Ragga #48 - Seres Urbanos

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REVISTA

SERES URBANOS Direções Histórias recontadas no Google Maps

VIK MUNIZ

Um dos maiores artistas plásticos contemporâneos, entre o Rio e Nova York FREEGANS QUANDO PEGAR COMIDA NO LIXO É OPÇÃO

#48

NÃO TEM PREÇO

abril 2011 ano 6

E mais: .JK, cidade vertical .Wake no México .X Games na França



Cia Aerea Oficial WAKEBOARD 2011








EDITORIAL

URBANIDADE Se compararmos, os seres humanos não têm muita coisa de diferente em relação às formigas, basta tirarmos os olhos do umbigo e enxergarmos um pouco mais de cima. Lá estaremos nós, andando em filas indianas, levando nossas comidas para nossas casas, recebendo e obedecendo a ordens de soldados, e contemplando nossas rainhas. A diferença é que, na verdade, as formigas foram um pouco mais espertas e deixaram de lado a ideia de construir carros. Por isso, a fila indiana delas tem fluído melhor, além, é claro, de serem um pouco menores e desfrutarem de mais espaço físico nesse belo planeta azul. Já no nosso formigueiro (voltemos com os olhos aos nossos umbigos), o espaço parece ser cada vez menor. Está mais difícil morar, se locomover, alimentar bem, entre outras coisas. Mas o crescimento urbano não é de todo mau. A comunicação ficou mais abrangente, temos acesso a milhares de informações, criamos problemas, mas também soluções. A história não me deixa mentir em relação ao fato de sermos extremamente adaptáveis. Aos poucos, vamos nos acostumando com ideias absurdas e comportamentos antes inimagináveis, como o fato de achar natural passar horas do seu dia no trânsito, pagar vários milhares de reais por poucos metros quadrados de tijolos empilhados, tomar um chope virtual graças a um aplicativo do seu novo celular ou até mesmo passear pela cidade sem sair da frente do seu PC. Eu diria que os seres humanos são cada dia mais seres urbanos em todos os sentidos. As cidades e o ambiente urbano são os temas que nos inspiraram para editar a Ragga de abril. E como de costume, preferimos abordar a perspectiva mais positiva do assunto. Decidimos mostrar como é possível criar soluções para um trânsito caótico, ao invés de criticar o que está feito. Preferimos mostrar que as milhares de toneladas de lixo geradas pelos seres urbanos podem virar arte prestigiada nas mãos de Vik Muniz. Preferimos mostrar que o Edifício JK abriga milhares de vidas e sonhos interessantíssimos além de ser simplesmente um prédio que passa por riscos estruturais e tem um passado de histórias não muito agradáveis. Preferimos mostrar que, ao redor do mundo, algumas pessoas se alimentam do lixo por opção e não por necessidade, provando que o desperdício é, muitas vezes, desnecessário. Afinal, por aqui preferimos nos adaptar a ficar reclamando e pensar soluções ao contrário de problemas. Assim, quem sabe um dia não ficamos tão espertos quanto as formigas. Lucas Fonda — Diretor Geral lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br


BÚSSOLA

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Nosso repórter no X Games da França

Uma cidade dentro da cidade e seus moradores

Très radical

Edifício JK

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Wake

Ragga assina etapa do mundial no México

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Restos me interessam

Os freegans e um novo jeito de consumir

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Vik extraordinário

Uma conversa sobre soluções urbanas, arte, novela e Oscar

já é de casa DESTRINCHANDO 14

ESTILO , ÉRICA ARAÚJO 48

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RAGGA GIRL , PRISCILA LATALISA 60 EU QUERO! , METRÓPOLES 66

ON THE ROAD , CIUDAD DEL ESTE 68 AUMENTA O SOM 72 CULTURA POP INTERATIVA 73

ANA SLIKA

QUEM É RAGGA


CAIXA DE ENTRADA < Cartas >

< Expediente >

Especial Mulheres Paula Veríssimo @PaulaVerdan // via Twitter Adorei o editorial da @revistaragga “Afinal, o que querem as mulheres?”. Queremos respeito e igualdade! ;)

DIRETOR GERAL lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR FINANCEIRO josé a. toledo [antoniotoledo.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO nathalia wenchenck GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING rodrigo fonseca PROMOÇÃO E EVENTOS ludmilla dourado EDITORA sabrina abreu [sabrinaabreu.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR bruno mateus REPÓRTERES bernardo biagioni e flávia denise de magalhães JORNALISTA RESPONSÁVEL luigi zampetti – 5255/MG NÚCLEO WEB lucas oliveira [lucasoliveira.mg@diariosassociados.com.br] damiany coelho DESIGNERS anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] bruno teodoro marina teixeira isabela daguer FOTOGRAFIA ana slika bruno senna carlos hauck carol vargas romerson araújo ILUSTRADORA CONVIDADA raquel pinheiro [raquelpinheiro.com] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO diego suriadakis e izabella figueiredo ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra henrique portugal. kiko ferreira. lucas buzzati. rafinha bastos COLABORADORES elisa mendes. felipe gobbi. mônica benini PÍLULA POP [www.pilulapop.com.br] RAGGA GIRL MODELO priscila latalisa FOTOS carlos hauck STYLING E PRODUÇÃO DE MODA julia nogueira ASSISTENTE DE PRODUÇÃO DE MODA stephania guimarães MAKE camila grandinetti CAPA elisa mendes REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br] REDAÇÃO rua do ouro, 136/ 7º andar :: serra :: cep 30220-000 belo horizonte :: mg . [55 31 3225 4400]

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Gabriela Brito @gabibritter // via Twitter A @revistaragga que fala sobre mulheres tá MUITO boa!!! Jussara Melo @jussaramelo // via Twitter Adorei! RT @revistaragga Afinal, o que querem essas mulheres? Guilherme @guizito_m // via Twitter @revistaragga Nem Freud soube explicar kkkkkkkkkk

Mônica Waldvogel Brenno Ferraz @Brennoferraz // via Twitter Estou com a minha @revistaragga que está FODA! As matérias com @ MonicaWaldvogel e “Até ficar sem ar” estão de arrebentar!! Tais Tomita @taistomita // via Twitter Acabo de ler a reportagem com a Mônica Waldvogel, na edição da @ revistaragga desse mês! Adorei! Sou super fã dela! :)

On the Road Victor Neves @victorhtneves // via Twitter Acabei de ler a @revistaragga #47. Fina a matéria “Do amor com Pipa”

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ARTIGO

O conquistador por Lucas Machado ilustração Anne Pattrice

"Muitas batalhas são ganhas por uma simples lembrança de guerras perdidas. A vitória tem mais de uma centena de pais; a derrota, por outro lado, essa é órfã." Napoleon Bonaparte

A fonte da minha insistência é sempre querer entender o presente com vistas no passado. Acredito que só assim teremos mais chances de acertar no futuro. E, para saber um pouco do que se passa no chamado “velho mundo”, resolvi doar estas linhas a um dos maiores nomes da história mundial: o francês Napoleão Bonaparte. A França dita tendências e influencia o mundo em vários segmentos, isso nós sabemos. Com a chegada, no fim do século 17, de Napoleão ao poder e a invasão de parte da Europa, o país potencializou sua disseminação sociocultural. Na gastronomia, os experts das antigas já se preocupavam com o tripé da boa alimentação: a riqueza dos ingredientes, a sabedoria ao utilizá-los e o requinte nos mínimos detalhes. Um exemplo disso é que o país apresenta, de uma forma peculiar, 297 maneiras de preparar um ovo e outras 125 de omelete. Na moda, para falar da alta costura e seu império que perdura até os dias atuais, é preciso entender o fascínio de Bonaparte pela Roma Antiga. Com a abolição do espartilho, na época, as mulheres podiam e gostavam de exibir o corpo mais livre. A cor branca predominava em todas as classes sociais e, nesse momento da história, surgiram as primeiras coleções específicas para cada estação do ano. Dirigente efetivo da França a partir de 1799, Napoleão colocou o país como um grande expoente econômico, bombou a indústria têxtil com a produção de tecidos de qualidade inquestionável e, usando todo o poder da moda, fez com que a elegância burguesa se tornasse uma grande propaganda de seus atos. Mas, e o conquistador? Bonaparte é a prova concreta do pensamento de John Locke (1632-1704), filósofo inglês que, advogando a Tábula Rasa, defendia que as pessoas nascem

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livres de qualquer característica mundana como, por exemplo, serem boas ou ruins. Locke acreditava que, na verdade, elas são moldadas a partir da sua interação com a sociedade. Desde o início de sua carreira militar, mostrou-se hábil numa qualidade que muitas vezes determina a diferença entre o sucesso e o fracasso: aproveitar oportunidades em primeira mão. Numa época em que dois mais dois, para muitos, era cinco, Napoleão dominava a matemática e dormia em cima dos mapas, qualidade de valor inestimável para seu futuro no exército e suas grandes conquistas. Mas ele não se contentava e queria mais: em 1804, tornou-se imperador da França. No dia de seu coroamento, mostrou audácia, intimando o Papa Pio VII a ir à cerimônia e, mesmo Napoleão assim, não deixou o pontífice coroá-lo, pois, para Bonaparte, dormia em cima não existia ninguém no mundos mapas, do acima dele mesmo. Tempos qualidade depois, por volta de 1812, o império francês atingiu sua exde valor tensão máxima com quase toda inestimável para a Europa Ocidental e parte da Oriental, com cinquenta milhões suas grandes de habitantes, quase um terço conquistas da população europeia da época. Napoleão foi uma das mais importantes figuras da humanidade, tendo milhares de livros escritos sobre ele ou que ao menos o citam, sendo uma das figuras humanas, segundo historiadores, mais estudadas no mundo. Porém, tudo tem um preço. Napoleão foi derrotado pelo seu grande rival, o almirante inglês Horatio Nelson, na batalha de Waterloo, na Bélgica, em 1815. Foi preso e deportado para a Ilha de Santa Helena, onde morreu, em 5 de maio de 1821. Quanto à cor de seu cavalo, reza a lenda que seriam dois: um preto e um branco. Sua mão sempre exposta abaixo do peito, uma mania que Napoleão tinha em suas aparições públicas, vou deixar para os universitários de plantão. Mas o certo é que, em uma guerra, todos perdem. Na minha opinião, Bonaparte foi um homem totalmente dedicado à busca constante do poder. Conseguiu. E certamente foi e é fonte de inspiração para diversos personagens, anônimos ou públicos.

manifestações: articulista.mg@diariosassociados.com.br | Twitter: @lucasmachado1 | Comunidade do Orkut: Destrinchando

J.C.


hb.com.br


COLABORADORES Atualmente baseada no Rio de Janeiro, a fotógrafa Elisa Mendes aperfeiçoou seu estilo nas ruas de diferentes cidades. Recém chegada de Nova York, onde estudou na School of Visual Arts, ela assina nesta Ragga: a capa, o ensaio com Vik Muniz, além do texto e da foto da matéria "Novos ricos". myelisa.com

FOTOS: arquivo pessoal

Surfista de alma, Felipe Gobbi está empre em busca de viagens. Já morou em alguns países mundo a fora, como Indonésia, China, Estados Unidos e, atualmente, no México. Modelo há seis anos, Felipe também se dedica à pintura. Nesta edição, ele assina a matéria Riders arriba, sobre o Mundial de Wake na terra dos nachos. emaildofelipe@yahoo.com.br

Mônica Benini é gaúcha de coração, amante da moda, designer de joias e apaixonada por fotografia, seu grande hobby. Vive em busca dos maiores prazeres da vida, daqueles motivos que deixam os sorrisos mais sinceros estampados na cara. As fotos da cobertura da etapa mexicana do Mundial de Wake são dela. monicagrillo1@gmail.com

< Vem aí >

Além da Ragga e o Ragga Drops, o maior núcleo de comunicação jovem do estado vai invadir, em breve, as ondas do rádio, fazendo parte do conteúdo na Rádio Guarani em programas semanais e drops diários. Vale esperar. < Sangue novo >

REPRODUÇÃO DA INTERNET

A equipe da Ragga ganhou dois reforços. Os estudantes de jornalismo Diego Suriadakis — sobrenome grego, mas o cara é de Rondônia —, e Damiany Coelho, a Dami, se juntam à redação e ao núcleo web, respectivamente.

< Na frente >

Que a capa da Ragga de março, dedicada às mulheres, ficou linda, isso nós já sabemos. Mas a novidade é que a revista americana Wired, em sua publicação de abril, resolveu usar a mesma ideia. Precisa dizer qual capa ficou mais bonita?

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ILUSTRADORA CONVIDADA

Raquel Pinheiro [raquelpinheiro.com] Sete anos como designer não foram suficientes para me convencer de que essa era a minha única vocação, por isso resolvi estudar artes plásticas. Dessa forma, busco explorar um trabalho mais autoral. Do design às artes plásticas a intuição sempre fez parte do meu trabalho. Texturas, tipografia, traços e recortes são elemetos que gosto de usar, sempre carregados de sentido.

Quer rabiscar a Ragga? Mande seu portfólio para annepattrice.mg@diariosassociados.com.br

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COLUNA REFLEXÕES REFLEXIVAS DO TWITTER

Rock in Rio Guitar Hero

e o hacker analfabeto

RENATO STOCKLER

90% das cirurgias plásticas deveriam acompanhar o procedimento de enxerto de massa encefálica. < RAFINHA BASTOS >

é jornalista, ator de comédia stand-up e apresentador do programa CQC (Custe o Que Custar)

Ah... vai fazer a barba, véia!

Dificílimo diagnosticar o Parkinson no Japão.

@SuzyVonritchtofenn DM Na boa, meu saco é a coisa mais feia do planeta. Ñ sei como eu comi alguém c/ isso no meio das pernas.

Deixei um Bolsonaro no vaso aqui de casa e a descarga quebrou. Foda.

J-Lo sampleou o Grupo Kaoma. Agora quero ver o dueto Alycia Keys + Beto Barbosa. #ALambadaVive

Preocupação c/ os problemas de lugares distantes é importante, mas q tal dar uma força p/ quem tá fudido aí do teu lado? Vou morrer sem entender a lógica de quem pede um autógrafo.

RAQUEL PINHEIRO

Adultos fantasiados em festas infantis deviam ser presos. Um Pokémon de 1m85 é uma ameaça terrível p/ quem ainda usa fralda

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Shakira e Ivete no Rock in Rio. Chupa, Élvis!

fale com ele: rafinhabastos.mg@diariosassociados.com.br

Do jeito que vai o Rock in Rio, a próxima edição vai ser só um campeonatinho de Guitar Hero.

