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FEVEREIRO . 2010 . ANO 5
não tem preço
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EM BLOCO JUNTO É MELHOR QUE SOZINHO Ragga girl em dose dupla Um time gigante formado por anões Unidos no gelo: nosso repórter na Antártida Entrevista exclusiva Mano Brown e KL Jay falam de futebol, política, religião e, claro, música
#34
FEVEREIRO.2010
carlos hauck
Sou doadora de sangue e medula desde muito tempo, já escrevi sobre isso no site do Pato Fu e também em minha coluna semanal no Estado de Minas. O ato de doar é uma forma muito especial de mostrar ao mundo que você se importa com as outras pessoas sem nem mesmo conhecê-las. Decidi participar do Ragga Sangue Bom, porque o público mais jovem tem que ser lembrado a toda hora de que ele pode amplificar seu papel como cidadão de um jeito simples, seguro e essencial para quem precisa. Ser sangue bom é ser uma pessoa atenta ao mundo que nos cerca e tentar torná-lo melhor com pequenos gestos cotidianos. Fernanda Takai, cantora
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BÚSSOLA Voo israeli 16
Skatistas em Jerusalém e no Mar Morto
XTERRA 40
Esportistas, famílias e turistas na atividade
Dez anões e um goleiro
A incrível história dos Gigantes do Norte
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Deu branco 62
Notas exclusivas de nosso repórter na Antártida
Praia da Estação
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Quem foi que disse que BH não tem mar?
Dois homens na estrada Mano Brown e KL Jay, do Racionais MC’s, no Perfil
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já é de casa destrinchando estilo
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quem é ragga
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on the road // tiradentes
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cultura pop interativa
ragga girls: gabriela e fernanda feitosa
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eu quero! // sossego
60
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68 passando a bola 72 aumenta o som
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EDITORIAL
bruno senna
A FELICIDADE SÓ É VERDADEIRA QUANDO COMPARTILHADA Quem viu o filme ‘Na Natureza Selvagem’ sabe que o título acima foi a frase de conclusão de um isolamento no Alasca. Particularmente, adorei esse filme, e outro dia, por coincidência, li uma história que me fez relembrá-lo. O texto dizia que, na era glacial, enquanto muitos animais isolados morriam de frio, os porcos-espinhos descobriram uma técnica de sobrevivência que se baseava no simples fato de se manterem agrupados. Isso fazia com que o calor do corpo de um fosse transferido para outro e, dessa forma, o grupo inteiro formava uma grande massa de calor que os mantinham vivos. Porém, aos poucos, os porcos-espinhos começaram a perceber que não sentiam mais frio, mas se feriam com os espinhos uns dos outros e, então, observaram que tinham que manter uma pequena distância entre si. Dessa forma, mantinham o calor necessário sem comprometer a individualidade. Na verdade, não sei o quanto essa história é verídica, primeiro, porque não sei exatamente quando foi a era glacial (ignorância à parte) e, muito menos, se existiam porcosespinhos nessa época. Mas o que importa é que a metáfora funciona muito bem quando aplicada a seres humanos nos tempos de hoje. A já tão repetida frase “A união faz a força” não é tão clichê à toa. Pois é, realmente, uma verdade indiscutível. E falo dos níveis mais complexos, como o fato de o universo ser formado pela união de incontáveis micropartículas até a simples frase do meu oculista hoje: “cara... você tem 3 graus de astigmatismo no olho direito e seu olho esquerdo tem apenas 0,5. Você está sentindo dores de cabeça, porque o esquerdo está trabalhando pelos dois. Vamos equilibrar isso”. É esse o tema desta edição: a força do coletivo. Mas que preferimos batizar de “em bloco”, em uma justa homenagem ao Carnaval, já que, uma única serpentina não faz muito barulho, mas quando vira bloco, se transforma em um dos maiores espetáculos da Terra (pág. 34). Um anão sozinho também não ganha uma guerra, mas quando dez se juntam (e encontram um goleiro), se transformam no Gigantes do Norte. E aí, meu amigo, são praticamente imbatíveis (pág. 48). Já a coletividade na quebrada ficou por conta do Mano Brown e KL Jay, que formam, com exclusividade, o perfil desta edição. Mais um sonho antigo da Ragga agora realizado pela dupla de Brunos (Mateus e Senna), repórter e fotógrafo, respectivamente (pág. 74). Mas tem uma dupla ainda melhor do que essa na página 54. As gêmeas Gabriela e Fernanda deixaram o parque de diversões ainda mais animado no ensaio da Ragga Girl. Boa leitura e bom Carnaval. “Tamo junto”! Lucas Fonda :: Diretor Geral lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br
cartas DESAPARECIDOS POLÍTICOS Maria de Fátima Macedo // por e-mail Bruno Mateus, Sou Fátima, filha de d. Leonor. Nos falamos várias vezes por telefone quando você fazia a reportagem com familiares de desaparecidos políticos mineiros. [“História sem fim”, Ragga 32 — dezembro de 2009]. Quero parabenizá-lo pela reportagem e, em especial, a que você fez com minha mãe, porque ficou muito boa. Confesso que só hoje fiz uma leitura mais “desavisada”, mais “como um leitor qualquer”, porque, inicialmente, vi a foto dela e, cheia de “críticas”, disse: “O Bruno poderia pedir ao fotógrafo para melhorar essa foto. Ela ficou muito feia, a foto está cheia de sombras e blablablá”. Aí, fui pegando pedaços do depoimento dela e chorei. Guardei a revista, peguei de novo em um outro momento, li mais um pouco e guardei. Hoje, vi toda a revista e li na íntegra a reportagem. Vi a foto dela com outros olhos, com o mesmo olhar “carregado de carinho e saudades” que você tão bem referenciou. E todas as sombras e marcas em seu rosto deram-me a exata noção do tempo e da dor que essa história carrega. Parabéns, também, ao fotógrafo da reportagem. Hoje vi, também, pela primeira vez, a mesma história contada por ela, minha mãe, no seu conteúdo emocional (ela nunca nos relatou isso!). Por fim, quero parabenizar toda a equipe pela revista, pelo formato e conteúdo, que me agradaram muito. Sem palavras Rodrigo Fortini Boschi // por e-mail Acabo de receber a edição atual da Ragga. Quero parabenizar a equipe pela ousadia de fazer uma edição sem texto. Contando histórias ou momentos apenas com imagens. Não é algo que se possa fazer sempre, mas como experimentação e proposta conceitual de uma edição, ficou bem bacana! Abraços, Thaís Campos // por e-mail Queria deixar minha admiração: a revista de janeiro está simplesmente MARAVILHOSA. Realmente, uma imagem vale mais que mil palavras. Beijos.
FALA COM A GENTE! @revistaragga redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
expediente DIRETOR GERAL lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR FINANCEIRO josé a. toledo [antoniotoledo.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO nathalia wenchenck [nathaliawenchenck.mg@diariosassociados.com.br] GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING alessandra costa [alessandracosta.mg@diariosassociados.com.br] EXECUTIVO DE CONTAS lucas machado [lucasmachado.mg@diariosassociados.com.br] PROMOÇÃO E EVENTOS cláudia latorre [claudialatorre.mg@diariosassociados.com.br] ESTAGIÁRIA DE PRODUÇÃO anadapieve.mg@diariosassociados.com.br EDITORA sabrina abreu [sabrinaabreu.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTER bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] JORNALISTA RESPONSÁVEL luigi zampetti - 5255/mg DESIGNERS anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] isabela daguer [isabeladaguer@gmail.com] luiz romaniello [luizromaniello.mg@diariosassociados.com.br] ILUSTRADOR raul teodoro [mustaxd.com] FOTOGRAFIA bruno senna [bsenna.foto@gmail.com] carlos hauck [carloshauck@yahoo.com.br] dudua´s profeta [duduastv@hotmail.com] ILUSTRADOR CONVIDADO raul teodoro [mustaxd.com] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO daniel ottoni [danielottoni.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra. glauson mendes kiko ferreira. rafinha bastos COLABORADORES coletivo três16. daniel beck PÍLULA POP [www.pilulapop.com.br] RAGGA GIRL gabriela e fernanda feitosa FOTO carlos hauck PRODUÇÃO aninha dapieve e li maia MAQUIAGEM laninha braga CAPA pedro kirilos REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br] :: inkover [inkover.com.br] REDAÇÃO rua do ouro, 136/ 7º andar :: serra :: cep 30220-000 belo horizonte :: mg . [55 31 3225-4400] Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam necessariamente a opinião da Ragga, assim como o conteúdo e fotos publicitárias.
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anne pattrice
por Lucas Machado
Woodstock Eletrônico ‘‘...Lembre-se que os únicos limites da sua mente são aqueles que você acredita ter... E cada um de nós flui em tempos diferentes, mas em universos paralelos...’’ Autor desconhecido
foram mais de mil – e movimenta financeiramente toda uma Em 1954, Hugh Everett, então candidato ao doutorado comunidade extremamente carente. da Universidade de Princeton, em um dos seus discursos, Nunca houve dentro do festival uma briga ou ocorrência apareceu com uma ideia a princípio maluca: a existência de grave de drogas, apesar de elas existirem como em qualuniversos paralelos, exatamente como o nosso. Esses uniquer outro lugar. Hoje, vemos brigas homéricas, morte de versos estariam todos relacionados à nossa vida cotidiana, menores e tiroteios em casas noturnas que comportam treo que consumaria o fato da sua existência. Nesses lugares, zentas pessoas. as pessoas eram submetidas a experiências sobrenaturais. Loucuras à parte, vamos lá. Depois de 1600 quilômetros, Mas por que um jovem físico em ascensão arriscaria o futuro fomos chegando à Ilha d’ Ajuda, entre Itaparica e Morro de de sua carreira propondo uma teoria assim? São Paulo. A recepção não poderia ser melhor. Já na entraDepois de seis décadas, isso pode não ser considerado da, um rastafári gritava bem alto: “Vamos chegando. Mamãe tão assustador. Vivemos entre uma diversidade enorme de liberou a casa hoje, só não se esqueçam que aqui somos toculturas e comunidades alternativas. Mesmo sem nenhuma dos loucos, mas loucos uns pelos outros”. Aquela frase ficou vocação para cientista, foi exatamente essa curiosidade que na minha cabeça. Em cada sorme levou mais uma vez a quebrar alguns paradigmas que cercam Voltei para casa acreditando que o riso e gesto com poder de dar as mãos e compartilhar alegria, minha vida. Na psicologia, Jung mundo pode e será melhor aquele pensamento preconceisempre defendeu a teoria de tuoso inicial foi se apagando facilmente da minha cabeça. que não existe coincidência e, sim, sincronicidade. O evento é de total liberdade de expressão nas diversas Há tempos, ouço pessoas falarem a respeito de um evento formas de arte. O trance nasceu da geração ‘new hippie’, e o afastado de tudo, em que todos se confraternizam em prol de festival sempre foi feito para difundir a cena eletrônica e sua música e cultura: o Festival Universo Paralelo, realizado este cultura. Entre a natureza, quatro pistas e muita música, uma ano na Ilha d’Ajuda, a 80 quilômetros de Salvador. Para ser rua cheia de novidades e tendências de moda, fotografia, sincero, já detonei esse evento e critiquei muito. Como pode culinária de diferentes aromas, sabores e nacionalidades. E, uma pessoa passar vários dias acampando a mais de 1600km ainda, espetáculos de circo e teatro com 500 artistas, todos (tendo BH como ponto de partida) longe de casa, naquela psios dias, ioga e pilates. codelia toda? Como sou um ser que tem vida em abundância e Na real, é como se você estivesse com 15 mil irmãozicuriosidade em excesso, comecei a ouvir música eletrônica e nhos conectados na mesma vibe, não tem como explicar. Já ler mais sobre os festivais. Tempos depois, recebi um convite passaram nas 10 edições do evento estrangeiros de 100 paípara participar da 10ª edição do festival — o que não foi coincises de todas as partes do mundo, que dividem o espaço com dência. Como o mundo dá voltas, fui com tudo. índios, crianças e galera em geral. Depois do Universo PaDepois de entrevistas e pesquisas, o que mais me imralelo, voltei para casa acreditando cegamente na revolução pressionou foi que as minhas ideias preconceituosas não das pequenas coisas e que o mundo pode e será melhor. condiziam com os fatos, muitos menos com os números. O Vai vendo, ou melhor, vai lendo. Será que existe um lugar Universo Paralelo partiu de um sonho de um cara que infeonde eu possa ser eu mesmo, ser totalmente livre, me liberlizmente não está mais entre nós: Silvinho Romano. Esse sotar de todas as amarras que me prendem? Onde consiga me nho — ou herança — foi deixado nas mãos de Juarez Petrillo, refugiar das maldades do mundo, numa comunidade onde ou Dj Swarup, um goiano determinado que levou esse sonho todos são iguais? Existe, sim, esse lugar. Durante sete dias para frente. Por onde passa, o UP leva arte e cultura para as no ano, onde o céu é azul e o universo é paralelo. comunidades, emprega centenas de pessoas — só neste ano
Manifestações: lucasmachado.mg@diariosassociados.com.br | Twitter: @lucasmachado1 | Comunidade do Orkut: Destrinchando J.C.
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COLABORADORES
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PROMOÇÃO
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Você já sabe: para ganhar uma assinatura semestral da Ragga, basta responder à pergunta: “Quem é o cara mais Ragga da história da humanidade?”. Pode ser do esporte, da música, televisão, literatura ou ciência. Não importa, pode ser até aquele maluco que mora perto da sua casa. Para convencer a redação de que sua resposta é a melhor, vale mandar uma defesa para promocaoragga@uaigiga.com.br em forma de texto, foto, ilustração, escultura, bricolagem, mosaico, maquete de vulcão, feijão plantado no algodão com água, imagem de objetos produzidos a partir do lixo, feitas de dentro de um helicóptero (estilo Vik Muniz). Não se esqueça de colocar o telefone de contato.
Alex Capella é professor e jornalista apaixonado por boas histórias, e acaba de visitar nada menos que o continente gelado. Na Ragga, desde o começo da revista, mostra suas aventuras inusitadas rumo ao interior da alma humana. É dele o Na Gringa, “Elefante indomável na Antártida”. alexcapella.mg@diariosassociados.com.br Daniel Beck nasceu em Moscou, mas vive em Jerusalém há mais de 20 anos. Apaixonado por fotografia e skate, formou-se na Musrara School of Photography e publicou o livro ‘Jerusalem Scene’, em que documenta as especificidades do esporte na Terra Santa. Foi da proximidade de Daniel com os skatistas do país que surgiu o ensaio Playground israeli. danielbeckphoto.com danielbeckphoto.blogspot.com
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NOVEMBRO.200 9
Flordelis Os Schürmann Dinastias da Lucha Libre Desaparecidos políticos
. ANO 4 NOVEMBRO . 2009
FAMÍLIA
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. ANO 5
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Coletivo fotográfico movido pela ideia de contar histórias, o Três 16 viaja o Brasil e o mundo em busca de personagens que valham a pena conhecer. Nesta edição, eles apresentam os hippies da matéria “Tudo junto e misturado”. tres16.com
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E mais: José Junior Moto GP Natiruts na SANGUE BOM Austrália No meio do mato Almanacão Conheça a Univer de férias sidade
VALE MAIS
AVRAS QUE MIL PAL
do Meio Ambien Paulo Lima, te, em Curitib empresário a “Quem ainda acredita que precisa urgent o dinheiro é a solução emente repens ar isso” Não é utopia A Ragga faz um convite para você constru ir um mundo melhor
*Todas as frases enviadas podem ser usadas na revista, assim como o nome dos remetentes.
