REVISTA
#67
NOV 2012
leitura recomendada para maiores de 18 anos
NÃO TEM PREÇO
EDIÇÃO ESPECIAL
O ex-tenista fala do seu projeto de popularizar o esporte no Brasil e conta que o grande desafio é criar uma estrutura que dure após as Olimpíadas
TEQUILA
Aprendemos os segredos da bebida 100% agave em terras mexicanas
www.denguetemqueacabar.com.br
155
Ligue:
roubar e d o p e a denguda sua vida. r 10 dias ela não rouba s vidas isso se ida. das sua s a d ta s e. o afa a sua v a dengu soas sã causa d ias pes sos
a or vár lguns c ionais p s dias, profiss as em a Todos o e m , is s ia ia c 0d is, so ento é 1 pessoa ata. fastam a e ngue m d e d ia a . eduzir te n A méd uiram r g ermane e p s us r n e o s novo vír pode cê já c de um as e vo a in d a m e g v e e gra s. a ch no d e casos o. Mas d o gover d , a e s t us o o s t ã e n ç Ju ina s no ame se tos. Ch os caso econtam n r % ju e 5 r d 7 a s e em balh hanc undo. nir e tra tou as c todo m s nos u a o aumen lv m o v a n is ,e . o, prec inhança m você Por iss ize a viz caba co il a b o la e m , u o amigos dengue a com a b a c a e nt ou a ge
ETAPA EUROPA 10 DE NOVEMBRO PATROCÍNIO
APOIO
ORGANIZAÇÃO
RÁDIO OFICIAL
TV OFICIAL
REALIZAÇÃO
ÚLTIMA CORRIDA DO CIRCUITO largada no
Parque Municipal
FAÇA JÁ SUA
INSCRIÇÃO Percurso: 5km e 10km Local: Parque Municipal · BH Hora: 19h
WWW.RAGGANIGHTRUN.COM.BR revistaragga
C
CAIXA DE ENTRADA CARTAS
EXPEDIENTE
Edição Fábio Porchat
DIRETOR GERAL
Marcos Gomes, pelo Twitter Chegou minha leitura predileta! Fábio Porchat com a cara menos feia, porque fez cara feia! http://instagr.am/p/ Q93FCCpAPa Guilherme Romão, pelo Twitter #FábioPorchat chegou aqui em casa hoje soltando o verbo e quebrando barreiras mineiras... Vou ler minha @revistaragga. pic.twitter.com/GuMfoE4E
lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING
bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO
nathalia wenchenck [nathaliawenchenk.mg@diariosassociados.com.br] COORDENADORA DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING
patrícia melo
EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL
flávia denise de magalhães – mg14589jp [flaviadenise.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR
bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTERES
bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] guilherme avila [guilhermeavila.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO
Edwaldo Cabidelli, pelo Facebook (sobre matéria A pauleira resiste) Vida longa à Cogumelo Records! Pena q o surgimento de um Sepultura é um fenômeno mais raro em BH do q o Galo ganhar o Brasileiro.
lara dias [laradias.mg@diariosassociados.com.br] fernanda ayuki
Lucas Miranda, pelo Facebook (sobre matéria A pervertida do ano) Quando leio coisas assim percebo que ainda sou uma criança, e tenho muito o que conhecer neste mundo!
FOTOGRAFIA
NÚCLEO WEB
renata ferri [renataferri.mg@diariosassociados.com.br] felipe bueno [felipebueno.mg@diariosassociados.com.br] DESIGNERS
anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] bruno teodoro [brunoteodoro.mg@diariosassociados.com.br] jonathan soares marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] ana slika bruno senna carlos hauck
ARTICULISTA
lucas machado COLUNISTAS
André Luiz, pelo Twitter Essa @revistaragga nova tá bonita, hein? Design jovem, requintado. Pura classe!
alex capella . eduardo damasceno . joão paulo lucas buzatti . luís felipe garrocho RAGGA GIRL
MODELO paloma bicalho FOTOGRAFIA carlos hauck
CAPA
NOSSA CAPA Viajar para “buscar” a capa sempre traz uma ansiedade. Afinal, e se algo der errado? E se o cara não topar a ideia? E se o voo atrasar? Assim que a assessora confirmou a entrevista, já começamos a pensar em opções para a foto de capa. Algumas ideias aqui, outras acolá... Como agora Guga leva uma vida de empresário, mas ainda conserva aquele jeito de menino, por que não colocá-lo de blazer e bermuda, misturando o sério com o despojado? O ex-tenista já havia sido avisado da nossa ideia. Ele levou as roupas que precisaríamos e, depois da entrevista, mudou de figurino com a maior buena onda e se divertiu. 10
bruno senna
vigilantes do texto rona editora REVISTA DIGITAL [www.ragga.com.br/digital] REVISÃO DE TEXTO IMPRESSÃO REDAÇÃO
av. assis chateaubriand, 499 . floresta . cep 30150-101 belo horizonte . mg . (31) 3225 4400 PARA ANUNCIAR
bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] SAIBA ONDE PEGAR A SUA
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O CONTEÚDO DIGITAL DA RAGGA VOCÊ CONFERE NO PORTAL UAI:
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TIRAGEM: 10.000 EXEMPLARES
EDITORAL
Desafiador! Essa é a palavra que define o ultimo projeto assumido pela Ragga. Desde os bastidores até a competição em si, o Iron Biker Ragga 2012 envolveu uma equipe com mais de 100 pessoas na produção, e mais de 600 atletas, que enfrentaram aproximadamente 100km de trilhas em dois dias de sol forte entre subidas e descidas nas montanhas mineiras. Concretizar este projeto exigiu alguns meses de trabalho pesado e uma enorme carga de responsabilidade absolutamente compensada pelo alto astral e satisfação estampada no rosto de cada atleta que recebia a suada medalha ao completar a prova. Agradeço a confiança e parabenizo nossos agora sócios Gilberto e Marco Antônio Canaãn, que criaram o evento e que há 20 anos são responsáveis pelo crescimento do esporte no nível nacional e internacional. Está no sangue da Ragga encarar desafios como este e, ao longo dos anos, fomos assumindo-os como combustíveis para seguir na nossa busca por gerar expressão e fomentar ações que tragam, em sua essência, algo que faça a diferença. Vamos seguindo assim e não pretendemos pensar diferente. Se não houver desafio, não precisa contar com a gente.
bruno senna
Rapadura doce
Lucas Fonda — diretor geral lucasfonda.mg@diariosasassociados.com.br
bruno senna
Ă?NDICE
Iron Biker Ragga Tudo sobre um dos maiores eventos de mountain bike marathon do paĂs
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Tequila!
Eu quero pedalar
Nossa repórter foi ao México descobrir os segredos do destilado de agave-azul
Dicas de produtos para os ciclistas que não deixam o equipamento de lado
39 Mara Mourão A cineasta carioca contou no De Frente como fazer do mundo um lugar melhor
De medalha na mão Os vencedores do Iron Biker contam o perrengue que passaram para conquistar o título
40
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JÁ É DE CASA
Só no site 16 Destrinchando 18 Twitter 20 #Instaragga 23 Rapidinhas 24 Estilo Priscila Pitta 26 Eu quero 28 Quem é Ragga 30
46 A vida no Rio
Pedimos a 10 mineiros que moram no Rio de Janeiro que nos dessem 10 dicas sobre a cidade
50 Gustavo Kuerten O tenista brasileiro mais premiado conta sobre seu sonho de transformar o Brasil no país do tênis
Por aí 64 On the Road Belém 66 Ragga Girl Paloma Bicalho 72 Livrarada 78 Prata da casa 80 Crônico 82 Quadrinhos Rasos 84
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S
SCRAP S/A
COLUNA POR ALEX CAPELLA // ALEXCAPELLA.MG@DIARIOSASSOCIADOS.COM.BR
Sugestões e informações para a edição de dezembro, entre em contato pelo e-mail acima.
Licença para beber
Música nos trilhos
O festival BH Music Station, que será realizado nos dias 10, 17 e 24 de novembro, terá como atrações Otto, Alceu Valença, Mutantes, Moraes Moreira e Davi Moraes, Felipe Cordeiro, Bexiga 70, Rachel Jesuton, Ibrahim Ferrer Junior, Cachorro Grande, Falcatrua, Zimun e Constantina. Além disso, o público poderá curtir performances de artistas populares e exposições de arte. O evento será distribuído em três estações do metrô de Belo Horizonte (Santa Inês, Minas Shopping e Vilarinho).
Olho nas moças
A partir de dezembro, a Cervejaria Backer disponibilizará para venda a cerveja Capitão Senra. Trata-se de uma homenagem ao oficial reformado e capitão do batedor do exército da época do presidente Juscelino Kubitscheck. A garrafa terá um monóculo dependurado no gargalo com a seguinte mensagem: "Se beber, não dirija. Só olhe". Dentro do monóculo, fotos sugerirão, por exemplo, pegar uma carona no carro cheio de moças.
fotos: divulgação
A Heineken comemorou a parceira com James Bond e o lançamento do filme 007 – Operação skyfall, no Morro da Urca, no dia 23 de outubro, com uma grande festa, a The Express Party. O evento contou com a presença de famosos entre os quase dois mil convidados. É a sexta vez que um longa metragem de 007 é patrocinado pela marca. Os filmes anteriores foram: O amanhã nunca morre, O mundo não é o bastante, Um novo dia para morrer, Casino royale e Quantum of solace.
Réveillon
A mineira Jump Entretenimento quer reunir um grupo seleto de mineiros para celebrar o réveillon de Punta del Este, no Uruguai. Denominada Provocateur pop up – new year’s eve, a festa será realizada no Mantra Beach Club, na praia que recebe jet setters do mundo inteiro no alto verão sul-americano. A pista deve receber cerca de 3 mil pessoas. A Jump é a empresa que está trazendo a Belo Horizonte a filial da Provocateur, badalada casa noturna de Nova York. A previsão de abertura da casa é março de 2013. Show de horror
O tradicional Parque Guanabara, na Pampulha, inaugura o Castelo do Terror, em parceria com a Indiana Mystery. A empresa de entretenimento já montou atrações temáticas no Playcenter, no Hopi Hari e no Beto Carrero World. Na capital mineira, em uma plataforma de 250m², serão construídos sete diferentes cenários com muita tecnologia e efeitos especiais. O investimento do Parque Guanabara na atração foi de R$ 750 mil e estará à disposição do público a partir do dia 24 de novembro.
Reforço
O Boulevard Shopping amplia o seu mix com a chegada de quatro novas operações de peso. No segmento de vestuário, a Looxx, refinada grife de camisaria feminina, e a Sketch, acabam de ser inauguradas. A próxima novidade é a Dress To. Na área de gastronomia, o shopping já fechou contrato com o Garcia & Rodrigues, sofisticado restaurante, delicatessen e confeitaria presente apenas no Rio e São Paulo, com abertura prevista para dezembro. O Garcia & Rodrigues é considerado um dos melhores pâtisserie franceses em atividade no Brasil. 14
Gostoso como você adora,
leve como nem imagina.
O restaurante SUBWAY® é a opção ideal para quem procura uma refeição rápida, gostosa e ao mesmo tempo nutritiva. Só no restaurante SUBWAY® você saboreia deliciosos cookies, saladas e tem várias opções de sanduíches. Quer uma refeição gostosa e leve de verdade? Venha para o restaurante SUBWAY®.
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© 2012 Doctor’s Associates Inc. SUBWAY® é uma marca comercial registrada de Doctor’s Associates Inc. Imagens meramente ilustrativas.
