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#29
SETEMBRO.2009
SETEMBRO . 2009 . ANO 4
não tem preço
#29
RESPEITÁVEL PÚBLICO Pesquisador de utopias O ex-Mutantes Arnaldo Baptista nas páginas do Perfil Além da lona Palhaços saem do picadeiro e encaram o le parkour Trem doido BH Music Station: Lenine, Mart'nália e você no metrô
TIRAR OS PÉS DO CHÃO NOS MOVE. O MAIOR NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO JOVEM DE MINAS :: www.ragga.com.br
foto: gus benke
http://migre.me/4iDZ
o que
move vocĂŞ?
EDITORIAL
Agradeça mais e peça menos Nunca fui o cara mais religioso do mundo, confesso até que gostaria de ser um pouco mais. Ainda assim não deixo de fazer minhas orações. Então, estive pensando em como tenho mais costume de agradecer do que o de pedir algo. Afinal de contas, por mais que possa nos faltar algo em algum momento, o fato de estarmos vivos já é algo pelo qual deveríamos agradecer diariamente seja lá pra quem for o criador disso tudo. E o que esse meu discurso religioso tem a ver com a Ragga? Sei lá, não estou aqui para doutrinar ninguém, mas é que ao final de cada mês paro para dar uma refletida no que passou nesse tempo. E, novamente, agradeci mais do que pedi. Afinal de contas, no ultimo mês, transformamos o tradicional Museu de Arte da Pampulha em um palco de rock ‘n’ roll, comemorando os 4 anos da Ragga, bem a nosso estilo: fugindo completamente do óbvio. Lançamos com muito sucesso a campanha “O que move você?”, e já temos tudo pronto para lançarmos oficialmente, a partir de setembro, a campanha Ragga Sangue Bom, com o objetivo mais do que justo de incentivar a doação de sangue. Acreditamos fielmente que além de divertir, entreter e comunicar, temos, ainda, o papel de conscientizar o jovem da importância de assumirmos atitudes transformadoras, como o de salvar vidas por meio da doação. Deixando agosto para trás, a edição de setembro tem como tema central um pouco da magia do circo retratada pelo fotógrafo Bruno Senna – à nossa maneira de fazer palhaçadas. Falando em palhaçadas, conhecemos o Salomão Teixeira de Souza, um empresário que tem a incrível mania de se vestir de palhaço e se apresentar em circos sempre que aparece um pela cidade. Tem ainda, Renegado, BH Music Station, cobertura da festa Let`s Rock e um perfil com Arnaldo Baptista. Vou pedir o quê? Lucas Fonda :: Diretor Geral lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br
BÚSSOLA Fora da lona
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Renegado e Vera
Quando circo e le parkour têm tudo a ver
Música nos trilhos BH Music Station chega a sua 4ª edição
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Quando circo e le parkour têm tudo a ver
Na terra de Allende Diário de viagem de um escalador
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já é de casa destrinchando
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estilo
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on the road // santo antônio do leite quem é ragga
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Alma de palhaço
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passando a bola
ragga girl: izabella starling eu quero! // circo
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cultura pop interativa aumenta o som
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Let´s Rock!
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Confira fotos da festa de 4 anos da Ragga
As baladas do louco
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Arnaldo Baptista fala sobre psicodelia, Mutantes e documentário no Perfil
bruno senna
Empresário leva a vida entre os negócios e o circo
cartas
Lucas Machado Reinaldo Campos // por e-mail Cara, muito style esssa matéria da corrupção e propinas na polícia. Eu gosto dos artigos Destrinchando porque só falam a real. E mais: cara, você escreve muito. Abraços Valeu, Reinaldo! Grande abraço
Carlos Hauck Mateus Coelho // pelo Twitter Muito bom o ensaio do Carlos Hauck para a @Ragga1 de agosto. Estilo simples e com o toque old school na medida.
Mateus, então fique de olho na exposição do Hauck no Nigiri, neste mês de setembro. Abraços
Let´s Rock! Gustavo Rodrigues // por e-mail Pessoal da Ragga, quero parabenizálos pela edição dedicada ao rock and roll. Ficou muito bacana. Assim como a revista, a festa no MAP também foi demais! É isso aí... A gente também curtiu demais a revista e a festa, Gustavo...
Valeu!
Como sempre Natália Rocha // por e-mail Conheço a Ragga há pouco tempo, mas já gosto muito da revista. Assuntos interessantes e bons textos... Parabéns!
Que bom, Natália. Esperamos que você continue lendo a Ragga.
expediente DIRETOR GERAL lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] DIRETOR FINANCEIRO josé a. toledo [antoniotoledo.mg@diariosassociados.com.br] GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING alessandra costa [alessandracosta.mg@diariosassociados.com.br] EXECUTIVO DE CONTAS lucas machado [lucasmachado.mg@diariosassociados.com.br] PROMOÇÃO E EVENTOS cláudia latorre [claudialatorre.mg@diariosassociados.com.br] EDITORA sabrina abreu [sabrinaabreu.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTER bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] JORNALISTA RESPONSÁVEL luigi zampetti - 5255/mg DESIGNERS anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] daniel pinho [danielpinho.mg@diariosassociados.com.br] marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] maytê lepesqueur [maytelepesqueur.mg@diariosassociados.com.br] ILUSTRADOR matheus dias [xgordinhox.dias@gmail.com] FOTOGRAFIA bruno senna [bsenna.foto@gmail.com] carlos hauck [carloshauck@yahoo.com.br] dudua´s profeta [duduastv@hotmail.com] ILUSTRADORA CONVIDADA anne pattrice [annenaweb@gmail.com] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO daniel ottoni [danielottoni.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] ARTICULISTA lucas machado COLUNISTAS alex capella. cristiana guerra. rafinha bastos. kiko ferreira COLABORADORES aninha dapieve. cacá zech. julia lego. li maia. poliana turchia. roberto assem PÍLULA POP [www.pilulapop.com.br] RAGGA GIRL izabella starling FOTO julia lego PRODUÇÃO aninha dapieve e li maia MAQUIAGEM laninha braga CAPA bruno senna REVISÃO DE TEXTO vigilantes do texto IMPRESSÃO rona editora REVISTA DIGITAL [www.revistaragga.com.br] :: inkover [inkover.com.br] REDAÇÃO rua do ouro, 136/ 7º andar :: serra :: cep 30220-000 belo horizonte :: mg . [55 31 3225-4400] Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não expressam necessariamente a opinião da Ragga, assim como o conteúdo e fotos publicitárias.
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anne pattrice
por Lucas Machado
Skateboard Old School “Estou feliz hoje. Deus está do meu lado, por isso não tenho razão para chorar. Num brilho branco, puro e ofuscante, agora posso ver claramente que irei para o céu, por isso estou mais feliz.” ‘Heaven’, Suicidal Tendencies
da Avenida do Contorno quando um ônibus passou por cima Cheguei cedo para um dia de entrevista em Sampa e fui dele e meu destino foi o chão. Sempre pirei com skate, mas logo ligando para o nosso fotógrafo. No meio da conversa, já a falta de coordenação motora me acompanhou na mesma sabia que ia esperar muito para a primeira entrevista, assim, proporção da minha paixão. As lembranças não paravam. perguntei o que eu poderia fazer para passar o tempo. Sem Putz, nos anos 1970, em Belo Horizonte, tinha o Alexanbrincadeira, ele ficou quase um minuto falando as opções, dre Cabral e Bruce, Alan. Os camaradas andavam na ramentre elas uma exposição de shapes com um documentápa da Elon Esportes, no Instituto Hilton Rocha, na Praça do rio sobre a história dos carrinhos de rodinha no Brasil. Não Papa. Era dogtown total. Nessa época, o som era rock‘n’roll pensei duas vezes. Shape é minha cara e skate é minha vida. mesmo. Já nos anos 1980, veio outra geração: Dota, Valério, Fui com tudo... Zé Pivete, Luiz, Marco Antônio (Gralha). Os caras eram guerSão Paulo, capital nacional do sk8, foi escolhida para o reiros, andavam de skate sem infraestrutura nenhuma, sem lançamento do filme ‘Re: Board // Brazilian skate art research pista, sem material e informação. Na ocasião, os brasucas video’. O local não poderia ser melhor: o espaço cultural começavam a ganhar as gringas: Mauro Mureta, FernanMatilha, no centro da cidade. O idealizador do documentário é dinho Batman, Beto or Die, os irmãos Poisé e Porque. Na o skatista e videomaker Alexandre Cruz “Sesper”, ou “Farofa”, mesma época, surgiram as banum cara totalmente das antigas no esporte. A exposição era um Como todo skatista sabe, seja das mineiras de punk e hardcore mosaico de imagens e personalidades ele amador, pró ou das antigas, Sexo Explícito e Os Contras, e, em diversas, mas convergentes no prazer a vida tem que ser na borda, na São Paulo, Coquetel Molotov e Os Grinds. de fazer bem-feito, corações que Como tudo que é bom dura o pulsam na mesma reta e se cruzam base e no skate necessário, foi chegando minha hora. Mas a nostalgia tomou nas diferentes curvas. Foi alucinante ver e rever skaters conta, e veio à tona o que o sk8, assim como os atletas, sofre das antigas, como Osmar Fossa, César Girão, Jorge Kuge, até hoje aqui nas Gerais. Falta um circuito profissional e uma além de assistir ao filme, claro. Fiquei impressionado com os federação que defenda os interesses coletivos do esporte. O shapes históricos e customizados dos anos 1970 e 80 e início Bolsa Atleta, por exemplo, já saiu para vários skatistas, podos anos 1990. Resumindo, o lançamento foi em um ambiente rém, eles não receberam a verba. Em São Paulo, a indústria onde os plebeus estavam lado a lado com a realeza e todo do skate cresce avassaladoramente, enquanto em BH, camimundo falava a mesma língua: acesso gratuito para a arte e nha a passos lentos, apesar do esforço solidário de muitos. cultura do skate. Irmão, só de pensar que, há algum tempo, Mas, como diz Lucas Fonda, “não pode é desanimar”. eu buscava esses decks em São Paulo para vender aqui em O dia foi de primeira grandeza. Fiz minhas entrevistas, diBH, me veio a maior sessão de recordações na cabeça. vidi espaço com os representantes legítimos das paisagens A lembrança do meu primeiro carrinho, um Bandeirante urbanas. Quem anda pelas ruas tá ligado: não é bom andar que meu pai me deu no supermercado. Meu primeiro skasozinho. E, como todo skatista sabe, seja ele amador, pró ou te de verdade foi um shape Prisma, truck RK e rodas Costa das antigas, a vida tem que ser na borda, na base e no skate. Norte. Mas, não demorou muito, o perdi na descida do tobogã
manifestações: lucasmachado.mg@diariosassociados.com.br J.C.
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COLABORADORES fotos: arquivo pessoal
Maquiadora há sete anos, Cacá Zech divide seu tempo entre maquiagem para editoriais de moda, desfiles, publicidades, teatro e noivas. Cacá também se dedica a produzir trabalhos autorais, extravasando e fugindo dos padrões, como gosta. Além disso, é leitora assídua da revista, uma vez que começou a maquiar para mídia impressa na seção Ragga Girl. Quando não está se deliciando com pincéis e cores, pode ser encontrada no meio do mato praticando montanhismo, seu esporte e hobbie preferidos. É dela a maquiagem da seção de fotos dos palhaços praticando le parkour. www.flickr.com/photos/cacazech
Bacharel em teatro com habilitação em Interpretação Teatral pela UFMG, Poliana Tuchia especializou-se nas técnicas de acrobacia aérea na Spasso Escola Popular de Circo. Como pesquisadora, participou do projeto 'Sem os Pés no Chão', da Companhia Suspensa. É parceira e integrante do Grupo Trampulim, atuando nos espetáculos 'A Invasão de Palhaços', 'Manotas Musicais' e 'Pratubatê', e com o grupo concebeu a pesquisa-espetáculo 'Labirinto'. Além das atividades circenses, desenvolve, desde 1999, estudos sobre a música regional pernambucana, como o maracatu e o coco. www.samambaiasnasmaos.blogspot.com
o dia/arquivo
BELEZÓPOLIS
arquivo pessoal
Julia Lego é graduada em design de produto pela UEMG e estilismo pela EBA-UFMG, mas achou na fotografia de moda sua principal motivação. Ela trabalha no estúdio Lumini com o fotógrafo Márcio Rodrigues e é sócia do Estudio Sincro, que usa o blog como principal ferramenta. É colaboradora do Moda de Rua do site UOL e assina as fotos da Ragga Girl desta edição. estudiosincro.blogspot.com // julia.lego@gmail.com
Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, vira fábrica de misses
luiz fotógrafo
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certa. Isso mesmo. Parece inacreditável. Mas, em Divinópolis, cidade mineira localizada no Centro-Oeste do estado, uma nova leva de beldades se prepara para ganhar espaço no mundo da beleza. São jovens que deixaram suas cidades apostando na retomada dos até então ‘démodés’ concursos de beleza. E os resultados já estão aparecendo. Vencedora do concurso Miss Minas Gerais 2009, recém-disputado em Divinópolis, a jovem universitária Rayanne Fernanda de Morais, de 20 anos, deixou a pequena Jeceaba, na Região Central do Estado, para faturar a disputa que envolveu 29 candidatas. Com 90 centímetros de busto e quadril, 63 centímetros de cintura e 54 quilos distribuídos em 1,74 metro, a loira se juntou ao seleto grupo de moças que se transformaram em misses a partir de um longo período de preparação em Divinópolis (cidade do divino), ou deveríamos rebatizar o município para Belezópolis (cidade da beleza)? Assim como Rayanne, a atual apresentadora de tevê Renata Bonfiglio Fan, Miss Brasil 1999, e a modelo Natália Guimarães, segunda colocada no Miss Universo, realizado no México, em 2007, também receberam ensinamentos na charmosa casa de campo localizada na entrada da cidade. No local, que hoje
fabio nunes/divulgacao
A imagem dos 98 centímetros de busto e 100 de quadril da inesquecível Marta Rocha só serve hoje para inspirar a produção da guloseima açucarada, um tanto quanto fora de moda, saída do forno de alguma padaria da esquina. Afinal, ao contrário do pão recheado com creme, o padrão de beleza mudou. E, diferente da miss que foi sucesso mundial nos anos 1950, a mulher que quiser receber assobios nas ruas precisa ter medidas que não ultrapassam os 90 centímetros, tanto de busto quanto de quadril. As formas não são lá tão avantajadas, mas se você somá-las aos 1,79 metro de altura, 54 quilos e 59 centímetros de cintura, poderá se deparar com uma legítima Gisele Bündchen. Agora, imagine uma dezena de Giseles prontinhas para sair do forno, em carne e osso, tudo na medida
arquivo pessoal
por Alex Capella
carlos hauck
tomás gonzaga coelho
luciana gama
Aninha Dapieve e Li Maia já colaboram com a Ragga há um tempo. Li está sempre presente nas produções das Ragga Girls e Dapieve já chegou a estrelar a seção. O trabalho em conjunto volta a aparecer para o ensaio de Izabella Starling, no Ragga Girl desta edição, baseado na personagem de Maria Antonieta, rainha da França. Sempre em busca de brechós e peças que agreguem qualidade, a dupla mandou bem, mais uma vez. aninhadapieve@hotmail.com e limaialamas@hotmail.com
abriga dez meninas, com idades entre 19 e 23 anos, saídas de pequenas cidades do interior de Minas como Santa Vitória, Unaí e Ponte Nova, todas têm uma rotina agitada. São aulas de inglês e espanhol, de postura e de desempenho na passarela. Além disso, as moças encaram horas de academia e freqüentam algum curso universitário. “Hoje em dia, se uma miss falar que quer a paz mundial e que leu o 'Pequeno Príncipe', de Antoine de Saint-Exupéry, coitada, vão acabar com ela. Precisamos fazer diferente, mostrar que somos mulheres modernas, inteligentes, que estudamos, que temos conhecimento”, afirma Natália Guimarães. Mineira de Juiz de Fora, na Zona da Mata, a morena de 22 anos, com 1,75 metro de altura, 58 quilos, 60 centímetros de cintura, 93 de quadril e 90 de busto, só não foi eleita a mulher mais bonita do mundo porque no seu caminho surgiu a japonesa Riyo Mori, com três centímetros a menos no quadril. Para o seu ego, o segundo lugar incomodou. Mas, para a sua vida profissional, fez pouca diferença. Afinal, Natália assinou contratos publicitários, ganhou um papel na novela ‘Mutantes – Caminhos do Coração’, da Rede Record, e protagonizou um ‘affair’ com o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB). “Fiquei muito feliz e não tenho do que reclamar, pois a minha vida mudou completamente”, comemora. As misses saídas de Divinópolis têm mercado no México, no Vietnã, na Coréia, na Polônia, nas Filipinas e nas Bahamas, países que tradicionalmente realizam concursos de beleza. Mais do que vencer o concurso, as moças sonham mesmo é com um contrato internacional com alguma agência de modelos. E, para isso, vale tudo. Ao contrário das mineiras que conquistaram o título de Miss Brasil, como Staël Rocha Abelha (1961), Eliane Parreira Guimarães (1971), Suzana Araújo dos Santos (1978) e Marisa Fully Coelho (1983), as meninas de Divinópolis não nasceram tão divinas assim.
