revista
revistaragga.com.br
#32
DEZEMBRO.2009
FAMÍLIA Flordelis Os Schürmann Dinastias da Lucha Libre Desaparecidos políticos E mais: José Junior Moto GP Natiruts na Austrália Almanacão de férias
fotos: carlos hauck
SANGUE BOM
Cris Guerra publicitária e blogueira
Ronaldo Fraga | estilista
Fernanda Takai | cantora
Lucas Fonda | diretor da Ragga
Bruno Dib | diretor da Ragga
Antônio Toledo | diretor da Ragga
Cris do Morro coordenador do Vozes do Morro
Rodrigo Xeréu | dj
Rodrigo Fraga | estilista
Aninha Dapieve | produtora
Fábio | jogador do Cruzeiro
Dudua’s Profeta fotógrafo
Thiago Vinhal | triatleta
Léo Ziller Produtor de eventos
Weber Pádua | fotógrafo
Pena e Matheus | Entre Folhas
Léo Burguês | vereador
Fê Santiago publicitária e promoter Érika Machado | cantora
ROJAS
BRUNO SANTOS - GRIDLOCK BOARDSHORT
BELO HORIZONTE (MG): BH Shopping (31) 3286 3048 Pátio Savassi (31) 3284 7398 Minas Shopping (31) 3425 2980 BALNEÁRIO CAMBURIÚ (SC): Balneário Camburiú Shopping (47) 3062 8111
WWW.SEAHU.COM.BR
BÚSSOLA
Futuros campeões
22
Molecada acelera fundo no Red Bull Rookies Cup
Marcados pela ditadura
AfroRagga
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Diários da Oceania
Familiares de desaparecidos políticos contam seus dramas
Nem toda família é igual
64
76
José Júnior, do Afroreggae, fala de violência, cultura e esperança
Natiruts em turnê pela Nova Zelândia e Austrália
36
Conheça as histórias de Flordelis e os 50 filhos, dos Schürmann e suas viagens e das dinastias na luta livre mexicana
De volta à infância
62
Saia de férias e se divirta com o nosso Almanacão
destrinchando
já é de casa
estilo
34
18
on the road // ACDC
quem é ragga
48
passando a bola
ragga girl: bárbara borges
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eu quero! // família
60
54
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cultura pop interativa aumenta o som
74
72
FAMÍLIA NÃO É SANGUE, FAMÍLIA É SINTONIA O que você seria capaz de fazer pela sua mãe? Ou pelo seu pai e irmãos? Provavelmente tudo o que for possível e, por que não, até algo humanamente inimaginável. Esse sentimento tem nome. E podemos chamá-lo de “família”. Muito do que somos, devemos ao que vimos, ouvimos, vivenciamos e aprendemos dentro de casa. Essa é a base do ser humano. Dessa experiência, escolhemos se seremos o reflexo ou o refluxo dessa convivência. Teremos nossos pais como exemplo de postura na vida, ou faremos o caminho oposto. É dentro de casa que nos sentimos mais verdadeiros, mais honestos, mais à vontade para sermos nós mesmos. E
casa não precisa, necessariamente, ter quatro paredes e um telhado.A família Shurman fez de um barco o seu lar, que neste momento está ancorado na página 40. Será que não poderia ser um ringue de luta livre (veja na página 36)? O sentimento de estar em família ultrapassa as barreiras da idade, das diferenças e, inclusive, as barreiras geográficas. Chegar em algum país do outro lado do mundo para visitar um parente é como se sentir em casa. Depois que crescemos e saímos das asas da mãe, o sentimento ultrapassa também nossa corrente sanguínea. Passamos a conviver mais com amigos de trabalho, do clube, da praia, do chope de sexta e, assim, criamos novos irmãos, irmãs, primos e primas. Esta revista também é a casa de uma família que carrega o sobrenome Ragga, e a cada mês convidamos e abrimos as portas para pelo menos 10 mil amigos. Você é um deles, por isso, entre que a casa é sua. Lucas Fonda :: Diretor Geral lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br
bruno senna
EDITORIAL
cartas SIM, OBRIGADO! Lucas Plex // via Twitter @revistaragga a matéria em que o Bruno Mateus, coitado, só falava sim, ficou foda! E o bate-papo na sala de sexo? rá, dei páaala de rir! :)
NA CONCORRÊNCIA Diego Rezende // via Twitter excelente entrevista com Paulo Lima da @revista_trip na edição da @revistaragga deste mês. Parabéns, pessoal! ANTES TARDE Isabela Daguer Braga // via Twitter Adoreeeei o @graveola na @revistaragga! Quase passou da hora. PARABÉNS Viviane Couto // via Twitter @revistaragga Parabéns à revista Ragga pela última edição! Ótimas matérias! ;-).
REFERÊNCIA Aloizio Meireles ZOR Design // por e-mail Lucas, Acabei de ler a Ragga de outubro e queria deixar aqui a minha admiração. Estou encantado com o conteúdo, matérias, reportagens, fotos, diagramação... É muito bacana ver aquela revista de visual jovem imaginada por você se transformar numa publicação de referência de qualidade não só para MG, mas para o Brasil inteiro. Parabéns a toda a sua equipe e continue brilhando. Abração!
FALA COM A GENTE!
redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br, pela comunidade no Orkut >> “Revista Ragga” ou pelo correio >> R. do Ouro, 136 :: 7º andar Serra :: BH/MG CEP: 30.220-000
expediente DIRETOR GERAL lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR FINANCEIRO josé a. toledo [antoniotoledo.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO nathalia wenchenck [nathaliawenchenck.mg@diariosassociados.com.br] GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING alessandra costa [alessandracosta.mg@diariosassociados.com.br] EXECUTIVO DE CONTAS lucas machado [lucasmachado.mg@diariosassociados.com.br] PROMOÇÃO E EVENTOS cláudia latorre [claudialatorre.mg@diariosassociados.com.br] ESTAGIÁRIA DE PRODUÇÃO ana dapieve [anadapieve.mg@diariosassociados.com.br] EDITORA sabrina abreu [sabrinaabreu.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTER bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] JORNALISTA RESPONSÁVEL luigi zampetti - 5255/mg DESIGNERS anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] luiz romaniello [luizromaniello.mg@diariosassociados.com.br] marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] maytê lepesqueur [maytelepesqueur.mg@diariosassociados.com.br] FOTOGRAFIA bruno senna [bsenna.foto@gmail.com] carlos hauck [carloshauck@yahoo.com.br] dudua´s profeta [duduastv@hotmail.com] ILUSTRADOR CONVIDADO vorko design [vorko.org] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO daniel ottoni [danielottoni.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra. rafinha bastos. kiko ferreira COLABORADORES alexandre carlo. angélica paulo PÍLULA POP [www.pilulapop.com.br] RAGGA GIRL bárbara borges FOTO júlia lego PRODUÇÃO aninha dapieve e li maia MAQUIAGEM bruno cândido CABELO vanessa cândido CAPA matt groening / canal fox REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br] :: inkover [inkover.com.br] REDAÇÃO rua do ouro, 136/ 7º andar :: serra :: cep 30220-000 belo horizonte :: mg . [55 31 3225-4400] Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam necessariamente a opinião da Ragga, assim como o conteúdo e fotos publicitárias.
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por Lucas Machado
Coisas de “Famíglia” “Quem tem medo morre todos os dias. Aquele que não tem medo morre só uma vez” Paolo Borsellino, um dos juízes da Operação Mãos Limpas de processos judiciais contra a máfia italiana
A cidade de Nápoles, na Itália, não é mais só conhecida tes e soldados, que fazem o trabalho sujo; mais abaixo, os por ser a capital mundial da pizza ou por ter uma das maioagregados, que fazem parte da folha de pagamento: juízes, res taxas de pobreza do continente europeu. Um dos responpromotores, primeiro-ministro, eurodeputados, profissionais sáveis por isso é o jornalista Roberto Saviano, autor do livro do sexo, comerciantes e matadores de aluguel. ‘Gomorra’. O escritor, nascido em 1979, em Nápoles, se infilO grande diferencial é que os mafiosos não têm ideologia, trou em uma das maiores organizações criminosas do munexceto a do lucro a qualquer preço, através das vantagens do, narrando com detalhes que impressionariam qualquer indevidas, independentemente do que aconteça. No caso da 007, como funciona “O Sistema”, nome dado aos negócios organização napolitana, algumas características são bem que envolvem a máfia napolitana, denominada originalmente marcantes, além de todo o glamour. Há uma diversidade no de Camorra. portfólio de atuação: depósitos de lixo químico, operações A obra teve sua publicação em mais de cem países. Na sinistras no porto de Nápoles, tráfico de drogas e órgãos Itália, está disparada entre as obras literárias mais lidas dos humanos, lavagem de dinheiro, prostituição, jogos clandestiúltimos anos. Levada para as telas do cinema, a história foi nos, extorsão, entre outros. E, por fim, o fato de serem muito campeã de bilheteria. O sucesso foi tão grande que Saviaantigas e controladas por famílias, que passam o poder de no começou a sofrer ameaças de geração para geração. morte, teve uma bomba instalada Em meados dos anos 1980 teve Em meados dos anos 1980, em baixo da lataria do seu carro, início uma das maiores ofensivas teve início uma das maiores descoberta por sorte antes do contra a máfia na Itália, a Operação ofensivas contra a máfia na Itámotor ser acionado. Apesar de lia. Chamada de Operação Mãos estar sob escolta desde 2006 e vi- Mãos Limpas Limpas, tomou conta de todo o país, a princípio para apurar ver em um “big brother”, com câmeras instaladas por todos um escândalo que envolvia tráfico de influências da loja maos lados por motivos de segurança, o escritor teve que deixar çônica P-2 e a falência fraudulenta do Banco Ambrosiano, sua cidade e o jornal onde trabalhava, o ‘La Repubblica’, um ligado ao Vaticano. Sobrou até para o magnata Silvio Berdos periódicos de maior circulação na Itália. lusconi e a Fininvest, grupo que controla suas empresas. Como primeiro-ministro, Berlusconi está sendo investigado Reza a lenda que a criminalidade da matriz mafiosa teve por compra de sentenças. Caso seja realmente culpado, irá suas origens no sul da Itália, na região da Sicília, na era meinfluenciar diretamente no sonho de ser reeleito primeirodieval. Mas é importante deixar bem claro que quadrilhas e ministro da Itália. bandos, terrorismo e máfia são coisas distintas. As Forças ReOs juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone, delatores volucionárias da Colômbia (Farc), com seus cartéis e taxas redos processos antimáfia, foram mortos brutalmente como volucionárias, o Comando Vermelho e os “mano” do Primeiro queima de arquivo. O que me faz pensar: será que se realComando da Capital (PCC), com suas supercorrentes de prata, mente a “famiglia Camorra” estivesse preocupada com o não são considerados máfia e, sim, organizações criminosas, jornalista Roberto Saviano, já não o teria matado, como fez principalmente pela concentração em apenas um ‘business’. com vários outros? Isso só os próximos anos irão nos dizer. As verdadeiras máfias italianas, como a Camorra, por Enquanto isso, o tempo passa, o tempo voa e o digníssimo exemplo, estão inseridas em toda a teia social, empregam premier Silvio Berlusconi e suas empresas continuam numa as camadas mais pobres e fazem negócios com os ricos. Seu boa. O “papito Berlusca” pode até não jogar com a camisa organograma tem, em média, 110 famílias e 700 filiados e 10 do seu time, o Milan, mas, nas festinhas na sua mansão, um formato de pirâmide. A hierarquia é mais ou menos asanda fazendo só gol de placa. sim: primeiro o Don (chefe); depois os conselheiros, tenen-
Manifestações: lucasmachado.mg@diariosassociados.com.br | Twitter: @lucasmachado1 | Comunidade do Orkut: Destrinchando J.C.
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Bianca da Silva Santos, aluna da UMEI Ă guas Claras.
revista
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#31
não tem preço
Alexandre Carlo nasceu em Brasília e, há treze anos, está à frente da banda Natiruts. De cinco anos para cá, começou a produzir os trabalhos da sua própria banda e a compor algumas faixas para outros artistas, como Wanessa e Luciana Oliveira. Atualmente, está trabalhando no projeto para lançamento de seu novo selo e um disco solo, com músicas inéditas de diversos estilos. É ele quem assina o Na Gringa desta edição, contando as aventuras do Natiruts na Austrália e Nova Zelândia. natiruts.com
O que é bom não custa repetir. Agora a Ragga tem uma promoção fixa e que dá uma assinatura semestral para o vencedor. E é claro que você não vai querer perder essa. Para participar é só ser criativo e responder: “Quem é o cara mais Ragga da história da humanidade?”. Pode ser do esporte, da música, da televisão, literatura ou ciência. Não importa, pode ser até aquele maluco que mora perto da sua casa. Para convencer a redação de que sua resposta é a melhor vale mandar uma defesa para promocaoragga@uaigiga.com.br em forma de texto, foto, ilustração, escultura, brincolagem, mosaico, maquete de vulcão, feijão plantado no algodão com água, imagem de objetos produzidos a partir do lixo, feitas de dentro de um helicóptero (estilo Vik Muniz). O autor da melhor resposta leva uma assinatura semestral da Ragga. Não se esqueça de colocar o telefone de contato.
NOVEMBRO.2009
. ANO 4
Formada em jornalismo pela UniverCidade, Angélica Paulo foi repórter no ‘Jornal do Brasil’, nas editorias de Rio, Cultura e Esportes. Já assinou matérias de economia e turismo para a revista ‘Isto É’, em São Paulo e é assessora de imprensa na Secretaria Especial de Turismo do Rio. Para a Ragga de dezembro, ela foi escalada para bater um papo com José Junior. angelicapaulojb@gmail.com
PROMOÇÃO
NOVEMBRO . 2009
fotos: arquivo pessoal
V V
COLABORADORES
SANGUE BOM
No meio do mato Conheça a Univers idade do Meio Ambiente, em Paulo Lima, Curitiba empresário “Quem ainda acredita que precisa urgent o dinheiro é a solução emente repens ar isso” Não é utopia A Ragga faz um convite para você constru ir um mundo melhor
*Todas as frases enviadas podem ser usadas na revista, assim como o nome dos remetentes.