BLOG PARCEIRO
Zonafootball Descubra por que os Estados Unidos é o único país do mundo que chama nosso futebol de soccer. bit.ly/futebolsoccer
EXTRAS
carlos hauck
Beleza em Belém Confira a galeria completa de imagens que mostram a Belém do presente, da saudade, do sol e da satisfação de um picolé de açaí em mãos. bit.ly/belempresente
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Lego porn O artista Jean-Yves Lemoigne foi muito além dos castelinhos e construiu, com peças de lego, esculturas de mulheres nuas em posições sensuais. bit.ly/legoporn EXTRAS
Quanto vale esta medalha Veja todos os depoimentos dos ciclistas que conquistaram, no Iron Biker, medalhas que têm muita história. bit.ly/ironmedalha
fotos: reprodução da internet
SÓ NO SITE
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Música animada Você adora desenhos, mas acha que já passou da idade de assistir programas infantis? Veja alguns dos melhores videoclipes com animações. bit.ly/clipesdesenhos
COLUNA DA WEB
Hipsterismos Ser hipster é jamais admitir essa alcunha. Mesmo assim, assista ao vídeo irônico em que duas garotas explicam exatamente o que caracteriza a tal filosofia alternativa. bit.ly/hipsterismos
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Desvendando imagens Habituado a pinceis e lápis, artista desenvolve técnica semelhante à xilogravura utilizando fotolito. bit.ly/desvendarimagens
DESTRINCHANDO ARTIGO POR LUCAS MACHADO ILUSTRAÇÃO JONATHAN SOARES
Virgulino, o Lampião “DIGA AO COSTA REGO QUE TÔ ACOSTUMADO A SALTÁ RIACHO, RIO, QUE DIRÁ REGO”. Mensagem de Lampião ao então governador de Alagoas, Dr. Costa Rego.
e
O diferencial de Lampião e sua quadrilha era lidar bem com policiais e políticos corruptos, que forneciam armas e munições e facilitavam a entrada nas cidades
EM UMA PEQUENA FAZEN-
DA chamada Passagem das Pedras, em Vila Bela (atual Serra Talhada), a mais ou menos 415km de Recife, nasceu Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, no dia sete de julho de 1897. São muito raros os registros históricos de seus pais, mas indícios apontam para um passado em que ancestrais eram homens valentes que viveram para defender suas terras dos “portuga”. Talvez em seus genes houve uma mistura de índios, negros e europeus. Apesar de seu pai ter sido um sujeito tranquilo, Virgulino foi criado num ambiente em que questões de honra, de família e de invasões de terras eram tratadas sempre de maneira violenta. Sua família conseguia tirar apenas o necessário de suas terras para sobrevivência. A infância foi a igual de todos os meninos de sua época no sertão, fazendo as mesmas brincadeiras e sofrendo as mesmas amarguras. Porém, quando já um pouco mais velho, aconteceu uma briga entre famílias e mataram quase todos os seus parentes. Causar um ferimento de honra em um nordestino era um caminho sem volta. Virgulino nunca mais foi o mesmo depois desse episódio. Passou a andar com um bando assombrando todos os lugares em que passava, com chapéus de abas largas, roupas de couro muito enfeitadas e punhais, vestimenta
MANIFESTAÇÕES
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característica de cangaceiros — os óculos eram por problema de visão. Conta-se que Virgulino adicionou uma pitada de criatividade e conhecimento adquirido prendendo com um lenço o gatilho, fazendo as armas parecerem semiautomáticas. Em meio a um dos tiroteios, o cano de sua arma ficou tão quente que se iluminou, daí o nome Lampião — essa é uma das versões para seu apelido. Em um famoso confronto, em Água Branca, no estado de Alagoas, Lampião e seu bando prenderam um policial no poste e bateram nele por vários dias — foi esse mesmo policial que matou seu pai. A partir daquele dia, ele tinha um único desejo: vingar a morte do pai. “De hoje em diante vou matar até morrer.” O diferencial de Lampião e sua quadrilha era lidar bem com policiais e políticos corruptos, que forneciam armas e munições e facilitavam a entrada nas cidades. O curioso era sua audácia: mandava um aviso ao prefeito dizendo que queria certa quantia em dinheiro. Se o prefeito não desse, ele invadia e roubava toda a cidade. Lampião se tornou sinônimo de terror no Nordeste. Inovou trazendo uma mulher para o cangaço. Essa moça era Maria Bonita. Ele sempre tratou muito bem as mulheres e as cidades que tinham mais de duas igrejas. A pergunta que fica é a seguinte: Lampião foi um herói ou um vilão? Apesar de ter vindo, como a maioria dos brasileiros, de um ambiente de injustiça, jamais teve compromisso com as classes sociais próximas à pobreza. O misticismo que cerca esse personagem é fruto da falta de heróis no Brasil, que, hoje, são jogadores de futebol, cantores de música caiçara ou a escória do reality show. Fui! J.C.
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Proteja seus olhos. Exija o selo de qualidade ABNT.
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Até o mendigo de Curitiba é mais bonito do que eu. tati_bernardi
Eu tenho consciência ambiental. Eu me retiro do ambiente quando não tô agradando. moskito
Quero fazer uma banda cover de Band of Horses que vai se chamar Bando de Cavalo.
Pessoa feia passou de “solteiro” para “em um relacionamento sério”. • Curtir com recalque • Comentar com ironia • Compartilhar o milagre •
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IPHONE 5: UM POUCO MAIOR QUE O 4; UM POUCO MAIS FINO E MAIS RÁPIDO QUE O 4S; UM POUCO MAIS CARO QUE UM CHEVETTE 1989.
yurimoraes
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“Maromba” já pode ser considerada uma gíria idosa? tipoumovo
Word diz que a palavra que eu escrevi tá errada. Daí vou ver o que ele sugere como certo e é: SEM SUGESTÕES.
Se você tem mais de 25 anos e ainda usa bermuda, você é um adulto que gosta de usar bermuda.
kadubocao
Dolly_Guarana
UMA DAS CINCO COXINHAS QUE EU COMI NO ALMOÇO ESTAVA DEFINITIVAMENTE ESTRAGADA.
Pessoal, muito obrigada pelos elogios. Aos que estão criticando, vocês ainda vão provar o nosso sabor.
arturdotcom
A VIDA É UM PACOTE DE RUFFLES SÓ COM AR E A FELICIDADE É AQUELE FARELO QUE VOCÊ TENTA COMER E CAI NA BLUSA.
Danilomaranhao
Busco uma empresa multinacional e bem sucedida que queira me contratar para a vaga de presidente. wtfjaine
Tava no carro falando dos meus problemas e o GPS disse: “Siga em frente”. Ambos choramos.
marianaevcs
Pra mim, existe gente que meu santo não bate e gente que o meu santo deveria era enfiar o cacete.
OMGiovaniv
Hoje fiz um café tão forte, que ele amassou o pão e o diabo. claudinhosilva
Nunca vi gato de botas, nem couro de lobisomem. Se correr o Wikipédia, se ficar o Google Chrome.
rafaelmantesso
Se eu morresse hoje teria três orgulhos: nunca comi temaki, cupcake e não tirei foto no espelho. 20
tegretol_
Será q o povo do meu serviço vai notar se eu levar um colchão amanhã?
Iucassilveira
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Nesta edição, chamamos todo mundo para postar fotos com o tema livro preferido com a hashtag #instaragga. O resultado você vê por aqui.
catpaulino
iannasena
marinabfreitas
rayracalderone
reneecrack
rogerhenrique
santostilo
Quer participar em novembro? Basta postar no Instagram uma foto com o tema Meu moleskine e a hashtag #instaragga.
RAPIDINHAS COLUNA
fotos: divulgação
POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES
As vantagens de ser invisível A artista Cecília Paredes não fala muito sobre seu trabalho. Mas ao ver a arte feita por ela fica fácil entender que sua expressão não passa pelo ato de se mostrar excessivamente. Nascida no Peru, Cecília usa das cores fortes, típicas de sua terra, para se esconder no ambiente. Usando estampas gritantes em paredes e objetos, ela replica a agressão visual em seu próprio corpo, se escondendo em plena vista e mostrando que ser invisível é mais fácil em ambientes gritantes do que no silêncio. Você pode conhecer mais sobre o trabalho dela no ceciliaparedes.net.
O mineiro e o queijo O documentário do cineasta Helvécio Ratton acaba de ser lançado em DVD. Contando a história do patrimônio nacional, o documentário mostra a tradição de quase 300 anos da fabricação artesanal do produto no estado. Além de mostrar de perto as fazendas e as famílias que mantém viva a receita do produto, o filme levanta a questão da proibição da comercialização do queijo minas fora de Minas Gerais. Além do documentário, o DVD premiado como melhor filme pelo júri popular da Mostra de Cinema de Tiradentes conta com uma receita de pão de queijo e fotos do processo de filmagem. 24
Memória da cidade
QR Code na calçada
Foi seguindo a tendência de valorizar os espaços públicos de Belo Horizonte e tentar trazer à tona que aquilo que muitas vezes parece abandonado faz parte memória afetiva da cidade, que o pesquisador Koji Pereira fez seu projeto final do Programa de Pós-graduação em Artes na Escola de Belas-Artes. O aplicativo para Android, Lugares Invisíveis, permite que as pessoas gravem sua voz atrelando-a a uma localização na cidade, contando um depoimento sobre o local. Segundo Koji, o objetivo é que os usuários “experimentem a cidade como um jogo, traçando percursos que oferecem histórias, memórias e comentários”. O aplicativo é gratuito e pode ser baixado no lugaresinvisiveis.com.
Noite de fogos
fotos: divulgação
A ideia era juntar a tradição da calçada portuguesa, feita com pedras brancas e pretas, com a tecnologia do QR Code. O objetivo é mostrar para o mundo que o tradicional país português, conhecido pelos seus modos discretos e pela cerâmica azul, está com os dois pés no século 21. O resultado você confere no vídeo youtu.be/J1ahe2iJOow, no qual eles mostram como uma ideia simples pode se tornar uma referência para turistas da cidade, que fotografam o código na calçada e encontram informações sobre o local em que estão. Realmente, o melhor dos dois mundos.
Os temas mais interessantes da fotografia atual são os mais simples. A proposta do fotógrafo canadense David Johnson é tentar novas técnicas para registrar o mundo através de seu olhar. “Eu faço fotos para mim mesmo. Simplesmente. Ver as fotos após um dia bom de trabalho é a descrição exata do que eu amo”, conta o fotógrafo. Dentro do trabalho dele, o destaque são as fotos de fogos de artifício. Todo fotógrafo amador sabe que a explosão fogos que impressiona no ano novo é um desafio de fotometria. A solução encontrada por David é transformar as luzes brilhantes em iluminação suave, criando formas com as cores. daveyjphoto.com
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E
ESTILO Priscila Pitta
COLUNA POR LUCAS MACHADO FOTOS CARLOS HAUCK PRISCILA PITTA MACIEL é formada em administração, mas desde os 13 anos trabalha com moda na marca de sua mãe, Marília Pitta, que já está no mercado há mais de 20 anos. “Quando comecei, não havia curso de moda, fazíamos atacado. Adorava ir a feiras e viajar para fazer pesquisas no exterior”, conta. A marca também conta com uma loja na capital paulista. Priscila diz que sua grande paixão e de sua mãe é fazer roupas especiais com toques diferenciados para cada cliente. “Somos tão apaixonadas pelo que fazemos que há 15 anos largamos mão do atacado para atender o varejo. Nosso diferencial é que vendemos alta costura utilizando a mesma matéria-prima das grandes marcas do mundo, com muito conceito e charme”, explica. Priscila adora viajar e sempre voltar a lugares como Paris e Nova York. Seus filmes prediletos são os de comédia. Na música, curte Bebel Gilberto e Marisa Monte e gostaria de ter visto Frank Sinatra ao vivo. Priscila tem como meta mostrar as multimarcas que também fazem parte do mix de suas lojas. Quanto à moda fast fashion, ela tem alguns receios. Para Priscila, moda não é uma coisa descartável, e sim uma arte.