Chulé é um nome meigo demais para um cheiro tão fdp (salgadinho + cadáver).

Breve o pornô: Me fode, Flipper! RT @AstrosLuminosos: Humanos e golfinhos são as únicas espécies que transam por prazer. Recebi 1 e-mail (+vírus) c/ o assunto: - Professor estrupa aluna - É o 1º caso registrado de hacker analfabeto.


* Fonte Ipsos: Estudos Marplan/EGM. Mercado Grande BH. Outubro -09 a setembro -10. Filtro: 10 e + anos: 3.133.000 pessoas. Filtro consumo cultural: pessoas que frequentam cinema e/ou teatro, shows, clubes e/ou casas noturnas, exposições, museus e/ou concertos e que gostam de ler livros. ** Fonte Ibope: EasyMedia3 - Mercado Grande BH - Out a dez-2010. Média: todos os dias. Ouvintes por minuto na população total: 5h24. Emissoras segmentadas: aquelas que possuem, entre seus ouvintes, mais de 50% de público AB.

Arte, cinema, dança, informação, ga stronomia e, claro, muita música. Quem vive a cultura

de Belo Horizonte sabe que só a Guarani FM tem

uma programação selecionada para surpreender e agradar os melhor es ouvidos.

* sintonIze 96,5.

A Rádio que mais cresce na cidade toca o seu bom gosto.


COLUNA

ELISA MENDES

PROVADOR

< CRIS GUERRA >

40 anos, é redatora publicitária, ex-consumidora compulsiva, ex-viúva, mãe (parafrancisco. blogspot.com) e modelo do seu próprio blogue de moda (hojevouassim. blogspot.com)

Começa com i “Toda felicidade é uma forma de inocência”, dizia uma frase da escritora Marguerite Yourcenar. Foi há muitos anos que li, mas a citação mora em mim há muito tempo. Não que more comigo também o pessimismo nela expresso. Talvez eu a tenha guardado por amar a palavra felicidade — e não menos a inocência. Venho de uma família comum, com suas particularidades, não mais nem menos sofrida. Mas existe nos meus uma ingenuidade bonita que não sei explicar. Talvez eu é que seja ingênua a acreditar nisso, mas insisto em pensar que estou certa: sinto nos lá de casa uma bondade que transparece no cumprimento, nos sorrisos entre uma palavra e outra, até nas pernas ligeiramente tortas que dizem um pouco de humildade também. Como se por uma ignorância ou muitas, a gente não acreditasse nas maldades do mundo. E sorrisse sempre de esperança. A gente já passou sofrimento e perda, o que nos insiste em tirar o gosto. Mas persistimos no sorriso quase besta de quem acredita. E essa tolice é tão bonita, que mesmo quando

RAQUEL PINHEIRO

Às vezes acho que ter filho é um jeito de ficar mais jovem, uma chance de renascimento no meio da maturidade

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fale com ela: crisguerra.mg@diariosassociados.com.br

a vida nos prega peças mais absurdas, nasce alguém pra nos abrir a gargalhada de novo. Meu filho é o último desses ingenuozinhos filhotes da família. E a esperteza dele é me ensinar a ver a vida de novo, com um olhar mais maravilhado ainda. Eu não achei que pudesse ficar ainda mais ingênua. Mas quando ele me faz uma pergunta e eu tenho que repensar o que já pensava saber, na tentativa de explicar a vida para esse marinheirinho de primeira viagem, embarco junto. E lá vou eu juntando vogais e consoantes pra pronunciar minhas primeiras sílabas. Olho para o céu como há muito tempo. Reparo as cores e os pássaros. Conto os carros. Defino as frutas. Redefino a ordem das coisas. Às vezes eu acho que ter filho é um jeito de ficar mais jovem, uma chance de renascimento no meio da maturidade, um convite a plantar doçura em um novo alguém. E quando a gente pensa que nós é que os educamos, vamos ficando a cada dia mais sábios de alegria. São eles que nos ensinam a ingenuidade, enfim. Eu nem sei se existe essa tal felicidade. Não que eu não me sinta feliz, mas é que essa palavra é um pote de ouro debaixo do arco-íris — existe só pra gente não desistir no meio do caminho. Mas eu sei que existe sonho e é ele que nos mantém na estrada. Sei também que o sonho é irmão da inocência. E acho que nós lá de casa somos deles parentes próximos.


Confira a pro ramação cultural da uarani FM 96.5 DIVERsÃO e artE

KACoPHOnIA

O mundo da cultura e a cultura do mundo.

Ouça os mais velhos. Todos os tempos do rock com Marcos Kacowicz.

CINEMA sOn s

FREe TIME

As trilhas inesquecíveis do cinema, por Bob Tostes.

culTURA ErAL A revista da UARANI FM, por Carolina Bra a.

nOTa JAZz

A música mais imprevisível do seu rádio, por Marcos Corrêa.

UM TOQUE De clÁssICo Os clássicos dos clássicos, pelo maestro Otávio serpa.

O jazz e suas melhores histórias.

sIntOnia FInA

VARIaÇÕEs MUsiCAIs

As novidades do funksambasoul, eletrobossajazz e novos gêneros com nelson Motta.

Loun e, acid jazz e outras bossas, por Zancar Duarte.

MÚsICA BRasILEiRA

AnOs DoUraDOs

Os movimentos da MPB, por João Marcelo Bôscoli.

Os clássicos internacionais das erações de 50 a 90, por Kiko Ferreira.

AVenIDa BRAsIL

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A trilha perfeita para começar bem o dia.

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ESPORTE < x games >


DO VALE texto e fotos Fernando Biagioni

O caminho que levou nosso rep贸rter ao X Games Europe


A POLÍCIA FRANCESA DA FRONTEIRA NÃO ENTENDIA NEM ACREDITAVA QUE CHEGAMOS ALI COM UM FIAT PANDA


Tinha acabado de comprar o ingresso para o show do Black Keys, em Amsterdãm, quando meu amigo Gilbram ligou, dizendo que ia rolar o X Games Europe em Tignes, na França e me perguntou se eu nao animava de fazer uma trip. Triste por perder o show, mas feliz por revender o bilhete pelo dobro do preço, comecei a dar uma olhada na rota até Tignes. De acordo com o Google Maps, apenas 6 horas de distância da minha casa em Firenze. Sem pensar duas vezes, alugamos um carro, baixamos a rota a ser percorrida, escrevemos para organização e partimos às 3 da manhã. Tudo tinha dado tão certo que estávamos até desconfiados. Mas as surpresas começaram a aparecer logo antes de cruzar a fronteira com a França. Uma placa dizia que a estrada que deveríamos pegar estava fechada. No inverno, várias estradas são fechadas porque estão em altitudes elevadas e a neve impede o acesso. Os chamados "passos" são as passagens entre um lado da montanha ao outro e, geralmente, são utilizados só no verão. A estrada que tínhamos que pegar era uma dessas. Outra alternativa era o túnel que além de custar 50 euros para passar, aumentava nossa rota em 200km. Como o tempo estava bom, sem previsão de neve, decidimos arriscar, colocar a corrente no pneu e tentar atravessar. Quinze quilômetros depois, entendemos o motivo de a estrada estar fechada. Estávamos no meio de uma pista da estação de ski. A polícia francesa da fronteira não entendia nem acreditava que chegamos ali com um Fiat Panda. Depois de desembolar um francês fluente: croissant, abajour, mon amour, a polícia explicou que tínhamos que voltar, pegar o túnel e andar aquilo tudo a mais. Tignes e Val D'isère Um outro amigo meu, Ricardo, se mandou de firenze em novembro. Suas últimas palavras foram: "Vou arrumar um trampo na montanha e não volto mais". Ele tinha 500 euros no bolso, uma mochila e sua prancha de snowboard. O destino o levou pra Val D'isère, cidade vizinha de Tignes. As duas estão conectadas por teleféricos. É mais rápido chegar do outro lado de snowboard do que de carro. Ricardo arrumou um trabalho numa loja da estação de ski, comprou o passe da temporada e anda de snowboard todos os dias. Na nossa estadia ali, ele seria o nosso guia pelas montanhas. Debaixo de neve, o primeiro dia foi de reconhecimento da área. De manhã, com o snowboard nos pés, fomos a Tignes para ver o X Games tomando forma. De tarde, os atletas começaram a chegar e estrear o half pipe. De noite, começou a fes-


Além das provas: half pipe após a competição, Gilbram no teleférico e Ricardo no quintal de casa

ESTAVAM LÁ LOUIE VITO, QUE ASSISTIMOS LEVAR O OURO NO PIPE, E SHAUN WHITE, COM QUEM NOS ENCONTRAMOS, DEPOIS DE VÁRIOS COPOS DE BORDEAUX

tinha com 2 Many DJs e de madrugada percebemos que ninguém ia nos oferecer carona àquela hora e que teríamos que escalar um pedaço da montanha para atravessar de volta de snowboard, em vez de andar 12km pela estrada. Debaixo de muita neve e, agora, do vento, conseguimos fazer a travessia. O X Games Europe é a vitrine dos melhores atletas do circuito europeu além, é claro, de participações internacionais como a americana Kelly Clark, atual campeã olímpica de snow. Estavam lá Louie Vito, que assistimos levar o ouro no pipe, e Shaun White, com quem nos encontramos, depois de vários copos de Bordeaux, numa das festas do X Games — a credencial fornecida pela organização permitia a entrada nas baladas. Val D'isère e Tignes têm 300km de pista de ski, 88 teleféricos e duas geleiras que ficam abertas durante o verão para a prática de ski e snowboard. Nem mesmo uma semana seria suficiente para conhecer todas as pistas. O X Games atrai um público de diversos países da Europa devido ao “facil” acesso por Grenoble. Bem longe da nossa rota.

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ESONQ_200x133b.pdf

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3/22/11

1:30 PM

15 DE ABRIL NOS CINEMAS


Com as duas cidades cheias, percebemos que não podiamos ir embora. A neve pararia de cair, o sol iria sair e o chefe do Gilbram entenderia que meu amigo tinha pego uma gripetonita. Qualquer pessoa que faz snowboard entende o que é um metro de neve fresca. Espero que o pessoal da agência do aluguel do carro entenda também.


O mapa de Tignes e Val D'isère e a travessia, sobre a montanha


SERES URBANOS

NA VER TI CAL por Diego Suriadakis fotos Carlos Hauck

Com 1086 apartamentos, 59 andares e 17 elevadores, a dimensão do Edifício JK é menos material do que se pode imaginar

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Juscelino Kubitschek era radical. Tinha mania por grandiosidades e não fez diferente ao firmar suas parcerias. Prefeito de Belo Horizonte na década de 1940, nessa época conheceu Oscar Niemeyer. Juntos, arquitetaram o Complexo da Pampulha e mais de 20 anos depois, quando Juscelino já era presidente, botaram Brasília em prática. Mas foi em 1952, que JK, então governador de Minas Gerais, assinou o projeto da cidade que se ergueria junto ao marco zero de Belo Horizonte. Hoje ela está lá, entre a Praça Raul Soares e as montanhas, e pode ser vista de qualquer lugar da Capital. Uma cidade com bairros, ruas e avenidas, distribuídas por 59 andares, dois blocos e paisagem privilegiada das janelas. Lá existe espaço comercial, lojas, boates, o projeto de um Museu de Arte Moderna, um terminal rodoviário e delegacias. Tem uma escada complicada para skatistas e ainda um painel de 15 passos de comprimento por quase três metros de altura, no qual uma dupla de arquitetos bolivianos, Arturo e Venturo García Loayza, pintaram, em 1965, uma Belo Horizonte da época dos carros de boi com direito a nome de amada gravado em árvore. Para outras informações desse tipo, melhor enviar sua pergunta por escrito. O CEP é único: 30140-903. No Conjunto Governador Juscelino Kubitschek existem 1086 apartamentos. Um, dois ou três quartos e 13 modelos diferentes. Réveillon, carnaval, festa junina, tudo isso é comemorado por ali e sai nas páginas do JK Notícia, jornal local. Uma brigada de bombeiros particular mantém a segurança das mais de 5 mil vozes que descem diariamente pelos 17 elevadores. Elas vêm dialogar com o belo horizonte que vêem através do vidro com o propósito diversidade. Cada uma à sua maneira, com seu sotaque, sua música. Cada uma em sua velocidade numa tentativa. Uma ofensiva. Mostrar a cidade à sua maneira.


Clarice Panadés chegou correndo, bem em cima da hora da entrevista. É nessa velocidade que a malabarista, de 23 anos, se movimenta pela cidade. Após voltar de um intercâmbio em Londres, a moça procurou nos classificados e achou oferta no JK. A luz que entra pela parede de vidro do apartamento já a tinha conquistado desde a infância, quando vinha visitar a tia-avó, que mora alguns andares acima. A família de Clarice curtiu a ideia, mas a do ator de teatro Marcelo de Castro, de 28, nem tanto. O casal ocupa o tipo de apartamento mais procurado do prédio, o duplex. Um lance de escadas, a sala: uma bagunça moderada descreve bem o caráter dinâmico da casa. “O Marcelo não para de viajar nunca.” E é ele quem mais voa na rede do teto, espécie de biblioteca suspensa, e usa a bike pendurada na sala. Outro lance, o quarto. Clarice, que tem medo de fantasmas, conta que em algumas noites que ficou acordada ouviu verdadeiros concertos de acordeom tocados pelo vizinho.

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A viagem de elevador dura um bom tempo. É o caminho a um andar superior. No corredor de portas padronizadas, uma quebra o silêncio. É um tipo de mural, no qual as mensagens sempre são renovadas e o oratório que o guarda tem flores recém-ofertadas. Márcia Amarall teve um insight, colocou um L a mais no sobrenome e escolheu o amor como instrumento de intervenção. Estudou marketing de moda no Havaí, faz de bolsas e acessórios sua profissão, mas é cool hunter por convicção. "Tenho vista para o mar, olha o marzinho ali", sorrindo, a moça aponta para a fonte da praça. Certa vez, nos idos de 2008, inspirada por uma conversa que teve com o pai, pegou a canga, botou o biquíni e foi tomar sol. Foi também assediada pela mídia. É também na Praça Raul Soares que ela trata das madeixas: na tradicional barbearia, raspa a cabeça e não paga pelo corte. A menina de 41 anos tem uma filha de 19, um calendário de 2012 na parede, uma energia alucinante e não fechou a porta do apartamento. Entra Edilene, vizinha, amiga e contrarregras. Ela vai até o quarto e volta com umas cinco opções diferentes de acessórios para Márcia, que está seduzindo o fotógrafo ao posar com seu lava-pés tibetano do século 17: "Tenho luxo e lixo na mesma casa". Para simplificar as complexas contradições da existência, a moça optou pelo espetáculo. Reside no JK, mas "mora em Nova Iorque e tem Paris lá embaixo".