Wake Destaques fixos O Uai, maior portal de conteúdo de Minas Gerais, renovou seu layout, no último dia 18. Agora, a participação do Ragga Drops e da Revista Ragga é maior: cada um tem um box, com destaques fixos na capa do Uai. A interatividade com o público também aumentou – é possível comentar todas as notícias. Além disso, há mais fotos, o que deixa o portal ainda mais atraente.
E por falar em esporte, já está confirmada a data do Campeonato Mundial de Wakeboard 2010. De novo, o campeonato será realizado exclusivamente pela Ragga. Nos dias 14 a 16 de maio, a Lagoa dos Ingleses receberá os melhores boarders do planeta. Nomes como Philip Soven e Adam Errington são esperados por aqui.
Squash
A Ragga, o Governo do Estado de Minas Gerais e o Banco do Brasil patrocinaram o Enjoy Squash Tour 2009 – Campeonato Internacional de Squash. Participaram do torneio atletas de oito países, entre os quais Estados Unidos, Egito e Dinamarca. A iniciativa é mais uma prova de que o apoio ao esporte está impresso no DNA da Ragga.
Vorko Design [www.vorko.org] Vorko é um estúdio mineiro de design gráfico composto pelos designers Matheus Dias, Lucas Diniz e Daniel Gonçalves. Com menos de um ano de vida, mas com a experiência somada dos três componentes, é movido pela busca de trabalhos significativos, sejam eles autorais ou comerciais. O estúdio começou da vontade dos três de criar situações em que poderiam aplicar suas habilidades em ilustração, 3D, tratamento digital, grid e tipografia com maior liberdade. Para nós, o sucesso de um projeto vem da dedicação e da alegria de se fazer o que gosta.
Quer rabiscar a Ragga? Mande seu portifólio para annepattrice.mg@diariosassociados.com.br!
ESPORTE >> moto gp
por Daniel Ottoni
Red Bull Rookies Cup forma os futuros campeões de MotoGP. Presença dos pais e a atitude profissional são essenciais para o bom desempenho dos garotos Uma das maiores diversões para moleques de 13, 14 anos é descer uma bela ladeira a bordo de uma bike com freios que, pelo menos, finjam funcionar, ou em cima de uma board qualquer. Pode ser skate ou carrinho de rolimã, tábua de madeira com rodinhas cambaleantes ou prestes a se soltar (já se foi o tempo?). A adrenalina durante uma descida dessas, o vento na cara, a velocidade, tudo isso não tem preço quando se chega lá embaixo são e salvo. Mas a diversão de uns foi levada ao extremo no Red Bull Rookies Cup, competição que chegou, em 2009, à sua terceira edição e que reúne jovens entre 13 e 17 anos de várias partes do globo para
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disputar uma espécie de mundial de MotoGP. As corridas são realizadas nos mesmos circuitos em que os profissionais Alexandre Barros (piloto brasileiro considerado o mais jovem do mundo a estrear em uma temporada da MotoGP 500cc – com apenas 20 anos) e Valentino Rossi (italiano que ainda corre, apesar dos nove títulos mundiais conquistados) já deram suas aceleradas e tomaram alguns banhos de champanhe. A intenção é formar os jovens para que, no futuro, se tornem os pilotos das 500cc, que hoje servem de espelhos para muitos garotos apaixonados por velocidade. “A Red Bull queria criar um sistema para desenvolver futuros campeões e dar chance para jovens do mundo inteiro. Lançamos um formato único para que nosso campeonato seja competitivo e forme bons pilotos”, afirma o organizador Peter Clifford. Um bom exemplo é o de Sturla Fagerhaug, norueguês de 17 anos, que, na temporada 2009, conseguiu ficar em segundo lugar, apenas dois pontos atrás do campeão Jakub Jornfeil,
gareth harford samo vidi
Sturla Fagerhaug garante que é um garoto comum, a não ser pelas viagens e rotinas em aeroportos
da República Tcheca. Depois de brilhar em competições norueguesas, suecas e escandinavas, Sturla chegou a Rookies Cup e, no seu ano de estreia (2007) alcançou o 11º lugar. No ano seguinte, ficou em terceiro e, em 2009, o melhor resultado da carreira apareceu. “Comecei no motocross com 6 anos e continuei por lá até os 12. Aí mudei para as pistas, disputando campeonatos nacionais na Escandinávia. Neste ano, também fiz três etapas do Mundial 125cc, que foi uma ótima experiência para mim”, afirma o garoto, que tem Valentino Rossi e Kevin Schwantz (exmotociclista norte-americano campeão do mundo de MotoGP) como ídolos.
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fotos: patrik lundin
Apesar da rotina de aeroportos e viagens, Sturla afirma ter prazer por marcar presença em países como Finlândia, Dinamarca, Alemanha, Holanda, Luxemburgo e Turquia. “A minha vida é bem parecida com a dos meus amigos. A única diferença é que viajo bastante e passo muito tempo longe de casa”, afirma o garoto, que gosta de praticar snowboard no tempo livre. Parece que a radicalidade corre nas veias do jovem. “O mais difícil é entender como melhorar sua técnica sem ficar com tanta vontade de ser mais rápido, porque aí você acaba fazendo coisas que o deixam mais lento”, analisa. Lidar com jovens e cobrar deles atitudes profissionais são um verdadeiro desafio. “Sempre destacamos a necessidade de terem uma postura profissional e problemas de comportamento são bastante raros”, mostra Clifford. Muitas corridas acontecem nos mesmos fins de semana das apresentações dos profissionais tops. O contato com os ídolos é inevitável e acaba sendo de grande contribuição. “Eles convivem tanto com pilotos mais experientes que não costumam ter dificuldades em relação a entrevistas e patrocinadores”, diz o organizador. A presença da família pode fazer uma baita diferença. “Os pais sempre acompanham seus filhos. Nas duas primeiras temporadas, eles não tinham acesso às áreas técnicas, mas, neste ano, cada piloto tem um mecânico-ajudante, que normalmente é o próprio pai, que, assim, pode se envolver mais no processo. Esse sistema tem funcionado muito bem”, conta Peter. As inscrições para 2010 já se encerraram, mas todo ano são abertas as portas para os interessados em se tornar um piloto profissional.
O pai coruja também da uma de mecânico nas provas da temporada
redbullrookiescup.com O tcheco Jakub Kornfeil (acima, à direita) foi o mais regular entre a molecada e pode figurar entre os tops do mundo em poucos anos
divulgação
>> REFLEXÕES REFLEXIVAS DO TWITTER > rafinha bastos > é jornalista, ator de comédia stand-up e apresentador do programa ‘CQC’ (Custe o Que Custar)
Da Uniban ao novo Orkut :: A Uniban ñ tem lista de chamada, tem lista de Schindler. Uniban: O 3º Reich é aqui.
:: Uau... hj vesti a mesma calça de qdo eu tinha 18 anos. Perda de peso? Não. Pão-durismo.
:: SP agora (0h) e amanhã Recife. Esse ano fiz bem menos shows q em 2008 e mto menos q em 2007. E em breve: Aposentadoria e mudança pro Zaire.
:: Hj é o Dia do Inventor. Um salve pro Lima Duarte q há alguns anos inventou q comeu a Maitê Proença.
:: Tô fazendo uma dieta à base de barra de cereal e suco de caju. Espero ñ ficar c/o corpo de uma aeromoça da TAM. :: A Fernanda Young disse q fez uma “nudez intelectual”. Legal! Vou folhear a revista e bater uma “punheta inteligente”. :: Aprendi hj: Peidar ao lado de um bebê faz uma mãe trocar uma fralda limpa. :: Adivinha quem ñ tem mais que fazer trabalho p/ faculdade? EU! Uhahaha! Q vida incrível q eu tenho. :: As merdas estão voltando. Saiu o novo Orkut. Breve teremos o novo guaraná Dolly e o novo programa do João Kléber.
:: Opa... eu ñ sabia q hj era Dia das Bruxas. Parabéns, @paulocoelho! :: Dormi c/a tv ligada na Rede Vida... acordei rezando um Pai Nosso. :: Hj é Dia de Finados. Parabéns, meu pênis! :: Dinheiro ñ traz felicidade, mas sem ele vc ñ compra Prozac.
Fui ao centrão hj a tarde. Tava tão quente q eu vi uma iguana passando Sundown
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:: Tá tanto calor que se eu mijar na cuia, posso tomar chimarrão.
:: Todas as mulheres interessantes q um dia me deram o fora, estão no twitter. As q eu peguei sumiram ou trocaram de nome.
com ele: >> fale rafinhabastos.mg@diariosassociados.com.br
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PROVADOR > cris guerra > 39 anos, é redatora publicitária, ex-consumidora compulsiva, ex-viúva, mãe (parafrancisco.blogspot.com) e modelo do seu próprio blogue de moda (hojevouassim.blogspot.com). elisa mendes
>>
ALGUÉM DISSE Alguém disse que não se pode tocar nas obras de arte. Alguém disse que café faz mal. Alguém disse que a gente não pode andar pelado. Alguém disse que vinho branco é que acompanha peixe. Alguém disse que homem não pode usar saia. Alguém disse que elas não podem ligar no dia seguinte. Alguém disse que a sala é para visitas. Alguém disse que a gente tem que fazer ginástica. Alguém disse que domingo é dia de família. Alguém disse que não fica bem. Alguém disse que o homem tem que ser mais velho que a mulher. Alguém disse que café faz bem. Alguém disse que o garfo fica do lado esquerdo. Alguém disse que pensar em si mesmo é egoísmo. Alguém disse para não misturar leite com manga. Alguém disse que detesta fofoca. Alguém disse que vai estar registrando e verificando, senhora. Alguém disse que é preciso casar e ter filhos. Alguém disse que mulher sozinha na rua é mal-amada. Alguém disse que ter ambições é feio. Alguém disse que é melhor de terno e gravata. Alguém disse que bigode é brega. Alguém disse que amarelo é mau gosto. Alguém disse que roxo
não combina com verde. Alguém disse que a gente tem que ter casa própria. Alguém disse que seu time é o melhor. Alguém disse “Não é por nada não, mas...”. Alguém disse que é preciso ler os jornais todo dia. Alguém disse que tristeza é pecado. Alguém disse que o melhor é ser jovem sempre. Alguém disse “Se conselho fosse bom...”, e deu o conselho. Alguém disse que um reservatório de água sem peixes é piscina e um reservatório de água com peixes é aquário. Alguém disse “É pra hoje, dona!”. Alguém disse que está tudo bem, mesmo não estando. Alguém disse que a mulher é o sexo frágil. Alguém disse que ser rico é melhor. Alguém disse que não se deve falar muito de si mesmo. Alguém disse “Tá usando muito”. Alguém disse “sim” querendo falar “não”. Alguém disse “não” querendo falar “sim”. Alguém disse alguma coisa quando deveria ficar calado. Alguém disse que é por ali. Alguém disse, depois de mastigar e engolir, que não se deve falar de boca cheia. Alguém disse que a gente não pode ficar à toa. Alguém disse. E se eu souber quem foi, vou pegar de porrada.
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Alguém disse “sim” querendo falar “não”. Alguém disse “não” querendo falar “sim”
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HISTĂ“RIA
História sem fim
A dor e a luta das famílias na busca por informações dos desaparecidos políticos mortos pela ditadura por Bruno Mateus Foram 21 anos sob o autoritarismo do regime militar. De 1° de abril de 1964 ao processo de abertura política e redemocratização, em 1985, centenas de pessoas foram torturadas e assassinadas. Segundo o livro-relatório ‘Direito à memória e à verdade’, da Comissão Especial sobre mortos e desaparecidos políticos da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, foram pelo menos 475 mortos pela ditadura. Desse número, cerca de 140 continuam desaparecidos. Casos como os de Stuart Edgar Angel Jones, filho da estilista mineira Zuzu Angel, que também foi morta pela ação da repressão; do ex-deputado Rubens Paiva, pai do escritor Marcelo Rubens Paiva, e Vladimir Herzog, jornalista e ex-diretor da TV Cultura de São Paulo, ganharam notoriedade. Em 1995, a União reconheceu sua responsabilidade no assassinato dos opositores da ditadura militar. Famílias ficaram marcadas para sempre por um regime que manchou com sangue a história do Brasil. Há mais de 27 anos, quando entraram com ações civis na justiça brasileira, parentes esperam a sentença que os faça conhecer os fatos e localizar os restos mortais das vítimas. Não só as famílias, mas a sociedade tem o direito de conhecer a real história daquele período. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça. Como disse Dom Paulo Evaristo Arms, os povos que não podem ou não querem confrontar-se com seu passado histórico estão condenados a repeti-lo. A morte de um sonho Em uma noite de intenso calor, sentada no sofá da sala onde, há quase 40 anos, agentes do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) entraram para prender seu filho, Maria Leonor Pereira Marques segura uma medalha em homenagem a Paulo Roberto Pereira Marques, Paulinho para a família e Amauri para os companheiros, desaparecido desde 1973, quando foi morto no Araguaia, sul do Pará, aos 22 anos. O jovem saiu de casa em 1969. A irmã Maria de Fátima Marques Macedo o encontrou no Rio, em janeiro de 1970. “Foi uma despedida que parecia curta”, lembra. O último contato com a família foi por uma carta, em 1972, na qual ele fala-
va sobre saudades e esperanças, mas não revelava onde estava. Com a Lei da Anistia, em 1979, José Genoíno, deputado federal do PT (SP), que também lutou no Araguaia, passou a falar sobre a guerrilha. Em Belo Horizonte, conversou com os familiares de Paulinho. “Ele foi o primeiro que falou sobre o Araguaia, ninguém sabia. O Genoíno não disse que ele estava morto, mas que era muito difícil ele estar vivo”, diz Maria Leonor. O capítulo mais triste da história aconteceu em 1997, quando noticiaram equivocadamente o reconhecimento dos restos mortais do filho. “No fundo eu tinha esperança. Quando estava fazendo 68 anos, fui comemorar em Divinópolis. No jornal, deu a notícia de que haviam encontrado o corpo dele. Mas era tudo mentira, cada coisa dessa é um sofrimento. Ninguém tinha coragem de me contar. Julinho [filho] me ligou e disse: ‘Olha, acharam o Paulinho.’ Eu falei: Nossa, ele está aí? Vou para Belo Horizonte agora, vou pegar um táxi, nem vou esperar o ônibus. ‘Não, mãe, acharam ele morto.’ Aquilo foi um raio dentro de mim. O que eu controlei durante 20 anos e tanto desabou. Chorei dois dias e duas noites. Foi um choque, a morte de um sonho”.
