase encerrado. A mensagem Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â? ~ da comunicação social no dia seguinte. E o relatĂłrio do FMI
Â&#x20AC; Â&#x20AC; se quis antecipar. AtĂŠ parece que jĂĄ estava tudo combinado! Profundamente deplorĂĄvel. Neste contexto, quero mais uma vez aqui expressar a mĂĄxima solidariedade para com todos os %Â&#x161; Â? seu trabalho tem sido altamente prestigiante para a Medicina nacional e tem contribuĂdo de forma decisiva para que o seu hospital seja uma referĂŞncia de rigor e excelĂŞncia na prestação de cuidados de saĂşde. E qual a relação entre recursos humanos, racionamento em saĂşde e sustentabilidade? Bom, menos recursos humanos e mais racionamento igual a maior sustentabilidade. Ou melhor
ainda, menos doentes e menos Â&#x20AC; sustentabilidade. O primeiro passo no â&#x20AC;&#x153;racionamento em saĂşdeâ&#x20AC;? foi dado pelo agrupamento dos hospitais do Norte (liderado pelo CHSJ) conhecido por G14. O acordo assinado entre os 14 hospitais, e que posteriormente foi alargado Â&#x20AC;~ Â? ~ { na prĂĄtica a existĂŞncia de protocolos terapĂŞuticos em ĂĄreas Â&#x153; { ~ ou excluĂdo a determinados tipos ~ ~ ~ ~ ~ comprovados como vĂĄlidos e aprovados a nĂvel nacional e internacional. A situação criada permitiu desigualdades marcadas no acesso a diversos tipos de tratamentos. Os doentes dos hospitais fora do G14 tinham mais possibilidades terapĂŞuticas, e os hospitais do G14 tinham mais poupanças. A contestação social subiu de tom e foi necessĂĄrio legitimar eticamente o racionamento em ¢ Â?  { Â&#x20AC; em medicamentos, equipamentos e dispositivos mĂŠdicos ocupam a outra grande fatia do Orçamento de Estado para a saĂşde. Assim, e a pedido do Ministro da SaĂşde, foi emitido um parecer (64/2012) % %Â&#x2022; Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ eticamente o racionamento em saĂşde, sugerindo o racionamento administrativo e introduzindo a ideia do racionamento com base na idade. AlĂŠm disso, e questionando as regras em vigor Â&#x20AC; Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; ~Â&#x153; e fĂĄrmaco-econĂłmica, o mesmo parecer aborda a questĂŁo da
Â&#x20AC;Â&#x2020; Â&#x20AC; medicamentos, colocando em causa o trabalho do prĂłprio INFARMED e da AgĂŞncia Europeia do Medicamento, centrando-se em trĂŞs grupos de medicamentos:
retrovirais (doentes VIH+), oncolĂłgicos e biolĂłgicos (doentes com artrite reumatĂłide). O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) nĂŁo podia simplesmente ignorar este parecer. As implicaçþes no âmbito dos direitos dos doentes e dos cidadĂŁos, da qualidade dos cuidados de saĂşde, da ĂŠtica e ~ Â&#x2018; e da investigação e progresso
~Â&#x153; { Â&#x2030; % Â&#x20AC; tomada de posição pĂşblica. Foi o que aconteceu. Contestamos as questĂľes polĂŠmicas do referido y  Â&#x2021; ~ Â&#x2020; Â? Em respeito pelos princĂpios fundamentais plasmados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que tĂŞm como base a igual dignidade de todos os seres humanos, e em defesa da verdadeira equidade nacional no acesso aos cuidados ¢  ~ Â&#x152; e coerente ao desperdĂcio, apoiado em mais organização e Â&#x203A; Â&#x2030; Â&#x20AC; de saĂşde. O contributo para a sustentabilidade do SNS nesta matĂŠria pressupĂľe uma discussĂŁo ampla e aberta na sociedade com base em critĂŠrios de legitimidade e justiça, centrando o debate em prioridades ĂŠticas em saĂşde e nunca em racionamento ĂŠtico, com base na adopção do utilitarismo (discriminação com base na idade), como sugerido pelo parecer do CNECV. De resto, e como realça a Associação Portuguesa de BioĂŠtica (APB) no seu parecer: â&#x20AC;&#x153;o estabelecimento de prioridades na saĂşde para ser eticamente aceitĂĄvel pressupĂľe que situaçþes mais graves tenham prioridade sobre situaçþes menos gravesâ&#x20AC;?Â? yÂ&#x20AC; { Â&#x2039;Â&#x2018; do nosso trabalho diĂĄrio. Existem prioridades no acesso Ă s consultas externas e internas,
prioridades nas inscriçþes dos doentes para cirurgia, prioridades na marcação de consultas de vigilância, prioridades na observação dos doentes internados, prioridades no serviço de urgĂŞncia, etc. Claro que, no limite, Â&#x2039;Â&#x2018; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; exclusiva de prioridades pode restringir de forma muito ~ Â&#x2020; ~ tratamentos por parte de doentes com patologias menos graves. E, { Â&#x20AC;Â&#x152; Ă exclusĂŁo de determinados tratamentos no SNS, como por exemplo a cirurgia plĂĄstica com intuitos meramente estĂŠticos. O Presidente do CNECV nĂŁo entendeu a posição da Ordem dos MĂŠdicos. E no dia 24 de Dezembro de 2012, a propĂłsito do parecer interno do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos ÂĄ% Â&#x201E;§{ Â&#x20AC; Â&#x2013; â&#x20AC;&#x153;o BastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos consegue durante mais de um mĂŞs censurar e nĂŁo divulgar este documento, o que ĂŠ gravĂssimoâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;obviamente o " ~ y Â&#x152; Â? devia retirar as consequĂŞncias, porque neste momento ĂŠ Ăłbvio que hĂĄ imensas e insanĂĄveis divisĂľes no interior da Ordem Â&#x201E; Â&#x2014;Â? ~ Â&#x2039;Â&#x2DC; sĂŁo falsas e mancharam publicamente o bom nome da Ordem dos MĂŠdicos e do seu BastonĂĄrio, logo de todos os mĂŠdicos. Ă&#x2030; inaceitĂĄvel que um presidente de um conselho de ĂŠtica falte Ă verdade na praça pĂşblica. Desacredita o seu CNECV e coloca em causa a sua idoneidade ĂŠtica e como cidadĂŁo. Tudo em nome da suposta sustentabilidade do SNS. Uma anĂĄlise detalhada dos y ~  compreender toda a polĂŠmica
criada pelo Presidente do CNECV e que foi deliberadamente tornada pĂşblica: em 30 de Outubro, o CNE pediu ao CNEDM para elaborar o seu parecer sobre as questĂľes consideradas polĂŠmicas levantadas pelo parecer do CNECV; em 23 de Novembro reuniu em Coimbra o CNEDM; em 11 de Dezembro, foi enviado por carta o parecer do CNEDM para os serviços administrativos do BastonĂĄrio/CNE; em 17 de Dezembro, o referido parecer chegou ao BastonĂĄrio; em 21 de Dezembro, em reuniĂŁo do CNE em Lisboa, o BastonĂĄrio entregou o referido parecer a todos os membros do CNE. Nessa mesma reuniĂŁo, o CNE decidiu manter sob reserva o referido texto, uma vez que o mesmo nĂŁo respondia concretamente Ă s questĂľes polĂŠmicas suscitadas pelo parecer 64/2012 do CNECV, e cujo esclarecimento solicitara. Por esse mesmo motivo, o texto disponibilizado nĂŁo foi considerado um documento ~ Â&#x2020; { ~Â&#x2018; Â&#x201C; Â&#x20AC; ~ Â&#x2030;~ preliminar e, como tal, nĂŁo passĂvel de ser homologado. O Presidente do CNEDM, em resposta aos esclarecimentos pedidos pelo BastonĂĄrio, apresentou a sua demissĂŁo, e mostrou-se incomodado com a posição assumida pelo CNE e, em especial, pelo Conselho Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos. E porquĂŞ? O que fez o CRN atravĂŠs do seu Presidente em conferĂŞncia de imprensa? Defendeu a honra do nosso BastonĂĄrio e dos mĂŠdicos ao desmascarar publicamente as declaraçþes difamatĂłrias do Presidente do CNECV, repondo a verdade com base em factos objectivos que estĂŁo devidamente documentados. Todos eles relacionados com o parecer emitido pelo CNEDM e que o seu Jan/Fev | 2013 | 13
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presidente bem conhecia. Melhor que qualquer outra pessoa, o Presidente do CNEDM sabia que o BastonĂĄrio da OM nĂŁo tinha censurado o seu parecer, e muito menos durante mais de um mĂŞs
y Â? O Presidente do CNEDM demitiu-se, mas sem antes repor a verdade que tĂŁo bem conhecia. E nem uma palavra atĂŠ ao momento sobre o comportamento deplorĂĄvel do Presidente do CNECV. Â&#x2013; Â&#x20AC; Â&#x152;Â&#x2018; Â&#x20AC; Presidente do CNECV que o BastonĂĄrio reteve o documento mais de um mĂŞs? TerĂĄ tido â&#x20AC;&#x2DC;informaçþes privilegiadasâ&#x20AC;&#x2122; de quem conhecia o teor do parecer hĂĄ mais de um mĂŞs? TerĂĄ sido enganado por algum dos seus colaboradores? Quem ĂŠ que conhecia bem todo o processo? Tal como foi sugerido por um ĂłrgĂŁo de comunicação social, a demissĂŁo do Presidente do CNEDM terĂĄ alguma relação com o facto de ser um colaborador do Instituto de BioĂŠtica da Universidade CatĂłlica do Porto, o qual ĂŠ presidido precisamente por um membro do CNECV?
No seio da Ordem dos MĂŠdicos existem posiçþes diferentes sobre algumas matĂŠrias. E tal facto ĂŠ salutar e estimulante para o trabalho que todos ajudamos a desenvolver. As decisĂľes sĂŁo tomadas por maioria e procurando consensualizar posiçþes, como acontece em democracia. O CNE tem nos seus arquivos (disponĂveis a todos os mĂŠdicos) Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; verdade dos factos sobre todas Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x20AC;Â&#x152; Â? necessĂĄrio, tudo serĂĄ publicado. A exigĂŞncia da retratação pĂşblica ao Presidente do CNECV ĂŠ o mĂnimo que podemos fazer, em defesa da dignidade dos mĂŠdicos e do nosso BastonĂĄrio. A exigĂŞncia de explicaçþes fundamentadas e a reposição da verdade ao Presidente do CA do CHSJ ĂŠ o mĂnimo que podemos fazer, em defesa da dignidade dos mĂŠdicos e da relação mĂŠdicodoente. Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x20AC;Â&#x152; ambos apenas contribuĂram para deteriorar de forma irreparĂĄvel Â&#x2039; Â&#x2018; mĂŠdicos em quem preside ao CNECV e em quem governa o
CHSJ. Neste momento, jĂĄ ninguĂŠm tem dĂşvidas sobre as intençþes do Governo no que diz respeito ao Estado Social. A refundação anunciada assenta num Estado Social diferente, mais dependente da iniciativa privada e convencionada. A deterioração que estĂĄ a atingir o SNS ĂŠ bem conhecida de todos, dos doentes ¢ Â? Â&#x2018; podemos aceitar que, no nosso paĂs, o acesso aos diferentes cuidados de saĂşde dependa do ~ ~ { Â&#x20AC; Â&#x20AC;~ Â? A opção de cortar nos recursos humanos e racionar tratamentos para assim supostamente se assegurar a sustentabilidade do SNS tal como estĂĄ consagrado na nossa Constituição. Existem outros caminhos e outras opçþes. A começar pela percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) que ĂŠ atribuĂda Ă saĂşde (inferior a 5%) e pelo modelo de ~ Â&#x20AC;~ Â&#x152; Â? temos a obrigação de manter, ~ Â? começar por quem tem o poder Â&#x2018; Â?
30 Anos do Curso MÊdico 1977-1983 4 de Maio de 2013 Vai realizar-se o jantar comemorativo dos 30 Anos do Curso MÊdico 1977-1983 da Faculdade de Medicina de Coimbra. O encontro vai ter lugar no Hotel Tryp Melia, na cidade de Coimbra, no próximo dia 4 de Maio pelas 20 Horas. Inscrição e informaçþes atravÊs do e-mail: baga@ambientesperfeitos.pt
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Mapa de vagas do Concurso IM2013B Divulgamos em seguida a carta que a OM dirigiu a Manuel Teixeira, SecretĂĄrio de Estado da saĂşde a propĂłsito do mapa de vagas do Concurso IM2013B. ÂŤExmÂş Senhor SecretĂĄrio de Estado, A Ordem dos MĂŠdicos manifesta a sua preocupação relativamente Ă publicação do mapa de vagas do Concurso IM2013B. Como ĂŠ sabido no aviso de abertura do IM2013B nĂŁo foi publicado o Mapa de Vagas, tal como previsto no Regulamento do Internato MĂŠdico. Esta situação causou naturalmente muito desconforto nos candidatos a este concurso, que na data da Prova Nacional de Seriação (PNS) nĂŁo sabiam ainda para que vagas estavam a concorrer. De referir que antes mesmo do aviso de abertura ser tornado pĂşblico, o MinistĂŠrio da SaĂşde, atravĂŠs da ACSS, tinha publicado na sua pĂĄgina electrĂłnica a informação de que haveria pelo menos 1 vaga por Especialidade. Ter ainda em conta que os candidatos do concurso IM2012B (do ano transacto) assistiram a Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2020; Â&#x20AC;Â&#x2039;Â&#x2018; do nĂşmero de vagas desse concurso, sem qualquer aviso prĂŠvio, tendo sido um corte muito forte nas suas expectativas e criado atĂŠ situaçþes dramĂĄticas. DaĂ que ĂŠ da mais elementar justiça que haja pelo menos uma vaga por
especialidade, para que haja de facto incentivo Ă meritocracia daqueles que fazem o esforço de realizar a PNS pela segunda vez, garantindo e o mĂnimo de igualdade de oportunidades. Destaca-se que esta situação deve ~ } Â&#x20AC; angariação de vagas para suprir o nĂşmero total de candidatos ao concurso IM2012A + IM2013B, Â&#x20AC; ~ Â&#x2021; Â&#x2020; Â&#x2020; nos Ăşltimos anos mas que, este ano, com o aumento do nĂşmero de candidatos, ganha especial visibilidade. A Ordem dos MĂŠdicos, atravĂŠs dos seus ColĂŠgios de Especialidade, atribuiu cerca de 1550 capacidades formativas para a elaboração dos mapas de vagas dos concursos IM2012A e IM2013B. Foi feito um esforço redobrado, mesmo nesta situação limite, para que se encontrassem capacidades formativas para todos os candidatos ao IM2012A e para um nĂşmero de vagas semelhante (~90) ao ano passado para o IM2013B, tal como acordado em reuniĂŁo realizada em Setembro com os responsĂĄveis da ACSS. Retirando as idoneidades formativas preenchidas pelos can-
didatos ao IM2012A, sobram cerca de 90 capacidades formativas hospitalares, Ă s quais haverĂĄ que retirar as que foram preenchidas pelo contingente militar, das quais os dados nĂŁo sĂŁo pĂşblicos. No entanto, serĂĄ seguro Â&#x20AC;  Â?Â?ÂŹ Â? Â&#x2020; pelo menos 60 a 70 capacidades formativas hospitalares Ă s quais se juntarĂŁo as capacidades extrahospitalares. Dito isto ĂŠ certo que existem capacidades formativas para cerca de 90 a 100 candidatos, o que perfaz um compromisso muito aceitĂĄvel na situação que vivemos e em linha com as expectativas dos candidatos. No entanto, nem todas estas capacidades formativas neste momento a ser consideradas para os mapas de vagas por parte do MinistĂŠrio da SaĂşde, por desacordo quanto ao orçamento disponĂvel para pagamento aos MĂŠdicos Internos por parte das diversas Unidades de SaĂşde. Ă&#x2030; urgente que o MinistĂŠrio da SaĂşde resolva rapidamente os diferendos de ordem orçamental para que todas as capacidades formativas reconhecidas pela Ordem dos MĂŠdicos sejam colocadas a concurso no mapa de vagas IM2013-B. Jan/Fev | 2013 | 15
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A nĂŁo divulgação do mapa de vagas do concurso B na altura do aviso de abertura foi jĂĄ uma maneira de adiar parte do problema atĂŠ esta altura, altura na qual se realiza a escolha desses colegas. Porventura esperou-se assim ganhar mais tempo para esta negociação, mas nĂŁo se pode deixar de parte as legĂtimas expectativas daqueles que, mesmo estando a trabalhar, dedicaram o Ăşltimo ano ao esforço de se prepararem para a PNS. Hoje, esses colegas jĂĄ sabem os resultados da PNS sem saber para que vagas concorrem! Nas reuniĂľes que teve com a ACSS, a OM insistiu para que fosse reservada pelo menos uma capacidade formativa por especialidade para o concurso IM2013B, para poder com segurança assumir o compromisso assumido, situação que sabemos nĂŁo ter acontecido para todas as especialidades, infelizmente. Para alĂŠm de cumprir essa garantia ĂŠ fundamental garantir um mapa de vagas digno que atenda Ă s expectativas dos concorrentes. NĂŁo se pode cair no erro de entender o Concurso B, que ~ ~ ¢ possibilidade de mudança de especialidade, como um concurso de menor importância. Para alĂŠm do legĂtimo direito de vontade de mudança daqueles que nĂŁo se adaptam Ă s particularidades
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de uma ou outra especialidade mĂŠdica, o Concurso B representa a oportunidade daqueles que, por motivos de saĂşde, de vida pessoal ou familiar, nĂŁo sĂŁo capazes de prosseguir o seu rumo na especialidade que escolheram. Ă&#x2030; assim inaceitĂĄvel que o MinistĂŠrio da SaĂşde nĂŁo tenha seguido os nossos apelos, o que nos coloca neste momento na situação de poderem existir especialidades nas quais nĂŁo poderĂĄ haver vaga, por terem sido usadas todas as capacidades formativas na construção do mapa do IM2012A. A OM, atravĂŠs dos seus colĂŠgios de especialidade estĂĄ a fazer um esforço para que se possam rever capacidades formativas em algumas dessas especialidades, no sentido de nĂŁo prejudicar as expectativas dos candidatos. O aumento exponencial do numerus clausus em Medicina nos Ăşltimos anos vem agora culminar no cenĂĄrio a que assistimos. A carĂŞncia de vagas para o internato do ano comum, a carĂŞncia de vagas para o ~ ~ y Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x153; e o desemprego dos jovens mĂŠdicos forçados Ă procura de oportunidades no estrangeiro sĂŁo realidades do presente. Ă&#x2030; premente que o MinistĂŠrio de SaĂşde e o MinistĂŠrio da Educação e CiĂŞncia tenham este ponto no topo das suas prioridades e
atuem no sentido de diminuir o numerus clausus jĂĄ no prĂłximo ano letivo, aliĂĄs como plasmado no relatĂłrio do Grupo de Trabalho para a revisĂŁo do Internato MĂŠdico. Caminha-se para o agravamento desta situação, o que forçosamente culminarĂĄ na deterioração da formação mĂŠdica e dos cuidados de saĂşde prestados aos portugueses. De resto, e mantendo-se a polĂtica irracional dos Ăşltimos anos de ultrapassar largamente as capacidades formativas de todas as Escolas MĂŠdicas, nĂŁo sĂł diminui claramente a qualidade da formação mĂŠdica prĂŠ-graduada
~ Â&#x2019; metida a formação mĂŠdica pĂłsgraduada, e aumentarĂĄ realmente a possibilidade da existĂŞncia de mĂŠdicos indiferenciados. NĂŁo foi por isto que nos esforçamos durante todo este tempo. A qualidade da Medicina e do nosso SNS depende fortemente das novas geraçþes de jovens mĂŠdicos. A Ordem dos MĂŠdicos estĂĄ disponĂvel para ajudar a resolver rapidamente esta situação. Aproveito a oportunidade para apresentar a V.Exa os melhores cumprimentos, O Presidente Prof. Doutor JosĂŠ Manuel Silva
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Parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica sobre Racionamento em SaĂşde Publicamos em seguida a nota de imprensa do Conselho Nacional Executivo sobre o Parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica sobre Racionamento em SaĂşde. O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) tomou conhecimento do parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica (APB) sobre Racionamento em SaĂşde, elaborado a propĂłsito do parecer 64/2012 do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida (CNECV). O documento produzido pela APB e apresentado publicamente pelo seu Presidente, Prof. Doutor Rui Nunes, em 10 de Dezembro, consubstancia uma posição equilibrada, informada e com verdadeiras preocupaçþes ĂŠticas e sociais, a que a Ordem Â&#x201E; Â&#x2018; indiferente. De facto, a defesa da verdadeira equidade no acesso aos cuidados de saĂşde em todas as instituiçþes do Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) e o combate Â&#x152; ~ Â&#x153; { com base em mais organização e Â&#x203A; Â&#x2030; Â&#x20AC; de saĂşde, sĂŁo absolutamente
essenciais para que se considere a possibilidade de discutir na sociedade, de forma aberta e abrangente, a questĂŁo das prioridades ĂŠticas com base em critĂŠrios de legitimidade e justiça. A discussĂŁo deve ser centrada precisamente em prioridades ĂŠticas em saĂşde, como sugere a APB, e nunca em racionamento administrativo sugerido pelo parecer emitido pelo CNECV. De resto, a proposta de adoção do utilitarismo no acesso aos cuidados de saĂşde sugerida pelo parecer do CNECV, a propĂłsito da discriminação com base na idade, ĂŠ contrĂĄria aos princĂpios fundamentais plasmados nos direitos humanos, que tĂŞm como base a igual dignidade de todos os seres humanos, em acordo com o igualitarismo sueco, por exemplo. O CNE, reunido a 21 de Dezembro de 2012, manifesta
formalmente a sua concordância genĂŠrica com o teor do parecer emitido pela APB, que nĂŁo sĂł reforça a posição que a Ordem dos MĂŠdicos tem sustentado sobre esta matĂŠria, em defesa da dignidade da pessoa humana e no respeito pela irrepetĂvel individualidade de cada doente, como condensa de forma objetiva e fundamentada o seu enquadramento ĂŠtico e social. Finalmente, o CNE subscreve na generalidade as recomendaçþes apontadas pela APB, com particular enfâse para a inaplicabilidade e inadmissibilidade das recomendaçþes do parecer 64/2012 do CNECV.
O CNE da Ordem dos MÊdicos Lisboa, 21 de Dezembro de 2012 Nota da redacção: Publicamos nas påginas seguintes o parecer de APB.
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Parecer da APB sobre Racionamento em Saúde Publicamos em seguida, pela sua relevância, o parecer da Associação Portuguesa de BioÊtica sobre racionamento em saúde, datado de 24 de Novembro de 2012. Racionamento em Saúde Relator: Rui Nunes
O direito Ă proteção da saĂşde ĂŠ, hoje, considerado como uma conquista civilizacional, o que implica que a salvaguarda deste direito ĂŠ uma responsabilidade da sociedade e das suas instituiçþes democrĂĄticas. Tal como noutros paĂses ocidentais, a existĂŞncia em Portugal de um sistema pĂşblico de proteção da saĂşde enquadrase nesta dinâmica, sendo um fator decisivo para a melhoria sustentada dos indicadores de saĂşde da nossa população. Este sistema, de carĂĄter universal, dependeu nĂŁo apenas de um y ~ Â&#x2020; ~ ~ ao longo dos Ăşltimos anos mas, tambĂŠm, de um elevado nĂvel de Â? Â&#x20AC; as carreiras mĂŠdicas sĂŁo um bom exemplo. Mais do que um direito constitucional, a proteção da saĂşde deve ser considerada como um dos grandes pilares de uma sociedade democrĂĄtica e plural1. PorĂŠm, e nĂŁo obstante o contributo fundamental do Serviço
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Nacional de SaĂşde (SNS) para a melhoria dos indicadores de saĂşde dos portugueses, a sua sustentabilidade econĂłmica e ~ Â&#x20AC; ~ e os governantes tentam diri ~ w ~  ~ necessidade de providenciar um bem social, como a saĂşde, Â? Â&#x203A; Â&#x20AC; perspetiva econĂłmica â&#x20AC;&#x201C; tentando a convergĂŞncia de dois fatores aparentemente irreconciliĂĄveis: a equidade no acesso e a otimização da utilização dos recursos disponĂveis. EstĂĄ em causa a necessidade de se pro Â&#x2020; Â&#x203A; ~ Â&#x2020; adequada gestĂŁo dos recursos Â?Â&#x20AC; e materiais. PorĂŠm, nĂŁo restam dĂşvidas de Â&#x20AC; y } Â&#x2020; Â&#x20AC;Â&#x2039;Â&#x2018; dos paĂses ocidentais torna-se difĂcil a incorporação imediata de algumas tecnologias inovadoras (medicamentos, dispositivos mĂŠdicos, etc.) nos sistemas de saĂşde ocidentais surgindo progressivamente o debate em torno da necessidade de se estabelecerem prioridades ĂŠticas na saĂşde2. Este ĂŠ um problema transversal a todas
as sociedades democrĂĄticas onde o direito Ă saĂşde ĂŠ legalmente protegido existindo diversos modelos possĂveis para a sua concretização3. Mas em todos estes paĂses, nomeadamente a Holanda, a Dinamarca, a SuĂŠcia, o CanadĂĄ, o Reino Unido, ou a AustrĂĄlia, a priorização ĂŠtica na saĂşde implicou um esforço prĂŠvio de racionalização de recursos de modo a que o desperdĂcio seja mĂnimo e, portanto, seja justo e adequado efetuar este tipo de escolhas4. Assim, consciente de que o estabelecimento de prioridades ĂŠticas na saĂşde ĂŠ um debate que deve ser concretizado com a maior abrangĂŞncia e serenidade possĂveis, a Associação Portuguesa de BioĂŠtica decidiu emitir este parecer na tentativa de
~ Â Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; desta problemĂĄtica na sociedade portuguesa. ! " Em Portugal, e nĂŁo obstante esta temĂĄtica ser jĂĄ debatida ao longo da Ăşltima dĂŠcada em diferentes meios acadĂŠmicos
{ ~ Â&#x20AC;Â&#x2019; uma controvĂŠrsia Ămpar na nossa sociedade fruto de um pedido de parecer do Ministro da SaĂşde ao Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida (64/CNECV/2012 â&#x20AC;&#x201C; Parecer sobre um Modelo de Deliberação para Financiamento do Custo dos Medicamentos) com vista (presume-se) Ă formulação de polĂticas pĂşblicas em matĂŠria de racionamento na saĂşde. Ao abordar esta temĂĄtica deve ter-se em atenção nĂŁo apenas as especiais circunstâncias sociais e econĂłmicas que o paĂs atravessa, nomeadamente a quebra acentuada do rendimento mĂŠdio familiar, bem como os Â&#x153;Â&#x2020; Â&#x203A; ~ da saĂşde que continuam ainda acima do que ĂŠ socialmente aceitĂĄvel, gerando importantes custos de oportunidade. A primeira das prioridades deve ser, entĂŁo, melhorar os nĂveis de Â&#x203A; Â&#x2030; ~ ~ {  ~ o desperdĂcio, otimizando os recursos disponĂveis5. Recorde-se Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; Â&#x2039; Nacional de SaĂşde repousa essencialmente nos impostos (diretos e indiretos). E que sendo esta a modalidade de justiça ~ { ~ do SNS estĂĄ indexado, em grande medida, ao rendimento dos cidadĂŁos estando estes no limite da sua capacidade de ~ ¢ ÂĄ outras prestaçþes sociais). Ainda assim, e sendo desde jĂĄ questionĂĄvel a oportunidade da introdução do debate pĂşblico do racionamento na saĂşde face aos graves constrangimentos econĂłmicos da maioria da população, entendeu o MinistĂŠrio da SaĂşde iniciar este debate junto da sociedade portuguesa. O estabelecimento de prioridades
na saĂşde6 â&#x20AC;&#x201C; para ser considerado justo e equitativo â&#x20AC;&#x201C; deve cumprir obrigatoriamente dois critĂŠrios sob pena de ser apenas uma forma administrativa de racionamento de bens essenciais7: legitimidade8 e justiça9. # $ Em democracia a fonte de legitimidade (substantiva e nĂŁo meramente formal) pode advir de duas vias diferentes. Em primeiro lugar da vontade popular expressa atravĂŠs do voto no quadro de propostas claras e inequĂvocas que sejam sufragadas em atos eleitorais Â&#x153; Â? ~ priorização ĂŠtica na saĂşde esta nĂŁo ĂŠ a solução mais utilizada Â&#x20AC; w ~ vontade da maioria em detrimento de opiniĂľes e perspetivas das minorias que, pelas regras da democracia representativa, tĂŞm Â&#x20AC; y Â&#x152; Â&#x20AC;Â&#x2020; a sua voz. Uma fonte alternativa de legitimidade, seguida aliĂĄs na maioria dos paĂses que se debruçaram sobre o estabelecimento de prioridades na saĂşde, advĂŠm do envolvimento ativo e participado da sociedade e dos diferentes atores sociais (empowerment). Esta participação da sociedade nos desĂgnios coletivos implica, para ser legĂtima, uma ampla base de sustentação, para que a ausĂŞncia do voto dos cidadĂŁos possa ser colmatada por uma representação adequada, alargada e transparente10. Em Ăşltima anĂĄlise, estĂĄ em causa uma verdadeira justiça processual: procedimentos justos, transparentes e sob o olhar atento da sociedade. O conceito de public accountability11 inscrevese nesta dinâmica, isto ĂŠ, na
1- Daniels N: Is there a right to health care and, if so, what does it encompass? A Companion to Bioethics, Blackwell Companions to Philosophy, Helga Kuhse and Peter Singer (Editors), Blackwell Publishers, Oxford, 1998. 2- Nunes R, Rego G: Prioridades na SaĂşde, McGraw-Hill, Lisboa, 2002. 3- Choices in health care. A Report by the Â&#x2020; ~ % & %Â? Heath Care, the Netherlands, 1992. 4- Wall A, Owen B: Health policy. Gildredge Social Policy, The Gildredge Press, Eastbourne, 1999. Ver tambĂŠm Leathard A: Health care provision. Past, present and into the 21st century. Stanley Thornes, Cheltenham, 2000, 2nd Edition. 5- Antunes M: A doença da saĂşde. Â&#x2020; Â&#x2039; ¢ Â&#x203A; Â&#x153; Â? °Â&#x20AC; Âą ~ Â?  { 2000. 6- Rego G, BrandĂŁo C, Melo H, Nunes R: Distributive justice and the introduction of generic medicines. Health Care Analysis 10; 2002: 221-229. 7- Precisamente a diferença entre o estabelecimento de prioridades ĂŠticas na saĂşde e â&#x20AC;&#x153;racionamentoâ&#x20AC;? ĂŠ a presença ou ausĂŞncia de legitimidade e justiça no quadro dos valores mais representativos da nossa sociedade. Nomeadamente aqueles que estĂŁo plasmados na Constituição da RepĂşblica. 8- Daniels N, Light D, Caplan R: Benchmarks of fairness for health care reform. New York, Oxford University Press, 1996. Ver tambĂŠm Mullen P, Â&#x20AC; Â&#x2013; Â&#x2013; ~$ & ~Â? Â&#x20AC; Â? Âł Â&#x201E; Â&#x2013; { Abingdon, 2000. 9- Daniels N: Just health care. Studies in Philosophy and Health Policy. New York: Cambridge University Press, 1985. Â&#x2022; ~  {  & limits fairly. Oxford University Press, New York, 2002. 10- Wiseman V, Mooney G, Berry G, Tang K: Involving the general public ~$ & Â&#x2030; y Australia. Social Science & Medicine 56; 2003: 1001-1012. 11- Nunes R, BrandĂŁo C, Rego G: Public accountability and sunshine healthcare regulation, Health Care Analysis 19 (4); 2011: 352-364. Ver tambĂŠm Daniels N, Sabin J. The ethics of accountability in y Â? Â&#x161; ~Â? Âł  Â&#x; (5); 1998: 50-65.
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informação
12- Nunes R, Rego G, BrandĂŁo C: The rise of independent regulation in health care, Health Care Analysis 15 (3); 2007: 169-177, e tambĂŠm Nunes R, Rego G, BrandĂŁo C: Healthcare regulation as a tool for public accountability, Medicine, Healthcare and Philosophy 12; 2009: 257-264. 13- Sobre deliberação democrĂĄtica ver Solomon S, Abelson A: Why and when should we use public deliberation, Hastings Center Report 424 (2), 2012: 27-29, e tambĂŠm $ & Âľ % Â&#x2021;Â&#x20AC; Â&#x2020; Âś y â&#x20AC;&#x153;accountability for reasonablenessâ&#x20AC;? through the courts? Medical Law Review 16 (1); 2008: 127-140.  ¡Â&#x2019; Â?& ¸¸œœœÂ? ~ Â? Â? ¸ 15- A tĂtulo de exemplo refere o Parecer 64/CNECV/2012 â&#x20AC;&#x153;Assim, pensamos incluir mais um ponto que deverĂĄ ser objeto de escrutĂnio ĂŠtico: 6) Analisar cuidadosamente as questĂľes de justiça distributiva referentes Ă s diferentes faixas etĂĄrias, incluindo: (â&#x20AC;Ś) a avaliação dos cuidados disponĂveis para ~ ~ Â&#x20AC; ~ y vida e em fase terminalâ&#x20AC;?. 16- Daniels N, Sabin J: Limits to health care: Fair procedures, democratic deliberation, and the legitimacy problem of insurers. Â&#x2013;Â? Â?$ š Â&#x2013;Â&#x20AC; ³ Ÿ ¥¡§½  žžÂ&#x; Â&#x17E;ÂŹÂ&#x17E;Â&#x2019; 350. 17- Nunes R: Evidence-Based Medicine: a new tool for resource allocation? Medicine, Health Care and Philosophy 6 (3); 2003: 297301. 18- Atente-se a esta passagem do Parecer 64/ CNECV/2012: â&#x20AC;&#x153;A fase clĂnico-administrativa deverĂĄ envolver o grupo da primeira fase e agora (â&#x20AC;Ś) reunir com as administraçþes hospitalares. Estes, perante a anĂĄlise benefĂcio/custo, poderĂŁo alterar, ou nĂŁo, a ordenação dos fĂĄrmacos a disponibilizar em contexto hospitalar para determinada patologiaâ&#x20AC;?. 19- De facto, o Parecer 64/CNECV/2012 sugere â&#x20AC;&#x153;a avaliação da permissibilidade de racionamento por idadeâ&#x20AC;?. 20- Artigo 13.Âş, PrincĂpio da igualdade: 1. Todos os cidadĂŁos tĂŞm a mesma dignidade social e sĂŁo iguais perante a lei. Artigo 64.Âş, SaĂşde: 1. Todos tĂŞm direito Ă proteção da saĂşde e o dever de a defender e promover. 2. O direito Ă proteção da saĂşde ĂŠ realizado: a) AtravĂŠs de um serviço nacional de saĂşde universal e geral e, tendo em conta as condiçþes econĂłmicas e sociais dos cidadĂŁos, tendencialmente gratuito. 21- A avaliação tecnolĂłgica em saĂşde pode Â&#x20AC; ~ $ process that summarises information about the medical, social, economic and ethical issues related to the use of a health technology in a systematic, transparent, unbiased, robust manner. Inclui a avaliação de dispositivos mĂŠdicos bem como a Â&#x2039;Â&#x2018; ~ Â&#x20AC; Â&#x20AC;~ Â&#x152; Â&#x2039;Â&#x2018; Â? Ver Garrido M, Kristensen F, Nielsen C, Busse R: Health technology assessment and health policy-making in Europe. Current status, challenges and potential. Observatory Studies Series 14, 2008. 22- Nunes R: Regulação da SaĂşde, Vida EconĂłmica, Porto, 2009, 2ÂŞ edição.
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necessidade de se prestar contas dos procedimentos utilizados e dos fundamentos das decisĂľes12. A justiça processual, enquanto denominador comum Ă maioria das vertentes da justiça distributiva, pode nĂŁo ser a melhor, mas a Ăşnica solução numa sociedade onde os cidadĂŁos se encontram com distintas mundividĂŞncias e onde nĂŁo existe uma visĂŁo unânime do bem comum. Em sĂntese, ĂŠ essencial que os fundamentos e o rational das decisĂľes de priorização tenham uma ampla participação de todos aqueles que possam ser implicados nestas decisĂľes. Assim, para ser legĂtimo, ou seja para que nĂŁo se trate de simples racionamento mas sim do estabelecimento de prioridades ĂŠticas na saĂşde, devem encontrarse as soluçþes adequadas para alcançar a legitimidade deste tipo de decisĂŁo13. Desde logo tendo como referencial outros paĂses que implementaram jĂĄ soluçþes desta natureza. Ou seja para que exista uma sintonia substancial entre as decisĂľes polĂticas e a vontade dos cidadĂŁos. %# & ' Nas democracias plurais, a legitimidade ĂŠ condição necessĂĄ Â&#x2018; Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; processo desta natureza ser ĂŠtica e ~ Â&#x2021;Â&#x20AC; ~
Â&#x2020; Â? y ~ { o pilar das sociedades modernas e desenvolvidas ĂŠ considerar-se que todas as pessoas tĂŞm igual dignidade e devem poder gozar de um conjunto alargado de direitos bĂĄsicos, inalienĂĄveis e inderrogĂĄveis. Esta igualdade fundamental entre todos os seres Â?Â&#x20AC; y  Â&#x2039;Â&#x2018; da doutrina dos direitos humanos e ĂŠ, de facto, o mais ~ ~ ~ Â&#x20AC;
humanidade Ă escala global. Pelo que ainda que se entenda que alguns critĂŠrios utilitaristas possam estar subjacentes Ă s polĂticas sociais da atualidade, nĂŁo ĂŠ eticamente admissĂvel uma mudança radical de paradigma no referente ao exercĂcio do direito Ă proteção da saĂşde. Uma crĂtica recorrente a esta tese ĂŠ a de que o utilitarismo permite intervençþes discricionĂĄrias, isto ĂŠ, a discriminação de grupos de { ~ ~ { as minorias culturais ou os idosos, colocando em causa, nomeadamente, o princĂpio da solidariedade intergeracional. Permitindo assim prĂĄticas discriminatĂłrias inaceitĂĄveis em qualquer democracia plural. De facto, o utilitarismo tem sido sistematicamente rejeitado em Portugal. A tĂtulo de exemplo o Prof. Daniel SerrĂŁo, em entrevista ao Centro de BioĂŠtica do CREMESP, refere â&#x20AC;&#x153;Quer dizer que a sociedade ĂŠ assim, uns pagam pelos outros? Se nĂŁo somos utilitaristas, somos personalistas, olhamos assim: isto ĂŠ uma estrutura humana, e eu respeito a vida humana em todas as suas manifestaçþes. Portanto, nĂŁo devo destruĂ-laâ&#x20AC;?14. Em nossa opiniĂŁo, o aludido parecer do CNECV sobre o racionamento em saĂşde evoca pelo menos trĂŞs situaçþes de potencial injustiça e iniquidade: ( ' ! ")
O estabelecimento de prioridades na saúde para ser eticamente aceitåvel pressupþe que situaçþes mais graves tenham prioridade sobre situaçþes menos graves (a triagem de Manchester Ê um bom exemplo). O oposto do sugerido pelo Parecer 64/ CNECV/2012 que legitima o racionamento de medicamentos em doentes com cancro, SIDA e
doenças crĂłnicas graves15, mas nada diz sobre intervençþes que nĂŁo correspondem a verdadeiras necessidades em saĂşde (mas simples preferĂŞncias como defende aliĂĄs Norman Daniels16), tal como a cirurgia plĂĄstica meramente estĂŠtica, medicamentos sem evidĂŞncia clĂnica de efetividade comprovada17 ou intervençþes de simples melhoramento; x * " + : O conteĂşdo substantivo do parecer nĂŁo exclui a possibilidade de diferentes hospitais poderem implementar diferentes polĂticas e em diferentes pontos do paĂs18Â? Â&#x20AC; Â&#x2021; Â&#x2020; em Portugal como o prĂłprio parecer refere. A priorização ĂŠtica da saĂşde, ao contrĂĄrio do racionamento administrativo, pressupĂľe a obtenção de nĂveis Â&#x2030; Â&#x203A; ~ ¢ ÂĄ Â&#x20AC; Â&#x2018; Â&#x2020; no SNS) sem comprometer a equidade horizontal e vertical. Em suma, todos os cidadĂŁos devem ter acesso ao mesmo tipo de provisĂŁo pĂşblica de cuidados de saĂşde independentemente do ponto do paĂs em que se encontrem e do hospital pĂşblico a que tenham acesso; 3 '
' $ 6 ) O Parecer 64/CNECV/2012 abre a porta Ă discussĂŁo da possibilidade da discriminação com base na idade. A mudança de paradigma proposta â&#x20AC;&#x201C; mudança que preconiza a adoção do
utilitarismo como doutrina base no acesso Ă saĂşde â&#x20AC;&#x201C; permite a limitação do fornecimento de cuidados de saĂşde apenas com base neste critĂŠrio19. Para alĂŠm de ser eticamente inaceitĂĄvel a limitação de cuidados de saĂşde a uma pessoa apenas pelo facto de se ser idoso (sendo aliĂĄs impossĂvel determinar com clareza a linha a partir da qual se ĂŠ idoso), o utilitarismo na saĂşde permite em abstrato qualquer tipo de discriminação sendo que a idade ĂŠ apenas uma das suas formas possĂveis. E isso ĂŠ contrĂĄrio Ă doutrina da igual dignidade de todas a pessoas. Em sĂntese as inferĂŞncias do Parecer 64/CNECV/2012 evocam reservas do ponto de vista ĂŠtico nĂŁo sendo adequado a sua implementação sem uma ampla discussĂŁo pĂşblica sobre as suas principais aplicaçþes. Para alĂŠm de, salvo melhor opiniĂŁo, o conteĂşdo do parecer estar em desacordo com o art.Âş 64 e o art.Âş 13 da Constituição da RepĂşblica Portuguesa20. * : ' Assim, e face ao exposto, a Associação Portuguesa de BioĂŠtica recomenda: a) Que o MinistĂŠrio da SaĂşde suspenda a aplicação das recomendaçþes do Parecer 64/ CNECV/2012 dado que algumas das inferĂŞncias â&#x20AC;&#x201C; nomeadamente o racionamento com base na idade â&#x20AC;&#x201C; sĂŁo eticamente questionĂĄveis e de constitucionalidade duvidosa; b) Que a Assembleia da RepĂşblica proceda Ă nomeação de uma
comissĂŁo plural e independente, Â&#x20AC; Â&#x2021; w Â&#x2030; y ~ quadrantes da sociedade e que inclua necessariamente os y ~ Â&#x20AC; { associaçþes representativas dos doentes, os distintos operadores da saĂşde e outras forças vivas, incluindo as diferentes forças polĂticas com representação parlamentar, de modo a ser possĂvel efetuar um debate sereno e participado sobre a problemĂĄtica do estabelecimento de prioridades na saĂşde, garantindo o exercĂcio da igualdade de acesso e impedindo prĂĄticas discricionĂĄrias e arbitrĂĄrias por parte dos hospitais pĂşblicos portugueses; c) Que seja aprofundada a implementação da avaliação tecnolĂłgica em saĂşde por parte das autoridades de saĂşde competentes21, em estreita articulação com a Ordem dos MĂŠdicos, sendo mesmo de considerar a possibilidade da sua implementação em moldes semelhantes Ă metodologia utlizada pelo NICE (National Institute for Health and Clinical Excellence)22, para que o estabelecimento de prioridades na saĂşde se concretize de acordo com os valores e referĂŞncias da sociedade portuguesa.