Duas gerações de Miss Brasil: Marta Rocha, 1954, Natália Anderle, 2008, e Natália Guimarães, 2007. Acima: casa de José Alonso abriga candidatas à fama, como Rayanne, atual miss Minas Gerais (ao lado)
Para corrigir algum defeito de fábrica, passaram por intervenções cirúrgicas e investiram pesado em tratamentos estéticos. Se antigamente era proibido até mesmo maquiar ou pintar os cabelos, hoje, a cirurgia plástica já é um procedimento comum. A atual Miss Universo, Dayana Mendonza, revelou ter realizado duas operações. Já a Miss Minas Gerais 2008, Marina Marques, também não esconde a intervenção. “As que são bem-feitas, realizadas por profissionais capacitados e que ajudam na harmonia do corpo são bem-vindas”, revela Marina, de apenas 19 anos, natural de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. Tratado como pai pelas meninas, José Alonso Dias é o responsável pela fábrica de misses. Empresário de sucesso no ramo de automóveis, Dias viu na fabricação das novas “máquinas” da beleza uma oportunidade de se envolver num mundo que conhecia apenas das páginas da revista ‘O Cruzeiro’ ou do salão do clube Estrela do Oeste, que realizava o concurso ‘As 10 mais elegantes’, evento que movimentava as colunas sociais da imprensa de Divinópolis até os anos 1970. Diante dos tesouros que tem em mãos, os quais podem ser multiplicados, o empresário, que banca toda a infra-estrutura das meninas, incluindo os cursos, só faz uma exigência para manter o negócio: os namorados precisam manter distância. “Elas podem namorar. Mas não em Divinópolis. Aqui é lugar de trabalho. Essas meninas precisam ficar ocupadas para não pensarem em bobagem”, alerta Dias, que conseguiu junto aos patrocinadores cerca de R$ 400 mil para realizar a edição do Miss Minas Gerais 2009, realizado no dia 6 de setembro, em Divinópolis. “Não faço isso para ganhar dinheiro. Pelo contrário. O nosso lucro é ver essas meninas encaminhadas na vida. E isso não tem preço”, garante, valendo-se do slogan da propaganda de cartão de crédito.
DEMOS ANTES (DE NOVO)
A Ragga antecipou a notícia sobre a fama de Divinópolis em produzir mulheres bonitas. Na matéria do repórter Alex Capella, da edição # 21, a gente enche a bola da cidade que fica a 125km de BH. Neste mês, a Revista VIP deu uma matéria sobre o mesmo assunto. Too late, baby...
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CARLOS HAUCK Depois de Bruno Senna, agora é a vez do nosso fotógrafo Carlos Hauck expor seus registros. Os trabalhos dele e de outros profissionais estarão presentes no Restaurante Nigiri (Rua Vitório Marçola, 43, Anchieta) até o fim deste mês. Cola lá.
ILUSTRADORA CONVIDADA
Anne Pattrice [annenaweb@gmail.com] Depois que a carreira de humorista não emplacou, Anne Pattrice, a Anita, resolveu fazer design gráfico. Até concluir a faculdade, ela foi secretária e micreira [momentos nos quais Jesus não estava em seu coração]. Hoje, trabalha com design editorial em uma revista de conteúdo jovem [tá bom, é a Ragga]. Para combinar com a sua personalidade [ora doce, ora esquisita], ela cria uns bichinhos desengonçados, apáticos e mal-humorados. Nas horas vagas, joga video-game, faz um curso de educação sentimental e tenta explicar aos parentes o que um designer gráfico é capaz de fazer. Talvez, mais tarde, ela crie uma ONG em defesa dos sonhos de todo mundo. Desabafos e bobagens da sua vida meio agreste são encontrados aqui: twitter.com/annepattrice
ENSAIO
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ALÉM DO PICADEIRO por Bruno Mateus fotos Bruno Senna
A figura do palhaço sempre foi sinônimo de arte, alegria e irreverência. Por outro lado, uma certa lenda corrente diz que todo palhaço, bem lá no fundo de seu âmago, é depressivo. Se é verdade, só eles podem dizer. Outros, por incrível que pareça, têm medo desses caras-pintadas de peruca e nariz vermelho e roupas coloridas. De quadros de palhaço, então, nem se fala! Mas nestas fotos, palhaço tem a ver mesmo é com criatividade e esporte. Dá só uma olhada neste ensaio que a Ragga preparou para esta edição.
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FOTÓGRAFO bruno senna MAQUIADORA cacá zech PRODUTORA poliana tuchia FREERUNNER joão flávio baêta lopes ARTISTA CIRCENSE poliana tuchia ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA débora gregório
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divulgação
>> REFLEXÕES REFLEXIVAS DO TWITTER > rafinha bastos > é jornalista, ator de comédia stand-up e apresentador do programa ‘CQC’ (Custe o Que Custar)
MST, BÓRIS CASOY E CHIQUINHO SCARPA
:: O que tem na barrinha de cereal que deixa comissárias e comissários de voo tão femininos?
:: Meu porteiro tem a letra muito feia. Ele não me deixa recados, me deixa enigmas.
:: "Essa turma do barulho quer paquera e muita curtição." Só as gírias "do momento" nas chamadas da Globo.
:: "Diazinho bom para ficar em casa", disse o sem teto.
:: O Bóris Casoy é a velha surda da ‘Praça é Nossa’. Ele vive correndo pelos corredores da Band gritando: Apolôôôniooo! :: “Rafinha, essa tatuagem no seu braço todo é de verdade?” Não, ela veio no chiclete de 90 cm que eu masco desde 1979. :: Se o criador do ‘Vale a Pena Ver de Novo’ tivesse inventado o ‘Band Privé’, ele se chamaria ‘Pessoas Fingindo que Transam’? :: Proteja a natureza: entre na campanha Faça xixi no banho. Participe também das campanhas Cague na pia e Cuspa na cara do guarda.
:: Aeroporto? Só de máscara. Tô aqui no check-in com a minha do Homem-Aranha. :: Toda criança quer ser astronauta... Viver no mundo da Lua. Até o dia em que ela descobre um atalho: a maconha. Missão cumprida. :: Buffet é como balada: depois de uma certa hora, as opções são limitadas e você acaba comendo algo que alguém já manuseou. :: Eu tenho uma bola maior que a outra. A direita é o rio Negro e a esquerda é o Solimões.
Meu cachorro me olha estranho quando eu leio o jornal. Ele deve pensar: "Põe no chão e caga logo, porra!"
anne pattrice
:: O Chiquinho Scarpa quase morreu numa cirurgia. Todo mundo na torcida para que o cérebro implantado não rejeite o corpo.
:: É expressamente proibido jogar bocha com menos de 60 anos (lei XI art. 153).
com ele: >> fale rafinhabastos.mg@diariosassociados.com.br
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PROVADOR > cristiana guerra > 39 anos, é redatora publicitária, ex-consumista compulsiva, viúva, mãe (parafrancisco. blogspot.com) e modelo do seu próprio blogue de moda (hojevouassim.blogspot.com) elisa mendes
>>
UM ESPETÁCULO CHAMADO CASAMENTO Uma vez feito o juramento e assinados os papéis, outro perigo: a garantia de que aquela pessoa vai estar sempre lá no dia seguinte. Até que, depois de um dia exaustivo, ela se deita ao lado dele e deixa para amanhã. Começa assim. O que passa a manter as duas pessoas juntas é, cada vez mais, o juramento diante das centenas de convidados. (Será que é por isso?) A intenção de tornar uma união duradoura é o começo do amor, mas está longe de ser sua garantia. Demoramos a perceber que o maior alicerce do amor é justamente a impossibilidade de haver essa garantia. É essa incerteza que nos ajuda a estar atentos aos pequenos gestos, tornando a conquista um desafio gostoso e diário. Conheço alguns que conseguem. Sou fã do amor e da sensação que ele traz: a de estar voltando pra casa. Desconfio, no entanto, que justamente a relação que se coloca à prova todos os dias é a que está fadada a dar certo. Por isso, se você decidiu se casar, faça-se uma pergunta: você quer dizer sim para o outro ou para os outros? Está mais apaixonada pelo noivo ou pelo vestido? Se o amor ganhar a parada, case-se, sim. Mas, ao fim do espetáculo, não se revele um palhaço triste ao tirar a maquiagem. Cuide da relação com o mesmo entusiasmo com que cuidou da festa.
Cerimônias e recepções são utopias bem construídas, que despertam um desejo oculto até nos homens mais durões
anne pattrice
Um hábito que não sai de moda. Num mundo cada vez mais voltado para o consumo, casamento é um produto de luxo: sempre desejado. Cerimônias e recepções são utopias bem construídas, que despertam um desejo oculto até nos homens mais durões. Nada contra o amor: todos nós trazemos o sonho de ser a escolha de alguém. Mas, com esse sonho, vem outro ainda mais atraente: entrar na igreja de branco, observada pelos convidados comovidos, jurar amor eterno, jogar o buquê. Diante de nós, abrem-se as portas de um mundo mágico e anuncia-se um show. O convite. O cerimonial. A música. O buquê. O vestido. A lua de mel. E, lá na frente, pequeno e coadjuvante, o noivo a esperar por aquela que é obrigada a se atrasar – mas que não tolerará atrasos ao longo do relacionamento. Não há nada de errado em festejar. O que me assusta é dar à celebração tamanho maior que o próprio amor. Como quem proclama um feito heroico, os convidados seguem se divertindo e homenageando os noivos, numa espécie de prenúncio do que vem pela frente. Não, não será fácil. O casamento já nasce de mãos dadas com a palavra obrigação. E a obrigação é inimiga do desejo. Sei que posso ser apedrejada por dizer o que penso. Mas penso. Há algo de errado nessa tentativa de fortalecer um laço que, por si só, já é frágil. O amor tem suas armadilhas. A maior delas é ter de ser para sempre. Amor é promessa de tentar. Mas prometer que se vai conseguir é um tanto pretensioso.
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RICARDO BOCÃO ENTREVISTA MARCELO D2
PAPO RETO – TERÇAS E QUINTAS ÀS 22h45m
Esportes de Ação 24h na TV
De volta aos trilhos Quarta edição do BH Music Station repete fórmula consagrada pelo público
Muitos dos grandes eventos musicais ficaram marcados na memória do público, não pela qualidade das apresentações, mas, sim, pelos engarrafamentos dignos do rush das sextas-feiras de chuva, pela fila quilométrica na hora de comprar cerveja ou ir ao banheiro, pela escolha do local, invariavelmente fora de mão, e, principalmente, pelo preço sempre salgado do ingresso. Contra tudo isso, o BH Music Station volta à capital mineira, nos dias 19 e 26 de setembro, e 3 de outubro, para agitar o cenário musical da cidade. Além de uma programação diversificada e com qualidade, como não poderia deixar de ser, o evento reforça sua aposta nas estações do metrô que, se em 2001 foram classificadas como inusitadas, hoje representam o segredo do sucesso da empreitada. Nas duas primeiras edições do evento, em 2000 e 2001, nem os próprios organizadores se arriscavam em apostar todas as suas fichas em um evento musical marcado pela mistura de nomes consagrados da música brasileira com aspirantes ao sucesso, e realizado nas frias e escuras estações do metrô, localizadas numa região não recomendada depois das 22 horas para quem gozava de um pouco de juízo. Para espanto dos incrédulos e dos mais afrescalhados, as duas edições do evento foram um sucesso, tanto de público quanto de crítica, mesmo que alguns ainda insistiram em torcer o nariz para o fato de as atrações se apresentarem, simultaneamente, em estações diferentes. Mas, surpresa maior ainda foi quando a marca de cerveja que o patrocinava, obedecendo a legislação nacional do setor,
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por Alex Capella
foi obrigada a descer do trem no ano seguinte, inviabilizando a realização da terceira edição e deixando na lembrança do público, assim como os grandes festivais, um evento que conseguiu reunir ousadia e qualidade musical com ingresso acessível. “O Music Station tem ainda um diferencial para nós: além de ser um projeto cultural importante, que traz para Belo Horizonte uma gama de artistas de ponta, é inovador. E apoiamos iniciativas que transmitem inovação ao nosso cliente”, diz Ricardo César de Oliveira, diretor da Claro, em Minas Gerais, patrocinadora do evento desde o ano passado. Em 2008, depois de sete anos, com novos apoiadores, o BH Music Station voltou aos trilhos, brindando mais de 16 mil pessoas com apresentações de nomes como Tom Zé, Arnaldo Antunes, Edgard Scandurra, Nação Zumbi e Chico Amaral. Quem foi ao evento também conferiu as apresentações do Clube do Balanço, de Ana Cañas, de Marina de la Riva, da turma do Movéis Coloniais de Acaju e do Bossacucanova. Um dos principais parceiros do Skank, o músico Chico Amaral destaca a ousadia da ideia. “É muito bacana. Você pega um público itinerante, animado, sendo despejado pelo trem. É uma coisa muito alegre”, afirma Amaral. O clima de descontração percebido pelo músico deve-se muito ao espaço escolhido para abrigar o evento. Afinal, as estações do metrô dispensam qualquer tipo de comentário com relação ao acesso, principalmente, depois da revitalização da Praça da Estação, que ganhou nova iluminação e teve a segurança ampliada. “Esse público não frequenta o metrô
bruno senna
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carlos hauck
de Belo Horizonte normalmente. Frequenta metrôs de outras cidades. Então, o evento, além dos shows, propicia isso também, ou seja, o público acaba conhecendo as instalações do metrô que não devem nada na comparação com as demais cidades”, analisa José Rosenbru, superintendente regional da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
bruno senna
Mais do que um show
Antes mesmo de chegar aos locais dos shows, música e arte já se misturam pelos vagões e corredores
Nesta quarta edição, que pode colocar o evento, definitivamente, de volta nos trilhos do calendário anual da música mineira e brasileira, o propósito de promover uma programação de alto nível, reunindo samba, rock, pop, soul, mangue beat e bossa nova no local inusitado, foi mantido. Com 12 shows e uma série de intervenções teatrais, circenses e poéticas - que acontecem ao longo das viagens dos trens da estação Central até as estações regionais -, o BH Music Station trará para as estações Santa Inês, Minas Shopping e Vilarinho artistas consagrados, como Lenine e Zeca Baleiro, além de surpresas da música nacional, como Mart’nália, Diogo Nogueira e a imperdível Orquestra Imperial. “As pessoas não percebem o evento como um show, mas, sim, como um programa. Tanto que querem ir ao evento como um todo”, comemora Márcia Ribeiro, uma das produtoras do BH Music Station. Todas as apresentações ocorrerão nas madrugadas de domingo. O público embarca na unidade Central, na Praça da Estação, e, nos vagões, vai assistir a esquetes musicais, além de performances teatrais e circenses. Os palcos serão montados no destino final dos trens. Os shows principais começam à 0h15. Segundo Márcia, a expectativa é de que o público deste ano supere o do ano passado. “As pessoas compram uma programação e acabam recebendo uma série de outras informações e atrativos diferentes no pacote. O próprio horário é uma novidade do ponto de vista do funcionamento normal do metrô. Por isso tudo, esperamos um número maior de pessoas este ano”, acredita. comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
Programação
Data: 19 e 26 de setembro e 3 de outubro Local: Estações Central, Santa Inês, Minas Shopping e Vilarinho.
