Revista Ragga #64

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REVISTA

NÃO TEM PREÇO

Alienígenas

#64

AGO 2012

Conheça a galera que passa a vida catalogando os ETs em Minas

IRON BIKER A corrida de mountain bike comemora 20 anos e parceria com a Ragga

Arte por R$ 1,99 A única exposição marginal da cidade

FERNANDA TAKAI

“AINDA SOU ESQUISITA”

Lançando disco com o ex-The Police Andy Summers, a cantora fala da sua trajetória no rock e na bossa-nova


O

ESPÍRITO OLÍMPICO

NOITE Está definido seu circuito de corrida de rua para 2012

PATROCÍNIO

ORGANIZAÇÃO

RÁDIO OFICIAL

TV OFICIAL

APOIO

REALIZAÇÃO


SORTEIO DE BRINDES

PERCURSO

INÉDITO ETAPA AMÉRICA 11 DE AGOSTO

Percurso: 5km e 10km Local: Belo Horizonte Hora: 19h KIT

Camisa + Medalha + Toalha personalizada.

WWW.RAGGANIGHTRUN.COM.BR Mais informações consulte o regularmento no site do evento.


“Uma medalha do Iron Biker não tem preço. O bem que faz para o atleta que a recebe é simbólico, no sentido de conquista. Ela vale superação física e mental, confraternização, coisas que o dinheiro não paga. A lembrança que você guarda é de um desafio vencido. Mais importante do que provar sua força e braveza, é se divertir.”

RAQUEL COUTO RODRIGUES,

24 anos :: 5 Iron Biker, 2 vezes campeã


IRONBIKER.COM.BR

ironbikerbrasil


C

CAIXA DE ENTRADA CARTAS

EXPEDIENTE

Edição Mr. Catra

DIRETOR GERAL

Ewerton Martins, pelo Facebook Putz! O politicamente incorreto na alta. Jesus, esse cara é maluco. O jeito é ler, hehe. Boa sacada entrevistá-lo.

DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING

lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO

nathalia wenchenck [nathaliawenchenk.mg@diariosassociados.com.br] GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING

patrícia melo

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL

Diogo Rosa, pelo Facebook Em partes, esse cara ganhou o meu respeito. Fernanda Maia, pelo Facebook Putz, não tinha mais interessante pra entrevistar não? Que lixo... Potumati, pelo Twitter "Ciúme é coisa de mulher pobre." Sempre educativo ler qualquer entrevista do Catra tipo essa pra @revistaragga. Lucas Pasin, pelo Twitter “Mama é uma obra de arte. Não é uma música, é uma inspiração” Mr. CATRA, funkeiro, em entrevista à revista Ragga. Roger Henrique, pelo Twitter Lendo a @revistaragga digital. Estou amando as matérias, principalmente LONDEANDO! Fabio Rubira, pelo Twitter “As mulheres têm que ser doutrinadas.” Pérolas de puro preconceito de funkeiro publicadas em revista de MG.

flávia denise de magalhães – mg14589jp [flaviadenise.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR

bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTERES

bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] guilherme avila [guilhermeavila.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO

lara dias [laradias.mg@diariosassociados.com.br] laura dias [lauradias.mg@diariosassociados.com.br] NÚCLEO WEB

renata ferri [renataferri.mg@diariosassociados.com.br] felipe bueno [felipebueno.mg@diariosassociados.com.br] DESIGNERS

anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] anselmo júnior [anselmojunior.mg@diariosassociados.com.br] bruno teodoro [brunoteodoro.mg@diariosassociados.com.br] marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] FOTOGRAFIA

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lucas machado alex capella . eduardo damasceno . joão paulo kiko ferreira . lucas buzzati . luís felipe garrocho ARTICULISTA COLUNISTAS

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lucas de souza . hafaell . maíra vasconcelos . rj shaughnessy RAGGA GIRL MODELO gabriela paganini FOTOGRAFIA, EDIÇÕES E MAQUIAGEM cisco vasques FIGURINO barbara mucciollo PRODUÇÃO carolina zingler e barbara mucciollo CAPA bruno senna REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br] REDAÇÃO

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EDITORAL

Eles voltaram

bruno senna

Aí estão eles novamente, estampados em placas espalhadas em canteiros centrais, grudados em nossos para-brisas e apertando a mão de desconhecidos, como se fossem papas espalhando aquela velha esperança de um futuro sempre melhor. Piada batida, mas que sempre funciona. Os sorrisos amarelos continuam os mesmos e as caras cobertas de pó branco tentam maquiar cinzas intenções. De quatro em quatro anos a história se repete e a nós fica a missão de apertar o botão verde e confirmar obrigatoriamente nossa impotência. Afinal de contas, o que um vereador faz? Como ele pode ajudar você efetivamente? Que diferença ele realmente pode fazer na sua vida? E um prefeito? Até hoje espero a resposta que o Tiririca ficou de me dar quando prometeu: “Você sabe o que um deputado faz? Nem eu. Então vota em mim que eu te conto”. Mas não contou. Devem ter dito a ele que não pode. É segredo de estado. Escolha o sorriso aparentemente mais sincero e tente avaliar a intenções menos turvas. Não lhe resta muito mais a fazer do que isso. Mas não se esqueça de forma alguma de pagar a escola particular, nem o seguro do seu carro e muito menos seu plano de saúde. Ah... e não custa nada separar uma verbinha para aquela cerca elétrica oferecida pela empresa de segurança privada.

Mas falando em coisas boas e deixando a política um pouco de lado, nesta edição temos o prazer de informar que a Ragga é a nova realizadora do maior evento de mountain bike da América Latina. O Iron Biker, que este ano completa 20 anos de história de muito suor, emoção e superação nas montanhas mineiras. Quem também relembra sua história e nos conta tudo é Fernanda Takai, que vem com disco novo e muitas novidades. Voltando um pouco para a política, fomos até o Paraguai entender melhor tudo o que rolou com o impeachment de Lugo. Confira tudo isso e muito mais nas próximas páginas. Boa leitura!

Lucas Fonda — diretor geral lucasfonda.mg@diariosasassociados.com.br


bruno senna

ÍNDICE

A música de Fernanda LANÇANDO DISCO COM FORTE PEGADA NA BOSSA-NOVA, FERNANDA TAKAI FALA SOBRE CARREIRA

58


Iron Biker O desafio mais puxado de ciclismo comemora parceria com a Ragga

26

Mussum

Granta

Anos depois de sua morte, o quarto trapalhão faz sucesso na web

A revista literária escolhe os melhores escritores brasileiros e causa polêmica

30 32

Fique jovem

Alienígenas

De Frente

Fotógrafo captura o melhor da juventude em ensaio fotográfico

Conheça a galera que passa a vida vigiando os céus de Minas Gerais

A Ragga esteve na palestra do Antonio Tabet e conta tudo

Paraguai

Fix to ride

Nossa repórter esteve no país durante a crise e fala sobre o clima por lá

Projeto corre o Brasil reformando as pistas de skate do país

34 40 44

46 50

JÁ É DE CASA

Scrap 10 Só no site 12 Destrinchando 14 Twitter 16 #Instaragga 17 Eu quero 18 Estilo Victor Dzenk 20 Rapidinhas 22 Quem é Ragga 24

Por aí 66 On the Road Dia de piolho 68 Ragga Girl Gabriela Paganini 70 Livrarada 76 Prata da casa 77 A música e o tema 78 Crônico 80 Quadrinhos Rasos 82

No Peru As 10 dicas para aproveitar as pequenas cidades e vilas do país

54


S

SCRAP S/A

COLUNA POR ALEX CAPELLA // ALEXCAPELLA.MG@DIARIOSASSOCIADOS.COM.BR

Sugestões e informações para a edição de setembro, entre em contato pelo e-mail acima.

A Casa Rio Verde acaba de abrir a oitava loja em Belo Horizonte, na Praça Marília de Dirceu, no bairro de Lourdes. A loja foi montada em uma construção da década de 1940, onde funcionava um antiquário. Com 120 metros quadrados, o novo espaço passa a abrigar os cursos semanais que a marca oferece a quem deseja se aprofundar no mundo do vinho. A loja também solidifica a marca com foco no mundo do vinho e na importação própria, principalmente de vinícolas europeias.

NOSSA CAPA Foram várias ideias antes de decidirmos o que tentaríamos para a capa da Fernanda Takai. Com a notícia do disco com Andy Summers, ex-guitarrista do The Police, a gente queria fazer algo puxando para o rock — porém as músicas do novo disco chegaram à redação e logo vimos que não havia nada de rock ali. Pensando na herança japonesa de Fernanda, decidimos fotografar no Jardim Japonês, mas isso não estava exatamente certo. No fim do dia, quem deu a dica do tom da capa e da entrevista foi a própria Fernanda Takai. Durante a maquiagem, a cantora, com sua meiguice característica, destacou: “Só toma cuidado pra eu ficar com cara de Fernanda”. Na página 58, Fernanda, com cara de Fernanda. Fotografia: Bruno Senna Maquiagem: Marcela Faria (Sá Bonita) Agradecimentos: Fundação Zoobotânica 10

Avanço dos games

Pesquisa Global Entertainment & Media Outlook da PwC aponta que o mercado de videogames vive um ótimo momento na América Latina, especialmente no Brasil. O levantamento mostra que o setor movimentou ao todo US$ 1,3 bi em 2011 na região e a expectativa é de que chegue ao valor de US$1,9 bi nos próximos quatro anos. O estudo mostra ainda que o Brasil tem o segundo maior mercado, superado apenas pelo México, e registra a maior taxa de crescimento (8,8%). A área movimentou aqui cerca de US$ 420 mi em 2011. Segundo o estudo da PwC, a expectativa é a de que o ramo no Brasil movimente US$ 640 mi em 2016.

fotos: divulgação

Vinho I

VINHO II

Não é só de carne que vive a rede Outback Steakhouse. Para o inverno, todas as 36 unidades da casa de comida típica australiana, espalhadas pelo país, contam com uma seleção de vinhos criteriosa por parte dos proprietários: a Proprietor’s Wine Choice. A rede coloca à disposição de seus clientes mais um rótulo espanhol, o Finca San Martin, e mais um argentino, o Rutini Cabernet Malbec. Além disso, mantém em sua carta exemplares da bebida fabricada na Argentina, no Chile, Portugal, Espanha e, claro, na Austrália.

Samba do bem

Depois do Rock, do Axé e do Sertanejo, Belo Horizonte merecia receber também um festival dedicado ao Samba da velha e da nova geração. E é o que vai acontecer no dia 11 de agosto. Projeto da cervejaria Antarctica, capitaneado pela DM Promoções, pretende transformar o estacionamento da Uni BH, no Buritis, em uma espécie de Lapa fora do Rio de Janeiro. Além de toda a ambientação do espaço, artistas do gênero mais autêntico do país prometem colocar a capital mineira para sambar.


STAR PLAYER S II OX

NICK TRAPASSO

OLLIE INTO BANK / © CONVERSE INC.


S

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EXTRAS

coluna na web

Campus Party Recife Confira a cobertura do evento geek que aconteceu pela primeira vez fora de São Paulo. bit.ly/campuspartyrecife

EXTRAS

Face a face Como forma de cultuar personagens favoritos, internautas usam criatividade nos avatares do Facebook. Inspire-se em alguns exemplos. bit.ly/faceafacebook

EXTRAS

O Grito em vídeo Veja a animação que conta a história da famosa obra de arte do pintor Edvard Munch. bit.ly/ogritovideo

fotos: reprodução

cristiano quintino

Iron biker Confira a galeria de fotos mostrando o evento durante seus mais de 20 anos de existência. bit.ly/ironbiker

A estrada é a vida Acompanhe o caminho de Jack Kerouac junto da Beat Generation e veja uma das últimas entrevistas dadas pelo autor. bit.ly/aestradaeavida EXTRAS

BLOG PARCEIRO

Zonafootball Por que o esporte brasileiro não tem cheerleaders como nos Estados Unidos? Tem sim! Confira as pioneiras. bit.ly/cheerleadersbrasileiras

Mussum mania Ele é muito mais do que um saudoso ex-integrante do grupo Os Trapalhões. Ele conquistou a internet. Veja a galeria de imagens completa. bit.ly/mussummania


/hbbrasil

Proteja seus olhos. Exija o selo de qualidade ABNT.

model

CARVIN


DESTRINCHANDO ARTIGO POR LUCAS MACHADO ILUSTRAÇÃO ANNE PATTRICE

Tattoo you “QUERO FICAR NO TEU CORPO FEITO TATUAGEM/ QUE É PRA TE DAR CORAGEM PRA SEGUIR VIAGEM/ QUANDO A NOITE VEM..." Trecho da letra de Tatuagem, de Chico Buarque

a

Alguns contam que a tradição começou como uma medida de proteção para que as jovens não fossem desejadas pelos reis birmaneses

AS TATTOOS NÃO SÃO MAIS

um contratempo para pais e mães como antigamente. Apesar de ainda haver um certo preconceito, elas vêm ganhando espaço, demonstrando, principalmente nas mulheres, certa garantia de traços de atitude e excentricidade. Na província de Chin, em Myanmar (ou Birmânia), no sul da Ásia, uma minoria étnica tem sido preservada, em grande parte devido à área, ao terreno e à localização remota desse povo. A jornada até a província de Chin, um pequeno pedaço de terra próximo a Bangladesh, é um longo caminho, mas que traz recompensas ao viajante. Como é uma área de viagem restrita, só é acessível para turistas em pacotes de viagem e requer uma permissão do Governo, que demora duas semanas para ser obtida. A palavra birmanesa “chin” é uma derivação da palavra usada para “cesta”, que os chin costumam usar para carregar objetos. O povoado de Chin traça suas origens há muitos séculos na China e no Tibete. Eles viveram independentemente, isolados em suas terras sob costumes tradicionais e hereditários, até que, no século 19, colonizadores britânicos chegaram. Em 1948, o país tornou-se independente novamente. Uma tradição dos Chin desperta curiosidade e fascínio, principalmente em nós, ocidentais: o costume das mulheres de fazer tatuagem facial. As tatuagens vêm

MANIFESTAÇÕES

articulista.mg@diariosassociados.com.br | facebook.com/lucastmachado destrinchando.com.br 14

em seis designs, cada um correspondendo a uma das seis tribos: os Muun, Dai, Ngagha, M’kaang, Chinbo e Laytsu. Como não existe nenhuma história escrita, contos das origens da tatuagem facial variam de vila para vila. Alguns contam que a tradição começou como uma medida de proteção para que as jovens não fossem desejadas pelos reis birmaneses. “As jovens chin eram conhecidas por sua beleza marcante”, explica Man Sein em entrevista à revista britânica Zoo, uma senhora de 60 anos na vila de Bae’m Bong, cuja face é marcada por uma tatuagem parecida com uma teia de aranha. Enquanto a tatuagem facial foi uma forma criada para impedir que o rei sequestrasse as jovens, passou a ser também um elemento da cultura chin, se tornando um ritual de passagem das jovens para a fase adulta. Se a ideia de olhar para uma mulher com o rosto tatuado já é perturbadora o bastante, o pensamento de realmente passar pelo ritual é muito pior. A tinta é feita espremendo o suco verde para fora das plantas e misturando isso com fuligem (e, às vezes, com rim de búfalo). O doloroso processo de aplicar a tinta na face envolve perfurar a pele com uma pena de pássaro ou com três espinhos. Embora a tatuagem tenha começado como um meio de esconder a beleza das jovens, ironicamente passou, nos dias atuais, a ser considerada como símbolo de beleza. Mang gruke, a palavra chin para tatuagem facial, pode ser traduzida como “se marcar com riqueza”. Ao contrário de antigamente, o povo chin vê a tatuagem como uma decoração que torna as mulheres mais bonitas, assim como joias ou brincos. J.C.


