Revista Ragga #66

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REVISTA

SURFE SEM MAR?

#66

OUT 2012

Campeonato leva mineiros para curtir as ondas do Rio

O ex-bom moço do humor brasileiro mostra sua insatisfação com o certinho "Falo mesmo, falo o que eu quiser, da forma que eu quiser"

Dia de piloto

NA ITÁLIA, BRASILEIROS SE REÚNEM PARA REALIZAR O SONHO DE DIRIGIR UMA FERRARI

leitura recomendada para maiores de 18 anos

GUAICURUS Conheça a ganhadora do título entre as beldades de uma das ruas mais famosas de BH

FÁBIO PORCHAT SOLTA O VERBO

NÃO TEM PREÇO

MISS



Programas de mestrado e doutorado A melhor estrutura Projetos de extensão Laboratórios de última geração e aliança acadêmica com a Apple Conexões internacionais Entre as duas melhores universidades privadas de Minas Gerais (RUF - Ranking Universitário Folha)

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EDITORAL

Bi biiiiiiiiiiiiii porque não pensar em algumas soluções mais permanentes e equilibradas como, por exemplo: só permitir a venda de automóveis com mais de 25 anos de uso para centros de reciclagem a preços tabelados; criar um limite de compras de automóveis por CPF para pessoas físicas, ou a criação de um órgão regulador da união responsável por definir a quantidade autorizada de veículos vendidos por estado baseado na sua capacidade urbana, pressionando, assim, os governos estaduais a investirem adequadamente seus recursos, a fim de melhorarem seus “índices de mobilidade”. Essas ideias pensadas enquanto eu procurava uma vaga podem ser absolutamente inviáveis e lunáticas, afinal, meu trabalho é fazer revista. O que é que eu entendo de soluções urbanas? Só sei que concordo cada vez mais com Newton na suas um dia também consideradas loucas teorias.

bruno senna

Até a data de hoje, o número de automóveis vendidos no Brasil em 2012 foi superior a três milhões de unidades e a previsão é que esse número nas vendas anuais dobre até 2025. Belo Horizonte, particularmente, teve nos últimos 10 anos o maior crescimento com percentual de vendas superior a média nacional. Motivo de muito orgulho para uma economia burra. Afinal de contas, o investimento em infraestrutura para tal crescimento ainda é muito baixo se comparado aos belos números da indústria automobilística. O que quero dizer é: se continuarmos acreditando nesse “belo crescimento da economia” e nos próximos 10 anos continuarmos vendendo carros na mesma proporção, a conta não vai fechar e vamos pagar caro. Basta deixar a matemática um pouco de lado e pensar na física. Um tal de Isaac Newton já dizia: “Dois corpos não ocupam o mesmo espaço”. Ficamos cegos, com as altas cifras e esquecemos que o veículo que foi substituído por um novo não é perecível e muito menos se amassa com o pé e se joga na lixeira de recicláveis. Ele continua ali, ocupando seus preciosos e exclusivos metros quadrados. A química também dá a sua participação quando seus O2 começam a disputar espaço com os tóxicos CO e NO2. Se a biologia entrar na conversa, aí é que a coisa vai ficar feia. Não sou contra a venda de automóveis, e nem discuto a sua importância no cotidiano humano, assim como é indiscutível a necessidade de uma providência emergencial e uma mudança no cenário da mobilidade urbana. Investir em alternativas coletivas e estruturadas de transporte público é algo tão óbvio que não sai da pauta de nenhum candidato em suas propostas de governo, mas

Lucas Fonda — diretor geral lucasfonda.mg@diariosasassociados.com.br


elisa mendes

ÍNDICE

Fábio Porchat O humorista conta tudo sobre seu novo projeto, Porta dos fundos, e sobre sua geração de comediantes

66


Mineiro de Surfe

Na passarela

Campeonato leva atletas mineiros para mostrar seus talentos no Rio de Janeiro

Concurso Miss Guaicurus escolhe a “perversa do ano”

36 Minha Ferrari

Brasileiros vão à Itália sentir o gostinho de dirigir um superesportivo pela primeira vez

48 Pequim

A Ragga dá 10 dicas para conhecer a cultura milenar da capital chinesa

JÁ É DE CASA

Só no site 22 Destrinchando 24 Twitter 26 #Instaragga 27 Rapidinhas 28 Estilo Renata Amaral 30 Eu quero 32 Quem é Ragga 34

De Frente Rene Silva fala da cobertura da pacificação do Morro do Alemão em palestra no Plug Minas

40

56 Por aí 72 On the Road ArtRio 74 Ragga Girl Alice Ramos 76 Livrarada 80 Prata da casa 81 Crônico 82 Quadrinhos Rasos 84

42 Heavy metal Cogumelo 30 anos acende debate sobre o rock pauleira de Minas Gerais

52 Estranho mundo Conheça as construções surreais da fotografia de Kyle Thompson

60


S

SCRAP S/A

COLUNA POR ALEX CAPELLA // ALEXCAPELLA.MG@DIARIOSASSOCIADOS.COM.BR

imagens divulgação

Sugestões e informações para a edição de novembro, entre em contato pelo e-mail acima.

Novo cinema

Com apoio do Instituto Usiminas Cultural, o espaço CentoeQuatro abrigará, a partir de outubro, mais uma sala de cinema em Belo Horizonte. Com 80 lugares, mobiliário e equipamentos novos, o Cine 104 surge no momento em que a capital mineira praticamente não conta mais com os chamados cinemas de rua. O novo espaço para os amantes da sétima arte está localizado no hipercentro, fazendo parte do conjunto arquitetônico e urbanístico da Praça da Estação, e priorizará uma programação voltada para lançamentos, com estreias sempre às sextas-feiras.

NOSSA CAPA Fábio Porchat é a pessoa que fala mais rápido no mundo todo. E ele não só tem a fala acelerada como emenda mil pensamentos em uma frase, jogando as mãos para todos os lados e fazendo as vozes de todas as pessoas citadas na conversa. Apesar disso, o frio fora de estação do Rio de Janeiro deve ter acalmado o humorista, que conseguiu sentar tempo o bastante para conversar com a equipe da Ragga. Já na hora da foto, tudo que a gente precisou falar foi: “A gente quer caras e bocas”. A palavra verbalizada no momento da foto da capa não pode ser mencionada. Fotografia: Elisa Mendes

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Moda

A Fashion Weekend Kids, que já acontece em São Paulo, vai desembarcar em Belo Horizonte em 2013. O formato, que teve a primeira edição na capital paulista há oito anos, já foi replicado no Rio de Janeiro, em Curitiba, em Campinas e na Ilha de Comandatuba, na Bahia. As exposições, voltadas para o público infanto-juvenil, movimentam moda, alimentação, segurança, entretenimento, jogos eletrônicos e até o setor automotivo.

Festival

O 1º Festival de Cervejas Artesanais de Tiradentes, o TremBier, será realizado de 11 a 14 de outubro e contará com palestras, workshops, shows, gastronomia e cultura. O evento terá a presença das cervejarias Backer, Falke Bier, Krug Bier, Taberna do Vale, Kud Bier, Walls, Halls Bier, entre outras, que comercializarão chopes e cervejas. São esperadas cerca de 15 mil pessoas no festival, que terá como atração artística o show da banda Blitz.

Eletrônica

O NET Festival 2012, evento que ocorre em 15 de novembro, trará a parceria inédita de David Guetta (dono de hits como I gotta felling, When love takes over, Titanium, Where them girls at) e Calvin Harris (Feel so close), no novo Independência. Será o primeiro evento musical depois da reforma do estádio. A expectativa é de um público de 25 mil pessoas. O evento ainda contará com os DJs brasileiros Mary Olivetti e Diego Moura para comandar a festa durante os intervalos.


CARLOS RIBEIRO

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SS BS HEELFLIP / FOTO: FELLIPE FRANCISCO


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Arte com dorgas Conheça o trabalho do artista que fez vários autorretratos, cada um sob o efeito de uma droga diferente. bit.ly/artedorgas

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Fábio Porchat Assista aos vídeos do humorista que é um dos pioneiros do stand up comedy no Brasil. bit.ly/fabioporchat BLOGS PARCEIROS

Metal BH A gravadora belo-horizontina Cogumelo Records celebra 30 anos de existência. Veja aqui a galeria de fotos com os melhores momentos dessa galera heavy metal. bit.ly/raggametal

Zonafootball Volta e meia algum gênio inventa uma variação mais interessante dos esportes que curtimos. Descubra o que é o Ultimate Tak Ball. bit.ly/ultimatetakball

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fotos: reprodução da internet

foto: divulgação

Sonhos obscuros Curta-metragem conta história de personagem que está perdendo a visão e tem seu mundo transformado. bit.ly/sonhosobscuros

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COLUNA DA WEB

Hispterismos O que há de mais beat Y irredutível Y impróprio no underground de Beagá. bit.ly/naoonda

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Eleições americanas X eleições brasileiras Quais são as diferenças culturais entre os dois países na hora de escolher seus representantes? bit.ly/braXusa


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DESTRINCHANDO ARTIGO POR LUCAS MACHADO ILUSTRAÇÃO ANNE PATTRICE

Bossa nossa por Jobim “HÁ QUEM SE GABE DE SER PRESO. EU, NÃO. PARA MIM, OS HOMENS DE BEM DEVEM ANDAR SOLTOS, COMO OS LADRÕES.” Antônio Carlos Jobim, sobre sua prisão em 1970 por recusar-se a tocar em um festival de canção

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Na adolescência, Tom era um moleque da rua, vida de calção e pés descalços, com horizontes a perder de vista

SE OS MÚSICOS PODEM NA-

pelas suas coleções e se divertirem colocando trechos em canções, por que nós, meros mortais, que temos conexão com a palavra, não podemos fazer algo assim também? Neste Destrincha, resolvi deixar minha mente solta. Cortei parágrafos, palavras e linhas e fui costurando, ou melhor, compondo minhas ideias. Escolhi a “bossa nossa” de Jobim e tantos outros. Boa leitura. Espero que vocês gostem. É difícil definir o que fez de Antônio Carlos (Tom) Jobim algo tão inspirador. Talvez seja pela sua honestidade, por meio da qual o maestro e compositor conseguiu em vida traduzir a emoção em estado puro, ideias e sentimentos transformados em ondas sonoras. Foi na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, onde nasceu um dos músicos e compositores mais internacionais de todos os tempos. O médico que o trouxe ao mundo foi o mesmo que, 17 anos antes, fizera o parto de Noel Rosa. Mas, afinal, quem foi e como viveu essa lenda? Tom nadou antes de andar. Na adolescência, era um moleque da rua, vida de calção e pés descalços, com horizontes a perder de vista. Empinava pipas, pescava, caçava tatuís e fazia capoeira com mestre Sinhozinho. O mar foi um dos desafios que ele venceu. “Eu era um verdadeiro peixe, um barco para qualquer mar.” Aos 18 anos, já gostava da vida noturna, assim como adorava o mar e o sol. Fumava e bebia e seu principal talento era harmonizar músicas de bandas com gaitas de boca. Mesmo sem perspectiva de emprego, largou o primeiro ano de arquitetura e foi estudar música. Casou-se aos 22 anos e teve VEGAR

MANIFESTAÇÕES

articulista.mg@diariosassociados.com.br | facebook.com/lucastmachado | destrinchando.com.br 24

que viver profissionalmente tocando piano. Como na maioria dos casos de quem vive na noite, Tom bebia mais do que comia e não dormia. Contudo, seu talento era nato. Foi para a gravadora Continental, na qual pôde compor, arranjar e gravar. Compôs com Vinícius de Morais as canções da peça Orfeu da Conceição, de 1956 — Se todos fossem iguais a você era uma delas. Logo depois, em 1958, escreveu as canções, como Chega de saudade, em parceria com Vinícius, para o LP Canção do amor demais, de Eliseth Cardoso, que tinha João Gilberto no violão. Muitos consideram aquele o momento inicial da bossa nova. Jobim compôs com Newton Mendonça, Dolores Duran, Marino Pinto e Aloísio Pinto. Nos anos 1970, foi militante da ecologia e fazia frequentes visitas ao sítio da família — em Poço Fundo, Petrópolis, no caminho da corrida do ouro rumo às Gerais. Lá, a maresia deu lugar ao cheiro de mato e repercutiu em discos como: Matita Perê, Urubu e Passarim. Era um Jobim mais próximo a Carlos Drummond, Guimarães Rosa e Mário Palmério. Nada foi muito fácil na vida de Tom. Comprou seu primeiro carro e apartamento aos 36 anos, quando saiu pela primeira vez do Brasil para fazer, no Carnegie Hall, em Nova York, um concerto de bossa nova. Foi acusado de americanizado quando cedeu Águas de março para uma campanha mundial da Coca-Cola. Porém, os Estados Unidos o adotou e lhe proporcionou o que talvez seu próprio país o negou. Enfim, a bossa é nossa, e Jobim, também. O Brasil poderia ter ouvido mais suas letras, entrevistas e papos de botequim. Talvez ainda tenhamos tempo. Essa é a minha contribuição. Fui! J.C.