Bob é o cara O vencedor da promoção, em janeiro, foi Alexandre Carlos Cardoso. Para ele: “O cara mais Ragga da humanidade é Bob Marley! O termo ragga vem do reggae, então ele é o cara!”
É 100 Dia 21 de janeiro, circulou a edição número 100 do Ragga Drops, suplemento adolescente do jornal Estado de Minas. E as razões para comemorar não param por aí. No fim de fevereiro, o irmão mais novo da Ragga fica mais velho. Para o aniversário de dois anos, vem aí novo projeto gráfico. É big.
e-Duca Fevereiro é inicio do calendário letivo e, para combinar com as novidades pós-férias, a Ragga apresenta um novo colunista. Glauson Mendes (veja na página 26) escreve sobre educação e questões que contribuem para uma vida mais significativa, segundo palavras dele: “algo na linha do faça algo que goste, que tenha sentido para você e, de alguma forma, contribua, coopere, viva a abundância e não a escassez. E relaxe. O tempo e sua perseverança irão jogar a seu favor”. A partir deste mês, sempre na Ragga.
Outro recorde
O site da Ragga, no Portal Uai, bateu mais um recorde: foram 1.494.146 pageviews em dezembro. Para ver as fotos de quem é Ragga e outros conteúdos inéditos, acesse: ragga.com.br
ILUSTRADOR CONVIDADO
Raul Teodoro
[mustaxd.com]
Quer rabiscar a Ragga? Mande seu portfólio para anneprattice.mg@diariosassociados.com.br!
Raul Teodoro é designer, nascido em Belo Horizonte, apaixonado por tipografia, posters, websites e interatividade. Utiliza colagens manuais e digitais como parte do seu processo de experimentação.
ENSAIO
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skate
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ground israeli fotos Daniel Beck
Quando um parque aquático desativado próximo ao Mar Morto e as ruas de Jerusalém viram área de lazer para skatistas
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Arredores do Mar Morto www.revistaragga.com.br
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JerusalĂŠm
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JerusalĂŠm comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
divulgação
>> REFLEXÕES REFLEXIVAS DO TWITTER > rafinha bastos > é jornalista, ator de comédia stand-up e apresentador do programa ‘CQC’ (Custe o Que Custar)
Só os fracos dormem e previsões para 2010 :: Previsão para 2010: Gugu fará um programa especial com imagens exclusivas dos Mamonas Assassinas. :: Previsão para 2010: Uma pessoa com o braço engessado vai ouvir a pergunta: Muita punheta, né? :: :: Maconheiro que é maconheiro odeia rasgação de seda. :: Um chocólatra em crise é um perigo para a sociedade. Confesso... Eu mataria por uma barra de Kit Kat. :: Os acidentes de carro diminuiriam se os airbags fossem recheados de bosta. :: Recebo muitas ameaças de morte via Orkut. É isso aí, bandido que é bandido não usa arma, manda scrap. :: A queda do muro de Berlim deu fim ao comunismo e ao campeonato alemão de squash.
:: Você me acha feio? Pois saiba que o vídeo me deixa muito mais bonito. :: Eu tenho medo de quem dorme às 23h. :: Sete da manhã. Zumbis, drogados, depressivos e vigias. É nóis. Sempre. #DormirEhProsFracos :: Eu sou o Highlander do sono. #DormirEhProsFracos :: O que o Veríssimo da Trip está fazendo na manhã da RedeTV? Mano, vai pra casa! :: Não vejo sol em SP há 40 dias. Isso que dá eleger um governador vampiro. :: Sempre que morre um escritor, o mundo me chama de ignorante por não ter lido um livro dele. Vai pro inferno, mundo!
Uau! Esses óculos do ‘Avatar’ funcionam na rua também! Dão a impressão que os carros vêm em sua direção e...
raulvorko teodoro design
:: Que vontade de conhecer gente descolada e interessante. Vou ligar para o Super-Papo agora.
:: Eu não sou feio, o mundo que é muito exigente.
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PROVADOR > cris guerra > 39 anos, é redatora publicitária, ex-consumidora compulsiva, ex-viúva, mãe (parafrancisco.blogspot.com) e modelo do seu próprio blogue de moda (hojevouassim.blogspot.com).
QUANDO APRENDI A DIZER “EU TE AMO”
pouco tempo que me permito falar rasgado. Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-movo-cê. Não para mandar com flores, mas para fazer flores com as palavras. Não só para amores do sexo oposto, eleitos para dividir a vida com a gente. Mas para todos os que verdadeiramente amamos. São muitos. Amamos quem divide com a gente um dia de trabalho. Amamos quem nos faz rir. Amamos quem dá ou aceita ajuda. Amamos quem sabe ser carinhoso. Existe amor em nós e é bom falar sobre ele. É energia que se multiplica e torna melhor o dia, o tempo, a vida. Certa vez, convivendo com a família do pai do meu filho, já sem a sua presença, ouvi da mãe dele um “amo você”. Hoje, digo a eles o mesmo. Falar de amor me transformou para sempre. Com o tempo e os fatos, reparei que meus irmãos e amigos também aprenderam. Acho que a vida ensina ao roubar de nós momentos e pessoas. Passamos a entender que o tempo não volta. É melhor ter a certeza de ter dito o que sentimos. Quando decidi escrever sobre isso, cheguei em casa tarde e havia festa no prédio — meu humor piorou quando notei que o repertório era sertanejo. Não houve como não ouvir os convidados cantando ‘Amigos para sempre’ em uníssono, provocando em mim uma alegria que me pegou de surpresa. “Devo estar ficando velha”, pensei. É o contrário: finalmente estou jovem porque agora entendo.
Sim, falar. Não escrever num cartão ou sussurrar no ouvido de alguém. A-mo-vo-cê
raul teodoro
Ele era só um colega de trabalho que cada manhã abraçava as pessoas para um bom dia e um beijo, fosse homem ou mulher. “Linda”, era como ele se referia à mãe ao falar com ela por telefone. Não raro, se despedia-se dizendo “Eu te amo”. Gostar dele foi fácil. Em pouco tempo éramos amigos a trocar histórias. (E amigos sentem o amor mais bonito que se pode amar.) Um dia, depois de contar a ele algo que me entristecia, recebi um e-mail: “Eu amo você”. Não era uma declaração romântica, eu sabia disso. Mas fiquei olhando para a tela, tentando disfarçar certo constrangimento. Ele era casado, eu também. Meses depois, as coisas mudaram. Numa festa de trabalho, ele falou da paixão que sentia por mim. Eu já havia esquecido aquele email — que era apenas uma prova da pessoa especial que ele era. O primeiro “Eu te amo” era amor puro, sem sedução. O segundo, sim, tinha uma dose de paixão. Ele me ensinou a falar de amor. Amor que esteve presente do início ao fim em uma história que teve curtos dois anos de duração — ou, dependendo do ponto de vista, uma história para sempre. É que antes de deixar este mundo, ele me deixou um filho. Um jeito definitivo de falar de amor. Foi para esse filho que recitei o meu amor por seis ou oito vezes, ao sair da garagem outro dia, pela manhã, e ver sua cabecinha na janela para se despedir. Não me lembro de ouvir minha mãe gritando essa frase para mim de onde quer que ela estivesse. Venho de uma família amorosa, mas que costumava reservar as palavras de amor para cartas escritas em datas especiais — que líamos com lágrimas nos olhos e certa timidez. Faz
elisa mendes
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O que lhe faz levantar da cama todos os dias?
wagner veloso
novo mundo. @glausonmm.
“Por não saber que era impossível, foi lá e fez.” Jean Cocteau
Você sabe qual medicamento é um dos campeões de vendas e que dão uma boa ajudinha no caixa dos laboratórios farmacêuticos? Pensou no Viagra? O levanta falecido, de fato, tornou-se imbatível nos últimos anos. Mas a referência aqui se faz aos milhões de consumidores que recorrem aos antidepressivos como forma de aliviar os sintomas da anomia. Termo cunhado por Durkheim em seu livro ‘O Suicídio’, anomia representa uma espécie de ausência de significado de vida, um sentimento de estar à deriva. “Caraca, que que eu tô fazendo aqui?”. Freud, em seus estudos, já visionava esse mal-estar da civilização que estava por vir. Muito se fala sobre a formação de uma crescente consciência coletiva — mais importante do que chegar lá, é como se chega lá. O caminho para a realização pessoal se faz por meio do que vivemos aqui e agora, alinhando atitudes e sentimentos guiados por valores e propósitos. Aprendizado da civilização ou utopia? Quem já viveu essa experiência, jura de pé junto que simplifica a vida, dando a ela um sabor colorido. Concorrer ao vestibular. Ser melhor que o outro. Crescer horizontalmente na carreira. Foco em si. É isso que manda a cartilha da Era Industrial. Mais rápido, mais eu, onde um ganha, o outro necessariamente perde. Paradoxalmente, a
cada dia conhecemos outras belas e bem estabelecidas formas de riquezas advindas da cooperação: Wikipédia, Médicos sem Fronteiras, Live Aid. Se tempo é dinheiro, como dizem, o que faz cada vez mais gente no mundo contribuir em prol de algo maior? Poder olhar para trás e ver o quão realizadora foi a jornada por aqui, e o quanto se enxerga e se reconhece nela, parece mesmo se tornar desejo crescente. Medo de passar pela vida sem deixar nada de bom? Nosso íntimo quer algo mais? Pensadores progressistas apostam que nossa essência natural está ligada em contribuir com algo ou com alguém, cada um com seus limites e possibilidades. “Devedor da vida ao invés de credor do mundo”, como diria o amigo e escritor Roberto Tranjan. Se anomia faz algum sentido ou não, optar por descobrir um propósito energizado, alinhar com os valores que você não negocia e viver tudo isso intensamente, pode ser uma boa opção! Um rebelde com causa tem a vibe diferente nos dias em que a maré parece estar contra. É tipo a força para o Skywalker... Ou, quem sabe, um dia, dar uma passadinha na farmácia da esquina.
raul teodoro
Se tempo é dinheiro, como dizem, o que faz cada vez mais gente no mundo contribuir em prol de algo maior?
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COMPORTAMENTO
Mikon Martins, o Urso
TUDO JUNTO E MISTURADO texto e fotos Coletivo Três 16
Numa comunidade do interior de Minas, hippies compartilham o trabalho, a renda e as refeições, mas fogem do roteiro, casando de papel passado e evitando as drogas
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Nos Estados Unidos, entre meados das décadas de 1950 e 1960, surgiu uma leva de jovens que se recusavam a sucumbir diante do império do terror, da produção e do consumo. Era a Geração Beat. Mais pra frente, em 1965, o termo hippie foi usado pela primeira vez para designar uma legião que aderiu às ideias dos Beatniks. O uso de drogas, o sexo livre, o Flower and Power, o submarino amarelo e a galera dentro de uma Kombi colorida viajando sem rumo. O movimento no Brasil não veio com uma pessoa, mas sim um aglutinado de artistas plásticos que eram hippies, na verdade, na década de 1960 era comum ver muita gente expondo seu material — batas, bolsas de crochê e bambu, miçangas, tererês e velas — pelo Brasil. Em Belo Horizonte não foi diferente. Em 1969, a Praça da Liberdade era tomada por barraquinhas até não caber mais, e em 1991 as barracas começa-
ram a tomar a Avenida Afonso Pena. Sem dizer, que no estado todo, ainda hoje é forte a presença das ideias hippies e dos artesanatos — Ouro Preto e São Tomé das Letras são exemplos da grande parada de “malucos” por aqui. Nessas andanças e descobertas novas, outros hippies apareceram, mas agora com um conceito bem diferente. Em São José dos Buritis, distrito de Felixlândia ao Leste de Minas e à beira da BR 040, encontramos uma comunidade hippie sedentária. Se o homem passou a se desenvolver no momento em que se estabilizou em um só lugar, deixando de ser nômade, por que não aconteceria com os hippies também? A comunidade funciona como uma grande família desde que foi fundada. Casé, um hippie com “h” maiúsculo, clássico e barbudo, andava nas ruas e via os “malucos” jogados, passava uma ideia franca a eles e mandava todo mundo para casa dele. Com o tempo, a demanda era maior que a capacidade, e num consenso, entenderam que seria melhor buscar um novo lugar. Acharam um lugar em Contagem. Assim, se desenvolveu a comunidade. No decorrer do tempo, mais uma vez, o espaço não era bastante para tantos hippies, e foram em busca de outro lugar. Acharam um terreno bom em São José dos Buritis e findaram suas raízes. A comunidade, que no começo deste século chegou a mais de 300 hippies, hoje tem cerca de 40, e
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Cada um produz e vende por si, mas no fim, todos fazem um “junta-junta “ para pagar as contas
com novos “cabeças”, Lucas e Maria. Lucas, nascido em Brasília, chegou à comunidade com 17 anos, conta sua história. “Aos 15, tive alguns problemas com minha família. Isso me levou a fugir de casa. Falei para minha mãe que ia acampar com uma turma e fui parar em Belém do Pará.” No meio hippie, é comum ouvir que quem não vai até Belém do Pará não é “maluco” de verdade, e nessa ida pra Belém, conheceu Maria, sua mulher. Eles têm três filhos legítimos, Israel, Áquila e Thalita, e um adotado, Girassol. Mas, além desses, há mais um tanto que os consideram como pais, outros como irmãos ou até mesmo tios. “Falei para o Lucas, nesses dias, que tenho ele como meu irmão”, afirma Mariana, moradora da comunidade, que é mãe de quatro meninas e um menino. Sempre que possível, todos estão reunidos no almoço e no jantar. Mas nem só de refeições juntos vive uma família. À tarde, vem todo o processo de limpar a comunidade e trabalhar. As tarefas são divididas: uns coletam as sementes — principalmente a do Buriti, uma árvore que nasce em áreas alagadas —, outros tingem as sementes e as pecinhas de coco. Depois, todos da comunidade fazem seus adornos. Cada um produz e vende por si, mas no fim, todos fazem um “junta-junta “ para pagar as contas, ajudar na alimentação e na estruturação da “comuna”. É comum viajarem no verão para o litoral, para vender as peças e ganhar um dinheiro. “O movimento hippie, em sua essência, chegou ao fim. Hoje só se exporta o estereótipo”, diz Everton, que está na comunidade desde 2003. Mikon Martins, mais conhecido como Urso, completa: Hoje, há um sistema de estradeiros noBrasil, “o sistema BR”, como a galera fala, em que o artesão tem que estar em um lugar, estar em outro e tem que ter um dialeto pra se identificar como hip-
Fonte de renda: sementes de árvores e capim dourado são as matérias-primas do artesanato produzido pela comunidade
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Em São José dos Buritis, distrito de Felixlândia ao Leste de Minas e à beira da BR 040, encontramos uma comunidade hippie sedentária. Se o homem passou a se desenvolver no momento em que se estabilizou em um só lugar, deixando de ser nômade, por que não aconteceria com os hippies também?