“Queria ele aqui tocando violão, não como um herói” Antônia Aranha, irmã de Idalísio, desaparecido político
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Maria Leonor segura foto de seu filho. Para ela, Paulinho continua vivo. “A pessoa que deixa lembrança não morre nunca.”
“Os povos que não podem ou não querem confrontar-se com seu passado histórico estão condenados a repeti-lo” bruno senna
Dom Paulo Evaristo Arms
Com os olhos carregados de carinho e saudade, Maria Leonor lembra-se do filho: “Eu falo como se ele estivesse vivo. Tem hora que acho que estou sonhando. Coisa esquisita, será que vivi isso mesmo? Fico vendo os retratos dele e falando: ‘Ê, capetinha, você pintava e bordava, hein?’. Converso com ele por retrato. Nunca sonhei em enterrá-lo. A pessoa que deixa lembrança não morre nunca. Nós vamos nos encontrar um dia e dar muita risada”.
Maria Rita mora na casa onde o mais famoso comunista do Araguaia nasceu, em Passa Quatro (MG). Ela diz que os sobrinhos ainda têm esperança de recuperar o corpo. A mãe de Osvaldão morreu quando ele era pequeno; o pai, em 1972. “Ele foi atrás do que acreditava por um país mais livre. Sinto orgulho, por um lado, e tristeza pela perda do convívio. Ele era uma pessoa boa, alegre, muito brincalhão. A gente o chamava de ‘tio gigante’. Dá muita saudade”, lembra Maria Rita.
O mito da guerrilha
Petit da Silva: família dizimada
Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, foi um dos primeiros guerrilheiros a chegar na região do Araguaia, entre 1966 e 1967. Devido à sua força física, carisma e aos quase dois metros de altura, ele alcançou status de mito, sendo conhecido pela bondade, força e coragem. Várias lendas a seu respeito surgiram. O Relatório do Ministério do Exército, de 1993, aponta o dia 7 de fevereiro de 1974 como a data da morte de Osvaldo. No entanto, moradores do Araguaia afirmam que ele foi morto em abril de 1974, prestes a completar 36 anos. Desde então, é considerado desaparecido. Maria Rita, sobrinha do guerrilheiro, conta que os familiares não sabiam que ele estava no Araguaia: “Na família não se comentava, não tínhamos conhecimento”. Uma reportagem do início da década de 1990 foi a maneira como receberam a notícia da morte do tio. “Nos pegou de surpresa. Todo mundo ficou estarrecido com aquela situação. Foi terrível, a família era muito unida. Minha tia [irmã de Osvaldo] levou um tempo para acreditar.”
“A minha família foi dizimada.” É com essa frase que Laura Petit da Silva fala o que a ditadura militar foi capaz de fazer aos seus três irmãos. Lúcio, Jaime e Maria Lúcia foram mortos no Araguaia. Os restos mortais de Maria Lúcia foram encontrados no cemitério de Xambioá, no interior do Tocantins. A família, assim, pôde enterrá-la, em Bauru (SP), em 1996. Ela estava desaparecida desde 1972. Em 1973, Jaime Petit da Silva foi assassinado pelo regime militar. Um ano depois, Lúcio, o mais velho, teve o mesmo destino. Laura afirma que a família tinha conhecimento do envolvimento político dos irmãos, mas não sabia que eles estavam no Araguaia. À época da morte, Laura lembra qual foi a reação da mãe, já falecida. “Meu pai era falecido. Minha mãe tinha a esperança de que eles voltassem. Até hoje buscamos saber como eles morreram, onde e quem os matou. Essa espera é um luto eterno, uma tortura constante.” Laura espera que o Brasil seja julgado, em 2010, pela
fotos: acervo da fae-ufmg
Idalísio e Walquíria se casaram no Araguaia e lá foram mortos
Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos por detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas no Araguaia. “É muito difícil, são muitas lembranças. Eles são verdadeiros heróis. Lutaram, resistiram, deram a vida para que houvesse igualdade neste país. Eles deram a vida pela instituição da democracia.” Casamento e morte no Araguaia Última a ser capturada na guerrilha, Walquíria Afonso Costa foi morta em 1974 aos 27 anos. Ela e o namorado, Idalísio Soares Aranha Filho, morto em 1972 aos 25, se casaram no Araguaia. Os dois mineiros e estudantes da UFMG continuam desaparecidos. Valéria Costa Couto, única irmã de Walquíria, diz não ter esperanças de encontrar a ossada, mas quer esclarecer aquele triste período do país. “Queremos ver os arquivos oficiais. A família e a nação têm esse direito. A história tem que ter começo, meio e fim. Ninguém tem o direito de ocultar nada”, afirma. Segundo Valéria, sua mãe faleceu acreditando na sobrevivência da filha. Antônia Vitória Soares Aranha viu o irmão Idalísio pela última vez em janeiro de 1971. “Ele disse que ia fazer trabalhos populares, mas não sabia onde. Minha mãe ficou desesperada, mas entendemos que era a opção dele.” Em 1976, Idalísio começou a constar na lista de mortos e desaparecidos. Quando José Genoíno saiu da prisão, disse que o militante do PCdoB havia sido assassinado. “Foi uma coisa dura, indescritível. A gente tem sempre a esperança. A primeira reação é de não enfrentar a realidade.” A notícia, do início de 1978, só foi contada para a mãe no final do mesmo ano. “A reação dela foi uma das mais tristes que já vi. Ela tinha muita expectativa da volta dele.” Hoje, a mãe de Idalísio, Aminthas Rodrigues Pereira, tem 97 anos. Antônia viu o irmão pela última vez quando tinha 15 anos. “A última imagem que tenho é de alguém dizendo pra mim: ‘Não fica triste porque a gente ainda vai se encontrar.’” Para ela, a perda do irmão é uma chaga que não fecha nunca. “Aprende-se a viver com a dor, mas ela nunca passa. Queria ele aqui tocando violão, não como um herói.” comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
ESTILO
BILL
por Lucas Machado fotos Bruno Senna
Estileira total. William Ewing Lott Macintyre, mais conhecido como Bill, é do tipo tranquilo e bemhumorado. Entre os amigos, é reverenciado como um clubber profissional. “Meu pai é hippie e minha mãe adora curtir um som. Assim, não poderia ser diferente. Se ser clubber é gostar de noite e música, realmente esse nome tem endereço certo”, dispara. No final dos anos 1990, aos 18 anos, já dando sinais de estar sempre à frente do seu tempo, inaugurou na Estação Central do metrô de BH o Bar da Estação. “Levei meu pai e o sócio dele para conhecerem o lugar e vendi meu peixe. Sabia que ia dar certo.” No Estação, além de ter passado músicos consagrados, como Anderson Noise, Mary’s Band e DJ Robinho, Bill fez diversos eventos e curadorias de arte e fotografia, todos voltados para o lado alternativo, abrindo portas para novos talentos. Atualmente, mora em São Paulo e, juntamente com o fotógrafo e diretor de desfiles Zee Nunes e a sócia da empresa de moda Escritório, Carla Estrela, faz a produção executiva dos maiores eventos de moda do Brasil, entre eles o Fashion Rio, São Paulo Fashion Week e Minas Trend Preview. Se você está em Sampa e quer curtir um eletrônico, Bill toca toda primeira terça-feira do mês como DJ residente na boate D-Edge, onde faz a noite “Club BH”. “Não importa se a festa é grande ou pequena, ela tem que ser, no mínimo, muito longa.”
Kit Sobrevivência: FONE Beats – Dr. Dre :: LIVRO Um estranho no ninho – Ken Kensey – Ed. Record :: FITA MÉTRICA Tiger\Alibaba – Made in Taiwan :: SOLUÇÃO NASAL Naridrin 12 horas :: HIGIENIZADOR DE MÃOS Assept Gel :: LAPTOP MacBook :: POST-IT 3M J.C.
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FAMÍLIA, ÊH! FAMÍLIA, AH! FAMÍLIA!
MUCHA LUCHA
por José Antônio Toledo Pinto ilustração Vorko Design
No México, dinastias que lutam unidas permanecem unidas Puta que pariu! Tinha me esquecido. Sabrina Abreu, editora, me enviou um email uns tempos atrás, falando que tinha uma pauta para mim sobre o tema: famílias da LUCHA LIBRE. O problema é que tinha esquecido e estava aqui, em pleno sábado de meditação, todo tranquilo no meu pijama do Hulk Hogan, degustando uma pizza de geladeira, prestes a encerrar minhas atividades de cybernerd e me jogar no sofá para assistir a um besteirol qualquer e, depois, apagar, quando me deparo com uma nota na pagina do MSN que me lembra imediatamente o compromisso assumido com minha prezada: “Magia Azteca - No Te Pierdas Algunos de Los Momentos de La Lucha Libre Mexicana, La Mejor del Mundo”. Espero que tenha ficado claro: “la mejor del mundo”. E ai do americano-fã de Hulk Hogan,Ultimate Warrior, The Undertaker ou, mais recentemente, do The Rock que contrariar o baixinho bigodudo de beiço manchado de uma mistura de guacamole/chile e cerveza que grita aos berros: ¡Hazle El tirabuzón* CABRON! (algo como: “faz um tirabuzón nele!”) No México, a história desse esporte alcançou seu real potencial de popularidade ao mesmo tempo em que a TV nascia. Datam desse momento as primeiras transmissões noturnas de luta livre, que depois viriam a se transformar em um fenômeno esportivo que movimentou no ano de 2008, no México, aproximadamente US$ 700 milhões. Também o cinema serviu como veículo para a Luta Livre. Filmes de El Santo e Blue Demon formam parte da memória coletiva dos mexicanos até hoje. Evocando as habilidades da luta greco-romana, brigas de rua e, também, do teatro, nos ringues de luta livre são
Na luta livre, quase tudo é permitido e pode ser potencializado pelos laços familiares entre as estrelas do esporte
travadas batalhas sem trégua, com direito a traição, vingança, matrimônios e até mortes. Quase tudo é permitido e pode ser potencializado pelos laços familiares entre as estrelas do esporte. E sempre há algo que pode surpreender – incluindo até nefastas histórias de necrofilia. Se analisarmos friamente todo esse contexto, poderíamos pensar que não passa de uma telenovela feita para os machos. Mas é no caráter esportivo que está fundamentada a essência do espetáculo. Esportivo e, muitas vezes, familiar. Em terras mexicanas, as dinastias mais famosas são: El Santo (avô, patriarca lendário), O Filho do Santo (filho) e Axel Neto do Santo. E também, Blue Demon e Blue Demon Jr., Rayo de Jalisco e Rayo de Jalisco Jr. e Dr. Wagner e Dr. Wagner Jr. Sem esquecer dos Irmãos Casas – Negro Casas, Heavy Metal e El Felino – filhos de Pepe Casas. Outros que chamam a atenção são o clã do mal, Los Villanos (Os Vilões), que se autodenominaram “A Dinastía Imperial”. Cinco dos oito filhos de Ray “El Índio” Mendoza se dedicaram à luta livre. El Villano II, lamentavelmente, se suicidou porque não conseguiu se recuperar de uma lesão. O Vilão I, para ser sincero, não faço a mínima ideia de onde foi parar. El Villano III, IV e V, ultimamente, têm aparecido muito nos principais circuitos de luta livre (aliás, El Villano III perdeu contra Atlantis e El Villano V tirou a máscara de Blue Panther, que é um verdadeiro ícone dos ringues mexicanos). Há muitas outras dinastias nesse mister da lucha libre, provavelmente, graças ao forte apelo que um monte de marmanjos assumindo alter-egos exerce sobre as criancinhas. Deve puxar alguma memória escondida sobre super-heróis, vilões etc. O moleque cresce vendo o pai (ou, em alguns casos, o avô ou bisavô) fazendo essa história toda e, assim, fica doido com tal (ir)realidade Acho que no fundo no fundo, todos terminamos querendo ser um pouquinho como nossos pais, sejam eles heróis, sejam vilões ou – na maioria dos casos – um pouquinho de cada. comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br *Tirabuzón: é um golpe clássico que está para a lucha libre, assim como a bicicleta para as peladas que o brasileiro joga. Ler escutando ‘El Santo, El Cavernario’ (La Sonora Santanera) Para assistir ‘El Santo y Blue Demon contra el Doctor Frankenstein’ tiny.cc/kl70U ‘Nacho Libre’ (Black & White Productions/ Paramount Pictures / Nickelodeon Movies)
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marco antônio ferraz
FAMÍLIA, ÊH! FAMÍLIA, AH! FAMÍLIA!