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informação
Parecer do CNEDMOM sobre o parecer 64 do CNECV Divulgamos em seguida o parecer do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM) sobre o Parecer 64/CNECV/2012 acerca do modelo de deliberação para ďŹ nanciamento dos medicamentos. ÂŤRecebeu o Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM) um pedido de parecer solicitado pelo Conselho Nacional Executivo sobre o Parecer 64/CNECV/2012 Acerca do modelo de deliberação ~ Â&#x2019; camentos. 1 â&#x20AC;&#x201C; O parecer do CNECV estĂĄ bem redigido, ĂŠ equilibrado, evita a controvĂŠrsia estĂŠril, em suma, ĂŠ um bom documento
Â&#x2020; } w Â&#x2030;Â&#x2018; ~ Â? 2 â&#x20AC;&#x201C; De sempre, particularmente ~Â&#x20AC; { w Â&#x2030;Â&#x2018; no documento, envolvendo mas nĂŁo se esgotando nos conceitos de racionamento de recursos em saĂşde e na racionalização da sua distribuição, ĂŠ indispensĂĄvel. Vivemos, hĂĄ muitos anos, num ambiente em que esse mesmo racionamento decorre diariamente de forma clandestina, escamoteada, sem conhecimento ou consentimento da comunidade que servimos; sem normas de orientação, sujeito correntemente a estritos 22 | Jan/Fev | 2013
~ frequentemente princĂpios de equidade e de justiça distributiva; quantas vezes, decidido arbitrariamente quer pelas autoridades de saĂşde, quer pelos prestadores de saĂşde, que, Â&#x20AC; ~ ~Â&#x153; ~ { supostamente maximizam o benefĂcio da comunidade em detrimento do doente individual. 3 - Visando propor um modelo  Â&#x2039;Â&#x2018; ~ do custo dos medicamentos, nĂŁo deveria este documento ter Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; ~ ~ Â&#x203A; Â&#x20AC; de medicamentos para doentes Â&#x153; ~ ~ Â&#x2020; doentes VIH+, â&#x20AC;&#x153;oncolĂłgicosâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;biolĂłgicos para doentes com artrite reumatoideâ&#x20AC;?. Antes, deveria assumir-se inequivocamente, e apesar da solicitação ministerial expendida, como proposta universal para modulação estatal do ~ ~ Â? 4 â&#x20AC;&#x201C; Porventura discutĂvel ĂŠ o seu timing. JĂĄ em falta hĂĄ muito tempo, surge agora por encomenda expressa das
autoridades de saĂşde, ditado prioritariamente por constrangimentos econĂłmicos que suscitam inadiĂĄveis cortes na despesa. Esta pressĂŁo ĂŠ um mau conselheiro w Â&#x2030;Â&#x2018; ~ ~ e para a sua divulgação junto da sociedade. 5 â&#x20AC;&#x201C; Deve o Parecer 64/CNECV ser considerado fundamentalmente
Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ w Â&#x2030;Â&#x2018; ĂŠtica sobre um problema a um tempo real e acutilante, apontando estratĂŠgia de ação, mas nĂŁo dispensando aturada w Â&#x2030;Â&#x2018; Â&#x2020; Â&#x20AC; ~ ~Â&#x20AC; na demanda de claros caminhos com consequĂŞncias prĂĄticas para o nosso dia-a-dia de decisores clĂnicos. Com efeito, conclusĂľes como: â&#x20AC;&#x153;9. O CNECV nĂŁo deixa de enfatizar que hĂĄ tambĂŠm, seguramente, muito a fazer para conter despesas os quais, deverĂŁo ser reavaliados regularmente na sua efetividade e respetivos gastos pelo Estadoâ&#x20AC;? - Vamos abater cerca de 70% dos medicamentos inscritos no SimpĂłsio TerapĂŞutico
efectivamente sem prova de
Ă&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x201C; Â&#x20AC; Â&#x2018; Ă&#x20AC; â&#x20AC;&#x153;10. Nos fĂĄrmacos comparticipados pelo SNS, o CNECV considera premente reavaliar gastos correntes em termos de custo-oportunidade e custo-efetividade, com possĂveis substituiçþes, desinvestimentos ou suspensĂľes. Com efeito, o debate nĂŁo pode restringir-se Ă contenção de custos adicionais, mas Ă melhor utilização dos recursos jĂĄ existentes e ao combate contra o desperdĂcio
- HĂĄ limiares quantitativos do custooportunidade, ou do custoefectividade que recomendem a eliminação de uma opção terapĂŞutica? Estes ratios serĂŁo calculados na perspectiva do utente, do SNS, ou da sociedade? Os resultados poderĂŁo ser muito diferentes. Deixam em aberto interrogaçþes para as quais urge adequar respostas eticamente aceitĂĄveis. â&#x20AC;&#x153;11. O CNECV considera importante enfatizar a redução dos custos de prestação em ĂĄreas como intervençþes e meios auxiliares de
Estas devem ser objeto de criteriosa "#
$ modelos ĂŠticos para fundamentar as decisĂľesâ&#x20AC;? - Deveria ter sido
Â&#x20AC; Â&#x2018; auxiliares de diagnĂłstico e ~ Â&#x203A;Â&#x20AC;~ Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ ¸ ou desnecessĂĄrios! Na verdade, serĂĄ difĂcil atribuir a NOCâ&#x20AC;&#x2122;s a responsabilidade da fundamentação das decisĂľes, o que sempre deverĂĄ estar nas mĂŁos dos clĂnicos! Por tal, nĂŁo seria preferĂvel instigar fortemente Â&#x2020; w Â&#x2030;Â&#x2018; ~ na observância de uma ĂŠtica distributiva a que cada mĂŠdico deve atender na fase construtiva da sua decisĂŁo? â&#x20AC;&#x153;12. Em qualquer caso, o CNECV tem como essencial que tudo o que se faça nĂŁo pode de modo algum pĂ´r
%# % %
- Neste ponto, jĂĄ temos a prova de que vamos no bom caminho! 6. No ponto 6 do capĂtulo â&#x20AC;&#x153;D. ConclusĂľesâ&#x20AC;?, deveria ter sido mais abrangente a recomendação de uma bem cuidada preparação ĂŠtica nos cursos de saĂşde, jĂĄ que em cursos como por exemplo Direito, GestĂŁo ou mesmo Administração Hospitalar, podendo nĂŁo ser explicitamente cursos de saĂşde, assim se poderĂŁo excluir desta incontornĂĄvel obrigatoriedade pedagĂłgica, com w Â&#x2030; Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC;
nĂŁo devidamente considerados no plano curricular de futuros agentes no terreno da saĂşde. 7 â&#x20AC;&#x201C; Em resumo, trata-se de um documento bem elucidativo, versando sobre um tĂłpico relevante, inĂłcuo, eticamente pouco controverso, que recoloca em cima da mesa uma instante necessidade de preparar eticamente os nossos estudantes de medicina e reavivar aos ~ Â&#x2039;Â&#x2018; sobre questĂľes de um exercĂcio Â&#x20AC; { Â? Â&#x2021; { ~ Â&#x20AC; { Â&#x2030; Â&#x153; preparação em bioĂŠtica. BioĂŠtica que extravasa o mero patamar da relação de empatia Â&#x2039; Â&#x20AC; ~ ~ e mĂŠdico se hĂĄ-de estabelecer, alcançando patamares de intervenção que atendam a uma justiça distributiva que a cada ~ ~ com denodo. Coimbra, 23 de novembro de 2012 O Coordenador do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos, Prof. Doutor Filipe AlmeidaÂť
Â&#x2020; % Â&#x20AC; Â&#x2013; Com vista a esclarecer todas as dĂşvidas que tĂŞm sido manifestadas pelos MĂŠdicos, a OM publicou no site ~ } Â&#x20AC; ~Â&#x2DC;  Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; % Â&#x20AC; Â&#x2013; { Â&#x20AC; principiou no inĂcio de Outubro de 2012. Recorda-se que jĂĄ foram publicados anteriores esclarecimentos nos meios de comunicação interna da OM, portais, revistas e emails, pelos que os actuais vĂŞm acrescentar informação complementar. Caso persistam algumas dĂşvidas, continuamos inteiramente disponĂveis e empenhados em que todas as questĂľes sejam cabal e transparentemente elucidadas. O acesso a estas informaçþes ĂŠ fĂĄcil: os documentos estĂŁo em destaque na home page do portal (www.ordemdosmedicos. ~§ Â&#x20AC;{ Â&#x20AC; {  ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; ~ Ă&#x2026; Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; Ă&#x2020; que surge de imediato a informação completa com a resposta Ă s perguntas frequentes sobre a nova % Â&#x20AC; Â&#x2013; Â&#x201E;Â?
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Declaraçþes do Presidente do CNECV de 24 de Dezembro de 2012 Divulgamos a nota de imprensa do Conselho Nacional Executivo da OM sobre as declaraçþes do Presidente do CNECV de 24 de Dezembro de 2012 a propĂłsito do parecer do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDM). O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) tomou conhecimento das declaraçþes proferidas pelo Presidente do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida (CNECV) em 24 de Dezembro, a propĂłsito do parecer do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDM). Â&#x2013; ~ % %Â&#x2022; Â&#x20AC; na RTP que â&#x20AC;&#x153;o BastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos consegue durante mais de um mĂŞs censurar e nĂŁo divulgar este documento, o que ĂŠ gravĂssimoâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;Obviamente o BastonĂĄrio y Â&#x152; Â? Â&#x2020; retirar as consequĂŞncias, porque neste momento ĂŠ Ăłbvio que hĂĄ imensas e insanĂĄveis divisĂľes no interior da Ordem dos MĂŠdicos, Â&#x2020; Â&#x2019; Â&#x20AC; " ~ facto, nĂŁo tem legitimidade para dizer todos os disparates que tem dito.â&#x20AC;? ~ Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x2018; quem as faz nem a estrutura que ~ Â? Â&#x2018; porque sĂŁo FALSAS e mancham publicamente o bom nome da
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Ordem dos MĂŠdicos e do seu BastonĂĄrio e, portanto, de todos os mĂŠdicos. Ă&#x2030; completamente inaceitĂĄvel que um Presidente de um Conselho de Ă&#x2030;tica minta na praça pĂşblica. Desacredita o seu CNECV e coloca em causa a sua idoneidade ĂŠtica e como cidadĂŁo. Que
Â&#x2039; Presidente do CNECV? Factos a saber: . Em 30 de Outubro foi pedido pelo CNE ao CNEDM para elaborar o seu parecer sobre as questĂľes consideradas polĂŠmicas levantadas pelo parecer do CNECV; . Em 23 de Novembro reuniu em Coimbra o CNEDM; . Em 11 de Dezembro foi enviado por carta o parecer do CNEDM para os serviços administrativos do BastonĂĄrio/CNE; . Em 17 de Dezembro (Ă noite) o referido parecer chegou ao BastonĂĄrio; . Em 21 de Dezembro, em reuniĂŁo do CNE em Lisboa, o BastonĂĄrio entregou o referido parecer a todos os membros do CNE. Nessa
mesma reuniĂŁo o CNE decidiu manter sob reserva o referido texto, uma vez que o mesmo nĂŁo respondia concretamente Ă s questĂľes polĂŠmicas suscitadas pelo parecer 64/2012 do CNECV cujo esclarecimento se solicitara. Por esse mesmo motivo, o texto disponibilizado nĂŁo foi considerado um documento ~ Â&#x2020; { ~Â&#x2018; Â&#x201C; Â&#x20AC; ~ Â&#x2030;~ meramente preliminar e, como tal, nĂŁo passĂvel de ser homologado antes de completado. Vimos desta forma exigir publicamente ao Presidente do CNECV a sua retratação pĂşblica sobre esta matĂŠria, em defesa da dignidade dos mĂŠdicos e do nosso BastonĂĄrio. O CNE tem nos seus arquivos (disponĂveis a todos os mĂŠdicos) Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; conteĂşdo desta nota informativa. Os Presidentes dos Conselhos Regionais do Sul, do Centro e do Norte, Pereira Coelho, Fernando Gomes e Miguel GuimarĂŁes Portugal, 28 de Dezembro de 2012
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NotĂcias relativas a documento inacabado e interno da OM
Divulgamos a nota de imprensa que a Ordem dos MĂŠdicos elaborou na sequĂŞncia de notĂcias surgidas na comunicação social no dia 24 de Dezembro relativas a um documento inacabado e interno desta instituição. A Posição da Ordem dos MĂŠdicos sobre o parecer 64 do CNECV, relativo ao racionamento em SaĂşde, foi estabelecida por unanimidade em reuniĂŁo do Conselho Nacional Executivo (CNE), por todos os seus dez Conselheiros. Â&#x2039;Â&#x2018; y Ordem dos MĂŠdicos ĂŠ, por conseguinte, de rejeição do parecer 64 do CNECV. A Ordem dos MĂŠdicos recorda que foi inequĂvoca a reprovação do parecer 64 do CNECV de forma alargada pela Sociedade e pelos Doentes. Mesmo contra a vontade de alguns, a Ordem dos MĂŠdicos continuarĂĄ sempre a defender o direito dos doentes terem acesso a todos os cuidados de saĂşde de que necessitem. Sublinha-se que, na sua reuniĂŁo do dia 21/12/2012, o CNE decidiu manifestar a sua concordância genĂŠrica com o teor do parecer emitido pela Associação Portuguesa de BioĂŠtica (APB), recentemente apresentado, profundamente crĂtico do parecer 64 do CNECV, que nĂŁo sĂł reforça
a posição que a Ordem dos MĂŠdicos tem sustentado sobre esta matĂŠria, em defesa da dignidade da pessoa humana e no respeito pela irrepetĂvel individualidade de cada doente, como condensa de forma objetiva e fundamentada o seu enquadramento ĂŠtico e social. O CNE subscreve na generalidade as recomendaçþes apontadas pela APB, com particular enfâse para a inaplicabilidade e inadmissibilidade das recomendaçþes do parecer 64/2012 do CNECV. Foi prematuramente divulgado na comunicação social um curto e singelo documento interno, nĂŁo homologado e nĂŁo Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x20AC;~ { Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdica (CNEDM) da Ordem dos MĂŠdicos, sobre o parecer 64 do CNECV. Estranhamente, o parecer do % Â&#x201E;{ Â&#x2018; w ~  algumas questĂľes ĂŠticas da mĂĄxima importância, pelo que foi solicitado ao Conselho que Â&#x152; ~ w Â&#x2030;Â&#x2DC; Â&#x20AC; ~
anĂĄlise, tais como: 1- O CNEDM nĂŁo faz qualquer menção Ă proposta de racionamento por idade que consta do parecer 64 do CNECV. Considera-o ĂŠtico? Mais paradoxal, inacreditĂĄvel e cru se torna este â&#x20AC;&#x153;racionamento por idadeâ&#x20AC;? sabendo-se que 2012 foi considerado como o Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade entre Geraçþes! Racionar por idade ĂŠ primariamente anti-ĂŠtico e viola grosseiramente o CĂłdigo DeontolĂłgico (CD) da Ordem dos MĂŠdicos (artÂş 6Âş do CD). Quem aceita a discriminação por idade tambĂŠm estĂĄ disponĂvel para aceitar outras formas de discriminação! Discriminar por idade representa um trĂĄgico retrocesso civilizacional de laivos nazistas. 2- O CNEDM nĂŁo faz qualquer alusĂŁo ao facto da decisĂŁo Ăşltima sobre o racionamento, sem qualquer recurso, ser da exclusiva responsabilidade da administração, em todas as situaçþes de desacordo, o que relega para segundo plano
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e torna irrelevantes todas as eventuais discussĂľes prĂŠvias. SerĂĄ o Governo que vai decidir questĂľes ĂŠticas, do ponto de vista meramente administrativo? Passaremos a estar sob a ĂŠgide da Â&#x160; ~ Â&#x2014; Â&#x2020; ~ Â&#x2020; Ă&#x20AC; Ă&#x2030; preciso recordar que aceitar o racionamento nas mĂŁos do Estado implicaria aceitar nĂŁo tratar doentes de acordo com o Estado da Arte MĂŠdica, o que constitui uma indisputĂĄvel violação do CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicos (nomeadamente do nÂş 2 do artÂş 3Âş do CD). AlĂŠm disso, o parecer sujeita as Normas de Orientação ClĂnica,
elaboradas pela Direcção Geral da SaĂşde e pela Ordem dos MĂŠdicos, Ă s decisĂľes arbitrĂĄrias das â&#x20AC;&#x153;administraçþes hospitalaresâ&#x20AC;? que passariam a poder alterĂĄ-las, o que ĂŠ totalmente inaceitĂĄvel (violando o artÂş 3Âş do CD). 3- Ao contrĂĄrio da Associação MĂŠdica Mundial, o CNEDM nĂŁo faz qualquer consideração sobre o dever Ă&#x2030;tico de exigir Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ ~ ~ os doentes, nomeadamente num paĂs que ainda nĂŁo combateu muitas ĂĄreas de desperdĂcio, de corrupção e de interesses pouco ĂŠticos. SerĂĄ Ă&#x2030;tico aceitar
passivamente o orçamento da SaĂşde sem o questionar? O Parecer do CNECV â&#x20AC;&#x153;desconhece por completo a dimensĂŁo constitucional do direito Ă saĂşdeâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;cede Ă mensagem subliminar de que pode haver uma ĂŠtica na saĂşde a partir dos interesses dos nossos credoresâ&#x20AC;?, segundo Fernanda Palma, Professora CatedrĂĄtica de Direito Penal. Ordem dos MĂŠdicos Coimbra, 24 de Dezembro de 2012
Pedido de retratação pĂşblica Publicamos em seguida a carta, datada de dia 5 de Janeiro, a qual foi dirigida a Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida, pelos presidentes das trĂŞs secçþes regionais da OM solicitando uma retratação pĂşblica relativamente a aďŹ rmaçþes falsas do representante do CNECV. ÂŤSenhor Prof. Doutor Miguel Oliveira da Silva, O Conselho Nacional Executivo da Ordem dos MĂŠdicos (CNE) tomou conhecimento das declaraçþes proferidas pelo Presidente do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida (CNECV) em 24 de Dezembro, a propĂłsito do parecer do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdica da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDM). Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x20AC; Â&#x160; " ~ Â&#x201E; Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; Â&#x203A;
Â&#x20AC; Â&#x2018; Â&#x2020;Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; ~ { Â&#x20AC; Â&#x2020;Â&#x153; Â&#x2014; Â&#x2018; Â&#x20AC; y Â&#x152; ~ Â&#x20AC;~Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ Â? Â&#x2018; Â&#x20AC; Â&#x2018; Â&#x2C6; Â? Â&#x20AC; ~  dos MĂŠdicos e do seu BastonĂĄrio e, consequentemente, de todos os mĂŠdicos. Em 30 de Outubro foi pedido pelo CNE ao CNEDM para elaborar o seu parecer sobre as questĂľes consideradas polĂŠmicas levantadas pelo parecer 64/2012 do CNECV. Em 23 de Novembro reuniu em Coimbra o CNEDM. Em 11 de Dezembro foi enviado por carta o parecer do CNEDM para os serviços administrativos do BastonĂĄrio/CNE. Em 17 de Dezembro o referido parecer chegou ao BastonĂĄrio. Em 21 de Dezembro, em reuniĂŁo do CNE em Lisboa, o BastonĂĄrio entregou o referido parecer a todos os membros do CNE. Face a estes factos conhecidos e comprovados, vimos desta forma exigir a sua retratação pĂşblica. Os Presidentes dos Conselhos Regionais do Sul, do Centro e do NorteÂť.
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Carta ao coordenador do CNEDMOM Publicamos em seguida a carta que o presidente da Ordem dos MĂŠdicos, JosĂŠ Manuel Silva, dirigiu a Filipe Almeida, coordenador do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM). ÂŤExmÂş Colega, Recebi o seu email de 27/12/2012, que agradeço. Antes de responder decidi dedicar-lhe alguns dias de w Â&#x2030;Â&#x2018; Â&#x2030; Â&#x153; de Festas, que tambĂŠm convida a uma meditação mais tranquila e profunda sobre os valores da Vida e da Humanidade. A carta que teve a amabilidade de me enviar logo no dia 2 de Janeiro de 2013 repete, no essencial, o conteĂşdo do email, pelo que respondo nesta oportunidade ao conjunto das duas comunicaçþes que recebi de V. Exa. 1. Lamento visceralmente os acontecimentos originados pela divulgação abusiva e intempestiva de um documento interno da Ordem dos MĂŠdicos e pelas mentiras deliberadas e inopinados comentĂĄrios produzidos acerca do mesmo pelo Presidente do CNECV. 2. Esta matĂŠria foi levada para discussĂŁo pĂşblica por alguĂŠm que, comprovadamente, tem da Ă&#x2030;tica e dos Direitos Humanos um conceito radicalmente diferente do meu. 3. NĂŁo me associo Ă queles que, analisando a temporização do mesmo, consideram ter sido implementado um processo metodicamente preparado para desencadear a polĂŠmica pĂşblica ocorrida.
4. Lastimo que o coordenador do CNEDM nĂŁo tenha uma palavra explĂcita para se dissociar e verberar o comportamento do Presidente do CNECV. 5. Procurei evitar ao mĂĄximo a intervenção na comunicação social, conforme o demonstram as minhas parcas declaraçþes ao JN, na vĂŠspera do dia 24. 6. No dia 24, jĂĄ um dia de FamĂlia, que dedicava aos meus Â? { Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; ouvir quaisquer notĂcias nem a responder aos nĂşmeros de telefone da comunicação social, mas fui compelido a dar atenção ao problema quando comecei a receber inĂşmeros contactos de Colegas preocupados com a ausĂŞncia de qualquer resposta da minha parte ao impressionante teor acusatĂłrio e Ă s mĂşltiplas intervençþes do Presidente do CNECV. 7. Fui obrigado a reagir de imediato, procurando desvalorizar as circunstâncias e a polĂŠmica, o que deu origem Ă nota de imprensa que lhe enviei e que tambĂŠm visou evitar mais declaraçþes Ă imprensa, o que se revelou absolutamente impossĂvel, face aos insistentes contactos. 8. Segundo os Estatutos da Ordem dos MĂŠdicos e sem qualquer
desprimor, todos os Conselhos Nacionais sĂŁo ĂłrgĂŁos consultivos, sem poder deliberativo atribuĂdo, pelo que os respectivos pareceres podem ser sujeitos, como ĂŠ hĂĄbito, a discussĂŁo e votação no CNE ou no PlenĂĄrio, para que se transformem Â&#x2039;Â&#x2DC; dos MĂŠdicos. Como deverĂĄ ser com qualquer ĂłrgĂŁo consultivo de qualquer instituição. 9. A discussĂŁo interpares, com dignidade, humildade e espĂrito ~ {  a Ordem dos MĂŠdicos e jĂĄ conduziu Ă alteração de alguns pareceres ou posiçþes da Ordem, nomeadamente como resultado das opiniĂľes do CNEDM. O sentido inverso nĂŁo ĂŠ menos digno ou menos aceitĂĄvel, no respeito pela indeclinĂĄvel independĂŞncia de opiniĂľes e competĂŞncias de cada ĂłrgĂŁo, atĂŠ porque a verdade absoluta ĂŠ uma verdade divina. 10. Se os elementos do CNE se demitissem sempre que a sua razĂŁo nĂŁo prevalece, jĂĄ nĂŁo terĂamos nem BastonĂĄrio, nem CNE. A Democracia ensina a respeitar as decisĂľes da maioria, de acordo com a legislação enquadradora. 11. Por conseguinte, e porque o CNEDM tem desenvolvido um trabalho de Qualidade e sentido Ă&#x2030;tico, nĂŁo aceito o pedido de Jan/Fev | 2013 | 27
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demissĂŁo de V. Exa. e continuarei a contar com a sua valiosa colaboração. 12. AliĂĄs, nem seria compreensĂvel a demissĂŁo do CNEDM a meio de Â&#x20AC; w Â&#x2030;Â&#x2018; bioĂŠtica relativamente a uma matĂŠria tĂŁo sensĂvel e complexa quanto a presente, situação que poderia prestar-se a outro tipo de interpretaçþes. 13. Assim, venho solicitar formalmente a V. Exa. que promova entre todos os elementos do CNEDM uma importante e urgente w Â&#x2030;Â&#x2018; { emitido inicialmente, da forma mais objectiva possĂvel, a resposta Ă s questĂľes seguintes, originadas pelo parecer 64/2012 do CNECV: a) O racionamento discriminatĂłrio por idade, proposto no parecer do CNECV, respeita a Ă&#x2030;tica MĂŠdica e o CĂłdigo DeontolĂłgico, particularmente no que concerne ao artÂş 6Âş deste Ăşltimo? b) Entregar as decisĂľes sobre racionamento ao Governo, ultrapassando todos os outros patamares de anĂĄlise e avaliação, condicionando a prĂĄtica mĂŠdica e a obrigação ĂŠtica de respeito pelo Estado da Arte, a que o mĂŠdicos estĂŁo deontologicamente obrigados, respeita a Ă&#x2030;tica MĂŠdica e o CĂłdigo DeontolĂłgico, nomeadamente no que respeita Ă letra e ao espĂrito do artÂş 3Âş? c) SerĂĄ ĂŠtico racionar medicamentos
em doentes com cancro e SIDA, por exemplo, sem implementar previamente um sistema justo e transparente de priorização ĂŠtica na saĂşde? d) O que considera o CNEDM que, em SaĂşde, deve prevalecer, o racionamento ou a racionalização, conceitos que tambĂŠm sĂŁo distintos na literatura anglo-saxĂłnica? e) Ao contrĂĄrio da Associação MĂŠdica Mundial, o CNEDM nĂŁo faz qualquer consideração sobre o dever Ă&#x2030;tico de exigir recursos Â&#x20AC; ~ ~ ~ ~ { nomeadamente num paĂs que ainda nĂŁo combateu muitas ĂĄreas de desperdĂcio, de corrupção e de interesses pouco ĂŠticos. SerĂĄ Ă&#x2030;tico aceitar passivamente o orçamento da SaĂşde sem o questionar, o que jĂĄ representa uma importantĂssima forma de macro racionamento e de estabelecimento de macro prioridades por parte da tutela, com prejuĂzos potencialmente sĂŠrios para os doentes? f) Segundo Fernanda Palma, Professora CatedrĂĄtica de Direito Penal, o parecer do CNECV â&#x20AC;&#x153;desconhece por completo a dimensĂŁo constitucional do direito Ă saĂşdeâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;cede Ă mensagem subliminar de que pode haver uma ĂŠtica na saĂşde a partir dos interesses dos nossos credoresâ&#x20AC;?. O que pensa o CNEDM sobre esta dimensĂŁo do parecer do CNECV, considerando que a Constituição
da RepĂşblica Portuguesa regula e baliza a Ă&#x2030;tica nacional? g) O parecer do CNEDM refere que o parece 64/2012 do CNECV â&#x20AC;&#x153;evita a controvĂŠrsia estĂŠrilâ&#x20AC;?. SerĂĄ legĂtimo y Â&#x152; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2020; Â&#x152; como meramente estĂŠril toda a controvĂŠrsia desencadeada pelo parecer, bem como todas as alusĂľes mais controversas do prĂłprio parecer 64? Esta matĂŠria ĂŠ tĂŁo controversa e sensĂvel que o prĂłprio Papa Bento XVI exortou as estruturas de SaĂşde a evitarem que â&#x20AC;&#x153;a saĂşde deixe de ser um bem universal, que se deve assegurar e defenderâ&#x20AC;?, manifestando o seu receio que pudesse â&#x20AC;&#x153;passar a ser uma mera mercadoria, sujeita Ă s leis do mercado e reservado apenas a algunsâ&#x20AC;?, obviamente discriminando negativamente os doentes mais desfavorecidos. h) Finalmente, venho solicitar a V. Exa. que informe o CNE se algum(ns) membro(s) do CNEDM, tendo em conta os artÂşs 118Âş, 119Âş e 120Âş do CĂłdigo DeontolĂłgico, poderia(m) ou deveria(m) ter ¸ Â&#x20AC; w ~ de interesses que eticamente o(s) impedisse(m) de participar na discussĂŁo e assinar o parecer do CNEDM sobre o parecer 64/2012 do CNECV. Com os melhores cumprimentos, O Presidente da OM JosĂŠ Manuel SilvaÂť
DemissĂľes no CNEDM da Ordem dos MĂŠdicos Face Ă s notĂcias divulgadas hoje na comunicação social, o Conselho Nacional Executivo (CNE) da Ordem dos MĂŠdicos, reunido em sessĂŁo ordinĂĄria, em Coimbra, esclarece o seguinte: - O CNE tem conhecimento de dois pedidos reiterados de demissĂŁo de membros do CNEDM, que ĂŠ constituĂdo por sete elementos. - O CNE sempre respeitou a independĂŞncia do funcionamento dos seus ĂłrgĂŁos consultivos. - O CNE solicitou ao CNEDM que respondesse a questĂľes, objectiva e institucionalmente colocadas, relativas ao parecer 64/2012 do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida (CNECV). - O CNE continua a aguardar a resposta Ă s questĂľes colocadas, que sĂŁo consideradas como essenciais para a Sociedade. - No caso de persistirem pedidos de demissĂŁo, a sua substituição serĂĄ concretizada de acordo com as regras estatutĂĄrias. CNE, Coimbra, 11 de Janeiro de 2013 28 | Jan/Fev | 2013
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DemissĂŁo do Coordenador do CNEDMOM A pedido do autor, publicamos o texto que se segue e cujo tĂtulo original foi ÂŤDo Parecer do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica e Deontologia MĂŠdicas da Ordem dos MĂŠdicos (CNEDMOM) sobre o Parecer do 64/2012 do CNECV, Ă minha demissĂŁo do Coordenador do CNEDMOMÂť ÂŤNa sequĂŞncia das conturbadas notĂcias e conferĂŞncias pĂşblicas em volta do parecer elaborado pelo CNEDMOM sobre o parecer 64/2012 do CNECV, de cuja natureza e estilo me distancio em absoluto, apresentei no passado dia 27 de dezembro ao Senhor BastonĂĄrio da OM a minha demissĂŁo de Coordenador do CNEDMOM. O CNEDMOM foi solicitado a pronunciar-se sobre o parecer 64/2012 do CNECV. FĂŞ-lo na sua reuniĂŁo plenĂĄria ordinĂĄria, e do documento elaborado deu conhecimento ao Sr. BastonĂĄrio, como lhe competia. Por circunstâncias estranhas ao CNEDMOM, este documento viria a ser publicamente utilizado ~ ~ y { num aproveitamento que lamento lhe tenha sido dedicado. Neste pĂşblico fogo cruzado, lateral ao CNEDMOM, o seu parecer mereceu de diversas estruturas diretivas da OM crĂticas, tambĂŠm pĂşblicas, de apoucamento, de â&#x20AC;&#x153;menorizaçãoâ&#x20AC;?, rotulado que foi de , fuga Ă s questĂľes mais importantes, curto, singelo
# . Fez-se crer, pois, tratar-se este
de um â&#x20AC;&#x153;parecerzinhoâ&#x20AC;?, porque inacabado, porque em fase de discussĂŁo...! Na verdade, o parecer que o CNEDMOM elaborou (por isso ĂŠ o parecer do CNEDMOM e nĂŁo o parecer da OM!) nĂŁo ĂŠ um parecer inacabado e que esteja em fase de discussĂŁo. O parecer do CNEDMOM, bom ou mau, ĂŠ o seu parecer ~ Â&#x2020; { Â&#x20AC;Â&#x153; { ~Â&#x20AC; ĂŠ o corolĂĄrio de uma discussĂŁo, nĂŁo o passo de uma discussĂŁo, pelo qual, por isso mesmo, o Conselho se sente obviamente responsĂĄvel. E nĂŁo ĂŠ um parecer laudatĂłrio do parecer do CNECV. NĂŁo! Faz-lhe uma apreciação global positiva, como importante contributo para uma inadiĂĄvel w Â&#x2030;Â&#x2018; ÂĄ Â&#x2018; Â&#x201C; portuguesa e na comunidade mĂŠdica, mas tambĂŠm nas estruturas decisĂłrias da saĂşde) Â&#x20AC; Â&#x153;Â&#x2020; wÂ&#x20AC;Â&#x2030; de ponderação (no qual serĂŁo convocados a participar os ¢ { doentes e seus representantes, e, naturalmente, os responsĂĄveis pela Ăşltima decisĂŁo), atinente Ă fundamentação ĂŠtica que deve informar as deliberaçþes polĂticas e econĂłmicas que, queiramos ou
nĂŁo, estĂŁo inerentes Ă s decisĂľes em saĂşde. Mas faz-lhe tambĂŠm crĂticas, coloca-lhe dĂşvidas, ~ Â&#x2019; Â? Â&#x20AC; Â&#x203A; y Â&#x2019; lhe sugestĂľes. Naturalmente que o parecer do CNEDMOM nĂŁo ĂŠ um documento doutrinal sobre matĂŠrias que, em redor da temĂĄtica em apreço, naturalmente se levantam. Para essas, e se o CNE o tivesse oportunamente solicitado, o CNEDMOM tambĂŠm teria dado o seu contributo, como sempre o fez, aliĂĄs. Mas, nĂŁo! Isso nĂŁo foi pedido ao CNEDMOM. O que efectivamente lhe foi pedido foi um parecer sobre um documento, e nĂŁo um documento original que, de sua autoria, versasse sobre as temĂĄticas (e tantas sĂŁo!) que lhe podem ser adjacentes. O parecer pedido foi concluĂdo e, nesta condição, foi enviado ao Sr. BastonĂĄrio. Ă&#x20AC; OM compete naturalmente dar-lhe o destino que entender, discuti-lo ou nĂŁo, aceitĂĄ-lo ou nĂŁo, publicĂĄlo ou nĂŁo. Esta ĂŠ agora matĂŠria da sua competĂŞncia. Todavia, nas entranhas do CNEDMOM, que o pensou e o escreveu, o parecer nĂŁo estĂĄ em fase de discussĂŁo. No decurso dos acontecimentos, publicitou a OM o seu apoio
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a um parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica, versando as questĂľes em aberto em torno do parecer 64/2012 do CNECV, cujo texto integral nĂŁo nos ĂŠ possĂvel conhecer, mas de cujo teor tivemos pĂşblicos comentĂĄrios do seu autor. Decidiu pois o CNE da OM apoiar, na legitimidade das suas competĂŞncias, um parecer que, pelo noticiado, se antagoniza com o parecer do CNEDMOM. Percorrendo dĂŠdalos ĂŠticos inconfessados, este parecer apoiado pela OM ĂŠ gizado por quem desrespeitou as funçþes para que foi pela mesma OM (concretamente pelo seu Conselho Regional do Norte) designado. Convocado tambĂŠm para a reuniĂŁo plenĂĄria do CNEDMOM onde seria discutido o parecer que aqui nos traz Ă colação, assim expresso na respetiva agenda de trabalho, nela nĂŁo compareceu, escusandose portanto a participar, em sede prĂłpria, na respetiva discussĂŁo. Em conferĂŞncia de Imprensa
convocada pelo Sr. Presidente do Conselho Regional do Norte da OM e na sua presença, assim relatada na imprensa diĂĄria de 27/12/2012, foi referida a estranheza pessoal por nĂŁo ter sido â&#x20AC;&#x153;ouvidoâ&#x20AC;?, exatamente sobre este parecer para cuja discussĂŁo havia sido convocado!!!.....O CNEDMOM que coordenei nĂŁo sustenta, obviamente, atitudes deste jaez, assim, de forma tĂŁo displicente, publicamente passeadas. E, pasme-se, acobertadas com a bandeira institucional do CRN da OM! Â&#x20AC; Â&#x2019;  manto e, embora sem o ruido que nos tem sido dispensado, desta recusa pretendo dar pĂşblico testemunho. Subscrevo em absoluto o teor do parecer que ajudei a construir no seio do CNEDMOM (exatamente e sĂł do que nele objetivamente se escreve! Denego todos os processos de intenção que lhe foram abusivamente adjudicados). NĂŁo deixarei de, neste como
noutros areĂłpagos onde me Â&#x2021; Â&#x153;Â&#x2020; ~ Â&#x2020; { sustentar as minhas convicçþes, em prol de um exercĂcio mĂŠdico justo, humano, eticamente bem cuidado, distanciando-me das visĂľes minimalistas e dos Â&#x2030; Â&#x153; y
w Â&#x2030;Â&#x2018; bioĂŠtica. Reconhecendo, serenamente mas com a necessĂĄria clarividĂŞncia, de que nĂŁo sou capaz de responder aos desĂgnios da estrutura de poder da OM, cumpre-me, nessa medida e vertebradamente, deixar livre um lugar que possa agora ser ocupado por quem tenha competĂŞncia para o fazer! Neste cenĂĄrio e apesar da ~ Â&#x2039; Â&#x20AC; { sequĂŞncia dos acontecimentos, me foi patenteada pelo Sr. BastonĂĄrio, nĂŁo foi possĂvel, desde entĂŁo, continuar a coordenar o CNEDMOM. Filipe AlmeidaÂť
Despacho 15630/2012 Divulgamos em seguida a nota informativa do Conselho Regional do Norte aos mĂŠdicos sobre o Despacho 15630/2012 (autorização para abertura de concurso para os mĂŠdicos que concluĂram o internato na segunda ĂŠpoca de 2012). Vimos desta forma avisar todos os mĂŠdicos especialistas que nĂŁo possam concorrer aos concursos que vierem a ser abertos com base no Despacho 15630/2012, que o CRN deliberou colocar Ă disposição destes mĂŠdicos os serviços jurĂdicos da SRN. Assim, os mĂŠdicos que concorram e vejam as suas candidaturas excluĂdas, poderĂŁo enviar e-mail para conselhoregionalnorte@nortemedico.pt de modo a que possamos agendar reuniĂŁo, com vista Ă preparação dos respectivos processos judiciais. O CRN suportarĂĄ os custos judiciais inerentes a tais acçþes. porque entende que o Despacho 15630/2012 prejudica a Carreira MĂŠdica, coloca em causa os princĂpios da transparĂŞncia, equidade e igualdade de oportunidades no SNS, sendo uma medida que favorece a injustiça do sistema, premiando a idade dos candidatos em detrimento do seu desempenho e competĂŞncias adquiridas e nĂŁo resolve as assimetrias existentes na colocação de Â? Porto, 19 de Dezembro de 2012 O CRN da Ordem dos MĂŠdicos
30 | Jan/Fev | 2013
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Declaraçþes do presidente do Conselho de Administração do CHSJ O Conselho Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos (CRN) tomou conhecimento das declaraçþes do presidente do Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar SĂŁo JoĂŁo (CHSJ) em entrevista ao programa â&#x20AC;&#x153;Olhos nos Olhosâ&#x20AC;? na TVI24 no dia 17/12/2012, que foram amplamente difundidas nos restantes ĂłrgĂŁos de comunicação social. Sem prejuĂzo de uma anĂĄlise mais detalhada das declaraçþes proferidas pelo presidente do CA do CHSJ, o CRN lamenta profundamente que um alto dirigente da administração pĂşblica, mĂŠdico inscrito na Secção Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos, manche abertamente o bom nome de ~ Â&#x20AC; trabalham no SNS e no CHSJ, ao sugerir que os mĂŠdicos, e designadamente os especialistas de todas as especialidades cirĂşrgicas do PaĂs, e em particular os do CHSJ, nĂŁo cumprem os seus deveres no SNS como cirurgiĂľes e como cidadĂŁos. A sugestĂŁo de que operam pouco, traduzida em nĂşmeros ~ ~  a actividade cirĂşrgica no CHSJ, e de que â&#x20AC;&#x153;baixam a produtividade no SNS para operar os doentes nas instituiçþes privadasâ&#x20AC;?, nĂŁo % %Â&#x161; os mĂŠdicos. Pelo contrĂĄrio, estigmatizam todos os mĂŠdicos do CHSJ e apenas contribuem
para aumentar a indignação dos mĂŠdicos e dos doentes. De resto, a informação alarmista de que 30 cirurgiĂľes do CHSJ nĂŁo iriam ao bloco ĂŠ incompreensĂvel, na medida em que, a ser verdade Â&#x20AC; Â&#x203A; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; aceitĂĄvel, a responsabilidade ĂŠ tambĂŠm dos respectivos directores de serviço nomeados pelo CA e do prĂłprio CA do CHSJ. Foi completamente ignorada a multiplicidade de ocupaçþes a que um especialista estĂĄ sujeito no seu serviço, desde a formação dos internos de especialidade Ă s tarefas administrativas, passando pela consulta externa, serviço de urgĂŞncia, serviço em unidades Â&#x20AC; Â&#x153; { Â&#x2019; panhamento dos doentes internados, formação contĂnua e investigação. Adicionalmente, a referĂŞncia } { particular Ă carreira mĂŠdica, com a alusĂŁo negativa aos â&#x20AC;&#x153;cargos Â? Â&#x20AC; ~Â&#x203A; ~ a vidaâ&#x20AC;?, foi particularmente
infeliz e contrĂĄria aos princĂpios fundadores do prĂłprio SNS e mostrou uma confusĂŁo inquietante entre a progressĂŁo ÂĄ Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; competĂŞncias mĂŠdicas) e os lugares de direcção (de nomeação e da exclusiva responsabilidade do CA do CHSJ). Numa altura de crise social, em que todos os portugueses se sentem injustiçados, e em que o bom senso deveria constituir um imperativo pĂşblico, as declaraçþes produzidas sĂŁo inaceitĂĄveis e contraproducentes. O CHSJ foi considerado, pelo terceiro ano consecutivo, o melhor do SNS no estudo realizado pela Escola Nacional de SaĂşde PĂşblica. Tal avaliação nĂŁo seria possĂvel se nĂŁo tivesse Â&#x2030; ~ { Â&#x20AC; tal estudo deveria tambĂŠm ser entendido como um elogio aos recursos humanos de que dispĂľe o CHSJ. y ~ { saĂşde, e em particular os mĂŠdicos, como pilar essencial Jan/Fev | 2013 | 31
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do SNS, sĂŁo os principais responsĂĄveis pela melhoria da qualidade dos cuidados de saĂşde prestados aos cidadĂŁos e pelo sucesso internacional do nosso SNS, tendo estado intimamente associados aos mĂŠritos do nosso Serviço de SaĂşde sistematicamente destacados pela OCDE e pela OMS. Os indicadores de saĂşde conhecidos e regularmente divulgados falam por si. Acresce ainda que os mĂŠdicos portugueses sĂŁo internacionalmente reconhecidos como excelentes { Â&#x20AC; prestigiaram um serviço pĂşblico em Portugal e no resto do Mundo. Interpretando de forma literal os dados apresentados pelo presidente do CA do CHSJ, sĂł podemos concluir que resultaram
Â&#x20AC; w Â&#x2030;Â&#x2018; Â&#x20AC;~ Â&#x153;~ quem tem responsabilidades directas na matĂŠria. Em Ăşltima anĂĄlise, se a atividade mĂŠdica e cirĂşrgica do CHSJ nĂŁo corresponde aos parâmetros Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; { Â&#x201C; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; ~ acontece e tomar as medidas necessĂĄrias para inverter a situação. Jamais tal poderĂĄ servir para julgar em praça ¢ Â&#x20AC; declaraçþes que entendemos ser difamatĂłrias. Expressando a mĂĄxima solidariedade com todos os pro %Â&#x161; { CRN considera que o seu trabalho ĂŠ altamente prestigiante para a Medicina nacional e contribui de forma decisiva para que o seu hospital seja uma referĂŞncia de rigor e excelĂŞncia na prestação
de cuidados de saĂşde. Dadas as circunstâncias e o impacto das declaraçþes proferidas, o CRN exige ao presidente do CA do CHSJ explicaçþes fundamentadas sobre Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; { Â&#x20AC; contribuĂram para deteriorar de y Â&#x2020; Â&#x153;Â&#x2020; Â&#x2039; dos mĂŠdicos e dos doentes em quem governa o CHSJ. Em nome dos doentes e do PaĂs, todos temos a obrigação de ~ { ~ SNS. A começar por quem tem Â&#x2018; Â? cuidado do Senhor Ministro da SaĂşde. Porto, 19 de Dezembro de 2012 O Conselho Regional do Norte da Ordem dos MĂŠdicos
Livros
Analgesia, sedação e anestesia prĂŠ-hospitalares A Universidade do Porto editou o livro ÂŤAnalgesia, sedação e anestesia prĂŠ-hospitalares: princĂpios e protocolosÂť, da autoria de Patrick Hertgen e Claude Fuilla, uma adaptação e tradução para portuguĂŞs coordenada por Romero Bandeira. O livro ĂŠ um guia prĂĄtico de analgesia, sedação e anestesia prĂŠ-hospitalares para actuação em medicina de urgĂŞncia prĂŠ-hospitalar, nomeadamente em situaçþes de Â&#x2020; Â? Â&#x2C6; ~ Ă&#x2026; Â&#x2030; Â&#x203A; ~ renoÂť de socorro Ă s pessoas ao serviço da mĂtica Brigade de Sapeurs-Pompiers de Paris (BSPP) e destina-se a mĂŠdicos anestesistas-reanimadores, mĂŠdicos de urgĂŞncia, homens do terreno. O livro pode ser Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â?& ¸¸œœœÂ?Âś #Â? ~¸ Â? ¸ Â&#x2019; Â&#x2019; Â&#x2019; ~ Â&#x2019; Â&#x2019;Â? ~ Â&#x2019;¸ ¸ ¸ Â&#x17E;ÂŹÂ?¡¡Ă&#x2039; Â&#x20AC; Â?& ¸¸œœœÂ? Â&#x2021; Â?Â&#x20AC; Â? ~¸ conteudos/?conteudo=contactos
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Paulo Sancho Consultor JurĂdico
Unidades Privadas de SaĂşde Esclarecimento sobre a Portaria 287/2012 Face Ă entrada em vigor da Portaria 287/2012 de 20 de Setembro de 2012 que veio regulamentar, no âmbito de uma das tipologias possĂveis, o Decreto-lei 279/2009, de 06.10, foi colocada a seguinte questĂŁo ao Departamento JurĂdico: â&#x20AC;&#x153;O conceito de consultĂłrio mĂŠdico (no âmbito daquela lei) abrange o tradicional consultĂłrio mĂŠdico de prĂĄtica isolada de consultas?â&#x20AC;? Passamos a transcrever o parecer-resposta. ÂŤA Portaria 287/2012 estabelece os requisitos mĂnimos Ă organização e funcionamento, recursos humanos e instalaçþes tĂŠcnicas para o exercĂcio da actividade dos consultĂłrios mĂŠdicos (artigo 1Âş). Nos termos do seu artigo 2Âş considera-se consultĂłrio mĂŠdico as unidades ou estabelecimentos de saĂşde privados que prossigam actividades de prevenção, diagnĂłstico, tratamento mĂŠdico e reabilitação, independentemente da forma jurĂdica e da designação adoptadas, no âmbito das competĂŞncias legalmente atribuĂdas aos mĂŠdicos. Parece, assim, claro que o â&#x20AC;&#x153;tradicional consultĂłrio mĂŠdico de prĂĄtica isolada de consultasâ&#x20AC;? estĂĄ regulamentado por esta Portaria e pelo DL 279/2009.