Priscila usa Vestido Jersey italiano
Sapato Schultz
Relógio Rolex
Brinco Rosália Nazareth
Clutch Isla por Marília Pitta
Livros Les Collections du Kyoto Costume Institute - Volumes 1 e 2 Perfume Acqua di Parma – Blu Mediterraneo
Livro Emilio Pucci – Editora Taschen Brincos Hector Albertazzi por Marília Pitta
J.C. 26
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EU QUERO
CONSUMO
Short jeans Para aproveitar o calor do verão que chega à cidade, um short jeans que combina com qualquer visual. R$ 169,90 nas lojas Armadda (BH Shopping e Boulevard)
Cofrinho Vale para guardar as moedinhas e para dar aquele toque na decoração da casa. R$ 88 a R$ 97 na Wish BH (Rua dos Inconfidentes, 863 – Savassi)
Camisa A camiseta ideal para passar o verão à beira do mar. R$ 79,90 nas lojas Armadda (BH Shopping e Boulevard) 28
Colete flash bomb A Ripcurl lançou um colete quente e confortável, desenvolvido com a tecnologia flashdry, que permite que ele seque internamente em minutos. R$ 599,90 na ripcurl.com
Gola brilhante
Cerveja Duff A icônica cerveja preferida de Homer Simpson já pode ser encontrada em Belo Horizonte. R$ 14,50 no Mr. Beer (Shopping Paragem)
fotos: divulgação
O colar em forma de gola ganha fãs com a versão da Chouchou. R$ 275 nas lojas Chouchou (BH Shopping, Boulevard, Pátio Savassi e Diammond Mall)
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QUEM É RAGGA FOTOS ANA SLIKA
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arquivo pessoal
Veja todas as coberturas do mĂŞs no bit.ly/quemeragga
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bruno senna
ESPECIAL
Foram meses de preparação, centenas de envolvidos, dois dias de prova e mais de 100Km de cascalho percorridos, mas o primeiro Iron Biker Ragga foi um sucesso! Confira o resultado nas próximas páginas
NA TRILHA COM RACA POR GUILHERME ÁVILA FOTOS BRUNO SENNA E CARLOS HAUCK
Uma das mais tradicionais maratonas de moutain bike da América Latina completa duas décadas recheada de desafios
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fotos: bruno senna
TRILHAS, POEIRA, MONTANHAS, cascalho, travessia de riachos, suor e lama. Tudo isso fez parte do percurso inédito do Iron Biker Ragga 2012, que ocorreu nos arredores do condomínio Alphaville, na Lagoa dos Ingleses. Uma prova dura que, além de exigir um esforço físico e psicológico, testou as técnicas e estratégias dos mais de 600 participantes. Quem levou a melhor na categoria elite masculino, foi o atleta paulista
Edivando de Souza Cruz, de 34 anos, que já tinha conquistado o lugar mais alto do pódio em 2002 e 2007. "Essa sempre é uma maratona muito disputada. O circuito nunca se repete e as duas etapas da prova oferecem um formato bem diferente do que os atletas estão acostumados", revela. O suíço Lukas Kaufmann foi vice-campeão e acumulou a segunda maior soma de pontos gerais nos dois dias da competição. O terceiro lugar ficou com o brasiliense Josemberg Nunes Pinho. Repetindo o sucesso do ano passado, a ciclista belo-horizontina Letícia Jaqueline Soares Cândido, de 21, foi a campeã da categoria elite feminino. Ela manteve a liderança em ambos os dias. O segundo lugar dessa mesma categoria ficou a também mineira Liege da Silva Walter, seguida da catarinense Tânia Clair Pickler Negherbon. O resultado completo dos mais de 100 quilômetros percorridos pelas demais categorias está disponível no site oficial do evento. Para o analista de sistemas e ciclista amador José Trajano, de 52, a prova foi só elogios. "Achei o roteiro desafiador e muito bem equilibrado, com todo tipo de percurso. Estradão para ganhar velocidade, downhill e subidas íngremes para o pessoal ter que empurrar a bike. Vale a pena fazer também para admirar as belas paisagens ao longo do caminho", afirma. Com mais de 20 anos de experiência sob os pedais, essa foi a primeira vez que ele participou do desafio. "Quero
carlos hauck
voltar no ano que vem", garante. Trajano recebeu a tradicional medalha especial para os atletas que completam os dois dias de competição, uma lembrança marcante para comprovar que o ciclista encarou e venceu o desafio das montanhas mineiras. IRON BIKER É RAGGA
Buscando renovar e inovar o formato dessa competição de nível internacional, a equipe da Ragga assumiu a organização da prova, chegando com novidades importantes. Uma das principais mudanças deste ano foi a criação da categoria de turismo individual, oferecida para incentivar quem ainda não está completamente preparado para enfrentar o ritmo da prova. E agora, o Iron Biker também passa a ser itinerante, podendo ser realizado em qualquer região do país que ofereça uma infra-estrutura turística para receber equipes de atletas de todas regiões do país e do exterior. Para conhecer a história da maratona, acesse bit.ly/timelineironbiker. 36
SEGURANÇA Para garantir o conforto e o resgate imediato dos competidores com problemas em áreas remotas, o grupo de busca Nerea acompanhou a realização dos dois dias da prova com uma equipe de oito especialistas em esportes radicais capazes de realizar atendimento pré-hospitalar e remover atletas acidentados em segurança. "Felizmente, tivemos poucas emoções durante o evento. No primeiro dia, dois competidores que pedalaram mais pesado tiveram que ser levados de ambulância para fazer avaliações mais detalhadas no hospital, pois ambos perderam a consciência. No segundo dia, com um percurso menor, além das escoriações, quedas, luxações e entorses costumeiros, tivemos apenas uma ocorrência grave, com um atleta que fraturou a costela", conta Nilton Pires, socorrista e diretor operacional do Nerea.
fotos: carlos hauck
fotos: bruno senna
carlos hauck
bruno senna
Uma das principais mudanças deste ano foi a criação da categoria de turismo individual
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CONSUMO
Globe Roll Rare 8 O modelo 2013 dessa bicicleta urbana foi feito em edição limitada. São 275 bicicletas com o sistema de correia dentada (Gates) e a transmissão pelo cubo (Shinamo Alfine) com oito velocidades. R$ 7.990 na Giro Sport Center (Rua Haiti, 134 – Sion)
Bike Big Nine carbon 3000 Merida 2013 A superação de uma rígida com quadro de carbono Flex stay 3000 2013. A bike é toda XT e tem suspensão Fox 2013. R$ 16.999 na Intertrilhas (Rua Tomé de Souza, 587 – Funcionários)
Kit iniciantes Tudo que você precisa para começar a pedalar com segurança: uma mini-bolsa de banco, um suporte de garrafinha em alumínio, uma mini-bomba airtool e uma espátula EMT. R$ 189,99 no trippaventura.com.br
Bicicleta Wilier 505 29er Alumínio Mix XT 2013 Essa bike tem o câmbio traseiro shimano XT, com grupo shimano SLX 30 vel, freio a disco hidráulico shimano e suspensão dianteira Rockshox Recon. R$ 5.490 na Ikenfix (Avenida Luiz Paulo Franco, 651/ loja 26 – Belvedere) 39
Depois de dois dias de prova, conversamos com os ciclistas de ferro para saber se valeu a pena!
POR LARA DIAS FOTOS CARLOS HAUCK
Por ser mulher, às vezes achamos que não vamos dar conta, mas é possível. Foram muitas subidas, cansei bastante, tive algumas quedas, mas graças a Deus deu tudo certo. Estou muito feliz com o resultado.”
“VALEU MUITA SUPERAÇÃO!
Flávia Brandão Escalda, 32 anos
“FAÇO PARTE DA EQUIPE KACHAÇA Mountain Bikers e o nosso lema é “Enquanto beber, prometo pedalar”. Enchi a cara nas últimas duas semanas e tive que vir aqui cumprir minha obrigação. Essa medalha é uma prova de que eu consigo viver, beber e pedalar!” Uirá França, 31 anos
planejando tudo só para estar aqui. Depois de duas quedas no segundo dia, fiquei um pouco mais medrosa e demorei a pegar o ritmo de novo, mas essa medalha representou muito o esforço que fiz para treinar e completar a prova.”
“VIM DE BRASÍLIA
com as subidas que foram difíceis e com muito sol na cabeça, mas consegui completar os dois dias e estou satisfeito. Essa medalha valeu um esforço fudido!”
“PASSEI MUITO PERRENGUE
Bruno Vergara, 31 anos
Susana Goes, 39 anos
“ESSA MEDALHA valeu muito, muito suor. Esse Iron Biker estava atípico, com muito vento. Tive que fazer muita força nas subidas e o percurso foi superbacana. Espero que ano que vem seja melhor ainda para esse evento se consolidar no cenário do esporte nacional.” Hugo Prado Neto, 33 anos “SÓ TEM TRÊS MESES tem três meses que estou pedalando. O Iron Biker Ragga 2012 foi minha primeira prova. Achei muito difícil, mas vi que com um pouco de treino dá para melhorar cada vez mais. Espero estar aqui no ano que vem porque essa medalha vale muito.” Mirna Souto, 43 anos
“FOI UM TRAÇADO muito bem feito e desafiador. O primeiro dia foi muito puxado e esperava que o segundo fosse mais leve e, pelo contrário, exauriu tudo que eu tinha, mas foi gratificante. Essa medalha não tem preço, valeu para vida inteira!” João Bosco, 34 anos “FOI UMA PROVA muito legal e bem organizada. Gostaria de parabenizar a Ragga que fez ressurgir o Iron BIker com toda força. Agora ele veio para ficar. Acho que é uma prova que todo mundo gostaria de ganhar e uma das mais importantes do país, por isso não tem preço conquistar esse troféu. “
“VALEU
as 300 cãibras que eu tive.”
Celso Figueira de Melo Filho, 17 anos
mas muito boa. A medalha compensou todo treino que eu tive até hoje e toda a força que os meus pais me deram. Valeu demais!”
