Revista Ragga #60

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#60 , ABRIL , 12 , ANO 6

NÃO TEM PREÇO

REVISTA

exclusivo MUITOS ACHAVAM QUE ERA IMPOSSÍVEL, MAS CONSEGUIMOS. EI-LO EM NOSSA CAPA



REVISTA

RÁAA

SÉRGIO MALLANDRO SOBRE FAMÍLIA, SEXO, DROGAS, MULHERES E SUA VOLTA À TV

CAUSOS

MEMÓRIAS DOS PESCADORES DE RONDÔNIA

171

CARLOS KAISER, O FUTEBOLISTA QUE NÃO JOGAVA BOLA

MENTIRA EDIÇÃO

TOP SECRET

E MAIS: .ESPORTE ATUAL COM

ARMADURAS E LANÇAS .A TRANSEX QUE SE CONFUNDE COM CHER

COMO A CIA USOU LSD PARA EXTRAIR A VERDADE DE INTERROGADOS


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19h_ Coletiva de imprens Restaurante Porcão

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Clínica de stand up paddle com a campeã mundial Nicole Pacelli 11h_ Repescagem PRO 14h_ Pocket Show: Banda Eckolu Lounge Quiksilver 15h_ Quartas de final PRO 18h_ RAGGA SUNSET PARTY • ILoveBubble • DJ Vitor Sobrinho • DJ Vinícius Amaral (naSala) • DJ Lucas Yoshi vs. DJ Pedro Meireles

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11 DE AGOSTO


BÚSSOLA

20

Idade Média Sobre cavalos e com armaduras eles criaram um novo esporte

28

Pega na mentira O jogador que viveu a farra do futebol sem entrar em campo

34

Droga da verdade Como os alucinógenos foram usados em interrogatórios da CIA

48

História de pescador Retratos e casos de quem ganha a vida no Rio Mamoré

64

3 X mulher Ela nasceu homem, mas hoje se divide entre Paula, Pauelette e Cher

74

Além do glu-glu

já é de casa

12 26 38 54 56 66

DESTRINCHANDO

ESTILO , Luiz Cláudio

ON THE ROAD , Uruguai QUEM É RAGGA

RAGGA GIRL , Ilha Pinna EU QUERO , Chocolate

Sérgio Mallandro falando sério — mas nem tanto


EDITORIAL

VERDADE OU CONSEQUÊNCIA Todos precisamos mentir em algum momento. Essa é uma verdade absoluta! Alguns mais do que outros, em níveis diferentes e com consequências diferentes também. Mas não tem santo que nunca soltou uma sequer. Nesta edição, colocamos a mentira como tema principal, a começar pela “pegadinha do Mallandro” na capa. Os pescadores não poderiam ficar de fora e as lentes de Diego Suriadakis flagraram mais do que causos duvidosos. Se você acha que entrar no cinema pagando meia-entrada sem carteirinha de estudante é uma mentira daquelas, conheça Carlos Henrique Kaiser. O cara não gostava de jogar bola, mas conseguiu passar por grandes clubes, como Fluminense, Botafogo, Vasco e até times internacionais, só na base do gogó. Outra que também engana direitinho é Paula Sabbatine, transexual que depois de várias cirurgias se transformou na cópia fiel da cantora Cher. Mas, para conseguir sempre a verdade, somente a verdade, nada além da verdade, a CIA (Agência Central de Inteligência Americana) não media esforços, contando, inclusive, com a ajuda do “soro da verdade” e coquetéis de drogas sintéticas, incluindo o LSD, em seus interrogatórios. Entre histórias de pescador, jogador de futebol que nunca jogou bola, Cher, CIA e salcifufus, uma verdade precisa ser dita: a revista ficou bem legal. Boa leitura. Lucas Fonda — Diretor Geral lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br


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EXPEDIENTE

Criolo

DIRETOR GERAL lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO nathalia wenchenck [nathaliawenchenk.mg@diariosassociados.com.br] GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING rodrigo fonseca [rodrigoalmeida.mg@diariosassociados.com.br] PROMOÇÃO E EVENTOS isabela daguer [isabeladaguer.mg@diariosassociados.com.br] EDITORA sabrina abreu [sabrinaabreu.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTERES bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] flávia denise de magalhães [flaviadenise.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] JORNALISTA RESPONSÁVEL sabrina abreu – mg09852jp NÚCLEO WEB guilherme avila [guilhermeavila.mg@diariosassociados.com.br] lara dias [laradias.mg@diariosassociados.com.br] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO izabela linke [izabelalinke@diariosassociados.com.br] DESIGNERS anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] bruno teodoro [brunoteodoro.mg@diariosassociados.com.br] marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] marcelo andrade [marcelotorres.mg@diariosassociados.com.br] FOTOGRAFIA ana slika bruno senna carlos hauck romerson araújo ILUSTRADOR CONVIDADO pedro felipe [flickr.com/felipekhov] ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra. kiko ferreira. lucas buzzati COLABORADORES diego suriadakis. pedro kirilos. victor costa RAGGA GIRL MODELO ilha pinna DIREÇÃO E FOTOGRAFIA gisele sanfelice FILMAGEM E EDIÇÃO giovanna rouvier MAQUIAGEM giovanna rovier CAPA carlos hauck REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.ragga.com.br/digital] REDAÇÃO av. assis chateaubriand, 499 // floresta belo horizonte, mg // cep: 30150-101 REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora

Guto Mezêncio @gutomezencio – Via Twitter Achei foda a reportagem da @revistaragga sobre o @criolomc! Vale a pena a leitura, galerê! ;D

Janelinha

Cristiane Pessoa Novielo por Facebook Nesta edição levei um grande susto! Na foto [foto do índice, Ragga março 2012] da janelinha, a garota é igualzinha a minha filha, é idêntica. Ela mesma riu demais pensando que fosse ela na revista! Adorei! Ela quer conhecer a sua sósia. abraço!

#ficaadica

André Luiz @quermedar – Via Twitter Meu pai repassa correntes. Preciso mandar a lista de pecados capitais [70 pecados digitais, Ragga/outubro 2011] da @revistaragga pra ele.

Alto astral

Tati Barros @TaticaBarros – Via Twitter Estou lendo o blog da redação da @revistaragga . Como deve ser motivador trabalhar em um ambiente alto astral assim!

PARA ANUNCIAR bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] rodrigo fonseca [rodrigoalmeida.mg@diariosassociados.com.br] SAIBA ONDE PEGAR A SUA www.revistaragga.com.br FALA COM A GENTE! @revistaragga redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

FOI MAL!

Na última Ragga, creditamos erroneamente a maquiagem e a produção do ensaio à Juliana Grandinetti. O correto é Camila Grandinetti.

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Conheça os filmes mais mentirosos já feitos e veja a listas das “pegadinhas” que abalaram o mundo migre.me/8xWQO

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ARTIGO

Nem um passo atrás! “Quem é essa mulher / Que canta sempre esse lamento? / Só queria lembrar o tormento / que fez o meu filho suspirar” Angélica, de Chico Buarque, composta para Zuzu Angel, assassinada pela ditadura brasileira POR LUCAS MACHADO ILUSTRAÇÃO pedro felipe

Mais uma vez, estamos aqui, movidos e viciados em histórias de personagens, marcas e cases que deixaram seus traços para a humanidade. Atravessamos a fronteira, seguimos para a Argentina, saímos dos estádios de futebol, esquecemos Maradona e Messi e vamos contar um pouco de uma história de luta e saudades sem fim. Meados dos anos 1970: onde estavam os jovens revolucionários do nosso país hermano, marcado por protestos e um povo que luta pelo povo? Grito forte, bandeiras, piquetes e presença marcante nas ruas, sedentos pela mudança. Onde foram parar os filhos de uma Argentina dominada pela repressão dos militares? O que restou de uma guerra política covarde, além da tristeza e uma esperança no fim do túnel? Essa é a pergunta que paira no ar e que não quer calar. A ditadura argentina (19761983), a mais sanguinária da América do Sul, deixou marcas que não se apagarão nunca – os militares assassinaram 30 mil civis, entre eles, crianças e idosos, segundo estimativas de ONGs e organismos internacionais de defesa dos direitos humanos. Imagine o que é perder um filho ainda jovem, cheio de vida e de sonhos. Jovens trabalhadores, universitários e revolucionários foram torturados e arrebatados apenas por quererem um mundo melhor para todos. Muitos desistiram e silenciaram; outros enlouqueceram, mas eles não estavam sozinhos nessa luta. Como diz o velho ditado: “Coração de mãe nunca esquece”. É sobre elas que estamos falando, sobre essas mães diante de uma política destruidora, que faziam o jantar esperando seus filhos, os quais nunca mais voltariam. E foram elas que se revoltaram e foram à luta com cartazes, fotos e roupas usadas nas mãos, com a vontade de saber o destino de cada um deles para amenizar a dor. Afinal, quem são essas mães? São as Madres de la Plaza de Mayo (Mães da Praça de Maio). A princípio, eram poucas, que já estavam cansadas de esperar. Uma delas, Azucena Villaflor, se transformou em uma das fundadoras e líder do movimento. Tomou a frente, convocou todas e todos para se reunirem na Praça de Maio. Conseguiram, e a primeira marcha

aconteceu em 30 de abril de 1977. E as Madres seguem, até hoje, todas as quintas-feiras, na mesma Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo. Desde 10 de dezembro de 1977, Azucena é dada como desaparecida. A partir do primeiro encontro, a Praça de Maio se tornou o lugar onde elas se sentiam iguais — apesar de diferentes, a causa sempre foi a mesma. Aos poucos, o número de mulheres aumentava, o que despertou os olhares da polícia, que chegava com bombas de gás e, em poucos minutos, acabava com as manifestações. Os jornais, em conivência com a ditadura, não davam notícias. O pano na cabeça, símbolo das Madres, era justamente para diferenciá-las dos demais espectadores. Elas chegaram a quase desistir, estavam prestes a jogar a toalha, foi quando resolveram fazer uma associação com o nome que entrou para história ao qual As Madres elas já eram conhecidas: Asociaganharam ción Madres de Plaza de Mayo. a mídia por Apesar de censuradas, para insistência, não chamar a atenção, faziam mostraram orações e substituíam os boleo movimento tins de cânticos por panfletos aproveitando recheados de protestos. Assim, o Mundial tomava-se conhecimento sobre de 1978, na os desaparecimentos. Apesar Argentina de algumas delas terem tido o mesmo destino dos próprios filhos, foram adiante. As armas não derrotaram a voz. As Madres ganharam a mídia por insistência, mostraram o movimento aproveitando o Mundial de 1978, na Argentina, quando a imprensa internacional revelou ao mundo o que acontecia no país. A partir dos anos 1980, voltaram com força total, mesmo depois de serem humilhadas, maltratadas e espancadas. Mães que queriam uma resposta, combatendo a força militar em busca da justiça. Essas mulheres não vão e não podem ser esquecidas nunca. O grito que desperta: “Os ideais dos nossos filhos nunca morrerão”. Abraçaram várias causas sociais, têm programa de rádio, a revista ¡Ni um paso atrás! e mantém uma universidade revolucionária popular — que não é reconhecida pelo governo, mas forma pessoas mais justas e do bem, que, com certeza, sabem que um diploma reconhecido nunca será mais importante do que dias de luta. É isso: Destrinchando é falar não para o silêncio, é ter um ideal, existência sem igual, justiça com fidelidade em busca da verdade. A Disneylândia, caro leitor, com certeza, não é aqui. Fui...

J.C. manifestações: articulista.mg@diariosassociados.com.br | Twitter: @lucasmachado1 | Comunidade Orkut: Destrinchando | facebook.com/lucastmachado

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COLABORADORES

Carioca, jornalista e tricolor, Victor Costa já passou pelas assessorias de imprensa da Advocacia Geral da União (AGU) e Eletrobrás Furnas. Atualmente, trabalha como repórter no jornal O Globo. victorcosta_@ hotmail.com

FOTOS: arquivo pessoal

Diego Suriadakis deixou lá na infância todos os seus instrumentos de trabalho. Câmera, lápis, papel, não trouxe nada disso. Não é de fazer perguntas, não é curioso. Só lembra de ser cronista porque existem os prazos, uma hora a edição fecha. Encaixotou a rede de dormir, está de partida, destino impresso na passagem. diegosuriadakis@gmail.com Colaborador da Ragga desde 2008, Pedro Kirilos trabalha atualmente como fotógrafo no jornal O Globo tendo sido finalista do Prêmio Esso de Jornalismo, em 2011. Com passagens pelo Jornal Lance e pela Riotur (Secretaria de Turismo do Estado do Rio), começou a carreira em Belo Horizonte fotografando para o Minas Tênis Clube. bit.ly/kirilos

*A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de março. Sugestões e informações para a edição de maio, entre em contato pelo e-mail da coluna.