1- Quando se diz â&#x20AC;&#x153;no caso dos consultĂłrios unipessoaisâ&#x20AC;?. 2- Quando se estabelece que o consultĂłrio mĂŠdico ĂŠ tecnicamente dirigido â&#x20AC;&#x153;por um director clĂnico inscrito na Ordem dos MĂŠdicos salvo no caso dos consultĂłrios unipessoais em que sĂł existe um mĂŠdicoâ&#x20AC;?.
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De resto, tal conclusĂŁo retira-se ainda do preceituado nos artigos 4Âş1 e 10Âş nÂş12, da dita Portaria 287/2012. A conformação a esta nova realidade legislativa tem, no entanto, um prazo que permite tratar da regularização do seu consultĂłrio de forma ponderada. Com efeito, o DL 279/2009, de 06.10, que estabelece o regime Â&#x2021;Â&#x20AC; Â&#x153; Â&#x20AC; Â&#x20AC;Â&#x2021; ~  ~Â&#x20AC; { Â&#x2039;Â&#x2018; e o funcionamento das unidades privadas de saĂşde, cuidou de estabelecer no seu artigo 19Âş que as unidades privadas de serviços de saĂşde em funcionamento, que nĂŁo se encontrem licenciadas ao abrigo de legislação anterior, dispĂľem de um ano desde a entrada em vigor do dito decreto-lei para se adequarem ao que nele estĂĄ disposto. Todavia, o legislador, conhecedor que ĂŠ da sua prĂłpria morosidade na regulamentação de diplomas, estabeleceu ainda no artigo 27Âş do citado Decreto-Lei 279/2009 que este sĂł produziria efeitos,
para cada tipologia, com a publicação da portaria que aprove os respectivos requisitos tĂŠcnicos. Quer isto dizer que as clĂnicas e consultĂłrios mĂŠdicos terĂŁo, ainda, quase um ano para requererem o seu licenciamento, jĂĄ que o prazo sĂł terminarĂĄ no dia 23 de Setembro de 2013. Face ao artigo 21Âş do citado DL 279/2009 os titulares de estabelecimentos privados prestadores de cuidados de saĂşde jĂĄ existentes â&#x20AC;&#x153;podem solicitar a dispensa dos requisitos de funcionamento (â&#x20AC;Ś) quando, por razĂľes estruturais ou tĂŠcnicas, a sua estrita observância seja impossĂvel ou possa inviabilizar a continuidade da actividade, desde que a dispensa nĂŁo ponha em causa a segurança e saĂşde dos utentes ou de terceirosâ&#x20AC;?. O nÂş 2 do artigo citado no parĂĄgrafo anterior refere que â&#x20AC;&#x153;consideram-se susceptĂveis de criar condicionantes estruturais ou tĂŠcnicas, nomeadamente o funcionamento de unidades privadas de serviços de saĂşde em
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' regional ou local, bem como em edifĂcios de reconhecido valor histĂłrico, arquitectĂłnico, artĂstico ou culturalâ&#x20AC;?. A competĂŞncia para decidir sobre o pedido de dispensa cabe Ă ARS, apĂłs parecer da ACSS. A ARS tem 30 dias a contar da apresentação do requerimento para tomar a decisĂŁo de dispensa, sob pena de se entender que o pedido ĂŠ deferido. Nesta matĂŠria o legislador teve
em atenção que, ao longo de dĂŠcadas, permitiu, sem critĂŠrios, a abertura e funcionamento de unidades privadas de saĂşde e que se as entidades licenciadoras tivessem agora de seguir sem excepção este novo regime seriam, certamente, encerrados mĂşltiplos estabelecimentos que se sabe, Ă partida, nĂŁo reunirem, por impossibilidade legal ou estrutural, os requisitos ora exigĂveis, nem ser possĂvel ~ ~ yÂ&#x153; em que as unidades funcionam.
Assim e em conclusĂŁo: A Portaria 287/2012 regula o licenciamento e funcionamento dos consultĂłrios mĂŠdicos de prĂĄtica isolada, devendo as suas normas ser interpretadas em conjunto com as constantes do Decreto-Lei n.Âş 279/2009, de 6 de Outubro. As exigĂŞncias que decorrem da Portaria 287/2012 tĂŞm de ser enquadradas em cada caso concreto. 2012-11-02
Tabela de Nomenclatura para medicina dentĂĄria Perante as dĂşvidas de vĂĄrios colegas especialistas em estomatologia e a solicitação do respectivo ColĂŠgio, foi questionado o departamento jurĂdico sobre a legalidade e a aplicabilidade do CNVRAM, no que se refere a essa especialidade. Transcrevemos o parecer jurĂdico que peremptoriamente estatui que os Estomatologistas sĂł podem ser obrigados por documentos emanados da OM. As dĂşvidas apresentadas pelos colegas deviam-se ao facto de a Tabela da Ordem dos MĂŠdicos Dentistas, jĂĄ publicada em DiĂĄrio da RepĂşblica, ter entrado em vigor no dia 2 de Janeiro de 2013 surgindo a questĂŁo de saber se os estomatologistas tinham que submeter-se ou nĂŁo Ă respectiva terminologia, uma vez que - no artigo 2Âş desse diploma - se fala, genericamente de SaĂşde Oral: â&#x20AC;&#x2DC;A utilização das nomenclaturas e da tabela ĂŠ obrigatĂłria em todos os actos relacionados com o âmbito da saĂşde oral e em particular com a medicina dentĂĄria ou com os mĂŠdicos dentistasâ&#x20AC;&#x2122;. Segue-se o esclarecimento do Departamento JurĂdico da Ordem dos MĂŠdicos: ÂŤA Tabela de Nomenclatura para a Medicina DentĂĄria, publicada pela
Ordem dos MĂŠdicos Dentistas, e que consta do Regulamento 501/2011, do DR II SĂŠrie nÂş 161, de 23 de Agosto, ĂŠ exclusivamente aplicĂĄvel aos mĂŠdicos dentistas. Os estomatologistas nĂŁo estĂŁo abrangidos por este Regulamento jĂĄ que a OMD nĂŁo tem poder regulamentar sobre mĂŠdicos nem as entidades que adoptam a tabela a podem impor a outros Â? O mĂŠdico estomatologista tem de cumprir os preceitos deontolĂłgicos do respectivo CĂłdigo da Ordem dos MĂŠdicos e estĂĄ exclusivamente sujeito Ă acção disciplinar da OM. Quer isto dizer que os estomatologistas podem e devem usar o CNVRAM no exercĂcio da Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; Â? As entidades para as quais os
estomatologistas trabalhem deverĂŁo, pois, respeitar o CĂłdigo de Nomenclatura e Valor Relativo dos Actos MĂŠdicos para os estomatologistas da mesma forma que o fazem para a Tabela de Nomenclatura para a Medicina DentĂĄria relativamente aos mĂŠdicos dentistas. Â&#x2DC; Â&#x2018; confundir, a nomenclatura dos actos praticados por elas tambĂŠm nĂŁo. Em conclusĂŁo, nĂŁo releva para os mĂŠdicos, designadamente para os especialistas em estomatologia, a tabela aprovada pelo Regulamento 501/2011 da OMD. O Consultor JurĂdico Paulo Sancho
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actualidade
Racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNS Realizou-se no passado dia 9 de Janeiro mais um debate na Ordem dos MĂŠdicos em Lisboa. Um painel de oradores composto por Miguel Oliveira da Silva, presidente do Conselho Nacional de Ă&#x2030;tica para as CiĂŞncias da Vida (CNECV), Nuno Fernandes Thomaz, vogal do Conselho de Administração e da ComissĂŁo Executiva da Caixa Geral de DepĂłsitos, S.A., Rui Nunes, director do Serviço de BioĂŠtica e Ă&#x2030;tica da FMUP, JosĂŠ Manuel Silva, bastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos e Serpa Oliva, deputado Ă Assembleia da RepĂşblica pelo CDS-PP, discutiu a temĂĄtica â&#x20AC;&#x2DC;racionar, racionalizar e sustentabilidade do SNSâ&#x20AC;&#x2122;. A moderadora deste debate, no qual ďŹ caram bem explĂcitas as vĂĄrias posiçþes, foi a jornalista Marina Caldas. O debate foi, pela primeira vez, transmitido em directo, via skype, para a distrital do Algarve da OM. No inĂcio foi sorteada a ordem das intervençþes tendo a sorte ditado que a primeira seria a do presidente da Ordem dos MĂŠdicos, JosĂŠ Manuel Silva, promotor destes encontros e, neste caso, um dos intervenientes da noite. Faremos a transcrição da sua introdução Ă temĂĄtica e, em seguida, um resumo alargado das restantes intervençþes e subsequente debate. Intervenção introdutĂłria do presidente da Ordem dos MĂŠdicos: ÂŤDesde Setembro de 2011, altura em que assinou, por sinal, nesta mesma sala, um inĂŠdito acordo com a DGS, na 36 | Jan/Fev | 2013
presença do Ministro da SaĂşde, ~ as associaçþes de doentes, a OM vem fazendo o seu trabalho de casa, interpares, para racionalizar atravĂŠs das Normas de Orientação ClĂnica, que sĂŁo sujeitas a uma prĂŠvia discussĂŁo pĂşblica antes da sua aprovação formal, e a posteriores auditorias. NĂŁo precisamos de liçþes sobre racionalização e racionamento. Na nossa Ăłptica, aceitar o racionamento ĂŠ aceitar a discriminação negativa dos mais desfavorecidos. Ă&#x2030; aceitar um limite para a solidariedade em SaĂşde, ĂŠ agravar as desigualdades sociais em Portugal, um dos paĂses com um dos maiores
~ Â&#x20AC;
Â&#x2020; Â&#x152; { ~ Â&#x20AC; as desigualdades da distribuição dos rendimentos. Este nĂvel de desigualdades, sim, fere a nossa Ă&#x2030;tica Social. Entre os paĂses da UniĂŁo Europeia, a Lituânia era aquele que, em 2009, registava a distribuição de rendimentos mais Â&#x20AC; { Â&#x20AC; ~ Gini de 37%, seguida de perto pela LetĂłnia com 36%. Portugal, a par da Espanha, registava para este indicador o terceiro valor mais elevado da UniĂŁo Europeia: Â&#x17E;¡Ă&#x17D;Â? ~ ~ ~ { ~ Gini portuguĂŞs agravou-se com as medidas de austeridade, que estĂŁo a ser aplicadas de forma desigual, discriminatĂłria e antiĂŠtica!
Os problemas do parecer 64 do CNECV sĂŁo estruturais e conceptuais, para alĂŠm de aplicabilidade duvidosa. Como jĂĄ dissemos em editorial da ROM, a Ă&#x2030;tica ĂŠ pluralista, mutĂĄvel e individual. Fernando Â&#x2020; ~ Â&#x20AC; Â&#x192;~ uma â&#x20AC;&#x153;arte de viverâ&#x20AC;?. Mas a Ă&#x2030;tica deve respeitar as regras, princĂpios e valores globais, sob pena de entrar em litĂgio com a Sociedade. Certamente, nesta sala, ninguĂŠm hoje partilha da Ă&#x2030;tica MĂŠdica nazi, que tambĂŠm era fortemente discriminativa. Por isso mesmo, nĂŁo aceitaremos nunca que a Ă&#x2030;tica possa ser racionada, discriminatĂłria e colocada ao serviço do poder, para a prĂłpria Ă&#x2030;tica nĂŁo se descredibilizar e suicidar, uma das razĂľes pela qual nĂŁo partilhamos a â&#x20AC;&#x153;arte de viverâ&#x20AC;? do CNECV. AliĂĄs, estranhamos que nĂŁo seja divulgado o teor do pedido do Sr. Ministro ao CNECV, conforme solicitĂĄmos, por carta, ao Sr. Ministro. A transparĂŞncia fragilizarĂĄ alguĂŠm? A Ă&#x2030;tica deve ser a Ăşltima guardiĂŁ dos valores intemporais do Homem, da Sociedade, da Solidariedade. NĂŁo pode ser uma Ă&#x2030;tica filosoficamente comprometida ou politicamente correcta, nem pode ser uma Ă&#x2030;tica subjugada aos interesses Â? Segundo Fernanda Palma, Professora CatedrĂĄtica de Direito Penal, o parecer 64 do CNECV â&#x20AC;&#x153;desconhece por completo a dimensĂŁo constitucional do direito Ă saĂşdeâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;cede Ă mensagem subliminar de que pode haver uma ĂŠtica na saĂşde a partir dos interesses dos nossos credoresâ&#x20AC;?. Como ignora, igualmente, um dos mais importantes documentos ĂŠticos universais, que ĂŠ a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, que proĂbe qualquer forma de discriminação e que, no seu artigo 25Âş estabelece que â&#x20AC;&#x153;Toda a pessoa tem direito a um Â&#x153;Â&#x2020; Â&#x2020; Â&#x20AC; ~ Â? assegurar e Ă sua famĂlia a saĂşde e o bem-estar, â&#x20AC;Śâ&#x20AC;?. Vale a pena recordar o artigo 1Âş desta Declaração: â&#x20AC;&#x153;Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razĂŁo e de consciĂŞncia, devem agir uns para com os outros em espĂrito de fraternidadeâ&#x20AC;?. Contrariando as suas prĂłprias declaraçþes pĂşblicas, nas quais preconizava a racionalização e nĂŁo o racionamento, o Sr. Ministro mandou â&#x20AC;&#x153;aplicarâ&#x20AC;? o parecer 64 do CNEVC ao Infarmed e Ă DGS. CĂĄ estaremos, mĂŠdicos e doentes, para ver e analisar os resultados prĂĄticos deste parecer, que consideramos incoerente e inexequĂvel. Para alĂŠm destes problemas estruturais, deixamos para o debate os problemas conceptuais que encontrĂĄmos no parecer 64 e que elencamos: - Aceitar o racionamento por idade, como estĂĄ textualmente escrito no parecer 64, ĂŠ aceitar qualquer outra forma de discriminação, ĂŠ um chocante retrocesso civilizacional e viola grosseiramente o CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicos (artÂş 6Âş do CD), que proĂbe todas as formas de discriminação.
- Entregar as decisĂľes sobre racionamento ao Governo, ultrapassando todos os outros patamares de anĂĄlise e avaliação, condicionando a prĂĄtica mĂŠdica e a obrigação ĂŠtica de respeito pelo estado da arte, a que os mĂŠdicos estĂŁo deontologicamente obrigados, desrespeita a Ă&#x2030;tica MĂŠdica e o CĂłdigo DeontolĂłgico, nomeadamente no que respeita Ă letra e ao espĂrito do artÂş 3Âş. O CNECV nem sequer teve a preocupação e interesse de sugerir uma ComissĂŁo independente, baseada no Infarmed, com ¢ { Â&#x20AC; a participação da Ordem dos MĂŠdicos, e doentes, para tomar a Ăşltima decisĂŁo nas situaçþes mais delicadas e polĂŠmicas. NĂŁo! Entregou essas decisĂľes, de bandeja, ao MinistĂŠrio da SaĂşde. A isto chama-se, objectiva e realisticamente, na nossa mui modesta opiniĂŁo, fazer um imenso frete ao Governo, por muitos e veementes protestos que se possam Â&#x2039; ~ ~ Â? - SerĂĄ ĂŠtico racionar medicamentos em doentes com cancro, SIDA e artrite reumatĂłide, por exemplo, sem implementar previamente um sistema justo e transparente de priorização ĂŠtica na saĂşde? - Consideramos que, em SaĂşde, deve prevalecer a racionalização sobre o racionamento, conceitos Jan/Fev | 2013 | 37
actualidade
que, sublinhamos, tambĂŠm sĂŁo distintos na literatura anglosaxĂłnica. Ă&#x2030; lamentĂĄvel que se importem conceitos que nĂŁo se aplicam Ă realidade do nosso paĂs e que representam uma visĂŁo muito parcial de uma Ă&#x2030;tica condicionada pelos poderosos interesses econĂłmicos prevalecentes. - Ao contrĂĄrio da Associação MĂŠdica Mundial, o parecer 64 do CNECV nĂŁo faz qualquer consideração sobre o dever Ă&#x2030;tico de exigir recursos suficientes para tratar os doentes, nomeadamente num paĂs que ainda nĂŁo combateu muitas ĂĄreas de desperdĂcio, de corrupção e de interesses pouco ĂŠticos. !> @ K K> Q RR T >U >
o orçamento da SaĂşde sem o questionar, o que jĂĄ representa uma importantĂssima forma
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de macro racionamento e de estabelecimento de macro prioridades por parte da tutela, com prejuĂzos potencialmente sĂŠrios para os doentes? SerĂĄ Ă&#x2030;tico causticar os doentes sem exigir mudanças profundas no Estado? Vale a pena transcrever um parĂĄgrafo do editorial de hoje de Pedro Santos Guerreiro, Director do Jornal de NegĂłcios: â&#x20AC;&#x153;DifĂcil ĂŠ mudar o Estado. A cultura do Estado. A Â&#x203A; ~ Â? ~ Â&#x20AC; Estado estĂĄ capturado nĂŁo sĂł por grupos de interesse empresariais, mas tambĂŠm por um grupo que nĂŁo mudou nada, rigorosamente nada, durante a austeridade: os partidos polĂticos. Antes e depois da Troika, os partidos da governação sĂŁo mesas redondas de distribuição de poder e de dinheiro. E nĂŁo vĂŁo abdicar da inĂŠrcia que perpetua essa distribuiçãoâ&#x20AC;?. Racionar em SaĂşde ĂŠ tĂŁo paradoxal que a prĂłpria ComissĂŁo Europeia vem dizer que o racionamento pode aumentar a despesa em cerca de 16% a mĂŠdio e a longo prazo, por razĂľes absolutamente Ăłbvias. Racionar em SaĂşde ĂŠ tĂŁo antiĂŠtico que atĂŠ o Papa Bento XVI exortou as estruturas de SaĂşde a evitarem que ÂŤa saĂşde deixe de ser um bem universal, que se deve assegurar e defender, para passar a ser uma mera mercadoria, sujeita Ă s leis do mercado e reservado apenas a algunsÂť. Uma â&#x20AC;&#x153;respostaâ&#x20AC;? inequĂvoca do Papa aos defensores do parecer 64 do CNECVâ&#x20AC;Ś Sim, porque hĂĄ alguns que sabem que nunca lhes tocarĂĄ o racionamento! Racionar em SaĂşde ĂŠ um inaceitĂĄvel absurdo enquanto nĂŁo se corrigirem as disfuncionalidades do prĂłprio SNS, poupando atravĂŠs da melhoria
Â&#x203A; Â? Um exemplo chocante que nos ĂŠ dado por uma recente auditoria do Tribunal de contas dia respeito Ă s aquisiçþes para o SNS. Cito: â&#x20AC;&#x153;â&#x20AC;Ś por exemplo, o medicamento docetaxel 80 mg que, em 2011, constava no CatĂĄlogo de Aprovisionamento PĂşblico da SaĂşde pelo montante de â&#x201A;Ź 400,00/ unidade, mas foi adquirido pelo Centro Hospitalar Barreiro Montijo por â&#x201A;Ź 41,72/unidade (89,57% de poupança) e pelo Hospital Garcia de Orta por â&#x201A;Ź 55,00/unidade (86,25% de poupança), a outros fornecedores que nĂŁo se encontravam no referido CatĂĄlogo.â&#x20AC;? Esta disparidade de preços de aquisição traduz perdas anuais para o Estado de centenas de milhĂľes de euros e a mais completa ausĂŞncia de circulação horizontal e vertical de informação dos preços de aquisição de medicamentos, dispositivos mĂŠdicos e consumĂveis para o SNS. JĂĄ chamĂĄmos a atenção do MinistĂŠrio e apresentĂĄmos soluçþes para esta situação, que urge resolver de imediato Â&#x2013; ~Â&#x20AC; ~ { hesitaçþes, que aceitar prejudicar alguns doentes pelo racionamento em SaĂşde, nas circunstâncias actuais do paĂs, ĂŠ pactuar com este indigno estado de coisas, tĂŁo bem descrito por Pedro Santos Guerreiro, estado de coisas esse que levou Portugal Ă bancarrota e ainda nĂŁo foi ~ Â&#x2020; ~  Â? NĂŁo contem com a Ordem dos MĂŠdicos para estas cedĂŞncias colaboracionistas com o desper Â&#x153; { Â&#x203A; ~ instituĂdos. Racionar poderĂĄ ser mais fĂĄcil do que racionalizar, mas ĂŠ seguramente menos justo e menos ĂŠtico.
Faz sentido, nesta fase da anĂĄlise,
~ Â? ~ Âą{ { prĂŠmio Nobel da Economia, no seu prefĂĄcio ao livro â&#x20AC;&#x153;A Grande Transformaçãoâ&#x20AC;?, de Karl Polanyi. â&#x20AC;&#x153;Hoje, a tese segundo a qual os mercados, entregues a si prĂłprios, engendram resultados Â&#x152; { Â&#x2021; Â&#x2018; Â&#x152; equitativos, nĂŁo tem qualquer credibilidade intelectual sĂŠria.â&#x20AC;? E, mais Ă frente: â&#x20AC;&#x153;Polany via o mercado como parte de uma economia mais vasta, e essa economia mais vasta como parte de uma ainda mais vasta sociedade. Via a economia de { Â&#x2018; Â&#x20AC; prĂłpria, mas como um meio em Â&#x2020; ~ yÂ&#x20AC; ~ Â?Â&#x2014; TrĂŞs perĂodos mais Ă frente, ~ Âą Â&#x2020; Â&#x160; Â&#x2020; Â&#x152; ~  ~ Â&#x2020; esquecem os muitos indivĂduos que sĂŁo precipitados na pobreza, ou os muitos postos de trabalho destruĂdos por comparação com os criados, ou o aumento dos nĂveis de violĂŞncia, ou a extensĂŁo do sentimento de insegurança ou de redução Ă impotĂŞncia. Polanyi falava de valores mais profundos.â&#x20AC;? Ă&#x2030; em defesa destes valores mais profundos que a Ordem dos MĂŠdicos rejeitou firme e fundamentadamente as mais controversas afirmaçþes do parecer 64 do CNECV e da sua defesa do racionamento em SaĂşde, branqueando todos os erros cometidos e todos os desperdĂcios mantidos a montante e a jusante. A OM tem sobre os valores da Sociedade as mesmas preocupaçþes de Miguel Torga, â&#x20AC;&#x153;Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciĂŞncia? Peçam-me tudo,
menos que tape os olhos.â&#x20AC;? Porque nĂŁo aceitamos fechar os olhos e porque â&#x20AC;&#x153;nada temos a temer senĂŁo o medoâ&#x20AC;?, como Â&#x20AC; Â&#x2C6; # Â&#x2020; ~{ e porque a racionalização, o combate ao desperdĂcio, Ă Â&#x203A; } Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; exigĂŞncia de uma boa governação sĂŁo as respostas inteligentes aos que tentam impor o racionamento em SaĂşde, sem corrigir primeiramente todos os erros do â&#x20AC;&#x153;sistemaâ&#x20AC;?, a Ordem dos MĂŠdicos continuarĂĄ, vertebradamente, a pugnar pelo direito dos Doentes ao Estado da Arte MĂŠdica e a defender a independĂŞncia da Medicina e dos mĂŠdicos portugueses de qualquer tutela polĂticoadministrativa. A nossa Ă&#x2030;tica, aquela que respeitamos, ĂŠ a que estĂĄ plasmada no CĂłdigo DeontolĂłgico da Ordem dos MĂŠdicosÂť, concluiu JosĂŠ Manuel Silva. VWUX >U Y ZW> R> RR> W >
a sustentabilidade do SNS O segundo interveniente no debate foi Serpa Oliva, mĂŠdico e deputado Ă AR pelo CDS-PP, o qual, apĂłs fazer uma anĂĄlise linguĂstica dos dois conceitos ÂĄ Â&#x2020; Â&#x152; § Â&#x2019; mou que da leitura do parecer 64 do CNECV tinha concordado com o conteĂşdo no que se refere Ă fase clĂnica e Ă fase clĂnicoadministrativa, referindo que nesse parecer, a tĂtulo de exemplo, o objectivo da fase clĂnica ĂŠ ÂŤavaliar a adequação e valor clĂnico dos fĂĄrmacos existentes para determinada patologiaÂť, os intervenientes nessa fase sĂŁo ÂŤmĂŠdicos, investigadores das ciĂŞncias da vida e da saĂşde da ĂĄrea e comissĂľes de farmĂĄcia e terapĂŞuticas em redeÂť, Â&#x20AC; Ă&#x2026;~
os envolvidos tĂŞm que fazer a ~ Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; w ~ de interesses de forma clara e com acesso pĂşblicoÂť, etc., tudo indicaçþes com as quais o orador concorda. ÂŤNesta fase clĂnica do parecer do CNECV nĂŁo encontro rigorosamente nada a que me oponhaÂť. JĂĄ na fase clĂnicoadministrativa realçou, entre outros aspectos, que tem que se y Â&#x152; Â&#x20AC; Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; { ÂŤo que ĂŠ perfeitamente correctoÂť, e ÂŤgarantir o processo justo na avaliação de novos fĂĄrmacosÂť e Â&#x20AC; Â&#x2018; ~ Â&#x2020; ~ Ă dispensa do medicamento em ambiente hospitalar tem sempre a ressalva de alteraçþes ao estado da arte. Em face desta { Â&#x2020; Â&#x20AC; que, enquanto mĂŠdico, nada do parecer 64 o leva a considerar que o mesmo deva ser suspenso,
~ ~ ~ Â&#x20AC; foi dado a esse parecer como uma ÂŤincrĂvel distorção jornalĂsticaÂť, como se podia ler num dos slides que apresentou. Centrando em seguida a sua intervenção na questĂŁo da sustentabilidade do Jan/Fev | 2013 | 39
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SNS, referiu que ÂŤPortugal ĂŠ um dos primeiros paĂses do mundo que mais gasta em saĂşdeÂť, nĂŁo per capita mas em relação ao PIB, e que considera essencial que se determine ÂŤonde estĂŁo os desperdĂciosÂť. Situando esta questĂŁo, Serpa Oliva defendeu a necessidade de diminuir a fraude em saĂşde, ÂŤque pode atingir os 100 milhĂľes de eurosÂť, frisando que este ĂŠ um problema Â&#x20AC; y ~ Â&#x2020; Â&#x2DC; ĂĄrea (ÂŤmĂŠdicos, farmacĂŞuticos, enfermeiros, delegados de propaganda mĂŠdica, etc.Âť). Elogiando o empenho do Ministro da SaĂşde em mexer com ÂŤos poderes instaladosÂť, resistindo Ă s pressĂľes que se sabe que existem, e que o prĂłprio orador jĂĄ sentiu enquanto deputado, referiu em seguida as medidas em execução pelo MinistĂŠrio, entre as quais: reorganização da rede hospitalar com gestĂŁo mais ~ Â&#x20AC; Â?Â&#x20AC; e responsabilização das equipas, garantia da cobertura pelos cuidados primĂĄrios, aumento da oferta com a racionalização de recursos, instituição de uma rede nacional de cuidados paliativos, revisĂŁo da polĂtica de taxas moderadoras por forma a garantir que sĂł se isenta quem realmente necessita dessa isenção, programa de redução de custos hospitalares, promoção da transparĂŞncia na saĂşde, fomento de uma cultura de melhoria da qualidade e da segurança, etc. ÂŤOutra poupança que estĂĄ a ser preconizada pelo MinistĂŠrio da SaĂşde ĂŠ a ligação em rede: quando estivermos ligados em rede, pĂşblico e privado, vamos poupar milhĂľes porque a TAC ou as anĂĄlises feitas hĂĄ oito dias nĂŁo vĂŁo ser repetidasÂť. ÂŤ2012 foi o ano do maior orçamento de sempre para a saĂşdeÂť, valor no 40 | Jan/Fev | 2013
qual se incluiu o pagamento de dĂvidas em atraso a fornecedores. ÂŤA sustentabilidade do SNS vem directamente do bolso dos contribuintes (â&#x20AC;Ś) portanto todos nĂłs quando discutimos estes temas temos que perceber que hĂĄ um esforço muito grande da parte dos contribuintes portuguesesÂť, relembrou. Uma das referĂŞncias feitas por Serpa Oliva foi relativamente Ă necessidade de entregar aos utentes uma nota informativa com os valores dos cuidados de saĂşde prestados no SNS porque ÂŤninguĂŠm sabe quanto custa uma cirurgia num hospitalÂť e salientou que ÂŤuma simples consulta num hospital central custa ao Estado 110 eurosÂť. ÂŤEstaremos a racionar ou a racionalizar? Penso que estamos a racionalizar. Ă&#x2030; possĂvel, essencial e mesmo fundamental para nĂłs que se assegure a sustentabilidade do SNSÂť, concluiu. Mais Ă frente, no debate Serpa Oliva explicaria nĂŁo estar mandatado quanto a que posição deveria tomar sobre este assunto e que, ainda que representando o CDS-PP, nĂŁo sabe que opiniĂŁo o seu partido tem quanto ao parecer do CNECV. Decidiu tomar a sua posição sobre a matĂŠria de forma descomprometida: ÂŤestudei este assunto aprofundadamente e entendo que, quando o Prof. Rui Nunes vem propor que a AR proceda Ă nomeação de uma comissĂŁo plural e independente Â&#x20AC; Â&#x2021; w Â&#x2030; y ~ quadrantes da sociedade e que inclua necessariamente repre ~ ~ Â&#x2020; Â&#x2DC; { associaçþes, etc. teremos com certeza uma comissĂŁo com 30 pessoas e como eu acho que uma comissĂŁo com mais de 3 pessoas nĂŁo vale a pena reunir porque nĂŁo chega a conclusĂŁo nenhuma,
acho que isto ĂŠ demagogia puraÂť. Ă&#x2026; Â&#x2018; Â&#x20AC; ~ espantosa do mundo, amo-a apaixonadamente. Lidamos com o que hĂĄ de mais sagrado: a saĂşde. Nunca podemos usar de demagogia quando estamos a falar de saĂşdeÂť, referiu nas alocuçþes finais pedindo aos colegas que nĂŁo assustem as pessoas efectuando, Â&#x2030; { Â&#x2039;Â&#x2DC; televisĂľes de que irĂŁo faltar medicamentos. O PIB ĂŠ baixo. (â&#x20AC;Ś) DevĂamos gerar mais riqueza para podermos gastar mais em saĂşde Seguiu-se a intervenção de Nuno Fernandes Thomaz, vogal do Conselho de Administração e da ComissĂŁo Executiva da CGD, que falou sobre o relatĂłrio do FMI, tornado pĂşblico no dia deste debate, e em algumas das sugestĂľes para corte dos 4 mil milhĂľes de euros: subida de taxas moderadoras, redução do pagamento de horas extraordinĂĄrias, redução do pacote de cuidados assegurado pelo Estado, fusĂŁo de todos os subsistemas no SNS, etc. ÂŤMas importa mesmo decidir que modelo de sociedade estamos dispostos a
pagar, porque vamos ter mesmo que o fazerÂť, defendeu. Na sua intervenção, Nuno Fernandes Thomaz apresentou aquilo que Â&#x20AC; Ă&#x2026; Â&#x20AC; para o sector da saĂşdeÂť as quais referimos neste resumo da sua intervenção: ÂŤcomo gestor tendo a gostar de qualquer reforma orientada para resultados; gosto sempre de mais transparĂŞncia ~ ½ ~ Â? Â&#x20AC;  Â&#x20AC; ~ o preço de um acto mĂŠdico; mesmo sendo um leigo, tenho a certeza que a qualidade implica menores custos; as despesas de saĂşde sĂŁo de facto altas face ao PIB mas isso ĂŠ porque o PIB ĂŠ baixo; temos que crescer em termos econĂłmicos; este ĂŠ o mal de todos os males: se voltarmos a crescer economicamente as despesas face ao PIB deixarĂŁo de ser elevadas; mas, para voltar ao caminho do crescimento, nĂŁo podemos querer tudo: temos que baixar os impostos, mas nĂŁo podemos reduzir impostos sem cortar na despesaÂť, advertiu. Referiu igualmente ser um defensor dos incentivos e lamentou que esse sistema nĂŁo tivesse sido aplicado a toda a base no sector da saĂşde. Embora Ă&#x2026;Â&#x20AC; Â&#x2020; em termos de costumes e um liberal em termos econĂłmicosÂť, o sector da saĂşde ĂŠ, como confessou, aquele que lhe levanta mais dĂşvidas e defendeu ser necessĂĄrio evitar o racionamento e combater o desperdĂcio (fase que Â&#x20AC; Â&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x20AC; necessidade de racionamento), advogando que nĂŁo ĂŠ desejĂĄvel uma ÂŤliberalização excessiva do sector da saĂşdeÂť, algo que seria trĂĄgico e altamente perigoso em seu entender pois pode levar Ă fragmentação do sistema. A Ăşltima ideia que quis expressar
foi o seu orgulho no Serviço Nacional de SaĂşde portuguĂŞs, depois de ter vivido em dois paĂses estrangeiros nos quais teve contacto com o sistema de saĂşde: ÂŤtenho o maior orgulho no nosso SNS. Ă&#x2030; dos melhores. SĂł espero que depois do corte que tem que haver, que a qualidade possa ser mantida ou pelo menos nĂŁo muito prejudicada. (â&#x20AC;Ś) Tem sempre que haver equilĂbrio entre valor e prioridades e princĂpios de equidadeÂť. ÂŤAcredito que uma boa qualidade em medicina representa menos custos. DevĂamos gerar mais riqueza para podermos gastar mais em saĂşde. (â&#x20AC;Ś) O mal do paĂs ĂŠ nĂŁo crescer. Era a isso que devĂamos tentar responderÂť, concluiu. Num ambiente de escassez de recursos tĂŞm que se fazer escolhas ĂŠticas Rui Nunes, director do Serviço de BioĂŠtica e Ă&#x2030;tica da FMUP, começou por referir que o modelo social europeu ĂŠ uma grande conquista civilizacional, modelo no qual acredita e que tem defendido. Demonstrou a sua perplexidade por a Europa estar a negar os seus valores no preciso momento em que os Ă? { Ă&#x2026; ~Â&#x203A; ~Â&#x153; e cultural da actualidadeÂť, estĂŁo a abrir o seu sistema para esses valores e exemplificou ainda
com a China que anunciou que em 2020 vai ter uma cobertura universal de saĂşde para mais de mil milhĂľes de pessoas. ÂŤO sistema de saĂşde portuguĂŞs e concretamente o nosso modelo social e o nosso estado social nĂŁo tĂŞm que ser refundados nos seus valores, tĂŞm que ser reinventados no modo como sĂŁo geridos os vĂĄrios subsectores de modo a garantir a sustentabilidade e a viabilidade futura destes valoresÂť. Este orador referiu que a riqueza econĂłmica ĂŠ, e deve ser, para os Estados, instrumental para proporcionar riqueza em ¢ { ~Â&#x153; { Â&#x20AC; ~Â&#x20AC; { ~ Â? ÂŤTemos um bom sistema de saĂşde; nĂŁo ĂŠ perfeito e podemos fazer mais, mas nĂŁo vamos destruir o que conquistĂĄmos e construĂmos durante largas dĂŠcadasÂť. ÂŤSe ĂŠ verdade que a provisĂŁo de bens sociais ĂŠ indexada Ă economia tambĂŠm ĂŠ verdade que haverĂĄ sempre mais procura do que aquilo que se pode darÂť, quer devido ao consumismo exagerado, quer ao surgimento de novas tecnologias, etc., tudo factores que levam a que a procura de cuidados de saĂşde seja superior Ă oferta, conforme foi explicado. A solução encontrada por paĂses como CanadĂĄ, AustrĂĄlia e Nova Zelândia, por exemplo, foi escolher prioridades, sendo a
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primeira delas racionalizar, ou Â&#x2021; Ă&#x2026; ~ Â&#x203A; { ~ ĂŠ combatendo o desperdĂcioÂť. O
 ~ } Â&#x203A; { Â&#x20AC; Rui Nunes, mais importante atĂŠ do que o combate Ă fraude para a garantia da sustentabilidade do SNS. Defendeu que na questĂŁo entre a proposta de racionamento administrativo e a defesa de prioridades ĂŠticas no sistema de saĂşde deverĂĄ ser resolvida atravĂŠs de ÂŤum debate nacional onde estejam representadas todas as forças vivas da sociedadeÂť, { ~ { ~ Â? A priorização ĂŠtica na saĂşde nĂŁo ĂŠ impeditiva de qualidade e o debate alargado trarĂĄ legitimidade Ă polĂtica a impor, com o maior consenso social possĂvel, defendeu. Relativamente ao parecer da Associação Portuguesa de BioĂŠtica explicou que o mesmo nĂŁo ĂŠ de oposição ao parecer do CNECV mas antes de oposição a uma polĂtica pĂşblica que se quer implementar e que apelidou de ilegĂtima â&#x20AC;&#x201C; por nĂŁo ter tido por base um amplo debate  Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x20AC; ÂŤregressĂŁo civilizacionalÂť. AlĂŠm disso o modelo de racionamento administrativo defendido pelo CNECV, em que se propĂľe o debate do racionamento com base na idade, ĂŠ inconstitucional por violar os artigos 13 e 64 da Constituição da RepĂşblica Portuguesa, explicou. ÂŤUm dos pilares da nossa sociedade ĂŠ o princĂpio da nĂŁo descriminação com base em caracterĂsticas arbitrĂĄriasÂť. E se fosse esse o caminho, qual seria a idade e quem teria legitimidade para a definir, questionou Rui Nunes. Em conclusĂŁo defendeu que a avaliação de novos medicamentos ou dispositivos mĂŠdicos venha a ser feita por uma agĂŞncia independente, semelhante ao 42 | Jan/Fev | 2013