“FOI UMA PROVA DURA,
Leonardo Freire de Carvalho, 13 anos
“A PROVA FOI EXCEPCIONAL! O trajeto foi bem duro, muito single track. A parte plana e trilha técnica foram nota mil. Posso dizer que vou voltar com certeza nos anos seguintes. Essa medalha valeu uma vida!” Pedro Melo, 35 anos
“A GENTE FICA ANDANDO e se divertindo todo final de semana e quando tem uma competição desse nível você coloca o seu corpo humano para se superar. Cada subida é uma conquista, cada descida uma diversão, e assim você vai completando a corrida. Essa medalha significa superação.” Henrique Ferreira Montalvo, 27 anos
Lucas Fonda, 30 anos
FOTOS ANA SLIKA, BRUNO SENNA E CARLOS HAUCK
CONSUMO
TEQUILA da fonte Nossa repórter foi a terras mexicanas descobrir a origem do espírito tequileiro do Brasil TEXTO E FOTOS FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES* ILUSTRAÇÕES ANNE PATTRICE O PRIMEIRO GOLE DE TEQUILA 100% agave é uma surpresa. Ao contrário do que estamos acostumados no Brasil, a bebida tradicional consumida no México é caracterizada por um formigamento na língua, uma indescritível e agradável picada no paladar. A primeira experiência é ainda mais intensa quando você passa por ela em terras mexicanas, um lugar onde você pode dispensar o refrigerante para pedir uma dose da bebida dentro do avião e receber um copinho de plástico cheio, sem encontrar olhares de reprovação dos companheiros. A terra é tão apaixonada pela bebida, que você encontra mais de duas mil marcas do destilado, cada uma com sua característica, que varia do tempo de envelhecimento no barril de carvalho à presença de uma larva dentro da garrafa. Felizmente, a picada do paladar da tequila 100% agave, envelhecida por dois meses no barril de carvalho, feita de acordo com o gosto do povo mexicano, nada tem a ver com o uso das larvas. A razão para a diferença está em algo muito mais simples: no agave-azul, a planta que dá origem à bebida. Enquanto a tequila que ganhou o mundo é uma versão 46
jose cuervo / divulgação
O jimador Ismael Gama ao lado do coração de um agave, a plantação da matéria-prima da tequila (ao lado) e uma estátua de corvo na destilaria La Rojeña (abaixo)
que apresenta um sabor menos característico e mais apropriado para povos que não conhecem as maravilhas do agave, os mexicanos se recusam a consumir qualquer coisa que não tenha o forte e pronunciado sabor herbáceo do agave-azul. Daí a diferença. Para entender as sutilezas do sabor e da fabricação da bebida, a Ragga foi ao México conhecer a mais antiga destilaria da América Latina, a La Rojeña, da Jose Cuervo, que está ali desde 1795. Mas, antes de chegar ao processo técnico da fabricação, fomos conhecer de perto a matéria prima: o agave-azul. É fácil perder a conta das vezes em que ouvi dizer que a tequila é feita de um cacto. Por isso a decepção ao descobrir que as enormes plantações de agave não têm nenhuma relação com o deserto dos desenhos do Coiote e do Papa-léguas. A planta lembra a babosa (também conhecida como aloe vera) e faz parte da família dos lírios. Apesar da pequena decepção, é difícil não enxergar a poesia do lugar ao ver a linha quase infinita de agaves plantados aos pés do Vulcão Tequila, localizado na cidade Santiago de Tequila, onde a bebida foi criada em uma verdadeira fusão de culturas. A tequila é um produto 100% mexicano. Os índios astecas da região consumiam o pulque, um
fermentado de agave. Quando os espanhóis chegaram, acharam o produto azedo e resolveram destilar para ver no que dava. “Não vá achar que é só cortar o agave para encontrar uma garrafa de tequila.” É essa a piada preferida de Ismael Gama, mestre jimador que passou 40 anos de sua vida cortando agaves (um processo que é manual até hoje) e se transformou no porta-voz da Jose Cuervo para tudo que tem relação com o manuseio da planta. É Ismael quem explica como o agave é uma planta simples de cuidar, porém exige de sete a 10 anos para crescer. É ele quem conta que o solo da cidade de Tequila é privilegiado para a plantação, devido ao vulcão, que injetou nutrientes do solo. E é ele quem demonstra o corte do agave, oferecendo o firme centro da planta para degustação.
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Após o cozimento, o miolo do agave fica dourado e com um sabor entre rapadura e tequila
O miolo do agave cru é todo branco, prova de que a planta está livre de pragas. Ele também tem um curioso gosto de... nada. É só durante a visita à destilaria, após a planta passar 30 horas em um forno do tamanho de uma sala recebendo vapor de água, que encontramos o gosto do açúcar que será transformado em álcool. Após o cozimento, o miolo do agave fica dourado e com um sabor entre rapadura e tequila. Do processo de cozimento, a bebida segue o mesmo caminho de qualquer destilado: é fermentada, destilada duas vezes e colocada em barris de carvalho, nos quais envelhece. É após todo o processo de destilação que as principais variações da bebida são feitas. A tequila que encontramos com facilidade no Brasil apresenta 51% agave em sua com48
posição e envelhece de dois a 11 meses no carvalho, amenizando o gosto da planta. “O mexicano gosta da tequila 100% agave, com um gosto mais forte, mas foi a versão mais fraca que ganhou o mundo”, conta o responsável pela Jose Cuervo na América Latina e no Caribe, Leonardo Brettas. Apesar de o Brasil ter sido apresentado à versão menos característica, o investimento em versões mais “fortes” é prova de que existe o desejo de mostrar a versão 100% agave para o mundo. Considerando a felicidade do brasileiro — e do mineiro — com a cachaça, tudo indica que queremos, sim, sentir uma picada na língua quando bebemos tequila. (*) A repórter viajou a convite da Jose Cuervo.
S O P I T OS 51% agave
Foi essa tequila que ganhou o mundo. Cinquenta e um por cento dos alcoóis do destilado vêm do agave e o restante de outras origens, como cana e milho. Ela existe na versão clássica, reposado e black, sendo a maior diferença entre elas o tempo passado no barril de carvalho.
100% agave
É essa a tequila mais encontrada no México. Um produto mais bemacabado, ela pode apresentar diferenças de acordo com o tempo que envelheceu no barril de carvalho. Até dois meses no carvalho, é a blanco. De dois a 12 meses, a reposado. De um a três anos, a añejo; até cinco anos, a extra añejo.
O T I R A CANT Não importa o tipo de tequila que você mais gosta de beber, a dica é consumir a bebida gelada, sem pressa de virar o copo e apreciando o sabor. Se a bebida pura for muito forte para você, vale colocá-la em um copo com gelo e espremer 1/8 de limão, jogando a casca dentro, para dar um sabor. No entanto, se o que você curte mesmo são os drinques, vale tentar a receita do Cantarito, que é oferecido dentro da destilaria para os visitantes e garante a satisfação de quem quer conhecer mais sobre a bebida. Ingredientes — 60 ml de tequila reposado — 30 ml de suco de limão — 1/8 de laranja espremida + a casca — 1/8 de limão siciliano espremido + a casca — 1/2 colher de café de sal — Refrigerante de limão — Gelo Preparo Coloque o sal, a tequila, o suco de limão, o limão siciliano e a laranja em um copo. Misture os ingredientes, adicione o gelo e complete o copo com o refrigerante de limão.
TURISMO
O melhor do Rio de Janeiro do ponto de vista dos mineiros que moram lá POR RENATA FERRI
ELISA MENDES é fotógrafa e foi parar no Rio por causa do mar
“Mineiro que é mineiro meRmo acha praia o melhor programa do Rio. Taí uma verdade: o mar é o trem mais bonito do mundo — e não se paga nada para desfrutá-lo. Minhas praias preferidas: Leme e Arpoador. Vou mais ao Leme, porém, quando acordo magra-gata-seca, animo de dar uma desfilada no ‘Arpex’. Ah, gente, vem logo! Só pegar a Nossa Senhora do Carmo que rapidinho cê tá na Nossa Senhora de Copacabana.”
Roda de chorinho do Arruma meu Coreto
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Praias do Leme e Arpoador
GUILHERME COHN é economista e foi morar no Rio ao se tornar sócio de uma empresa investidora em startups
“Todo domingo, às 11h, na Pracinha São Salvador (Flamengo) acontece uma roda de choro que revitalizou a praça, que é o coração do Flamengo e Laranjeiras. São diversos músicos de alto gabarito, tocando as mais belas canções de chorinho. Quem quiser levar o instrumento e tocar está liberado, mas se tocar mal, eles não gostam.”
frederico bottrel/DA press
Existe alguma coisa mágica no coração de alguns mineiros, que os leva a deixar para trás as paisagens montanhosas de Minas Gerais em busca do frescor praiano e cosmopolita da Cidade Maravilhosa. Veja aqui dez mineirinhos radicados cariocas contanto o que há de melhor para fazer no Rio de Janeiro.
3 Café da manhã no Café du Lage (Parque Lage – Jardim Botânico)
TATIANA FELIX é designer de moda e foi para o Rio em busca de boas oportunidades de trabalho
“Tomar um café da manhã com uma das vistas mais bonitas da cidade é a melhor maneira de começar bem o dia. O brunch é servido em volta da piscina e o clima é bem família. A variedade não é muito grande e tudo é muito gostoso! Vale experimentar o pão de mel delicioso. Escolha se sentar nas esteiras ou nos futons para ficar bem à vontade. Aproveite para conhecer o parque, patrimônio histórico e cultural da cidade, que abriga a EAV (Escola de Artes Visuais). O Parque Lage tem um significado ainda maior para mim, pois pertenceu a minha família! Ah, outra dica preciosa é que se pode fazer piqueniques incríveis por lá.”
4 Praia da Joatinga
LAURA ANDRADE é designer de moda e foi ao Rio para cursar pós-graduação
Bar Urca+bike
MARIA CLARA DORNELLAS é atriz e está no Rio para estudar teatro
cristiano nogueira
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“O lugar é lindo e ainda pouco explorado se comparado a outras praias do Rio. Paisagem paradisíaca, ambiente tranquilo, frequentado, na maioria das vezes, por surfistas e moradores da região. Por sofrer grande influência das marés, muitas vezes não há faixa de areia e o acesso é limitado. Neste caso, uma boa dica é passar no Bar do Oswaldo, comprar uma das tradicionais batidas e se deliciar nas pedras da Joatinga curtindo um pôrdo-sol cinematográfico na companhia de amigos e pessoas especiais.”
maria clara dornelas
“Andar de bicicleta no Rio, seja onde for, já tem suas recompensas. Mas quando ela leva você a um lugarzinho gostoso, na beira do mar, é ainda melhor. A Urca é um dos bairros mais charmosos da cidade, com suas casas antigas, clima hospitaleiro e calmaria de interior. Para um fim de tarde, não há nada como tomar uma cerveja gelada e comer uns bons petiscos à beira da Bahia de Guanabara, sentada na mureta e vendo a vida passar. Coisa boa assim é no Bar Urca.”
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Casa Rosa, Laranjeiras
BERNARDO CAMARANO é administrador e mudou-se com gosto para o Rio ao ser transferido pela empresa onde trabalha
“É uma casa de shows fora do circuito lado A do Rio de Janeiro. Situada no tradicional Bairro Laranjeiras, a Casa Rosa é um antigo casarão do inicio do século 20, que abriga um centro cultural. Aos fins de semana se transforma em um local para shows. A cerveja não é cara e é vendida no sistema de fichinhas. O espaço é composto por duas pistas fechadas, uma com música ao vivo e outra com DJ, sendo que no meio há um pátio aberto, onde rola um som ambiente legal para descansar e bater papo. O público é bem diverso, muitos turistas, mas também muita gente do Rio, todos dispostos a se divertirem muito.”
FLÁVIO CARVALHAES é sociólogo e foi morar no Rio para trabalhar e estudar
MTV/divulgação
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Pizzaria do Chico
“O Rio de Janeiro não tem muitas opções para comer uma pizza boa e barata. A única exceção que conheço é a Pizzaria do Chico, que fica no ‘Baixo Santo Alto Glória’, em uma das ruas do Bairro Glória/Catete, que dá acesso a Santa Tereza. O lugar é muito simples e com poucas cadeiras. As pizzas são servidas sem pratos, para serem comidas direto da forma. Além dos sabores clássicos, há várias combinações e sugestões inusitadas, como a de berinjela com parmesão. Dependendo do dia, o próprio Chico, que batiza a casa e pilota os fornos, pode atender você. Não espere um clima altamente profissional. A simplicidade reina no lugar, e o grande atrativo é o sabor e a qualidade dos ingredientes, não o que está em volta.”