Exageramos no sabor, economizamos nas calorias.

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TWITTER

diImabr

Realidades

A caminho do Planalto, curtindo o som do Molejão. Adoro! SabioBrasileiro

Ironia é um Mac custar R$ 4 mil enquanto um Big Mac custa menos de R$ 15. hebecamargo

Nenhuma farmácia fazendo sorteio de remédio para osteoporose no Twitter?

“Pai, como vc conheceu a mãe?” Um amigo deu RT nela, achei os tuítes idiotas, segui, ela seguiu, dei add no face, cutuquei, pedi MSN e madrugamos...

m4rcin

UM HIPPIE HIPSTER QUE VENDIA BOMBA CASEIRA E DESEJAVA GUERRA, PQ PAZ, AMOR E ARTESANATO É MUITO MAINSTREAM.

Deus falou para dividir o pão, não o wi-fi.

thiagomava

Tatawerneck

Simpatia pra ficar rico: vá a um banco com uma arma e repita três vezes: “passa tudo. Isso é um assalto”. É tiro e queda.

Sempre quando alguém diz “e ai?”, eu fico sem saber o que responder e simulo um infarto.

wtfjaine

SeuElvis

bethmoreno

TWITTER, O LUGAR NO QUAL A GENTE SE REÚNE PRA FALAR SOZINHO! Danilomaranhao

tipoumovo

Galera, se Coca Zero tivesse realmente o mesmo gosto que Coca normal, não precisava existir a Coca com açúcar, certo? Fim de papo.

EJMGS

China: 1,5 bilhão de pessoas e dois cortes de cabelo.

A GORDURA SÓ É LOCALIZADA SE VOCÊ A PROCURA. Quando estiver rico, simplesmente me abrace.

thiagomava maravilha_alice

Acho lindo o pessoal achar amor eterno cinco vezes ao ano.

Até hoje não consigo perdoar Noé por ele não ter salvo um casal de dinossauros.

bitchnik

TUDO CONSPIRA A MEU PAVOR. janessacamargo

Venho no banco só pq tem ar condicionado potente.

Deeercy

Posso perdoar o Latino se ele voltar a usar bigode. Tatawerneck

vitor655

Acho bonito quando durmo 8h em 1h. 26

O cabelo da Joelma é quase uma nova espécie de poodle.


andregabbard

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coletivoconsumo

crishatz

bentobier

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glaucobertu

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Nesta edição, chamamos todo mundo para postar fotos com o tema Imã de geladeira com a hashtag #instaragga. O resultado você vê por aqui.

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Quer participar em setembro? Basta postar no Instagram uma foto com o tema Meu livro preferido e a hashtag #instaragga.


RAPIDINHAS COLUNA

fotos: divulgação

POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES

Drag Barbie Criadora da boneca mais famosa do mundo, a empresa Mattel pediu que os designers David Blond e Phillipe Blond, da empresa The Blonds, criassem a primeira boneca transexual da linha Barbie. Com o nome The Blonds Blond Diamond Barbie Doll (Boneca Barbie loira-diamante dos The Blonds, em tradução literal), a boneca não apresenta nenhuma diferença física em relação às outras da linha, mas tem sua aparência baseada em Phillipe Blond, que é travesti. A boneca será vendida exclusivamente on-line e custará US$ 125.

FOTOS de DRINQUES As fotos psicodélicas que você vê são imagens de Coca-Cola (dir.) e de vodca (esq.) cristalizadas e vistas através da lente de um microscópio. A fotografia é feita sob uma luz polarizada. Ela reflete nos cristais da bebida, resultando nas fotos que você vê aqui. A ideia é simples, mas o produto é algo que qualquer apreciador da arte — e de bebidas — poderia passar horas admirando. O mais curioso é que cada tipo de bebida alcoólica (ou não) gera uma imagem completamente distinta, mostrando que a diferença não é só no gosto, mas vai até o nível molecular. A empresa responsável pelo projeto vende lenços, quadros e garrafinhas com as imagens estampadas. bevshots.com 28


Você não é fotógrafo Seguindo os moldes do Photoshop Disasters, o site youarenotaphotographer.com levanta a bandeira de humilhar aspirantes a fotógrafos que divulgam seu trabalho. Como? Divulgando o trabalho deles no site. A ideia é simples, basta colocar uma foto de gosto duvidoso e tratamento exagerado para incitar os comentários dos leitores. “Parece que todo mundo está abrindo um negócio de fotografia hoje em dia. Esse pessoal que compra uma DSLR e abre o negócio precisa de um toque. Eles não são fotógrafos. Ser fotógrafo significa ter mais de uma lente e, acima de tudo, entender de luz e composição.”

CASA INTELIGENTE Os objetos do nosso dia a dia estão cada vez mais inteligentes. Mas, a proposta do projeto do Kickstarter, SmartThings, é fazer da sua casa algo mais parecido com a visão dos escritores de ficção científica dos anos 1960. Com um dispositivo central, adaptadores e um aplicativo de iPhone, eles prometem que sua casa saberá, por exemplo, quando ninguém está dentro dela e desligar eletrônicos para economizar energia; ou a coleira de seu cachorro saberá quando ele saiu de casa e mandará uma mensagem em seu celular. O preço do projeto é alto, mas o resultado é, sem dúvida nenhuma, do futuro. bit.ly/SmartThingsRagga

Literatura de BH

O autor de Annabel & Sarah, Jim Anotsu, está lançando seu segundo livro pela editora Draco. A obra é sobre Andrew, um garoto de 19 anos que é apaixonado pela melhor amiga há três, mas não tem coragem de se declarar. Seguindo seu estilo de misturar o mundo real com universos alternados, Jim Anotsu leva Andrew a uma aventura, acompanhado da filha mais nova da Morte, em busca dos três nomes da criatura mais importante do universo. Valorizando as referências pop do autor, o livro vem com uma mixtape com bandas independentes de Minas Gerais e Santa Catarina. editoradraco.com 29


E

ESTILO Renata Amaral

COLUNA POR LUCAS MACHADO FOTOS CARLOS HAUCK A PAIXÃO DE RENATA AMARAL por moda não é novidade. Aos 32 anos, formada em administração e design de moda, ela lembra como tudo começou. Vamos deixá-la à vontade. “Já trabalhava como estilista na Graça Ottoni quando apareceu uma oportunidade de morar e estudar em Londres. Fiz stylist na Central Saint Martins College of Art and Design. Foi uma experiência incrível.” Ela define estilo e moda de uma maneira muito básica. Segundo suas palavras, estilo revela nossas qualidades, então a pessoa precisa se conhecer. Já a moda é o meio pelo qual você pode expressar seus pensamentos, momentos e estilo de vida. Renata adora a marca paulistana Giuliana Romano. O último livro que leu foi Cinquenta tons de cinza e é fã dos filmes de Woody Allen e Tarantino e do ator Sean Peann. Hoje, ela é proprietária da loja Goodmood Store, que de um sonho se transformou em desafio: traduzir na roupa um conceito que aprendeu durante suas experiências na moda. “Trazer para o universo do consumo o bem-estar, o prazer e a alegria, através de um mix de marcas exclusivas”, diz. O recado está dado. Se ainda não conhece a Goodmood, se prepare, pois você não mais precisará sair da cidade para fazer um estrago por onde passar.

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Capa para computador O design mais parece algo vindo de um futuro pós-apocalíptico escrito por William Gibson, mas a capa para notebooks de 15” já está disponível. R$ 299,90 na fnac.com.br 32


The casual vacancy

fotos: divulgação

Apesar de o livro ser em inglês, o lançamento de J. K. Rowling para os adultos vale o esforço para ultrapassar a barreira do idioma. R$ 69,90 na livrariacultura.com.br

Máscara caveira Carimbos O objetivo dos designers da Knock Knock Stuff é divertir. E eles conseguem com produtos inusitados, como a série de carimbos significativos que você vê aqui. De US$ 6,75 a US$ 9 na knockknockstuff.com

A dica é especial para o Halloween, mas a máscara de caveira é fantasia garantida em outras festas do ano. R$ 57,90 na ricafesta.com.br

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QUEM É RAGGA FOTOS ANA SLIKA E BRUNO SENNA

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Veja todas as coberturas do mĂŞs no bit.ly/quemeragga

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ESPORTE

SE Nテグ TEM MAR, VAMOS PARA O RIO TEXTO E FOTOS Eduardo Duca

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SEXTA EDIÇÃO DO CAMPEONATO MINEIRO DE SURFE PROVA QUE NÃO É PRECISO MORAR PERTO DA PRAIA PARA SER BOM DE ONDA

A FAVOR DO SURFE e contra as previsões meteorológicas, a Praia da Macumba, no Rio de Janeiro, foi palco de mais uma edição do Campeonato Mineiro de Surfe, com muitas ondas e nem um pingo de chuva. Com essas excelentes condições, tanto para os atletas quanto para o público, foi realizada, sem dúvida nenhuma, a melhor edição das seis já realizadas. Diferentemente dos outros anos, a sexta edição do evento teve duas categorias: a Open Minas, para mineiros que moram fora do estado; e a Minas Minas, que, como o próprio nome diz, reúne surfistas que moram em cidades mineiras. Com isso, o campeonato ficou mais justo, já que os mineiros que moram fora têm mais possibilidades de treinar. Chamou atenção a integração da galera, que o surfe fez com que se encontrasse. Amigos, irmãos e primos já combinaram um jeito de se encontrarem no mínimo uma vez por ano. Mesmo sem competir, vários exatletas e amantes do surfe também fizeram questão de estar presente no dia do evento. Um dos destaques da competição, Pedro Campos, de apenas 13 anos, ficou em segundo lugar na categoria Minas Minas, desclassificando na semifinal seu pai e mostrando que a terceira geração do surfe mineiro está chegando com força. Felipe Mario, com um surfe muito atual e estiloso, sempre pegando as melhores ondas nas baterias, foi o melhor da Minas Minas. O campeão do ano passado, Pedro Ribeiro, de 15, confirmou seu favoritismo e levou na categoria Open — provavelmente será o primeiro mineiro a competir o Circuito Brasileiro Profissional de Surfe. Isabella Cavalcanti foi a primeira mineira a competir entre os homens, abrindo as portas para as demais. Quem sabe no ano que vem podemos ver uma categoria só das mineiras? Com recorde de cidades representadas — oito, no total —, o 6º Campeonato Mineiro de Surfe também recebeu número de inscrições superior ao do ano passado. Que esse movimento em prol do surfe continue. 37