NICE britânico, de forma a evitar disparidades. O orador referiu ainda que existem neste momento Ă&#x2026; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2039; Ă&#x2020; paĂs pois existem diferentes hospitais a aplicar diferentes critĂŠrios e polĂticas quanto, por exemplo, aos medicamentos a disponibilizar a doentes com uma mesma patologia e defendeu assim que a alternativa ĂŠ fazer um debate pĂşblico, com a devida transparĂŞncia. Quanto } Â&#x2039;Â&#x2018; ~  { relembrou que mesmo o relatĂłrio do FMI defende a aplicação do princĂpio de â&#x20AC;&#x2DC;primeiro tratarse o mais grave e depois o restanteâ&#x20AC;&#x2122;. Reconhecendo que ÂŤnum ambiente de escassez de recursos tem que se fazer escolhas mas ĂŠticasÂť, terminou Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; peremptoriamente que ÂŤĂŠ a sociedade portuguesa que vai ter que fazer esta escolhaÂť. â&#x20AC;&#x2DC;Priorizaçãoâ&#x20AC;&#x2122; ĂŠ a tradução em linguagem soft dos economistas da saĂşde para â&#x20AC;&#x2DC;racionamentoâ&#x20AC;&#x2122; Miguel Oliveira da Silva começou por salientar que o parecer 64 do CNECV foi aprovado por unanimidade dos conselheiros, sublinhando tratar-se de pessoas de sensibilidades ĂŠticas e polĂticas muito diferentes. Enquadrando historicamente o termo racionamento considerou que se tentou suscitar medo na população atravĂŠs da distorção da informação. Citando uma das conclusĂľes do parecer 64 do CNECV, o presidente desse Conselho referiu: ÂŤem qualquer caso â&#x20AC;&#x201C; quer dizer sempre - o CNECV tem como essencial que tudo â&#x20AC;&#x201C; â&#x20AC;&#x2DC;tudoâ&#x20AC;&#x2122; ĂŠ sempre o que se passa nĂŁo pode de modo algum â&#x20AC;&#x201C; sempre - pĂ´r em
Â&#x20AC; ~ Â&#x2039; e a aliança relação terapĂŞutica
~ ~ saĂşde, isto diz-se em respeito a todo o parecer. Quaisquer dĂşvidas, ambiguidades que o parecer suscitar por a linguagem nĂŁo ser perfeita, por nĂŁo termos feito uma nota de rodapĂŠ a explicar que racionamento nĂŁo era um termo coloquial mas a sua acepção tĂŠcnica, resumemse aqui: em qualquer caso, sempre, tudo estĂĄ ao serviço da Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2039; { Â&#x2039; terapĂŞutica entre os doentes e os ¢ Â&#x20AC; aliança desta natureza nĂŁo hĂĄ exclusĂŁo de velhos.Âť Este orador explicou Ă assistĂŞncia que o CNECV nĂŁo faz, nem fez, um frete ao governo e que ÂŤnĂŁo propĂľe o racionamento administrativoÂť, mas antes ÂŤpromove a liberdade de saĂşde dizerem nĂŁo: eu nĂŁo concordo com esta guideline a liberdade de dizer nĂŁo estĂĄ clarissimamente escrita no parecer, Â&#x20AC; Â&#x20AC; { ~ Ă&#x2020;{ sublinhou. ÂŤA transparĂŞncia ĂŠ defendida no nosso parecer atravĂŠs de Â&#x2039;Â&#x2018; ¢ w ~ de interesses de todos: mĂŠdicos, enfermeiros, farmacĂŞuticos, jornalistas, associaçþes de doentesÂť. Salientou que nos comentĂĄrios ao parecer nunca se falou ~ Â&#x20AC; ~Â&#x2018; w ~ interesses. ÂŤQue extensĂŁo deve ter essa declaração?Âť, questionou, defendendo o aprofundamento do conceito. ÂŤDeve ser pĂşblico? Ă&#x2030; importante que as pessoas saibam se recebemos dinheiro da indĂşstria para fazer conferĂŞncias ou ensaios clĂnicos? Claro que sim! Mas nĂŁo apenas eu, todos os que estĂŁo aqui nesta sala devem poder aceder a essa informação!Âť Mais Ă frente no debate, Miguel Oliveira da Silva referiria o facto de nĂŁo encontrar as declaraçþes
w ~ ~ relativas Ă s NOCs no site da DGS e que considerava que uma ampla (pĂşblica) divulgação das mesmas ĂŠ essencial, realçando que a sua estĂĄ divulgada e de forma pĂşblica e acessĂvel. Considerando ter havido manipulação do conteĂşdo do parecer, Miguel Oliveira da Silva explicou: ÂŤO que disse o parecer do CNECV sobre o factor etĂĄrio? O racionamento implĂcito â&#x20AC;&#x201C; e todo o parecer ĂŠ obviamente construĂdo para condenar o racionamento implĂcito e defender o racionamento explĂcito â&#x20AC;&#x201C; pode ser discriminatĂłrio, e ĂŠ quase sempre, se se basear em factos como a idade â&#x20AC;&#x201C; coisa que ninguĂŠm quer -, classe social ou gĂŠnero, perpetuando a exclusĂŁo de grupos marginalizados â&#x20AC;&#x201C; com certeza que ninguĂŠm quer perpetuar essa exclusĂŁo â&#x20AC;&#x201C; assim deve haver um debate e incluir um escrutĂnio ĂŠtico sobre a avaliação de racionar por idade, obviamente para a recusar. Ă&#x2030; o que quer dizer o â&#x20AC;&#x2DC;assimâ&#x20AC;&#x2122;. Se eu cito as duas Ăşltimas linhas e omito as cinco de cimaâ&#x20AC;Ś acusam o CNECV de querer matar os velhosÂť. ÂŤĂ&#x2030; evidente que ninguĂŠm quer fazer nenhuma descriminação por idadeÂť, sublinhou este orador jĂĄ na fase de debate. ÂŤClaro que hĂĄ racionamento ĂŠtico. Com certeza que ĂŠ uma Â&#x2020;  na bioĂŠtica e na economia da saĂşdeÂť, explicou Miguel Oliveira da Silva fazendo em seguida diversas citaçþes (de Correia de Campos, do parecer do CNEDMOM, do Conselho de BioĂŠtica AlemĂŁo) que exempli ~ ~ Â&#x2039;Â&#x2018; termo â&#x20AC;&#x2DC;racionamentoâ&#x20AC;&#x2122;, da qual
referimos apenas uma a tĂtulo de exemplo: ÂŤracionamento ĂŠ esforço de distribuição de forma equitativa de recursos limitados. Todo o racionamento inclui racionalização. NĂŁo sĂŁo conceitos opostosÂť (JoĂŁo Lobo Antunes numa sessĂŁo clĂnica do HSM/ FMUL no dia 20 de Dezembro de 2012). Para Miguel Oliveira da Silva, a sua opiniĂŁo de que racionamento e racionalização sĂŁo conceitos complementares e nĂŁo opostos estĂĄ fundamentada em diversos autores. ÂŤNĂŁo ĂŠ racionamento ou racionalização
mas sim racionamento com racionalizaçãoÂť, acrescentou. ÂŤO vocĂĄbulo sĂł ĂŠ perigoso porque na acepção comum invoca tristes memĂłrias da segunda guerra mundial; o CNECV devia ter feito uma extensa nota de rodapĂŠ ou um glossĂĄrio a dizer â&#x20AC;&#x2DC;vamos usar o termo em sentido tĂŠcnicoâ&#x20AC;&#x2122;Âť, assumiu. ÂŤPortanto quando agora se vem falar em planeamento em saĂşde, mas nĂŁo racionamento, priorização, mas nĂŁo racionamento: deixemo-nos de eufemismos, isto ĂŠ tudo a mesma coisaÂť, defendeu Miguel Oliveira da
Silva. O orador explicou como ĂŠ pernicioso permitir que se mantenha o racionamento implĂcito: ÂŤo racionamento implĂcito varia de local para local, ĂŠ aleatĂłrio e inibe o prescritor. Isso nĂŁo queremos. O que eu defendo ĂŠ que esse racionamento deverĂĄ ser tanto quanto possĂvel explĂcito, com revisĂŁo periĂłdica â&#x20AC;&#x201C; discutido por todos â&#x20AC;&#x201C; com uma declaração pĂşblica extensa acessĂvel num site, com as comissĂľes de farmĂĄcia em rede para que nĂŁo suceda recusarse um medicamento na Alfredo da Costa e comprĂĄ-lo em Santa Maria, para doentes com a mesma situação, excepção fundamentada do prescritor sempre. O mĂŠdico nĂŁo ĂŠ nunca um executor do Estado. NĂŁo hĂĄ racionamentos administrativos, nem coisas do gĂŠnero. Isto mantĂŠm a
Â&#x2039; ~ Ă&#x2020;Â? Defendeu, portanto, que o que o CNECV pretende ĂŠ ÂŤacabar com o racionamento silenciosoÂť e que ÂŤâ&#x20AC;&#x2122;priorizaçãoâ&#x20AC;&#x2122; ĂŠ a tradução em linguagem soft dos economistas da saĂşde para â&#x20AC;&#x2DC;racionamentoâ&#x20AC;&#x2122;Âť. Para terminar, o orador repetiu que qualquer dĂşvida suscitada pelo parecer 64 do CNECV, se resolve, resumindo, na conclusĂŁo nÂş 12 do parecer: ÂŤEm qualquer caso, o CNECV tem como essencial que tudo o que se faça nĂŁo pode de modo algum pĂ´r Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2039; e de aliança terapĂŞutica entre ~ saĂşde. Foi para que isso nunca aconteça que se elaborou este parecerÂť, concluiu. A resposta ĂŠ fĂĄcilâ&#x20AC;Ś Mas as implicaçþes da resposta nĂŁo se Jan/Fev | 2013 | 43
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estĂŁo a querer aceitar Seguiu-se um profĂcuo debate do qual damos conta transcrevendo resumos de diversas posiçþes. Esta fase iniciou-se com a opiniĂŁo do economista [>X [ \ ] R a pedido da moderadora, Marina Caldas. Para o economista, o termo â&#x20AC;&#x2DC;racionamentoâ&#x20AC;&#x2122; nĂŁo o incomoda e explicou porquĂŞ: ÂŤo racionamento ĂŠ um conceito que em economia sempre esteve presente. Sempre foi preciso fazer escolhas porque nĂŁo hĂĄ recursos que cheguem para tudo e qualquer escolha implica um racionamento: implica abdicar de algo para fazer outra coisa, portanto esta ĂŠ uma discussĂŁo que me parece um pouco estĂŠril. A questĂŁo ĂŠ com que regras se fazem essas escolhas. Racionamento
Se respondermos que sim a esta questĂŁo estaremos entĂŁo tambĂŠm a fazer um juĂzo sobre se devemos pĂ´r Ă frente alguĂŠm que jĂĄ satisfez um tempo de vida longo, face a alguĂŠm que ainda nĂŁo teve esse tempo de vidaÂť. Este ĂŠ o tipo de debate ĂŠtico a Â&#x20AC; Â&#x2013; Â&#x2013; & " ~ Â&#x2020; de assistir ÂŤporque a pergunta em si mesma leva a uma resposta fĂĄcilâ&#x20AC;Ś Mas as implicaçþes da resposta sĂŁo aquelas que nĂŁo se estĂŁo a querer aceitarÂť, afirmou peremptĂłrio. O economista realçou ainda que ÂŤquando se fala em estabelecer prioridades, nĂŁo acho Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x2018; ~ ~ Â? Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x20AC; e sĂł depois passo aos seguintes. Â&#x2013; ~ ~ menores recursos. Mas passar
pode ter muitas conotaçþes por isso pode ser melhor falar em escolhas inteligentes ou racionalização se preferiremÂť. ÂŤArranjem outro nome qualquer, chamem-lhe arco-Ăris, tanto fazÂť, gracejou, explicando que ÂŤo facto ĂŠ que temos que fazer Â? ~ ~ os mecanismos pelos quais as vamos fazerÂť, mecanismos esses que tĂŞm que ser muito claros, conforme frisou. O essencial Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; se quer seguir: ÂŤDevemos como sociedade considerar que toda a gente tem direito a um tempo de vida em boas condiçþes?
de estabelecer prioridades para â&#x20AC;&#x2DC;matar pessoas idosasâ&#x20AC;&#x2122; pareceme um passo muito grande e muitas das decisĂľes que sĂŁo tomadas neste campo sĂŁo na margem. NĂŁo fazer algo porque nĂŁo vale a pena ĂŠ diferente de simplesmente nĂŁo fazer nada ou de gastar mesmo que jĂĄ nĂŁo valha a penaÂť, concluiu. O radiologista Cansado Carvalho realçou o grande impacto econĂłmico da ÂŤmodulação da qualidadeÂť, considerando que esse ĂŠ um aspecto ÂŤque nĂŁo ĂŠ devidamente sublinhadoÂť. ÂŤSe nĂłs conseguirmos aumentar a qualidade e se reduzirmos
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critÊrios de segurança, poderemos ter resultados e uma capacidade de resposta muito superiores, referiu explicitando a sua posição com o exemplo de um cenårio de guerra em que se se exigir todas as condiçþes de segurança para o transporte dos doentes então não se vão obter bons resultados. A medicina durante vinte sÊculos teve como objectivo principal aumentar a longevidade. As mudanças de perspectiva têm que ser feitas com lentidão para não criarem pânico mas toda a gente vai morrer um dia; o sofrimento da morte, quer do próprio quer dos seus familiares, depende da conjugação das expectativas com a realidade: por exemplo, ninguÊm tem a esperança de fazer um transplante hepåtico como fez o Steve Jobs porque não estå na nossa gama de expectativas. Temos que repensar qual o nosso objectivo: a måxima longevidade ou a måxima qualidade total de vida, o que Ê um
~ yÂ&#x153; que inevitavelmente vai ter que ser abordadoÂť, concluiu. Manuel Castelo Branco, jurista de Coimbra interessado em temas de bioĂŠtica, explicou que pretendia sair deste debate mais tranquilo: ÂŤVim para o debate ~ Â&#x20AC; Â&#x152; Â&#x20AC; Â&#x20AC; Senhor BastonĂĄrioÂť, referiu, aproveitando para elogiar a defesa que o presidente da OM faz da medicina, do Estado Social, do SNS e desta matĂŠria civilizacional. ÂŤFiquei igualmente tranquilizado ao ouvir o Dr. Rui Nunes. Mas ouvir o Dr. Miguel Oliveira da Silva nĂŁo me deixa nada tranquilo... O que estĂĄ em causa ĂŠ saber se a dignidade da pessoa humana ĂŠ um valor absoluto ou relativo. A questĂŁo
de fundo do racionamento ĂŠ saber se uma vida humana idosa ou com uma patologia particular  Â&#x20AC; Â&#x203A; { Â&#x20AC; Â&#x20AC;~ { SIDA, etc. â&#x20AC;&#x201C; ĂŠ ou nĂŁo um valor absolutoÂť. Manuel Castelo Branco defendeu que ÂŤeste nĂŁo ĂŠ um problema de saĂşde ou da economia ou gestĂŁo de saĂşde: ĂŠ um problema da concepção Â&#x201C; Â?Â&#x20AC; { Â&#x20AC; problema de introdução do relativismo moralÂť, algo que
Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; Â? ÂŤOnde a barreira do humano cede, abrimos a porta a tudoÂť, concluiu. ~ Â&#x20AC;~Â&#x20AC;  ~ incluiu, naturalmente, resposta e comentĂĄrios intercalados por parte dos oradores convidados. Citando uma das encĂclicas o papa Karol Wojtyla, Miguel Oliveira da Silva Â&#x20AC; Â&#x20AC; ÂŤa vida humana nĂŁo ĂŠ um valor absolutoÂť. *W ^WU>R, por seu lado, defendeu que o CNECV propĂľe ÂŤuma mudança de { ~ Ă&#x2020; para um ÂŤparadigma utilitaristaÂť Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; sempre oposta Ă do economista Allan Williams, pois nĂŁo aceita que existam ÂŤvidas que nĂŁo valem a pena ser vividasÂť. ÂŤĂ&#x2030; esta sociedade que nĂłs queremos?Âť, questionou. ÂŤO problema ĂŠ que priorizar implica um pacote base. O mĂnimo decente de cuidados de saĂşde que podem ser prestados Ă s pessoasÂť. JĂĄ para Serpa Oliva muitas das questĂľes levantadas a propĂłsito do parecer do CNECV demonstram que ÂŤas pessoas nĂŁo conhecem o parecer ou nĂŁo leram as conclusĂľesÂť o que acaba por, em seu entender, originar ÂŤmuita demagogia no debate deste assuntoÂť pois considera que ninguĂŠm ÂŤpĂľe causa o valor da vida das pessoas idosasÂť e que o prĂłprio parecer do CNECV
ÂŤnunca o pĂ´s em causaÂť e relembrou que o mesmo foi pedido ÂŤpara analisar a possibilidade de racionar a aplicação de medicação em trĂŞs ~ Â&#x153; Ă&#x2020;{ nada mais. JosĂŠ Manuel Silva interveio nesta fase para explicar que a Ăşnica razĂŁo pela qual nunca se falou da Â&#x20AC; ~Â&#x2018; w ~ de interesses ĂŠ por ser Ă&#x2026; Â&#x153; Ă&#x2020; Ă&#x2026; ~ { por exemplo, no âmbito do protocolo que a OM tem com a DGS para a elaboração de normas de orientação clĂnicaÂť, ainda que possa ser melhorada. Referindose a rankings explicou que nem sempre as estatĂsticas referidas estĂŁo certas pois ÂŤos Ăşltimos dados publicados pela OCDE, actualizados em Outubro de 2012 mas que sĂŁo referentes a 2010, dizem que Portugal estĂĄ em 7Âş lugar nos gastos com saĂşde em termos de percentagem de PIB. Mas se atentarmos Ă percentagem da despesa pĂşblica com saĂşde nos paĂses da OCDE, o nosso paĂs estĂĄ em 25Âş; o gasto pĂşblico em Portugal corresponde apenas a 65,8% enquanto que, por exemplo, na Holanda, que estĂĄ em segundo quanto a percentagem do PIB, a despesa pĂşblica com saĂşde ĂŠ de 85,7%, na Alemanha 76,8%, em França 77%. Se olharmos Ă despesa per capita estamos em 23Âş, com uma mĂŠdia de 2728 dĂłlares/ano contra uma mĂŠdia per capita na OCDE de 3265 dĂłlares/anoÂť, o que significa que estamos muito abaixo da mĂŠdia da OCDE. ~  Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; ~
CNECV, JosĂŠ Manuel Silva referiria uma forma de resolver a divergĂŞncia de opiniĂľes. ÂŤQuero saudar a interpretação feita pelo Prof. Miguel Oliveira da Silva relativamente ao parecer 64 do % %Â&#x2022;Ă&#x2020;{ Â&#x20AC;{ Â&#x20AC; o parecer seja rescrito para que essa interpretação seja plasmada no texto: ÂŤgostava de ver escrita a rejeição da admissibilidade do racionamento por idade. Escreva-se para que nĂŁo haja dĂşvidasÂť, para que o parecer seja
Ă&#x2026; ~Â&#x2018; primeiros a apoiar esse parecerÂť, algo que, em sua opiniĂŁo, deveria incluir o glossĂĄrio a explicar em que sentido se usa o termo â&#x20AC;&#x2DC;racionamentoâ&#x20AC;&#x2122;, sublinhou. Miguel Oliveira da Silva considera ser desnecessĂĄrio fazĂŞ-lo, frisando que estĂĄ estatuĂdo no parecer que o mĂŠdico ĂŠ soberano no que se refere Ă prescrição, nomeadamente no ponto 4 das conclusĂľes: ÂŤem todos os protocolos ou normas de orientação clĂnica, o CNECV Jan/Fev | 2013 | 45
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entende dever recordar que, sendo a independĂŞncia e a responsabilidade na prescrição inseparĂĄveis da boa prĂĄtica clĂnica, o direito Ă excepção, devidamente fundamentada, deve estar contemplado (tal como a penalização da excepção nĂŁo fundamentada)Âť. JĂĄ *W ^WU>R entendeu estar-se a iludir a essĂŞncia indo ao acessĂłrio pois ÂŤum modelo de priorização ĂŠtica na saĂşde tem que ser concebido a nĂvel macro, tem que ser concebido e estruturado com base nos grandes referenciais do nosso modelo social, portanto sĂŁo decisĂľes que competem a todos os parceiros. A questĂŁo do
w ~ ~ y Â&#x152; ~ a uma escala micro mas nĂŁo nesta perspectiva holĂstica de enquanto sociedade sabermos que sistema de saĂşde queremos e se queremos ou nĂŁo o sistema de priorizaçãoÂť. O director do Serviço de BioĂŠtica e Ă&#x2030;tica considerou que nada do que possa ser dito invalidarĂĄ o que foi escrito: ÂŤassim, pensamos incluir
enorme falta de sensibilidade socialÂť fazer este tipo de anĂĄlises, por estarmos num momento em que ÂŤa população estĂĄ a passar por tantas carĂŞnciasÂť, defendendo que o debate dobre a priorização em saĂşde deveria ser feito num momento em que houvesse estabilidade e crescimento, e em que o sistema de saĂşde estivesse a ter bons resultados. Nas suas conclusĂľes referiria ainda a necessidade de uma reforma profunda e estrutural do sistema de saĂşde ÂŤa qual nĂŁo se antevĂŞÂť. ÂŤMas concordo que podemos â&#x20AC;&#x2DC;andar e mastigarâ&#x20AC;&#x2122; ao mesmo tempo. Portanto nĂŁo vejo inconveniente Â&#x20AC; Â&#x2020;  Â&#x20AC; w Â&#x2030;Â&#x2018; profunda, plural e alargada em termos do modelo de priorização ĂŠtica que queremos. Sem uma participação activa da sociedade nĂŁo hĂĄ hipĂłtese de se aplicar um sistema de racionamento ĂŠtico sem que as forças vivas da sociedade
Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x20AC; modelo queremosÂť.
falaciosa a comparação de gastos em saĂşde entre paĂses mais pobres e mais ricos. ÂŤPorque ĂŠ que nĂŁo se fala nos desperdĂcios na justiça? De processos que nunca mais acabam e que nem sequer levam Ă condenação dos culpadosÂť, questionou. LuĂs Campos, mĂŠdico internista, director do Serviço de Medicina IV do Hospital de S. Francisco Xavier e presidente do Conselho Nacional para a Qualidade na SaĂşde, interveio no debate defendendo que o que ÂŤestĂĄ em causa foi alguma falta de cuidado no uso de alguns termos no parecer do CNECVÂť, ÂŤporque as conclusĂľes sĂŁo mais ou menos consensuaisÂť, afirmou, considerando ainda que terĂĄ havido, por parte da OM, ÂŤdemasiada radicalização da discussĂŁoÂť. Procurando recentrar o debate, LuĂs Campos defendeu: ÂŤo que se devia discutir era o seguinte: os paĂses gastam em saĂşde em função da riqueza que tĂŞm. A PolĂłnia gasta 1000 euros, nĂłs dois mil e
mais um ponto que deverĂĄ ser objeto de escrutĂnio ĂŠtico: 6) Analisar cuidadosamente as questĂľes de justiça distributiva referentes Ă s diferentes faixas etĂĄrias, incluindo: (â&#x20AC;Ś) b) a avaliação da permissibilidade de racionamento por idade; (â&#x20AC;Ś)Âť, in parecer 64Âş do CNECV. Considerou tratar-se de ÂŤuma
Quanto vale um ano de sobrevida num doente com cancro? HeloĂsa Santos, geneticista mĂŠdica e pediatra, presidente de trĂŞs comissĂľes de bioĂŠtica, entre as quais a comissĂŁo de ĂŠtica do INSA, referiu que a mĂŠdio prazo os custos de tratar mal os doentes serĂŁo mais elevados e apelidou de
a Holanda 3800 euros. Portanto a percentagem do PIB que gastamos ĂŠ realmente superior Ă riqueza que temos, mas na despesa em medicamentos somos o 4Âş paĂs da Europa a gastar mais. Gastamos 391 euros, o Reino Unido 290, a Dinamarca 229. Por isso ĂŠ que a Troika considerou esta ĂĄrea da
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despesa com saĂşde como uma em que devĂamos fazer um esforço de contenção. Reduzir um terço nessa despesa ĂŠ pĂ´r um tecto. E quando se pĂľe um tecto temos que fazer escolhasÂť. ÂŤQuanto vale um ano de sobrevida num doente com cancro?Âť questionou afirmando ser essa uma das decisĂľes que tĂŞm que ser tomada ÂŤmas previamente ao momento em que o mĂŠdico estĂĄ com o doenteÂť. Ă&#x20AC; semelhança do radiologista Cansado carvalho, LuĂs Campos tambĂŠm considera que ÂŤa falta de qualidade sai muito caraÂť: ÂŤsomos o paĂs da Europa com maior taxa ~ Â&#x2019; resistentes; eu sei a variabilidade que existe com a mortalidade por AVCÂť, confirmou, dando apenas dois exemplos para concluir que ÂŤa variabilidade da qualidade ĂŠ atentatĂłria da equidade e do acesso aos cuidados; a diminuição dessa variabilidade ĂŠ uma missĂŁo que vai economizar muito dinheiroÂť. AntĂłnio Vilar, mĂŠdico reumatologista e secretĂĄrio-geral da ANDAR, referiu que, quanto aos custos dos medicamentos, ÂŤĂŠ preciso ĂŠ que as entidades oficiais façam o seu trabalho porque nĂŁo ĂŠ possĂvel que os medicamentos em Portugal sejam mais caros quando fazem parte de um cabaz onde estĂĄ Espanha, ItĂĄlia e GrĂŠcia Â&#x2018; Â&#x2018; Â&#x2020; ~ Â&#x20AC; anos, enquanto que os outros paĂses o fazemÂť. Especificamente sobre a utilização de biolĂłgicos, AntĂłnio Vilar referiu que existem normas para a sua prescrição e que hĂĄ de facto desperdĂcios quando ÂŤnalguns hospitais essa terapĂŞutica ĂŠ dada como primeira alternativaÂť. Sobre o parecer do CNECV, AntĂłnio Vilar fez uma anĂĄlise crĂtica: ÂŤ(â&#x20AC;Ś) O problema ĂŠ que o parecer deixa a porta
completamente aberta para a entrada de um racionamento polĂtico. E ĂŠ em relação a isso que estamos contra. (â&#x20AC;Ś) O que ĂŠ certo ĂŠ que neste momento hĂĄ mĂŠdicos a serem chamados pelos conselhos de administração para serem intimados a alterar a sua prescriçãoÂťâ&#x20AC;Ś Fernando Esteves Franco, ortopedista que assistia em directo do Distrito MĂŠdico do Algarve, tambĂŠm interveio no debate apelidando a discussĂŁo de ÂŤextemporâneaÂť por considerar que existem outras questĂľes prĂŠvias a resolver, nomeadamente ÂŤeliminar desperdĂcios do SNSÂť. ÂŤSe eu tiver 20 doentes a necessitar de prĂłteses da anca e tiver 15 prĂłteses estou simplesmente a racionar; Mas se tiver 20 doentes com idades diferentes, e puser nos mais jovens prĂłteses muito mais caras de cerâmica e nos mais velhos prĂłteses cimentadas, estou a racionalizar. Ou seja, nĂŁo podemos analisar as questĂľes de forma cegaÂť, explicou, reafirmando que ÂŤantes de discutir o dinheiro que hĂĄ, devemos pensar na racionalização dos prĂłprios cuidados de saĂşde e pensar numa verdadeira articulação entre nĂveis de cuidadosÂť e ÂŤem função dessas alteraçþes, ganhar melhor produtividade com menores custosÂť, concluiu. Miguel Oliveira da Silva explicou Ă assistĂŞncia que o pedido de parecer foi anĂłdino e feito em termos simples: ao abrigo da sustentabilidade do SNS foi pedido ao CNECV que se pronunciasse sobre ÂŤos fundamentos ĂŠticos da contenção de custos â&#x20AC;&#x201C; ou da prioridade de custos â&#x20AC;&#x201C; na ĂĄrea dos medicamentos biolĂłgicos, oncolĂłgicos e retroviraisÂť. A
propĂłsito do extremar do debate concordou com LuĂs de Campos e Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x20AC; nĂŁo ter sido colocado no parecer um glossĂĄrio que esclarecesse o âmbito dos termos utilizados. Â&#x20AC; Â&#x2018; Â&#x2039; Â&#x20AC; Â&#x20AC; apelidou ser o ÂŤruidoso silĂŞncio sobre o parecer do CNEDMOMÂť e voltou a frisar que considera que racionamento e racionalização sĂŁo conceitos complementares, que existe racionamento ĂŠtico e Â&#x20AC; Â&#x2018; prescritor, concluindo reforçando a referĂŞncia Ă s declaraçþes w ~ Ă&#x2026; Â&#x2030;~ ~ importante que a OM e os ¢ Â&#x2019; volvam uma polĂtica extensa e pĂşblica de declaração de
w ~ ~ institucionaisÂť. Defendendo que o combate ao racionamento implĂcito nĂŁo se faz transformando-o em racionamento explĂcito, JosĂŠ Manuel Silva relembrou que a variabilidade excessiva ĂŠ obviamente um sinal de menor qualidade e aumenta a despesa mas que ÂŤo caminho jĂĄ estava a ser percorrido em termos de racionalização dos gastos em saĂşde, precisamente com as Normas de Orientação ClĂnica e as respectivas auditorias,
~ Â&#x2039;Â&#x2018; mĂŠdicas, a melhoria da gestĂŁo e o combate ao desperdĂcio, Ă fraude e Ă corrupção, isso sim ĂŠ racionalização (e nĂŁo racionamento que nĂŁo sĂŁo sinĂłnimos)Âť; Medidas que ÂŤirĂŁo reduzir tendencialmente a variabilidade e melhorar a qualidade, o que levarĂĄ naturalmente a uma redução de custosÂť. ÂŤĂ&#x2030; numa ĂŠtica fundamentada no CĂłdigo DeontolĂłgico, e nĂŁo uma ĂŠtica politicamente comprometida, em que se deve basear a nossa prĂĄtica clĂnicaÂť. Sendo certo que Jan/Fev | 2013 | 47
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a sustentabilidade do nosso SNS depende da sustentabilidade do paĂs e que ĂŠ aĂ ÂŤque as energias se devem concentrarÂť, o bastonĂĄrio da OM nĂŁo tem dĂşvidas que a sustentabilidade do SNS ÂŤĂŠ inquestionĂĄvelÂť e que os dados da OCDE atestam esse facto.
O CNECV devia ter sido mais cauteloso na anĂĄlise e mais rigoroso nas conclusĂľes O mĂŠdico JosĂŠ Poças, especialista em Medicina Interna e Doenças Infecciosas, defendeu que o parecer do CNECV deveria ter sido emitido mesmo sem qualquer pedido, sendo que o seu âmbito deveria ter sido muito mais alargado. ÂŤO cerne da questĂŁo ĂŠ qual a pertinĂŞncia de se fazer este parecer sobre trĂŞs patologias? Porque ĂŠ que nĂŁo se fez um parecer sobre a inovação terapĂŞutica?Âť. Uma anĂĄlise mais ampla ÂŤservia quer para a artrite reumatoide quer, por exemplo, para a hepatite CÂť, patologia que Ă&#x2026; ~ Â? ~ Â&#x20AC; do pedido do MinistroÂť. JosĂŠ 48 | Jan/Fev | 2013
Poças relembrou que as soluçþes de sustentabilidade ÂŤtambĂŠm tĂŞm que ter em linha conta que a inovação ĂŠ o principal factor do aumento dos gastos com saĂşde, nĂŁo o envelhecimento da populaçãoÂť e que existe ÂŤum desperdĂcio inerente Ă actividade humanaÂť: ÂŤnĂŁo podemos miri Â&#x20AC; Ă? Â&#x153; Â&#x152; Ă&#x2018; nĂŁo existeÂť. Jorge EspĂrito Santo, especialista em Oncologia MĂŠdica e Medicina Interna, manifestou a sua perplexidade por certas questĂľes estarem na ordem do dia neste preciso momento, quando ÂŤa OM jĂĄ tinha denunciado hĂĄ muito tempo a existĂŞncia de racionamento implĂcito, por exemplo, em Ă&#x2020;Â? Â&#x153; salientou que Portugal tem custos por doente tratado muito baixos, ÂŤcerca de um terço da mĂŠdia da UniĂŁo Europeia e quase 1/5 relativamente aos paĂses que gastam maisÂť. Uma anĂĄlise que leva este especialista a questionar porque razĂŁo essa ĂĄrea foi incluĂda no parecer solicitado pelo Ministro visto
que ÂŤclaramente, os oncologistas portugueses jĂĄ fazem as melhores escolhasÂť. Jorge EspĂrito Santo terminou a sua intervenção expressando profunda preocupação porque ÂŤo modelo proposto dĂĄ o poder de decisĂŁo { ~ Â&#x2020; ~ } Â? { ao poder polĂtico do momento e nĂŁo sei como isso se compagina com uma relação terapĂŞutica de
Â&#x2039; Ă&#x2020;Â? JoĂŁo Gamelas, mĂŠdico especialista em Ortopedia e Medicina Desportiva, regozijou por ter ~ Â&#x20AC;  ~ ~Â&#x153; sobre um tema particularmente pertinente: ÂŤo racionamento ĂŠ um tema que estĂĄ presente na nossa prĂĄtica clĂnica diariamente e que nos obriga a fazer escolhasÂť. O especialista felicitou os intervenientes por se ter reduzido a radicalização da discussĂŁo e por se estar a ÂŤconstruir sobre as vĂĄrias posiçþesÂť. Quanto aos argumentos de um lado e de Â&#x20AC;~ { Â&#x2018; Â? ~ Â&#x20AC; que ÂŤnos dias de hoje todos os combates sĂŁo prioritĂĄrios e tĂŞm que ser simultâneos: contra a fraude e contra o desperdĂcio, seja na saĂşde, na justiça ou em qualquer outra ĂĄreaÂť. Simplesmente porque ÂŤnĂŁo interessa qual ĂŠ a percentagem do PIB: a questĂŁo ĂŠ que jĂĄ nĂŁo temos margem para acomodar desperdĂcios e fraudesÂť, afirmou. Relativamente Ă polĂŠmica provocada pelo parecer do CNECV, JoĂŁo Gamelas tambĂŠm tem uma posição muito firme: ÂŤos pareceres sĂŁo todos importantes para questĂľes em que nĂŁo temos solução e todos devem ser bem recebidosÂť. ÂŤSe temos uma procura excessiva vamos ter que fazer escolhas... Felizmente o debate estĂĄ lançado: ĂŠ importante decidir a quem vamos dar o quĂŞ e quem, como e quanto paga. (â&#x20AC;Ś)
Se numa avĂł de 65 anos ponho uma prĂłtese de 2500 euros e numa avĂł de 85 uma prĂłtese de 100 euros, o que acabei de fazer? Racionei? Racionalizei? Ă&#x2030; boa prĂĄtica? Ă&#x2030; implĂcito? ExplĂcito? HĂĄ critĂŠrios?Âť. Esta Ăşltima questĂŁo ĂŠ de facto a que JoĂŁo Gamelas considera essencial: ÂŤo importante ĂŠ que haja cada vez mais critĂŠrios e que nĂŁo admitamos que de um lado da rua para o outro haja diferenças nas regras que se aplicamÂť. Jaime Teixeira Mendes, cirurgiĂŁo pediatra aposen-tado, explicou considerar que a palavra â&#x20AC;&#x2DC;racionamentoâ&#x20AC;&#x2122; foi infeliz e explicou com alguns exemplos limite nomeadamente o do doente de Cabo Verde que precisava de um transplante hepĂĄtico que se fazia na BĂŠlgica. ÂŤContactĂĄmos o hospital belga e o valor que foi pedido era tĂŁo elevado que quando o comunicĂĄmos Ă assistente social cabo verdiana a resposta que nos foi dada foi â&#x20AC;&#x2DC;se nĂłs tivĂŠssemos esse dinheiro vacinĂĄvamos as crianças todas; ĂŠ evidente que nĂŁo vamos pagar esse transplante hepĂĄticoâ&#x20AC;&#x2122;Âť e concluiu: ÂŤisto ĂŠ racionamentoÂť. Este cirurgiĂŁo defendeu o papel fundamental das ComissĂľes de Ă&#x2030;tica Hospitalar: ÂŤnĂŁo podem ser nem o mĂŠdico nem os polĂticos a tomar estas decisĂľes: (â&#x20AC;Ś) as ComissĂľes de Ă&#x2030;tica Hospitalar tĂŞm a obrigação de, com os mĂŠdicos, decidirem sobre estes casosÂť. Arsisete Saraiva, presidente da ANDAR, demonstrou o seu incĂłmodo com o facto de usarem a artrite reumatĂłide como ÂŤbode expiatĂłrio dos gastosÂť e explicou que a associação jĂĄ se ofereceu vĂĄrias vezes para ir Ă s farmĂĄcias hospitalares
fazer o levantamento de quem Ê que estå a fazer tratamentos biológicos, por especialidade, mas tal proposta nunca foi aceite. TambÊm como presidente do comitÊ executivo do Fórum Saúde referiu que apresentaram vårias soluçþes e uma delas Ê a existência de uma central de compras única, com auditorias sem dia nem mês certo, pois quem não deve não teme. Para acentuar a relevância de tratar bem os doentes como forma de poupar dinheiro, Arsisete Saraiva relembrou o caso da
doente do Hospital de Braga que esperou um ano para um y Â&#x153; Â? Â&#x2020; que ÂŤhĂĄ seis meses que a doente estĂĄ a fazer essa medicação e jĂĄ entrou em remissĂŁo, o que quer dizer que a doente voltou ao trabalhoÂť. ÂŤDiagnĂłstico precoce e doentes bem tratados: quando mais depressa se diagnostica, mais facilmente se trata e mais recursos se irĂŁo pouparÂť. Fernando Gomes, presidente do Conselho Regional do Centro (CRC) da OM, achou que em alguns momentos do debate se ÂŤfugiu a discutir coisas essenciaisÂť. Relativamente Ă
percentagem do PIB que se gasta com saĂşde, sugeriu Ă assistĂŞncia que procurasse na internet a anĂĄlise de Richard Wilkinson, no que se designam por Ted Talks, e que explica de forma clara como as grandes disparidades de rendimentos, ou seja a desigualdade econĂłmica e social, tem efeitos reais nefastos na saĂşde, tempo de vida e mesmo em valores bĂĄsicos
Â&#x2039; Â? ~ Â&#x2020; uma comparação de sistemas de saĂşde, Wilkinson demonstra ÂŤque essas comparaçþes atravĂŠs do PIB nĂŁo traduzem a realidadeÂť. Fernando Gomes explicou que, nessa anĂĄlise, ÂŤo paĂs que aparece com maior desigualdade social ĂŠ os EUA, depois Singapura e em 3Âş lugar PortugalÂť. O presidente do CRC realçou a importância do relatĂłrio do FMI do ponto de vista da anĂĄlise que faz mas nĂŁo teve dĂşvidas em Â&#x20AC; Â&#x2021; ~ de redução de despesas lhe parecem desadequadas e em ĂĄreas que nĂŁo sĂŁo as melhores para fazer cortes. ~  parecer 64, Fernando Gomes saiu do debate devidamente esclarecido: ÂŤnĂŁo tenho dĂşvidas de que o CNECV devia ter sido mais cauteloso na anĂĄlise e mais rigoroso nas conclusĂľesÂť.