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Pedra da Gávea
VICTOR ZWETKOFF é engenheiro foi trabalhar no Rio assim que passou em um concurso
“É uma trilha bastante íngreme, mas pode ser vencida sem a necessidade de cordas ou outros acessórios especiais. A maior parte da subida é na sombra. No cume, uma visão fantástica da Zona Sul, Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Ipanema, São Conrado. Do outro lado, é possível avistar a Barra da Tijuca até o Recreio dos Bandeirantes. A subida e a descida são demoradas, é preciso levar água e comida.” 52
9 Assistir a um musical
“Eles estão virando febre no Brasil. Com altíssimo padrão de qualidade, muitos deles em versões melhores que os da própria Broadway. São cerca de 40 pessoas no palco, em um espetáculo de encher os olhos e os ouvidos, com cenários grandiosos, trocas de roupas, muita música, lindas vozes e atuações e coreografias de tirar o fôlego. Hoje, existem no Rio vários musicais em cartaz e muitos outros em processo de montagem, o que atrai cada vez mais o público para a cena cultural. Com certeza vale a pena assistir. Para a noite ficar perfeita, é legal esticar para um dos vários restaurantes charmosos que a cidade oferece ou se jogar na balada.”
DANI FREITAS É JORNALISTA e foi para no Rio de Janeiro levada pela vontade de trabalhar com TV
“Descobri este restaurante há pouco tempo e ele se tornou um dos meus lugares preferidos no Rio de Janeiro. Fica afastado da cidade e, por ser meio escondido, é um pouco complicado chegar até lá. No fim de semana, o restaurante fica bastante cheio, então, se não quiser ficar na lista de espera, é bom chegar cedo. O ambiente é uma delícia. O restaurante fica no alto de um morro, no meio da mata virgem, com uma vista linda para a Restinga de Marambaia. A comida é muito gostosa. De entrada eles têm no cardápio um pastel de camarão e siri incrível. As refeições vêm acompanhadas de farofa de dendê. Recomendo o filé de robalo com arroz de polvo. Uma dica é esperar pelo pôr do sol maravilhoso do lugar.”
felipe espíndola
FELIPE ESPÍNDOLA é maquiador e caracterizador. Mudou-se para o Rio ao aceitar uma proposta de trabalho
10 Restaurante do Bira – Pedra de Guaratiba
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APRESENTOU
Diretora do documentário Quem se importa fala sobre empreendedorismo social e como mudar o mundo
PATROCÍNIO
MARA MOURÃO TEM UM CURRÍCULO
quanto se fala de cinema. Talvez seja por isso seja tão interessante ver a diretora da comédia romântica Avassaladoras e do documentário Doutores da alegria falar de empreendedorismo social. No dia 29 de outubro, ela apresentou o seu recém-lançado documentário, Quem se importa, no qual ela mostra como 18 empreendedores sociais estão mudando o mundo: uma ação de cada vez. A ideia do filme veio da reação do público ao ver Doutores da alegria. Mara contou que o trabalho dos doutores foi tão valorizado que ela entendeu que deveria se dedicar a fazer
PARRUDO
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REALIZAÇÃO
outro filme do mesmo tipo, que mudasse a vida das pessoas. “A maioria de nós perdeu a crença de que os governos vão dar conta, sozinhos, dos grandes problemas do mundo”, explicou. A solução proposta pelos seus entrevistados e adotada por ela é o empreendedorismo social, no qual são criadas empresas cujo objetivo é ajudar a mudar o mundo — diferente de empresas que têm projetos sociais além dos objetivos corporativos primários. Para Mara, é possível mudar o mundo se mais pessoas se tornarem “transformadores” e se dedicarem a fazer mudanças grandes e pequenas no mundo.
fotos: carlos hauck
O DE FRENTE CONTINUA!
Em novembro Rua Santo Agostinho, 1.441 – Horto Belo Horizonte – MG Entrada franca
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PERFIL
A simplicidade que o faz
GRANDE
POR BRUNO MATEUS FOTOS BRUNO SENNA
Fora das quadras, sem deixar de lado o jeitão de menino, Gustavo Kuerten segue em busca de mais um sonho: criar um cenário para que o tênis se desenvolva de vez no Brasil NA MANHÃ DE DOMINGO de oito de junho de 1997, um cabeludo de 20 anos, meio desleixado, surpreendeu a todos e a ele próprio ao vencer o torneio de Roland Garros, um dos mais charmosos e importantes do tênis. Os brasileiros e o mundo, então, conheciam Gustavo Kuerten e se acostumariam a vê-lo levantar troféus e fincar seu nome no hall dos grandes tenistas de todos os tempos. Nos 10 anos seguintes, Guga conquistou mais dois Roland Garros e outro punhado de grand slams. Foi o primeiro sul-americano a liderar o ranking mundial e fez com que o brasileiro prestasse mais atenção no vai e vem da bolinha nas quadras. Fora do circuito desde 2008, quando um problema no quadril que o acompanhava há anos fez com que ele anunciasse sua aposentadoria, Guga, aos 36 anos, agora é casado, é pai de Maria Augusta, anunciou mês passado que está “grávido” novamente e se dedica ao Instituto Guga Kuerten, que tem como meta promover a inclusão por meio de projetos educacionais, esportivos e sociais. Das quadras, ele mata as saudades em jogos de exibição, como o que fará, este mês, contra o sérvio Novak Djokovic, atual núme-
ro dois do mundo. Não tem surfado muito e a paixão pelo seu time de coração, o Avaí, está mais comedida. Embora admita não ser fácil, Guga tenta reverter as perdas em aprendizado. Com apenas 8 anos, viu o pai, Aldo Kuerten, falecer justamente numa quadra de tênis, quando arbitrava uma partida. Em 2007, o irmão Guilherme, que teve paralisia cerebral devido a complicações no parto, morreu aos 28 anos, o dobro da expectativa dada pelos médicos. Era Guilherme quem recebia os troféus de Guga. É na família — e o ex-treinador Larri Passos não fica de fora — que ele busca força para remar adiante. Guga chegou sorrindo para a entrevista. “Minha pequena está com febre”, desculpou-se pelo pequeno atraso. Sujeito esguio, meio desengonçado, a simpatia é a mesma da que vemos na TV. 57
O esporte sempre esteve muito presente na sua família, né? BASTANTE, foi aí que meu caráter começou a se formar, por meio das experiências esportivas. Por isso o instituto trabalha dessa forma também, tem uma metodologia toda desenvolvida e fundamentada nas bases esportivas, assim como artísticas. Até os 10 anos eu já tinha entendido muito bem que nem tudo é possível na vida. O fator pontual, muito específico, foi perder meu pai dentro de uma quadra de tênis, mas não vejo que isso tenha sido determinante. A composição toda por si só já traz adversidades dentro do perímetro das quadras, associação entre amigos, treinamento, disciplina, comprometimento, o desafio, viagens, cultura. A competitividade aflora bastante, da forma correta. Apesar de ser precocemente, acho que introduz uma filosofia de vida fantástica. É a nossa crença hoje em dia. Então, o esporte serviu como essa plataforma. Não consigo me enxergar como um cara próximo do que sou sem todas essas atividades esportivas inseridas desde o início da minha vida.
Você perdeu seu pai quando tinha 8 anos. Em 2007, seu irmão Guilherme faleceu. Numa entrevista, você disse que sempre buscou reverter o que era ruim, o que era uma pedra no caminho, e tentar transformar numa coisa boa, num incentivo. De que forma esses dois acontecimentos afetaram você e o fizeram refletir? PROCURO TENTAR, porque não é tão simples. O ruim é palavra difícil de acreditar que pode ser boa. Com a adversidade, com a desilusão grande, procuro tentar acreditar que isso pode ser favorável, tem que ter um fim positivo nessa história. Claro, não sou diferente de ninguém, os problemas cotidianos são comuns. O grande lance é aceitar que isso também faz parte, não existe uma vida cor de rosa. A gente vem aqui para viver perrengue também. As duas foram situações muito distintas, porque uma eu dialogava mais com o pai super-herói, a vida era ilusória, era O Pequeno Príncipe e, de repente, desapareceu. E com o outro eu já tinha noção, um entendimento maior, e não é um fator natural perder um irmão mais novo, quebra o ciclo natural da vida. 58
E tinha esse fator específico da deficiência. Meu irmão tinha uma expectativa de vida de 14 anos e chegou aos 28, mas mesmo assim era muito pouco para nós, um dia antes [da morte dele] a gente vivia com ele feliz da vida. Ele trouxe, e por isso faz falta também, muita alegria, simplicidade. A imagem deles está sempre presente e me empurra adiante. Eles me provocam de uma forma positiva. Minha família toda tem essa função. Mesmo no sonho mais louco você imaginou que chegaria aonde chegou? NÃO, na época a gente nem conseguia assistir, Roland Garros
nem passava na televisão. Acho que sonhava em participar de Wimbledon. Roland Garros fui conhecer quando tinha 15 anos: “Ah, esse é o grand slam”. Primeira vez que entrei em Roland Garros, em 1992, eu era juvenil, fui para fazer o circuito juvenil. Lembro que entrei, quadra lotada, e falei: “Cara, é isso que quero para minha vida, quero jogar meu tênis aqui”. Até a semana anterior a de quando joguei Roland Garros, em 1997, não acreditava que podia ganhar. Isso foi se confirmar lá em 1999, 2000, quando comecei a chegar já como favorito. Era mais fácil pensar que estava fazendo um gol em Copa do Mundo.
Você pensou em ser jogador de futebol? MAS É O NORMAL. Nossos sonhos quando criança são esses. Até me convencer que era tênis demorou bastante. [risos]
Por falar em futebol, como anda o Avaí? O AVAÍ ESTÁ VOANDO BAIXO, ontem perdeu de 3 a 1. [risos] Sempre está no chove e não molha.
Tem ido aos jogos? ESTE ANO estou dando preferência para a minha filha. [risos] Estou me desligando um pouco dessa paixão, me controlando um pouco mais. A gente amadurece, vem uns questionamentos, decência do futebol, pensando no futuro
da minha filha, acho que isso tudo fez com que eu me afastasse um pouco do futebol. E o surfe? A Clarissa [assessora de imprensa] comentou que você está surfando pouco. É, PORQUE MINHA PERNA está muito ruim.
O surfe vem mais no verão, é um esporte que sou fascinado. E em Floripa melhor impossível para pegar onda.
Em 1997, você era um desconhecido do brasileiro. De repente, vimos um camarada de 20 anos, magrelo, campeão de Roland Garros. Aí o tênis ganhou muita força, aconteceu uma “Gugamania”. Como você lidou com isso? Teve que tomar algum cuidado especial para a fama não subir à cabeça? ACHO QUE TIVE UM POUCO DE PRIVILÉGIO
também pelo entorno, poder viver numa cidade onde a ambição é comedida. O meio é mais calmo, mais tranquilo, não tem tantas provocações com o meio esportivo, que seriam festas, aparições. As coisas são mais calmas, mais controláveis. A sustentação da família é fundamental. Amigos e família foram a clave para deixar o pé no chão. Para mim não foi difícil, porque eu estava constantemente em contato com esses fatores. Seu currículo é invejável, você foi número um do mundo durante 43 semanas, venceu nomes do tênis que ficaram para a história do esporte. Faltou alguma coisa? FALTOU UM MONTE DE COISA e não faltou nada. Na minha perspectiva inicial, não faltou nada. Mas, ocasionalmente, o decorrer da minha carreira demonstrou que tinha muita coisa para acontecer ainda. Fui praticamente uma avalanche no circuito. Aconteceu tudo em três anos, 1997 a 2001, quatro anos no máximo. Fiz tudo, crescendo a cada ano e de repente travou, vinham as limitações físicas. Foi bastante atípico.
E você se aposentou aos 32 anos por conta dos problemas no quadril.
Até os 10 anos eu já tinha entendido muito bem que nem tudo é possível na vida
É, PAREI NÃO TÃO CEDO, com a idade razoável. Mas deixei de jogar bem já com 25. Dos 25 aos 30, que seria, em teoria, o meu melhor momento, eu não convivi.