AMIGOS, IRMÃOS E PRIMOS JÁ ARRUMARAM UM JEITO DE SE ENCONTRAREM NO MÍNIMO UMA VEZ POR ANO

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APRESENTOU

MORADOR DO COMPLEXO DO ALEMÃO E EDITOR DO JORNAL VOZ DA COMUNIDADE FALA SOBRE SUA TRAJETÓRIA E COMO INSPIRAÇÃO, PERSISTÊNCIA E 140 CARACTERES MUDARAM SUA VIDA PATROCÍNIO

RENE SILVA GANHOU OS HOLOFO-

em novembro de 2010, quando fez a cobertura da pacificação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, pelo Twitter. Morador do morro e editor do Voz da Comunidade, a história desse garoto de apenas 18 anos começa bem antes. Aos 11, já fazia ações sociais e levava em frente o projeto do jornal. “O objetivo era mostrar os problemas da comunidade, falar o que a imprensa não noticiava”, explica. Seguindo a rotina de palestras que dá pelo país, ele contou sua história e suas experiências, no último mês, na terceira edição do De Frente, resultado da parceria entre o Plug

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REALIZAÇÃO

Minas, a Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude, por meio da Subsecretaria da Juventude, e a Ragga que promoverá um encontro por mês até o fim do ano. Nos últimos dois anos, muita coisa boa aconteceu na vida de Rene — é consultor de textos da novela global Malhação e ganhou bolsa de estudos para começar o curso de jornalismo, no ano que vem. O Voz da Comunidade cresceu e atinge cada vez mais moradores. Agora, Rene se apruma para alçar outros voos e já traça planos para o futuro. “Meu objetivo é criar uma cadeia de jornais da comunidade e continuar trabalhando para ela, fazendo ações sociais.”


fotos: ana slika

O DE FRENTE CONTINUA!

Em outubro Rua Santo Agostinho, 1.441 – Horto Belo Horizonte – MG Entrada franca

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A pervertida COMPORTAMENTO

do ano

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bruno senna

POR ALEX CAPELLA FOTOS BRUNO SENNA E luiz oliveira

LENDÁRIA RUA GUAICURUS, AGORA, TAMBÉM TEM A SUA MISS

LONGE DO GLAMOUR que cerca os concursos de beleza, a capixaba que se apresenta como Mara, de 25 anos, foi a grande vencedora do Miss Prostituta, realizado por um shopping popular de Belo Horizonte. Em uma passarela improvisada, na praça de alimentação do centro de compras, a mulata atarracada e de quadril largo desfilou de trajes ínfimos para conquistar júri e público. A apresentação durou apenas alguns minutos, assim como os cerca de quarenta programas que ela faz, por dia, no que é considerado o maior complexo de diversões adultas do país: a rua Guaicurus. Por encontro, que não passa de 15 minutos, Mara cobra R$ 10. A capixaba, que abusa do decote, valorizando os seios fartos, é facilmente encontrada no Hotel Novo América, um dos 16 estabelecimentos voltados para o sexo pago, no endereço da saliência popular da capital mineira. Há dois anos no ramo, ela representa uma parte do perfil das prostitutas da região, carinhosamente chamadas de “pervas”. A pequena área urbana abriga em torno de 600 mulheres. São jovens e coroas, com idades entre 18 e 60 anos, que enfrentam uma vida muito diferente da descrita no romance Hilda Furacão, do escritor Roberto Drummond, sobre a mais famosa prostituta de Minas. No livro, o autor descreve o extinto Maravilhoso Hotel, no coração do meretrício, mais precisamente no quatro 304, onde teria vivido Hilda, como um lugar glorioso, por onde passaram os “coronéis” da vigorosa capital.

Hoje, esse trança-trança de homens continua intenso. A diferença está na carteira. São trabalhadores que, antes de seguir para o lar, para encontrar as esposas, passam pelo meretrício em busca do prazer barato. A concentração de corpos femininos à venda gera, de segunda a segunda, um infernal e incessante entra e sai, desde as primeiras horas da manhã até a madrugada. São corredores apertados, labirínticos, em luscofusco ou sob as famosas cores vermelhas. Ambiente de gosto duvidoso, mas, sem dúvida, lascivo. Nesses corredores, há vários quartos. Pequenos, espartanamente mobiliados. Dentro, as mulheres permanecem sobre as camas em posições que julgam ser mais atrativas ao formigueiro que se forma em torno das portas abertas ou semiabertas. Algumas permanecem em pé, nas portas; todas ou estão nuas ou seminuas. “Acho que a vitória no concurso me dará mais visibilidade. Quem sabe até vou passar a cobrar mais caro pelo programa”, diz a nova Miss Guaicurus. Cada uma das moças paga um preço médio de R$ 60 aos donos dos “hotéis” pela diária do quarto. É comum homens fazerem fila em determinados quartos, aguardando a vez. Geralmente, as filas se formam na porta dos quartos da prostituta do momento. Yasmin, de 25, nascida em Belo Horizonte, antes do concurso, era a “perva” da vez no Hotel Pensão Mineira, que abriga cerca de 50 garotas. De pele clara e corpo esguio, a moça faz até academia para manter a forma e a fama. “Não ligo de me chamarem de ‘perva’. Faz parte do trabalho. E não dá para negar que gostamos de sexo.” Todas as negociações são feitas nos corredores. Assim como em qualquer mercado popular, são rápidas, diretas ao ponto e em bom som. Tudo isso é observado por leões de chácara, uniformizados ou não, dependendo do estabelecimento. Para atrair os 43


fotos: luiz oliveira

Em dois momentos, a capixaba Mara, vencedora do concurso: primeiro, recebendo a premiação; antes, desfilando com traje passeio

clientes, algumas ficam na cama simulando masturbação. “Recebo todo tipo de homem. Por dinheiro, se tiver respeito, faço de tudo”, garante Rúbia Cristina, de 24, mineira do interior. Há três anos no Hotel Diamante, a mulher de pele clara, cabelos vermelhos e tatuagens pelo corpo, foi levada para a vida por uma colega, também prostituta, depois de perder o emprego no comércio. Entrou no concurso para tentar mudar de vida, porém não se ilude. Precisa de dinheiro rápido para sustentar a filha de 3 anos. Chega a fazer 40 programas por dia e ainda tem ânimo para paquerar. “Vou ao shopping, ao cinema. Estou em busca de um namorado, de preferência moreno.” Makely Santos, de 19, outra participante do concurso, está no ramo há seis meses. Deixou a periferia de Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, depois de ter sido abandonada, ao lado do filho, pelo marido. Morena com jeito mignon, usando aparelho nos dentes, trabalha no Hotel Cisne, onde o programa vale R$ 15. Chega a ganhar R$ 2 mil por mês. “Não ganharia esse dinheiro trabalhando num supermercado em Teófilo Otoni.” Com jeito adolescente, não vê sua história como trágica. Apesar do pouco tempo na prostituição, ouviu casos de moças envolvidas com drogas, estupradas, violentadas em casa — essas coisas “toleradas” pela polícia e pela sociedade conservadora. Diante do que já ouviu, Makely chega a dizer que sua vida está até boa. A prostituta se dá ao luxo de recusar sexo anal. “Sou virgem de ‘lá’. Não faço. Já tive R$ 1 mil na mão para fazer e recusei.” Na outra ponta, na casa dos 50 anos, Ângela representa as mais experientes. Não 44

Todas as candidatas se apresentaram ao júri em trajes íntimos. Público vibrou quando as moças subiram, juntas, na passarela do centro de compras popular

diz que está em “fim de carreira”. Afinal, muitos homens que deveriam ter dependurado as chuteiras frequentam a região. A experiente prostituta diz que já viu de tudo na Guaicurus. Só não viu ninguém fazer fortuna por lá. “O tempo passa e a ilusão acaba. E, quando a gente acorda, já não dá mais para sair dessa vida.” A raia miúda da Guaicurus atende clientes por R$ 7, R$ 5. Estão enfiadas em seus escuros cubículos, lembrando mais celas de presídio do que quartos de hotel. O discurso de alguns donos desses estabelecimentos, até para escaparem da acusação de rufianismo, é o de que qualquer um pode, se quiser e se pagar, se hospedar nos quartos. Mas isso é outra lenda.


Crédito: Ike Levy

Apresenta:

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10 de novembro, a partir das 21h, no Expominas, Av. Amazonas, 6.030 - Gameleira.

Informações: 3263-5700

Realização




ESPORTE

É DE FERRARI QUE EU VOU! TEXTO E FOTOS MARCELLO OLIVEIRA // VRUM

PILOTAR UMA FERRARI E OUTROS SUPERCARROS NAS FÉRIAS É UM SONHO POSSÍVEL PARA OS AMANTES DOS AUTOMÓVEIS

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A ITÁLIA É UM DOS PAÍSES EUROPEUS

mais procurados por turistas do mundo inteiro. Mas os atrativos não se resumem ao romantismo de Veneza, à gastronomia da Toscana, às belezas de Roma ou ao espiritualismo do Vaticano. Muitos visitantes querem a fantástica experiência de pilotar uma “supermáquina” em uma estrada italiana. O circuito dos superesportivos já consta no roteiro turístico de muitas agências de viagens, que levam pessoas de todo o planeta para conhecer de perto fábricas que produzem os bólidos e, de quebra, ainda dar uma de patrão por alguns minutos, acelerando as máquinas. Ao andar pela região italiana Emília Romagna, onde fica a cidade de Modena, lar da fábrica da Ferrari, não se assuste se for abordado com convites para pilotar. Várias empresas alugam os possantes por períodos que variam entre 10 minutos e uma hora. Há locações a partir de 80 euros, com direito a pilotagem em uma estrada próxima. Brasileiros podem chorar um desconto em uma das locadoras e dirigir uma F430 Spider por 50 euros.