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Recusa de medicamentos pode ser crime Segundo a professora catedrĂĄtica de direito penal, Fernanda Palma, em artigo publicado no Correio da ManhĂŁ de dia 20 de Janeiro, a recusa de medicamentos pode consubstanciar um crime e, como tal, originar um procedimento criminal. Paulo Sancho, advogado responsĂĄvel pelo Departamento JurĂdico da OM, considera que as queixas crime a, hipoteticamente, apresentar, neste contexto, devem ocorrer apenas numa ÂŤclara situação de perigo para a vidaÂť e, entre outros factores a ter em conta, quando esse perigo resulte da omissĂŁo do tratamento indicado e desde que os decisores tenham conhecimento das consequĂŞncias da sua decisĂŁo na saĂşde ou para a vida do doente. A recusa de medicamentos pode consubstanciar um crime de homicĂdio ou ofensas Ă integridade fĂsica. Ă&#x2030; essa a opiniĂŁo de Fernanda Palma, professora catedrĂĄtica de direito penal, secundada pelo Departamento JurĂdico da Ordem dos MĂŠdicos. Qualquer um desses crimes pode ser cometido por negligĂŞncia (arts. 137Âş e 148Âş, nÂş 3 do CĂłdigo Penal). Esta situação ĂŠ agravada pela â&#x20AC;&#x2DC;posição de garanteâ&#x20AC;&#x2122; dos mĂŠdicos, conforme referiu Fernanda Palma: ÂŤHaverĂĄ uma omissĂŁo dos que detĂŞm uma â&#x20AC;&#x2DC;posição de garanteâ&#x20AC;&#x2122;, ou seja, estĂŁo obrigados a zelar pela saĂşde dos doentes, que pode ter como consequĂŞncia a morte ou uma ofensa corporal. A omissĂŁo traduzir-se-ĂĄ na nĂŁo aquisição, 50 | Jan/Fev | 2013
nĂŁo disponibilização ou nĂŁo prescrição de medicamentos e podem estar em causa homicĂdios ou crimes contra a integridade fĂsicaÂť, explica. A mesma conclusĂŁo se pode retirar da consulta feita ao advogado Paulo Sancho: ÂŤse a nĂŁo aquisição de medicamentos ou a nĂŁo disponibilização dos mesmos, por parte daqueles que estĂŁo obrigados a fornecĂŞ-los, gerar um perigo concreto para a saĂşde ou vida dos doentes pode haver matĂŠria para participação por crime de ofensa Ă integridade fĂsica eventualmente agravado pelo resultado morte se esta for uma sua consequĂŞnciaÂť. °Â&#x20AC; ~ } Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; ~ de que os mĂŠdicos estĂŁo a agir no cumprimento das ordens
superiores, nomeadamente da tutela, Fernanda Palma foi igualmente peremptĂłria ao referir que ÂŤa Constituição determina que o dever de obediĂŞncia cessa perante ordens que conduzam Ă prĂĄtica de crimesÂť, ou seja, o cumprimento de uma ordem que leve Ă prĂĄtica de um crime nĂŁo relevarĂĄ para efeitos de desculpabilização ou descriminalização do mĂŠdico que potencialmente cometa o acto de recusa de um determinado medicamento. A professora catedrĂĄtica nĂŁo ~ ¢Â&#x2020; Â&#x20AC; Ă&#x2026; a omissĂŁo for dolosa, ou pelo menos, negligente e originar a morte ou uma ofensa, estarĂŁo preenchidos os elementos de um crimeÂť, crime esse que, na opiniĂŁo
do departamento jurĂdico da OM seria, numa primeira anĂĄlise, um crime de ofensa Ă integridade fĂsica grave e, no caso de morte, agravado pelo resultado. Divulgamos em seguida o parecer do Departamento JurĂdico da OM que responde a vĂĄrias perguntas, nomeadamente, a de saber o que fazer quando as administraçþes Â? ~ Â&#x20AC; ~ a medicamentos e se ĂŠ possĂvel fazer queixa Ă Procuradoria em face dessa situação.
Tiragem: 15 4475
ID: 457395 31
PaĂs: Portu gal
20-01-2013
Period.: DiĂĄri a Ă&#x201A;mbito: Inform ação Geral
Parecer do Departamento JurĂdico da OM ÂŤA possibilidade de apresentar uma participação na Procuradoria-Geral da RepĂşblica imputando um determinado crime a uma administração hospitalar ou, genericamente, aos decisores administrativos, por nĂŁo ser disponibilizado o acesso a medicamentos depende do caso concreto e da prova que possa ser produzida sobre a actuação dos ditos decisores e do resultado na saĂşde ou vida dos doentes. Se a nĂŁo aquisição de medicamentos ou a nĂŁo disponibilização dos mesmos por parte daqueles que estĂŁo obrigados a fornecĂŞ-los gerar um perigo concreto para a saĂşde ou vida dos doentes pode haver matĂŠria para participação por crime de ofensa Ă integridade fĂsica eventualmente agravado pelo resultado morte se esta for uma sua consequĂŞncia. Â&#x2013; { { Â&#x20AC; o enquadramento desta factualidade no crime de homicĂdio ou no de ofensa Ă integridade fĂsica grave, consoante a situação, sendo que nos inclinamos para este Ăşltimo que, no caso de morte, seria agravado pelo resultado. Vejamos o que nos diz o tipo de
crime de ofensa Ă integridade g fĂsica grave grave, previsto e punido no artÂş 144Âş do CĂłdigo Penal (CP). Artigo 144.Âş Ofensa Ă integridade fĂsica grave Quem ofender o corpo ou a saĂşde de outra pessoa de forma a: a) PrivĂĄ-lo de importante ĂłrgĂŁo ou $
+ permanentemente; b) Tirar-lhe ou afectar-lhe, de maneira grave, a capacidade de trabalho, as capacidades intelectuais, de procriação ou de fruição sexual, ou a possibilidade de utilizar o corpo, os sentidos ou a linguagem c) Provocar-lhe doença particularmente dolorosa ou permanente,
ou anomalia psĂquica grave ou incurĂĄvel; ou d) Provocar-lhe perigo para a vida; ĂŠ punido com pena de prisĂŁo de dois a dez anos. Em consonância com as anotaçþes da Prof. Doutora Paula Lobato de Faria ao â&#x20AC;&#x153;ComentĂĄrio Conimbricense do CĂłdigo Penalâ&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; 2ÂŞ Edição, pag. 351, na alĂnea d) do artigo supra transcrito: â&#x20AC;&#x153;(â&#x20AC;Ś) contemplam-se situaçþes em que a lesĂŁo da integridade fĂsica (que pode nĂŁo ser grave) gera um perigo para a vida da vĂtima. Coloca-se a questĂŁo de saber se esta alĂnea consagra um crime de perigo concreto ou um Jan/Fev | 2013 | 51
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crime de perigo abstrato, ou seja, se
o preenchimento do tipo que das circunstâncias do caso seja razoĂĄvel deduzir um perigo para a vida da vĂtima (mesmo que em concreto ele nĂŁo tenha existido), ou se se torna
%# concreto (â&#x20AC;Ś). O nosso legislador nĂŁo enumerou as vĂĄrias formas de realização pelas quais a ofensa Ă integridade fĂsica dolosa se torna â&#x20AC;&#x153;perigosaâ&#x20AC;? para a vida (isto ĂŠ, nĂŁo presumiu a perigosidade de certas condutas, o que aproximaria a incriminação dos crimes de perigo abstrato), mas preferiu acentuar a importância da criação do perigo enquanto resultado, que pode surgir de vĂĄrias formas, e o que parece depor a favor 3 %#
' crime de perigo concreto. (â&#x20AC;Ś) Aceitando tratar-se de um crime de perigo concreto, sĂł se deve considerar que existe um perigo para a vida tipicamente relevante quando os sintomas apresentados pela vĂtima,
" < casos similares, forem susceptĂveis de determinar com elevado grau $ $ morte (supĂľe-se, em princĂpio, a perturbação de funçþes orgânicas = ># < possibilidade de um desenlace fatal para se poder falar de perigo para a $
que o perigo efectivo perdure por um curto espaço de tempo. (â&#x20AC;Ś) Por outro lado, e como ĂŠ evidente, nĂŁo se poderĂĄ concretizar o resultado
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morte, jĂĄ que nesse caso estarĂamos perante o crime agravado pelo resultado previsto pelo art. 147Âş.â&#x20AC;? Por outro lado e ainda seguindo as anotaçþes do ComentĂĄrio Conimbricense supra referido (pag. 357), diz-se que o dolo Â&#x2020; ~Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ preenchimento do tipo subjectivo de ilĂcito, exigindo-se no que toca Ă al. d) â&#x20AC;&#x153;o conhecimento das circunstâncias que tornam o comportamento perigoso sob o ponto de vista do bem jurĂdico protegido (neste caso, a vida), nĂŁo se tornando necessĂĄria a vontade da lesĂŁo efectiva do mesmo bem jurĂdicoâ&#x20AC;?. Qualquer dos tipos de crime mencionados â&#x20AC;&#x201C; homicĂdio ou ofensas Ă integridade fĂsica â&#x20AC;&#x201C; podem ser cometidos por negligĂŞncia (arts. 137Âş e 148Âş, nÂş 3 do CP). A participação por cometimento de qualquer destes tipos de crime na situação que nos foi Â&#x20AC; Â&#x201C; Â&#x2020; ~ Â&#x20AC; â&#x20AC;&#x201C; para que tenha probabilidades de ter sucesso - quando se Â&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x153; Â&#x20AC; Â&#x2030; ~ uma clara situação de perigo para a vida, directamente criada por restrição de acesso aos medicamentos e consequente omissĂŁo do tratamento indicado e se possa imputar aos decisores administrativos o conhecimento das circunstâncias em que actuam e das consequĂŞncias que a sua decisĂŁo pode originar para a saĂşde ou para a vida de uma pessoa.
Ou seja, para que se possa apresentar uma participação crime devem ser recolhidos os dados concretos relevantes e necessĂĄrios para que, pelo menos o doente e o mĂŠdico sejam ~ Â? Â&#x2018; ~ conhecimento de quem tomou a decisĂŁo de nĂŁo disponibilizar o(s) medicamento(s), na medida em que nada obsta que a queixa seja dirigida contra incertos. Todavia, jĂĄ serĂĄ necessĂĄrio que existam documentos e/ou testemunhas que demonstrem indiciariamente que foram transmitidos aos decisores os elementos bastantes para que estes tenham a noção do dano que a saĂşde ou a vida do doente poderĂĄ sofrer no caso do medicamento nĂŁo ser disponibilizado. Assim e salvo melhor opiniĂŁo, a actuação da OM neste tipo de situaçþes e para estes efeitos â&#x20AC;&#x201C; apresentação de participação crime â&#x20AC;&#x201C; estĂĄ limitada porquanto precisa que os mĂŠdicos lhe dĂŞem conhecimento explĂcito e minimamente detalhado dos casos. Contudo, uma vez que disponha de tal informação, poderĂĄ participar os factos Ă PGR para que seja desencadeado inquĂŠrito penal e apuradas as responsabilidades criminais que existam.
O Consultor JurĂdico Paulo Sancho AdvogadoÂť
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Carta aberta aos dirigentes polĂticos e autoridades de saĂşde da Europa Foi apresentada no dia 15 de Janeiro a Carta aberta aos dirigentes polĂticos e Ă s autoridades de saĂşde da Europa, documento subscrito pelos presidentes das associaçþes mĂŠdicas de Portugal, Espanha, GrĂŠcia e Irlanda (e vĂĄrias outras personalidades relevantes das respectivas comunidades acadĂŠmicas e mĂŠdicas). A Carta foi apresentada ao longo de uma semana nos quatro paĂses subscritores: Portugal, Espanha, GrĂŠcia e Irlanda. No nosso paĂs, este documento foi apresentado numa conferĂŞncia de imprensa que contou com a presença de JosĂŠ Manuel Silva, bastonĂĄrio da Ordem dos MĂŠdicos e Constantino Sakellarides, presidente da Fundação para a SaĂşde/ SNS. JosĂŠ Manuel Silva, fez um apelo Ă mobilização em defesa do direito Ă saĂşde dos cidadĂŁos europeus e apelou a que essa ĂĄrea seja vista pelos governantes como ÂŤuma verdadeira prioridadeÂť. Constantino Sakellarides, uma das personalidades portuguesas que subscreveu a carta, falou sobre os y ~ y ~ na saĂşde das populaçþes e realçou a sua perplexidade perante a total ausĂŞncia de referĂŞncias a esses mesmos efeitos potenciais no memorando da Troika por considerar que nĂŁo
se pode, de forma alguma, negligenciar o impacto das medidas preconizadas nesse documento na saĂşde dos cidadĂŁos. Uma das ĂĄreas em que o impacto da crise tem sido mais nefasto ĂŠ a saĂşde mental: ÂŤa depressĂŁo tem aumentado nos que ficam no desemprego, nos que se endividam, etc.Âť, referiu, recordando que ÂŤos antigos chamavam Ă depressĂŁo a â&#x20AC;&#x2DC;tristeza malignaâ&#x20AC;&#x2122;Âť. O aumento dos estados depressivos tem como consequĂŞncia ÂŤo aumento da taxa de suicĂdiosÂť o que se tem Â&#x2020; y ~Â&#x20AC; nos paĂses com intervenção econĂłmica. Por outro lado, a crise tem tambĂŠm impacto nos comportamentos fazendo com que ÂŤas pessoas assumam mais facilmente comportamentos de risco como o consumo de ĂĄlcool ou drogasÂť. A falta de recursos Â&#x2020; Â&#x20AC; Ă&#x2026; ~ ~ apenas o que dĂłi, ignorando, por exemplo, a diabetes e a
hipertensĂŁoÂť. Constantino Sakellarides referiu ainda que, enquanto que em todos os paĂses da Europa a taxa de mortalidade de pessoas a partir dos 65 anos, no Inverno, aumentou, em Portugal e Espanha esse aumento ~ Â&#x2020; Â&#x2019; ~ Â&#x2019; bĂŠm entre os 60 e os 64 anos. O presidente da Fundação para a SaĂşde defendeu a necessidade de se efectuarem ÂŤavaliaçþes Ă priori das consequĂŞncias ou efeitos da crise na saĂşde. Em Portugal nĂŁo envelhecemos bemÂť, explicou, ÂŤum portuguĂŞs de 65 anos que tempo espera viver sem qualquer doença? Apenas 5 anos e meio, enquanto que um sueco terĂĄ mais 14 anos e um irlandĂŞs mais dez anos e meioÂť; esta situação aumenta o peso para o nosso SNS mas a questĂŁo que se coloca para Constantino Sakellarides nĂŁo ĂŠ esse acrĂŠscimo de despesas para o SNS mas sim perceber se, perante estes indicadores, ainda nos podemos permitir piorar
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mais. Mas nĂŁo ĂŠ sĂł na terceira idade que se estĂĄ a sentir o peso da crise na saĂşde da população: ÂŤnas crianças hĂĄ repercussĂľes permanentes do stress crĂłnico  Â&#x152; Â&#x20AC; w ~ capacidade de aprendizagemÂť; Ă&#x2030; por essa razĂŁo que este subscritor da Carta aberta aos dirigentes polĂticos e Ă s autoridades de saĂşde da Europa refere ser essencial que as pessoas percebam que
se continuarmos a empobrecer Â&#x20AC; ~ Â&#x153; ~ w Â&#x2030; na aprendizagem das nossas crianças e, consequentemente, Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; yÂ&#x20AC;~Â&#x20AC; Â?  Carta realçou tratar-se de um documento simbĂłlico por ter sido subscrito pelos quatro paĂses mais afectados pela crise e que ÂŤo que se pretende ĂŠ tambĂŠm dar um sinal de que nĂŁo podemos fazer
isto sozinhos: tem que ser mĂŠdico com mĂŠdico, pessoas da cultura, da polĂtica, de todos os sectores da sociedadeÂť naquilo que foi apelidado como um movimento europeu de conciliação nacional, sendo a carta um convite Ă actuação de todos os sectores e entidades. ÂŤSe nĂŁo conseguirmos pĂ´r em cima da mesa as vĂĄrias dimensĂľes do problema, nĂŁo vamos sair da criseÂť, concluiu.
Carta aberta aos dirigentes polĂticos e Ă s autoridades de saĂşde da Europa 1. Ă? ~ Â&#x2020; y ~ Â&#x153;~ ~ { ¢ { y Â? ~ Â&#x20AC; qualquer polĂtica pĂşblica deve ter em conta as suas repercussĂľes no bem-estar individual e das comunidades: - O Tratado Europeu de Maastricht adotado em 1992 determinou que â&#x20AC;&#x153;as exigĂŞncias em matĂŠria de proteção da saĂşde constituem uma componente das demais polĂticas comunitĂĄrias.â&#x20AC;? Â&#x2019; Â&#x160; Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x2014; ~ Â&#x20AC; Â&#x20AC;  ¥Â&#x;§ Â&#x2DC; Â&#x20AC; Â&#x160; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2030; Â&#x20AC;Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; Â&#x153;~ açþes, a UniĂŁo tem em conta as exigĂŞncias relacionadas com a promoção de um nĂvel elevado de emprego, a garantia de uma proteção social adequada, a luta contra a exclusĂŁo social e um nĂvel elevado de educação, formação e proteção da saĂşde humana.â&#x20AC;? - O Livro Branco da ComissĂŁo Europeia, â&#x20AC;&#x153;Juntos para a saĂşde: uma abordagem estratĂŠgica para a UE (2008-2013)â&#x20AC;?, estabeleceu como um dos seus princĂpios fundamentais o da â&#x20AC;&#x153;saĂşde em todas as polĂticasâ&#x20AC;?. - Na ConferĂŞncia ministerial europeia da OMS sobre â&#x20AC;&#x153;Sistemas de saĂşde. SaĂşde e prosperidadeâ&#x20AC;? (2008), todos os seus estados membros adotaram a Carta de Talin onde se estabeleceu que â&#x20AC;&#x153;os Ministros da SaĂşde devem promover a inclusĂŁo de matĂŠrias respeitantes Ă saĂşde em todas as polĂticasâ&#x20AC;Śâ&#x20AC;?. Os princĂpios polĂticos europeu formalmente adotados exigem que todas as polĂticas pĂşblicas tenham em conta o seu impacto na saĂşde e que sejam exploradas e seriamente consideradas as opçþes alternativas que tenham efeitos negativos mĂnimos na saĂşde. Isto nĂŁo estĂĄ a acontecer na Espanha, GrĂŠcia, Irlanda e Portugal. 2. Ă&#x2039; Â&#x20AC; ~ Â&#x153; Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x2020; Â&#x2020; Â&#x20AC; { Â&#x201C; ~ ~ consequĂŞncias sociais e na saĂşde. A atual crise ĂŠ o resultado de um conjunto complexo de fatores: Â&#x2019; Â&#x20AC;Â&#x2019; ~ ½ - Expandiu-se devido a uma fragilidade bem conhecida da arquitetura do Euro; - Tornou-se mais perigosa devido Ă resposta tardia e Ă falta de antecipação dos seus efeitos; - Teve consequĂŞncias mais desastrosas nos paĂses mais vulnerĂĄveis como consequĂŞncia das suas incapacidades imediatas e estruturais. ~ Â&#x20AC; ~ Â&#x153; Â&#x2018; ~  Â&#x20AC;Â&#x153; ~  Â&#x20AC; ~ mas estĂŁo a sofrer o pesado encargo das suas consequĂŞncias. 3. A ComissĂŁo Europeia, o Banco Central Europeu, o Fundo MonetĂĄrio Internacional e os governos nacionais tomaram medidas de importância crĂtica no campo da economia e dos sistemas de proteção social nos vĂĄrios paĂses, nomeadamente nos Ăşltimos dois anos. NĂŁo hĂĄ indicaçþes de que em tais processos de decisĂŁo o pagamento da dĂvida tenha gerado alternativas que incluĂssem avaliaçþes objetivas do seu impacto na saĂşde, conforme exigido pelos princĂpios referidos acima. NĂŁo ĂŠ aceitĂĄvel tal omissĂŁo. 4. A crise econĂłmica e social da dimensĂŁo agora sentida em muitos paĂses europeus tem implicaçþes bem conhecidas na saĂşde: - Baixa da autoestima, aumento da depressĂŁo e suicĂdio; - Suscetibilidade acrescida a doenças transmissĂveis;
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- Aumento de comportamentos de risco tanto em termos de dependĂŞncias como em relação aos fatores de risco de doenças crĂłnicas; - Diminuição de acessos a serviços de saĂşde apropriados; Â&#x2019; % Â&#x2039;Â&#x2DC; ~  Â? ~ ¢ Â? Os serviços pĂşblicos tĂŞm sido privados das verbas necessĂĄrias para desempenhos adequados ao mesmo tempo que aumentam as necessidades em saĂşde na comunidade. Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2030;~ yÂ&#x20AC; y ~ Â?Â&#x20AC;  Â&#x20AC; ¢ ~ ~Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x20AC; bĂĄsicas e ĂŠticas noçþes de dignidade humana. ~ ¢ Â&#x2039;Â&#x2018;  Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; ~ Â&#x2021; Â&#x2020; { longa duração e as baixas taxas de fertilidade â&#x20AC;&#x201C; terĂŁo certamente consequĂŞncias de longo prazo, afetando as geraçþes futuras. 5. Uma das mais notĂĄveis consequĂŞncias de nĂŁo se antecipar o impacto esperado na saĂşde de muitas das decisĂľes ~ y ~ ~ Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; y ~ ~ Â&#x2020; Â&#x201C; e de uma resposta efetiva atempada, aos nĂveis internacional, nacional e local, a estes efeitos adversos. Isto ĂŠ lamentĂĄvel. 6. Os signatĂĄrios desta carta aberta apelam Ă s autoridades de saĂşde e polĂticas, nacionais e internacionais, para que: Â&#x2019; % Â&#x153; Â&#x20AC; ~Â&#x2018; ~ { y ~ Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2039;Â&#x2018; ¢ Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; nacional e europeia; Â&#x2019; Â&#x20AC; Â&#x20AC; { ~ ~ ¢ Â&#x2DC; Â&#x201C; ~ recente, resultem numa rĂĄpida revisĂŁo de tais decisĂľes de modo a urgentemente evitar mais deterioração da saĂşde e dos serviços de saĂşde nas nossas comunidades; Â&#x2019; ~Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x152; Â&#x2021; ~ y ~ ¢ Â? - Mobilizem e orientem para o bem comum o extraordinĂĄrio potencial da inteligĂŞncia, conhecimento e inovação das sociedades dos nossos dias, em vez de enfraquecer as possibilidades dos sistemas de saĂşde evoluĂrem, transformarem { Â? Â? Â&#x20AC; yÂ&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; { ~ Â&#x2019; ~ Â&#x2018; atuais e futuros.
Assinaturas Os presidentes das associaçþes mĂŠdicas GrĂŠcia, Espanha, Irlanda e Portugal e outras personalidades relevantes das comunidades acadĂŠmicas e mĂŠdicas: GrĂŠcia - Dr. Michael Vlastarakos, President, Hellenic Medical Association - Dr. George Patoulis, President, Athens Medical Association - Dr. Nikolas Maroudias, President of Hospital Medical Directors - Dr. Bodossakis-Prodromos R. Merkouris, President, Greek Association of General Practitioners: ELEGEIA - Dr. Andreas Seretis, President of Central Health Council - Mrs Olymbia Chaldaiou â&#x20AC;&#x201C; Bitrou, President, OEKK â&#x20AC;&#x153;Agaliazoâ&#x20AC;? National Association Against Cancer - Professor John Kyriopoulos, Dean, National School of Public Health, Professor of Health Economics - Professor Christos Lionis, Professor of General Practice and Primary Health Care, Faculty of Medicine, Uni-versity of Crete - Professor Aris Sissouras, Prof. Emeritus, Operational Research (Health Policy and Management), University of Patras - Dr. Charalampos Economou, Assistant Professor of Health Policy, Dept. of Sociology, Panteion University Irlanda - Dr Paul McKeown, President of the Irish Medical organisation, Senior Lecturer in Epidemiology and Public Health in the Royal College of Surgeons Ireland and Consultant Physician in Public Health at the Health Protection Surveillance Centre in Dublin Professor Charles Normand, Edward Kennedy Chair of Health Policy and Management, Centre for Health Policy and Management, Trinity College Dublin - Professor Cecily Kelleher, Professor of Epidemiology and Public Health and Head of the School of Public Health, Physiotherapy and Population Science, University College Dublin. - Professor Hannah McGee, Dean of the Faculty of Medicine and Health Sciences, Royal College of Surgeons Ireland - Professor Ivan Perry, Professor of Public Health and Head of the Department of Epidemiology & Public Health, University College Cork - Professor Joe Barry, Chair of Population Health Medicine, Department of Public Health and Primary Care, Trinity College Dublin - Dr. Steve Thomas, Resilience of the Irish Health Systems project, Centre for Health Policy and Management, Trinity College, Dublin Portugal - Professor JosĂŠ Manuel Silva, President of the Portuguese Medical Association - Dr. Maria de BelĂŠm Roseira, Member of Parliament, Ex-Minister of Health - Dr. Paulo Mendo, Ex-Minister of Health - Professor Adalberto Campos Fernandes, Health Policy, National School of Public Health - Professora Ana Escoval, President of the Portuguese Association of Hospitals - Professor Constantino Sakellarides, Prof. Emeritus Health Policy, National School of Public Health - Professor Henrique Barros, Director of Department of Clinical Epidemiology, Predictive Medicine and Public Health, Medical School, University of Porto - Dr. JosĂŠ Aranda da Silva, 1st President of the Portuguese Institute of Pharmacies and Medicines - Maria Augusta Sousa, nurse, Board of Directors, Foundation for Health - NHS - Dr. VĂtor Ramos, family doctor, pioneering team, Portuguese primary health care reform. Espanha - Dr. Juan- JosĂŠ RodrĂguez-SendĂn: General Practitioner and President of the Spanish General Council of Medical Colleges. Professor Dr. JosĂŠ-MarĂa Segovia-de-Arana: Emeritus Professor and Member of the Royal Academy of Medicine. - Professor Dr. Joan RodĂŠsTeixidor: President IDIBAPS of the Clinic Hospital of Barcelona. - Professor Vicente OrtĂşn Rubio: Health Economist and Dean of the Faculty of Economics of the PompeuFabra University in Barcelona - Professor Dr. Alfonso Moreno GonzĂĄlez: Clinical Pharmacologist and President of the Spanish Council of Post-graduate Health Specialization. - Professor Dr. JosĂŠ-Manuel FreireCampo: Head of the Department of International Health at the National School of Public Health in Madrid - Professor Dr. JosĂŠRamĂłn Repullo-Labrador: Head of the Department of Health Planning and Economics at the National School of Public Health in Madrid
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Que Futuro para a estratĂŠgia de segurança nacional? No dia 22 de Novembro a Ordem dos MĂŠdicos recebeu o general Loureiro dos Santos para uma conferĂŞncia sobre o futuro da segurança nacional. Esta conferĂŞncia integra-se num ciclo promovido pelo presidente da OM, JosĂŠ Manuel Silva, com o objectivo de reunir um conjunto de contributos exteriores (de sociĂłlogos, polĂticos e mĂŠdicos, entre outros) que permita enriquecer a visĂŁo da Ordem dos MĂŠdicos na anĂĄlise dos problemas do paĂs que, directa ou indirectamente, inďŹ&#x201A;uenciam e afectam o estado da SaĂşde em Portugal, por forma a apontar novos e melhores caminhos. O general Loureiro dos Santos começou por explicar que ĂŠ normal que, de dez em dez anos, se faça uma anĂĄlise para manutenção da segurança nacional e que a sua intervenção iria ter por base precisamente o documento em cuja elaboração participou e cujo  Â&#x2021; ~ Â&#x2020; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2020; conceito estratĂŠgico do paĂs. ÂŤA segurança nacional nĂŁo ĂŠ apenas uma questĂŁo militarÂť e, no caso de um paĂs com a nossa dimensĂŁo, a principal preocupação ĂŠ ÂŤsobreviver como EstadoÂť. A â&#x20AC;&#x2DC;segurança nacionalâ&#x20AC;&#x2122; prende-se com ÂŤa liberdade de acção que um paĂs tem para defender os seus interessesÂť. Se na GrĂŠcia antiga sĂł se recorria aos estrategas quando estĂĄvamos perante um
w ~ { Ă&#x2026;Â? Â&#x2021; usa-se estratĂŠgias mesmo quando ~ ~ Â&#x20AC; w ~
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apenas do foro econĂłmicoÂť, explicou. No âmbito econĂłmico hĂĄ duas estratĂŠgias essenciais: a acomodação ou a competição. ÂŤTambĂŠm hĂĄ estratĂŠgia quando os paĂses competem pelos mercados ou quando se acomodam porque escolhem a que outros paĂses ou situaçþes se vĂŁo acomodarÂť e nĂŁo ĂŠ despicienda a forma como um Estado escolhe acomodarse a A mas nĂŁo a B. Que activos nacionais temos para incluir na estratĂŠgia de segurança nacional? - ÂŤIdentidade e coesĂŁo nacionalÂť, pois falamos a mesma lĂngua e temos as mesmas grandes referĂŞncias histĂłricas o que se traduz em elementos que devem ser aproveitados para actuar em grupo, por potenciarem a coesĂŁo e a identidade; - ÂŤExistĂŞncia de um regime democrĂĄtico consolidadoÂť;
- ÂŤRiqueza de recursos humanos e o potencial de investigação e desenvolvimentoÂť; Â&#x2019; Ă&#x2026;Â&#x2013; ~ Ă&#x2020; Â&#x2019; Portugal ĂŠ um espaço central do oceano Atlântico o que o torna importante para outras potĂŞncias; ao mesmo tempo somos uma ÂŤvaliosa plataforma continentalÂť; - Temos um ÂŤespaço linguĂstico relevanteÂť; - e uma ÂŤpresença histĂłrica de Portugal em vĂĄrios continentesÂť. O estudo referido pelo general Loureiro dos Santos incluĂa igualmente as vulnerabilidades potenciais do nosso paĂs: - ÂŤEconomia que nĂŁo consegue gerar riquezaÂť; - ÂŤEndividamento externo que limita a nossa liberdade de acçãoÂť, facto que consubstancia, conforme foi sublinhado, uma ÂŤfortĂssima vulnerabilidadeÂť;
- ÂŤExistĂŞncia de enormes desigualdades sociais e pobrezaÂť, o que afecta a coesĂŁo nacional; Â&#x2019; Ă&#x2026;Â&#x2C6; ~ Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; humanosÂť, vulnerabilidade que pode restringir as nossas possibilidades; Â&#x2019; Ă&#x2026;Â&#x2013; ~ Ă&#x2020; - Por ter interesse para outros paĂses, o nosso posicionamento torna-nos vulnerĂĄveis, ainda que, se for bem aproveitado, se torne uma grande vantagem; Â&#x2019; Ă&#x2026; ~ yÂ&#x20AC; ~ sistema de justiçaÂť; - ÂŤExcessiva dependĂŞncia externa em termos de energiaÂť - se houver problemas no norte de Ă frica, conforme explicou o conferencista, Portugal terĂĄ graÂ&#x2020; Â&#x20AC; ~ ½ - ÂŤDependĂŞncia alimentarÂť pois importamos cerca de 70% do que comemos sendo necessĂĄrio e urgente ÂŤreconstruir os sistemas produtivosÂť; - ÂŤTerritĂłrio sujeito a vulnerabilidadesÂť, como catĂĄstrofes naturais, por exemplo. Perante o quadro traçado relativo Ă s mais valias e Ă s ĂĄreas ~ Â&#x2013; ~Â&#x20AC; { Â&#x20AC; dos Santos abordou em seguida os objectivos da nação em termos de segurança nacional: os objectivos permanentes sĂŁo, naturalmente, a independĂŞncia e soberania, a preservação da identidade e da coesĂŁo nacionais, a defesa e valorização da nossa condição marĂtima e a liberdade de acção dos ĂłrgĂŁos de soberania. Mas, para atingir ~  Â&#x2021; ~ Â&#x2020; ~ ~ ĂŠ essencial primeiro alcançar os objectivos conjuncturais: restaurar a credibilidade externa, corrigir as vulnerabilidades, valorizar a condição atlântica (o que implica ter Marinha, bons portos, meios de transporte para conduzir os produtos para o
interior da Europa, etc., caso contrĂĄrio de nada releva o nosso ~ Â&#x2019; tratĂŠgico), preservar uma defesa militar autĂłnoma nesta conjuntura em que ĂŠ necessĂĄrio racionalizar e rentabilizar recursos. No domĂnio da defesa nacional, que ameaças existem aos nossos objectivos? Loureiro dos Santos explicou que as ameaças residem w ~ Â&#x2020; ĂĄreas do mundo (onde existem recursos que podem ser importantes), na proliferação das armas de destruição maciça (o Â&#x20AC; ~ w ~ Â&#x20AC; afectar-nos), a multiplicação de Estados desestruturados que nĂŁo conseguem garantir o bem estar dos seus povos, o terrorismo transnacional, o ciberterrorismo e a cibercriminalidade, a criminalidade transnacional organizada, a pirataria que pĂľe em causa as vias de comunicação marĂtimas, a disputa de recursos naturais escassos (nomeadamente minerais raros que sĂŁo indispensĂĄveis para determinados tipos de tecnologia), desastres naturais, atentados intencionais ao ecossistema, pandemias potencializadas pela globalização, etc. AlĂŠm das ameaças gerais, existem ainda os chamados ÂŤriscos de vizinhançaÂť: resultante da nossa localização, um clima de seca na PenĂnsula IbĂŠrica teria consequĂŞncias graves para Portugal em virtude das alteraçþes dos caudais dos nossos ½ Ă? w ~ Â&#x152; Mediterrâneo afectaria o nosso paĂs, a produção de sucessivas vagas de emigração clandestina do norte de Ă frica para a Europa, possibilidade de, como resultado das revoltas ĂĄrabes, criação de grupos extremistas que se instalem no norte de Jan/Fev | 2013 | 57
actualidade
à frica, efeitos radioactivos de potenciais ataques terroristas às instalaçþes nucleares espanholas, possibilidade de agravamento do
w ~ ~ Â&#x20AC;~ espanholas, aumento das acçþes de pirataria no Golgo da GuinĂŠ e na costa do Norte de Ă frica, riscos tecnolĂłgicos, etc. ÂŤAmeaças para as quais temos que estar preparadosÂť para que nĂŁo sejam impeditivas de atingirmos os objectivos enunciados. ÂŤMas tudo isto se passa num contexto em que os outros actores tambĂŠm tĂŞm os seus objectivos e estratĂŠgias com as quais temos que nos ir conjugandoÂť, explicou o conferencista, referindo que, por exemplo, os EUA estĂŁo a alterar a sua estratĂŠgia ÂŤretirando-se da Â&#x20AC; Ă&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x20AC; { Â? Â&#x20AC;Â&#x2020; w ~ Â&#x2020; Â&#x152; Â? Â&#x2039; { terĂĄ que ser o velho continente a lidar com eles sozinho. Outras questĂľes essenciais para os nossos objectivos nacionais, que foram referidas pelo general Loureiro dos Santos, sĂŁo a relação com os paĂses da CPLP e o papel da aliança atlântica (ÂŤa Nato vai manter-se como uma aliança estrutural para Portugal?Âť) que ~ y ~ wÂ&#x20AC;Â&#x203A; Â&#x2039;Â&#x2018; ~ ~ yÂ&#x20AC;~Â&#x20AC; Â? Foram explicados alguns factores da acção estratĂŠgica nacional que se traduzem da seguinte forma: Â&#x2019;  ~ vulnerabilidades e ameaças (ÂŤpor exemplo: resolver a crise de desenvolvimento, gerir o envelhecimento da população, garantir o abastecimento energĂŠtico e alimentar, etc.Âť) - forte ligação com as questĂľes de soberania (ÂŤcomo ĂŠ que a diplomacia deve agir? Como gerir os sistemas de informação? Que informaçþes nos interessam? Quais os nossos aliados?...Âť) - defesa nacional/defesa militar 58 | Jan/Fev | 2013
(ÂŤuma vez que vĂŁo aumentar os riscos, com a retracção norte americana, a volatilidade do norte de Ă frica, etc. Teremos que fazer face Ă necessidade de reforço nesta ĂĄrea, sem gastar mais dinheiroâ&#x20AC;ŚÂť) - participação na produção da segurança internacional (ÂŤporque as questĂľes de segurança internacional afectam directamente a nossa segurança nacionalÂť; ÂŤĂŠ importante que se empregue as nossas forças militares nesse apoio Ă polĂtica de segurança internacionalÂť).
Loureiro dos Santos defendeu que ĂŠ possĂvel, atravĂŠs de uma restruturação das polĂticas de recrutamento, ÂŤdiminuir os custos das forças armadas Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC;
Ă&#x2020;{ sendo que algumas necessidades poderĂŁo resolver-se por recurso a serviço militar obrigatĂłrio. Uma das reformas que defende como potencial solução seria o recurso a reservistas como se faz nos EUA (ÂŤos reservistas fazem os seus treinos e, quando ĂŠ preciso, sĂŁo chamados e estĂŁo preparados, mas com custos inferioresÂť.
AtribuĂdo pela Ordem dos MĂŠdicos e pela Fundação Merck Sharp & Dohme
Outra forma de reduzir o pessoal que preconizou foi a aquisição ~ ~ Â&#x2030; Â&#x20AC; helicĂłpteros pois deslocam as forças de forma mais rĂĄpida e terĂŁo sempre ÂŤcustos inferiores ao envio de uma coluna por terraÂť. ÂŤA poupança de recursos tambĂŠm se faz com a modernização dos equipamentosÂť, concluiu. Como jĂĄ tinha sido referido pelo conferencista, ÂŤaquilo que nos distingue dos outros deve ser usadoÂť em nosso proveito e salientou a aposta no
conhecimento, a boa utilização e valorização da faixa atlântica e da lĂngua portuguesa. JĂĄ na fase de debate, JosĂŠ Manuel Silva, bastonĂĄrio da OM, tomando como ponto de partida o exemplo da Costa Rica que nĂŁo tem exĂŠrcito, questionou se nĂŁo seria possĂvel Portugal seguir o mesmo caminho e se terĂamos de facto condiçþes para nos defendermos sozinhos. Loureiro dos Santos considerou que a eliminação do exĂŠrcito seria sinĂłnimo de pĂ´r em causa a nossa capacidade de auto determinação e soberania
MĂ&#x2030;DICO
RECOMENDA-SE! A Ordem dos MĂŠdicos e a Fundação Merck Sharp & Dhome criaram o PrĂŠmio Miller Guerra de Carreira MĂŠdica a ďŹ m de galardoar um proďŹ ssional mĂŠdico que se tenha distinguido por uma carreira exemplar dedicada ao serviço dos doentes privilegiando sobretudo a atitude humanista na practica clĂnica, como era apanĂĄgio de Miller Guerra.
A 1ÂŞ edição do prĂŠmio, que serĂĄ entregue em 2013, destina-se a um MĂŠdico com Carreira no âmbito da Medicina Geral e Familiar. As carreiras mĂŠdicas dos candidatos deverĂŁo caracterizar-se por uma dedicação inexcedĂvel aos princĂpios do juramento de HipĂłcrates e por uma capacidade de liderança pelo exemplo de humanitarismo, aliadas a sĂłlidos conhecimentos tĂŠcnicos e cientĂficos. DeverĂŁo ainda distinguir-se pelo impacto positivo que tĂŞm na instituição em que trabalham bem como na sociedade mĂŠdica e na sociedade em geral. O PrĂŠmio destina-se a mĂŠdicos ainda em actividade ou reformados, nĂŁo podendo ser atribuĂdo a tĂtulo pĂłstumo. As propostas de candidatura podem ser apresentadas por Instituiçþes de SaĂşde pĂşblicas ou privadas, entidades civis, grupos de proďŹ ssionais de saĂşde, grupos de doentes e grupos de cidadĂŁos.
mas admitiu que, na verdade, Portugal nĂŁo tem, nem nunca teve, capacidade militar para se defender sozinho e que precisa sempre de um forte aliado. Manuel Mendes Silva, presidente do Conselho Disciplinar do Sul da OM, tambĂŠm presente na conferĂŞncia, referiu ser ÂŤvirtuoso os mĂŠdicos interessarem-se por assuntos de estratĂŠgia porque tambĂŠm eles se dedicam Ă elaboração de estratĂŠgias e interveio na fase de debate questionando se entre as vantagens que possuĂmos em termos estratĂŠgicos nĂŁo deverĂamos contabilizar o clima e o potencial turĂstico, tendo o conferencista concordado e atĂŠ salientado que esses aspectos foram analisados no documento estratĂŠgico em que participou, defendendo como fundamental a ÂŤmarca PortugalÂť e a promoção do seu prestĂgio. Nas conclusĂľes, Loureiro dos Santos referiu ainda que temos uma grande vulnerabilidade no que se refere Ă segurança alimentar Â&#x20AC; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x153; { ~ Â&#x152; interior, pĂľe em causa a coesĂŁo e, consequentemente, a segurança nacional.
O PrĂŠmio Carreira MĂŠdica serĂĄ constituĂdo por um diploma e uma dotação pecuniĂĄria no valor de 50.000,00 â&#x201A;Ź, disponibilizada pela Fundação Merck Sharp & Dohme. O prazo para a apresentação de candidaturas vai atĂŠ 15 de 2013 2013. 30de defevereiro Março de
Para mais informaçþes: www.ordemdosmedicos.pt | Tel: 21 842 71 00
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o
opiniĂŁo
AntĂłnio Gentil Martins
Racionalização? Racionamento? Artigo recebido no dia a seguir ao debate que decorreu na OM sobre o tema em epĂgrafe, cuja reportagem integral se encontra igualmente nesta edição da ROM. Assistimos ontem, louvavelmente, na Ordem dos MĂŠdicos a um debate extremamente ~ ~ { Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2019; mente extremado e radicalizado. Se ĂŠ fundamental que cada um defenda aquilo que pensa certo e exponha as suas posiçþes, isso Â&#x2018; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; agressividade. E tenho de concluir que se lutou mais por palavras do que por conceitos, pois considero que todos pensam o mesmo, mas situando-se em tempos diferentes de um mesmo processo. Foi dito, e bem, que nĂŁo temos de pensar em percentagens do Â&#x2013; " Â&#x20AC; reais disponĂveis. A boa â&#x20AC;&#x2DC;dona de casaâ&#x20AC;&#x2122; sabe verdadeiramente o que pode gastar. E a quem competirĂĄ, senĂŁo aos Governos que, eleitos, se considera representarem o povo de um paĂs, a decisĂŁo Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; Ă&#x20AC; SĂł se pode gastar em função da riqueza que se tem e das opçþes que se fazem. Lembro-me de que, hĂĄ cerca de 30 anos atrĂĄs, nos Estados Unidos, se gastava mais dinheiro em cosmĂŠticos do que em 60 | Jan/Fev | 2013
medicamentos! Mas ao comparar os gastos com medicamentos nĂŁo podemos esquecer que eles sĂŁo de facto, pelo menos teoricamente, iguais em preços, tanto nos paĂses ricos como nos pobres e portanto nestes a % de gastos em relação ao global nĂŁo pode deixar de ser diferente e maior. Fala-se constitucionalmente de um Serviço Nacional de SaĂşde, universal e tendencialmente gratuito, embora se aceitassem sempre taxas moderadoras Agora, o pensamento tem evoluĂdo e jĂĄ se interpreta a gratuitidade apenas no Acto da prescrição. NĂŁo serĂĄ tempo de tornar a Constituição realista, e, mantendo a universalidade, dar verdadeiramente liberdade de escolha Ă s pessoas, jĂĄ que esta liberdade darĂĄ maior satisfação aos doentes e nĂŁo deixarĂĄ de poupar dinheiro, o que todos desejam, cada um pagando para o Sistema proporcionalmente } Â&#x20AC; { seja individual seja colectiva. A liberdade evitarĂĄ duplicaçþes desnecessĂĄrias e uma medicina defensiva.
