Revista Ragga #65

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#65

SET 2012

leitura recomendada para maiores de 18 anos

NÃO TEM PREÇO

REVISTA

MÚSICA DE VIDEOGAME O mundo virtual ganha versão com instrumentos reais

CAVIAR DE PEPINO A acessível ciência da gastronomia molecular

Pornô para mulheres Existe muito mais do que Cinquenta tons de cinza

AOS 75 ANOS, A CANTORA MOSTRA QUE TEM ENERGIA DE SOBRA PARA OS PALCOS E FALA DA VONTADE DE PRESERVAR A MEMÓRIA DE MANÉ GARRINCHA


NÃO IMPORTA QUEM VOCÊ SEJA, NEM O QUE VOCÊ FAÇA...

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NOS DIAS 20 E 21 DE OUTUBRO VOCÊ SERÁ UM IRON BIKER.





EXISTEM POR TRÁS DAS CORTINAS SUBESTAÇÕES CENTENAS DE USINAS E OS. PARA ILUMINAR OS PALC Mais que gerar energia para milhares de mineiros, a Cemig e o Governo de Minas investem em projetos culturais que aproximam as pessoas da arte e do conhecimento. Após uma análise feita com a Secretaria de Cultura, a Cemig apoia hoje mais de 140 projetos, entre eles, um dos mais importantes espaços culturais aberto à comunidade, o Galpão Cine Horto, criado pelo Grupo Galpão em 1998 para pesquisa, formação, fomento e estímulo à criação em teatro.

A Empresa também é mantenedora de sete museus, da Fundação Clóvis Salgado, da Fundação Artística e da Orquestra Filarmônica de Minas e apoiadora das artes plásticas e da música. Afinal, nada mais certo que uma empresa responsável por gerar energia elétrica, ajude também a iluminar a mente das pessoas.

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EXPEDIENTE

Edição Fernanda Takai

DIRETOR GERAL

Fernando Santos, pelo Twitter @revistaragga É! Os Trapalhões são como os Beatles: os dois melhores já morreram... Cacildis!

DIRETOR DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING

Roger Henrique, pelo Twitter Minha mesa de trabalho na @revistaragga Haha adorei! #instaragga

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVEL

Fernanda Maia, pelo Facebook Ótima capa, ótima escolha, ótima entrevista! Uma pessoa bacana, com coisas interessantes a dizer. Gostei muito.

lucas fonda [lucasfonda.mg@diariosassociados.com.br] bruno dib [brunodib.mg@diariosassociados.com.br] ASSISTENTE FINANCEIRO

nathalia wenchenck [nathaliawenchenk.mg@diariosassociados.com.br] GERENTE DE COMERCIALIZAÇÃO E MARKETING

patrícia melo

flávia denise de magalhães – mg14589jp [flaviadenise.mg@diariosassociados.com.br] SUBEDITOR

bruno mateus [brunomateus.mg@diariosassociados.com.br] REPÓRTERES

bernardo biagioni [bernardobiagioni.mg@diariosassociados.com.br] guilherme avila [guilhermeavila.mg@diariosassociados.com.br] izabella figueiredo [izabellafigueiredo.mg@diariosassociados.com.br] ESTAGIÁRIOS DE REDAÇÃO

lara dias [laradias.mg@diariosassociados.com.br] laura dias [lauradias.mg@diariosassociados.com.br] NÚCLEO WEB

Sidão Bason, pelo Facebook Escuto Pato Fu desde quando tinha ainda cabelos na cabeça. Entrevista genial na Ragga. Revista de cabeceira. Cacau Chaves, pelo Facebook Muito bacana a edição! Lendo aqui a digital. Parabéns! Tomaz de Alvarenga, pelo Facebook Muito legal a entrevista com a Fernanda Takai na Revista Ragga de Agosto.

renata ferri [renataferri.mg@diariosassociados.com.br] felipe bueno [felipebueno.mg@diariosassociados.com.br] DESIGNERS

anne pattrice [annepattrice.mg@diariosassociados.com.br] bruno teodoro [brunoteodoro.mg@diariosassociados.com.br] jonathan soares marina teixeira [marinateixeira.mg@diariosassociados.com.br] FOTOGRAFIA

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EDITORAL

Antes que esfrie

bruno senna

"Dediquei minha vida ao esporte." Esse foi o depoimento da judoca Sarah Menezes, depois de faturar a medalha de ouro nas Olimpíadas de Londres. Essa frase pode parecer comum, mas, ao ouvi-la dizer isso, realmente parei para pensar em como é forte dedicar uma vida a alguma coisa — seja para o esporte, para a música, para a religião, para o trabalho, para a família ou para entender a migração das baleias. Não importa! O que interessa é que, até onde sabemos, vida a gente só tem uma. E é aí que a frase realmente ganha peso. Precisamos dedicá-la a algo que faça a diferença, principalmente para nós mesmos. E isso não significa ganhar nenhum Nobel. Se ganhar, ótimo, mas pode-se dedicar a vida também para jogar ioiô, desde que esse seja o seu propósito e a sua verdadeira escolha. O que não faltam são opções. Então, se achar que a sua não tem sido exatamente a ideal, passe um olho nesse grande menu e faça logo um novo pedido. Afinal de contas, o que importa é o sabor no fim, e esse prato esfria rápido. Falando em pratos e sabores, Lara Dias foi até São Paulo visitar o chef Kaká Silva, que tem dedicado a vida à gastronomia molecular, uma culinária bem contemporânea, recheada de novas técnicas, gostos e muito nitrogênio.

Bruno Mateus nos conta sobre a vida de uma jovem com mais de 70 anos que se dedica a viver intensamente. Elza Soares, nossa capa, que já viu um pouco de tudo, dispara: “Não lembro que tenho 75 anos, lembro que tenho 24 horas de vida”. Nossa editora Flávia Denise destrinchou o mundo do erotismo para mulheres a partir do sucesso de vendas do livro Cinquenta tons de cinza e prova que pornografia pertence, sim, ao mundo feminino há muito tempo e cada vez mais. Esses e outros temas você lê num passar de dedos. Boa leitura!

Lucas Fonda — diretor geral lucasfonda.mg@diariosasassociados.com.br


ÍNDICE

Cantora do século

bruno senna

Elza Soares fala da infância pobre à luta para preservar a memória do antigo amante, Garrincha

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Vale do Silício Ragga Night Run Os melhores momentos da corrida noturna que rolou na Pampulha

Conheça a história da brasileira que abriu uma start-up na Califórnia, aos 24 anos

De Frente Jairo Bouer conta tudo sobre sexo e sexualidade em palestra no Plug Minas

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Prazer para elas

Moda em BH

Música em 64 bits

Escritoras, atrizes e diretoras mostram que pornografia não é somente do mundo masculino

As roupas que você vai querer ter no armário quando o calor chegar de vez no verão

Bandas dedicam seu repertório a trilhas que marcaram a infância de seus integrantes

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38 42 46 50 Sorvete de nitrogênio

Cidade Luz

A Ragga dá 10 dicas para aproveitar Paris sem ficar perdido entre as suas muitas atrações

Desvendamos os segredos da gastronomia molecular com o chef Kaká Silva

JÁ É DE CASA

Scrap 16 Só no site 18 Destrinchando 20 Twitter 22 #Instaragga 23 Eu quero 24 Estilo Julia M. Garcia 26 Rapidinhas 28 Quem é Ragga 30

Por aí 66 On the Road Duelo de MCs 68 Ragga Girl Luciane Hoepers 70 Livrarada 76 Prata da casa 77 A música e o tema 78 Crônico 80 Quadrinhos Rasos 82

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S

SCRAP S/A

COLUNA POR ALEX CAPELLA // ALEXCAPELLA.MG@DIARIOSASSOCIADOS.COM.BR

afp photo/michel krakowski

Sugestões e informações para a edição de setembro, entre em contato pelo e-mail acima.

Pulsar BH

A cada ano é maior o número de mineiros que ingressam nas disputas do mundo do surfe. Tanto é verdade que a expectativa dos organizadores da 6ª edição do Campeonato Mineiro de Surf, marcada para o dia 29 de setembro, na Praia da Macumba, no Rio de Janeiro, é a de que o número de inscritos supere todas as edições anteriores. Na 5ª edição, foram 50 surfistas mineiros, residentes em Minas ou fora do estado.

É um site que apresenta ações voltadas para o bem da cidade (que podem ser realizadas por pessoas de diferentes regiões e estilos de vida) e que mostra os avanços ocorridos em BH nos últimos anos. O objetivo é demonstrar amor pela capital.. Feito por uma publicitária, um rapper, um militante de causas ambientais e uma estudante, o site promete ser uma fonte de informação sobre a cidade. pulsarbh.org

NOSSA CAPA “Elza Soares está em Belo Horizonte”, soprou o diretor-geral Lucas Fonda na redação. Uma hora depois, tínhamos um perfil marcado com a cantora. No dia seguinte ao show, ela nos recebeu no quarto do hotel onde estava hospedada. A menina pobre, vinda do Planeta Fome, que na infância carregava uma lata d’água na cabeça, foi eleita, em 2000, pela BBC de Londres, a cantora do século. O título dá uma dimensão da importância de Elza Soares e do reconhecimento da voz que um dia encantou Ary Barroso e desconcertou sua plateia. Em pouco mais de duas horas, Elza relembrou a infância pobre, os sucessos da carreira, os altos e baixos de sua vida e chorou ao falar de Mané Garrincha. Simpática, sem frescura e boa de papo, dona de uma trajetória ímpar na música popular brasileira, ela posou para as fotos com a leveza e a espontaneidade de quem um dia foi modelo fotográfica. E a capa estava ali, pronta, sem muitos truques ou produção. Fotografia: Bruno Senna 16

Motocross profissional imagens divulgação

Minas surfa

Com 101 vitórias em corridas e 10 vezes campeão do mundo do motocross, o piloto Stefan Everts vem ao Brasil para dar um curso para pilotos brasileiros. A equipe da Tribo Off Road, que traz o atleta aposentado ao Brasil, explica que o workshop terá dois dias de duração, sendo o primeiro focado em posicionamento e curvas e o segundo dia em uso correto de freios e saltos. Todos os alunos receberão atenção individual. As inscrições são no site evertsnobrasil.com até o dia 20.

Inspiração socialista

Disputado por vários empreendedores, o ponto que abrigou o antigo Cineclube Savassi agora se transformou no Cult Club Cine Pub, ou CCCP, mistura de bar, restaurante, cinema e espaço cultural. Para rebatizarem o tradicional espaço, os proprietários se inspiraram na sigla da extinta União Soviética e pretendem fazer da casa endereço para múltiplas vertentes culturais da capital mineira. Mas, apesar da inspiração no bloco soviético, tradicional consumidor de vodca, a estrela da casa será o chope, servido por meio de uma trave com 15 torneiras, as quais derramarão marcas nacionais e importadas.


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Psicografia brasileira O espírito histórico de nosso país representado na escrita póstuma de Nelson Rodrigues. bit.ly/psicografiabrasileira

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Arte para a rua O grafite é a maior expressão de arte na rua. Conheça o traço único do grafiteiro Roberto Biento, que mescla sprays de tinta com música! bit.ly/artepararua BLOGS PARCEIROS

Zonafootball Até mesmo quem não gosta de acompanhar o futebol americano não pode negar que há muitos filmes legais sobre o esporte. Veja algumas sugestões no bit.ly/zonafootballfilms. SÓ NO SITE EXTRAS

Game Music Confira o som das bandas que usam o talento musical para recriar as melhores trilhas sonoras de videogames. bit.ly/musicagames

Move! Learn! Eat! Já pensou em viajar o mundo em poucos minutos? Veja os vídeos dos caras que gravaram 1 segundo em cada lugar em que já estiveram. bit.ly/mundoem1seg

EXTRAS

Literatura erótica Se você já devorou Cinquenta tons de cinza e está buscando novas aventuras sensuais, veja nossa lista dos melhores livros do gênero. bit.ly/literaturasexy

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Fotoarte Sabe aquelas pinturas tão reais que parecem pular para fora da tela? A artista Alexa Meade mistura fotografia, realidade e artes plásticas. bit.ly/foto_arte


BEYOND REASON TENHO QUE PROGREDIR PARA CONTINUAR VIVO. | BOB BURNQUIST

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DESTRINCHANDO ARTIGO POR LUCAS MACHADO ILUSTRAÇÃO ANNE PATTRICE

A original “NO HISTÓRICO DA COMUNICAÇÃO DA MARCA LEVI’S, O PRODUTO É SEMPRE O HERÓI. A LEVI’S É UMA CARTILHA PARA O MUNDO PUBLICITÁRIO REPLETA DE IRREVERÊNCIA, HUMOR, POLÊMICA E MUSICALIDADE.” Fábio Siqueira, publicitário

terra do Vale do Silício, do skate, surfe e de grandes bandas de rock, que surgiu a Levi’s, marca de jeans que se consagrou vestindo trabalhadores, atrizes e atores, empresários, presidentes e todos os tipos de pessoas, sem distinção, fazendo com que sua presença passasse a habitar o imaginário mundial. Democratizou, em plena corrida do ouro, o produto que iria revolucionar a forma de vestir Levi Strauss, um imigrante alemão de 24 anos, deixou Nova York com destino a San Francisco, com uma pequena oferta de produtos que havia comprado. A intenção era abrir um negócio com o irmão: lonas para carroça e cobertores de cavalos. Logo após sua chegada, um garimpeiro queria saber o que Mr. Levi Strauss estava vendendo. Quando disse que ele tinha telas ásperas para cobrir tendas e fazer coberturas, o garimpeiro disse: "Você deveria ter trazido calças". O homem completou dizendo que não conseguia encontrar naquela época nada que fosse forte o suficiente para durar e resistir ao trabalho robusto. Strauss, com técnica e tino para negócios, criou uma fórmula revolucionária. Em vez de fabricar lona para fazer tendas, transformou-as em um macacão de cintura alta. Enquanto a peça se tornava cada vez mais popular entre os trabalhadores, os mesmos se queixavam que o atrito do pano com a pele dificultava o trabalho. Foi quando Strauss passou a comprar os tecidos chamados jeans em Gênova, na FOI NA CALIFÓRNIA,