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pie. Muitos não se vêem como artesãos que trampam e viajam e, sim, como hippies”. Alheia a essas polêmicas, a comunidade segue aberta a qualquer um, funciondo como um ponto de apoio para os estradeiros. Quem quiser pode parar lá, comer, tomar banho, ou só lavar a roupa mesmo. E pode, ainda, aprender técnicas de artesanato. Outro detalhe que chama a atenção é o fato de os líderes hoje passarem a uma nova visão. Eles creem que a associação
entre liberdade e drogas não é a verdadeira. Também não é raro encontrar pessoas que foram em busca da família e refizeram seus laços, deixaram de ser amasiados e se casaram legitimamente. Nessa pegada, o mais interessante é ver que, quem antes pregava o revés dos valores de família, a liberdade rebelde e o hedonismo, hoje procura rever essas ideias. Parece que o tempo pede mudanças em toda a sociedade. E os hippies não estão fora disso.
ESTILO
MELL JUANITA MACIEL JR. por Lucas Machado fotos Bruno Senna
Mell usa: vestido Tereza Santos, sapato Claudina, cinto e pulseira Inkaico e brinco Cristina Barros Aos 28 anos, a modelo e apresentadora de TV Mell Juanita Maciel, tem muitas histórias para contar. Nascida em BH, aos 15 mudou-se para a Bolívia, onde morou em Cochabamba, La Paz e Santa Cruz de la Sierra. Por lá, terminou o ensino médio e se formou em relações públicas. Após a graduação, participou dos dois maiores grupos de teatro boliviano, o Chaplin Show e o Tralalá, fazendo peças como ‘Las malditas infieles’, voltada exclusivamente para o público feminino e que ficou em cartaz durante cinco anos. Na TV, fez vários programas musicais para jovens até ser chamada pelo famoso produtor Cláudio Ozório para um programa de esportes extremos, com produção da Telefe, o principal canal de TV da Argentina. No seu playlist toca de tudo, mas a sua preferência é pela MPB. Mell se casou há seis meses e agora espera o nascimento do seu primeiro filho. Ela adora ler e seus autores preferidos são o boliviano Willy Kenning e a chilena Isabel Allende. De volta ao Brasil e à moda, ela é proprietária da marca de acessórios Inkaico, junto com sua sócia, Ana Ribeiro. O artigo que mais chama a atenção em suas coleções é o awayo, tecido utilizado em todos os países andinos que tem como característica principal expressar na criação os sentimentos e a arte de viver. No mais é só conferir no blog: inkaico.blogspot.com.
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ENSAIO
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carnaval
QUERO É BOTAR MEU BLOCO NA RUA fotos Pedro Kirilos
Cenas da Sapucaí, para já ir aquecendo os tamborins
CARNAVAL
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theo ribeiro/fotocom
ESPORTE
por Daniel Ottoni
XTERRA se consolida como um dos maiores eventos esportivos do Brasil, ao ter na organização seu ponto alto. Plataforma para o turismo é o diferencial Quem é melhor: triatletas ou bikers? A partir dessa pergunta, foi criado, em 1996, na ilha de Maui, Havaí, o XTERRA, para descobrir em quais modalidades os atletas teriam mais resistência. Atualmente, o evento é considerado o mais importante do mundo, quando se fala em triathlon cross country. Na terra brasilis, o XTERRA chegou em 2005, sediando, em Ilha Bela, uma etapa do Global Tour, o circuito mundial
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de triathlon. O responsável pelo evento no Brasil foi Bernardo Fonseca, diretor comercial da X3M Sports Business. “O XTERRA estava crescendo muito no mundo todo e se tornando um movimento global”, conta. Depois do primeiro teste, a demanda cresceu. Em 2007, etapas regionais foram criadas e, em 2009, surgiu o XTERRA Series. “O Series tem a essência da competição, que é o envolvimento com a natureza. Ela serve para muitos como treinamento”, analisa o organizador. A etapa regional é distribuída em estados de grande concentração de atletas, sendo considerada a competição mais
Para 2010, já estão confirmadas 15 etapas. Entre elas, uma no Espírito Santo e outra em Manaus, em meio à floresta Amazônica alexandre cappi
importante, logo atrás da etapa mundial, o XTERRA Brasil. Bernardo mostra que o lance é ter no esporte uma ‘desculpa’ para conhecer novos lugares. “Entre os participantes, 95% são famílias”, mostra. Para atender bem a todos, há organização e estrutura de primeiro nível. “O diferencial é o foco na família. O evento serve como uma plataforma de turismo e dá opções de correr ou pedalar em um lugar diferente, interessante para todos”, completa. Minas Gerais recebeu em 2009 duas etapas regionais nas cidades históricas de Ouro Preto e Tiradentes. Para 2010, serão duas etapas em Minas, nas cidades de São Lourenço (13 e 14 de março) e Tiradentes (18 e 19 de setembro), e uma terceira na cidade capixaba de Domingos Martins (15 e 16 de maio). Outra novidade para este ano é a realização de uma etapa regional no Espírito Santo e outra em Manaus, em meio à floresta Amazônica. Para se ter uma ideia do crescimento do evento, em 2005, era realizada apenas uma etapa por ano, com a presença de 450 participantes. Em 2010, o número de etapas foi multiplicado por 15 e o de participantes subiu para espantosos 30 mil. Os investimentos alavancaram de R$ 1 milhão, em 2005, para mais de R$ 20 milhões. Vale relembrar
Além de uma competição, o XTERRA é uma opção de lazer: as famílias formam 95% dos participantes, os atletas profissionais correspondem aos outros 5% márcio rodrigues
Ouro Preto recebeu a competição nos dias 3 e 4 de outubro de 2009. As atrações foram as provas de duathlon e Night Trail Run, além dos 45 km de pedal. Quem fez bonito no duathlon foi o mineiro Ernani de Souza, que ficou em terceiro lugar. “O mais diferente é o terreno, já que estou acostumado a treinar em asfalto”, pontua. A organização e estrutura foram os pontos altos. “Como parte do percurso é fora da cidade, existe um bom risco de se perder. Mas as marcações foram muito bem feitas e pontos de hidratação eram vistos a todo momento”, declara. Nomes importantes como dos triatletas brasileiros Alexandre Manzan e Felipe Molleta e também do americano Brian Smith e da argentina Maria Soledad Omar confirmaram a importância do evento no cenário internacional. Márcio Ravelli, representante do Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta, 1996, ficou com a sétima colocação na prova de moutain bike, em Ouro Preto. “O circuito foi muito bem elaborado e a estrutura foi sensacional, características já conhecidas de Bernardo”, elogia. No XTERRA Regional, que rolou entre Tiradentes-São João Del-Rei, nos dias 28 e 29 de novembro de 2009, Ernani, mais uma vez, fez bonito e ficou com o primeiro lugar. Entre os ciclistas de destaque, Rubens Donizete, representante do Brasil nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e melhor latino-americano no Mundial de 2009, conquistou o bi. Ele já havia levado o primeiro lugar em Ouro Preto. No feminino, a americana Shonny Vanlandingham cravou a liderança. Érica Gramiscelli, que havia sido campeã em Ouro Preto, ficou em segundo e Cristina Carvalho, em terceiro. Uma das ideias fortalecidas no XTERRA a é a união da prática esportiva sustentável com o respeito à natureza, que oferece cenários deslumbrantes. Entre os cartões-postais, estão igrejas, ladeiras e montanhas, misturadas com os litorais paradisíacos. O estímulo da preservação ambiental é comprovado nas etapas por meio da conscientização do público e dos participantes.
ON THE ROAD >> tiradentes
VIAJO porque amo, VOLTO porque preciso Curtas, histórias e personagens da Mostra de Cinema de Tiradentes Tiradentes, 98km. Mal terminei de ler a placa e fui cortado por três caminhonetes pretas idênticas, cabines duplas, bancos de couro, rodas de liga leve e acendedores de cigarro prateados, do lado da marcha. Estavam a 160km/h, no mínimo, acelerando contra o vento e desafiando as curvas sinuosas da estrada; de trás dava para ver as três carrocerias ondulando de um lado para o outro, trôpegas. “É o pessoal do cinema”, pensei, figurões de meia-idade que conseguiram viver de arte, de imagem e que sobreviveram aos loucos anos 1980 de Hollywood, e do mundo, quando a sétima arte foi engolida pelo pó, pela depravação e pelas múltiplas investidas do capitalismo. Mas nada disso impediu que diretores, produtores e entusiastas do ramo continuassem acelerando loucamente por qualquer estrada que encontrassem pelo caminho, estilo Easy Rider, O Selvagem e, sei lá, Stallone Cobra. Muito pelo contrário. O cinema sempre exigiu ação, velocidade, mudança de quadros, adrenalina, emoções extremas e grossas balas de ecstasy. “O que se faz parado é fotografia”, já dizia um sábio milenar que viveu nos Andes, amigo de Steven Spilberg e Paulo Coelho. O resto é Wim Wenders. Cheguei depois de mais uma hora de viagem e fui fazer o check-in na pousada. Fui atendido por Rafael, um sujeito tímido de vinte e poucos anos rosto pálido e cabelo loiro. Não perguntei, mas devia ter sobrenome alemão. Garantiu-me que os últimos dias da Mostra de Cinema costumam ser sempre melhores do que os primeiros. “Belo Horizonte fica sabendo que aqui está bom e todo mundo
vem. Sabe como é?” Deixei as malas no quarto e saí para andar. No caminho, descobri o nome do filme que abriria a mostra e encontrei uma razão para estar ali, longe de casa. VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO José Renato vai ficar 30 dias fora de sua cidade. Não porque quer, mas porque precisa. Para passar o tempo, escreve. Escreve de casas esquecidas na beira da estrada, de quartos de motéis sujos, em postos de gasolinas abandonados pelo tempo e no pôr do sol do Nordeste, uma paisagem seca que não tem fim. É geólogo, estuda as transformações das pedras, mas não consegue entender a inconstância do amor. Viaja porque tem que ir e volta porque não sabe ficar. Parece Karim Aïnouz, o codiretor da história cujo personagem principal é José Renato. Ele viaja o mundo para ver, experimentar e sentir, mas volta para rever a família, os amigos e Fortaleza, uma cidade difícil de ser deixada para trás. Estava em Tiradentes de passagem – agora deve estar viajando – e, neste ano, foi o diretor homenageado pela mostra. Não entendeu o reconhecimento e até “se olhou no espelho” quando recebeu a notícia pelo telefone. Não queria enxergar que ali estava alguém que conseguiu traduzir, em imagens, o que é a vida de quem vive na estrada. Demorou algum tempo para que eu parasse de pensar na história de José Renato. Passei pela pousada e peguei uma câmera, um bloco de anotações e duas canetas, só de garantia. Atravessei
Biagioni s Bernardo texto e foto
Bernardo desembola um blues no pé da Serra de São José
a Rua Ministro Gabriel Mendes, a principal da cidade, andei menos de cem metros e, na altura do número 77, vi que alguma coisa estava escrita sobre um portão verde. Cheguei perto para ver o que era. CASA DA INSANIDADE MENTAL Eduardo Fonseca, de 34 anos, me recebeu na porta. Herdou a casa do avô há alguns anos e, desde então, resolveu oferecer uma opção diferente de festa para quem aparece em Tiradentes em alta temporada, como na Mostra de Cinema e no Festival de Gastronomia, que rola anualmente em julho. São três su-
ítes, uma sala e um quintal. De decoração, um pôster da Monalisa fumando um grosso baseado, bandeiras, sofás e discos antigos e a parede descascada. A Casa da Insanidade Mental já serviu de palco para apresentações de Tianastácia, Falcatrua, Marina Machado e até para o cosmonauta Ventania. Tudo na camaradagem. A banda chega, monta o som e escolhe a música certa. Tem que ser a música certa. Essa fórmula atraiu para a casa tanto Matheus Nachtergaele, legítimo nome da loucura brasileira, quanto o Zé Pequeno (Leandro Firmino da Hora), aquele do ‘Cidade de Deus’. Do sofá onde eu conversava com Eduardo, dava para ver a banda Gotta na entrada da casa afinando os instrumentos e repassando a lista de músicas que tocariam em algumas horas. Em cima deles, um céu azul imenso, como não via há algum tempo. Pensei na cachoeira que vi quando entrei em Tiradentes e garanti para o vocalista que voltaria mais tarde. Só faltava saber onde é que eu tinha colocado o meu CD do Planta e Raiz.
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COM CERTEZA, VOCÊ JÁ SE BANHOU NA QUEDA DE UMA CACHOEIRA Todo mundo descobre o reggae, cedo ou tarde. Confesso que eu mesmo demorei a descobrir, precisei descer a Serra do Mar e conhecer Trindade, no Rio de Janeiro, para entender o ritmo, a missão, a mensagem. E a banda Planta e Raiz tem a mensagem, pode ter certeza. Por isso aumentei o som ainda mais no caminho para a cachoeira, e cantei como se estivesse pregando, “sentindo a sensação da alma sendo purificada por inteiro”. Quando você entra nessa, meu amigo, não sai mais. Estacionei perto da Serra de São José e fiquei assistindo à água cair. A natureza sempre foi um espetáculo à parte, melhor do que qualquer cena, curta ou longa. Olhando de baixo, perto da piscina natural que se formou no pé da montanha, era possível enxergar um arco-íris riscando de ponta a ponta o céu azul. Ao longe via-se uma dúzia de nuvens densas se movimentando rapidamente, o vento trazia do leste um cheiro forte de chuva e de terra molhada. O dia começou a escurecer. I USED TO LOVE HER. BUT I HAD TO KILL HER Neto não conhece Guns ‘N’ Roses. Em comum com o vocalista Axl Rose, porém, está uma vontade adormecida de ter assassinado uma ex-namorada. “Escrevi uma música para ela quando terminamos. Ficou pesada”, me confessou enquanto dava um último trago no cigarro apagado na mão esquerda. Começamos a conversar no gramado que fica em frente à igreja São Francisco de Paula, de onde se tem uma vista panorâmica de toda Tiradentes, e logo passamos a discutir a importância do CD ‘Acebolado’, do Tianastácia, para o legado do rock’n’roll brasileiro. Neto é de São Paulo e mora em Tiradentes há cinco anos.
Na última visita aos amigos paulistas, acabou ficando com uma prima que não via desde pequeno. Sem querer. Na Mostra de Cinema de 2007 fez uma festa na sua casa e chamou quatro amigos e 12 meninas da região. Viraram a noite tomando vinho Canção, catuaba e alguns aditivos especiais. Segundo ele, “o pau quebrou”. Desde então, o festival nunca mais foi o mesmo. Despedi de Neto e fui até a Casa da Insanidade. A banda Gotta começou com alguma música do Red Hot Chilli Peppers e foi logo emendando boas velharias do rock. Estava anoitecendo e logo na manhã seguinte eu teria que deixar a cidade. Tinha assistido a um único filme, trocado o jantar da imprensa por um show de blues e perdido todos os cafés da manhã da pousada. Sem arrependimentos. Já estava pronto para sair fora. O DESTINO NÃO É IMPORTANTE. MAS, SIM, A VIAGEM Coloquei tudo de qualquer jeito no carro, o violão sobre a câmera, a câmera sobre o chapéu de palha, e o chapéu de palha sobre as roupas sujas de lama. Apesar das nuvens escuras no céu, parei no caminho para despedir da cachoeira e das energias positivas que escorriam pela queda d’água. Meio hippie, mas é isso aí. Peguei a estrada assim que escutei a voz de Robert Plant vindo de algum lugar. Talvez do meu subconsciente. Achei que tudo tinha terminado e que agora seria só uma viagem normal de Tiradentes a Belo Horizonte, até que vi um policial estendendo o dedo no acostamento da estrada. Seu rosto lembrava um pouco o do meu irmão, um jeito de quem está afim de largar tudo e cair fora. Encostei. Gustavo entrou meio receoso – como faz quase todos os dias há mais de dois anos – e foi logo guardando a boina na mochila, tentando ficar mais humano, e menos parte de uma organização, de um sistema.