Basta comparar o que se gasta por pessoa em cada paĂs para perceber que o chavĂŁo demagĂłgico do Estado Social Europeu de que todos falam (sem no entanto ousar caracteriza-lo objectivamente), nĂŁo pode ser igual nesses vĂĄrios paĂses. E jĂĄ nĂŁo falo, nesta ĂŠpoca de globalização, do que se poderĂĄ dar a cada um, quando os gastos per capita, na SaĂşde sĂŁo 4000 dĂłlares (Alemanha), 2000 dĂłlares (Portugal) ou simplesmente 200 (em certos paĂses africanos). Dizer que se darĂĄ o mesmo ĂŠ simplesmente mentir e enganar; e atĂŠ apenas o pensar ĂŠ, hoje em dia, um erro de ignorância indesculpĂĄvel. Assim ĂŠ indispensĂĄvel e sem demagogia Â&#x20AC; { sociedade, o pacote bĂĄsico que serĂĄ possĂvel dar a todos, sem descriminaçþes. A Sociedade Internacional de Oncologia PediĂĄtrica criou um ~ Â&#x153; ~ ~ das quimioterapias â&#x20AC;&#x153;mais econĂłmicasâ&#x20AC;?, a utilizar nos paĂses ditos em desenvolvimento, procurando o melhor, do possĂvel. Ă&#x2030; disso exemplo o caso do linfoma
"Â&#x20AC; # &{ Â&#x20AC; { ciclofosfamida se curam cerca de 40% dos doentes, mas que, com quimioterapias mais caras, ~ Â&#x153;Â&#x2020; { poderia chegar a uma cura de 90%! Toda a gente fala e diz defender os valores, mas nĂŁo ĂŠ costume referir aquilo a que ~ y Ă honra, Ă solidariedade, Ă honestidade, Ă dedicação ao trabalho, ou serĂĄ que estĂŁo apenas a pensar no lucro e na Â&#x20AC; Â&#x152; Ă&#x20AC; Fala-se na defesa da vida e da sua qualidade, rejeitando, e bem, a qualquer tĂtulo, a discriminação entre as pessoas, mas hĂĄ quem aceite o aborto, apesar de
~ ~
Â&#x2020; quando se inicia a vida dos seres humanos (o que jĂĄ HipĂłcrates, no seu clĂĄssico Juramento, claramente repudiava, considerando-o vedado Ă acção dos mĂŠdicos). SerĂĄ que tudo ĂŠ relativo? Pensamos que nĂŁo.  claramente a insustentabilidade do actual SNS. Mas o que serĂĄ, de facto, o que pensam, sabendo que esse mesmo SNS tem jĂĄ uma dĂvida de trĂŞs biliĂľes de euros!, e nĂŁo sĂł em Portugal, mas tambĂŠm em todo o mundo, os custos com a saĂşde sobem mais rĂĄpido do que o desenvolvimento econĂłmico? Foi dito e bem, que sĂł pode haver boa sustentabilidade na SaĂşde se a economia crescer (o que neste momento, infelizmente, todos sabem que nĂŁo acontece, e obriga jĂĄ a fazer escolhas, por vezes bem difĂceis e mesmo dilemĂĄticas). Ă&#x2030; indiscutĂvel que os gastos continuam, e continuarĂŁo, a aumentar (avanços na ciĂŞncia, maior esperança de vida, inovação terapĂŞutica, novas
tecnologias, etc., etc.), e ao eliminar, atĂŠ prioritariamente como se considera ser essencial, os tĂŁo falados desperdĂcios, nada mais se farĂĄ, no longo prazo, senĂŁo adiar as decisĂľes mais difĂceis, como limitaçþes inalienĂĄveis, jĂĄ que serĂĄ pura demagogia alguĂŠm dizer que â&#x20AC;&#x153;se poderĂĄ dar sempre, tudo, a todosâ&#x20AC;?. E nĂŁo podemos desconhecer que, se hĂĄ desperdĂcios corrigĂveis com melhor informação, controlos, auditorias e responsa Â&#x152; Â&#x2039;Â&#x2018; { Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2020; delas nĂŁo deixarĂĄ de ser sempre consequĂŞncia da falibilidade da acção de qualquer ser humano, e de que os mĂŠdicos nĂŁo sĂŁo excepção. Cada paĂs terĂĄ necessariamente que decidir o que darĂĄ para os cuidados mĂŠdicos, numa saĂşde que ĂŠ sem dĂşvida transdisciplinar (pensando sempre nela, nunca como negĂłcio, mas sim como investimento, na qualidade de vida das pessoas, jĂĄ que a mĂĄ qualidade sai cara). E porque nĂŁo se fala noutro pilar ainda mais prioritĂĄrio que os cuidados mĂŠdicos, e que ĂŠ a alimentação, isto jĂĄ sem esquecer a educação e a justiça? AliĂĄs o artigo 25Âş da Declaração Universal dos Direitos do Homem diz que todo o Homem tem direito a um nĂvel de vida Â&#x20AC; ~ Â? Â&#x20AC; } sua famĂlia a saĂşde e o bem estar (nomeadamente alimentação e assistĂŞncia mĂŠdica) mas o precedente artigo 23Âş diz que toda a pessoa tem direito ao trabalho e que ĂŠ atravĂŠs dele que terĂĄ lugar uma existĂŞncia conforme com a dignidade humana. Fala-se na qualidade de vida que se procura obter, recusando e bem a obstinação terapĂŞutica, mas ĂŠ indesculpĂĄvel nĂŁo
reconhecer que, com meios limitados, haverĂĄ sempre que fazer escolhas, nas quais o elemento mais importante ĂŠ sem dĂşvidas a consciĂŞncia dos mĂŠdicos, obviamente condicionada Ă decisĂŁo de um doente correctamente informado. Exemplo paradigmĂĄtico ĂŠ o problema das prĂłteses de anca, com modelos mais duradoiros, mas muito mais caros e Â&#x20AC; Â&#x2019; Â&#x2018; permitirem adquirir apenas das primeiras: qual utilizar num doente jovem, com larga esperança de vida, ou num doente jĂĄ relativamente idoso e com esperança de vida mais curta? A quem se vai dar, quando e o quĂŞ, sĂŁo dilemas que todo o dia assaltam o mĂŠdico, atĂŠ porque a medicina nĂŁo e uma ciĂŞncia exacta, uma das razĂľes bĂĄsicas do valor fundamental da relação do doente com o seu mĂŠdico, maximizada pela liberdade de escolha que sempre defendemos como essencial em qualquer Sistema de SaĂşde. No Lancet Oncology podemos ler um artigo em que se enfatiza o dilema do custo/benefĂcio dos medicamentos na terapĂŞutica das hemopatias malignas, citando o uso do rituximab no linfoma folicular nĂŁo Hodgkin. Estudos terĂŁo mostrado melhor tolerância mas idĂŞntica esperança e qualidade de vida. Â&#x2020; Â&#x2019; Â&#x20AC; ~ Â&#x2019; caz aos tratamentos jĂĄ existentes, a AgĂŞncia Francesa do Medicamento aprovou o seu uso. Mas a pergunta feita ĂŠ simplesmente esta: serĂĄ que o pequeno benefĂcio encontrado Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ { { um custo de 30.000 dĂłlares por ano? SerĂĄ possĂvel? SerĂĄ prioritĂĄrio? NĂŁo serĂĄ melhor Jan/Fev | 2013 | 61
opiniĂŁo
usar essa verba para outros  ~ Ă&#x20AC; Â&#x192; evidente que o problema ĂŠ bem diferente para os novos tratamentos da hepatite C, jĂĄ que Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2020; ~ possibilidades de cura. Qual serĂĄ entĂŁo a opção da sociedade, jĂĄ que ao mĂŠdico competirĂĄ sempre dar o mĂĄximo do que estiver aos seu alcance? A Associação MĂŠdica Mundial { Ă&#x2019;  Â&#x20AC; Â&#x20AC; Declaração de Lisboa, que sempre que a legislação, acção governamental ou qualquer outra entidade, negue aos doentes os seus direitos, os mĂŠdicos devem
DE IAS O L NC CIC ERĂ&#x160; NF 2013 O C
procurar os meios apropriados para assegurar ou restabelecer tais direitos. Mas tambĂŠm na mesma Declaração, a AMM nĂŁo esquece a existĂŞncia de circunstâncias { Â&#x20AC; { Â&#x160; circunstâncias em que deve ser feita escolha entre pacientes para um tratamento especial e limitado, todos os outros pacientes devem estar cientes de que a selecção daquele procedimento foi feita de forma justa e que essa escolha deve ser feita baseada em critĂŠrio mĂŠdico e sem qualquer descriminação. Este ĂŠ hoje em dia um debate
crucial mas que tem de ser encarado construtivamente, com realismo e sem demagogia, tendo em vista o interesse primordial do doente, mas sem menosprezar a justiça social global. E a verdade ĂŠ que sĂł poderĂĄ ser legĂtimo vir a limitar as verbas para a SaĂşde, se se tiver tentado tudo o que for possĂvel para evitar desperdĂcios e despesas inĂşteis. E mesmo nesses casos, terĂĄ sempre que se explicar e Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; y Â&#x152; Â&#x20AC; simplesmente impor. Lisboa, 10 de Janeiro de 2013
NĂşcleo de HistĂłria da Medicina da Ordem dos MĂŠdicos SessĂŁo temĂĄtica A BioĂŠtica e os MĂŠdicos, Ontem e Hoje
Conferência 14 de Maio, terça-feira, 21h
6 de Abril, sĂĄbado, 15h
ÂŤCĂłdigos DeontolĂłgicos - evolução temĂĄticaÂť AmĂŠlia RincĂłn Ferraz ÂŤO renascimento das virtudes mĂŠdicas - o lugar de PellegrinoÂť Jorge Cruz ÂŤBioĂŠtica - nascimento, apogeu e crise de um conceitoÂť Daniel SerrĂŁo Local: Sala Braga â&#x20AC;&#x201C; Secção Regional do Norte
62 | Jan/Fev | 2013
ÂŤAs plantas na histĂłria da dorÂť Figueiredo Lima Local: Biblioteca histĂłrica da OM, em Lisboa.
Mais informaçþes e inscriçþes: D.ª Manuela Oliveira - manuela.oliveira@omcne.pt
+Ă&#x2022;iĂ&#x20AC;iÂ&#x201C;Ă&#x160; ÂľĂ&#x2022;iĂ&#x160; >
*, -
-* <
>V>LiÂś Responda em: https://www.facebook.com/QueremQueAImprensaMedicaEspecializadaAcabe NotĂcias publicadas previamente em www.univadis.pt
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7
o
opiniĂŁo
Jorge F. Seabra Membro da ComissĂŁo Nacional da Ordem dos MĂŠdicos para o SNS
SNS â&#x20AC;&#x201C; nĂŁo hĂĄ dinheiro? - Uma ideolĂłgica aldrabice â&#x20AC;&#x153; Se tu roubas um banco ĂŠs preso. Se um banco te rouba, nĂŁo te resgatam a ti, resgatam o banco.â&#x20AC;? â&#x20AC;&#x201C; Brad Pitt* Â&#x2020; Â&#x20AC; { governantes, comentadores e os suspeitos do costume, o SNS e o Estado Social contribuem Â&#x2020; ~ e a dĂvida pĂşblica? SerĂĄ que os portugueses tĂŞm, para continuarem a usufruir do conjunto de direitos designado como â&#x20AC;&#x153;Estado Socialâ&#x20AC;?, de pagar mais impostos nĂŁo estando disponĂveis para o fazer? SerĂĄ necessĂĄria uma â&#x20AC;&#x153;refundaçãoâ&#x20AC;? (liquidação) do Estado (Social)? Raquel Varela, autora do estudo â&#x20AC;&#x153;Quem paga o Estado Social em Portugal?â&#x20AC;? (Bertrand 2012), acha Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; Â&#x2018; Â? dinheiro para o sustentar e que ĂŠ forçoso cortar benefĂcios, ĂŠ falsa. â&#x20AC;&#x153;CalculĂĄmos quanto, quem trabalha e vive do salĂĄrio, entrega aos Estado em contribuiçþes e impostos (directos e indirectos) e quanto recebe em serviços pĂşblicos prestados (saĂşde, educação, segurança social, transportes, desporto, espaços pĂşblicos, cultura). ChegĂĄmos Ă # 3 <
@ nĂŁo podem ser imputados aos gastos sociais e, na maioria dos anos, hĂĄ mesmo um excedente.â&#x20AC;?.** E quando a autora analisa 64 | Jan/Fev | 2013
aspectos da intervenção dos Ăşltimos governos no SNS, Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â? Â&#x20AC; ~ Â&#x2019; ~  { y â&#x20AC;&#x153;Uma das conclusĂľes que apresentamos ĂŠ a de que, desde que se iniciaram os hospitais-empresa, o custo com os salĂĄrios baixou (de 2,4% do PIB em 1995 para 0,9% em 2010), a contratação de serviços externos aumentou (no mesmo perĂodo passa de 2% do PIB para mais KR= do serviço prestado aumentou (mais do que o aumento dos gastos totais em 0,5% do PIB). Ou seja, a produtividade caĂu, com um custo acrescido para os contribuintes.â&#x20AC;? De facto, desde os primordios dos anos noventa, a â&#x20AC;&#x153;governamentalizaçãoâ&#x20AC;?, ou melhor, a progressiva partidarização dos Hospitais e dos serviços de SaĂşde, feita a pretexto de os tornar mais Â&#x152; { Â&#x152; Â&#x20AC;Â&#x2019; tivos para benefĂcio do doente
(passado a â&#x20AC;&#x153;utenteâ&#x20AC;? e, depois, a â&#x20AC;&#x153;clienteâ&#x20AC;?), corroeu as formas democrĂĄticas de intervenção dos mĂŠdicos e de outros tĂŠcnicos e trabalhadores da SaĂşde nos orgĂŁos de gestĂŁo clĂnica e administrativa das unidades de
SaĂşde, substituindo-as por uma  Â&#x160; Â&#x2014;{ â&#x20AC;&#x153;empresarialâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;responsĂĄvelâ&#x20AC;?, anunciada com a plĂŠtora de boas intençþes de que o diabo e seus associados andam sempre cheios. Em consequĂŞncia disso, as
Â? Â&#x153; ~ ~ Â&#x2020; passaram a ser escolhidas
nas reuniĂľes das comissĂľes distritais ou concelhias dos partidos no governo, e o pudor inicial depressa se desvaneceu, comentando-se abertamente nos corredores e nas mesas dos cafĂŠs as lutas de galos da nomeação dos boys and girls para os poleiros disponĂveis. Rapidamente, o â&#x20AC;&#x153;jobs for the boysâ&#x20AC;? estabeleceuse como prĂĄtica normal da estruturação das
Â? ¢ { se, paradoxalmente, a prĂłpria perversĂŁo das virginais intençþes inicialmente anunciadas, constituĂsse um ritual inerente Ă modernidade do sistema. Com a implementação ~ wÂ&#x20AC;Â&#x203A; Â&#x2019; cias e a passagem das nomeaçþes para o interior dos partidos do governo - onde os cargos sĂŁo, quase sempre, atribuĂdos co Â&#x2019; dade ao aparelho, - a esperança de daĂ resultar bom senso, rigor e competĂŞncia, passou a sustentar-se na vaga hipĂłtese de, por feliz acaso, o resultado desses â&#x20AC;&#x153;negĂłciosâ&#x20AC;? coincidirem na nomeação de pessoas capazes de gerir os delicados equilĂbrios das unidades de SaĂşde. Contudo, mesmo essas poucas excepçþes, - que se foram tornando mais raras com o aprofundamento do processo - acabaram, em regra, por  ~ ~ Â&#x2039; que possuĂam, com a aceitação subserviente de orientaçþes Â&#x2020; ~ w ~Â&#x20AC; ~ com os interesses dos doentes
logotipos, acessorias de imagem e de imprensa, consultores de tudo e de coisa nenhuma, controladores da qualidade das esquinas, â&#x20AC;&#x153;outsourcingsâ&#x20AC;? e contrataçþes dispendiosas, fazendo inchar brutalmente os custos (que diziam querer cortar) e os empregos â&#x20AC;&#x153;for the boysâ&#x20AC;?. Tudo na busca do Santo Graal de uma â&#x20AC;&#x153;produçãoâ&#x20AC;? americanizada, cheia de nĂşmeros e estatĂsticas marteladas, com consultas desnecessĂĄrias ou desmultiplicadas num ping-pong de altas e regressos e cirurgias aumentadas pela contabilidade das incisĂľes, contruindo um cenĂĄrio Â&#x160; Â&#x203A; Â&#x2014; Â&#x20AC; { o apregoado â&#x20AC;&#x153;rigorâ&#x20AC;? e a revolucionĂĄria descoberta de que a atenção deve ser centrada no doente (utente, cliente), passa-ram a constituir as ideias fĂŠtiche do discurso provinciano e naif com que passaram a bombardear tudo e todos. E enquanto as reuniĂľes da administração com os responsĂĄveis dos Serviços centravam toda a sua atenção na redutora anĂĄlise do nĂşmero de consultas e operaçþes â&#x20AC;&#x153;produzidasâ&#x20AC;?, sem Viver acima das possibilidades... qualquer caracterização da sua extensĂŁo ou Â&#x20AC; ~ { Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ complexidade - recusando dispela â&#x20AC;&#x153;modernidadeâ&#x20AC;? e pelos tinguir a ressecção de uma â&#x20AC;&#x153;novos paradigmasâ&#x20AC;?, afastando, unha, de uma longa e difĂcil cada vez mais, a gestĂŁo do seu intervenção ao fĂgado -, o que papel primordial de apoio Ă passou a ser implementado foi actividade clĂnica, desviando precisamente o contrĂĄrio do ~ ~ Â&#x2020; Â? { Â&#x203A; ~ para um administrativismo ~ { }  ~ Â&#x2039;Â&#x2018; estĂŠril e opressivo, com de um â&#x20AC;&#x153;lucroâ&#x20AC;? virtual, mesmo mudanças de nomes e de esse conseguido com a aplicação e do SNS, facilmente trocados pelo sonho de uma de ascenção a instâncias mais altas do poder. O processo de partidarização e â&#x20AC;&#x153;empresarializaçãoâ&#x20AC;? da SaĂşde, abriu as portas a uma mirĂade de actividades parasitĂĄrias ou de
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opiniĂŁo
aldrabada de regras ministeriais feitas com o objectivo Ăşltimo de inculcar, nos serviços pĂşblicos, os piores vĂcios da lĂłgica â&#x20AC;&#x153;do mercadoâ&#x20AC;?. â&#x20AC;&#x153;O melhor que temos no Serviço Nacional de SaĂşde sĂŁo os
W # os administradores nomeados pelos partidos polĂticos.â&#x20AC;?. Assim começa o artigo, publicado no jornal â&#x20AC;&#x153;PĂşblicoâ&#x20AC;?, de Paulo Moreira, director do International Journal of Heathcare Management, de Londres. Mais Ă frente, o autor, salienta: â&#x20AC;&#x153;... o futuro do SNS e do sistema de saĂşde como fonte de geração de riqueza e bem-estar terĂĄ que promover a liderança das
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da acção subversiva da måquina administrativa. A regulação pro
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' forma de regulação que estå livre 3 nomeação partidåria, e que entende a realidade dos cuidados de saúde, as necessidades das populaçþes e Ê merecedora de elevada credibilidade. Y " %#
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%# %# comum, ĂŠ a Ăşnica via para combater
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dos seus cĂłdigos deontolĂłgicos,
$ + Z de uma mĂĄquina administrativa incompetente e, por vezes, limitada por processos de corrupção e de fraude.â&#x20AC;?.*** Basta ler todo o texto para se perceber que Paulo Moreira estĂĄ longe de ser um crĂtico radical da polĂtica desestruturante e Â&#x2020; ~ Â&#x152; Â&#x20AC; ~ w o SNS e o National Health Service inglĂŞs. O autor critica apenas erros de gestĂŁo, que considera gravosos e grosseiros, sem, voluntaria ou involutariamente, levantar a questĂŁo da estratĂŠgia que os implementa e estimula. Contudo, o problema da gestĂŁo 66 | Jan/Fev | 2013
~ ~ pouco a ver com a existĂŞncia ou nĂŁo de bons administradores (que os hĂĄ) ou de haver dinheiro que chegue. O que condiciona tudo ĂŠ a orientação polĂtica a dar Ă s administraçþes, levandoas a trabalharem a favor do interesse pĂşblico ou usando-as como mediadoras da degradação progressiva do SNS, transferindo ~ ~ os grandes privados. A questĂŁo nuclear, ĂŠ a de gastar dinheiro no desenvolvimento do SNS ou investi-lo em aplicaçþes duvidosas e pouco consensuais â&#x20AC;&#x201C; tapar os â&#x20AC;&#x153;buracosâ&#x20AC;? dos bancos, isençþes } Gestoras de Participaçþes Sociais (SGPS), submarinos desnecessĂĄrios com contra-partidas
{ Â&#x20AC; Â&#x152; F-16 encaixotados, SIRESP de
Â&#x20AC; ~ { y Â&#x2020; ÂłÂ&#x2019; Â? Â&#x201E; { Â&#x20AC;~ Â&#x2019; estradas excessivas, estĂĄdios abandonados e vazios, subsĂdios Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ yÂ&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; interesse, rendas feudais dadas Ă EDP, etc. â&#x20AC;&#x153;A dĂvida cresce porque os trabalhadores pagam cada vez mais para o Estado Social e esse valor ĂŠ desviado das funçþes sociais do Estado para o pagamento de rendas privadas, entre elas os casos Ăłbvios das parcerias pĂşblico-privadas, do BPN, das contrataçþes externas nos hospitais-empresa.â&#x20AC;?, conclui Raquel Varela. Na realidade, a despesa de Portugal em benefĂcios sociais baixou de 33,1% do PIB em 2011, para 32,1% em 2012,
~ Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; ~ abaixo da mĂŠdia europeia que, pelo contrĂĄrio, subiu (36,5% em 2011; 36,8% em 2012). Para alĂŠm disso, um governo que antecipa o pagamento de cerca de 4.000 milhĂľes de euros
da dĂvida que a CGD assumiu para â&#x20AC;&#x153;salvarâ&#x20AC;? os accionistas das â&#x20AC;&#x153;imparidadesâ&#x20AC;? do BPN (vendido por 1% desse valor), inscrevendo essa amortização num Orçamento de Estado (2013) que corta no SNS e em salĂĄrios e subsĂdios de todos os fucionĂĄrios pĂşblicos (poupando um valor que pouco ultrapassa metade do que vai gastar com o banco), nĂŁo tem qualquer credibilidade moral para pregar a insustentabilidade do serviço pĂşblico de SaĂşde e do Estado Social. Dizer aos portugueses que terĂŁo de pagar mais impostos ou abdicar de serviços atĂŠ aqui prestados (ou pagĂĄ-los a privados) ĂŠ, pois, uma descarada aldrabice de quem, esmagando as famĂlias portuguesas com uma imparĂĄvel escalada de cortes salariais e impostos, utiliza sem vergonha o dinheiro dos contribuintes para proteger os interesses predadores de uma pequena elite que, de hĂĄ muito, mantĂŠm sequestrado o poder do Estado. Ă&#x2030; isso que ĂŠ insustentĂĄvel. Ă&#x2030; isso que tem de acabar.
Ă&#x201D; " Â&#x2013; & Â ~ Â&#x2020; ~ ~ y ~ por Francisco Ferreira para o semanĂĄrio â&#x20AC;&#x153;Expressoâ&#x20AC;? (Revista) de 24 de Nov. 2012. ** Raquel Varela - â&#x20AC;&#x153;O Estado ĂŠ totalmente sustentado por quem vive do seu salĂĄrioâ&#x20AC;?, jornal â&#x20AC;&#x153;PĂşblicoâ&#x20AC;?, 22 de Nov. 2012. *** Paulo Moreira â&#x20AC;&#x201C; â&#x20AC;&#x153;Estado na SaĂşdeâ&#x20AC;?, jornal â&#x20AC;&#x153;PĂşblicoâ&#x20AC;? 25 de Nov. 2012
opiniĂŁo
Jaime Mendes CirurgiĂŁo pediatra aposentado
A revisĂŁo dos estatutos da Ordem dos MĂŠdicos (revisitada) Uma revisĂŁo de Estatutos ĂŠ um processo dinâmico que deve ser discutido em todas as secçþes distritais, com a participação activa do maior nĂşmero de mĂŠdicos possĂvel, com o objectivo de melhorar a sua redacção ďŹ nal e nĂŁo sair sĂł da mente de meia dĂşzia de iluminados. A Lei nÂş 2/2013, publicada recentemente, estabelece o regime jurĂdico de criação, organização e funcionamento das associaçþes { ~ Â&#x2020; 30 dias apĂłs a sua publicação. Na Revista da Ordem dos MĂŠdicos, nas pĂĄginas 66 e 67 do ano 28, nÂş 130/2012, escrevi um artigo de opiniĂŁo sobre a revisĂŁo dos Estatutos, em que dava conta do trabalho realizado pela ComissĂŁo de RevisĂŁo de Estatutos, nomeada pelo Exmo. Sr. BastonĂĄrio. A ComissĂŁo, que foi nomeada em Junho de 2011, foi constituĂda por 15 elementos e reuniu semanalmente durante seis meses, consumindo mais de mil horas de trabalho Ă maioria dos seus membros. Terminou a sua tarefa em Janeiro de 2012. As decisĂľes foram sempre por consenso de todos os membros nunca tendo sido necessĂĄrio recorrer a uma votação, o que mostra uma unanimidade nas ideias mestras do futuro Estatuto, que sĂŁo a democraticidade e transparĂŞncia, com separação dos poderes executivo, disciplinar e Â?
A nossa proposta de revisĂŁo de Estatutos, que designamos por Proposta A, visto nĂŁo termos conhecimento, atĂŠ Ă data, de outra, foi entregue ao Exmo. Senhor BastonĂĄrio em Fevereiro de 2012. Nesta data, pedimos uma apreciação pelo gabinete jurĂdico da Ordem que nunca nos foi dada, desconhecendo se existe alguma. JĂĄ passou quase um ano! A Lei agora publicada difere muito pouco da anterior, 6/2008, que serviu de base ao nosso trabalho. Os membros da comissĂŁo estavam e estĂŁo disponĂveis para uma ampla discussĂŁo com todos os sĂłcios e organismos da Ordem. Melhor que os subscritores para tirarem dĂşvidas de um texto tĂŁo inĂłspito como uns Estatutos! No artigo publicado em Maio de 2012, na Revista da Ordem, disse: â&#x20AC;&#x153;Uma revisĂŁo de Estatutos ĂŠ um processo dinâmico que deve ser discutido em todas as secçþes distritais, com a participação activa do maior nĂşmero de mĂŠdicos possĂvel, com o objectivo Â? Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018;
e nĂŁo sair sĂł da mente de meia dĂşzia de iluminadosâ&#x20AC;?. Reitero o que escrevi. Todos os membros da comissĂŁo ~  Â? ~ projecto, conscientes que os actuais Estatutos, obsoletos e antidemocrĂĄticos, nĂŁo servem. Muita gente pensou que seria impossĂvel ter pronta uma revisĂŁo de Estatutos neste mandato, mas enganou-se! De que estamos Ă espera para iniciar a divulgação e discussĂŁo da - ou das - proposta de revisĂŁo dos Estatutos existentes? O atirar para o fundo de uma gaveta todo um trabalho voluntĂĄrio realizado por sĂłcios da Ordem ĂŠ um exemplo de desrespeito pela sua acção cĂvica a que o Conselho Nacional Executivo nĂŁo pode ser alheio.
NOTA: Para quem tiver interesse em conhecer a Proposta A, da revisĂŁo de Estatutos, e de ler o artigo publicado na Revista da Ordem, Ano 28, nÂş130/2012, pode solicitar a jaime.t.mendes@gmail.com
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opiniĂŁo
M. M. Camilo Sequeira Chefe de Serviço de Medicina Interna
A mentira do â&#x20AC;&#x153;dever de empobrecerâ&#x20AC;? O empobrecer como dever cĂvico ĂŠ um valor que nos estĂĄ a ser imposto de forma cuidadosamente (ardilosamente?) estruturada para que integre sem ser questionado o nosso patrimĂłnio psicolĂłgico. O objectivo parece ser o ďŹ carmos ricos num futuro incertoâ&#x20AC;Ś Trata-se de uma medida polĂtica que tem subjacente todo um edifĂcio ideolĂłgico que acredita que quanto maior for a separação entre â&#x20AC;&#x153;quem temâ&#x20AC;? e â&#x20AC;&#x153;quem nĂŁo temâ&#x20AC;? melhor serĂĄ o mundo. Porque sendo poucos os que tĂŞm serĂŁo muitos os que, por nĂŁo terem, se ocuparĂŁo digladiandodigladiando
se por migalhas que, iludidos quanto ao seu valor individual, permitirĂŁo criar mais valor para os outros, poucos, que tĂŞm. Se a saĂşde, e apenas como exemplo, ĂŠ um mercado de negĂłcio interessante quantos mais quiserem saĂşde e tiverem de a pagar maior serĂĄ o lucro do negociador. E naturalmente que quem nĂŁo tiver como a pagar nĂŁo pode aspirar a ter saĂşde. Ă&#x2030; uma lĂłgica clara, precisa e inquestionĂĄvel. Se a saĂşde ĂŠ cara nĂŁo pode ser direito de todos. Esta verdade que hoje nos querem impor ĂŠ absolutamente falsa. DirĂŁo alguns que este comentĂĄrio nĂŁo ĂŠ de economista. No entanto lembro-lhes que Amartya Sen, economista nobelisado, quando estudou as fomes de Ă frica e a falta de solidariedade dos ricos em relação Ă s mesmas se interrogou sobre â&#x20AC;&#x153;como ĂŠ que estes ricos nĂŁo percebem que ajudar os carenciados {
Amartya Sen
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~ { Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2019; vamente o nĂşmero de consumidores e, por isso, os seus prĂłprios lucros?â&#x20AC;?. Sendo necessĂĄrio, apenas, dar tempo ao tempo e nĂŁo desejar o lucro para um tempo imediatamente prĂłximo. Claro que este economista fala, pelo menos neste estudo, de investimento com responsabilidade social, com cunho humanista. Mas de facto o meu comentĂĄrio ĂŠ feito como cidadĂŁo comum que pensa. E que por isso olha para o mundo que temos hoje, quer em termos de bem-estar social em termos abrangentes quer na vivĂŞncia do programa de saĂşde colectivo que conseguimos construir, e percebe que este ĂŠ o resultado de uma polĂtica em que investimos como necessitados e onde os ricos investiram como potenciais Â? Â&#x2020; ~ Â&#x2019; ceiras. Entre outras. Porque com pelo menos igual importância sĂŁo as vantagens da wÂ&#x20AC;Â&#x203A; Â? Podemos com um razoĂĄvel
Â&#x20AC; ~ Â&#x152; Â&#x20AC; programa de desenvolvimento dos paĂses do sul da Europa foi considerado como viĂĄvel (pelos investidores) por se ter reconhecido que, por nĂŁo sermos zona de grandes fomes colectivas, ĂŠramos potenciais geradores de lucro em tempo considerado como Ăştil. Quer por Â&#x2020; ~ quer por perdermos a nossa autonomia. O que, para eles, o devia ser sem alternativa. Porque a dĂvida se foi acentuando com o investidor (mas de quem ĂŠ o dinheiro dele?) a nĂŁo se preocupar com isso mantendo sempre o apoio Ă sua persistĂŞncia e ao seu agravamento. AtĂŠ ao tempo em que decidiram por um lado que deverĂamos passar a ser tratados como os pobres de Ă frica e por outro que devĂamos ser auxiliados a atingir esse estatuto atravĂŠs de Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; ~ destinado apenas ao pagamento dos juros da tĂŁo promovida, tĂŁo desejada, tĂŁo bem preparada (por eles, quem duvida?) dĂvida. (Ser pobre nĂŁo ĂŠ um dever) Ou seja, percebemos agora que estes emprĂŠstimos (mas de quem ĂŠ o dinheiro emprestado?) nĂŁo sĂł nĂŁo se destinavam a criar e manter um estatuto de ~  que os recebiam como ainda, percebemos agora repito, nos confrontam abruptamente com a circunstância perversa de esse apoio ter sido dado com o objectivo exclusivo de gerar um acrĂŠscimo no rendimento dos investidores. As consequĂŞncias desta forma de existir sobre o sentimento de quem julga ter um direito e se passa a confrontar, de um dia para o outro, com a
perda do mesmo (que com toda a legitimidade associava a crescimento social em conjunto e que tinha como adquirido por ser progresso) deixam este investidor indiferente. Ele tem. Porque haviam outros de tambĂŠm ter? E atĂŠ ĂŠ capaz de ter a desfaçatez ~ { desenvolvimentista, promotor de felicidade e bem-estar, gerador de riqueza. Porque, diz ele e dizem os seus agentes, faz â&#x20AC;&#x153;girarâ&#x20AC;? o dinheiro. Como se porventura a eventual (eventual, repito) mĂĄ utilização do dinheiro que foi emprestado fosse resultado exclusivo da acção do utilizador. Como se o dono do dinheiro pudesse ser indiferente Ă sua aplicação por estar apenas interessado em, num tempo determinado, ir buscar o lucro que esse falso investimento lhe iria dar. SerĂĄ que estou a ser perverso? Ou serĂĄ que a perversidade ĂŠ o prĂłprio deste tipo de investidor? (NinguĂŠm me diz de quem ĂŠ o dinheiro que ele empresta. Ou deverĂĄ dizer-se â&#x20AC;&#x153;que ele
empestaâ&#x20AC;??). Neste momento preciso, a conclusĂŁo do cidadĂŁo comum que sou, em relação a este tipo de experiĂŞncia social que parte da Europa estĂĄ a viver, ĂŠ que, no mundo actual, a solidariedade nĂŁo faz parte dos modelos de gestĂŁo da â&#x20AC;&#x153;coisa pĂşblicaâ&#x20AC;? (e nĂŁo vale a pena dizer que sempre foi assim porque nĂłs ainda acreditamos que progredir si ~ Â&#x2020; Â&#x2122; melhor). Claro que esta conclusĂŁo nos faz compreender, com tristeza, o porquĂŞ da continuada exclusĂŁo de tanto mundo (a misĂŠria de muitas Ă frica, Ă sia, AmĂŠrica) do conceito de progresso em que a sociedade europeia e de tradição cultural europeia se tem construĂdo. Mas faz mais: faz recear que esta exclusĂŁo se torne mais acentuada com integração nela de paĂses cujas comunidades humanas sejam, quiçå, simplesmente latinas. Ou talvez porque, por terem um grande nĂşmero de imigrantes de ĂĄreas onde serse miserĂĄvel ĂŠ o estado natural, Jan/Fev | 2013 | 69
opiniĂŁo
a aceitarĂŁo passivamente. Estes deslocados atĂŠ poderĂŁo ajudar a comunidade do paĂs de acolhimento a construir essa passividade e a integrarse naturalmente no mundo da misĂŠria. Para eles nada haveria de invulgar porque bem sabemos que mudar de terra nĂŁo tem que ser sinĂłnimo de mudar de condição social. - TambĂŠm esta interpretação ĂŠ perversa. Mas, infelizmente, jĂĄ pareceu mais improvĂĄvel.
 Â&#x152;  ou mal. O que interessa ĂŠ o que conseguimos fazer e que isso ĂŠ exemplar). Mas no entanto, na saĂşde, o mercado privado estĂĄ aparentemente prĂłspero o que (ignorando a parte do dinheiro pĂşblico que o mantĂŠm) demonstra que hĂĄ um espaço de negĂłcio ~ Â&#x20AC; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ investimento. EntĂŁo porque nĂŁo se aplica o mesmo raciocĂnio ao serviço
ser a â&#x20AC;&#x153;bengalaâ&#x20AC;? do privado a que o cidadĂŁo tem de recorrer quando â&#x20AC;&#x153;deixou de poder pagar ou de ter alguĂŠm a pagar por eleâ&#x20AC;?? Parece-me Ăłbvio que se o serviço pĂşblico pode ser essa â&#x20AC;&#x153;bengalaâ&#x20AC;? entĂŁo ĂŠ porque ainda tem espaço de competĂŞncia e de solidariedade que nĂŁo existe (nĂŁo pode existir?) no mundo do lucro como objectivo funcional. E digamos bem alto que sĂŁo estas competĂŞncia e solidariedade que (ainda?) associamos a progresso,
Porque assistimos a um continuado destruir dos benefĂcios sociais, como por exemplo a saĂşde que inventĂĄmos, com o pretexto de nĂŁo ser possĂvel manter o seu custo (e nĂŁo vem
pĂşblico? Mas principalmente qual ĂŠ a vantagem da sua destruição? Ainda mais principalmente: porque serĂĄ que o serviço pĂşblico, o tal que nĂŁo Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; { Â&#x2020;
democracia, civilidade, reconhecimento do outro como outro igual a nĂłs mesmos (algo parecido com isto jĂĄ foi escrito hĂĄ 5 sĂŠculos por Montaigne. SerĂĄ que estamos a recuar assim tanto?)
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(Ser pobre nĂŁo ĂŠ uma obrigação) Todos nĂłs, sem qualquer excepção, estamos obrigados a interrogarmo-nos sobre se ĂŠ progressivo um mundo do qual se pretende excluir a solidariedade, a partilha, a entreajuda. Um mundo no qual se pretende impor a lei do mais forte (leia-se â&#x20AC;&#x153;do mais ricoâ&#x20AC;?), o princĂpio da individualidade egoĂsta que olha o seu interesse como motor do existir. Contra todos os projectos de crescimento conjunto que ofereçam ao maior nĂşmero de pessoas as vantagens do estar-se vivo. E pretender que quem procede deste modo estĂĄ a defender o possĂvel da democracia e o bom da sociedade que conseguimos atingir ĂŠ uma mentira. Porque o empobrecimento ĂŠ uma inexorĂĄvel e cada vez maior aproximação, integração, nos que nada tĂŞm e que vivem bem diante dos nossos olhos. Alguns deles muito prĂłximos. E o potencial â&#x20AC;&#x153;enriquecimentoâ&#x20AC;? que nos querem convencer que este â&#x20AC;&#x153;empobrecimentoâ&#x20AC;? pode ajudar a construir (???) ĂŠ o dos ricos. Que tambĂŠm existem bem diante dos nossos olhos no meio da misĂŠria dos â&#x20AC;&#x153;sem nadaâ&#x20AC;?. Esta ĂŠ uma profundĂssima mentira. Que deve ser denunciada com um grito mais profundo que o de Munch. (Ser pobre nĂŁo ĂŠ um direito) JĂĄ ouço alguns perguntarem: mas qual ĂŠ a alternativa? A resposta ĂŠ fĂĄcil se a quisermos encontrar. Se o que alcançåmos ĂŠ bom para muitos e muito melhor do que o que tĂnhamos
~ { Â&#x20AC; Â&#x20AC; permitiu aqui chegar nĂŁo pode ser destruĂdo. E se houve dinheiro para investir nesse crescimento social (mas vindo de quem?) ĂŠ Ăłbvio que quem agora pretende o lucro respectivo nĂŁo deixou de o ter. Ă&#x2030; Ăłbvio que continua a ter dinheiro para investir. E fĂĄ-lo-Ă ou neste propĂłsito de progresso que Â&#x20AC; Â&#x20AC;~ Â&#x2018; { de recuo social, de atraso civilizacional, de ir contra o outro, se o entender como mais lucrativo. Porque o que estĂĄ em causa ĂŠ o poder do poder representativo. E este existe para promover o crescimento colectivo. Governar ĂŠ criar bem para todos. Pelo que nos cabe impedir que o investidor possa utilizar no seu exclusivo interesse o produto que investe. Cabe-nos o dever de sĂł lhe reconhecer direito a lucro se investir criando â&#x20AC;&#x153;bemâ&#x20AC;?. E chegaremos lĂĄ pela renegociação dos termos em que se paga a dĂvida pĂşblica. Impondo-a em nome do poder representativo a quem se julga com direito a esse pagamento; ou atĂŠ mesmo assumindo os custos da sua anulação começando tudo de novo com regras que impeçam o seu crescimento descontrolado; defendendo a construção de um sistema de controlo colectivo do que ĂŠ o investimento social um pouco por todo o lado; promovendo um sistemĂĄtico alargamento de direitos a tantos mais cidadĂŁos quanto possĂvel; construindo modelos de crescimento abrangentes que integrem no trabalho
o trabalhador. Mesmo que com sacrifĂcio temporĂĄrio da tecnologia; reformulando as normas existenciais valorizando o relativo e impondo a partilha como mĂŠrito e a sua aceitação como valorização ½ { pratiquemos medidas que ainda que integradas no espĂrito do liberalismo e do capitalismo evitem ao investidor o risco de ser confrontado com a violĂŞncia que, mais cedo ou mais tarde, o deserdado â&#x20AC;&#x153;que jĂĄ teve algo de seuâ&#x20AC;? começarĂĄ a promover. Porque esta violĂŞncia nem o promotor da desigualdade a deseja. Porque sabe estar obrigado a temĂŞ-la. Porque sabe ser a Ăşnica expressĂŁo popular que nĂŁo controla e que ĂŠ ubĂqua na escolha das suas vĂtimas. Ă&#x2030; necessĂĄrio, absolutamente necessĂĄrio, ter bem presente que o dinheiro do rico, do investidor desconhecido (ou talvez nĂŁo depois de se saber de quem ĂŠ, de facto, o dinheiro que ĂŠ emprestado aos Estados) ĂŠ altamente improvĂĄvel que nĂŁo resulte do trabalho de alguĂŠm. E quem trabalha sĂŁo os homens. Os homens que trabalham. Que continuam a querer trabalhar e se mantĂŞm de mĂŁos dadas esperando por um pouco do muito que a sociedade produz. E bem sabemos o quanto desse produto ĂŠ destruĂdo para manter preços. Como se fosse o preço do produto que mata a fome ao faminto.