© 2012 Doctor’s Associates Inc. SUBWAY® é uma marca comercial registrada de Doctor’s Associates Inc. Imagem meramente ilustrativa.

Subway Melt TM

Com 6 milhões de combinações possíveis, é muita sorte achar uma assim.

w w w. s u b w a y. c o m . b r


T

TWITTER

nervososupremo

Apiada

Queria convidar você para um jantar romântico à luz de velas e, ao fim, sussurrar baixinho no seu ouvido apenas três palavras: “Pague a conta”.

E a gente reclamava do Bial usando Hering e papete no BBB. 1antipatico

Não pensem que sou chato o tempo todo, tem horas que eu durmo. IrmaGraceKelly

O jeito mais eficaz de matar uma barata é sair correndo e deixar q Deus decida a hora dela. _Pavan_

MEU MAIOR MEDO É O INSTAGRAM SAIR DO AR E EU NUNCA MAIS FICAR SABENDO O QUE TODOS OS OUTROS SERES HUMANOS ESTÃO COMENDO.

Dicas_do_heman

FilhoDoOCriador

Eu tenho 3G, não preciso de amigos. #Amem bethmoreno

Mulher é uma verdadeira orquestra: Os homens só reparam no pandeiro e, na busca pelo corpo violão, ela acaba no efeito sanfona.

A fé move montanhas. Agora só falta descobrir como é que mover uma montanha ajuda nos seus problemas.

Apiada

Emo_cida

QUEM NASCEU PRIMEIRO: O OVO, A GALINHA OU OSCAR NIEMEYER? EikeBatiiista

NÃO TRATE COMO BACON QUEM TE TRATA COMO RÚCULA. bethmoreno

As empregadas pegaram vários iPads e colocaram no micro-ondas pra ver o que acontece... Tô rachando aqui R$R$R$.

Posso falar uma coisa picante? Aedes aegypti.

aalyssonbr

DESLIGA ESSE PRÉPAGO, MINHA FILHA. OSumido

Saudades de quando meu maior problema era: ▲= b2 – 4.a.c.

arturdotcom silviolach

Portabilidade é ligar para sua operadora e ser atendido por uma porta.

torturra

O antidoping testou a voz de Anderson Silva. Deu positivo para hélio.

Tenho dó dessa geração nascida depois de 1990. De que adianta ser neto se a avó não sabe cozinhar?

hadoucken

Falo “tchau” no Twitter, mas continuo aqui. Essa é minha vida, esse é meu clube. 16

Dicas_do_heman

Todos vocês são lindos e sexy da testa pra cima. rafinhabastos

Bengala é para os fracos. Qdo eu for idoso, vou me apoiar num facão.


#

INSTARAGGA Mesa de trabalho

flávia denise

mariana j. reis

Todo mês a Ragga fará um desafio no Instagram. Em julho, chamamos todo mundo para postar fotos com o tema Mesa de trabalho e a hashtag #instaragga. O resultado você vê por aqui.

roger henrique

lara dias

gilmar souza

guilherme avila

renata ferri natália ferri pedro cortez

Quer participar em agosto? Basta postar no Instagram uma foto com o tema Dentro da bolsa/bolso com a hashtag #instaragga. 17


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EU QUERO

CONSUMO

Carregador solar Para quem passa o dia inteiro na rua, sem aquela tomada amiga para carregar todos os gadgets. R$ 179,80, no greenvana.com

Spinner 360° Em vez de fazer uma panorâmica com um tripé e levar horas colocando uma foto ao lado da outra, essa lomo permite que você faça o giro em segundos. Tudo capturado em filme. R$ 349, na PopCorn multimarcas (31) 3022 4294

Cubo mágico Já que você não ia conseguir resolver o cubo, melhor usá-lo como decoração e caixa de som. R$ 189, no osegredodovitorio.com 18


Capa de bambu

Moleskine Que todo mundo tem uma paixão descabida por caderninhos, a gente já sabia, mas ter um moleskine com a Lady Gaga e o Cartola assinado por Rogério Fernandes é especial. R$ 35, no rogeriofernandes.com.br

fotos: divulgação

Um charme orgânico e biodegradável para proteger o iPhone. A partir de R$ 149, na cascoobjetos.com.br

Lego sutra Belas camisetas para mostrar com humor tudo aquilo que você quer falar. R$ 69,90, na tshit.com.br 19


E

ESTILO Victor Dzenk

COLUNA POR LUCAS MACHADO FOTOS CARLOS HAUCK AOS 15 ANOS, o estilista belo-horizontino Victor Dzenk fez seu primeiro curso de moda no Senac, onde passou a colocar suas primeiras técnicas para a proporção do desenho para o croqui. Aos 19, morou em Paris, estudou na Esmod — primeira escola de moda da França, fundada em 1941 — de 1989 a 1991, mas garante: “Não existe nada igual à escola da vida. Aprendi muito na prática, trabalhava com tecidos, em confecções, antes de ter a minha própria. O fator didático foi muito importante, mas, na minha opinião, a carreira do estilista é muito baseada na vivência, tem que ter muito chão de fábrica”. Quando não está trabalhando, Dzenk adora ver filmes em casa e no avião. Gosta de ler, apesar de ser um pouco ansioso quanto à leitura — acha mais interessante a imagem do que o próprio conteúdo. Na culinária, está descobrindo as curiosidades e as riquezas da gastronomia tailandesa, no entanto, gosta mesmo é da comida brasileira. Segundo o estilista, sua vida social é bem leve, muito voltada para o trabalho. Perguntamos sobre o Fashion Rio, do qual ele sempre participa, e as influências de seu trabalho. “Dentro do processo da moda você não deve se convidar, deve ser convidado. Meu estilo é praiano, para a mulher que vai para o sol e vem do sol. Minha inspiração é a beleza e a sensualidade feminina”, diz. Ele ainda deixa escapar a fórmula do sucesso: “Tem que ser um pouco ousado, com equilíbrio e humildade. Essa é a receita do bolo”.

Victor usa Camisa Victor Dzenk Coleção verão masculino 2013

Calça Prada

Sapato Louis Vuitton

Colares Coleção pessoal de jóias

Relógio Tissot Blusa verde Zara

Colares Coleção pessoal de jóias

Escultura Leopoldo Martins

Canetinhas Stylefile marker

Manequim Crachás dos desfiles que participou 20

Tesoura especial Tex Prima

J.C.



RAPIDINHAS COLUNA POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES

Dubstep é um dos poucos gêneros musicais em que é impossível fazer um show acústico. A música, que mais parece um ataque epiléptico da mesa de som, não usa nenhum instrumento, somente sons sintéticos. Ou pelo menos era isso que a gente achava até escutar o coro holandês Dario Fo, da orquestra Kyteman, reproduzindo o sucesso Bangarang. São 40 homens e mulheres vocalizando um inacreditável “tec, tê, tê, tê, au, aau”. A versão ficou tão perfeita que até o próprio Skrillex já aprovou e declarou seu amor aos corais holandeses. Vale a pena até para quem não curte dubstep. bit.ly/skrillexacapela 22

fotos: divulgação

Skrillex unplugged

BOLHAS DE SABÃO É difícil acreditar, mas as imagens são de bolhas de sabão momentos antes de ser estouradas. A imagem da fina camada de água e sabão se estourando é do fotógrafo suíço FabianOefner (tudo junto), que conta das duas grandes dificuldades em fazer a fotografia. “Uma dificuldade é iluminar a bolha de forma que as cores fiquem visíveis. A segunda é, obviamente, capturar o momento certo.” De acordo com o fotógrafo, as cores vibrantes das bolhas são resultado do reflexo na luz na superfície. Por isso é tarefa complexa montar flashes ao redor da bolha, criando as cores. Vá ao fabianoefner.com para conferir as imagens e ao 500px.com para ver o making of.


O LIVRO QUE NÃO PODE ESPERAR Você abandona um livro na pilha de “para ler”. Só que, ao contrário das obras normais, ele não fica ali no cantinho, juntando poeira e esperando por você. Depois de um mês de espera, você mal consegue enxergar as letras. Com dois meses, tudo que restou é a capa. Suas páginas viraram um caderno de excelente qualidade. Esse exótico livro não é obra da imaginação, mas uma tentativa da editora argentina Eterna Cadencia de incentivar seus leitores a prestarem atenção a novos autores. O livro que leva o nome El libro que no puede esperar contém histórias de seus escritores mais jovens e foi distribuído gratuitamente. Dá uma olhada no vídeo que fizeram no vimeo.com/43618619

WE ARE lucky O que você faria se ganhasse uma fortuna? Foi pensando nisso que um britânico, que ganhou muito dinheiro, decidiu abandonar o sonho de entrar na nave espacial Virgin Galactic e criou um projeto para fazer o bem. Com o We are lucky, ele doa diariamente mil libras para uma pessoa comum, cuja única obrigação é fazer algo bom e contar sobre isso no site do projeto. O bacana é que ele está conseguindo ajudar pessoas normais a realizar sonhos alcançáveis, como o cara da foto, que corre como urso em uma corrida à fantasia e é professor de geografia. Ele vai usar a grana para dar um prêmio de reconhecimento acadêmico e espírito estudantil em sua escola. we-are-lucky.com

Todas as cores do arco-íris

Humor feito para web

A escala de cores Pantone nunca esteve tão na moda. A ideia mais recente foi da fotógrafa brasileira radicada na Espanha, Angelica Dass, que tem como objetivo fotografar e catalogar todos os tons de pele possíveis no projeto Humanae. Convidando pessoas de todos os tons da escala para participar, ela faz a foto e procura na escala oficial o tom correspondente à pele. Com mais de 150 imagens produzidas, ela ainda não encontrou duas pessoas da mesma cor. humanae.tumblr.com

Depois do sucesso do CSI: Nova Iguaçu e do clipe da cantora Clarissa Falcão, Antonio Tabet (criador do Kibe Loco) revelou que vai lançar uma nova fase de sua carreira como mestre do humor neste mês. Para começar, os fãs do CSI: Nova Iguaçu têm motivo para comemorar. No dia 6, será lançado um episódio especial de meia hora e com direito a enredo completo e personagens. Para completar o lançamento oficial da nova fase, ele anunciou que começará um programa de humor, feito inteiramente com esquetes, que foi elaborado para a internet e vai ser veiculado exclusivamente on-line. 23


QUEM É RAGGA FOTOS ANA SLIKA

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Veja todas as coberturas do mĂŞs no bit.ly/quemeragga

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ESPORTE

O IRON BIKER

POR LARA DIAS FOTOS CRISTIANO QUINTINO

A MAIOR PROVA DE MOUNTAIN BIKE DO BRASIL COMPLETA 20 ANOS NA EDIÇÃO 2012, QUE CONTA COM A PARCERIA DA RAGGA

AGORA É RAGGA!

IRON BIKER, UMA HISTÓRIA QUE COMPLETA 20 ANOS 1993 O evento que faz parte da história do Mountain Bike no país e que revelou para o mundo grandes atletas do esporte, completa a sua vigésima edição em outubro. Ao longo de vinte edições, o Iron Biker trilhou 2.236,5Km, divididos em 38 dias de prova, com 14.588 competidores, além de sol, chuva, barro, dores no corpo e muita superação. Confira os acontecimentos mais marcantes.

26

Nasce o Iron Biker, que a princípio se chamaria Desafio das Montanhas. A equipe de organizadores desconsiderou esse primeiro título alegando que o evento merecia um nome mais forte. Assim, a maior prova de MTB do país ficou oficialmente batizada de Iron Biker, o que na verdade, acabou espantando competidores, na época. “As pessoas se assustaram com o nome e muita gente preferiu não arriscar. Nós levamos uns cinco anos para desmitificar essa história e mostrar que o Iron era um desafio difícil que poderia ser vencido”, conta Gil Canaan. O percurso de estreia tinha 90Km, entre Outro Preto e Itabirito, e revelou os campeões Márcio Ravelli, de São Paulo e a carioca Ana Cecília Guglielmi.


DESDE 1993, as montanhas e trilhas de Minas Gerais dividem a paisagem tranquila do interior do estado com bikers de todo Brasil e do mundo para a prova mais esperada do ano para quem pratica mountain bike (MTB). O Iron Biker Ragga 2012 marca a vigésima edição do evento e há grandes expectativas de parte dos competidores e organizadores para a prova que já é tradição no esporte. “A nossa expectativa de melhoria e mudança com a Ragga é muito grande. Estamos falando de parceria com quem entende e vive o esporte também”, afirma Gil Canaan, que criou a prova. “O objetivo da Ragga é manter o Iron Biker como a melhor prova do ano de MTB do Brasil”, conta Lucas Fonda, diretor-geral da Ragga, que já participou da competição duas vezes. O Iron Biker Ragga vai contar com uma infraestrutura planejada para receber atletas e o público. Nos locais de largada e chegada da prova haverá área de estacionamento, banheiros e restaurante. A Ragga anuncia ainda o lançamento da categoria MTour, para amadores. Com percurso reduzido,

1995 Nos dois primeiros anos de evento, o tempo era cronometrado para cada atleta, o que fazia com que o resultado da prova demorasse muito para ser divulgado. Em 1995, o Iron Biker assumiu o formato de maratona, o que determinou o critério de “quem chega na frente, ganha”. O percurso se manteve na região de Ouro Preto- Itabirito, com 130Km. Márcio Ravelli vence seu bicampeonato e Adriana do Nascimento leva sua primeira vitória na prova.