James Dean, Marlon Brando e Bill Gates já foram garotospropaganda da Levi’s e Steven Spielberg produziu alguns vídeos da marca

MANIFESTAÇÕES

articulista.mg@diariosassociados.com.br | facebook.com/lucastmachado | destrinchando.com.br 20

Itália, feitos de algodão. Os tecidos foram reduzidos para caber como um ajuste confortável. Suspenderam dois botões na parte de trás, e quatro na frente foram utilizados. Não havia presilhas, embora tiras e uma fivela foram costuradas na parte de trás das calças para apertar a cintura. Assim foi criada, em São Francisco, na Califórnia, a Levi Strauss & Co, em 1853, para comercializar produtos e utensílios domésticos, em especial calças para os trabalhadores da época. Já em 1873, devido à enorme demanda, surgiu a necessidade de aprimorar o produto principal, as calças jeans. Strauss convidou um velho amigo alfaiate chamado Jacobs Davis, e eles patentearam a marca em 20 de maio de 1873 — o dia é tão marcante que é nessa data que se comemora o Dia Mundial do Jeans. A empresa cresceu e a concorrência também. David substituiu a confecção de linho por uma versão mais forte de cadarço de sapato, introduziu um zíper e uma tarjeta de couro estampando a logomarca. Assim surgiu a calça jeans mais vendida em todo o planeta até o dia de hoje, a Levi’s Original 501. A família Strauss e seus sucessores são tão conhecidos e famosos como suas campanhas publicitárias — James Dean, Marlon Brando e Bill Gates já foram garotos-propaganda da Levi’s; e Steven Spielberg produziu alguns vídeos da marca usando bandas como Creedence e Rolling Stones. Mesmo hoje não estando mais na velha corrida do ouro, os Strauss criaram dezenas de estilos e variações diferentes de seus produtos para transcender tendências, percorreram um longo caminho, mas fizeram história e permanecem como um grampo nos guardaroupas e nas prateleiras de todo do mundo. J.C.


Quando o assunto é uma vida leve e gostosa, contribuímos de várias formas. Saboreie o delicioso Frango Defumado com Cream Cheese.

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© 2012 Doctor’s Associates Inc. SUBWAY® é uma marca comercial registrada de Doctor’s Associates Inc. Imagem meramente ilustrativa.


T

TWITTER

aalyssonbr

Danilomaranhao

A gente critica os atores de Malhação, mas olha o roteiro daquilo. É como querer que um músico toque uma sinfonia usando um berimbau.

Não quero TCHU e nem TCHA, quero cochilinho à tarde! alexnero

Meu amor por vc é maior que o índice de analfabetismo de Mali. belladaguer

Toda vez que tiro foto em show me pergunto por que raios tiro foto em show.

hmcpedro microcontoscos

SINTOMA DE POBREZA MODERNO: COLOCAR O NOME DA PESSOA SEGUIDO DA OPERADORA NA AGENDA DO CELULAR.

tiodino

S2 é coisa do passado. A moda agora é <3.

vitor655

Tava olhando o extrato da minha conta, e rendeu 1 centavo. VOU BEBER PRA COMEMORAR.

Se você rodar o Hino Nacional ao contrário, dá para ouvir bem baixinho: "Corre que deu merda".

FilhoDoOCriador

Humor_Feminino

IDADE MENTAL: USANDO ANEL DE CEBOLITOS. #AMÉM. 1jovem

SE É LINDO NO ÔNIBUS, É LINDO DE VERDADE! Osumido

Meu amigo me mandou perguntar se você quer ficar comigo.

#3palavrasdepoisdosexo: espera, vou tuitar.

bethmoreno TwittesFodas

Uma mulher com ciúmes investiga melhor que o CSI.

EikeBatiiista

O Brasil ganha ouro e fica se achando, tenho vários aqui e tô de boa.

Quanto mais conheço o ser humano mais quero ir pra Marte.

Realidades

Twitter é atualmente a única rede social que seus parentes ainda não arruinaram. 22

Apiada

E nesse “tô brincando” eu já falei muitas verdades.

laranjudo

O ônibus fez uma curva tão fechada que eu meio que fiz um pole dance no mastro... #cotidiano

hebecamargo

16H20. HORA DO REMÉDIO.


Breno Nunes

jpfamac

andregabbard

arqguima

aabrahao

bimbimbh

alineoliveirarp

cacagrandinetti

Ragga Dentro da bolsa /do bolso

cacaumendonça

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marcellabrafman

nmazoni

PattyPenna

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Quer participar em setembro? Basta postar no Instagram uma foto com o tema ImĂŁ de geladeira e a hashtag #instaragga.


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EU QUERO

CONSUMO

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Água com gás O processo é bem simples. Você enche a garrafa, aperta a alavanca e adiciona gás ao líquido. O fabricante indica usar água, mas dá uma vontade de fazer bons drink... R$ 439, no submarino.com.br 25


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ESTILO Julia Marinho Garcia

COLUNA

POR LUCAS MACHADO FOTOS CARLOS HAUCK

Julia usa Camisa preta de seda Côte DAzur

Calça de couro ecológico Côte DAzur

Colete de pele de coelho Côte DAzur

Sapato BCBGeneration TM

Relógio Michael Kors

A MINEIRA JULIA MARINHO GARCIA chega a ser o inverso do convencional, o avesso do tradicional. Aos 28 anos, além de sua beleza exuberante, esbanja talento e disciplina. Logo depois de ter se formado em administração com ênfase em comércio exterior, na Faculdade Milton Campos, mudou-se para Boston para se especializar em marketing, na Northeastern e em Harvard, ao mesmo tempo em que prestava consultorias em finanças para empresas. O desejo de entrar para o mundo da moda veio com os passeios a Nova York e as visitas a lojas, fábricas e brechós da cidade. Após ficar um tempo no Brasil, Julia resolveu voltar para Nova York e fazer um curso de moda. De volta a Belo Horizonte, abriu, este ano, sua própria loja, a Côte d’Azur. A jovem, além de administrar a loja, presta consultoria às clientes, mas com um detalhe: independentemente do dia, atende apenas com hora marcada. Assim, ela começou a costurar na sua vida e na moda uma nova maneira de cultivar clientes para comprarem na Côte. Julia deixa bem claro que seu estilo é clássico, assim como o de suas clientes. Ela faz questão de lembrar uma frase que sintetiza sua vida: “We live only once but the way we live, once is enough (Só vivemos uma vez, mas, da maneira que vivemos, uma vez é o suficiente, em tradução livre)”.

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J.C.



RAPIDINHAS COLUNA

fotos: divulgação

POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES

Diga não ao preconceito vegetal Contra a mesmice dos produtos encontrados em supermercados, o fotógrafo alemão Uli Westphal está catalogando todos os formatos que vegetais podem ter naturalmente. De acordo com ele, a exigência moderna de que as plantas tenham uma “boa aparência” está acabando com a multiplicidade de formas e gostos das plantações e rapidamente ficaremos somente com os “bonitos”. “Nós esquecemos, e em muitos casos nunca vimos, a real forma (e gosto) de frutas, raízes e vegetais”, diz. Vale a pena a visita pelas imagens. Você não compraria esses na feira. bit.ly/mutatoproject

Venda suas fotos de iPhone Se o seu telefone está lotado de fotos incríveis de sua última viagem, mas você não consegue convencer ninguém a ver o álbum completo, o aplicativo para iPhone Foap pode ser a solução. Com ele, você pode fazer upload de suas fotos para um banco de imagens internacional, no qual as fotos são aprovadas por uma comunidade de fotógrafos de celular e são colocadas à venda por US$ 10. Se alguém animar de comprar, você fica com US$ 5. O único porém é que as fotos não podem ter nenhum tipo de filtro. Nada de Instagram. foap.com 28


MAPA DA INTERNET

É difícil explicar para quem não cresceu com a internet onde cada site fica exatamente (todos eles estão na nuvem). Mas não é a localização física que Ruslan Enikeev mostra. Ele criou um algoritmo para mapear sites com base nos links trocados entre eles. Quanto mais acessado, maior a bolinha. Com isso, Enikeev conseguiu criar um mapa real de um território virtual, no qual ligações determinam as distâncias entre fronteiras. É genial conferir os relacionamentos entre seus sites preferidos. internet-map.net

Rabisco virtual Para quem curte rabiscar enquanto pensa ou para quem faz ilustrações, mas precisa de um rascunho antes de começar a mexer com o projeto real, o ScribblerToo é uma ferramenta incrível. O aplicativo de browser usa o desenho do usuário para criar traços com base no raio do pincel virtual. A explicação é complexa, mas o efeito é pura diversão. E, ao fim, você pode fazer o download do produto final. Um achado. zefrank.com/scribbler/scribblertoo

Ryotiras no Catarse Depois do sucesso do livro Achados e perdidos, que acabou de ser relançado pela editora Miguilim em Belo Horizonte, mais um membro do coletivo mineiro de quadrinhos Pandemônio leva seu trabalho para o crowdfunding. Ricardo Tokumoto, o responsável pelas Ryotiras, que são publicadas no Ragga Drops e no site ryotiras.com, está organizando cinco anos de trabalho em um livro. Serão 140 páginas com o melhor das tirinhas, sendo 20 de conteúdo exclusivo. Quem quiser uma cópia do livro, que já garantiu o financiamento, pode contribuir no bit.ly/ryotirascatarse. 29


QUEM É RAGGA FOTOS ANA SLIKA E BRUNO SENNA

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Veja todas as coberturas do mĂŞs no bit.ly/quemeragga

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ETAPA AMÉRICA

SUPERANDO OBSTÁCULOS CORREDORES MOSTRAM ENERGIA EM NOITE FRIA À BEIRA DA LAGOA DA PAMPULHA POR RENATA FERRI FOTOS ANA SLIKA E CARLOS HAUCK

NO DIA 11 DE AGOSTO, 1.600 corredores compareceram à etapa América da Ragga Night Run, que teve inicio às 19h, próximo à Lagoa da Pampulha. As inscrições foram feitas para percursos de 5km e 10km. Entre os sorrisos de satisfação que descansavam após a conclusão do trajeto, estava Maria da Conceição, de 55 anos. Ela contou com alegria que se preparou em apenas dois meses de treinamento e correu os 5km com facilidade, junto à amiga Vera Maria das Graças, de 56 anos. “Adorei a música que coloram durante o percurso, serviu para não me deixar desanimar”, diz Vera. No pódio também não faltaram sorrisos. Ivamar de Oliveira, que ficou em primeiro lugar dentre os homens que fizeram o percurso de 5km, com o tempo de 15 minutos e 22

segundos, levantou a bandeira do Cruzeiro para demonstrar alegria em dobro, já que o time havia ganhado um jogo naquele dia. No percurso de 10km da categoria feminina, Rogéria Conceição de Almeida comemorou pela segunda vez. Ela já havia subido ao primeiro lugar do pódio pela manhã, em outra corrida na cidade de Santa Luzia. Rogéria fez o tempo de 40 minutos e 18 segundos e recebeu palmas acaloradas e diferenciadas dos colegas de prova, pois tem deficiência auditiva. Já podemos nos preparar para a próxima etapa, que será dia 10 de novembro e promete tanto sucesso quanto as anteriores.


ETAPA EUROPA A próxima e última parada do circuito Ragga Night Run Espírito Olímpico rola no dia 10 de novembro. Fique ligado no ragganightrun.com.br para mais informações.