APESAR DOS ESPINHOS por Bruno Mateus ilustração Vorko Design
Mãe de 50 filhos, Flordelis dá lição de perseverança e ganha as telas do cinema O ditado-clichê que reza que no coração de mãe sempre cabe mais um não pode ser mais preciso e perfeito quando se trata da vida de Flordelis dos Santos, de 48 anos, ex-professora pública e mãe de 50 filhos, com idades entre 2 e 34 anos. Dos 50, quatro são biológicos. Ela morava na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e, nas madrugadas de sextafeira, andava sozinha pela comunidade com um propósito que, para muitos, pode parecer causa perdida: tirar jovens
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do mundo do crime organizado. Tudo começou no início da década de 1990, quando acolheu cinco jovens em sua casa. “Primeiro, recebi cinco adolescentes que vieram de uma vez para morar comigo e sair das drogas. Um mês depois, houve um tiroteio na Central do Brasil e vieram 37 crianças. Quatorze eram bebês”, conta Flordelis, casada há 15 anos com o pastor Ânderson do Carmo. O tiroteio a que ela se refere foi uma chacina em 1994 comandada por um grupo de extermínio contratado para assassinar meninos de rua. Houve mortos. Os sobreviventes bateram à sua porta em busca de ajuda. A rotina de uma família tão numerosa é, segundo a matriarca, normal: “Há alguns desentendimentos como em qual-
divulgação
A história da família foi levada ao cinema em ‘Flordelis – basta uma palavra para mudar’, com participação de Reinaldo Gianecchini, Letícia Sabatella e Déborah Secco quer outra casa, mas eles conseguem se entender bem, os irmãos se amam. Vamos ao Maracanã, à praia, jogamos boliche. Nos divertimos muito juntos”. “No começo foi um pouco doloroso, porque eu queria a atenção pra mim, mas a gente vem passando pelas coisas juntos e todo mundo se respeita, todo mundo tem seu espaço. Ela sabe o nome de todos. É mãe pra cá, mãe pra lá”, afirma Luan, de 33 anos, que chegou à casa de Flor aos 15. Alex Macedo, pastor e acadêmico em direito, foi tirado do crime por Flordelis quando tinha 19 anos. Hoje, ele é casado e tem quatro filhos. “A maior importância de ela ter aparecido na minha vida foi me devolver a razão de viver. Ela realmente se apresenta como mãe, como alguém que está ali pronta para nos ajudar, para o que der e vier”, completa o pastor. A história de Flordelis é tão carregada de desafios e beleza que foi levada ao cinema no filme ‘Flordelis – basta uma palavra para mudar’, que estreou em outubro deste ano e contou com a participação de atores como Reynaldo Gianecchini, Letícia Sabatella, Déborah Secco e Cauã Reymond, entre outros. Flordelis, Ânderson e dois dos filhos estão nos Estados Unidos, de onde deram entrevista para a Ragga, divulgando o filme. Problemas com a Justiça e com a polícia fizeram parte da vida da família. Flordelis foi acusada de sequestro e teve que se esconder para não entregar os filhos. Os obstáculos não impediram seu sonho: “Nunca pensei em desistir. Dormimos na rua em uma das nossas fugas. Não tínhamos para onde ir e as crianças ficaram com Ânder-
son brincando de pique-bandeira e futebol até as três horas da madrugada, para que pudessem se cansar e fossem dormir. Foi uma coisa marcante na nossa vida”. Hoje, Flordelis mora com o marido e 44 filhos. A família vive em uma casa em Niterói alugada e mantida por meio de doações. Ela ainda mantém o Instituto Flordelis de Apoio ao Menor, onde ajuda filhos de pessoas viciadas em drogas e crianças vítimas de abuso sexual por membros da própria família. Além da casa própria, que será comprada com o lucro da bilheteria do filme, ela caminha incansável em busca de seu sonho. “O meu maior sonho, além da casa própria, é ter um centro de excelência para adolescentes, menores dependentes químicos. Vou lutar para conseguir isso.” Pela brava história de Flordelis, não há como duvidar.
Morando em uma casa alugada mantida por doações, o grande sonho de Flordelis é conseguir sua casa própria, que será comprada com os lucros do filme (acima)
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gullane filmes /divulgação
FAMÍLIA, ÊH! FAMÍLIA, AH! FAMÍLIA!
ESPAÇO DE MENOS, RESPEITO DE SOBRA por Alex Capella ilustração Vorko Design
Eis a receita da boa convivência da família Schürmann No filme ‘Limite’, lançado no início dos anos 1930, o diretor brasileiro Mário Peixoto transforma um pequeno barco em eixo principal da história, cujo ritmo rege a situação existencial dos personagens. O enredo, no caso, foi colocado em segundo plano e submetido ao ritmo das coisas. O barco também tem papel fundamental na história da família Schürmann. Mas, diferentemente da narrativa sufocante do cineasta, a embarcação para a família catarinense confunde-se com a sua própria vida e a fronteira para os sonhos é a imensidão dos oceanos.
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Em 1984, Vilfredo e Heloísa Schürmann abandonaram o conforto da vida em terra firme e partiram de Florianópolis com os filhos Wilhelm, David e Pierre, à época com 7, 10 e 15 anos de idade, respectivamente, com o objetivo de realizar um sonho: dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro. Em sua primeira grande aventura, os Schürmann passaram 10 anos no mar. Eles navegaram pelo mundo e conheceram novos povos e culturas. Os filhos cresceram a bordo. De “férias”, em Santa Catarina, os Schürmann falaram à Ragga sobre os desafios desse estilo de vida. “Sabíamos que o maior desafio seria a convivência em um pequeno espaço”, revelou o patriarca da família. Hoje, a família Schürmann completa 25 anos de aventuras a bordo de um veleiro. Além de ter sido a primeira família brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro, os catarinenses
gullane filmes /divulgação
Na primeira grande aventura, eles passaram 10 anos no mar. Navegaram pelo mundo e conheceram novos povos e culturas. Os filhos cresceram a bordo luciano candisani /arquivo schürmann
O patriarca Vilfredo Schürmann no comando de mais uma viagem. Já são 25 anos de aventuras a bordo de um veleiro luciano candisani /arquivo schürmann
foram os primeiros brasileiros a circumnavegar a Terra. Num mundo em que as relações a cada dia se tornam mais difíceis, devido à intolerância e à incompreensão, Vilfredo aponta como a principal recompensa de anos de aventura no mar o simples fato de poder conviver com a família em todos os momentos. “Para mim, o fundamental foi ter tido tempo para conversar com nossos filhos e vê-los crescer”, afirmou. Mas o navegador reconhece que a convivência a bordo de um barco por muito tempo requer jogo de cintura, serenidade para tomar decisões em momentos de pressão máxima, entusiasmo, bom humor e, principalmente, respeito. “Sem respeito não há convivência. A bordo, cada um tem seu espaço privado, quase um santuário. Quando estamos navegando damos turnos no período de 24 horas. Duas pessoas dão vigília de quatro horas cada e assim, sucessivamente. Dormimos as oito horas necessárias. Mas o que une nossa família é que fomos, somos e sempre seremos sonhadores”, ressaltou. Filho do meio de Vilfredo, o aventureiro e cineasta David Schürmann lembra que, no meio da imensidão do oceano, outra dificuldade é se acostumar com o silêncio e lidar com o medo. David explica que o medo dentro de um veleiro gera o pânico e, nessa situação, as pessoas não raciocinam, ampliando a dimensão de um problema com simples solução. “Por isso, temos de escolher um momento diário, geralmente no café da manhã, para resolvermos os conflitos quando há dificuldades no relacionamento. Falamos do assunto cara a cara, sem rodeios. Se não fosse assim, seria difícil a convivência”, disse.
A filha adotiva Katherine acompanhou a família por dois anos. Ela faleceu em 2006 em decorrência do vírus da aids.
Uma boa imagem vale mais que mil palavras, por isso mesmo, na edição de janeiro, vamos economizar nas letras e abusar das fotos dos melhores fotógrafos do Brasil e do mundo. E, por que não, das suas? Se você tem aí na sua máquina ou no seu PC aquela imagem de tirar o fôlego, manda pra cá que a gente publica: redacaoragga.mg@diariosassociados. com.br, com seu nome e sobrenome (para receber os devidos créditos). As melhores entram na edição do mês que vem.
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carlos hauck
bruno senna
BEM NA FOTO
pa raíso. ra da do ano no Comemorar a vi com ág ua
a fes ta Cu ra r a ressa ca d la m a ssa gem no de coco e um a be ntica . Gas tar as â tl A ta a M a d meio , na tirolesa
o de escalada energias no paredã d as rf. Cu rtir as lin su de s la au o nd ou faze eito? É.
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ON THE ROAD >> acdc / sĂŁo paulo
do por Bernar
Biagioni
bruno ferrari
Bernardo, em um respeitĂĄvel quarto de hotel, tenta fazer uma retrospectiva do dia anterior
ESTRADA PARA O INFERNO 2:20 pm
Um longo caminho para o topo para assistir a um concerto de rock and roll
Só acordei quando o despertador recomeçou a insistir pela sétima ou oitava vez, gritando e implorando para que eu levantasse da cama e não perdesse o concerto de cinco respeitáveis senhores australianos e, claro, o meu emprego de jornalista. Apesar de estar ali no hotel – e naquelas condições – estava, sim, trabalhando, cumprindo horários e a promessa de descolar um fotógrafo para viajar comigo para São Paulo sem preços adicionais. Na noite anterior, recusei tudo que me ofereceram – inclusive as “bocetadas” da (rua) Augusta – e fui cedo para o hotel, bem antes de o sol aparecer. Na recepção, um hóspede barbudo recém-chegado de alguma quebrada de Goiás recebeu as duas informações mais desagradáveis de toda sua vida: “Não temos vaga” e “Nasi vai abrir o show”. Parecia até um sinal de que ele deveria pegar o trem de volta para casa e se contentar com o DVD do Raul Seixas que tinha roubado de um amigo. Mais uma vez. Enfim, estava bem complicado sair da cama e você vai me entender se estiver lendo isso aqui dentro de um quarto de hotel com uma temperatura cuidadosamente escolhida e submerso em edredons gigantes. Só levantei quando acabaram os objetos ao meu redor e, com isso, a chance de conseguir atingir o despertador que lamuriava lá perto do banheiro. Olhei para o fotógrafo deitado na cama de cima e lembrome de ter pensado: “Esse cara não vai acordar nem se eu gritar no seu ouvido que dois gorilas vermelhos estão invadindo o quarto”. Então tomei um banho com calma, escolhi uma camisa na mala como se não soubesse qual iria colocar, e fiquei cantando Highway to hell baixinho, porque sabia que a gente estava mesmo a caminho do inferno. 4:20 am Você já deve ter visto – ou lido – que o trânsito de São Paulo transforma trajetos curtos em viagens intermináveis. A sensação que dá é que toda a população da Índia resolveu invadir o condado do José Serra, dirigindo, no mesmo instante. Se antes eu estava preocupado em chegar antes das cinco, agora começava a considerar a ideia de largar o carro em uma ruela qualquer e ir correndo até o Morumbi. Mesmo que isso me custasse perder o show do ex-Ira. Mas antes da escuridão, encontramos um sujeito chamado Jacó. Ele apareceu no vigésimo segundo sinal de trânsito que respeitamos em um único quarteirão e trouxe a luz. Era
um CD prata e trazia as seguintes letras rabiscadas com um lápis de escrever preto: Bonjah. Coloquei no som e olhei para o fotógrafo, que indicava com a cabeça um sinal positivo do tipo: “Isso aí, cara. Deixa rolar”. Bom, o senhor Angus Young não ficaria desapontado comigo, não é mesmo? 6:20 pm Não dava nem para acreditar que o Morumbi estava logo no final da esquina e que, com um pouco de sorte, em alguns minutos eu estaria trocando cotoveladas com outros fanáticos que já se enfrentavam nas proximidades do palco montado no estádio. Perto da entrada 14, avistei João Batista, organizador do Woodstock mineiro, o Camping Rock, proprietário da Purple Records, na Galeria do Rock belo-horizontina, e figura respeitável na cena do metal universal. Fiz uma entrevista com ele no começo de 2008, durante a 11ª edição do festival, e outra um ano mais tarde, no show do Iron Maiden em Belo Horizonte, no Mineirinho. Um mês antes, encontrei o sujeito na saída de uma gruta em São Thomé das Letras. Parece mentira, mas tenho fotos que provam isso. Em todo caso, em nenhuma das ocasiões João se lembrou de mim, inclusive agora, sob a entrada 14. Mesmo assim, sempre que o vejo, grito seu nome e dou um abraço. E ele responde com sorrisos sinceros. Além de João, mais de 70mil pessoas estavam rodeando o Morumbi. Eram, em grande maioria, motoqueiros selvagens que tinham passado a noite na fila, catadoras de latinha, pipoqueiros doidos de pipoca e vendedores de penduricalhos da banda australiana, que sabiam de rock ‘n’ roll como sabem das razões epistemológicas que levaram à superação da Era de Aquários. O clima era de festa e de loucura. E, pelos meus cálculos, mais da metade das pessoas que entravam no estádio não iria se lembrar de nenhum momento do show e de tudo que viesse a acontecer nas horas seguintes.
E, pelos meus cálculos, mais da metade das pessoas que entravam no estádio não iria se lembrar de nenhum momento do show e de tudo que viesse a acontecer nas horas seguintes www.revistaragga.com.br
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marcelo borja
Cinco respeitáveis senhores australianos. Ainda cheios de amor para dar
Começou a chover assustadoramente e a capa de chuva pulou de R$ 5 para R$ 20. E por mais estranho que possa parecer, o temporal só acabou quando o Nasi apareceu na ponta do palco brandindo os punhos e rosnando algumas palavras que não entendi direito. Lá de cima ele deve ter percebido que a multidão não estava muito satisfeita com a sua presença – afinal, ele é o responsável por versos incríveis da música popular brasileira, como “Feliz aniversário, envelheço na cidade” – e então emendou as duas cartadas que tinha na manga: ‘Mosca na sopa’ e ‘Sociedade alternativa’. As sábias palavras de Raul Seixas e do mago Paulo Coelho tranquilizaram os malucos que já estavam planejando uma maneira de sabotar o som. Além do mais, faltava pouco para a banda da noite aparecer. Não fazia sentido jogar uma bomba caseira no palco a essa altura do campeonato. 9:20pm Apagam as luzes. Primeiro o silêncio e dois ou três milésimos de segundos depois o estádio inteiro está mais uma vez gritando, fervilhando, esperando para explodir. Não há ninguém no palco, mas todo mundo sabe que em alguns segundos os australianos estarão exatamente ali, a vinte e três metros de distância. Nas arquibancadas cintilam os chifres vermelhos de dez mil pessoas que estão entoando três letras do alfabeto em uníssono. Olho para trás e tem uma menina segurando as lágrimas nos olhos, um barbudo sem camisa sorrindo com os braços
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7:20pm
levantados e um moleque de 11 anos sentado nas costas do irmão mais velho olhando tudo muito assustado – eternamente ele irá se lembrar de todas as sensações que vai experimentar nas próximas duas horas. Na minha frente está o fotógrafo sem câmera alguma, uma loirinha incrível que sorriu para mim mais cedo, e o Morumbi está devidamente preparado para tudo que vier a acontecer. O ACDC está pronto para começar.