PBH literária Incentivada por escritores de todo o país, a Prefeitura de Belo Horizonte reativará o prêmio literário brasileiro que estava parado há quase três anos: o prêmio Cidade de Belo Horizonte. Considerado um dos prêmios mais importantes do Brasil, ele premiará com R$ 50 mil os vencedores de cada categoria. O lançamento ocorrerá neste mês de abril.

Corrida universitária

Dieta saudável Desenvolvido pela paulista Feinkost Indústria e Comércio de Alimentos, o Personal Cróqui Original já pode ser encontrado no mercado mineiro. Primeiro cereal comercializado em porção única e em uma embalagem prática para ser transportada, o produto é vendido em saquinhos com 30g equivalentes a uma porção individual, que pode ser consumida no lanche, no café da manhã, no trabalho ou a qualquer hora do dia. ,16

Com o objetivo de incentivar a saúde e o bem-estar de seus alunos, a Universidade Fumec é patrocinadora da Ragga Night Run. Os alunos interessados em participar da etapa Ásia, que acontece no dia 14 de abril, às 19 horas, no Belvedere, na zona sul da capital mineira, terão desconto na inscrição. Na retirada do kit é necessário apresentar comprovante de matrícula, juntamente com carteira de identidade. As outras etapas do ano estão marcadas para 11 de agosto e 10 de novembro.

Boardsports A Quiksilver, uma das principais marcas de boardsports do mundo, é a patrocinadora oficial do Campeonato Mundial de Wakeboard, Wake World Series (WWS), maior evento da modalidade, que acontecerá no Brasil. Mais uma vez, a competição será realizada no Clube Serra da Moeda, em Nova Lima e contará com os melhores wakeboarders do Brasil e do mundo

Sandero Rip Curl A Renault do Brasil, em parceria com a Rip Curl, acaba de lançar a série limitada “Sandero Stepway Rip Curl”, destinada ao público jovem, que pratica e admira o surfe. O carro é um hatch completo, com design atraente e detalhes diferenciados. O veículo chega ao mercado com detalhes estéticos que permitem a sua identificação imediata. Externamente, o Stepway Rip Curl tem maçanetas, rodas de liga leve e barras de teto na cor cinza inox. Nas portas dianteiras, logo abaixo dos retrovisores, bem como nas soleiras das portas, um adesivo “Rip Curl” identifica o modelo. IMAGENS: DIVULGAÇÃO

POR ALEX CAPELLA

SCRAP SA

fale com ele: alexcapella.mg@diariosassociados.com.br


PEDRO FELIPE

ILUSTRADOR CONVIDADO

[flickr.com/felipekhov] Ya! Desenhista desde pequeno, minha outra realidade foi criada a partir de meus traços, e tendo como certeza seguir nessa linha na préadolescência. Pegando como inspiração um dos trabalhos de Nana Gouvêa, continuei o caminho da ilustração. Obrigado, Nana!

Quer rabiscar a Ragga? Mande seu portfólio para annepattrice.mg@diariosassociados.com.br


COLUNA ,tweets do @tiposdebiscat

DIVULGAÇÃO

Biscate que faz pastel, que vai “para a nigth” e outros tipos

PEDRO FELIPE

< Tipos de biscat >

Biscat que abre a própria pastelaria, trabalha sozinha e coloca no Facebook o título de CEO. Biscat que acha os conflitos na faixa de Gaza absurdos e sem motivo, mas briga na internet por rivalidade Sandy X Wanessa.

BISCAT QUE DIZ “SEMPRE OUÇO O NOME DELA, MAS ATÉ HOJE NÃO SEI COMO É A CARA DESSA ATRIZ LEILA TORRACA”

Biscat que dizia que Lost era um absurdo mas acha Fina Estampa superplausível. Biscat que todo domingo twitta: “MENINAS, O QUE FOI A NOITE DE ONTEM? KKKKKK SÓ QUEM TAVA LÁ VAI ENTENDER!” Biscat que coloca no nick “DIA HORRÍVEL, MEU DEUS, QUANTO SOFRIMENTO” e depois diz “Não quero falar sobre isso. Privacidade, please!”. Biscat que fala “Vamos sair pra night dessa city!! Preciso achar um boyfriend! Hellooo!! Let’s go!!”. Biscat que já teve 8 “amores eternos”.

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Biscat que não trabalha, não estuda, passa o dia todo de pijama e diz nas redes sociais: “UHUUU, NÃO ACREDITO QUE A SEXTA CHEGOU!”. Biscat que não sabe o nome da música e renomeia errado: “Kylie Minogue - Na Na Na, Na Na Na Na, Na Na Na.mp3”. Biscat que fala “Ele fica horas jogando videogame! Parece que não tem vida!”, mas fica o dia inteiro fuçando o Facebook alheio. Biscat que convive com o medo de mencionar sem querer algo sobre a vida do ficante que ela só sabe porque stalkeia ele desde 2004. Biscat que diz “Ay, tô gorda” e já dá aquela pausinha esperando que digam “Magina, cê tá SUPERmagra”. Biscat que defende que um participante de reality-show merece ganhar “porque ele precisa mais”. Biscat que só vai no teatro se tiver NUDEZ ou ATORES DA GLOBO.



COLUNA ,provador

ELISA MENDES

1º de abril

< CRIS GUERRA >

PEDRO FELIPE

41 anos, é redatora publicitária, ex-consumidora compulsiva, ex-viúva, mãe (parafrancisco. blogspot.com) e modelo do seu próprio blogue de moda (hojevouassim.com.br)

CONDENE A MENTIRA DO OUTRO E NÃO TERÁ COMO OCULTAR AS LOROTAS QUE VOCÊ SE CONTA TODOS OS DIAS. FALE A VERDADE E SOMENTE A VERDADE — E ESTARÁ ARMADA A ENCRENCA

,20

“Então é de verdade?” — foram minhas palavras logo que pari meu filho. A gravidez era uma verdade crescendo insistente dentro de mim, até que de fato eu acreditasse. Na outra ponta do tempo, a morte é uma verdade disfarçada de absurdo. Insistimos em pensar que ela não virá. Verdades. Um único fato pode parir várias delas — todas legítimas. A que tomaremos como nossa só depende do ponto de vista. Em uma discussão de casal, quem está com a verdade? Dois fatos serão narrados e os dois serão verídicos. Abra um antigo envelope e ali dentro estará uma verdade que há anos jazia na esperança de liberdade. Peça uma opinião, e uma verdade poderá lhe acertar em cheio a cabeça. Conte uma história do jeito que ela vier à lembrança, e outra personagem poderá se levantar indignada a lhe acusar de estar mentindo. Olhe-se no espelho: ele é sua verdade flipada. Já a foto é um pedaço generoso da ver-

fale com ela: crisguerra.mg@diariosassociados.com.br

dade que você quer ver. Invente uma mentira, e ENFIADA em seu discurso estará uma verdade a seu respeito. Respire — e verá que o verdadeiro ar não lhe falta, embora você nem pare para notar. Condene a mentira do outro e não terá como ocultar as lorotas que você se conta todos os dias. Fale a verdade e somente a verdade — e estará armada a encrenca. (Não se pretende ouvir resposta sincera à pergunta: “Tudo bem? Como vai você?”. Por via das dúvidas, sorria — mesmo se a vontade for de chorar —, o mundo não quer suportar sua tristeza.) “Temos a arte para não viver da verdade”, disse Nietzsche uma vez. Ou será que temos a arte para encontrar o caminho que nos leve à verdade de fato? Ria da sua própria verdade e assim terá a impressão de que é mentira. Faça de um fato uma foto. Invente uma surdez conveniente e não se ouça o tempo todo. Deixe de lado a perfeição, a felicidade, o controle. NADA disso é de verdade. Treinamos os olhos para estar à caça da mentira — vigiamos dia e noite, aguardando o momento do flagra. Difícil mesmo é suportar todas as verdades que nos rondam. A mentira pode ser uma só. Mas a verdade são muitas.


SEA STAR SG

CARLOS RIBEIRO

SS BS NOSEBLUNT / FOTO: FELLIPE FRANCISCO


ESPORTE

CADA UM POR SI E TODOS POR UM (OBJETIVO) BATALHAS MEDIEVAIS SÃO TRAZIDAS PARA TEMPOS MODERNOS, TENDO COMO REFERÊNCIA ELEMENTOS INSPIRADORES COMO DISCIPLINA, HONRA E, É CLARO, MUITA RESISTÊNCIA


PASHAA SANWICK/DREAMLINEPHOTOS.COM


POR DANIEL OTTONI FOTOS Pashaa Sanwick

Trazer para a época atual uma das práticas mais conheda malfeita ou uma lança aplicada em um cidas de tempos medievais pode parecer loucura, ainda mais local determinado pode ser a última façanha quando a coisa é levada a sério, sem o já conhecido teatro de de qualquer um dos cavaleiros. Que o diga o casas que revivem espetáculos de outrora. A definição na págiRei Henry II, da França, que morreu em 1559 na oficial Knights of Mayhem, campeonato entre cavaleiros que quando uma lança se quebrou devido ao imtem como objetivo derrubar um a outro com lanças de madeira pacto e penetrou no visor de seu capacete. Embora tenham visitado maciça, é clara: “it’s no dinner show”, ou seja, não se trata de um O maior nome da atualidade é Charlie espetáculo teatral, não é farsa. Andrews, de 42 anos, considerado o capitão os mais famosos cartõesA prática ganhou tamanha projeção que virou reality show, da trupe e detentor de seis títulos mundiais. postaisAodo não foicompanheiros, num e com uma série de seis programas, do canal National Geographic. lado país, dele estão mais três Tudo muito real, inclusive os riscos, sem espaço para simulaentre eles o produtor da indústria outro ponto turístico, cinemamas ções. Trata-se de um programa inspirado em uma modalidade tográfica Talon McKeenna, de 41. Ainda que no intervalo entre eles, que que, a cada dia, ganha mais visibilidade e divulgação. tenha sempre mais um título como objetivo, Apesar de toda a proteção utilizada por meio de armaduCharlie também temo importante função, uma se constituiu amálgama ras, que chegam a pesar 68 quilos, as contusões são inevitávez que orienta os novatos que se interessam depela experiências que eles veis. Ossos quebrados, luxações e ferimentos são comuns e competição. citam como as mais fazem parte. A morte também está sempre por ali. Uma que“Ele realmente ajuda a valiosas todos. Na verda-


de, isso acontece com todos os que têm mais experiência, que procuram orientar os novos combatentes”, aponta Talon, que acumula quase 500 apresentações nas duas décadas de prática. “Acredito fielmente que a liga pode se transformar, em breve, em um esporte pósmoderno”, resume. As batalhas começaram a ser praticadas há pouco mais de 20 anos e, atualmente, ganham espaço e mais interessados em conhecer o esporte. Os competidores precisam ter boa dose de dedicação e um porte físico que ajude a absorver os impactos. O perfil varia, mas entre os corajosos estão lutadores de MMA, ex-soldados e ex-jogadores de futebol americano. Apesar de ainda se limitar a se realizar nos Estados Unidos, o campeonato

pode ser considerado internacional por contar com competidores de outros países, como Noruega, França, Canadá e Reino Unido. Além de acertar o oponente, os cavaleiros devem saber usar a inteligência para controlar o cavalo durante a inevitável colisão. Tudo vale a pena quando uma bolada de até 50 mil dólares está em jogo, como é o caso da principal competição que acontecerá neste ano, em setembro, no estado americano do Colorado. “A porta de entrada é saber se virar em cima de um cavalo bem treinado, além dos cinco mil dólares para comprar a armadura e outros equipamentos, como a lança, e muita coragem”, comenta Andrews, se referindo à coragem necessária para fazer parte do Ultimate Jousting Championship (UJC), nome 25,


EspetĂĄculos e festivais ao redor dos EUA sĂŁo usados para divulgar as batalhas que lembram os tempos medievais


o competidor também deve reunir características que remetam aos tempos medievais, como integridade, disciplina, força, honra e resistência

dado ao campeonato. Os custos não param por aí. É preciso um grande investimento para realizar a manutenção, alimentação e o transporte de um cavalo de grande porte, assim como a substituição de equipamentos danificados. “Existe um motivo para que a modalidade seja chamada de ‘esporte dos reis’”, justifica Jason Armstrong, de 31. Apaixonado por cavalos, ele realiza hoje um sonho de infância, fazendo da prática um modo de vida. “O melhor de tudo são os impactos. A adrenalina toma conta, mas a parceria entre os competidores também é contagiante”, garante. Apesar de toda a técnica de montaria, o competidor também deve reunir características que remetam aos tempos medievais, como integridade, disciplina, força, honra e resistência. “O mais importante é ter a personalidade de um cavaleiro e o coração de um guerreiro”, diz Jason. Depois de noticiado em veículos do porte de ESPN e The New York Times, a competição ganha força e promete ainda ser bastante conhecida em outros locais. “A reação do público tem sido bastante interessante, principalmente nos últimos anos. Com a exibição do programa, a tendência é de crescimento”, comenta Talon. Nas redes sociais, fica nítido o crescimento do interesse pela modalidade, inclusive por mulheres dispostas a se arriscarem. Por mais que a primeira experiência possa ser a última, os cavaleiros garantem que a adrenalina vale por cada metro percorrido, principalmente quando se acerta em cheio o adversário, fazendo-o cair e sentindo o doce sabor da vitória ser acompanhado da visão do oponente estirado no chão. Definitivamente, um esporte diferente, com ares para lá de medievais.