Devia ser muito difícil saber que podia render 100%, que você tinha cabeça para fazer um jogo perfeito, mas uma limitação física lhe travava. ERA BEM ISSO, na teoria está tudo encaixado,
mas por que não acontece? Aí, durante pelo menos seis, sete anos patinei nessa batalha.
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Convivendo com as dores? SIM, mas o mais difícil é essa burocracia que o corpo não faz mais o que estou pensando que ele deve fazer. Fazia ontem, por que não faz mais hoje? Isso é o mais difícil, porque com o agravante da dor o atleta convive com os pés nas costas. Quando entra numa limitação física de performance é muito complexo. O que me favorecia era o fato do desafio, o desafio era maior e me mantinha, bola pra frente. Se você para para pensar, a frustração aumenta demais. Isso só veio no fim, quando vi que a balança já estava pesando negativamente. E foi a decisão que tive de encerrar minha carreira, entendendo que dialogar com meu corpo totalmente disposto, mas não disponível para atuar, era uma bola de fogo na cabeça. Tem que ser gostoso, tem que ser bom, foi um amadurecimento pensar: “Cara, foi bom, foi o suficiente”.
Amadurecer essa ideia da aposentadoria lhe custou muito? NÃO, porque não tinha outra hipótese. Como sou muito ati-
vo ainda e jovem, a sensação que tenho é que se não tivesse machucado, poderia estar atuando, jogando alguns torneios mesmo com 36 anos. Isso é a única coisinha que ainda tenho que entender, minha cabeça não absorve naturalmente, mas daqui a três ou quatro anos vai dissipar também.
Chegou a recorrer a análises, terapia?
nunca fiz. Gosto um pouco de entender a vida mais pela vivência. Daí, fui tirando, dentro das experiências, essas decisões. Acho que tomei as melhores decisões possíveis. Um fator primordial foi a minha primeira cirurgia. O que fizeram no meu corpo não é hoje indicado e causou todo esse meu problema. Fui para a cirurgia ciente de que ia voltar totalmente recuperado. Ia saber que não ia dar certo? É o fato de aceitar um pouco a vida também, posso controlar um certo espaço, grande parte dela é um pouco fora de controle.
NÃO,
O tênis mudou muito da sua época para hoje? MUDOU POUCO, mas é o suficiente para ser bastante, porque no alto rendimento 2% é muita diferença. Os caras estão mais rápidos, o impacto da bola consequentemente é um pouco maior, mas não só isso, eles conseguem impactar com força, com uma amplitude maior. Não se percebe uma plena diferença do jogo de 20 anos atrás ou do jogo que eu praticava, mas quem conhece já entende que um jogador atual é bem melhor preparado do que um cara do ano 2000.
Em julho deste ano, você teve o nome incluído no hall da fama do tênis. Antes, só a Maria Esther Bueno, que brilhou nos anos 1960, foi tricampeã em Wimbledon. Parece-me muito pouco para um país como o Brasil ter uma atleta de ponta nos anos 1960 e você, no fim dos 1990 e início dos 2000. Por que você acha que acontece isso? QUAL É A ESCALA DE CONHECIMENTO
teu do tênis?
Sei lá, acho que é bem básico, médio. SE FOR ANALISAR, é pouquíssimo, de todo mundo é pouco.
Sei lá, 5% da população conhece muito. Qual é a média de conhecimento de futebol das pessoas? O tênis não é um esporte desenvolvido aqui no Brasil, requer um programa para melhoria constante, aprimoramento. Tem que botar
todo mundo junto e fazer a coisa acontecer. Você pega o boom em 1997. Fiz essa brincadeira com você, mas naquela época nós tivemos que ensinar para os repórteres que é 15, 30 [a pontuação], o que é breakpoint. Além de ter que reforçar e trabalhar a cultura do tênis, dificulta a popularização e o desenvolvimento da modalidade aqui no Brasil, por esse ser um esporte elitizado? NÃO ACREDITO TANTO NISSO. Em 1997, o que aconteceu?
Do nada, pelo menos, posso estar errado, 100 mil pessoas estavam jogando tênis em escolas públicas. Mas não é esse tipo de atividade que vai solucionar o problema. O menino tem que gostar de jogar tênis, não temos que empurrar um monte de raquete e bolinha goela abaixo. É claro que o Brasil lida com alguns tipos de classes e comunidades que, para ser um atleta, o cara tem que ser super-herói. Naturalmente, o esporte favorito e mais acessível é o futebol, o menino começa a sonhar, é o mais fácil de acreditar que dá. Hoje, a plataforma está mais adequada, existe um panorama de tênis que avançou nessa escala, que eu consideraria [um avanço] de um para cinco, mas tem muito o que melhorar ainda. Chegar numa média sete, oito, seria fantástico. Há o interesse do patrocinador, que agora é altíssimo por causa das Olimpíadas. O grande desafio é conseguir manter isso depois das Olimpíadas.
Qual é a sua expectativa para os Jogos Olímpicos?
é tentar montar um tênis decente e que depois o esporte se sustente. A medalha é inspiração, tem grande valor, mas comparado a essa perspectiva de montar todo o cenário, eu trocaria 10 medalhas de ouro no tênis ou três títulos de Roland Garros se o cenário estivesse montado. O projeto ainda é muito difícil.
A MINHA MAIOR EXPECTATIVA
Você fará uma partida de exibição contra o Djokovic, em novembro. PARA MIM, É MUITO GOSTOSO, mas muito custoso. Tenho que treinar quase como antes quando era profissional para poder jogar uma partida de duas horas e sair todo quebrado de lá, todo capengando, mas vale a pena, é muito bacana. Estou enxergando mais como uma festa, uma consagração. Mas a expectativa ainda existe, é engraçado. Meu corpo ainda me mata, me limita a fazer diversas bolas. No fim, é um momento de satisfação muito grande. Deparo-me com crianças de 10 anos que nunca me viram jogar, meus melhores títulos já estão fazendo aniversário de 11, 15 anos.
AtĂŠ a semana anterior a de quando joguei Roland Garros, em 1997, nĂŁo acreditava que podia ganhar
POSSIVELMENTE. Você pega o Agassi, por exemplo. Ele tinha 6 anos, o pai dele falou: “Você vai ser profissional de tênis. Tua vida acabou, é isso”.
Na biografia, ele diz que odeia tênis.
MAS É ÓBVIO, NÉ? Para mim, foi o contrário. Eu não tinha perspectiva, foi quando já era jovem: “Pô, que legal, pode ser um desafio interessante”. Muito mais fácil de ser prazeroso. Quando estava mais estável, em 1999, era favorito em Roland Garros e não ganhei. Fiquei indignado no dia, claro, mas no outro já estava feliz da vida. Faço as contas e vejo que o que tenho é muito mais que as coisinhas que passam e não alcanço.
Você fez dois anos de artes cênicas e trancou a matrícula. Como surgiu essa história? FOI UMA BAITA EXPERIÊNCIA, surgiu da necessidade de conhecer o núcleo acadêmico, que nunca tive. Formei-me no segundo grau e tive que abandonar. Pensei o que fazer e estava mais voltado ao cinema, mas sempre mais pela parte histórica e cultural do que qualquer tipo de prática. Aí fui parar no teatro e deparei com essas informações. E o curso que fiz é bastante teórico, misturado com as partes práticas. Tinha uma imersão interessante, comecei a dialogar com coisas do meu dia a dia que eram importantes. Achei fascinante. Um cara que se prepara, treina, treina, treina é um jogador de tênis. Assim como o ator de teatro, que faz de novo, e de novo, e de novo e na hora vai ser diferente e tem que tentar ser o melhor possível. É bacana essa situação, tem um autoconhecimento muito grande. Se pudesse, estaria fazendo até hoje. Hoje, as atividades do tênis requerem minha presença.
é importante continuar remando para frente. É legal quando vou a esses jogos, me alimenta, me provoca para continuar retribuindo.
O Instituto Guga Kuerten está promovendo a Copa Guga. São 800 crianças e adolescentes, representantes de 18 países. Quando você organiza esse tipo de torneio, o que vem à sua cabeça? Pensa na sua carreira, no que você representou para o tênis brasileiro?
Um atleta que disputa no topo tem a gana, o espírito competitivo. Dava-me a impressão de que você, ao mesmo tempo em que tinha isso muito forte, tinha também um desprendimento e uma alegria que não eram e não são comuns no tênis. Acho que também por isso você se tornou um cara tão querido.
VEJO QUE ESSE SONHO estava mais distante ainda do que ganhar três Roland Garros. É difícil imaginar como hoje consigo mobilizar essa quantidade de pessoas para vir aqui jogar tênis. Na época, era assustador pensar nessas coisas. É em cima disso que a gente cria estratégias para continuar fomentando o esporte. É um privilégio incrível ver o brilho no olho das crianças. A gente levou uma meia dúzia de troféus e já é o suficiente para elas
Você é um cara muito querido, você sente isso? PRESERVO ESSA SENSAÇÃO,
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fotos: arquivo pessoal
Família Kuerten: (da esq. para a direita) Guga, o irmão Guilherme no colo de Dona Alice, e Rafael, o irmão mais velho
O tênis não é um esporte desenvolvido aqui no Brasil, requer um programa para melhoria constante, aprimoramento. Tem que botar todo mundo junto e fazer a coisa acontecer
No auge: na temporada de 2000, o ex-tenista sagrou-se bi-campeão de Roland Garros
francois guillot/AFP photo
olharem e falarem: “Cara, aconteceu com ele, que está aqui do meu lado, de carne e osso, por que não comigo?”. É isso que a gente precisa: fazer essa criançada sonhar com alguma coisa boa. Além desses mil, levo os 200, 400 que tenho aqui no instituto uma vez por semana para ver como é. A gente mistura cadeirantes também. Tento fazer um circo e eu sou o palhaço [risos]. É incrível lidar com a vida das pessoas e ainda conseguir inspirar, motivar e ser uma ilusão, principalmente para as crianças. É algo que me faz ficar menos tempo com a minha filha e mais aqui no escritório para recebê-los todo ano. É fantástico e só depende deles: se continuarem vindo, a gente dá um jeito de continuar fazendo.
paul hanna/REUTERS
Como quase toda criança, ele também sonhava em ser jogador de futebol
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NaMata Café BH Parada obrigatória para os que curtem gastronomia, boa música, festas e diversão, o NaMata Café acaba de chegar a BH. O espaço é a primeira filial do tradicional restaurante/club paulista. Na parte de trás da casa, uma porta separa o restaurante/lounge do Na Moita, espaço para festas e eventos. Rua Marília de Dirceu, 56 – Lourdes (31) 3654-1733 namatabh.com.br 64
avaliação da casa Para encontrar os amigos
O que sai da cozinha
fotos: carlos hauck
Quem frequenta
quem. quando. porque Sucesso em São Paulo desde 2000, o NaMata Café abriu as portas na capital mineira no mês passado e tem conquistado o público belo-horizontino. Chiara Besenzoni, blogueira e estudante de relações internacionais, aprova o novo conceito. “Já fui várias vezes e acho muito bacana que tenha inaugurado esse espaço, onde você pode se sentar para jantar com os amigos, com música lounge de fundo para animar o lugar”, conta. “Acho ótima a oportunidade de sair para um restaurante e, sem precisar me deslocar, já ir para a balada”, diz Chiara, que não tem dúvida do sucesso da casa em Belo Horizonte. “Nossa cidade está precisando de novas opções. Aqui costuma ser sempre a mesma coisa. O desafio é manter o público. E eles vão conseguir, com o excelente atendimento que têm”, explica. Quem comanda a gastronomia do NaMata são os chefs Carlos Pita e Julia Martins, oferecendo culinária contemporânea. Do cardápio, a blogueira indica o “atum com crosta de gergelim, purê de banana da terra, shitake e shimeji, que é excelente”. “Indico a casa para pessoas de todas as idades, jovens ou grupos de amigos que procuram uma novidade na cidade”.