quem
é RAGGA
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fotos Dudua’s Profeta
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fotos EstĂşdio Sincro
a música e o tema
por Kiko Ferreira
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Os Jackson Five marcaram a história da música negra americana nos anos 1970
nha, e o Golden Boys, formado pelos Correa. O Clube da Esquina começou na casa dos Borges, mas incluia os Venturini, os Brant, os Guedes, os Horta... Tradicionais famílias mineiras, com certeza, com talento e articulação. Mas, fora do Clube, tem os Godoy, os Moreira (Juarez e Celso), os Lopes (Wilsinho e Beto), os Cheib (da Bemol), os Continentino (que tem até o Continentrio), os Heliodoro (Affonsinho e Fred) e muitos casais como Renato Motha e Patrícia, Vander Lee e Regina (que por sua vez, é dos Souza, de Henfil, Chico
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Música nem sempre foi coisa de família. E nem de mulher. No início da música popular brasileira, quando Chiquinha Gonzaga fazia suas músicas pioneiras, as moças só podiam arriscar seus dotes ao piano nas casas de família. Como profissional, nunca. Mas isso é outra história. O fato é que, até Rita Lee ter dito que roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido, nenhum pai de família queria seu filho músico. A profissão não dava futuro, era coisa de boêmio até o Rock Brasil, lá pelo meio dos anos 1980, transformar a história de ter uma banda em jeito de ganhar bons trocos, comprar carro novo e ajudar os pais nas finanças. Hoje, todo pai quer dar logo uma guitarra para o garoto e deixar a menina enfrentar um karaokê para ver se tem talento. Independentemente de tendências morais e cívicas, ditaduras e democracias, quem tinha talento, e até quem não tinha, mas tinha público, sempre conseguiu fazer música. Dos camargos e xororós, que retardam em séculos o fim do breganejo gerando filhotes que seguem as trilhas dos papais, aos Moreno e Preta, herdeiros tortos do tropicalismo, passaram para a história famílias e famílias, clãs e clãs. Sem preocupação de elencar sobrenomes por importância ou ordem cronológica, vale citar alguns habitantes do hall da fama de notas e letras. Na música popular brasileira, talvez os mais frutíferos sejam os Caymmi e os Jobim. O baiano Dorival e a cantora Stella capricharam no DNA, com Nana, Dori e Danilo comandando um monte de herdeiros de musicalidade inegável. E Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim gerou Paulo Jobim, mas vivia com mulher e agregados nos projetos da Família Jobim, que incluía os Morelembaum, Jaques e Paula, e até Danilo Caymmi. Na Jovem Guarda, os grupos vocais famosos eram de irmãos. O Trio Esperança, dos irmãos Regina, Mário e Evi-
FAMILY BUSINESS
Mário e Marcos Souza), Rogério Leonel e Ligia Jacques, Tite Walter & André e por aí vai. Até chegar ao rock pesado do Overdose, de Cláudio e Ricardo David, e Sepultura, de Igor e Max Cavallera. No cenário nacional, a lista de árvores genealógicas vira floresta. Principalmente na nova geração, boa parte de filhas e filhos de famosos seguiu a carreira dos pais. Tem Bebel de João Gilberto, Maria Rita de Elis (que também gerou João Marcelo e Pedro Mariano), Mart’nália de Martinho da Vila, Jairzinho
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de Jair Rodrigues, Simoninha de Simonal (além de Max de Castro), João e Max de Djavan, Davi de Moraes Moreira, Diogo Nogueira de João Nogueira, Luiza Possi de Zizi, Supla & João de Marta e Eduardo Suplicy. E Tim Maia, que deu o sobrinho Ed Motta e o filho Leo. Para fechar, pelo talento, a dupla Ná & Dante Ozzetti e os Assad, que além do Duo Assad, de violões, formado por Sérgio e Odair, tem a irmã Badi Assad, mais famosa lá fora do que no Brasil. Arnaldo e Sérgio Dias Baptista correm por fora como líderes dos Mutantes, fase Rita Lee. Ela forma com Roberto de Carvalho um casal firme e forte, e tenta emplacar o filho Beto Lee. O pop internacional tem famílias célebres. Os Bee Gees, dos irmãos Gibb, eram campeões da música lenta até virarem fashion, com os embalos de sábado à noite. O Jackson Five foi o principal grupo da música negra americana, de onde saiu Michael, o príncipe. Branquelos, quase wasp, os Osmonds eram os namorados que as mães queriam para as filhas. Na Califórnia, eram os Beach Boys, surfistas que, para boa parte da crítica, eram os Beatles americanos. E os Allman Brothers faziam rock viajandão. Os irmãos Karen e Richard Carpenter garantiam amassos no banco de carros em drive-ins e o Creedence Clearwater Revival, de John e Tom Fogerty, faziam o rock do pântano. Tudo isso nos anos 1960 e 1970, na vizinhança de Woodstock. Na história mais recente, tem as belezuras irmãs do The Corrs e os irmãos encrenqueiros do Oasis, que não diziam, mas se sentiam mais populares que Jesus. No rock pesado, Van Hallen e AC/DC, com irmãos jovens. E dizem que Maggie e Jack White, do White Stripes, seriam irmãos. Mistérios da meia-noite. O Kings of Leon começa a aparecer bem na foto. E pragas recentes como Jonas Brothers, Hanson, Família Lima e KLB apontam para a perpetuação do lema “a união faz a força”. Principalmente, em família.
O talento para a música parece estar no DNA da família Caymmi. No rock, os irmãos Gallagher ocupavam as manchetes por suas bebedeiras e discussões
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fotos Julia Lego modelo Bárbara Borges
JUST DO IT por Vinícius Magalhães
Bárbara Borges parecia comemorar antecipadamente seu aniversário. Transbordava o mais lindo sorriso. Olhando seu rosto delicado, seus 19 anos ficavam perdidos no corpo esguio e nos lábios distintos. Mineirinha de BH, com contornos marcantes, a modelo já está mais que acostumada a se dirigir com um olhar provocante aos inúmeros fotógrafos e a acompanhar o ritmo incessante das lentes. Desde os 12 anos, ela assinava seu nome com o charme dos seus passos e a beleza exótica nas passarelas.
Fã de música eletrônica, Bárbara julga ser uma baladeira nata e adora estar com as amigas. Completamente entusiasmada com o alvoroço em sua direção, é perfeitamente fácil se apaixonar por ela, ainda mais por causa do seu jeito alegre.
sexy Cansei de ser
t your move you better geat ones on or all of th good will have gone
at, Been there, done th nd messed arou don’t put I’m having fun, me down p I’ll never let you swee et me off my fe This time babyof I’ll be Bulletpro La Roux
Club Copacabana
use Just do it do it do it ca you want it use just do it do it do it ca you like it you do it do it do it cause feel it not because you saw it
Os seus planos? “Pretendo viajar durante uns 4 ou 5 anos, desfilando”, confessou. Não há como ficar triste por ela querer partir. Bárbara merece o estrelato.
PRODUÇÃO ana dapieve e li maia FOTOGRAFIA Julia Lego MAQUIAGEM Bruno Cândido [www.brunocandido.com.br] CABELO Vanessa Cândido ROUPAS, SAPATOS E ACESSÓRIOS ODD+Cupcake LINGERIE La Perla ODD+Cupcake (31) 3281.8040 La Perla (31) 3284.4488
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EU
por Sabrina Abreu
QUERO!
A julgar pela letra de ‘The Severed Garden’, Jim Morrison preferia um banquete com amigos a uma família gigante. Mas, afinal, para que escolher? Muitas e boas amizades fazem diferença, mas família é fundamental. Pensando nisso, separamos alguns achados que tornam a convivência entre os membros que têm sangue do mesmo sangue mais divertida – embora ela seja, sim, meio difícil de vez em quando.
Se lembrar de levar a chave de casa continua sendo um drama, a solução clássica é escondê-la embaixo do tapete. O capacho de fibra de coco (75 X 45cm) foi feito especialmente para isso. Ah, ele deve ser usado, preferencialmente, em vizinhanças tranquilas. R$ 84,90 osegredodovitorio.com
Diretamente dos filmes da Sessão da Tarde e das propagandas de margarina para sua garagem, a bicicleta KB2 (2,44 m de comprimento) tem lugar para duas pessoas pedalarem ao mesmo tempo. Não, não estamos contando com o garupeiro inerte. São dois bikers, o pai e a filha, os dois irmãos, o marido e a mulher, pedalando juntinhos. Para melhorar o passeio, só mesmo escolhendo um parque no caminho para fazer piquenique. R$ 1.250 houston.com.br
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Para dois
Escondidinho
...Família
fotos: divulgação
O porta-retrato é o objeto-símbolo da família. Quem não quer colocar a foto dos parentes mais queridos em destaque? Por ser digital, este modelo em forma de TV, da Imaginarium, ajuda na tarefa de não deixar nenhum familiar fora da moldura (ele guarda diversas imagens e as exibe em sequência, com som de fundo). Também é relógio, despertador e tocador de MP3. R$ 498,90
Nada como uma reunião familiar em torno da mesa. Tércia é o nome do modelo da Líder, assinado pelo designer José Roberto Moreira do Valle. A mesa tem um terço de madeira (imbuia, iacas, ebanizado e carvalhos) e o restante de aço. Uma edição limitada. Preço sob consulta: (31) 3412.9181
Na sala de jantar
MOLDURA
Tradicional chocolate ao leite suíço com pedacinhos de nougat de amêndoas e mel, o Toblerone é aquela última oportunidade de garantir (ou incrementar) a lembrancinha da mamãe, quando já estiver no aeroporto. Não acredite quando ela disser: “Não precisava, filhinho”. R$ 19,90 submarino.com.br
Free shop
DNA roqueiro
Quando a MTV americana transmitiu o cotidiano da família Osbourne, no início dos anos 2000, o mundo percebeu que o ex-vocalista do Black Sabbath era mais louco em casa do que no palco – onde já bebeu sangue de pombos. É no lar doce lar que o roqueiro, o casal de filhos, a mulher (a quem ele gritava insistentemente: “Sharoooon!”) e os três cachorros (fazendo xixi livremente pelos cômodos) provaram ser o mais puro rock‘n’roll. Para ver e rever muitas vezes, só mesmo em DVD. R$ 17,90 americanas.com
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FÉRIAS
ilustrações Vorko Design Saudades da Turma da Mônica? A gente preparou uns passatempos para animar suas tardes livres neste verão. Além de divertir, com sexo, esporte e rock ‘n’ roll, ele é altamente instrutivo (pelo menos no que se refere ao caça-palavras). As respostas você encontra na página 72.
Em sua cama, reina a mesmice, ou a performance é variada? Teste seus conhecimentos achando o nome de oito posições sexuais.
Liga-pontos é um nome autoexplicativo: vá ligando os pontos na sequência (1, 2, 3...). Superdivertido, ãnh?
PALAVRAS
CANGURU PERNETA COLHER
COW GIRL DE PÉ
DE QUATRO DE LADO
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Compare e veja o que hĂĄ de diferente nos dois quadros. A ideia era encontrar sete erros, mas como a festa estava boa, de repente, vocĂŞ acha mais.
NA GRINGA >> oceania
NATIRUTS Entre reggae e praias paradisíacas, banda dá um rolé por Nova Zelândia e Austrália
NA ESTRADA
por Alexandre Carlo fotos Bruno Wambier
Antes de tocar em Auckland, Alexandre Carlo posa em frente ao anúncio da casa de show The Power Station
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Vista de Auckland, Nova Zelândia
Nossa jornada começou dia 22 quando tocamos em Guarulhos, 23 em Natal e 24 em Salvador. Cansados pela rotina de aeroportos e shows, embarcamos dia 25 de São Paulo, em um voo que faria conexão em Santiago do Chile e depois atravessaria o Oceano Pacífico até Auckland, na Nova Zelândia. Foi um voo tranquilo e todos nós dormimos bastante devido ao cansaço. Apesar de 13 horas de viagem, chegamos dia 27 na ilha e, por conta do fuso horário, o dia 26 de outubro de 2009 não existiu em nossas vidas. Ao chegar, sendo o primeiro a sair, fui escolhido pela imigração para um estudo do meu passaporte e dos meus antecedentes. Mesmo dizendo que era músico e estava ali para fazer um show, não adiantou. Fui levado para uma sala confortável, com sofá, televisão e lanches. Eu sabia que se eles encrencassem comigo a turnê estaria acabada. Dentro da sala havia uma mulher bonita que ficava mexendo em um computador e falando ao rádio. Ela me perguntou de onde eu vinha. Falei que era músico no Brasil. Ela sorriu e voltou a trabalhar. Nessa hora, tirei meu violão do case e comecei a tocar e cantar baixinho sambas do Djavan. No meio do segundo samba, ouvi a mulher dizendo: “Legal! Você é músico mesmo!”. Não sei se fez diferença, mas cinco minutos depois o guarda chegou com um semblante mais tranquilo, com meu passaporte e disse: “Good concert!”. Pelo menos, um “voz e violão” estava garantido, porque quando saí ninguém da banda havia saído ainda. Logo depois, todos vieram. Pegamos as bagagens e fomos para o hotel. Era seis da manhã e a maioria foi tirar um cochilo. À tarde, quando passávamos o som, recebemos a notícia de que a maior banda de reggae da Oceania iria ao show para falar com a gente, porque conheciam nosso som e gostariam de iniciar um intercâmbio. A banda se chama Kacth a fire e é formada por descendentes dos Maoris, que habitavam a ilha
antes da chegada dos ingleses e são conhecidos no mundo inteiro pelo estilo de tatuagem característico de sua cultura. O show foi muito bom e a casa estava cheia de brasileiros. No dia seguinte, fomos visitar o museu da cidade e passamos por um parque de árvores de formas malucas, onde foram filmadas algumas cenas do Senhor dos Anéis. RUMO À AUSTRÁLIA Partimos para a Austrália e, ao chegar, já estávamos esperando mais uma das novelas que acontecem no setor de imigração dos países definidos por George W. Bush como “aliados contra o terrorismo”. Dessa vez, correu tudo bem. Apenas um oficial confundiu o Juninho com alguma estrela do vale-tudo internacional. Logo na sequência, pegamos um voo interno e chegamos a Gold Coast. Um lugar de qualidade de vida sensacional, berço de vários campeões mundiais de surf e cenário para muitos filmes sobre a arte de deslizar com uma prancha sobre ondas. Para se ter uma ideia, o centro comercial da costa, onde estão os prédios, baladas e os grande hotéis, se chama Surfers Paradise. Ficamos em outro canto, num hotel de frente para um mar limpíssimo e de areia branca. Um paraíso não só para os surfistas. O show foi no terraço de um hotel à beira-mar a poucos metros de onde estávamos hospedados. Fomos a pé. E a brasileirada já estava lá à espera do som. Dessa vez, havia vários australianos e australianas surfistas que conheciam nossa música através das trips pela Indonésia, lugar onde sempre existe algum brasileiro à procura de ondas perfeitas. Esse show foi mágico. Uma vibração muito forte do público, talvez porque misturava saudade de casa, deslumbramento por estarem vendo o show num lugar maravilhoso ou
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Juninho Morais (baterista) no zoológico, em Sydney
Luís Maurício Ribeiro (baixista), Daniel Felix (técnico de som) e Alexandre, em Coolangatta, na Gold Coast australiana
o próprio estilo de vida próximo ao mar, da vida saudável e do contato diário com a natureza. Coisas que combinam totalmente com as nossas músicas. Depois do show nos ofereceram uma festa numa outra praia, mais isolada, com direito a tochas, drinks, australianos e brasileiros juntos e alguns violões. A essa altura, todos nós já estávamos psicodelisados, felizes por viver aquele momento de música e de vida. Comecei tudo de novo na viola, agora tocando Jorge Ben Jor, Tim Maia, Gil e Caetano. Teve até uma sequência de axé. Voltamos ao hotel com o sol raiando. Como a saída era às 7h e ninguém conseguia dormir, esperamos e fomos direto para o aeroporto, felizes da vida, com destino a Sydney.