Charlie Andrews é o maior vencedor das batalhas. Mesmo assim, ele é o responsável por ajudar os adversários a evoluírem na prática


ESTILO

Luiz Cláudio

POR LUCAS MACHADO FOTOS CARLOS HAUCK

Na maioria das vezes, existem duas razões para fazermos qualquer coisa na vida: uma boa razão e a razão verdadeira. Foi a impressão que Luiz Cláudio, estilista e artista nascido em Uberlândia e radicado em Belo Horizonte, nos passou. “Sou meio consumista. Quando estou sem fazer nada, gosto de ler revistas e livros, mas voltados para pesquisa de moda”, comenta. Tudo começou em casa, quando Luiz aprendeu a costurar com a mãe. “Uma das lições que tive é que a roupa tem que ser feita mais pelo avesso do que para o direito. Aos 26 anos, passei a olhar para a moda de outra maneira, ganhei alguns concursos, entre eles o Art Dzarm, fiz uma exposição no MAM, em São Paulo.” Em 1999, com a necessidade de estudar, veio a oportunidade de participar do finado concurso Smirnoff Fashion Awards, realizado em 27 países. E Luiz se inscreveu. “Ganhei a etapa brasileira e fui fazer um desfile em Hong Kong. Ao voltar, a UFMG me deu uma bolsa no curso de moda”, diz. A marca própria, a Apartamento 03, surgiu em 2006, depois de uma produção de 120 peças para a fashion stylist carioca Mariana Sucupira. Ela gostou de um dos vestidos e pediu para usar em uma festa. “Depois desse dia, não paramos mais. Foram pedidos atrás de pedidos.” Luiz gosta de trabalhar a emoção, gosta mesmo é dos tecidos, experimentar a matéria-prima. Já na passarela, o estilista conta que, apesar do trabalho, é hora de pirar mais um pouco, de ter naquele momento mais poesia e romantismo. Finalizamos com as palavras de seu autor predileto, Fernando Pessoa: “O que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto.”

< Kit sobrevivência >

< Luiz usa > blusa Hering calça e relógio Diesel tênis Converse

Coleção de discos da Maria Bethânia

Coleção de mini Coca-Cola (séries limitadas)

Livro do Desassossego Fernando Pessoa Livro Método teórico-práctico de corte y confección del vestido – F. Marti de Gilli (1950) J.C.

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MENTIRA


JOGADOR CARA DE PAU COM PASSAGEM POR GRANDES CLUBES DO BRASIL E DO EXTERIOR, CARLOS HENRIQUE RAPOSO, O KAISER, FEZ DE TUDO, MENOS JOGAR FUTEBOL

POR VICTOR COSTA FOTOS Pedro Kirilos

“Pelo Independiente, da Argentina, fui campeão da Libertadores e do Mundial sem dar um chute na bola”, lembra Carlos Henrique Raposo, mais conhecido como Kaiser, o maior mentiroso do futebol brasileiro nos anos 1980 e 1990. Sua tática era sempre a mesma. Cada vez que chegava a um clube, ele procurava treinar forte. Dias depois, simulava uma contusão no músculo posterior da coxa direita e dificilmente saía do departamento médico antes de terminar seu contrato, que, em sua maioria, era de curta duração, cerca de três meses. No total, foram 26 anos como jogador, nos quais Kaiser atuou no Fluminense, Flamengo, Botafogo, Vasco, Palmeiras e tantos outros, com direito a passagens pelo futebol mexicano, francês e norte-americano. Pelo time argentino, o brasileiro não fez diferente. Simulou uma contusão e ficou afastado do time titular, mas garante que viajou ao Japão com o grupo e que está presente na foto comemorativa, com o elenco completo. Outra história inusitada aconteceu quando Kaiser estava no Bangu. Nesse período, o presidente do clube era Castor de Andrade, um dos bicheiros mais tradicionais do Rio. Dentro de uma boate, às quatro da manhã, Kaiser — que estava afastado do time para entrar em forma — recebeu a mensagem de que o próprio Castor havia pedido a sua presença no jogo contra o Coritiba, que aconteceria na tarde daquele mesmo dia. O então jogador voou para o hotel em que o time estava concentrado. Ao entrar no saguão, percebeu que seus

companheiros de campo já estavam terminando o café e, em pouco tempo, iriam para o jogo. “Estava tranquilo, pois, a principio, ficaria somente no banco de reservas. No entanto, no segundo gol do Coritiba, Castor mandou avisar que me queria em campo. Não sabia o que falar e fui para o aquecimento. Lá, na lateral do campo, alguns torcedores começaram a me xingar. Quando ouvi que eles também estavam falando mal do Castor, não pensei duas vezes: pulei o alambrado e parti para a briga, sendo expulso pelo juiz, antes mesmo de entrar em campo”, conta Kaiser, com um sorriso no canto do rosto. “No vestiário, Castor veio enfurecido conversar comigo. Antes que ele abrisse a boca, expliquei que os torcedores estavam falando que o presidente se metia com coisa errada. ‘Já perdi um pai e não deixo falarem mal do meu segundo pai, que é o senhor.’ Castor já havia melhorado a fisionomia quando falei para não se preocupar, pois meu contrato acabava na semana seguinte. Resultado: ele dobrou meu salário e renovou comigo por mais seis meses.” No melhor estilo Renato Gaúcho, de quem é amigo e fã, Kaiser é um gaúcho com pinta de carioca e cultiva uma considerável cabeleira. Mudou-se para o Rio com poucos meses de vida, quando foi adotado por uma família. Em Botafogo, não perdia uma pelada na rua. Aos 10 anos, foi chamado para jogar no clube que leva o nome do bairro. Pouco tempo depois, ele já era responsável por sustentar a casa. As costumeiras broncas da mãe, que dificilmente não terminavam em agressão, e a obrigação financeira tiraram o prazer de Kaiser em jogar futebol. 31,


Kaiser formou-se em educação física e hoje é personal trainer

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“Quando eu era adolescente, minha mãe vendeu meu passe a um empresário. Naquela época, jogador tinha pouquíssimos direitos e os contratos eram enormes. Conclusão: eu tinha um contrato quase que vitalício com esse tal empresário, e a multa rescisória era astronômica. Pouco tempo depois dessa negociação, meus pais faleceram. Não teve jeito, me tornei uma pessoa muito inconsequente”, explica o ex-jogador. Depois de alguns anos no Botafogo, Kaiser foi parar no Flamengo, com 16 para 17 anos. Certo dia, na Gávea, representantes de um clube mexicano estavam assistindo a um treino e ficaram maravilhados com o jovem. Era compreensível, afinal, ele tinha porte de jogador, uma boa condição física e batia na

bola de maneira elegante. Nada mais. Kaiser atuava como segundo volante. No México, passou a jogar como centroavante e chegou a marcar alguns gols, o que lhe garantiu certo carinho da torcida local. Por lá, ficou três anos e, apesar de já fazer corpo mole, foi onde ele mais se dedicou ao futebol. Depois, voltou para o Rio de Janeiro e chutou de vez o balde. Kaiser jogava onde seu empresário determinava. Numa dessas, foi parar no Ajaccio, da França, e em poucas semanas já havia simulado mais uma contusão na coxa. “Na época, não existia ressonância magnética. Era a minha palavra contra a do médico”, conta. O clube depositou muita esperança em seu futebol, afinal de contas, não foi uma transação barata. No entanto, como sempre se machucava e inventava que estava com problemas de adaptações, os dirigentes do time francês optaram por emprestá-lo a outro clube, por poucos meses. Nessa brincadeira, Kaiser pertenceu ao Ajaccio por 11 anos. “Os dirigentes eram ligados à máfia francesa e gostavam de mim. Não era para menos, tinha pinta de jogador e o investimento foi grande. Eu conseguia enganar muito bem no treino. Não era mau jogador. Se eu fosse ruim, não teria passado por tantos clubes bons. Aliás, só joguei em time grande. Conseguia enganar direitinho no treino, mas na hora do jogo eu sumia, me escondia em campo. Não tinha vontade de jogar bola. O futebol não me dava tesão. Era muito mais divertido tirar onda de jogador na noite. As mulheres caíam em cima.” Kaiser não via problemas em enganar dirigentes. Além de ser um jovem inconsequente, achava que era uma forma de vingar os jogadores, já que são enganados a toda hora no mundo do futebol. Como era bem relacionado, o ex-jogador sempre encontrou um bom ambiente entre seus colegas de trabalho. Era responsável por organizar as festas na concentração. “Tinha a minha tática. Sempre reservava um quarto no andar debaixo para as mulheres. O clube botava segurança na porta do hotel. Era fácil demais, bastava descer a escada”, lembra, revelando que jogar futebol era mais difícil: “Naquela época, o nível técnico era bem melhor. Hoje, o físico fala mais alto. Eu fazia as festas na concentração, mas todos se garantiam no dia seguinte. É claro que de vez em quando sobrava para mim. Como não bebo nem fumo, eu sempre acabava tendo que tomar conta de algum companheiro que havia passado do limite.” Renato Gaúcho, Maurício, Gonçalves, Ricardo Rocha e outros jogadores consagrados já falaram publicamente sobre a sua relação com Kaiser. Sempre lembrando com carinho


Proteja seus olhos. Exija o selo de qualidade ABNT.

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ATACAMA


KAISER JOGAVA ONDE SEU EMPRESÁRIO DETERMINAVA. NUMA DESSAS, FOI PARAR NO AJACCIO, DA FRANÇA, E EM POUCAS SEMANAS JÁ HAVIA SIMULADO MAIS UMA CONTUSÃO NA COXA

do antigo companheiro, mas afirmando que ele era enganador. Macula, que passou por Fluminense e Palmeiras, lembra de quando os dois jogaram juntos pelo Bangu. “Kaiser sempre tem boas histórias. Ainda encontro com ele na Praia do Leme, o que rende muitas risadas. Lembro que, quando nos conhecemos no Bangu, eu era jovem e ele já havia rodado bastante. Era bom jogador e sempre dizia que o importante era jogar contra os grandes.” Apesar de contar essa história, Macula não lembra de ver Kaiser jogar uma partida oficial. Após o fim de sua carreira no futebol, Kaiser se formou em educação física. Atualmente, trabalha numa academia no Centro do Rio, onde dá aula de muay thai, musculação e treina mulheres para competições de fisiculturismo. Sua especialidade é a categoria Wellness, para mulheres que medem até 1m65, na qual treina sua atual namorada, Andreia Ximenes. O ex-jogador está feliz com a nova profissão. Trabalha com o que gosta, sente tesão e é elogiado por alunos. “Kaiser me dá aulas de musculação há poucos meses”, conta o empresário Mario Cesar Galhardo. “Sempre frequentei academias e sei que ele é competente no que faz. Não é enganador como personal trainer. O mais curioso é que eu não sabia do passado futebolístico dele. Descobri por acaso, quando vi uma reportagem na televisão. Meu irmão caiu na gargalhada quando soube que eu estava treinando com ele”, diz. Kaiser passou a seguir o budismo, religião na qual a mentira soa como uma maldade, como ele mesmo costuma dizer. No entanto, não se arrepende de ter enganado dirigentes e torcedores no passado. Para Kaiser, o maior prejudicado de todo essa história foi ele mesmo, que desperdiçou chances de ouro dentro do futebol.