19 de setembro Palco Santa Inês 00h15 – Vanguart Palco Minas Shopping 00h15 – Macaco Bong Palco Vilarinho 00h30 – Lenine 2h – Cordel do Fogo Encantado
Entrada obrigatória pela Estação Central – Praça da Estação, no Centro. Portões abertos às 23h30. Ingressos: R$ 80,00 inteira e R$ 40,00 meia-entrada Vendas de ingressos: Ticketmaster – Livraria Leitura (Savassi e BH Shopping) e Chevrolet Hall – 0300.7896846 Informações: (31) 3264-2423 www.bhmusicstation.com.br www.twitter.com/bhmusicstation www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=92324781
26 de setembro Palco Santa Inês 00h15 – Nasi Palco Minas Shopping 00h15 – Forgotten Boys Palco Vilarinho 00h30 – Diogo Nogueira 2h – Mart'nália
divulgação
BH Music Station
3 de outubro Palco Santa Inês 00h15 – Funk Como Le Gusta Palco Minas Shopping 00h15 – Curumin Palco Vilarinho 00h30 – Zeca Baleiro 2h – Orquestra Imperial
Vem ai...
Tour 2009 Local: Mackeinze Esporte Clube
Data: 24 a 28 Novembro
Apoio:
hugo werner hugo werner
Hugo Werner: ganhador do 1º prêmio na categoria Print: Most creative work no Adobe Design Achievement Awards de 2001
IDEIAS E MENSAGENS EM SÉRIE
Pôsteres e cartazes ganham espaço nas artes e na história. Obama que o diga
por Izabella Figueiredo
Com o foco na comunicação visual e na forma que ela se apresenta, as artes gráficas criam e combinam símbolos, imagens e palavras para representar ideias. O pôster é uma peça de design cuja principal característica é a transmissão imediata de uma mensagem. Entre as peculiaridades, encontramos vastas dimensões e o fato de ser acessível a um grande número de pessoas. Por isso, é essencial que o cartaz utilize um código comunicativo de acordo com o público-alvo. Para o designer Marcos Minini, artes gráficas são “a arte de imprimir através de algum método que permita a seriação do original”. Seguindo essa definição, fica clara a posição de extremo destaque que os pôsteres ocupam. O grande boom dos pôsteres (ou cartazes) em arte gráfica rolou na Europa, na segunda metade do século 19. O aperfeiçoamento da técnica litográfica, que havia sido inventada em 1798 pelo artista Aloys Senefelder, ajudou a alavancar o estilo. Várias cidades europeias se "vestiam" com essa arte comercial e existem relatos de artistas descrevendo Paris como "a
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cidade dos cartazes". Segundo o designer Hugo Werner, ganhador do 1º prêmio na categoria "Print: Most creative work" no Adobe Design Achievement Awards de 2001, "tecnicamente, não existe diferença entre os pôsteres feitos em design gráfico e em arte gráfica. Ambos usam a litografia, o silk-screen ou o plotter como técnicas de impressão e reprodução”. As diferenças ocorrem na linguagem visual. "É possível ter uma bela peça gráfica que também seja uma excelente peça de comunicação visual", pontua Werner. Cláudio Rocha, idealizador e editor da revista Tupigrafia, acredita que ser designer gráfico não significa ser, necessariamente, um artista plástico. Marcos Minini concorda e complementa: "Sou um designer, minhas criações respondem, invariavelmente, a um problema de comunicação e não a um impulso criativo de cunho apenas conceitual ou estético”. Hoje, a arte dos cartazes está bastante difundida em todos os continentes, mas a presença e a expressividade desse tipo
postêres: cláudio rocha
de mídia no Brasil ainda é tímida se comparada a vários países da Europa, Japão ou Estados Unidos. Em 2003, rolou a mostra Brasil em cartaz, organizada pelo designer brasileiro Rico Lins como parte das comemorações do Ano do Brasil na França. Com o slogan Seja marginal, a exposição ressaltava as dificuldades enfrentadas pela arte dos cartazes no Brasil. No catálogo, uma colocação provocativa: "O cartaz brasileiro é o retrato de uma utopia: não tem lugar na sociedade, nem financeiramente, nem sobre os muros". Os principais eventos para divulgação dos pôsteres são festivais internacionais de cartazes. A Trienal de Toyama, no Japão, a Bienal de Varsóvia, na Polônia, e o Festival de Chaumont, na França, são alguns dos principais eventos. Apesar de designers de todas as partes do mundo enviarem seus trabalhos para as mostras, a participação de brasileiros ainda é bem restrita. Em 2007, na Bienal Internacional da China, o Brasil teve apenas três cartazes (de Hugo Werner, Rico Lins e Marcos Minini) selecionados. Na Trienal do Japão de 2006, em Toyama, em um total de mais de 4,5 mil trabalhos inscritos, só 11 foram do Brasil. Desses, nenhum foi selecionado. Os critérios de julgamento são variados. Além do júri local, designers reconhecidos mundialmente avaliam os trabalhos. Funcionalidade na comunicação, expressividade, criatividade, qualidades estéticas e composicionais são os critérios principais para a avaliação. Uma famosa peça de arte gráfica é o pôster da campanha presidencial de Barack Obama. A obra do artista americano Shepard Fairey foi a vencedora do prêmio de design britânico Brit Insurance Design Award 2009. A imagem alcançou tanta repercussão que não ficou apenas nos cartazes, sendo reproduzida e transformada em adesivos e camisetas que viraram febre nos Estados Unidos. O cartaz se transformou em uma espécie de comprovação do sucesso da campanha presidencial de Obama, além de se tornar um elemento histórico.
Cláudio Rocha: designer, tipógrafo, editor e representante do Brasil na ATypI – Associação Tipográfica Internacional
O grande boom dos pôsteres (ou cartazes) em arte gráfica rolou na Europa, na segunda metade do século 19. O aperfeiçoamento da técnica litográfica, que havia sido inventada em 1798 pelo artista Aloys Senefelder, ajudou a alavancar o estilo comente! redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
postêres: marcos minini
Marcos Minini: pôsteres criados para teatro e cinema
MÚSICA
Ó VERA AMADA! Rumo ao sucesso, Renegado tem uma história de luta e dedicação dentro do Alto Vera Cruz. Exemplo de vitória aos 27 anos, ele promete muito mais por Daniel Ottoni fotos Carlos Hauck
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“Joga uma marra aí, molecada!”, dizia Renegado para os cerca de dez garotos em meio ao campo de terra do Alto Vera Cruz. O sol escaldante não desanimava Flávio de Abreu Lourenço, 27, dono de uma história típica de comunidade pobre. Hoje, quando se fala em Renegado, muita gente sabe de quem se trata. Mas o que poucos conhecem é sua história de vida, referência dentro da comunidade, principalmente para os pequenos. Renegado sempre morou no bairro Vera Cruz. Filho de mãe solteira, teve que ralar muito, bem antes da música aparecer em sua vida. Na ausência da mãe, que passava o dia trabalhando de faxineira, era ele o encarregado de cuidar da irmã, dar banho e levá-la à escola. Somente aos 11 anos, descobriu o rap. “Quando ouvi, bateu um click. Percebi que era aquilo que queria fazer da vida”, lembra. Durante a infância, figuras de referência como a dele pouco existiam na comunidade. “Minha mãe era meu braço direito. Além dela, o pessoal da associação de bairro me ajudou muito também”, conta.
Hoje, orgulha-se de ser uma referência no Vera Cruz. “Na maioria das vezes, o exemplo dos moleques é o traficante, que tem dinheiro, roupa. Fico feliz por mostrar a eles que existe um outro caminho. Muitos meninos caem no crime, porque esquecem como se sonha. Não tem preço colocar a cabeça no travesseiro, sabendo que não tem polícia atrás e que você pode acordar no outro dia para correr atrás do seu sonho”, analisa. “É sempre bom mostrar a eles outra perspectiva. Alguém que é do morro e não está nas páginas policiais.” O chão vermelho e a malandragem da ‘Vera Amada’ parecem ser muito mais que trechos de uma de suas composições. A ligação com o local onde passou toda a infância corre em suas veias e acaba sendo mostrada nas músicas, que contam com outros ritmos relacionados à sua história. “Quando era mais novo, fiz capoeira angola e cheguei a militar em alguns movimentos negros. Tenho uma relação imensa com o reggae e me identifico muito com o samba, principalmente pela sua resistência cultural”, aponta. Renegado mostra a importância de inserir um pouco desses gêneros no rap brasileiro. “O rap nacional não pode estar focado no rap norte-americano. Temos uma infinidade de ritmos que podem e devem ser incorporados à nossa música. Não podemos deixar isso de lado, senão a coisa não evolui”, justifica. Legitimidade não falta.
Os parceiros que encontrou foram fundamentais. “Sabia que meu trabalho tinha potencial, quando comecei minha carreira solo, em 2006. Outros horizontes continuam se abrindo para mim porque essa rede funciona.” O ponto de partida para as letras é a comunidade, mas seu trabalho tem um foco mais amplo. “Meu trabalho tem consistência dentro e fora do Alto Vera Cruz, por esse diálogo que faço entre o morro e o asfalto.” A quebra de barreiras tem sido uma constante. “Hoje, considero-me um vitorioso por ter crescido em uma comunidade carente e ter chegado aos 27 anos. Muita gente fica pelo caminho. Mas o que consegui até hoje é somente a ponta do iceberg. Ainda tenho o Titanic para derrubar”, reflete. Além da carreira solo, ele mantém, com mais dois parceiros, o NUC – Negros da Unidade Consciente –, uma ONG na comunidade que visa dar melhores condições para os moradores, através de oficinas de dança, música e tecnologia. “Nosso próximo passo é construir um estúdio para o pessoal gravar e editar seus trabalhos. Dessa forma, damos condições para a comunidade se gerir.” Em 2008, Renegado recebeu os prêmios de Melhor Site e Artista Revelação no Festival Hutúz, o maior festival de hip hop da América Latina. Merecido é pouco. Renegado garante que ainda vai dar muito o que falar. Segura, Titanic!
Ouça :: myspace.com/arebeldia Visite :: arebeldia.com.br
“Fico feliz por mostrar a eles que existe um outro caminho. Muitos meninos caem no crime porque esquecem como se sonha”
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Uma boa dose de ritmo brasileiro no hip hop não faz mal à ninguem
CIRCO
PALHAÇADA! Artistas do circo e da magia nos contam alguns perrengues que passaram
Gustavo Gaia
Artista circense da Trupe Gaia
carlos hauck
A maior palhaçada que fizeram comigo foi uma mágica ter dado certo somente durante os treinos. Ela nunca dava errado quando eu a treinava, mas não funcionou no espetáculo. Algumas pessoas ficaram inconformadas e iam até o acampamento para ver se eu conseguia mesmo fazer o truque. Quando elas chegavam lá, a mágica dava certo!
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arquivo pessoal
carlos hauck
Contrataram o Grupo Galpão e quando chegamos na cidade, fomos informados que o show estava cancelado. Chegaram a oferecer um quadro para amenizar a situação, mas tudo que queríamos era o tanque cheio para voltarmos para BH.
divulgação
Teuda Bara
Sócia-fundadora do Grupo Galpão e ex-integrante do Cirque du Soleil
Kuringa
Circo da Meia Noite A maior palhaçada que fizeram comigo foi cortar meu telefone mesmo com as contas pagas. Cheguei a acumular 43 protocolos de atendimento e receber a visita de 10 técnicos. Já fazem seis meses e até hoje nada! O pior é que as contas continuam chegando, como se eu estivesse usando o telefone. Estou processando a empresa e meu telefone continua bloqueado!
Mágico Renner Vice Campeão em magia geral no Encontro Mundial de Mágicos, em 2007 Fui contratado para fazer um show e, na véspera, mudaram a data da apresentação. Quando chegou próximo ao dia da segunda data, adiaram por duas semanas. Fui para o Chile e marquei minha passagem de volta de acordo com a data da apresentação. Poucos dias antes do retorno, deixam um recado no meu escritório informando que o show havia sido cancelado. Eu já tinha comprado passagem, feito nota fiscal e mudado minha agenda, e a mulher simplesmente deixa um recado avisando que não iria ter mais o show. Palhaçada!
Layla Roiz
divulgação
eduardo motta
arquivo pessoal
Atriz e palhaça - Doutores da Alegria Quando eu era adolescente, uma amiga mais experiente me aconselhou a não usar a língua na hora de beijar. Meu grande momento foi numa festa de aniversário e na hora H fiz tudo certo: beijei sem língua, achando que estava arrasando. Para quê? Fui assunto a festa inteira e paguei o maior mico com a turma. Palhaçada!
Rogério Sette Camara
Diretor da Spasso Escola Popular de Circo A maior palhaçada que fizeram comigo foi quando rasparam minha cabeça na fila do exército, mesmo já tendo sido dispensado do alistamento!