Arte Maori, tipicamente neozelandesa
SYDNEY: FESTIVAL DE REGGAE E BRASILEIROS ENSANDECIDOS Nesse trajeto da Gold Coast até Sydney, se foram oito horas entre vans, espera de vôos e mais vans, até que chegamos a um hotel chamado Vibe. Tudo estava realmente conspirando a nosso favor. Chegamos e finalmente dormimos. Dormimos não, apagamos. Às 22h, acordei com o telefone tocando e uma voz ao fundo falando: “Meia horinha, vamos para o show”. Achei que era brincadeira. O cansaço da noite anterior ainda se fazia presente e pude verificar que todos os outros estavam na mesma situação. Ao chegar lá, os produtores entraram sorridentes no camarim dizendo que os ingressos haviam esgotado. Quando entramos no palco e vimos a brasileirada ensandecida, todo cansaço foi embora e o show foi muito bom. Depois do show, nada de festa. Direto para o hotel e sono. Afinal, partiríamos para mais uma viagem que dessa vez incluiria avião, van e balsa. Chegamos à ilha de Stradbroke. Um lugar sem pré-
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As praias de Gold Coast: perfeitas para o relex pós-show
dios, sem muita urbanização. Era a vez do festival Island Vibe. Um festival de reggae, ou melhor, de cultura reggae. Ou seja, havia espaço para todas as formas de expressão. Eram cinco tendas com palco, uma delas bem maior. E em cada uma rolava um som diferente: reggae, música alternativa, dub, eletrônica, hip-hop. Muitos artistas da Indonésia, de ilhas próximas da Austrália, como Samoa, e nós que, juntamente com o americano Charlie Tuna, ex-integrante do Jurassic Five, éramos os únicos ocidentais da parada. Entramos no palco às 17h e eu, com meu “uga english”, disse que apesar de não falarmos inglês, falávamos a língua universal: a música. E começamos com ‘Raçaman’, depois ‘Groove bom’, e os australianos começaram a se envolver pela nossa música. Foi um show muito vibrante e diferente. É nessas horas que a gente sente a força, o groove e a riqueza do som brasileiro. No dia seguinte, voltamos para Sydney. Lá, tivemos mais dois dias para fazer turismo e comprar algumas lembranças para nossas famílias. Terminou assim mais um giro da tour Raçaman. Agora é esperar dezembro, quando vamos para Argentina e Uruguai. comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
Auckland em uma visão noturna
carlos hauck
PASSANDO A BOLA
BH recebe campeonato internacional de squash e colombiano leva a melhor
por Daniel Ottoni
Belo Horizonte recebeu, entre os dias 23 e 28 de novembro, o Enjoy Squash, evento internacional da modalidade, que contou com atletas de oito países (EUA, França, Brasil, Argentina, Colômbia, Dinamarca, Inglaterra, e Egito) e distribuiu US$ 15 mil em premiação. Com o apoio da Ragga, o evento aconteceu no Mackenzie Esporte Clube com um baita diferencial: uma quadra de vidro, construída em pouco mais de 24 horas. O mesmo modelo de quadra já foi usado em eventos que aconteceram em lugares inusitados, como pirâmides do Egito e estações de trem de Nova York. “Neste tipo de quadra, o vidro segura mais a bola, mudando a velocidade do jogo”, conta Yuri Franca, número um do ranking mineiro. O mais bacana foi ver a competição rolar à noite, quando as luzes do ginásio eram apagadas, deixando acesas somente as da quadra, dando a impressão de algo além de um campeonato de squash. “Acaba virando um show, um evento de outras proporções”, comemora Roberto Mori, organizador da competição e vice-presidente da CBS (Confederação Brasileira de Squash). Para completar, apresentação musical durante a final e uma sala montada ao lado da quadra, de onde também
se podia ver os jogos. No jogo mais importante do torneio, o brasileiro número um do ranking nacional Rafael Alarcon deu muito trabalho para o colombiano Miguel Rodriguez, jogador mais bem colocado da competição, número 27 do mundo. Apesar dos três sets a zero, as parciais mostraram o duro que Miguel teve que dar para despachar Alarcon, nove vezes campeão brasileiro: 11/9, 13/11 e 12/10. O ginásio ficou lotado para ver a final e a galera que compareceu garante que valeu a pena. “Um torneio de squash numa quadra de vidro, bem diferente das de alvenaria, no meio de um ginásio acostumado a receber jogos com bolas de outras proporções, não tinha como passar despercebido”, admitiu a estudante Fernanda Fagundes, de 16 anos. Novas ideias já rolam para outros torneios, com formatos ainda mais inusitados, a fim de atrair mais gente para conhecer o esporte, que é pouco praticado, mas bastante visto. Pode ser que uma brecha seja aberta nas Olimpíadas de 2016, e aquela moral seja dada para um esporte que pode ser praticado por qualquer um, em dias de sol ou chuva.
arquivo pessoal
Esporte: Mountain Bike Modalidade: Maratona e Cross Humberto Cardoso
Country – Categoria Elite Cidade: Belo Horizonte, MG Idade: 28 Altura: 1,81m Peso: 75kg Naturalidade: Belo Horizonte, MG
Por que pratica? É a forma que encontrei de sentir o palpitar da vida e a liberdade. Competir transmite aos outros um exemplo de disciplina, garra, dedicação, força de vontade, energia, fé e superação. Compete desde: 2001.
Metas para 2010: Estar entre os cinco melhores atletas do país através da participação nos principais campeonatos no Brasil, além de competições internacionais e o Pan-Americano. Melhor resultado em competições:
Nos três últimos anos foram 42 pódios, sendo 11 vezes campeão. No ano de 2009 foram 20 conquistas, sendo as principais a 3º Colocação no campeonato “KHS MARATHON CUP”; vice-campeão na Maratona de Caeté e Campeão no 6º Gambike. Contato: (31) 9925-7723 | 3383-8316 humbertohcs@yahoo.com.br
Atenção, atleta em busca de patrocínio, cadastre-se na seção Adote um Atleta no portal Ragga (revistaragga.com.br), ou escreva para: redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
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fotos: ayton mendonça
PASSANDO A BOLA
Arte no Maletta
por Izabella Figueiredo
Existe um motivo a mais para ir ao edifício Maletta, lugar histórico que comemorou 50 anos em 2009 e é berço da boemia de Belo Horizonte. Instalada no segundo andar do prédio e com vista privilegiada para a clássica Rua da Bahia, está a Quina Galeria, novo ponto de parada obrigatória para os amantes da arte e do design. Rodrigo Furtini e Ayrton Mendonça, sócios da Quina, reclamam da falta de espaço na cidade para antigos e novos artistas mostrarem seus trabalhos. Ao mesmo tempo, os donos da galeria celebram o sucesso das exposições agendadas até julho de 2010. “Em breve, teremos artistas renomados como Dimas Forquetti e Chamarelli”, adianta Rodrigo. “Costumamos chamar a Quina de galeria-loja ou loja-galeria” explica Rodrigo, referindo-se ao fato de lá ser possível não apenas prestigiar as obras, como também comprar algumas delas. Entre as peças expostas, estão bonecos de toy art, camisetas, bolsas e outros produtos de tiragem limitada. Então, da próxima vez que fizer um happy-hour no Maletta, você já sabe: inclua uma visita à Quina Galeria em sua programação. De segunda a sexta, das 10h às 13h e das 14h às 18h, e sábado, das 10h às 13h
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1°Reveillon Na Sala (Escarpas)
_Pegue seu
helicóptero e apareça.
2°Show de fogos Alterosa
_ Se seus amigos foram para praia e te largaram para trás, não desanime. O show de fogos na Lagoa da Pampulha garante muita emoção para toda a família.
RESPOSTAS ALMANACÃO
Ainda não sabe onde vai estar na virada de ano? Calma. A Ragga preparou uma listinha especialmente para você, que não sabe se programar nem quando o assunto é balada. E pode ficar tranquilo que não vamos te mandar, em cima da hora, para ver os fogos de Nova York ou de Paris. A gente sabe do potencial nacional quando o assunto é festa de réveillon. Afinal, Guarapari está aí para provar exatamente isso, não é mesmo?
_ Depois do show de fogos Alterosa, se sobrar alguma energia, dá um pulo lá no Mix garden. Vai ter Fred & Paulinho, Manitu e Us Cara Samba.
4°Réveillon Taikô (Florianópolis)
_ Serão vários DJs de house e loiras européias. Dependendo, até o Paulo Zulu deve cair pra lá.
5°Enchanté (Salvador)
_ Com direito a Ivete Sangalo, Psirico e Vanessa da Mata. Se você tiver sorte, vai começar 2010 com o pé direito.
6°Praia do Morro, Guarapari
_Entrada liberada mediante a entrega de 1kg de farofa.
7°Ubatuba
_ Sente só o que vai rolar: Fernando & Sorocaba, Exaltasamba, Claudia Leitte e Inimigos da HP. Ninguém tá te obrigando a ir, viu?
8°Be happy (Búzios)
_ Sim, seja feliz. Sobretudo se você gostar dos DJs Carlos Dee e Lucas Yoshi.
9°Réveillon Iate (Belo Horizonte)
_ Animação garantida com João Bosco e Vinícius, A Zorra e Comunidade Batuque. Boa sorte.
10°Villa de Phoenix (Campos do Jordão)
_ Essa é a chance de tirar a sua avó de casa para curtir um verdadeiro Réveillon. Ela merece, vai?
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reprodução
3°Mix garden (Belo Horizonte)
último ranking
Lugares para passar o Réveillon
top 10
Economize Na última edição, perguntamos: Qual é a melhor maneira de mudar o mundo? Depois da sua participação, é hora de conhecer o resultado: 1º) Economize (30.77%) 2º) Seja gentil (23.08%) 3º) Limpe o cocô do cachorro (7.69%) Nesses tempos de capitalismo selvagem, a solução pode ser pisar um pouco no freio e consumir com mais responsabilidade. Economize, eis o primeiro lugar do nosso Top 10. Seja gentil, peça licença e diga “obrigado”. Coisas simples podem fazer o mundo um lugar melhor (ou menos pior) de se viver. E é com muita educação e gentileza que apresentamos o segundo colocado. Fechando nosso pódio, uma dica: se você vai sair com o seu cachorro e ele fizer suas “urgências” na rua, limpe. Caso contrário, vamos pensar que o animal que merece passear na coleira é você.
JÁ INVENTARAM fotos: divulgação
Tem que ter habilidade! Quem era fã das máquinas de pegar doces com um gancho controlado manualmente pode comemorar. Agora, é possível ter uma dessas em miniatura e testar suas habilidades manuais, já que o orifício onde se coloca os doces é muito pequeno. É também uma ótima alternativa para quem quer reduzir a quantidade de doces ingerida por dia, afinal não é nada fácil “pescar” as balinhas. O aparelho só funciona quando fichas (que acompanham o produto) são inseridas Na gringa por £39
Ploqueiros, uni-vos Boa notícia para quem curte apertar as saliências de ar que envolvem o plástico da embalagem de algumas mercadorias. Já existe um “chaveiro plástico-bolha” que nunca murcha. O brinquedinho emite um som diferente a cada 100 estouros e está disponível nas cores azul, branco, rosa, vermelho e verde. O comprador ainda pode se registrar na “plocosfera”, uma espécie de clube para os estouradores de plástico-bolha, que já conta com mais de 7.835 ploqueiros. ploc-ploc.com.br por R$ 29,90 (cada)
por Izabella Figueiredo
Banho iluminado Este chuveiro que colore a água a partir de um mecanismo que envolve luzes de LED é bem mais que um item decorativo. O aparelho é termossensível, ou seja, a cor da água vai mudando de acordo com a temperatura. Além disso, para funcionar, não é necessário nenhum tipo de bateria ou eletricidade, já que as luzes são ativadas pela pressão da água. Ideal para relaxar ainda mais naqueles banhos intermináveis. Só na gringa, por: US$ 71.51
Água, sabão e gogó Por que as pessoas gostam tanto de cantar no chuveiro? Ninguém sabe ao certo, mas agora ficou mais charmoso praticar seus dons vocais com este rádio em forma de microfone. Embora o simpático aparelho não funcione como microfone propriamente, ele é a prova d’água, o que permite que você leve para o chuveiro e pratique à vontade. O aparelho tem também uma base, onde pode ser depositado, enquanto o cantor estiver se ensaboando ou lavando o cabelo. Na gringa por US$19.90
reprodução
FAT FAMILY Sucesso na década de 1990, a Fat Family vendeu cerca de 1,8 milhão de discos, alavancados por sucessos como ‘Jeito sexy’ e ‘Gulosa’. Os oito irmãos de Sorocaba ganharam o público não somente pelos vozeirões e sons dançantes. A dancinha peculiar mexendo o pescoço e o “excesso de peso” conquistaram a simpatia do público e renderam aparições em diversos programas de TV, mas o sucesso foi meteórico. Hoje, alguns membros do grupo se debandaram para o segmento gospel, enquanto outros fizeram redução de estômago e já exibem nova silhueta por aí. Se você tem uma dica de onde eles estão, mande um e-mail para: redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
Se lembrar de mais alguém que um dia foi reconhecido pelas ruas, mas hoje inexiste no imaginário popular, nos avise.
