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OPINIÃO
Moacir Lázaro de Melo
Economista, empresário e líder classista
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O vai e vem do ensino médio brasileiro
Não é fácil entender o drama que se tornou o ensino médio em nosso país. A grande verdade é que nosso país nunca deu a devida atenção à educação e, em especial, ao ensino médio. Prova disto é que, nos últimos 20 anos tivemos 16 ministros da Educação, a maioria deles completamente despreparados para o contexto que o momento requeria. É certo também que, com essa alta rotatividade, tornou-se impossível ao ministro do momento fazer qualquer plano ou trabalho de relevância. Assim, a coisa sempre foi no estilo vamos que vamos e salve-se quem puder. Uma lástima. Pois bem, em tempos idos, até o ano de 1971, tínhamos três opções com objetivos bem definidos: cursava-se o “Clássico” para quem desejava estudar Direito e seguir em frente; o “Científico” indicado para quem desejava cursar Engenharia; e alguns “cursos profissionalizantes” como Contabilidade, Normal, Mecânicas e outros.
As três opções davam a oportunidade ao estudante de ingressar numa Faculdade, qualquer que fosse sua opção profissional, desde que tivesse sucesso no vestibular. Os “cursinhos” ajudavam e resolviam as dificuldades. Apesar de poucos cursos profissionalizantes, era muito bom. Passei por isto. Em 1971, sob o argumento de que o país precisava de profissionais para fazer frente ao “milagre econômico brasileiro”, o Governo Militar reformulou o Ensino Médio, obrigando todas as escolas públicas e privadas a oferecer cursos profissionalizantes em um universo de cem cursos (Lei 5.692). A ideia era colocar no mercado de trabalho todos os concluintes destes cursos oferecidos. Porém, tornou-se ruim para os ricos e ideal para os alunos pobres, porquanto poderiam, com seu trabalho profissional, após a conclusão do Ensino Médio, sustentar os estudos ou definir suas vidas doravante. Porém, por pressão política, e dos ricos, evidentemente por meio dos parlamentares, em 1982, o presidente João Batista Figueiredo voltou a alterar o Ensino Médio pela lei 7044, extinguindo a obrigatoriedade da profissionalização e estabelecendo o conteúdo básico do ensino.
A partir de então, os cursos profissionalizantes foram sendo substituídos por cursos universitários, tornando mais difícil a vida do aluno pobre, pois, se parasse de estudar no Ensino Básico não teria nenhuma profissionalização, o que me pareceu, sempre, o pior cenário possível, fato que gerou desestímu- lo em grande parte dos estudantes. Este retorno, com certeza, não foi a melhor opção. Afinal, nos países da OCDE, organização que o Brasil sonha fazer parte, em média, cinquenta por cento dos alunos do Ensino Médio recebem alguma profissionalização; no Brasil, menos de dez por cento.
Por aqui, o aluno, se tiver condições, vai enfrentar o ENEM e, quem sabe, enfrentar mais quatro ou cinco anos para se profissionalizar em alguma coisa. Além disto, o aluno que sonha ser médico, por exemplo, tem a chatice de estudar física, química e outras matérias que nada tem a ver com o seu futuro curso universitário. Fato altamente desestimulador aos alunos.
A globalização chegou. Assim tornou-se necessário falar inglês fluente, a linguagem do computador, ter domínio da internet e acompanhar a inteligência artificial, sabendo que, sem isto, já não temos empregos qualificados, ou seremos os novos analfabetos funcionais.
Neste contexto, em 2017, o presidente Michel Temer, pela lei 13.415 procurou avançar e definiu uma nova organização curricular, tornando o inglês obrigatório, definindo que quarenta por cento das matérias fossem eleitas pelos alunos com vistas, naturalmente, ao curso de seu interesse no futuro. As mudanças visaram possibilitar que nosso país se alinhasse aos padrões do resto do mundo, apesar de não profissionalizar ninguém, o que não foi a melhor ideia.
Agora, início de 2023, descobre-se a dificuldade de realizar o ENEM, pois a maior parte das escolas públicas e privadas não tiveram como implementar o novo modelo curricular. O debate gira em torno da pandemia da COVID-19, ocasionando atraso na implantação e falta de estruturas das escolas, por falta de corpo docente para promover as demandas variadas dos alunos.
Diante deste contexto da confusão criada, que não acabará fácil, acredito com convicção que é necessário avançar mais o Ensino Médio brasileiro, sem medo, profissionalizando quem quiser e dando opções aos demais estudantes de escolher seu caminho. Tudo, porém, exigirá tempo e envolvimento dos governos nas esferas federal, estadual e municipal. Envolve também despolitizar e “desideologizar” o ensino, e, principalmente, ter um ministro da Educação duradouro, comprometido com melhorias e com visão de futuro.
Sem isto, vamos ficando para trás!
A ver e cobrar.