ACESSE Confira mais fotos no site: ragga.com.br.


ayla safir

CONTEÚDO RAGGA DROPS

O LADO BOM DO

JEITINHO BRASILEIRO DEPOIS DE TRABALHAR NA GOOGLE E NA MICROSOFT, JOVEM EMPREENDEDORA PAULISTA FAZ SUCESSO NO VALE DO SILÍCIO COM SUA PRÓPRIA START-UP

POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES A IDEIA DO APLICATIVO PARA IPHONE, Lemon, é simples. Transferir sua carteira do mundo real para o virtual, escaneando todo o tipo cartões e recibos para monitorar o vai e vem de seu dinheiro. A tecnologia para fazer isso acontecer é um pouco mais complexa e foi desenvolvida pela equipe liderada pela brasileira Isabel Pesce, de 24 anos, que vive há seis anos nos Estados Unidos. Para tirar o aplicativo do papel, Bel, como prefere ser chamada, começou uma start-up com dois sócios no Vale do Silício, na Califórnia, e, empouco mais de um ano, já conta com mais de dois milhões de downloads na App Store. 34

Criada com capital de risco americano, a iniciativa de Bel impressiona as pequenas empresas brasileiras, que têm tentado criar, mas sem muitos casos de sucesso com esse tipo de investimento. Com o interesse de brasileiros no sucesso que está fazendo, Bel escreveu o livro A menina do vale contando sua saga, ajudando grupos brasileiros e ensinando um pouco do que aprendeu por lá. “O mundo inteiro está com os olhos no Brasil. Nosso país tem muito potencial para se posicionar como líder no futuro”, diz. Porém, o que é realmente impressionante é a história de vida de Bel, que, com sua cara de menina, saiu do Brasil em 2006 para estudar na prestigiada Massachusetts Institute of Technology (MIT). A SAGA

Aos 17, Bel descobriu que era real a possibilidade de estudar na MIT, pois é possível se candidatar do Brasil. O problema era que faltavam seis semanas para o fim das inscrições e Bel não havia feito o SAT (Enem americano) nem tinha feito uma entrevista com um ex-aluno ou funcionário da instituição (exigida para inscrição em escolas conceituadas americanas). Se jogando na possibilidade de ir para a MIT, ela descobriu onde morava um ex-aluno da instituição em São Paulo e foi bater na porta da casa dele. “Encontrei o endereço de um cara da MIT e levei uma caixa com tudo que eu já tinha feito, e ele foi muito fofo. Mas disse que era muito tarde.” Ela não se deixou abater: “Por favor, me dá dois minutos. Vou usar a educação da MIT para fazer do mundo um lugar melhor”. Impressionado, ele fez a entrevista.


“Nosso país tem muito potencial para se posicionar como líder no futuro”, diz Bel Pesce

ACESSE AS EDIÇÕES DIGITAIS DO IRMÃO MAIS NOVO DA REVISTA RAGGA NO RAGGA.COM.BR/DIGITAL >> quinta-feira, 30 de agosto de 2012 CARLOS HAUCK/ESP. EM

raggadrops.com.br MSN >> raggadrops@hotmail.com

Geffeti Carvalho, de 20 anos, começou um movimento que ajudou a minimizar a criminalidade em sua comunidade

PORUMMUNDOMELHOR Jovens mineiros colocam a mão na massa para transformar a realidade com atitudes sustentáveis. Descubra como você também pode fazer a diferença págs. 4 e 5

Mundo melhor

GAME BUNKER Sleeping dogs até parece um novo GTA, mas não é pág. 7

DIVÃ DA SAM Quero namorar, mas ninguém gosta de mim pág. 7

COLEGAS Desconstruindo preconceitos da síndrome de Down pág. 8

Iniciativas jovens de cidadania e sustentabilidade. bit.ly/drops_mundomelhor

ryan lash

Jairo Bouer

Em seguida, Bel teve que encarar o problema da prova. Quem quiser fazer o SAT no Brasil tem que marcar com meses de antecedência. O governo americano manda o número exato de provas requisitadas. Por isso, quando chegou o dia do exame, Bel não foi bem recebida. “Apareci, sem marcar, e eles me convidaram a me retirar. Não tinham prova para mim, mas fiquei na porta esperando alguém não aparecer”, lembra. Ela deu sorte e, quando ficou claro que um candidato não iria, ela recebeu permissão para fazer a prova, que até algumas semanas antes mal sabia existir. “Eu tinha que ter a consciência limpa de que tentei o máximo”, explica. Agora, pule cinco anos no futuro. Aos 22, Bel, já formada em ciência da computação e administração pela MIT, decidiu abandonar um emprego e mestrado no Google (a MIT oferece um programa em parceria com a empresa para alunos estudarem e trabalharem ao mesmo tempo) e percebeu que estava na hora de sair da faculdade e começar a trabalhar. “A vontade de empreender era maior”, conta. Depois de passar um ano trabalhando em uma start-up para aprender como funciona a estrutura, ela estava pronta para abrir a própria empresa. A Lemon cresce rapidamente e mostra que a brasileira aprendeu bem o que foi ensinado nas grandes instituições que frequentou. É o jeitinho brasileiro sendo bem utilizado.

Cinco polêmicas sobre a sexualidade adolescente. bit.ly/drops_ jairobouer

Nada errado

Sites promovem novo jeito de pensar cultura gay. bit.ly/drops_nadaerrado

Nerd Street

Invasão de fãs de HQs, animes e games na Savassi. bit.ly/drops_nerdstreet * O caderno Ragga Drops é publicado todas as quintas-feiras junto ao Jornal Estado de Minas

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APRESENTOU

NA SEGUNDA EDIÇÃO DO DE FRENTE, O MÉDICO FALA SOBRE SEXUALIDADE NA JUVENTUDE

PATROCÍNIO

SEXO PODE SER um assunto embaraçoso. Entre os jovens, então, é mais delicado — os hormônios estão à flor da pele e as dúvidas borbulham na cabeça. Em muitos casos, eles não têm com quem conversar ou sentem vergonha de falar com os pais ou outros adultos. Mas, quando o jovem tem informação e o papo é sem preconceitos e tabus, sexo deixa de ser um bicho de sete cabeças. “Educar é fundamental e falar sobre sexo é importante para desmistificar o assunto”, disse o psiquiatra e escritor Jairo Bouer. O palestrante alertou ainda que a

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REALIZAÇÃO

informação é sempre bem-vinda, mas saber como usá-la é primordial. Jairo participou, no mês passado, da segunda edição do projeto De Frente, parceria entre a Secretaria de Estado de Esportes e da Juventude — por meio da Subsecretaria da Juventude — e a Ragga, que promoverá um encontro por mês até o fim do ano. Na palestra, que rolou na sede do Plug Minas, ele abordou de maneira leve e descontraída temas relacionados à sexualidade, como DSTs, gravidez na adolescência e uso de preservativos e métodos anticoncepcionais.


fotos: bruno senna

O DE FRENTE CONTINUA!

17 de setembro, às 19h30 Rua Santo Agostinho, 1.441 – Horto Belo Horizonte – MG Entrada franca

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COMPORTAMENTO

Debaixo LENçÓIS POR FLÁVIA DENISE DE MAGALHÃES

CONHEÇA O MUNDO DO EROTISMO PARA MULHERES QUE JÁ EXISTIA ANTES (E VAI EXISTIR DEPOIS) DO SUCESSO CINQUENTA TONS DE CINZA

PORNOGRAFIA, ERÓTICA OU ROMANCE? As novas produções envolvendo sexo voltadas para mulheres não têm nada em comum com aquelas cenas explícitas, típicas dos filmes que fazem sucesso em motéis. Aqui, o que importa não é o tamanho dos seios da mulher, mas se ela se sentiu gostosa durante o sexo. “A pornografia está mais ligada ao ato sexual e menos ao enredo e à história. O livro tem o ato, mas tem mais do que isso. Quem esta narrando é uma menina de 21 anos, o ato sexual faz sentido dentro da história”, argumenta Juliana Cirne, gerente de comunicação da Intrínseca, se referindo ao mais recente sucesso da editora, Cinquenta tons de cinza. Juliana não é a única a se sentir mais confortável com a ideia de estímulo sexual para mulheres quando ele vem em formato de livro. A fã de romances e livros eróticos Bruna Britto, de 20 anos, também é dessa opinião. “Não curto esse termo ‘pornô’. Se você procurar no dicionário, ele remete à literatura obscena, e não acho que seja obscena uma literatura que explora os desejos femininos, mexendo com 38

os sentimentos também. Ninguém diz ‘pornô para homens’. É apenas literatura erótica feminina”, defende. As mais de 200 mil compradoras do sucesso internacional de E. L. James estão com Bruna. Cinquenta tons de cinza conta a história de Anastasia Steele, uma virgem recém-formada em literatura que encontra seu príncipe encantado no bilionário Christian Grey. A pegadinha é que o homem bonito, musculoso e bem-vestido também é um dominador e gosta de levar as mulheres para uma sala recheada com todo tipo de apetrechos masoquistas que Anastasia batiza de “sala vermelha da dor”. Com uma protagonista totalmente sem experiência, o primeiro livro da trilogia foca no descobrimento do que é o prazer de Anastasia e na sua dificuldade em lidar com o que Christian Grey considera prazeroso. Concebido como uma fanfic (ficção inspirada em determinada obra feita por fãs) apimentada de Crepúsculo, de Stephenie Meyer, Cinquenta tons de cinza faz um sucesso comparável à sua inspiração e já vendeu mais de 20 milhões de cópias em todo


fotos: lust productions/divulgação

O livro é menos ameaçador. No papel, você não vê e pode imaginar suas próprias imagens, o que permite que você leve a fantasia até onde se sente confortável

o mundo. Mas se a fanfic de Crepúsculo colocou o assunto na roda, a verdade é que o mercado erótico para mulheres sempre existiu. É fácil encontrar referências nos milhares de títulos de editoras especializadas, como a Nova Cultural, responsável pela publicação de séries de sucesso do gênero, como Sabrina e Júlia. Porém, na contramão do cenário editorial que investe cada vez mais em romances picantes, a editora — que durante 40 anos foi referência no Brasil em literatura erótica — fechou as portas este ano, após uma tentativa malsucedida de transferir todo o seu catálogo para e-books. Apesar disso, o mercado dos livros de banca de jornal permanece com a forte presença da Harlequin, responsável por séries como Paixão, Desejo, Jessica e Destinos, entre outras. Enquanto isso, editoras mais tradicionais investem em títulos eróticos. Desde 2008, a Rocco publica as aventuras de Anita Blake, policial especializada no sobrenatural que acaba em um bacanal com dois vampiros e dois lobisomens. Ao mesmo tempo, a Paralela, selo da Companhia das Letras, está publicando Toda sua, que conta

a história de uma mulher que, ao encontrar Gideon por acaso, é completamente arrebatada. A editora Novo Século também está na parada e lançou, no último mês, Prazeres da noite, de Sherrilyn Kenyon, sobre um romance que atravessa barreiras do preconceito com o sobrenatural com a ajuda de sexo. PORNÔ COM SENTIMENTO

Mas nem só de literatura é feito o mundo do erotismo para mulheres. Apesar de não faltar quem declare que elas são incapazes de sentir prazer com estímulo visual, não faltam mulheres determinadas a provar que pornografia pertence sim ao universo feminino. “Existem vários estudos tentando responder essa questão. Tudo indica que as mulheres respondem fisicamente a qualquer tipo de estímulo erótico visual, mesmo quando dizem não sentir nada. O que parece ser a resposta é que mulheres se sentem melhor ao assistir filmes eróticos feitos para elas, o que as permite sentir a experiência de forma mais consciente e favorável, sem sentir culpa ou vergonha”, diz Candida Royalle, ex-atriz pornô, diretora de filmes para mulheres 39


fotos: lust productions/divulgação

e considerada uma das pioneiras do gênero. Royalle usa a mesma explicação para o fato de mulheres parecerem preferir ler ao invés de assistir. “O livro é menos ameaçador. No papel, você não vê e pode imaginar suas próprias imagens, o que permite que você leve a fantasia até onde se sente confortável. Quando você tem a imagem na sua frente, com duas (ou mais) pessoas que estão de fato fazendo o ato sexual, você pode se encontrar assistindo a algo que não está completamente confortável”, diz. Com o nível de conforto das mulheres em mente, Royalle abriu uma produtora de filmes, a Femme Productions, que tem como objetivo fazer filmes que casais possam assistir juntos e que deixem as mulheres confortáveis. Erika Lust é fundadora e diretora da Lust Productions e começou a dirigir pornô porque não estava satisfeita com o que via nos filmes. “Não fazia sentido para mim nós não sermos mulheres modernas, mas adolescentes cheias de tesão, babás maníacas por sexo, donas de casa desesperadas, enfermeiras gostosas, prostitutas ninfomaníacas, sempre a serviço de criminosos, cafetões, traficantes, multimilionários ou de 40

Entenda A DIFERENÇA PORNOGRAFIA Feita para mulheres, tem muito em comum com o que passa nos canais de motel. A diferença é que não coloca a mulher na posição de prostituta ninfomaníaca ou dona de casa disposta a transar com o primeiro entregador. ERÓTICA São contos e livros que descrevem sexo explícito, mas que também têm uma pegada forte no lado emocional da história, sempre colocando a mulher em uma situação confortável. ROMANCE Ele pode até ter alguns momentos mais picantes, com intenções e sentimentos exacerbados, mas não espere encontrar descrições detalhadas de membros. O foco aqui é mostrar o lado emocional, não o físico.


afrodescendentes que não se cansam de sexo. Não fazia sentido as mulheres estarem sempre interessadas em agradar ao invés de ser agradadas e sempre felizes ao encontrar um pênis gigantesco. Eu queria saber onde estavam os meus valores, o meu estilo de vida, a minha sexualidade”, conta. Ela começou o trabalho em 2004, com o curta The good girl, que foi baixado mais de duas milhões de vezes nos primeiros meses e ganhou inúmeros prêmios. Daí, Erika entrou no mercado de vez e começou sua produtora. “Pornografia é uma parte enorme da cultura que vivemos. As mulheres não podem simplesmente ignorá-la, temos que participar e discutir esse gênero.”