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o
opiniĂŁo
Jorge A. Paulino Pereira MĂŠdico
Este paĂs nĂŁo ĂŠ para velhos Este paĂs nĂŁo ĂŠ para velhos. Mas se o for, entĂŁo nĂŁo foi este Portugal que eu quis para mim e para os meus ďŹ lhosâ&#x20AC;Ś Ao chegar um destes dias ao meu local de trabalho, numa ĂĄrea restrita ao pessoal hospitalar, deparei com um monte de prospectos, iguais aos que apresento, recrutando jovens mĂŠdicos para iniciarem carreira no estrangeiro, no Reino Unido e na Irlanda. NĂŁo se trata dum caso pontual, mas dum processo sistematizado, jĂĄ conhecido e amplamente divulgado no meio hospitalar. Ă&#x20AC; primeira vista, nĂŁo sendo uma situação inĂŠdita, pode Â&#x2020; { { Â&#x20AC; } Â&#x20AC; jovem (e ainda ambicioso) mĂŠdico, jĂĄ evidenciado pelas suas qualidades e determinação. Poderia atĂŠ tornar-se numa situação que deixaria orgulhosos ~ mĂŠdico no nosso paĂs, em que eu tambĂŠm reivindico uma posição por direito prĂłprio. Invertendo uma lĂłgica em que esbracejamos para tentar alcançar o progresso que nos prometem e que sempre nos escapa, ĂŠ-nos comunicado, por meias palavras, que este paĂs nĂŁo ĂŠ para novos: sĂł nos resta a resignação.
72 | Jan/Fev | 2013
Mas o que, na minha perspectiva, ĂŠ chocante e muito preocupante, ĂŠ a indiferença e o total alheamento em relação a esta realidade por parte dos responsĂĄveis do destino colectivo de todos nĂłs. A triste conclusĂŁo que podemos tirar ĂŠ que Portugal se tornou num paĂs sem rĂŠstia de esperança para quem quiser decidir o seu futuro com base na formação } Â&#x20AC; ~ tantos sacrifĂcios.
Esta hemorragia descontrolada a que, sem dĂşvida, iremos assistir em breve, representa a total negação de investimento no futuro, o desperdĂcio da nossa energia vital, neste caso na ĂĄrea da SaĂşde, mas que se vai repetindo noutras ĂĄreas fundamentais. Quem desperdiça assim, levianamente, os seus recursos humanos (pagos a peso de ouro por todos nĂłs contribuintes, numa factura que ronda os 6000 euros anuais por
aluno de Medicina), num gritante silĂŞncio em que nada mais hĂĄ a dizer aos jovens licenciados alĂŠm do encorajamento Ă emigração, transportarĂĄ na sua consciĂŞncia, o colapso dum paĂs pelo qual ainda luto com todas as minhas forças. Nesse paĂs, deixado Ă s geraçþes cada vez mais desesperadas, sem a energia da renovação e Ă mercĂŞ de vĂĄrios interesses que defendem tudo menos o colectivo, serĂĄ cada vez mais difĂcil respeitar e perpetuar as convicçþes e os valores que os nossos pais nos transmitiram. Se nos querem demonstrar que este paĂs nĂŁo ĂŠ para novos, hĂĄ que inverter a resignação subjacente a esta perspectiva que nos envergonha a todos, porque, bem pelo contrĂĄrio, este paĂs nĂŁo ĂŠ para velhos. A situação a que chegĂĄmos ĂŠ grave demais para continuarmos a ter lideranças velhas, com interesses velhos, que recuperem falsas soluçþes velhas, que nĂŁo se indignem com estes sinais de alarme, que pensem â&#x20AC;&#x153;...que remĂŠdio...â&#x20AC;? em vez de â&#x20AC;&#x153;tem de haver remĂŠdio!â&#x20AC;? ou que, com uma indiferença velha, nĂŁo se sintam colectivamente mais pobres e ainda mais velhos, quando assistem a uma debandada de jovens licenciados, semana apĂłs semana, no velho aeroporto da Portela. Podemos ter a nossa HistĂłria, a nossa generosidade ou o nosso espĂrito empreendedor, mas se nĂŁo tivermos a quem passar o testemunho, o Serviço Nacional de SaĂşde estarĂĄ ferido de morte e os direitos dos nossos doentes nĂŁo serĂŁo mais que uma memĂłria. EntĂŁo, irĂĄ imperar a lei da oferta e da procura, com geraçþes de ¢ }  reforma tranquila, â&#x20AC;&#x153;radiantesâ&#x20AC;? com o futuro â&#x20AC;&#x153;risonhoâ&#x20AC;? que nos aguarda a partir dos 65
{ ~ Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC;~Â&#x20AC; hospitalar baseada em quadros restritos, que encolham os ombros perante honorĂĄrios residuais, numa sociedade cada vez mais envelhecida, com uma taxa de natalidade cada vez menor, onde a Geriatria substituirĂĄ a Pediatria, sempre governados por velhos conhecidos, pertencentes a velhos partidos, com as velhas
soluçþes de sempre, e em que a Ăşnica rĂŠstia de remota esperança ĂŠ a miragem dum emprego em Angola... ou um talĂŁo do euromilhĂľes permanentemente no porta moedas. Este paĂs nĂŁo ĂŠ para velhos. Mas se o for, entĂŁo nĂŁo foi este Portugal que eu quis para mim e Â&#x20AC; Â? Ă&#x2013;
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o
opiniĂŁo
Luis Filipe Silva SecretĂĄrio Regional do SIM Centro
Um novo regime de trabalho mĂŠdico... Ao longo da HistĂłria, a organização do trabalho mĂŠdico tem evoluĂdo para patamares de complexidade crescente exigindo legislação diferenciada que acolha e regulamente as particularidades desta proďŹ ssĂŁo. No nosso paĂs, desde o mĂŠdico das MisericĂłrdias dos anos 60 atĂŠ ao mĂŠdico do SNS regulado pelo 73/90, houve uma evolução enorme na estrutura das vĂĄrias vertentes de organização da Â&#x2018; Â&#x2039;Â&#x2018;
{ Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2018; mĂŠdica, nas ĂĄreas de exercĂcio { y Â&#x2039;Â&#x2018; mĂŠdica, na regulação das formas de exercĂcio da actividade, nas grelhas de remuneração. Para possuir uma equipa com capacidade tĂŠcnica e competĂŞncia legislativa para discutir e regular estas matĂŠrias, tĂŞm os mĂŠdicos mantido um conjunto de organizaçþes internas (constituĂdas por mĂŠdicos voluntĂĄrios e gabinetes jurĂdicos que se vĂŁo especializando neste objecto) que constituem um patrimĂłnio inalienĂĄvel e que deve ser preservado. De facto, a iniciativa de promover a adaptação, Ă ~ Â&#x20AC; ~ Â&#x2018; { as sucessivas reformas da legislação geral do trabalho (CĂłdigo do Trabalho) tem partido sempre das organizaçþes mĂŠdicas, nomeadamente dos
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Sindicatos MĂŠdicos. ApĂłs a Ăşltima reforma do CĂłdigo do Trabalho, com a revogação de legislação anterior referente â&#x20AC;&#x153;Ă s carreiras especiaisâ&#x20AC;?, os Sindicatos mĂŠdicos iniciaram o processo de negociação colectiva que levou Ă publicação em 23 de Setembro de 2009 do Acordo Colectivo de Trabalho (ACT) que contempla â&#x20AC;&#x153;o nĂşcleo essencial das normas que regulam o exercĂcio de funçþes mĂŠdicasâ&#x20AC;?. Optaram nessa data as associaçþes sindicais por garantir a aprovação legislativa de um acordo incompleto, mas que face Ă agitação politica que se Â&#x2020; Â? Â&#x2020;  Â&#x2020;  alcançava objectivos importantes. Faltava a atribuição dos nĂveis remuneratĂłrios correspondentes Ă s posiçþes da carreira mĂŠdica. Â&#x20AC;  ~ ~ Â&#x2019; ceiro instĂĄvel, com parceiros governamentais mal preparados e acossados por condiçþes internas e externas que todos conhecemos, foi difĂcil nos anos seguintes, Ă s comissĂľes negociadoras, estabelecer con-sensos viĂĄveis. Inicialmente foi necessĂĄrio conquistar a atenção da tutela:
uma ameaça de greve Ă s horas extraordinĂĄrias em Dezembro de 2011 obteve a promessa do MinistĂŠrio da Saude (MS) de que se dispunha a negociar. O primeiro semestre de 2012 foi um perĂodo difĂcil em que a seriedade das negociaçþes foi posta em causa pela aparente apatia dos representantes do MS. Culminou a 11 e 12 de Julho com a maior greve dos mĂŠdicos de sempre em Portugal! { Â&#x201E;  Â&#x20AC; Â&#x20AC; negociaçþes com as associaçþes sindicais mĂŠdicas eram para â&#x20AC;&#x153;levar a sĂŠrioâ&#x20AC;?. Durante o VerĂŁo de 2012 houve um trabalho ĂĄrduo (com dezenas de reuniĂľes de preparação, quer entre associaçþes da classe quer depois com o MS), delicado (pelo ~ Â&#x2030; Â&#x2039;Â&#x2018; que atravessamos), complexo (pelo enredo legislativo que ĂŠ necessĂĄrio conhecer para evitar â&#x20AC;&#x153;surpresasâ&#x20AC;?) que levou Ă assinatura de um difĂcil acordo de entendimento negocial em 14 de Outubro de 2012. NĂŁo se tratou apenas da actualização duma grelha salarial
degradada por mais de 10 anos de marasmo e de decisĂľes desarticuladas, mas acima de tudo tratou-se de evitar a destruição de uma Carreira que se dirigia para a anarquia mercantil em termos de contratação, com a chegada recente dos contratos â&#x20AC;&#x153;na praça pĂşblicaâ&#x20AC;? pelo mais barato! Com a aproximação do excesso  Â&#x20AC;Â&#x203A; de uma polĂtica de acesso Ă s Escolas MĂŠdicas desajustada e atĂŠ irresponsĂĄvel â&#x20AC;&#x201C; o excesso de y ~ { ~ Â&#x2039;Â&#x2018; de gastos pĂşblicos, os reajustes administrativos das unidades prestadoras de saĂşde, e a gula dos grupos econĂłmicos nos lucros derivados dos cuidados mĂŠdicos, tudo se encaminhava para a destruição dos princĂpios ancestrais do SNS e a transferĂŞncia dos montantes monetĂĄrios hoje recebidos em Horas ExtraordinĂĄrias e em Contratos Individuais de Trabalho mais favorĂĄveis aos mĂŠdicos, para as mais-valias das referidas empresas fornecedoras de trabalho mĂŠdico a preços â&#x20AC;&#x153;de mercadoâ&#x20AC;?. A previsĂŁo, a curto prazo, seria uma situação semelhante para todos os mĂŠdicos: a negociar o seu contrato de trabalho directamente com a entidade empregadora. Os â&#x20AC;&#x153;mais novosâ&#x20AC;? obrigados, os â&#x20AC;&#x153;mais velhosâ&#x20AC;? indemnizados: regras da economia de mercado! Esta negociação nĂŁo tratou, portanto, da defesa de interesses instituĂdos, nem da â&#x20AC;&#x153;recauchutagemâ&#x20AC;? de regimes em vigor, mas da criação dum novo regime de trabalho para os mĂŠdicos que o queiram escolher preservando, naturalmente, o ~ Â&#x2039;Â&#x2018; que nĂŁo pretendam mudar. Com este novo Regime de trabalho:
- HĂĄ uma integração da remuneração dos MĂŠdicos na Tabela RemuneratĂłria Ă&#x161;nica da Função PĂşblica, tendo como valor de entrada, em Assistente o Ăndice 45 (2.746,24 euros), terminando no Ăndice 90 (5.063,38 euros) para a Ăşltima posição de Assistente Graduado SĂŠnior. Comparando com a anterior grelha das 35h e como exemplo, para as primeiras posiçþes remuneratĂłrias de cada categoria, o aumento de 14,2% do horĂĄrio (passar das 35 para as 40), representa um aumento de 48% na remuneração de Assistente, 43,2% na de Assistente Graduado e 49,1% na de Assistente Graduado SĂŠnior. - A Transição para o novo modelo serĂĄ imediata para todos os novos contratos a partir de 2013 e ~ % Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x2020; inferiores Ă primeira posição remuneratĂłria respectiva. Em 2013 e 2014, a transição serĂĄ em função da necessidade para o bom funcionamento do serviço e tendo em conta as disponibilidades orçamentais, sendo a situação acompanhada pela comissĂŁo tripartida. A partir de Janeiro de 2015, para todos os que o requeiram, 120 dias apĂłs esse pedido. - O HorĂĄrio de trabalho no novo regime de trabalho corresponde a 40 horas de trabalho semanal, com prestação de atĂŠ 18 horas de trabalho em serviços de urgĂŞncia. NĂŁo pode ser exigida a prestação diĂĄria de mais de 12 horas de urgĂŞncia, nem em mais de duas jornadas de trabalho em cada semana. A aferição do total de horas realizadas em urgĂŞncia ĂŠ feita num perĂodo de referĂŞncia de 8 semanas, sendo pago como trabalho extraordinĂĄrio aquele que exceda as 144 horas do perĂodo normal de trabalho, relativamente ao referido perĂodo
de aferição. Num perĂodo de referĂŞncia de 6 meses, os mĂŠdicos nĂŁo podem prestar, em mĂŠdia, mais de 48h por semana. Em relação Ă s Horas extraordinĂĄrias/UrgĂŞncia haverĂĄ obrigatoriedade de prestar atĂŠ 6 horas de trabalho extraordinĂĄrio, se necessĂĄrio. Durante 2013 e 2014, a majoração da remuneração das Horas Extra prevista no DL 62/79 serĂĄ mantida em 50% (de notar que no que respeita aos restantes trabalhadores da Função Publica, as Horas ExtraordinĂĄrias serĂŁo pagas com majoração de 25%). Para quem se mantenha em 35h, de forma semelhante ao que acontecia com o DL 62/79, serĂĄ criado um regime de pagamento melhorado das horas extraordinĂĄrias, passando a partir da 5ÂŞ hora a ser o previsto na nova grelha salarial para as 40h. - Manutenção do atual regime jurĂdico de dispensa do trabalho noturno (acima dos 50 anos de idade) e do serviço de urgĂŞncia (acima dos 55 anos). Contudo, os mĂŠdicos que transitarem para o novo modelo prescindem dessa dispensa durante 2 anos. - O recurso a empresas de prestaçþes de serviços mĂŠdicos deve ter lugar apenas em situaçþes de estrita necessidade e devidamente fundamentadas, com acompanhamento da comissĂŁo tripartida. - Nos CIT manutenção do valor acordado de horas de UrgĂŞncia, ainda que superior ao previsto no Acordo. - Manutenção do descanso compensatĂłrio pĂłs-serviço de urgĂŞncia. - Em 2013 serĂĄ aplicado na Ăntegra, e pela primeira vez, o sistema de avaliação anual do desempenho da carreira mĂŠdica Ăşnica â&#x20AC;&#x201C; fundamental para a progressĂŁo na grelha salarial. Jan/Fev | 2013 | 75
opiniĂŁo
- Na Medicina Geral e Familiar a lista de utentes de cada mĂŠdico passa a ter uma dimensĂŁo mĂĄxima 1900 utentes, correspondentes a 2358 unidades ponderadas. As listas de utentes serĂŁo organizadas, com o envolvimento direto dos mĂŠdicos de MGF, por forma a adequĂĄ-los Ă s necessidades reais do paĂs. - Quanto Ă Mobilidade, aplica-se o regime geral da Administração PĂşblica, de atĂŠ um mĂĄximo de 60km. Outro assunto importante, em degradação crescente nas recentes contrataçþes de trabalho mĂŠdico, que foi factor marcante na negociação, foi a reintrodução de critĂŠrios clĂnicos de mĂŠrito na progressĂŁo da carreira e na contratação pĂşblica de mĂŠdicos: - Abertura de vagas para
ingresso de cerca de 2.000 recĂŠmespecialistas em 2013/2014. - Procedimentos concursais para promoção para a categoria de Assistente Graduado SĂŠnior, de acordo com o levantamento das necessidades. - Abertura de concursos para Consultor (jĂĄ a decorrer), a ocorrer com regularidade, evitando acumulação de mĂŠdicos em condiçþes de concorrer. - Manutenção da passagem automĂĄtica dos Consultores a Assistentes Graduados. No inĂcio de 2015 deve ser aberta uma mesa negocial, com vista a avaliar e renegociar o Acordo. Este foi o resultado do trabalho de uma equipa que, com conquistas e cedĂŞncias como ĂŠ prĂłprio de qualquer processo negocial, contando sempre com
o apoio e a colaboração (com propostas e criticas mais ou menos construtivas) de imensos colegas que perceberam desde o inĂcio a dimensĂŁo do propĂłsito, se bateu para obter um enunciado legislativo em que os MĂŠdicos tĂŞm uma Carreira regulamentada em defesa da qualidade do exercĂcio da Medicina, do SNS e dos utentes. No futuro todos contamos com a determinação e empenho dos MĂŠdicos e das suas Associaçþes Â&#x2013; ~ ~ Â&#x2019; vamente na protecção e melhoria Â&#x153; { apoiando as suas organizaçþes y objectivos que forem sendo alcançados.
Livros
Protocolos em Medicina Interna Protocolos em Medicina Interna ĂŠ o tĂtulo do projeto editorial da autoria e coordenação de LuĂs Campos, mĂŠdico internista que dirige, atualmente, o Serviço de Medicina IV do Hospital de S. Francisco Xavier (CHLO) e preside ao Conselho Nacional para a Qualidade na SaĂşde. Este manual pretende ajudar o mĂŠdico a tomar decisĂľes quando estĂĄ perante o doente e constitui tambĂŠm uma base de apoio ~ ~ Â&#x20AC;~ Â&#x20AC; y Â&#x152; ~ Â&#x20AC; saĂşde. O livro apresenta os protocolos referentes Ă s situaçþes mais comuns com que os mĂŠdicos se deparam num serviço de Medicina Interna, incluindo tambĂŠm escalas de avaliação clĂnica, psicolĂłgica, social e nutricional, alĂŠm de descrever as principais tĂŠcnicas realizadas. Estes protocolos sĂŁo o resultado do trabalho desenvolvido por uma Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; Â&#x20AC;~ Â&#x152; Â&#x2020; Â&#x2039; Â&#x201E; Â&#x2022; CHLO, e que, atravĂŠs da sua compilação, os torna agora acessĂveis a ~Â&#x20AC; ~ { ~ ~ ¢ Â&#x20AC; ~  Â? nos serviços de Medicina. Segundo LuĂs Campos, â&#x20AC;&#x153;o nosso objetivo, enquanto mĂŠdicos, ĂŠ pensar sempre nos doentes e na nossa obrigação ĂŠtica de tudo fazermos para lhes prestar os melhores cuidados possĂveis, com a consciĂŞncia de que a qualidade reduz custos e a mĂĄ prĂĄtica sai muito caraâ&#x20AC;?.
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opiniĂŁo
HeloĂsa G. Santos Geneticista mĂŠdica e pediatra. Anterior Diretora do Serviço de GenĂŠtica do Hospital de S. Maria. Anterior Professor Convidado de GenĂŠtica da Faculdade de Medicina de Lisboa. Presidente das ComissĂľes de BioĂŠtica da Sociedade Portuguesa de Pediatria, da Sociedade Portuguesa de GenĂŠtica Humana e INSA.
Serviço Nacional de SaĂşde (SNS) E porque nĂŁo criar atendimento privado nos hospitais pĂşblicos? E porque nĂŁo trabalharmos para uma Ăşnica entidade patronal? Tenho, como muitos dos que viram nascer e ajudaram a crescer o SNS, seguido com apreensĂŁo muitas das preocupantes sugestĂľes, ditas indispensĂĄveis, para a sobrevivĂŞncia do mesmo. Â&#x201E;Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; defensores da manutenção do serviço pĂşblico, proclamando Â&#x20AC; Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x20AC; Â&#x2019; nizam pretendem manter a sua sustentabilidade, servem vĂĄrios interesses e as receitas preconizadas irĂŁo, isso sim, reduzir a qualidade dos serviços prestados e ampliar os lucros do setor privado ~ Â&#x2020; ~ com dinheiros pĂşblicos. Os mĂşltiplos representantes das apelidadas â&#x20AC;&#x153;clientelas de cos~Â&#x20AC; Â&#x2014;  necessĂĄria a redução de gastos do Estado, nomeadamente na ĂĄrea da saĂşde, estĂŁo a receber crescentes pagamentos Ă custa do Â? ~ ~ ¢ Â? { ao SNS, em nome do desperdĂcio e da contenção de despesas, com o declarado objetivo da indispensĂĄvel poupança num paĂs em crise, vĂŁo â&#x20AC;&#x201C; lhe sendo alteradas, sem um sensato acautelamento, nomeadamente consequĂŞncias a curto e mĂŠdio prazo no nĂvel da saĂşde das populaçþes, condiçþes de apoio aos doentes. Infelizmente,
muita dessa poupança vai-se perdendo em lucros para alguns grupos privados oportunamente introduzidos na engrenagem. E, dentro de poucos anos, se nada Â&#x152; { Â&#x20AC; Â? { e do qual nos orgulhamos, vai dar lugar a um serviço pĂşblico de saĂşde frequentado apenas pelos desprotegidos da sorte e com Â?  ~ e, por isso, rejeitados pelas, no futuro mais exigentes, instituiçþes privadas. Acredito que o setor da saĂşde estatal, que, ainda hoje, tem mais elevada qualidade que os restantes serviços pĂşblicos nacionais e que ~ Â&#x2030; ~ { incluindo gestores, pode e deve reagir, com urgĂŞncia, a esta situação de refĂŠm de outros interesses, contrariando, enquanto pode, esta invasĂŁo do exterior. Tentemos virar o bico ao pregoâ&#x20AC;Ś Uma medida que me parece muito adequada ao momento que vivemos serĂĄ a da criação e desenvolvimento, nos nossos principais hospitais, de um setor privado, explorado pela respetiva administração. Tal como acontece hĂĄ muitos anos nos hospitais pĂşblicos ingleses e de outros paĂses europeus. Os lucros desta iniciativa, se esta for corretamente gerida, poderĂŁo fornecer algum
~ ~
~ Â&#x2020; Â? qualidade a permanecerem no SNS. Para fundamentar a minha proposta, vou começar por analisar com rigor a frase feita, e crescentemente aceite, de que os mais ricos devem passar a pagar mais quando utilizam o SNS, para que este sobreviva e possa continuar a ser universal. Em primeiro lugar, â&#x20AC;&#x153;os mais ricosâ&#x20AC;?- ou, melhor, os menos pobres â&#x20AC;&#x201C; pagam para a manutenção do SNS e restantes despesas de Estado, atravĂŠs dos seus impostos. Sem o dinheiro dos impostos, em especial do IRS, daqueles que, em teoria, usufruem de maior rendimento, o serviço nacional de saĂşde nĂŁo poderia sequer existir. Ă&#x2030; defendido, como um conceito bĂĄsico entre economistas, que o nivelamento da riqueza entre os cidadĂŁos deverĂĄ ser realizado atravĂŠs do respetivo montante dos impostos que lhes sĂŁo cobrados. Assim, ~Â&#x20AC; y ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; muitos dos nossos economistas, e comentadores encartados, advoguem um pagamento escalonado na utilização do SNS, revelando uma amnĂŠsia lacunar em relação ao conceito. E, digo, lacunar, porque nĂŁo me lembro de os
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opiniĂŁo
ter ouvido apresentar idĂŞntica proposta em relação a outros serviços pĂşblicos, alguns tambĂŠm  ~ ~ ~ { transportes pĂşblicos, a educação, o pagamento de documentos obtidos nas repartiçþes pĂşblicas ou os gastos com a justiça. Admitindo o justo alargamento deste princĂpio defendido para a saĂşde, em todos os referidos serviços estatais, passaria a ser igualmente indispensĂĄvel calcular o custo do bilhete, ou o valor do pagamento de despesas, de acordo com o escalĂŁo do IRSâ&#x20AC;Ś Esta medida ĂŠ injusta e iniqua. Injusta porque, ao contrĂĄrio de alguns exemplos que citei, serĂĄ exercida sobre pessoas que, sem culpa ou opção, se encontram doentes e fragilizadas. E ĂŠ iniqua porque estes cidadĂŁos terĂŁo de paradoxalmente pagar mais, em presença dos restantes
Â&#x2018; { Â&#x20AC; { se duma multa se tratasse! Estes utentes, jĂĄ anteriormente contribuĂram com o que lhes foi exigido por lei para terem direito aos seus tratamentos, e para garantirem os daqueles cidadĂŁos que nĂŁo pagam ou pagam menos im-postos, num serviço universal e tendencialmente gratuito que lhe ĂŠ, tal como aos restantes, com menos rendimentos, garantido constitucionalmente! PoderĂŁo alguns, voluntariamente, como mecenas, decidir oferecer uma dĂĄdiva em dinheiro, ou outra, a um hospital ou serviço, se y Â&#x20AC; ~ ~ pretenderem, como ĂŠ hĂĄbito nos EUA, mas eticamente nĂŁo podem ser discriminados negativamente. Claro que concordo com taxas moderadoras, no verdadeiro sentido da palavra, num paĂs em que as pessoas, infelizmente, ainda nĂŁo apresentam um nĂvel mĂŠdio de educação e cidadania, 78 | Jan/Fev | 2013
que as impeça, conscientemente, de abusar levianamente dos seus direitos e que nĂŁo manifestam qualquer preocupação pelas suas nefastas consequĂŞncias. Mas, inclusive estas taxas, que foram criadas para moderar, ou seja, evitar abusos, jĂĄ estĂŁo hoje a ser utilizadas de forma menos transparente, nomeadamente penalizando os internamentos, uma pĂŠssima decisĂŁo, incompreensivelmente iniciada pelo ministro Correia de Campos. { { ~ w ~ hoje, em tempo de crise, sobre o alargamento de algumas Â&#x2039;Â&#x2DC; Â? Â&#x2030; { ~ perĂodo difĂcil, as crianças (OMS = atĂŠ aos 18 anos) deveriam passar  Â&#x2039;Â&#x2018; ~ Â&#x2030; moderadora nĂŁo apenas atĂŠ aos 12 anos mas atĂŠ Ă maioridade. Os jovens dos 12 aos 18 anos, que tambĂŠm vivem com os pais, tĂŞm esse direito por ainda serem crianças e, como tal, igualmente dependentes de maior proteção do Estado. Muitos de nĂłs, mĂŠdicos, tivemos o privilĂŠgio, menos graças ao estado empregador e mais a fundaçþes particulares e, ainda, ao apoio de laboratĂłrios farmacĂŞuticos, de frequentar serviços estrangeiros em estĂĄgios ou visitas de estudo. Eu nĂŁo fui exceção e posso acrescentar, no que me diz pessoalmente respeito, tambĂŠm, frequentemente, Ă minha prĂłpria custa. Infelizmente, muitos gestores hospitalares e tĂŠcnicos com funçþes polĂticas na saĂşde, nĂŁo tiveram este tipo de experiĂŞncia e nĂŁo analisam as caracterĂsticas dos serviços pĂşblicos de saĂşde de outros paĂses da europa, salvo em assuntos estritamente despesas comparadas. E, por isso, sem conhecimento de
~ ~ Â&#x2020; { ~ raciocinam em cĂrculo tentando ~ Â&#x20AC; ~ y â&#x20AC;Ś para deixar tudo na mesma por dentro! E, infelizmente, atĂŠ agora, sĂł elevaram as exigĂŞncias { Â&#x20AC;Â&#x152; ~  criaram novas regras e parcerias Â&#x153; ~Â&#x2018; que se revelam muitas vezes, como vamos sabendo, ruinosas para a entidade pĂşblica. E, nem sequer lhes ocorre comparar o SNS com outros sistemas semelhantes de outros paĂses e substituir alguns aspetos menos favorĂĄveis ~Â&#x20AC; Â&#x20AC;Â&#x203A; Â? { racionalizar em vez de racionarâ&#x20AC;Ś Ora bem, nesses estĂĄgios no ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x20AC; { muitos hospitais que frequentei do SNS inglĂŞs (Londres, Manchester, Oxford, Cambridge) e, tambĂŠm, em hospitais pĂşblicos franceses (Paris, Marselha, Lyon) existe atendimento privado, gerido pelas respetivas administraçþes estatais e realizado pelos diferenciados. Os clientes escolhem o mĂŠdico, o circuito ĂŠ diferente desde inĂcio, as salas de atendimento podem, ou nĂŁo, ser as mesmas, por vezes utilizadas com horĂĄrio distinto, os aspetos burocrĂĄticos sĂŁo semelhantes aos dos serviços privados de outros locais e o pagamento ĂŠ feito de y Â&#x2039;Â&#x2018; com qualquer apoio estatal mas apenas baseado em rendimentos prĂłprios ou seguros de saĂşde. Estes serviços incluem o regime ambulatĂłrio mas tambĂŠm de internamento e realização de exames complementares. E tĂŞm a colaboração do restante pessoal tĂŠcnico e de enfermagem. Apenas os administrativos sĂŁo prĂłprios. Trazem rendimento Â? ~
que distribuem pelos mĂŠdicos, enfermeiras, tĂŠcnicos envolvidos diretamente nesta atividade e, ainda, rentabilizam material e instalaçþes. Para o hospital, a realização da medicina privada no mesmo local garante-lhe a manutenção dos tĂŠcnicos, habitualmente os melhores, por serem melhor remunerados, atravĂŠs do pagamento direto e imediato que ĂŠ recebido dos utilizadores privados. No referente aos mĂŠdicos, e provavelmente outros { Â&#x20AC; remuneratĂłrio seja um pouco menos favorĂĄvel, as condiçþes de trabalho em serviços pĂşblicos sĂŁo mais atraentes que as de trabalho em instituiçþes privadas e permitem utilizar melhor o tempo para a formação e investigação, nomeadamente clĂnica, e, ainda, o desenvolvimento da carreira docente e investigação. E, tambĂŠm, pela existĂŞncia de serviços com condiçþes Ămpares para o desenvolvimento de trabalho em equipa. A permanĂŞncia dos melhores Â? ~ Â&#x20AC; condição indispensĂĄvel para impedir que se crie uma medicina para as elites nos hospitais privados, que poderĂŁo pagar ordenados mais elevados, e uma medicina para os pobres, com ~ ~ de menor qualidade nos hospitais pĂşblicos do SNS. A discriminação negativa em relação Ă s pessoas com mais rendimentos, que se estĂĄ a propor para os hospitais do SNS, em vez Â&#x20AC; ~ ~ { sĂł irĂĄ aumentar o nĂşmero de utilizadores dos serviços privados fora dos hospitais pĂşblicos. Estou jĂĄ a imaginar que, os mais incrĂŠdulos, irĂŁo contraargumentar com a crise e com
o fraco poder econĂłmico dos ~Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x20AC; esta proposta de setor privado nos hospitais nem sequer serĂĄ rentĂĄvel. Responderei que hĂĄ um potencial de clientes ricos de fora do paĂs que teriam de ser conquistados. Como os Africanos dos nossos ex-territĂłrios coloniais que tĂŞm atualmente uma relação de proximidade muito grande connosco e nos visitam constantemente. TambĂŠm, clientes europeus ou de outros paĂses que, tendo conhecimento do nĂvel elevado atingido pela medicina portuguesa, poderiam, apĂłs devidamente aliciados, preferir, por razĂľes de privacidade (por exemplo, intervençþes de natureza estĂŠtica), ou de custo (se os valores pagos forem inferiores Ă mĂŠdia europeia), iniciar a prĂĄtica do chamado â&#x20AC;&#x153; turismo de saĂşdeâ&#x20AC;? e deslocarem-se a Portugal. Os ingleses tĂŞm estas consultas do National Health Service repletas de estrangeiros e sabem muito bem aproveitar estes nichos de mercado. Bem assim como alguns paĂses emergentes, como a India e o Brasil. Bom, irĂŁo comentar os mais cĂŠticos, qual serĂĄ a vantagem desta oferta em relação aos serviços privados que por aĂ pululam? Acredito que nos hospitais pĂşblicos se encontram ainda muito bons  Â&#x2018; Â? Â? circuito privado, embora muitos sejam comunsâ&#x20AC;Ś - e as melhores condiçþes para se praticar uma adequada medicina. E os portugueses sabem disto e, como consequĂŞncia, mesmo aqueles que ~Â&#x203A; Â&#x2030; ~ Â&#x2039;Â&#x2DC; Â&#x2019; ceiras, ainda preferem, quando tĂŞm um problema mais grave, ser tratados ou internados num Â? ~ ¢ { aspetos hoteleiros e outras
comodidades. Se as condiçþes de acesso e de instalaçþes puderem ser idĂŞnticas, e nĂŁo dependentes do nĂvel progressivamente decadente previsto para manter a Â&#x20AC; ~ ~  ¥ § SNS, muitos utentes irĂŁo preferir esta alternativa, em vez de estarem sujeitos Ă indigna iniquidade de um duplo e elevado pagamento, sem qualquer vanta-josa contrapartida, cada vez que se dirigirĂŁo, com todo o direito, ao serviço pĂşblico do mesmo hospital. Â&#x201E; { ~ { Â&#x20AC; ~ minha proposta funcione, deverĂĄ, ainda, mudar o regime de trabalho Â&#x20AC;~ de saĂşde (enfermeiros e, tĂŠcnicos de laboratĂłrio ou de radiodiagnĂłstico) e, tal como nos paĂses e hospitais que referi, passar a existir um regime exclusivo, ou para o Estado ou para uma entidade privada. Mas isto jĂĄ foi compreendido, embora por ~ Â&#x2020; ~ ~ ~ { pelo MinistĂŠrio da SaĂşde (embora, incompreensivelmente, tenha sido referida a exigĂŞncia de exclusividade apenas para os mĂŠdicos, esquecendo a restante equipa de saĂşdeâ&#x20AC;Ś). E ĂŠ evidente que, para alĂŠm do horĂĄrio de trabalho mais alargado de 40 horas, atualmente exigido na contratação dos mais novos com o objetivo de reduzir o pagamento de horas extraordinĂĄrias, ĂŠ necessĂĄrio garantir que toda a equipa deverĂĄ permanecer diariamente no mesmo local de trabalho. Os turbo-mĂŠdicos â&#x20AC;&#x201C; tal como os turbo-enfermeiros ou os turbo-tĂŠcnicos - terĂŁo de acabar rapidamente e, como nas restantes Â&#x2DC; { ~ Â&#x2020; Â&#x2030; Â&#x2019; Â&#x20AC; ¢ Â? PĂşblico ou privado. Se nĂŁo, arriscam-se a voltar a ser tratados como mulheres-a-dias e pagos como tal, quer pelos privados Jan/Fev | 2013 | 79
opiniĂŁo
quer pelo Estado e, ainda, a ser explorados por agĂŞncias sem escrĂşpulos. E, muito pior, a contribuir para que a nossa medicina, a joia da coroa dos serviços pĂşblicos portugueses, baixe muito de nĂvel. Incluindo a da, tĂŁo citada, baixa mortalidade infantil que, segundo se diz, estarĂĄ jĂĄ a sofrer o primeiro impacto negativo. Ÿ{ Â&#x20AC; o internato no Hospital S. Maria, os mĂŠdicos hospitalares nĂŁo recebiam ordenado mas apenas uma pequena remuneração Â&#x160; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x2014;Â? realização de serviço de urgĂŞncia exterior e de urgĂŞncia interna eram de Ăndole obrigatĂłria e nĂŁo eram especialmente remunerados por elas. Podiam ser dispensados, a qualquer momento, pela Direcção do respetivo hospital, invocando ocasional falta de verba. As faculdades de medicina, ofereciam, por isso, guarida aos despedidos com a promessa de realização de tese de doutoramento, sĂł excecionalmente cumprida, e, nesse perĂodo, a escolha acadĂŠmica raramente se baseava no relativo ~ relaçþes pessoais e humanas. Os docentes, pagos pelas faculdades de medicina, e, tambĂŠm, em regime precĂĄrio, alĂŠm das aulas, apoiavam a formação de internos e, muitas vezes, dirigiam o trabalho das enfermarias. Muitos nĂŁo-docentes participavam no ensino, por convite, sem receberem, qualquer retorno Â? Â&#x161; Â&#x2020; { Â&#x20AC; hospitais, medicina privada e internamento de doentes que vinham do exterior, enviados pelo mĂŠdico assistente que, com frequĂŞncia, trabalhava no mesmo hospital. Os diretores dos serviços responsĂĄveis pelo apoio a estes 80 | Jan/Fev | 2013
pacientes privados, recebiam uma pequena parte do pagamento cobrado pela instituição que distribuĂam pelos mĂŠdicos que tinham colaborado ativamente na assistĂŞncia a estes casos. NĂŁo havia na ĂŠpoca, grande tradição ou incentivo na realização de investigação, salvo a obrigatĂłria para a realização de teses de licenciatura ou doutoramento e era, quase sempre, indispensĂĄvel a intervenção ativa de terceiros nĂŁo mĂŠdicos ou mĂŠdicos pertencentes as equipas internacionais. Neste perĂodo, os mĂŠdicos mais diferenciados, ostensivamente, nĂŁo cumpriam horĂĄrios de trabalho. Mas revelavam-se muito orgulhosos com a diferenciação hospitalar a que tinham direito e que exibiam, quer nas tabuletas de consultĂłrio, quer no respetivo papel de receitas (Assistente dos Hospitais Civis de Lisboa, Professor de Medicina Interna da Faculdade de Medicina de Lisboaâ&#x20AC;Ś). Devo salientar que, nesta ĂŠpoca, a falta de cumprimento do reduzido horĂĄrio previsto ou a intempestiva interrupção de atividades hospitalares para apoio a atividades privadas era aceite pela, como se diz hoje, tutela, com total complacĂŞncia. Ă&#x2030; evidente que achariam que pagando tĂŁo pouco e de forma tĂŁo precĂĄria, nĂŁo podiam exigir que os â&#x20AC;&#x153;senhores doutores / professoresâ&#x20AC;?, tĂŁo prestigiados pela sociedade, colocassem os seus deveres para com as instituiçþes pĂşblicas acima dos deveres para com a rentĂĄvel clĂnica privada. Assim, existiam condiçþes muito stressantes para a nossa aprendizagem, deÂ&#x2020; } Â&#x20AC; de contacto com os colegas mais preparados, incluindo durante a realização das urgĂŞncias internas
nas enfermarias. Nestas, embora outros mais diferenciados estiÂ&#x2020; ~  ~ escalados, nĂłs realizĂĄvamos o apoio aos doentes, (desde o ~ { Â&#x201C; § ~ sozinhos. NĂŁo posso contudo deixar de referir que, embora
~ w ~ ~ { havia habitualmente grande ~ ~ ~ respeito pelos doentes e, quando era indispensĂĄvel, as orientaçþes terapĂŞuticas solicitadas aos especialistas de serviço eram obtidas pelo telefone â&#x20AC;&#x201C; habitualmente do consultĂłrio - ou havia, logo que possĂvel, uma deslocação ao hospital para serem resolvidos os problemas mais complicados. Os menos diferenciados, com Â&#x203A;Â&#x2030; ~ Â&#x20AC; em formação, para sobreviverem e, dada a incerteza da manutenção do contrato hospitalar, trabalhavam ainda em consultas nas intituladas â&#x20AC;&#x153;Caixasâ&#x20AC;?, embriĂľes muito imperfeitos dos atuais Centros de Saude, em consultas, onde observavam, em tempo mĂnimo, porque mais nĂŁo lhes era permitido, doentes ambulatĂłrios. Recebiam, por esta atividade de medicina ambulatĂłria de duas horas diĂĄrias, uma modesta remuneração mas, contudo, havia maior estabilidade na manutenção de funçþes e de reforma. Resta-me ainda acrescentar, que aos hospitais, e tambĂŠm Ă s referidas consultas pĂşblicas, acorriam, quase exclusivamente, pessoas humildes que nĂŁo ~ Â? para utilizar os serviços privados e aquelas que, por razĂľes { Â&#x2020; documentos especiais sĂł obtidos em serviços pĂşblicos ou as que apresentavam patologias apenas tratĂĄveis, cirurgicamente ou medicamente, nos hospitais
estatais ou, ainda, que exigiam isolamento especial. A seguir a este perĂodo, seguiuse, na segunda metade dos anos setenta, a implementação do SNS e a progressiva diferenciação e otimização das atividades docentes. E tudo mudou substancialmente para melhor. Com o imprescindĂvel contributo das Carreiras MĂŠdicas e o nosso entusiasmo e dos outros ¢ { Â&#x2020; Â&#x2039; Nacional de SaĂşde deixou de nos envergonhar e os principais marcadores aproximaram-nos rapidamente dos outros paĂses da europa. PorĂŠm, mesmo para aqueles com vinculo apenas ao serviço pĂşblico, o Estado, ao contrĂĄrio do que se passava com funcionĂĄrios pĂşblicos de Â&#x20AC;~ Â&#x2DC; { Â&#x20AC; Â&#x20AC; devidamente a formação e o contacto entre especialistas da mesma ĂĄrea ou com os centros mĂŠdicos de excelĂŞncia internacionais. Felizmente, como anteriormente referido, essa grave lacuna foi colmatada pelo valioso contributo dos laboratĂłrios farmacĂŞuticos e de algumas fundaçþes, como a incontornĂĄvel Gulbenkian. Os primeiros, embora tendo como principal objetivo a defesa dos seus interesses { ~ Â&#x2019; camente corretos, apoiaram a realização de estĂĄgios e congressos nacionais e internacionais, a compra de livros e revistas pelos servi-ços hospitalares, e outras atividades indispensĂĄveis no estabelecimento de adequada articulação da nossa medicina Ă do restante mundo desenvolvido. Â&#x20AC;  # y Â&#x2019; nanceiramente deslocaçþes e estĂĄgios no estrangeiro mas tambĂŠm a aquisição de material indispensĂĄvel ao desenvolvimento de novas tĂŠcnicas nos
hospitais. Desde hĂĄ alguns anos, tambĂŠm instituiçþes ligadas ao MinistĂŠrio da Cultura e da Investigação, ou Ă prĂłpria europa, iniciaram o apoio a Â&#x2021; ~ Â&#x2020; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; ~Â&#x153; nacionais ou internacionais e esta lacuna tambĂŠm se desvaneceu. As remuneraçþes dos mĂŠdicos passaram a ser ligeiramente mais elevadas, as horas extraordinĂĄrias consideradas como tal, a haver uma ligação entre as mesmas e o grau da carreira hospitalar ou universitĂĄria e, mais importante, passou a haver contratos estĂĄveis, como em qualquer outro setor do funcionalismo pĂşblico. Contudo, grande parte dos mĂŠdicos, porque mantinham importante e rentĂĄvel atividade privada, optou por horĂĄrios reduzidos e nunca aderiu a um regime de trabalho apenas pĂşblico, quer vinculado Ă carreira hospitalar ou Ă universitĂĄria ou, inclusive, acumulando ambas. Mesmo como Diretores de Serviço. E continuaram muitos, mesmo com estes novos contratos estĂĄveis, a saltitar do pĂşblico para o privado e do privado para o pĂşblico. Infelizmente em muitos casos, sem respeito pelo horĂĄrio previsto. Alguns, poucos, nomeadamente idealistas com ambiçþes de mudar ou criar consultas ou serviços e desenvolverem ĂĄreas de especialidade ou de investigação, aceitaram o repto de se manterem apenas nos hospitais com horĂĄrio alargado mas, a obtenção deste tipo de contrato era difĂcil e exigia Â&#x2020; Â&#x2021;Â&#x20AC; ~ Â&#x2039;Â&#x2018; do Diretor de Serviço e ainda a renovação anual do mesmo contrato, sendo o valor pago mensalmente pouco superior aos dos outros colegas. Quando Leonor Beleza foi Ministra da SaĂşde, percebeu o que se passava e pensou, creio, que obteria maior
rentabilidade e tambĂŠm melhores condiçþes de liderança de gestĂŁo (Diretores de Serviço) se, tal como se passa noutros paĂses - e no nosso paĂs com a quase totalidade Â&#x20AC;~ Â&#x2018; ligados ĂĄ saĂşde â&#x20AC;&#x201C; criasse as condiçþes indispensĂĄveis para que os mĂŠdicos optassem por trabalhar exclusivamente no SNS. Para o efeito, decidiu aumentar o valor do pagamento ~ e garantir a estabilidade dos contratos. Enfatizou, contudo no nome -regime de dedicação exclusiva â&#x20AC;&#x201C; a necessidade de disponibilidade total dos mĂŠdicos em relação Ă atividade pĂşblica, a mesma que, sem alardes, jĂĄ era exigida para outros licenciados da função pĂşblica. E pretendeu que os diretores de Serviço fossem obrigados a escolher o novo regime. Infelizmente, esta iniciativa foi mal sucedida. Embora este regime nĂŁo seja impeditivo de outras atividades, como pedagĂłgicas ou de investigação, os honorĂĄrios, sendo dignos sĂŁo relativamente baixos embora bastante superiores aos que nĂŁo optaram por esta alternativa. E isto levou a que a maioria dos mĂŠdicos nĂŁo o aceitasse e, para o desacreditar, apontasse o dedo aos casos em que as pessoas nĂŁo cumpriam os respetivos horĂĄrios ou que nĂŁo demonstravam maior rentabilidade. Claro que os exemplos citados sĂŁo uma previsĂvel consequĂŞncia dos colegas que escolheram este novo contrato nĂŁo terem sido devidamente enquadrados e controlados pelas respetivos diretores de serviço que deveriam ter passado a ter obrigatoriamente o mesmo horĂĄrio de trabalho para se manterem diretores. Se assim fosse teriam tido total disponibilidade para Jan/Fev | 2013 | 81
opiniĂŁo
organizar o serviço e fomentar esta nova maneira de trabalhar e o desenvolvimento de uma nova dinâmica na utilização y ~ Â? Infelizmente, atĂŠ agora, no SNS, como noutras estruturas do estado, apenas se dĂŁo alguns retoques mas ninguĂŠm se atreve a mudanças de fundo porque os que nĂŁo querem mudanças quando perdem regalias, criam todos os argumentos para que nada mude e tambĂŠm porque dĂĄ muito trabalho aos gestores alterar o que jĂĄ estĂĄ implementado. Creio que o falhanço das boas intençþes de Leonor Beleza foi nĂŁo se ter apercebido a tempo da força das crescentes movimentaçþes subterrâneas que se começaram pouco a pouco a formar. Â&#x161; Â&#x20AC; ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; { com alguma surpresa, que os consultĂłrios privados em que o mĂŠdico continua a ser patrĂŁo de Â&#x201C; { ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; lucrativos e que, nalguns casos, os colegas mais velhos que nĂŁo tinham transferido a sua clĂnica para hospitais privados onde deixariam de ser a entidade patronal, estavam a atravessar Â&#x20AC; Â&#x201C; dado que tambĂŠm as reformas que recebem, em consequĂŞncia dos horĂĄrios hospitalares
reduzidos que escolheram, sĂŁo demasiadamente pequenas. { ~ Â&#x2020; Â&#x2018; Â? ~Â&#x201C;  condiçþes de trabalho e regime remuneratĂłrio nos hospitais pĂşblicos, que escrevi para esclarecer os mais novos que nos acusam de termos vivido sempre num mar de rosas, tĂŞm, porĂŠm, como objetivo principal, articular esta revisĂŁo com a minha proposta inicial de mudar alguns tabus. Se queremos que o SNS se mantenha com a qualidade a que os portugueses se habituaram e merecem, temos de o mudar por dentro e nĂŁo apenas realizando tacanhas â&#x20AC;&#x153;contas de merceeiroâ&#x20AC;? ~ cortar e poupar. Concordo com algumas destas medidas de combate ao desperdĂcio mas nĂŁo sĂŁo determinantes. Com elas estamos a retocar os serviços e a sua organização. Mas nĂŁo estamos a transformĂĄ-lo. Estamos a tentar criar condiçþes Â&#x20AC; ~ ~ Â&#x2019; ~ mas nĂŁo para o adaptar a novos tempos. E arriscamonos, mudando para pior muitas condiçþes e nĂŁo alterando o modelo, a que o serviço nacional de saĂşde portuguĂŞs deixe de alinhar, em relação a muitos marcadores, com os melhores a nĂvel internacional. Deveremos
analisar mais profundamente o que se passa no SNS de outros paĂses. A Finlândia, por exemplo, quando em tempo de crise, nĂŁo mexeu no seu serviço pĂşblico de saĂşde. PorquĂŞ? Â&#x2013; Â&#x2021; { Â&#x20AC; Â&#x20AC; ~  Â&#x20AC;~ - crie-se um setor privado dependente do Estado que possa Â&#x20AC; ~ ~ hospitais pĂşblicos e alteremse as condiçþes de trabalho de mĂŠdicos, enfermeiros e tĂŠcnicos para aumentar a rentabilidade e a qualidade dos serviços prestados. % ~ { Â&#x2020; y que apĂłs ter, hĂĄ jĂĄ alguns meses, apresentado estas sugestĂľes em algumas reuniĂľes, nomeadamente no Hospital S. Maria e numa reuniĂŁo da Fundação para o Serviço Nacional de SaĂşde, sem encontrar da parte dos principais participantes grande ~Â&#x20AC; { Â&#x2020; Â&#x20AC;
grande satisfação, atravÊs dum artigo publicado pelo semanårio Expresso a 22 de Dezembro, no dia seguinte a ter terminado a escrita destes comentårios, que o desenvolvimento do turismo de saúde, associado à criação, para este efeito, dum setor privado nos hospitais públicos, começou a ser avaliado pelo MinistÊrio da Saúde.