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Vizinhos de bairro e de rua (moram no mesmo andar e no mesmo corredor), Décio Alvarenga e Antônio Fernando de Morais são dois sessentões que se conheceram ali mesmo, não faz tanto tempo. O primeiro nasceu em Corinto, interior de Minas, tem um sorriso escancarado e não trabalha há 60 anos. “Deixa de trabalhar que você fica rico, experimenta para ver!”, aconselha Seu Décio, exibindo as aquisições de sua última viagem a Buenos Aires. Seu Antônio é de Belo Horizonte, “capitalista”, como se intitula o advogado de sorriso tranquilo. A conversa era animada e, depois de dispensarem educadamente os cigarros, se sentaram à mesa do bar da área de convivência do JK. A relação entre eles é estreita e estreita também é a relação que mantém com os comes e bebes que saem da cozinha. Seu Décio, inclusive, apesar de todo o poder de aquisição, tem uma ‘continha’ lá, só para não perder a proximidade. Sete horas da noite, saem duas cachacinhas e, entre grandes dicas de viagem, o sorriso de Seu Antônio vai se alargando.

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“Olha ali pela janela, essa é aquela serra bem da esquerda.” O quadro da parede tinha sido pintado por uma tia sua, na década de 1930. E a vista da janela fez com que dona Amélia Therezinha Furtado Gomes, que tinha planos de morar apenas dois anos no edifício, já esteja ali há mais de 15. Fala com vaidade dos estudantes de arquitetura estrangeiros que visitam o prédio, mas reclama de Niemeyer pelo vento e o frio que, dada a posição das janelas, chegam à sua casa em determinadas épocas do ano. Após ter-se aposentado pelo extinto Banco de Crédito Real, a entrevistada, que preferiu não ser fotografada, conta que ficou “flanando” e viajando por aí e até a Rússia já viu de perto. Dona Mézinha, como é conhecida, nunca se casou, não conhece muitos vizinhos, não frequenta as festas promovidas pelo condomínio e não dispensa a internet. “Eu sou bem rebelde”, arremata com um sorriso a senhora que tem memória afiada para histórias de sua imensa família e olho atento para o visual lá fora: “Outro dia, o bispo [Edir Macedo] chegou, com uma caravana de escolta, como se ele fosse o Obama!”.

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A primeira cidade brasileira que ele conheceu foi Natal, no Rio Grande do Norte. Fora as belezas naturais do lugar, Nils Thornberg, de 54 anos, trucou o tipo de tratamento que lhe era dispensado: “Ok, você é gringo e eu estou querendo ganhar a vida. O que posso lhe oferecer em troca de algumas coroas ou dólares?”. O sueco, natural de Linköping, cidade ao Sul do país e com 700 anos de história, não estava a fim de programas de turista. Belo Horizonte fez diferente, tratou o cara de igual para igual, e ele resolveu ficar. Ao chegarem no JK, Nils e Daniela Gonçalves, a técnica em informática de 25 anos, sua mulher e tradutora particular, moraram num apartamento de um quarto. O lugar era pequeno para os planos dele. Hoje, bem mais à vontade, de meias na sala de visitas, entre guitarra e discos clássicos de rock ‘n’ roll, o ex-professor secundarista canta seu lema: “Meet to develop”. “Ele adora conhecer gente pelos elevadores do prédio”, lembra Daniela. A mineirada tem se entendido com suas tatuagens. Já montou uma banda, vai dar aulas particulares de inglês e sente que está na hora e no lugar certo para ensinar tudo o que aprendeu.

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NOITE ADENTRO

A ideia de Mick Jagger de gravar um disco e fazer shows de maneira não convencional, sob uma tenda circense, acabou virando filme. E The Rolling Stones Rock and Roll Circus, de 1968, tornou-se inspiração para a nova casa do Grupo Circuito do Rock. No picadeiro do Circus Rock Bar, tocam as melhores bandas de rock da capital, rolam apresentações de artes cênicas, sinuca, sushi bar e lounge. De quinta a domingo, no bairro de Lourdes, muita música de qualidade e muita diversão.

fotos Carlos Hauck


DJ RESIDENTE

Quando garoto ouvia Beatles e Elvis. Aos 13 anos, pirou com sons distorcidos e aí não teve mais volta. Partindo de Metallica, Guns N' Roses e de Nirvana, foi descobrir os clássicos: Led, Deep Purple e Black Sabbath. Comprou guitarra, tocou em banda, e virou produtor musical do Grupo Circuito do Rock. Voltou às pistas, hoje é o DJ residente do Circus e mistura o rock de antes com os riff’s mais atuais.

DJ Boca

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SERES URBANOS


Está marcado

por Flávia Denise de Magalhães ilustração Raquel Pinheiro

Histórias vividas nas ruas do mundo e eternizadas nas esquinas do Google Maps

O Google Maps é uma das grandes maravilhas da vida moderna. Está sempre pronto para ajudar quando seus amigos decidem fazer um churrasco do outro lado da cidade e, sem o menor pudor, explica como, exatamente, é possível chegar até o Canadá a nado. Você provavelmente tem o site nos seus favoritos e sempre confere endereços antes de sair de casa, mas já pensou no Gmaps como uma rede social? É exatamente isso que o serviço mais impessoal do Google está se tornando. Uma rede social na qual pessoas com uma verdadeira obsessão em deixar sua marca se encontram para trocar experiências de vida, dicas de leitura e mostrar para o mundo que sua vida mudou na Avenida Getúlio Vargas com a Avenida Cristóvão Colombo. Quando Augusto terminou com Júlia, ele correu para o computador para traçar a anatomia do seu relacionamento e tentar entender o que deu errado usando um mapa. Tudo começou em Belo Horizonte, na Praça da Liberdade. Depois de uma noite de bebedeira, os dois decidiram que ainda não queriam voltar para casa e passaram as primeiras horas da manhã na praça. O tênis dele roçando no dela virou um beijo, que se transformou na primeira experiência sexual de Augusto. Três anos e meio depois, já com a inocên-

cia dos 18 anos perdida, eles deram seu último adeus. Nunca foram namorados de verdade, mas Augusto sempre teve certeza que o que sentiam um pelo outro era real, que o relacionamento mais sério viria com o tempo. Quebrou a cara no Café do Usina, quando recebeu o pé na bunda oficial. Ele queria ver um filme, ela queria ir embora. Depois de confissões, ambos deixaram parte do seu coração para trás e Augusto se despedia com amargura de Belo Horizonte. Com passagem comprada para se mudar, ele não teria que conviver com os lugares onde viveu momentos felizes com Júlia. Essa história de quebrar o coração rodou Belo Horizonte. Cada evento relevante do relacionamento estava marcado no mapa. No milharal da Fafich, ele percebeu que ela crescia enquanto ele continuava garoto. No Matriz, dormiram juntos no banco esperando um show que nunca aconteceu. No Café com Letras, ela jogou na cara dele que Jack Kerouac escreveu que amor e amizade são a mesma coisa. Enquanto a história ganhava fãs em BH, muita gente defendia que Augusto era um cara sofredor, que merecia mais consideração da Júlia. Depois de intermináveis discussões sobre o namoro e término do casal no Orkut, a verdade veio à tona. Augusto nunca existiu. Toda a história era um experimento do jornalista Rodrigo Ortega. Para ele, a história é meio ficção, meio autobiografia, partes inventadas e partes reais da sua vida em BH. “É um pouco amor e ódio. Eles se gostam, mas o relacionamento tem limite. E também é a história do amor do cara pela cidade, um amor que tem limite”, relembra o escritor, que há três meses vive em São Paulo, depois de passar quatro anos e meio morando no Rio. É uma forma de se apropriar os lugares, de marcar sua vida em uma plataforma impessoal.

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bit.ly/augustojulia

REPRODUÇÃO DA INTERNET

Augusto, um estudante da UFMG descreveu o seu namoro (e o fim dele) no google maps. Fica a dúvida: é ficção ou realidade? Quem lê não parece se importar...

Livros e lugares A grande inspiração de Ortega foi o projeto da paulista Isabel Colucci. A blogueira criou um mapa (bit.ly/mapalivros) para mostrar onde se passam histórias de obras de ficção. Em um relance, você relembra centenas de momentos felizes passados em locações do mundo inteiro e que couberam dentro do seu livro preferido. Dom Casmurro mora no Rio, Drácula, na longínqua Romênia. O Encontro Marcado se passa em BH. Dá até para imaginar alguns encontros improváveis do tipo Macunaíma esbarrando com uma das personagens de Clarah Averbuck nas ruas de São Paulo. O único problema é quando o livro se passa em terras imaginárias. Harry Potter, por exemplo, começa em Londres, mas no minuto que Harry atravessa a plataforma 9 ½, ele entra em terras misteriosas. Para Isabel, o motivo do sucesso é simples: “As pessoas têm muita vontade de compartilhar seus livros”. Muito mais do que uma referência, o mapa está ali para permitir que leitores deixem sua marca no mapa público. Isabel garante que, quando a ideia surgiu, não gastou mais de 15 minutos para colocá-la em prática e criar a página, que já tem mais de 35 mil visualizações. “Sempre gosto de ler um livro antes de viajar. Faço isso desde os 15, quando li Capitães da Areia, de Jorge Amado, antes de ir para Salvador. Sinto que já chego no clima do lugar, o que é ótimo quando você não vai ficar lá muito tempo. Quando um amigo meu marcou uma viagem para Viena, na Áustria, eu queria dar um livro que se passa lá, mas não conseguia lembrar de nenhum. Conversando com amigos, lembramos de quatro títulos e pensei que tinha que ter um jeito de partilhar isso”, conta Isabel. O mapa começou com o livro que deu de presente para o amigo e outras obras preferidas da autora. Animada com a ideia, ela passou o link para todo mundo do trabalho, que à época era na TV Cultura. O pessoal foi gostando e encaminhando até que seu pequeno mapa chegou a ter 1.000 visualizações por dia. “É engraçado que eu coloquei alguns livros lá e fiquei mais de um mês sem entrar. Quando voltei, o mapa estava cheio”, relembra.

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bit.ly/edhamilton

REPRODUÇÃO DA INTERNET

Ed Hamilton viajou o mundo e para chamar a atenção de colegas e possíveis empregadores fez seu currículo no Gmaps

Mapa de uma vida Quando Ed Hamilton começou a fazer o seu currículo, queria deixar claro que, apesar de ter nascido na Inglaterra, sua vida não se limita à Londres e que seu senso de aventura envolve viagens pelo mundo inteiro. “Queria contar para as pessoas das coisas que fiz fora do trabalho, como viajar para o Vietnã e Itália”, diz. Foi por isso que ele mapeou sua vida. Em um primeiro momento, o mapa parece uma tentativa desesperada de alguém que está sofrendo com o desemprego. Mas Ed garante que, apesar de estar sempre aberto a novas oportunidades, já tinha um emprego e não tinha intenções de ir embora. Como em todo currículo, ele começa com sua casa e segue para sua educação. “Manchester Met University. Eu vou ser honesto aqui. Passei a maior parte da faculdade falando bobagem em pubs. Apesar disso, consegui um diploma em direção de arte e design, com especialização em redação publicitária”, comenta. Depois da faculdade, vem a parte na qual lista as experiências profissionais. Além dos trabalhos mais tradicionais, ele fez uma ponta em um filme japonês, no qual ele passou dois dias correndo com um rifle M16 durante suas férias. Também passou três meses em Trinidad e Tobago escrevendo anúncios de conscientização sobre o HIV, sendo que o governo proibia o usa das palavras camisinha, sexo e HIV. Pouco tempo depois, passou três meses na Itália, onde desaprovava diariamente o tamanho das porções e desenvolveu um vício por azeite. A seção “interesses”, que é fundamental em qualquer currículo gringo, ficou no Chile. Não porque ele goste do Chile, mas achou que seria legal deixar essa parte naquele pedaço do mapa. Entre seus muitos interesses, estão robôs, explosões, design, livros, internet, vulcões, vídeo games, feriados, comida, vinho, cerveja e jornais de domingo. Para terminar a brincadeira, Carolina do Norte, nos EUA. Afinal de contas, é ali que fica a sede do Wordpress, onde seu blog está hospedado. “Trabalho numa indústria criativa e é muito difícil chamar a atenção”, justifica.

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ESPORTE < wake >

Riders arriba por Felipe Gobbi fotos Mônica Benini e Oscar Solorzano

México ganha primeira etapa do Campeonato Mundial de Wakeboard. E é a Ragga quem assina o evento Lugar escolhido para sediar a etapa mexicana do Campeonato Mundial de Wakeboard, Valle de Bravo está a duas horas da Cidade do México e é um pueblo que serve como ponto de escape para pessoas que vivem nas grandes cidades, ao mesmo tempo em que conta com uma população local que deixa aflorar toda a carga cultural mexicana. Pela primeira vez, uma etapa do mais importante campeonato mundial de wake foi realizada em terras mexicanas e a assinatura do evento é da Ragga, que levou para o país a experiência adquirida na produção de etapas brasileiras, desde 2007. O sucesso entre o público e os riders foi tanto, que já foi confirmada outra etapa no país dos nachos e da tequila, ano que vem. Cercada por montanhas, a cidadezinha vive quase inteiramente do turismo, graças às ruas de pedra totalmente desniveladas, com casas predominantemente brancas abaixo dos telhados de madeira e telha. Em muitas dessas casas, acabaram se estabelecendo galerias de arte, lojas de design e artesanato, que incrementam o atrativo do lugar. O centro da cidade guarda semelhanças com Ouro Preto, especialmente, pela arquitetura colonial tom-

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bada pelo patrimônio histórico e pela topografia. Ao mesmo tempo, Valle lembra Escarpas do Lago, com residências de alto padrão rodeadas pela represa espelhada. É o lugar certo para passar o final de semana, praticando esportes aquáticos e, no cair da noite, frequentando baladinhas e bares. Os dois dias de competição, 19 e 20 de março, foram um sábado e um domingo de céu azul e muito ar fresco, mas sem vento: características ótimas para uma prova de wake. O Clube Izar, endereço da etapa mexicana, tem ambiente superconfortável, com direito a piscinas aquecidas, restaurante internacional, gramado fofo — que serviu de arquibancada — e visual de tirar o fôlego. Lanchas na água, homens ao ar... Foi um show de manobras. Entre os competidores, foi sentida a falta de atletas brasileiros. No pódio, a dos mexicanos. Os gringos levaram a melhor, com o australiano Harley Clifford, em primeiro. O canadense Rusty Malinoski ficou com a prata e o americano Adam Errington, com o bronze. A presença de Clifford, de 17 anos, já está confirmada para a próxima parada do campeonato, que será em Nova Lima, no entorno de Belo Horizonte. O moleque foi vencedor geral em 2010 e mete medo nos marmanjos. A exemplo dos últimos dois anos, a Ragga realizará a etapa brasileira do Mundial, que é a preferida dos maiores riders do mundo — pela mistura de condições técnicas incríveis, festas e público feminino idem. E o melhor: está chegando.