Marcos Casuo
flavia cedro barroso
Apagar as trilhas sonoras do esquete de um evento com mais de 45 mil pessoas e me fazer pagar um mico na frente dessa galera toda!
mario cardoso
Ex-integrante do Cirque du Soleil
Marcelo Mansfield
Comediante stand up Fui me apresentar para os funcionários de uma fábrica. A turma já estava bastante bêbada quando entrei no palco. Eu tinha que apresentar o pessoal da banda Fundo de Quintal e eles não queriam entrar comigo no palco por nada, mas eu os obriguei, dizendo: ”se eu me fodi, vocês também vão se fuder”.
Luís Sartori do Vale
Bruno Barroso é artista plástico e criador dos produtos Lamparina Uma das maiores palhaçadas foi terem marcado comigo uma apresentação na data errada. Fiquei, literalmente, com cara (e vestido) de palhaço, sem saber o que fazer.
andré baumecker
Palhaço Lamparina
Malabarista, acrobata e mágico, já atuou em eventos como o Festival Mundial de Circo do Brasil. Atualmente, é integrante da companhia de circo francesa Archaos Quando eu estava na Bélgica, fiquei sabendo que compraram um carro no meu nome, apenas com meu CPF e minha data de nascimento!
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santo antĂ´nio do leite
do por Bernar
ck s Carlos Hau Biagioni foto
Patrizia e Bernardo. Quando uma geração estranha encontra a outra
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Hippies do Leite Loucos, gringos, artesãos e viajantes. Relatos de uma quase sociedade alternativa Rua do Cruzeiro, número 51. Olhando pela janela da lateral esquerda de seu pequeno ateliê, Patrizia consegue ver a igreja de Santo Antônio, uma construção pincelada em azul escuro, simples e pequena, e também o começo de sua rua inclinada e sem asfalto, por onde já subiu incontáveis vezes carregando latinhas de tinta, esboços de máscaras e todo o artesanato que vendia na Feira Hippie de Belo Horizonte, quando ainda acontecia na Praça da Liberdade, igualmente aos domingos. Seus olhos estão brilhando e nenhum sentimento do mundo seria capaz de descrever o que sente quando relembra os primeiros dias na cidade. Pelo reflexo do vidro armado na janela, consegue ainda enxergar contornos falhos do meu corpo, um jornalista levemente barbado e de alguns anos de estrada, nitidamente se trata de mais um entusiasta daquilo que ela mesma reconhece ter sido uma “tentativa frustrada de construir a tal da sociedade alternativa”, logo ali, no meio do mato, a 25km da boa e velha cidade de Ouro Preto. Estamos em Santo Antônio do Leite, antigo reduto de hippies malucos, sensatos, inconsequentes e artistas. Uma época em que até esses adjetivos mais controversos viviam em plena harmonia. Hoje, isso tudo pode parecer uma grande bobagem, uma armadilha do passado, uma leviana música de Raul Seixas e até mesmo uma utopia barata de mentes estupidamente escrupulosas. Mas, para quem viveu a juventude brasileira de 20 ou 30 anos atrás, tudo fez – e continua fazendo – algum sentido. Em meados dos anos 1980, a ditadura militar estava finalmente perdendo força e
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Isabelle coloca Bernando para pensar no templo mágico do Prana Lorien
a abertura política se tornara inevitável. Frente às múltiplas possibilidades do futuro, ao entusiasmo da campanha Diretas Já e ao característico clima tropical brasileiro, o nosso caloroso país parecia um lugar e tanto para viajantes do mundo inteiro aportarem os seus pensamentos mais subversivos. Patrizia Rampazzo na época com vinte e poucos anos, tinha largado tempos antes uma vida confortável na Itália para “cair no mundo, ver, experimentar e conhecer novos horizontes”. Esteve pelos quatros cantos da Ásia, Europa e, mais tarde, começando pelo México, desceu todo o continente americano desbravando tribos, vilas e cidadelas, sobrevivendo aos trancos e solavancos com a grana curta que recebia vendendo artesanato. Quando chegou ao Brasil, já em 1992, soube de alguns amigos que conheceu na estrada da existência de Santo Antônio do Leite. “Como eu não tinha nada a perder...” – que frase incrível! – “...resolvi ver o que estava acontecendo em Minas Gerais.” Por aqui, uma turma inteira de argentinos, colombianos, peruanos e paraguaios já estava esperando, esquentando os tambores e cantando. Sempre cantando. No meio disso tudo, estava uma jovem hippie alta e morena. Seu nome era Isabelle. JARDINS DA BIOVIDA Descobri a Isabelle Rochany e o Prana Lorien por acaso. Já tinha ouvido falar que Santo Antônio do Leite era um dos destinos imprescindíveis para quem estava atrás da tão proclamada Sociedade Alternativa e, depois de passar por São Thomé das Letras, Trancoso, Camping Rock, Moeda, Arambepe, Trindade e Aiuruoca, resolvi tirar um dia para conhecer
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arquivo pessoal
Gringos do Leite caem na estrada em alguma primavera dos anos 1990
o distrito, localizado em Ouro Preto. Porém, quando já estava a apenas 2km da chegada, vi na entrada de uma estrada de terra uma plaquinha com os dizeres: “Prana Lorien. Yoga, meditação e ecologia”. Nunca meditei e, até alguns anos atrás, ioga era apenas o apelido de uma velha amiga que usava tantas substâncias estranhas que nunca dizia mais que três palavras: “Pô, relaxa, bicho”. Mas, “como eu não tinha nada a perder”, resolvi parar para um chá. Do asfalto até o Prana, que também é uma pousada, não se leva mais que dez minutos. E não existe nada em volta. Apenas o barulho dos pássaros, um céu imenso e o cheiro inconfundível da natureza. Isabelle está em frente a um templo enorme, onde ministra aulas de ioga, e o sorriso que traz no rosto não esconde a satisfação que guarda do próprio passado. “Foi um tempo mágico, uma sensação constante de que estávamos no caminho certo, fazendo os nossos trabalhos e ganhando o nosso dinheiro”, conta. Ela, assim como todos os outros companheiros que desembarcaram “no Leite” nos anos 80, escolheu a cidade por conta das possibilidades de fazer a vida com a prata que existia na
Era um tempo de muita maconha, festas que duravam 72 horas e uma vontade irreparável de "cair fora". Tudo aquilo que os habitantes "normais" de Santo Antônio do Leite tinham medo
região e, claro, com o objetivo de experimentar uma vida diferente e desapegada dos valores tradicionais. Era um tempo de muita maconha, festas que duravam 72 horas e uma vontade irreparável de “cair fora”. Tudo aquilo que os habitantes “normais” de Santo Antônio do Leite tinham medo. FILHOS DA PRIMAVERA Mas os hippies tinham chegado para ficar e, sem que percebessem, ao longo dos anos foram se tornando os grandes responsáveis por fomentar o turismo da vizinhança. Além de construírem um espaço de arte e colocarem o Leite nas conversas de quem se aglutinava na Feira Hippie de Belo Horizonte, também desenvolveram uma série de oficinas de artesanato, pintura e desenho. De dois em dois anos, levantavam sozinhos a extinta Festa da Primavera, que promovia três dias de cultura para quem quisesse aparecer. Sem cobrar nada, grupos como Galpão, Trampolim e Berimbrau ajudaram a construir momentos que ficariam eternizados muito além das fotografias da época. Patrizia e Isabelle trocam poucas palavras hoje em dia. Enquanto a primeira escapou daqueles tempos estranhos com o ateliê Pacha, onde cria máscaras venezianas, a segunda cuida do templo, de uma horta especial e da pousada, que recebe mais paulistas do que mineiros. Em comum, além dos 46 anos de vida e estrada, está a certeza de que não fundaram e nem encontraram uma sociedade alternativa. Porém, para quem passa uma tarde em Santo Antônio do Leite, fica claro que elas conseguiram, sim, achar uma alternativa diante de todos os problemas do mundo: a doce e irreparável felicidade. Bernardo pensa em Gandhi, Huxley, Tolkien e na sociedade alternativa
:: FERIADO DE OUTUBRO :: a partir de
10x R$ 129,80 R$ 1.298 total Ă vista
apoio
Centro de Aventuras Interatividade
a música e o tema
por Kiko Ferreira
O GRANDE CIRCO MÍSTICO
O circo está de novo em moda no Brasil. Depois da primeira vinda do Cirque de Soleil, as escolas de circo e os festivais se multiplicam em alunos, fãs, mães orgulhosas apoiando filhos, namorados e namoradas equilibrando agendas entre aulas de trapézio e malabares. Por tudo isso, é hora de lembrar uma obra-prima. Um musical sobre o circo. Aliás, um poema sobre o circo. "O Grande Circo Místico", poema do modernista alagoano Jorge de Lima, publicado em 1938 no livro ‘A Túnica Inconsútil’, trata da história real acontecida na Áustria, no século XIX, em que um médico da aristocracia se apaixona por uma acrobata e inicia a dinastia do Grande Circo Kniepes – um circo mambembe, cigano. Resumo místico de todas as dores e de todos os odores e sentimentos humanos. Em 1982, o balé do teatro Guaíba, em Curitiba, convidou Chico Buarque e Edu Lobo para comporem a trilha do espetáculo baseado no poema, com roteiro de Naum Alves de Souza. O resultado, que foi ao palco com mais de duas centenas de apresentações e sucesso até em Portugal, saiu em disco no ano seguinte. Com Edu e Chico afiados e afinados, jogando para a plateia com habilidade de mágicos equilibristas, o disco apresentava um elenco na linha quem-é-quem da chamada MPB, às voltas com letras e enredos com eficiência de Chaplin e Fellini na tradução para a
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carlos hauck
Os musicais estão na moda no Brasil. As belas, as feras, os laquês, as danças sincronizadas e fiscalizadas pelos produtores da Broadway, com adaptações de letras nem sempre felizes, nem sempre fiéis, nem sempre inspiradas
reprodução
bruno veiga
Devido ao sucesso, o musical foi levado para os palcos de teatro pela Voz & Companhia
vera donato
linguagem do circo, dos dramas, paixões e artifícios do (sobre)viver humano. Depois desse disco, nenhum dos intérpretes fez nada melhor. Milton chegou ao ápice como intérprete com a valsa ‘Beatriz’, aquela que ensina que "para sempre é sempre por um triz". Gal refinou sua alma blue para contar a história de Lily Braun. Tim Maia mostrou potência de Broadway no papel da fera que faz poemas concretos com letras de macarrão. Zizi Possi começou ali sua maturidade como cantora, com o tema do circo. E Gilberto Gil, que havia tentado falar com Deus para impressionar o Rei Roberto, fez um monólogo para o Criador sobre todas as coisas. E até Jane Duboc e Simone, em momentos de gosto duvidoso em suas carreiras, cravaram interpretações históricas entre um namorado e uma valsa de clowns. Quem quer saber como traduzir em música o conceito de obra-prima precisa ouvir ‘O Grande Circo Místico’, um musical superlativo, sem truques de laser nem gelo seco. Mas com músicas para ficarem na memória, como uma mágica bem resolvida. O poema 'O Grande Circo Místico',
que serviu de inspiração para o espetáculo de Naum Alves de Souza e para a trilha de Edu e Chico, vai virar cinema. O diretor Cacá Diegues promete filmar em 2010 um longa-metragem baseado no poema de Jorge de Lima. O roteiro já estaria praticamente pronto. Cacá promete que não será um musical, mas que vai usar as canções do espetáculo. A inspiração fez com que não só o poema como também o próprio Jorge de Lima – nascido em 1895, em União dos Palmares, Alagoas, e morto em 1955 – voltassem a ser assuntos de interesse das novas gerações. Médico formado entre Salvador e Rio de Janeiro, ele foi político e chegou a ser presidente da Câmara dos Deputados de Alagoas. Aprendeu artes plásticas por conta própria e estreou na literatura com o livro de fotomontagens 'A Pintura em Pânico', com prefácio do poeta Murilo Mendes. Além de 'Túnica Inconsútil', onde está o poema do circo, ele lançou 'O Mundo do Menino Impossível' (1925), 'Novos Poemas' (1930), 'Tempo e Eternidade' (1935), 'Poemas Negros' (1947), e o clássico 'Invenção de Orfeu' (1952). Começou como parnasiano, mas adotou o modernismo e o verso livre ao longo da
carreira literária. O disco com a trilha ganhou várias edições. Primeiro, saiu em LP, com um belo encarte com ilustrações do próprio Naum Alves de Souza. A primeira edição em CD foi simples, com pouca circulação e sem grandes inovações em relação ao disco de vinil. Recentemente, o trabalho voltou às lojas com novidades, numa edição caprichada da gravadora Dubas. A edição digital traz cinco faixas instrumentais inéditas. 'Dança de Lily Braun' é uma espécie de preparação para 'História de Lily Braun', gravada, em versão mais pop, no disco de estreia da nova revelação da MPB, a paulista Maria Gadú. Além dela, aparecem 'A Dança dos Banqueiros' e 'A Levitação', sem conexão com o material já conhecido, e 'O Anjo Azul', feita para a remontagem de 2002, com solo de Márcio Montarroyos no trompete. Mas o grande trunfo da versão é a recuperação de uma gravação de 'Beatriz', feita ao piano por Tom Jobim, que mostra outro ângulo da personagem, chamada, no original, de Agnes. Chico Buarque fez a troca por achar difícil encontrar rimas para o primeiro nome.
Os criadores do Circo Místico: Chico Buarque e Edu Lobo
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chile
Vida de mochileiro
Entre deserto e vulcões, aventuras de um fotógrafo pelo Chile texto e fotos Bruno Senna
5435m, Cerro Toco Checo o altímetro e faltam 70m de ascensão até o cume do vulcão Cerro Toco. Parece pouco, mas acima dos 5000m de altitude, a falta de oxigênio transforma o menor dos esforços num sofrimento absurdo. A sensação térmica é de -10°C, a cabeça explode de dor, os músculos ficam exaustos e a vontade de vomitar aumenta a cada passada. Mesmo assim, recuso-me a utilizar o oxigênio artificial. Olho para a vista dos milhares de vulcões da região do altiplano no Atacama e tento recordar como tudo começou. O mundo real me parece tão distante. O charmoso vilarejo de San Pedro de Atacama, no deserto mais árido e mais alto do mundo, é popularmente conhecido como San Perro de Atacama (para você que matou as aulinhas de espanhol, “perro” significa “cachorro”). A cidade é dominada pelos vira-latas, que tomam conta dos bares, barram a entrada em lojas, escoltam turistas e alguns dizem que até podem fazer tours bilíngues. A paisagem surreal da região no momento do pôr do sol transporta qualquer um até Marte... A tangerina mais cara do mundo ...No Atacama, peguei uma tangerina (ok, roubei em um tour) e deixei no fundo da mochila. Fui para a Argentina e, no retorno, fui um dos “eleitos” para a temida vistoria de bagagens. Estupidamente, como um bom turista desavisado, declarei que não levava nada orgânico. Conclusão: tive que pagar a simbólica multa de R$ 400. Após um saboroso chá de cadeira, o señor delegado me chamou para o famoso sabão. Expliquei que me esqueci da frutinha na mochila, falei que era um repórter da Ragga e estava escrevendo uma matéria sobre o impacto da gripe suína no turismo da região. Se fosse obrigado a pagar, ficaria “con una mano adelante y la otra
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atras”. O señor delegado Ricardo Fernades ficou com dó e me deixou ir, depois de me dar um leve puxão de orelha. Nota mental: coma suas tangerinas roubadas. Pucón: Apenas o homem de fé passará A famosa frase do clássico filme ‘Indiana Jones e a última cruzada’ deveria ser lei para todo viajante. São nos momentos de maior perrengue que as maiores aventuras se apresentam. Filosofias de viagem à parte, chegamos a Pucón para escalar o vulcão Villarica. Como bons desavisados, nos esquecemos de um detalhe: checar a previsão do tempo. O que fazer nos dias de frio, neblina e chuva numa cidade de esportes ao ar livre? A decisão lógica seria fazer as malas, a nossa foi fazer um rafting insano pelas intrépidas e geladas corredeiras do rio Trancura (não, ele não tem nada de tranquilo, minha bunda que o diga ao acertar uma pedra durante uma vaca)... Mochila nas costas, próximo destino?