1998 Aconteceu um intercâmbio de atletas com o Iron Bike Itália. Competidores estrangeiros competem lado a lado com os brasileiros. A parceria trouxe quatro atletas italianos e três norte-americanos. Pela primeira vez, não foi anunciado um campeão brasileiro. Quem levou o primeiro lugar foi Marzio Deho, da Itália, e, entre as mulheres, Adriana do Nascimento ganhou seu terceiro troféu.

ela foi pensada para quem quer conhecer a prova sem o compromisso de competir. “Muitas pessoas que já praticam o MTB têm vontade de conhecer o evento e sentir como é participar de uma maratona. A categoria Mtour é como uma porta de entrada no Iron Biker”, explica Fonda. Os inscritos nessa categoria que completarem a prova, nos dois dias, também levam medalha para casa, o que incentiva ciclistas amadores de todo o mundo a dar o seu primeiro passo em uma competição internacional. Raquel Couto Rodrigues, de 24 anos, participou da sua primeira competição em 2003 no Iron Biker. Desde então marcou presença na prova cinco vezes, sempre em categorias diferentes. “Comecei competindo na categoria feminino amador. Depois disso já participei na elite feminina, como profissional, e três vezes na dupla mista, na qual conquistei o primeiro lugar junto com um grande amigo”, conta. Com bastante

1999 A prova recebeu o título de mais difícil de todos os anos do evento. Pela primeira vez, não chove em nenhum dos dois dias. O clima seco e o excesso de poeira castigaram os atletas com calor extremo. A chegada aconteceu em Lavras Novas, e a comunidade, sensibilizada com o evento, vai às ruas levando água, colchões e ajudando os atletas que cruzavam a linha de chegada depois de 115Km de muito esforço. Marzio Deho, da Itália, venceu o segundo ano consecutivo, e Carolina Ribeiro é campeã da categoria Feminina.

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experiência, Raquel espera uma prova inovadora para esse ano. “A minha expectativa é de um percurso inédito, competindo lado a lado com pessoas do mundo todo, e vendo os amigos do pedal reunidos novamente”, conta. Minas Gerais é sede oficial de todos os Iron Bikers, e seu potencial para trilhas de alto nível técnico é reconhecido pelos atletas. Cristiano da Matta, piloto profissional de Fórmula 1, troca o asfalto pela diversão das trilhas de puro barro na região que ele apelidou de Disneylandia do mountain bike. “A natureza e as trilhas de Minas são incríveis. Temos tudo que um atleta procura no esporte”, diz. Cristiano já competiu cinco vezes no IB e fala que, embora participe das provas sob zero pressão, sempre rola uma competição entre os amigos. “Dizem que completar o Iron Biker é o mais importante. Mas, para mim, chegar na frente dos meus amigos e ter boa pontuação também é! Por isso, algumas medalhas valem mais que outras”, brinca.

2003 A organização do Iron Biker transferiu a prova para o trecho Ouro Preto- Mariana. A mudança ficou registrada com a maior quilometragem de prova já realizada no evento. Foram 148km. Os campeões foram Odair Pereira, de São Paulo, e a mineira Jaqueline Mourão, que consagra sua quarta vitória seguida.

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2005 As mulheres batem um recorde brasileiro de participação em eventos de mountain bike. O título de Iron Biker Feminino vai para os Estados Unidos com Kelli Emmett, e o campeão foi Abrãao Azevedo.

2007 O Iron Biker acontece em três dias. Na sexta-feira uma prova noturna para a categoria Elite e, dois dias seguintes, somando 133Km, sendo o primeiro trecho todo em Outro Preto e o segundo todo em Mariana. Adriana do Nascimento conquista seu pentacampeonato, e, na categoria Masculina, o campeão foi Edivando de Souza Cruz.


A PROVA A largada e a chegada do Iron Biker serão na Lagoa dos Ingleses, em Alphaville, nos dias 20 e 21 de outubro. Inscrições no site: ironbiker.com.br.

Este ano, serão 27 categorias ao todo, sendo nove delas em dupla e 18 individuas. Como sempre rolou no evento, todos os participantes que completam o percurso, nos dois dias de prova, recebem medalha. E os os cinco primeiros das categorias individuais e as três primeiras duplas ganham o troféu Iron Biker. Na categoria elite masculina e feminina, o primeiro lugar leva uma bonificação em dinheiro. Apesar disso, Gil acredita que o prêmio principal é a medalha, que simboliza que o percurso foi completado. “O Iron Biker é mais do que uma competição, é um desafio pessoal. É uma prova épica e foi pensada para quem gosta de superação”, diz.

2008 As categorias Duplas e Turismo foram implantadas. A prova foi marcada pelo clima quente no primeiro dia e muito barro no segundo. As trilhas passaram pelas cidades de Ouro Preto e Mariana. Os campeões foram Robson Ferreira e a italiana Sandra Klomp.

2011 O Iron Biker retornou a Belo Horizonte, e a Praça do Papa, cartão-postal da cidade, sediou a largada e a chegada da prova. Foram 103Km de muita chuva durante os dois dias, o que dificultou bastante o percurso e exigiu muita técnica dos participantes. Os campeões foram Robson Ferreira e a mineira Letícia Jaqueline Cândido.

2012 O Iron Biker agora é Ragga! Faltam menos de três meses para a maior competição de MTB do país. O atleta Felipe Miranda fez uma planilha de treinamento para quem quer participar da prova e garantir bom resultado.

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CONTEÚDO

MUSSUM

FORÉVIS

DE VOLTA EM GRANDE ESTILO, O TRAPALHÃO MAIS QUERIDO DE TODOS OS TEMPOS VOLTA A FAZER SUCESSO COMO MEME POR GUILHERME ÁVILA

QUEM CURTIU A NOVA ONDA de memes no Facebook que têm a cara do Mussum estampada em montagens com cartazes de filmes e grupos musicais consagrados ou acompanhou os tweets com a tag do #MussumDay, no último dia 29 de julho, pode até saber que se já passaram 18 anos desde que o humorista "foi para o andar de cima, para deixar o céu mais animado", como disse seu companheiro Renato Aragão, em 1994. Mas, o que muita gente não sabe é que Kid Mumu não pretendia seguir carreira de ator caricato. 30

Antes de fazer sucesso ao lado de Didi Mocó, Dedé Santana e Zacarias, ele chegou a recusar diversos convites para participar de programas de televisão, dizendo que pintar a cara — um costume dos atores da época — não era coisa de homem. De origem humilde, desde pequeno o bem-humorado Antônio Carlos Bernardes Gomes só queria viver do samba e tocar reco-reco. Com ajuda de amigos do Morro da Cachoeirinha fundou Os Originais do Samba, um grupo que chegou a se apresentar em grandes turnês internacionais e acompanhar shows de Jair Rodrigues, Elis Regina e Baden Powell. Antes de ganhar seu apelido mais famoso, o então Carlinhos do Morro fez sucessos cantando em Cadê Teresa, Tragédia no fundo do mar, Se gritar pega ladrão e Esperanças perdidas em mais de dez álbuns do grupo. Muça só deixou a banda no final da década de 1970, quando o sucesso das gravações de Os Trapalhões começou a dificultar sua participação na agenda de shows e viagens do conjunto. Mas o Pássaro Negro sempre manteve sua ligação com a indústria musical e até chegou a gravar três discos-solo: Água Benta (1978), Descobrimento do Brasil (1980) e Because Forever (1986), que fizeram relativo sucesso quando foram lançados. De volta em 1965, o sambista finalmente deu o braço a torcer e fez sua estreia em um programa de TV, onde acabou fazendo amizade com Grande Otelo. Dizem que foi nos bastidores desse show humorístico que o malandro, que sempre tinha resposta pra tudo e que facilmente escapava de situações embaraçosas, foi rebatizado de Mussum, em referência a um tipo de peixe de água doce, liso e escorregadio. Quatro anos depois, o Morcegão foi apresentado ao diretor da primeira formação de Adoráveis Trapalhões, da extinta TV Excelsior. Mas, mais uma vez, ele recusa o convite para atuar diante das câmeras e somente em 1976, cedendo à insistência de seu amigo Manfried Sant'Anna, passa a integrar o quarteto que o tornaria famoso em todo o país.


fotos: reprodução da internet

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Maquiagem

Por que a maioria das garotas não consegue viver sem? bit.ly/drops_viciadasemmaquiagem

Homem morcego

Conclusão épica da saga do Batman de Christopher Nolan. bit.ly/drops_batman

Literatura

Já decidiu qual livro será seu companheiro esse mês? bit.ly/drops_oquevcquerler Politicamente incorreto, Mussum ainda é considerado por muitos o mais engraçado dos Trapalhões. Ele morreu aos 53 anos, não resistindo às complicações de um transplante de coração, mas nunca foi esquecido pelo público. Nos últimos anos, seu nome e expressões recheadas de terminações "is" ou "évis" foram lembrados em uma série de camisetas estilizadas com as inscrições "Mussum forévis", "Negão é o teu passádis" e "Cacíldis!". O "Dia do Mussum" foi criado em homenagem aos 15 anos de seu falecimento e desde então tem sido listado entre os tópicos mais populares do Twitter brasileiro. Com o sucesso da campanha de Barack Obama, vários internautas também aproveitaram para satirizar o poster eleitoral americano trocando a imagem do presidente pela foto do comediante e a frase "Yes, we créu". E, pelo jeito, Mussum não sairá de moda tão cedo.

Plug Minas

Projeto educacional inovador transforma a realidade de jovens. bit.ly/drops_plugminas * O caderno Ragga Drops é publicado todas as quintas-feiras junto ao Jornal Estado de Minas

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O FUTURO

divulgação

CULTURA

(da literatura) é agora LANÇAMENTO DA GRANTA EM PORTUGUÊS ACENDE DEBATE SOBRE CRIAÇÃO LITERÁRIA NACIONAL

POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES OS ÚLTIMOS CINCO ANOS têm sido bons para os jovens escritores brasileiros. Depois de ver um número cada vez maior de autores entrando em listas nacionais de livros mais vendidos — como é o caso da mineira Paula Pimenta, com a obra Fazendo meu filme, e de Eduardo Spohr, com A batalha do apocalipse — eles entraram para o primeiro plano das discussões literárias com o lançamento da Granta em português, publicada no Brasil pela editora Alfaguarra. Para quem nunca ouviu falar, a Granta é a principal revista literária do mundo. Fundada em 1889, traz à tona o melhor da literatura inglesa em suas edições. Apesar do sucesso, em 1983 decidiram inovar. E vez de o conselho editorial publicar somente autores conhecidos e consagrados, resolveram investir nos jovens desconhecidos com uma edição especial. A seleção certeira apresentou ao mundo autores como Salman Rushdie e Ian McEwan. Nos anos seguintes, fizeram isso não só na Inglaterra, mas nos Estados Unidos e em países hispânicos: sempre com o mesmo sucesso. Mês passado, a editora publicou a versão brasileira com o que eles julgam ser os 20 mais promissores da escrita nacional. Mal foi lançada e a revista já está causando polêmica. Não faltam escritores e críticos para declarar que a seleção foi injusta. A verdade é que, em uma seleção na qual 247 se inscreveram, qualquer recorte deixará quem ficou de fora chateado com o resultado, 32

como é o caso de Santiago Nazarian, que contou sobre sua decepção em seu blog (santiagonazarian.blogspot.com.br). Diretora editorial da Objetiva (editora à qual o selo Alfaguarra pertence) e editora-chefe dessa edição da Granta, Isa Pessôa conversou com a reportagem da Ragga durante o processo de seleção: “O critério será a qualidade do texto, único e exclusivamente”. Apesar disso, ela também contou que, antes mesmo de as inscrições serem abertas, havia uma lista de autores que eles gostariam de ver na seleção, muitos dos quais estão, de fato, na seleção final. Apesar das críticas, há grandes nomes de jovens escritores brasileiros na seleção: Christhiano Aguiar, Javier Arancibia Contreras, Vanessa Barbara, Carol Bensimon, Miguel Del Castillo, João Paulo Cuenca, Laura Erber, Emilio Fraia, Julián Fuks, Daniel Galera, Luisa Geisler, Vinicius Jatobá, Michel Laub, Ricardo Lísias, Chico Mattoso, Antônio Prata, Carola Saavedra, Tatiana Salem Levy, Leandro Sarmatz e Antônio Xerxenesky. Agora é pegar o livro e desenvolver uma opinião própria.