MARINA TEIXEIRA


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Mテ年ICA BENINI

BRUNO DIB

Mテ年ICA BENINI

BRUNO DIB

OSCAR SOLORZANO

OSCAR SOLORZANO


FOTOS: MÔNICA BENINI

OSCAR SOLORZANO OSCAR SOLORZANO

vem aí

Pelo terceiro ano consecutivo, a Ragga realizará a etapa brasileira do Mundial de Wakeboard. Entre 13 e 15 de maio, na Lagoa dos Ingleses, o público poderá conferir as manobras perfeitas dos melhores riders do planeta, além de curtir as festas que agitarão o final de semana. A novidade para este ano estará na qualidade da estrutura do campeonato. As lanchas da marca americana Moomba passam a ser os barcos oficiais e um novo corrimão da raia, de nível internacional, promete intensificar o grau de dificuldade — e emoção — das passadas. raggawake.com

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ESTILO

érica araújo por Lucas Machado fotos Carlos Hauck

< kit sobrevivência >

livro O livro Completo de Etiqueta de Amy Vanderbilt Editora Nova Fronteira

Érica Araújo nasceu em Belo Horizonte, em 1983. Largou a publicidade, se formou em marketing e, prestes a finalizar seu curso de moda, em nossa entrevista, nos mostrou que grandes ideias, aliadas a uma boa estratégia de comunicação, fazem toda a diferença no mundo fashion. Ela adora música, é bem eclética, malha muito e seu hobby é o boxe. Sobre a consultoria de imagem, comenta: “É uma profissão do futuro, representa mais de 50% da sua comunicação. Nem todas as pessoas têm noção do quanto elas são influenciadas pela própria aparência. Pelo seu modo de vestir, você cria, inconscientemente, sua leitura visual. Em 20 segundos já se percebe as características básicas do seu estilo”. A consultoria funciona de duas maneiras. A presencial tem uma duração de até seis meses e exige mais disponibilidade de tempo do cliente. Já o trabalho online é feito por meio de fotos e um questionário que gera um dossiê, com o acompanhamento feito passo a passo pela consultora e seus profissionais envolvidos. A tonalidade de pele, cabelo, o meio social e profissional são aspectos de extrema importância para na avaliação de cada pessoa. E como a primeira impressão é a que fica, caso você queira usar o look certo e as cores que mais combinem com o seu estilo, a dica está dada: ladofashion.com.br. Enjoy.

< Érica veste > vestido Farm casaco Genitori arco, colar e cinto Brechó anel Mari Design meia Lupo sapato Santa Lolla

chapéu La Fundamental Sombreiros - Hecho a Mano

sapato Vivienne Westwood

perfume Ricci Ricci – Paris

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luvas de box Petrorian – Hard Sports

J.C.


SERES URBANOS

* Criativos nomes de cidades deste Brasil pesquisa Izabella Figueiredo

Beijo das Freiras (PB) Cacha Pregos (BA) Feliz Deserto (AL) Lagoa da Confusão (TO) Jardim de Piranhas (RN) Mata Pais (SP)

Não-Me-Toque (RS) Varre-Sai (RJ) Veado Velho (CE) Canastrão (MG) Pessoa Anta (CE) Venha-Ver (RN) Sopa (MG)

Peixe Gordo (CE) Alô Brasil (MT) Nenelândia (CE) Bela Solidão (PE) Chá de Alegria (PE) Jijoca de Jericoara (CE)

Corta Mão (BA) Vai-de-Cães (PA) Salgadinho (PA) Felpudo (PR) Pintópolis (MG) Peixe-Boi (PA) Marmelândia (PR)

Mão dos Homens (MG) Quebra-Freio (PR) Xique-Xique (BA)

Tio Hugo (RS) Tuntum (MA) Pedrão (BA) Bem-Bom (BA) Anta Gorda (RS) Nova York (MA) Canadá (GO) Picadinha (MS)

Passo do Sabão (RS) Nhecolândia (MS) Tribobó (RJ) Casinha do homem (PB) Coxixola (PB) Lavanderia (TO)

Bofete (SP) Boa Hora (PI) Babaçulândia (TO) Carrasco Bonito (TO) Boquete (RJ) Candangolândia (DF) Pau Grande (RJ) Tartarugazinha (AM) Feliz Natal (MT)

Marcianópolis (GO) Jacaré do Homens (AL) Óleo (SP) (*) Quem nasce em Tio Hugo é tio-huguense.


SERES URBANOS

OS NOVOS

texto e fotos Elisa Mendes ilustração Raquel Pinheiro

RICOS

Serão mendigos? Serão garis? Não, são freegans: pessoas que reviram latas de lixo em busca de comida. Um tipo de consumo que não tem nada a ver com os exageros que prejudicam o meio ambiente

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O mundo está acabando. O mundo está acabando? Superstições à parte, hoje em dia, com a tecnologia, sabemos com muito mais rapidez de todas as tragédias naturais e não naturais que o mundo sofre. Tsunami no Japão, guerra na Líbia, enchentes no Brasil. Também pode-se ver imagens da grande mancha de lixo do Pacífico, que tem o tamanho de duas vezes o estado do Texas. E por satélite, em tempo real, conferir o desmatamento da Amazônia, as manchas de óleo que se espalham pelos oceanos e a casquinha de ovo que é hoje a Serra do Curral. Difícil não sentir um frio na barriga, um medo de, se o mundo não acabar por um grande desastre natural, nós mesmos acabarmos com ele.



Organizados: luvas nas mãos, a lixeira é vasculhada e o que não serve é depositado de volta

USANDO AS REDES SOCIAIS, GRUPOS DE DISCUSSÃO ONLINE E VÍDEOS DO YOUTUBE, ELES PROPAGAM SUAS IDEIAS DE NÃO CONSUMO E ENSINAM, POR MEIO DE TUTORIAIS, COMO VIVER SEM DESGASTAR AINDA MAIS O PLANETA

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Mas a mesma tecnologia que hoje permite a propagação de tanta notícia triste também tem ajudado com soluções. Conectados via internet, os freegans (uma junção das palavras inglesas “free”, que significa “livre” e, “vegan”, que não come produtos de origem animal) são hoje uma longa comunidade que se estende por todo o planeta. Inspirados no grupo teatral anarquista e californiano do anos 1960, Diggers (garimpeiros), que doava comidas e serviços gratuitamente, o movimento freeganista teve início no começo da década de 1990, negando bravamente a sociedade de consumo, rejeitando o capitalismo e vivendo, da melhor maneira possível, sem alimentar o sistema. Usando as redes sociais, grupos de discussão online e vídeos do YouTube, eles propagam suas ideias de não consumo e ensinam, por meio de tutoriais, como viver sem desgastar ainda mais o planeta. Freegans vivem de trocas, pegam o mínimo possível em dinheiro, moram em confortáveis apartamentos abandonados das cidades mais caras do mundo e se alimentam muito bem: legumes, verduras e frutas frescas. Do lixo. As fotos que ilustram este texto são de um encontro chamado dumpster diving (tradução livre: mergulhando na caçamba), em Nova York. A organização começa no site do próprio evento e tem como objetivo encontrar

as comidas em perfeito estado para consumo que são despejadas no lixo da metrópole. “Já sabemos quais supermercados jogam mais comida fora. Saímos unidos, pois assim temos mais força. Mexemos no lixo com luvas e, depois de tudo revirado, voltamos para as sacolas o que não nos interessa”, conta Madeleine Nelson, uma uma das fundadoras do grupo Freegan de Nova York. “Não é um privilégio da sociedade americana o excesso de consumo. O exagero humano, as sobras, estão em todo o lugar. Mesmo no Brasil, onde escuta-se falar de fome, há um grupo de freegans em São Paulo”, afirma. E qual não foi minha surpresa ao descobrir que, não só na grandississíma capital, mas em Belo Horizonte também há freegans (dá para saber mais sobre eles no site: rarbh.wikispaces.com/ cantinhofreegan). O paraíso dos freegans é também um site chamado freecicyle.com. Nele, é impossível comprar. Uma lista infinita de objetos que passam por sofás, bicicletas, computadores, panelas e muito mais estão disponíveis para troca ou doação. Você escolhe a sua cidade — entre as opções, estão cidades do mundo inteiro — e cadastra o que não usa mais ou procura por algo que seja do seu interesse. O site está no ar desde 2003. Em dezembro de 2005, havia mais de 1,8 milhão de usuários e 3.200 comunidades em 50 países do mun-


do. Em 2010, o número de usuários chegou a 7.5 milhões. O Freecycle Network informa que seus membros mantém 55 toneladas de bens fora dos aterros sanitários a cada dia. O famigerado Facebook, a maior rede social do mundo, também tem ajudado a espalhar a riqueza. A moda, por exemplo, amada por tantos e desprezada por tantos outros devido à velocidade com que um item perde valor, tem ganhado espaço na rede para trocas. E, nesse caso, não é privilégio apenas dos freegans. As trocas estão sendo feitas não só por estes ativistas radicais, como muitas vezes são vistos os freegans. Apenas numa das comunidades são mais de 18 mil pessoas trocando roupas e acessórios. Para trocar também, busque pela palavra troca dentro do site (facebook.com) e veja as páginas do seu interesse. Mas, pensando bem, estamos falando de riqueza. A melhor coisa de ser muito rico, eu imagino, é poder viajar à vontade, conhecer o mundo inteiro. Como viajaria um freegan, se, por princípio, ele não se preocupa em juntar dinheiro? A comunidade online do couchsurfing.com (surfando no sofá) conta hoje com mais de 2,5 milhões de pessoas. Só no Brasil, que ocupa o oitavo lugar na lista de participação do site, são mais de 71 mil usuários. Todos formados por pessoas que viajam o mundo e não gastam dinheiro em uma daqueles itens mais caros para quem visita outro país ou cidade: a hospedagem. Cada participante tem sua página de perfil e pode ver fotos e ler comentários sobre outras pessoas que já se hospedaram naquele lugar. Os casos de sucesso e de gente que só viaja através do couchsurfing engolem qualquer número de problemas. A lista de possibilidades de se viver consumindo menos e sendo feliz é longa. Estamos em 2011 e conectados como nunca antes. Estão abertas as portas da liberdade.

< Em NY > Dumpster Diving: meetup.com/dumpsterdiving-4/

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QUEM É fotos Carlos Hauck e Romerson Araújo

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sonho subterrâneo

SERES URBANOS

Estudo Particular . Rede de Trens Metropolitanos de Belo Horizonte . Previsão de Implantação Máxima

Legenda

Conexão Vespasiano / Confins

Linha 1

Vespasiano

Linha 2

Tirol

Linha 3

Ibirité

Linha 4

Serra Verde

Linha 5

Iate Clube

Linha 6

Inconfidência

Linha 7

Pampulha

Linha 8

Santa Luzia

Linha 9

Europa

Contagem Paraíso

METRÔ BH

Praça do Papa Seis Pistas Cidade Administrativa

Barão Mantiqueira

Sabará

Europa

Nova Lima São Paulo

Bonsucesso

Rio Branco

Cidade Jardim

Vilarinho

Santa Mônica

Céu Azul

Estação de transbordo

Copacabana

Tupi

Floramar

Santa Branca

Conexão com Aeroporto

Conexão Santa Luzia

Venda Nova

Belmonte

Iate Clube

Portugal Ouro Minas

Waldomiro Lobo

Pampulha

Aeroporto Pampulha

Primeiro de Maio

Jaraguá

São Gabriel

Vila Brasília

Campus UFMG Minas Shopping

Ouro Preto

Castelo

Serrano

Alípio de Melo

São Francisco

Catalão

Santa Inês União Cidade Nova

São Cristóvão

Concordia

Paz

Jardim Alvorada

Inconfidência

Lagoinha

Jardim América

Lourdes Santo Agostinho Gutierrez

Santo Antônio

Cinquentenário

Santa Maria Luxemburgo

Indústrias

Conexão Ibirité

Itaipú

Pátio Savassi Cidade Jardim

São Pedro Santa Lúcia São Bento

Buritis

Seis Pistas Olhos d’água

i

info@renatomelo.com | www.renatomelo.com

Vera Cruz

Paraíso

Serra Minas Tênis II

Sion

Mangabeiras Vila Papagaio

Cruzeiro Anchieta

Ponteio

BH Shopping

Barão Estrela d’alva

Conexão Nova Lima

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Minas Tênis I Minas Gerais

Belvedere

Santa Cecília

São Lucas

ABC

Estoril

Barreiro de cima

Tirol

Praça da Liberdade

Marajó

Bonsucesso

Vaz de Melo

Casa Branca

Funcionários

Parque Municipal

Gameleira Salgado Filho

Conexão Contagem

Barreiro de Baixo

Brasil

Barro Preto

Cidade Industrial

Boa Vista

Andradas

Raul Soares

Carlos Prates

Barroca

Conexão Sabará

Santa Efigênia

Horto

Calafate PUC Campus

Vila do Oeste

Santa Tereza

Independência

Padre Eustáquio

Juscelino Kubitschek

Esplanada

Sagrada Família

Central

Bonfim

Pedro II

Dom Cabral

Dom Joaquim

Cachoeirinha

Praça do Papa

RENATO MELO ARQUITETURA / RENATOMELO.COM

Bandeirantes


por Flávia Denise de Magalhães

Quando o projeto foi feito, em 2009, o custo seria US$ 100 milhões por quilômetro ou US$ 20 bilhões pelo projeto inteiro. Mas Renato garante que esse preço já caiu pela metade. “Assim como a TV de plasma barateou, o custo do metrô também caiu com o tempo”, explica o arquiteto. Já o tempo que essas obras durariam é o maior problema. “Se fôssemos contemplados por um super PAC [Programa de Aceleração do Crescimento, do governo federal], com um gerenciamento responsável, seria possível ver todo o projeto pronto em sete anos. Mas se mantivermos o ritmo dos últimos oito anos, demorariam 200”, comenta Renato.