% Â&#x20AC; y ~ ~  Â&#x17E; % Â&#x20AC; Â&#x2C6; ~ ~ Â&#x201E; { Â&#x152; ~ ~ Â&#x201E; ~¢ { tem por objectivo fomentar, reconhecer, premiar e difundir a criatividade dos mĂŠdicos apaixonados y ~ Â&#x20AC; ~ Â&#x2030; Â&#x2018; ~Â&#x153; ~ Â? Â&#x20AC;  ~ ~ ~ OM e tem tema livre. Os trabalhos deverĂŁo ser enviados (por email) atĂŠ 30 dia de Abril de 2013. SerĂŁo seleccionados vinte trabalhos para participar numa exposição a inaugurar no dia 22 de Junho em SetĂşbal. A informação relativa ao email encontra-se no regulamento que deve ser lido antes de qualquer envio (regulamento disponĂvel em www.ordemdosmedicos.pt)
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opiniĂŁo
& { | W>Y ^WU>R }* K~
O Medo Nota da redacção: este artigo de opiniĂŁo foi enviado para a ROM ainda em 2012 e aguardava publicação. Em face das declaraçþes do ministro das ďŹ nanças japonĂŞs sobre os benefĂcios econĂłmicos da morte, consideramos que a sua actualidade se tornou inexorĂĄvel, pelo que o inserimos nesta edição. E=mc2 talvez nĂŁo contenha todas as variĂĄveis que mudam o tempo. Talvez outros factores como a angĂşstia, o medo, o relembrar, o querer viver mais, o desejar ardentemente, o aproximar vertigi { ~ Â&#x20AC;~ dimensĂľes do tempo e um instante possa intemporal, transcenderse, e coadjuvado, tornar-se incomensurĂĄvelâ&#x20AC;Ś No rĂŠs-do-chĂŁo do hospital, hĂĄ a sala dos cuidados continuados onde os â&#x20AC;&#x153;acabadosâ&#x20AC;?, alguns ali hĂĄ muito tempo, esperam hirtos que a auxiliar que leva os mortos, detenha sobre eles o seu olhar indagador e atento, que os sobressalta e apavora. Se pedirmos a cada um dos acabados, ainda capazes, que abram Â? ~ ~ Â&#x2019; Â&#x2019; atingidos por uma tristeza que nos fustiga como uma aragem viscosa e tectrica, que se nos cola e besunta como um gel gelado. Ă&#x2030; perturbador, quase insuportĂĄvel, esse olhar que adensa, soma e retĂŠm, a expressĂŁo de mil cĂŁes espancados e escorraçados pelo dono, sem razĂŁo, e assemelha-
se em todos os seres humanos informados e convencidos de
Â? y { Â&#x20AC; Â? descarga de catecolaminas que nos exalta e sustĂŠm, vem o desânimo avassalador, ĂĄlgido, terrĂvel. Se corajosos ou sĂĄdicos, olharmos com mais demora e atenção esses Â? ~ Â&#x201C; { Â&#x2020; Â&#x20AC; nalguns deles, em muitos deles, hĂĄ mil lampejos pequeninos luzindo intermitentes, que interpretados, sĂŁo mil apelos por uma injecção de ânimo e que dissecados em anĂĄlises profundas e contextualizados, colocam a esperança a par do oxigĂŠnio, ambos de importância vital, indispensĂĄveisâ&#x20AC;Ś Quase todos os que ali estĂŁo, ~Â&#x203A; Â? Â&#x20AC; y Â&#x153; Â&#x20AC; Â&#x2018; querem ou os nĂŁo podem ter, por centenas de razĂľes plausĂveis, explicĂĄveis e explicadas quase sempre, com minĂşcias, expressĂľes e tons pungentes, entrecortados por suspiros, haustos e ais, e por lĂĄgrimas que teimam em nĂŁo correr, limpas ritmada e tristemente, a lenços enxutosâ&#x20AC;Ś HĂĄ dias que um rumor insinuando-
se sorrateiramente, vindo nĂŁo se sabe de onde, acrescentou mais uma labareda a este inferno jĂĄ de si tĂŁo triste. Foi a notĂcia de que fora aprovado no Parlamento uma lei sobre a eutanĂĄsia, (nĂŁo ainda a executada pelo venenozito ou pela injecção letal, mas outra ainda mais pavorosa, levada a cabo pela suspensĂŁo da terapĂŞutica e dos meios de suporte vital) que liberalizando-a, a tornava aplicĂĄvel, nĂŁo sĂł a pedido do doente mas tambĂŠm a pedido da sua famĂlia mais chegada. Os acabados que ~ Â&#x153; Â? Â&#x2020; Â? os netos, com a ternura amorosa de quem contempla o Ăşnico elo material da sua eternidade, olham-nos agora de soslaio, sub-repticiamente, como quem avalia Ă socapa a pujança de um inimigo impiedoso e temido; as visitas, antes encaradas como um bĂĄlsamo terno, sĂŁo agora esperadas com medo que a breve trecho degenera num rancor ĂĄcido, de pH Â&#x20AC; ~ ~  Â&#x2030; { Â&#x20AC; ĂĄpice, corroer e extinguir todos os afectos, pois nĂŁo podem existir ou
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o
opiniĂŁo
persistir amor ou sentimentos de benquerença, por quem nos quer, nĂŁo sĂł fora do seu caminho, o que atĂŠ se aceita e se perdoa, mas fora do mundo, o que ĂŠ totalmente inaceitĂĄvel e imperdoĂĄvel, seja por que motivo for, que no nosso interesse, nĂŁo o ĂŠâ&#x20AC;Ś HĂĄ entre os â&#x20AC;&#x153;acabadosâ&#x20AC;? muitos infelizes, que afĂĄsicos e privados da eloquĂŞncia do gesto, se vĂŞm limitados a esgares ininteligĂveis onde se nĂŁo vislumbra nada que ateste o seu entendimento e ultrapassem a nossa competĂŞncia de decifraçãoâ&#x20AC;ŚSabe-se lĂĄ o que
e se esmerava por prever todas as hipĂłteses, eram excluĂdos da herança o mĂŠdico e o padre que tivessem assistido o moribundo Â&#x20AC; y { Â&#x20AC; tinham de sugestionar o infeliz, um prometendo-lhe a cura e o outro prometendo-lhe a vida eterna. IncluĂam-se os familiares, como herdeiros legĂtimos, mas presumese que a estes o doente conhecia sobejamente, para se deixar iludirâ&#x20AC;Ś Ă&#x2030; por isso que outorgar-se Ă famĂlia, o poder de representar o incapaz, interpretando-lhe a vontade, me parece extremamente
animais estĂşpidos, que nĂłs seres supremos, presumimos que sĂŁo, serĂĄ horrorosa e escusadamente cruel, a alameda do aviĂĄrio onde de ovos passam a pintos, de pintos a frangos e de frangos a frangos degolados. SĂŁo galinhas videntes, mais competentes do que o professor Karamba ou do que a astrĂłloga Magda; do seu princĂpio Â&#x2020; Â? Â&#x20AC; Â? " ~ Â&#x2020; bifurcar a recta, ocultando ao todo o destino de uma parte, para criar a esperança e acalentar em cada frango o desejo e o sonho utĂłpicos, de escaparem Ă decapitação.
lhes vai na alma e se esta barreira que os separa das pessoas nĂŁo ĂŠ unidireccional, e se aterrados, percebem tudoâ&#x20AC;Śe se hĂĄ alguma coisa mais medonha do que qualquer vida, ĂŠ a morteâ&#x20AC;ŚatĂŠ os mais crentes, da gente simples aos mais altos clĂŠrigos, mesmo nĂŁo o admitindo, provam-no, agarrando-se ao â&#x20AC;&#x153;aquĂŠmâ&#x20AC;? atĂŠ que lhes decepem os dedosâ&#x20AC;Ś No tempo em que as leis eram para aplicação â&#x20AC;&#x153;universalâ&#x20AC;? e o legislador era sĂŠrio, tinha brio
inadequado. Sem obviamente pĂ´r em dĂşvida que a maior parte das famĂlias querem o melhorâ&#x20AC;?para o seu doenteâ&#x20AC;?, desde tempos imemoriais que se sabe que o interesse prevalece em geral sobre os afectosâ&#x20AC;Śe a censura dos mortos, sĂł exequĂvel por â&#x20AC;&#x153;vidĂŞncias mediĂşnicas,â&#x20AC;? ou pelo remorso, que pressupĂľe consciĂŞncia, ĂŠ peso de pouca monta para os vivos e de nenhuma serventia para os mortosâ&#x20AC;Ś Se as galinhas nĂŁo forem os
Façamo-lo aos nossos velhos, aos nossos doentes crĂłnicos, aos nossos invĂĄlidosâ&#x20AC;Ś AtĂŠ os Nazis, no seu apogeu Â&#x2030;~ Â&#x153; { Â&#x152; Â? grandes matadouros/crematĂłrios de Dachau, Treblinka, Auschwits, Sobibor,Maidanek,Chelmo, Belzev, etc,etc, etc â&#x20AC;Ś(nĂŁo sĂł de judeus mas de todos os que divergissem da linhagem ideal dos arianos de â&#x20AC;&#x153;raça puraâ&#x20AC;?, como os PIGS) os recĂŠm chegados a eliminar, eram sob o pretexto de
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uma desinfestação (pediculose) e de um banho, levados a um recinto, onde lhes pediam que se despissem e que nus, passassem a um simulacro de balneĂĄrio, onde encerrados, eram pulverizados com o insecticida Ciclon B. Os nazis nĂŁo lhes tinham mentido. Morriam sem piolhosâ&#x20AC;ŚFaçamolo aos nossos infelizesâ&#x20AC;?acabadosâ&#x20AC;? por que informar seja quem for, do momento em que o vamos abater, mesmo que com o seu â&#x20AC;&#x153;acordoâ&#x20AC;?, ĂŠ de uma maldade excessivaâ&#x20AC;Ś O que os â&#x20AC;&#x153;acabadosâ&#x20AC;?nĂŁo sabem, porque sabendo-o sentir-se-
iam apaziguados com a morte prĂłxima, ĂŠ que no mundo a que nĂŁo tornarĂŁo, tudo ĂŠ agora triste, sombrio e desolador e as pessoas atordoadas se movem em cĂrculos entre escombros, cinzas e pĂł â&#x20AC;Ś do que foram sonhos, projectos, vidasâ&#x20AC;Ś E todos os dias vĂŞm acusĂĄ-los de uma dĂvida, mesmo aos que nada tiveram nunca, fazendo-as sentirem-se culpadas como nos pecados mortais da infância, em que se acreditava sem contudo se
perceber. Os que se atrevem a olhar para o recĂ´ndito onde as verdades se despem, hĂĄ muito que perceberam, sem margem para ilusĂľes, que: A exorbitância dos juros da â&#x20AC;&#x153;dĂvidaâ&#x20AC;? exclui por si sĂł, qualquer propĂłsito de ajuda A relutância obstinada em renegociar os â&#x20AC;&#x153;jurosâ&#x20AC;? alegando honra e credibilidade quem nĂŁo teve pejo, de enganar os cidadĂŁos que o elegeram, e de descer Ă vileza maldita, de amargurar os Ăşltimos dias dos velhos, nĂŁo ĂŠ crĂvel. A pressa frenĂŠtica que demonstram em privatizar tudo, por â&#x20AC;&#x153;quanto menos melhorâ&#x20AC;?, mostra claramente ao que vieramâ&#x20AC;Ś A prĂłpria maneira exagerada como representam o seu, jĂĄ de si, odioso papel, acrescentandolhe incerteza, â&#x20AC;&#x153;suspenseâ&#x20AC;? e uma desalmada canalhice, ĂŠ excessiva, pelo que obviamente faz parte do plano, porque nĂŁo se pode ser tĂŁo estĂşpido e ter-se aprendido o abecedĂĄrio. Â? ~Â&#x201C; { Â&#x2018; que viveu acima das suas posses, o suposto pedido depois de uma reuniĂŁo de todos os banqueiros, prova, na minha opiniĂŁo que estamos a viver um enormeâ&#x20AC;?conto do vigĂĄrioâ&#x20AC;?. AtĂŠ Sua ReverĂŞncia o Senhor Cardeal nos veio advertir da inutilidade das contestaçþesâ&#x20AC;Ś Depois de um emprĂŠstimo sabiamente calculado para extrair o mĂĄximo ao pedinte, este esvaĂdo, deixa tambĂŠm o penhor. Ă&#x2030; assim que hĂĄ milĂŠnios os agiotas enchem as suas arcas de ouro, e ĂŠ por isso que nem os que lhes deveram, lhes ~ Â? Findo o seu desempenho de â&#x20AC;&#x153;mandarete de rapinaâ&#x20AC;?, o eleito vai desarvorar deixando um paĂs devastado, cruzado por abundância de auto estradas onde se paga por nĂŁo passar, conduzindo a desertos desabitados e a frondosos
eucaliptais, pronto Ă invasĂŁo do â&#x20AC;&#x153;capitalâ&#x20AC;? , sobretudo dos que muito levam, pouco trazem e nada dĂŁoâ&#x20AC;Ś Os nossos grandes empresĂĄrios quase todos estabelecidos no ramo da mercearia, explorarĂŁo tambĂŠm a saĂşde no cargo trĂplice da engorda, do tratamento e da matançaâ&#x20AC;Ś Quem podia fazer alguma coisa age prudentemente, que cautela nĂŁo ĂŠ medo, nĂŁo vĂĄ o poder cair-lhe precocemente no colo, derreando-oâ&#x20AC;Ś Raio de mundo: esbulham-se os velhos, os doentes, os cidadĂŁos contribuintes, impede-se-lhes o acesso aos medicamentos, Ă s terapĂŞuticas, aos cuidados paliativos, criam-se situaçþes de medo e de motivo para o ter, e abre-se-lhes a porta Ă morte garantida pelo Testamento Vital, cuja coexistĂŞncia com uma medicina idĂłnea, bem praticada e de acesso garantido seria de interesse residual, mas que num futuro prĂłximo em que a saĂşde seja o â&#x20AC;&#x153;Grande NegĂłcioâ&#x20AC;?, farĂĄ todo o sentido. Os doentes pobres vĂŁo morrer mal esgotem o pecĂşlio ou o crĂŠdito e os doentes ricos (desde que saibam precaver-se dos herdeiros) vĂŁo aproveitar-se de todas as evoluçþes, e de terapĂŞutica em terapĂŞutica, de transplante em transplante, viver atĂŠ de que deles prĂłprios sĂł sobrem, meia dĂşzia de neurĂłnios entre ateromas e glia, mantendo vagas reminiscĂŞncias do que foram num passado distante, sem contemporâneos sobrevivosâ&#x20AC;Ś EstĂŁo a comer-nos as papas na cabeça. Tudo ĂŠ preferĂvel a este buraco negro onde o medo e o desespero abundam e alastram e de onde a esperança se esvaiâ&#x20AC;Ś
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o
opiniĂŁo
A. EleutĂŠrio Macedo Consultor de S.P.- Aposentado
Fumo sem fogo? O Presidente do CA do Hospital de S. JoĂŁo, Dr. AntĂłnio Ferreira, deu uma entrevista Ă T.V.I. no passado dia 17 de dezembro(Olhos Nos Olhos) ,com Judite de Sousa e Medina Carreira, que deve ter deixado perplexos muitos telespectadores ,atentos a tudo que Ă sua saĂşde diga respeito e impressionando mesmo o Sr. Ministro da SaĂşde. Começou o entrevistado por dizer que cerca de 30 cirurgiĂľes daquele Hospital nĂŁo terĂŁo efectuado qualquer intervenção cirĂşrgica, durante o corrente ano. Ora como Administrador daquele Hospital o 2Âş maior do paĂs - o entrevistado nada referiu sobre os porquĂŞs de tal situação. Se fĂ´r por incumprimento de horĂĄrios ou outros â&#x20AC;&#x153;compromissosâ&#x20AC;? extra-empregador (o hospital) sĂł lhe restava dizer que tais mĂŠdicos estĂŁo ou vĂŁo ser alvo de Â&#x20AC; ~ { Â&#x20AC; respectivo processo disciplinar. Se o ~ Â&#x2020; Â&#x20AC; Â&#x20AC;~ Â? Â&#x201C;~ { hĂĄ que as ponderar: A) NĂŁo escalamento, semanal, elaborado pelo Director do Serviço, entĂŁo peçam-se responsabilidades ao Director; B) Se os motivos sĂŁo a doença (baixas mĂŠdicas), incapacidade fĂsica ou psĂquica, avançada idade para operar, entre outras, entĂŁo aproveitem-se estes cirurgiĂľes para fazerem consultas de cirurgia, acompanhamento de doentes no pĂłs-operatĂłrio, fazerem peque-nas cirurgias ou cirurgias de ambulatĂłrio, geralmente de menor responsabilidade que as grandes cirurgias. TambĂŠm, ainda podem ser muito Ăşteis como 1Âş ou 2Âş 86 | Jan/Fev | 2013
ajudantes no Bloco OperatĂłrio... O segundo ponto focado na entrevista, diz respeito aos FuncionĂĄrios PĂşblicos (civis, militares e forças militarizadas), embora tivesse apenas, tocado nos abrangidos pela ADSE (os restantes tĂŞm ADM e Hospitais Militares o que os separa dos Hospitais Civis). Dizia o Dr. A. Ferreira que a ADSE deveria acabar e os seus utentes integrados no SNS, porque a ADSE Â&#x2021;Â&#x20AC;Â&#x153;Â&#x152; Â&#x20AC; ~ Â&#x20AC; ÂĄĂ&#x2013;Ă&#x2013;Ă&#x2013;§ prejuĂzos. Quem criou a AssistĂŞncia na Doença aos Servidores do Estadoâ&#x20AC;&#x201D;ADSE---foi Salazar, em contra-ponto aos trabalhadores por conta de outrem, que jĂĄ  Â&#x2020; Â&#x2013; Â&#x2020; Â&#x203A; (na SaĂşde e na Doença). E, como diz MĂĄrio Soares, nem Salazar teve coragem de extinguir a ADSE!!!! Mas, nĂŁo sejamos demagogos. A ADSE ĂŠ um dos melhores sub ~ ¢ pelos seus Utentes que o SNS. Â&#x2022; Â&#x2021; nossos impostos (IRS) e pelas Taxas Moderadoras (estas sĂł uma minoria as paga); A ADSE ĂŠ paga pelos nossos impostos (IRS) - pelo desconto mensal de 1,5% dos n/ vencimentos ou pensĂľes e pelas Taxas Moderadoras, quase em žÂ?Ă&#x17D;  Â?  ~ assunto voltaremos numa outra ~Â&#x20AC; { Â&#x20AC; Â&#x20AC; farei ao Sr. Ministro. A terceira incongruĂŞncia do entrevistado, feita malevolamente com intenção de denegrir toda a classe mĂŠdica e enganar os portugueses, menos familiarizados com as Carreiras MĂŠdicas (como
qualquer outra carreira na Função PĂşblica, ou em qualquer empresa) hĂĄ graus, hĂĄ promoçþes, hĂĄ escalĂľes, que se vĂŁo ganhando com Concursos, com anos de serviço e, em alguns casos, por mĂŠrito. Nas Carreiras MĂŠdicas, o mĂŠdico que atinge o grau de Assistente Graduado ou Chefe de Serviço, diz o Sr. A. Ferreira, nĂŁo volta para trĂĄs, isto ĂŠ, nĂŁo desce. Perguntase: JĂĄ se viu passar um General a Brigadeiro ou Coronel a Major, ou a um Sargento passar a Furriel ou um Super-Intendente da PSP passar a Intendente, etc, etc, etc.? JĂĄ se viu um Prof. CatedrĂĄtico passar a Prof. Auxiliar ou a Assistente? E isto passa-se tambĂŠm em qualquer estação televisiva, embora a Judite de Sousa tenha mostrado um sorrisinho â&#x20AC;&#x153;amareloâ&#x20AC;?, enquanto o Dr. Medina Carreira nĂŁo se tenha manifestado. Foi para a TVI por simples amor Ă camisola, Judite? Finalmente e para terminar, aguardando a prĂłxima entrevista no dia 07 de Janeiro, p.f. o n/ entrevistado ĂŠ a favor que todos os Meios Auxiliares de DiagnĂłstico e TerapĂŞutica se deveriam realizar nos Hospitais E.P.E. (Estado/SNS). Imagine-se: A) Listas de espera de anosâ&#x20AC;Ś B)Ter que colocar nos Hospitais todos os Especialistas das vĂĄrias especialidades deste campo da Medicina, nos Hospitais, para fazer face ĂĄs necessidades daĂ decorrentes; C) Quantos postos de trabalho se perderiam? Quem suportaria tal desemprego? Colocar todos ~ Â? Hospitais PĂşblicos?
histĂłrias da histĂłria
Carlos Marques Pontinha Interno do Ano Comum Centro Hospitalar e UniversitĂĄrio de Coimbra E.P.E.
Azevedo Neves (1877-1955) MemĂłria para a HistĂłria da Medicina Legal portuguesa1 JoĂŁo Alberto Pereira de Azevedo Neves nasceu, a 12 de Maio de 1877, em Angra do HeroĂsmo (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Aos 17 anos, apĂłs ter conluido o Liceu, mudou-se para o Continente onde ingressou em Medicina na Real Escola MĂŠdico-CirĂşrgica de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a). Formou-se em 1900, ~ Â&#x20AC; ~ de curso ao estudo da morfologia macro e microscĂłpica do ovĂĄrio (Costa Sacadura S, 1958a). Posteriormente, trabalhou em vĂĄrios hospitais de Lisboa sob a direção dos Professores CustĂłdio Cabeça (1866-1936) e Curry Cabral (18441920); tendo partido de seguida para Berlim onde trabalhou no LaboratĂłrio de Anatomia PatolĂłgica do Professor David Paul Von Hansemann (18581920), famoso patologista alemĂŁo e um dos pioneiros do estudo das cĂŠlulas anaplĂĄsicas (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Ainda na Alemanha, por sugestĂŁo do Professor CustĂłdio Cabeça, foi convidado para Diretor do LaboratĂłrio de AnĂĄlises ClĂnicas do Real Hospital de SĂŁo JosĂŠ (Costa Sacadura S, 1958b). Anos mais tarde voltou a partir
para o estrangeiro, desta feita para a Dinamarca, onde foi aprender as novas estratĂŠgias terapĂŞuticas, que ali estavam a ser desenvolvidas, para o tratamento do lĂşpus (Costa Sacadura S, 1958b). De regresso a Portugal implementou, no Hospital de SĂŁo JosĂŠ, um serviço com os aparelhos necessĂĄrios Ă aplicação dos raios Finsen no tratamento desta doença (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Naquela altura, o Professor Curry Cabral desejava que Azevedo Neves se dedicasse Ă Anatomia PatolĂłgica e o cirurgiĂŁo, Professor CustĂłdio Cabeça, queria orientĂĄlo na Cirurgia (Costa Sacadura S, 1958a). Foi, contudo, a Anatomia PatolĂłgica que mais fascinou o jovem, mas jĂĄ ilustre, mĂŠdico. Azevedo Neves ĂŠ o pioneiro do estudo do cancro em Portugal (Costa Sacadura S, 1958a; Costa Sacadura S, 1958b). Na Folha   ž¡ aparece nomeada a 1ÂŞ ComissĂŁo para o Estudo do Cancro, sob a presidĂŞncia do Professor Ferraz de Macedo (1838-1907), e para a qual Azevedo Neves ĂŠ nomeado secretĂĄrio (Azevedo Neves J, 1906). Ă&#x2030; nesta condição que concebe, executa e analisa
Â&#x20AC; X>K >U R) O autor testemunha o seu agradecimento ao Prof. Doutor Jorge Costa Santos que incentivou e autorizou a apresentação pĂşblica deste breve resumo histĂłrico na Delegação do Sul do INMLCF, I.P. bem como Ă Dr.ÂŞ Manuela Marques pela sua preciosa colaboração na Â&#x20AC;   } ¢ ~ sugestĂľes. O autor agradece ainda a total  Â&#x20AC; y  Serviço de Patologia Forense durante o estĂĄgio que ali realizou.
1 - O presente artigo corresponde, em parte, ao apoio escrito à preleção apresentada na Sessão de Medicina Legal e Ciências Forenses que teve lugar, no dia 25 de Maio de 2012, na Delegação do Sul do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P.
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histĂłrias da histĂłria
Â&#x2039; Â&#x201E;Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x201C; Â&#x2039;Â&#x2018; Â&#x20AC; Â&#x201E; %Â&#x2C6;{ Â?Â&#x2013;Â? ÂĄy ~ ~ ~ Â&#x201E; ~ % ~ §
os resultados do primeiro grande estudo epidemiolĂłgico oncolĂłgico realizado em Portugal (Azevedo Neves J, 1906). Destacam-se dois objectivos desse estudo: desenvolver novas estra~ ~ Â&#x203A;Â&#x20AC;~ Â&#x2030; (Azevedo Neves J, 1906). Azevedo Â&#x2020; ~ Â&#x20AC;{ Â&#x2021; Â&#x20AC; ĂŠpoca, que os hĂĄbitos etanĂłlicos e o tabagismo constituem fatores de risco para certos tipos de 88 | Jan/Fev | 2013
neoplasias malignas (Azevedo Neves J, 1906). Numa Êpoca em que as atençþes se concentravam na doença, jå Azevedo Neves alertava para a importância da prevenção (Azevedo Neves J, 1906). Azevedo Neves foi convidado pelo Professor Silva Amado (1840-1925) para o auxiliar no Conselho MÊdico-Legal e na Morgue de Lisboa, que fora
criada pelo Rei D. Carlos (18631908) atravĂŠs da Carta de Lei de 17 de Agosto de 1899 (Azevedo Neves J, 1922; Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988). Este convite mudou o rumo ~ ~ ~ { tornando-o num dos mais prestigiados mĂŠdicos legistas portugueses (Costa Sacadura S, 1958a). Assim, em 1911, o Professor Azevedo Neves sucede
Azevedo Neves
ao Professor Silva Amado como Diretor da Morgue de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988). Ă&#x20AC; Morgue tinha sido destinada uma velha enfermaria do Hospital de SĂŁo JosĂŠ, escolha essa ditada pela proximidade Ă Escola MĂŠdica e ao hospital (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). Naquela ĂŠpoca a Morgue de Lisboa encontrava-se reduzida ao estatuto de um mero
entreposto de cadĂĄveres, cujas instalaçþes infectas ameaçavam ruir (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). A Morgue de Lisboa era desprovida de qualquer laboratĂłrio, sendo que grande parte dos exames periciais encontrava-se dispersa por vĂĄrias instituiçþes (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). Pelas descriçþes da ĂŠpoca ali trabalhar era um duplo encontro quotidiano com a morte: com os cadĂĄveres que se acumulavam Ă espera de serem autopsiados e com a ameaça de contĂĄgio, nomeadamente por tuberculose, dada a insalubridade das instalaçþes (Azevedo Neves J, 1922; Santos JC, 1988). SerĂĄ com verbas provenientes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa que o Professor Azevedo Neves irĂĄ conseguir organizar e pĂ´r a funcionar, ainda em 1911, o Serviço de Clinica MĂŠdico-legal e os LaboratĂłrios de QuĂmica Forense, de Biologia Forense e de Antropologia Criminal e PolĂcia
% ~Â&#x153; ÂĄ Â&#x152; Â&#x2020; Â&#x2020; { 1922; Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC 1988). Em 1918, os esforços do Professor Azevedo Neves foram recompensados com a publicação de vĂĄrios decretos (Azevedo Neves A, 1922). ApĂłs uma reuniĂŁo, a 2 de Setembro desse ano, com o entĂŁo Presidente da RepĂşblica, SidĂłnio Pais (1872-1918), Azevedo Neves consegue que lhe seja concedida uma quantia inicial de 300 contos para a construção de um novo edifĂcio e para a transformação Â&#x201E; Â&#x20AC; ~ ~Â&#x20AC;~ de Medicina Legal de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988). Arrancaram, em 1919, os trabalhos de construção dirigidos por uma comissĂŁo presidida pelo prĂłprio Professor Azevedo Neves e da qual faziam ainda parte o Engenheiro LuĂs de Melo e o Arquiteto Leonel $ Â? Â&#x20AC;Â&#x2019; Â&#x20AC; Â&#x2039; amplo e repleto de luminosidade (Azevedo Neves J, 1922; Costa Sacadura S, 1958a). Instituiçþes, como a Fundação Rockfeller, e Â&#x20AC; ~Â&#x153; ~ Â&#x2019; nacional elogiaram-no pelo trabalho desenvolvido no â&#x20AC;&#x153;seuâ&#x20AC;? instituto, considerando-o uma instituição de referĂŞncia mundial (Azevedo Neves J, 1922). Relembrando que, em 1911, quando se tornou Diretor da Â&#x201E; Â&#x20AC;  Â&#x20AC;{ ~  { responsĂĄvel pela docĂŞncia da Medicina Legal nas Faculdades de Medicina e de Direito da Universidade de Lisboa hĂĄ, ainda, que referir que estruturou um plano curricular inovador, que alĂŠm das aulas magistrais incluĂa a participação dos alunos em autĂłpsias foren-ses (Azevedo Neves J, 1914; Costa Sacadura S, 1958a). ApĂłs a jubilação do Professor Azevedo Neves, em 1947, segue-se um perĂodo Jan/Fev | 2013 | 89
histĂłrias da histĂłria
de 10 anos em que nĂŁo houve nenhum diretor mĂŠdico legista e simultaneamente Professor CatedrĂĄtico. SĂł em 1957, o Instituto de Medicina Legal de  ¥ Â&#x20AC; § Â&#x2020; ~ Â&#x20AC; ~ um novo diretor detentor desta dupla condição, o Professor ArsĂŠnio Nunes (1919-1957). Para alĂŠm dos inĂşmeros trabalhos
~Â&#x153; Â&#x20AC; Â&#x20AC; Â&#x20AC; âmbito da Medicina Legal foi, ainda, o impulsionador e o ~ Â&#x20AC; Â&#x2020; ~ ~Â&#x153; portuguesa, de publicação periĂłdica, dedicada a esta ĂĄrea da Medicina, a qual intitulou de Archivos do Instituto de Medicina Legal. VĂĄrias das suas obras continuam, ainda hoje, a ser de leitura obrigatĂłria para quem estuda e exerce Medicina Legal, como o Guia de AutĂłpsias (Azevedo Neves J, 1915; Sacadura C, 1958a). Trabalhos como Le Masque du Cadavre, ~Â&#x153; ~ polĂŠmicos, sĂŁo revestidos de importância intemporal pela inovação do exercĂcio intelectual que constituĂram Ă ĂŠpoca (Azevedo Neves J, 1931). Neste trabalho, sob a orientação do Professor Azevedo Neves, foram registadas, em moldes, dezenas de expressĂľes cadavĂŠricas de rostos humanos. Azevedo Neves concluĂu que apĂłs a morte as expressĂľes desapareciam na fase de resolução muscular, reaparecendo depois a expressĂŁo Â&#x201C; Â?  ~Â&#x20AC; ÂĄ Â&#x152; Â&#x2020; Neves J, 1931; Santos JC, 1988). PorĂŠm, o Professor Azevedo
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Neves nĂŁo esgotou as suas capacidades intelectuais somente na Medicina, mas abraçou ainda um vasto leque de iniciativas de Ăndole social (Costa Sacadura S, 1958a; Santos JC, 1988; Filomena MĂłnica M, 2006). Foi jornalista, vogal do Conselho de Justiça PĂşblica, SecretĂĄrio de Estado e depois Ministro do ComĂŠrcio, Ministro interino dos NegĂłcios Estrangeiros, Presidente da Sociedade de CiĂŞncias MĂŠdicas de Lisboa, Diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa, 1Âş Reitor da Universidade TĂŠcnica de Lisboa e 24Âş Presidente da Academia das CiĂŞncias de Lisboa (Costa Sacadura S, 1958a; Filomena MĂłnica M, 2006). A 10 de Abril de 1958, 3 anos apĂłs a sua morte, o Professor Costa Sacadura proferiu naquela academia o elogio histĂłrico ao Professor Azevedo Neves (Costa Sacadura S, 1958a). Por todo o seu legado, a RepĂşblica Portuguesa agraciou Azevedo Neves com a Ordem Militar de Santâ&#x20AC;&#x2122;iago da Espada e a Ordem de MĂŠrito Civil (Filomena MĂłnica M, 2006). O Professor Azevedo Neves ĂŠ patrono do atual Agrupamento de Escolas Dr. Azevedo Neves cuja sede se localiza na freguesia da Damaia. Citando as emĂŠritas palavras do Professor Costa Sacadura, poderse-ĂĄ assumir que a vida e a obra do Professor Azevedo Neves â&#x20AC;&#x153;nos mostra que a verdadeira Arte de viver ĂŠ aquela que encontra o seu lugar no tempo e assim perduraâ&#x20AC;? (Costa Sacadura S, 1958a).
*>V>  UK R Y @ K R DiĂĄrio do Governo. 1904; 16, 21 de Janeiro. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. Le masque du cadavre. Separata dos Archivos do Instituto de Medicina Legal. 1931; 3: pp. 3-4. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. Serviços MĂŠdico-Forenses. Archivos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa, vol. I, 1922, pp. 194-247. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. Guia de autĂłpsias. Lisboa: Instituto de Medicina Legal de Lisboa; 1915. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. O Ensino da Medicina Legal. Archivos do Instituto de Medicina Legal de Lisboa. SĂŠrie A, vol. I, 1914, pp. 225-258. AZEVEDO NEVES, JoĂŁo. O cancro em Portugal. Medicina Contemporânea. SĂŠrie II, 1906, pp. 393-401. FILOMENA MĂ&#x201C;NICA, Maria ÂĄ §Â? " Parlamentar (1834-1910), vol. III, pp. 52-53, Assembleia da RepĂşblica, Lisboa, 2006. COSTA SACADURA, SebastiĂŁo. Elogio histĂłrico do Professor Azevedo Neves. Separata do Boletim da Academia das CiĂŞncias de Lisboa. 1958a; 30. COSTA SACADURA, SebastiĂŁo. Azevedo Neves, fundador do LaboratĂłrio de AnĂĄlises ClĂnicas do Hospital de SĂŁo JosĂŠ. Separata do Boletim ClĂnico dos Hospitais Civis de Lisboa. 1958b; 22: pp. 397-410. SANTOS, Jorge Costa. A Morgue e a Morte. Revista Povos e Culturas, n.Âş 3, Lisboa, Universidade CatĂłlica Portuguesa, 1988, pp. 491-510.
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