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FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Nos bailes da vida: à esquerda, com os parceiros e ex-jogadores Gaúcho e Renato Gaúcho (de boné). Abaixo, novamente com Renato (centro) e o — na época ainda promessa — jogador Roger (em pé, à esquerda), atualmente no Cruzeiro

A série de “contusões” continuou na sua passagem pelo Ajaccio, da França, durante a temporada 1989/90


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MENTIRA

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GUERRA

ALUCINÓGENA COMO A CIA USOU O LSD E OUTRAS DROGAS PARA EXTRAIR A VERDADE DE SEUS INTERROGADOS

POR Bruno Mateus ILUSTRAÇÃO PEDRO FELIPE

1967 — Verão do amor, revolução de costumes, movimento hippie. Jimi Hendrix tocando fogo em sua guitarra no festival de Monterrey, Sgt. Peppers e um clímax psicodélico marcaram o ano e colocaram para sempre três letrinhas no dicionário daqueles tempos: LSD, o ácido lisérgico. Em 1943, o químico suíço Albert Hofmann estava no laboratório pesquisando alcaloides de um fungo quando começou a se sentir estranho e ter alucinações. Hofmann posteriormente investigou quais poderiam ter sido as causas da “viagem acidental” e concluiu que poderia ter absorvido, através da pele, a substância que tinha acabado de produzir: a dietilamida do ácido lisérgico, sintetizada por ele cinco anos antes. Para confirmar as suspeitas, ele tomou uma dose dissolvida num copo d’água. Rindo feito criança, saiu de bicicleta pela ruas, vendo cores mais vibrantes. Dessa vez não foi nada acidental, e sim a primeira viagem de ácido voluntária de que se tem notícia. Na década de 1960, o consumo alcançou seu auge, muito em função da nuvem psicodélica que cobria aqueles dias, e também por um certo Timothy Leary, psicólogo, neurocientista e grande disseminador do LSD. Se o ácido era bastante popular entre artistas ou

simplesmente entre quem queria ficar doidão, também foi usado em interrogatórios de órgãos e departamentos de investigação americanos. ,Verdade a todo custo

Era começo dos anos 1960. George White se sentou e se pôs a tomar martíni e a observar prostitutas e seus clientes tomando LSD no apartamento que ele alugara em San Francisco. A cena fazia parte do projeto Clímax da meia-noite, e a missão de George, que pertencia à divisão de narcóticos da CIA, era pesquisar a ação de drogas psicodélicas para o governo americano. O oficial analisava o comportamento das pessoas, que nem suspeitavam estarem sob efeito de LSD. A conclusão foi de que os testes com drogas poderiam ser usados em interrogatórios para desinibir o indivíduo, deixando-o indefeso, respondendo a qualquer pergunta sem nenhum tipo de restrição. White sugeriu aos superiores e a CIA começou a usar o método. Segundo uma matéria da revista TIME, de 1977, “mulheres atraíam os rapazes para esconderijos e lhes davam LSD ou maconha, enquanto outros homens olhavam através de um falso espelho e gravavam a cena. As mulheres, aparentemente prostitutas clandestinas, ganhavam 100 dólares por cada trabalho para a CIA”. A paranoia da Guerra Fria também levou o governo americano a desenvolver técnicas para controlar a mente do interrogado. A CIA acreditava que os sovi-

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DIVULGAÇÃO REUTERS/Siggi Bucher

O escritor Hank Albarelli Jr. debruçou-se sobre um misterioso caso que envolve LSD, CIA e um de seus agentes. A investigação rendeu um livro, lançado em 2010

Pai do LSD: o químico suíco Albert Hofmann. Ele faleceu em 2008, aos 102 anos

éticos faziam práticas similares, então, em 1953, foi criado o projeto MKUltra, também com o objetivo de conseguir, com LSD, mescalina, cogumelos e outras drogas, o “soro da verdade”. O governo britânico também se interessou em testar o LSD: em 1953 e 1954, com os cientistas trabalhando para procurar uma “droga da verdade”. Os testes eram realizados com todo o cuidado possível, nada podia vazar. Porém, em 1961, o caso de um interrogatório na França veio à tona. James Thornwell, um soldado negro americano, foi acusado de traidor por um suposto roubo de documentos secretos. O soldado, então com 22 anos, foi preso em Paris e levado a um apartamento, onde foi confinado e torturado por seis semanas. Como não revelou o que queriam, agentes deram a ele LSD em uma dosagem forte. James ficou paranoico, teve um ataque de histeria, mas não falou nada e os agentes acabaram soltando-o. O soldado pediu indenização à Justiça americana. Vinte anos depois, recebeu 650 mil dólares. E nunca mais foi visto. ,Bad trip

Às margens do Rio Ródano, Pont-SaintEsprit é uma comunidade localizada na região de Languedoc-Roussillon, no Sul da França, a 543 quilômetros de Paris. Seus poucos mais de 10 mil habitantes, segundo Censo de 2005, devem saber que a pequena cidade foi cenário de um mistério digno de livros policiais. Em 1951, Saint-Esprit foi assolada por alucinação coletiva de dar inveja às viagens malucas do Grateful Dead pela Costa Oeste americana. A população da cidadezinha, em total de,38


A CIA ACREDITAVA QUE OS SOVIÉTICOS FAZIAM PRÁTICAS SIMILARES, ENTÃO, EM 1953, FOI CRIADO O PROJETO MKULTRA, TAMBÉM COM O OBJETIVO DE CONSEGUIR O “SORO DA VERDADE” COM LSD E OUTRAS DROGAS lírio, via demônios e fantasmas em todos as esquinas, pessoas tentavam fugir de cobras imaginárias. Tem até a história de um menino de 11 anos que tentou estrangular a própria mãe. Duzentas pessoas tiveram algum tipo de distúrbio, mais de 30 sofreram alucinações severas e quatro morreram. O caso ficou conhecido como Pão maldito — na época, culpou-se um padeiro, que teria vendido pão envenenado. Hipótese que o repórter investigativo e escritor Hank Albarelli Jr. refuta. Em seu livro A terrible mistake (2010), ele diz que se trata de mais uma experiência da CIA com LSD. O livro é centrado na obtusa morte de

Frank Olson, químico da CIA que estava em Saint-Esprit no surto coletivo, e nos experimentos do serviço de inteligência americano durante a Guerra Fria. Albarelli afirma que suas investigações e os documentos que conseguiu reunir levam a crer que Frank foi assassinado por ter vazado informações secretas. Ainda há muitos casos que merecem profunda investigação, diz o escritor. Para Albarelli, isso não é coisa do passado: a CIA não só pensava que o LSD poderia ser o “soro da verdade”, como continuaria, juntamente com o governo dos Estados Unidos, usando em seus interrogatórios.


ON THE ROAD ,uruguai

PONTA A PUNTA

DE COLテ年IA DEL SACRAMENTO A PUNTA DEL ESTE. UM RELATO DE VIAGEM

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FERNANDO BIAGIONI

Momento de meditação na passagem por Montevideo, metade do caminho entre Colônia e Punta. Foto bonita por Fernando Biagioni

TEXTO E FOTOS BERNARDO BIAGIONI

Dobra o vento e a saudade, duas dúzias de palmeiras vão ondulando trôpegas pelo retrovisor do carro enquanto o horizonte vaga embriagado pelo sol que desce no céu azul do Uruguai. A flâmula da pátria resplandece vívida pelo semblante das curvas preguiçosas que serpenteiam as histórias desapaixonadas que dançam no vento. O sentimento é de um país livre e encantado, encontrado aqui e agora, por essas almas iluminadas que mergulham os dedos no tempo para respirar com calma. Tem sido difícil viver em cidade, aceitar seus desapegos e maldades que desarticulam a sobriedade dos dias. O Uruguai remete a um Brasil de 10 anos atrás, com seus caminhos e possibilidades enfileirados em um sonho de um futuro mais tranquilo. Toda a minha vontade é de agarrar na brisa o fôlego e a poesia, que não invadem mais estas tardes de quase outono. Coloco o rosto para fora do vidro e logo entendo porque é que Belchior largou tudo para descer até aqui sem escrever a direção. Para trás ondula Colônia del Sacramento e o Balneário de Santa Ana. Dois dias quentes que embaralharam toda a angústia da noite em devaneios soltos e desacertados. Dez da noite e a areia ainda cintilava quente, no Rio da Prata. O sol se punha enquanto arriscávamos caminhadas longas por casas e casebres abandonados pelas estações em tormento. O balneário tem cheiro de vinho, frio, e de orvalho matinal. Dois dias acordando cedo, já com os pés mergulhados na areia, para cumprimentar o oceano atento. Ondula para trás também as ruelas e os becos de Colônia. Casarões coloniais que resistiram ao decorrer dos dias de temporal e maresia. Um patrimônio da humanidade tangenciado pelo rio azul e rasteiro. Vagaroso como os barcos em sossego, as ondas sem trejeito e as tempestades claras e suaves que arrastam as lástimas para longe do medo. Um gole forte de coragem, perdido entre a miragem da Playa de Areniska, a Basílica do Santíssimo Sacramento e o Farol da Colônia. Sinto iluminado o futuro anteposto no para-brisas do carro que avança sobre a estrada. As curvas lisas e desconcer41,


O Uruguai remete a um Brasil de 10 anos atrรกs, com seus caminhos e possibilidades enfileirados em um sonho de um futuro mais tranquilo

Balneรกrio de Santa Ana vive em outro tempo. Os carros sรฃo azuis e antigos, e as garotas se divertem no parquinho.

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tadas como traços, lapsos e colapsos de um pintor meticuloso, velho e louco. Carlos Páez Vilaró, artista que misturou Gaudí e Saramago em si, nos espera de portas abertas na Casapueblo, que brotou nas poucas montanhas do país. Parece mesmo uma flor bela e amparada, uma música de Vinícius aquarelada em sete pequenos copos de uísque vazios. Há de confortar os encantos e os desencontros em desejo. Punta aberta, certa e alardeada em casas e prédios imponentes, de arquitetura contemporânea, mergulhados em sombra na areia fina da Praia Mansa. Versos e contornos de um sentimento rouco e absorto de poder esquecer de tempo, contratempos e desvios mundanos. Estamos cortando o país para dividir as lágrimas, as mágoas e o vento em dois. Todo o nosso tormento vai sendo arrastado para depois. Punta mistura desenhos e formas que só o vento conhece. Uma casa na praia de José Inácio. Abaixo, o refúgio do artista Vilaró, Casapueblo, que já foi tema de uma música do Vinícius de Moraes


MODA

apresenta

A TRADIÇÃO ETNICA DE DIFERENTES POVOS DO MUNDO ENCONTRA A LIBERDADE GIPSY NESTE INVERNO. MIX DE ESTAMPAS, SOBREPOSIÇÕES E CORES ALTERAM O RITMO DO DIA A DIA E CONFEREM MAIS BELEZA ELE. COMO MÚSICA

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FOTOS: ANA SLIKA

POR AÍ

Circus Rock Bar Inaugurada há pouco mais de um ano, a Circus já se posicionou como uma das casas mais interessantes de BH, tanto pela decoração diferenciada, como pelo bom e velho rock ‘n’ roll. Bandas que revivem sucessos de diferentes épocas marcam presença, fazendo a alegria de quem une bom som à presença dos amigos de todas as horas. Rua Gonçalves Dias, 2.010 – Lourdes – Belo Horizonte 31 3275 4344 circusrockbar.com.br ,48


avaliação da casa Para encontrar os amigos

O que sai da cozinha

Quem frequenta

quem. quando. porque A bancária Viviane Mascarenhas, de 30 anos, é frequentadora assídua da Circus desde sua inauguração. Além das bandas de sua preferência, que sempre fazem apresentações marcantes, como a Cash, Viviane dá destaque para o restaurante japonês. “Muitas vezes, algumas pessoas da turma querem comer alguma coisa antes de sair, e na Circus é possível conciliar esses dois lados, com muita qualidade no atendimento”, elogia.

“A Circus ainda tem um longo tempo pela frente e muita história boa para contar” Cola aí Participe da próxima cobertura fotográfica que vai rolar em maio no Jack Rock Bar! Consulte as próximas datas no revistaragga.com.br.

Também chama a atenção de Viviane, desde sempre, a cerveja gelada, no ponto para matar a sede e acompanhar uma boa música. “Nunca falha”, ela garante. Sua preferência é pelas quintas-feiras, quando a casa costuma receber um público de idades variadas. Sempre acompanhada das amigas, a bancária acredita que a Circus ainda tem um longo tempo pela frente e muita história boa para contar. 49,


MENTIRA

Constantino, senhor de matas e cobras e jacarés. “Médico para quê, filho, se não sinto nada?”

