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INDÍCE 4 Madagáscar 2 5 A Dupla Face da Lei 6 O Corpo da Mentira 7 A Fronteira do Amanhecer 8 Reviver o Passado em Brideshead 9 Ensaio Sobre a Cegueira 10 a turma 12 Especial Vampiros Entre o Crespúsculo e a Emancipação dos Vampiros 18 especial Shirley Temple 22 TOP10 - Filmes Natalícios 24 Outras Estreias... Dezembro 26 Versus The Spirit vs Sin City 28 Especial Frank Miller A Alma Negra da BD 34 Sob o Signo De... Johnny Guitar 36 Cinema Clássico Angel Face (I) 40 TEMA DA CAPA Hugh Jackman e Nicole Kidman 44 Atrás da Câmara Baz Luhrmann 48 Cinema Português Aniki Bóbó 50 Anime Super-heróis de Borracha 54 Para o Infinito e Mais Além 58 Só Para Adultos The Hunger - Fome de Viver 60 Série Life on Mars 66 DVD DO MÊS The Nightmare Before Christmas
ficha técnica Editor Marco A. Paulo Design Gráfico Filipe Lopes www.filipelps.net Redactores Álvaro Banaco André Barbosa Berto Carvalho Carlos Pereira Leonor Pinela Luís Alves Luís Costa Luís Mendonça Marco A. Paulo Maria Carvalho Nuno Cargaleiro Nuno Gonçalves Pedro Pereira Rafael Jorge Sónia Carvalho Contactos geral@redcarpetonline.net Publicidade publicidade@redcarpetonline.net Periodicidade Mensal Agradecimentos Zon Lusomundo Castello Lopes Multimedia Prisvideo LNK Notro Filmes Columbia Tristar Warner
Madagáscar 2 por: Marco A. Paulo
Madagáscar 2 marca o regresso de uma animação muito bem sucedida de 2005. Nesse primeiro filme a liberdade era o mote principal que guiava as nossas quatro personagens que, além de terem uma vida confortável no zoo de Nova Iorque, decidem escapar das comodidades que este lhes oferece e partir em busca do mundo selvagem. Não só a liberdade fora explorada na história... os efeitos da interacção com outros seres diferentes daqueles com que estamos habituados a passar a vida começavam a evidenciar-se em todas as personagens, basicamente, estavam a sofrer o que nós humanos chamamos de socialização. Um leão é um leão e todos os seus instintos básicos hão de vir ao de cima numa situação em que ele não se vê controlado, entre outros detalhes que deixarei ao critério do leitor explorar no primeiro filme.
CRÍTICAS 4
Neste segundo filme aproveitar a mesma fórmula na sua totalidade não foi algo que a DreamWorks tenha tentado fazer. Certamente que as quatro personagens principais, e mais uns sete companheiros essenciais, voltam a ser expostas num mundo que, à primeira vista, não era o deles. Queriam voltar para Nova Iorque a todo o custo, até que perceberam que a palavra “lar” sempre esteve em África e não no zoo em Nova Iorque. A inserção em grupos específicos acaba por começar a afastar Alex, Marty, Melman e Gloria enquanto todos eles procuram o seu lugar naquela a que podemos chamar a sua sociedade. É mesmo esta separação que começará a causar problemas entre os quatro. Alex fica confuso ao perceber que Marty era igual a todas as outras zebras, Melman é “atropelado” por uma longa paixão que sente por Gloria, que vai fazer com que esta estranhe certas atitudes da hipocondríaca girafa, e todos eles acabam em quatro cantos a tentar provar a si mesmos que sozinhos conseguem sobreviver.
Será precisa uma situação extrema para mostrar, não só a estes quatro heróis acidentais, que a união faz a força e que só lutando por um objectivo em comum é que atingem as suas metas. Quando temos amigos, ou algo mais, ao nosso lado, tudo é mais fácil. Principalmente quando temos amigos que lutam contra humanos cruéis que decidem invadir um espaço que não era deles causando alterações drásticas a toda uma comunidade de animais bem mais humanos que todos nós. As coisas começam a soar demasiado cliché, é verdade, mas também é verdade que não são situações cliché que estragam filmes. Essas situações só estragam um filme quando mal usadas e Madagáscar 2 sabe usar novas ideias intercaladas com ideias já bem gastas de forma bastante equilibrada e que funciona brilhantemente. Contudo, onde a originalidade ganha imensos pontos é nas situações cómicas que são de levar às lágrimas qualquer que seja o espectador, enquanto que outras cenas são capazes de levar às lágrimas o espectador mas por terem uma carga emocional tal que chega a doer bastante o que estamos a presenciar. Escusado será dizer que além da descrição que este filme leva, de ser destinado à pequenada, muito mais tem a oferecer do que uma simples hora e meia de pura diversão. As mensagens que acabam por passar no filme, transcendem em muito a diversão que nos proporciona. Se há filme de animação que este ano merece toda a atenção do espectador é sem dúvida este.
Argumento Etan Cohen Realização Eric Darnell e Tom McGrath Com Ben Stiller, Chris Rock, David Schwimmer e Jada Pinkett Smith 2008
8/10 Animação Comédia Aventura
A Dupla Face da Lei por: Berto Carvalho
A acompanhá-los está um elenco de nomes conceituados, embora de segunda linha, como Carla Gugino, John Leguizamo, Donnie Wahlberg e Brian Dennehy. A confirmar a actual moda de rappers no cinema, também 50 Cent tem uma aparição. Tal como a dupla protagonista, todos poderiam ter estado um pouco melhor. Jon Avnet já trabalhou com Pacino em 88 Minutos, que acabou por revelar-se uma grande desilusão no ano passado. Mais uma vez, Avnet não convence e é pena, porque apesar do filme ter algum potencial, acharam que bastariam os nomes da dupla para trazer sucesso instantâneo, o que acabou por não acontecer. Vamos esperar que a próxima vez em que Al Pacino e Robert de Niro se juntem, resulte num filme que esteja à altura de ambos.
CRÍTICAS
O argumento, a meu ver, está muito aquém do que se esperaria, os diálogos são quase sempre fracos e as personagens demasiado superficiais. O twist final pareceu-me desnecessário, levando a que subitamente as personalidades dos protagonistas sofressem uma alteração demasiado brusca sem qualquer necessidade. Ficamos com a ideia que a primeira hora e meia do filme serviu apenas para depois sermos enganados nos últimos dez minutos, o que é pena. Pacino e Niro não podem fazer
milagres com a pouca matéria-prima que lhes foi dada, mas mesmo assim, poderiam ter feito mais, uma vez que me pareceram muito enfadados e em piloto automático.
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Ver Robert de Niro e Al Pacino juntos num filme é sempre um acontecimento. A última vez que isso aconteceu, em Heat – Cidade sobre Pressão de Michael Mann, resultou num sucesso e desde então, os dois actores têm somado mais desilusões que sucessos. Em A Dupla Face da Lei, eles interpretam dois polícias veteranos que se vêem envolvidos num caso onde um assassino em série mata criminosos que escaparam à justiça. Durante o filme, tudo aponta para que um deles seja o principal suspeito, o que leva a um interessante jogo do gato e do rato. A história tinha potencial e a ideia é interessante, no entanto, o filme desilude em alguns aspectos.
Realização Jon Avnet Com Robert De Niro, Al Pacino, Carla Gugino, John Leguizamo, Curtis «50 Cent» Jackson, Brian Dennehy 2008 - 101min
6/10 Drama Crime Mistério
O Corpo da Mentira por: Nuno Cargaleiro
Existe alguma verdade absoluta durante uma guerra? Quantas são as casualidades acidentais que vitimam muitos anónimos num conflito armado? Até que ponto a tecnologia nos torna seguros? E até que ponto pode um homem chegar até poder atingir o seu limite? Estas são das questões que Ridley Scott nos apresenta com este O Corpo da Mentira. Sinal de uma maturidade cada vez mais assumida, este filme, apesar de se basear numa obra literária, consegue ser um objectivo de entretenimento, sem que seja desprovido de sentido, e de confronto para o espectador.
CRÍTICAS
Escrito inicialmente por David Ignatius, o livro foi adaptado para cinema, relatando a história de um agente da CIA, Roger Ferris (Leonardo DiCaprio), infiltrado no extremo oriente, na eterna luta dos Estados Unidos contra o terrorismo. A visão de Ferris, que contacta com o dia à dia no terreno, contrasta com as do seu chefe, Ed Hoffman (Russell Crowe). Enquanto Ferris se preocupa com as pessoas e com o particular, numa personalidade passional, Hoffman é mais analítico e distante, conseguindo falar de assuntos tão bárbaros ao mesmo tempo que brinca com a filha. Nesta perspectiva, o conflito entre os bastidores e a primeira linha de combate ao terrorismo é demonstrada, sobretudo graças à fabulosa interpretação de Crowe.
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Quando um grupo terrorista liderado por Al-Saleem ataca vários pontos mundiais, ameaçando diversificar os seus alvos, é iniciada uma caça ao homem sem precedentes. Contudo, enquanto que a CIA está equipada da mais recente tecnologia, rapidamente percebe que os velhos costumes de Al-Saleem são difíceis de derrotar. Quando as mensagens percorrem por via oral ou escrita, e quando telemóveis e outros meios habituais da cidade global em que se tornou
o mundo são recusados por Al-Saleem, a CIA demonstra ser incapaz de o localizar. Cabe a Ferris juntar forças com Hani Salaam, o Director dos Serviços Secretos Jordanos, numa cooperação que constantemente testa o nível de confiança e intercâmbio real de informação. Como director de histórias, Ridley Scott consegue mais uma vez introduzir a reflexão num conceito da mais alta pertinência no panorama mundial. Quando a informação oficial que surge é aceite por todos, Scott demonstra que entre luz e trevas pode existir um grau de cinzento que não beneficia qualquer dos lados. Por entre os actores, Crowe demonstra porque é que se tornou no amuleto da sorte de Scott ao conseguir a personagem mais emblemática do filme, seguido por Mark Strong, como Hani Salaam, que consegue atingir o nível de aparente ambiguidade que a personagem exigia. DiCaprio, e apesar de ser o protagonista, não é o mais carismático dos três. Isto não invalida contudo que o seu desempenho seja mau. Pelo contrário, DiCaprio demonstra-se cada vez mais adulto e versátil no modo como interpreta. A sua personagem representa toda a dinâmica do enredo, e durante este, DiCaprio consegue que o seu Ferris não abandone o espectador. Embora prefira Ridley Scott noutras histórias, O Corpo da Mentira é um óptimo filme a não perder. Seja pela acção,
pelo clima de espionagem, ou pelo conteúdo político e social, Scott não se perde em moralismos e opções. Nem os seus actores.
Argumento William Monahan Realização Ridley Scott Com Leonardo DiCaprio, Russell Crowe, Mark Strong, Golshifteh Farahani 2008 - 128min
8/10 Acção Thriller
A Fronteira do Amanhecer por: Carlos Pereira
François (Louis Garrel) é contratado para fotografar Carole (Laura Smet). Os dois tornam-se rapidamente amantes, num amor irracional e irreflectido, seco e cruel. Estamos certamente perante um dos melhores retratos sobre o afecto abrupto – ela, previsivelmente, enlouquece por amor – e aí já percebemos
Philippe Garrel filma apaixonadamente cada plano, captando cada momento até à exaustão. Sentimento curioso e paradoxal: cada nova imagem criada por Garrel, sem ser minimamente imaginável, parece ser desejada pelo nosso inconsciente. Em círculos, voltamos a esse sentimento de fatalidade que preenche toda a obra. E depois há prodigiosos momentos de ruptura, arquitectados em pequenas provocações sobre pontos de vista. São jogos de interacção e divertimentos efémeros, assumidamente anti-naturalistas embora intimamente perspicazes. Escreveu-se que o novo Rohmer poderia ser o primeiro filme do mundo. Pois o novo Garrel poderia ser o último.
CRÍTICAS
Comecemos por aí mesmo, pela imagem, onde a direcção da fotografia de William Lubtchansky é milagrosa nos seus contrastes. O preto e branco ajuda à imortalização daquelas personagens, mas também a uma exposição mais profunda das suas contradições, da sua loucura, do seu amor descontrolado. E facilita a verosimilhança dos sonhos dentro de sonhos que aqui se vivem; auxilia na criação desse permanente estado de fatalidade.
estar no terreno maravilhoso de um Splendor in the Grass dos nossos tempos, esculpido em aridez moderna. Um corpo feminino histérico, embriagado e terminal – um suicídio. François constrói uma nova relação com Ève (Clementine Poidatz), mas já ultrapassou o ponto de não retorno. Assombrado, nos espelhos e nos sonhos, pelo espírito de Carole, François é forçado a repensar o significado do amor e o seu destino.
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Após o fabuloso Os Amantes Regulares, Philippe Garrel regressa com A Fronteira do Amanhecer. Obras que já não parecem deste tempo, mas que na verdade estão estreitamente ligadas ao nosso presente – no fundo, conhecem-no cirurgicamente, criticando os seus ritmos ilusórios e o falso realismo das suas imagens. Em última instância, o último filme de Garrel está associado a um primitivismo cinematográfico onde imperava a força e a beleza da imagem.
Argumento Marc Cholodenko, Arlette Langmann Realização Philippe Garrel Com Louis Garrel, Laura Smet, Clémentine Poidatz 2008 - 106min
10/10 Drama
Reviver o Passado em Brideshead por: Maria Carvalho
Poucas são as características redentoras desta nova adaptação de Brideshead Revisited, o romance clássico de Evelyn Waugh cuja mini-série de 1981, com Anthony Andrews e Jeremy Irons, é uma das mais marcantes adaptações literárias. O filme não é intolerável, mas não fossem as boas prestações de alguns actores, dos quais Emma Thompson se destaca na pele de firme matriarca Lady Marchmain, e as falas trazidas directamente da obra original, seria melindroso encontrar nesta nova visita a Brideshead razões para a descrever como uma boa obra cinematográfica. Julian Jarrold, que parece ser o realizador de eleição para transpor clássicos para pequeno ecrã, contando já com adaptações de Crime and Punishment, Great Expectations e outros no seu currículo, falha redondamente na tentativa de condensar em duas horas Brideshead, um livro que, fica aqui a prova, precisa de mais espaço para respirar.