Mal foi lançada e a revista já está causando polêmica



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ENSAIO

STAY COOL

PARA TODOS QUE AINDA TÊM MUITO O QUE APRENDER E SE PERMITEM VIVER AS TOLICES E FELICIDADES DA JUVENTUDE FOTOS RJ SHAUGHNESSY

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Acesse Confira a galeria completa de fotos no www.ragga.com.br

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COMPORTAMENTO

NÃO

ACREDITAMOS,

PESQUISAMOS UFÓLOGOS E ENTUSIASTAS QUE PASSARAM A VIDA COLETANDO EVIDÊNCIAS DE CONTATOS CONTAM O QUE DESCOBRIRAM POR renata ferri ILUSTRAÇÕES Hafaell

QUESTIONAR A EXISTÊNCIA de seres extraterrestres é algo que já passou por muitas discussões de bar. E nunca faltam argumentos acalorados defendendo a existência ou não de seres alienígenas. Porém, há quem vá além da discussão e dedique sua vida a estudar fenômenos ufológicos e buscar evidências concretas para provar a existência de alienígenas. O Centro de Investigações e Pesquisas de Fenômenos Aéreos Não Identificados (Cipfani) é um desses grupos. Ele funciona em Belo Horizonte desde 1990 e foi fundado com o objetivo de catalogar e estudar casos de aparecimento de óvnis e contatos com seres extraterrestres em Minas Gerais. De acordo com o pesquisador do grupo, Albert Eduardo, de 54 anos, a ufologia deve ser separada em duas vertentes: a mística e a científica. “Na mística, as coisas são subjetivas. Eu trabalho com a linha científica. Não preciso fantasiar algo que já é fantástico por excelência. Meu objetivo é buscar dados, provas e relatos que não podem ser ignorados. Afinal, esses relatos partem

tanto de pessoas sem instrução, que habitam áreas rurais, como de pilotos da força aérea”, diz. Albert também fala que não acredita que os visitantes extraterrestres estejam aqui em missão de paz. “Eles estão aqui para pesquisar o nosso meio ambiente e vão fazer o que for preciso para conseguir o que querem. Não estou dizendo que vieram para dissipar a humanidade, mas eles têm uma agressividade muito grande nos contatos com humanos, seja física ou psicológica.” Também pesquisador da Cipfani, Paulo Werner, de 39 anos, afirma que “muitos governos já admitiram a existência de óvnis e intervenções de outros planetas na Terra. Países como Uruguai, Chile e França já abriram todos os arquivos confidenciais para que o público tenha acesso”. Para tentar preparar melhor a Terra para uma possível invasão alienígena, a Cipfani desenvolveu o Projeto Contato, que visa monitorar áreas em Minas Gerais onde há grande incidência de fenômenos astrológicos, como a Serra do Cipó e o Sul do estado. “Nós queremos visitar esses locais em determinadas épocas do ano para tentar registrar fenômenos utilizando equipamentos de tecnologia avançados como softwares de astronomia, filmadoras e câmeras fotográficas que vão nos ajudar a fazer essa catalogação. Podemos até tentar fazer contato com as naves através de feixes de luz, mas esse não é o nosso propósito principal.” Fora da Cipfani existem outras pessoas que documen41


tam suas descobertas e experiências. O ufólogo Antônio Faleiro, de 71 anos, começou a se interessar pelo estudo da ufologia ainda criança em Passa Tempo, onde costumava observar o céu junto com o pai, que também acreditava na existência de seres extraterrestres. Em 1957, passou a dedicar-se ao estudo dos UFOs e chegou a trabalhar para a aeronáutica brasileira investigando objetos aéreos não identificados. De acordo com ele, Minas Gerais é uma área que atrai ETs, talvez por causa do minério, que seria um importante objeto de estudo. Ele conta que, além dos casos que aconteceram com ele, ocorrências na região frequentemente chegam ao seu conhecimento. “Geralmente essas coisas acontecem com gente da zona rural, pessoas muito

simples, sequer sabem que existem outras galáxias, então é muito difícil elas estarem inventando essas histórias”, diz. Faleiro já publicou quatro livros relacionados à ufologia: Meus contatos com os óvnis, Discos voadores e seres extraterrestres no folclore brasileiro, Aparições divinas ou óvnis e ETs no Brasil. Nessas obras ele destrincha a forma como os extraterrestres estariam incluídos em nossa sociedade de forma incontestável. No livro Meus contatos com os óvnis, ele conta as experiências próprias de interação com seres extraterrestres. O primeiro contato teria sido estabelecido em 25 de outubro de 1981. Antônio dirigia sua moto por uma estrada rural e viu uma luz muito forte no topo de um morro, próximo a Passa Tempo. “Eu conheço aquele lugar e sei que no topo daquele morro não tinha como haver o farol de um carro ou qualquer outra luz como aquela. Pisquei o farol da minha moto três vezes e o óvni me respondia com o mesmo numero de piscadas. De repente, o objeto voador começou a flutuar acima do chão, eu fiquei com medo e fui embora. Mas percebi que o disco voador estava me seguindo. Quando cheguei em casa, escutei alguns barulhos, e depois fiquei sabendo que outras pessoas viram o disco voador próximo da minha casa naquela noite. Nos dias que se seguiram, minha esposa chegou a ver uma luz

“NÃO PRECISO FANTASIAR ALGO QUE JÁ É FANTÁSTICO POR EXCELÊNCIA. MEU OBJETIVO É BUSCAR DADOS, PROVAS E RELATOS QUE NÃO PODEM SER IGNORADOS”, diz Albert Eduardo

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caminhando pelos cômodos da nossa casa. E eu vi a criatura em um momento, à noite, na escola onde trabalhava, mas ela logo desapareceu”, conta. Em Belo Horizonte também há histórias de avistamentos. O desenvolvedor de softwares Jorge Ibrahim Abbud, de 48 anos, afirma ter visto um óvni em 1973 no Bairro Sagrada Família. A experiência foi tão marcante que ele começou a estudar a ufologia. “Minha pesquisa mais fundamentada é sobre as torres que existem na superfície da lua e podem ser vistas em fotos que estão no site da Nasa. Com certeza essas torres não foram colocadas lá por seres humanos”, fala. Outra teoria apresentada por Jorge é que existem também os seres intraterrenos. De acordo com ele, “a terra é oca com duas entradas, uma em cada polo, e há seres que vivem lá dentro e cuja intenção é nos dominar. Já estão dominando, tanto é que a gente acorda de manhã, trabalha todos os dias para ter dinheiro e ser escravos do consumo. Os seres intraterrenos estão envolvidos nesse esquema. Provavelmente vivem dentro da lua também, e isso explicaria as torres que lá existem”. A dona de casa Ione Gosling, hoje com 77 anos, mudou a forma de pensar depois que presenciou um fenômeno ufológico. Ela conta que, em meados dos anos 1980, estava em sua casa no Bairro Sto. Agostinho, em BH, junto com a mãe e as duas filhas quando viu um grande clarão no céu. Para não alarmar a mãe, disse que se tratava apenas de uma pipa voando. Porém, ela sabia que aquilo era algo muito mais extraordinário. Depois dessa experiência,

“Pisquei o farol da moto três vezes e o óvni respondia com o mesmo número de piscadas”, conta Antônio Faleiro

passou a se interessar pelos estudos ufológicos. Participou de alguns grupos que visitavam localidades onde óvnis haviam sido avistados para conversar com as pessoas que estavam presentes durante os acontecimentos e descobrir um pouco mais. “Eu tinha inúmeros amigos que se interessavam por óvnis. Isso era muito importante, pois eles eram as únicas pessoas com quem eu podia falar sobre isso. Minha família sempre achou que eu era doida. Mas hoje o meu

grupo de amigos se dispersou e alguns faleceram, por isso eu fico mais em casa pesquisando só na internet mesmo”, conta. À frente do programa de TV Realismo Fantástico, que foi ao ar no canal CBH durante oito anos, o jornalista César Vanucci conta que já chegou a realizar entrevistas intrigantes sobre fenômenos ufológicos conhecidos mundialmente. Sobre o caso Roswell, ocorrido em 1947 no estado do Novo México, nos EUA, ele entrevistou o Dr. Jesse Marcel Junior, filho do coronel da Força Aérea Americana responsável por anunciar ao mundo que uma nave espacial havia sido encontrada. De acordo com Vanucci, Jesse conta que o pai chegou em casa transtornado com um pedaço dos destroços da nave espacial que havia se acidentado. Cerca de 24 horas depois, o coronel foi obrigado por seus superiores a declarar publicamente que estava equivocado em anunciar a existência do óvni e que se tratava apenas de um balão meteorológico. César passou a vida observando e escutando histórias de avistamentos e afirma ter um grande acervo de dados e registros com filmagens de discos sobrevoando a Praça do Papa, na capital mineira. “Sou apenas um observador na condição de jornalista e procuro buscar informações sobre esses fenômenos transcendentes e desafiadores da realidade”, conta. 43


APRESENTOU

ANTONIO

TABET

CRIADOR DO SITE KIBE LOCO DÁ EXEMPLO DE EMPREENDEDORISMO EM PALESTRA DO PLUG MINAS PATROCÍNIO

REALIZAÇÃO

APOIO

POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES FOTOS ANA SLIKA

TUDO COMEÇOU com um momento de tédio de Antonio Tabet no emprego e a vontade de fazer os colegas de trabalho rir. Depois de enviar alguns e-mails, ele decidiu criar um blog no qual começou a postar suas melhores piadas. Em um ano, o blog já tinha 12 mil visitas únicas por dia (números impressionantes hoje, mas absolutamente estrondosos em 2002). Dez anos depois, ele estava à frente da primeira palestra do projeto De Frente, contando como criou o Kibe Loco, o maior site de humor do Brasil. O projeto, uma parceria entre a Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude — por meio da Subsecretaria da Juventude

—, a Ragga, o Plug Minas e Instituto Sergio Magnani, levou adolescentes e adultos para a sede do Plug Minas no dia 9 de julho para escutar o responsável por algumas das piadas mais engraçadas que circulam na internet. Apresentado pelo Subsecretário da Juventude, Gabriel de Azevedo, Antonio começou a noite falando sobre a necessidade de se manter fiel ao conteúdo que está criando: “Não faça tentando ganhar dinheiro, faça porque você gosta daquilo. E se parar de gostar, pare de fazer”. Acompanhado das risadas constantes do público, ele mostrou parte do seu trabalho e explicou que até mesmo um site humorístico tem limites bem definidos (que, no caso dele, é seu próprio bom senso, já refinado por 10 anos de críticas e sugestões de leitores).


O DE FRENTE CONTINUA! Jairo Bouer vai falar sobre sexualidade 27 de agosto, às 19h30 Rua Santo Agostinho, 1.441 – Horto Belo Horizonte – MG Entrada franca


POLÍTICA

TEXTO E FOTOS MAÍRA VASCONCELOS

APÓS A QUEDA CONTURBADA DE FERNANDO LUGO, PARAGUAI VIVE DIAS DE TENSÃO POLÍTICA E O FUTURO DO PAÍS E DE SEU POVO PERMANECE UMA INCÓGNITA 46

APÓS ATERRISSAR no vizinho Paraguai, o ônibus foi a alternativa de transporte do aeroporto, na cidade de Luque, até o centro da capital Assunção. Quase meia hora de espera na companhia de um nativo foi o tempo-relâmpago suficiente para perceber o momento político conturbado que atravessa o país. O Paraguai vive um conflito internacional histórico, afastado das reuniões do Mercado Comum do Sul (Mercosul) até as próximas eleições presidenciais, em abril de 2013. A condenação foi resultado do processo de impeachment que depôs Fer-


nando Lugo (2008-2012), avaliado como golpe de estado pelos países da América Latina. Os mesmos também não reconhecem o novo governo de Federico Franco, ex-vice de Lugo. Desconfortável e nitidamente temeroso, Pedro Sanche, de 42 anos, perguntava a si mesmo se perderia também os benefícios sociais, juntamente com a saída do ex-presidente. Por meio dos respectivos ministros, o governo de Franco afirmou prosseguir com os planos sociais. No entanto, o país vive essa e outras interrogativas devido à posição ideológica conservadora vigente

no parlamento, que conduziu à ascensão do atual mandatário. “Nunca pagaram a aposentadoria, começou com Lugo. Ele criou cooperativas agrícolas, também subsídios de alimento para os mais pobres. O que aconteceu me dói pela cidadania”, disse, visivelmente desanimado, Sanche. Em Assunção, ruas tranquilas em contraste com o fervor presente nos edifícios dos órgãos púbicos. Franco assumiu o cargo presidencial no fim de junho, e logo começou o troca-troca dos representantes políticos. Na busca pelo factual, rumo ao centro da cidade. Pendurado ao corpo, no lugar da suposta indispensável credencial de imprensa, estava a curiosidade. Logo apareceu o edifício do Instituto de Desenvolvimento Rural e da Terra (Indert). Entre as horas de espera para falar com o presidente interino, que nesse dia entregava o cargo, alguns campesinos de fala mansa expressavam-se em guarani. Entre eles, o agricultor Pablino Yrala, de 61, do distrito de San Rafael del Paraná, no estado de Libertad. “Tínhamos esperança. As pessoas mais pobres começaram a ter uma ajuda de 400 a 500 mil guaranis (moeda paraguaia). Agora, não sabemos o que irá acontecer. E se Lugo chama o povo, o povo vem e enche essa cidade”, contou o senhor Pablino, que tenta legalizar, em seu nome, os 15 hectares onde planta milho, feijão e mandioca para sua subsistência e dos seis filhos; a soja e o algodão são para venda. 47


O Paraguai vive um conflito internacional histórico, afastado das reuniões do Mercado Comum do Sul (Mercosul) até as próximas eleições presidenciais, em abril de 2013

RAIZ IMPREGNADA DE REFORMA AGRÁRIA

O ex-assessor jurídico da Presidência da República no governo de Fernando Lugo, Emilio Camacho, apontou o legado histórico do problema da distribuição de terras no Paraguai. Na época da ditadura militar de Alfredo Stroessner (1954-1989), o reparte dos hectares férteis de todo o país se deu na base do selo familiar, do amiguismo e dos conchavos políticos. “[o ditador Strossner] Dava os hectares aos seus secretários privados, coronéis, ministros, familiares. O resto vendia e o governo atuava de intermediário ente os traficantes de terras. Dessa forma, começou a concentração”, afirmou Camacho. No Paraguai, cerca de 85% do total de terras produtivas estão nas mãos de 2% de proprietários rurais. Assim construída a desigualdade social, a reforma agrária é considerada uma dívida política nunca saudada. A resolução da problemática social está travada pelo interesse dos latifundiários e empresas do setor agropecuário em perpetuar a posse dos hectares em seus domínios. Em meados de junho último, um desalojamento de sem-terras no interior do Paraguai terminou com a morte de 11 campesinos e seis policiais. Esse foi o episódio gota 48

d’água, usado como argumento pelo parlamento paraguaio, para processar e destituir o ex-presidente Lugo. Para entender o imbróglio políticosocial, somente após uma conversa de duas horas e meia na casa da historiadora e socióloga paraguaia Milda Rivarola, entre objetos de séculos passados. Cigarros de entremeio, e Rivarola esmiuçou alguns fatos. Ela contou ter sido a quinta ocupação dos sem-terra nos mesmos 2 mil hectares do Estado, adquirido em usucapião por um empresário do setor agropecuário, também ex-Senador. “Ocuparam quatro vezes, sabiam que era uma terra fiscal. Eles sabem como é a polícia no Paraguai, então não resistiam, mas... Nessa última vez, pensaram: vamos morrer aqui e resistir. Então, houve uma reação estúpida das duas partes”, explicou Rivarola, exilada política na Espanha e na França por 10 anos durante a ditadura paraguaia. Para a socióloga, o golpe de estado perpetrado pelo parlamento paraguaio, “apoiado por grupos de agroexportadores”, foi um ato de políticos que depredam o Estado com a lógica animal de “comer tudo o que se pode, como insetos”, criticou Rivarola. “Digo que não há direita e esquerda no Paraguai, a lógica é pré-política. A fórmula é democrática, mas a lógica em si é predatória. Foi o que fizeram agora, destroçaram o país frente à comunidade internacional. Não lhes importa, vamos comer o animal que passou agora, aproveitar uma conjuntura para obter benefícios próprios. E se a manada não passa mais, isso será problema de outros.”