"SE FÔSSEMOS CONTEMPLADOS POR UM SUPER PAC, SERIA POSSÍVEL VER TODO O PROJETO PRONTO EM SETE ANOS" 2 Pontos

Engenheiro faz o projeto de expansão para o metrô de BH

Quem já morou perto de um metrô sabe a comodidade que o trem subterrâneo oferece aos seus usuários. Em Nova York, Paris, Barcelona e São Paulo é possível descer as escadas em um lado da cidade e sair 15 minutos depois do outro, sem parar no trânsito e passar intermináveis horas admirando a placa do carro à frente. Já em Belo Horizonte, não se tem a mesma sorte. Os raquíticos 28 quilômetros de metrô que vai do Vilarinho ao Eldorado atende uma pequena parte da população com seus vagões superlotados. Foi pensando na deficiência do transporte da capital mineira que o arquiteto Renato Melo fez sua dissertação de mestrado na Universidade Politécnica da Catalunia, em Barcelona. Ele criou uma previsão de implantação máxima para Belo Horizonte, que você vê na página ao lado. É fácil se perder observando o plano dos 224 quilômetros de trilhos. Quantas linhas você teria que pegar para ir de casa até o trabalho? E quanto tempo demoraria entre o Centro e o Aeroporto de Confins? O susto só chega quando começamos a imaginar o dinheiro necessário para fazer as linhas coloridas saírem do papel para se transformarem em realidade.

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Doce Cacau Agora é Qoy.


COLUNA

#FalaNaFrente

WÉBER PÁDUA

Falando com o Frente, Alexandre Maia, da banda mineira Manitu, uma das maiores expoentes do pop/reggae produzido em Minas Gerais e no Brasil.

< HENRIQUE PORTUGAL >

produtor e tecladista da banda Skank twitter.com/ programafrente

SMS Envie Frente para 49810 e receba diariamente notícias sobre o cenário independente brasileiro

Pop, reggae e flerte com a MPB. De onde vieram as raízes da banda? Foi tudo muito espontâneo desde o início. Nos conhecemos com a ideia de fazer um trabalho autoral, deixando nossos preconceitos (musicais) de lado. Então, com essa pitada de reggae e influências de cada integrante, surgiu a sonoridade do Manitu. Desde sua fundação, em 2001, vocês já subiram no palco mais de 700 vezes — um ótimo número para uma banda independente. Como foi a conquista desse espaço? Sempre lutamos por isso. A vontade de mostrar nosso som faz com que essa estrada seja leve e prazerosa. É uma mistura de prazer, estudo e música, como se fosse uma bateria que precisa ser recarregada todo mês com shows e apoio da galera que curte nosso trabalho.

Vocês gravaram Bizarre love triangle, clássico dos anos 1980, do New Order, e a dividirem o palco com a própria banda. Como foi isso? Sempre gostamos dessa música. E o Bernard Sumner [vocalista do New Order] curtiu nossa versão e nos convidou para dividir o palco com eles [no Pop Rock, realizado no ano de 2006, em Belo Horizonte]. Foi algo surreal. Realmente não imaginávamos que isso pudesse rolar.

Dicas de Cds

Qual é a da música

Artista: Do Amor Disco: Do Amor

27 novembro de 1999: vou a São Paulo assistir a dois shows da cantora canadense Alanis Morissette. Lá encontrei o meu amor. Uma semana depois do show, já em Minas, olhando nossas fotos e com meu violão no colo, faço em poucos minutos De janeiro a janeiro. Não pensei muito para fazer a canção, fiz a letra e melodia ao mesmo tempo e deixei o que sentia ser o foco de tudo. Normalmente componho assim, sem analisar muito os acordes ou a sequência deles e a poesia às vezes sofre poucas alterações. Apesar de quase 12 anos terem passado, essa é uma de minhas mais atuais canções.

Selo: Mais Brasil Música Ano: 2010

Artista: Monograma Disco: Da tempestade à calmaria Selo: Selo de Pegada Ano: 2010

Artista: Apanhador Só Disco: Apanhador Só Selo: Independente Ano: 2010

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O Manitu tem cinco discos de estúdio, todos gravados de forma independente. Essa foi uma opção da banda? Vocês chegaram a flertar com alguma gravadora? Surgimos na era da internet e optamos por ficar independentes. Quando você faz um contrato com uma gravadora, a banda deve entrar com verba de marketing, divulgação... e elas (as gravadoras) também querem uma fatia do seu show. É um negócio que deve ser muito transparente para ambas as partes, o que não tem acontecido. Então, melhor do que ficar na geladeira de uma gravadora, é ficar de fora e trabalhando com as ferramentas que temos em mãos hoje em dia.

fale com ele: contato@frentedigital.com.br

Música: De janeiro a janeiro Composição: Roberta Campos Disco: Varrendo a lua Não consigo olhar no fundo dos seus olhos E enxergar as coisas que me deixam no ar, deixam no ar As várias fases, estações que me levam com o vento E o pensamento bem devagar Outra vez, eu tive que fugir Eu tive que correr, pra não me entregar As loucuras que me levam até você Me fazem esquecer, que eu não posso chorar Olhe bem no fundo dos meus olhos E sinta a emoção que nascerá quando você me olhar O universo conspira a nosso favor A consequência do destino é o amor, pra sempre vou te amar Mas talvez, você não entenda Essa coisa de fazer o mundo acreditar Que meu amor, não será passageiro Te amarei de janeiro a janeiro Até o mundo acabar CAROLINE BITTENCOURT

DIVULGAÇÃO

FRENTE DIGITAL O PROGRAMA DOS ARTISTAS INDEPENDENTES


COLUNA

A MÚSICA

e o tema Belo horror por Kiko Ferreira

Bruno Veiga/divulgaÇÃo

pEDRO PAULO CARNEIRO

Chicos: Science cantou Recife e Buarque de Holanda, o Rio

Era meio de 1992. De repente, no Agenda da Rede Minas e no palco do extinto bar cult Drosophyla, tambores furiosos e um duende de sotaque pernambucano entram nos olhos e ouvidos de quem procurava novidades musicais cantando: "A cidade não para/ A cidade só cresce/ O de cima sobe/ E o de baixo desce." Era a chegada a Belo Horizonte de Chico Science e sua Nação Zumbi, que assinaram aqui o contrato com a Sony que colocaria o manguebit na cena mundial. O caranguejo com cérebro de Recife aterrisava entre montanhas com um retrato (im) piedoso de sua capital, com versos finos, na melhor tradição do que antigamente se chamava MPB (no bom sentido): "A cidade se encontra prostituída. Por aqueles que a usaram em busca de uma saída". Vinha mostrar a máxima de que só cantando sua aldeia o artista pode ser universal. Lição que muitos sujeitos, de diversas latitudes, longitudes e estilos musicais demonstraram ser a base de sua obra e pensamento. Ou o ilustre leitor acha que punk seria tão eficiente na catarse destilada em três acordes se o The Clash não tivesse feito London calling? ("Londres chama para as cidades distantes/ Agora aquela guerra está declarada e a batalha começa./Londres chama para o submundo/Saiam do armário todos os garotos e garotas./Londres chama, agora não olhem pra nós./Toda aquela falsa Beatlemania comeu poeira. Londres chama...", em tradução livre e lusa de internet.). Quando o assunto é Grande Maçã, não é New York New York e seu glamour de cinema que retrata os intestinos da capital cultural do mundo, mas o outsider Lou Reed, que hoje é casado com Laurie Anderson, aquela moça que disse que a língua é um vírus vindo do espaço. Quem já andou pelas madrugadas da capital intelectual dos Estados Unidos reconhece o cheiro das avenidas com números cardinais na Halloween Parade: "Tem uma Greta Garbo e um Alfred Hitchcock. E algum garanhão negro jamaicano. Tem cinco Cinderellas e alguns travecos de couro.(...). Tem uma Crawford, Davis e um Cary Grant cafona. E uns carinhas procurando encrenca aqui embaixo,

vindo do Bronx.". Mais universal ainda, em tempos de shoppings e lojas dominando paisagens, Chico Buarque fala, na matadora As vitrines, de um Rio que poderia ser São Paulo, Belo Horizonte, Las Vegas, Praga: " Eu te vejo sair por aí/ Te avisei que a cidade era um vão/Os letreiros a te colorir/ Embaraçam a minha visão/ Eu te vi suspirar de aflição / E sair da sessão, frouxa de rir/ Já te vejo brincando, gostando de ser/ Tua sombra a se multiplicar/Nos e entornas no chão". Touché. A solidão da cidade, com o desamparo quase patético de seus habitantes, foi flagrada de modo magnífico pelo cineasta alemão Wim Wenders. O deserto de Paris Texas, a matriz de nossas paixões inconfessáveis em Sob o céu de Lisboa e a Berlim sob as asas dos anjos Damiel e Cassel e os sons de U2 e Nick Cave em As asas do desejo: "Em B erlim não é possível se perder, pois qualquer caminho vai dar no muro". A adaptação para Hollywood das asas de Wenders, Lost angels, inclui um tema angelical com Sarah McLahlan, certeiro na busca por conforto além da solidão: "Sempre há um motivo/ pra não se sentir bem./ E é difícil, no fim do dia. /Preciso de alguma distração", ela dispara, para se salvar no refrão: "nos braços de um anjo/ voe para longe daqui/deste frio e escuro quarto de hotel". Na linha das cidades e seus neons, a tão querida Belo Horizonte tem poucas canções memoráveis feitas pro seus habitantes. Tirando a Lagoinha boêmia de Rômulo Paes e cia., a Savassi bossanovista de Pacífico Mascarenhas, as garotas de Skank e Vander Lee, e os passeios pelas ruas de Dindilim e Pelas ruas da cidade, de Fernando Brant e Tavinho Moura, poucas foram as músicas que traduzem ou traduziram nosso neons e botecos. Para encerrar, vale lembrar um tema pouco conhecido de Beto Guedes, talvez a mais rock´n´roll de suas canções, ponte dúbia entre BH e MOC: "Belo horizonte/ Montes claros: meu segredo/ Marcado pelo som que vem do mato. Mato horizontes/Fundo claros contra o medo/ E nada tenho a ver./ Quero a palavra errada/ Quero a hora certa de entortar./ Meu amor, Montes Claros/Belo horror, horizonte/ Céu sem dono/ Mal começa a clarear..." comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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RAGGA modelo Priscila Latalisa fotos Carlos Hauck

O acaso na direção por Izabella Figueiredo

Priscila Latalisa, de 20 anos, não precisou de muito para assumir com louvor o posto de Ragga Girl do mês de abril, mas conta que chegou tímida à locação das fotos. “Passavam uns carros de vez em quando, então dava um pouco de vergonha. Adoro fotos sensuais, mas tenho medo de que fique vulgar”, afirma. A história de Priscila não tem os capítulos tradicionais da maioria das modelos. Ela nunca se achou feia, nunca sofreu bullying na escola e nem foi descoberta quando criança por um olheiro em um supermercado. “Fui descoberta por acaso sim, mas já era maior. Estava de carona com uma amiga modelo e ela precisou descer na agência para entregar alguma coisa. Resolvi descer com ela, conheci o pessoal e eles pediram para que eu preenchesse uma ficha cadastral. Depois disso, os trabalhos começaram a pintar”, diz a atual representante do Ipatinga Fu-

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tebol Clube no concurso Gata do Mineiro da TV Alterosa. Futebol, aliás, é uma das paixões de Priscila: “Não só acompanho, como jogo muito bem”, conta a futura publicitária, que divide sua preferência pela bola com o estudo de línguas e viagens pelo mundo. Seu coração pertence a Diego, seu namorado desde os 15 anos. Os dois se conheceram em um show da dupla Edson & Hudson e assim como a carreira de modelo, o namoro deslanchou devido a uma carona que Diego concedeu para Priscila. O relacionamento já dura mais de quatro anos. Ansiosa para ver o ensaio pronto, Priscila pergunta com tom de curiosidade sobre as fotos, preocupada com o resultado final. Ela ouve que ficaram lindas, como era de se esperar. “Além do Diego, minha irmã também vai curtir muito esse ensaio”, afirma. Todos nós, Priscila. Todos nós.


Blusa Blue Banana Calcinha Potti Ombreira de metal Espaรงo Fashion


Sutiรฃ Chris Gontijo Calรงa e cinto acervo

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Blusa Blue Banana Biquini Cila Colares Mary Design Sandรกlia Studio TMLS

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MODELO Priscila Latalisa FOTO Carlos Hauck STYLING E PRODUCAO DE MODA Julia Nogueira ASSISTENTE DE PRODUÇÃO DE MODA Stephania Guimarães MAKE Camila Grandinetti

Blusa Blue Banana Calcinha Potti Ombreira de metal Espaço Fashion



CONSUMO

CARLOS HAUCK

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metrópoles FOTOS: DIVULGAÇÃO

por Sabrina Abreu

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Em um de seus escritos pessoais, Fernando Pessoa escreveu: “Há poesia em tudo — na terra e no mar, nos lagos e nas margens dos rios. Há-a também na cidade — não o neguemos”. O poeta estava certo. A natureza que nos perdoe, mas o caos urbano é fundamental. Palco e inspiração para os encontros, para a moda, para o design, para a arte. Para a vida.