“Pornografia é uma parte enorme da cultura que vivemos. As mulheres não podem simplesmente ignorá-la, temos que participar e discutir esse gênero”, diz Erika Lust

PORNOGRAFIA vs. ERÓTICA Apesar de defenderem a disseminação de livros e filmes eróticos, Lust e Royalle se declaram contra Cinquenta tons de cinza. “Fiquei chocada quando vi que Kate, a melhor amiga de Anastasia, a heroína virginal, declara: ‘Demorei quase um ano para ter o meu primeiro orgasmo a partir da penetração e você chegou na sua... primeira vez?’. Não pude acreditar. A autora conseguiu manter o mito mais opressivo que existe para as mulheres hoje: que a maioria delas deveria ser capaz de atingir o orgasmo com o ato sexual”, conta Royalle.

Erika Lust também fez questão de escrever sobre o livro, condenando-o por ter “valores chauvinistas”. Segundo a diretora, o livro valida a “fantasia masculina” ao colocar Christian como o primeiro parceiro sexual de Anastasia Steele. “Quantas mulheres têm uma visão romântica de sua primeira vez após o fato em si?”, questiona. Lust também critica o fato de Anastasia ficar em uma relação que ela própria considera abusiva (como ela nunca assina o “contrato” de Grey, não há o consentimento para as práticas sexuais) para tentar salvar um homem “danificado”.

O segundo volume, Cinquenta tons mais escuros, será publicado em 15 de setembro, pela editora Intrínseca

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apresenta

A

flores

E TAO cHEGaNDO MODA PRIMAVERA/VERÃO

SE PREPARE PARA AS ÚLTIMAS NOITES FRIAS DO ANO. AS FLORES DA PRIMAVERA E O CALOR DO VERÃO JÁ ESTÃO QUASE AQUI

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Matheus usa Camisa, bermuda jeans e tĂŞnis iate Cavalera

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EQUIPE FOTOS Bruno Senna (brunosennaimagens.com) PRODUÇÃO DE MODA Thiago Leão (thiagoleao.com) MAQUIAGEM Jana Záhida (janazahida.com) MODELOS Matheus Martins, Izabela Borges, Anna Pinheiro (Woll Agency)

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Administração

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Izabela usa Saia e camisa Bazzar Brincos Shop 126 45


CULTURA

Game music POR RENATA FERRI FOTOS CARLOS HAUCK


BANDAS ESPECIALIZADAS EM REPRODUZIR E CRIAR TRILHAS SONORAS DE VIDEOGAMES CONTAM SOBRE A EXPERIÊNCIA DE RECRIAR O MUNDO VIRTUAL COM INSTRUMENTOS REAIS

MUITAS COISAS NA VIDA a gente consegue esquecer, mas certamente algumas trilhas sonoras de videogames estão marcadas na memória, fazendo-nos lembrar de momentos agradáveis em companhia de personagens queridos como Mario, Luigi, Pac Man, Mega Man, Sonic e muitos outros. O cenário de bandas que fazem músicas inspiradas em videogames cresce no Brasil, para atender ao público cada vez mais interessado em ouvir ao vivo e ter em casa suas trilhas preferidas de jogos. Para recriar em shows os sons que dão vida aos videogames, a banda belo-horizontina Abreu Project usa sintetizadores e controladores, segundo Leonardo Abreu, idealizador e músico do projeto. “Quando vamos tocar ao vivo, levamos esses instrumentos, que nos permitem fazer até mesmo o barulho das moedinhas que tem no jogo do Mario.” Ele conta que a banda já tem quatro discos só de musicas inspiradas em games. “Tudo começou em 2006, quando gravei de brincadeira a trilha do jogo Mega Man 3. Acabou ficando muito legal, então eu mostrei para alguns amigos e resolvemos iniciar o projeto. Depois de ensaiar bastante, em 2007 já estávamos fazendo shows.” Segundo Leonardo, o público que comparece às apresentações é muito fiel e sempre adora quando a banda toca trilhas clássicas como as de Mario World e Top Gear. “Geralmente é um pessoal de 20 a 30 anos, que curtiu muito os jogos das décadas de 1980 e 1990”, diz. No site abreuproject.com.br, você pode ver alguns vídeos de games com trilhas interpretadas pela banda. Fora de BH, o cenário da música inspirada em videogames também cresce. Ricardo Marques é fã de Nintendo 64 e toca guitarra na banda paulista Os Gameboys. “No Brasil, o público que gosta de ir a shows com

musicas de videogames ainda é pequeno com relação a países como Japão e Estados Unidos, onde a cultura de games é muito mais intensa. Porém esse nicho está em ascensão por aqui”, diz Ricardo. Ele conta que a banda começou em 2007, época em que ele e os demais integrantes estavam na faculdade de música. “Nós temos baixista, baterista, guitarrista e tecladista. O teclado é o instrumento cujo timbre mais caracteriza a música inspirada em games”, destaca Ricardo, que afirma também que eles não usam sintetizadores para criar o som. De acordo com o músico, “as pessoas gostam de ouvir interpretações das músicas de games porque faz aquilo se transformar em algo real, que você pode curtir e ser fã como de qualquer outra banda”. O repertório que Os Gameboys tocam depende do público que está presente. “Se for um pessoal muito aficionado, eles não querem ouvir trilhas clássicas, preferem algo que não seja mainstream”, diz. A banda já têm um álbum ao vivo com a compilação dos melhores shows que já fizeram. O download pode ser feito no site gameboys.com.br. A paixão pela música, ao se juntar com a paixão pelo videogame, pode trazer resultados muito criativos, como é o caso da também paulista banda Megadriver, que apresenta versões de musicas de games com uma pegada heavy metal. “O gosto pelos videogames veio na mesma época que pelo heavy metal. Quando adolescente, era comum jogar com os amigos, ouvindo um LP de uma banda que curtíamos ao fundo. Ficava imaginando como que essas músicas reproduzidas pelos ‘chips’ dos consoles soariam se tocadas com instrumentos de verdade, com guitarras e bateria agressivas. Acabei montando uma banda para tocar o estilo que batizei de Game Metal”, conta Nino Megadriver, guitarrista. Para quem faz da música de games uma carreira, a hora de jogar é tão importante quanto a de tocar. “Sou do tipo que, se a trilha sonora não for boa, paro de jogar. Julgo que a trilha é uma parte muito importante do game. A música faz você entrar por completo no universo da fase do jogo. Não adianta nada você passar por um estágio violento, ouvindo uma música calma, ou passar por uma fase de suspense, ouvindo um tema eletrônico repetitivo. Para mim, a música é a catarse do mundo dos games”, analisa 47


PARA QUEM FAZ DA MÚSICA DE GAMES UMA CARREIRA, A HORA DE JOGAR É TÃO IMPORTANTE QUANTO A DE TOCAR


GAME MUSIC BRASIL FESTIVAL Em outubro, ocorrerá a segunda edição do Game Music Brasil Festival, que premia os melhores compositores de trilhas para jogos eletrônicos no país. As categorias a que se pode concorrer são: melhor trilha sonora, melhor jogo indie, melhor chiptune e melhor remix. Na primeira fase, as músicas são selecionadas por meio de voto popular, e a segunda fase vai contar com 10 jurados, que serão pessoas do mercado fonográfico, músicos, jornalistas e representantes de área comercial do mercado de games. A inscrição gratuita pode ser feita no site do GMF (gamemusicbrasil.com.br) até 9 de setembro. A apresentação dos vencedores será em São Paulo, no dia 14 de outubro, durante o concerto Video Games Live.

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GASTRONOMIA

Comida de POR LARA DIAS FOTOS BRUNO SENNA ILUSTRAÇÕES JONATHAN SOARES

PARECE MÁGICA MINIMALISTA, MAS NÃO É. DEPOIS DE ACOMPANHAR UMA AULA SOBRE GASTRONOMIA MOLECULAR, ENTENDEMOS PORQUE OS RESTAURANTES QUE SERVEM PRATOS ELABORADOS COM ESSA TÉCNICA ESTÃO ENTRE OS MAIS DISPUTADOS E OS MAIS CAROS DO MUNDO

A HORA DO ALMOÇO SE APROXIMA e o trânsito de São Paulo, ao contrário dos motoristas, parece não ter pressa alguma. Estamos a caminho da refeição mais importante do dia. No campus Anália Franco, da Universidade Cruzeiro do Sul, somos orientados a usar toucas descartáveis na cabeça ao entrar onde o chef Kaká Silva, proprietário do GastronomyLab, ministra um curso para 28 alunos interessados em aprender as técnicas da gastronomia molecular. 50


tecem no simples ato de cozinhar um ovo, por exemplo. Ter o controle do que se está fazendo dá liberdade ao chef para criar na cozinha, com a segurança de saber exatamente o que acontecerá. Por esse motivo, deve-se ter o cuidado de não passar dos limites. “Sei exatamente o que acontece, então fica mais fácil atingir essas pirotecnias da cozinha. Ao mesmo tempo, a gastronomia molecular pode ser extremamente perigosa. Você se torna quase um mago, e a fronteira entre fazer uma bela coisa e outra de mau gosto é muito tênue”, destaca. E qual seria esse limite? “O limite é ter amor pela cozinha, além de conhecimento. Respeitar os alimentos, os ingredientes e as pessoas para qual você cozinha”, responde Kaká. A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA

O ambiente que nos cerca é de um branco estonteante com fartas janelas para entrada de luz. Todos vestem aventais brancos e assistem ao chef pulverizar sobre pedaços de carne crua um pó branco que promete grudar proteínas, formando uma liga e unindo toda a carne em um único rolo para futuro preparo de deliciosos bifes macios. O pozinho mágico é feito de hidrocoloides (também conhecidos como “goma”), que permitem criar quase qualquer forma e atingir qualquer textura sem comprometer o sabor da comida. E o contêiner que eu havia avistado embaixo da mesa, logo na entrada, armazenava nitrogênio suficiente para fazer uma festa de fumaça. A primeira impressão que fica é de que entramos num laboratório de experiências científicas surpreendentes. E a última, de que é exatamente isso o que acontece. “A gastronomia molecular é a introdução de novos ingredientes, novos equipamentos e uma visão realmente crítica da cozinha”, explica Kaká Silva. O que na visão de muita gente parece magia, na gastronomia molecular é o conjunto de técnicas estudadas para compreender os fenômenos físicos e químicos que acon-

A comida gostosa da vovó sempre terá o seu lugar em nossos corações, principalmente em tradicionais domingos de família. No entanto, quando investimos pequenas fortunas para bancar um jantar num restaurante, esperamos que o “algo a mais” não venha só do tempero. Pagamos pelo prato fino, pelo ambiente, pela música, pelo atendimento e por toda a composição que agrega valor na conta final daquele restaurante bacana. Atualmente, entre os mais caros e conceituados restaurantes do mundo estão aqueles que utilizam o suporte das técnicas da gastronomia molecular. Com perdão do trocadilho e licença poética, isso só pode ter uma explicação: a gente não quer só comida. A gente quer comida, diversão e arte, tudo no mesmo prato. A possibilidade de mudar textura, cor e estrutura dos alimentos pode parecer futurista. Mas, na verdade, a gastronomia molecular surgiu em 1988, quando amantes da culinária se reuniram com os cientistas Nicholas Kurti e Hervé This, propondo um estudo aprofundado dos fenômenos envolvidos na arte de cozinhar. Foi mais uma das revoluções do início do século 20, rompendo com paradigmas tradicionalistas. 51


“As pessoas estão cada vez mais interessadas no que eu chamo de aventura culinária. Esses restaurantes [de gastronomia molecular] são muito concorridos, e a explicação é simples: uma experiência divertida, uma refeição lúdica”, pontua Kaká. O prato minimalista de caviar verde exposto no balcão do laboratório pode ser comparado a uma obra de arte, com uma vantagem: além de se observar, pode-se degustá-lo. A quebra de expectativa é que o caviar é de mentirinha. Ele é verde porque é feito com o vegetal usando a esferificação, técnica muito comum da gastronomia molecular, que aprisiona todo e qualquer líquido em uma película esférica.

“Ao contrário do que muitos pensam, nós não usamos ingredientes da indústria química, nem conservantes”, conta o chef Kaká

“Ao contrário do que muitos pensam, nós não usamos ingredientes da indústria química nem conservantes. É tudo de origem natural. Mas entendo que usar nitrogênio na cozinha possa parecer estranho, já que antigamente ele só era visto em laboratórios”, explica Kaká, que defende a técnica a qual se dedica a ensinar. “A única diferença é que o conhecimento científico aplicado na cozinha me permite ter mais controle do que estou fazendo. Acredito que a culinária seja a última arte modernista, e a gastronomia molecular é uma cozinha totalmente artística”, diz. Finalmente, livres de qualquer receio, vamos à sobremesa. Para finalizar a aula, o chef traz o barril de nitrogênio, despeja a fumaça branca numa tigela e, em menos de dois minutos, um sorvete incrivelmente delicioso e cremoso. “Parece um truque de mágica, mas deixar o empirismo de lado é perceber que cozinhar é mais do que seguir uma receita. O conhecimento só simplifica”, ressalta Kaká, com o rosto nublado de N2. 52

O prato minimalista é um ceviche de salmão com caviar de pepino



TURISMO

Paris é uma festa AS MELHORES DICAS PARA QUEM QUER CONHECER A CIDADE DAS LUZES E VER DE PERTO TODOS OS SEUS MONUMENTOS

TEXTO E FOTOS LEONARDO ALEXANDER

divulgação

A CAPITAL FRANCESA é um dos destinos turísticos mais cobiçados do mundo. A cidade das luzes é famosa por sua riqueza arquitetônica, cultural e histórica, pelos seus charmosos cafés e pela efervescência artística. Paris consegue ser encantadora em todas as estações do ano. Dentre as atrações mais badaladas estão a Torre Eiffel, o Museu do Louvre, a ChampsÉlysées e a Catedral de Notre Dame. Conheça Paris.