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Festival Eletronika 2009 por Gabriela Terenzi
O Festival Eletronika, que aconteceu nos dias 5, 6 e 7 de novembro no Estação 104, proclama-se um evento de novas tendências musicais. Com shows altamente visuais, graças a dois telões colocados ao fundo do palco principal, o Eletronika 2009 trouxe, da cena nacional, Black Drawing Chalks (rock goiano), Virna Lisi (banda mineira veterana que se reuniu após 12 anos), Copacabana Club (pessoas moderninhas de Paraná), Stop Play Moon (mais moderninhos e um autêntico Alexandre Herchcovitch), entre outros. Em comemoração ao ano da França, vieram
Na Rede por Rodrigo Ortega e Taís Oliveira Arctic Crooner :: veja em youtube.com/arcticmonkeys Uma das melhores músicas de 2009 ganhou um dos clipes mais estranhos do ano. No vídeo de ‘Cornerstone’, bela faixa do disco Humbug, dos Arctic Monkeys, o vocalista Alex Turner enfrenta a câmera sem cenário e sem vergonha, apenas com a ajuda um microfonezinho igualmente sem vergonha.
Birdy Nam Nam, Mintel Rose, Rubin Steiner e Anoraak, todos de música eletrônica. Enquanto o bom e velho rock‘n’roll fez o público do Estação 104 mexer as cadeiras, a música eletrônica não causava esse mesmo efeito. Com batidas às vezes muito repetitivas e pouco empolgantes, o público apenas olhava, estático. O local era grande e as pessoas ficavam espalhadas, o que inibia quem tentava começar um passinho mais ousado. “O Birdy Nam Nam tem, como objetivo, fazer com que cada DJ atue como um instrumento musical (guitarra, baixo), como se fossem uma banda tradicional. Dessa forma, criaram uma sonoridade nova, hipnotizante e poderosa”, dizia o release do show do grupo, um dos mais aguardados. Hum, e a novidade? O que valeu muito a pena, por outro lado, foram as exibições de filmes com entrada franca. ‘Loki’, cinebiografia de Arnaldo Baptista, arrancou lágrimas dos espectadores. ‘Favela on Blast’ trouxe o funk carioca com estética para exportação. ‘8 ou 80: BH underground’ mostrou o cenário efervescente de Belo Horizonte na década de 1980 e ‘Beyond Ipanema’ falou tudo o que você não sabia sobre a exportação da música nacional. Infelizmente, como relatou Leandro HBL, diretor de ‘Favela on Blast’, “os nossos piores públicos foram aqui no Eletronika e em São Paulo”. Pelo visto, o projeto Vivo Lab – iniciativa da empresa que visa aprendizado e formação crítica na área audiovisual – no qual se integra o Festival Eletronika, tem muito trabalho pela frente.
Superbanda e superdisco:: ouça em youtube.com/themcrookedvultures A superbanda Them Crooked Vultures, formada por ninguém menos que o ex-Led Zeppelin John Paul Jones, Dave Grohl e Josh Homme, disponibilizou o disco de estreia inteiramente para streaming em seu canal do YouTube. Se as músicas que a banda ia disponibilizando a conta-gotas na internet já empolgavam, imagina o disco inteiro. Caê Caiu (em cima) :: leia mais em tinyurl.com/pilulacae Caetano Veloso não perde tempo mesmo. Durante a passagem do Sonic Youth pelo Brasil, para tocar no festival Planeta Terra, a banda aproveitou para assistir ao show de Caê. Quando se encontraram no camarim, o baiano disse que Kim Gordon é a mulher mais bonita que ele já viu. “Não sei se ele sabe que ela é casada”, brincou Thurston Moore. Vai, Planeta! :: veja em tv.terra.com.br Por falar em planeta Terra, quem perdeu o melhor festival de música brasileiro (quase uma vitória por W.O.), que ocorreu no Playcenter, em São Paulo, não precisa ficar triste por não ter visto os cabelos ao vento de Kim Gordon ou o traseiro ao vento de Iggy Pop. O TV Terra disponibilizou vídeos de todas as apresentações online. Para a lembrança ficar completa, só faltaram imagens da Monga, do Splash e da Montanha Russa. Electro-rock 2010 :: ouça em tinyurl.com/pilulachip 2010 começa pronto para a pista. Duas das bandas mais festejadas da cena que faz música eletrônica com atitude roqueira e sensibilidade pop têm lançamentos confirmados para o segundo semestre. Os norte-americanos do LCD Soundsystem prometeram CD novo para março. Já os ingleses do Hot Chip confirmaram lançamento em fevereiro e ainda soltaram a ótima ‘Take it in’, que vai estar no disco ‘One Life Stand’.
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fotos: divulgação
Um disco para chamar de meu por Mariana Marques
Em meio ao turbilhão de decisões profissionais e remendos do coração, a gente acaba complicando ainda mais a vida porque ansiamos loucamente por independência. Reclamamos da falta de dinheiro, de ainda morar com os pais, de ter perdido aquele que achávamos ser o amor de nossas vidas. E a gente reclama, também, porque as bandas não trazem novidades, não fazem discos geniais, nem inventam a roda de novo. E aí fica difícil perceber que a tranquilidade pode ser encontrada justamente no oposto disso: na declaração da dependência e em um disco tão bonito e simples como ‘Declaration of Dependence’, o novo do Kings of Convenience. A dupla da Noruega apresenta o mesmo folk-bossa nova do anterior ‘Riot on an Empty Street’. Os arranjos continuam bem parecidos, com violão, ukelele, violino e piano, acompanhados pelos vocais calmos e sobrepostos de Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe. Das 13 canções, pelo menos uma terá
nas letras um tema que fará com que a gente fale “é a minha música”. Isso pode ocorrer ao lembrarmos de um relacionamento de idas e vindas (‘Boat Behind’) ou ao constatarmos que nos sentimos vulneráveis perto de algumas pessoas (‘Mrs. Cold’). E não precisa ter o coração partido ou necessariamente ter lembranças tristes para se identificar com ‘Declaration of Dependence’. ‘Freedom and its owner’ fala da liberdade (que a gente tanto almeja e nos frustramos porque achamos que nunca vamos alcançá-la) de uma forma não ansiosa. A canção nos ensina que “freedom is never greater than its owner” e que “no view is wider than the eye”. ‘Power of not knowing’ segue a mesma linha “para acalmar o coração”. E aí a gente para de reclamar e agradece por existir um disco tão melancolicamente bonito como ‘Declaration of Dependence’, desses que a gente escuta sem se preocupar com o tic-tac do relógio. Não é preciso descobrir a pólvora
para ser um disco bom. Basta falar de forma bonita dessas coisas como amor, liberdade e independência. Pensando bem, isso é, sim, genial.
da A T PRACA SA \\ SPOOLER
Ouça: myspace.com/spoolermusic
por Tomaz de Alvarenga
A faixa de abertura do álbum, que leva o nome da banda, e a faixa ‘Isadora’ contagiam com o teclado malicioso, acompanhando o “clima” da época. ‘Grow Up’ e ‘Valentina’ são pós-punk que funcionam na pista, até antes do álcool. ‘Entre Iguais’ apresenta clima pesado que até lembra R.E.M. em seus primórdios. ‘Tanto Esforço’ tem uma levada mais rock (U2?) e ‘Recado’ fica no meio-termo dentre as demais. É rock para “gente que curte se perder na música e esquecer por um instante das suas preocupações”, resume o vocalista. Então, divirtam-se.
Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br com fotos, músicas em MP3 e a sua história.
divulgação
Revival dos anos 1990? Mas os anos 1980 continuam vivos e fortes. Pelo menos para a dupla Spooler, formada por David Dines (voz, guitarra e teclado) e Gustavo Matos(bateriaeprogramação).“Estávamos a fim de fazer algo experimental e, ainda assim, genuinamente pop”, conta David. New wave é o ingrediente para dar sabor às noites de quem já passou dos 30, mas ainda evita os 40. A dupla soa dançante como B-52’s, a esquisitice do Devo, a introspecção do Joy Division, recheada com um teclado safadinho, nos leva exatamente ao que há de pior (e mais legal) nos anos 1980.
PERFIL
DO LADO CERTO por Angélica Paulo fotos Pedro Kirilos
Mediador de conflitos e agitador cultural, José Junior fez de sua experiência com a pobreza e a violência uma oportunidade para que milhares de jovens trilhassem outros caminhos Aos 41 anos, José Junior, coordenador executivo do Grupo Cultural Afroreggae é um homem de várias frentes. Além de ser o líder de uma das organizações não governamentais mais importantes do mundo, desempenha as funções de apresentador do programa de TV Conexões Urbanas, é palestrante em diversos eventos dentro e fora do país, pai e filho dedicado. Em entrevista exclusiva à Ragga, esse carioca de importância ímpar fala sobre os projetos desenvolvidos pelo Afroreggae, a morte do coordenador Evandro João da Silva em outubro e a luta para encontrar seus assassinos. Ele também abre o coração para falar dos amigos de infância que perdeu, dos fracassos antes de iniciar a carreira como empreendedor social e de sua mãe, sem a qual, segundo ele, nada disso teria acontecido. “É a pessoa mais importante da minha vida”, declarou.
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Como você avalia os 16 anos do Afroreggae? No início eu tinha um certo lado ingênuo em relação ao projeto. Hoje, não tenho mais. Mas, ao mesmo tempo, fico muito feliz pelo resultado que obtivemos nesse tempo todo. Para um cara que não tem nível superior, só o segundo grau, nunca fez curso de nada na vida, isso é maravilhoso. Acho que essa experiência orgânica, prática, do dia a dia, é a minha melhor escola. O despreparo que nós tivemos no começo por não sermos qualificados, não sermos experientes e de, antes do Afroreggae, sermos todos um pouco fracassados foi o combustível fundamental para criar um grupo sólido, com muita ideologia, mas sem grandes pretensões, que acabou tomando um corpo, um volume de grande impacto dentro e fora do Brasil. Foi essa mistura que garantiu o sucesso do projeto.
No meu caso pessoal, acho que criar o Afroreggae era minha última tentativa para fazer alguma coisa que realmente valesse a pena. Porque só fiz uma única coisa na minha vida que deu certo: o Afroreggae. Como a sociedade mudou durante esse tempo? Acho que melhorou bastante. Lembro que, em 1993, quando surgiu o Afroreggae, o Rio era bem mais violento. Foi um ano em que houve duas grandes tragédias na cidade: a chacina da Candelária e a de Vigário Geral. O governador, que era o Brizola, e os governantes do Rio estavam muito perdidos e a cidade, 1994, [a cidade] chegou a sofrer uma intervenção militar, a Operação Rio. As pessoas não tinham noção do que acontecia no interior das favelas. Algumas coisas que hoje fazem parte do dia a dia, do imaginário, até palavras de efeito como “poder paralelo”, por exemplo, não existiam. Ninguém falava nisso. Na década de 1980, você vivia uma glamurização marginal que eram os bicheiros. Por mais que eles tivessem o poder de uma autoridade nos seus distritos, tinham também uma postura diferenciada, de protetor da sua área. Nos anos 1990 a coisa mudou. Mas 1993, apesar de tudo, foi um ano muito rico, justamente por trazer mudanças na maneira de pensar das pessoas. Foi um ano de resistência, de atuação maior do terceiro setor, da cobrança pelos direitos humanos. Podemos falar que foi um ano bem “shivaísta”. Shiva é um deus hindu que primeiro destrói e depois transforma. Então, acho que teve esse lado Shiva. As pessoas não imaginavam que diante da tragédia seriam criadas organizações de resistência ou de mudança como ocorreu naquele ano. E o Afroreggae surgiu nesse contexto com que finalidade? Em um primeiro momento, queríamos apenas criar um jornal. Era um veículo que falava da cultura afrobrasileira. Não tínhamos interesse de trabalhar em
favelas, de fazer absolutamente nada a não ser [ter] sucesso com o jornal. Só que um mês depois da chacina de Vigário Geral entramos na comunidade, meio sem saber o que fazer, distribuindo o jornal. Mas as pessoas queriam mais do que informação. Elas queriam uma formação. E fomos “forçados” a criar, digamos, o conteúdo orgânico do jornal na prática. O Afroreggae falava de música, dança, cultura. E a gente acabou tendo que ensinar os moradores a tocar, a dançar. O problema é que não sabíamos nada disso. Então tivemos que, primeiro, aprender para depois ensinar. Qual o maior legado deixado para todas essas pessoas que passaram ou estão no projeto? Se o Afroreggae acabasse hoje, por algum motivo, acho que o legado maior é que nós criamos uma ponte, uma via de mão dupla, e conectamos, integramos, pessoas de classes sociais diferentes. Pela primeira vez um grupo da favela conseguiu espaço na mídia mundial não pela tragédia, mas por suas ações. Nunca uma comunidade carente recebeu tantas pessoas de níveis sociais diferentes, como aquelas com as quais o Afroreggae trabalha. Temos até um filme, o “Favela Rising” [documentário dos cineastas americanos Matt Mochary e Jeff Zimbalist, que conta a história do Afroreggae], que abriu as portas do mundo para o projeto, ganhou prêmios internacionais, inclusive o de melhor filme no Festival de Tribeca. Aquelas pessoas que ninguém queria ter na sua casa ou com quem ninguém queria trabalhar – o jovem negro, pobre e morador da favela, o extraficante ou o próprio traficante, o policial - um público para o qual ninguém queria dar visibilidade, o Afroreggae deu. E como funciona o trabalho motivacional com esse público? No início, o trabalho de abordagem era nosso, íamos até as pessoas para trazê-las para o grupo. Mas, de alguns anos pra cá, houve uma inversão nesse processo. Somos mais abordados agora. Somos um grupo que tem 74 projetos no Brasil e no exterior. Podemos nos dar ao luxo de ter um programa de televisão [‘Conexões Urbanas’, no Multishow] onde o Afroreggae não aparece. Sou o apresentador, mas raramente falo do grupo. Tirando a música de abertura e encerramento do programa, que são do Afroreggae, não há mais nenhuma menção à ONG e, sim, às pessoas empreendedoras, que conseguiram conquistar seu espaço. Poderia querer um programa mostrando somente os projetos desenvolvidos pelo grupo. Mas se um dia a gente tiver um programa assim, não serei eu o apresentador. Até porque, atualmente, tenho participado muito pouco do Afroreggae. Por quê? Vamos tomar como exemplo o Betinho. Quando ele morreu, as três organizações fundadas por ele, o Ibase, a Abia [Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids] e a Ação da Cidadania quase fecharam. Por ter visto esse tipo de desdobramento é