Se você tiver coragem e domínio da máquina, o instrutor lhe permite chegar aos 170 km/h em vias públicas da cidade ou até aos 290 km/h em pista fechada. Você pisa no acelerador e escuta o ronco do motor V8 como se fosse uma sinfonia. Suas costas colam no encosto do banco nos arranques e retomadas de marchas, as curvas são vencidas com precisão quase cirúrgica e o ponteiro no painel de instrumentos sobe tão rápido que fica difícil acompanhar. Nos modelos conversíveis, a sensação de prazer é reforçada pelo vento, que ganha força à medida que o ronco do motor vai ficando ainda mais grave. O corte dos motores ocorre ainda em estado de êxtase. Todos esses fenômenos acontecendo ao mesmo tempo resultam em uma emoção indescritível. Quem realiza o sonho dos amantes das máquinas é o pernambucano Jean Jacques, que tem seis Ferraris dos modelos 458 (Spider e Coupé), Califórnia e F430 (Spider, Coupé e Scuderia) junto com dois sócios italianos. Ele chegou à Ferrari para trabalhar no museu por indicação do cunhado, que é mecânico dos carros de Fórmula 1 da marca. Há pouco mais de um ano, ele abriu a Fast in Red, que faz sucesso no distrito de Maranello, ao Sul de Modena, principalmente entre brasileiros. “Eles adoram carros e não medem esforços para dirigir uma Ferrari pela primeira vez, inclusive muitos famosos me procuram para alugar uma”, diz o empresário, que conta ter atendido o ator Lázaro Ramos. Em Maranello, não é difícil se deparar com marmanjos emocionados, como uma criança que vai à Disney e vê o Mickey pela primeira vez. Jean conta que um cliente holan49


dês pediu para que a empresa fizesse uma pintura camuflada em uma Ferrari 458 Itália para um aluguel de três horas. Além do contrato de 800 euros, o fã da marca arcou com as despesas da customização do carro. A ideia deu certo, outros clientes pediram para dirigir a “Ferrari militar”, e Jean decidiu manter a camuflagem, que esconde a inconfundível pintura vermelha rosso corsa. DENTRO DA FÁBRICA

Com sedes de grandes marcas de carros esportivos, a região da Emília Romagna atrai os apaixonados pelos possantes. A cidade de Modena é cercada por cinco importantes fabricantes: Ferrari, Lamborghini, Ducati, Maserati e Pagani. As duas primeiras construíram, anexo às linhas de montagem, modernos prédios que abrigam museus, lojas, restaurantes e cafés temáticos. Em Sant'Agata Bolognese, uma pequena cidade com menos de 6 mil habitantes, é possível acompanhar de perto a montagem quase artesanal do modelo Aventador, dentro da fábrica da Lamborghini. A visita custa 40 euros, mas, se você ficou com água na boca, pode mostrar seus dotes de pilotos por alguns minutos, alugando um modelo da marca na saída do museu. 50

Do outro lado da província de Modena, no distrito de Maranello, bandeiras vermelhas e quadriculadas tremulam anunciando a chegada à sede oficial da Ferrari. O turista é convidado a conhecer a história da marca em um moderno museu, que bateu recorde histórico de visitantes em julho, recebendo cerca de 35 mil pessoas. A visita à linha de montagem é permitida desde que você preencha um simples requisito: ter uma Ferrari na garagem. Se ainda não tem a sua, passe direto na portaria e vá ao museu. É lá que estão as mais belas criações da marca. O visitante pode conhecer de perto a rotina dos boxes da equipe de engenheiros, mecânicos e técnicos que acompanha a Scuderia nos GPs de Fórmula 1 ao redor do globo e posar para fotos ao lado dos carros de corrida que fizeram história nas pistas.


No museu, entre restaurantes, lojas e cafés, é possível encontrar desde modelos antigos da Ferrari até lançamentos, como a FF, de 2011

Serviço Ferrari Viale Alfredo Dino Ferrari, 43 41053 Maranello, Modena, Itália Tel. +39 (0) 536 949-713 Ingresso museu: 13 euros Lamborghini Via Modena, 12 40019 Sant'agata Bolognese, Bologna, Itália Tel. +39 (0) 051 6817-611 Ingresso museu: 13 Euros

São mais de 40 carros expostos em cinco salões do museu, os quais contam a história da marca do cavallino rampante, desde a Ferrari 166 Aerlux, de 1949, até os mais novos lançamentos, como a FF, de 2011. Há uma ala apenas para motores. O coração das máquinas merece um destaque especial. Outro espaço é dedicado ao fundador da marca, Enzo Ferrari. Guias em inglês e italiano acompanham os visitantes nos ambientes. Objetos de arte inspirados na marca e livros publicados sobre a Ferrari e seu criador também fazem parte do passeio. Ali, você conhece os detalhes minuciosos da produção de uma Ferrari, desde o bloco do motor até o cuidado com a manipulação do couro de primeira, que reveste os estofados dos carros. Dois simuladores fazem os visitantes experimentarem a emoção de pilotar um carro de Fórmula 1. Os troféus e títulos conquistados pela Ferrari estão expostos na galeria da vitória, próxima aos uniformes históricos usados pelos pilotos. É impossível deixar o museu sem estar com o pensamento longe, viajando pelo mundo das máquinas.


MÚSICA

PAULEIRA O HEAVY METAL MINEIRO COMEMORA 30 ANOS COM O LANÇAMENTO DE LIVRO DA COGUMELO RECORDS

POR LUCAS BUZATTI

FAÇA ESSE TESTE QUANDO VIAJAR AO EXTERIOR. Pergunte a seus novos amigos gringos, latinos, europeus ou asiáticos: “O que você conhece do Brasil?”. Permita-se a surpresa de ouvir, entre as clássicas palavras-chave “samba”, “Pelé” e “carnaval”, o nome de uma das bandas mais importantes da história do heavy metal: Sepultura. Nascido no Bairro Santa Tereza, a poucos metros do Clube da Esquina, o grupo foi o grande responsável, junto aos amigos paulistas do Ratos de Porão, por projetar, nas décadas de 1980 e 1990, o metal brasileiro para o mundo. Apesar de sua inegável relevância histórica e sonora, a trupe dos irmãos Cavalera e dos amigos Paulo Jr. e Jairo Guedz não navegava em um barco solitário. O Sepultura era produto de uma das mais calorosas e férteis cenas musicais da capital mineira, que gerou bandas igualmente simbólicas. É uma lista extensa, que começa com o Sagrado Inferno, formado em 1983 e considerado o primeiro grupo de metal em Minas, e passa por nomes como Chakal, Overdose, Sarcófago, Witchhammer, SexTrash, Holocausto, The Mist e 52

Mutilator. Ao lado de São Paulo, BH passou a despontar como a maior exportadora de metal tupiniquim. Tudo graças a um importante elo que mantém abastecida, até hoje, a produção mineira e nacional: a gravadora Cogumelo Records. Fundada em 1980 pelo casal João Eduardo de Faria Filho e Creuza Pereira de Faria, mais conhecida como Pat, a emblemática loja de discos transformou-se, cinco anos depois, no selo responsável pelos discos mais importantes do metal nacional, agregando bandas do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Bahia e Paraná. Em BH, irrompeu uma verdadeira revolução sonora e comportamental com a safra de álbuns que vieram após 1986, ano que marcou o lançamento da coletânea Warfare noise e do épico Split LP, que


sepultura/divulgação

Clássica formação do Sepultura, responsável por catapultar o metal de Minas Gerais para o mundo

trouxe, de um lado, o primeiro disco do Sepultura, Bestial Devastation; e de outro, o debut do Overdose, Século XX. Notória descobridora de tesouros, a gravadora continuou seu trabalho nos anos subsequentes projetando bandas como Drowned, Eminence, Hammurabi, Lustful, Thespian e Pathologic Noise. Celebrando três décadas de atividades, a Cogumelo lançou, em junho deste ano, seu primeiro registro escrito: o livro Cogumelo 30 anos. Com 197 páginas e publicado de forma independente, o trabalho consiste num apanhado de textos, imagens e recortes históricos, além de todo o catálogo da gravadora em detalhe. Um verdadeiro baú de memórias, que salta aos olhos dos camisas-pretas das antigas e serve como guia para os aspirantes a metaleiro. “A Cogumelo representou a alavanca que impulsionou o heavy metal mineiro e nacional. Continuamos a fazer o nosso papel, que é exclusivamente o de sempre apoiar a música pesada. Foi sempre a nossa opção e o nosso diferencial em relação a outras gravadoras brasileiras”, conta João Eduardo. Para seguir na jornada, João e Pat tiveram que superar uma série de adversidades, como os reflexos da Ditadura Militar e da instabilidade econômica do país. “Nossa maior surpresa foi ver que o velho regime ainda estava vivo à espreita. Tínhamos que submeter o trabalho dos músicos à censura e, muitas vezes, usar a criatividade para conseguir lançar os discos”, recorda João. Com a crise do petróleo e sem estúdios, as primeiras gravações beiravam a precariedade, fator que se voltaria a favor da Cogumelo, uma vez que esses registros pioneiros, conhecidos pela crueza e a ferocidade, são os mais procurados pelos fãs atualmente. Outra barreira foi o estranhamento com a temática e o conteúdo das músicas, que levaram, em muitos casos, lojistas e investidores a fazer pouco caso da gravadora. Mas já era esperada a reação equivocada e até preconceituosa dos desavisados ao peso das composições e às temáticas liga-

das ao ocultismo e ao sobrenatural – ainda mais na tradicional Belo Horizonte. “A gente entrava nas lojas com nossos discos debaixo dos braços e só ouvia risada”, diz João. Contudo, a capacidade do gênero de se reinventar e superar obstáculos, bem como o crescimento das vendas e do prestígio da gravadora, provou que o casal mineiro acertou na escolha do gênero. O caprichado Cogumelo 30 anos une-se a outros esforços midiáticos em prol do resgate histórico do metal mineiro e nacional, como os filmes Ruídos das Minas (2010), que perpassa toda a história, os desafios e conflitos do metal “das gerais”; e Brasil heavy metal (2010), que aborda de forma ampla as raízes da pauleira nacional nos anos 1980. O livro-catálogo da gravadora de BH não se atém ao passado — pelo contrário. Na era dos iPods e das crises na indústria fonográfica, a produção de novos materiais segue firme e comprova o poder de mutação do metal, apontado pelo jornalista Arthur G. Couto Duarte na introdução da obra: “Para detratores, uma antimúsica, mas visões pejorativas jamais impediram seus artífices de arregimentar providenciais contra-ataques, de quebrar as regras do jogo”. 53


drowned/divulgação

Ícone dos anos 2000, o Drowned segue firme, com elogiados álbuns e grandes apresentações

REINVENTANDO A RODA

Nunca vi o metal aqui [Minas Gerais] em queda, mas claro que tivemos momentos bons e ruins. O que acontece é que sempre rola uma renovação de bandas e público, o que, na verdade, é muito bom conta o bateirista da Drowned, Beto Loureiro 54

Há quem diga que, a partir de meados dos anos 1990, o metal mineiro experimentou o declínio com hiatos e separações de bandas e com discos fracos e sem apelo comercial. A redenção teria vindo a partir da década seguinte, com novos grupos e propostas musicais inovadoras, rendendo uma produção aquecida que persiste até hoje. Apesar de o Drowned ser um icônico representante do metal mineiro dos anos 2000, o baterista Beto Loureiro não concorda que uma fase se sobreponha a outra. “Nunca vi o metal aqui em queda, mas claro que tivemos momentos bons e ruins. O que acontece é que sempre rola uma renovação de bandas e público, o que, na verdade, é muito bom.” Com 12 álbuns na bagagem, sendo o último o elogiado Belligerent (lançado em duas partes, em 2011 e 2012), o Drowned mostra que os grupos antigos se reinventaram para fazer frente às mudanças do público e evitar que caíssem na mesmice. “Hoje, o público é mais cabeça aberta e menos radical do que já foi há alguns anos. E, é claro, temos mais facilidade em conhecer novas bandas graças à internet, o que abriu portas para grupos menores, que não têm grava-


hammurabi/roque viana

Hammurabi: um dos mais competentes representantes da nova geração do heavy metal mineiro

dora para distribuir seus discos”, explica. O Hammurabi começou assim, em 2006, lançando de forma independente a demo Submersos e, dois anos depois, o disco de estreia Shelter of Blames. O trânsito fácil no ambiente on-line e a determinação dos músicos levaram a banda a se destacar como uma das principais novidades do metal mineiro contemporâneo, classificada pelo baixista do Sepultura, Paulo Jr., como a revelação da música pesada brasileira em 2010. O esforço resultou no competente The extinction root, lançado em 2012 pela Cogumelo Records. Apesar de reconhecer que os avanços tecnológicos facilitaram os processos de gravação e divulgação, o vocalista, guitarrista e fundador da banda, Daniel Lucas, pontua que o metal exige seriedade e compromisso, como qualquer outro trabalho. “Sempre prezamos pela qualidade em tudo que fazemos. Acredito que isso abriu um precedente para que outras bandas também buscassem a excelência. Talvez seja esse o nosso papel nesse contexto”, defende. Porém, nem tudo são flores. Em relação à quantidade de espaços e casas de shows dedicados ao gênero, João Eduardo considera que BH retrocedeu. “Não existe, hoje, um espaço aberto para atender ao público

Não existe, hoje, um espaço aberto para atender o público de heavy metal em BH. Com o fechamento do Lapa Multshow, ficamos sem opção para fazer eventos de médio porte diz João Eduardo, fundador da Cogumelo Records

de heavy metal em BH. Com o fechamento do Lapa Multshow, ficamos sem opção para fazer eventos de médio porte. Pelo menos, conseguimos realizar shows no Music Hall e no Stonehenge, que abriram espaço para o metal este ano”, afirma. Sobre a dúvida se BH ainda sustenta o título de capital do metal, João rechaça: “Essa história é conversa fiada”. Daniel Lucas concorda em partes, mas pondera. “BH sempre vai ser o berço do metal, onde tudo começou, mas não é ‘a capital’. Faltam incentivo, estrutura e público. Temos grandes bandas, uma ótima qualidade nos trabalhos e a chancela da Cogumelo, mas a cidade está fora do circuito, tanto underground quanto mainstream.” Polêmicas à parte, todos concordam em um aspecto: o heavy metal das Gerais sobrevive e sustenta bem mais que um gênero musical, mas um sólido alicerce da contracultura que segue conquistando devotos cabeludos e maltrapilhos. Quase como um grito dos excluídos — ou um berro, como preferir. “É difícil de explicar. Esse som é viciante. É um escape, uma paixão eterna. Em essência, é um estilo de vida”, conclui Daniel Lucas.