CRÍTICAS 8
Este filme não dá frutos, apenas reduz e subverte tudo o que tornava o livro, e a mini-série, interessantes. Dá a ideia que o filme, realizador e autores do guião foram à máquina e lá dentro perderam a cor, a identidade e perderam, acima de tudo, a subtileza, uma das mais emblemáticas características do livro. Não só em termos de guião, apesar de essa perda ser a mais flagrante, há uma falta de subtileza também em termos do trabalho de câmara, que não tem arte ou mestria – o filme alimenta-se de planos óbvios e grosseiros, de sequências televisivas e com péssima cinematografia que falha em captar os magníficos cenários e localizações do filme. Mas é no guião que o filme se perde. Jarrold parece não ter certezas do que quer transmitir com o seu
próprio filme, e isso é notório em cada cena, em cada fala, em cada plano. Uma das grandes falhas do filme é fazer débil uso da voz do narrador, algo que é proeminente no livro e teria ajudado a clarificar os pensamentos da personagem principal, sedimentando o elo de ligação de todo o enredo. O outro grande erro envolve todas as escolhas tomadas para transformar ou interpretar o texto original. A tal subtileza que referia é posta de parte, dando alas a acções – como os beijos de Charles com ambos os irmãos – que não só prejudicam a qualidade do filme, como também conseguem deturpar por completo as motivações e problemáticas das personagens. O Sebastian de Waugh, por exemplo, não era meramente conduzido ao alcoolismo por uma mãe beata e uma desilusão amorosa, mas um também por um je ne sais quoi que parecia arrastá-lo para a depressão e por uma tentativa quase antitética de se agarrar à infância e fugir de Brideshead. Estas profundidades dos “Eu personagem” são perdidas, deixando-os ocos e fazendo o filme assentar em estruturas dramáticas demasiado básicas em comparação com a complexidade da obra. No final de contas, acabamos por ver um filme mal filmado, com actores mal aproveitados, localizações – que vão desde Londres e Oxford, a um palacete Inglês e a Veneza – desperdiçadas, e acima de tudo, uma flagrante incapacidade de produzir uma adaptação fiel não só às palavras, mas ao espírito e essência de uma obra clássica da literatura, que afinal até já tinha sido adaptada antes e de forma exemplar. Argumento Andrew Davies e Jeremy Brock; Evelyn Waugh (Livro) Realização Julian Jarrold Com Matthew Goode, Ben Wishaw, Hayley Atwell, Emma Thompson, Michael Gambon 2008 - 133min
4/10 Drama
Ensaio sobre a Cegueira por: Berto Carvalho
Ensaio sobre a Cegueira é um retrato nosso, da condição humana e da fragilidade da nossa sociedade. A perda de algo de que todos nós dependemos e que damos por garantido como a visão, é o rastilho para desmoronar por completo a nossa sociedade e despertar em todos o mais básico instinto da sobrevivência, que se sobrepõe à nossa própria dignidade. Para mostrar isso, o filme focase num pequeno grupo que se encontra fechado do mundo exterior em quarentena e deixados a sobreviver por conta própria. A “prisão” acaba por tornar-se num espelho em ponto pequeno do mundo exterior e da forma como as pessoas se transformam. O elenco é composto por muitos nomes conhecidos: Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael Garcia Bernal,
A realização de Fernando Meirelles pareceu-me óptima, as imagens excessivamente saturadas e o enorme predomínio do branco transmite na perfeição a “cegueira branca” obrigando o espectador a lembrar-se constantemente da cegueira que os afecta. Por vezes senti que algumas partes foram pouco desenvolvidas, apressadas e cortadas, provavelmente devido ao maior detalhe e profundidade que o livro sempre trás... “espremer” um livro em 2 horas nem sempre é fácil. O filme é forte, pesado e negro. Mesmo sendo um filme depressivo, é ao mesmo tempo estranhamente positivo. Se por um lado, mostra a fragilidade humana, por outro, mostra também a nossa enorme adaptabilidade e que mesmo em situações difíceis há sempre um pequeno raio de esperança. É um filme que vai dividir muita gente, mas da minha parte só o posso recomendar. RECOMENDADO Argumento Don McKellar, José Saramago Realização Fernando Meirelles Com Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Gael García Bernal, Alice Braga 2008 - 120min
8/10 Drama Thriller
CRÍTICAS
À primeira vista, a premissa é bastante simples. Sem que nada o fizesse esperar, algumas pessoas perdem a visão e o que pareciam ser casos isolados, depressa se tornam numa epidemia a nível global. No entanto, uma mulher de forma igualmente misteriosa é a única que consegue escapar à epidemia. Desde logo muita gente, principalmente nos EUA, classificou-o como mais um filme catástrofe. Nada mais errado.
Danny Glover, entre outros. Nunca conseguimos criar uma ligação forte com as personagens, uma vez que não sabemos os seus nomes nem o seu passado nem há grande caracterização, tudo o que sabemos sobre eles provém apenas da experiência traumática que estão a viver. Para mim, o destaque vai para Julianne Moore. A sua personagem é a única que não é afectada pela epidemia e como tal, sente-se na obrigação de ajudar os outros e a sua bênção, acaba por torna-se num fardo difícil de carregar. A expressão de cansaço, sofrimento e quase resignação de Jullianne é brilhante.
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Antes de mais tenho a dizer que ainda não li o livro de José Saramago, portanto não vou poder comparar directamente as duas obras. Se por um lado, vou perder alguns aspectos que só a leitura do livro nos trás, por outro posso falar do filme sem estar constantemente a fazer comparações. O meu conhecimento sobre Ensaio sobre a Cegueira era bastante superficial, sabendo apenas a história base.
A Turma por: Luís Mendonça
Laurent Cantet não precisava de A Turma para ser considerado um dos cineastas da actualidade mais atentos aos problemas pouco visíveis da nossa sociedade. Em filmes como Recursos Humanos (1999) e O Emprego do Tempo (2001), Cantet revela um olhar apurado sobre o mundo do trabalho e as normas (sociais e políticas) que o regem. Por outro lado, há neles uma relação descomprometida entre realizador e a realidade retratada: Cantet dá espaço ao espectador para fazer a sua apreciação crítica daquilo que é mostrado. Claro que dificilmente não estaremos ao lado dos seus “heróis-mártir” de carne e osso, até porque partilhamos muitas das suas dúvidas e angústias. Em certo sentido, são eles que nos “puxam” para o filme; que fazem de Cantet um cineasta e não um documentarista.
CRÍTICAS
Existe mesmo uma dialéctica curiosa entre a câmara de Cantet e os protagonistas das suas histórias: a primeira procura reflectir uma realidade em bruto, já os segundos atraem a primeira para uma dimensão mais interior, quase psicológica, da narrativa. Como se Cantet filmasse um documentário “na” ficção ou no intervalo difuso que separa esses dois “mundos”: por exemplo, o professor de A Turma (François Bégaudeau) foi de facto professor na vida real e interpreta o protagonista de um livro (autobiográfico) que escreveu chamado A Turma. Obra que, agora, se adapta ao cinema. E a câmara está lá para documentar.
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Em certo sentido, A Turma é a depuração do método de Laurent Cantet, um dos poucos cineastas preocupados com o que realmente se passa na sociedade em que vive e com coragem suficiente para a mostrar em toda a sua complexidade. Isto é, quase nua. Por isso, não saímos indiferentes da sala, depois de vermos A Turma. E os minutos finais, cheios de mixed
feelings, estão lá para isso: o professor, que aprendemos a amar, joga futebol com os seus alunos, usufruindo de uma amarga, porque momentânea, “paz social” que foi conquistada graças ao sacrifício de alguém que já não cabia no sistema. Ele festeja com os seus alunos o fim de mais uma batalha (leia-se, ano lectivo), cujos efeitos estão bem representados no último plano do filme. Já na aula de despedida, François parecia ter conseguido (finalmente!) dialogar com os seus alunos. Pela primeira vez, um deles, uma rapariga, sente confiança para falar com ele. Confessa-lhe envergonhada que, ao contrário dos seus colegas, está certa de que não aprendeu nada naquele ano e dificilmente aprenderá no futuro. O nosso sentimento é, mais uma vez, contraditório: a aluna que se descobre totalmente descrente no sistema de ensino mostra ser, exactamente por isso, aquela que mais cresceu, durante todo o filme. O que a angustia é a impotência que sente em si e nos professores que a rodeiam. Ela é, de entre todos seus colegas de turma, até os mais problemáticos, a única que consegue de facto agitar o sonho idealista do professor François – mais uma daquelas subtilezas graves de Cantet.
A Turma, fazendo uso do seu título enclausurante, coloca o espectador nesta situação complicada: temos de sair da sala - de aula ou de cinema - a pensar no que vimos. Essa é a única inescapabilidade que nos oferece este magnífico exemplar do cinema social de Laurent Cantet.
Argumento François Bégaudeau Realização Laurent Cantet Com François Bégaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela e Cherif Bounaidja 2008 - 128min
8/10 Drama
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CRÍTICAS
ESPECIAL VAMPIROS
Entre o Crepúsculo e a Emancipação dos Vampiros
Por: Nuno Cargaleiro e Nuno Gonçalves
Longe vai o tempo em que pensar em histórias de vampiros era sinónimo de falar no Conde Drácula de Bela Lugosi e Christopher Lee. À medida que a evolução da sociedade consistiu em mudanças sociais, sendo a revolução sexual uma das mais relevantes para este efeito, a maneira de retratar vampiros alterou-se substancialmente, aproveitando este conceito para metáforas cada vez presentes com a vida real do quotidiano.
especial vampiros CRÍTICAS 12
Aproveitando o conceito de imortalidade, um dos desejos mais inatingíveis da humanidade, com a habilidade de se tornar num predador, ao mesmo tempo que transparece alguma humanidade, a imagem do vampiro ganhou novos contornos. Seja através do cinema, ou através de séries televisivas, as regras renovaram-se, eliminando por vezes alguns contornos relacionados com a religião, ou o sobrenatural. A adaptação a uma figura mais biológica tornou-se numa tendência, e embora existam alguns casos que mantiveram algumas referências clássicas, como por exemplo Buffy, a caçadora de vampiros, o certo é que o vampiro tornou-se mais próximo do ser humano no seu comportamento, e por consequência, o humano ficou mais identificável na figura do vampiro.
especial vampiros 13
Seja para uma audiência mais jovem, onde vários livros infantis recriaram crianças vampiros que queriam ser amigos do leitor, ou para um público mais adulto, onde o sangue a jorrar era símbolo do sangue quente do desejo e do sexo, nunca em tão pouco tempo uma figura da fantasia foi retratada de modo tão diferente e tão abrangente ao conteúdo humano. Nenhuma das outras figuras clássicas de terror sofreu o mesmo tipo de mutação ideológica.
Este mês de Dezembro apresenta-nos dois exemplos claros desta situação, através de dois meios distintos de comunicação. No cinema vemos chegar Crepúsculo, uma fantasia juvenil sobre o amor, quase impossível, entre uma jovem e um vampiro. E através da televisão, num discurso com nuances mais adultas, presenciamos a estreia na televisão por cabo da mais recente série de Alan Ball, True Blood. A Red Carpet está atenta a este fenómeno, e como tal apresenta um especial sobre estes projectos. Parece que os vampiros voltaram a ser moda! Ou será que alguma vez deixaram de o ser?
Crepúsculo por: Nuno Cargaleiro
Crepúsculo surge como um filme baseado numa sé-
especial vampiros CRÍTICAS
rie de livros juvenis de fantasia, escritos pela autora Stephenie Meyer, que combina o conceito de vampiros, e o reformula, tornando possível a existência de vampiros de bom carácter, assim como a possibilidade entre um amor proibido entre uma jovem humana e um vampiro. Dotado de uma legião de fãs que acompanharam os vários livros que foram lançados, este romance aproveita os vampiros como chamariz principal, mas com o tempo, integra o leitor num mundo de fantasia onde todo o tipo de criaturas sobrenaturais são uma realidade.
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Isabella Swan, de diminuito Bella, é a protagonista humana da saga. Filha de pais divorciados, escolhe mudar-se para a cidade do pai de modo a possibilitar uma nova oportunidade de intimidade entre a mãe e o novo marido. Personificada no filme por Kristen Stewart, esta jovem apresenta algumas dificuldades de adaptação, sobretudo ao cruzarse com Edward Cullen, representado no filme pelo actor Robert Pattinson, que aparantemente é um colega adolescente do seu liceu. Na realidade, Edward é um vampiro com 108 anos de existência, que cada vez se sente mais atraído pela jovem Bella, e como tal, procura afastar-se dela.
À medida que estranhos acontecimentos surgem sempre que ambos se cruzam, Bella sente-se cada vez mais curiosa, e atraída, por esta figura misteriosa, até que chega à conclusão que está perante de um vampiro. Embora isso assustasse qualquer personagem comum, esta descoberta só vem aumentar a curiosidade de Bella, que descobre em Edward a possibilidade de integridade e companheirismo num preconceito que normalmente simboliza o mal. Bella conhece a família de Edward, que nada mais é do que um conjunto de vampiros, de diversas idades aparentes, que dispersos foram-se agrupando num sentido de comunidade e de família. Decididos a viver integrados por entre os humanos, preferem alimentar-se de sangue de animais do que de seres humanos, e embora não apresentem de não apresentarem um perigo directo para a humanidade, não deixam de procurar o equilíbrio entre a inclusão e o secretismo, tornando-se numa representação óptima de uma minoria. Contudo, como nem tudo são rosas na paixão crescente destas duas personagens, a chegada de três vampiros viajantes ameaça a relação do casal, assim como incide perigosamente na integridade física de Bella, que apesar de se mostrar disposta em se tornar vampira por Edward, torna-se num alvo
Neste romance com traços de sobrenatural vive representado muitas diferenças sociais, que embora não sejam profundamente desenvolvidas com tal na série de livros, são motivo para bastante apego por parte dos seus leitores. Bella embora pareça uma potencial vítima de Edward, no fundo é protegida por este, desenvolvendo uma relação platónica que muito roça o espiritual e o conceito de almas gémeas. Embora não apresente o atrevimento de muitos contos de vampiros, já que a promessa futura de Bella em tornar-se vampira assemelha-se a um certo conservadorismo, numa representação da virgindade que é mantida por uma relação de adolescentes, Crepúsculo consegue dirigir-se para um público jovem, para quem foi criado, e como
especial CRÍTICAS vampiros
Se Harry Potter surgiu para o mundo da feitiçaria, Crepúsculo apareceu para o universo do vampirismo. Embora não tenha tido o sucesso internacional que o primeiro, teve direito a várias continuações literárias, que alargaram o universo de Bella e Edward a uma série de aventuras que quase acabaram com o amor entre ambos.
tal transmitir nas suas personagens as mesmas ansiedades, paixões, dúvidas, e crescimentos vividos pelo seu público. Resta saber se o universo abrangente do cinema conseguirá atingir as mesmas repercussões, visto que no habitual existente nas histórias de vampiros há quem procure terror, quem busque aventura, mas muitos poucos esperem o amor.
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para o mais perigoso destes novos visitantes.
especial vampiros 16
True bloOd por: Nuno Gonçalves
Apenas um episódio depois da sua estreia no canal HBO, a série True Blood de Alan Ball – o cérebro criativo por detrás de Beleza Americana e Sete Palmos de Terra – era renovada para uma segunda temporada, algo que usualmente só acontece perto ou mesmo depois do final da temporada. Uma das razões para o sucesso instantâneo, bastante considerável tendo em conta que se trata de um seriado exibido num canal por cabo, é certamente o material de origem. Trata-se da adaptação de um fenómeno de culto literário criado pela escritora do Mississippi Charlaine Harris, que em 2001 criou Dead Until Dark o primeiro livro do que viria a ser uma série de incrível aceitação, denominada The Southern Vampire Mysteries. Em Maio deste ano já ia no seu oitavo volume.
A protagonista é Sookie Stackhouse, interpretada pela cândida Anna Paquin, uma empregada de mesa numa pequena vila do interior pantanoso e enigmático do Louisiana, no sul dos Estados Unidos da América. Desde a infância que veio a desenvolver a habilidade, ou maldição, de conseguir sondar os pensamentos das outras pessoas, algo que sempre a tornou numa solitária ansiosa por sair da sua própria bolha de segurança, que consiste na sua família mais próxima e um par de bons amigos, e descobrir o mundo. Até que um dia, no bar onde trabalha todas as noites, vê entrar pela porta um vampiro, o primeiro a chegar à localidade desde que estes saíram do anonimato e proclamaram a sua existência no advento do fabrico de sangue sintético. Isto permitia-os viver entre os humanos sem que necessitassem de os assassinar para sustento dos seus corpos desvitalizados. E Sookie, imediatamente fascinada, descobre que não lhe consegue ler os pensamentos.
E apesar de seguir fielmente o enredo e espírito dos livros, é aqui que a série se afasta do objecto que adapta. Especialmente porque transforma todas as personagens secundárias em co-protagonistas e entrega a todas elas histórias que ao não serem acessórias engrandecem a linha narrativa principal. Abordam temas como a dependência de drogas, homossexualidade, racismo, solidão e outras políticas sociais e morais metaforizando-as através das extraordinárias, e por vezes paranormais vivências de todos os intervenientes. Assim, e com a intervenção crucial dos blues sulistas e do ambiente sedutor dos misteriosos pântanos do Louisiana, se juntam os ingredientes para a mais viciante e libidinosa série a surgir nas lides televisivas nos últimos anos. Estreia até ao final do ano em Portugal no canal MOV.
especial vampiros
O cerne dos livros, e também na série de certo modo, é mesmo a relação que se trava entre Sookie e Bill, dois seres que vivem em extremos opostos mas que parecem encontrar-se enquanto alma gémeas no cruzamento de tudo aquilo em que acreditam. É uma cortesia amorosa à moda antiga, como só se vê nos grandes romances clássicos, e as particularidades do envolvimento do sobrenatural só enaltecem este sentimento de amor na sua definição mais clássica e romântica. No entanto tudo o resto parece ser voluptuosamente excessivo, como a presença do sangue vampírico enquanto entidade vital
que exacerba o prazer sexual e todos os sentidos até se tornar numa perdição. Desde que surgiram das sombras, os vampiros são detidos como grandes peritos das artes rituais da interacção sexual, provocando um movimento oculto de humanos atraídos – e mordidos – por estes seres de infinitas possibilidades.