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90% de tudo aqui é reserva, só 10% é mentira EM GUAJARÁ-MIRIM E SEUS DOIS DISTRITOS, SURPRESA E IATA, LOCALIZADOS NA BACIA DO RIO MAMORÉ — COM MAIS DE 30.000 KM2 DE EXTENSÃO SÓ NO ESTADO DE RONDÔNIA —, 300 PESCADORES E SUAS FAMÍLIAS, DEVIDAMENTE DOCUMENTADOS, ENCARAM SECA, CHUVA, BICHOS ENCANTADOS, DECRETOS E LEIS DE MAIS DE CINCO METROS DE COMPRIMENTO

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Sereno, o Aida caminha para a boca do Pacaás Novos. Largo e turvo é o destino rio

TEXTO E FOTOS dIEGo SURIADAKIS

Todo cuidado é pouco. Homens imersos em uma realidade fantástica, narrativas e memórias de seus cotidianos ameaçam, em grandeza, a veracidade do universo natural que os envolve. Homens criados na flor d’água, desde pequenos acostumados a ver mundo a cada pôr do sol e ouvir futuros no assovio do vento. Impresso no olhar transparente de Constantino Cristóforo está aquele dia, dia em que ficou cego por algum tempo. Foi na segunda vez que uma cobra lhe acertou no tornozelo. Precisando esquentar água para tratar do ferimento, seu Costinha fez fogueira na beira do rio usando o tato apenas. É que ele tem 82 anos e navega em canoa miúda sozinho, quase mesclado à água. Pesca da hora que o sol nasce à hora que o sol dorme. Ágil feito tucunaré para se livrar do anzol, ele conversa sentado no chão da pascana como se fosse um garoto, fuma seu tabaco forte e não precisa de mais do que o único dente que possui para provar sua vida. O tempo aqui vira feito bicho. Dá para ver a chuva que vem correndo na curva do rio. O escuro abocanha uma fatia de céu, faminto. No grande Rio Mamoré, a tempestade parece sair de dentro da mata, faz onda grossa na água e passa feito mágica pelo teto da embarcação. Era noite. O que foi pescado no dia estava na caixa de gelo dentro do barco. Sua mulher estava em casa, ele não a via fazia 15 dias. Tudo isso está em perigo, o assoalho da canoa está “fazendo água”, não dá mais tempo de esconder o Aida no capinzal. Mas Seu Tito tem muita fé. Anos depois, continua sentado na popa do mesmo Aida que viveu o temporal. Cinquenta e sete anos, 20 como pescador regulamentado. Bandeira brasileira no barco, sotaque boliviano no sorriso.

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Mestre “Cara Suja” leva a família inteira para ver o mundo naquelas bandas

O pirarucu da Amazônia é carnívoro e Seu Constantino conhece bem o seu paladar

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Agulha, linha e esperança, Antônio Crente arremata: “Para pescar o caminho está estreito”

Nestas bandas do universo, a rede de pescar se chama “malhadeira”. Antônio “Crente” anda tecendo, já que tem um joelho a reclamar os 72 anos que possui. Sempre teceu malha, mas já flechou peixe, usou zagaia, preparou groseira e espinhel. Começou de anzol quando era garoto, tanto tempo. Mas não se esquece das coisas, não. Tem uma malha encomendada e vai fiando a se lembrar do finado amigo Manduca brigando com a onça na beira do rio. “E a onça, pobre bichinha, que pula como daqui naquela árvore — uns três metros, pelo menos —, saindo acuada, levando tapinha de facão no traseiro.” “Eita!”, seu Antônio ainda se lembra daquele povoado inteiro que viu, do barranco, bem na boquinha da noite, aquela monstra no meio do rio. Tanta água que o pescoço dela levantou, parecia um navio, uma bichona preta, que nunca ninguém soube dizer se era ou não a Cobra. Saiu de um buraco desses que se vê por aqui: 60, 70 metros de profundidade. E pode ter sido uma outra dessa que acabou com a plantação de melancias que ,54

outro amigo seu, o Geraldo, fez numa pontinha de praia na época da seca. No sábado, as melancias estavam no ponto para comer; no domingo, de banho e desfrute, qual a surpresa do homem quando chegou lá. A Cobra tinha acabado com tudo. Nem melancia nem faixa de areia para contar história. Hoje, poucos jovens se interessam pela aventura da água. Aqui não se vê mais moleque querendo aprender a fazer barco. Áreas de reserva ambiental são blindadas, inatingíveis, pois não têm plano real-plausível-inteligível para o habitante local. É miúda a política de inserção verdadeira para o homem simples que vive da natureza. A fiscalização dos órgãos competentes é tão estreita que já se escutou histórias de pescadores terem ido dormir na margem de outro país, pois na baía daqui não pode, está reservada já. Para se defender de onça ou para comer algo do mato, só se for gritando. Tiro no meio da floresta anda burocraticamente muito perigoso. Mas isso tudo é só dito, só história de pescador mesmo.



QUEM É RAGGA

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FOTOS ANA SLIKA


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Ragga MODELO ILHA PINNA FOTOS GISELE SANFELICE

EU TE AMO CHICO BUARQUE

AH, SE JÁ PERDEMOS A NOÇÃO DA HORA SE JUNTOS JÁ JOGAMOS TUDO FORA ME CONTA AGORA COMO HEI DE PARTIR AH, SE AO TE CONHECER DEI PRA SONHAR, FIZ TANTOS DESVARIOS ROMPI COM O MUNDO, QUEIMEI MEUS NAVIOS ME DIZ PRA ONDE É QUE INDA POSSO IR



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SE NÓS NAS TRAVESSURAS DAS NOITES ETERNAS JÁ CONFUNDIMOS TANTO AS NOSSAS PERNAS DIZ COM QUE PERNAS EU DEVO SEGUIR SE ENTORNASTE A NOSSA SORTE PELO CHÃO SE NA BAGUNÇA DO TEU CORAÇÃO MEU SANGUE ERROU DE VEIA E SE PERDEU COMO, SE NA DESORDEM DO ARMÁRIO EMBUTIDO MEU PALETÓ ENLAÇA O TEU VESTIDO E O MEU SAPATO INDA PISA NO TEU 61,


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COMO, SE NOS AMAMOS FEITO DOIS PAGÃOS TEUS SEIOS AINDA ESTÃO NAS MINHAS MÃOS ME EXPLICA COM QUE CARA EU VOU SAIR NÃO, ACHO QUE ESTÁS TE FAZENDO DE TONTA TE DEI MEUS OLHOS PRA TOMARES CONTA AGORA CONTA COMO HEI DE PARTIR.

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DIREÇÃO E FOTOGRAFIA GISELE SANFELICE FILMAGEM E EDIÇÃO GIOVANNA ROUVIER MAQUIAGEM GIOVANNA ROVIER MODELO ILHA PINNA APOIO MISS SIRENA

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O ENSAIO COMPLETO VOCÊ CONFERE NO EHGATA.COM.BR



arquivo pessoal

MENTIRA

Mulher de verdade PAULA SABBATINE NASCEU HOMEM, FEZ UMA OPERAÇÃO PARA VIRAR MULHER E MUITAS OUTRAS PARA FICAR PARECIDA COM A CANTORA CHER. SEU DEPOIMENTO MOSTRA QUE, APESAR DE DEDICAR O DIA A DIA A SER SÓSIA FIEL DE OUTRA PESSOA, SUA VIDA PASSA LONGE DE SER UMA MENTIRA

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ACESSE Confira fotos e entrevista completa com Paula Sabbatine no revistaragga.com.br

divulgação fábio benedicto

Pensei muito sobre como escrever estas palavras que se seguem. Desafiei-me a encontrar uma única linha de raciocínio que pudesse recorrer a tal imparcialidade do relato jornalístico. E contrariando o tema dessa edição, entendi que não haveria outro jeito, se não a verdade, antes e não apenas, comigo mesma. Começo contando quando conheci Paulette Pink. Como qualquer conhecimento de duração inferior a vinte e poucos minutos foi um conceito, naturalmente, pré estabelecido. O programa era sobre fanatismo. E Paulette era a personagem obcecada pela cantora Cher. Já havia feito incontáveis plásticas, passava horas assistindo e decorando as performances da cantora e mostrou um santuário onde rezava a Ave Maria da Santa Cher. Ao final, me convenci de que aquilo era sério. Questionei o fato de alguém viver uma busca incessante pela identidade física de outra pessoa. Tentar ser outro alguém levaria qualquer sujeito à triste ilusão de acreditar em sua própria inverdade. Foi assim até pouco antes de ela atender o telefone, num domingo a noite, com a voz bastante rouca, admitindo logo nos primeiro segundos de conversa a sua preocupação com o cansaço: “Estava lendo sobre a Carmem Miranda. Ela morreu de estafa, né? E eu to achando que vou morrer de estafa também, mulher! De tanto que eu trabalho”. A espontaneidade do desabafo me desarmou. Esqueci a lista de perguntas e parti para uma conversa um tanto aleatória e não menos surpreendente do que imaginava. Percebi, e confirmei mais tarde, que do outro lado da linha, estava alguém de coragem absurda, desafiando regras e preceitos impostos pela sociedade, sem receio de encarar mudanças, sejam elas físicas ou puramente pessoais, desde que fossem para melhor e para o seu próprio bem. Paula Sabbatine tem 41 anos, é atriz, formada em teatro pela UNESP, artista plástica naturalmente talentosa, transexual precursora da Drag Queen no Brasil, sósia (e não cover, é bom ressaltar) da cantora Cher e perfeccionista assumida.

Antes de se submeter às cirurgias que a deixariam cada vez mais parecida com a americana Cher, Paula diz que nem conhecia a cantora. Foi antes, um investimento profissional em sua carreira como atriz. “Decidi aperfeiçoar uma semelhança que eu já possuía porque aquilo estava me trazendo trabalho. Fiz uma experiência com um show imitando a Cher, fui muito ovacionada e decidi investir”. Em itens, ela traduz o investimento: “Fiz nariz duas vezes, maçã do rosto, bochechas, contorno da face, testa, lixamento da testa, diminuição da testa, implante de cabelo na região para disfarçar as cicatrizes, laser para tirar os pelos do rosto, refiz meus lábios, retirei duas costelas , fiz o bumbum e o seio duas vezes”. Mesmo assim, confessa que não se acha parecida com sua diva e que ainda há muito para melhorar. Não guardo para mim que aquilo me parecia loucura e ela, sinceramente, concorda. Insisto em saber como é ter a sua personalidade e se dedicar tanto a ser parecida com outra pessoa. A possibilidade de se viver um novo personagem a cada dia, é o traço mais fascinante da arte da interpretação. Mas pergunto se ela não acha estranho estar o tempo todo caracterizada de Cher, ainda que de cara limpa, sem fugurino, cabelo preso e óculos escuros. “As vezes eu luto comigo mesma, porque não quero ser ela. Sou a Paula.[...]Minha vida inteira foi um sofrimento, foi uma luta incessante para saber quem eu era”. E completa: “Cada vez eu me sinto mais eu, cada vez eu me sinto mais mulher, cada vez eu me sinto mais Cher.” Em algum momento posterior da conversa levanto uma questão puramente platônica. Filosofia comum sobre o corpo ser o cárcere da alma. Pergunto ainda se as mudanças externas podem mudar a nossa identidade. Ela responde que sim e acredita que “cada um é um pouco escultor de si próprio”. Ao final de cinquenta e poucos minutos de conversa, nos despedimos e continuo pensando sobre essa estranha verdade que arrisco chamar de universal. Entendi que Paula vive, talvez em uma intensidade maior, a mesma busca por quem somos , para onde estamos indo e a vontade de conseguir chegar sei lá onde procuramos.

divulgação

POR lara dias

Parece, mas não é: Paula é sósia e não cover (ou seja, é idêntica à Cher com ou sem produção). Na página ao lado, ainda menino e, aos 19 anos, em meio à transformação

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CONSUMO

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FOTOS: DIVULGAÇÃO

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EU QUERO

CHOCOLATE

Até os maias, que consideravam o cacau um alimento divino, ficariam surpresos com a paixão que o fruto do cacaueiro atrai em nossos dias. O chocolate é homenageado em filmes e canções, é considerado o melhor amigo das mulheres (desculpa lá, diamante) e seus efeitos positivos são comprovados cientificamente (caso da prevenção a doenças como o diabete tipo 2) ou exagerados (como naquela comparação “é tão bom quanto sexo”, que nós sabemos não ser verdade). Não apenas seu sabor, mas também sua forma, cor, cheiro e consistência seduzem os cinco sentidos. E o resultado é a multiplicação do chocolate em todo tipo de produto, do sabonete ao pen drive, passando pela boa cerveja. Todo mundo quer.