Show de lançamento do livro Cogumelo 30 Anos 21 de outubro, às 15h, no Stonehenge Rua Tupis, 1448 – Barro Preto

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TURISMO

NAS RUELAS de Pequim TUDO QUE VOCÊ NÃO SABIA ANTES DE CONHECER A CAPITAL DO PAÍS MAIS POPULOSO DO MUNDO TEXTO E FOTOS LUCAS PAIO

PEQUIM É UMA CIDADE FASCINANTE, onde palácios antiquíssimos convivem com prédios ultramodernos e a vida agitada de metrópole está a um passo de ruazinhas pacatas, quase interioranas. Atrações famosas como a Cidade Proibida e o Palácio de Verão são imperdíveis, mas há muitas maneiras menos óbvias de se aproveitar a capital chinesa.

1] EXPLORE O LADO B DA GRANDE MURALHA

Com milhares e milhares de quilômetros, a Grande Muralha da China faz jus ao nome e torna quase impossível a missão de conhecê-la em toda a sua extensão. A visitação é geralmente feita em pontos específicos, muitos deles localizados nos arredores de Pequim. Nos mais populares, como Badaling e Mutianyu, o acesso é fácil, há toda uma infraestrutura turística e a Muralha é renovada e bem cuidada. Evidentemente, você terá que disputar espaço com hordas de outros turistas. Se multidão não é sua praia, existem vários locais — Simatai, Jinshanling, Gubeikou — onde a Muralha é mais "selvagem" e sossegada. Em alguns locais, é possível até acampar durante a noite. Prepare as panturrilhas, porque os caminhos são íngremes, porém a vista e a sensação valem a pena. 56


2] PERCA-SE NOS LABIRINTOS DE HUTONGS

Ruelas estreitas típicas da capital chinesa, os hutongs permaneceram tranquilos por séculos a fio, não só abrigando moradores, mas criando todo um estilo de vida, no qual é normal andar na rua de pijama e descansar num sofá na frente de casa. Caminhar pelos hutongs é como visitar uma cidadezinha do interior cravada no meio de uma metrópole e tomar parte de um cotidiano que praticamente não muda há gerações. Muitos, claro, já viraram pequenos destinos turísticos. Os mais badalados, como Wudaoying, Fangjia e Nanluogu Xiang, trazem uma infinidade de cafés, lojinhas e bares temáticos. Outros, infelizmente, andam sendo destruídos para dar lugar ao — cof cof — "progresso". Melhor conhecer enquanto é tempo.

3]

4]

DESCUBRA O DISTRITO DAS ARTES

Outrora um complexo de fábricas cinzentas e quadradonas, o Dashanzi — ou 798, como é mais conhecido —, foi tomado por pintores, escultores e fotógrafos. Hoje, é um distrito artístico cheio de cores e formas. É um bom programa passar a tarde perambulando a esmo por suas inúmeras galerias e exposições, admirando esculturas malucas e descobrindo uma China ousada e muito criativa.

O UNIVERSO ALÉM DO FRANGO XADREZ

Se sua ideia de comida chinesa é frango xadrez, banana caramelada e biscoito da sorte, você se surpreenderá em Pequim. (Aliás, em três anos de China, não vi um biscoito da sorte sequer. Eles são uma invenção americana.) A gastronomia chinesa oferece zilhões de possibilidades. Há opções para quem quer petiscar um pastel cozido no vapor (o popular jiaozi) e para aqueles dispostos a jantar como um imperador, rodeado de tantos pratos quanto é possível espremer numa mesa. O carro-chefe da capital é o célebre Pato de Pequim, degustado em panquecas finas com cebolinha e molhos. Aproveite também para peregrinar por restaurantes típicos de outras regiões do país e experimentar a cozinha cantonesa, a apimentada culinária de Sichuan, o toque árabe da comida de Xinjiang e o delicioso hot pot, no qual você cozinha carnes, verduras e frutos do mar na própria mesa. Só não vale percorrer meio mundo para ir à China e se restringir a comer hambúrguer de redes famosas de fast food. 57


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5 PRATIQUE A ARTE DA PECHINCHA

Até o mais sovina fica tentado a entupir a mala de bugigangas em uma viagem à China: a variedade é incrível e os preços, geralmente, são baixos — se você souber negociar. Em lugares como o Mercado da Seda (que vende de tudo, de colares de pérolas a cuecas do Bob Esponja) e o Pangjiayuan (especializado em "antiguidades", que podem ser mais recentes do que parecem) pechinchar é obrigatório. Eles propõem um valor ridiculamente alto, você oferece um décimo daquilo, e o embate continua até um consenso aparecer. Se o tempo ou a paciência estiverem curtos, melhor se ater aos grandes shoppings e supermercados, onde os preços são tabelados e a qualidade é mais confiável.

LOCOMOVA-SE DE NOVAS MANEIRAS

A perna cansou, o trânsito agarrou e não há metrô por perto? Transporte é o que não falta na capital chinesa e há diversas formas de ir de um ponto A a um ponto B. A mais comum é a bicicleta. A cidade é plana e repleta de ciclovias — ainda que elas sejam naturalmente abarrotadas de outros ciclistas. Viajantes em grupo e com boa coordenação motora podem alugar bikes duplas ou triplas pra fazer uma graça. Se não quiser fazer esforço, suba num triciclo elétrico, no qual o passageiro vai sentado em uma cabine de metal, ou num riquixá, em que pedalam por você. Nesses casos, convém combinar o valor antes da corrida, para não ser enganado e ter que pagar preço de limusine depois.

7 FAÇA UM PIQUENIQUE NO PARQUE

O primeiro passo é se aventurar em um supermercado chinês e encher a sacola de quitutes. Há tanto opções ocidentais (vinhos, queijos, pães) quanto locais (chás de todos os tipos, bolinhos quentes, ovos cozidos, sementes). Depois, acomode-se na grama de um dos inúmeros parques de Pequim, muito cheios de história para contar. O Parque Beihai é um jardim imperial que remonta ao século 10, enquanto o Antigo Palácio de Verão abriga as ruínas do que já foi um grande complexo arquitetônico. Outra opção é o bem mais recente Olympic Green, que concentra o Ninho de Pássaros, o Cubo d'Água e todos aqueles prédios doidões que você viu nas Olimpíadas de 2008. 58

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8 RELAXE COM UMA MASSAGEM CHINESA

Se o corpo está pedindo arrego depois de tantas andanças, uma boa pedida é encarar uma massagem. As opções são infindáveis, de uma prosaica massagem nos pés até o serviço completo, no corpo inteiro. Há estabelecimentos em que todos os massagistas são cegos — dizem que seu sentido de tato é muito mais aguçado. Os mais audazes podem experimentar técnicas como o guasha, uma raspagem da pele, e o bahuoguan, técnica de sucção usando ventosas aquecidas, que estimula a circulação e deixa suas costas cheias de bolotas vermelhas por alguns dias.

VISITE MAO TSÉ-TUNG

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Situado na Praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, o Mausoléu de Mao Tsé-tung oferece um atrativo único: o próprio. A exemplo de Lênin, Ho Chi Minh e outros líderes comunistas, Mao teve o corpo embalsamado e até hoje, 36 anos depois, continua sendo exibido e visitado diariamente por multidões. A fila na porta pode parecer assustadora, mas anda depressa, pela própria natureza da visita: você só pode dar uma espiadela rápida e seguir em frente, sem parar para analisar se o corpo é mesmo de verdade ou, como dizem as más línguas, um boneco de cera. Como era de se esperar, não se pode entrar com câmera.

10 APRENDA MANDARIM

Nihao (olá) e xiexie (obrigado) já dão pra pegar no primeiro dia de China. Aprender a decifrar um cardápio e a pedir informações leva mais tempo, mas, torna sua vida mais fácil e sua viagem muito mais interessante. Pequim é um dos principais destinos para quem quer estudar a língua de 1 bilhão e oferece cursos tanto em escolas pequenas quanto em universidades, como a BLCU, a Universidade de Pequim e a Tsinghua. Você pode fazer um intensivão de quatro semanas ou, quem sabe, esticar suas férias e encarar um curso de um semestre ou dois, que valem por anos de estudos equivalentes no Brasil. O melhor é voltar não só com um idioma novo na bagagem, mas também com uma nova maneira de ver o mundo. 59


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ENSAIO

MUNDO SURREAL FOTOS Kyle Thompson

CASAS ABANDONADAS, LENÇÓIS AO VENTO E CORPOS D’ÁGUA PARA MOSTRAR O UNIVERSO COM OUTRO OLHAR 61


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PERFIL

FÁBIO PORCHAT FALA DE SUA TRAJETÓRIA METEÓRICA E DO SUCESSO DE PORTA DOS FUNDOS 66

A NOVA CARA DO HUMOR


POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES FOTOS ELISA MENDES

FÁBIO PORCHAT, DE 29 ANOS, é escritor, humorista e ator. Não necessariamente nessa ordem. Mas não tente isolar as três facetas do artista. Trabalhando na Globo desde 2006, seus lados redator e humorista estão frequentemente juntos. Ele começou na emissora como redator no Zorra total e acabou escrevendo personagens para participar do programa. No Junto e misturado, ele escrevia e atuava ao lado de Bruno Mazzeo e Gregório Duvivier. Atualmente no Esquenta!, ao lado de Regina Casé, é redator e faz participação com trechos de seu stand-up. E também está atuando em A grande família.

Seu último filme também foi um sucesso. Apesar das críticas negativas, Totalmente inocentes é a quarta maior bilheteria nacional do ano, com 400 mil ingressos vendidos. Foi ele também quem liderou o movimento Humor sem censura, que, em 2010, derrubou uma lei que impedia fazer piada com candidatos durante o período eleitoral. Apesar do currículo parrudo, recheado de peças de teatro e apresentações com o grupo Comédia em pé, o que mais chama atenção é o programa de humor para a internet que ele criou com quatro amigos, o Porta dos fundos. Com mais de 10 milhões de visualizações no canal em dois meses, ele mostra que o seu trabalho mais relevante está começando a despontar. E não vai ser na televisão. 67


Você nasceu no Rio e foi para São Paulo. Como foi crescer na cidade mais séria do Brasil? é Curitiba. São Paulo ainda tem humor. Mas foi muito bom passar 19 anos lá. Quer queira ou não, tenho muito de São Paulo em mim. Fiquei aqui [no Rio] um mês e fui. Acho que peguei um lado bom de São Paulo, que é essa coisa de trabalhar, de ter foco, de ter rapidez, de fazer as coisas. Sou muito ansioso, faço milhões de coisas ao mesmo tempo. Se eu fosse baiano, acho que não ia conseguir. [risos] Quando vim morar no Rio, com 19 anos, tive que ter essa adaptação, mas sempre fui muito extrovertido, sempre fui de falar com todo mundo, como o carioca é. Ao mesmo tempo em que é muito folgado, tem uma coisa que é muito legal, que é conversar com todo mundo. O carioca conversa com o cara da favela e com o presidente do mesmo jeito, e acho isso muito legal. Tento pegar o melhor dos dois lados.