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Aqui é dado o primeiro salto de fé por parte do público, ver surgir um ser tão sobrenatural e mitologicamente deslumbrante num ambiente tão rural e quase familiar. Mas é também nestes pequenos momentos de transcendência do real que a história se eleva a um patamar superior, misturando a delícia da ficção pulp original com a audaz sensibilidade e peculiar dramaturgia de Alan Ball. Apresentada a premissa nos primeiros episódios e concretizada a instantânea afinidade entre a virginal e destemida Sookie e Bill, um vampiro de invulgar atipicidade que rasga os estereotípicos desde o primeiro segundo com a sua classe e bons costumes sulistas, True Blood cedo se mostra destemida na forma como vai apresentando todos os temas que irá ferozmente pintar durante a temporada.
Shirley Temple por: Leo Pinela
CRÍTICAS 18
Muito se discute acerca das condições de crescimento das vedetas infantis e no que muda as suas vidas um início prematuro no mercado de trabalho, com a agravante de ser o showbiz. Nos anos 30 do século passado, durante a grande depressão norte-americana, as idas ao cinema eram a distracção barata do povo. O surgimento do Hays Office, determinado em fazer uma “limpeza” nos filmes, proporcionou o baby boom, onde se estreia Shirley Temple, nos Baby Burlesks.
Como muitas outras crianças-vedetas, Shirley tinha por trás uma mãe dominadora, Gertrude, determinada em tornar a filha numa vedeta, tal como a sua antecessora Mary Pickford. Desde cedo que a mãe incentivava a sua “musicalidade”, a inscreveu em aulas de dança e a vestia com os vestidos mais bonitos. Gertrude Temple era a agente, directora de dramaturgia, ensaiadora, produtora e tudo mais que rodeasse profissionalmente a filha Shirley, em suma, controlava todos os aspectos da vida da miúda.
Ao longo da sua carreira Shirley Temple protagonizou cinco remakes de filmes de Mary Pickford, sendo um dos mais conhecidos, Curly Top (A Menina dos Caracóis, 1935). Apesar de a grande maioria dos seus filmes terem argumentos bastante fracos, a febre Shirley Temple pegou de tal forma que até mudaram
o sexo a personagens para que o filme pudesse ser dela (The Little Colonel – A Mascote do Regimento, 1935). Sob contrato com a Fox, outras grandes produtoras “assediaram” Shirley para que assinasse contratos com elas, mas o público estava apaixonado pela pequena Shirley que resolveu os problemas financeiros de Darryl F. Zanuck e da 20th Century Fox, levando os estúdios competir à altura da Metro e da Warner. Em 1935-36 Shirley sozinha evitava que o estúdio caísse na bancarrota. Foram determinadas características específicas, pelo Shirley Temple Story Development, para as suas personagens: era um peso morto para os vilões, uma miúda saudável, mal-amada na defensiva, espertalhona, derreteria o coração de uma autoridade fria, tudo isto numa verdadeira linha de montagem, para servir a pequena estrela.
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No auge da sua carreira, 1939, é aprovado o Coogan Act, uma lei baseada na má experiência de Jackie Coogan, que ganhou milhões durante a sua carreira de actor infantil e os descobriu esbanjados pelos pais ao tornar-se adulto. Gertrude, que ganhava ela própria um avultado ordenado, precaveu-se e assegurou que grande parte do ordenado de Shirley fosse depositado num fundo em que só ela poderia mexer ao completar 21 anos, a maioridade.
shirley temple
Entre muitas outras restrições, Shirley estava proibida de ter outros colaboradores para além da mãe e do realizador, estava proibida de ver filmes de outros actores para evitar que copiasse maneirismos e mantivesse o seu estilo espontâneo e personalidade amorosa. Mas o certo é que Shirley tinha graça. Mesmo hoje, ao ver os seus filmes, excluindo os maneirismos da época, vemos uma miúda pespeneta, alegre, desenrascada, cheia de charme e doce como um rebuçado, quando necessário. Cedo Gertrude concretizou o seu objectivo e Shirley já era, no mínimo, tão conhecida como Mary Pickford, mas havia que manter o lugar e Gertrude tornou-se ainda mais feroz nos seus estratagemas para proteger a filha.
A sua popularidade era tal que apenas rivalizava com as contemporâneas princesas de Inglaterra, Margaret e Elisabeth. Chegou a superar, em popularidade, Clark Gable e o Rato Mickey. Foram produzidas bonecas, fotografias, caixas de bombons, anúncios, livros, vestidos, sabonetes, ardósias, postais, etc. Salvador Dali pintou o seu retrato na sua estadia nos Estados Unidos, que também gerou o famoso quadro de Mae West. Todas as meninas da sua idade queriam ser como a Shirley, pentear-se como a Shirley. A correspondência era tanta que uma secretária foi contratada só para tratar dela, o seu clube de fãs em Inglaterra e Escócia tinha 625.000 membros e 135.000 pessoas enviaram presentes no seu 8º aniversário. Shirley não podia circular sem guarda-costas pois corria o risco de os seus vestidos serem rasgados pela multidão de fãs que a seguia para todo o lado. Até a Academia das Artes e Ciências, que não premiava crianças, ofereceu em 1935 um Oscar em miniatura a Shirley Temple, tornando-se ela a primeira criança a receber um Oscar. Mas a sua fama não alastrou apenas pelos países anglo-saxónicos ou europeus, até na Índia e no Japão os seus filmes rendiam somas astronómicas. Margaret Mitchell, a autora do livro E Tudo o Vento Levou, inspirou-se na cena de abertura de The Littlest Rebel (A Pequena Rebelde, 1935) para uma cena semelhante no seu livro e chegou a criar uma filha de Scarlett e Rhett à imagem de Shirley.
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Ainda antes de começar a perder popularidade, a MGM tentou comprar o seu contrato à Fox, pois tinha o filme perfeito para ela: The Wizard of Oz (O Feiticeiro de Oz), mas Zanuck foi irredutível e o papel para a sua preciosidade foi para quem sabemos. À medida que ia crescendo, Shirley ia tendo menos trabalho e mais tempo para descobrir outros mundos, o colégio, a vida exterior.
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Quando Shirley fez 17 anos, casou-se com John Agar, um aspirante a actor, para tentar libertarse das “garras” da mãe. Mas o seu declínio já era claro, Shirley não conseguiu fazer com sucesso a transição para actriz adulta, tornando-se apenas em mais uma cara bonita no ecrã. Aos 21 anos, como previsto, Shirley tomou posse da sua fortuna, divorciou-se e seguiu outros caminhos. Voltou a casar-se, num casamento
longo e prolífero com Charles Black e incursou por uma próspera carreira como diplomata. Nos anos 60 Shirley volta à ribalta com um programa de televisão para crianças, o Shirley Temple Show.
- Shirley Temple: American Princess,
por Anne Edwards
- The Shirley Temple Scrapbook,
por Loraine Burdick
- Shirley Temple Song Album - Cinéfilo - Filmagem - Animatógrafo
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Bibliografia
shirley temple
Por mais que os filmes de Shirley Temple tenham caído no esquecimento, a sua imagem de boneca, os caracóis, as covinhas, as típicas características que se pedem numa criança em filmes de entretenimento, e, claro, o cocktail sem álcool Shirley Temple, ficaram para sempre lavrados na imagética do mundo ocidental e de algumas outras culturas também.
TOP 10
Filmes Natalícios POR: BERTO CARVALHO
Sozinho em Casa
É quase impossível desassociar esta época festiva do filme Sozinho em Casa, já que somos brindado s quase anualmente por mais uma repetição na nossa TV. O filme deu a co nhecer ao mundo Macaulay Culkin e co nta a história de uma criança que dura nte o Natal é esquecida em casa pelo s pais e tem que usar todos os truques e artimanhas para evitar que dois ladrõe s o apanhem.
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do Realiza motion, O film po num é assustar os t o a t i s d e m e im n dia ele -se de ellingto tornou o de Jack Sk uxas até ao om lh br inado c lo c s a O traba no dia das F . l Nata os o títu human ade do eia usurpar d i c a mare , plan l à sua o i a t c í descob l a a N t mar o ito na o espír tal e transfor Na de Pai neira.
FILMES NATALÍCIOS CRÍTICAS
O Homem e
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Espectro Também con hecido como Cântico de Natal, há inú meras adapta ções deste livro de Charl es Dickens ao c in ema, mas a que escolhe mos é a de 19 51 realizada por Brian Hu rst e com a in te rpretação de Alastair Sim . O filme most ra Ebenezer Scrooge um h omem avaren to que odeia o Natal, até a o dia em que é visitado por três espíritos que o fazem ver a vida de modo diferen te.
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Kris K usão T a r Pai N ingle é co mbém a Se V ntrat a um s tal numa ucess loja o do para f ive o. az n ele a firma Mas o m de acaba er de a por s Confr ser o is est er o r se ob ntado por verdadeir anho é qu ri o Pa e i i realm gado a ir números a trib cépti Natal. ente q co un três Ó u scare em afirma al e prova s, vês em remak r 1947 ser. O filme que é es. e orig v inou i enceu núme ros
Aproxima-se o Natal e por isso vamos recordar dez filmes que, de uma forma ou de outra, estão ligados a esta quadra festiva. Uns transmitem valores e mensagens natalícias, outros nem por isso, mas todos nos vêm à cabeça quando falamos de cinema e de Natal. Assa
O film lto ao e põe Arr natal ícia, m de parte anha -C é das q as a avent ualquer m éus q u e ura d mais hábit ensag e o, lig e à hor McClane e amos ao John McC m a erra lane ncont Nata l. Com da, pa tas qu ra-se r o e n Naka tentam c a muito az o local err é ontro tomi a a r do dos du la ao Ar ranha rante a no r a torre da terrorisit de ac ção d Céus é um e de natal empresa . os an os 80 dos melh O Assalto ores . filme s
i d os a h o da vida, n a t n rela co ando cansad Natal. No t s E a t um que es se durante o anjo da m e m o r um h suicida judado por o seria o e d i c de éa om o, ele e mostra c e existido, t n a t n e à tivess ue lh q a c a n amor d u r n o r e l gua a e r caso recupe mundo -o assim a o levand vida. prima
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Natal, mos m os. Aqui te iatamente ao nsmitid a r t d e s e elalor mos im pelos v dia negra com ja e s é não a com ia quan m ic u in é e s s n Gremli de terror que lo Natal uma s el be pe emento er rece riatura adoráv z lt e P ém ma c do Billy e ningu r ulgar, u u v q in o a d s Ma ebe pren Gizmo. não rec rie o m m o iz n G e de r sé é que s , poderá causa a in g a is im ia s espec cuidado lemas. os prob
al music e l Curtiz l ma a e u t a é h a N anco do por Mic by e Danny r B l a es ros liza Nat 4 rea or Bing C itas cançõ e 5 9 1 de mu op lin em a retad g Ber interp e deu orig s por Irvin Phil são qu e ta Kaye al compos imos. Bob regrest v o da Na da hoje ou res que a ctáculo n a i pe t que a tigos mili am um es ar uma an ont salv de dois asa, m nça para c risco a m m a e e d r sa stá de al e que e c i o s ã u s n m na pe peque recer. a desap
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e çã e anima bert Zemeckis e dá d e m il F o qu o por R Hanks, s realizad ação de Tom entre a , s n e ip g a ic Exrson a part árias pe ai Natal. Polar a v a a r lev a ca io P oio que ólo o própr b d m a o c is a do qu ao P o nome irecção d uma m e press é nças al onde ia t r a c N s i l. a ia vár sa do P spírito do Nata a c é t a re o e Norte descob e r a ç n cria
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FILMES NATALÍCIOS CRÍTICAS
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POR: Nuno Car
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Fome - 4 de Deze
enas um a diária: ele é ap tin ro a su aze a e l na cadeia de M ond Lohan segu Sinopse - Raym e trabalha como guarda prisiona de os prisioneiros qu H-Blocks, on homem comum es, ele m dos temíveis nu o nd ha tam por cobertor para al es ab ot Tr pr e o nh em 1981. ba o recusam a tomar tanto para os prisioneiros com republicanos se ão is pr ta es é e o qu conhece o infern alham. ab tr i al e aqueles qu esar de chegar a Maze. Ap iforme de a ab ac e qu novo prisioneiro te a vestir o un Davey Gillen é um Davey recusa-se terminantemen o, estar aterrorizad é qualquer criminoso. o nã e el – da prisão ham sido pas para onde tin lim s la ce as em alargaro prisioneiros dest e feridos. O motim s os , to or em m rd so os e de tr da as en meio força e pelas busc pe na prisão. No Um motim irrom é violentamente esmagado pela tá a salvo e Raymond é ferido… im nal es mudados. O mot um guarda prisio nh ne a or ag … ão se a toda a pris
Mulheres - 11 de
Dezembro
Sinopse – Contextu alizado no mundo da o filme conta a hist ória de Mary Haines moda e publicidade de Nova York, , uma designer de m ter tudo - uma bela od ca 11 anos e uma carre sa de campo, um rico marido, uma ad a que parece ira criando desenh os para a respeitáve orável filha de roupas de seu pai. A sua melhor amig a, Sylvie Fowler, te l companhia de uma proeminente m outra vida invejá revista de moda, po vel ssuidora de um en opinião sobre o go orme armário com - uma editora feliz e solteira de sto e o estilo da va roupas de marca e nguarda nova iorq a quente e bela Cr uina. M uma ysta quanto o seu restrit l Allen, o seu mundo desmorona. A re as quando o marido e de Mary têm um venerada o círculo de amizade lação entre Mary e Silvie é testada ao caso com questionar os seus , incluindo a superm relacionamentos e mãe Edie Cohen e a escritora Alex Fish áximo ena amizade entre to das. er, começa a
Bolt - 11 de Dezembro
a estrela do acção com quatro patas, Bolt é Sinopse - Um moderno herói de údio para est prio pró o e vive desde sempre no seu próprio programa de televisã acredita Ele l. rea é no seu fictício programa pensar que tudo o que se passa m a sua lue inc que s para ter super-podere que foi geneticamente alterado quando s Ma do… lati e um poderoso superue, os lendária força, uma visão laser Iorq va No de dadeiras ruas da cidade prova Bolt chega, acidentalmente, às ver à põe de lida rea querer funcionar. À medida que a duros e des ida ers seus incríveis latidos parecem não adv Entre uma mentira. Ou não terá sido? foi a vid sua a ra. a tod ado que que e a ceb don a per a com as suas ilusões, Bolt er de um cão está na lealdade par pod ersup eiro dad ver o que re revezes, Bolt descob
Sim Senhor! - 25 de Dezembro 24
Sinopse – Sim Senhor! é a nov a comédia de Jim Carrey. Basea do autor britânico Danny Wa do nas memórias llace, texto que foi adaptado pelo guionista David Iserson (veterano do programa televisivo Saturday Night Liv e). O enredo conta a estranha viagem de um hom em (Carrey) que, cansado de perder oportunidades na vida, resolve dizer “sim” par a tudo o que lhe aparece durant e um ano, levandoo a uma série de situações abs urdas e pitorescas. No elenco também podemos encontrar a actriz Zooey Desch anel, como o interesse amoro so do protagonista, e Bradley Cooper, como o me lhor amigo deste.