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4 1. < DERRETIDO > Para os tradicionais, que acham que lugar de chocolate é mesmo na panela, este aparelho americano de fondue é boa pedida. Antiaderente, em aço inoxidável, tem tampa em vidro incolor — para dar aquela espiada na barra se derretendo —, e oito garfos — para aproveitar junto com os amigos R$ 568* tokstok.com.br *preço consultado em março e sujeito a alterações

2. < PARA GELAR >

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5. < EM BARRA >

6. < IGUALZINHO >

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fotos: DM PRODUÇÕES / divulgação

CULTURA

São Patrício é coisa nossa A tradição começou no Reino Unido, atravessou o Atlântico junto aos imigrantes irlandeses que povoaram a Costa Leste dos Estados Unidos. Também se disseminou por outras colônias britânicas, como o Canadá e a Austrália. E, mais recentemente, passou a ser celebrada em lugares tão diferentes quanto a Rússia, o Japão e o Brasil. Sim, o Brasil comemora o Saint Patrick’s Day, vestido de verde e com cerveja na mão, como manda o protocolo. E Belo Horizonte também fez do 17 de março um dia para celebrar. São Patrício é coisa nossa, já está no calendário local, mesmo que haja quem reclame que a festa nada tem a ver com nossa cultura. O dia santo católico chamou especial atenção em 2011, quando milhares tomaram conta da Savassi para comemorar a data. Em 2012, a ideia foi mudar a festa de endereço e garantir mais organização. O local escolhido ,70

TRADIONAL FESTA IRLANDESA SE FIRMA NO CALENDÁRIO DE BH, DEPOIS DE ALGUMA POLÊMICA

foi o Parque dos Mangabeiras, e os sete mil ingressos colocados à venda se esgotaram com uma semana de antecedência. Na véspera da festa, pela iniciativa da associação dos moradores do bairro, uma liminar da 1ª Vara dos Feitos da Fazenda Pública Municipal cancelou o evento. Mas a Justiça anulou a liminar, na manhã do sábado — menos de quatro horas antes do início da festa, que teve início às 14h — depois de defesa feita por um advogado particular. O vereador Léo Burguês, que defendeu a realização da festa, explica que, apesar das preocupações dos moradores da região, todos os pré-requisitos para a organização de um evento público — “policiamento, presença dos bombeiros, limite de público previamente estabelecido” — foram respeitados. “E a cidade sempre ganha com novas opções de lazer, contanto que bem organizadas”, acredita. A Polícia Militar estima que 5,5 mil pessoas participaram do Saint Patrick’s no Mangabeiras — número abaixo do esperado e dos ingressos vendidos, provavelemente por conta de divulgação de que o evento teria sido cancelado. Não houve ocorrências de depredação ao patrimônio ou de violência. Só festa.



COLUNA

LIVRARADA

Contos de aprendiz (Companhia das Letras)

Em 2012, quando se completam 25 anos da morte — e 110 de nascimento — de Carlos Drummond de Andrade, a Companhia das Letras relançará todo o catálogo em verso e prosa do poeta mineiro, homenageado deste ano da Festa Literário Internacional de Paraty (FLIP). E um dos lançamentos é Contos de aprendiz. O livro foi publicado em 1951, quando o poeta já estava perto dos 50 anos e, até então, nunca tinha se aventurado como contista — mesmo depois, Drummond não escreveu muitos contos durante sua carreira. A obra, que ganha certo tom nostálgico remexendo nas lembranças da infância do poeta, reúne 15 contos que passeiam entre as histórias da acanhada vida interiorana e os atropelos da passagem do tempo. Primeira investida do poeta num livro de ficção, o livro traz contos notáveis como o O gerente, O sorvete e A salvação da alma, que mostram o talento e a genialidade, também em prosa, do poeta maior da literatura brasileira e um dos mais importantes da língua portuguesa.

POR BRUNO MATEUS

Dossiê Drummond, Geneton Moraes Neto (Editora Globo)

Os sapatos de Orfeu, José Maria Cançado (Editora Globo)

Título essencial de qualquer bibliografia sobre o poeta, o livro tem como ponto central a entrevista, reproduzida palavra por palavra, ao jornalista Geneton Moraes Neto em 1987, semanas antes de sua morte. Drummond fala sobre si mesmo, a família e a relação com a poesia de uma forma honesta e reveladora. Além da entrevista, o livro traz depoimentos valiosos e resgata as muitas fitas gravadas pelo ilustre itabirano.

Única biografia de Carlos Drummond, o livro, relançado em edição revista por Cançado em 2006, é resultado de dois anos de pesquisa. Nesse tempo, o jornalista fez cerca de 100 entrevistas e debruçou-se sobre jornais e revistas para traçar o cotidiano e a época do homem e do artista que alargou os limites da poesia brasileira; e mostra, de forma nada previsível, um Drummond além da literatura.

PRATA DA CASA

JOÃO MIRANDA/divulgação

imagens: DIVULGAÇÃO

#drummond

POR LUCAS BUZATTI

PEQUENA MORTE ACESSE pequenamorte.com.br myspace.com/pequenamorte

Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para revistaragga@gmail.com com fotos, músicas em MP3 e a sua história.

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Um ska nada ortodoxo, contaminado por brasilidades, capaz de eclodir um momento intenso — como um transe, como uma Pequena Morte. Formada em 2006, a banda cravou seu nome na cena musical, tocando em shows e festivais pelo Brasil e, até mesmo, em turnês inusitadas na Letônia e na Itália. O grupo, que conta com Raul Gustavo (vocal e guitarra), Tamás Bodolay (bateria), Gustavo Djalva (guitarra), Gabriel Assad (baixo), Rodrigo Borges (percussão) e Jonatha Max (Trombone), lançou, em

2011, o elogiado debut Denefestra!, rendendo indicações para prêmios e dois bem-humorados videoclipes: Tô nem aí e BOM!. Agora, a Pequena Morte quer continuar exercendo sua capacidade de transformar shows em festas calorosas, com uma turnê por regionais de BH e cidades do interior de Minas. “Onde quer que apareçam convites, estamos dispostos a levar música e alegria. Ainda temos muito a fazer. Dois mil e doze está fervendo e a tendência é esquentar mais”, promete Raul.


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COLUNA

AP Photo/Simon && Schuster

Columbia/ony Legacy

Furacão ELÉTRICO

POR KIKO FERREIRA

Essa é a história de um furacão. Um furacão que costuma tocar de costas para o público, que desconstrói suas músicas no palco como um pivete desmontando trenzinhos de brinquedo e aeromodelos. Bob Dylan é um trovador folk que virou roqueiro, que um dia se tornou crente, que apresentou a erva maldita aos Fab Four, que inspirou gerações de fanhos e cantores não convencionais e fez a indústria musical descobrir que mensagem complexa e poesia sofisticada podiam vender discos e criar mitos. Artista individual mais influente da história da música, Dylan começou fazendo um mix do blues de Robert Johnson e Muddy Waters com o country de Hank Williams e as canções de estradas de ferro do trovador folk Woody Guthrie. Influenciado pela literatura de Jack Kerouac e o cinema do rebelde sem causa James Dean, foi, com o tempo, incorporando elementos da música religiosa, do rock e das sonoridades hispânicas. Nascido Robert Allen Zimmerman, adotou o codinome Dylan em homenagem ao poeta Dylan Thomas. Seu prêmio Pu-

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litzer, de 2008, reforça o poder literário de suas letras. Versos como “o tempo é um oceano que acaba na praia” e “a felicidade não está no caminho que leva a algum lugar, mas no próprio caminho” são dignos da melhor poesia escrita. Seu humor, nem sempre suave nem paciente, provocou situações como a de uma entrevista em que um jornalista pede uma palavra aos fãs e ele responde, na lata: “Astronauta”. Palavra dada, entrevista encerrada. O chamado turning point da carreira do trovador aconteceu em 1965/1966. Compositor e cantor ligado ao movimento folk, uma espécie de MPB americana, ele era um ídolo da música de protesto, com hits como Blowin’ in the wind, Masters of war e Girl from the north country. Tinha 25 anos e era o principal porta-voz da esquerda americana, empunhando seu violão como arma, a partir dos bares de Greenwich Village.


AP Photo/Kevork Djansezian

AP Photo/Kevork Djansezian

De repente, surge no palco empunhando uma guitarra elétrica e, acompanhado pelo grupo The Band, dispara relâmpagos elétricos sobre um público estupefato, que reagiu com gritos de “Judas” e “traidor”. O rock Like a rolling stone, com os até então inimagináveis seis minutos de duração (música pop tinha entre dois e três minutos), foi um sucesso imediato e se tornou um clássico instantâneo, com os versos “quando você não tem nada, não tem nada a perder”. Mesmo voltando a soar country no álbum Nashville skyline, de 1969, e nunca abandonando a forma da canção, passou a ser um ídolo pop, um ícone rock, um artista definitivamente popular. Sem perder a densidade. O célebre álbum de capa azul, Greatest hits, de 1969, é seu disco mais conhecido e mais vendido no Brasil. Ali estão boa parte dos clássicos que os brasileiros conhecem. Um segundo volume veio em 1971, sem a mesma repercussão por aqui. Em 1973, ele lançou um álbum cult, com a trilha sonora ao filme Patt Garret & Billy the Kid, em que também trabalhava como ator. Um faroeste com música e fotografia deslumbrantes. No ano seguinte, o álbum Before the flood seria o registro mais fiel e emocionado de sua parceria com a The Band. O álbum Desire, de 1976, trazia um Dylan com som mais encorpado, com o megahit Hurricane, outra faixa longa que tocou muito

Bob Dylan é um trovador folk que virou roqueiro, que um dia se tornou crente, que apresentou a erva maldita aos Fab Four e que inspirou gerações de fanhos

em rádio e contava a história de um boxeador prejudicado por um erro judicial. Descendente de judeus russos, Bob Dylan se converteu ao cristianismo no início dos anos 1980, quando os discos Saved e Shot of love decepcionaram os fãs e foram recebidos com críticas negativas. O sintomático Infidels, de 1983, trazia outro grande sucesso, Jokerman. As décadas de 1980 e 1990 foram de produções irregulares, incluindo um encontro com a banda Grateful Dead e um disco tributo, celebrando os 30 anos de carreira. A partir do Unplugged, da MTV, de 1995, Dylan retomou o rumo criativo e, apesar de não emplacar mais hits indeléveis como os das primeiras décadas de carreira, realinhou as vendas e as boas críticas. Agora, ele termina a gravação de seu 35º álbum, com produção de David Hidalgo, do grupo Los Lobos. Aos 70 anos, sua influência na indústria e na cena musical é, sem dúvida, menor. Mas sempre se pode esperar uma revolução de um poeta de seu porte e relevância.


PERFIL

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MALANDRO É MALANDRO


CRIADOR DA PORTA DOS DESESPERADOS, REI DO IÉ-IÉ E DO GLU-GLU, SERGINHO VOLTA À TV COM UM REALITY NO MULTISHOW. E GARANTE QUE NUNCA SAI DO PERSONAGEM — OU NUNCA É O PERSONAGEM — SÓ HUMORISTA O TEMPO TODO

POR Bruno Mateus E SABRINA ABREU FOTOS CARLOS HAUCK

Ainda criança, antes de ser expulso de quatro colégios, ele era bom em redação — “ganhava todos os concursos”. Uma vez, escreveu sobre um menino que queria trabalhar na TV, teve a oportunidade de ir ao programa do Chacrinha, se destacou e ficou famoso. O texto se mostrou profético, “só que, em vez de com o Chacrinha, a chance veio com Silvio Santos”, conta Sérgio Mallandro, lembrando a participação, no início dos anos 1980, no programa Cidade contra cidade, quando sua espontaneidade rendeu o convite para estrear na TV. No ano seguinte, isso aconteceu de novo: Antônio Calmon, diretor de Menino do Rio (1982), o convidou para participar da produção, porque era o amigo extrovertido de André di Biase, ator principal do longa. “Sempre disseram que eu deveria trabalhar na televisão”, diz. O primeiro a despertar a vontade de Sérgio, aos 16 anos, foi outro ícone do meio: Chico Anysio. Eles se conheceram porque o rapaz trabalhava no local onde seria gravado um comercial com o personagem Coalhada — o jogador de futebol estrábico. Quando viu o adolescente se movimentar no estúdio, o humorista consagrado não teve dúvidas e fez um teste com ele em frente às câmeras. “Disse que eu era comunicativo, um talento, tinha jeito para a coisa. Acabei participando do comercial.” Na década de 1990, num reencontro entre os dois, Serginho foi convidado a participar da Escolinha do Professor Raimundo. Mas não interpretando um personagem. “O conselho do Chico foi: seja você mesmo, não mude, que vai dar certo. As pessoas gostam de você.” Vinte anos depois, o conselho continua sendo levado a sério. Serginho afirma que é sempre o mesmo, diante das câmeras ou longe delas. Serve para papéis no cinema, como o Bob de Lua de cristal, para sua participação em realities, como A fazenda, para o dia a dia com a família — que acaba de passar para a frente das câmeras, com o reality Vida de Mallandro, do Multishow. Na conversa depois de apresentar seu stand-up em BH, ele emenda as respostas com falas do texto apresentado horas antes. Solta um monte de ié-ié, salcifufu, glu-glu e ráaa, intercalados entre as frases e, muitas vezes, seguidos do tão característico abre e fecha das mãos, à altura do rosto. Confunde os entrevistados. Quem estaria à nossa frente: Sérgio Mallandro ou Sérgio Cavalcanti? A resposta tem tom de piada: “Não sei quem é o Cavalcanti, me esqueço dele. Se me chamam por esse nome no hospital, por exemplo, nem atendo”, garante, enquanto os entrevistadores continuam na dúvida.