Um chá de cadeira na delegacia pela posse de uma tangerina e um rolê de rafting pelas águas do Trancura foram algumas das aventuras do nosso repórter-fotógrafo
...O conceito de mochileiro cria um grande mito de aventureiros destemidos com suas mochilas, percorrendo grandes distâncias. Em grande parte é verdade. No fim da viagem, a cargueira de 75L pesava 26kg e a mochila de fotos, nada menos que 12,5kg. Salvo o caso do Hulk, carregar esse trambolho somado às compras se torna uma aventura pela sua simples execução, mas a vontade de explorar e conhecer é sempre maior, supera qualquer contratempo ou imprevisto. E quem já foi sabe, viajar é nada menos que viciante. Confira o texto na íntegra e mais fotos no ragga.com.br
quem
é RAGGA
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fotos Dudua’s Profeta
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MAX WEBER
por Lucas Machado fotos Roberto Assem
Max usa: camisa Marc Jacobs, bermuda Prada, sapato Juliano Menegasso, cinto Isabela Capeto e pulseiras Tony Jr O endereço da entrevista já dizia tudo. Oscar Freire, uma das ruas mais elegantes do mundo. Após um átimo de espera, fomos recebidos por Max Weber, um dos maiores expoentes do makeup brasileiro. Seu trabalho carrega sentimentos e significados, assim ele vai construindo e conquistando os principais desfiles, editoriais e revistas mundo afora. “Você pode construir sua vida sem limites, principalmente se for com muito amor e liberdade, pois esse é ‘O segredo’”, comenta. Max está nos castings das principais supermodels brasileiras, entre elas Caroline Ribeiro, Raquel Zimmenmann, Michelle Alves e Ana Cláudia Michels. Mas foi com as amigas Isabeli Fontana e Naomi Campbell que produziu trabalhos importantíssimos. Atuando ao lado de fotógrafos como J.R.Duran, Miro, Bob Wolferson e Jaques Dequeker, Weber construiu esse império de capas e editoriais de centenas de revistas, que você pode conferir na foto ao lado, tirada na sua casa por nossa equipe. Sobre sua nova fase, entre muitas novidades, Max ministrou um curso de maquiagem e cabelo na Escola São Paulo e o resultado não poderia ser outro: as inscrições esgotaram nos primeiros dias. “Você nasce e ganha um baú, ali coloca todas as coisas que aprendeu na vida. Se não colocá-las para fora, ele transborda e você não recicla.” Na real, temos que procurar sempre sermos o melhor, porque o bom é momentâneo. Isso a gente sabe, mas não custa repetir.
Kit Sobrevivência: SANTO ANTÔNIO Presente Isabeli Fontana
LEMBRANÇAS DE VIAGEM Gato do Egito Galo da República Dominicana
MÁSCARAS Conjunto da África
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BOUNDLESS
Belo Horizonte/MG: S茫o Pedro Mangabeiras Savassi
31 3223 2146 31 3223 0487 31 3317 4250
Divin贸polis/MG: Centro
37 3222 9025
Rio de Janeiro/RJ: Barra da Tijuca Shopping Downtown Bloco 22 21 3449 4080
CIRCO
Entre o escritório e a lona
por Bruno Mateus fotos Bruno Senna ilustração Anne Pattrice
Insatisfeito com o terno cinza, o empresário Salomão Teixeira de Souza resolveu aderir ao look: calça listrada, sapatão e suspensórios Empresário e palhaço são duas profissões que, a princípio, não têm nada em comum. A sisudez do mundo empresarial contrasta com a avacalhação – no bom sentido – do circo. Mas, para Salomão Teixeira de Souza, 64 anos, negócios e espírito circense fazem parte do seu cotidiano e convivem em harmonia. “Apesar de não ser palhaço, tento levar o espírito do circo para o meu dia a dia. Esse estilo nunca me atrapalhou. Sou assim dentro de casa e da empresa. Quando ando sério, todos me perguntam: onde está o Salomão?” Na infância, sempre ia ao circo com os pais, mas foi aos 13 que algo lhe disse que seria palhaço para o resto da vida.
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Não, ele nunca trabalhou em circo, tampouco quis fugir com alguma trupe que passou por Belo Horizonte. O que ele carrega mesmo é a essência dos picadeiros: a alegria. “Não sou palhaço real. Eu levo a vida na palhaçada, é diferente”, diz. Há uns bons 30 anos, Salomão começou a participar de espetáculos circenses. A primeira vez nunca lhe saiu da cabeça: “Estava tudo apagado, apenas uma vela acesa no meio do picadeiro. Entrei sob a luz dos holofotes. Cada passo era acompanhado pelas firulas da orquestra. Enchi o peito e apaguei a vela.” Depois desse número, ele voltou ao circo como um palhaço vendedor de pirulitos. Salomão gosta tanto de circo que já foi a 13 espetáculos diferentes do Cirque du Soleil. Usar meio bigode, trabalhar com bermudas avacalhadas com um lado maior que o outro, chegar ao escritório de manhã e dar boa noite e vender picolé a um centavo – aceitava apenas esse valor, não havia troco em hipótese alguma
Salomão não gosta de circo com animais: “O melhor são os palhaços e os mágicos”
Esse estilo nunca me atrapalhou. Sou assim dentro de casa e da empresa. Quando ando sério, todos me perguntam: onde está o Salomão?”
PALHAÇO CIVIL – na praia de Cabo Frio são algumas das brincadeiras que fazem parte do repertório do empresário. (Pausa para os negócios: Salomão atende o celular vestido de palhaço na sala de sua casa.) Outra farra ocorreu durante o Plebiscito, em 1993, que decidiria qual regime político seria adotado entre Presidencialismo, Parlamentarismo e Monarquia. O empresário, numa brincadeira com os amigos, candidatou-se. Surgiu, então, o Rei Salomão. “Se não fosse o circo, eu não teria o desprendimento de me candidatar a rei do Brasil.” Parece que a paixão pelo circo está se perpetuando através de gerações em sua família. Três dos cinco netos do empresário fazem escola de circo. Uma brincadeira, em especial, nunca sairá da memória do empresário. “Foi no aniversário de 75 anos da minha mãe. Me pintei e fui para a festa com os Mensageiros do Rei. Ninguém sabia, todos perguntavam onde eu estava. Entrei tocando com o pessoal. Quando comecei o discurso, minha mãe reconheceu no ato. Este dia foi espetacular. Foi a maior palhaçada que eu arrumei”, lembra. Nem os convidados para o aniversário de seus 50 anos escaparam das brincadeiras. Na entrada, eram distribuídas camisas azuis e brancas para separar as equipes. Depois de diversos jogos, era conhecido o time vencedor, que tinha direito a um verdadeiro banquete. Aos perdedores, pão com manteiga. Naquele fim de tarde, sentado no sofá, ele diz que “com esse espírito é mais fácil levar a vida. Os problemas ficam pequenininhos”. Sem dúvidas, Salomão, mas tem alguma coisa que tira você do sério? “Sabe que eu não estou sabendo?”, responde, entre um pão de queijo e outro.
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fotos Julia Lego (Sincro) modelo Izabella Starling
SALVE RAINHA
por Daniel Ottoni
Famosa por colecionar sapatos e amantes, Maria Antonieta entrou para a história por sua vida de excessos: desde a gastança com roupas e artigos de luxo, passando pelas festas grandiosas e culminando com a guilhotina, após ter sido escolhida objeto do ódio da revolução francesa. Foi com 14 anos que a austríaca de nascença se tornou francesa, graças ao casamento com Luís XVI, membro de uma das dinastias mais marcantes do mundo. Com elevação do maridinho ao poder, é elevada ao posto de rainha sex-symbol-tema da cinebiografia dirigida por Sofia Coppola (tá bom, isso foi mais tarde).
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| sapato
| blusa Apartamento 03 | lingerie La Perla | Barbara Bela | brincos, cadeira e plumas Good Mood |
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Quanta coincidência. Izabella Starling, nossa musa da vez, também teve uma grande transformação em sua vida aos 14, quando foi descoberta pelo olheiro de uma agência num ponto de ônibus de BH. Dos 14 aos 17, ela deu os primeiros passos nas passarelas. Depois, deu um tempo e voltou à ativa, recentemente, aos 19. Há tempos, ela já é parte da equipe da Ragga. Mas, entre os diversos trabalhos que fez para a revista, o preferido foi encarnar a Ragga Girl. “Adorei fazer o ensaio. O pessoal da equipe foi muito bacana e sei da importância de um trabalho como este”, afirma. Ela gosta da carreira, mas acha que é “melhor deixar as coisas aconteceram naturalmente”. Como uma rainha, não se priva de nada. “Adoro comer. Se pudesse iria ao McDonald's todos os dias”, entrega. Da academia, está distante há três anos (mas pode ficar tranquila, Izabella, você não precisa de nada malhar, mesmo). Além disso, ela se dedica à faculdade de administração.
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| lingerie La Perla | | colar Barbara Bela |
| blusa,
brincos, plumas e flor Good Mood |
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“O que mais gosto nessa coisa de modelo é chamar a atenção, todo mundo parar para olhar você”, diz, contrastando com a postura que assume no dia a dia. “Sou bem discreta. Não gosto de chegar em um lugar falando que fiz este ou aquele trabalho”, conta. Mas esta beleza não pode ser desperdiçada. Os administradores que me perdoem, mas o lugar de Izabella é em cima das passarelas.
| cadeira
| acessórios Acervo | e almofada Good Mood |
PRODUÇÃO aninha dapieve e li maia MAQUIAGEM laninha braga Apartamento 03 (31) 3271-6067 Bárbara Bela (31) 3291-0773 Good Mood (31) 3291-1890 La Perla (31) 3284-4488 Laninha Braga (31) 9146-9637
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EU
QUERO!
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Quem morre de inveja dos moleques do clube toda vez que os vê saltitando numa cama elástica só pode ser curado de um jeito: comprando uma. Este modelo da Mataotramp é feito em ferragem reforçada e com molas de alta tensão. São 5m de comprimento, 3 de largura e 1,15 de altura. O nome também é mais sério: “trampolim acrobático”. No fim, o objetivo é o mesmo: pular muito, igual aos moleques do clube. R$ 6.452
divulgação
Não foi à toa que eles migraram dos picadeiros para as raves. O swing de fitas serve tanto para brincar no picadeiro, quanto para dançar em uma festa de música eletrônica. Dá até para tirar aquela onda de artista circense. R$ 269
Swing de fitas ou Poi
‘A trapezista e a lua’ é o nome da tela do artista plástico Otávio Fantínato. Ele trabalha com arte circense em espetáculos de rua, circos, mostras e oficinas há dez anos e não tem dificuldade de transportar o tema para as pinturas. Óleo sobre tela, 40x50cm. R$ 2.100
Na parede
paulo ygar
Pula-pula
divulgação
...CIRCO
Não é difícil entender porque fugir com o circo foi o sonho de jovens de diversas gerações. A mistura de mágica, arte e viagens de cidade em cidade inspirava a ideia de um dia a dia mais emocionante sob a lona e na estrada. Mesmo sem pensar seriamente em se tornar trapezista, não é preciso desistir do que o circo tem de melhor. Alguns produtos são ideais para conhecer esse universo. Possuindo alguns deles, como o DVD 'Rock and Roll Circus', dos Stones, ou o bom e velho monociclo, dá até para intercalar sua atuação como respeitável público e atração principal. Todo dia pode ser dia de espetáculo. Sim, senhor.
ROCK NO PICADEIRO
Foi sob a lona do circo que, em 1968, os Rolling Stones receberam amigos como Eric Clapton, John Lennon, Yoko Ono, The Who e Jetrho Tull para shows que fizeram parte do que foi um dos mais incríveis especiais de TV já gravados. A fita acabou sendo engavetada; dizem as más línguas que Mick Jagger achou a performance do The Who superior a dos Stones. Só em 1996 o show foi lançado em CD e VHS. A versão em DVD saiu em 2004. Assistindo, fica difícil saber qual banda mandou melhor. A única certeza é que Yoko era a única desafinada... Mas, até o momento dela no picadeiro é histórico, graças às palminhas e à cara de aprovação de Lennon. Imperdível. R$ 59
CD Clube (31) 3212-1570 // Dym Malabares (11) 2345-4132 // Mataotramp (19) 3837-3000 // Palhaço Lamparina (31) 2526-9956 // Otávio Santinato (11) 6608-2605 // Gaia Malabares (31) 3444-6791
Pinta de palhaço
Com aro Standard 20”, quadro em aço carbono e pneu cross, este monociclo da JR Malabaris é para quem quer exercitar o equilíbrio, a coordenação motora e os músculos da panturrilha. É divertido, mas dá para descobrir que a vida no circo não é só brincadeira: tem que suar. R$ 430
carlos hauck
Mono-roda
carlos hauck carlos hauck
*Os preços foram divulgados em agosto e são sujeitos a ajustes.