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CRÍTICAS
Sin City versus The Spirit POR: Nuno Cargaleiro
CRÍTICAS 26
Frank Miller é um nome reconhecido no mundo da banda desenhada como guionista e artista gráfico de vários títulos emblemáticos. Com um pico de popularidade nesse universo entre os anos 70 e 80, Miller foi parcialmente responsável pela crescente popularidade de algumas personagens da Marvel e da DC Comics. O aproximar dos anos 90 fizeram Miller aprofundar outros rumos, desenvolvendo um estilo gráfico muito peculiar, e permitindo a criação de histórias originais que influenciaram muitos daqueles que liam atentamente as suas histórias. A sua relação intrínseca com a linguagem cinematográfica é inegável, e não terá sido de estranhar que tenha tomado a cadeira de realizador, ao lado de Robert Rodriguez (e Tarantino, numa curta cena), aquando da adaptação do seu álbum gráfico mais famoso: Sin City. Aparentemente, a realização ficou-lhe bem, e agora chega o seu novo projecto, com o título original The Spirit. A Red Carpet, atenta a este novo projecto, apresenta algumas diferenças e semelhanças entre este projecto e o anterior, preparando o espectador que só conhece Miller de Sin City para o que pode esperar neste novo filme.
- Conjunto de histórias independentes, que se cruzam em Basin City, criadas por Miller após 1991. - Possivelmente a obra mais emblemática de Miller, onde cruza o estilo noir para um discurso mais presente, juntando influências de filmes antigos, com uma perspectiva mais actual. - Os protagonistas variam de conto para conto, existindo algumas histórias que partilham as mesmas personagens. - Distingue-se pelo espírito noir, mas com um aspecto sujo e muitas vezes erótico dos traços e da representação da cidade. - As personagens femininas têm uma importância equiparada às masculinas, manipulando os homens, ou capazes de serem auto-suficientes e independentes quando toca a defenderem-se. - Não há um vilão principal, embora exista algumas personagens de mau carácter emblemáticas. Miller normalmente não lhes reserva um bom final nas suas histórias. - As forças policiais são normalmente corruptas. Uma das excepções à regra é Hartigan, interpretado no filme por Bruce Willis. - O amor não tem lugar nesta cidade, normalmente é confundido com desejo, e muitas vezes acaba em tragédia. - O filme procurou utilizar efeitos especiais para recriar, fielmente, cada imagem apresentada na banda desenhada. - É possível ver Frank Miller durante o filme, numa pequena participação na figura de um Padre.
- Personagem criada por Will Eisner em 1940, como herói de banda desenhada. - A obra de Eisner é considerada como influência de referência, devido à inovação apresentada, na altura, do estilo e técnicas de desenho, assim como de gestão de argumento. - O protagonista é Denny Colt, um detective dado com morto, que cria um alter-ego: The Spirit. - O ambiente noir e glamoroso é uma constante na banda desenhada e no filme. - As mulheres são uma presença segura, tendo muitas vezes um perfil dúbio entre perigosas ou vítimas. - Embora tenha vários inimigos, esta personagem tem em Octopus a imagem do vilão principal. Esta figura será apresentada no filme de Miller. - Existe um retrato positivo da polícia, através da personagem do Comissário Dolan. - O mais próximo de uma relação amorosa sincera surge na imagem de Ellen Dolan. - Os efeitos especiais utilizados surgem sobretudo na apresentação do ambiente, bastante baseado no estilo de Sin City, embora apresentado maior uso de cores do que o seu antecessor. - Frank Miller não fará nenhuma participação especial, como figurante, durante o filme.
versus
THE SPIRIT
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sin city
Frank Miller
A Alma Negra da BD por: Pedro Pereira
CRÍTICAS 28
Para o mais comum dos cinéfilos, Frank Miller é um nome que apenas se tornou famoso em 2005, quando Robert Rodriguez estreou o super sucesso Sin City. No entanto, o êxito de Miller é bastante anterior a esse momento, de tal modo que nos dias de hoje o nome de Frank Miller é já facilmente posto lado a lado com alguns dos mais emblemáticos autores de BD norte-americanos, como Will Eisner, Jack Kirby, Stan Lee e Jim Steranko. Assim, aproveitando a estreia próxima do filme The Spirit, um filme que marca a estreia a solo como realizador do já carismático desenhador americano, a Red Carpet aproveita para mostrar aos seus leitores o melhor da obra de Frank Miller.
De apenas desenhador a colaborador de Roger McKenzie na escrita e produção da BD de Daredevil foi um passo, sendo que aos poucos a influência de Miller nas histórias de Daredevil foi ficando mais evidente, tornando-as cada vez mais negras e profundas, algo que sem dúvida agradou ao público em geral. Com o sucesso exponencial da BD de Daredevil, Miller que já era visto como uma das maiores estrelas em ascensão do ramo, não tardou a tomar por completo o controlo da publicação, apresentado na edição Daredevil nº 168 de 1981 a heroína sagaz Elektra, uma personagem que viria a tornar-se numa das personagens femininas mais marcantes da BD americana, conseguindo inclusive passar a estrelar uma publicação própria, também escrita e desenhada pelas mãos de Miller. Após vários números de sucesso de Daredevil e Elektra e algumas colaborações em outras pequenas publicações, das quais se destaca a produção juntamente com Chris Claremont de uma mini-história de quatro partes de Wolverine em 1982, Miller publica para a DC Comics a sua primeira BD original. No entanto, esta publicação de nome Ronin, que foi vendida entre 1983 e 1984, não foi um grande sucesso, acabando por se revelar mais tarde como sendo uma BD bastante à frente para o seu tempo. Em 1986, com o seu envolvimento na escrita e desenho das novas histórias de Batman: O Regresso do Cavaleiro das Trevas, Frank Miller deu definitivamente o salto que a sua carreira precisava. A história que relatava o regresso de um Homem-Morcego velho, mas determinado a acabar com o crime em Gotham City, revitalizou por completo a saga, tendo
Frank miller
Nascido a 27 de Janeiro de 1957 em Olney, Maryland, Frank Miller passou a sua infância em Montpelier, Vermont, onde começou a apaixonar-se pelo mundo da BD, através das histórias de policiais noir, tais como as de Mickey Spillane, um dos seus autores preferidos e criador do detective Mike Hammer. Já como desenhador profissional, o primeiro trabalho de Miller viria a ser publicado pela editora Gold Key Comics na revista The Twilight Zone nº 84 (1978), a este trabalho seguiram-se outros, tanto para a DC Comics (Weird War Tales), como para a Marvel Comics (Barsoom John Carter: Warlord of Mars nº 18). Porém, foi como desenhista na Marvel que Miller teve então a sua primeira grande oportunidade para crescer no ramo. Foi num trabalho feito em 1979, sobre The Spectacular Spider-Man nºs 27 e 28 que juntava o famoso herói aracnídeo e o então pouco conhecido Daredevil, que Frank Miller viu a sua oportunidade. Daredevil era uma personagem pequena sem grande evolução e era um herói de uma revista de poucas vendas, mas Miller viu algo na personagem e pediu ao editor chefe da Marvel, Jim Shooter, que lhe desse um lugar regular na produção da revista. A proposta foi aceite e Frank Miller conseguiu o seu primeiro emprego fixo como desenhador.
Os Heróis Sombrios
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Os Primeiros Esboços
Miller impressionado não só pela maior densidade negra das suas personagens, como pelas suas excelentes técnicas de argumentista e pelo carácter mais adulto da publicação, necessário para eliminar da memória as versões mais kitsch de Batman associadas à série televisiva da década de 60. Além do êxito, esta passagem pela BD do Homem-Morcego serviu-lhe também de inspiração para a revitalização das histórias de algumas personagens já suas bem conhecidas. Assim, Miller regressou às publicações de Daredevil e Elektra em 1986, nos títulos Daredevil: Born Again, Daredevil: Love and War e Elektra: Assassin, esta última para a Epic Comics. Após estas passagens por Daredevil e Elektra, Miller produziu ainda para a DC Comics aquela que é considerada a sua melhor obra deste período, Batman: Ano Um (1987). Nesta sua versão de sucesso das origens do Homem-Morcego, Frank Miller contou com a colaboração de David Mazzuchelli, um amigo com quem já tinha trabalhado no título Born
Again.
Robocop e as Graphic Novels na Dark Horse
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Após alguns diferendos criativos com a DC Comics, Miller aliou-se à Dark Horse em 1990, onde trabalhou juntamente com os desenhadores Geof Darrow e Dave Gibbons em Hard Boiled e Give Me Liberty respectivamente. Entre a produção de BDs para a Dark Horse surgiu o primeiro contacto de Frank Miller com o cinema. Tal aconteceu em 1990, quando foi convidado a escrever o argumento de Robocop 2 e Robocop 3, dois filmes que não foram muito bem recebidos nas bilheteiras e que geraram a insatisfação de Miller para com a indústria de Hollywood, pois segundo ele, tinham frequentemente interferido no seu trabalho. Para se redimir do fracasso comercial de Robocop, Miller voltou em força à BD produzindo a sua própria versão da história de Robocop, com título de Frank Miller’s Robocop, bem como uma aclamada série de edição limitada de nome RoboCop vs. The Terminator.
Frank miller
Após outras pequenas publicações, Frank Miller voltou aos sucessos de vendas em 1998, aquando da escrita e lustração da BD 300, que conta a história de Leónidas de Esparta durante a Batalha das Termópilas.
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Em 1991, Frank Miller cria para a Dark Horse, a primeira história de Sin City – Cidade do Pecado. A publicação que viria ser considerada como a sua melhor BD de sempre, resulta de um trabalho totalmente a solo do artista, onde de forma a enfatizar as origens negras repercutidas no seu guião, decidiu pintar tudo em tons de preto e branco, apenas com alguns rasgos de cor, algo que se revelou verdadeiramente artístico. À produção da primeira BD de Sin City, seguiram-se outras onze histórias, todas elas de enorme sucesso e que vieram ajudar a revitalizar as BDs do género.
Adaptações Cinematográficas
Após várias recusas de Miller para adaptar as duas obras ao grande ecrã, Robert Rodriguez dirigiu em 2003 um mini-filme baseado nas histórias de Sin City, de forma a tentar convencer o desenhador americano a deixar adaptar a história para grande ecrã. Miller ficou impressionado com as capacidades de Rodriguez e rapidamente chegou a acordo com o jovem realizador para a produção do filme, do qual ele também participaria na produção, de forma a garantir que o filme não se afastaria da essência da BD original. O filme estreou em 2005 e foi um marco revolucionário na história da indústria, tendo sido considerada como uma das melhores adaptações de uma BD ao cinema, isto além de ter batido recordes de bilheteira por todo o mundo. Nesse mesmo ano de 2005, Miller voltou ao cinema através da escrita do argumento do filme Elektra um filme baseado numa personagem criada por si, mas que era já um spin-of de um filme com pouco sucesso de 2003, Demolidor – O Homem Sem Medo (Daredevil), do qual Miller pouco teve a ver. Tal como Daredevil, o filme Elektra foi um fracasso não dando origem a qualquer sequela. Após tantos anos de sucesso na BD e principalmente com o mega-sucesso do filme Sin City, não foi surpresa para ninguém quando Zack Snyder decidiu adaptar a BD de 300 ao grande ecrã. Mais uma vez, Miller apenas autorizou o filme com a garantia que este iria ser fiel à BD por si criada. O filme foi um êxito de bilheteira e provou uma vez mais da qualidade das capacidades de Frank Miller como contador de histórias.
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Com The Spirit, Miller estreia-se na realização de um filme que não é adaptado de uma das suas obras, mas sim da BD de Will Eisner, um dos nomes sonantes do género e que em muito inspirou a carreira de Frank Miller. Pelos vários trailers e imagens que têm sido lançados pelas fortes campanhas de marketing do filme, Miller parece ter optado por um estilo que mistura o preto e branco com algumas cores, muito parecido com o que foi utilizado por Sin City. Para o futuro, o autor prepara-se para juntamente com Robert Rodriguez lançar a sequela de Sin City – Cidade do Pecado.
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Sob o Signo De
Johnny Guitar por: Nuno Gonçalves
Nicholas Ray sempre foi reconhecido como um realizador rebelde na mais áurea época de Hollywood. Obteve algum mérito pelo seu mais citado filme, Fúria de Viver, com James Dean, mas foi inúmeras vezes marginalizado no seu país de origem. Começou então a ganhar um enorme culto na Europa, especificamente em França e junto dos visionários da Nouvelle Vague, como François Truffaut que o denominou de “poeta da noite”. Porque não há nenhuma obra do realizador que não deixe substituir o frenesim da acção por longos e quase silenciosos momentos de exposição dramática, não aborde na linha temática da violência e angústia do amor e não tenha uma significante cena nocturna.
CRÍTICAS 34
Toda a ambiência naturalista erigida pelos grandes marcos do género é substituída por uma sensibilidade dramática extremamente estilizada e quase artificial, adjuvada pelas gloriosas e coruscantes cores em Technicolor, mas sempre assente na verdade e autenticidade da narrativa, ainda que muito afastada da pureza e simplicidade do western. A exuberância visual está presente logo de início e cedo se manifesta nas mais diversas formas. Para além da exactidão milimétrica e arquitectural (não fosse Ray um aluno de Frank Lloyd Wright) da construção de plano, nesta história o código de cores presente no figurino vai sofrendo uma mutação simbólica ao longo de todo o filme. A personagem de Vienna, numa estonteante transfiguração de Joan Crawford, começa por
apresentar-se de negro e em cores soturnas, como tipicamente os vilões são retratados no género, mas vai-se revelando à medida que o enredo se vai desenrolando, culminando um imaculado vestido branco, como que a proclamar a sua inocência, passando depois para as cores garridas, luminosos vermelhos e amarelos, as cores do herói que já nada tem a ocultar. Por outro lado a sua nemesis, interpretada por Mercedes McCambridge, sofre o processo oposto, e termina ela em trajes fúnebres e mórbidos. E é aqui que reside a mais desnorteante heresia ao género: os pistoleiros, nos seus notáveis e estimulantes confrontos, são secundários, e existem para servir as mulheres, verdadeiras protagonistas deste conto de fadas devassado. No western a mulher tinha somente dois papéis: a de donzela em apuros ou a meretriz com bom coração. Aqui, mais que inimigas mortais, Vienna e Emma são figuras de uma tragédia grega, resultados fatídicos de inúmeras violações emocionais, e o motor incontornável de toda a acção, em todo o seu lento e contemplativo compasso. Ambas são condenadas por um amor furtivo e é isso que as une e, simultaneamente, afasta e polariza. Emma, uma mulher de valores e fortes crenças morais, é arrebatada por uma paixão e desejo sexual por um homem de façanhas pouco nítidas. Reprime tudo isto que a repugna tão visceralmente e transfere estes sentimentos que se metamorfoseiam em ódio e vingança, para a mulher que, inadvertidamente ou não, conquistou o coração desse mesmo homem. Vienna é também ela mar-
cada pela perda violenta de um amor que retorna de uma ausência infindável sem que ela esteja preparada, escondendo as suas aspirações por debaixo de uma máscara gélida mas flagelada. Emma, num folgo demoníaco, destrói a vida da sua adversária, aquela que secretamente condena pelo seu infortúnio e frigidez, sob a alçada de uma moralidade desvirtuada. O duelo não acontece ao pôr-do-sol na estrada principal da cidade, mas sim acima de todos os homens que visitaram as suas vidas, olhando uma na outra nos olhos antes de os tiros ecoarem. Uma delas inevitavelmente perece, sem elevadas proposições sobre a morte, de corpo virado para baixo, com a cara enterrada na lama. Neste misto de genuíno dramatismo e artificiosa composição, Johnny Guitar foi-se tornando num açambarcador objecto de culto junto dos amantes de cinema. Na edição em DVD podese ver uma notável introdução feita por Martin Scorsese, que afirma tratar-se de um dos mais importantes filmes da sua vida. Dele e de todos os que têm o privilégio de a descobrir. sob o signo de
rompido, também não foge à regra. É, inclusivamente, na penumbra da noite que os dados são lançados para o derradeiro conflito operático. Apelidá-lo de uma ópera americana não estaria efectivamente longe da verdade. O público americano em 1954 alimentava-se dos cenários realistas dos brilhantes westerns de John Ford e Howard Hawks e quando estreia o décimo terceiro filme de Nicholas Ray foi como se uma nave espacial tivesse aterrado nos terrenos áridos do Grand Canyon e eviscerado tudo aquilo que caracterizava o género. A história é ela mesma atípica, centrando-se no regresso de um misterioso homem à vida de Vienna, uma dona de um salão que é suspeita de albergar um suposto bando de salteadores. Porque Johnny Guitar pode em tudo parecer um western mas na realidade não o é.