No Paraguai, tem golpe para todos os gostos

Esperançoso no governo de Lugo, o agricultor Pablino agora vive dias de incertezas

GOLPE DOCE GOLPE

NO REINO, REUNIDOS

No edifício do Congresso — construído com recursos de Taiwan, contou Milda Rivarola —, a secretária da presidência da Câmara dos Deputados, Rosa Benitos, me concederia mesa, cadeira e palavras políticas despretensiosas, enquanto aguardava a chegada das autoridades para votação do novo vice-presidente do Paraguai. Com muito orgulho dos 20 anos como funcionária no Congresso, ela contou sem pretensões político-partidárias os bastidores da votação que decretou a deposição do ex-presidente Lugo. “Em todo esse tempo de trabalho, nunca tinha visto tamanha união entre os políticos como nos dias do processo contra Lugo. Os deputados saíram quase de mãos dadas, Colorados e Liberais juntos foram entregar ao secretário-geral a cópia do resultado da seção de votação”, contou, exaltada, Rosa. O Partido Colorado deixou a presidência do Paraguai pela primeira vez na história política do país com a vitória de Fernando Lugo, em 2008, que representava a oposição pelo Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA). O mandato presidencial no Paraguai é de cinco anos e não há reeleição. “Não foi um golpe de Estado, foi um golpe dos políticos. No Senado já tinham os votos cantados. Era um acordo, mais que todas as outras vezes.”

Outro dia de calor em Assunção, e os jornais continuavam a pipocar informações sobre as novas nomeações aos cargos públicos. A bola da vez era a Administração de Eletricidade (Ande). Bem recebida pela Assessoria de Imprensa, informaram sobre a solenidade de posse do novo presidente, que ocorreu no próprio edifício. Naquele momento, ser uma jornalista brasileira era o mesmo que ser representante de um dos países latinoamericanos que condenou como golpe de estado a ascensão de Federico Franco ao poder. Um evento festejado pelos funcionários públicos, ao som de longos aplausos, contrastou com o ambiente do lado de fora do prédio da Ande. Alguns vendedores ambulantes não sabiam que Franco estava ajeitando a casa. Eles apenas entendiam como injusta a derrocada parlamentar imposta ao ex-presidente em quem eles haviam votado. “Não entendo como aconteceu, mas queria que o Lugo continuasse. Os políticos decidiram por sua conta, mas a gente votou”, questionou, calma, na porta da Ande, a vendedora de doces. Também ali, o vendedor do chocolate Golpe chamaria atenção pela ironia da cena. Em sintonia com a situação, questionado se aquele Golpe era o tal golpe que comentavam na política, ele respondeu com um meio sorriso: “Pode ser. Aqui tem golpe de todo jeito”.

Em Assunção, ruas tranquilas em contraste com o fervor presente nos edifícios dos órgãos púbicos. Franco assumiu o cargo presidencial no fim de junho, e logo começou o troca-troca dos representantes políticos

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ESPORTE

De cara

NOVA

PROJETO QUE REFORMA AS PISTAS DE SKATE DE CAPITAIS BRASILEIRAS CHEGA A BELO HORIZONTE

POR BRUNO MATEUS FOTOS CARLOS HAUCK

NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960, os surfistas de Los Angeles, na Califórnia, procuraram uma alternativa para os dias de ondas ruins e saíram “surfando” pelas ruas e passeios da cidade. Assim nasceu o skate, que já transcendeu o esporte e se transformou em cultura de rua, sinônimo de atitude e símbolo de várias gerações. No turbulento 1965, quando os Estados Unidos fincaram os dois pés na Guerra do Vietnã e o ativista pelos direitos dos negros Malcom X foi assassinado, os primeiros campeonatos de skate foram organizados, também na Califórnia, e quem participava não poderia suspeitar que o esporte se tornaria tão popular nos quatro cantos do mundo. No Brasil, o “boom” do skate veio nos anos 1980. De lá pra cá, muita coisa aconteceu e o esporte ganhou incentivo, respeito e profissionalismo. 50

FIX TO RIDE

Pense em uma pista de skate praticamente abandonada, com rachaduras e infiltrações. Depois, pense nessa mesma pista totalmente reformada, de cara nova, perfeita para um rolé. É justamente essa a ideia do projeto Fix to ride, iniciativa da Converse Skateboard, que já passou por Porto Alegre e Rio de Janeiro e, no fim de junho, entregou aos skatistas de Belo Horizonte uma pista reformada de presente. E a escolha do local não poderia ser mais acertada: a pista do Bairro Nova Floresta, conhecida como NovaZoo. Construída há 30 anos, ela faz parte da cultura do esporte na capital, além de nunca ter passado por reformas. Com o Fix to ride, foram feitas a reforma do bowl e da pista street, remodelação e novos obstáculos, além de pintura. “Belo Horizonte tem um público muito fiel. Já estávamos namorando fazer algo aqui”, diz o representante da Converse em Minas Gerais, Gustavo Souza. Com projetos como esse, Gustavo espera que a iniciativa privada olhe com mais atenção para o skate. Um documentário sobre os 30 anos da pista e seus personagens está sendo prepara-


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gustavo carneiro

Com o projeto Fix to ride, o bowl e a pista street do Nova Floresta passaram por reformas. A inauguração contou com skatistas profissionais de todo o Brasil

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do e tem previsão de lançamento para este mês. “A NovaZoo formou quase todos os skatistas de BH”, diz Gustavo Carneiro, um dos responsáveis pela produção. Para celebrar a inauguração, uma competição foi realizada com 30 atletas profissionais de todo o Brasil, que premiou o melhor desempenho na pista street e o melhor rolé no bowl. O belo-horizontino Jay Alves, de 27 anos, skatista profissional há cinco, mas que dá suas manobras há 14, participou de todas as etapas da reforma — desde a escolha da pista até a conclusão da reforma. Segundo ele, era importante que o local não perdesse “a essência das antigas”. Jay destaca a importância da iniciativa para quem está começando no esporte: “E faz também com que o pessoal ‘da antiga’ volte e os novos se empolguem. Voltou a ser um lugar de evolução”. A recuperação de uma cirurgia ainda lhe causava algum incômodo, mas o alívio e a satisfação em ver a NovaZoo de cara nova fizeram com que ele se esquece das dores. “Estava todo mundo feliz, fiquei muito realizado. O skatista também tem que ter a visão de levar o esporte para todo mundo”, diz, já pensando nas próximas manobras.


VIAGEM

AVENTURA PERUANA APROVEITANDO O PAÍS DA FOLHA DE COCA E MACHU PICCHU, SEM PERDER O MELHOR DA CULTURA LOCAL

POR RENATA FERRI

1 CAMINHE ATÉ MACHU PICCHU

cris bouroncle

UMA VIAGEM AO PERU é marcante em tudo: nas cores, nos sabores, nos cheiros, nas sensações físicas e emotivas. É como estar realmente no umbigo do mundo, fazendo parte de uma cultura rica em simpatia e tradições impressionantes.

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Existem trilhas diferentes que levam os aventureiros a pé de Cusco a Machu Picchu. O caminho que passa pela montanha coberta de neve Salkantay foi o que fiz. A caminhada dura cinco dias e são 74 quilômetros. É extremamente cansativo, e é preciso bastante preparo físico para concluir a jornada. Porém, o esforço vale a pena, pois as paisagens são deslumbrantes e a sensação de chegar até as mágicas ruínas de Machu Picchu com os próprios pés é impagável.


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claire taylor

Os sabores do Peru são incomparáveis, e o refrigerante Inca Cola faz parte das peculiaridades que suas papilas gustativas vão experimentar. A coloração amarela fluorescente não tem absolutamente nada a ver com o gosto de tutti-frutti. Vale a pena comprar algumas garrafinhas e levar de lembrança para os amigos.

felipe campbell

PROVE A INCA COLA

paul williams

3 LA HOJA DE COCA NO ES DROGA

Uma das tradições mais características da cultura peruana é o uso da folha de coca. Muitas pessoas associam essa inofensiva plantinha com a cocaína, mas a folha de coca não é droga. Ao caminhar pelas ruas é muito fácil observar os peruanos sempre mascando as folhinhas como se fossem chiclete, ou tomando o chá de coca, que pode ser feito com uma infusão das folhas direto na água quente ou comprado no supermercado em saquinhos. Os efeitos não são estrondosos. Algumas pessoas não sentem nada de diferente, enquanto outras ficam um pouco mais “ligadas”, como se tivessem tomado algumas xícaras de café. O grande poder da coca para os turistas é aliviar o mal-estar que quase todo mundo sente quando não está acostumado às grandes altitudes em cidades como Cusco e Machu Picchu.

4 VOE SOBRE AS LINHAS DE NASCA

O sobrevoo para ver os incríveis desenhos das linhas de Nasca é um passeio que não pode ficar de fora em um roteiro de viagem ao Peru. Elas foram feitas no chão do deserto há cerca de 1.500 anos. O motivo real pelo qual elas existem é um mistério, mas há muita especulação. Alguns dizem que era um método para comunicação com extraterrestres, já que a única forma de visualizar os desenhos completamente é de uma altura de 300 metros. 55


5 NÃO TENHA MEDO DO PISCO SOUER OU CEVICHE

berniecb

O pisco souer é o drinque típico da região, leva pisco (bebida destilada de uvas), limão, açúcar e clara de ovo crua. E as coisas cruas não param por aí, o prato mais conhecido da culinária peruana é o ceviche: um mix de peixes “cozidos” apenas no suco de limão. Enfrente o medo da salmonela, pois os dois são deliciosos. Só uma dica: deixe o ceviche para uma cidade perto do mar.

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CONHEÇA O MUSEU REGIONAL DE ICA

AME O COENTRO

renata ferri

Se você não gosta de coentro, é melhor preparar um estoque grande de barrinhas de cereal, pois praticamente tudo leva esse tempero, desde sopas, que são servidas como entrada em todas as refeições, até os pratos típicos como lomo saltado (carne de boi com molho) e o famoso ceviche.

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Para quem gosta de arqueologia, dar uma passada na cidade de Ica para conhecer o Museu Regional Maria Reiche é uma boa pedida. Lá você vai ver instrumentos usados pelas civilizações Nasca e Inca, assim como múmias impressionantes com crânios deformados parecidos com cones.


8 COMPRE LÃ DE ALPACA

9 PASSE O RÉVEILLON EM CUSCO

Cusco, na língua quéchua, ainda falada por muitos descendentes indígenas, significa “umbigo do mundo”. Uma das tradições do lugar é virar o ano de calcinha/ cueca amarela. As peças são vendidas aos montes nas feiras e lojinhas da cidade. Assim que a meia-noite é anunciada pelos fogos de artifício, todos começam a correr freneticamente em volta da Plaza de Armas. A tradição diz que, para ter sorte no novo ano, deve-se dar três voltas.

renata ferri

renata ferri

Não importa se é inverno ou verão, ao chegar a Cusco, você vai sentir frio. Mas os que não se prepararam para as temperaturas geladas na cidade de 3.400 metros de altitude não estão de todo perdidos, afinal o comércio da estimada lã de alpaca está presente em todos os cantos. Dependendo de sua capacidade de pechincha, você pode conseguir um preço bem barato pelos gorros, luvas, ponchos, cachecóis, moletons e meias feitos à mão.

10 FAÇA UM BRINDE A PACHAMAMA

Pachamama é o nome da deusa cultuada pelas civilizações indígenas provenientes dos Andes Peruanos. Na linguagem quéchua significa Mãe Terra. É comum fazer um brinde a ela antes de tomar alguma bebida ou iniciar uma refeição. No Peru é possível sentir uma vibração diferente. Isso pode ser efeito da altitude, o cansaço dos 74 quilômetros de caminhada até Machu Picchu ou então é apenas Pachamama mostrando sua existência. Na dúvida, é bom brindar a ela. 57


PERFIL

LANÇANDO UM DISCO MEIO BOSSANOVA, MEIO POP ROCK COM O EX-GUITARRISTA DO THE POLICE, ANDY SUMMERS, FERNANDA REVISITA SUA HISTÓRIA COM A MÚSICA

POR Flávia Denise de Magalhães FOTOS BRUNO SENNA

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ELA CHEGOU À CENA MUSICAL brasileira com uma banda “esquisita”, usando roupas de menino e cantando com a voz mais leve e suave da época. Hoje, com quase 20 anos de Pato Fu, Fernanda Takai, de 40 anos, coleciona grandes conquistas. Já fez shows por todo o mundo, publicou dois livros, teve uma filha e, agora, se prepara para se lançar no que promete virar uma carrei-

ra internacional com o disco Fundamental, gravado em parceria com Andy Summers, ex-guitarrista do The Police. Em uma conversa com a Ragga, ela relembrou sua trajetória no mundo da música e falou de seus desejos para o futuro.

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Você começou a vida no Amapá, foi para a Bahia e acabou em Minas. Como foram esses primeiros anos? MEU PAI ERA GEÓLOGO e trabalhava na Serra do Navio. Nasci lá no Amapá, mas meu pai foi transferido para a Bahia. Então, fui para Salvador, depois para Jacobina, no interior da Bahia. Morei seis anos lá. Vim para Belo Horizonte aos 8 anos. Onde nasci, morei um ano e pouquinho só.

Como foi crescer em vários lugares? BOA PARTE DA MINHA VIDA passei aqui em Minas mesmo.

Vou fazer 41, estou aqui desde os 8. A minha família chegou a se mudar para Goiás. Eles foram e eu fiquei, estava terminando o último ano de comunicação na Fafich. Eles me falaram para terminar o curso e depois me mudava para lá. Mas acabei arrumando emprego, comecei a namorar o John, comecei o Pato Fu e fui ficando aqui. Minha família acabou ficando uns seis anos lá. E meu pai morreu lá, aí voltou todo mundo. Meus irmãos mais novos moram perto aqui de mim.