Vai longe a época em que um nariz vermelho e redondo era sinônimo apenas da alegria do picadeiro. Ao longo dos tempos, ele passou a ser também símbolo de descontentamento e presença certa em protestos. Com tantas coisas contra as quais se rebelar (ou pelas quais se alegrar), o melhor seria andar com o nariz de palhaço dependurado no pescoço. A estampa criada pelo artista plástico Bruno Barroso – o palhaço Lamparina – dá conta do recado. R$ 15
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O DIA EM QUE O MUSEU VIROU PALCO DO ROCK Nada melhor do que celebrar aniversário com boa música e, obviamente, um ótimo lugar. No último dia 28, o Museu de Arte da Pampulha foi palco para a comemoração dos 4 anos da Ragga. Com muito rock ‘n’ roll e gente bonita, a festa Let’s Rock! foi embalada pelo DJ Gustavo Caetano e a banda 9ora e seus convidados, que tocaram clássicos do rock. Depois do show, DJ Robinho ficou encarregado de manter a galera animada até o amanhecer, quando o Sol raiou e transformou o cenário em um digno fim de festa, daqueles difícil de esquecer.
fotos Estúdio Sincro
AGRADECIMENTOS
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por Alex Capella
arquivo pessoal
Nem todos os prefeitos recebem bem os circos, ainda vistos como possíveis focos de confusão nas pequenas cidades do interior do Brasil, onde costumam se instalar. Em muitos casos, o temor dos gestores municipais é o da ingênua primeira-dama fugir com algum trapezista sedutor. Agora, nos municípios maiores, onde a palhaçada corre solta em todos os poderes, a história é outra: a proibição da exibição de animais irracionais em espetáculos circenses tem se tornado uma tendência para desespero de alguns animais racionais. A ausência de elefantes estressados em banquinhos, de leões magricelos sob o chicote e de macacos zuretas em praticáveis é cada vez mais comum nas principais companhias circenses do mundo. No Brasil, estima-se que a exibição desses animais em circos é proibida em, pelo menos, 50 municípios. Entre eles, estão Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba. Agora, Belo Horizonte pode ser a próxima cidade a proibir esse tipo de espetáculo discutível, baseado na exploração de animais retirados, indiscriminadamente, de seu habitat natural. O projeto de lei nº 02/2009, que proíbe o emprego de animais em espetáculos públicos e em circos dentro dos limites da capital mineira, foi aprovado, em primeiro turno, na Câmara Municipal. A proposta foi aprovada por unanimidade. "O uso de animais em circos é uma atrocidade. Belo Horizonte precisa por fim ao
sofrimento desses bichos que, muitas vezes, são submetidos a situações extremas", diz o ambientalista e coordenador da ONG Núcleo Fauna de Defesa dos Animais, Franklin Oliveira. A posição de ambientalistas e de alguns legislativos municipais passa a falsa impressão de que o tema encontra consenso em toda a sociedade. Mas não é bem assim. Tem muita gente que não acha graça nenhuma na esdrúxula mulher-barbada, na esquisita da contorcionista, no picareta do mágico e, muito menos, no tarado do engolidor de espadas. Sem contar as famílias que vivem, há anos, da arte do circo tradicional e seus animais. “Tem gente que não sabe fazer outra coisa para sobreviver”, lembra o diretor do Departamento de Circo do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões de Minas Gerais, Lindomar Simões. Caso o projeto seja aprovado em segundo turno e transformado em lei pelo prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), além de encontrar os terrenos, obter as licenças necessárias para funcionamento, negociar a instalação de água e luz, e disputar espaço com os meios modernos de entretenimento, a turma do circo terá de devolver a bicharada à natureza, caso queira se apresentar na capital mineira. Do contrário, estará sujeita à multa de 5.000 UFIR’s (R$ 5.320). Caro pra burro, ou seria pra ca...chorro?
Esporte: Karatê-Do Modalidade: Karatê Cidade: Belo Horizonte, MG Rogério Alvarenga Idade: 39 Altura: 1,78m Peso: 73kg Naturalidade: Governador Valadares, MG Por que pratica? É um esporte que amo muito, me faz sentir bem física e mentalmente. Defino como estilo de vida e disciplina; melhora a autoestima e autoconfiança.
Compete desde: 1998. Metas para 2009: Ser campeão brasileiro ou estar entre os três primeiros colocados.
Melhor resultado em competições: Heptacampeão estadual do ranking capixaba, terceiro lugar no brasileiro de 2008 e campeão mineiro estreante de 2001. Contato: (31) 9994.5278 rogerio-saci@hotmail.com
Atenção, atleta em busca de patrocínio, cadastre-se na seção Adote um Atleta no portal Ragga (revistaragga.com.br), ou escreva para: redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
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manoel serafim
jairo chagas/jornal da manha
Cidades fecham o cerco aos animais (ir) racionais
1°Tudo que se faz no sinal de trânsito
_Esticar faixa, fazer a dança do quadrado, roubar, jogar duas bolinhas de tênis para o alto, pintar o rosto, ficar sorrindo, etc.
2°Vender brigadeiro na escola
_ Ou DVD pornô,
claro.
3°Panfletagem
_ Oito horas debaixo do sol, nenhuma gota de água, motoristas insatisfeitos e um saldo de R$ 5 no final do dia. Em alguns dias, esses sujeitos vão se rebelar e partir para o ataque. Cuidado!
reprodução
A vida não perdoa: ou a gente se vira ou a gente não chega lá (não sou um sábio da montanha, mas essa frase foi instigante). Enfim, a verdade é que precisamos atracar os sacolejos da vida, os trampos, os bicos, vender picolé na praia, flipar hambúrguer nas Américas e vender chinelos como se fossem tênis aerodinâmicos. Somos malabaristas, por quê não? Estamos brincando com os pinos da vida, jogando, calculando e acertando cada um dos giros que titubeiam pelo ar. E aqui estão os nossos ofícios, o nosso ganha-pão. Qual será o maior malabarismo para ganhar a vida?
último ranking
malabarismos para ganhar a vida
top 10
4°Tentar a vida na América
O rock morreu
5°Animar festa de criança
Na última Ragga, a gente colocou a pergunta que não quer calar, o grito surdo dos roqueiros, o grande mistério do universo: quem é o maior símbolo do rock ‘n’ roll nacional? Você respondeu e nós publicamos. Se você for fã de Nx Zero, é melhor pular esta página.
_ Porque aqui, no Brasil, não tá dando mais não, bicho.
_ Todo mundo sabe que é duro aguentar moleques catarrentos, pirracentos e lambuzados dos doces mais estranhos já fabricados no Planeta Vermelho.
6°Telemarketing
_ Vamos estar tentando ser alguém enquanto humanos para vencer na vida. E tudo em três vezes sem juros.
7°Montar uma banda de pagode
_ Basta socar o dedo no pandeiro e abrir aquele sorrisão. E o nome? Molejão!
8°Vestir de mascotes em geral
_ Jaspion, Mickey, cachorrão da Emive, Homem-Aranha, Capitão Caverna, Snoopy, Jack Johnson, Jiraya, Cascão, etc.
9°Dançar o tchan
_ Na boquinha da garrafa e no Faustão. O bom senso a gente deixa em casa.
10°Mas se nada der certo... hippies e cair na estrada.
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_ Nós vamos virar
1º) O rock morreu (27%) 2º) Rita Lee (25%) 3º) Arnaldo Baptista/Sérgio Dias (16%) Sim, o rock morreu. O ritmo mais quente desde a salsa cubana não aguentou tanto ácido, psicodelismo, guitarras virtuosas e o Renato Russo, um dos seus gurus mais estranhos. A verdade é uma só: se Raul estivesse vivo, Dih Ferrero não andaria por aí impune. Em todo caso, a Rita Lee está aí e emplacou até um segundo lugar nesta listinha singela. Seria culpa dos fios vermelhos? Das ervas venenosas? Dos lanças-perfumes? Eis um grande mistério. Ela é uma mutante e ponto, assim como os detentores do terceiro lugar do pódio. Arnaldo e Sérgio e sem mais palavras. Eles já merecem a terceira posição só por terem saído vivos daqueles tempos estranhos. E só não estão no primeiro lugar porque não precisam. São tão poderosos que o rock‘n’ roll nacional sem eles teria sido só mais um solo louco de axé.
JÁ INVENTARAM Mousepad musical
fotos: divulgação
Se você tem mania de batucar na mesa enquanto navega na internet, dê um descanso pra coitada. O Finger drum mousepad, além de ser um ótimo aparato para deslizar seu mouse, faz um bem danado para os ouvidos. Capaz de tocar oito diferentes tipos de som, incluindo baixo, pratos e todos os outros sons produzidos por uma bateria, o mousepad musical garante momentos de distração enquanto os intermináveis arquivos não carregam. $39.95 só na gringa.
Quase um HD externo A Kingston lançou o DataTraveler 300, primeiro pendrive do mundo com 256GB de capacidade. O DataTraveler 300 tem taxa de leitura e gravação de até 20MB/s e 10MB/s, respectivamente, e é compatível com Windows e Mac OS X, mas apenas o Windows tem suporte para o software de proteção do pendrive. Por enquanto, o DataTraveler 300 só está disponível no Reino Unido, pelo equivalente a R$ 1.800. O preço parece proporcional à memória.
por Izabella Figueiredo
Espionagem registrada Quem diria que a tecnologia chegaria até a arte da espionagem? Além de permitir que o usuário enxergue a longas distâncias, esse binóculo tem, de quebra, uma câmera digital acoplada que permite a gravação de vídeos e a realização de fotos. £29.95 na gringa.
Enunciador eletrônico de bingo As tardes de domingo nunca mais serão as mesmas na sua família. O bingo é um dos jogos sociais mais divertidos, porém, o escolhido para “cantar as pedras” nunca fica satisfeito, afinal, não pode participar da brincadeira. Esse colorido aparelhinho vai ajudá-lo a resolver o problema. Ele tem um “enunciador eletrônico”, que canta as pedras aleatoriamente e ainda faz piadinhas entre uma “cantada” e outra. Além disso, o gadget vem com cartelas e canetas para que a diversão seja completa. £19.95.
SALGADINHO reprodução
Mesmo depois da saída do Katinguelê, Salgadinho continua sumido. Sucessos como 'Engraçadinha' e 'Inaraí' não foram suficientes para fazer o pagodeiro, ex-líder do grupo, dar as caras na mídia. Nem em programas do Raul Gil e Sérgio Malandro o cara aparece mais. Aí fica difícil. Se tiver algum palpite sobre o paradeiro dele, envie para: redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br
Se lembrar de mais alguém que um dia foi reconhecido pelas ruas, mas hoje inexiste no imaginário popular, nos avise.
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Wilco (a resenha) lívia mendonça
por Suellen Dias
Para o sexteto de Chicago, ‘Wilco (The Album)’ foi assim batizado porque é o trabalho que mais se aproxima do que a banda é. Jeff Tweedy, vocalista e um dos dois integrantes remanescentes da formação original, parece contente por finalmente lançar um trabalho sem "histórias de fundo embutidas". Para Tweedy, os últimos CDs acabaram sendo marcados pelo contexto que os envolvia: problemas com gravadora, rehab (o cantor passou por tratamento para se livrar do vício em analgésicos), pós-rehab e outros perrengues. Ele diz que, apesar de os álbuns anteriores do grupo sem-
Na Rede por Taís Oliveira Baleias Assassinas :: veja em tinyurl.com/clipedoledger Heath Ledger deixou o mundo como o Coringa, mas o que ninguém sabia é que ele também dirigiu um clipe do Modest Mouse antes de morrer. ‘King rat’ só foi finalizado e lançado agora, junto com o EP ‘No one's first and you're next’. Mesmo em animação, o clipe é um pouco pesado, e o Pílula não recomenda assisti-lo após comer peixe.
pre terem sido considerados diferentes, o grupo nunca quis soar como algo que não fosse ele mesmo. Mas só agora o Wilco teria chegado lá. O sétimo trabalho do grupo mostra músicos descontraídos, satisfeitos e confiantes. Sem egocentrismo, ‘Wilco (The Album)’ gravita com tranquilidade e bem-estar em torno da própria banda. Eles se afirmam, se entregam e, mesmo correndo o risco de escorregarem na pieguice, abrem o coração. Na primeira faixa já soltam: “Wilco will love you, baby.”(Ops! Escorregão nº1). O Wilco está mais livre, sossegado e também mais saudável. Jeff até comemora que, depois de quatro anos sem fumar, sua voz está mais forte. Por outro lado, parece impossível não apontar que ‘The Album’, apesar de um bom disco, é fraco diante do que a banda já fez. Falta a esse sétimo trabalho, com exceção de ‘Solitaire’ e ‘Bull Black Nova’, o potencial de arrebatamento presente em canções de outrora, como ‘Misunderstood’ e ‘I am trying to break your heart’, entre tantas outras. Faltou a arte de sintonizar letras instigantes com melodias e arranjos que dosassem a medida exata de delicadeza e visceralidade, de angústia e esperança. Faltou conflito. Talvez tenha faltado matéria-prima. Em ‘I'll fight’, a letra diz 'eu vou lutar/matar/morrer por você' (escorregão nº2) enquanto o tom de voz e a melodia parecem anunciar um piquenique com os sobrinhos no fim de semana. Já em ‘You and I’, Tweedy e a cantora Feist fazem um dueto que ficaria melhor ao lado de ‘1,2,3,4’, integrando um álbum da canadense.
1 single, 1 libra :: baixe em download.waste.uk.com Depois de vender o disco ‘In rainbows’ pelo preço que você quisesse pagar, o Radiohead agora oferece, por uma libra, seu novo single, ‘Harry Patch (In memory of)’. A música é uma homenagem ao último veterano britânico da Primeira Guerra Mundial, que morreu recentemente. A banda não pretende gravar CDs tão cedo, então podemos esperar mais singles ou EPs por aí. Caleidoscópio :: ouça em tinyurl.com/musenovo Além da capa multicolorida do novo disco, o Muse também divulgou em seu site a primeira música de ‘The resistance’, chamada ‘Uprising’. Eletrônica e dançante, a canção não lembra muito ‘United States of Eurasia’, que já estava rolando na rede e tem uma vibe Queen. As outras músicas, só no lançamento do álbum, no dia 14 de setembro. Juno patinadora :: veja em tinyurl.com/whipitdrew Drew Barrymore estreia na direção com ‘Whip it!’, filme em que a atriz de Juno, Ellen Page, vive uma garota que desiste dos concursos de beleza para praticar roller derby, um esporte coletivo sobre patins. No trailer, Weezer e Jens Lekman servem de trilha sonora e a nova diretora aparece exercendo também a velha função de atriz. I kissed Borat :: veja em tinyurl.com/katyborat Já imaginou o Borat cantando Katy Perry? É o que lembra esse cover da música ‘Hot'n'cold’, com sanfona e pandeirola, da banda Los Colorados, que não é do Cazaquistão como o personagem de Sacha Baron Cohen, mas da Ucrânia. Mas aconteceu no festival Sasquatch.
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fotos: divulgação
Assinado: Tiê por Rodrigo Ortega
tas, o hino nacional do país dela mesma. "Eu que tenho um nome diferente / Já quis ser Maria." O tom confessional sem melodrama nos desconserta e aproxima de Tiê. Acostumados com a música cada vez mais teatral de hoje, tomamos uma rasteira e ficamos caídos por ela. Em ‘Aula de francês’, ela explica que os versos vieram exatamente de onde o título indica e que essas são as únicas palavras que ela sabe da língua. É, primeiro, uma rara mostra de humildade no meio do universo de pedantismo que nos rodeia. Segundo, uma maneira simpática de ensinar que para ela a voz e a melodia vêm antes das palavras. O show, assim como as músicas, foi curto: apenas oito músicas das 10 que estão no disco. Antes de terminar, ela ainda cantou dois covers, que parecem estar no repertório só para provar seu próprio ponto: ela se sente muito mais à vontade com composições próprias do que alheias. ‘Se enamora’, do Balão Má-
da A T A PR CA SA \\ Quando revirava os discos de seu pai na infância, Gustavo Dutra mal sabia que sua relação com a música iria além de mera admiração. “Lembro de uma pilha de uns 200 CD´s que meu pai tinha. Eu escutava de tudo, desde Zeca Pagodinho a Beatles.” A relação de Gustavo com a arte vai além da música. “Gosto muito de fotografar, desenhar, cantar e compor”, afirma o multifacetado artista, responsável pela criação do seu primeiro trabalho, ‘Sem pressa’, de 2008. Para a produção, Gustavo resolveu jogar tudo para o alto e partir para onde rolam grana, contatos e mais oportunidades: São Paulo. “Foi ótimo ficar um ano por lá. Fiz contatos e conheci muita gente que contribuiu para este projeto”, conta. Gustavo marcou residência no Bairro de Pinheiros, tradicional reduto de artistas. Por lá, se isolou para focar nas
gico, e ‘I'm too sexy’, do Right Said Fred, podem ser ouvidas como exercícios de interpretação no estilo bem pessoal da cantora ou como piadas. Mas ironia não combina muito com a Tiê.