1. < Global > A grife Etnia Barcelona buscou referências em cidades do mundo todo e as homenageou com os nomes das diferentes modelos que contam com o desenho do designer francês Alain Mikli. Entre as opções de modelos, destaque para Istambul, para os homens, e Tel Aviv, para as mulheres. R$ 980 Ótica Moderna (31) 3281 0008

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2. < Continua lindo > O clima do Rio de Janeiro e de Ipanema se traduz na T-shirt Stone Ipanema Snapshots. Está tudo lá: a imagem de um par de chinelos de borracha, uma prancha fincada na areia, o desenho peculiar do calçadão do bairro, a vista do Morro Dois Irmãos. Só fica faltando a brisa. R$ 97 store.osklen.com

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3. < Salve a Rainha >

Misto de tradição e rebeldia, com ícones como a Rainha Elizabeth e Johnny Rotten, Londres é inspiração dos lançamentos Outono/Inverno da grife mineira Folie. Chamada "Chá das cinco", a coleção tem estampas que lembram a cidade em seus detalhes, como a deste cardigã, dedicada à cavalaria real. R$ 127,90 folieloja.com.br

5 4. < Musa > Woody Allen é um dos diretores mais dedicados a Nova York, a cidade mais filmada do mundo. Neste box, a metrópole interage de formas diferentes com os roteiros. De O escorpião de Jade, ambientado nos anos 1940 a Igual a tudo na vida, com paisagens contemporâneas, passando por Dirigindo no escuro, que mostra um diretor veterano que volta à ativa, filmando um roteiro sobre... Nova York. R$ 89,90 submarino.com.br

5. < Ave César >

6. < Lar >

Audrey Hepburn ganhou seu único Oscar por A princesa e o plebeu (ou Roman holiday, no título original), filmado nas ruas de Roma. A réplica do cartaz deste filme dos anos 1950 é objeto de adorno para fazer bonito em qualquer casa. É old school, é clássico, é Audrey. De R$10 a R$100 (variando de acordo com os tamanhos, entre 15x21 a 50x75cm) casadoposter.com.br

Para Gertrude Stein, um escritor deveria ter duas cidades: uma em que nasceu, e outra na qual escolhesse viver. A capital francesa foi a escolha de Gertrude para ser sua casa, na época em que muitos outros artistas fizeram o mesmo: de Picasso a Hemingway. Em Paris França ela conta as histórias da efervescência cutural da qual fez parte nos anos 1920, entre bulevares, cafés e casarões da cidade. Très adorable. R$ 21,90 americanas.com

comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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ON THE ROAD

< ciudad del este >

Vans especiais para muambeiras fazem fila em rua de pouco movimento em Ciudad del Este

TERAPIA do caos texto e fotos Bernardo Biagioni

Bobeou na praรงa o paraguaio te abraรงa

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Desconfie se o carro vermelho for uma Mercedes. E este símbolo aí estava colado em um Gol, eu acho

Deus abençoe o Caos e aqui vai se espremendo o ônibus por cima da Ponte da Amizade muito pouco colorida, e o sol queima tanto que a pele arde como centelha no fogo, ahhhhh, minha visão já está ficando turva, preta, vermelho violeta e consigo até enxergar mais ou menos o calor que expira o asfalto sujo, castigado e maltratado que liga Foz do Iguaçu a Ciudad del Este, a fronteira do Brasil e do Paraguai, da sanidade e da loucura, do paraíso e do inferno. Será que vou sobreviver, meu pai de santo? Sobrevive, sim, menino, e então puxo enfim a cordinha no teto do balaio para saltar no próximo ponto, e aí de repente é como se tivessem soltado um rato pouco ligeiro no meio da selva babilônica encostada nos Andes pré-colombianos, um universo sufocado por animais selvagens, dinossauros rasteiros, e índios canibais e estranhos com flechas de ponta vermelha apontadas para meus olhos assustados de viajante de primeira viagem. Só agora me dou conta que já sou quase um deles, um pedaço de pó num vendaval de poeira que roda no ar a 227 quilômetros por hora esperando a hora certa para desviar para a esquerda, desviar para a direita e mergulhar fundo no vento para escapar do homem da capa preta que fica dançando no tempo sorrindo alucinante com os dentes tintilhando de brilho.


ON THE ROAD

< ciudad del este >

Ciudad del Este, uma cidade organizada, limpa e bem pacata. Vem com fé, que a fé não costuma falhar

Se eu ficar parado o maluco do shopping de eletrônicos me pega, se correr o policial vai achar que é bandido, olho para o espelho de cinquenta centavos estirado na banca e chego à conclusão que preciso saber sambar no ritmo que samba a praça, no meio desses dois milhões de abre-alas que arrastam a economia do Paraguai para cima das Cataratas do Iguaçu, ou então vou ser arrastado pelo bloco até oito quarteirões para baixo. Vamos viver, Bernardo, !!!, e vou tentando me transformar em um deles, “ou, porra, quase me atropelou aqui, filho de uma puta!”, grito para o taxista, ele me responde em tupi, o cara da banca grita alto num castelhano duvidoso, e tem buzinas demais, barulhos de frita crepe, de fita isolante, e o policial está tentando pegar aquele moleque e, caraaaaalho, um avião do exército brasileiro mergulhou aqui do nada para dar continuidade naquela operação da... Melhor entrar aqui, Galeria Monalisa, vende óculos, caixas de som, computadores, canetas, bandanas da Sandy (e Júnior), ipod, iphone, ipad, iped (mutação), “animais só por encomenda”, raquetes de tênis, discos de música caribenha, pula-pula, patinente, “ei, quanto vale essa sua camisa?”, me perguntam, mas eu não estou vendendo nada, “eu caí aqui sem querer, bicho! Se eu pudesse, estava mergulhando lá nas cataratas...” Mas não tem desculpa, a partir do momento que você cruza a fronteira logo já começa a compactuar com o sistema, e você é só mais um parafuso, mais um elemento elementar na máquina que vai girando compulsivamente sempre para frente e, se você não acompanha o ritmo, a máquina te cospe para o passeio sujo que corre esgoto, pedaços de brinquedo, batatas do Mc Donald’s e falsificações perfeitas daquele ratinho Ratatouille. “Quantos habitantes tem Ciudad del Este?”,

CIUDAD DEL ESTE PARA ESSA MASSA DE MUAMBEIRAS É COMO AQUELE CONVITE PARA SAIR QUE VOCÊ RECUSOU ONTEM E, QUANDO VIU ESTAVA BÊBADO E CHEIRANDO A CIGARRO

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pergunto para um guardinha de plantão, tentando fazer valer o meu trabalho de jornalista de viagens comprometido com o profundo conhecimento de civilizações exóticas. “Depende. De dia ou de noite?”, devolve o guarda, rindo da piada que deve repetir umas doze vezes por dia. É que o comércio abre às 6h e não demora a aparecer na ponte aquela massa de gordinhas do interior de São Paulo que cruzam a Ponte da Amizade toda semana para carregar muambas coloridas, televisores do tamanho de uma caminhonete e celulares capazes até de disparar uma bomba lá no Líbano se você apertar a tecla 3 duas vezes. Quando o comércio fecha, tipo às 16h, elas já estão em casa balançando na rede, fumando cigarros cubanos fabricados no Paraguai e tentando mudar o idioma da TV nova, que veio, é claro, em chinês. Mas sem arrependimento, pode ter certeza. Ciudad del Este para essa massa de muambeiras é como aquele convite para sair que você recusou ontem e, quando viu estava bêbado, cheirando a cigarro, tirando membros íntimos para fora da roupa na rua e gritando algumas coisas em tupi-guarani para o taxista que te ofereceu ajuda. Pode até rolar uma ressaca no dia seguinte. Mas você finge que não lembra de nada e tá tudo certo. A conta a gente acerta depois, em todo caso, porque essa fica difícil até de dependurar no nome do Papa, “Deus abençoa esse lugar”, eu mesmo só quero arrumar um jeito de sair quebrado, um cantinho para curtir o silêncio que existe dentro de mim. Como já dizia o ditado, é melhor não dar mole na praça, senão a babilônia te abraça. Um beijo para as gordinhas do interior de São Paulo. É com elas que eu vou seguir sacudindo no ônibus até o centro de Foz do Iguaçu agora.


Atitude Comportamento Estilo 24hs na sua TV por assinatura


Roger Kisby/Getty Images/AFP

AUMENTA O SOM

Fuck buddy (and adversary) por Daniel Oliveira “I’ve been out around this town. Everybody’s singing the same song for ten years”. Ué… por que você acha, Julian Casablancas? Falsos-indies-pós-universitários-em-negaçãodo-fato-de-que-estão-mais-próximos-dos-30-que-dos-20insistindo-que-ainda-são-jovens passaram esses tais últimos anos com um nó vazio no estômago toda vez que uma música

Prata DA CASA

Cinco Rios ANA SLIKA

por Lucas Buzatti

“Uma boa metáfora para a confluência de estilos que desaguam em uma só corrente”, explica o pianista Maurício Silva Júnior, sobre o nome Cinco Rios. Os outros quatro afluentes são João Faria (vocal e guitarra), Tiago Capute (guitarra), Bruno César (baixo) e Fabrício Galvani (bateria), que despejam tendências musicais diversas nas águas da banda, desde 2004. Com um indie rock benfeito, de composições e arranjos criativos, os temas remetem à melancolia dos dias chuvosos de uma megalópole, traço visível em Cinza, música de trabalho do primeiro disco, Ecos da Cidade (2007). O grupo, que já rodou pelas casas e festivais de Minas, prepara o lançamento do segundo álbum — todo gravado em rolo, à moda antiga. Segundo Maurício, as 12 faixas contaram com uma composição coletiva, agregando diferentes elementos ao trabalho, como manda o nome da banda. “O rio está sempre lá, mas nunca é o mesmo, ora transborda, ora esvazia — vive em constante mutação.”

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do Strokes tocava em inferninhos mundo afora, lembrando que a banda podia nunca mais voltar. Eram ridicularizados por novos fãs de novas salvações do rock, como um noventista aguardando a Democracia Chinesa com uma bandana na cabeça. Mas… o Strokes voltou. E podemos dizer? A gente sentiu falta. Em Under cover of darkness, o(s) riff(s) continua(m) pegajoso(s). Casablancas continua gritando. A ironia de uma juventude romântica, utópica e evanescente permanece. Então… a gente abre as pernas. Escutar e gostar desse single novo — após os membros da banda terem afirmado repetidas vezes que não curtem mais o Strokes como antes e que a volta não deve durar muito — é como ter uma recaída, bêbado, e transar com aquela(e) ex antiga(o). Você sabe que não vai dar em nada, mas quer se iludir mesmo assim. Ela(e) te largará na merda, comendo farelo de miojo do chão, você voltará a misturar vodka com gin, mas… anda numa seca tão grande que negar uma trepada boa dessas não faz nenhum sentido. Então, foda-se. Literalmente. Mesmo que o “amigo e adversário” com quem Casablancas mantém uma relação de amor e ódio na letra, por quem ele “não vai se fazer de marionete em uma cordinha” e que o vocalista tem medo de que “me odiará agora?”… mesmo que esse interlocutor sejamos nós, fãs. Under cover of darkness é o primeiro single do Angles, álbum novo da banda, o qual saiu em março. O clipe também já caiu na net e você pode conferir no: tinyurl.com/pilulastrokes. Apesar de terem afirmado publicamente (repetidas vezes) que odiaram o processo de gravação do disco e que não têm vontade de entrar em turnê, os integrantes do Strokes afirmaram que já estão com material novo e pretendem gravar o quinto disco em breve.

Olha isto: myspace.com/cincorios cincorios.com.br

Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br com fotos, músicas em MP3 e a sua história.


7) A loira do Bonfim

1) A loira do banheiro

Uma aluna (em algumas versões, uma professora) aterroriza matadores de aula nos banheiros das escolas. Ela se veste com uma pequena quantidade de algodão vermelho. Qualquer semelhança com a Geyse Arruda é pura coincidência.

2) O homem do saco

Lendas Toda cidade tem uma história meio fantasmagórica que geral conhece, mas ninguém comprova. Qual é a lenda urbana que ainda dá medo?

As mães adoram essa. Quando já estão exaustas de tentar fazer a molecada sair da rua, elas apelam para o senhor maltrapilho e bem malvado que vaga por aí com um saco às costas. Um guri, mais bem informado, perguntou no ato: “Mamãe, ele trabalha para o Michael Jackson?”.

3) A mulher da estrada

Reza a lenda que ela pede carona aos caminhoneiros até o cemitério mais próximo e lá desaparece, deixando os moços apaixonados. Se você já flertou, num acostamento, à noite, pode ter sido com ela. E se você já a pegou, num acostamento, à noite, belisque o braço: você pode não estar vivo!

Radicada na região da Lagoinha, em Belo Horizonte, ela foi citada em verso de Drummond, virou filme e também história em quadrinhos. Status de musa entre as assombrações.

8) De cinema

Havia um fantasma morando nas locações do filme Três Solteirões e um Bebê. O danado foi flagrado numa janela, já saindo de cena. Só no dia seguinte o contra-regras deu falta de vários objetos do set. PEEEGA!

9) De Varginha

Dia 20 de janeiro de 1996, a cidade mineira recebeu uma visita de uma dupla extraterrena e virou notícia em todo o país. Uma testemunha varginhense garante: “Kadafi é um deles”. O outro, os gringos mantêm sob forte esquema de segurança.

10) Chupa Cabras

Essa, mais rural que urbana, preocupou principalmente os animais. Cabras, cavalos e galinheiros perdiam horas e horas de sono aflitos. O danado transmitiu gripe suína para uma vaca, que ficou louca e começou a dar leite de soja. Um agente Vegan disfarçado.

REPRODUÇÃO DA INTERNET

T0P # 10

CULTURA POP INTERATIVA

4) Xuxa e Fofão

Em suas versões-boneco, eles também tocaram o terror. A boneca da Xuxa ganhava vida e marcava o X nas menininhas, já o Fofão vinha com uma faca ou uma vela preta dentro. Surpresa! Um predecessor do Kinder Ovo.

5) A brincadeira do copo

Sabe aquela brincadeira de fazer perguntas para um espírito e ele responder movimentando um copo? Numa dessas rodinhas um bebum espiritual morreu. e não foi de cirrose. Vai, bobo!

6) Pizza assassina

Em Brasília, um penetra-mor, que rondava os corredores do poder e nunca perdia uma boquinha, morreu engasgado com um pedaço gigante de pizza à moda da casa. O problema é que ele não sabe que está morto, e continua frequentando as festinhas da Capital Federal. Boo!