DESBRAVANDO A CIDADE

O sistema de metrô de Paris é muito eficiente e leva você onde quiser chegar. No entanto, muitas vezes é melhor evitar os transportes públicos mais tumultuados e caminhar pelas ruas da cidade ou pelas margens do Rio Sena. Se você quiser conhecer mais da história do lugar e encontrar pessoas do mundo inteiro, faça um tour gratuito a pé com guias locais (newparistours.com). Outra maneira interessante de desbravar Paris é sobre duas rodas. Você pode alugar uma bicicleta ou retirar uma Vélib nos diversos postos espalhados pela cidade.

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EM CONTATO COM A NATUREZA

Aproveite para passear, fazer piqueniques, encontrar amigos ou simplesmente relaxar nos belos parques, praças e jardins. Nos dias ensolarados, você encontrará nativos e turistas deitados sobre a pelouse (grama). Entre tantas opções, não deixe de visitar o Jardin de Luxembourg, o parque Buttes Chaumont e o Jardin des Tuileries.

VÁ AOS MUSEUS E IGREJAS

ANDE DE BARCO PELO SENA

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O passeio de barco pelo rio Sena é também imperdível. Durante o dia, é uma opção para apreciar a arquitetura dos grandes edifícios, pontes e a Torre Eiffel. Se você preferir fazer o passeio no fim do dia, quando o sol se põe, ganhará ainda mais com a chegada da noite e as luzes incríveis da cidade. Há várias opções de preços. Pesquise e não deixe de fazer o passeio! É um investimento que vale a pena.

VEJA A TORRE EIFFEL DE PERTINHO E APRECIE A VISTA DO ALTO

A Torre Eiffel já impressiona à distância. Vista de baixo parece não ter fim. A melhor vista de Paris está lá. Apesar das filas, que parecem desanimadoras, o passeio não perde seu encanto. Uma boa dica é que você vá bem cedo, para não perder muito tempo esperando. Se possível, compre o seu ticket com antecedência pela internet (tour-eiffel.fr).

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Mesmo se você não for um aficionado por arte, não deixe de visitar lugares como o Museu do Louvre, Museu D’Orsay, o Centre Pompidou e a Catedral de Notre Dame. O Louvre é um das construções mais famosas do mundo e reúne um acervo monumental. Reserve pelo menos três horas para apreciar as obras. Outra grande pedida é o Museu D’Orsay, instalado em uma antiga estação de trem e roteiro predileto dos amantes de arte. Lá, você encontrará obras clássicas de grandes pintores como Monet, Renoir, Degas, Manet, Van Gogh, Cézanne e Matisse. Já o Centre Pompidou é a melhor opção para quem gosta de arte moderna. Por fim, a Catredal de Notre Dame, em arquitetura gótica, fica no coração de Paris e é um dos lugares mais visitados, sendo também um dos cartões postais mais bonitos da cidade.


reuters/charles platiau

CHAMPS-ÉLYSÉES E ARCO DO TRIUNFO

afp photo/patrick kovarik

A Avenida Champs-Élysées é um lugar em que converge o glamour das lojas caras, a diversidade de pessoas, a arquitetura impressionante e a amplitude que culmina no Arco do Triunfo, legado histórico de Napoleão. Caminhar por lá faz bem. Você vai ter vontade de continuar sua caminhada avenida abaixo, passando pela ponte Alexandre III, até chegar à entrada do Jardin des Tuilleries. A desvantagem é que todos que visitam Paris passeiam por lá. Por isso, a avenida está sempre cheia.

DIVIRTA-SE EM MONTMARTRE

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Essa é a região boêmia de Paris, historicamente habitada por artistas e bons vivants. Por lá, você irá encontrar artistas de rua, feiras, bares e restaurantes. No famoso cemitério de Montmartre, estão os restos mortais de grandes nomes da arte francesa, como Edgar Degas e Gustave Moreau. E como não citar uma das principais atrações de Montmartre? Trata-se da basílica do Sacré-Coeur de Montmartre.

FAZENDO COMPRAS...

Se você é daqueles que não resiste à tentação das compras, Paris pode ser o paraíso ou a perdição. Nas Galeries Lafayette, você encontrará as melhores e mais caras marcas. O bairro do Marais tem seu aglomerado de lojas, boutiques e ateliês. A Champs-Élysées traz o luxo, mas também as lojas de departamento, com preços mais acessíveis. Montmartre é ideal para se comprar lembrancinhas. E no famoso e imenso Mercado das Pulgas, é possível encontrar uma diversidade sem igual de artigos e ainda se surpreender com galerias de arte escondidas pelo caminho.

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DÊ UMA VOLTA PELO QUARTIER LATIN

Essa é uma das regiões mais tradicionais de Paris, cujo nome é uma referência ao Latim, outrora ensinado e falado nas universidades do entorno. Fica próxima à Universidade Sorbonne e tantas outras instituições de ensino famosas da cidade. Por isso, é uma região predominantemente estudantil. No coração do Quartier Latin, está o Panthéon, outro famoso monumento da cidade, legado deixado por Louis XV. Bem perto do Panthéon, encontra-se a Rua Mouffetard, uma das mais antigas e encantadoras de Paris. Com o comércio rico, bares, pubs e restaurantes, a rua atrai estudantes, nativos e turistas em busca de movimento, arte e diversão.

APROVEITE A NOITE PARISIENSE

Se você gosta de sair à noite, Paris oferece uma infinidade de opções. Os melhores shows temáticos estão nos cabarés Moulin Rouge e Crazy Horse. Nas noites de verão, turistas e nativos se misturam para dançar tango ao ar livre na Quai Saint-Bernard. Se o seu gosto é mais clássico, você pode também assistir a uma ópera ou um ballet na Paris Opera ou Bastille. Se o assunto é diversidade, o Bairro Marais pode ser a melhor pedida. A cada esquina, uma boate diferente, um bistrô ou um café, com muita gente animada e boa música.

DICA EXTRA NAS REDONDEZAS DE PARIS... PASSE UM DIA EM VERSAILLES

O Palácio de Versailles fica a 40 minutos de Paris (viagem de trem) e é um dos mais imponentes castelos do mundo. Com jardins intermináveis e vários anexos, outrora utilizados para receber convidados reais, o palácio foi habitado pelos reis Louis XIV, XV e XVI. A extravagância do espaço é bem traduzida nas fontes gigantes e na imensidão dos jardins. Vale muito a pena reservar um dia para esse passeio. Os melhores dias para visitar o palácio são quartas, quintas e sextas-feiras. Já os melhores horários para a visita ao palácio e demais aposentos são no início da manhã ou após as três horas da tarde, quando há menos gente e você poderá apreciar os detalhes.

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PERFIL

POR BRUNO MATEUS FOTOS BRUNO SENNA

COM A VIDA MARCADA POR ALEGRIAS E TRAGÉDIAS, ELZA SOARES ENFRENTOU TUDO E TODOS PARA CHEGAR ONDE CHEGOU. TENDO A MÚSICA COMO SUA MAIOR PARCEIRA PARA CURAR AS FERIDAS DO PASSADO, ELA DÁ SINAIS DE QUE NÃO VAI PARAR TÃO CEDO 58

Mil novecentos e cinquenta e três. Uma menina magricela adentra o palco do programa dominical Calouros em desfile, comandado por Ary Barroso, na Rádio Tupi. Pesando poucos menos de 40Kg, a menina de 16 anos causou graça na plateia pela roupa que usava — muito pobre, teve que pegar um vestido da mãe e ajeitá-lo ao corpo com alfinetes. O compositor de Aquarela do Brasil assustou-se com a figura da garota que queria ser cantora. A plateia gargalhava, com a certeza de que ali não era o lugar dela. Depois de uma breve conversa, Ary Barroso emendou: “Então me faz um favor e me diga de qual planeta você veio”. “Do mesmo planeta seu, seu Ary”, disse ela. “E qual é o meu planeta?” “Planeta Fome”, finalizou. Um silêncio estrondoso invadiu o estúdio. Quem estava rindo parou de rir. Após a caloura cantar Lama, Ary Barroso tomou-a em seus braços e proclamou: “Senhoras e senhores, neste exato momento nasce uma estrela”. Nascia, então, Elza Soares. Era a


primeira aparição pública da voz rouca que encantaria a todos. Desde então, Elza passou por muita coisa. Viúva aos 18 anos — casou-se aos 12 —, já havia visto dois de seus filhos morrerem de fome. Em 1962, começou o romance com um anjo das pernas tortas, um tal Mané Garrincha. Por ele ser casado, Elza foi massacrada pela sociedade. Vista como persona non grata, chegou a ser expulsa do país pela ditadura. Entre alegrias e tragédias, ela parece equilibrar-se por uma linha tênue entre a desgraça e a felicidade.

Enfrentando os espinhos do destino, Elza tornou-se uma cantora brilhante, dona de uma voz marcante. Em meio século de carreira, mostrou porque a criança miserável que carregava uma lata d’água na cabeça foi coroada, em 2000, pela BBC de Londres, a cantora do século. Tema de um documentário lançado em 2011, a trajetória da cantora será retratada agora num longa, que está sendo produzido pela cineasta Elizabete Martins. Aos 75 anos, com um pique invejável, Elza Soares continua usando a música para aliviar as dores da alma. 59


Apesar dos seus 75 anos, me recuso a chamar você de senhora. NEM ME LEMBRO DISSO, cara. Lembro que tenho 24 horas de vida.

O pique que você tem é incrível. O que faz para manter a forma? MALHO, ME ALIMENTO BEM. Gosto um pouco de mim, costumo gostar mais dos outros do que de mim. Mas esse povo de quem gosto vale a pena também. Sou devota de São Jorge, converso com ele todos os dias, estou ao lado dele, ele está ao meu lado. Acho que isso me dá força. Acho que Deus tem sido muito bom para mim.

Você é religiosa?

sou mais espírita do que outra coisa. Acredito que todos nós pertencemos a um espírito. Essa matéria aqui é uma casa boba de tijolo de segunda classe, bate uma chuva daquelas, bate um vento e o tijolo cai. Somos uma casa fraca, mas o espírito tem que ser forte. Talvez seja por isso que trato muito bem da minha matéria — para poder fortalecer mais o meu espírito.

Já pensou em atos mais extremos, como suicídio?

Posso até brincar de morrer, mas de verdade não, não é por aí. Eu seria muito ingrata com Deus. São Jorge não permitiria isso.

CRUZ CREDO, NÃO.

GOSTO MAIS DO MEU ESPIRITISMO,

Sua relação com Belo Horizonte é muito boa. De onde vem isso?

não sei bem. Mas tive um programa de rádio aqui, talvez possa ser isso. Era um programa muito exaustivo, eu saía daqui, fazia um programa de rádio no Uruguai... De Montevidéu, ia para o Chile. Então era um programa em Belo Horizonte, um em Montevidéu e outro no Chile. Do programa daqui me lembro muito bem, era um momento muito tumultuado da minha vida. Aliás, minha vida sempre foi muito tumultuada.

PARA FALAR A VERDADE,

Pois é, sua vida sempre foi de altos e baixos. Cantar sempre foi o seu remédio? AINDA É REMÉDIO BOM, é a medicina da alma. Minha vida é muito vida e morte. Já passei por muita coisa, acho que todo mundo passa. Não quero chegar aqui e dizer que sou a única, todo mundo passa por isso. Está aqui na Terra, está vivo, vai passar por problemas. Uns suportam mais, outros não. Acho que sou resistente, essa pele aqui é um couro danado. 60

Na Copa de 1962, no Chile, você foi madrinha da Seleção Brasileira. Naquela ocasião, quando cantava num clube em Santiago, alguém ficou encantado com a sua voz. E esse cara era o Louis Armstrong. Como foi o encontro?

Eu achava que ele me imitava. Agora você imagina, que criança idiota! Quando olhei para trás, aquele negão forte, grande, um sorriso muito bonito. E eu lá sabia quem era Louis Armstrong? Disseram: “Elza, vai lá, ele quer falar com você”. Fui toda entusiasmada falar com o negão, saber o que ele queria comigo, né? Cheguei lá e ele: “Oh, yeeeah!” [imita a voz característica do jazzista]. Quem é esse, meu Deus do céu? “Yeah, my daughter”. Pô, chego aqui e o cara ainda me chama de doutora! Virei para alguém e disse: “Vai lá, diz para ele que não sou doutora, diz a ele que me chamo Elza Soares”. Mas ninguém entendia, achavam que eu estava brincando. Eu não entendia nada de inglês. Aí me falaram que ele tinha me chamado de filha, mas eu disse que ele tinha me chamado de doutora. “Não, Elza, daughter em inglês quer dizer ‘filha’”. Depois chamei-o de “my father”, não sabia pronunciar nada direito, mas ele entendeu. Ficou aquela amizade linda, aquele homem me amando muito. Aí fui para o México [depois da Copa], fiz mais uma apresentação com ele, já sabendo quem era mais ou menos o cara. Ele queria me levar para Geórgia. Não fui por causa das crianças, já era mãe, tinha os meus filhos.