A ideia era mostrar para o policial que nem todo jovem, negro e pobre era bandido e mostrar para esse jovem, negro e pobre que nem todo policial era corrupto www.revistaragga.com.br
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que percebi que não posso ser o centro. Se eu morrer hoje, o Afroreggae vai continuar, até porque tem um legado muito grande de pessoas. E é essa garotada que você espera que possa, daqui a alguns anos, assumir o projeto? Não tenho um substituto. Tenho substitutos. Tenho pessoas em diversas áreas. Você faz ideia de quantos jovens já foram resgatados do crime? Nós começamos a nos organizar nesse sentido há pouquíssimo tempo, então não existe essa contagem. O que sei, por exemplo, é que o Norton, que trabalha com a gente, encaminhou 411 pessoas para o mercado de trabalho. Desses, a maioria era traficantes ou ex-presidiários. Mas quantas pessoas passaram pelo Afroreggae nesses quase 17 anos, realmente, não sei. Só sei que já fizemos muito por muitas pessoas que eu nem vi. Você tem alguns símbolos religiosos tatuados no corpo, como um orixá [Ogum] e um deus hindu [Shiva]. Você acredita na religião como um agente de transformação do ser humano? Acredito, mas não utilizo o aspecto da religiosidade e sim a espiritualidade e seu aspecto cultural. Como exemplo dessa minha espiritualidade, posso citar o próprio caso do Evandro. Fiquei 11 dias com a minha vida focada em prender os assassinos dele. E nesse período eu senti muito o Evandro do meu lado, fisicamente falando. Então, acho que essa parte espiritual, para o trabalho desenvolvido, é muito importante, sim. No próprio Afroreggae nós temos pessoas de diferen-
tes religiões, desde o candomblé, passando pelo catolicismo, até evangélicos. Sou eclético e, como eu, há muita gente que segue essa filosofia. Posso sair de um templo hare krishna e entrar em uma igreja. Onde houver manifestação da espiritualidade que considero divina, eu me identifico. Há também um trabalho forte com policiais. O melhor exemplo disso é o projeto desenvolvido com a Polícia Militar de Minas. Como surgiu esse projeto? Em 2002, um integrante do Afroreggae foi atingido por um tiro de fuzil no pé, na primeira grande crise do governo Benedita da Silva na área de segurança. Por causa desse acontecimento, fiz um vídeo, junto com a professora Silvia Ramos, do CeSec [Centro de Estudos Segurança e Cidadania], mostrando a violência policial no Rio. Apresentamos para algumas pessoas e recebemos propostas de exibição de diversos canais de televisão. Mas o advogado Arthur Lavigne, que é criminalista, nos disse que seríamos processados caso exibíssemos o vídeo. Então, enviei o trabalho para a Anistia Internacional e o resultado foi um barulho tremendo fora do país. A partir desse momento, resolvi realizar um trabalho com a polícia. Na época, o Garotinho, que era secretário de Segurança Pública do Rio, me disse que o Afroreggae poderia fazer o que quisesse, mas não com o CeSec, que realizou o vídeo que deu origem a isso tudo com a gente. Então, resolvi não fazer. Passado algum tempo, fui lançar meu livro [“Da favela para o mundo”] em Belo Horizonte e recebi um convite para desenvolver esse trabalho com a polícia militar de lá. Começamos em 2004, com um grupo onde todos os professores envolvidos foram vítimas de violência policial e a coordenação era feita por dois homossexuais. Ou seja: tinha tudo para dar errado. A ideia era mostrar para o policial que nem todo jovem, negro
O episódio do assassinato do Evandro pode atrapalhar, de alguma maneira, a importação de projetos como esses para o Rio? Já temos um trabalho com a Polícia Civil do Rio há um ano e meio, que é o Papo de Responsa, onde um integrante da polícia e um membro do Afroreggae visitam escolas, empresas e universidades, dando palestras para conscientizar o jovem a não ingressar no mundo do crime. O fato que ocorreu com o Evandro nos marcou muito, mas não me fez perder a esperança. O que aconteceu com o Evandro nos abalou, mas em momento algum tirou nosso foco, nosso papel. O Evandro faz muita falta para mim, para os nossos amigos, mas a gente não se deixou desanimar por isso. Pelo contrário. Ficamos até mais fortes. Passado o momento mais crítico, como você enxerga o assassinato hoje? Fui o último a chegar ao local do crime e, quando cheguei, já haviam retirado o corpo. E isso foi muito bom, porque consegui conservar o sangue frio e fui o primeiro a notar as câmeras de segurança. Mas a minha indignação era muito grande. Tanto que, no dia do velório, jurei ao Evandro que me licenciaria do Afroreggae até que todos os assassinos dele estivessem na cadeia. Encontrei com os assassinos do Evandro e fiquei
Tenho muitas sequelas, como os amigos que morreram, de ser tão conhecido e não saber mais quem é e quem não é meu amigo. Mas eu sei com quem eu posso contar, já que a maioria dos meus amigos está ligada ao Afroreggae
cara a cara com eles. Se você me perguntar se fiquei com vontade de dar um soco na cara deles eu te respondo: não. Se fosse há uns dois anos, eu até poderia ter feito isso. Mas hoje, não. Muito pela presença do Evandro, que, com certeza, estava ali ao meu lado. Uma vez até me perguntaram se um dia os assassinos viessem procurar o Afroreggae, se daria uma chance para eles. Daria, sim. Por acreditar na mudança que todo ser humano pode ter? Não. Simplesmente porque o Afroreggae deu chance para muita gente que fez mal a outras pessoas. E quando é com uma pessoa que fez mal a mim eu não vou dar chance? Então é isso: a dor que você sente, eu perdôo, mas a dor que eu sinto, não perdoo? Assim é muito fácil. Não pode ser assim.
Nas gravações da segunda temporada do ‘Conexões Urbanas’: a experiência de mediador de conflitos usada em frente às câmeras
fotos: arquivo pessoal
e pobre era bandido e mostrar para esse jovem, negro e pobre que nem todo policial era corrupto. Além disso, queríamos capacitar os policiais em música, teatro e basquete de rua. No primeiro momento, tínhamos cinco oficinas e queríamos ter uma média de 20 policiais por oficina. Faltando dois dias para o início do projeto, não havia nenhum inscrito. Então, o tenente coronel Josué, que hoje é coronel do 22º Batalhão, reuniu a tropa e obrigou 200 pessoas a se “voluntariarem”. Selecionamos alguns para o início do projeto e, nos primeiros três dias foi muito difícil. Eles não iam de moleton, pelo contrário, iam todos fardados e armados. Só que usamos isso a nosso favor e hoje esse é o charme do projeto. No quarto dia nós já tínhamos uma relação boa. No quinto dia, véspera dos coordenadores voltarem para o Rio, tínhamos policiais chorando. Isso demonstra o sucesso do projeto, que hoje é diretamente ligado ao gabinete do governador [Aécio Neves (PSDB)]. Temos convites para replicar esse projeto fora do Brasil e em outros estados do país.
Minha mãe é a pessoa mais importante da minha vida, mais até do que meus filhos e minha esposa
fotos: arquivo pessoal
Você costuma empregar experiências adquiridas em outras nações no trabalho desenvolvido no Brasil? Na maioria das vezes a gente é contratado para levar nossa experiência para fora do Brasil. Mas sempre trazemos coisas muito interessantes pra cá. Atualmente, não tenho viajado muito, mas sempre tem algo muito bom que podemos utilizar aqui. E essa redução no número de viagens tem algum motivo especial? Pra falar a verdade, odeio viajar. Adoro avião, adoro conhecer novos lugares, mas o fato de arrumar uma mala, de ir pro aeroporto, de descarregar a bagagem, me deixa nervoso. Odeio isso tudo. Por isso tenho aceitado menos convites. Continuando nesse lado mais pessoal, como você avalia o José Junior antes e depois do Afroreggae? A rebeldia e o jeito questionador continuam os mesmos. Mas tenho sentido falta de algumas coisas que eu fazia e que agora não consigo mais, como correr, por exemplo. Algumas amizades que eu tinha há uns 15, 20 anos e que não vou conseguir mais encontrar porque a maioria delas já morreu também me fazem falta. Eu estou menos preconceituoso, mas também mais ranzinza. Já tenho três filhos... Não sou igual, tenho muitas sequelas, como os amigos que morreram, de ser tão conhecido e não saber mais quem é e quem não é meu amigo. Mas sei com quem posso contar, já que a maioria dos meus amigos está ligada ao Afroreggae. Fora do grupo, praticamente não tenho amigos. Você afirmou que a maioria dos seus amigos de infância está morta. Por que com você foi diferente? Nem todos eles morreram em decorrência do crime. Muitos morreram de Aids, outros porque estavam na hora e no lugar errados. Eu dei sorte. E quem é a pessoa mais importante na sua vida? Minha mãe. Antes do Afroreggae, só ela. Tanto que, até hoje eu moro no mesmo prédio que ela e não saio de perto de jeito nenhum. A minha mãe é a pessoa mais importante da minha vida, mais até do que meus filhos e minha mulher. É mais fácil sair de perto deles do que da minha mãe, porque devo a ela tudo o que eu sou hoje. Até porque ela teve uma vida muito sofrida, desde pequena. Perdeu a mãe cedo, só tem um rim, meu pai batia muito nela... Quais nomes foram fundamentais para que o Afroreggae se tornasse tão grandioso? Wally Salomão, que foi meu grande mestre na área cultural, me fez acreditar em mim mesmo. Na parte social, o Padre Lorenzo Zanetti foi fundamental para a minha vida. Mas tem
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Parcerias do Afroreggae com a polícia: Projeto bemsucedido com os militares de Minas (acima). Ao lado de Sérgio Cabral (PMDB), governador do Rio, no lançamento do Papo de Responsa, que propõe o diálogo com policiais civis
muito mais gente, com o Caetano Veloso, a Regina Casé, o Betinho, pessoas que eu fui buscar ainda no começo do trabalho. Quais são os projetos do Afroreggae para 2010? A revista ‘Conexões Urbanas’ terá sua tiragem ampliada para 250 mil exemplares por mês. Em parceria com o jornal ‘O Globo’, vamos inaugurar o centro cultural Wally Salomão, em Vigário Geral, teremos um novo núcleo na comunidade de Parada de Lucas, as bandas Afroreggae e Afrosamba vão gravar um CD e iniciar turnê. No primeiro trimestre do ano que vem teremos mil pessoas encaminhadas pelo grupo, além de colhermos bons resultados com o trabalho realizado nas penitenciárias. Será um ano de muito trabalho, mas sucesso também. comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
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por Alex Capella
Senna eterno
Os fãs do piloto Ayrton Senna terão a oportunidade de relembrar o ídolo numa exposição que fará pare das atrações da 2ª Bienal do Automóvel, no Complexo de Exposição Gameleira. A partir de uma parceria com a organização do evento, que acontece em dezembro, o Instituto Ayrton Senna recebeu um espaço para homenagear o tricampeão de F1. No estande, estarão expostos seu primeiro kart e seis capacetes que o piloto usou em suas principais vitórias. Um deles é o de 1988, quando Senna conquistou seu primeiro Campeonato Mundial.
Chegando junto Sonho de consumo Pesquisa realizada com cerca de 120 mil estudantes de cursos ligados à área de negócios revelou que a PricewaterhouseCoopers (PwC) é a segunda empresa mais atrativa do mundo para os futuros profissionais. O levantamento foi feito, no mês passado, nas melhores universidades dos Estados Unidos, Japão, China, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Rússia, Canadá e Índia. O objetivo da empresa é capacitar os colaboradores e contribuir para a construção de carreiras de sucesso. O primeiro lugar ficou com a Google.
fotos: divulgação
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Nova Agência Impulsionada pelo aquecimento do mercado fashion e de eventos em Belo Horizonte, foi criada a House The Model’s Agency, mais nova agência de modelos da cidade. Com foco no bom atendimento, o principal diferencial da House é o fato de suas 150 modelos atenderem tanto a clientes de moda quanto da publicidade. Traduzindo, os sócios empresários Lucas Fonda, José Antonio Toledo, Jorge Ribeiro e Bruno Dib apostam no sucesso do biótipo típico da mulher brasileira magra e com curvas. O lançamento da agência foi realizado no fim de novembro. Mas, apesar do pouco tempo de existência, o empreendimento já conta com parcerias noutros estados brasileiros e em países como China, Portugal, México e Itália. Rua do Ouro, 136, loja 1 | (31) 3564-6416
A Aysle, no mercado de moda há seis anos, chega com tudo ao mercado mineiro, abrindo sua primeira loja de varejo. O shopping Diamond Mall foi o local escolhido para abrigar a loja da grife, que, antes, só podia ser encontrada em multimarcas de todo o Brasil. Focada no público jovem – masculino e feminino - a Aysle conta com uma linha 100% natural, do tingimento ao silk. O lançamento foi comemorado no último dia 24 no The Art From Mars.
Marcas conectadas A Mandi, marca jovem e de lifestlyle urbano, no Pátio Savassi desde setembro, agora é Mandi & Co – International Brands Connected. O nome já diz tudo: a partir de novembro, além das coleções próprias, o mix de produtos da loja foi incrementado com outras grifes de peso. Ótima maneira de fechar um ano que já era especial. A Mandi encerra 2009 com 17 lojas, em capitais como Brasília, Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Em dezembro do ano passado, havia apenas uma, na capital de São Paulo.
Inventando moda Lugar dos chiques e descolados de Belo Horizonte, o Bairro de Lourdes receberá, até o final do ano, um empreendimento que promete fugir do lugar comum. Sob a chancela da grife mineira Chicletes com Guaraná, que tem sua marca estampada em 232 pontos de venda espalhados no país, África e Europa, o casarão da esquina da Alvarenga Peixoto com Rio de Janeiro servirá de espaço para um mix da primeira loja-conceito da marca, com direito até a um piano-bar. O lugar reunirá o melhor da moda, gastronomia e da música. Depois da capital mineira, o projeto será lançado em São Paulo, no segundo semestre.
A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de novembro. Sugestões e informações para a edição de fevereiro entre em contato pelo e-mail da coluna.