Último ranking: >>mulher-comida As preferidas:

1) Samambaia 50,11%

2) Mulher-Melancia 12.21% 3) Morango (ex-BBB, lembra?) 10,39%


PERFIL

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Quando soube que seria pai pela primeira vez, há pouco mais de 20 anos, o brasileiro funcionário de uma loja de molduras de Nova York ligou para seu chefe e avisou que não voltaria ao trabalho no dia seguinte. Nem no outro, nem no outro. A convicção era de que não conseguiria assumir as novas responsabilidades sendo moldureiro. E a esperança era de dar certo noutro ramo. “Tenho que ser artista plástico. E tenho que ser muito bom.” Nascia um artista contemporâneo, não só pelas décadas em que seu corpo de trabalho foi criado. A contemporaneidade de Vik Muniz está em suas referências — “de clássicos da literatura a joguinhos no iPad” —, em sua postura, sem preconceitos — “quem diz que não vê novela está mentindo” —, na forma como lança seu olhar sobre figuras icônicas e matérias-primas familiares — chocolate, diamante ou lixo — imprimindo nelas seu estilo bem-vindo em alguns dos mais prestigiados museus e galerias do mundo. Aos 49 anos, Vik Muniz conseguiu se tornar um artista plástico muito bom. Garantiu ao filho Gaspar, de 21, uma vida confortável. "Agora, ele é um homem e precisa ser batalhador, se virar”, avisa. Pai pela segunda vez, a caçula Mina, tem 5 anos. Nascido em São Paulo e radicado em Nova York, já morou em Paris e mantém uma base no Rio de Janeiro. Apesar de urbanoide assumido, é apreciador da natureza. Flerta com o cinema, busca soluções criativas para as cidades, a começar pela capital fluminense, onde nos recebeu em seu apartamento na Avenida Vieira Souto. Camiseta preta, frases agudas e bem-humoradas, salpicadas por umas poucas expressões em inglês e os olhos verdes muito vivos. Um homem de seu tempo e, com o perdão do clichê, um cidadão do mundo.

Um dos mais importantes artistas plásticos da atualidade, o paulistano Vik Muniz é radicado em Nova York, tem uma base firme no Rio de Janeiro e mantém a atenção voltada para bem além do mercado que envolve críticos e curadores. Cultura pop, soluções urbanas, encontros com a natureza e alta produtividade lhe interessam por Sabrina Abreu fotos Elisa Mendes

Quando vem ao Brasil, sua base é o Rio de Janeiro e não São Paulo, cidade onde nasceu. Por quê?

PASSEI 21 ANOS da minha vida em São Paulo. Vinte e oito anos em Nova York. Acho que o Rio de Janeiro é uma alternativa melhor para NY — onde ainda estou morando. São Paulo é uma cidade problemática para quem está indo e voltando, como eu. Requer uma presença constante. Ela tem um subtexto, uma vida interior. As pessoas que moram em São Paulo gostam de morar lá, porque descobrem na rotina da vida, soluções que são parte de um processo de estar ali o tempo todo. Gosto de viagens curtas a São Paulo, dois, três dias no máximo. Se fico uma semana, passo a participar de uma rotina artificial: tem todas as desvantagens de

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HAVIA DEIXADO UMA CRIANÇA POBRE NO BRASIL E NUNCA CUIDEI DELA. E A CRIANÇA ERA EU MESMO quem mora lá, sem as vantagens. E, em certo sentido, é muito parecida com Nova York, uma metrópole. O Rio tem uma coisa um pouco mais especial. Ao mesmo tempo em que é uma cidade grande, é um balneário, é mais versátil. E a natureza — morando em NY você fica longe disso. O Rio é fascinante, por ter a tranquilidade de estar aqui, atravessar a rua e nadar no mar. Então há esse desejo pela natureza? Sua obra me dá a sensação de você ser bem urbanoide.

SOU, sim. Mas acho normal o desejo pela natureza, ainda mais que está acabando [risos]. [Risos.] Estou perguntando, pelo seguinte: Woody Allen, um personagem tão nova-iorquino — como você, que é radicado lá — tem uma história de ter comprado uma casa para morar perto da natureza, ouvindo o mar em South Hamptons. Mas não conseguiu lidar com aquilo. O barulho das ondas o deixou louco, ele sentia falta de escutar sirenes, o trânsito da cidade à noite. Vendeu a casa. Você chega a isso?

CHEGO. Tenho até uma história engraçada. A mãe do meu primeiro filho era super bicho-grilo, holística, ficava falando “vamos tirar férias, vamos para a Pensilvânia”, um lugar no meio do mato. Eu não tirava férias há seis anos e morava no lugar mais barulhento de Manhattan, na Rua 14 com Primeira Avenida. A um bloco da polícia, dois quarteirões do hospital Beit Israel, um quarteirão de uma brigada do Corpo de Bombeiros, em cima da linha do trem e do outro lado de um estacionamento [risos]. Quando o trem passava, tudo chacoalhava, os alarmes disparavam. Sem contar que a rua também era muito barulhenta, bêbados, gente passando. Fiquei anos morando no terceiro andar desse estúdio pequenininho. Quando viajei para esse lugar sem barulho nenhum, ficava esperando o barulho acontecer. E agora? E agora? Não consegui dormir a noite inteira, amanheci um trapo, porque não gostava do silêncio à noite. Isso é verdade, acontece, mesmo. isolada por

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Tentamos uma segunda vez, num lugar perto de uma cachoeira, ela achou que seria muito legal. A queda d'água fazia um barulho altíssimo. Dormi maravilhosamente bem, ela ficou acordada. No Rio é diferente, porque é um grande centro urbano que tem natureza. Morei no Jardim Botânico e tinha o problema de um tucano ficar entrando dentro da casa. Agora, tenho uma casa na Gávea, e tem o problema dos macacos-prego, não pode deixar nada de comida em cima da mesa que eles roubam. O Rio tem esses encontros, “border” [fronteira, em inglês] é uma palavra ótima para isso. Bordas são muito interessantes. Nova York tem essa coisa instantânea de ficar andando pela cidade e em questão de metros você vê um tipo de pessoa e de criatividade, anda mais um pouco e vê outra coisa completamente diferente. Um microcosmo muito interessante. Por isso, viajar por Nova York é um pouco viajar pelo mundo, Manhattan é uma espécie de mundo em miniatura. Ainda é a cidade mais cosmopolita do mundo. Muita gente fala de Londres, mas é Nova York. E, com certeza, a comida lá é melhor que a de Londres. Depois de Dowtown, quando você resolveu ir para o Brooklyn?

MOREI NO EAST VILLAGE por quase 10 anos. Uma época em que tudo estava acontecendo, metade dos anos 1980, quando as galerias começaram a surgir, mostrando arte nova, que era mais a [criação] do pessoal da minha geração e a da anterior. Foi o reduto da minha formação intelectual como artista plástico. Comecei a ter contato com gente que fazia arte, música. Eu saía toda noite, era uma meca da contracultura, tinham tantos clubes, como o Area, que não existem mais. Saí de lá para pegar o greencard, em 1991, e fiquei um ano e meio em Paris – que é outra cidade que gosto muito. Quando voltei, por opção, fui diretamente para o Brooklyn, porque lá já estava se transformando em outra coisa também [com grande efervescência cultural]. Estou sempre à procura das bordas. Fui primeiro para Carroll Gardens. Que agora é badalado.

AGORA É MAINSTREAM. E fui mudando de bairro, mas continuei no Brooklyn. Na sua infância, filho de um garçom e de uma telefonista, como o artista começou a se desenvolver?

GOSTAVA DE DESENHAR, era interessando por arte, por cultura. Meu pai tinha meia dúzia de discos, cinco eram do Luiz Gonzaga e um do Nelson Gonçalves. Ele trabalhava muito, eu pouco via meu pai. Minha mãe também trabalhava, chegava mais tarde e cuidava de algumas coisas da casa. Quem me criou mesmo foi minha avó, uma pessoa que gostava de ler. Sentia-se muito


No apartamento da Avenida Vieira Souto: “o Rio é boa opção à Nova York”

ser dona de casa e nunca ter ido à escola, mas tinha interesse por cultura. Uma vez, meu pai ganhou uma enciclopédia Conhecer, eu e minha avó lemos de A a Z. Tudo o que tinha para ler, a gente lia. A pessoa que mais me fez ficar curioso e aprender coisas foi ela. Me deu esse caminho e também um problema: me ensinou a ler, quando eu tinha uns 4 anos, da maneira como ela aprendeu sozinha a ler: memorizando a forma das palavras, em vez da maneira fonético-silábica. Então, na escola, eu não sabia ler nem escrever. Já estava lendo Júlio Verne, Ilha do Tesouro, mas não conseguia ler letra cursiva. A professora fazia o ditado, ficava desesperado e começava a fazer desenhozinhos. Os primeiros de que me lembro surgiram porque tinha dificuldade de escrever. Desenhava as palavras. Não conseguia lembrar de certas palavras e desenhava aquelas coisinhas, um hieróglifo. Isso me fez começar a desenhar. Que coisa louca. A professora falava: “Você não está escrevendo, está desenhando”, e eu tinha dificuldade de ver a diferença, porque via a relação entre a forma da palavra e seu significado. Um disléxico autodidata. A coisa da arte veio daí um pouco. A gente não consegue se livrar de certas coisas. Na minha casa não tinha arte, não tinha câmera fotográfica, a gente era bem pobre, mesmo. Tinha comida, tinha televisão. Televisão é uma coisa que sempre gostei. Quando fez a abertura da novela Passione, no ano passado, você disse que sua memória afetiva do Brasil tem a ver com novelas. Alguma foi especial? GOSTO DE TODAS, desde Irmaõs Coragem, Bandeira Dois — pega até mal falar das novelas que me lembro, porque é muita bandeira para mostrar minha idade [risos]. E quando venho ao Brasil, acho legal assistir novela, acho engraçado. A novela é mídia de massa interativa, com grupos de pesquisa. Não existe igual em lugar nenhum do mundo. Fazem um pouquinho de marketing, com aquelas novelas americanas, que não acabam nunca, mas mídia de massa interativa — fora as mais contemporâneas, como a internet — só as novelas daqui. Vejo de um jeito muito pragmático. Você faz a abertura de uma novela. Num dia em que ela passa, você [seu trabalho] aparece várias vezes. As vinhetas dão, somadas, quase um minuto. Um minuto em prime time, com uma audiência diária de 50 milhões de pessoas, seis vezes por semana, durante 10 meses. Sabe o preço disso? Agora, o pessoal estava falando do Justin Bieber, que bateu um recorde de hits com 500 milhões no vídeo dele. Em 10 dias de novela, “pumba”, dá isso [gargalhada]. Sem contar que não existe outra emissora de televisão num país com as dimensões do Brasil com poderio semelhante ao da Rede Globo. A GLOBO passou um tempo meio vagando, tentando fazer outras coisas, mas eles entenderam que o forte deles, mesmo, é conteúdo. Então, não tem outra companhia que tem ao mesmo tempo um poder de difusão tão forte e produz alguma coisa que está emaranhada dentro da textura cultural do país. Todo mundo vê novela, quem diz que não vê novela mente. Voê vê mais ou menos, aí, depois de uns capítulos fulano morre e você diz: “Benfeito”. Você saiu do Brasil nos anos 1970. Agora, está vendo muita coisa diferente? TODO MUNDO ESTÁ VENDO. O país está numa situação completamente diferente, nos últimos 10 anos. Nunca imaginei que fosse tirar dinheiro de outro lugar para investir aqui. Tem uma situação única, diferente.

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Agora, você tem ficado mais aqui. DESDE 2000, tenho vindo bastante. Ultimamente, ainda mais, porque estou tendo um relacionamento aqui. Comecei a gostar mais do Brasil quando fiquei um mês em Salvador, no projeto Axé, fui trabalhar com crianças de rua. Aquilo foi uma experiência tão legal, uma experiência de verdade. Em Nova York, estava muito no estúdio, falando com o mundo de uma forma muito abstrata. E, de repente, lidei com uma realidade com a qual não tinha contato. E é um pouco a realidade de quando cresci. Havia deixado uma criança pobre no Brasil e nunca cuidei dela. E a criança era eu mesmo. Então, foi assim que comecei. Desde o início, resolvemos: criar projetos aqui, fazendo uma coisa social acontecer ao mesmo tempo. É meu hobby, acho legal. Tem tente que gosta de ciclismo. Faço isso para mim, também. Não sou Madre Teresa. Faço porque também me dá prazer. Falei que a filantropia é a forma mais sofisticada de egoísmo [risos].

Relicário [exposição aberta no Instituto Tomie Ohtake, em SP, até dia 24] reúne obras de diferentes fases de sua carreira. Como é ver um trabalho criado há 10 ou 20 anos, qual é o tipo de sentimento? É BEM AFETIVO, porque é um artista jovem. No dia da abertura, falei: “É a exposição de um artista jovem, não é um artista maduro”. Dá tiros para tudo quanto é lado, tem uma liberdade muito grande, tem um interesse, um deslumbramento talvez pelo mundo da arte, pelas ideias, que talvez eu não tenha hoje. Pelo menos no eixo Rio-São Paulo-Brasília, o público brasileiro já está mais informado sobre o que é meu trabalho. Quando você vê muitas coisas [de um artista], percebe certos padrões – e, óbvio, quando alguém faz uma coisa por 20 anos, haverá certas repetições, ou ele estudará alguma coisa com um pouco mais de profundidade, todo artista faz isso. Quando fiz a exposição Vik [2009], que foi para São Paulo e Belo Horizonte, as pessoas ficavam impressionadas porque eu tinha feito tudo aquilo na minha carreira. Eu falava: “Não, mas isso é uma parte pequena, muito bem editada”. Mas você é mais produtivo do que a média dos artistas contemporâneos. Não é? PENSO ASSIM: se você tem ideias, tem material e tem tempo, e se está com vontade, se tem tesão de fazer, você produz. Vai ficar controlando sua produção por quê? Tem mais é que fazer. Não sou daquele tipo que controla o número de obras que faz por uma simples equação mercadológica, para criar raridade. Acho que isso é uma coisa do século 19, quando começou a produção em massa. O original, o único passou a ter valor. A aura. A AURA DA COISA, como o [filósofo Walter] Benjamin mesmo falava. Hoje em dia, já não é mais esse tempo. Acredito mais e mais no contrário, na difusão, na ideia de criar, de fazer parcerias com a mídia, tirar proveito disso. Você já fez retratos de Elizabeth Taylor, com diamante; Che Guevara, com feijões; Vladmir Putin, com caviar. Quem falta ser retratado? TEM UM MONTE QUE AINDA NÃO FIZ. Nem me lembro. Tem retrato que faço por uma encomenda boba, depois ficam tão legais que faço uma edição e vendo. Autorretrato, por exemplo,