CARA, MUITA GAFE.

Durante a Copa de 1962, você também conheceu uma pessoa que marcaria sua vida para sempre. ANTES DA COPA , na verdade. Foi no Brasil mesmo. Fui procurada pelo Nilton Santos [ex-jogador do Botafogo e da Seleção] para que fizesse uma campanha para o Mané ganhar um carro. Falaram que a vida dele era igual a minha, que também tinha uma porção de filhos, que queriam ajudá-lo a ganhar um carro. Recebi não sei quantos negócios de rifa para passar aos artistas comprarem para que ele fosse o ganhador do carro. Eu, com vergonha, comprei todas. E ele ganhou o carro. Aí fui convidada para ser a madrinha da Seleção, não por ele [Garrincha], mas por um empresário. E ganhei um presente, porque o Mané me deu a Copa de 1962.

Como foi o primeiro encontro?

Ele queria que eu fosse onde eles estavam concentrados. Eu jamais faria isso, não tem cabimento e tinha um cara que me perturbava muito dentro da Seleção. Um babaca lá que estava querendo a Elza Soares para ele. Não vou citar nome, deixa ficar no ar.

FOI MUITO GOZADO.


Cantar ainda é remédio bom, é a medicina da alma Vou ficar curioso.

Isso tudo por...

Aí eu não queria ir, não queria perturbar o Mané. Até um dia que o Paulo Amaral [preparador físico da Seleção] foi ao hotel e disse: “Vai visitar o Garrincha, ele quer ver você, sua visita vai ser boa para ele”. Já tinha visto ele uma vez na concentração, em Campos do Jordão, mas nada demais. Fui ver o Mané e ele disse: “Muito obrigado por você ter vindo e vou te oferecer a Copa. Vou ganhar a Copa para você”. E ganhou, cara. Quase sozinho. Por isso, eu digo: “Rei é o Mané, que me desculpem os outros”. Aí, começamos a namorar.

POR NADA.

O MUNDO VAI FICAR CURIOSO.

Era uma sociedade muito falsa, muito machista, todo mundo fazia por debaixo dos panos. Nunca precisei do dinheiro do Mané para viver, nem dele nem de ninguém. Preciso do meu e da minha voz, que até hoje Deus protege. Nunca tive namorado para me bancar, não preciso disso. É mais fácil eu ajudá-los do que me ajudarem. Paguei muito caro por esse tributo. Não me arrependo. Valeu a pena, fui feliz. Só não pude fazer dele mais porque ele não quis.

Depois da Copa? SIM, mas eu tinha muito medo. Ele tinha uma amante, que era a Angelita Martins. Sabia que ia pagar um tributo muito caro por ser a Elza Soares, eu já era conhecida demais. E foi quando a coisa começou muito braba.

Ele tinha um problema sério com álcool, né? EU NÃO SABIA

na época do alcoolismo.

E foi braba mesmo, até ameaça de morte você recebeu. Só faltou você ser apedrejada.

É verdade que os amigos dele não gostavam de você, porque você tirava o Garrincha dos bares?

na Av. Nossa Senhora de Copacabana, a [rua] Barata Ribeiro fechou e todos os prédios me jogavam coisa em cima. Eu com as crianças, fiquei abraçada com elas e jogavam balde, água, lata...

QUALQUER NAMORADO que eu venha a ter, se tiver um amigo do qual não gosto, que sei que vai prejudicá-lo, vou perder o namorado, mas aquele amigo vai sair do

FUI APEDREJADA

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caminho. Ou sou companheira ou não sou nada. Então, fiz isso com o Mané. Tinham as pessoas que eu achava que eram o demônio na vida dele. Na época, era muito difícil, nunca bebi, nunca teve a ver com minha vida. Paguei muito caro por ser mulher, por ser essa criatura com tanta coragem de falar que sou. Hoje, defendo muito o mundo gay e as mulheres. Ainda quero ver mulher gostando de outra mulher, porque é difícil. Se ela puder tirar do caminho, destruir sua vida, ela vai destruir. Mulher é muito competitiva, infelizmente. Muito traiçoeira. Gostaria muito de mudar isso. Imagino que a Dilma ter sido eleita presidente teve um significado importante para você.

E precisamos de mais mulheres no poder. Agora vim de Brasília, fui brigar mais uma vez pelo Mané. Queriam tirar a única coisa que sobrou para ele, aquele estádio Mané Garrincha, em Brasília. Mesmo assim, com a reforma, queriam trocar o nome, ia ser banido o nome do Garrincha. Fui lá e pedi para que não fizessem isso. No dia seguinte, o governador decretou a não retirada do nome do estádio. Fiquei muito feliz, chorei de alegria. O que sobrou do Mané, meu Deus? Eu, para defendê-lo. Quem foi contra MUITO, MUITO...

a Elza Soares, não vejo ninguém defendendo o Mané. Nessa Copa que vem para o Brasil, não vejo nada abordando o nome do Mané. Vou lutar para que eu faça parte dessa Copa do Mundo, quero cantar o hino e quero ser uma representante, porque a única que pode falar de Garrincha sou eu e mais ninguém. Nunca briguei muito por mim não, mas pelo outros eu brigo. Você gosta de futebol? Gosto. Sou flamenguista doente e sou cruzeirense. O Mané viria jogar no Cruzeiro, eu queria que ele encerrasse a carreira aqui. Acho que foi isso também que me trouxe muito para Belo Horizonte. Ninguém fez proposta boa para ele, só o Cruzeiro. Isso foi quando o Brasil já não estava respeitando o Mané. A gente foi para a Itália, ele ia jogar por um time de lá.

Vocês sofreram com a ditadura, tiveram de sair do país, o Chico Buarque recebeu vocês lá na Itália. Como foi isso?

Até hoje estou lutando para reaver uma casa que comprei no Jardim Botânico. Fui expulsa do Brasil com o Mané. Tomaram a minha casa, primeiro ela foi metralhada. Recebi um bilhete por debaixo da porta dizendo que tínhamos 24 horas para deixar o país. Nessa nossa saída para Roma, tomaram minha casa, meus filhos, minhas joias, tudo que comprei foi levado. Fiquei

Ah, o Chico é meu amigo.


Ainda quero ver mulher gostando de outra mulher, porque é difícil. Se ela puder tirar do caminho, destruir sua vida, ela vai destruir. Mulher é muito competitiva

proibida de voltar ao Brasil, eu e o Mané. Foi uma cena dantesca: o Mané, em Roma, de bermuda e camiseta. Ele não aceitava aquela selva de pedras, para ele era o fim da vida. Fui falar com o Dr Thompson Flores, que era embaixador. A resposta que tive foi: “O que você quer com um bêbado, um doente?”. “Vocês não podem fazer isso. A Copa do Mundo quem deu a vocês foi esse homem, foi esse bêbado que está aí. E vou segurar esse bêbado até o fim de minha vida”, eu disse. Mas é que não deu mais para segurar o Mané, cara. Ele fugia. Comprei um Mercedes para ele de presente – todos os jogadores tiveram direito de ganhar um depois da Copa [de 1962], ele não quis, preferiu um passarinho, o Mainá. Comprei um Mercedes para ele. Quando chegou em casa, foi a maior decepção: “Criola, pensei que você fosse diferente de todo mundo. Por que você quer que eu ande de Mercedes se o meu Fusca anda igual?”. No dia seguinte, ele encheu o carro de cachorro, de passarinho, levou para um hotel para dar banho nos cachorros na piscina. Um cara me ligou: “Pelo amor de Deus, vem buscar esse homem aqui. Ele está dando banho nos cachorros na piscina. Esse homem é louco”. Faltou reconhecimento da imprensa e dos próprios companheiros ao Garrincha? Acho que faltou tudo, cara. Sem citar nomes. Sou espírita, tem certas pessoas que vêm à Terra para isso. Uns vêm para ganhar ouro e largar tudo aí. Outros vêm com a missão de limpar a alma. Acho que o Mané veio para limpar a alma, para ser a alegria. Hoje, todo mundo bate no peito, “nós somos os reis [do futebol]”, e o homem que fez tudo isso não merecia nem o nome no estádio de futebol. Ainda bem que estou aqui para brigar por ele.

Quando você começou a ganhar dinheiro com a música? Em 1962, eu já tinha dinheiro. Comecei a gravar justamente nessa época, já comecei ganhando dinheiro, graças a Deus. Pude dar uma casa decente para minha mãe morar, dar colégio decente para os meus filhos. Pude viver uma vida mais harmoniosa, continuei estudando. Depois de 1962, as coisas viraram para o bem e para o mal. Deus e o Diabo na Terra: era a Elza fazendo sucesso e Elza levando pedrada porque estava ao lado de Mané Garrincha.

O Mané faleceu em 1983, e o único filho de vocês morreu três anos depois. Li em uma entrevista você falando que depois da morte do Garrinchinha começou a usar drogas. Enlouqueci. Só não bebia, mas cheirar cocaína, cheirei. Foi muito cruel, foi horrível. Eu mesma me dei conta que aquilo estava sendo o fim da minha vida, que não havia necessidade de fazer aquilo. Fiquei sozinha, mais uma vez. E sem meu filho. Fui muito usada. Quando você está sozinha, sem ninguém para te apoiar, você se sente muito vulnerável, enfraquecida, levada pelo vento. Mas estou aqui, forte, sadia. Tenho um grande mal na minha vida: às vezes vejo o caminho de alguém que não está bom e tento desviar. Mas tenho pedido a Deus que não me deixe fazer isso. Quem quiser quebrar a cabeça que quebre a cabeça.

Você comentou sobre dinheiro, disse que ganhou muita grana. Mas sua infância foi paupérrima.

Você se preocupa muito com as pessoas ao seu redor?

de buscar comida no exército, de filho morrer de fome, tive dois que morreram. Sempre tive pavor da lata d’água na cabeça, porque me machucava. Mas teve um momento em que amei demais a lata d’água na cabeça. Foi quando soube que estava ganhando o prêmio de cantora do milênio pela BBC de Londres. Foi quando vi que a lata já era a minha coroa, que toda coroa de rei e rainha não é de ouro nem de prata, é feita de lata. Então, já nasci coroada.

feliz.

Muito,

Sim, quem está comigo eu quero que seja

No fim dos anos 1980 que você passou quase 10 anos morando fora do país, fazendo turnês na Europa e nos Estados Unidos.

Foi bom, tinha um respeito muito grande. Mas depois não me senti bem. Aí, de repente, estava morando na Espanha, não me sentia bem lá e ia para a Itália. Depois eu voltava para o Brasil, e parecia que era um castigo. Toda vez que eu voltava para o Brasil passava em frente ao colégio do Juninho, aí comprava uma passagem e voltava, pelo mundo. Foram altos e baixos. A única coisa que não teve altos e baixos na minha vida, graças a Deus, foi a minha voz.

Morei em Paris.

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Três vezes Elza: madrinha da Seleção Brasileira na Copa do Chile, em 1962; dois anos depois, com Garrincha e, em 1969, cantora já consagrada

Você diz que sua voz é igual mulher de malandro: quanto mais apanha, melhor fica. Como assim? Não preciso fazer nada. Estava falando para o Bruno [empresário e ex-marido de Elza] ontem: “Se eu tentar fazer alguma coisa pela minha voz, ela pode até fugir, porque ela não quer nada”. Ela é um presente de Deus, em time que está ganhando a gente não mexe.

Você já se envolveu com homens bem mais novos que você. Chegou a sofrer preconceito por isso? Eu não, acho que eles é que devem sofrer, coitadinhos.

Mas sentia que isso de alguma maneira mexia com as pessoas? Mas e daí, cara? A minha conta quando chega em casa, eu tenho que pagar. Eles não vêm para me dar dinheiro, não. Quero nada disso deles não, quero nada de ninguém não.

Você é ciumenta?

Grande erro da minha vida é ser ciumenta. Acho que sou fora do limite, sim. Já fiz um ovo virar omelete de 10. Sou muito ciumenta, mas estou mais controlada. Gozado, com o Mané não existia ciúmes, não. A gente se respeitava, o respeito faz tudo. Apesar dos pesares, continuo sendo eu, Elza.

Muito, mas muito.

O que você escuta? Jazz. Sou fanática pelo Chet Baker, amo. Gosto muito de ouvir Ella Fitzgerald e boa música popular brasileira. A música agora está numa transição meio estranha, então vou ouvir Jotapê [músico e diretor musical dos shows da cantora], Vander Lee, Jorge Aragão. 64

Depois de 1962, as coisas viraram para o bem e para o mal. Deus e o Diabo na Terra: era a Elza fazendo sucesso e Elza levando pedrada porque estava ao lado de Mané Garrincha

Você ficou um tempo sem gravar, na década de 1990. Sim, mas suportei bem.