Você chegou a Belo Horizonte como baiana?

Na escola — eu estudava no Loyola Pampulha, que depois virou colégio Arquidiocesano — eu falava igual baiana. Não falava professora, eu falava “pró”, igual baiano. E ficava todo mundo rindo. Eu ficava muito incomodada, só que criança muda rapidinho. E rapidinho parei de falar baiano. Só que meu pai era paulista e minha mãe é de Alagoas e morou no Rio muito tempo, então lá em casa o sotaque sempre foi todo misturado. Fiquei com um sotaque meio de lugar nenhum.

COMPLETAMENTE BAIANA.

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Quando você começou a cantar?

A gente fez uma banda, Data Vênia, quando eu tinha de 14 para 15 anos. O primeiro festival de música do colégio a gente inventou para poder tocar. Quando entrei na faculdade, a gente continuou tocando um pouquinho, mas ninguém levava muito a sério, ninguém queria ensaiar. E até tem uma história engraçada, que um dos meus amigos falava: “Ah, para que a gente vai ensaiar? Você acha que algum dia vai tocar no Mineirinho?”. [risos] E já toquei várias vezes no Mineirinho, já toquei no Rock in Rio. Mas quando eu tinha essa banda, me dedicava como a um hobby, um hobby sério. Já que tinha banda, tinha que ensaiar e tudo, mas eu também não achava que ia fazer sucesso. Só sabia que gostava de música. Mas, por outro lado, gostava de comunicação também. Sou formada em relações públicas, trabalhei na área durante muito tempo. Quando o Pato Fu lançou o terceiro disco, Tem, mas acabou, eu ainda trabalhava em agência. O Pato Fu já fazia sucesso, e eu ainda trabalhava com a minha outra profissão.

NA ESCOLA.


O que você fazia dentro da agência? REDAÇÃO E ATENDIMENTO. Era uma agên-

cia pequena.

A galera curtia ser atendida pela Fernanda Takai?

em 1995, 1996, o Pato Fu ganhou um monte de prêmios. Saía muita matéria e alguns clientes falavam: “Você que é aquela menina, né? Canta pra gente!”. E eu ficava muito incomodada: “Agora não sou cantora, vim atender você, trabalho em agência”. Ficava essa confusão na cabeça das pessoas

NO FIM DO TEMPO QUE FIQUEI LÁ,

e pedi um tempo. Falei que ia sair durante seis meses para ver se ia ficar vivendo de música mesmo ou se era uma fase. Nunca mais consegui voltar. A gente começou a viajar muito, comecei a ganhar dinheiro com música. Antes ganhava mais dinheiro com publicidade, vivia de publicidade. A música era pouquinho, o cachê era baixo, era mais diversão. Depois o negócio inverteu. Você já fez aula de canto? EU JÁ FIZ UM CURSO de férias que o Eládio Perez Gonzalez

dava na Fundação de Educação Artística. Fui uma vez, antes do Pato Fu, devia ter 19, 20 anos. Fui porque achava que estava ficando rouca. Mas era um monte de gente junta, acho que eram umas 15 pessoas, por uns dois dias só. O curso era para achar qual era a sua tonalidade, para ele falar algumas coisas sobre você.

O que ele disse? AH, ELE FALOU QUE EU DEVIA CANTAR MAIS AGUDO do que canto. E até hoje acho que devia cantar mais agudo. Sou soprano coloratura, que é a voz mais alta, mais agudinha. Mas não gosto da minha voz agudíssima. Acho que ela fica parecida com a voz de outras pessoas, então o meu timbre mais particular é quando canto mais grave. E ele falou: “Você vai ter problema de voz”. Tentei escolher regiões um pouco mais altas, mas não tanto quanto ele me recomendou. E muito tempo depois, lendo a biografia da Nara Leão, descobri que ele deu aula para ela. Não sabia na época. Ela falou que começou a cantar muito melhor depois que fez aula com ele. Mas não aprendi como impostar a voz nem nada. Foi mais a região mesmo. Foi um curso de férias.

Você não pensa em voltar mais para o grave ou ir mais agudo?

Quando gosto de outras vozes, o que importa para mim, mais do que a técnica, é o timbre da voz, se é gostosa de ouvir. Então, sei que tem gente que canta muito, que emite muito, mas não consigo ouvir muito tempo. E há outras pessoas que cantam pouco, mas têm um timbre tão gostoso de ouvir que fico achando que minha turma é essa aí, que canta suave. Mas é claro que cada um defende o seu lado. Tem muita gente que fala: “Fernanda não canta nada”, porque não gosta do jeito que eu canto, que é bem específico. Hoje em dia, tenho essa lucidez. No começo da carreira isso me incomodava muito. “O pessoal acha que não canto nada, será que não canto mesmo?” [voz de choro] Hoje, sei que tem gente que gosta do jeito que eu canto e gente que não gosta.

ACHEI UM JEITO CONFORTÁVEL DE CANTAR.

Como começou a formação original do Pato Fu?

com essa minha banda. A gente fazia pouquinho show, era hobby mesmo. Como cada um entrou numa faculdade diferente, a gente foi perdendo um pouco o contato. E comecei a gravar as minhas próprias músicas. Fazia as minhas músicas e comecei a pegar o dinheiro que ganhava e gravava no estúdio com meu irmão, que é baterista e hoje em dia trabalha como produtor com o Jota Quest. A gente gravava só para eu ter registradas as minhas músicas para mostrar para as pessoas, mandar para a MTV, com um clipe que as minhas colegas da comunicação fizeram. E deixei uma fita na loja do John. Ele que me chamou e falou: “Nossa, que voz legal, vamos tocar”.

EU ESTAVA NA FACULDADE,

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E os outros membros do Pato Fu? Como foram se encontrando? O RICARDO, o baixista, era vendedor de loja. Ele trabalhava lá quando a gente começou a tocar... Mas, antes de chamar Pato Fu, quem tocava era o amigo do John, o Bob Faria, que é comentarista esportivo do Globo Esporte. Eles tinham uma dupla, o Sustados por um Gesto, e me chamaram para fazer umas participações. Só que o Bob saiu e o John decidiu mudar o nome. Aí surgiu o Pato Fu, e o Ricardo começou a tocar o baixo no lugar do Bob. O Xande só entrou depois, quando a gente começou a fazer sucesso mesmo e a fazer show maior. Até então era bateria eletrônica, não tinha baterista. Era um trio. E o Xande era baterista da Dib Six, uma banda disco daqui, que fazia muito sucesso nos anos 1990. Quando a gente chamou para o Pato Fu, ele falou: “Eu já tenho a Dib Six”. Ele já estava superbem, mas, como era um trabalho cover, ele deve ter pensado que era interessante fazer algo com uma banda que tinha trabalho próprio. Daí veio tocar com a gente.

E a cena musical de hoje comparada com aquela época?

Tem muita gente que diz: “Fernanda não canta nada”, porque não gosta do jeito que eu canto

O pessoal reclama, mas é engraçado. Quando a gente surgiu, o pessoal falava que bom era o passado, a geração do [Gilberto] Gil, da Gal [Costa], do Caetano [Veloso], do Clube da Esquina. Eles são, claro, supertalentos, mas toda época tem seus talentos. Se você for olhar só o que toca em determinadas rádios e aparece em determinada TV, vai achar que vai mal, que só toca um tipo de música popularesca, mas isso não representa o que é produzido. Você tem que peneirar. Algumas rádios têm programas específicos para tocar o que tem de novo. E o público também tem que fazer isso um pouco. Se só ligar a televisão e a rádio nas 10 melhores vai ouvir só um tipo de música e vai achar que anda mal.

CONTINUA BOA.

Tem alguma banda nova que você gosta? TENHO GOSTADO MUITO DE ARTISTAS

Como era a cena musical de Belo Horizonte nessa época?

que era muito forte, com Sepultura e Overdose. O selo Cogumelo sempre foi muito forte. E tinham as bandas dos anos 1980. O John tinha uma banda que se chamava Sexo Explícito. E o Samuel [Rosa] tinha outra que chamava Pouso Alto. E tinham outras também, essas bandas todas do metal, a Agência Tass, que fizeram sucesso relativo em BH, mas nunca fizeram sucesso em São Paulo e no Rio. E esse pessoal dos anos 1980, o Samuel, o John — talvez até o povo do Jota [Quest] tivesse outras bandas que não lembro o nome —, fez outras bandas nos anos 1990 e essas bandas que fizeram sucesso: Skank, Jota Quest, Pato Fu, Tianastácia. Todo mundo já estava desde o fim dos anos 1980 tocando, mas só no início dos anos 1990 que deu certo. E aí era a mesma época de Raimundos, de O Rappa, de Chico Science e Nação Zumbi. Então, o Brasil todo estava cheio de bandas novas e legais. E cada uma era diferente da outra. Essa época em que a gente surgiu foi muito bacana. A MTV começou a entrar com muita força no Brasil. As rádios não tocavam quase nada da gente, mas a MTV passava os clipes de todas as bandas novas. Isso fez a maior diferença, todo mundo começou a viajar muito.

TINHA O METAL

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SOLO. Mas tem banda boa. Tem uma que se chama Supercordas, lá do Rio, que é muito legal. Eles fazem um som mais psicodélico, mas que é melodioso. Em São Paulo tem o Léo Cavalcante, que canta, compõe e produz. Aqui a gente tem uma cena muito legal, que continua diversificada. Aqui tem o Renegado, o Thiago Delegado, a Ju Perdigão, o pessoal da cena instrumental também. E cada um tem o seu jeitão. Tem outras bandas, o Transmissor, o Graveola. Tem muita gente, cada um do seu jeito. Minas têm tantos festivais. E são grátis, só sair da sua casa e você vai conhecer um tanto de gente legal.

Por muito tempo, principalmente no começo, o Pato Fu era conhecido como uma banda “esquisita”. É, VERDADE.

Como ficou isso hoje?

Alguns fãs, mais xiitas, que gostavam da gente porque a gente era esquisito, reclamam que mudamos. Mas não acho que a gente deixou de ser esquisito, não. Acho que as pessoas começaram a ouvir mais a gente e se acostumaram com a nossa pseudoesquisitice. Quando você começa a ouvir alguma coisa pela primeira vez acha estranho, mas depois

SABE O QUE ACHO DO ESQUISITO?

SEMPRE FALO PARA QUEM DIZ QUE A GENTE MUDOU DEMAIS: “VOCÊ TAMBÉM MUDOU. PASSARAMSE 20 ANOS. QUANDO VOCÊ COMEÇOU A GOSTAR DE PATO FU VOCÊ TINHA 14. HOJE, TEM 34”



começa a gostar. Isso em tudo: na moda, na comida, no som, em uma série de TV que você está vendo. Acho que muita gente aprendeu a gostar da gente. Na carreira, a gente tentou evoluir, tentou fazer uma evolução como compositor, instrumentista. Como artistas, tentamos fazer shows cada vez mais legais, com cenários legais. Isso agrega mais gente e afasta quem queria ter a banda só para ele. Tem muita gente assim, a cena indie mesquinha que diz: “Só gosto dessa banda enquanto não fizer sucesso, quando fizer sucesso não gosto mais”. E a banda é a mesma banda, só teve mais exposição. Quando você joga luz, tudo muda um pouco de figura. Sempre falo para quem diz que a gente mudou demais: “Você também mudou. Passaram-se 20 anos. Quando você começou a gostar de Pato Fu você tinha 14. Hoje, tem 34. Você mudou também. Não pode acusar só a gente”.

música tem essa amplitude incontrolável. Já no texto, sei precisamente quando estou escrevendo um texto engraçado ou quando a pessoa vai se emocionar e vai chorar. Você sempre fala que é muito reservada, mas lendo suas crônicas e acompanhando o seu Twitter, com 10 fotos no Instagram por dia, é fácil se sentir dentro de sua vida. Isso não é um tipo de invasão?

Sei exatamente o que quero escrever, até onde vou, que foto publicar. Por exemplo, na gravação na Califórnia, quando comecei a postar algumas coisas, as melhores fotos e os fatos mais legais eu não publiquei. Vou deixar para soltar só quando o disco sair. Sei me reservar. Tenho, como um vinho, uma reserva especial minha, que sei onde e se vou usar. Mas gosto de me divertir e tenho esse negócio de compartilhar minhas coisas. As pessoas que admiro, tipo o Jamie Oliver, compartilham, e acho legal ver as conquistas dele, o astral da vida dele, que, com certeza, vão para a comida que ele faz ou para o livro dele. Mas ele sabe a medida também. É diferente de publicar uma foto minha pelada no vaso. [risos] Tenho noção, como artista, como cidadã, como mãe, mas também gosto de me divertir.

EU SOU O FILTRO.