BRUNO: VOCÊ AGORA ENCHE TEATROS COM SEUS SHOWS, RECEBE HOMENAGEM DE UNIVERSITÁRIOS. DE PERSONAGEM TRASH VOCÊ SE TRANSFORMOU EM ÍCONE CULT?

FIZ MUITA FESTA trash em São Paulo, participei de várias festas anos 1980, tenho uma banda, a Salcifufu, que canta músicas dos anos 1980, com fantasias de Sidney Magal, Gretchen. Cantamos ao vivo músicas da Blitz, RPM, Mamonas, é uma banda bem legal. E eu já vinha fazendo shows para os universitários, sou patrono de várias faculdades, sou patrono aqui na UFMG. SABRINA: VOCÊ SE LEMBRA DE QUANDO COMEÇARAM ESSES CONVITES?

A PRIMEIRA VEZ que me toquei disso foi no Largo São Francisco [faculdade de direito da USP]. Fui convidado para fazer uma palestra há uns cinco anos. Falei para o cara que me chamou: “Marca lá no dia 20”. Chegava no dia 15, eu falava: “Não vai dar para ir, brother”. Eu estava meio grilado, pedia para marcar dia 30, chegava dia 25 eu falava que não ia dar, até que o cara falou: “Tá grilado com o que? Os caras só querem te ver, eles gostam de você”. No dia que eu fui, a sorte é que eu tinha uma câmera dentro do carro: os caras vieram me pegar dentro do carro: “Hey, hey, hey, o Mallandro é nosso rei”. Eu tenho essa filmagem, entrando no Largo São Francisco lotado, aquela homenagem toda. Fiquei emocionado, os moleques cantando minhas músicas. Depois de 10 dias, pedi para o produtor ir lá saber o que eles tinham achado da minha ida. Pô, todo mundo falando: “Sérgio Mallandro é nosso ícone, é nosso mestre”. Fiquei muito emocionado, não sabia que eu representava tudo isso para esses universitários. Dali em diante, fui chamado para fazer show na [Faculdade] Casper Líbero, fizeram uma puta de uma homenagem para mim. Depois fui para várias faculdades no Brasil todo, fazendo shows para universitários. 77,


S: E você tem esse tino comercial?

Sou artista, mas, por exemplo, quando olho para alguma coisa, penso: “Se eu apostar nisso vai dar certo”. Tenho meu escritório, o pessoal que cuida das minhas coisas. Sou um cara muito avoado, minha parada é ser artista. Tudo o que fiz na minha área deu certo. Fiz 12 filmes e todos foram ótimos, recorde de bilheteria, fiz o Menino do Rio, Garota dourada. No Menino do Rio, eu nem era artista, eu era amigo do André di Biase. O diretor me viu e falou: “Esse cara aí é muito falante, serve para trabalhar no filme”.

cho”. Jogar ovo no garoto mais fraco? Também tô fora. Vamos roubar sorvete da padaria? Aí tudo bem. Vamos roubar bala do baleiro? Aí não, o baleiro está trabalhando.

B: Sempre teve carisma, né?

É, sempre gostei de falar muito. Por exemplo, o que faço aqui no palco, que vocês viram, eu fazia na praia, brother, fazia na minha casa. Quando tem churrasco na minha casa, é proibido ter música, gosto de conversar com as pessoas. Eu falo: “Meu irmão, conta aquela história de quando a gente penetrou naquele clube lá, lembra?”. Sempre fiz isso — o que faço no teatro, eu fazia na praia. Começava a contar o bagulho, de repente tinham dois, 10, 20... Era um show-praia. Hoje, no teatro, conto a história da minha vida, claro que, às vezes, colo um molhinho aqui, outro ali, e conto exatamente a minha história. S: Você vai voltar para o cinema?

Devo fazer um filme com o André Morais e o Lúcio Mauro Filho, Dois malandros em Las Vegas. O André é um grande diretor, fez o Ópera do Mallandro, com todo mundo me homenageando. Até achei que fosse engano quando ele ligou dizendo: “Quero fazer um filme sobre suas obras”. Obras na casa de Búzios? Estou mesmo fazendo uma sauna e um banheiro lá. “Não, suas obras, Bilu Teteia, Glu-glu, Porta dos desesperados. E tem mais: o elenco do filme é Lázaro Ramos, Thaís Araújo, Lúcio Mauro Filho, Ângelo Paes Leme”. Aí, quando ele falou que o Caetano Veloso cantaria a música, falei: “Hora de desligar”. Foi um sucesso, ganhou prêmios e [o diretor] me convidou para filmar ese longa no fim do ano, o Dois Malandros em Las Vegas. B: Seu pai [Edgard] faleceu quando você tinha 11 anos. Sua mãe [Leila] se casou três anos depois com o General [Caio Marcos Ovale de Lemos, veterano de guerra, capitão da Força Expedicionária Brasileira], você foi expulso de quatro colégios. Como foi isso?

Fui expulso a primeira vez no primário, bicho. Eu era um garoto muito levado, interrompia as aulas. O professor falava: “Agora vamos chegar à Bahia”. Aí eu [imita voz de criança]: “Ah, chegou na Bahia? Não tem aí uma cocadinha, um pé de moleque?”. Para fora da sala! Mas eu não era o levado ruim, o cara que explodia bomba no banheiro, que sacaneava, que dava porrada nos moleques. Não era nada disso, era o cara que fazia graça, tudo tinha uma gracinha, uma frase final. Gostava de coisa engraçada, batia o sino antes — pegava uma linha de nylon e, lá da árvore, batia o sino e todo o colégio saía para o recreio. Ao mesmo tempo, tinha amigo meu que explodia bomba no banheiro, eu falava: “Tô fora dessa aí, bi-

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B: Como começou o projeto do reality show?

Foi o seguinte: fui fazer uma participação no Prêmio Multishow [premiação musical do canal, em 2011] com a Porta dos Desesperados e fui convidado pelos diretores para fazer um reality. Eu estava em casa um dia, com o Pedro Peixoto, que é um dos diretores do programa, bolando um projeto para apresentar para a televisão. Minha casa é muito grande, moro com minha ex-mulher, a Mary Mallandro, e meu filho, Sérgio Tadeu. Eu morava em São Paulo e, quando fui fazer a temporada no Rio, era para ficar dois meses, mas o sucesso foi tão grande que fiquei dois anos e meio. Comecei a ficar mais no Rio, me entusiasmei, comecei a reformar a casa. Fui ficando, falei com a Mary: “Pode ficar todo mundo aqui, vamos morar todo mundo junto”, a Mary é como se fosse minha irmã. Pô, então mora ex-mulher, meu filho, tenho minhas namoradas, entra e sai, uma confusão, meu filho agora só quer ficar com as mulheres, não namora. É engraçado, são tribos diferentes, e ao mesmo tempo estou fazendo obra, tem seis operários lá em casa, quatro ou cinco empregados. Um dia eu estava com uma gata lá em casa e a Mary fez um comentário esquisito, coisa de ex-mulher: “Se a mulher é magra, é magra demais; se é gostosa, tem cara de puta”. Bota defeito em tudo. Virei para o Pedro e falei “Pô, a gente batendo a cabeça para fazer um programa, se você tivesse uma câmera aqui, tu filmava isso aqui e já era o programa”. Ele estava pensando exatamente isso. S: Você topou de primeira?

Adoro televisão, minha vida já é um reality show. Quando saio na rua, já estou sendo monitorado, filmado. Se você sair comigo na rua, vai ver: é só isso. Tive um furúnculo, fui ao [hospital] Barra d’Or morrendo de dor. Entrei, e o estacionamento estava lotado. Falei: “Irmãozinho, tô com um furúnculo aqui, onde tem vaga?”. “Você é o ié-ié, né? Ié-ié!”. Perguntei onde tinha vaga, ele disse: “Ali à direita”. Cheguei e não tinha, pô. “Pegadinha, é só do outro lado!” [risos]. Levo numa boa, acho que isso é uma homenagem. B: Até pouco tempo, você não gostava de dizer sua idade. Por quê?

Não sei mais a minha idade. Tem momentos que tenho 18 anos. Se vou jogar talento numa gata, tenho 32. Quando é uma gata mais séria, tenho 50, um cara mais vivido. O artista não tem idade, já não sei mais quantos anos eu tenho. Vou falando a idade conforme a situação que estou vivendo.


S: E você é paquerador mesmo?

Quando estou com uma gata, vivo intensamente com ela. Outro dia na Fernanda Lima [no programa Amor & Sexo, da Rede Globo], ela perguntou quem se dava melhor com a mulherada: o humorista ou o poeta. Falei que o humorista pega muito mais mulher, ele faz rir para depois fazer chorar [risos]. S: E tem que ser fiel?

Fiel até a página cinco. O coração tem que ser fiel, quando você ama você é fiel. Todas as vezes que amei eu fui fiel. Quando só gostava, realmente às vezes acontecem coisas que você não é responsável por você mesmo. B: Seu pai faleceu de infarto, seu irmão [Cláudio Magarra] também. Você se cuida?

Sim. Não bebo — bebo quatro cervejas e fico bêbado, mas você não me vê bebendo em churrasco, praia. Nunca fumei, nunca usei droga, e as pessoas não acreditam, acham que sou louco: “Pô, Sérgio Mallandro deve cheirar isso, usar aquilo”. Sempre tive receio de ficar fora de mim. Não tenho nada contra ninguém, se usa ou não. O cara pode usar o que quiser e ser generoso, maneiro, íntegro. Agora o cara ali não usa nada e é um puta de um zé mane, não ajuda ninguém, fala mal de todo mundo. A grande malandragem da vida é saber seu limite. Perdi muitos amigos para as drogas, falo para os meus filhos: “Vocês

têm que saber o que é certo e o que é errado”. Meu filho de 26 anos é igual a mim, não usa nada, não fuma nada, não bebe. S: Você se orgulha disso?

Claro. O que acontece é o seguinte: a preocupação hoje em dia para quem usa droga é se ele tem o limite. Se não tem, você vai acabar vendo seu filho numa clínica. S: Você tem algum vício?

Quando estou me relacionando, faço muito ié-ié, e às vezes mudo de ié-ié para glu-glu. Tenho alguns vícios relacionados ao sexo que não posso falar na revista. S: Você se arrepende de alguma pedaginha? A do Rafael, ex-Polegar, por exemplo. [Rafael Ilha havia recém-saído de uma clínica de reabilitação. No quadro do programa, um ator oferecia açúcar para ele fingindo ser cocaína.]

Não, não me arrependo de nada. Todas elas deram muita alegria para quem fez, para


A malandragem é ter fé

quem viu. Acho que tudo tem sua hora, tudo faz parte do seu momento. Naquele momento foi ótimo, em outro já não seria. Tem umas pegadinhas que hoje já não daria para fazer. A gente fazia umas pegadinhas na época — todas as televisões faziam — com arma, com tiro, e hoje não dá mais para fazer. B: Você acha que tem limite para fazer humor ou vale tudo? Teve a polêmica com o Rafinha Bastos.

O humor não deve ter censura, mas cada humorista tem que ter bom senso, saber até onde ir. Se vejo na minha plateia uma pessoa que é portadora de deficiência, não posso chegar e fazer uma brincadeira com isso. Ele ou a mãe dele podem ficar tristes. Tenho filho e, se ele tivesse um problema e alguém fizesse uma piada, iria doer no meu coração. S: Quando decidiu fazer stand-up, chegou a assistir alguns para apreender a técnica?