ACHO QUE A CIDADE MAIS SÉRIA

Onde você estudou em São Paulo? ESTUDEI

NO

NOSSA

SENHORA

DO

a vida inteira, da primeira série ao terceiro colegial. E foi muito bacana ter estudado no mesmo colégio porque meus amigos de São Paulo não são amigos de faculdade, são de escola. Tenho oito amigos de escola em São Paulo que encontro sempre que vou para lá. Tenho amigos de infância até hoje. MORUMBI

E você já era engraçado?

mas acho que todo mundo é meio engraçado quando é adolescente. Sempre gostei muito de contar história, acho que era um diferencial. Na escola, todo mundo gosta de piada, mas eu comprava livrinho de piadas. Com 6 anos, minhas tias me davam livro de piadas e eu lia pra elas. Quando tinha um palavrão, eu dava risada. Sempre gostei de comédia.

escrevia episódios de Os normais e imitava os dois. O Jô me deixou ir lá na frente e fiz aquilo. A plateia começou a rir, o Jô estava rindo e lembro que naquele segundo pensei: "É isso que quero fazer da minha vida". Quando terminou a apresentação, liguei para a minha tia falando: “Tô indo morar no Rio”. Liguei para a escola de teatro, a Casa das Artes Laranjeira, a CAL, para ver como era, quanto era. Já comecei a arquitetar minha vida. Fui falar com os meus pais e foi uma surpresa, porque nunca quis ser ator. Fazia teatro na escola, fazia curso de teatro, mas mais de onda do que qualquer coisa. Eu não lia sobre isso, não falava sobre isso, não via novela. Nunca quis ser ator. De repente, me deu esse estalo quando vi as pessoas rindo de mim. E fico feliz de ter tido isso com 18 anos. É tão difícil descobrir o que você quer para a vida com 18 anos. A partir daí você começou a fazer humor? ESCREVI ALGUMAS COISAS DE HUMOR, já com 18 anos. Não gostava de escrever e não gostava de ler. Achava chatíssimo, mas comecei a ler Veríssimo, comecei a achar graça e comecei a escrever Os normais. Vim para o Rio fazer a CAL (já estava totalmente encontrado na vida) e vi que tinha facilidade para fazer humor. Por que me negar? Adoro fazer as pessoas rirem, gosto de rir. Aí me emburaquei nessa onda. Me formei em março de 2005, como ator. Em maio, estreei uma peça com o Paulo Gustavo, um ator hilário. Fiz a peça com ele, que escrevi e fazia como ator. A peça ficou em cartaz um ano, o Maurício Sherman me assistiu, me chamou para escrever no Zorra total e comecei a trabalhar na Globo. Trabalho lá desde 2006. Entrei como redator e escrevi um personagem para mim no Zorra. Entrei para o Comédia em pé, que é o primeiro grupo de stand-up do país. O Cláudio Torres Gonzaga era o meu chefe no Zorra e me chamou. Nunca tinha ouvido falar de stand-up na vida. E ele falou: “É legal, você conta umas histórias, acho que vai fazer isso bem”. Eu disse: “Acho que tenho um texto disso”. Eu tinha um texto que não sabia o que era. Era eu falando de gente chata. E ele falou: “É exatamente isso”. Eu já tinha escrito stand-up sem saber que era stand-up. Entramos em cartaz em 2007 e não saímos nunca mais. Não tenho um fim de semana desde 2007. Mas saí do Comédia em pé no ano passado porque comecei a não ir.

ERA,

Por que você voltou para o Rio com 19 anos? PARA SER ATOR. Larguei tudo com quase 19. Estava na faculdade de administração, fui assistir ao programa do Jô como plateia e pedi ao Jô para ir lá na frente fazer uma imitação que eu tinha de Os normais. Eu 68

Agora você está no Porta dos fundos. Conta um pouco do projeto. O PORTA DOS FUNDOS é uma parceria entre eu, o Antônio Tabet, o Ian SBF, o Gregório Duvivier e o João Vicente. Nós cinco criamos essa ideia de fazer televisão na internet. Geralmente, as pessoas vão para a internet para conseguir uma chance, para serem vistas e irem para a televisão. A gente não quer isso, a gente quer ficar na internet. A gente está vindo da televisão, não precisamos da internet para ir para a televisão. A internet não é o futuro, ela é o agora. As pessoas me reconhecem na rua por conta do Porta dos fundos. Um vídeo de três minutos tem dois milhões e meio de acesso. Ele tem mais audiência do que um episódio de meia hora do Casseta & Planeta. E, na internet, as coisas vão se divulgando muito rápido, vai viralizando. E você pode ver para sempre. Está lá. "Você viu ontem o Casseta?”


O Spoleto está patrocinando. Já têm outras empresas?

A gente está recebendo milhões de pedidos de orçamento. Estamos vendo uma divulgação legal. E a gente não tem assessoria de imprensa, as pessoas que estão vindo. A gente foi capa de um caderno de cultura do Espírito Santo. As empresas começaram a querer, porque viram que fazemos vídeos com qualidade, com retorno e com graça. Não posso falar quais, porque não fechamos ainda. Mas não só o Spoleto, que já quer mais vídeos, mas outras empresas.

JÁ.

“Ah, que pena!" "Você viu o Porta dos fundos?" "Onde?" "Aqui, ó", e entrou. Acho muito legal que todo mundo esteja vendo o Porta dos fundos. Saio na rua e vêm falar comigo jovem, velho, rico, pobre, todas as classes sociais. Outro dia, em uma lan house no Catete [bairro carioca] estavam vendo. E o João veio me falar que estava na sala vip da TAM e a Debora Bloch e a Carolina Ferraz estavam vendo no celular e dando risada. Em dois meses, tivemos mais de 10 milhões de acessos e os vídeos estão se autodivulgando. Qual é a periodicidade?

a gente lança vídeo novo e toda primeira segunda do mês a gente lança um programa, que é maior e é feito com qualidade. A gente lança em HD. Temos todo um sistema de som, a gente edita com um programa bacana. Pensamos como televisão para a internet, e acho que isso está dando resultando. A gente tem muitas visualizações, mas nenhum vídeo estourou. Nenhum tem 15 milhões de visualizações, mas um vídeo com 300 mil acessos dá tanta repercussão quanto um programa de TV. A gente está vivendo um momento, pela primeira vez no Brasil, que você não precisa estar na TV ou na Rede Globo para ser famoso e fazer sucesso. É o caso do [Marcelo] Adnet, que está na MTV. Os Barbixas, que fazem improviso, vão para Londrina e lota. Quando um cara ia para Criciúma, há 20 anos, e lotava sem estar na TV? Impossível. A internet é responsável por isso, além de uma geração de humoristas ótimos.

TODA SEGUNDA E TERÇA

Então virou uma fonte de renda.

Empatamos os custos. A nossa ideia é começar a ter lucro a partir de agora.

A GENTE JÁ NÃO PRECISA PAGAR.

Isso em dois meses. POIS É! A gente não imaginou que ia ser tão

bom. A gente sabia que ia ser legal, que ia dar resultado. A gente estava acreditando muito, mas foi muito rápido.

Quem está no grupo?

Eu, o Ian, o Kibe e o Gregório. Eu, o Gregório e o Kibe

NÓS QUATRO ESCREVEMOS.

Você acha que vai chegar um ponto em que vocês só vão fazer Porta dos fundos?

Ser o próprio chefe é muito bom. A gente está escrevendo o que a gente quer, falando o que a gente quer, da forma que a gente quer. Isso é genial. Em nenhuma televisão eu poderia fazer uma sátira do Itaú. Eles iam falar: "Pelo amor de Deus, não faz isso". Em nenhuma televisão eu poderia falar um palavrão. Na internet eu posso tudo. Claro que a gente tem um limite, que é limite do que a gente acha engraçado. "Isso é engraçado?" "Não, não é." Então, não precisa. Tanto é que a gente fez vídeo da Ku Klux Klan, vídeo falando de empresa e, até agora, ninguém reclamou. Inclusive, uma empresa entrou em contato com a gente, o Spoleto, comprou o vídeo e pediu um segundo.

IA SER INCRÍVEL.

ADORO FAZER AS PESSOAS RIREM, EU GOSTO DE RIR 69


UM VÍDEO COM 300 MIL ACESSOS DÁ TANTA REPERCUSSÃO QUANTO UM PROGRAMA DE TV somos atores. O Ian é o diretor e o editor. E a gente chamou um pessoal bacana: o Rafael Infante, a Júlia Rabello, o Luiz Lubianco, a Letícia Lima e a Clarice Falcão. Esse é o nosso time de atores e vez ou outra tem uma participação. Um tema constante seu é o atendimento ao consumidor. Você é pessimamente atendido em todo lugar que vai?

[risos] EM QUASE TODO LUGAR, VIU? As pessoas tratam você que nem lixo. É de qualquer jeito, ninguém está nem aí. E você reclama e não dá em nada. Fiquei um ano e meio tentando resolver meu problema com a TIM, e ela não resolvia. Decidi fazer um vídeo sacaneando isso, acho uma falta de respeito. No meu stand-up falo muito da NET também. As pessoas tratam você muito mal, elas não estão nem aí. Existe aquela máxima de que o cliente tem sempre a razão, mas aqui o cliente tem é que se foder. Falo do que me incomoda. Tudo que me irrita dá um bom texto. Você está tão passionalmente investido naquilo que vira um bom texto. E não é uma picuinha minha. Se todo mundo riu é porque estão se identificando. Aquelas pessoas já passaram por aquela situação, e isso é um absurdo, não têm que passar. A gente lançou o vídeo do cara de azul um dia antes da TIM ser proibida de vender celular. Foi muito na onda da coisa. O Spoleto foi uma brincadeira com a pressão que você sofre. Mas não é de graça, é o que a gente sente. Eu não faria um esquete com alguma coisa que funciona. A Anatel funciona. Se você ligar na Anatel, em um dia resolvem o seu problema. A gente sacaneia aquilo que não funciona. Mas estou virando um mártir 70

da população na luta contra os telemarketings. Mandam no Twitter: "Fábio, você precisa ligar para a Claro, liga para a Vivo". Virei o representante da maioria. A mulher que atendeu você na TIM chamava Judite? NÃO, eu ia colocar Marlene, mas achei melhor colocar outro nome. E as pessoas me chamam de Judite agora na rua. [risos] Adoro.

O que é preciso para fazer humor?

Você precisa saber tirar graça de todas as situações. Tudo pode ser engraçado. Então, a gente tem que estar atento ao que está acontecendo. Tem que ter timing, e timing não se ensina, vem com a experiência, fazendo. Não tem como eu falar: "Você para, espera dois segundos e faz a piada". É um feeling, é fazendo, é uma pausa que sei que, se eu parar aqui, funciona. Mas dá para você ler muito humor, ver muito humor. Acho que isso ajuda muito a fazer sua máquina funcionar. Está muito na pessoa.

PRECISA TER HUMOR.

Então não tem como aprender a ser engraçado? NÃO. Tem como aprender a matemática por trás do humor, o método de fazer uma piada.