A Casa da Insanidade Mental já serviu de palco para apresentações de Tianastácia, Falcatrua, Marina Machado e até para o cosmonauta Ventania. Tudo na camaradagem Noite estranha depois de uma tarde estranha
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Banda Gotta, de BH, resgata clássicos do rock no quintal da Casa da Insanidade
Estava deixando em São João delRei o filho Diogo, de 15 meses, a mulher que ama, com quem casou há três anos, e um pedaço de si próprio, aquele que não é livre. Trazia consigo o rádio que escuta músicas caipiras todas as noites antes de dormir, e me confessou que se sentia arrependido de não ter escrito tudo que viveu na estrada nos últimos 24 meses. Tem 26 anos e acha que a vida passa rápido demais. Vai a BH quase todas as manhãs para trabalhar, para sobreviver, e para conversar com pessoas que viajam sozinhas, como ele. Aceleramos juntos. Eu dirigindo e ele conversando, gesticulando, tentando desenhar nas mãos as histórias, confissões e mentiras que ouviu em cada uma das caronas que encarou. É um homem da lei, a serviço do país. Eu, Bernardo, quase um fugitivo, alguém que ainda deve algo a nação. Em comum, um sentimento que explica toda esta jornada, estas palavras, e a razão na nossa existência: Viajamos porque amamos. E voltamos, agora, porque parece preciso. O jornalista viajou a convite da produção.
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quem
é RAGGA
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fotos Dudua’s Profeta
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COMPORTAMENTO
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GI GAN TES PEQUENOS
Time de anões transforma a vida dos seus jogadores, que mostram talento com a bola nos pés e ganham autoestima para seguir a vida por Daniel Ottoni Ilustração Raul Teodoro
Belém do Pará nunca foi um lugar que despertasse a atenção dos amantes de futebol. Paysandu, Clube do Remo e Tuna Luso são os principais clubes da cidade e o máximo que se viu até hoje foi o surgimento de um ou outro atleta, além da participação do Paysandu na Copa Libertadores de 2003. Mas, há pouco mais de dois anos, a cidade começou a aparecer, não só para o Brasil, mas para o mundo, graças a repercussão de um dos times de futebol mais inusitados: o Gigantes do Norte, composto só por integrantes com nanismo (ou seja: anões). A ideia surgiu em 2006, graças ao técnico do time profissional da Tuna Luso e presidente do Gigantes, Carlos Alberto Lucena. “O futebol brasileiro tem muitos famosos com o nome Carlos Alberto: o Parreira, o Torres, o Silva e, agora, o Lucena”, brinca, referindo-se a si mesmo. A vontade surgiu após o pedido de Alberto Jorge, que tem nanismo, apelidado de Capacidade. “Ele chegou em um dos treinos da Tuna pedindo para participar. Acabei deixando e daí veio a ideia de montar um time só de anões”, lembra Lucena. “Vi que ele se esforçava. Acabei percebendo que já tinha visto times de pessoas com necessidades especiais físicas e visuais, mas nunca de anões.” A força de vontade é apenas uma das características marcantes dos jogadores. A humildade é outro marco presente, traço que retrata a origem pobre de cada um. Como diria a mãe do atacante Vítor Farias: “Você já viu algum anão rico?”. Tirando o Nélson Ned, é claro... ELE TAMBÉM É CAPAZ Capacidade é conhecido em Belém por trabalhar no programa policial ‘Metendo Bronca’, no qual faz participações humorísticas. “Quando cheguei para fazer teste no programa, o apresentador viu que eu conseguia fazer várias coisas. Daí veio essa brincadeira de eu ter capacidade para isso, para aquilo. Acabou pegando”, justifica o apelido, o anão de 34 anos e 1m30cm, zagueiro central da equipe. A divulgação no programa foi essencial para que, em curto período de tempo, aparecessem os interessados. “No primeiro encontro, vieram sete anões somente”, recorda Lucena. Hoje, o time conta com 22 jogadores no elenco, além de uma equipe composta por
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massagista, médico, roupeiro e assistente técnico. Coisa de time grande. Na época de criação da equipe, a imprensa paraense não creditava a mínima esperança para o sucesso. Pelo menos, é o que garante Lucena. “Aqui sou conhecido por ser polêmico e falar o que penso. Essa imprensa daqui é nojenta. Não acreditava que o time daria certo. Hoje, fazemos mais sucesso do que qualquer outra equipe do estado e eles estão com o ‘rabo entre as pernas’. Até hoje não somos reconhecidos por aqui, ao contrário do que acontece fora do estado. Aí, sim, os jogos são uma verdadeira festa, com estádio lotado”, comemora. E não é conversa. Autógrafos e fotos são pedidos incessantemente. “Até as marias-chuteiras costumam aparecer”, entrega. Em um jogo no Maranhão, seis mil pessoas pagaram ingresso para ver o primeiro time de anões do mundo. Já na cidade de Cândido Mendes, também no Maranhão, o público foi de oito mil pessoas, que não queriam perder uma oportunidade que poderia ser única em suas vidas. “Com um ingresso de cinco reais, conseguimos fazer um caixa para pagar todo mundo e nos mantermos”, indica Lucena. Os adversários costumam ser equipes sub-13, sub-15 ou times formados por garotas.
A fama do time ultrapassou fronteiras e recebeu a visita de equipes jornalísticas de países como Alemanha, Coreia do Sul e França, que levaram para a gringa o sucesso do escrete. O dirigente trabalha em prol da capacitação de alguns jogadores. Atualmente, três estudam e outros estão prestes a serem inscritos em cursos de computação. Além disso, comemora-se o fato de cada jogador viver somente do futebol, com os R$ 500 que recebem mensalmente. “Nunca atrasamos um salário, ao contrário de outras equipes do estado.” Para os anões, a oportunidade vale ouro. Muitos penavam para encontrar trabalho, o que se tornava mais difícil por causa do preconceito de parte da população. “Muita gente pensa que anão só serve para trabalhar em festas de aniversário e em circos. Não é bem assim. Aqui tem muito jogador bom, que sabe tratar bem uma bola”, sinaliza. Parte da renda do time é garantida com a venda de DVDs nas cidades onde o time joga. “Não temos o apoio de quase ninguém. Aqui é tudo por nossa conta. O único suporte que temos é de uma universidade, que oferece o transporte dos jogadores para algumas apresentações”. No começo da história do Gigantes, a Tuna Luso deu todo o apoio, oferecendo campo e uniforme. Hoje, o time conta com uniforme próprio e treina num gramado cedido pelo Ministério da Agricultura. NO COMANDO Lucena convidou o amigo e ex-jogador profissional Isaac Simão, o Marajó, para ser treinador da equipe. “Aceitei de primeira. Quero ser um treinador profissional no futuro e essa experiência ao lado do Lucena pode ser muito boa”, idealiza. Há um ano e nove meses no cargo, ele garante que o elenco é bom, sem prioridades para este ou aquele jogador. “Em 2009, foram 115 jogos, com 90 vitórias, 17 empates e oito derrotas”, conta. Ao seu lado trabalha Max, assistente técnico e comandante do time de salão, que também realiza jogos pela região. Os treinos ocorrem duas vezes por semana, das 15h30 às 18h. “A carga para eles também deve ser menor. Os jogos acontecem com dois tempos de 35 minutos”, afirma Marajó. Apesar de ser time de anões, seria demais colocar um goleiro com pouco mais de um metro na meta do time. Então, ficou acordado que o goleiro teria tamanho normal. Uma estratégia usada pelo time é um jogador subir em cima de outro, no
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A primeira apresentação do time no estádio Mangueirão, em Belém
Técnico Marajó e os atacantes Kinho e Capacidade. Ao lado, Ronaldo e Kaká alongam. A diferença vai bem além das simples chuteiras
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dione araújo
Os jogos dos Gigantes, geralmente, são marcados por goleadas e assédio do público
A fama do time ultrapassou fronteiras e recebeu a visita de equipes jornalísticas de países como Alemanha, Coreia do Sul e França momento de formar a barreira. Uma parede humana formada por jogadores superbaixos não assusta nenhum cobrador de falta. As jogadas áreas também costumam ser evitadas. O futebol do Gigantes é com estilo, bola no chão. O resultado são as sonoras goleadas que costumam ser aplicadas nos amistosos. Entre os destaques da equipe, jogadores como Petkovic, Vágner Love, Sandro Hiroshi e Kaká. Lucena garante que os nomes são pela aparência física bem parecida entre os jogadores do Gigantes e os famosos do mundo da bola. “Só no ano passado, o Vágner Love fez 118 gols. Foi o maior artilheiro do Brasil”, brinca o dirigente. BREVES-BELÉM Sandro Hiroshi, na verdade, é Vítor Farias, de 15 anos e 1m08cm. Muitos afirmam ser ele o único anão-japonês do mundo. Assim que Vítor ficou sabendo da existência do time, demonstrou o interesse à mãe. “Liguei para o Lucena e falei que meu filho gostaria muito de participar do time. Quando vieram jogar na cidade onde morávamos, levei Vítor para conhecer a equipe. Ele adorou”, conta Elisângela Farias, mãe de Vítor. Há seis meses no time, o jogador garante que não se arrependeu da mudança de vida. Apesar do nome da cidade natal, a viagem em busca de uma condição mais satisfatória era penosa e digna de muita paciência. “Eu morava em Breves, a 12 horas de barco de Belém. Quando o Gigantes veio jogar na minha cidade, pedi para jogar no time. Eles gostaram e me chamaram para ficar com eles em Belém permanentemente”, recorda. “Hoje, me sinto mais confiante e feliz. Antes, chegava a ser desprezado e sofria um
pouco com isso”, afirma. Um dos pontos importantes para a rápida adaptação foi o bom recebimento. “Eles me trataram como se eu já estivesse ali há muito tempo”, lembra. Parte importante para a mudança foi o apoio da mãe.“Ele era discriminado na escola e me contava assim que chegava em casa. Eu fazia questão de ir à sala de aula falar com todos que ele era muito amável e que não havia pedido para nascer daquele jeito”, diz Elisângela. Segundo ela, quando criança, o filho só queria saber de bola. “Sempre deixei claro para ele a importância de não ter vergonha de ser ele mesmo. Eu o levava para passear como qualquer outra criança, sem nenhum receio.” Os ensinamentos deram certo. Vítor era figura carimbada em quadrilhas e festas de Carnaval da cidade. Mãe e filho abriram mão das raízes em Breves para mudar, de vez, para Belém. Elisângela não deixa de acompanhar o filho nas partidas em uma única oportunidade sequer. “O time é uma forma muito importante de quebrar barreiras e de interação social”, comemora. Ela confirma a diferença de tratamento dentro e fora do estado. “Aqui não tem assédio algum. Já fora, a coisa é fora de série”, felicita-se. O Gigantes do Norte já foi convidado para se apresentar na Bahia, Maranhão, Amazonas e Minas Gerais. Mas, segundo os dirigentes, realizar uma excursão para a região Sudeste, somente fechando um número maior de partidas. Não compensa atravessar o país para uma única apresentação. Quem sabe esse dia ainda há de chegar.