Fazendo shows, viajando, não fiquei fora dos palcos, fiquei fora das gravadoras. Trabalhei muito, viajei, fiz turnê por aí. Agora, tenho um trabalho lindo, que é o Deixa a nega gingar. É um show fortíssimo, muito bonito.

Então ainda tem Elza Soares por um bom tempo nos palcos? Cara, enquanto Deus me der pernas e vida para caminhar e voz para cantar, vai ser difícil [parar de cantar]. E acho que comigo vai vir muita gente ainda. Quero trazer muita gente. Tenho um propósito na vida: dividir aquilo que Deus me deu. Vou continuar trabalhando, buscando meu ganha pão, minha vida. Ah, cara, eu sou feliz. Não tem perhaps. É a vida que Deus me deu, não posso mudar. É essa que eu tenho, é essa que tenho que encarar.



Collins Pub O Collins Pub traz para a capital mineira o ambiente típico dos pubs europeus. Inaugurada em julho deste ano, a casa abre as portas de quarta a sábado na região da Savassi, sempre com música ao vivo, comandada por uma banda de rock. Av. do Contorno, 5.761 – Savassi (31) 3284 4191 collinspub.com.br 66


avaliação da casa Para encontrar os amigos

O que sai da cozinha

carlos hauck

Quem frequenta

quem. quando. porque A consultora de vendas Adélia Salazar, de 29 anos, indica a casa porque “o ambiente é superconfortável, tem bastante espaço para quem quer curtir a música na pista e também para quem vai para sentar com os amigos, conversar, beber uma cerveja”, conta. Para ela, “o Collins já virou um ponto de encontro da galera”. O pub aposta no bom atendimento e no cardápio com opções gastronômicas variadas. Adélia sugere o “pernil com molho oriental, que é maravilhoso, não tem erro”. Ela diz que vale a pena aparecer por lá todo dia. “Tudo depende do que você está procurando. Os dias mais cheios são sexta e sábado. As pessoas vão para fazer o pré da noite, mas acaba sendo balada também”, conta. Adélia acredita que o lugar é ideal para ir acompanhado dos amigos ou mesmo sozinho. “Tem atração para todo mundo. E os shows são ótimos, além da opção dos espaços de camarote. Não fica monótono”, garante. “O diferencial do Collins são os pratos do cardápio e os shows de rock. É um pub para se divertir, que oferece atração ao vivo. Estava faltando um lugar assim em Belo Horizonte.”

“É um pub para se divertir, que oferece atração ao vivo. Estava faltando um lugar assim em Belo Horizonte” Cola aí Participe da próxima cobertura fotográfica. Consulte as próximas datas no revistaragga.com.br.

APRECIE COM MODERAÇÃO. 67


O

ON THE ROAD O que acontece aqui? O DIA EM QUE O VIADUTO DE SANTA TEREZA PAROU PARA RESPONDER A UMA DÚVIDA NACIONAL

O TEMPO É IMPIEDOSO, indelicado e não gosta de ser contrariado. Ao longo de cinco anos, muita coisa acontece dentro de uma cidade — sobretudo nos lapsos de uma contemporaneidade recheada de revoluções cotidianas. Em Belo Horizonte, o trânsito cresceu e algumas de nossas vontades diminuíram. O asfalto roubou parte da nossa saudade, da nossa bondade, mas não balançou a fé nem a necessidade de uma realização que não fosse tão leviana. Oito horas da manhã e o sol já condena o trabalho do produtor Rafael Lacerda, caminhando de um lado para o outro na sombra do Viaduto de Santa Tereza, que treme toda hora que um carro atravessa o Centro, sentido Floresta. É cedo, mas o mundo pede pressa, e aos poucos os caminhões vão deixando os banheiros químicos, as grades, o som, alguns fios, banners e duas telas de pintura. Rafa rege tudo como uma orquestra e aos poucos o coro vai crescendo. Filmakers, operários de som, DJs, um pessoal de coletivo, curiosos, moradores de rua, vendedores ambulantes... O que acontece aqui? Pelo telefone, Rafa conversa com PDR Valentim, Ludmila Ribeiro, Thiago Monge e Ozléo, outros familiares do Coletivo Família de Rua, aglomeração especial de mentes hiperativas e bem intencionadas, que neste momento se 68

TEXTO E FOTOS BERNARDO BIAGIONI

espalha pela cidade para receber artistas no aeroporto, agendar entrevistas, acertar hotéis, contas, planilhas e uma infinidade de demandas complicadas para viabilizar um sonho. Fico me perguntando se em algum momento eles conseguem olhar para trás e ver esses cinco anos que se foram brilhando. “Hoje é dia de Duelo”, responde um filmaker para um morador de rua, e dá para ver os olhos do indigente se enchendo de encanto. O domingo segue sendo atropelado pelo tempo hostil e desacertado — mas tudo caminha com uma tranquilidade assustadora. Se a cidade tivesse parte dessa calma, não teria visto tanta gente ceder. Tanto projeto morrer. Tanta saudade bater na hora de avaliar o momento em que estamos vivendo. Agora. 26 de agosto de 2012, hoje. É importante tratar o Duelo de MCs de Belo Horizonte como o movimento mais importante da cidade, porque ele é. Não só pelas rinhas no palco ou pela continuidade histórica.


Tampouco pelos versos bem calculados ou pela poesia imaculada por poetas libertinos. Mas, sobretudo, pela resistência e coragem, pela fé e vontade de tocar um projeto que funciona semanalmente, há mais de 50 meses, independente de financiamentos privados, de bilheterias estúpidas e duvidosas. “O Duelo é aquele encontro de hip-hop de Belo Horizonte que começou bastante tímido, sem pretensão nenhuma, e que aos poucos foi crescendo, tomando cada vez mais corpo, até se tornar uma referência nacional no que se diz respeito à ocupação do espaço público com os elementos da cultura hip-hop, formando uma geração inteira de MCs preparada para seguir carreira artística”, ressalta PDR, em uma só frase, em uma só tomada de fôlego. Ele chega para ajudar Rafael, in loco, logo depois do almoço, quando a tarde começa a cair. A cerimônia de hoje é especial por duas razões. A primeira é que ela nunca aconteceu antes. Todo dia de duelo é uma surpresa doce e infalível, um mergulho intrépido na cultura que emerge das ruas. Segundo, porque esta é a primeira edição Nacional do Duelo de MCs, em Belo Horizonte. O público ainda não sabe, mas em algumas horas a cerimônia será apresentada pelo respeitável Rapin Hood, com direito a show surpresa do paulista Emicida. BNegão vai aparecer para ver. Um candidato à prefeitura da cidade também. Convidados grandiosos, mas que logo desaparecem na dimensão gigantesca do movimento que acontece toda sexta, debaixo do viaduto de Santa Tereza. A noite cai e o público começa a se aglomerar na frente do palco. Rafa já parece um pouco mais tranquilo e o sorriso de PDR se alastra pelos MCs brasileiros que vão se enfrentando em sequência. Não existe raiva, não existe rancor. Entre uma frase encaixada e outra, tudo que se enxerga é um brilho unânime, no olhar de cada transeunte que resolveu ocupar este espaço da cidade hoje. Douglas Din, o vencedor, chorou. A amazonense Mirapotira, que ficou com o segundo lugar, mal conseguia segurar tantas lágrimas. Todos os MCs lutavam contra um nó na garganta. Metade da plateia chorava. Eu chorei. A sensação não era de perda ou

É importante tratar o Duelo de MCs de Belo Horizonte como o movimento mais importante da cidade, porque ele é de ganho. Nem de fim ou abandono. Mas de um sentimento coletivo, de que esta noite tenha, talvez, estancado um pouco uma certa agonia, uma dor, uma poesia, que as ruas cantam todos os dias, para quem quiser ouvir. Um sentimento de conquista, que foi facilmente correspondido assim. “O que acontece aqui?”, perguntou Monge. Sem hesitar, respondemos: “Duelo de MCs!”.


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RAGGA GIRL MODELO Luciane Hoepers FOTOS Davi Borges

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Enquanto houver

Sol 71


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APRESENTA

O PRIMEIRO FESTIVAL AO AR LIVRE DE FILMES DE AVENTURA EM BH. EVENTO OPEN AIR E COM ENTRADA FRANCA!

Dia 23/Set/2012 _09h00 Abertura da Feira de apoiadores

_18h30 Início do Festival no Anfiteatro

_09h30 Saída do Pedal Get Out!

_18h45 Mostra Nacional

_10h30 Passeio com as meninas do Pedal de Salto Alto

_19h45 Mostra Internacional _23h00 Encerramento

_11h00 Blunt Skate School _16h00 Slackline session _17h00 Campeonato de bote de escalada (a ser confirmado)

Parque Julien Rien :: Av. Bandeirantes, 849 (ao lado da Droga Raia) www.facebook.com/FESTIVALGETOUT A programação está pendente a mudanças, consulte o site.


O ENSAIO COMPLETO VOCÊ CONFERE NO EHGATA.COM.BR

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Ac A d e m i A A b e r tA 363 diAs por Ano ciaathletica.com.br


L

LIVRARADA #romance

COLUNA POR BRUNO MATEUS FOTO bruno senna

Serena

imagens: divulgação

Ian McEwan (Companhia das Letras)

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DEVO CONFESSAR QUE, antes de ter Serena em mãos, não tinha a mais remota ideia de quem era Ian McEwan, mas o cara é um dos escritores ingleses mais importantes de sua geração. Ficcionista de prestígio, já teve um de seus livros, Reparação, levado para as telas de cinema e ganhou importantes prêmios. Ian McEwan veio para a Flip deste ano e Serena teve seu lançamento mundial no encontro literário de Paraty — só depois chegou aos Estados Unidos e à Inglaterra. Já se apressam a dizer que o novo romance do autor também deve ganhar as telonas. Uma amiga comentou que Serena começa devagarinho, devagarinho, depois engrena. Tive a mesma sensação. Nas primeiras, sei lá, 40 páginas, fiquei desanimado com o livro, virando as páginas sem muita concentração naquelas noites enfumaçadas no meu quarto. No entanto, por sorte, e, também, por tru-

que do autor, esse devagarinho dura pouco e o livro realmente engrena. E foi aí que Serena, Serena e Ian McEwan me prenderam. Pero no mucho. A trama acontece em Londres no início dos 1970. Contracultura, clima político tenso e violento com a Irlanda e o IRA botando as manguinhas de fora, Guerra Fria, discurso anticomunismo... E a bela Serena se vê, por influência de um antigo amante, trabalhando para o Serviço Secreto Britânico, o MI5. Ela recebe a missão de estabelecer contato com um escritor a quem ela não pode dizer que é espiã. Serena, como num roteiro repetido, se apaixona pelo sujeito. Inicia-se um jogo interessante, no qual Serena, o escritor espionado e Ian McEwan jogam no mesmo tabuleiro. E isso torna a leitura mais prazerosa e vale a pena, sim, chegar ao final. Minha amiga adorou o romance de McEwan. Chorou, deu risada, engoliu as páginas. E é fantástico quando um autor nos provoca assim. Serena não me pegou em cheio dessa maneira. Para mim, é um livro legal. E nada mais.

História secreta de Costaguana Juan Gabriel Vásquez (L&PM Editores)

Este lado do paraíso F. Scott Fitzgerald (Cosac & Naify)

O colombiano Juan Gabriel Vásquez joga com a realidade e a ficção neste romance, lançado em maio. José Altamirano chega a Londres querendo esquecer o que passou em Costaguana, país imaginário da América do Sul. Na terra da rainha, encontra-se com Joseph Conrad. Vásquez consegue mesclar e brincar com o que é real e o que é ficção — Costaguana nos remete ao livro Nostromo, que, por sua vez, nos leva ao escritor britânico Joseph Conrad, que teria passado pela Colômbia em 1876. Conrad ouviu a história de Altamirano e a transformou no seu romance. Agora, Altamirano assume a narrativa e apresenta sua versão dos fatos.

Francis Scott Fitzgerald soube como nenhum outro retratar o desespero, a prosperidade, a inteligência e a frivolidade da sociedade americana dos anos 1920. Em Este lado do paraíso, o foco está em Amory Blaine, um jovem aspirante a escritor que encara com ironia os relacionamentos que têm, seja com a mãe, com as garotas ou com os colegas de faculdade. Fitzgerald fala mais dele neste livro, como o próprio admite, que do personagem principal — na verdade, um é muito do outro. Primeiro romance do autor, Este lado do paraíso é mais um belo e sincero relato com fortes traços autobiográficos do escritor da Era do jazz.