Ao longo de sua carreira fica claro que suas experiências pessoais, como a morte de seu pai e o nascimento de sua filha, influenciam muito a sua música. Como isso funciona? A LETRA DE MÚSICA É MAIS AMPLA. Por mais que ela seja inspirada num fato muito pessoal, a leitura que as pessoas fazem é muito variada. Às vezes, as pessoas interpretam a música de um jeito que não tem nada a ver com o que eu pensava. E a crônica e o conto, quando eu escrevia no jornal, têm uma leitura mais direta. Quando estou contando a história do meu pai ou da minha filha, a pessoa já sente a minha emoção ali. É uma entrega maior. Quem leu os meus livros e a minha coluna me conhece muito mais do que quem lê as músicas que canto. Aquelas são histórias da minha vida mesmo. Já na música, como a que a gente fez para o meu pai, é uma música triste, de perda, e muita gente acha que é uma música que um namorado fez para a namorada. A

ÀS VEZES, as pessoas interpretam a música de um jeito que não tem nada a ver com o que eu pensava

Você está lançando agora o CD com o Andy Summers. Como você descreveria o trabalho que fizeram juntos?

nino andres/divulgação

ACHO QUE É UM DISCO de músicas inéditas

Integrantes do Pato Fu no começo da carreira 64

profundamente influenciadas pelo pop e pela bossa-nova. A bossa está na vida do Andy há muito tempo. Desde os 14 anos, quando ele começou a tocar guitarra e viu algumas coisas do Brasil, ficou apaixonado pelo Luis Bonfá, pelo Tom Jobim e depois, comprando os discos, ele descobriu [Roberto] Menescal, que é um dos principais compositores, e ficou depois amigo dele. Andy gosta muito. Só que ele vem do The Police, que é uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. É um repertório metade em inglês, metade em português, e acho que o disco tem bastante possibilidade de romper no mundo afora essas barreiras que separam os estilos e as plateias. O público que gosta de The Police vai ter curiosidade de saber o que Andy está fazendo. Quem me conhece e conhece ele vai querer saber “o que eles fizeram juntos?”. E quem não me conhece vai querer saber por que ele me chamou. Poderia ter chamado qualquer cantora do mundo, mas ele me escolheu.


nino andres/divulgação

arquivo pessoal

Fernanda, John e Ricardo refazem imagem do disco Gol de Quem anos depois, todos que participam da banda atualmente (à direita) e Fernanda e sua filha, Nina (abaixo)

Por que ele te chamou? PERGUNTA PARA ELE. [risos] Ele fala que acha que a minha

arquivo pessoal

voz é a perfeita para traduzir e apresentar essas canções que ele começou a fazer influenciado pela bossa-nova, mas que, com o passar do tempo, teve o pop rock dele. Porque, em 2009, ele estava no Rio fazendo um documentário com o MenescaL, o United kingdom of Ipanema, e várias pessoas cantaram. Ele me chamou para fazer uma música. E, logo que saiu, o Menescal me mandou um e-mail falando que a música que o Andy mais gostou foi a minha, que ele queria gravar comigo. Achei que ele queria gravar uma ou duas músicas para o disco novo dele. Mas o Andy me mandou um e-mail falando: “Quero fazer um disco inteiro com você cantando todas as músicas”. Então, acho que ele deve ter se apaixonado pelo jeito que cantei as músicas dele e teve convicção de que poderia ser um disco legal, tanto para ele quanto para mim. Como foi o processo? ELE SENTOU E ESCREVEU, em quatro meses, 20 músicas. E

falou: “Essas músicas aqui eu escrevi pensando na sua voz”. Ele me pediu para selecionar 12. Escolhi e sugeri a gente fazer as versões em português. Eu que as fiz com o John e a Zélia. No fim, lançamos 11 das 12 músicas que gravamos.

Você diria que o novo disco puxa para a bossa-nova? NÃO,

diria que ele é mais “popa-nova”. [risos]

Onde vocês gravaram? NA CALIFÓRNIA, no estúdio dele. A minha parte foi muito rápida, gravei todas as vozes e todos os vocais em nove dias. Estamos lançando 11 faixas, mas gravei 12 em inglês, seis em português e uma em japonês. Foram 19 faixas, com todos os backing vocals. Eu trabalhava das 10h às 19h, sem nem sair para almoçar. Acho que o processo de gravação e mixagem durou três meses, mas o meu trabalho mesmo foi em nove dias.

Você sente que participou menos por ser só interprete em um disco?

Mas não acho menos, não. Tem muita gente que tem crise que você tem que ser cantora, compositora, bailarina do Faustão e

ESCREVI AS VERSÕES EM PORTUGUÊS, NÉ?

namorada de jogador de futebol, tudo ao mesmo tempo. Não é assim. Tem tanta gente que é só cantor e que é um grande cantor, como a Nara [Leão], a Elis [Regina], o Frank Sinatra. A coisa que eles sabiam fazer melhor era apresentar a música de outras pessoas para a plateia. O que gosto mais de fazer é cantar. Gosto de compor também, mas, se gostasse mais de compor, faria muito mais músicas. Para mim é natural cantar mais, adoro escolher repertório e montar um show novo. O que você pretende fazer agora?

[risos] Já fiz vários shows fora do Brasil, mas shows pontuais. Mas, pela primeira vez, eu talvez tenha uma turnê mundial, vou levar o mesmo show para vários países por um tempo mais longo. Isso para mim vai ser muito importante para me posicionar como artista internacional. É um ponto muito importante da minha carreira que está para acontecer. Se o disco for bem recebido, claro. Acho que, no mínimo, ele vai ser um disco muito ouvido, muito resenhado. Se ele vai fazer sucesso ou não, a gente não sabe. Mas é um passo bem bacana, estou contente com ele.

CANTAR COM O PAUL MCCARTNEY.

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Amsterdam Pub Carregando o nome de uma das cidades mais fervorosas do mundo, o Amsterdam Pub foi reinaugurado com nova decoração, inspirada no rock ‘n’ roll e a garantia de música boa com os projetos musicais que trazem DJs, MCs e bandas independentes para o palco da casa. Rua dos Inconfidentes, 1.141 – Savassi (31) 3262 0688 amsterdampub.com.br 66


avaliação da casa Para encontrar os amigos

O que sai da cozinha

carlos hauck

Quem frequenta

quem. quando. porque O Amsterdam Pub abriu as portas há dois meses na capital mineira e já é primeira opção para a noite de muita gente que curte o bom e velho rock ‘n’ roll. Uma das frequentadoras assíduas da casa é a modelo Mariana Honorato que faz questão de passar o fim de semana lá desde a inauguração e diz que o lugar é ideal para quem curte música boa e procura uma nova opção na cidade. “Amsterdam é uma casa de rock, que tem um ambiente tranquilo, onde posso ir com minhas amigas e curtir a noite com um som bem legal”, conta. Na sexta e no sábado a casa recebe em seu palco bandas de rock e DJs que garantem a pista animada durante a noite inteira. Cash e Malt 90 são algumas das bandas que marcam presença na sexta e no sábado. No domingo, o bem conhecido projeto Original Sundays traz o melhor do hip-hop, rocksteady e ska. Segundo a modelo, o lugar também ganha no atendimento e na cerveja Heineken “sempre gelada. “Eu indico o Amsterdam Pub porque lá tem o melhor da música, pessoas bacanas e ambiente tranquilo. Em resumo, tudo de bom. Sem dúvidas, está sendo a melhor casa noturna de rock na capital mineira”, conta.

“É um ambiente tranquilo em que posso curtir a noite com um som bem legal” Cola aí Participe da próxima cobertura fotográfica. Consulte as próximas datas no revistaragga.com.br.

APRECIE COM MODERAÇÃO. 67


O

ON THE ROAD Dia de piolho DOZE HORAS DENTRO DA GALERIA DE ARTE MAIS MARGINAL — E PROMISSORA — DE BELO HORIZONTE

RUA RIO DE JANEIRO, Centro. Warley Desali é anunciado pelo interfone e logo conseguimos autorização para subir os quatro andares de escada que nos separam do apartamento de Vitor, poeta e amigo que nos aguarda ansioso. O apartamento é pequeno e pouco iluminado. No segundo cômodo, uma cama, um armário aberto, um emaranhado de calças e camisetas no chão e... o tesouro prometido. Warley sorri e anuncia: “Seja bem-vindo a galeria em processo Piolho Nababo”. A visita é matutina, e pela janela entreaberta dá para ouvir Belo Horizonte centelhando. O artista e não-curador Froiid é o próximo a ser anunciado pelo interfone, lá de baixo. Não demora e aqui estamos tentando espremer cinquentas artistas mineiros em um carrinho de supermercados enferrujado. Froiid garante que o carrinho aguenta mais, então pressionamos. Alguém me dá um quadro da grafiteira Raquel Bolinho para carregar e, no caminho para o térreo, eu começo a entender alguma coisa. Talvez seja a arte mais marginal sendo produzida — e difundida — na cidade neste momento. “A Piolho é uma galeria que não tem espaço fixo, regras ou curador”, explica Desali, artista plástico formado na Guignard. “Nossa ideia é ser uma galeria livre, que abre 68

TEXTO E FOTOS BERNARDO BIAGIONI

espaço para as pessoas que estão criando em Belo Horizonte hoje”, completa Froiid, estudante da mesma Guignard. Antes a Piolho Nababo recebia seus visitantes na extinta Ystilingue, uma loja de 50 m² no Edifício Maletta que abrigava este e outros coletivos marginais. Mas, há alguns meses, o proprietário da loja e “anarquista-síndico” colocou todo mundo para correr. Certa manhã Desali chegou ao Maletta e os quadros estavam todos no corredor. Aquele teria sido um dia ainda mais trágico, não fosse pelo amigo Vitor, que disponibilizou sua casa para hospedar o acervo. E este foi o começo da terceira fase da Piolho Nababo. “Apesar da nossa ideia de itinerância, a Piolho surgiu em um espaço físico”, lembra Desali. No primeiro momento da galeria qualquer pessoa poderia expor sua obra. “O sujeito chegava perguntando se poderia fazer uma exposição, e a gente só entregava o martelo e alguns pregos”, conta Froiid. Até a situação ficar um pouco caóti-


ca. “Os quadros começaram a se sobrepor. De repente, a parede tinha duas, três camadas de trabalhos”, completa. A saída foi se organizar um pouco. “Dividimos o que era a Nababo, e o que era o Piolho. Semanalmente convidávamos alguém para expor na parede Nababo, que era da nobreza. Na semana seguinte, o artista escolhia quais obras iriam para o Piolho, que é o nosso acervo”, explica Desali. Este acervo foi ganhando corpo, com o passar das estações. Cada obra vendida, a preços que variam de R$ 1,99 a R$ 500, gera uma comissão voluntária para o projeto. Os artistas escolhem quanto querem contribuir. Todos contribuem, porque Desali e Froiid promovem estes artistas com um empenho inestimável. E porque todos sabem que viver de arte em Belo Horizonte não é fácil. Apesar da boa produção, o consumo ainda é raso. Sobretudo para esta arte de rua (ou influenciada por ela), que vem ganhando especial apreço por meio das redes sociais contemporâneas. “Em 2008 o mundo viu uma explosão dessa street art que conhecemos hoje. E foi quando começaram a abrir mais galerias específicas, que contemplam o gênero”, explica Froiid. Em BH, nasceu a Mini Galeria, a Quina e a Desvio. E a Piolho, em 2011. E a Piolho, desde o meio de 2012, atravessa o trânsito caótico da Avenida Augusto de Lima inquieta e malevolente, toda vez que abre sua porta empírica para seus apreciadores, novatos e transeuntes do Maletta. Como vai acontecer esta noite, no espaço sedido pela Quina. “Hoje teremos uma edição especial do nosso Leilão de Arte a R$ 1,99. As obras que não foram vendidas, serão destruídas”, aponta Desali. “Provavelmente teremos uma média bem baixa de lances. Pintamos quadros que provavelmente serão destruídos”, confessa Froiid, em um misto de emoção e desapontamento. Ledo engano. A noite de hoje é especial por outras razões bem peculiares, como veio a ocorrer mais tarde. O espaço lotou mais do que qualquer outra edição do Leilão, que antes acontecia no bar Nelson Bordello, no Centro. A revista Veja apareceu para fazer uma matéria — e a repórter

“O sujeito chegava perguntando se poderia fazer uma exposição, e a gente só entregava o martelo e alguns pregos”, conta Froiid

sorria. Os olhos de muita gente brilhavam vendo o acervo do Piolho subindo impune pela parede branca. E, é claro, os quadros de Froiid e Desali foram arrematados em lances altos — como mereciam. Uma quarta-feira bonita. Como há tempos a arte de Belo Horizonte não assistia. 69


G

RAGGA GIRL MODELO Gabriela Paganini FOTOS CISCO VASQUES

Antes que termine o dia

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MODELO Gabriela Paganini FOTOGRAFIA, EDIÇÕES E MAQUIAGEM Cisco Vasques FIGURINO Barbara Mucciollo PRODUÇÃO Carolina Zingler e Barbara Mucciollo 74

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L

LIVRARADA #reportagem

COLUNA POR BRUNO MATEUS FOTO bruno senna

Tempo de reportagem

imagens: divulgação

Audálio Dantas (Editora LeYa)

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O ESCRITOR FERNANDO MORAIS

assina o prefácio de Tempo de reportagem e, recorrendo a Gay Talese, diz que Audálio Dantas é “um jornalista do tempo em que se praticava a arte de sujar os sapatos”. Em dias nos quais longas entrevistas são feitas sem que o jornalista veja a cara do entrevistado ou, como diz Morais ainda no prefácio, se ele é gordo ou magro, essa compilação de 13 reportagens é um objeto valioso não só para jornalistas e estudantes de jornalismo, mas também para quem gosta de mergulhar nas histórias. As trajetórias do eterno repórter Audálio e do jornalismo brasileiro das últimas seis décadas estão intimamente ligadas — foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo quando do assassinato covarde de Vladimir Herzog pelas mãos da ditadura e também foi o primeiro presidente da Fenaj (Fe-

deração nacional dos jornalistas), além de ter passado por grandes jornais e revistas do país. Em 1981, recebeu um prêmio da ONU em reconhecimento por sua atuação em defesa dos direitos humanos. O texto de Audálio tem força descritiva sem se distanciar da informação. As reportagens nos levam a distintos lugares e pessoas: um desfile militar no Chile, o triste caso de mortalidade infantil por inanição em Pernambuco e um comprador de peixe do interior de Minas. E ainda nos apresenta Quarto de despejo — a rotina de uma favela paulistana contada pelo diário da moradora Carolina Maria de Jesus, que teve seus escritos publicados no mundo inteiro. Segundo o próprio, essa é sua reportagem mais importante. Tempo de reportagem traz textos inéditos, nos quais Audálio relata o making of das reportagens. Saber os detalhes da apuração torna o livro ainda mais saboroso e interessante. O jornalista mostra desapego e, num acesso raro de autocrítica no meio jornalístico, descortina inclusive as falhas, na sua opinião, de alguns de seus textos. Ao folhear o livro, a sensação é a de que as reportagens, algumas escritas há mais de 50 anos, ainda guardam frescor e têm o poder de levar o leitor às cenas que Audálio Dantas, com os sapatos ainda sujos e a alma impregnada de memórias, nunca se esquecerá.

A luta Norman Mailer (Companhia das Letras)

Gomorra Roberto Saviano (Bertrand Brasil)

O jornalista Norman Mailer, em 1974, foi ao Zaire cobrir o duelo entre Muhammad Ali e George Foreman e transformou o relato em uma profunda leitura do furor da mídia em torno do evento, da situação conturbada que o país africano atravessava e das tensões raciais dos anos 1970. Mailer acompanha desde os treinos dos dois lutadores até o desfecho da luta, uma das mais importantes da história do boxe. Interessante observar como o jornalista se coloca como personagem, narrando em terceira pessoa. Mais do que uma brilhante reportagem, A luta é um feixe de luz sobre um momento épico do esporte no século 20.