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a música e o tema
por Kiko Ferreira
Brodagem, ao lado de conflitos de egos, são características da música pop, desde que o samba é samba e o rock era um filho maldito do blues com o country e o rythm’n’blues. O desafio de hoje é lembrar algumas bandas, grupos e projetos com esse jeito de ação entre amigos. Do passado recente, com pit stop em outras épocas, gêneros e variedades de estilo, vale começar pelo mais novo supergrupo, que é como essas agremiações eram chamadas nos anos 1960 e 1970. Com John Paul Jones, do Led Zeppelin, Dave Grohl, ex-Nirvana e fundador do Foo Fighters, e Josh Homme, do Queens of the stone age, o Them Crooked Vultures é, usando outra expressão do tempo em que Jimmy Page era um quase anônimo músico de estúdio, a bola da vez. Ainda nessa linha de gerações sem conflito, o antes menosprezado Taylor Hanson, da banda pós-adolescente da família Hanson, uniu-se ao guitarrista James Iha, do Smashing Pumpkins, ao baixista Adam Schlesinger (Fountains of Wayne) e ao baterista Bun E. Carlos (Cheap Trick) para criar o Tinted Windows. Uma ação entre amigos que os fãs de cada banda talvez jamais tenha imaginado, mas que está aí, funcionando. Desse novo milênio, cabe cravar na relação de falta de fidelidade três supergrupos de sucesso recente. Nem bem o século começou e o Audioslave promoveu uma até então inesperada fusão do Rage Against the Machine (com Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk) com o Soundgarden (Chris Cornell), com dois discos que já estão na história do rock, ‘Out of Exile’ e ‘Revelations’. Com a demora de Axl Rose para colocar de novo o Guns’ N’ Roses na estrada da democracia chinesa, seus colegas Slash, Duff e Matt resolveram se diver-
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dewilde/divulgação
IRMÃOS NO ROCK
tir com o Velvet Revolver, com Scott Weiland, do Stone Temple Pilots, nos vocais. A metade masculina dos White Stripes, Jack White, foi outro que aderiu à infidelidade criativa. Além dos Racounters, sua banda paralela, montou o The Dead Weather com Dean Fertita, do Queens of the stone age, seu colega Jack Lawrence, dos Racounters, e Alison Mosshart, do The Kills. E sobrou até para a cena brasileira. Com a parada estratégica do Los Hermanos, Rodrigo Amarante desceu do camelo para aproveitar as folgas do amigo Fabrizio Moretti, dos Strokes e montou o Little Joy, uma pequena alegria que até já passou por Belo Horizonte, com a gatinha Binki Shapiro nos vocais. O cinema também tem parte da culpa por projetos especiais, criados especificamente para trilhas sonoras. Discípulo de Quentin Tarantino e tão fã de rock’n’roll quanto seu mestre, Robert Rodriguez inventou o Class of ‘99 para fazer a trilha de seu ‘A Prova Final’. A escalação da efêmera agremiação tinha Layne Staley, do Alice in Chains, Stephen Perkins, do Jane´s Adiction, Tom Morello, do Rage Against The Machine e Martyn Lenoble, do Pornô for Pyros. Na mesma linha está a Backbeat Band, criada no início da década de 1990 para reler o repertório dos Beatles para o filme ‘Os cinco rapazes de Liverpool’, com Dave Pimer (Soul Asylum), Mike Mills (R.E.M.), Thurston Moore (Sonic Youth), Gred Dulli (Afghan Whigs), Don Fleming (Gumball) e... Dave Grohl. E prova de que os grunges também amam, apareceu, em 1994, o
Rodrigo Amarante (Los Hermanos) e Fabrizio Moretti (Strokes) se juntaram a Binki Shapiro para formar o Little Joy
lembramos um dos raros casos em que a reunião de músicos célebres resultou num time muuuito pior do que o som das bandas originais. Trata-se do progressivo Asia, fundado em 1981 com craques das bandas Emerson, Lake & Palmer, Yes, King Crimson e The Buggles. Apesar do sucesso comercial, a banda inventou um som tão chato quanto o da mais artificial tentativa dos brasileiros de construir uma superbanda. O Tigres de Bengala, que reuniu, em 1993, Vinícius Cantuária, Ritchie, Cláudio Zoli, William Forghieri (Blitz) e dois membros originais da Cor do Som, Dadi e Mu. A música resultante era de uma falta de graça monumental. Imagine reunir Bob Dylan, Jeff Lynne, Tom Petty, Roy Orbison e o beatle George Harrison em uma única banda? Pois essa era a escalação do timaço do The Traveling Wilburys reuters/neal preston
Mad Season, com integrantes do Pearl Jam (Mike McCready), Alice in Chains (Layne Stanley) e Screaming Trees (Mark Lanegan e Barrett Martin). Mas, quando se trata do assunto, qualquer fã de rock lembra, entre os cinco primeiros, o timaço do The Traveling Wilburys. Com nome de clube de aviação, o quinteto surgiu em torno de um ídolo comum aos integrantes: Roy Orbison, que voltou a estar na moda no final dos anos 1980, numa sobrevida que, infelizmente, durou pouco mais que três anos. Em torno dele reuniram-se George Harrison, Bob Dylan, Tom Petty e Jeff Lynne (Eletric Light Orchestra). Usando pseudônimos com o sobrenome Wilbury, eles gravaram dois discos antológicos, obrigatórios na discoteca de quem gosta de rock clássico e sua influência na música pop dos anos 1960 e 1970. A banda dos “irmãos” Wilbury é uma daquelas cuja escalação admite poucas restrições, mas talvez o primeiro supergrupo a receber essa classificação, com todos os méritos, tenha sido o Cream, que reuniu, no final da década de 1960, o baixista Jack Bruce, o guitarrista Eric Clapton e o baterista Ginger Baker. Efêmero, mas fundamental, o creme ainda deu sustância ao Blind Faith, com Clapton, Bruce e Steve Winwood, do etéreo Traffic, e Ric Grech, do Family, completando o quadro. Ainda nos anos 1960, com os Beatles na fase final, Yoko Ono e John Lennon fizeram um megatime: a Plastic Ono Band. Veja o line up: Eric Clapton, Keith Moon (The Who), Jim Keltner, George Harrison, Ringo Starr, Jim Keltner, Billy Preston, Klaus Voorman e Alan White (Yes). E, em 1970, Joe Cocker, depois do estouro no festival de Woodstock, fez uma longa excursão com um grupo que mais parecia uma comunidade hippie batizado de Mad Dogs and Englishmen, com Leon Russel, Rita Coolidge, Chris Stanton, Carl Radie e outros felizes cachorros loucos. Para terminar esse inventário que não esgota o assunto,
fotosCarlos Hauck modelos Gabriela e Fernanda Feitosa
IDÊNTICAS Apesar de as gêmeas Gabriela e Fernanda Feitosa, 22 anos, serem amigas, ao olhar para elas, é impossível não lembrar de como Nelson Rodrigues eternizou, com a sensualidade tão peculiar de sua crônica, o fetiche que temos por irmãs idênticas e identicamente lindas. Em ‘As Gêmeas’, ele descreve a relação de Marilena e Iara, que se tornam rivais por se envolverem com o mesmo homem. A história começa assim: Estava tomando café em pé, quando viu passar, na calçada, a pequena que começou a namorar na véspera. Largou a xícara, largou tudo e atirou-se ao seu encalço, quase como um maluco. Tropeça num cavalheiro, esbarra numa senhora e vai alcançar a menina um pouco adiante. Caminha lado a lado e faz a alegre pergunta: — Como vai? A garota, que era realmente linda, estaca por um segundo. Olha-o, de alto a baixo, com surpresa e susto. Em seguida, vira o rosto e continua andando. Osmar,
desconcertado, apressa o passo e interroga: “Mas o que é isso?”, “Não me reconheces mais?”. Nenhuma reposta. E ele; num espanto misturado de irritação; “Que máscara é essa?”. A menina só falta correr. Então, Osmar perde a paciência, segura o braço da fulana: “Olha aqui, Marilena”. Ao ouvir o nome, ela para: vira-
se para ele, mais cordial, quase alegre; encara-o confiante: — Já vi tudo. — Tudo como? Ela parece aliviada: — Eu não sou Marilena. Marilena é minha irmã. Pasmo, exclama: “Meu Deus do Céu, que coisa!” A garota sorri divertida com a confusão: — Eu sou Iara. Osmar faz a pergunta desnecessária: — São gêmeas?
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MODELOS Gabriela e Fernanda Feitosa House The Model’s Agency FOTOGRAFIA Carlos Hauk PRODUÇÃO Ana Dapieve e Li Maia MAQUIAGEM Laninha Braga ROUPAS Lucy in the sky BIQUÍNIS Blue Man
por Sabrina Abreu
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Todo mundo ama Carnaval. Como não? Uma terça-feira qualquer, no meio do verão, para o que der e quiser: colocar o bloco na rua, sair numa escola de samba, cantarolar marchinhas (enquanto dança com o dedo em riste) ou até ficar longe do ziriguidum em um lugar tranquilo. Mas nem por isso, é preciso ser adepto do bloco do eu sozinho. O sossego sempre fica mais interessante quando em boa companhia. Selecionamos produtos para animar – ou seria acalmar? – seu feriado e o daquele com quem você quiser compartilhá-lo.
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NA GRINGA >> antártida
Elefante indomável na Antártida texto e fotos Alex Capella
Ragga visita pesquisadores na fúria do império gelado
Passava das 22 horas quando ouviram um estrondo na estrutura do Emílio Goeldi. O grupo formado por sete pesquisadores e um alpinista se preparava para dormir, quando foi obrigado a deixar suas camas para ver o que havia ocorrido do lado de fora. O vento de 52 nós, pouco mais de 100 quilômetros por hora, havia arrancado da espessa camada de neve uma das barracas que abrigava os equipamentos de pesquisa e a arremessado contra a lateral do contêiner de aço que forma o abrigo. O pânico se instalou imediatamente. O trabalho de quase um mês poderia ter sido levado pelo vendaval. Diante do risco de enfrentar a nevasca e perder a vida, o grupo se resignou. Todos voltaram para as quatro beliches acomodadas no interior do contêiner, dividido em uma área para dormir conjugada com uma pequena cozinha. Não restava nada a fazer, senão dormir, e se preparar para o rescaldo do dia seguinte. “Os pesquisadores tentaram deixar o abrigo para recuperar os objetos de trabalho. Mas, além do frio, abaixo dos 15 graus negativos, tinha o vento forte”, lembrou o escalador Luiz Consciglio, de 48 anos, membro do Clube Alpino de São Paulo. Era o dia 20 de novembro de 2009, na manhã seguida ao vendaval, quando cheguei à Ilha Elefante, um pedaço de terra com 250 quilômetros quadrados, distante cinco mil quilômetros de Belo Horizonte, em plena região Antártica, no polo Sul.
A movimentação com a minha chegada, usando um helicóptero modelo Esquilo, animou um pouco os pesquisadores, há quase um mês sem nenhuma visita humana. Mas, naquela manhã, o difícil trabalho de recolhimento do material levado pelo vento tirou o sorriso dos rostos dos integrantes do grupo. Tinham de fazer isso o mais rápido possível. Afinal, a ilha Elefante, com seus enormes rochedos marrom-acinzentados, cercados de nevoeiro, saindo diretamente da água, é um dos lugares de maior instabilidade climática do planeta. Sem o menor aviso, rajadas de vento provenientes do mar chocam-se com os rochedos a uma velocidade de 120 quilômetros por hora. Cheguei à região na primavera, mas ainda com cara de inverno, por causa da grande quantidade de gelo, a maior dos últimos 11 anos. Nesta época, a claridade dura praticamente 24 horas. O sol só desaparece por pouco tempo, em torno da meia-noite, produzindo um crepúsculo prolongado e exuberante. Foi nessas condições extremas que o lendário navegador irlandês Ernest Shackleton e seus 27 homens reuniram forças para evitar mais uma tragédia na região Antártica, quando o navio Endurance (“Resistência”, em inglês), com o qual tentavam a Expedição Imperial Transantártica, em 1914, foi engolido pelo gelo. Mesmo hoje, com helicópteros, veículos a motor capazes de se deslocar sobre o gelo e a neve ou aviões, que conseguem voar em condições difíceis, chegar ou sair da ilha é um dos desafios mais complexos enfrentados pelo homem. Faz-se necessária uma verdadeira operação de guerra Mesmo assim, todo aparato bélico, reunindo navio e helicóptero, depende da boa vontade da natureza. Por vezes, pode-se avistar do navio uma baía sob um sol brilhante e com o ar incrivelmente limpo pelo incessante vento circumpolar. Entre a natureza selvagem: vista do acampamento e do abrigo Emílio Goeldi, na Ilha Elefante
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O refúgio nunca é trancado a chave ou cadeado, nem mesmo depois que os cientistas vão embora. Permanece sempre aberto e com mantimentos. Apesar de a presença humana na ilha ser limitada, no caso de naufrágio, os navegadores podem contar com a referência A vista parece se estender para sempre e a nitidez é infinita. Geleiras lançam uma profusão de regatos pelos paredões rochosos. Mas aí, poucos momentos depois, do nada, entra uma nova frente fria. O Sol vira uma débil mancha enevoada, através da qual lufadas de flocos de neve rodopiam, com padrões mais escuros, destacando-se no fundo mais claro. Parece até que a ilha sofre da versão meteorológica de uma desordem bipolar. Quando há sol, ela se transforma num lugar de beleza rude, com o astro brilhando nas geleiras,
Interior do abrigo, que se resume a um conjugado de quarto e cozinha. Abaixo, os pesquisadores brasileiros Luciano Battisti, Renata Hurtado, Suzana Martins e Leandro Lazzari mandam um ragga
produzindo cores indescritivelmente vívidas, em constante mutação. Mas, na maior parte do tempo, está longe de ser um cenário de beleza. Há longos períodos de tempo úmido e encoberto por um manto negro. Uma paisagem simples e ao mesmo tempo aterrorizante. “A gente aprende a não sentir falta das coisas. É viver um dia após o outro. Mas, quando você coloca o melhor de si as coisas dão certo e você aprende a enxergar a beleza em tudo”, disse a bióloga francesa Suzan Gallon, de 28 anos. O grupo foi para o local colocar em prática um projeto de pesquisa com elefantes-marinhos, animais que chegam a pesar mais de uma tonelada. Durante o tempo de permanência na ilha, a higiene pessoal é feita com lenços umedecidos. Toda a tubulação do abrigo estava congelada, impedindo a passagem da água. A alimentação é à base de “cellier”, comida acondicionada em embalagens especiais, usadas em acampamentos emergenciais, para acolher famílias desabrigadas, em decorrência de catástrofes naturais ou conflitos sociais. “A gente sente uma série de desejos num lugar assim, longe de tudo. Mas, o meu maior desejo é um pedaço de pizza quente”, brincou o biólogo paulista Leandro Lazzari, de 35 anos. O refúgio na ilha nunca é trancado a chave ou cadeado, nem mesmo depois que os cientistas vão embora. Permanece sempre aberto e com mantimentos no seu interior. Apesar de a presença humana no lugar ser limitada e depender de licença das autoridades, no caso de naufrágio, os navegadores podem contar com a referência. E a possibilidade de tragédias na região é real. Afinal, para se chegar a Elefante é preciso ultrapassar o Estreito de Drake, última fronteira antes da Antártida, considerada a faixa de mar mais violenta do mundo. O estreito trata qualquer navio como se fosse um “joão-bobo”, fazendo-o jogar de um lado para o outro. E a água do mar de Weddell, a menos de 10º graus, pode matar um ser humano desprotegido em menos de 30 segundos. Por isso, todo o trabalho de pesquisa na região é feito com os chamados macacões flutuantes “mustang”, que garantem proteção contra o frio e aumentam a sobrevida no caso de queda na água. Em suas memórias, o lendário navegador britânico James Cook, primeiro homem a cruzar o Círculo Polar Antártico e a circum-navegar o continente austral, descreve bem a realidade do lugar. “Terras, cujo aspecto horrível e selvagem não tenho palavras para descrever. E a quem se aventurar por elas, a viagem não me causará inveja”, resumiu.
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No Carnaval pode tudo. Vale até sair na rua vestido de, sei lá, tesoura. Ninguém nota. Homem vira mulher e mulher vira macho. É a chance de sair do armário, de ganhar as ruas, de ser outra pessoa. E já que a festa vem por aí, resolvemos preparar uma lista com as melhores fantasias. Quem sabe você não se encontra em alguma delas?
1°Michael Jackson
fábio rossi - agência globo
Fantasias de carnaval
top 10
_ O rei do pop se foi, mas o moonwalk é eterno. Em 2010 a tendência continua sendo Michael. Use camisinha.
2°Camisinha/Pênis
_ Se você sempre viajou em ser um cacete por um dia, esta é a hora. Cuidado para não ser preso.
3° Bin Laden
último ranking
_ Se a gatinha recusar um beijo seu, comece a gritar que você vai explodir tudo. Sempre funciona.
Réveillon fora daqui
4°Lula
Listamos dez opções de festas de fim de ano em Minas e no resto do Brasil, na edição de dezembro*, perguntando qual era o destino certo para fechar 2009 em grande estilo. O resultado foi... O resto do Brasil.
_ Não vão faltar companheiros para fazer a sua noite inesquecível. Você vai ser O cara por um dia.
5°Latinha de cerveja
_ Provavelmente alguém vai te agarrar logo no começo da noite. Se você for de latinha, evite multidões e bêbados alucinados.
6°Morgan Freeman
_ Você já quis ser um detetive da CIA, um homem da lei, um oficial da justiça? Tá esperando o que para se vestir de Morgan Freeman?
7°José Mayer
_ Provavelmente vão te confundir com Shakespeare. Ou com Johnny Depp. Uma máscara de José Mayer pode te render mulheres até a temporada de novelas de 2024. Duvida?
8°Enfermeira/Cowboy
_ Quer parecer alguém normal? Vá de enfermeira com botas de cowboy.
9°Transformers
_ Você também pode ir de Homem Bicentenário ou de ET. Quem sabe você não esbarra com alguma gracinha do X-Man no caminho?
10°Fralda
_ A fantasia de bebê entrou na lista só para você, bombado, não ficar triste. Mas não se esqueça da chupeta. Assim você não perde a chance de ficar calado. Rá.