PRATA DA CASA Gustavito Gustavito afirma que tem um som “pra cima”, bom de dançar

Acesse gustavito.net bit.ly/clipenina

POR LUCAS BUZATTI

ceres canedo

EM SINTONIA COM A MÚSICA INDEPENDENTE BELO-HORIZONTINA, ARTISTA LANÇA DEBUT

COLUNA

A BELA NINA embarca numa aventura ao pegar carona com um divertido sujeito — de chapéu de palha, barba, cabelos loiros e compridos —, que a leva para um passeio atípico. Na paisagem bucólica das serras de Minas, em meio a bolhas de sabão coloridas, Nina faz acrobacias e baila na companhia de outros alegres e fantasiados dançarinos. As imagens formam o delicioso videoclipe de Nina, primeiro single de Só o amor constrói, disco de estreia do músico mineiro Gustavito. A canção é um excelente cartão de visitas para o trabalho solo do cantor, marcado pela união entre arranjos primorosos e poesia. “Para mim, letra e música têm peso igual na composição. Minhas canções geralmente possuem relação com algum ritmo da cultura popular brasileira. Sou apaixonado por todo tipo de manifestação de raiz e tento levar isso para a música, inserindo elementos contemporâneos”, explica o músico, que gravou voz, violão, baixo, guitarras, viola caipira, marimbas, cuatro venezuelano, harmônio indiano, gig e arranjos vocais. Com 11 faixas, o debut abusa de influências sonoras exóticas, como os instru-

mentos psicodélicos do grupo Uakti, apesar de se inspirar em tradicionais ícones da música brasileira, como Milton Nascimento, Gilberto Gil e Raul Seixas. O disco tem participações de Graveola e o Lixo Polifônico, Sérgio Pererê, Luiza Brina, entre outros, deixando clara a forte ligação com a cena independente belo-horizontina. “Eu me vejo completamente inserido no cenário de BH. Minha música é influenciada e influencia outros artistas ao redor”, ressalta. Só o amor constrói exibe a versatilidade musical de Gustavo Amaral, que aprendeu a tocar baixo e violão aos 13 anos de idade, apresentou-se em bandas de punk rock, tornou-se fã de Raul Seixas e Chico Buarque, formou a banda instrumental Diapasão e tocou nos grupos Urucum na Cara e Agualuz, entre outros episódios. “Com mais de 80 composições, decidi que precisava de um espaço para mostrar meu trabalho autoral. Registrei as músicas que eu considerava as melhores, e foram quase todas as mais recentes, sinal de que há uma evolução no processo de composição”, pontua. Apesar de já ter repertório para um novo disco, Gustavito concentra-se na divulgação do primeiro disco, que será lançado em São Paulo, Rio de Janeiro e no interior de Minas. Para quem ficou curioso, o artista conta o que esperar de seu trabalho: “Música de qualidade, fora de clichês, com boas letras e arranjos criativos. Um som dançante, ‘pra cima’, cuja característica fundamental é a musicalidade solar”. 77


M

A MÚSICA E O TEMA

COLUNA POR Kiko Ferreira

o comício de tudo*

reuters/columbia pictures

AS REVOLUÇÕES, METAMORFOSES E TRANSFORMAÇÕES DOS ANOS 1960 NA MÚSICA E NOS COSTUMES

Easy rider e a desconstrução do sonho americano: símbolo dos anos 1960

(*) Título de um livro genial do poeta Chacal, nascido em 1951, que viveu bem os anos 1960 e foi fundamental para a poesia urbana dos anos 1970.

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PARAFRASEANDO VINÍCIUS: me desculpem os jovens, mas os anos 1960 foram fundamentais. No mínimo, porque foi nessa década que a juventude foi inventada. Tudo bem que o rock de Elvis e Bill Halley, nos anos 1950, tenha sido música para jovens vestindo roupas que poderiam ter sido tiradas do closet dos pais. Porém, eles ainda pareciam adultos em miniatura. Foi nos anos 1960 que a revolução da minissaia começou, que houve o “é proibido proibir”, a Tropicália, a universalização da bossa-nova, o auge do amor livre, as drogas como caminho para a expansão da consciên-

cia, a Jovem Guarda, a internacionalização do reggae, a urbanização da canção de protesto de Bob Dylan, a sedução entre gerações (com Mrs. Robinson, o filme e a música). Os sintomas da geração beat, retratada a partir de On the road, de Jack Kerouac, em 1957, foram sentidos no movimento dos hippies, nos protestos contra a guerra do Vietnã, nas viagens de moto de Easy rider, embaladas pelo rock do Steppenwolf: Born to be wild. Nos anos 1960, nasceram os garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones. A Inglaterra digeriu o blues e o rock americanos, transformou-os num rock diver-


o cruzeiro/arquivo estado de minas

No Brasil da Tropicália, psicodelia e irreverência dos Mutantes

Foi nos anos 1960 que a revolução da minissaia começou, que teve o “é proibido proibir”, a Tropicália, a universalização da bossanova, o auge do amor livre so e criativo e — principalmente a partir da Invasão Britânica, que tomou de assalto palcos e paradas de sucesso da terra do Tio Sam — conquistou corações e mentes do resto do planeta. A década em que Andy Warhol transformou lata de sopa em arte foi do unissex, do black power, do gay power, do flower power, do women’s lib. Cinco décadas antes do Pussy Riot, a mulher tinha peito para sair de casa e escolher parceiros e posições — políticas, filosóficas, sexuais. Apesar da passeata contra as guitarras, a reação infantil e corporativista da nascente MPB dos festivais contra o rock e o imperialismo yankee dos amplificadores Marshall, Gil, Caetano, Tom Zé e Mutantes tropicalizou Hendrix e fundiu com Vicente Celestino, Hélio Oiticica, os irmãos Campos e o sol nas bancas de revista, sob a batuta de Rogério Duprat, nosso George Martin. No hit do rock rural, criado no início dos anos 1970 por Sá, Rodrix & Guarabyra, a nostalgia descritiva da ingenuidade que, aos poucos, se perdeu no mar: “Há muito tempo que eu não ia no clube/ mas as pessoas permanecem as mesmas/ parecem personagens saídas de uma balada de Neil Sedaka/ do começo dos anos 60 (...) Só falta agora/ só falta agora entrar a mesma turma de outrora/ de topete na testa, blusão James Dean e globetrotter marrom/ só falta agora alguém botar um rock na vitrola/ que eu saio de porre pela sala com um cuba libre na mão”. Mais tarde, sem o mesmo sucesso, mas igualmente precisos na narração, os Fevers lançavam mais spots nostálgicos no Rock da pesada: “Cabelo na testa, lambreta ligada/ Menina na garupa com a saia rodada/ Oh baby, toque to-

que toque/ Mais um roque da pesada pra mim/ O acelerador, virado até o fim/ Canivete no bolso do blusão James Dean/ Oh baby, toque toque toque/ Mais um roque da pesada pra mim”. É o mesmo espírito da Festa de arromba, resumo do elenco da Jovem Guarda, feita por Erasmo Carlos, e de Rua Augusta, em que Ronnie Cord traduzia o clima das jovens tardes de domingo na capital paulista: “Entrei na Rua Augusta a 120 por hora/ Botei a turma toda do passeio pra fora/ Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina/ Parei a 4 dedos da vitrina... Legal/ Hay Hay Johnny, Hay Hay Alfredo/ Quem é da nossa gang não tem medo”. Eram os anos JK, com o automóvel tomando o lugar do ônibus, do trólebus, do bonde, do trem. Semente do caos de trânsito que torna hoje o ato de ir e vir insuportável. Mas, o país ainda não tinha os 90 milhões em ação do tri de 1970. E Roberto Carlos andava a 120 por hora nas curvas da estrada de Santos, e a Jovem Guarda oscilava entre o Cadillac e o calhambeque. E foi aí, na marca do carrinho simpático, que o Brasil descobriu o merchandising e o marketing jovem, com calça calhambeque, camisa calhambeque, boné calhambeque e uma série de produtos de fazer corar os marqueteiros de hoje em dia. Os anos rebeldes foram os primeiros anos da Ditadura brasileira, mas viram e ouviram o nascimento do Clube da Esquina, o violão de Baden Powell, o rock com ópera do The Who, o Monterrey Pop, o hedonismo poético de Jim Morrison, o encontro de Bob Dylan com a guitarra, os festivais da Record e a consagração de Chico Buarque como o mais completo compositor de sua geração. Na esteira do black power, a Motown viveu sua melhor fase: Little Stevie Wonder, The Supremes, Marvin Gaye, Diana Ross, Smokey Robinson e, entre dezenas de fazedores de sucesso, comandados com mão industrial por Barry Gordy Jr, o quinteto Jackson Five, com o Rei do Pop, Michael Jackson. No resumo da ópera, os 60 valeram por 120. O resto é continuação.

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CRÔNICO Utopia e roupa branca

CRÔNICA POR JOÃO PAULO

João Paulo não é candidato a nada.

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O MOMENTO NÃO PODIA

SER MELHOR: os políticos estão em baixa e as eleições estão chegando. A contradição é excelente, porque mostra que as pessoas são menos importantes que a ideia de democracia. Os candidatos já estão em campanha e, como sempre, pensam que o público é apenas um consumidor: vendem-se, como um produto qualquer, sabão em barra, por exemplo. E por falar em sabão, você sabe de onde vem a palavra candidato? Vem do latim e quer dizer manto branco, toga branca ou algo semelhante. O que se esperava, quando a democracia vivia seus primeiros momentos, é que os candidatos fossem limpos como suas vestes. Hoje, pelo visto, nem o sabão da propaganda dá conta de limpar a barra. Mas eleição é assunto que merece cuidado e atenção. Não apenas pelo fato de implicar na escolha dos dirigentes públicos. O que está em jogo é um modelo de mundo. Para avaliar quem merece voto, existem muitos métodos, desde os ideológicos — se os candidatos são conservadores ou progressistas, de direita ou de esquerda, populares ou aristocráticos — até os mais pessoais.

Desconfie de quem se diz honesto. Há coisas que não precisam ser ditas

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Quero propor outro jeito de escolher o melhor candidato, já que pela brancura da roupa não é mais possível. O método deixa de lado a propaganda política — todas são mentirosas por natureza, já que trocam a cidadania pelo consumo — para se concentrar em outros elementos menos tangíveis e, talvez, mais verdadeiros. Em primeiro lugar, o teste de honestidade. O que deveria ser o mínimo, em alguns momentos, se torna qualidade. Por isso, desconfie de quem se diz honesto. Há coisas que não precisam ser ditas. O instrumento de aferição pode ser mais prosaico: você confia nas pessoas que estão próximas ao candidato? Certamente serão elas que ajudarão a governar e terão o dinheiro na mão. O segundo indicativo do bom voto é o olhar em retrospecto. Todo candidato garante que é capaz de criar o reino de Deus na Terra. Mas nas oportunidades que tiveram de fazer bem menos, como oferecer escolas de qualidade, guardas nas esquinas e postos de saúde com gente atenciosa para acolher quem sofre, o que deixaram como realização? O instrumento aqui não pode ser também a propaganda, mas a experiência real. Você está feliz com a cidade que tem? O terceiro degrau é mais sutil: o candidato gosta de gente? Parece fácil responder a essa dúvida, mas não é. Gente é um bicho complicado, chato, exigente, cheio de carências, como eu e você. Porém, infelizmente, é a nossa raça. Quem gosta de gente tem prazer em ver as pessoas se divertindo na rua, acha que a praça é do povo como o céu é do avião. Quem não gosta proíbe, cria normas, espalha os ajuntamentos, esconde a divergência, manda a polícia baixar o cacete. O quarto nível é mais viajandão: o bom voto deve ser dado a pessoas boas. Acredito, com todas as forças, que a competência não é o avesso da bondade. A melhor forma de administrar qualquer coisa, de uma casa a uma cidade, é espelhar respeito e afeto nas relações humanas. Não precisamos apenas de um bom administrador, mas de um administrador bom. Por isso, a dica é se colocar a seguinte questão: qual candidato

você escolheria para ser seu chefe? O coração não se engana. Por fim, o quinto elemento: a utopia. A palavra anda em baixa, tem gente que até já a enterrou junto com as pedras do Muro de Berlim. Para esses, o mundo já achou o rumo e tudo agora é só questão de grana e tempo. Quanto mais ricos, mais justos. Sabemos que não é assim. E por isso temos que escolher para governar gente capaz de sonhar. Vou dar alguns exemplos de sonhos que precisam ser construídos coletivamente a partir de agora: freio na especulação imobiliária, que entope as ruas de carros e esconde o céu; praças que se pareçam quintais de casas, e não outdoors de quem faz comércio com a saúde ou esburaca montanhas; metrô confortável e cheiroso para todos os bairros; restaurantes populares com comida igual a que minha avó fazia; segurança que não cause medo em quem precisa ser protegido; incentivo à arte que brota de todos os quadrantes da cidade, em sua variedade e invenção; escolas públicas que sejam vanguarda em matéria de conhecimento e convivência; campos de futebol de grama e com iluminação em todas as regiões da cidade, ao lado de quadras esportivas, piscinas limpas e bons vestiários para que ninguém precise ser sócio de clubes para se divertir; bibliotecas com livros, jornais, revistas, DVDs e computadores, de fácil acesso e atualizadas todos os dias; professores com salários iguais ao do prefeito; solidariedade a todos os movimentos sociais, inclusive com creches, para que os manifestantes e grevistas possam deixar suas crianças durante os protestos contra a própria prefeitura. Meu manual do bom candidato é esse. Pode não ser o mais politizado no sentido tradicional e talvez seja um tanto fluido, mas vale recapitular. O candidato deve ser honesto, competente, popular, bom caráter e sonhador. Tem algum assim por perto? Agora é com você.



QUADRINHOS RASOS

COLUNA

POR Eduardo Damasceno E LuĂ­s Felipe Garrocho // quadrinhosrasos.com

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Beba com moderação. Venda e consumo proibidos para menores de 18 anos.

CONSERVANTES.

139 ANOS SEM



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