Você disse para O Globo que o brasileiro está desaprendendo a rir.

que adora fazer graça, todo mundo tem um tio bêbado no Natal que empurra a galera para a piscina, né? Mas o brasileiro não sabe rir de si mesmo. Ele sabe rir do outro. Quem é burro é o português. Quem é sacana é o argentino. Nunca é ele. Quem é corno no Brasil? Sempre o outro. Ninguém quer ser o alvo de risada. E no stand-up a primeira lição é: se sacaneie para poder sacanear o outro. O brasileiro ouve uma piada e processa. O brasileiro chegou num ponto tão louco que um feto processou um comediante. É uma loucura isso. Um feto processou o Rafinha Bastos. É surreal. Processa o Maluf, processa o Sarney. As pessoas estão se preocupando mais com o que o comediante está falando do que com a sacanagem que faz um cara desses. Parece que o brasileiro se revolta com a coisa

O BRASILEIRO É UM POVO


O que a sua geração tem em comum?

errada. Se leva muito a sério. Estamos em um momento de tolerância, de aceitação, de luta contra o racismo, que é maravilhoso, mas, ao mesmo tempo, qualquer coisa que você faz, eles já entram nessa paranoia. Você está tomando algum cuidado quando se apresenta por causa do que aconteceu com o Rafinha?

no seu público. Se estou fazendo um show dentro de um teatro, onde as pessoas pagaram para me ver, posso falar determinada coisa. Se estou na Globo, onde a pessoa ligou a TV e estou falando, posso falar outro tipo de coisa, de forma diferente. Quando você erra o seu público, pode ofender alguém. Mas a gente chegou a um ponto em que o Alexandre Pires foi processado por racismo. Ele, o Mr. Catra e o Neymar. Se o Mr. Catra for racista, eu realmente não sei mais a que ponto chegamos. Tenho certeza de que se a música falasse algo contra os negros, o Mr. Catra saberia melhor do que você. E o cara que entrou com o processo era branco. Ele tem muito mais culpa psicológica do que a culpa de verdade. Ninguém ouviu essa música e se ofendeu. As pessoas estão levando a piada ao pé da letra. Quando o Rafinha fala que comeria a Wanessa e o bebê, ele não está dizendo que quer penetrar um feto, que quer fazer sexo com um recém-nascido. Ele está dizendo que a Wanessa Camargo é gostosa.

ACHO QUE VOCÊ TEM QUE PENSAR

O que você acha dessa nova geração de humoristas, da qual você faz parte? ACHO UMA GERAÇÃO MUITO TALENTOSA como já há algum tempo não havia. Você tem muitos nomes, muito bons. Adnet de um lado, Danilo [Gentili] de outro. Você tem a Tatá Werneck, a Dani Calabresa, o Gregório Duvivier. Uma galera boa, que faz de tudo. Uma galera multifacetada, que está correndo atrás. O Bruno Mazzeo, que aparece hoje, não é dessa geração. Ele escreve para a Globo desde os 14 anos. Tem o pessoal da geração 2000, nós somos a geração 2010, eu acho. Eles são uma geração de antes da internet. A gente veio com a internet, estamos fazendo show no Brasil com a internet. E já tem uma geração vindo aí abaixo da nossa, que são os filhotes do stand-up.

com o certinho. O stand-up dá muito disso: falo mesmo, falo o que eu quiser, da forma que eu quiser. Acho que, em comum, além de todos se conhecerem e serem amigos, essa geração tem essa coisa de liberdade. Se na TV não pode, não vou para a TV. O humor politicamente incorreto, com certeza, une todo mundo.

UMA INSATISFAÇÃO

O que você vai fazer daqui pra frente?

vai estrear o Vai que dá certo, uma comédia rasgadona, para todo mundo. Já assisti e gostei muito, o que é difícil, porque me odeio. Em março, começo a filmar o Meu passado me condena, que é baseado no seriado do GNT. A gente vai filmar em um navio. Minha peça ficou em cartaz até mês passado. A princípio, fico fixo em A grande família. E o Esquenta! volta ao ar em dezembro. E estreou uma peça de drama que dirigi, chamada Palavras da brisa noturna, em que a minha mulher atua. Fica três meses em cartaz aqui no Teatro Leblon. Tem alguma coisa que estou esquecendo, com certeza. Mas acho que está bom, né?

EM ABRIL,

fotos: reprodução da internet

EXISTE AQUELA MÁXIMA DE QUE O CLIENTE TEM SEMPRE A RAZÃO, MAS AQUI O CLIENTE TEM É QUE SE FODER

Porchat encarna um atendente do Spoleto (abaixo) e um cliente insatisfeito da TIM (à direita): sucesso na internet e milhões de visualizações no YouTube

Parece que o brasileiro se revolta com a coisa errada. Se leva muito a sério 71


Garage D'Caza O Garage da D'Caza já se consagrou no cenário do rock belohorizontino. Há 13 anos em atividade, o estabelecimento começou com a ideia de ser uma extensão de casa, o que inspirou o nome, que remete às bandas que ensaiam em garagens. O pub segue o estilo inglês e recebe no palco, de quinta a domingo, uma atração de música ao vivo com o melhor do rock e pop rock. Alameda do Ingá, 121 – Vale do Sereno (31) 9192 2354 /9192 2716 garagedcaza.com 72


avaliação da casa Para encontrar os amigos

O que sai da cozinha

fotos: bruno senna

Quem frequenta

quem. quando. porque Camila Franco, estudante de direito, é frequentadora assídua do Garage e costuma acompanhar o projeto Rock’n’Roll Quinta Garage D’Caza, que intimou os integrantes da banda Apex e Nate Records para convidar bandas de seus amigos a se apresentarem. “Gosto de ouvir um bom rock’n’roll. Sempre confiro qual banda vai tocar, mas entre as minhas preferidas estão a Apex e a Santa Dose”, diz. Para Camila, apesar de outros pubs terem surgido na capital mineira, o Garage continua tendo sua tradição. “O diferencial é que, além de ser bem característico do rock e ter mesa de sinuca, é um ambiente menor, onde as pessoas ficam mais unidas, é aconchegante. Em Belo Horizonte, é um pub bastante conhecido e muito bem frequentado”, diz. Além da mesa de sinuca, um antigo fliperama pinball e um acervo de mais de 300 títulos em DVD são escolhidos pelo público enquanto os shows não começam. Camila indica o lugar porque “para quem curte rock — não só o que toca, mas o ambiente em si — o Garage é muito característico e o palco deixa o público próximo da banda. Lá você escuta boa música de verdade”.

“O palco deixa o público próximo da banda. Lá você escuta boa música de verdade”

Cola aí Participe da próxima cobertura fotográfica. Consulte as próximas datas no revistaragga.com.br.

APRECIE COM MODERAÇÃO. 73


O

ON THE ROAD ArtRio

TEXTO E FOTOS BERNARDO BIAGIONI

JORNALISTA CREDENCIADO PARA A FEIRA DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO RIO DE JANEIRO VAI PARAR NA CASA DO ARTISTA DE RUA MAIS INSTIGANTE DA CIDADE — QUE NÃO ESTÁ EXPONDO

Toz expõe no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Entrada Gratuita

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UM HOMEM VAI SALTAR do prédio, pressinto. Cai o outono, desce a primavera. O tempo serpenteia espreito pelas veias e artérias de um Rio de Janeiro cinzento e azulado. Fim de tarde no Centro, os ânimos acelerados. Duas mil luzes sincopadas em verde, vermelho e amarelo piscando ininterruptamente para além da Avenida Presidente Vargas, até a Igreja da Candelária. Ninguém repara mais no homem, eu sinto. Há dois meses aqui estava e o vento respirava diferente. Os muros, as cores. Não mais. Peguei o ônibus certo, mas saltei no ponto errado. Minha entrevista estava marcada para as 15h, mas o relógio é indócil, indolente e impiedoso. “Tudo bem, estou pintando”, o entrevistado me responde. Doze quadras nos separam, mais as ânsias e os anseios. Rio de Janeiro estala como faíscas desesperadas. Quanto vale esse sentimento? Longe do mar, perto das ondas. Só é bom estar perdido quando você não sabe aonde quer chegar. Toz abre a porta sorrindo abertamente. É um homem com seus trinta e poucos anos, que consegue conciliar carisma e seriedade em um rosto largo de olhos claros. Parece surfista, mas, vindo da Bahia, quando tinha 15 anos, não

se deu muito bem com a cultura surfe. Não gostava daquela gente que usava marcas, símbolos e preceitos para se enquadrar em um novo modelo de sociedade. Os playboys, os surfistas. Muita conversa barata, no meio de um universo que explodia. Fez faculdade de design e conheceu alguns amigos. Piá, Bc, Swk, Krrank, Nhôzi... Juntos, fundaram uma tal Fleshbeck Crew, uma espécie de coletivo-gangue-ataque multiacertado que se entendia com desenhos, sprays, muros, trabalhos de design e revista em quadrinhos. Também juntos, perceberam uma oportunidade bacana em uma tal Galeria River, entre Copacabana e Ipanema, e abriram uma loja de tintas. Em 2002, mais ou menos, tinha quatro ou cinco lojas de surfe funcionando no espaço. Em algum momento, começaram a assinar alguns trabalhos para a Coca-Cola. Fizeram a capa do CD de uma banda de


O suicida de Antony Gormley. Homem prestes a se soltar.

amigos, o Planet Hemp. Tipo. E começou a aparecer também um pessoal para comprar as camisetas que eram vendidas na loja. Fundaram uma revista em quadrinhos e as lojas da galeria se interessaram em anunciar. A River foi virando uma certa referência estranha. Arte de rua, skate, hip-hop. Até surgiu um convite para a Fleshbeck participar do Fashion Rio. Toz para entre um parágrafo e outro para pincelar uma tela de dois metros montada na minha frente. Estamos soltos e desamparados na varanda da garagem da casa colonial que nos separa do universo agora. Piá também está no movimento. E fica passeando os olhos pelas próprias tatuagens, encontrando defeitos e argumentos para viajar em novo desenho. Quer dar mais um passo adiante. O um passo adiante do Toz aconteceu no dia em que um sujeito apareceu na loja da Galeria River e comprou tudo. Ou quase tudo. Era galerista e figura representativa na cena de arte carioca. Saía com uma atriz da Globo, que esqueci o nome, e disse que colocaria o artista no eixo de produção e consumo. No mercado. Toz ganhou um marchand e agendaram uma exposição em 2009, em Belo Horizonte. Foi preso um dia antes da abertura. A dona da galeria disse que podia ligar para o prefeito, se fosse necessário. Não precisou da ligação, porque o baiano-carioca já estava entendendo bem de samba. Não dormiu na cadeia, nem cancelou a exposição. A carreira começou a crescer até invadir São Paulo. Dia desses, fez uma exposição na cidade em que se esgotaram todas as telas. E pensar que são trabalhos de 10, 20, 30 mil reais... Toz desenha monstrinhos, bebês e personagens que se encaixariam perfeitamente em uma história em quadrinhos contemporânea. Costuma deixar muita gente instigada, sobretudo artistas... respeitados, por vender quadros... infantis para sujeitos velhos e engravatados. Atores da Globo e gringos loucos. O carro parado na porta, uma máquina clássica de 1970, entrou como pagamento de uma tela. Há dois meses, quando vim para o Rio, me interessei pelos desenhos dos monstrinhos que vi na Gávea e no Jardim Botânico. Retratava, quase sempre, um bebê em busca de um amor perdido. Um bebê cheio de monstros na cabeça. Um bebê desacertado com o destino que lhe foi concebido. Apaixonado por revistas, a história da vida do Toz saiu dos quadrinhos para estampar muros. Cada muro, um capítulo.