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Johnny Guitar, um western cor-
Angel Face
A Essência de um Olhar (i) por: Luís Mendonça
[Notas prévias: o texto que se segue é uma versão adaptada de um trabalho elaborado no âmbito do mestrado de “Cinema e Televisão” da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; iremos apresentar esta análise a Angel Face em duas partes, sendo que a segunda será publicada na próxima edição da Red Carpet; a bibliografia do trabalho é muito extensa, por isso, são identificadas nesta versão apenas as fontes das citações directas e das ideias retiradas de obras/artigos essenciais sobre o filme; é da responsabilidade do autor a tradução (de inglês para português) de todas as citações realizadas.]
cinema clássico 36
Otto Preminger acreditava que o realizador deveria controlar todas as etapas da criação de um filme, da pré-produção à sua distribuição nas salas, passando mesmo pela realização dos trailers e conceptualização dos cartazes (Pratley, 1971). Não espanta, por isso, que tivesse entrado, várias vezes, em ruptura com Darryl Zanuck, o seu patrão na 20th Century Fox. E que, ao mesmo tempo, fosse descrito pelos actores com quem trabalhou como um “tirano no set”. O facto de ter interpretado, enquanto actor, papéis de nazis nalguns filmes do período clássico não ajudou a limpar essa imagem, que, importa dizer, nos parece algo injusta. Preminger passou parte da sua vida a pugnar pela autonomia do realizador em relação à política dos estúdios. Por mérito próprio, conseguiu, mesmo sob a alçada da 20th Century Fox, produzir e realizar a maio-
ria dos filmes que fez a partir de Laura (1944) – considerado, por si, o seu primeiro filme... Em 1953, assinou a sua primeira produção independente: o polémico The Moons is Blue. Mas, um ano antes, houve Angel Face, objecto que ocupa um lugar muito particular na filmografia do realizador. Nas palavras de Preminger, tratou-se de “uma curiosa casualidade”. Desde logo, porque a produção ficou a cargo de Howard Hughes; isto é, fora do domínio de Zanuck. Por sugestão daquele, Preminger foi “emprestado” à RKO para rentabilizar os últimos dias de contrato com a actriz britânica Jean Simmons. Hughes deu total liberdade a Preminger para produzir e realizar, no espaço de 18 dias, um filme baseado (remotamente ou não) no argumento “Murder Story”.
Jacques Rivette considera que, despido dos recursos tecnológicos da 20th Century Fox e tendo em mãos um argumento “pouco convincente”, “Preminger reduziu a sua arte ao essencial”, isto é, fez de Angel Face o derradeiro teste aos limites do seu cinema, que, pela primeira vez, foram postos a nu na tela. Na crítica que escreveu para os Cahiers du Cinéma, intitulada “O Essencial”, Rivette explica que, ao contrário de realizadores como Hitchcock ou Hawks, o que faz de Preminger um autor não é tanto a reincidência de certos temas na sua filmografia, mas, acima de tudo, a “maneira” como os filma. Andrew Sarris (1971) aproximou-se desta “ideia de cinema”, afirmando que “É a maneira de Preminger, mais do que a matéria, que nos deve preocupar mais”. A nudez de Angel Face não abala o mundo do realizador austríaco; pelo contrário, põe em evidência, num processo de destilação formal, a ideia de que o grande tema do seu cinema (matéria) é a própria mise en scène (maneira). E o que é a mise en scène? Pensamos que em Angel Face esta é, de facto, a “arte da relação: da câmara com os actores e destes com o espaço, mas também dos actores entre si”. Toda uma arquitectura de relações que a “maneira” premingeriana eleva a um estado de depuração máxima. Mas como é que Otto Preminger a fabrica? Desde logo, através de uma muito (auto-)elogiada capacidade de trabalho, ancorada numa visão pragmática do cinema. Com efeito, a segurança com que Preminger afirma a eficácia da sua planificação é, no mínimo, desarmante: “Eu comecei a minha carreira no teatro e, por isso, vejo a produção final na minha cabeça antes mesmo de começar a filmar” (Phillips, 1979). O próprio complementa esta ideia noutra entrevista que dá à revista Films and Filming (Preminger, 1959): “Eu nunca filmo mais do que é absolutamente necessário”. Podemos encontrar indícios desta visão ultra-planificada e quase ecológica da mise en scène no início das 4 cenas em que Diane entra no quarto de Frank: filmadas sempre do mesmo ângulo, num plano geral que
Ao contrário de outros realizadores (como Wyler e Zinneman) que filmavam uma cena em vários ângulos para depois escolher o melhor de todos na sala de montagem, Preminger partia para um filme na certeza de que a única perspectiva que nele iria vigorar seria, precisamente, a “sua perspectiva”. E, nesse sentido, apetece brincar com as palavras de Robert Bresson, em “Notas Sobre o Cinematógrafo”, e dizer que em Angel Face os actores e as suas personagens sabem que “a câmara é o olho, ou antes, o olhar do realizador” – e é só através dele que nós, público, vemos o filme. Mas qual a natureza desse olhar aqui? Já se escreveu que é dura e directa, neutral ou objectiva, transparente, lúcida e verdadeira. Preferíamos neste aspecto sermos um pouco como o próprio Preminger e ousarmos uma interpretação mais “terra-a-terra”: se a singular “visão do todo”, que citámos atrás, é fruto da sua experiência, enquanto actor e encenador, no teatro vienense, pensamos que a justeza do seu olhar – leia-se, da sua câmara – se poderá dever muito à relação profunda que tinha com o pai, um prestigiado advogado austríaco. Um dia, este pediu a Preminger que concluísse um tipo de estudo mais formal, antes de seguir o sonho de se tornar actor de teatro. O pedido foi aceite e Preminger escolheu formar-se em Direito. Assim sendo, talvez seja da memória do seu pai que nasceu em Preminger o fascínio pelos tribunais e uma certa abordagem judicialista da própria mise en scène, bem presente em Angel Face e exemplar em Anatomy of a Murder (1959). De facto, é central no seu cinema uma preocupação em “ouvir as partes” e não tomar partido, ou juízos precipitados, em face do que a câmara testemunha. Em entrevista, Preminger diz: “O meu conceito básico de drama é mostrar os dois lados de qualquer questão e não apenas o ponto de vista do realizador” (Phillips, 1979).
O(s) protagonista(s)
Em Angel Face, o protagonismo parece repartido, de forma quase equitativa, entre Frank e Diane, tal como entre Catherine e Charles e, a espaços, entre Mary e Bill. É curioso ver como a câmara joga o jogo das personagens, num filme essencialmente “conflitual”, sobre o controlo e a submissão e a submissão e o controlo. Sobre sexo (Mitchum, o homem-objecto) e dinheiro (aquilo
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Um olhar despido
mostra à direita a porta por onde Diane invariavelmente surge. É uma solução simples, seguramente económica, que ajuda a perpetuar a ideia de regresso em Angel Face.
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A razão para tal escolha está, a nosso ver, à vista naquilo que acabou por ser Angel Face: um filme compacto, que evidencia um método, ou melhor, uma disciplina rigorosa no acto de filmar. Howard Hughes sabia que Preminger era dos poucos cineastas em Hollywood que não se assustava com um calendário de filmagens tão apertado e, para mais, um orçamento mais limitado que o costume.
que Simmons usa para o comprar). Um exemplo desse gesto subtil e perverso – porque aquele jogo também envolve inadvertidamente o espectador – é o da sequência inicial, em que Frank e Diane se encontram pela primeira vez. Numa análise exaustiva que fez do filme, Richard Lippe (1996) nota que as cenas iniciais de Angel Face (a ambulância leva Frank e Bill à mansão Tremayne) estão centradas na “experiência de Frank”; logo, sugerem que este será a principal “fonte de identificação” do espectador no filme (até porque o nome de Mitchum surge em primeiro lugar no genérico). Isto teria acontecido num film noir convencional, mas Preminger, que detestava toda e qualquer etiqueta, faz questão de dificultar a tarefa ao espectador. ...
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Num único plano, vemos Frank a descer as escadas e a ser atraído, como um íman, pela música que alguém toca ao piano (praticamente o único tema musical de todo o filme, composto por Dimitri Tiomkin). À medida que Frank se desloca na direcção da música, a câmara acompanhao numa ligeira panorâmica à esquerda, até incluir, no mesmo frame, a imagem de Diane: para Lippe, “O que é importante aqui é que Preminger não corta para Diane, o que teria sugerido um plano subjectivo da perspectiva de Frank; ao invés, ao construir um plano americano através de um movimento de câmara para apresentar Diane, ele desencoraja não só a objectivação desta como a identificação do espectador com Frank”. No plano seguinte, já não é Frank que vai ao encontro de Diane, mas Diane que espera a chegada de Frank. Por instantes, num jogo perspéctico produzido pela câmara-olho de Preminger, os papéis invertem-se: nessa sequência,
Frank perde o controlo do filme para Diane e só pontualmente é que voltará a ganhá-lo. Por outro lado, é na sequência do julgamento que a dimensão objectiva, ou multiperspéctica, da sua mise en scène melhor se cruza com a ambiguidade moral das personagens (culpadas ou inocentes, boas ou más ou tudo isso ao mesmo tempo). Trata-se de um exemplo notável daquilo que Paul Mayersberg (1979) denominou de “Preminger’s detachment”. Foquemo-nos na sequência das alegações finais, que é filmada, tanto para o advogado de defesa como para o de acusação, com a câmara no mesmo ângulo: salvo os inserts com os casais Frank e Diane e Bill e Mary, os dois advogados são enquadrados pelos mesmo plano médio, que se move subtilmente à medida que os seus corpos se aproximam (enfaticamente) da câmara. Preminger trata os dois com a mesma dignidade e, como já mencionamos anteriormente, procura ser equilibrado na auscultação das partes envolvidas. (continua)
Bibliografia (I): MAYERSBERG, Paul, «From Laura to Angel Face», Movie, Set. de 1979, pp. 14-16; PHILLIPS, Gene D., «Both Sides of the Question: Otto Preminger», Focus on Film, 1979, pp. 22-26; PRATLEY, Gerald, Otto Preminger, «Colección Directores de Cine», Madrid, Ediciones JC, 1971; PREMINGER, Otto, «Your Taste, My Taste… and The Censors», Films and Filming, Nov. de 1959, pp. 7 e 31; SARRIS, Andrew et al., «Otto Preminger» in SARRIS (ed.), Hollywood Voices: Interviews with Film Directors, Londres, Secker & Warbur, 1971, pp. 69-84.
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tema da capa POR: Nuno Cargaleiro e NUNO GONÇALVES
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Hugh Jackman
O Inesperado Multifacetado Por Nuno Cargaleiro
Hugh Jackman é mais conhecido pela sua interpretação, e imagem quase fiel, do mutante da banda desenhada da Marvel, Wolverine. Contudo, não fosse o facto de ter uma altura de quase um metro e noventa, assim como uma caracterização bastante cuidada, a sua escolha poderia ter-se revelado bastante tenebrosa. Contudo, Jackman conseguiu agradar aos fãs e ao público em geral, e ao mesmo tempo que aproveitava as sequelas que se seguiram como uma plataforma de destaque, procurou diversificar a sua imagem, arriscando em novos estilos e projectos. Com uma experiência que passa pela televisão, teatro (onde demonstrou as suas capacidades vocais), e finalmente, o cinema de Hollywood, este actor tem conseguido demarcar uma posição cada vez mais sólida como uma fonte vantajosa de qualquer projecto cinematográfico que participe. O facto de recentemente ter sido eleito pela revista People como o homem mais sexy do mundo só vem abonar em seu favor. Em Austrália, a estrear neste mês de Dezembro, regressa às origens da sua nação para protagonizar um épico com um toque americano, mas com um espírito do outro lado do pacífico.
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Nascido de uma família de cinco irmãos, Hugh Jackman cresceu numa vida comum, tendo concluído os seus estudos com um curso de jornalismo. Contudo, insatisfeito com os seus objectivos, e possivelmente devido a experiências de interpretação anteriores (como o musical My Fair Lady, onde participou com 17 anos, numa encenação levada à cabo no colégio masculino onde estudava), acabou por integrar a Academia de Artes Dramáticas da Universidade Edith Cowan, em Perth. Esta aposta mostrou-se certa, ao ser escolhido para protagonizar a série televisiva Correlli, onde viria a conhecer a sua esposa até hoje, a actriz, também protagonista, DeborraLee Furness.
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Após a participação nesta série, Jackman dividiu-se entre vários filmes de baixo relevo internacional, e como convidado em algumas séries. Contudo, terá sido o teatro que terá difundido internacionalmente as capacidades deste actor. Tendo participado na Austrália em trabalhos como A Bela e o Monstro, onde desempenhava o antagonista Gaston, e em Sunset Boulevard e Summa Cabaret, terá sido ao interpretar em
1998, em terras britânicas, o protagonista Curly McLain no musical Oklahoma! que Jackman ascendeu ao ser premiado com várias distinções e uma nomeação ao Prémio Lawrence Olivier. Jackman teria honras de receber um Tony, em 2004, pela peça The Boy From Oz, contudo, a sua participação em Oklahoma! revela-se significativa pela abertura de novas possibilidades. Apostando no mercado americano, conseguiu a personagem Wolverine quando esta já estaria quase atribuída a Dougray Scott. Na sequência da boa receptividade por parte do público, aproveitou para diversificar a sua imagem, participando em comédias românticas como Kate & Leopold e Someone Like You, ao mesmo tempo que mantinha-se dentro do cinema blockbuster de acção, com Swordfish.
Com o filme Wolverine em pós-produção, e mais dois projectos em andamento, Jackman arrisca a ter que estar presente na cerimónia dos Óscares do próximo, embora revele que é melhor fã quando vê o espectáculo por fora. É que Austrália é apontado como um possível candidato, e quem sabe, também o tom dourado possa sorrir a este australiano amante de râguebi.
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Enquanto isso, Jackman voltou a cair nas boas graças do público ao dar a voz nas animações Flushed Away e Happy Feet, assim como ao protagonizar Scoop, o último capítulo da saga X-Men, e o aclamado The Prestige, dirigido por Christopher Nolan. Contudo, a sua aposta na produção da série televisiva Viva Laughlin, e Deception, o seu mais recente filme, não se mostraram capazes de agradar o espectador. Neste momento, este actor multifacetado necessita de demonstrar sobretudo que é um cabeça de cartaz lucrativo, ganhando com isso, melhor posição em Hollywood. Sócio da produtora Seed Productions, que fundou com John Palermo, Jackman assume que é mais do que uma carinha de protagonista.
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Os anos de 2003 e 2004 apresentaram somente projectos como a sequela de X-Men, e o blockbuster Van Helsing, sobretudo devido à entrega de Jackman nos ensaios de The Boy From Oz. Esta característica que o define como profissional veio novamente a ser testada quando foi desafiado para interpretar três personagens, quase distintas, no filme Darren Aronofsky, A Fonte. Embora tenha sido subvalorizado, o actor afirma que esta personagem terá sido a mais exigente da sua carreira, devido às alterações físicas e emocionais necessárias para atingir a visão de Aronofsky.