Gustavo Dutra por Daniel Ottoni
composições. Cada dia na maior cidade da América Latina valeu a pena. “Acho que conquistei muito mais que a conclusão de um trabalho. Respirava arte 24 horas por dia”, analisa. Sobre o disco, ele conta que as letras e os ritmos são bastante diferentes a cada música. São oito composições próprias e uma criação inédita: 'Born to be wild', em harmonias de reggae. Com o CD pronto, nada melhor do que uma boa divulgação. “Percorri cidades de norte ao sul de Minas e a resposta do público foi muito boa.” Mal o primeiro cd foi lançado, o segundo já se prepara para sair. “Já estou escrevendo e pensando no conteúdo deste CD com meu amigo Daniel Gosling. Pretendo convidar o Guilherme Fonseca para participar desse projeto também”. E com uma nova surpresa. “A intenção
Saia da garagem! Convença-nos de que vale a pena gastar papel e tinta com sua banda. Envie um e-mail para redacaoragga.mg@diariosassociados.com.br com fotos, músicas em MP3 e a sua história.
Vai lá: gustavodutra.com.br
é fazermos a releitura de um clássico, como no primeiro disco. Tenho a ideia de trabalhar ‘O tempo não para’, que é uma música muito bacana nos shows”, diz. A previsão de lançamento é em 2010 e, antes disso, o clipe da música ‘Good trip’ deve chegar para a galera. divulgação
Conhece a Tiê? As respostas negativas têm grandes chances de diminuir rapidamente, não só porque a exmodelo e cantora paulistana assinou contrato com a Warner para lançar seu primeiro disco, ‘Sweet jardim’, mas também porque ela é uma artista fácil de se conhecer: sem invenção de moda nem afetação, ela se expõe sem medo e em poucos versos você já sabe quem ela é. No seu show, não há banda, não há cenário, não há efeitos, não há personagens. Sobram só duas coisas: a voz e as composições. A primeira pessoa conjuga todo o trabalho de Tiê. "Já faz um tempo que eu queria te escrever um som / passado o passado acho que eu mesma esqueci o tom". Essa foi a primeira frase de ‘Assinado: eu’, primeira música da apresentação feita para comemorar a assinatura com a gravadora, na loja Modern Sound, no Rio de Janeiro. ‘Passarinho’ é o seu cartão de visi-
PERFIL
Batnaldo Artista,
O ETERNO MUTANTE
Responsável por revoluções e quebras de paradigmas na música brasileira, Arnaldo Baptista deixa traumas e mágoas no passado, ressurge com uma emocionante cinebiografia e, após ver a morte de perto, quer ser eterno por Bruno Mateus fotos Bruno Senna Arnaldo Dias Baptista é, seguramente, um dos artistas mais criativos da história deste país tropical, embora, por aqui, não se dê a ele o devido valor. Nascido nos anos pós-guerra, em julho de 1948, deu início ao sonho musical em 1962, com o grupo The Thunders. Em 1967, Arnaldo, com Rita Lee e o irmão Sérgio Dias, surge com os Mutantes, banda que trouxe a psicodelia e o humor escrachado para a terra do samba e da bossa nova. Depois de brigas, divergências musicais e muitas pirações de LSD, Arnaldo deixa a banda em 1973. No ano anterior, o casamento com Rita Lee acaba, causando traumas em sua vida. Em 1974, lança ‘Loki?’, primeiro álbum solo, considerado por muitos sua obra-prima. Os anos seguintes foram difíceis para o fundador e cabeça dos Mutantes. Inter-
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nações em clínicas psiquiátricas e problemas pessoais rondavam os dias de Arnaldo. Tudo parecia apenas uma grande viagem quando, em 1982, na noite de réveillon, Arnaldo se jogou do quarto andar de um hospital psiquiátrico, em São Paulo. O saldo: uma séria fratura no crânio que deixaria sequelas. Depois de dois meses em coma, acorda e lá estava Lucinha Barbosa – eles se conheceram em 1973. Sua mulher e anjo da guarda até hoje, foi ela quem o ajudou a renascer depois de anos de melancolia, angústias e feridas internas. Arnaldo parece carregar nos ombros a tênue margem entre loucura e genialidade, mas os altos e baixos em sua vida não conseguiram tirar o lado lúdico de seu mundo. Há 24 anos, o casal vive em um sítio em Juiz de Fora. De lá pra cá, Arnaldo, incompreendido e martirizado tal qual um Syd Barret ou um Arthur Rimbaud tupiniquim, vem exorcizando seus medos e fantasmas através da arte. Arte que se transformou em função e sentido de vida, assim como o fascínio por amplificadores valvulados e instrumentos Gibson. Na noite anterior ao nosso encontro, liguei para Lucinha para confirmar o horário da entrevista, acertar os últimos de-
O cérebro é a coisa mais difícil que existe em todo o universo, então não chego a dizer que ele [o ácido] seja para todos um fator sine qua non de inspiração. É uma coisa que depende da pessoa em si e o que isso vai influenciar
E a música sempre presente na sua casa. Foi uma coisa interessante. Com uma mãe que toca o dia inteirinho, a gente passa a ter uma cultura um pouco diferente. A gente tinha uma conexão com o lado artístico importante.
to CCDB do meu irmão, e nunca tinha saída, não tinha volume Ligava um instrumento Fender ou um CCDB, punha volume e saía “péémm” [imita o volume baixinho]. Se puser um Gibson, o volume sai “PÉÉMM” [imita bem mais forte], então, nos festivais com [Gilberto] Gil, Mutantes, eu também punha o volume no máximo e nunca dava volume. Até que agora tenho Gibson e vejo que se tivesse Gibson na época dos Mutantes, ficaria muito melhor. E é por isso que faço esse inferno nesse sentido de Gibson.
O que significa e o que mudou na sua vida ter sido um dos fundadores dos Mutantes? Foi, como eu acabei de dizer, uma vida de altos e baixos. Trabalhava de vigia da companhia telefônica e tinha uma vida de labuta diária até que, de repente, apareceu um conjunto que começou a dar mais dinheiro do que eu ganhava no trabalho. Então, abandonei o trabalho e entrei nos Mutantes. Para mim, foi uma maravilha, porque colocou o meu sonho em execução.
Vocês tinham noção da revolução que estavam fazendo? Nunca consegui ter consciência do grau de importância que os Mutantes possuem. A gente fazia festival e todo mundo gritava “bicha, bicha” [risos]. O público não gostava de botar guitarra na música. Aí a gente colocou contrabaixo, que é aquele som aterrador que move montanhas. Antigamente era muito bossa nova, jazz, não que eu seja contrário ao contrabaixo de pau, mas é bom isso, a gente colocou o contrabaixo.
Como foi voltar a tocar com os Mutantes 33 anos depois da sua saída? Às vezes penso que as pessoas mudam com o tempo, tipo o Sérgio [Dias], meu irmão mais novo. Eu tinha esperança, então fui lá, fiz show no mundo inteiro, Estados Unidos, Europa, mas sempre, o Sérgio, que é o da guitarra, faz complicado demais. Ele escolhe as guitarras que eu menos gosto, nunca uma Gibson igual a do Jimmy Page, por exemplo. Nesse sentido, o show foi meio frustrante. Pensei que ele iria mudar. Os amplificadores eram sempre digitais. Foi meio supérfluo para mim, mas passou. Estou com esperança de agora em diante fazer diferente.
Como foi trazer a psicodelia dos rocks inglês e norte-americano para a música brasileira, especialmente numa época em que não se usava guitarra elétrica? Eu sentia uma disparidade, uma diferença muito grande entre o que se fazia na bossa nova e MPB e a gente, que estava curtindo conjuntos do exterior. A gente se sentia, muitas vezes, ilhado. A filosofia deles ia num sentido de política, poderes, polícia, rebeldia, França, e a gente ficava em um lado onde a rebeldia ia para ‘The mamas and the papas’, então a gente dividia a rebeldia deles com a nossa, que também existia.
mundo. O papai também escreveu quatro livros, embora ele tenha estudado até o quarto ano primário. Era uma infância de altos e baixos, mas ia levando a vida, estudei. Foi gostoso.
talhes. No dia seguinte, naquela tarde nublada de céu de cimento, Arnaldo e Lucinha me receberam no apartamento, em Belo Horizonte. “Aceita café?”, pergunta Lucinha. No sofá, ao meu lado, um Arnaldo sereno e brincalhão. Após o primeiro gole e o rec no gravador, pude confirmar o que muitos ainda não sabem: Arnaldo Baptista está mais vivo (e genial) do que nunca.
Sean Lennon, filho de John, diz que você tem alma de criança. Como foi sua infância? O papai era secretário particular do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros. Então, tinha carro, chofer, mas ele mesmo não sabia guiar. Aconteciam coisas incríveis. A mamãe deu um concerto para piano e orquestra em Viena, ela foi a primeira pessoa que compôs um concerto para piano e orquestra no
De onde vem esse fascínio por instrumentos Gibson e amplificadores valvulados? Desde a época em que entrava nos festivais com os Mutantes. Colocava o contrabaixo, porque usava o instrumen-
Numa entrevista você disse que tem um lado circense muito forte, de fazer palhaçada. Como é isso? Às vezes penso comigo: “Não sou um palhaço!” [risos]. Mas depois vejo as crianças... Adoro crianças, animais. Sinto-me muito bem na presença delas,
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elas têm um lado mais direto do sentimento e gosto disso. Num sentido de dar graça à vida, acho que é importante, senão a gente fica com pena de si próprio, fica muito triste. Prefiro ser engraçado. A loucura está bem presente na sua obra. Ah, de uma certa forma, obrigado. É um assunto que te inspira? Tem a ver com, talvez, um lado de, por exemplo, Raul Seixas. É uma pessoa marcante tal qual Elvis Presley. O Elton John, por exemplo, se internou porque queria saber quem lavava as cuecas dele e chegava ao ponto de tocar até sangrar os dedos. Então, num sentido comparativo, eu penso que o Elton John podia botar um amplificador mais forte, o Raul Seixas podia enveredar para um lado mais de explicação psicodélica ou divina, num sentido de se aprofundar mais no som, no sentido de teoria e prazer, que é uma redundância da perfeição. Você concorda com Caetano Veloso que diz que de perto ninguém é normal? Puxa, bonito isso. Concordo. Não sabia dessa poesia dele. Ele é uma pessoa tão profunda que às vezes o coloco em paralelo a Bob Dylan. Como você vê o cenário atual da música no Brasil e no mundo? Uma fase de renovação, sem que possua uma consciência total de onde renovar, senão a pessoa se perde, tipo Michael
Arnaldo faz o famoso “óculos” com seus quadros ao fundo
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Jackson, essas coisas, que ficam estudando uma coisa quando poderiam ter sido outra. Você comentou sobre psicodelia e toda essa onda. De que maneira o psicodelismo e a droga lisérgica influenciaram o seu trabalho? Dou graças a Deus por ter conseguido fazer uma coisa aqui no Brasil que fosse psicodélica. Aqui eles acatam o lado proibitivo, mas de uma certa forma, triste, como se fosse uma espécie de máfia. Com todos os altos e baixos da minha vida, vou tentando fazer o melhor que posso. Você acha realmente que o ácido abre as portas da percepção? Como falei, depende muito. O cérebro é a coisa mais difícil que existe em todo o universo, então não chego a dizer que ele [o ácido] seja para todos um fator sine qua non de inspiração. É uma coisa que depende da pessoa em si e o que isso vai influenciar. Vamos falar do ‘Loki’. O documentário está participando de vários festivais no mundo todo e ganhando prêmios. Tem algo de surpresa nisso ou você já esperava essa repercussão? Eu não tinha a menor ideia de que isso ia dar certo. Na hora que começaram o filme, pensei: “Eles estão apostando em mim, vou apostar neles com toda força que tiver”. Mas fui numa de “voo cego”. Não tinha a menor ideia do resultado [risos]. Está sendo uma coisa maravilhosa. Alcanço a ousadia de falar o seguinte: “Se falo muito em amplificador valvulado,
fotos: o cruzeiro/arquivo em
Arnaldo, Rita Lee e Sérgio Dias na formação clássica dos Mutantes. À direita, o trio que revolucionou o Tropicalismo e a música brasileira
uns 95% das pessoas não têm isso em casa. Lá nos States tem uma fábrica que se chama Audio Research, em português quer dizer “pesquisa de áudio”, que fabrica amplificadores valvulados, 0 km, com parafuso de ouro para não dar mau contato. Então, talvez, eu me aventure a dizer: “Por que no Brasil uma fábrica, pode ser Gradiente ou o que for, não fabrica um amplificador valvulado para a pessoa poder ouvir a respeito do que falo?” Esse filme me deixou com ousadia suficiente para falar. A Rita Lee se recusou a participar do ‘Loki’. Ela disse que é um assunto sobre o qual não gostaria de falar. Isso te magoou? Não, ficou muito mais fácil para mim, porque ela envolve tanta coisa que eu não entendo, tipo a pilha em bruxaria, falsidade, verdade. Foi muito bom poder falar do jeito que eu quero, independente de observações que podem ser mal-entendidas. Ano passado foi lançado o ‘Rebelde entre os rebeldes’, livro que você escreveu há 20 anos. A obra conta a história de um casal que foge da Terra e vaga pelo espaço em busca de paz. Há um “q” de autobiográfico nisso? É uma coisa muito boa para falar a respeito. Às vezes, numa pintura, eu faço um quadro e alguém acha que parece comigo e na literatura acontece muitas vezes de eu falar a respeito de uma pessoa que seria um deus, uma pessoa que tinha entidade, possibilidade e conhecimento suficientes para fazer coisas que eu dedicava. Pode ser que se pareça comigo o lado dos personagens e da estória. Espero que a pessoa leia para poder fazer
uma comparação sem julgamento meu. Onde acha que é possível encontrar a paz? No sentido em que a consciência atinge o lado químico, então os órgãos sensoriais são todos envolvidos por química e eletrônica que comandam os neurônios. Existir uma comunicação total entre os nervos e a tecnologia seria a perfeição. Não que eu tenha isso tudo hoje em dia, tento entender o meu equipamento total, mas a gente vai fazendo o possível. Isso é interessante e é um tipo de vida que gosto de levar, de experimentar motivação, poesia, literatura, artes plásticas, musicais... Você é mesmo um rebelde entre os rebeldes? Quando escrevi isso, estava morando em uma cidade do interior de São Paulo, Ibirá, a uns 400 quilômetros da capital. E lá, no meio de todo aquele mundo de gente, me senti identificado com eles numa parte de levar a vida, curtir a natureza. Senti que eles eram rebeldes, mas eu era rebelde entre eles, com amplificadores, psicodelismo, alimentação, então era rebelde entre os rebeldes. Isso que me deu inspiração para o nome do livro. O Kurt Cobain gostava de Mutantes e quando veio ao Brasil, em 1993, quis conhecê-lo e até chegou a escrever uma carta para você. O Sean Lennon te admira muito, assim como Beck e o pessoal do Radiohead. Você se considera uma lenda, ícone, mito? É bom a gente falar uma coisa que às vezes comentam aqui em casa: “Sou o único ícone pobre” [risos]. Acho que, às vezes, não é bom ser famoso sem ter dinheiro, né? Money, como os Beatles falam na música. Eles falam que ele [o dinheiro] não pode comprar tudo, mas o que ele compra eu quero. [risos] Como é o seu dia a dia? É interessante falar. Um pintor, por exemplo, pode parar por três meses e começar igualzinho, mas um pianista não, senão ele perde a técnica, tem que ter uma musculatura, como um tenista, um corredor que precisa manter uma técnica. Estudo com a técnica anatômica que a minha mãe, que era pianista, me explicava. Estudo teclado, guitarra, violão. Faço alguns exercícios físicos, faço cooper diário. A gente fica vendo