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1º) Be Happy — Búzios (33.33%) 2º) Réveillon Taikô — Floripa e Praia do Morro — Guarapari (22.22%) 3º) Enchanté — Salvador e Villa de Phoenix — Campos do Jordão (11,1% cada) Culpemos o mar. À exceção de um honroso lugar conquistado pelo interior de São Paulo, as viradas preferidas por nossos leitores se concentraram no litoral. O primeiríssimo lugar foi abocanhado pela festa Be Happy, em Búzios. Tudo muito bom, exceto por um problema. Quem esteve por lá afirma que, apesar de o som da noite ter sido provido pelas pickups dos DJs Carlos Dee e Lucas Yoshi, no fundo de suas cabeças, todo mundo continuava a ouvir o estranho som: “Shimbalaiê”. Culpa de Manoel Carlos (e nem me venha com essa cara de desentendido, fingindo que não gosta de novela). Em segundo lugar ficaram o réveillon Taikô, em Floripa, que dispensa explicações por causa da beleza das mulheres daquela cidade. Está mais que merecido. Dividindo essa posição, o réveillon na praia do Morro, que também dispensa explicações. Afinal, somos uma revista feita em Belo Horizonte, então, Guarapari tinha que aparecer nesta lista e pronto. Alavancado pelo carisma – e outras qualidades mais tangíveis — de Ivete Sangalo, o Enchanté, de Salvador, levou o terceiro lugar. No empate, o clube Phoenix, de Campos do Jordão. *Relembrando: excepcionalmente, o Top 10 não apareceu na revista de janeiro, feita sem nenhum texto, só com fotos que valem mais que mil palavras.
JÁ INVENTARAM MP3 player para montar
fotos: divulgação
Um dos brinquedos mais clássicos e coadjuvante certeiro das brincadeiras de infância mais criativas acaba de dar as mãos à tecnologia e ganhar um MP3 player com seu nome. Com 2GB de memória, o charme do produto fica por conta de uma colorida telinha de LCD, emoldurada por bloquinhos de Lego e da possibilidade de agigantar o aparelhinho encaixando mais blocos na parte superior. U$ 39.99
Sobrevivência compacta Não é só para matar sua sede que esta garrafinha serve. Chamado de “Ultimate survivor kit” (kit definitivo de sobrevivência, em inglês) o pequeno recipiente é cheio daquelas coisas indispensáveis para uma viagem de aventura, mas que acabam ficando de fora por ocuparem muito espaço. Acredite: aí dentro você encontra bússola, lanterna, pilhas, cobertor, capa de chuva, itens de primeiros socorros, vela, entre outros. Os itens vêm tão bem posicionados que o difícil deve ser fazer caber tudo novamente, após o uso de algum deles. Só no exterior por U$ 19.99
por Izabella Figueiredo
Cuidado! Pessoa perigosa! Ideal para presentear ex-namorados ou namoradas, este cachecol imita as fitas usadas pela polícia para manterem as pessoas distantes de um local perigoso. Caso prefira, o adorno pode ser usado por você mesmo numa tentativa de parecer um pouco mais importante e respeitado. No exterior por U$ 26.50
Correndo do prejuizo Por acaso seu cãozinho andou adquirindo peso com a comilança das festas de fim de ano? Seus problemas acabaram! A esteira para cães é a solução ideal para seu bichinho recuperar a boa forma e manter o peso após o período crítico de falta de vigilância alimentar. Disponível em três tamanhos: pequeno, médio e grande. No exterior por U$ 549
reprodução
SAMPA CREW A galera deve se lembrar da aparição da banda de rap romântico (é sério!) Sampa Crew, no Domingão do Faustão, há uns 15 anos. O hit dos caras ‘Eterno Amor’ dizia: “você nasceu pra mim/ eu nasci pra vocêee...”. Isso devia deixar a turma do hip hop maluca, né não? Ainda mais pelo estilo dos caras ter sido definido como uma mistura de charm (what the fuck?), rap e soul. Depois do repentino sucesso, nunca mais se viu ou ouviu falar dessas preciosas figuras. O grupo contava ainda com dançarinos. Como eles fizeram sucesso, até hoje, é um mistério... Se tiver noticías do Sampa Crew, dá um toque! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
Se lembrar de mais alguém que um dia foi reconhecido pelas ruas, mas hoje inexiste no imaginário popular, nos avise.
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Metallica esbanja fôlego em São Paulo
fotos: marcelo rossi
por Gabriela Terenzi
Depois de quase 11 anos de jejum, o Metallica incluiu o Brasil na rota da World Magnetic Tour e fez uma breve passagem pelo país com shows em Porto Alegre (28 de janeiro) e em São Paulo (30 e 31) para divulgar seu último álbum, ‘Death Magnetic’, lançado em 2008. De volta à capital paulista, onde não tocava desde 1999, a banda norte-americana lotou o Morumbi e se apresentou para cerca de 68 mil fãs das mais variadas idades. Com a trégua da chuva, o show aconteceu de acordo com o script. O quarteto formado por James Hetfield (voz e guitarra), Kirk Hammett (guitarra), Lars Ulrich (bateria) e Robert Trujillo (baixo) subiu ao palco sem atrasos, usando preto, tocando clássicos e boicotando todas as faixas do ‘St. Anger’, de 2003, produzido num momento frágil do grupo, que quase chegou ao fim. Seguindo a tradição, os primeiros acordes foram da imponente ‘The Ecstasy of Gold’, acompanhada pela projeção do filme ‘O bom, o mau e o feio’, de 1966, nos telões do estádio. ‘Creeping Death’ veio logo em seguida, com a recepção do frontman Hetfield, que arriscou frases em português durante toda a performance. “Vocês estão prontos?”, provocou. Diante dos gritos da plateia, a resposta veio com ‘For Whom the Bell Tolls’. Contrariando a fama – e, talvez, a pose – de mau, o vocalista disse que a banda gostaria de retribuir o bem que os fãs fazem a eles e que sente a vibração da plateia. Algumas horas antes, na coletiva de imprensa, o vocalista resumiu a expectativa para noite em uma palavra: “paixão”, enquanto Ulrich declarou que é sempre ótimo tocar aqui porque os brasileiros são apaixonados e compartilham suas emoções com facilidade. RECEPÇÃO Quando a banda arriscou a primeira música do álbum ‘Death Magnetic’, ‘That Was Just Your Life’, a conexão entre
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palco e público e a agitação se mantiveram, mas um pouco mais silenciosas, assim como aconteceu na execução de ‘The End of the Line’, ‘The Day That Never Comes’ e ‘Broken, Beat and Scared’, todas do mesmo disco. Sob as luzes, o quarteto mostrou que ainda tem energia de sobra, exibiu toda a técnica esperada por grandes veteranos do rock e se divertiu, como o previsto, já que o álbum foi estrategicamente concebido para o palco – e, claro, porque os integrantes parecem estar em plena harmonia não apenas musicalmente. Considerado uma volta às raízes, ‘Death Magnetic’ conquistou disco de ouro, entregue na estreia da turnê em São Paulo, com mais de 40 mil cópias vendidas no Brasil, e platina dupla pelos mais de 60 mil DVDs de ‘Orgulho, Paixão e Glória’, gravado durante a passagem pelo México, na World Magnetic Tour. O público só recuperou a intimidade com as letras a partir ‘Sad But True’, dedicada aos “amigos do Sepultura” que abriram o show. Desde o ‘St. Anger’, o grupo muda de set list a cada apresentação em respeito aos fãs mais assíduos e, principalmente, para garantir que o som não saia automático. Apenas nesta turnê, foram tocadas entre 60 e 70 músicas diferentes. Ainda assim, alguns clássicos são presença garantida no repertório. É o caso de ‘One’, entoada em uníssono por quem esteve no Morumbi e executada com direito a lança-chamas e fogos de artifício. ‘Master of Puppets’, ‘Nothing Else Matters’ e ‘Enter Sandman’ também estão entre as favoritas. Bem-humorado, Hetfield atendeu aos pedidos dos fãs que, em coro, pediram por ‘Seek and Destroy’, e encerrou o show depois de duas horas de música. Em seu agradecimento, Ulrich deixou o público esperançoso ao dizer que espera voltar ao Brasil com mais frequência. Nos tempos em que Hetfield já comenta sobre o próximo disco do Metallica, a notícia é especialmente boa. “Temos muito material, mas ele ainda não tem um formato. Gostamos do desconhecido. Vamos ver o que acontece”.
#CranberriesEmBH por Anne Pattrice integrantes dos Cranberries, revelou voz e fôlego intactos e uma vibração desconhecida pela grande maioria. Uma Dolores fina, elegante e sincera, que dizia adorar o Brasil e tudo que provia dele. Com seus costumeiros cabelos curtos, saltitava, inventava passinhos e corria pelo palco como uma garota afoita. Parecia a personificação do passado de tantos fãs ao cantar o amor, a guerra e a paz. Foi mágico dividir o choro com mais de 5,5 mil pessoas enquanto ouvia ‘Linger’ e ‘When You’re Gone’ , para depois unir forças e cantar bem alto ‘Zombie’ e ‘Salvation’. Ou então tentar conter a inveja dos que puderam segurar na mão de Dolores em ‘Ode to My Family’, enquanto ela descia do palco, rumo à multidão. Sem material inédito, a banda optou por tocar ‘Switch Off the Moment’, ‘Lunatic’ e ‘The Journey’, músicas do novo álbum solo da vocalista, ‘No baggage’ (2009). Mesmo assim, a plateia foi bem receptiva e a maioria cantou tudo na ponta da língua.
Depois de pouco mais uma hora e meia de show, a voz mais doce e melancólica da Irlanda se despediu com ‘Dreams’, provando que é necessário ser fiel aos sonhos, mesmo que eles mudem todos os dias.
bruno senna
Depois que o rei do pop morreu, passei a não duvidar de mais nada que me diziam sobre o mundo da música. Principalmente ao ouvir de um amigo que os Cranberries, após seis anos separados, viriam a terras tupiniquins em uma turnê que começou no final de 2009. Após o lançamento do último disco de estúdio ‘Wake Up and Smell the Coffee’ (2001), a vocalista Dolores O’Riordan resolveu investir em sua carreira. Ela esteve no Brasil em 2007 com a turnê do álbum ‘Are you listening?’. Apesar de a banda nunca ter oficializado sua separação, um possível retorno estava cada vez mais distante e a carreira parecia mesmo ter ficado para trás. Puro engano: a banda ressurgiu e teve os ingressos de suas apresentações esgotados em todas as capitais brasileiras por onde passou (Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre). Dolores, acompanhada de Fergal Lawler (bateria) e os irmãos Noel (guitarra) e Mike Hogan (baixo), outros três tímidos
da A T PRACA SA \\ UNION LATINA por Daniel Ottoni
A banda durante o IV Festival de Música de Belo Horizonte. Adivinhe que levou o primeiro prêmio?
cris sofal
A presença do vocalista e percussionista Javier Galindo na banda Unión Latina começou quando ele foi para Cuba, estudar roteiro e direção de cinema em uma escola do país de Fidel. Por lá, ele conheceu cariocas e mineiros, que logo se enturmaram com o colombiano bom de papo. Depois de passar um mês no Rio, ele veio para BH, onde ficou por mais cinco. Voltou para Colômbia já pensando no retorno para as Minas Gerais. Durante um projeto de atores, conheceu a banda, que já estava formada, então com quatro integrantes. Bem diferente dos 11 que hoje a compõe e dos 14 que foram responsáveis pela produção do disco de 2006 ‘Somos Farofa’. O primeiro trabalho, ‘Mismo Sentir’ rolou em 2005 e contava somente com releituras de artistas que os influenciaram. Hoje, o grupo é uma verdadeiro mistura de ritmos e nacionalidades. São seis brasileiros misturados ao já citado colombiano e uruguaios e cubanos. Um mexicano também chegou a fazer parte do grupo. No som, o já conhecido caliente ritmo latino, com algumas inovações como forró, cha cha cha e música popular colombiana. Para sentir e conhecer, só ouvindo. A agenda dos caras está lotada até maio deste ano. Nem ouse pensar que é por acaso.
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Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br com fotos, músicas em MP3 e a sua história.
COMPORTAMENTO
FINALMENTE, A PRAIA EM BH
Praia da Estação é sucesso por causa do protesto ou do bronzeado — ou das duas coisas por Sabrina Abreu fotos Paula Meireles
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Dá de tudo. Peteca, futebol, gatinhas deitadas sobre cangas coloridas, vendedor de picolé, casais aproveitando o sol e a sombra, um cachorro meio desconfiado e uma prancha clamando pelo mar — que, por forças maiores, não pôde comparecer. O protesto transformou a Praça da Estação, por onde, na maior parte do tempo, só se passa correndo, na Praia da Estação. Nos últimos sábados de janeiro e no primeiro de fevereiro ela virou lugar para se frequentar com calma, conversando com os amigos, bebendo alguma coisa, praticando esportes. A presença dos banhistas por ali é uma resposta bem-humorada ao decreto do prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB), que limita a realização de eventos no local. A razão é a preservação do patrimônio público contra vandalismo. A lei passou a valer no dia 1º de janeiro, mas a intenção é que ela seja revista. Afinal, quem vai à Praia da Estação garante que, no meio das petecas, cangas, cachorros, casais de namorados e pranchas de surfe não sobra espaço para os vândalos.
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QUANDO A HIPERATIVIDADE SE TRANSFORMA EM ARTE por Izabella Figueiredo
adriano zanini
Velho conhecido da galera, o designer gráfico, publicitário e ilustrador Vinícius Povoa, de 31 anos, ou VINIL CIUS, como prefere ser chamado, “devido à plasticidade do vinil e do meu trabalho”, vem imprimindo sua marca na Ragga com uma frequência cada vez maior. Especialista em “grafismo em parede” (técnica que exalta formas, cores e suas representações) descobriu sua aptidão para a arte quando ganhou um relógio de parede em formato de disco de vinil. Posicionado o objeto, o cara achou que seria bacana decorar a parede do seu quarto com os próprios desenhos. “Quando menos percebi, já estava grafitando outros espaços, os contatos foram crescendo e em pouco tempo me tornei profissional”, conta. Na hora de produzir seu trabalho, VINIL CIUS usa e abusa da liberdade de pensamento e também da “hiperatividade interna manifestada por meio de cores e formas”. Ele esclarece: “tento fazer do abstrato algo palpável e conectá-lo de certa forma à realidade, formando imagens que causam um impacto visual excitante”. A parceria com a Ragga começou muito bem. Ele estilizou o All Star Converse comemorativo de 4 anos da revista e não parou mais. Assinou as ilustrações alucinadas da edição do mês de agosto dedicada ao rock‘n’roll e grafitou nada menos que a primeira coisa avistada quando adentramos o território Ragga: a parede da recepção. Para dar uma repaginada na “muralha” mais importante da revista, além da peculiar criatividade, VINIL CIUS criou uma estratégia bem apropriada “o abstrato desse trabalho veio da inspiração no que há de mais moderno em relação a mídias sociais, rádio e TV. O resultado ficou bastante fiel ao desejado, já que minha arte tem tudo a ver com a filosofia da revista”.
Para conhecer todos os segmentos artísticos que VINIL CIUS já circulou faça uma visita ao seu portfólio virtual: flickr.com/photos/ziriguidummdesignhouse.
Esporte: Esgrima Modalidade: Espada Cidade: Belo Horizonte, MG Idade: 23 anos Altura: 1,80m Peso: 70kg Naturalidade: Belo Horizonte, MG Por que pratica? Comecei a me interessar quando vi alguns esgrimistas treinando no clube, há oito anos. Me identifiquei tanto com o esporte e com seus adeptos que nunca mais parei.
Compete desde:
Em torneios estaduais, desde 2001; em tor-
Evandro Paradela
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neios nacionais, desde 2003; e internacionais, desde 2008.