Nicole Kidman
De Olhos Bem Abertos por Nuno Gonçalves
Nicole Mary Kidman nasceu no Havai a 20 de Junho de 1967, mas passou toda a sua vida na vasta Austrália, nos subúrbios de Sidney. Desde cedo revelou propensão para as artes da representação e com apenas 17 anos ganhou um prémio do Australian Film Institute, pelo seu desempenho na série Vietname. Volta a ser galardoada com o mesmo prémio com Bangkok Hilton. Depois de umas quantas experiências no cinema australiano teve o seu primeiro papel principal num thriller passado em mar alto, denominado Calma de Morte, onde contracenou ao lado de Sam Neill e foi dirigida pelo compatriota Philip Noyce. Segue-se Dias de Tempestade, onde Nicole conhece o seu futuro marido, Tom Cruise, e apaixonam-se quase à primeira vista. Voltam a contracenar em Horizonte Longínquo. A sua primeira mostra de grandiosidade surge com o papel protagonista em Disposta a Tudo, do aclamado realizador independente Gus Van Sant. Uma comédia negra onde interpreta uma mulher obcecada em ser uma estrela, ambiciosa e maquiavélica. Nicole conjura todo o artificialismo da cultura televisiva e da incessante busca pela fama da sociedade norte-americana, e ganha a atenção da crítica e público e o seu primeiro Globo de Ouro. Seguidamente veste na perfeição o estatuto de sex-symbol enquanto objecto de desejo em Batman Para Sempre, algo que logo contrapõe em Retrato de Uma Senhora, um perverso filme de época de Jane Campion. Seguem-se participações em projectos de maior orçamento como O Pacificador e Magia e Sedução, com George Clooney e Sandra Bullock, respectivamente. tema da capa 44
Eis que chega outro filme que deixa meio mundo de boca aberta ou De Olhos Bem Fechados, uma das mais marcantes obras da carreira de Kidman, não só por ser o terceiro (e último) filme ao lado do então marido, mas por ser da autoria de um dos maiores criadores do cinema, Stanley Kubrick, na sua última e derradeira obra-prima. Nicole “despe-se” num dos mais extenuantes e hipnotizantes monólogos do cinema contemporâneo. E depois de um filme sombrio e envolto na escuridão, Nicole Kidman passa por um dos piores momentos da sua vida, o divórcio, que suspendeu a sua carreira durante dois anos. Mas quando muitos pensavam que não se iria recuperar do trauma, Nicole sai das trevas fortalecida sob o nome de Satine, uma cortesã france-
E o que viria a seguir ao Óscar? Tudo era esperado menos o que realmente aconteceu. Nicole Kidman volta a arriscar e aceita ser a nova musa do politicamente incorrecto e vampírico Lars Von Trier em Dogville, a história de uma forasteira que chega a uma pacata aldeia do interior americano e cedo se apercebe que das enganadoras aparências bucólicas e da podridão que parece contaminar todos os habitantes. Na sua interpretação mais crua e desesperada, mostra como um espelho todas as emoções e desgaste dum ser humano naquelas degradantes circunstâncias. Depois de uma experiência gratificante mas pouco reconhecida em Cold Mountain de Anthonny Minghella, volta a cintilar no cinema independente em Birth, onde interpreta uma mulher que reconhece num jovem rapaz a personalidade e alma do seu falecido marido, não só um soturno ensaio sobre a dor da perda da
E assim viriam a ser os próximos anos, balançando enriquecedores e distintos papéis em pequenos filmes independentes como Fur, um retrato de Diane Arbus e Margot at the Wedding, que em Portugal nem estreia em cinema conseguiu, e outros em películas de maior orçamento que acabaram por não lhe trazer glória acrescida, como foi o caso de A Bússola Dourada, Casei com Uma Feiticeira, Mulheres Perfeitas e A Interprete, este último uma excepção à regra e um brilhante thriller politico de 2005 que viria a ser o último filme do realizador Sidney Pollack. Em Dezembro regressa ao mundo exasperado de Baz Luhrmann com Austrália, um épico romântico na linha de E Tudo o Vento Levou e África Minha com o conterrâneo Hugh Jackman. Tem tido uma recepção dividida, ora absorvida e extasiada pelos tons kitsch e exageradamente operáticos, ora repelida pelas mesmas razões. E se Nicole Kidman pode não ter a mesma popularidade universal de há uns anos atrás existe algo que nunca devemos esquecer: a sua imutável capacidade de transfiguração e mutação, uma sede insaciável de novos e extenuantes exercícios de captura das mais recônditas verdades da natureza humana, nas suas mais variadas e assustadoras vertentes. Por isso continua a ser uma das mais importantes e camaleónicas actrizes dos nossos dias, rivalizada apenas por outra australiana, Cate Blanchett. Tem já na manga um novo musical de Rob Marshall, Nine, com Daniel Day Lewis, Marion Cotillard e Penélope Cruz, inspirado na obra-prima de Fellini, 8/1/2 . Mais chocante ainda é o anúncio da sua participação em The Danish Girl, a história do primeiro transexual pós-operatório, onde será o marido de Charlize Theron. Depois de um novo casamento com o cantor
country Keith Urban e o nascimento da filha Sun-
day Rose, Kidman parece pronta a conquistar o mundo novamente.
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O Óscar perdido não tarda e no ano seguinte contracena com Meryl Streep e Julianne Moore em As Horas, adaptação do premiado romance de Michael Cunningham, e realizado pelo inglês, Stephen Daldry, onde interpreta Virginia Woolf, a conturbada romancista britânica que é o motor de todo o enredo, passado em três épocas diferentes. Uma transfiguração física e psicológica que também lhe valeu um prémio de representação no Festival de Berlim, partilhado com as suas duas ilustres colegas.
parte da actriz, como também um magnífico trabalho de realização de Jonathan Glazer, que infelizmente passou despercebido.
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sa em Moulin Rouge!, onde volta a surpreender com o seu domínio dos mais variados espectros da representação: comédia, tragédia, romance e musical. É uma personagem completa, fatídica e inolvidável e metade de uma das mais fulminantes histórias de amor dos últimos anos, um exercício de exuberante estilização kitsch por parte do realizador Baz Luhrrman. Valeu-me a sua primeira nomeação ao Óscar. Nesse mesmo ano subverte as espectativas em Os Outros, um filme de terror sobrenatural na sua vertente mais clássica, do realizador espanhol Alejandro Aménabar. Outra interpretação memorável, mas de uma intensidade totalmente distinta e reprimida.
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Atrás da Câmara
Baz Luhrmann por: Marco A. Paulo
mundial para todo o seu trabalho. Porém, todo o aspecto teatral que preenche este filme não surgiu por acaso. Esta sua obra cinematográfica surgiu de uma peça que havia encenado, La Bohème. Para desgosto de muitos, ela saltou alguns oceanos mas nunca chegou a parar por terras lusitanas.
Desde as danças de salão, ao amor impossível de Romeu e Julieta, até à vida boémia em Moulin Rouge, acabando antes da Segunda Guerra Mundial na Austrália, o amor que ultrapassa todos os obstáculos sejam eles quais forem, é algo que nunca deixa de existir nos seus filmes.
Estes três filmes já mencionados fazem parte de uma trilogia que, não estando literalmente ligadas entre si pela obra que representam, estão ligadas graças ao modo com que Luhrmann decide entregar o filme ao espectador. Red Curtain Trilogy, o nome dado à trilogia, seguia alguns aspectos que tornavam todas as obras diferentes da conjectura actual dos filmes em Hollywood. A primeira, e mais evidente, é o realizador indicar ao espectador o final do filme. Todos sabem o que vai acontecer no final, mas não sabem como tudo aconteceu até lá. A segunda, é o elemento que guia todo o filme, como por exemplo a dança ou as personagens poderem cantar a qualquer momento. O terceiro resume-se ao argumento simples e directo, sem grandes artefactos. O quarto, e último aspecto, é o mundo em que o filme é construído. Este deverá ser sempre mais exagerado que o mundo real, isto é, deverá conter as mesmas situações do dia-a-dia, mas sempre mais intensificados.
Nascido a 17 de Setembro de 1962, Mark Anthony Luhrmann, fica desde cedo ligado a uma arte que viria a ser importante para o seu inicio de carreira, as danças de salão. Além de praticante dessa modalidade em tenra idade, foi graças aos seus pais que deu os seus primeiros passos nestas andanças e que, mais tarde, deu origem ao seu primeiro filme, Strictly Ballroom, onde as danças de salão e o amor entre duas pessoas vão abalar com os convencionais passos desta competição. Quatro anos depois Lurhmann decide criar um novo filme, Romeo + Juliet, a partir do clássico de Sharkespeare. Muitos já foram os filmes de obras literárias que tentaram fazer o que este fez, isto é, de transpor para a actualidade uma história de tempos passados. Bem sucedidos ou não, a particularidade desta décima versão de Romeu e Julieta residia no facto de, realmente, se passar na actualidade mas usar os diálogos originais da peça escrita por Shakespeare. Escusado será dizer que neste filme o amor está novamente em grande destaque, ou talvez, a impossibilidade de o mesmo existir. Estamos então em 2001 quando Paris de inícios do século 20 se torna o palco para brotar uma louca e boémia paixão. Palco esse situado num dos recintos de espectáculos mais famosos de todo o mundo, Moulin Rouge! Misturando dois estilos únicos num só, cabaret com uma pitada indiana, surge da mente de Luhrmann o filme que lhe viria a dar oito nomeações para os Oscars, tendo ganho dois para Melhor Direcção Artística e Melhor Guarda-Roupa, assim como destaque
Entre trabalhos, fez uma pequena peça publicitária com Nicole Kidman, que também havia entrado em Moulin Rouge, e Rodrigo Santoro para a Chanel. Surpresa das surpresas, retratava mais uma vez um amor improvável entre uma figura pública mundialmente famosa e um cidadão comum. Provavelmente muitos foram aqueles que viram esta publicidade na televisão ou mesmo nos cinemas durante a época natalícia, já que estava em todo o lado. Felizmente, era uma pequena obra sempre agradável de se assistir. Paira agora no ar a dúvida se vamos novamente ver em Australia toda a intensidade a que Baz Luhrmann já nos habituou nos seus filmes. Nicole Kidman volta a trabalhar com o realizador, junta-se ainda Hugh Jackman e temos um romance histórico que muito nos faz lembrar clássicos como Casablanca ou E Tudo o Vento Levou.
atrás da câmara
Se há realizador que tem mantido uma coerência constante em todos os seus filmes é o australiano Baz Luhrmann. Dos poucos filmes que já realizou, totalizando actualmente quatro, todos eles têm algo em comum que o realizador tende em homenagear e tornar a peça central de toda a obra: o Amor!
Cinema Português
Aniki Bóbó por: Carlos Pereira
“Anikibébé. Anikibóbó. Passarinho. Tótó. Berimbau. Cavaquinho. Salomão. Sacristão. Tu és polícia. Tu és ladrão”
cinema português 48
Com o centenário de Manoel de Oliveira seria impossível não recordar aquele que é considerado o maior dos cineastas portugueses, independentemente de todos os preconceitos e lugares-comuns que se foram estabelecendo, vergonhosamente, sobre o seu cinema. Porque não revisitar a sua primeira longa-metragem, o fabuloso Aniki Bóbó?
O roubo da boneca constitui-se, nesse sentido, como motivo para um ritual de passagem – Carlos enfrenta as complexidades da vida adulta, descobre a solidão, o amor, o ódio, a culpa e o perdão. Desvenda uma vida comandada pelos desencontros e pelos equívocos, onde é necessário lutar para descobrir – e dar a descobrir – a verdade das coisas.
Onze anos após esse prodígio de enquadramento/montagem que é Douro, Faina Fluvial, Oliveira iria filmar uma história sobre o mundo das crianças, baseada num conto de Rodrigues de Freitas. Aniki Bóbó está no entanto longe, bem longe, de ser um filme meramente infantil. Trata-se de história simples: Carlos, um miúdo, está apaixonado por Teresinha. Tendo por rival outro garoto, Eduardo, disposto a fazer-lhe a vida num inferno, Carlos fica reticente quanto ao melhor modo de se aproximar do seu grande amor. Numa tentativa desesperada de conquista, Carlos rouba uma boneca da “Loja das Tentações”. Aniki Bóbó desenvolve-se, portanto, no sentimento de culpa de Carlitos, cada vez mais sozinho na sua viagem.
Abordagem tão puramente cinematográfica e tão visualmente lúcida que nos atinge abruptamente entre um mundo cruel disfarçado de jogos infantis. Estamos perante uma complexificação real, nunca ingénua mas sim consciente, das dificuldades de ser criança. E tudo isto passa de forma transparente, mesmo que envolva sonhos e pesadelos. Passado na zona ribeirinha do Porto e Gaia, Aniki Bóbó é também um fabuloso e atencioso retrato de um lugar: lugar de infância, não-lugar de memórias. E é curioso pensar a distância que existe entre o mundo de Carlitos e a “Bovarinha” de Vale Abraão. Obras-primas para calar quem critica, de forma simplista e corriqueira, a pobreza do nosso cinema. Obrigado, Oliveira.
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E
b e d óis
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ANIM
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ANIME
O modelo já todos conhecem: 5 heróis em fatos de lycra de cores primárias lutam contra monstros que são homens dentro de fatos de borracha. Sim os Power Rangers encaixam no modelo, mas a sua origem está no Japão do pós-guerra e com muito maior diversidade do que se pensa.
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Tudo começou com os kaiju-eiga, ou seja, os filmes de monstros, tipo Godzilla ou Mothra, produzidos pelos estúdios Toho desde os anos 50, que introduziram pela primeira vez o conceito de tokusatsu, a palavra japonesa que designa “efeitos especiais”, para sempre ligado ao género. Essa época viu o advento da televisão, surgindo as
primeiras séries de superheróis, que reuniam os miúdos em casa uns dos outros para as ver. Como o género vingou e proliferou em muitas e variadas direcções, este artigo foca-se mais no que foi e anda sendo produzido para televisão. Essa primeira série chamava-se Gekkou Kamen [Máscara de Luar] e mostrava as aventuras de um super-herói misterioso, vestido com um fato branco, capa e turbante, que assim combatia o mal e a injustiça. Espectadores mais atentos podem reconhecer essa figura no “Cavaleiro da Lua”, na segunda série de Sailormoon. Apesar de ter sido cancelada, esta série definiu os primeiros traços do género, que nunca mais parou de crescer.
Nos anos 60 surge um novo herói televisivo, mais reconhecível aos olhos ocidentais, Ultraman, o primeiro herói dentro do famoso fato de borracha, em suitmation (efeito de animação de monstros ou outros em fatos de borracha). A Science Special Search Party (SSSP – Grupo Científico de Busca Especial) tem a missão de defender a Terra de monstros extraterrestres, num futuro próximo (1993), mas tem dificuldades em lidar com tarefa tão gigantesca. Hayata, o melhor membro da patrulha, tem a chave para o problema na sua “Beta Capsule” que, quando ligada, o transforma secretamente no poderoso gigante do espaço Ultraman. Mas os seres Ultra não conseguem manter a sua forma gigante, vermelha e prateada com olhos luminosos amarelos, na Terra durante muito mais que três minutos, devido à atmosfera terrestre filtrar a energética e fundamental luz solar, correndo o perigo de morrer se a energia se esgotar antes de regressar à forma humana.
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Criado por Eiji Tsuburaya, um pioneiro de efeitos especiais no filme original de Godzilla, Ultraman atingiu rapidamente um sucesso considerável, com um número avultado de episódios e inúmeras séries seguintes que duram até aos dias de hoje, presenteando-nos uma verdadeira “família” de Ultramans.