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Assim como a música, a pintura tem papel fundamental na vida do artista. Ao lado, com a mulher e fiel companheira Lucinha Barbosa
a arte de uma maneira em que pode ir a exposições, shows, e fazer comparações entre o nosso trabalho e o dos outros. Sei que você acorda às 3h da manhã para pintar, compor... Isso é antigo em mim, não sei se sou parente de morcego ou de coruja, mas desde criança acordo cedo. Antigamente era mais monótono, porque ficava esperando o despertador na hora de ir para escola. Hoje é melhor, porque posso pintar, escrever, então é nisso que me apoio. Sempre fui de acordar de madrugada, sinto-me bem nessa hora do dia, porque acho que o índice de comunicação impera nessa hora, não tem tanta balbúrdia, trânsito. A repercussão do documentário alterou sua rotina? Alterou no sentido de eu possuir uma visão mais grande angular do meu ser Arnaldo. Eu que era um contrabaixista de um conjunto de esquina, passo a ser uma pessoa que está no cinema em Nova York. Lembro que uma vez estava passeando em Nova York, fui a um dos teatros da Broadway e vi as fotos das pessoas que já haviam estado lá e pensei: “Será que algum dia eu alcanço essa coisa maravilhosa?”. É uma coisa bonita me colocar entre os grandes. Vai saber até onde eu posso. Como é essa enxurrada de arte na sua vida? Música, artes plásticas, literatura... Há uma interseção de um Arnaldo entre essas três facetas? No lado de música, tenho a impressão de que sou um pouco diferente do resto, eu toco todos os instrumentos. Então não posso, por exemplo, deixar de tocar guitarra e pensar o que faria na bateria naquele momento e dar uma ênfase àquela parte. Já nas artes plásticas, tenho a impressão de que sou um pouco, pode-se dizer, comum. Uso as mesmas coisas que Salvador Dalí usou, que Rafael, Leonardo da Vinci usavam, então sou um pouco mais comparável a todos. Tudo é possível em função do quanto você tem fé e autocontrole. No começo dos anos 1980, você teve um período de depressão. Teve a tentativa de suicídio no hospital,
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problemas financeiros e com drogas... Isso foi um lado da minha vida no qual eu fui botado de lado pela Rita Lee, então trouxe as consequências que muita gente pensa e é difícil explicar. Cada pessoa fala uma coisa. Boatos correm por aí, mas o principal é que eu estou tentando compor uma coisa que é comum a todos, que é uma música gostosa, com um senão que seja peculiar a mim. É nisso que eu vou botar o melhor que consigo fazer. Qual foi o papel da arte nesse momento? Foi tão importante. Por exemplo, conheci o Sean Lennon e fiquei com um certo empecilho de entrar em contato com ele, comunicar-me, até o momento em que peguei o violão, parece que, de repente, abriu tudo. Então, para mim, a música, neste sentido de recuperação, foi uma bengala, uma coisa que me auxiliava bastante na comunicação. Nesse período tão complicado você pensou em jogar tudo para o alto? Isso são coisas que acontecem várias vezes na vida da gente, mas nunca cheguei a levar isso seriamente. Acho que a gente deve levar em conta a resistência que a gente possui no cérebro, tanto no fator de composição como de inércia, movimentos. Você tem medo da morte? Tenho uma expectativa de viver eternamente, porque existe uma coisa localizada em San Francisco que se chama criogenização. O Timothy Leary parece que fez. Estou com uma esperança vaga de entrar nessa. Não tem nada patente, mas estou me correspondendo com eles. Existem pessoas que acordaram da criogenização. A arte te ajuda a transcender, visitar outros mundos? Completamente. Tenho agora em casa um alto-falante que chega na área subsônica. É interessante ver como a humanidade pode pensar a respeito de uma coisa tão reles para a maioria, mas fazer um falante que tem a bobina móvel, que
Então, talvez, eu me aventure a dizer: “Por que no Brasil uma fábrica, pode ser Gradiente ou o que for, não fabrica um amplificador valvulado para a pessoa poder ouvir a respeito do que falo?” Esse filme me deixou com ousadia suficiente para falar Qual a sua ligação com BH, Juiz de Fora e Minas? É a Lúcia, Maria Lúcia Barbosa, a Lucinha [cuja mãe é de Juiz de Fora]. Ela que me salvou do coma e me levou para morar em Pinheiros, bairro de São Paulo, mas lá era um lugar onde eu ligava um amplificador de 40 watts, fraquinho, e o porteiro do prédio já telefonava: “Tá muito alto”. Então fomos para Juiz de Fora, onde o irmão dela tem sítio. Belo Horizonte é perto de Juiz de Fora, então fico entre lá e aqui.
é aquela parte que faz a eletricidade virar movimento cinético, acho que é daí que vem a palavra cinema, né? Mas esse altofalante chega nessa parte e usa o material, a liga de metal, que a NASA usava para cobrir Apollo, resistente a todos os calores. É maravilhoso a gente entrar em contato com esse grau de evolução da humanidade. Você acredita em disco voador? Já vi um. Lembro que a mamãe viu há uns 30 ou 40 anos e não consegui acreditar. Ela falou que estava na Marginal do Tietê, viu um disco voador e ele desapareceu. Não entendi, né? Até que eu vi e é isso que me motiva a falar a respeito de campos magnéticos, de Gauss e grávitons, mas a gente tem muito que evoluir. Você acha que o Homem está evoluindo ou regredindo? Tenho a impressão que o ser humano tem uma vontade de queimar tudo. Piromaníaco. Em vez de combustíveis solares, que são grátis, ficam queimando, queimando e acabando com nosso oxigênio. Para isso, existe a evolução de carros elétricos. Na Austrália, há corridas de carros elétricos. Tem gente que voa de bibicleta, vi num filme na Inglaterra [risos]. Eu queria poder voar. Deve ser muito divertido. Deve ser maravilhoso.
Na história da música no Brasil, você e sua obra são marginalizados e subestimados? Acho que são incompreendidos. Não gosto de falar isso, mas quero que uma fábrica, seja Gradiente ou CCDB, fabrique amplificadores valvulados para eu ser compreendido. Em 1990, você fez a sua primeira exposição de desenhos e pinturas na UFMG. De que forma a pintura entrou na sua vida e qual a importância dela no seu dia a dia, na sua arte, no seu processo de criação? Ela [a pintura] é recente. Estou usando o mesmo pincel e tinta que Rafael e Leonardo da Vinci usaram há mil anos [XVI]. Então, fico livre no sentido de instrumentos, porque tenho pincel, tela e tintas iguais às deles. Na música é diferente. Por exemplo, aqui em BH não posso gravar bateria porque faz muito barulho. A arte plástica fica muito mais na frente neste sentido. É até interessante você perguntar a respeito, porque alguns repórteres falam para mim: “Ultimamente a sua vida não está mais direcionada para a música, só para as artes plásticas”. Me aventuro a dizer que não é tão fácil fazer música sem estar com estúdio, com tudo em cima. O que a sua arte reflete, o que você quer mostrar com ela? A primazia da energia pura, onde pode existir energia sem fogo. E tudo isso que
eu falo a respeito de amplificadores, máquinas e instrumentos Gibson é com um sentido de a gente achar gostoso o que está acontecendo, ser um som bom. Depois de quase 20 anos sem lançar material inédito, você voltou com o ‘Let it Bed’, em 2004. O último havia sido lançado em 1987, que é o ‘Disco Voador’. Pode-se dizer que você superou a barreira de compor ou nesse tempo a criação foi uma constante? É tão relativo isso, que eu posso compor uma canção apoiada na bateria, outra apoiada na guitarra. Esse lado de criatividade é uma coisa que sempre senti no fundo do coração. Tenho a impressão que é impossível você dizer se vai ser criativo. Muitas vezes, penso como consegui compor a ‘Balada do Louco’ e tento repetir, mas é impossível chegar na mesma situação que eu enfrentei naquela época. Então, a gente vai levando, assim, uma de altos e baixos. Eu tenho até uma música que vai sair no próximo LP que se chama ‘Colcha de retalhos’, que de certa forma retrata o trabalho da música. Mesmo com todas as novas tecnologias, você ainda compra CDs? Às vezes me perco em procurar coisas antigas que ninguém tem. Fico pesquisando algumas coisas que me influenciam, tipo Jethro Tull, gosto muito de ouvir. Então a gente tenta se expandir sem muita direção, sem destino, mas com 100 sentidos, não com 99 sentidos. Qual é o seu grande sonho? Meu sonho é um dia fazer um show que eu grave ao mesmo tempo em que estou tocando. Alcançar um grau de compreensão em que eu consiga fazer um show com amplificadores valvulados. Isso seria um sonho, mas vai passar algum tempo. Se você fosse definir Arnaldo Baptista... Eu me autodefinir? Seria quem pesquisa a utopia. Espero conseguir fazer todo mundo ficar feliz com o que eu faço.
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SCRAP
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Moeda de troca
por Alex Capella
Belo Horizonte passou a contar com uma segunda moeda para compra de produtos e serviços. A Dotz, líder brasileira em programas de fidelização, coordena uma coalizão de mais de 70 empresas, de diversos segmentos, que recompensarão os consumidores da capital mineira com a moeda dotz, espécie de bonificação. Por meio dela, as pessoas poderão adquirir um cartão, somar pontos e trocá-los por produtos e serviços. São mais de 15 mil opções. A canadense Air Miles, líder mundial no segmento de recompensas, acaba de ampliar sua participação de 10% para 29% na Dotz, com um investimento inicial de US$ 5,5 milhões. Antes de chegar a BH, a troca de pontos era feita apenas pela internet.
Ecoleite
Squadra Azzurra Falta muito ainda para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Mas os dirigentes da Federação Italiana de Futebol (FIGC) já negociam a estada da Squadra Azzurra em território mineiro com o luxuoso Águas do Treme Lake Resort, localizado em Inhaúma, a 85 quilômetros de Belo Horizonte. Os italianos pretendem fazer sua preparação para a competição em Minas, independentemente de estrearem ou não no Mineirão. Querem aproveitar a boa relação que o estado tem com a buona gente dona, entre outras, da Fiat Automóveis.
Arte solidária
fotos: divulgação
A Drogaria Araújo aliou ao seu mix de medicamentos 10 mil bolsas ecológicas, confeccionadas em tecido americano cru e decoradas com estampas criadas pelos artistas mineiros Andrea Gomes, Bruno Morais, Bruno Nunes e Marcos Pina. Além de levar para casa um produto bonito, confortável e ecologicamente correto, o consumidor colabora com os programas do Hospital da Baleia, já que a renda é revertida para a unidade de saúde. As bolsas podem ser encontradas nas 90 lojas da drogaria.
A mineira Itambé levará para todo o país uma nova geração de leites da linha Premium (Zero, Cálcio, Ferro e NoLac), voltada para o consumidor preocupado com saúde e bem-estar. Além de preservar as características nutricionais e o sabor do produto, a embalagem Longa Vida de 1 litro é feita com 80% de material renovável, sendo 100% reciclável. A empresa investiu cerca de R$ 250 mil em ajustes na fábrica para a produção dos leites, e o volume mensal será de 800 mil litros.
Lagoinha viva Fina estampa A Sagatiba, primeira cachaça premium do mundo, acaba de lançar a versão de 1 litro da Sagatiba Velha e Sagatiba Pura em pack especial para os duty free de todo o Brasil. A embalagem cartonada, produzida com cartão triplex 250g, em formato cilíndrico, segue a linha desenvolvida pela AlmapBBDO para a campanha publicitária, que explora a temática de flores e frutas, remetendo à brasilidade e ao clima tropical do país. A tampa da caixa pode ser utilizada ainda para guardar os mexedores de drinques e caipirinhas produzidos com a bebida.
Brasilidade A capital mineira vai receber a primeira edição do Planeta Brasil, evento que vai reunir música, gastronomia e esporte. De verde e amarelo, o público será convidado a comemorar o orgulho de ser brasileiro. Além disso, por meio do site do festival, o público poderá votar em atrações que gostaria de assistir. O festival contará com nomes de peso da música nacional, praça de alimentação com comidas típicas de várias regiões do país e apresentações esportivas.
O esforço para revitalizar o tradicional Bairro da Lagoinha, reduto de bambas da região Nordeste de Belo Horizonte, ganhará uma ajuda significativa. O Grupo Uniagro pretende investir cerca de R$ 400 mil na instalação, em setembro, de uma filial do bar e restaurante de comida mineira Butiquim Mineiro, na região. A intenção dos empresários é formar uma rede com 14 filiais na capital mineira antes de expandir a marca para outros estados, por meio de franquias.
Le million O bistrô L'Entrecôte de Ma Tante está em busca de um parceiro para levantar sua bandeira também em Belo Horizonte. A parceria será por meio de joint ventures entre os cinco sócios do restaurante e outros empresários. Para isso, os interessados terão de desembolsar cerca de R$ 1 milhão para abrir a unidade. O restaurante, que acaba de levantar sua bandeira em São Paulo, negocia parcerias em outras capitais, como Goiânia, Fortaleza, Curitiba, Brasília e Porto Alegre.
A coluna Scrap S/A foi fechada no dia 20 de agosto. Sugestões e informações para a edição de outubro, entre em contato pelo e-mail da coluna.
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UMA SÓ AMÉRICA LATINA PRAIAS DA COSTA RICA APOCALIPSE MAIA RETRATOS DA ILHA DE FIDEL E MAIS: ROGÉRIO FLAUSINO . JORGE BALBI . RODRIGO SANTORO
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Você já está cansado de passar em três pontos de distribuição e não achar, porque ela acaba com a rapidez de um piscar de olhos. Porque sabendo quem é nosso leitor, a Ragga fica cada vez mais com a cara dele. Porque, do jeito que você queria, ela deixou de ser bimestral e passou a ser mensal. A partir de abril, todo mês é mês de Ragga.
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