Trata-se do momento exato em que o Rio de Janeiro vive hoje. Vívido e E o capítulo de hoje — estampado na fugaz tela em processo — traz o novo personagem de Toz. Insônia é um ser negro, vívido e que não dorme. É a alma viva do candomblé, que dança no imaginário do menino Tomaz, baiano, que nunca entendeu por que a sociedade brasileira tende a evitar algumas de suas tradições religiosas. Insônia é o passado e é o presente da vida de Toz. Traz uma aura de força e desprendimento. Uma alma em uma tela. O que me faz pensar nos homens de Antony Gormley que estão espalhados no topo dos prédios do Centro do Rio. Homens prestes a saltar. Homens prestes a se soltar. Não se trata de morte, mas de libertação. Trata-se do momento exato em que o Rio de Janeiro vive hoje. Vívido e fugaz. Centenas de mudanças acontecendo ao mesmo tempo. Uma feira de arte que vende trabalhos de 15 milhões para gringos extasiados com a exoticidade que o Brasil emana para o mundo. “Vejo, logo penso”, diz a Fleshbeck crew. Quem vier ver vai entender. O Rio de Janeiro está se soltando. Em queda livre. E insonolente.

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G

RAGGA GIRL MODELO ALICE RAMOS FOTOS Sérgio Saraiva

No país de

Alice

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Ac A d e m i A A b e r tA 363 diAs por Ano ciaathletica.com.br


L

LIVRARADA #beatles

COLUNA POR BRUNO MATEUS FOTO bruno senna

O livro branco

imagens: divulgação

Vários autores (Record)

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É IMPOSSÍVEL FALAR DE ARTE e cultura pop nos últimos 50 anos sem citar John, Paul, George e Ringo. É ainda mais difícil falar da história da segunda metade do século passado sem mencionar esses meninos de Liverpool. O que eles fizeram repercute e vibra ainda hoje. Não tenho dúvida de que nas próximas cinco décadas, se chegarmos inteiros até lá, o legado do quarteto estará presente nas transformações culturais e ainda se discutirá (que bobagem!) se Yoko Ono foi a responsável pela dissolução da banda. O assunto Beatles é inesgotável. Há poucos meses, foi lançada em livro a última entrevista do casal Lennon & Yoko e Martin Scorsese dirigiu um documentário, ainda não lançado no circuito comercial, sobre a vida de George Harrison. E Paul e Ringo continuam por aí lançando discos e fazendo shows.

Tema de documentários, biografias, livro em quadrinhos, filmes, peças de teatro, musicais, espetáculo do Cirque du Soleil e cursos em universidades, a obra dos Beatles agora ganha contornos literários em O livro branco, que reúne 19 contos — mais a bonus track, por Nelson Motta — inspirados nas músicas dos Fab Four. Henrique Rodrigues, que organizou a empreitada e assina um dos textos, convidou um time de escritores apaixonados pela banda. O que se vê, então, são olhares diversos e despretensiosos sobre a produção artística dos Beatles, igualmente diversa. O nome do livro é uma referência ao disco que ficou conhecido como Álbum branco, lançado no turbulento 1968 — aquele da capa branca, por demais simbólica, com apenas “The Beatles” escrito quase que para não atrapalhar. Os contos ganham temáticas cotidianas e delirantes: amor, crime, separação, lembranças da infância, um baseado antes de encontrar a Rainha... Ainda que não seja a ideia mais original do século (e quem se importa?) — o próprio Rodrigues já fez algo semelhante, só que com músicas da Legião Urbana —, o projeto é válido, leva as músicas a uma nova interpretação — pessoal e, portanto, única, mas não definitiva — e presta um justo tributo a maior banda de todos os tempos.

The Beatles – A biografia Bob Spitz (Larousse)

Sgt. Pepper’s lonely hearts club band – Um ano na vida dos Beatles Clinton Heylin (Conrad)

Imagine o trabalho que é escrever uma biografia sobre os Beatles. Bob Spitz encarou a parada e, depois de quase 10 anos de pesquisa, o livro foi lançado com alarde em 2007. A infância em Liverpool, as primeiras formações até chegarem à definitiva, a Beatlemania, os problemas financeiros, o envolvimento com drogas, o processo criativo, a falta de ânimo e o distanciamento como grupo no fim da década de 1960 até o anúncio, em abril de 1970, do fim da banda. Isso é uma pequena fração do que está no livro. Em se tratando de Beatles, é impossível esgotar o tema — o tempo tratará de nos revelar mais segredos sobre os quatro garotos de Liverpool.

O disco do Sargento Pimenta e sua banda representou uma guinada na carreira dos Beatles, anunciada, um ano antes, com Revolver. O álbum é tão representativo que merece que um autor se debruce só sobre ele e o período de sua gravação. Tudo chama a atenção: a capa, as experimentações sonoras e com drogas, o clima psicodélico de 1967... Eles sabiam que estavam fazendo uma obra que transcenderia a música e se colocaria como um aclamado marco cultural. No livro, Clinton vasculha, destrincha e analisa o contexto no qual o álbum foi concebido e o que levou Sgt. Pepper’s a ser ainda tão cultuado 45 anos depois de seu lançamento.


PRATA DA CASA Túlio Araújo JAZZ, BOSSA NOVA E UM PANDEIRO. ESSA É A INUSITADA MISTURA DO DISCO DE ESTREIA DO INSTRUMENTISTA

COLUNA POR LUCAS BUZATTI

pedro viotti

Túlio Araújo usa o pandeiro para deixar o “jazz menos instransponível”

Ouça tulioaraujo.com.br

DOIS PRA LÁ, dois pra cá. Túlio Araújo nasceu musicalmente nos bailes de forró ao chegar a Belo Horizonte, vindo do Espírito Santo, onde viveu até os 18 anos. Na pista do Montanhês, ouviu pela primeira vez Jackson do Pandeiro e ficou boquiaberto. “Foi um choque mesmo. Comecei a pensar: ‘O que é isso? Que suingue é esse?’” O fascínio pelo “telecoteco” fez com que Túlio começasse a estudar música e, anos depois, focasse sua atenção na rica sonoridade do pandeiro. “Quando eu já tocava pandeiro em trios de forró, vi o Marcos Suzano pela primeira vez, tocando com o Lenine, num show do antológico Olho de peixe. Ali percebi que o pandeiro podia ir muito além do que eu imaginava”, explica o músico sobre a escolha e a paixão pelo instrumento. Desde então, o ímpeto por experimentar e mesclar gêneros surgiu naturalmente, resultando na criação do grupo Samba de Luiz, em 2006, que mistura música nordestina, samba e bossa-nova. Poucos anos depois, a necessidade de aprofundar os estudos levou Túlio a concluir o curso de percussão no Palácio das Artes e também na renomada Bituca Universidade de Música Popular, em Barba-

cena. Os novos conhecimentos tornaram possível colocar em prática outra singular fusão: pandeiro e jazz. O conceito passou a orientar seu trabalho autoral, brindado pelo lançamento do competente disco de estreia Manguêra, em julho. Com oito faixas e um projeto gráfico de encher os olhos, o álbum transita entre o popular e o erudito sem sobressaltos, soando bem para diferentes tipos de ouvidos. “Acho que o timbre do pandeiro é tão familiar para nós, brasileiros, que serve como interlocutor entre esses dois extremos, ‘amolecendo’ um pouco o público e deixando o jazz menos intransponível”, teoriza. Com o Projeto Dobradura — apelido que deu à “família” de músicos que o acompanham — Túlio Araújo apresenta a magia do pandeiro, elevando seu alcance e resignificando sua versatilidade. E avisa: o trabalho não se atém ao jazz ou a qualquer outro gênero específico. “O jazz está muito mais no sentimento de quem toca do que necessariamente no resultado final. Hoje em dia, é muito difícil categorizar um som, até porque músicos, artistas e instrumentistas estão mais abertos para tocar de tudo”. Entre as batidas na pele de cabra e o entrechoque das platinelas, o autodenominado pandeirista mostra-se como um interessante componente para tornar heterogênea a massa, cada vez mais espessa, de bandas de qualidade da cena mineira. Os próximos passos de Túlio Araújo concentram-se na divulgação de Manguêra, que ganhou um minidocumentário e pode virar DVD em um futuro próximo. Tudo com muito foco e vontade — porém com as sandálias no chão. “Quanto mais informação a gente tem, melhor, mas é sempre bom tomar cuidado para não viajar demais e se esquecer daquela velha máxima: ‘Menos é mais’”. 81


CRÔNICO Quem lê tanta notícia?

CRÔNICA

POR JOÃO PAULO ILUSTRAÇÃO FELIPE ÁVILA

João Paulo é como Riobaldo: não sabe nada, mas desconfia de muita coisa.

o

Não vai chover felicidade na sua goteira digital

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Carlos Drummond de Andrade deu a um de seus livros o nome aparentemente enigmático de Esquecer para lembrar. O título traz uma verdade que muitas vezes escapa: não somos capazes de guardar tanta coisa na cabeça. O esquecimento é a condição de fazer funcionar a memória. Outro escritor, o argentino Jorge Luis Borges, chegou a criar um conto maravilhoso, Funes, o memorioso, sobre um sujeito que não esquecia nada. Sem o talento para reverter as lembranças em saudável vazio, não havia como dar conta de novos rostos, viagens e amores que esperavam para ocupar sua atenção. O nosso tempo, sem a poesia de Drummond ou a criatividade de Borges, vem consagrando esses equívocos: somos sujeitos proibidos de esquecer. A quantidade de informação que nos cerca o tempo todo, enviada pelos mais diferentes meios, parece nos obrigar a acumular dados e mais dados, sem os quais corremos o risco de perder nossa chance de ser feliz. Informação não é saber. É da natureza da informação se bastar a si mesma. Ela cresce por justaposição, por empilhamento, por metástase. O saber é outra coisa, exige inteligência, crítica, emoção. Os muito informados raramente são sábios. Quando muito, são sabidos. Conhecimento é outra história. A passagem da informação ao saber é uma espécie de mistério. De repente, as coisas começam a fazer sentido. Quem se perde no primeiro estágio, do acúmulo de dados, pode se ver tomado pela lógica do sensacionalismo. No reino da informação, o que aconteceu ontem já está velho. Os eventos precisam ser sempre novos, interessantes, chocantes, brilhantes. O POETA

Quem quer saber de verdade precisa de outro método. As coisas não são boas por ser novidade, mas porque carregam sentido. A informação não tem tempo, vive num presente contínuo. O conhecimento pressupõe a história. A informação é terreno da notícia, um jornal de ontem não serve para nada; um bom livro, mesmo antigo, se renova quando é aberto. O resultado de um jogo de futebol, por exemplo, não interessa a mais ninguém depois de um dia (a não ser aqueles seres mutantes que são capazes de assistir com interesse uma mesa redonda de futebol sobre um lance que ocorreu anteontem). Reflexões sobre o sentido da vida e da arte não têm prazo de validade. Experimente ler o que Platão fala de amor em O banquete: é pura verdade psicológica, no século 4 a.C. e hoje em dia. Ainda somos aprendizes em matéria de paixão. As coisas realmente importantes são tão especiais que não ficam dando sopa o tempo todo. Por isso acho que não vale a pena ficar com tantas telas abertas para a vida. Não vai chover felicidade na sua goteira digital. O excesso de informação pode estar ocupando o que temos de melhor, o talento em escolher um caminho, em prestar atenção em um detalhe, em se entregar à força do acaso. Em caso de dúvida, tente esquecer para lembrar.



QUADRINHOS RASOS

COLUNA

POR Eduardo Damasceno E LuĂ­s Felipe Garrocho // quadrinhosrasos.com

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