Já no tir no início dos Kame s tokusats anos 70 Foi umn Rider ou u, criando a Toei Do come projecto Masked R a não m uga resol q de Sh çando com ue teve umider [Moto enos fam ve inveso tsu, q taro Ishin a ideia de a génese queiro Ma osa série fanho ue após m omori, um adaptar complicad scarado]. mais to motoquuitas altera nome con a manga Sa e longa, estud uma mosc eiro Kam ções acab hecido do kull Man, e rotar ante univea). Esta sé n Rider ( ou na forms tokusao r super inimigo sitário, T rie conta se bem qu a do gaS a das fr poderes K hocker tr keshi Honas aventur e lembra a a a multip cas audiê men Ride nsforman go, que t as de um e 80 fo licou-se e ncias dos r. Tal como do-se no h nta derp i sem r criada u os Kame rimeiros Ultraman erói com e n ao amelação dir ma série p Riders ta pisódios, , e apesar esta s e mbém a e rale portu ricanizad cta com as an la, Kamen . Já nos a érie guesa o Mas te . n R ked R ider q riores, que ider BLAC os Tamb u K d e pas sou n eu origem, orige ém tal com a tele m visão princi a vários o a sua a p n final d almente filmes e m tecessor e prolif os anos 9 m popula anteve-s a, Kamen erar a Rider res es e viva 0 aT narra tivos. té hoje cooei retomo pectáculo nos anos deu s m mu u itos e a série, c de palco. 90 on No frutífe ros n tinuando a ovos arcos
E eis que o terreno finalmente estava preparado para esquadrões de heróis e surge Himitsu Sentai Goranger [Esquadrão Secreto Cinco Rangers]. Série com a qual se forja a palavra supersentai, “super-esquadrão”, onde o “super” se refere aos mechas1 gigantes utilizados pelos heróis. É com esta série, também criada por Shotaro Ishinomori, estreada em meados dos anos 70, que finalmente temos a mundialmente conhecida imagem dos cinco guerreiros em fatos de lycra colorida que combatem monstros em fatos de borracha. O Líder Vermelho, a única rapariga em cor-de-rosa, o anti-herói em azul, o cientistamentor, a mascote e o mecha gigante, o vilão extraterrestre megalómano e os lacaios “carnepara-canhão”.
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Resumidamente a história relata que a Terra é ameaçada por uma força extraterrestre obscura, os Kuro Juujigun [Cruzados Negros], e as Nações Unidas criam a EAGLE (EArth Guard LEague – Liga Guardiã da Terra) para combater a ameaça. Durante um ataque à sucursal do Japão, cinco recrutas sobrevivem milagrosamente, são invocados à loja de snacks “Gon”, a entrada super-secreta para a EAGLE, são lhes dadas umas 1 mecha: palavra para designar um robô, com forma humanoide, pilotado por mão humana.
“chaves” que lhes permitem vestir uns sofisticados fatos electrónicos com poderes especiais. Estas séries continuaram a ser produzidas com sucesso, algumas até passaram na TV em Portugal (Jetman, Turbo Rangers), até que à 16ª chamaram a atenção a Haim Saban, que utilizou as sequências de acção de Zyuranger, intercaladas com um desenvolvimento narrativo e cenas à civil, produzidas de novo, com actores norte-americanos, os Power Rangers! Apesar de a “versão” norte-americana manter o mesmo nome, ao longo dos anos as cenas de acção foram utilizando material das várias séries supersentai que se seguiram, justificando as mudanças de traje e vilões com power-ups e outros estratagemas.
anltiplicou o fr u m n a b a S A al ndo materi chise, utiliza mencionada já original da e Rider BLACK série Kamen l ta série, os Me a tr u o a m u e d os o origem a Heroes, dand aos Big Bad e VR Troopers que também Beetleborgs, na nossa TV. pudemos ver
para uma maior diversidade, orig inando também a adaptação pa ra cinema da co nhecida manga de Go Nagai Cut ie mente também te Honey, que mais recenteve a sua adapta ção a série de TV tokusatsu.
ANIME
Tal como a manga indissociavelmen e o anime, os tokusatsu estão te ligados a um a imagem da cultura pop japo nesa, que dada a extremamente pr su olífica acaba po a produção para o ocidente. r transbordar
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Com o virar do sé cu um enorme reviva lo, o género tokusatsu sofreu lismo, com a revi séries clássicas e dando origem talização das a outras séries no género, apon ta mais diversificado das para um público-alvo , Naoko Takeuchi nomeadamente as raparigas. , confessa fã de tokusatsu e das séries supersen ta nestas séries pa i, inspirou-se directamente ra Sailormoon. Em 2 criar o seu enorme sucesso 003, na sequên ci moração dos 10 anos da manga e a da comeanime, foi produzida, também pe Pretty Guardian la Toei, uma série live-action S círculo, sobressa ailormoon, onde se fecha o indo as caracter da série original ísticas sentai . Com isto as po rtas abriram-se
Para o Infinito e Mais Além por: Rafael Jorge
Com a estreia do remake do The Day the Earth Stood Still, protagonizado por Keanu Reeves e Jennifer Connelly, prestes a chegar às salas, propõe-se uma pequena viagem por aquilo que a ficção-científica nos tem dado, e essencialmente, o que ela nos pode fazer ver.
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Não existe uma única pessoa neste planeta Terra, que não goste de contemplar o que existe acima da sua cabeça. O que é aquela imensidão de azul? E ainda mais importante, o que nos reservam todas as estrelas que podemos ver brilhar à noite? Temos um fascínio natural pelas estrelas, afinal, porque não haveríamos de ter, se sabemos que um espaço infinito se estende acima do ponto incrivelmente pequeno que é o nosso mundo? Mas apenas o simples pensar nesta questão, de
Existe uma enorme curiosidade em imaginar o que nos aguarda, mas mais importante, será que, havendo outras formas de vida, estamos seguros? A questão de iminentes ataques de criaturas das profundezas do Espaço é crucial, e não é mais do que a amostra do que sentimos face ao que não conhecemos: medo. O nosso planeta vizinho, Marte, sempre lançou a sua sombra no que dizia respeito a invasões inimigas, basta pensarmos no marco em que se tornou, War of the Worlds. Primeiro foi um livro de H. G. Wells, depois uma emissão de rádio e, por fim, um filme de Byron Haskin. Destes, o mais marcante foi provavelmente a peça radiofónica, de Orson Welles, que provocou o pânico na altura da sua emissão. Nesta tradição, foi também comum misturar fantasias já do conhecimento geral, que acabaram por pertencer às catacumbas de clubes de vídeo, como Frankenstein Meets the Space Monster (1965), ou a “pérola” de Ed Wood, Plan 9 From Outer Space (1959), considerado o pior filme de sempre, em que extraterrestres usam mortos-vivos para invadir o planeta. Invasion of the Body Snatchers (1956), apresenta outro dos temas que muito assombrou o pensamentos do terráqueos, o perigo de, em vez de se limitarem
a invadir o planeta e destruí-lo com discos-voadores, substituirem os seres humanos, aos poucos. Marcos do género como The Thing From Another World (1951), de Christian Nyby, que originou o remake de John Carpenter, The Thing em 1982, Alien (1979) ou Predator (1987) continuaram a tradição das grandes ameaças extraterrestres, mas apresentando evoluções no argumento, ao colocar o Homem a reagir perante climas claustrofóbicos, quer numa nave que deriva longe da Terra, numa base no Árctico ou numa selva. Alien e The Thing From Another World, (assim como a sua outra versão), são exemplos de outra coisa preocupante no mundo da exploração espacial: a curiosidade. Em ambos os filmes o Homem acaba por colocar em perigo a sua existência, por ser demasiado curioso. No primeiro, a tripulação de uma simples nave de transporte vê-se diante da mais mortífera criatura da galáxia, ao seguir um sinal de ajuda, no outro, uma equipa de exploração de uma base no Árctico é confrontada por um ser que, não só cobre a base de carnificina, como instala a desconfiança no seu interior. Em Signs (2002), de M. Night Shyamalan, a ideia de centrar o ataque extraterrestre num pequeno grupo de pessoas volta a estar presente, ao fazer o espectador acompanhar um ataque mundial de extraterrestres, a partir de uma família, em cujo pai luta para recuperar a fé. Este tipo de abordagem centrada em pequenos grupos de pessoas tem-se provado eficaz, e ganho popularidade. Ao mesmo tempo, como Shyamalan faz, integra-se o tema da falta de fé, que tem tudo de terrestre, na luta contra invasores, que se transformam na ameaça que fará uma família unir-se. O propósito da ficção-científica tem procurado ser, mais do que desfiles de monstros vindos de pântanos e invenções das mais inesperadas ameaças, retratos do Homem. Se inicialmente se coloca a questão de, nesse infinito acima das nossas cabeças, existam mundos povoados por criaturas com desejo de nos destruir, porque não existirão civilizações mais avançadas e pacíficas do que a nossa? Este género tem como objectivo primordial, mais do que assustar-nos, fazer-nos pensar, e é aí que nos surge a outra abordagem ao que aguarda nos cantos do Universo: ajuda.
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sermos um ponto tão minúsculo, de conhecermos tão, mas tão pouco do Universo, assustanos. E talvez seja essa sensação, esse desejo de conhecer, de saber que existem outros mundos à nossa espera em mil e uma galáxias, que também tem alimentado a grande indústria da ficção-científica no Cinema. É essencial perceber a forma como temos encarado a imensidão que nos rodeia, para perceber a evolução dos filmes de ficção-científica. Basta revermos o trailer do primeiro filme da milionária saga de George Lucas, Star Wars (1977), uma space opera que marcou a 7ªarte para sempre, para percebermos um pouco isto. O trailer começa com um aviso de que, algures no Espaço, os acontecimentos do filme se podem estar de facto, a passar. Como era comum ser feito nos filmes do género nesta altura, anunciase a obra como sendo uma espécie de, “grande desfilar de criaturas de outros mundos”. Anunciar os filmes assim era comum, afinal, porque não podemos comparar ver criaturas de outros mundos num ecrã de Cinema, a uma ida ao circo? Nos primórdios do género, considerar que a mentalidade não se afastava muito disto, não estará certamente errado.
O original The Day the Earth Stood Still, que remonta a 1951, introduz-nos uma mudança na forma de encarar visitantes do Espaço. Com o desenvolvimento de armas nucleares, uma civilização vem avisar-nos de que nos estamos a tornar um perigo, para nós e para os outros planetas. O mal necessário é a destruição da espécie humana, mas poderá o enviado de outro mundo descobrir esperança na humanidade?
PARA O INFINITO E MAI ALÉM
Retratar a humanidade como o inimigo, é um exercício que nos mostra a capacidade de reflexão oferecida pela ficção-científica a actuar para nos prevenir dos males da nossa sociedade. Marca uma mudança de pensamento, quando deixamos de nos vermos como perfeitos, os salvadores, e pensamos que, num lugar distante, talvez exista quem nos possa ajudar. Os extraterrestres deixam pois de ser meros monstros carnavalescos, para adquirirem maiores sentimentos e humanidade, do que nós próprios. Passamos pois, a reconhecer o mal nas nossas acções, conceito este que ganhou maior força com as ameaças formadas pelo desenvolvimento de armas de destruição maciça.
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Steven Spielberg trouxe-nos dois encontros com visitantes amigáveis: Close Encounters of the Third Kind (1977), e o eterno ET: The ExtraTerrestrial (1982). No filme de 1982, o ET é um personagem simpático que forma uma ligação com uma criança, mas cuja segurança é ameaçada pelo Homem, que o
tenta capturar. Aqui, evidencia-se não só o tema de as crianças representarem a esperança, mas também o de o Homem, na sua ganância e busca de poder, colocar em perigo outros seres. A ficção-científica é um género de possibilidades ilimitadas, pelo menos enquanto ainda existir imaginação ao Homem, e isso é que a torna fascinante. Desde contos de terror, a histórias com uma densidade emocional impressionante, consegue-nos oferecer um pouco de tudo. Imaginar o futuro, passa por imaginar o que seremos, e reflectir sobre os nossos actos, os nossos laços, e a forma como encaramos o que nos rodeia. Esta reflexão é o pilar de qualquer bom conto de ficção-científica, que procure ser um pouco mais, do que simples divertimento. Porque histórias de civilizações avançadas que nos acham violentos e perigosos, não mostram mais do que o facto de devermos corrigir os nosso actos, e de observarmos o mundo em que vivemos, com um olhar mais atento, mais crítico. Afinal, a mensagem que predomina na ficçãocientífica é a da esperança, esperança no que somos e no que podemos ser, esperança de que, por muito grandes que nos achemos, ainda somos muito pequenos e temos capacidade para muito mais. E principalmente, a esperança de que não sejam necessários visitantes do Espaço longínquo, para que consigamos corrigir os nossos erros.
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SÓ PARA ADULTOS The Hunger Fome de Viver POR: NUNO cargaleiro
Bela Lugosi’s Dead! Nunca o título de uma canção definiu tão bem o espírito vivido nesta recriação do mostro erótico que é o vampiro. Originário de um folclore temente à religião, e com conotações sociais presentes sobre o comportamento em sociedade relativamente ao sexo, o vampiro da antiguidade era uma figura de aparente humanidade, que nada mais se tratava do que uma carcaça seca cujo o único objectivo era a caça, do modo mais perverso possível. Até mesmo a figura de Drácula de Bram Stoker não ultrapassa muito esta imagem. Embora a apresentação de Francis Ford Coppola tenha optado por uma humanização da figura, ao atribuir-lhe um passado e um amor perdido, desde da antiguidade que as representações da figura do vampiro, mesmo que ligeiramente distintas entre culturas e designações apresentadas, consiste num demónio de figura quase humana, que se alimenta do sangue, e por vezes da carne, daqueles que estão vivos, e como tal, aproveitando a vitalidade roubada para restabelecer o seu corpo e conseguir a imortalidade. Em The Hunger, realizado por Tony Scott, numa adaptação do romance homónimo de Whitley Strieber, será somente este último conceito que é herdado na sua plenitude, resultando daí a adaptação portuguesa para Fome de Viver. Neste relato, figuras como o Drácula de Bela Lugosi estão efectivamente mortas e enterradas. Este conto não vai incidir numa personagem do passado e em decomposição perante a simbologia valorizada no presente. Pelo contrário, estes vampiros estão bastante vivos, e satisfeitos com isso mesmo. É esta fantasia que atrai constantemente leitores para histórias sobre esta figura mitológica. O prazer de viver para sempre, assim como toda a carga de liberdade e sexualidade que normalmente está associada à mordedura de um vampiro.