“Indico a casa para pessoas de todas as idades, jovens ou grupos de amigos que procuram uma novidade na cidade.” Cola aí Participe da próxima cobertura fotográfica. Consulte as próximas datas no revistaragga.com.br.
APRECIE COM MODERAÇÃO. 65
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ON THE ROAD Belém do Presente História de um jornalista mineiro que foi para o pará — e ainda não voltou
Belém de ontem, Belém de hoje. O relógio inglês da Praça Siqueira Campos vê de perto a cidade mudando
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AEROPORTO DE VAL-DE-CANS, 35°C.
Eu poderia tentar enfileirar umas 12 razões que me fazem estar aqui, mas agora, sorrindo e satisfeito com um sorvete de açai já esticado nos dedos, pingando, prefiro colocar a culpa no acaso. Não foram os eletro-melodys que andei ouvindo, os filmes instigantes que andei assistindo, nem mesmo o meu recente interesse pela arquitetura colonial brasileira — farturas imensuráveis nas ruas e ruelas desta cidade encantada. Para dizer a verdade, acho que a razão certa é aquele livro, Belém da saudade, que vinha dançando no chão do meu quarto há meses sem encontrar o seu lugar, que me comprou esta passagem. Acredito em sinais. Sem muita dificuldade consigo encontrar o balcão da companhia de aluguel de veículos e, 15 minutos depois, estou saindo do terminal dirigindo este Pálio prata, com os vidros todos escurecidos (inclusive o para-brisas) e ar-condicionado no máximo.
TEXTO E FOTOS BERNARDO BIAGIONI
Não sei qual direção seguir, mas está tudo certo. Ligo o som e logo me aclimatizo. DJ Nene, “humildade e simplicidade cai no gosto da galera”, vai rimando na sequência do sol radiante e companheiro. Com a benção de Nossa Senhora de Nazaré, me entrego novamente. Depois de uma reta infinita, na Avenida do Almirante, agora estamos todos dobrando uma direita que vai nos levar para a Cidade Velha — onde Belém respira pureza e saudade. O encantamento é inevitável. Descendo a Av. Governador José Malcher, sentido litoral, uma brisa imaculada levanta cabelos e vestidos que se aventuram por passeios e casarões ladrilhados em cores saudosas. Uma sequência de construções seculares que despertam olhares iluminados de gringos curiosos que vieram parar nas artérias asfaltadas de uma Amazônia afrodisíaca. Me sinto desbravando um tipo de tesouro desmembrado a céu aberto.
BELÉM DA SAUDADE
São resquícios de uma Belém farta e afortunada. Entre o fim do século 19 e começo do século 20, Belém e Manaus assumiam o posto hoje entregue ao eixo Rio-São Paulo. Isso graças a um comércio intensamente lucrativo da borracha, que não só favorecia acordos comerciais com franceses, americanos e portugueses, como também estreitavam laços entre o Norte do Brasil com a cultura e moda então vigentes na Europa. Tudo que vinha do Velho Continente chegava em Belém primeiro. Não à toa, a primeira grande casa de espetáculos do país, o Theatro da Paz, inspirado no Teatro alla Scala, de Milão, foi levantado cá na Amazônia. Rio e São Paulo só veriam algo do tipo quase meio século depois. Belém era uma festa — e sua elite burguesa sabia disso. Ao longo desse período áureo da borracha, desembarcavam na cidade grandes companhias de ópera, fidalgos duvidosos, empresários engravatados e pintores respeitáveis — como o caso do italiano Domenico de Angelis, que, além de pintar o teto do Theatro da Paz, dedicou seu trabalho a imensos quadros de igrejas locais. Também veio parar no Brasil o notório arquiteto italiano Antônio José Landi, que deixou obras de extrema importância arquitetônica-histórica na capital paraense, como o antigo Palácio dos Governadores, hoje Museu do Estado do Pará. Tratava-se de um tempo em que os governadores e as igrejas andavam de braços dados com arquitetosartistas, que rabiscavam sonhos, passíveis de realidade, por conta da borracha que florescia como se não houvesse amanhã. Mas o amanhã veio e arrebatou a colheita. Nas primeiras décadas do século 20, Belém se incorporou aos padrões da Belle Époque francesa e cresceu impune com verdadeiros monumentos de arquitetura europeia. São palácios alegres, de interiores enfeitados com motivos florais, art nouveau, papéis de paredes que dançam enviesados em móveis curvos e orgânicos, como os cabelos de uma índia que se perdem no vento. Essa sinfonia durou até o momento em que os ingleses vieram e levaram a muda da seringueira para a Malásia. A dança que parecia infinita e inevitável, se cessou. Os anos seguintes, abalados por uma ditadura militar dura e opaca, mergulharam Belém e o Pará em um esquecimento profundo. Foi como se alguém tentasse apagar o brilho de uma catedral inteira feita de ouro.
Na estrada para a Ilha de Mosqueiro, uma parada típica
Tratava-se de um tempo em que os governadores e as igrejas andavam de braços dados com arquitetosartistas, que rabiscavam sonhos, passíveis de realidade, por conta da borracha que florescia como se não houvesse amanhã 67
BELÉM DA CORAGEM
Mas o brilho dessa cidade é inesgotável, mesmo com doze azulejos a menos no casarão da esquina. Consigo alcançar, enfim, a Praça da República, o Theatro da Paz, e o meu hotel, nas proximidades do Cine Olympia — mais monumento do que cinema. Belém Velha tem uma brisa amena e sossegada, graças à presença constante de mangueiras gigantes e necessárias. Com duas latas de Cerpa, a cerveja local, já dá para sentir que estamos em algum lugar entre o Bairro Saint Germain e Notre-Dame, em Paris. O calor ajuda. A aparelhagem come solta, na rua, e eu mal consigo evitar. Entendi a beleza da Gaby Amarantos quando atravessei a avenida do hotel. A música paraense reúne o que há de melhor na produção musical brasileira contemporânea. A experimentação e as colagens. A busca incessante por um modelo ideal de batidas eletrônicas. O carimbó é um ritmo abençoado. Prova disso está na música do local Felipe Cordeiro. O brega é tão sincero que dá para encontrar um Roberto Carlos em cada esquina. Na esquina, agora, cruza Ana Botafogo e Carlinhos de Jesus — dois dos bailarinos mais importantes do Brasil. Pensei que eles estavam vindo para a aparelhagem também, mas a dupla tinha horário marcado no Theatro da Paz. Belém está a mil. Acontece neste fim de semana o Festival Internacional de Dança da Amazônia, o FIDA, no Theatro, um show do grupo mexicano Rebelde e, pra ficar ainda mais intenso, uma festa coletiva que reúne grupos sensações do tecnobrega — Bonde do Rolê, Banda Uó, DJ André Paste... Isso sem falar na XVI Feira Pan-Amazônica do Livro, que reúne milhões de paraenses no Hangar, diariamente, para prestigiar a literatura brasileira.
Casarões da Cidade Velha perdem a cor, mas não perdem o brilho
Estamos há apenas uma semana do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, cuja devoção regional costuma atrair mais de dois milhões de fiéis anualmente, para uma das maiores celebrações católicas do mundo. Segundo a história, a imagem da Nossa Senhora foi encontrada em um igarapé por um caboclo. O sujeito levou-a para sua casa, repetidas vezes, mas ela sempre voltava para o mesmo igarapé. Ali foi fundada, então, uma pequena capela, nos idos dos anos 1700. No começo do século 20, nasceu a Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, imponente e dourada. Um retrato fiel da fé, da arquitetura, da força e da arte sacra que respira o Pará. Belém toma um gole de vida em cada hora que passa. Depois de anos olhando para trás, para os antigos caminhos e possibilidades, dá para ver nos sorrisos que cruzam a rua uma iluminação de vontade. De coragem. Nos últimos vinte anos, espaços abandonados da cidade ganharam reformas e, melhor, utilidade pública. O antigo cais deu lugar à Estação das Docas, complexo de restaurantes-cinema-lojas à beira da Baía do Guajará. Renasceu também a Casa das Onze Janelas, antigo casarão que abriga um espaço especial para a Arte Contemporânea produzida por brasileiros. O Forte do Presépio, revitalizado em forma de Museu do Encontro, que conta a história da colonização portuguesa na região. O Mangal das Garças, que mistura espaço expositivo com orquidário, área verde e o maior borboletário do
Brasil. E também o Museu de Arte Sacra, na Igreja de Santo Alexandre, que por anos esteve abandonada e que agora reúne relíquias sagradas desenvolvidas por índios da Amazônia, durante o período colonial. Tudo parte de um projeto intitulado Feliz Lusitânia — que coloca a cidade de Belém como roteiro indispensável para turistas de todo o mundo. São investidas saudáveis e significantes, que fazem ainda mais sentido para quem olha de perto e enxerga. Cada toque que o Governo dá em uma construção antiga é uma manifestação de carinho com a história de um país ingenuamente carente de memória, de sentidos, de realizações. É um toque também no ego do Pará, dos transeuntes, dos habitantes de um estado que renasce do cinza. Dá para ver as paredes começando a reluzir de novo. Uma preservação do passado que, satisfatoriamente, vê o futuro. BELÉM DO FUTURO
E o futuro do Pará não está muito longe de... agora. Fiquei tanto tempo na aparelhagem quente e insinuante da Praça da República, que perdi o barco que me levaria para a Ilha de Marajó. Complicado. Com sorte, o Porto de Icoaraci, de onde saiu a embarcação, reúne lojas e feiras de cerâmicas marajoaras e tapajônicas. A técnica milenar e cada um dos meticulosos desenhos despertam alguns dos sentidos mais aflorados da sensibilidade humana. Os gringos piram. É estranho constatar que uma peça pré-colombiana soa perfeitamente... moderna.
Não é difícil encontrar a resposta, sobretudo encarando o sorriso da artesã que desliza as mãos com suavidade por um vaso de um metro de altura. Ou então ouvindo do sujeito da banca de livros antigos que “é quase impossível encontrar publicações sobre o Pará nas ruas. Tá tudo esgotado”. Depois de anos, séculos, importando e incorporando técnicas e estilos afrancesados e europeus, o paraense está, finalmente, encontrando e assumindo a própria linguagem. A relação com a própria cultura tem despertado tanta paixão e encantamento que, sem precisar falar muito, o Pará te convence de qualquer coisa. Tanto que aqui estou eu, solto e desencontrado, cruzando a Baia de Guajará, sentido Ilha de Cotijuba, a bordo de um barco que não me abandonou. Quem me convidou? Me sinto apaixonado por algo que ainda não tem nome — muito embora já deva ter sido escrito várias vezes. Na ondulação do barco, que acaricia a água doce que se mistura com o Atlântico, vou vendo o Porto de Icoaraci dançando devagar, no ritmo de uma guitarrada contida. Vou vendo as palmeiras da Ilha de Mosqueiro cortando os filetes de sol que abençoam um entardecer alaranjado. Vou vendo a Cidade Velha linda e apaixonada, os prédios que sinalizam o progresso, as Docas, a chuva do fim de tarde, os barcos-pesqueiros do Ver-o-Peso... Ainda nem parti, mas preciso confessar. Belém, também sinto saudades. De hoje!