Metas para 2009: Voltar a ocupar uma das quatro primeiras colocações no ranking brasileiro para poder disputar uma vaga nos Jogos Panamericanos de 2011, no México. Melhor resultado em competições: Campeão Taça BH de Esgrima (2009); 2º melhor brasileiro no Campeonato Iberoamericano (Medellín/ Colômbia, 2009), 1º colocado no Ranking Mineiro de Espada Masculina em 2009 Contato: (31) 3225-6955 / 8636-6955 evandroparadela@gmail.com
Atenção, atleta em busca de patrocínio, cadastre-se na seção Adote um Atleta no portal Ragga (revistaragga.com.br), ou escreva para: redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
TEM QUE PROVAR Em 2006, a autoestima do belo-horizontino ficou lá em cima, por causa da campanha ‘Eu amo BH radicalmente’. Encampada por personalidades da cultura e do esporte e com o forte adesão da população, rapidamente a marca e o slogan do projeto se espalharam em camisetas, adesivos e eventos que estimularam uma atitude de valorização da cidade A boa notícia é que a segunda fase da campanha foi lançada, no início deste mês, com a frase: ‘Eu amo BH radicalmente e provo’. Mais uma vez, a criação e idealização ficou por conta do BH Convention & Visitors Bureau (BHC&VB), com apoio da Belotur, Secretária de Estado de Turismo de MG e o Ministério do Turismo: “Já promovemos BH tornando-a conhecida. Agora, é hora de cuidar e preservar a cidade”, afirma Roberto Noronha Filho, presidente do BHC&VC, resumindo a ideia por trás da segunda parte do projeto.
PERFIL
COLETIVIDADE NA QUEBRADA
por Bruno Mateus fotos Bruno Senna e Isabela Daguer
Com o discurso desafiador do Racionais e a língua afiada que lhes é tradicional, Mano Brown e KL Jay mostram porque estão entre as figuras mais importantes do rap nacional
“Mano Brown e KL Jay vão tocar em BH. Parece que vai rolar uma entrevista”, disse a editora Sabrina. Segundos depois, não pude evitar a imagem do Mano Brown de cara fechada, braços cruzados e o bigodinho feito com precisão matemática. E não por acaso. Avesso a entrevistas e exposição, ele, assim como o resto do grupo, foi coberto, na última década, por uma cortina de mistério e curiosidade. Pedro Paulo Soares Pereira, como o rapper e vocalista Mano Brown foi registrado, e Kleber Geraldo Lelis Simões, o dj KL Jay, são integrantes do mais respeitado e influente grupo de rap do país, o Racionais MC´s, que ainda tem os mc’s Edy Rock e Ice Blue na formação. Fundado no final dos anos 1980, o Racionais ficou conhecido em todo o país com o álbum ‘Sobrevivendo no Inferno’, de 1998. Prêmios na MTV e clipes na programação da emissora alavancaram a venda de discos e deram prestígio ao quarteto. Desde então, muito se fala sobre a postura do grupo, que evita ao máximo estar sob os holofotes da grande mídia. Depois de sete anos sem lançar material inédito – o último foi o álbum duplo ‘Nada como um dia após o outro’, de 2002 –, e há pouco mais de dois sem vir a Belo Horizonte, o Racionais
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está gravando o próximo cd, ainda sem nome, previsto para o primeiro semestre deste ano. Morador há 34 anos do Capão Redondo, uma das periferias mais violentas do país, o vocalista do Racionais se diz um sobrevivente do inferno, ainda que, segundo o próprio, estejamos vivendo nele. KL Jay mora no Tucuruvi, região norte de São Paulo. Às 17h de uma terça-feira de costumeiro calor de janeiro, eu e o fotógrafo saímos da redação da Ragga rumo ao Aeroporto de Confins. Lá nos encontramos com os djs e produtores Rodrigo Xeréu e Vítor Sobrinho, e o também dj Zeu, responsáveis pela vinda da dupla do Racionais a Belo Horizonte. Duas horas e meia depois, Mano Brown e KL Jay, acompanhados do rapper Dom Pixote, pisaram em solo belo-horizontino. KL Jay comprou castanha, amendoim e passas, tudo misturado, como se fosse pipoca, e nos ofereceu. Quando eu ainda tinha alguns amendoins na palma da mão, entramos no carro. Nesse momento, começara uma jornada de quase 12 horas com o vocalista e o dj do Racionais. Tempo suficiente para falar sobre violência, futebol, educação, cultura e arte e apagar da cabeça a tal imagem do sujeito de cara amarrada, braços cruzados e bigodinho.
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O repórter Bruno e Mano Brown começam a entrevista ainda em Confins. Ao lado, a carona rumo a BH
“Acredito que Deus é isso, é união, música bonita, criança sorrindo, uma árvore que está sendo plantada” Mano Brown Como vocês se conheceram? Mano Brown: Foi através de um amigo chamado Milton Sales, que virou empresário do grupo. KL Jay estava produzindo uma fita demo. Edy Rock era o cantor. Blue e eu chegamos lá... Essa história é longa... Da primeira vez, eu e Blue, na plateia, vimos KL Jay e Edy Rock se apresentando e a gente já se interessou. A gente não se conhecia e vimos eles [KL Jay e Edy Rock], tocamos e gostamos da figura, do estilo, do som. Até então a gente não se conhecia. O rap do Racionais tem compromisso com o quê? MB: Com nós mesmos, nosso coração, nossas verdades. Com a verdade acima de tudo, morou? Compromisso com a verdade e quem acredita em nós.
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Ser considerado a voz da periferia o incomoda? MB: Não me incomoda, mas não sou a voz, sou uma das vozes. Acho que a maior revolução daqui pra frente é todo mundo assumir sua carga de responsabilidade. Essa é a verdadeira revolução daqui pra frente. Mano Brown já declarou que o verdadeiro público do grupo é o público da periferia. É constrangedor saber que as classes média e alta também consomem a música de vocês? KL Jay: A música chega para quem quiser ouvir, é igual ao ar, ela vai pelo ar. Não dá para impedir um cara de classe média alta de ouvir a música, gostar e até se identificar e sair cantando. MB: Constrangedor não é. Mas é curioso, porque você tenta se colocar no lugar do cara, de onde ele vem, o que ele é e o que sente ouvindo aquilo ali. Uma coisa é um cara do nosso meio, da nossa raça, do nosso convívio, e outra é um cara que não tem nada a ver com você. O que será que passa pela mente dele? É curioso. 2010 é um ano importante para a política e o futuro do país. O que vocês estão achando do governo Lula? MB: Não é perfeito, mas é o melhor que tivemos até hoje. É um governo mais humano. Passa pela cabeça do grupo, ou de vocês dois, fazer campanha para alguém? KLJ: Essa fase já foi. MB: Apesar de a gente sempre fazer campanha, mesmo involuntariamente. Antes de ser conhecido, a gente já fazia por conta própria, sem ganhar nada, sem reconhecimento nenhum. A gente nunca negou voz nessa parte política. Algumas pessoas dizem que as letras do Racionais só tratam de violência, periferia, crime. Por outro lado, vocês falam muito sobre
fé e esperança. MB: Claro. Não existe assunto obrigatório, o rap não pode estar preso a um assunto só, nem a dois ou três. O rap tem que falar da vida. Quando a gente fala de periferia, as pessoas se apegam na violência da ideia, mas a gente fala de vida, e não violência, mas é a violência que chama as pessoas. Voltando de Confins, eles elogiam a beleza das garotas de Belo Horizonte e comentam como a região próxima a Cidade Administrativa do governo de Minas se parece com a periferia de São Paulo na década de 1970. Como foi apresentar o Yo! Rap na MTV? KLJ: Foi muito bom, uma época que fortaleceu bastante o rap no Brasil. Tinha muita gente em evidência: 509-E, Sabotage, Xis, SNJ, RZO, Racionais, todo mundo fazendo show, várias festas. O Yo! ia cobrir festas e shows em vários lugares. Eu tinha uma sintonia muito boa com a diretora do programa, então fluiu. No show de hoje, por exemplo, vocês chegam com tudo já programado? KLJ: Tudo improvisado. Tem sido assim há tantos anos já, né? MB: Desde que o Racionais existe. O último álbum de inéditas do Racionais foi em 2002 e teve o ao vivo em 2006. Por que esse hiato de sete anos? MB: Natural, nada calculado nem planejado, foi natural mesmo. O tempo passou rápido. O motorista dá um cigarro de palha para Mano Brown, que me pede o isqueiro e diz que quer comprar a coleção inteira do Clube da Esquina. “Quero comprar os CDs desses caras aí, quero a coleção inteira.” Logo em seguida, começa a cantar ‘Nada será como antes’, de Milton e Ronaldo Bastos. “Qualquer hora e qualquer direção, sei que nada será como antes, amanhã... Que saudade de tantos amigos, amanhã e depois de amanhã...” (sic)
Você gosta de muita coisa antiga, né? MB: Ah, as coisas boas de música é “das antiga” né, cara? Coisa nova tem também, as melhores são inspiradas nas coisas velhas, desde o rap até Amy Winehouse. Vocês têm vontade de morar em outros lugares fora de São Paulo? MB: Tenho. Gosto de Belo Horizonte, Curitiba e interior do Paraná, por incrível que pareça, eu gosto. KLJ: Amo São Paulo, sou apaixonado por São Paulo, gosto pra caralho de São Paulo. Puta que pariu! Mas moraria, talvez, em Salvador. Um outro lugar que moraria é Nova York, com certeza por ser parecida com São Paulo, é uma São Paulo melhorada, mas não está nos meus planos. São Paulo é foda. O que mais? Costa do Marfim, na África. Vi umas fotos, mano. Sensacional. Me falaram que o povo lá é receptivo, tranquilão. República Dominicana, iria lindo pra lá. Pergunto se eles conhecem a Rádio Favela. “Quando estava começando, nós viemos. Jogamos lá no campo, quando [a rádio] era piratinha ainda. Agora tá bom né, mano?”, pergunta Mano Brown, que começa a contar a história de um amigo que deixou cair Super Bonder na calça. Manchou toda. “Ele ficou nervoso demais. É a calça mais nova que ele tem.” Por volta de 20h30, chegamos ao hotel. Meia-hora depois, assustadoramente famintos, fomos jantar em uma churrascaria pelas redondezas. Comemos e falamos sobre música. Mano Brown comparava Jorge Ben e Tim Maia e KL Jay não queria conversa. Após estarmos todos satisfeitos, paramos na porta do restaurante para bater papo e fumar um cigarro. Como você vê a produção do rap no país? MB: Cada estado tem suas características. Brasília tem uma característica, São Paulo tem outra. Zona Leste de São Paulo tem um estilo, Zona Norte tem outro. São Paulo é grande, é quase um país. Você não tem só um estilo de música, as regiões são distantes umas das outras. Cada uma tem uma influência
diferente da outra. Isso não quer dizer que você vai dividir o bagulho e inventar um rótulo. E quando o rótulo acontece na música do Racionais? MB: Racionais é antirrótulo. A imprensa cria os rótulos. Ela cria para ter domínio, controle sobre aquilo. A crítica especializada de música cria muito rótulo. Depois de alguns tragos, fomos para o carro pegar o caminho de volta ao hotel. “Isso aqui tá uma bagunça”, diz o fotógrafo, culpando sua profissão pela desordem do carro. “Tá precisando trocar as buchas da suspensão, hein”, diz KL Jay, tranquilo, após passarmos por um quebra-mola. Espera-se do rap e do rapper uma postura crítica, rebelde. Você acha que necessariamente tem que se esperar isso? MB: Quando você faz o que se espera, mata o movimento. Não pode ser previsível. Se o Exército vai invadir um bagulho, ele avisa antes? É igual esperar o Racionais fazer A, B e C, e o Racionais fizer A, B e C, certinho, igual os caras querem. Aí acabou o Racionais, é o caminho mais curto para acabar: um grupo previsível. O que você curte fazer quando não está trabalhando com música? MB: Costumo ficar na favela com os caras, trocando uma ideia, curtindo um som. Beber, eu bebo muito pouco, fico mais conversando mesmo. Trabalho pensando e penso trabalhando. Quando o ‘Sobrevivendo no inferno’ alcançou aquele sucesso imenso e vocês ganharam uma porrada de prêmios na MTV, em 1998, vocês foram receber os prêmios e o seu discurso foi um tanto quanto raivoso. Era um momento para falar muita coisa para muita gente escutar? MB: Ah, aquele momento era importante, não tem como negar, era o momento. Não para o Racionais, mas até para o Brasil. Muita coisa não se falava num momento daquele. Para nós, era uma final de Copa do Mundo, mano. O Pelé quando fez o milésimo gol, falou das crianças, é a mesma coisa.
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marcos muzi
Por volta de 23h, deixamos Brown e KL Jay no hotel. O próximo encontro seria no camarim da boate em que os dois se apresentariam. Nesse ínterim, eu e o fotógrafo sentamos em um café para bater papo. Quando a terça-feira já ficava para trás e a quarta anunciava sua primeira hora, entramos no local, que já estava lotado. Às 2h, Brown e KL Jay chegaram ao camarim, que era invadido pela música da boate. Enquanto KL Jay vidrava os olhos no seu laptop, sentei-me ao lado de Mano Brown para mais uma conversa. Ainda que o barulho atrapalhasse bastante.
“É o amor que vai mudar tudo. Espiritualmente falando, é o amor que muda. Materialmente, é a educação” KL Jay
Tem muita gente que está aqui por sua causa. É difícil lidar com essa expectativa do público? MB: Acho que meu foco é o som, a música. Meu compromisso é no coração, meu. Onde estou, estou com o coração . Você falou que o compromisso da música do Racionais é com a verdade, com o coração. MB: Com Deus, primeiro. Qual é o papel da religião na sua vida? MB: Sou um cara que tenho fé nas boas atitudes, na união, fé em Deus. Acredito que Deus é isso, é união, música bonita, criança sorrindo, uma árvore que está sendo plantada.
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Vocês sempre foram muito arredios com a grande mídia [desde que foi lançada, uma revista nacional especializada em música tentou uma entrevista com Brown, que só foi realizada em dezembro do ano passado]. Por que vocês tomaram essa atitude? MB: Não era interessante na época, não ia somar. Nosso foco era outro. A gente sabia o que queria e não era aquilo, não estava nos nossos planos.
lher disso tudo? Dinheiro. Ou orgulho. Quero ter os dois intactos. [risos] Até que ponto o dinheiro é importante na sua vida? MB: No mesmo ponto que é importante na sua e na de todo brasileiro: sobrevivência. Dinheiro parado fede, tenho essa filosofia. Não acho que ganhá-lo é errado. Dinheiro parado fede, tem um cheiro estranho. O que te irrita no mundo da música? MB: Não tenho nada em mente agora não. O Santos [Futebol Clube] te tira do sério? MB: [risos] Já me fizeram essa pergunta. E a resposta é a mesma? MB: [o olhar de Brown se perde no camarim] Fiquei disperso de uma hora para outra, por que será? [risos] O que o Santos representa para você? MB: Meu primeiro amor. Eu nem sabia beijar e já gostava do Santos. Vou a todos os jogos. E a Seleção? MB: Não acompanho muito não. Não me preocupa a seleção, não sei porquê. Você conhece o Pelé? MB: Não. Tem vontade? MB: Tenho. Pelé botou o Brasil no mapa. Quando o Brasil foi campeão da Copa [de 1958, na Suécia], Brasil, Bolívia e Chile eram a mesma coisa, ninguém conhecia o Brasil. O que mudou de Pedro Paulo Soares Pereira para Mano Brown? MB: Pedro é o nome pelo qual meus amigos mais antigos me chamam e Brown é o nome pelo qual me chamam nos últimos 20 anos. Aí perguntam: Mas é o mesmo cara? Não é dupla personalidade não, é uma só. Não é como o Bruce Wayne e o Batman, não é isso não.