Uma amiga minha morava em Los Angeles e me ligou: “Serginho, você precisa fazer stand-up comedy, aqui em LA é um sucesso”. Isso foi há uns quatro anos. Entendi “estandarte”, nem sabia o que era. Depois, outra amiga me chamou para assistir uma apresentação de stand-up num bar, em São Paulo. Fomos em Moema, e os moleques viram que eu estava lá, me chamaram para subir ao palco. Peguei o microfone, comecei a contar umas histórias minhas, minhas com a Xuxa, todo mundo rindo, o cara perguntou se eu poderia ir na outra quinta. Aceitei. Cada um fazia 15 minutos. Meus 15 viraram 30, ninguém me deixava sair do palco. Comecei a ir a outros, do Bruno Mota, Maurício Meireles, Fábio Rabin. Começaram a me chamar para fazer: eu, Luís França, Marcelo Adnet, Dani Calabresa. Comecei a sentir a parada do palco, gostava da pegada. Comecei a fazer uns corporativos e a temporada no Teatro dos Grandes Atores — entrei em janeiro de 2010 e saí em março de 2012, fiquei mais de dois anos no Rio. Saí do teatro para ir para A fazenda, deixei o teatro abarrotado. B: Em 2008, você se candidatou a vereador em São Paulo. Qual era o seu objetivo na política?

Tenho uma creche, em Guarulhos, que se chama Santo Expedito, e ela atende 80 crian,80

ças. Me falaram: “Se você for vereador, pode ter umas 10 creches”. Então, tentei ser. S: Você tentaria outra vez?

Não, foi uma experiência única, para nunca mais tentar. Primeiro me falaram que eu apareceria na TV para divulgar minha candidatura — isso é uma coisa muito cara e eu não gastaria com isso. Então, se as pessoas soubessem que eu era candidato e eu tivesse uma chance, como político, de fazer as creches, como uma recompensa pelo carinho que as crianças me deram, eu acharia legal. Tenho minha creche e sou orgulhoso dela, ela está lá, acho maior barato, mantenho há mais de 15 anos, eu e Marilu, uma mulher com mais de 100 filhos — ela pega as crianças na rua. Na verdade, ninguém sabia que eu era candidato, eu andava na rua e continuava tudo igual, o pessoal tirando foto, brincando, fazendo ié-ié. Eu falava: “Vai votar em mim?”, e o pessoal nem sabia, nem sei como tive quase 23 mil votos. Depois da eleição, muita gente me ligou falando: “Meu irmão, se eu soubesse, teria votado em você”. Mas, bicho, não tinha como mostrar. Graças a Deus, não entrei. Depois, estudando mais a fundo, acho que seria muito difícil fazer o que eu queria fazer. E acho que contribuo muito mais como artista. Mas essas experiências são boas para aprender. Político é político, médico é médico e artista é artista. Não pode fugir da sua essência, sou artista, tenho que fazer o melhor no palco. O Chico Xavier me falou isso em Uberaba: “Sua missão é fazer as pessoas ficarem alegres”. S: Você é religioso?

Comecei minha vida sendo católico. Meu filho se chama Sérgio Tadeu por causa de São Judas Tadeu, sempre tive muita fé, fui muito à igreja de São Judas. Depois que conheci o Chico Xavier, passei a acreditar também no kardecismo. E minha vida, eu acho, é Jesus. Minha religião é a seguinte: se fizer o bem, vem o bem. Você tem que limpar a frente da sua casa sem jogar a sujeira em frente à casa dos outros, porque depois acaba voltando para sua casa. Tem que saber onde descartar


QUANDO ESTOU ME RELACIONANDO, faço muito ié-ié, e às vezes mudo de ié-ié para gluglu. Tenho alguns vícios relacionados ao sexo que não posso falar na revista

seu lixo, sem sujar o vizinho, essa é a malandragem da vida. A malandragem é ter fé. B: Você falou em essência, o que muda do Sérgio Cavalcanti para o Sérgio Mallandro?

Muda porque, quando chega um oficial de justiça e pergunta: “Aqui mora Sérgio Cavalcanti?”, digo: “Não sei”. Outro dia fiquei parado numa consulta médica, achando que estavam demorando para me chamar, mas alguém estava falando “Sérgio Cavalcanti, Sérgio Cavalcanti”. Me esqueço desse nome. Sou pai de três filhos e lido com eles como se fosse Sérgio Mallandro. Minha filha morre de vergonha, porque é só glu-glu, ié-ié, ela fica louca. Ela é toda patricinha, educada, estudiosa, mora em Londres. O outro [Edgard, que também mora em Londres] fica orgulhoso, tira onda. O de 26 anos [Sérgio Tadeu] me ajuda nos meus negócios, vende meus shows, também é ator e publicitário. Sou Sérgio Cavalcanti quando tenho que chamar a atenção deles, mas, mesmo assim, nunca perco meu humor. Dou pouca bronca para eles, mas dou muito exemplo. Minha filha perguntou se deveria voltar para o namorado. Falei: “Fi-

lha, você pulou numa piscina e no meio dela quase se afogou — que foi o fim do namoro, quando ela sofreu muito —, para chegar até a outra borda, você veio de cachorrinho e se afogando. Agora que, finalmente, chegou do outro lado e saiu da piscina, você me pergunta se deve pular lá no começo de novo? Agora, você pode ir para a praia, para uma lagoa, para qualquer lugar”. E ela: “Não estou entendendo nada, nem sei nadar direito” [risos]. B: Você viveu os anos 1980, quando se começou a falar em AIDS e alguns casos começaram a aparecer na imprensa. Você perdeu amigos para a doença?

Perdi. Atores, cabeleireiros, figurinistas, cantores, professores de jiu-jtsu. Era um pânico total, ninguém sabia o que era. Todo mundo se relacionava sem camisinha, de repente 81,


ARQUIVO PESSOAL

aparece a tal da AIDS, nunca mais transei sem camisinha. O primeiro que morreu foi Lauro Corona, era meu amigo. S: Choque para todo mundo, porque ele era um galã da Globo.

reprodução da internet

Em 1982, ano em que Vem fazer Glu-glu vendeu um milhão de cópias. Em cartaz com Xuxa (1990) e Faustão (1991). Tempos de reality show: com Britto Jr., de A Fazenda, e ao lado da ex-mulher e do filho caçula, em Vida de Mallandro

Choque, ele era lindo. E, coitadinho, ficou com vergonha de falar, não se manifestou igual o Cazuza. Foi um dos primeiros a morrer e era meu amigo: eu, ele, a Glorinha Pires. Depois veio o esclarecimento, você pode abraçar e dar carinho para alguém que é soropositivo. Desde então, me previno: pode ser quem for, pode ter cara de anjo, eu uso [camisinha] mesmo. E é aquela GG [risos], porque a outra me aperta. Ié-ié. S: O que você gosta de ouvir?

Declarações de amor, uma mulher chegando ao meu ouvindo e dizendo: “Vamos agora? Custa R$ 30”. B: Mais barato DO que seu show.

Outro dia o cara falou pra mim que agora resolveu pegar menina só de 20. Vinte reais. B: Música, o que você ouve?

Elvis Presley, adoro as músicas românticas dele. Escuto U2, O Rappa, se eu estiver numa festa e rolar sertanejo, tudo bem. Danço conforme a música. Amo Roberto Carlos. Gosto de Rolling Stones, gosto de tudo, depende do momento que eu estiver vivendo. S: Além do reality e dos shows pelo Brasil, o que vem agora?

Agora estou lançando a música O beijo do macaco, fiz em parceria com meu amigo Marcos Simpson. B: Quem é Lennon e McCartney! Gianne Carvalho

ROBERTO e Erasmo. S: Michael Sulivan e Paulo Massada. B: Mallandro e Simpson. S: Qual foi o processo de composição?

DEPOIS DE ESGOTAR A TEMPORADA DE DOIS FINS DE SEMANA EM BH, COM DIREITO A DUAS SESSÕES EXTRAS, EM MARÇO, SÉRGIO MALLANDRO VOLTA À CIDADE EM MAIO. DE 11 A 13 E DE 18 A 20 (SEXTA, SÁBADO E DOMINGO) NO TEATRO DOM SILVÉRIO (AV. NOSSA SENHORA DO CARMO, 230 - SÃO PEDRO) INFORMAÇÕES: (31) 8430 7488

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Foi depois que participei do Amor & sexo, a pedido de muitas que já ganharam o beijo do Macaco. Agora, gravei no estúdio. Beijo do macaco é melhor que cafuné. Fiz em homenagem à Fernandinha Paes Leme, em quem dei um beijo lá no Amor & Sexo, ela está me ligando todos os dias, até a cobrar. Também dei na Mulher Melancia, na Rafinha, secretária do Gugu. Para quem dou esse beijo o povo enlouquece, você quer também?



CRÔNICO

pedro gomides

Pedro Gomides é diplomata de carreira e poeta diletante. pedrogomides@gmail.com

A vida das bibliotecas Elas não descendem de projetos intelectuais fermentados na solidão do leitor. Ensinou-me o bibliófilo Vladimir Bustamante — polímata lusitano e fundador da “nova fajuta poesia”, movimento gorado —, que as bibliotecas se proliferam de acordo com lógica matrilinear: têm mães, que são outras bibliotecas, as quais descendem, evidentemente, de outras — e assim por diante (até a biblioteca primordial, progenitora primeva de todas as que hoje existem e que outrora existiram). Não há, no caso em questão, exclusão deliberada do genitor masculino: a procriação se dá de forma assexuada. A solidão do ato, contudo, não exclui o êxtase orgástico. As bibliotecas, afinal, são avessas à moderação, o que evidencia a prole vasta que delas descende. A minha, por exemplo, é filha da biblioteca de Vladimir Bustamante, que me ensinou a ler as obras de J. J. Pintassilgo (meu autor predileto, vitimado por enfermidade terrível: a gota), a apreciar a olhos angulosos das mulheres bálticas e a tomar, com excesso comedido, os bons vinhos da Geórgia. Meus livros, no entanto — ou, para sermos exatos, o conjunto que compõem —, não são filhos únicos. A biblioteca de Sabóia D’Alessandro, amigo de longa data, também descende da de Bustamante. Também a de outros dois amigos: Lila Matacavalos e Lauro Lautréamont — ela, linguista; ele, piromaníaco. Nós quatro frequentamos as aulas de Bustamante. Lemos Gerson Maldonado, Mama Robespierre, Lívio Ledesma, entre outros expoentes da “nova fajuta poesia”. Estudamos o pessimismo cósmico de Cioran, a astrologia de Vince Wolf, os tratados erótico-festivos de Thiago Amenábar. Frequentamos os mesmos cinemas, bares e cafés; éramos do mesmíssimo

grupo de aspirantes (promissores ou natimortos) a escritores. Foram leituras e hábitos conformados de acordo com as recomendações de Bustamante. Compartilhamos gostos, compramos ou furtamos os mesmos livros. As semelhanças, porém, são parciais. A procriação partenogenética das bibliotecas não comporta a duplicação do material genético: inexistem bibliotecas gêmeas. E a particularidade de cada uma está em porção menor dos livros que a compõem. Sabóia D’Alessandro tem tratados pormenorizados sobre bestialidade. Lila Matacavalos tem os onze volumes da Dialética da Pornografia Ocidental. Lauro Lautréamont, poliglota, tem edições dos clássicos de Homero e de toda a obra de Sidney Sheldon — seus autores prediletos — em mais de quinze idiomas. A cada irmã corresponde um temperamento. A biblioteca de D’Alessandro é transgressora e apaixonada; a de Matacavalos, lasciva e misteriosa; a de Lautréamont, tolerante. À minha atribuem vários adjetivos: é retrógrada, sentenciam os inimigos; é aristocrática, ponderam os amigos. Entendam: é vetada a entrada de livros publicados depois de 1945. Como todo organismo, as bibliotecas morrem. O processo, curiosamente, é bifásico: a primeira fase é a morte do dono; a segunda, o desmembramento do conjunto. Os otimistas postulam que as bibliotecas deixam legado dúplice. Seus genes perpetuam-se tanto na prole (bibliotecas-filhas) quanto em outras coleções, que podem, eventualmente, receber livros egressos da biblioteca morta. Conta-se que, quando ocorre a perpetuação post mortem, via doação, um milagre acontece em algum lugar do mundo.

A biblioteca de D’Alessandro é transgressora e apaixonada; a de Matacavalos, lasciva e misteriosa; a de Lautréamont, tolerante. À minha atribuem vários adjetivos: é retrógrada, sentenciam os inimigos; é aristocrática, ponderam os amigos ,84



R I P C U R L .C O M


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