Basílica de Nossa Senhora de Nazaré reluzente (à esq.). Acima, o interior do Museu de Arte de Belém
Cada toque que o governo dá em uma construção antiga é uma manifestação de carinho com a história de um país ingenuamente carente de memória, de sentidos, de realizações 69
trancoso weekend 2012
fotos: jp lima
COBERTURA ESPECIAL
TRÊS NOITES DE FESTA O Trancoso Weekend 2012 comemorou seu segundo ano de evento entre os dias 11 e 15 de outubro com muita festa no Beach Club Bahia Bonita, em Trancoso, na Bahia. Com um público de 600 pessoas por noite, teve muita gente dançando ao som dos DJs Ron Carroll, Pete Tha Zouk, Jack E, Pedrão Meirelles, Romi e Switch. O evento já está marcado para rolar novamente em 15 de novembro do ano que vem. Que venha mais festa!
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RAGGA GIRL MODELO Paloma Bicalho FOTOS Carlos Hauck
ver達o
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O ENSAIO COMPLETO VOCÊ CONFERE NO EHGATA.COM.BR
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LIVRARADA #guitarristas
COLUNA POR BRUNO MATEUS FOTO bruno senna
NA CAPA DE SUA AUTOBIOGRAFIA,
Neil Young – A autobiografia
imagens: divulgação
(Globo Livros)
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que chegou às livrarias no mês passado, Neil Young usa um chapéu com uma pequena etiqueta onde se lê: “hippie dream”. E, como ele sabe que não se pode viver do (e no) passado, o guitarrista, um dos maiores da história, é um hippie do século 21, do Vale do Silício, conectado às novas tecnologias e que perambula por aí promovendo a paz, o amor e o rock and roll. No livro, vemos um artista hiperativo, que se ocupa entre mil projetos paralelos — musicais ou não. Parece que ele traduziu essa inquietude no texto. Young preferiu contar sua vida de forma não cronológica e, por vezes, esbarramos em alguns detalhes. São 68 capítulos e o nome de um amigo, por exemplo, pode aparecer no primeiro, no décimo e, quando aparece no trigésimo capítulo, você já não sabe mais de quem ele está falando. Contudo, isso não é
nada comprometedor e é até fácil se acostumar com a narrativa solta e desleixada de Neil Young, que já foi processado pela gravadora por fazer “música não característica de Neil Young”. Apaixonado por carros, o músico tem uma coleção deles, de tudo quanto é época. Ele fala dos possantes com sentimento e saudade. Chama a atenção também a fixação por locomotivas de brinquedo. A Buffalo Springfield, os malucos da Crazy Horse e o trio Crosby, Stills&Nash ganham espaço merecido. Young presta um tributo aos amigos e mostra gratidão à mulher Pegi, aos filhos e aos artistas que o influenciaram. Ele fala de sua fase careta — parou de fumar maconha em janeiro do ano passado — e questiona se sua produção artística sofrerá com a falta de baforadas. Filho de escritor, o músico gostou tanto da experiência de escrever sobre sua vida que já considera publicar outro livro. História é o que não falta. Enquanto um segundo volume não vem, Neil Young continuará promovendo a paz, o amor e o rock and roll e fazendo uma porrada de coisas ao mesmo tempo.
Eric Clapton – A autobiografia (Editora Planeta)
Keith Richards – Vida (Editora Globo)
Eric Clapton já foi chamado de Deus e tocou com os maiores nomes do blues e do rock and roll. Também já foi o bêbado que fez uma viagem ao inferno que durou décadas e é o cara que “roubou” a mulher de George Harrison. De forma cronológica e muito bem-estruturada, ele expõe sua vida de maneira avassaladora e sincera nesse livro. Da criança renegada pela mãe ao músico ativo e genial, o guitarrista experimentou o doce e o amargo nos seus quase 50 anos de carreira. Ainda que tenha lhe doído tocar em assuntos delicados, como a morte trágica do filho Connor, a decisão de visitar suas memórias parece ter funcionado como uma terapia para Clapton.
“O livro é excelente, mas não leia à noite, antes de dormir, senão você terá pesadelos”, disse meu tio, referindo-se às alucinações que as loucuras de Keith com drogas e polícia poderiam provocar no meu sono. Exageros à parte, é claro que há passagens quase inacreditáveis, mas, obviamente, ele não deixa de lado a infância, o primeiro encontro com o eterno parceiro Mick Jagger — e, posteriormente, descreve as picuinhas e o distanciamento da amizade. A extensa, brilhante e constante produção e os problemas entre os Stones, a vida em família, as mulheres, os heróis e as influências também não escapam às lembranças de Keith Richards.
PRATA DA CASA Iconili A banda mineira combina ritmos com política e música com dança em seu segundo disco
COLUNA POR LUCAS BUZATTI
divulgação
O EP Tupi novo mundo aborda o “resgate da vida natural em oposição ao vazio dos dias de hoje”
Acesse iconili.tumblr.com
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TENTE ESCUTAR O rei de Tupanga sem ser acometido pela vontade súbita de dançar, de batucar e de se mexer. O mais recente single do Iconili sintetiza bem a nova proposta musical da banda mineira, que aposta na mistura de jazz, ritmos africanos e rock. Após experimentar diferentes fases e formações, o grupo instrumental chegou a uma concepção sólida e singular, carregada pela influência do afrobeat — gênero musical e movimento sociocultural criado pelo multi-instrumentista nigeriano Fela Kuti. Esse “caldeirão dançante e psicodelicamente tropical” vem sendo misturado desde 2006, quando a banda surgiu do encontro entre os amigos André Orandi (órgão e sax) e Gustavo Cunha (guitarra). Atualmente, o Iconili conta com mais nove músicos: Rafael Mandacaru (guitarra), Wesley Snips (bateria), Nara Torres (percussões), Rafa Nunes (percussões), Henrique Staino (sax tenor), Lucas Freitas (sax barítono), Willian Rosa (baixo), Pedro de Filippis (percussões) e Victor Silva (trompete). “Todos são compositores, o que torna o processo de composição delicado. Existem brigas, mas muito amor. Tudo é uma conversa sonora”, diz Victor Silva. A criação coletiva aprimorou a sonoridade do grupo, adicionando temperos exóticos a uma saborosa salada musical. No iní-
cio, a influência do rock progressivo era mais ardente, o que pode ser notado no primeiro e homônimo disco, lançado em 2010. Porém, os traços do afrobeat e do jazz já surgiam e foram sendo incorporados e recebendo novos significados. “O afrobeat é um movimento político que aconteceu em uma determinada condição social, cultural e política. Nosso tempo é outro, nossa realidade é outra. Temos várias influências, mas queremos trilhar o nosso caminho”, defende o baixista. O próximo trabalho tem previsão de lançamento para este mês, quando a banda se apresenta em festivais em São Paulo e no Rio de Janeiro, dividindo palcos com ícones da música negra, como o etíope Mulatu Astatke. Com cinco músicas, o EP Tupi novo mundo abordará o “resgate da vida natural em contrapartida ao vazio dos dias de hoje, no qual ser alguém é ter e ter, cada vez mais”. Além do segundo álbum, a banda prepara gravações e projetos mais ousados, que envolvem participações de nomes importantes da música brasileira. Existe, ainda, o videoclipe de O rei de Tupanga, produzido pelos integrantes Pedro de Filippis e Rafael Mandacaru, que se encontra em processo de edição. A atividade criativa do Iconili é intensa e flerta com as questões sociais e culturais que tangem o universo político de Belo Horizonte. “A arte é uma alternativa social muito importante e foi o principal motivo para ativar esta cena efervescente em BH. Por meio dela, têm sido deflagradas várias questões políticas e de comportamento na cidade”, pontua Victor. Os ouvintes mais antenados aguardam, ansiosos, os próximos e promissores passos do Iconili, cientes do que esperar: “Calor no corpo, pungência e muita vontade de viver”.
CRÔNICO Geraldinos e arquibaldos
CRÔNICA
POR JOÃO PAULO ILUSTRAÇÃO FELIPE ÁVILA
João Paulo acha que a única coisa pior que uma fila é gente que fura a fila.
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O que vai doer mais é que o brasileiro, que empresta a casa, não vai ver os jogos ao vivo
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A MOVIMENTAÇÃO EM TORNO DA COPA DO MUNDO
feita de algumas meias-verdades e mentiras inteiras. O Brasil não vai ser palco do torneio. Na verdade, estamos armando um circo do qual a maioria vai ficar de fora. O que parece justificar tanto gasto é o argumento capcioso de que a disputa vai deixar para o país um ganho paralelo, como estádios modernos, melhor transporte público e motoristas de táxi falando inglês desde a hora em que acordam. Para isso vale gastar um dinheirão, mesmo que nossas prioridades sejam outras e, mesmo quando são as mesmas, como o caso da mobilidade urbana, passem por outros trilhos. Mas sobre isso todo mundo já falou. E não adiantou nada. Até mesmo o triste raciocínio de que vamos gastar mais do que o orçamento, computando a vergonhosa taxa de corrupção, parece não assustar ninguém. No começo da conversa o gasto seria da iniciativa privada, depois o poder público entrou com alguns investimentos e hoje assume a despesa toda. No entanto, na coluna dos lucros, está tudo dominado: quem vai ganhar é a Fifa (uma empresa privada e nem um pouco benta), que mudou até as leis do país para permitir cerveja ruim e proibir a venda de tropeiro num raio que vai do centro do gramado até a órbita de Marte. O que, no entanto, vai doer mais é que o brasileiro, que empresta a casa, não vai ver os jogos ao vivo. Os ingressos são caríssimos, estão na mão das grandes agências de turismo, dos patrocinadores e dos políticos; e até uma cota-álibi foi pensada para apaziguar as consciências e enganar os ingênuos. Não nos convidaram para essa festa pobre. Apenas para pagar a conta e andar de ônibus em corredores. Metrô e ciclovias que é bom, neca. Há muitos anos, os campos de futebol tinham suas torcidas divididas em dois grandes blocos: os geraldinos e os arquibal-
dos. Os geraldinos ocupavam a faixa mais barata dos ingressos – a geral. Estavam perto do gramado, ficavam em pé o tempo todo para ver jogo e pareciam ser não mais pobres, mas os apaixonados. Os arquibaldos ficavam nas arquibancadas, um pouco mais elevados em relação ao plano da bola e, teoricamente, sentados. As armas dos dois grupos eram as mesmas: amor ao clube e radinho de pilha. Como numa sociedade de mobilidade possível, um arquibaldo podia ser rebaixado a geraldino e este alçado à condição de torcedor assentado. Tudo dependia de algumas condições, como uma graninha a mais, se o mês estivesse começando, ou a companhia do filho e da namorada, que exigiam um investimento. Hoje está tudo mudado. Nos jogos da Copa nossos tipos antropológicos clássicos estão banidos. Quem vai assistir aos jogos não sabe o que é uma arquibancada, uma geral e, se bobear, nem mesmo um radinho de pilha. Que dirá amor à camisa. Além do preço proibitivo e da concentração dos bilhetes, o espetáculo está sendo pensado para a televisão, com sua lógica própria. Nesse jogo de cena, o torcedor é uma alegoria de escola de samba: preenche espaços, mas não dança. O que os novos estádios consagram é um modelo que pode ser chamado de camarotização da vida. Cada um tem seu valor pelo lugar que ocupa. As pessoas querem participar do grupo das “muito importantes” e virar siglas. São animais identificados por pulseiras coloridas, que vão aos lugares para comer sushis, beber energéticos e serem vistos. O que não percebem é que se tornam atores de uma comédia ruim escrita pelos outros. Mais que aproveitar as mordomias, estão lá para atuar e estampar marcas, mesmo que deem uns nozinhos na camisa para despistar. O melhor do esporte e das festas é a convocação à igualdade: estamos juntos de pessoas como nós, gente como a gente, que torcem pelo o mesmo time, gostam do mesmo artista, vivem a mesma fé. Quando esse movimento é deslocado para o umbigo e para o cumprimento de papéis de distinção e incentivo à inveja, a partida já está perdida antes de começar.
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