Infiltrar-se na Camorra, a violenta máfia napolitana, trouxe, como era de se esperar, sérios problemas ao jornalista italiano Roberto Saviano – ser jurado de morte é apenas um deles. Reportagem corajosa, Gomorra evidencia as ações da máfia e seus negócios inescrupulosos e milionários e como o porto de Nápoles, de onde embarcam e desembarcam diariamente todo tipo de mercadoria, tem papel fundamental na logística da Camorra. O livro mostra as formas de atuação da máfia e sua onipresença – vestidos de grifes italianas que circulam pelo mundo, por exemplo, são feitos em fábricas clandestinas da Camorra.


PRATA DA CASA Thiakov MÚSICO LANÇA SEU PRIMEIRO DISCO, UMA VIAGEM SONORA QUE VAI DO FOLK AO ROCK PSICODÉLICO

COLUNA POR LUCAS BUZATTI

divulgação

Thiakov lança seu primeiro disco, cheio de “fritações e momentos de profunda paz”

Acesse myspace.com/thiakov soundcloud.com/thiakov

NÃO É EXAGERO AFIRMAR que Thiakov é uma das mais versáteis e onipresentes figuras da acalorada cena independente de BH. Multi-instrumentista, compositor e produtor musical, Thiago Souza Mundim já gravou discos e dividiu palcos com nomes como Dead Lover’s Twisted Heart, Makely Ka e Pablo Castro e atualmente toca na bandas de Juliana Perdigão e no bloco Alcova Libertina. Assumiu o apelido — que “não passa de uma noite de bebidas russas” — no decorrer da trajetória profissional, recentemente brindada pelo lançamento de Radar. O debut é uma viagem sonora (lisérgica, mas sem bad trips), que vai do rock psicodélico ao standart, passando pelo folk, o pop e a música eletrônica. “Foi uma espécie de coletânea das novas canções do Thiakov. Elas realmente não se parecem, mas trazem alguma coerência quando colocadas lado a lado”, explica o músico, que contou com participações importantes na gravação do disco, como Yuri Vellasco (Graveola e o Lixo Polifônico), Luiz Gabriel Lopes (Graveola / TiaoDuá), Paim (Ram) e Thiago Corrêa (Transmissor). Sobre a concepção das músicas, Thiakov, que assina as composições e gravou vocais, baixo, guitarra, violão e programa-

ção eletrônica, conta que “o jeito espontâneo de gravar, sem ensaios, ao vivo, sem o chatíssimo click” fez com que o disco alcançasse dimensões estéticas diferentes. Apesar da boa receptividade, o criador não hesita em fazer a autocrítica. “Na primeira audição, achei o disco carregado, com excessos de ‘fritações’, bem como momentos de profunda paz. Com esses picos e vales, pensei que fosse causar uma impressão de estranhamento nas pessoas. Mas a minha conclusão é de que as pessoas são loucas, cheias de altos e baixos e estão em busca da paz interior”, viaja. A introspecção filosófica e as “expansões místicas e psicológicas” influenciaram o álbum, mas Thiakov defende que o trabalho não o define por completo, apenas apresenta fragmentos de sua personalidade. “O disco é bem diferente do que eu esperava e do que espero que o próximo seja. Estava em um momento unicamente agitado e turbulento. Tudo muda, estou mais sereno”, conta. O próximo álbum, “mais relaxado e menos pretensioso”, figura na lista de projetos que inclui a produção do disco da cantora Laura Lopes. “O próximo disco será em português, com violão de nylon, uma coisa mais abrasileirada, na balança antropofágica”, conta. Tem, ainda, Transe, disco que está na gaveta, quase totalmente gravado, com quase sete anos de gestação. Enquanto surfa na crista de sua onda profissional, Thiakov explode em ideias e segue em busca de novas experiências. “Tudo o que eu quero agora é mexer com músicas novas, experimentar de novo o feeling de compor e deixar sentimentos passados guardados em Radar, álbum que sinceramente me apraz.” 77


M

A MÚSICA E O TEMA

COLUNA POR Kiko Ferreira

Foi num enfumaçado agosto de 1964 que esses quatro cidadãos se encontraram com Bob Dylan para dar umas baforadas

a gosto

don mccullin

HISTÓRIAS E LEMBRANÇAS — BOAS E RUINS — QUE CERCAM O MISTERIOSO OITAVO MÊS DO ANO

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E ESTE ANO, COMO TODO ANO, uma vez por ano, os profetas do após-calypso enxergam agosto como o mês do azar, do cachorro louco, das bruxas com caldeirões de poções diet ruminando vinganças e explosões de ego e vaidade. Mas o azar de uns pode ser a sorte de outros. E a história pode mudar opiniões e perspectivas. É o caso do músico Pete Best. Sortudo, por ter sido eleito baterista daquela que seria a maior banda de todos os tempos, ele foi defenestrado do grupo em 14 de agosto de 1962, pelo empresário Brian Epstein, para dar lugar a Ringo Starr. Epstein, que morreu em agosto de 1967, achava que o garoto não tinha talento nem carisma. E trocou as peças. Outra dos garotos de Liverpool: foi em agosto de 1964 que um certo Bob Dylan apresentou aos quatro rapazes a erva maldita, abrindo as portas da percepção e iniciando John, Paul, George e Ringo na era da psicodelia. Talvez, sem essa ação entre amigos de Mr. Zimmerman, obras primas como Lucy in the sky with diamonds e Magical mystery tour não tivessem existido. Vai saber... No ano seguinte, também em agosto, durante a famosa excursão americana, eles foram visitar Elvis em sua mansão, em Los Angeles. Encontraram o rei do rock de frente para uma TV sem som, tocando baixo. Acabaram fazendo uma jam session histórica, mas sem registro de áudio nem de vídeo. Infelizmente. (E quem sabe se não foi aí que The Pelvis, que também morreu em agosto,


reuters/mario anzuoni

Alheios às superstições, Steven Tyler e Joe Perry vão lançar o novo álbum do Aerosmith neste mês

Foi em agosto de 1964 que um certo Bob Dylan apresentou aos quatro rapazes a erva maldita, abrindo as portas da percepção e iniciando John, Paul, George e Ringo na era da psicodelia

começou a consumir as drogas que causaram sua decadência?) Se agosto de 1969 foi ano fundamental para o rock, com a realização do Festival de Woodstock, foi o mês em que o maluco Charles Manson, que já disse ter sido influenciado pelo Álbum branco dos Beatles e pela faixa Helter skelter, assassinou com requintes de crueldade, como se diz hoje na TV aberta, a atriz Sharon Tate e um grupo de amigos, num crime que chocou o mundo — como também se usa dizer hoje em dia, nos espaços de sangue e vítimas dos meios de comunicação mais populares. No terreno das seis cordas, o mês não é exatamente bem avaliado. Foi nele que se foram o blueseiro Stevie Ray Vaughan (1990) e o viajandão Jerry Garcia, vocalista da banda Greatful Dead, (1995). E também em que se mudou do planeta o ícone do rock ‘n’ roll brazuca, o baiano Raul Santos Seixas (1989), o homem que fundiu rock e baião — rock de Elvis e baião de Gonzagão, dois “musos” inspiradores de Raulzito que também partiram dessa num mês de agosto. Sem ser exatamente roqueira, mas inspiradora de Rita Lee, Eduardo Dusek e qualquer estrela que goste de jou jou e balangandãs, Carmem Miranda, a portuguesa que era símbolo do Brasil para Hollywood, morreu em agosto de 1955. Quem acredita que não existe coincidência pode atribuir ao mês de gravação do seminal clipe de Smells like teen spirit, do Nirvana, em 1991, os caminhos nem sempre bem comportados da carreira de Kurt Cobain e, por consequência, sua morte trágica e estúpida. Nem aí para a superstição do mundo em três dimensões, Steven Tyler

e seu Aerosmith marcaram para o dia 28 de agosto deste ano o lançamento mundial de Music for another dimension, primeiro disco de inéditas desde 2001. Foi em 23 de agosto de 2011 que a música perdeu Jerry Leiber, autor de clássicos como Stand by me e Hound dog, e um dos preferidos de John Lennon e Raulzito. Talvez agosto seja um mês que sempre deu rock, porque é um dos mais ecléticos. No calendário de datas comemorativas, o mês tem dia dedicado a pais e a solteiros (e, claro, aos pais solteiros); dias do vizinho e da habitação; da informática e das artes; do advogado, do garçom, do economista e do soldado; do bancário, do avicultor (algo a ver com os papagaios bancários?), do psicólogo e do voluntariado; do padre e do selo... e do estudante. Entre outros. Foi no mês oito que nasceram o irlandês Van Morrison (1945), o punk Glen Matlock (dos Sex Pistols, em 1953) e o guitarrista dos Scorpions, Rudolph Schenker (1952), além do virtuose Alex Lifeson, do Rush (1953). Bob Dylan, que quase morreu num acidente de moto no fim dos anos 1960, mostrou que estava mais que vivo quando tocou em agosto de 1969 com a The Band, no festival da Ilha de Wight, na Inglaterra. E o DJ, radialista e divulgador de rock John Peel, nome mais ilustre da BBC de Londres, veio ao mundo em agosto de 1939. O mês também foi bom para o rock progressivo, com nascimento de Ken Hensely, baixista e guitarrista do Uriah Heep, e marcou a estreia, no palco, do Emerson, Lake and Palmer, mais exatamente no Guildhall, em Plymouth, na Inglaterra, em 1970. Quinze anos antes, nascia o punk mais sofisticado de todos os tempos, Elvis Costello, que foi do rock mais básico ao som quase clássico, passando por parcerias com Paul McCartney e Burt Bacharah. Resumindo: eclético como os outros, agosto pode ser de desgosto, mas já deu muita alegria aos ouvidos de bom gosto. E gosto, como diria Tutti Maravilha, não se discute: lamenta-se.

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CRÔNICO Psicologia animal

CRÔNICA POR JOÃO PAULO ILUSTRAÇÃO FELIPE ÁVILA

João Paulo não tem cão nem caça com gato.

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Os animais são menos insondáveis que as pessoas, mas nem por isso mais transparentes

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SEI QUE TEM GENTE que

não gosta de cachorro, mesmo que não entenda bem por quê. Esse desagrado, para mim, sempre se afigura como uma contradição emocional: como alguém pode não gostar de afeto? Mas o assunto hoje não são os homens, pelo menos diretamente, mas os bichos. Tenho reparado de uns tempos para cá que os cachorros ganharam outro lugar no mundo. De certa forma, se tornaram marcas, quase produtos com características distintivas. Quando era pequeno, lá se vão muitas décadas, havia dois gêneros, dois tamanhos e duas raças de cães. Eles eram machos ou fêmeas, grandes ou pequenos, pastor alemão ou vira-lata. Quando surgia algum cachorro muito peculiar, não era distinguido pela raça, mas pelo nome. Assim, por causa da cadela Lassie do cinema, todos os cães parecidos eram lassies (hoje são collies). A situação agora é bem diferente, os animais ostentam sua raça como uma grife, o que não teria nada demais, não fosse o fato do olhar humano tradicionalmente racista. Esticamos o hediondo comportamento discriminatório até os animais. Tenho três amigos queridos, todos gente boa, cada um com seu cão. Não vou falar das pessoas, mas dos bichos. Os cachorros explicam os homens. O primeiro deles tem um pit-bull, Thor. É um cachorro inescrutável. Não se sabe do que é capaz. Seus olhos não dizem nada. Sua fama o precede. Para entrar na casa do meu amigo é preciso uma operação de encarceramento. Thor vai para a jaula e as visitas ficam presas do lado de fora. O espaço é dele. Quem tem um cachorro assim gosta de dizer que ele é manso e confiável, que os instintos fazem dele a fera que é, mas que é incapaz de fazer mal aos donos. Para cachorros dessa natureza, todos são inimigos até prova em contrário. Usando meu manual de psicologia mirim, meu amigo quer ser o macho-alfa que não é na vida real. Thor é a projeção de seus desejos. O outro chegado, na verdade uma ami-

ga queridíssima, tem uma vira-lata, Bia, que ela resgatou de um abrigo para cães abandonados. Bia parece um tamanduá. Ela recebe as pessoas em casa e faz questão de, além da afetividade, mostrar que tem liberdade para frequentar todos os cômodos e móveis. Está sempre disposta a fazer amizade, mas mantém certa reserva. Ela não esquece que sofreu na infância, mas não tem rancor. Para conviver com Bia é preciso inverter as expectativas. Ninguém é dono de um ser que tinha tudo para dar errado na vida. A escolha é sempre dela. Ao adotar sua dona, Bia certamente tinha em mente o tipo de casa que queria viver. Era fundamental que não houvesse canil, que a alimentação fosse balanceada entre ração e pedaços de carne de churrasco. Para viver com Bia é preciso gostar de gente, churrasco e cerveja. O terceiro amigo tem um cachorro gordo e lento. Ele parece que faz parte do movimento Slow Food, não tem pressa em ter prazer. O animal se chama Sari, tem pelos longos e, a qualquer estímulo, parece que sorri, como um Buda satisfeito. Meu amigo, quando levou o cão para casa, havia perdido havia pouco seu outro cachorro querido, que também era obeso, vagaroso e feliz. Além de rir, Sari tem outras habilidades humanas, como a capacidade se entediar com conversas fiadas. Quem vive com animais do tipo de Sari precisa ter um comportamento estoico e epicurista ao mesmo tempo. Precisa ser consciente das dores, mas saber que elas não são uma perseguição pessoal, apenas existem e vão passar, mais cedo ou mais tarde. Além disso, procuram a satisfação em cada pequeno ato: um passeio, água fresca e um carinho na barriga. Não há muito mais a esperar do destino. Meus amigos são o melhor que tenho na vida e por isso presto tanta atenção em seus animais de estimação. Cada cão, ao seu jeito, me ensinou um pouco sobre seus donos. Os animais são menos insondáveis que as pessoas, mas nem por isso mais transparentes. Eles também carregam seus mistérios, entre eles, o maior de todos: o que será que eles pensam de nós?


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QUADRINHOS RASOS

COLUNA

POR Eduardo Damasceno E LuĂ­s Felipe Garrocho // quadrinhosrasos.com

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139 ANOS. 175 PAÍSES.

1 FÓRMULA.

Beba com moderação. Venda e consumo proibidos para menores de 18 anos.


DILLON PERILLO


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