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tem um monte, faço para testar o trabalho. Fiz agora da Kate Moss. Ela estava aqui fotografando para o Mario Testino, fiz um retrato dela, acabou ficando tão bom que vou fazer uma edição e vender. Gosto dela, é meio uma musa das artes. Qual material usou no retrato dela? CHOCOLATE, outras coisas melequentas, geleia. Você já falou em diferentes ocasiões que cria à noite, quando está mais silencioso. NOS ÚLTIMOS DOIS ANOS tenho feito outras coisas. O filme me tomou muito tempo. Também estou desenvolvendo um projeto grande, um instituto voltado para a ideia de como você reage à arte dentro de um plano urbano, mais profundamente do que só mudando a decoração da cidade. Por exemplo, colocando arte no Cantagalo e na Zona Sul ao mesmo tempo, forçando as pessoas a visitar o morro e o pessoal lá de cima a descer. A ideia seria usar a obra de arte como uma espécie de desculpa, de poética maior do que só o objeto ali. Desenvolver um remapeamento cultural, a partir das obras. Chamo até de desvios, tem que ver a coisa de uma forma diferente. Em que pé está isso? ESTÁ SENDO FEITO, mas leva um tempo. Enquanto isso, continuo produzindo. Minha separação, essa coisa de ter que ficar longe da minha filha, mudar de vida, é muito complicado, demorou mais ou menos um ano para eu me localizar de novo. Para produzir qualquer coisa, preciso de estabilidade. Só agora estou voltando à normalidade e tentando tirar proveito dela. Você ouve música quando está criando? OUÇO MÚSICA CLÁSSICA, música instrumental em geral, jazz, guitarras. Sem letra, se alguém falar alguma coisa, me perco. Tem religião? TENHO A RELIGIÃO que minha mãe me deu: católica. É como perguntar: “Você fala quais línguas?”. Falo português, inglês, francês e falo essa língua católica que me ensinaram. Mas, no geral, acho tudo muito parecido, diferentes maneiras que se aproximam de uma ideia essencial de Deus. Acho meio bobo falar que não acredita em Deus. Você acredita em ateísmo? [risos]. Como aquela coisa de alguém perguntar se acredita em livre arbítrio: “Não tenho outra opção, senão acreditar” [gargalhada]. A indicação de Lixo extraordinário ao Oscar [de melhor documentário] foi muito comentada. O fato de ele não ter ganhado, também. Como foi participar da festa. Você curtiu? LÓGICO. Você estar ali naquele tapete, já viu todo mundo a seu redor num filme, é óbvio que toda aquela estrutura pseudomeritocrática é feita para você se sentir uma pessoa muito especial por estar ali. Dividir isso com o Tião [Sebastião Carlos dos Santos, líder dos catadores do lixão mostrado no filme] foi maravilhoso. O louco disso tudo é que, uma vez que passou, vira só uma festa. E é engraçado. Teve uma hora que ri com a Karen [Harley, codiretora], porque falei: “Olha ali o Justin Bieber”. Ela: “Cadê?”. “Atrás do Tom Hanks” [risos]. A coisa mais louca é você estar num lugar onde conhece todo mundo de ver na TV, mas não é amigo de ninguém.


SE VOCÊ TEM IDEIAS, TEM MATERIAL E TEM TEMPO, SE ESTÁ COM VONTADE, SE TEM TESÃO DE FAZER, VOCÊ PRODUZ. VAI FICAR CONTROLANDO SUA PRODUÇÃO POR QUÊ?


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Engraçado o que você tuitou: “Jude Law me confundiu com algum amigo e disse que passava na minha casa mais tarde”. FOI. E na festa da [revista] Vanity Fair [tradicional celebração pós-Oscar], ele fez de novo. Mais tarde te encontro [faz sinal, girando os dois dedos indicadores, passando um pelo outro no ar, como quem diz “depois”].

No Brasil, ficamos todos apaixonados pelo Tião. Você tem tido contato com ele? TENHO. O Tião está vivendo um momento muito bom, está envolvido num projeto, formatado por ele nos últimos dois anos, que vai revolucionar toda a ideia da reciclagem. É incrível, tem grandes parceiros internacionais. Não tenho autoridade para falar muito, não posso falar, porque não é um projeto meu. Mas fui apresentado a ele nesta semana e estou muito impressionado. Uma solução definitiva para [o lixão de] Gramacho. Fui procurado para documentar essa solução, de um jeito que seja replicada em outros lugares, em toda a América Latina. O Tião viajou o mundo inteiro, foi para a Coreia, para a Espanha, visitando centros de reciclagem, para ver o que é possível fazer. A legislação de resíduos sólidos do Lula é igualzinha a da Europa. Só tem um adendo: o catador. A

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Há anos você dizia que flertava com o cinema. EM LIXO EXTRAORDINÁRIO, minha relação com trabalho autoral era a do trabalho que faço o tempo todo. Porém, tinha uma estrutura em cima disso, os diretores — porque eram vários — filmando aquele processo. Uma coisa acaba influenciando a outra. Documentário puro não existe, coloca uma câmera aqui e ela começa a transformar as coisas. O meu flerte era com cinema, mesmo [ficção]. A imagem que se move. Tenho um projeto, estou escrevendo o roteiro, com uma amiga, a Sônia Pellegrino, e estou mexendo nisso com o Pedro Buarque, devagarzinho. O formato é uma comédia, e o humor é uma coisa que levo muito a sério, espécie de técnica para desarmar as pessoas e conseguir colocar ideias de um jeito muito profundo na cabeça delas.

Obras: retrato de Elizabeth Taylor, da série Diamond Divas, documentário Lixo extraordinário e auto-retrato, feito a partir de confetes de revistas O2 FILMES/DIVULGAÇÃO

[Risos]. Como o título Waste land virou Lixo extraordinário? FOI O CONTRÁRIO. Lixo extraordinário é título meu. Há esses caminhões que a gente vê o tempo todo, de coleta de lixo comercial, que aqui no Rio é chamado de Lixo Extraordinário. Então, quando estou dirigindo, sempre dou risada disso. Está escrito nos caminhões de reciclagem do Rio. Traduzindo para o inglês, extraordinary garbage não faz sentido nenhum. Então, colocaram Wasteland, mas não gosto muito. Tem uma referência a T. S. Eliot, que não tem a ver com o filme. Uma coisa com a outra não tem nada a ver.


ARQUIVO PESSOAL

ROGER DAVIES

Dois tempos: infância em São Paulo e trabalho em Nova York

importância do catador começará a ser como a do agricultor. Ele tira do ambiente aquilo que servirá de construção, de sustento, tantas coisas. Quais artistas influenciaram sua obra? MAIS FÁCIL DIZER os que não influenciaram [risos]. Acho que, muito embora tenha minha formação artística, a princípio, do mundo acadêmico, sou muito curioso em relação à imagem e ao fenômeno da representação em si, como isso acontece, como é criado. Muito da minha formação intelectual está inserida dentro da minha formação também como indivíduo, justamente, a arte feita nos anos 1970 e 1980, quando fui formado como indivíduo, quando eu já tinha nascido. Minimalismo, pop art, happenings, um leque muito grande. Pego muito dali, é minha horta. Mas tenho uma pegada oblíqua em relação a isso, porque sou sul-americano, sou um homem brasileiro, e minha formação também se deu numa atmosfera intelectual muito tóxica, da época da ditadura. Mesmo que você não tenha sido torturado, perseguido pelo regime, a sensação de que você não pode falar o que pensa e está sempre sujeito à informação que não é verdadeira o torna uma espécie de cínico. É algo complexo analisar a informação o tempo todo, julgar, tem que negociar muito a informação. Chamo isso de mercado negro semiótico. Dar vazão a isso, para mim, é uma riqueza poética, quando você não pode falar uma coisa, tem que inventar outra maneira de dizer aquela mesma coisa, cria uma capacidade metafórica muito grande. Lembro das músicas do Chico Buarque. Como a gente sabia o que estava acontecendo, sabia o que ele queria dizer, eram códigos. Estou falando da música porque é o que mais se lembra, mas estava em tudo. Como receitas de bolo no lugar de matérias censuradas no jornal. EXATAMENTE. Tinha toda essa codificação da consciência política, criava um imaginário, uma poética particular dela. Por outro lado, estudava na escola, tinha Educação Moral e Cívica, Dom e Ravel [e a letra] “Eu te amo, meu Brasil, eu te amo” [canta]. Aquilo criava em mim um tipo de resistência à informação que achava que a gente era idiota. Então, me tornei cínico. E isso, associado ao interesse muito grande que tinha em representações, gerou um pouco a pessoa que sou hoje. Fiquei pesquisando mui-

to o que as pessoas viam nessa época. Você parece ter múltiplas referências sem preconceito. É isso? NÃO TENHO preconceito contra nada. Gosto tanto de jogar joguinho no iPad como de ler clássicos. E tem algum artista que você aconselhe a gente a ficar de olho? NÃO SEI. Acho que sou suspeito para falar de arte contemporânea, porque sou a pessoa que menos olha para ela. Como sou um artista contemporâneo, sempre falo: “Quando está dirigindo, a gente olha para a frente e olha para trás, pelo retrovisor. Não fica olhando para os lados”. Então, vou a exposições, participo, mas meu interesse não é arte contemporânea, porque se me interessar, posso começar a seguir ou a fazer parte de uma coisa. Meu interesse é pelo que está além de mim. Cultura pop adoro. Estou mais preocupado em saber o que vai ser the new hot thing do que o novo artista consagrado. E o que você acha que fez seu sucesso? MUITO TRABALHO e muita persistência. Tantas vezes pensei em largar tudo, porque a coisa não estava dando mais. Mas falei: vou ficar, vou ficar, vou ficar. É você acreditar não só que é capaz, mas numa coisa que está além de você, como se tivesse uma responsabilidade de fazer. Não como quando a gente faz as coisas para a gente mesmo, “vou fazer, porque vou ganhar dinheiro”. Você quer fazer por algo além, imaginando que tem o mundo, que tem gente, tem maneiras que você pode participar, ser um participante ativo de tudo o que acontece. Pessoas ficam tentando encontrar a razão da existência delas em Deus e em megaestruturas. Acho isso importante também. Mas, é possível encontrar um meio do caminho entre essas megaestruturas e coisas extremamente pequenas que são muito importantes para você — por elas serem muito pequenas, vão para aquela história do particular e do universal, elas são universais. Por isso, gosto de trabalhar com ícones, estereótipos, arquétipos: são uma parte muito pequenininha da experiência de todo mundo. Para mim, isso é muito importante. Não sou um pensador profundo, sempre falei isso, meu trabalho é uma ideia de superfície, é superficial mesmo. Mas bem amplo. comente redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br

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SCRAP

fale com ele: alexcapella.mg@diariosassociados.com.br

SA

por Alex Capella

/ Rumo ao topo /

/ Aroma no ar /

Acontece nos dias 16 e 17 de abril, no Grande Hotel e Termas de Araxá, mais uma etapa da Copa Internacional de Mountain Bike. O circuito, apontado como um dos melhores do mundo, podendo até ser sede de uma etapa da Copa do Mundo, deve atrair mais de 900 competidores. Não podia ser diferente. Afinal, a prova é a única com classificação Classe 1 da América do Sul. Em função disso, a etapa conta pontos para os rankings Internacional (elites masculino e feminino), Brasileiro (todas as categorias, exceto sub-13) e para o Campeonato Mineiro.

/ Alto astral /

Quem não sonhou um dia sentir aquele aroma gostoso da comida que aparece na TV ou na mídia impressa? Pois é, a publicidade acaba de ganhar mais um aliado. A Tempero Mídia, em parceria com a Coca-Cola, desenvolveu a chamada “mídia olfativa digital”. Trata-se de um novo formato de ativação em ponto de venda (PDV), que tem o objetivo de seduzir o consumidor pelo olfato, mesmo que o equipamento não esteja realmente ao lado da pessoa.

/ Moda de raiz /

O coaching — metodologia de orientação de carreiras — tem se despontado como tendência e gerado resultados, sobretudo para jovens profissionais em início de carreira. Em Belo Horizonte, quem atua no setor é a Vitadenarium. A empresa de consultoria trabalha na área do desenvolvimento humano e organizacional e tem como diferencial o serviço de Coaching de Vida e Carreira. Trata-se de um processo de construção conjunta, com começo, meio e fim, que ajuda o jovem a encontrar e superar desafios e a alcançar objetivos profissionais e até espirituais. IMAGENS/FOTOS: DIVULGAÇÃO

*A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de março. Sugestões e informações para a edição de maio, entre em contato pelo e-mail da coluna.

No mercado com um conceito de “moda ética”, fabricando roupas e acessórios que levam em conta valores socioambientais e consumo consciente, a mineira Raiz da Terra acaba de lançar uma linha de calçados. Com os novos produtos, a empresa espera encerrar o ano com crescimento de 30% no faturamento com relação ao período anterior, principalmente, com o fortalecimento da sua presença em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Além de ampliar a distribuição, a marca prepara, para o final de maio, a abertura de sua primeira loja de varejo no Shopping Boulevard, em Belo Horizonte.

/ Passe olímpico / Interessados em adquirir ingressos para as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, podem fazê-lo por meio da agência Tamoyo y Turismo, revendedora oficial de bilhetes para o Brasil e credenciada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). As vendas são restritas aos brasileiros residentes no país e acontecem somente pela internet, no site tamoyo.com.br. Há entradas para todas as modalidades em que o Brasil tenha representantes. A agência trabalha com a venda de ingressos desde as Olimpíadas de Sydney, em 2000, e, assim como para o evento no Rio, está comercializando bilhetes para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

/ Som original / Com a intenção de levar música de qualidade, há três anos os DJs Jahnu e Xeréu estão à frente do projeto Original Sundays, que toca o melhor da black music, do rap, do soul, do dub e do reggae, no Arcadium Temakeria e Creperia, na Savassi, todos os domingos, sempre com a atração de dois convidados. O projeto é inspirado nas festas londrinas, mais precisamente as do bairro de Nothing Hill, quando, no Carnaval, as ruas são tomadas por sound systems. Para comemorar os três anos do Original Sundays, um evento será realizado no início de maio com uma atração especial.

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/ Volta às origens / Depois de inaugurar a primeira loja fora de Belo Horizonte, no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, a rede Verdemar Supermercados & Padaria iniciou os projetos de construção de um centro de distribuição, também no Jardim Canadá, e de mais uma unidade, na esquina das ruas Viçosa e São Romão, no Bairro São Pedro, Zona Sul da capital mineira. Curiosamente, a rede abriu sua primeira loja em 1993, no mesmo São Pedro. Hoje, o Verdemar exibe uma carteira de investimentos da ordem de R$ 17 milhões.




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