Você quer mudar isso? MB: Não quero mudar isso não. Só faço o que quero. Só o que for conveniente. Tenho o direito de querer ou não.
Você é saudosista? MB: Sou saudosista, mas sou futurista também.
Muitos podem achar que é antipatia e até arrogância. MB: Podem achar, não pega nada, nada pessoal. Sabe uma coisa que dá para co-
Como você se imagina daqui a 10 anos? MB: Cabelo quase todo branco, um pouco mais preguiçoso, tipo Dorival Caymmi.
O momento esperado se aproximava. Gravador desligado, fim de papo. Após ver um forte show de KL Jay e Mano Brown, acompanhados de Pixote, tudo o que eu queria era pegar um táxi, chegar em casa, tomar uma ducha e cair em sono profundo. No dia seguinte, passei rapidamente pela redação da Ragga e, ao meio-dia, já estava na porta do hotel. Mano Brown e KL Jay desceram quase uma hora depois. Eu, fotógrafa (sim, o profissional atrás da lente mudou, assim como seu gênero) e KL Jay fomos juntos no carro. Se na noite anterior o DJ estava caladão, no trajeto até Confins aconteceu o contrário. Quando falávamos sobre ditadura, revolução e educação, KL Jay começou a disparar:
Às vezes, acho que a democracia é democrática demais, tá ligado? [risos]. Ó, vou contar uma coisa para você. Tenho cinco filhos e coloquei todos eles para estudarem em escola paga. Aí você vê a diferença. Um dos meus filhos, vagabundo, não queria ir pra escola. Tirei [da escola particular] e ele falou pra mãe dele: “Puta que pariu, tudo que a professora põe na lousa eu já sei”. Parece que existe um planejamento para manter os pobres ali mesmo, “ó, migalhas para vocês”, sabe? Acho que isso é planejado. Algumas coisas mudaram, o mundo mudou, a época mudou, e a música e a arte estão acima de qualquer preconceito ou diferença social. Arte e cultura são caminhos para uma revolução? KLJ: Sempre foi, desde o começo. O dia a dia é que atrapalha as relações entre as pessoas. Se não tivesse a arte, seria um caos, depressão monstra, todo mundo drogado na rua. A música é tipo um combustível para a vida, é como se fosse o ar que a gente respira. É o seu combustível desde moleque? KLJ: Descobri a música com 10 anos. Ouvia Roberto Carlos, Beatles... É louco quando você percebe o poder que a arte tem de fazer as pessoas serem iguais. Ali [no show] não tinha preto, nem branco, nem rico e pobre; ali tinha música. Depois, a realidade volta, cada um vai para o seu lugar. Ontem, no jantar, você estava comentando que o que importa é a música e quando comentei que o rap americano usa muito a imagem de carrão, joias, mulheres, champanhe, você disse que, para você, isso não importa, o que vale é a música que o cara faz. KLJ: O que importa é a música, é o que você ouve, certo? Uma música do 50cent pode fazer você se apaixonar por uma mulher na balada, fazer você dançar com uma mulher sensacional. Uma música do Jay-Z pode fazer você querer ser um empresário. Não gosto da ostentação, não gosto mesmo, olha como eu ando. Mas tento tirar o que gosto. Música é o que importa. Pelé fala um monte de besteira nas entrevistas, mas ele é o rei do futebol e acabou. Quando você vê o cara jogar, não quer saber o que ele falou ou não. Lulu Santos é um fresco, nojento, pretensioso, bichona louca, mas as músicas dele são muito loucas. “Quando um certo alguém desperta o sentimento é melhor não resistir...” [canta a música ‘Um Certo Alguém’].
O que você acha do funk carioca? KLJ: É um puta ritmo né, meu? E as letras? KLJ: É o que eles têm para oferecer, o que eles vivem e não deixa de ser real. “Créu, créu, créu” é o que eles vivem? KLJ: Sexo explícito, sexo sem experiência. É o que eles têm. É por isso que explode, porque é real, não tem caô, é aquilo lá. Gostem ou não gostem. Puta batida fodida, a batida do funk é foda. E a produção do novo álbum? Já tem música pronta? KLJ: A gente está fazendo junto com William Magalhães [da banda Black Rio]. Tem música pronta, tem umas minhas, de Edy Rock, de Brown... Depois a gente junta tudo, começa a colocar voz e essas coisas. Quando vocês fizeram aquele sucesso todo, com prêmios e clipes na MTV, o que você pensou? KLJ: A primeira coisa que veio à minha mente foi: mantenha o pé no chão e vai pro mundo, mas mantenha o pé no chão. Não se deslumbre com o sucesso, a fama e o dinheiro. Deveriam ensinar nas escolas como lidar com dinheiro, ter aula de inteligência financeira nas escolas. E educação sexual também. Já passou da hora. KLJ: Puta, bem lembrado. Mas isso é planejado. Manter um povo cego, isso é planejado. Você acha que o rap tem a obrigação de ser conscientizado? KLJ: Acho que o rap tem a obrigação de ser verdadeiro, conscientização é outra fita. É muito difícil falar disso. Você tem que se conscientizar primeiro antes de querer conscientizar o outro. Os grandes homens que mudaram o pensamento de muitas pessoas mudaram o pensamento deles primeiro, tiveram que se libertar. Conscientização é uma coisa muito complicada, a educação é que tem que fazer isso. É difícil falar para um moleque da periferia que existe um caminho a ser trilhado que é bom e que ainda há esperança? KLJ: É difícil. Você não está lá com ele. Você fala com ele através da música, mas tem o dia a dia, né? Do mesmo jeito que é difícil para um moleque rico que tem os pais ausentes, loucos, drogados e que tem uma mentalidade de igualdade, ver os seus próximos terem ideias preconceituosas e racistas. Vários ricos se drogam e são viciados por não terem esse carinho, esse diálogo. É o amor que vai mudar tudo. Espiritualmente falando, é o amor que muda. Materialmente, é a educação. O que você tem escutado? KLJ: Vou falar uma coisa que estou escutando muito: John Coltrane. Sensacional. Ele devia gostar muito de sexo, porque o vejo tocando, a loucura que é ele tocando, é como duas pessoas terem uma puta atração uma pela outra e estarem ali juntas. E outras coisas também: Jay-Z ouço todo dia. Para
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mim, ele representa o progresso. Quando crescer, quero ser igual a ele. Tem muita divergência musical no Racionais? KLJ: Um pouco, você viu ontem [no jantar, quando, numa discussão sobre Jorge Ben Jor e Tim Maia, Mano Brown, apesar de gostar de ambos, disse preferir Jorge.], né? [risos] [risos] Por isso pergunto. KLJ: Ele [Brown] tem a opinião dele e eu tenho a minha e nunca vai haver um consenso. Eu amo Jorge Ben Jor do mesmo jeito que amo Tim Maia, não dá para falar quem é melhor, não dá. Quem é o rei do futebol? Pelé, mas tem gente que acha que o Garrincha é melhor. Tudo bem. Chegamos em Confins. Faltam 45 minutos para o avião decolar. Novo encontro com Mano Brown. Você já teve medo de ser assassinado, como Malcom X, Martin Luther King, Tupac e Sabotage? MB: Não tenho essa brisa não, mas é um lance que os que oferecem perigo convivem com isso de alguma forma. Quem carrega o piano, dá a cara pra bater, convive com isso. Concorda que você seria um alvo? MB: Se eu andar moscando, vacilando, talvez. Todo cara que põe a mão na ferida sabe o risco que corre. É como assaltar um banco. Você não trabalha sem a possibilidade da morte, não existe isso.
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bruno senna
O rapper em ação no palco: “Meu foco é o som, a música. Onde estou, estou com o coração”
Qual é a sua opinião em relação à legalização das drogas? MB: Já existem várias drogas legalizadas, as piores já são legalizadas. Faltam duas ou três, as outras todas já são. Tem que haver uma revisão geral, as leis no Brasil parecem muito antigas. E qual é a responsabilidade do usuário? MB: A primeira responsabilidade do usuário é com ele mesmo, com a própria saúde, com o tempo. A Bíblia fala que o corpo do Homem é o templo de Deus. A primeira política do usuário é interna, causar uma rebelião interna e ele vai ver que não está bom. Agora, no coletivo, se é que existe campanha antidroga no coletivo, cada usuário usa por um motivo. Quem é ou o que é o playboy para você? MB: Você não vai achar um termo. A cultura playboy existe, e pode ser até pobre. Às vezes é um rico, mas que sabe se posicionar no meio de qualquer um e qualquer lugar. Ou pode ser um classe média ou um cara quebrado, mas tem problema com certas pessoas e classes, e aí é uma atitude de playboy porque é seletiva, elitista, segregadora, medrosa. O playboy é que tem essa atitude, a cor dele e quanto ele tem no bolso eu já não sei, entendeu? [risos]. Você já sofreu muito com o preconceito? MB: Ô, mano, já sofri preconceito de cor. Dentro da periferia também? MB: Dentro, pode ser, mas a maioria das vezes sofri fora. Na periferia, os caras que nem eu são a massa, são todo mundo. É uma pátria, um país.
“O rap tem que falar da vida. Quando a gente fala de periferia, as pessoas se apegam na violência da ideia, mas a gente fala de vida, e não violência” Mano Brown Pausa para um lanche rápido. O voo sai às 15h. São 14h30. Você é realmente um sobrevivente do inferno? MB: Sou, mas o inferno está aí, o inferno continua. Tem muitos vivendo no inferno neste exato momento. Te dá vontade de fazer alguma coisa em relação a isso? MB: Acho que essas coisas são como acreditar em Deus, são as pequenas coisas. Não é só atrás de um balcão de uma ONG, nem cortando fita, inaugurando evento. São pequenas coisas, pequenos pensamentos, onde você pode eliminar racismo, injustiça.
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carlos altman/em
O vocalista e o dj do Racionais participam de debate na semana da Consciência Negra, em BH, em 2002. Ao lado, os dois “trocam uma ideia” minutos antes do embarque para São Paulo
Você é um cara otimista? MB: Sou otimista, claro. Pessimismo nunca, suicídio coletivo nunca, tipo Charles Manson. Que maluco aquele cara, não? Viajou que a esposa [a atriz Sharon Tate] do diretor Roman Polanski estava grávida do filho do Satanás, como no filme ‘O bebê de Rosemary’, do próprio Polanski. Ele orquestrou e mandou que integrantes de sua seita, a Família Manson, fossem à mansão de Polanski matar a modelo, que estava com outras três pessoas que também foram mortas, e ainda disse que algumas músicas dos Beatles o haviam influenciado. MB: O John Lennon era vivo ainda?
É possível eliminar o racismo no Brasil? MB: É cada um tirar de si o racismo. É mais fácil administrar a si mesmo do que o Brasil. A mudança tem que partir de cada um.
Sim. Isso aconteceu em 1969, os Beatles ainda estavam na ativa. MB: O sonho não tinha acabado ainda.
O povo está preparado para isso? MB: Vem se preparando, está chegando.
O sonho nunca vai acabar. MB: O sonho não acaba, mas o show termina.
Nas quase 12 horas com Mano Brown e KL Jay, entre aeroporto, entrevista, jantar, camarim, show e aeroporto de novo, muita coisa foi dita e muias fotos foram tiradas. O que não entrou nestas páginas você confere no www.revistaragga.com.br
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Comida da moda
por Alex Capella
fotos: divulgação
Nem bem abriu as portas e a mistura de loja com piano-bar da grife mineira Chicletes com Guaraná já mexeu no seu sofisticado cardápio. Com inspiração na gastronomia contemporânea, o empreendimento, que já reúne chiques e descolados de Belo Horizonte, instalado no Bairro de Lourdes, passou a oferecer novas opções de canapés e massas, tudo harmonizado com vinhos ou com drinques de encher os olhos. O próximo passo da marca será o lançamento do mesmo conceito, em São Paulo, no segundo semestre.
Frozen yogurt O Yoggi é a primeira loja de frozen yogurt com cara e atitude brasileiras. A empresa abriu as portas no verão de 2008, em um cantinho charmoso no Leblon, no Rio de Janeiro. De lá para cá, a marca já soma 17 lojas, impulsionadas pelo sabor que equilibra o doce e o azedinho característico, tanto na opção natural quanto jabuticaba, além das 21 coberturas. Em janeiro, BH recebeu a primeira unidade, na Rua Fernandes Tourinho, na Savassi. E os planos de expansão prevêem a abertura de outras quatro unidades até 2011.
Gatas
Almoço Max Nada daquelas comidas industrializadas, feitas em grande quantidade, típicas de muitos restaurantes. Desde que a direção do Max Savassi, tradicional hotel localizado numa das áreas mais nobres da capital mineira, optou por administrar seu próprio restaurante e investir pesado em alimentos e bebidas, os hóspedes das suas 118 unidades habitacionais e os frequentadores têm se deparado com um buffet saboroso e criativo na hora do almoço. E a mesma qualidade também pode ser vista no café da manhã primoroso, digno dos hotéis de classificação superior.
Zen Na expansão de um consultório de psicoterapia, em que a prioridade é o bemestar, as irmãs Fabíola e Priscila Fantin criaram um novo espaço em BH, dedicado à integração do corpo e da mente. O Massala está instalado numa casa do Bairro Santa Lúcia (Rua La Place, 593), que parece estar fora da cidade, tamanho é o sossego que se encontra no local. Cercada por grama, sons de grilos e canto de pássaros, lá, opta-se por praticar ioga ou usufruir de massagens (shiatsu, zenshiatsu, tuiná, ayurvédica, sueca ou relaxante), acupuntura a laser, reiki quântico, terapia bioenergética, meditação, colonterapia e grafoanálise. Para melhorar, os pacientes são recebidos com um aconchegante escalda-pés, regado por ervas e óleos produzidos no próprio Massala. massala.com.br.
O maior site sensual de Minas Gerais e um dos maiores do país está de cara nova. O ehgata.com.br, que já era sucesso absoluto entre os marmanjos — com uma média de 8 milhões de pageviews/mês —, ficou ainda melhor. Vale a pena conferir. Para ter acesso a várias seções exclusivas, basta pagar uma mensalidade de R$ 4,90.
MAIS CHOPE Conforme a coluna antecipou, com exclusividade, o Albano’s confirmou o investimento na sua segunda unidade, que será instalada na esquina das ruas Rio de Janeiro com Tomás Gonzaga, em Lourdes. A fachada do charmoso sobrado amarelo que abrigará a choperia até já recebeu um revestimento com a estampa da marca. Há 13 anos reinando absoluto quando o assunto é chope, no Anchieta, e eleito por diversas vezes o melhor chope da cidade, o Albano´s deverá inaugurar a sua segunda unidade ainda no primeiro semestre. O sobrado é tombado pelo patrimônio histórico. Hoje, a choperia vende cerca de 16 mil litros da bebida por mês.
A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de fevereiro. Sugestões e informações para a edição de março entre em contato pelo e-mail da coluna.
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