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Em Fome de Viver, encontramos Catherine Deneuve e David Bowie como um casal ancestral de vampiros. Desprovidos de caninos salientes, a sua forma de ataque é mais próxima à realidade, visto que seduzem e inebriam as suas vítimas antes de usarem um medalhão, representando uma figura egípcia, que esconde um pequeno punhal, suficiente para cortar a jugular dos candidatos a alimento. Numa relação onde o ciúme
John não consegue uma solução a tempo, já que Sarah ainda está muito longe na sua pesquisa para lhe dar uma alternativa, e consequentemente, sofre do mesmo destino. Nesta visão, quase trágica de uma relação que se apresenta como intensa e apaixonada, vive escondido o pronuncio de uma imagem pouco pronunciada na época em que este filme saiu. Escrito em 1981, e adaptado ao cinema dois anos depois, a presença da SIDA vive mascarado por entre as linhas que retratam este pequeno capítulo. Miriam é a figura central, a metáfora para a sensualidade e a luxúria, que na sua busca por amor condena os seus amantes a uma morte trágica, vinda do nada, sem razão aparente, e sem que nada possa impedir. O tempo é contado, e para Miriam, que não padece do mesmo destino, só resta remoçar o seu caminho novamente, e procurar um novo amante. Este objectivo é conseguido ao se cruzar com Sarah, que em busca de John, vê-se diante da figura sedutora de Miriam, e sem compreender realmente o que acontece, voluntariamente se deixa aproximar pela predadora. Nesta assexualidade de Miriam, que não pode ser considerada verdadeiramente como bissexual, já que essas normas não estão definidas para ela, existe o contraste com a curiosidade de Sarah. Pouco a pouco, esta mulher descuida do seu próprio namorado Tom, e começa a ver Miriam um pouco por todo lado: seja a sua imagem, os contornos do seu corpo, o simplesmente a sensação de que ela está presente consigo. Numa aproximação do tradicional feitiço dos vampiros, nunca é realmente assumido se isso tem um fundo real neste conto, ou se simplesmente Sarah é um símbolo de uma sexualidade reprimida, ansiosa e curiosa por se libertar das amarras da sociedade, e experimentar e viver. Miriam cerca cada vez mais Sarah, conseguindo transferir o seu sangue para esta. Esta situação irá desencadear a transformação de Sarah numa figu-
Consequentemente, após ter abandonado a sua própria humanidade ao se alimentar de Tom, Sarah abandona o convite de Miriam, e decide terminar a sua vida. Com o mesmo punhal que serve de instrumento, corta o seu pescoço, perdendo sangue suficiente para atingir o mesmo estado vegetativo dos anteriores amantes de Miriam. Esta, abandonada mais uma vez, decide mudar de cidade, em busca de um novo futuro. Contudo, este não foi o final apresentado no filme. Contrastando com a tragédia implícita de Miriam na versão literária, o filme procurou aproximar-se a uma idealização mais moralista que via em Miriam um inimigo destinado ao castigo. Embora as cenas de amor lésbico, muito influenciadas por uma representação lesbian chic, possam induzir o espectador na perspectiva de um amor real entre Miriam e Sarah, a sociedade do início dos anos 80 não poderia aceitar uma finalização que não resultasse na punição. Assim, Sarah ao se sacrificar, recusando a oferenda de Miriam, consegue retroceder o vampirismo de modo a que será Miriam a sucumbir a uma vida eterna num corpo em decomposição. Os anteriores amantes da vampira levantam-se em busca de um abraço, para se decomporem em pó. Por outro lado, Sarah sobrevive, e ganha todas as capacidades de Miriam, sendo vista numa última cena acompanhada por um homem e uma mulher. Quer Tony Scott, ou Susan Sarandon, demonstraram algum desapontamento neste final. Num projecto que consegue demonstrar pelo seu enredo os perigos, dores, e recomeçares de uma vida que se vê novamente abandonada, acaba por ser redutor para a figura de Miriam considerar esta como um monstro digno de punição. Pelo erotismo e envolvimento de Miriam com John e Sarah é compreensível alguma distância, natural de quem vive o mesmo ciclo de perda constantemente, apesar de oscilar com a entrega quase absoluta desta mulher, que cerca e busca os objectivos dos seus desejos. Talvez seja por isso que Fome de Viver é dotado de um erotismo que vive por entre as linhas do seu enredo. Embora a nudez não seja desconhecida neste filme, todo o ambiente que o antecede e precede é coerente com a luminosidade algo escura, um pouco dúbia, que Tony Scott incutiu neste filme. Fome de Viver pode ter sido mal recebido na sua estreia, mas o tempo assegurou-se em cultivar seguidores de culto a partir de um estilo de influência gótica, presente naquele que é considerado o filme de vampiros mais sensual de sempre
só para adultos
Contudo, rapidamente percebemos que nesta relação existe um desequilíbrio trágico. Bowie não se equipara às capacidades de Deneuve, já que ela é a genuína, e ele, somente uma figura moldada pelas suas necessidades de companhia, seja afectivo ou sexual. Neste pronuncio de desgraça, a personagem de Bowie entra em contacto com Sarah (Susan Sarandon), uma cientista que investiga o envelhecimento do ser vivo, e formas de diminuir o seu impacto. John (David Bowie) percebe o que lhe espera. Como muitos anteriormente a ele, o seu destino é sucumbir e transformar-se numa carcaça velha e vegetativa, que Miriam (Catherine Deneuve) guardará num caixão no seu sótão, como recordação de um passado em comum.
ra idêntica a John: destinado a ser companheiro de Miriam, mas não para sempre, já que nada é eterno. Sarah, cada vez mais consciente do que se passa com ela, confronta Miriam, somente para perceber que o que se esconde atrás do belo pode parecer tão perigoso como sedutor.
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tem um lugar relativo, este casal atreve-se a brincar com a comida, antes de regressar a um ponto de animalidade, onde nada mais conta do que o alimento e a necessidade.
série
life on mars por: Berto Carvalho
Life on Mars 60
Todos os anos, as estações televisivas norteamericanas apresentam um grupo de novas séries na esperança de que alguma caia nas boas graças do público, e assim explorá-la até à exaustão. Na mais recente fornada da ABC, entre várias ainda desconhecidas, uma delas salta à vista, Life on Mars. Os mais atentos sabem que foi uma das séries britânicas de maior sucesso e qualidade dos últimos anos. Se a versão americana terá o mesmo sucesso ainda é muito cedo para saber, mas o que proponho é descobrirmos o que tornou o original tão bem sucedido e recordar o emocionante desfecho. Se o leitor não conhece o original e está agora a descobrir a versão americana, vai encontrar alguns spoilers, no entanto, o remake, segundo palavras dos produtores, terá um final diferente. Se está a pensar em ver a versão britânica, vá vê-la primeiro e passe cá mais tarde para ler o artigo cá o espero...
A criação de Marte
Life on Mars nasceu na cabeça de Matthew Gra-
ham, Tony Jordan e Ashley Pharoah em 1998. Depois da recusa do Channel 4, a BBC deu luz verde à série que estreou em 2006, estendeuse por duas temporadas de 8 episódios cada e rapidamente se transformou num êxito com uma média de 7 milhões de espectadores por episódio. Desde logo, saltou à vista o perfeccionismo adoptado em todos os aspectos da produção. Argumentos inteligentes, uma realização dinâmica e muito cinematográfica, uma perfeita e pormenorizada representação dos anos 70, banda sonora de luxo e personagens carismáticas. Para dar vida a essas personagens foram escolhidos John Simm (24 Hour Party People) no papel de Sam Tyler, Philip Glenister (que se transformou num fenómeno de popularidade) como Gene Hunt, Liz White como Annie Cartwright, Dean Andrews e Marshall Lancaster como Ray Car-
ling e Chris Skelton, respectivamente. Todos eles contribuíram de forma decisiva para os elevados níveis de qualidade da série, já que as interpretações são brilhantes. A acção de Life on Mars inicia-se em 2006 onde Sam, um polícia investigador, tem dificuldades em resolver um assassinato. Quando nada o fazia prever, Sam é atropelado e acorda, nada mais, nada menos, que em 1973...
O mundo de Oz
Desde logo Sam vê-se obrigado a sobreviver num mundo desconhecido, tecnologicamente atrasado, politicamente incorrecto e machista, personificado por Gene Hunt, chefe da polícia de Manchester. Os métodos de trabalho de Sam e Gene não podiam ser mais opostos: Sam é idealista e metódico, Gene é impulsivo e autoritário, mas contra todas as expectativas eles formam uma dupla brilhante (são a força motriz da série). A acompanhá-los estão os detectives Ray, Chris e a polícia Annie.
Durante toda a série, Sam tem visões e alucinações que o fazem acreditar que o atropelamento de que foi alvo, o colocou em coma e que está ali para resolver algo que o fará regressar a casa.
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Cada episódio segue uma linha padrão idêntica, com um caso que terá que ser resolvido no final. Cada caso é um meio para mostrar e comparar as diferentes linhas de investigação de Sam e Gene, o choque entre ambos e no final, chegar à conclusão que o trabalho em equipa dá bons resultados. No entanto, essa é apenas a camada superficial de Life on Mars, o que na realidade move a série é a evolução das personagens. Sam vê-se confrontado com os métodos pouco éticos da polícia, que vão desde prisão sem acusação, plantação de provas, tortura, suborno, tudo aspectos que vão contra os seus ideais. Assim, Sam entra em conflito directo com os seus colegas, tentando mudá-los, mas a verdade é que com o passar do tempo por vezes ele próprio começa a cair nos mesmos vícios. Quando se vê confrontado com o seu pai, Sam acaba por ir contra a sua forma de pensar e actuar. No sentido oposto, Gene começa a ouvir e a seguir as metodologias de Sam, embora nem sempre o admita e Chris vê Sam como um exemplo. A relação com Annie é diferente, ela é a sua única confidente e torna-se no interesse amoroso de Sam. No final da série, Annie terá um papel fundamental para a derradeira decisão do protagonista.
Life on Mars
Sam convence-se de que a porta que o levará de volta a 2006 anda à volta do seu pai, mais propriamente o momento em que ele abandonou a sua família. O dia em que Sam viu o pai pela última vez, foi um momento traumático na sua infância e possivelmente a razão para Sam ter acordado em 1973, teoria que parece ser correcta se tivermos em conta a sequela de Life on Mars, Ashes to Ashes. No entanto, por várias vezes Sam questiona a sua própria saúde mental, o mundo é demasiado real para ser uma criação na sua cabeça, e porque razão iria ele criar personagens que nunca conheceu? Não estaria ele a imaginar e a fantasiar tudo, alimentado pelas suas alucinações?
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Desde logo, os criadores poupam trabalho ao espectador reduzindo para apenas três, as possibilidades da causa da “viagem” de Sam: viagem no tempo, coma ou loucura. E é a partir daí que nós e Sam tentamos resolver o puzzle que é Life on Mars. No entanto, os autores sempre mostraram a possibilidade do coma como a mais
forte e nunca se mostraram muito interessados em deliberadamente complicar as coisas. O objectivo não era confundir o espectador entre as três possibilidades, mas sim, colocar questões, incutindo no espectador o mesmo sentimento de dúvida vivido por Sam. Para reforçar a teoria do coma, basta reparar nas inúmeras referências ao Feiticeiro de Oz, que serviu de inspiração à série. 2006 é cinzenta como Kansas, 1973 é colorida e vibrante como Oz, Gene por diversas vezes chama Sam de Dorothy, várias vezes fazem referência à “Yellow brick road” e Sam, tal como Dorothy, pretende voltar a casa. Todas as dúvidas prometiam uma clara resolução no capítulo final da série. O início do episódio seguia o padrão tradicional de Life on Mars. No entanto, a pressão exercida por Frank Morgan (nova referência ao Feiticeiro de Oz) para denunciar Gene Hunt, depressa levou Sam a construir uma nova porta de saída para o mundo real. Frank seria na realidade o cirurgião que no futuro lhe estaria a retirar o tumor encontrado
A cena do cemitério tornou-se numa das mais marcantes da série, uma vez que Frank revela que Sam sofreu um acidente em 1973 que lhe causou amnésia acrescentando que estava infiltrado na polícia de Manchester sobre uma identidade falsa, identidade essa adoptada por Sam aquando da sua amnésia. Assim, toda a sua experiência durante a série era real e todas as visões e alucinações, uma forma que o seu subconsciente arranjou para seguir os planos originais. A reacção de incredibilidade de Sam é um
Life on Mars
Há vida em Marte?
dos momentos interpretativos mais brilhantes da série, fruto do excelente desempenho de John Simm. Estas revelações foram um autêntico murro no estômago e uma volta de 180º na forma de pensar de Sam e também na nossa. Até àquele momento, a certeza de que Sam se encontrava realmente em coma era cada vez maior e saber que na realidade tudo não passava dum delírio causado por uma amnésia do herói foi chocante. Assim, e aos olhos dos seus colegas e amigos, Sam era apenas um traidor que os tinha enganado durante todo o tempo. A reacção de Ray, Chris e principalmente a de Annie quando ficam a par da verdade é de partir o coração. Entretanto e como forma de apanhar o assassino, Gene infiltra-se num gang que planeia assaltar um comboio. O assalto corre mal e vendo os amigos cercados e em risco de vida, Sam pede a ajuda de Frank Morgan. No entanto, quando menos esperávamos… Sam acorda… novo murro no estômago, nova volta de 180º. Quando começávamos a assimilar que afinal tudo aquilo era real, tivemos que voltar de novo ao ponto de partida.
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e Gene, nem mais nem menos que o próprio tumor, cuja remoção daria a Sam a possibilidade de voltar a casa. No entanto, nada faria esperar o turbilhão de emoções que viriam após Sam entrar no carro de Frank e entregar todas as provas necessárias para afastar Gene. As revelações de Frank fizeram desabar as convicções de Sam e do próprio espectador, instalando ainda mais dúvidas sobre o que é ou não real na sua vida.
Sam está de volta a casa, mas será que está feliz? 2006 é cinzento, frio, as pessoas são distantes e Sam, ao contrário do que esperaria, sente-se um estranho em sua própria casa. Num dos momentos mais emotivos da série, Sam decide ouvir o seu coração e com um sorriso nos lábios suicida-se atirando-se do topo dum prédio. Prefere ir morrer no mundo onde se sente real. Ao contrário de Dorothy, Sam não se conseguiu separar do seu Oz, era aí que ele se sentia real, onde se sentia vivo. Dorothy no final do Feiticeiro de Oz diz que “não há lugar como a nossa casa”, mas para Sam a sua casa era ao lado de Annie, em 1973.
Life on Mars
Os autores durante toda a série, sempre mostraram claramente que Sam estava em coma e que teria que resolver alguma situação em 1973 para regressar a casa. O próprio Matthew Graham admite isso: “sinceramente, inicialmente fiquei surpreendido por as pessoas pensarem que havia um mistério genuíno. Para mim, era óbvio – ele foi atropelado, os médicos e enfermeiras falavam com ele através da rádio e televisão enquanto ele estava em coma”. No entanto, à semelhança de Sam, nós aprendemos a gostar do mundo de 1973, o que levou à criação de teorias para que esse mundo fosse na verdade real: “a verdade é que o Sam começou a suspeitar que haveriam maneiras em que ele poderia mudar o seu destino, e claro quando ele lá ficou por um período tão longo de tempo, ele começou a assimilar muita coisa daquele mundo para ele próprio. Assim ele começa a questionar se realmente havia algo mais” completa Graham. O último episódio, levou a uma mistura de sentimentos para os espectadores. Se por um lado, todos queriam que fosse realmente um coma, de forma a não se sentirem enganados pelos autores, por outro lado, também queriam que 1973 fosse real e assim o desfecho acabou por dividir opiniões.
Renascer das cinzas
Apesar do arrebatador final e de quase tudo ter sido respondido, ainda ficaram algumas dúvidas no ar. Será que alguma das acções de Sam em 1973 poderiam ter tido repercussões em 2006?
Embora possam ter sido criações de Sam, as detenções de Colin Raimes e Tony Crane podem querer indicar que sim, isso significaria que o mundo de 1973 poderia ser real. A sequela, Ashes to Ashes promete responder a algumas questões. Em Ashes to Ashes seguimos Alex Drake, psicóloga policial que acompanhou o caso de Sam. Após ter sido baleada em 2008, vê-se, tal como Sam, transportada para uma época traumatizante da sua vida, neste caso 1981 em Londres, ano da morte dos seus pais (à semelhança de Sam, o acontecimento envolve directamente os pais). Para sua surpresa (e nossa) Alex encontra Gene, Chris e Ray. Serão eles construções que o seu subconsciente criou depois de ela os ter estudado no caso de Sam? Ou poderão eles e aquele mundo ser mesmo real? O emocionante final da 1ª temporada de Ashes to Ashes dá a entender que, de facto, Gene pode ser real, e as acções de Alex podem ter influenciado o seu próprio futuro, à semelhança de, possivelmente, Sam. Se for esse o caso, então poderá vir a abalar por completo o universo de Life on Mars. No entanto, tudo pode ser mais uma vez, apenas uma forma dos autores colocarem questões e dúvidas na nossa cabeça como em Life on Mars. Provavelmente, a experiência de Alex é exactamente igual à de Sam e tudo não passa de construções suas. No entanto, começam a surgir demasiados sinais contrários. Em Fevereiro estreia a 2ª temporada de Ashes to Ashes, e aí, possivelmente, tudo vai ser respondido.
Life on Mars é quase como um Lost em formato
policial, há mistério, pistas e referências espalhadas pela série, diferentes teorias, uma pitada de ficção científica e até potenciais viagens no tempo e em princípio tem tudo para conquistar os americanos. Vai ser interessante ver o rumo que o remake vai tomar. Se fugir ao cancelamento e conseguir vingar, e tendo em conta que já disseram que o desfecho será diferente do original (é difícil colocar o herói a suicidar-se na TV pública americana), qual vai ser a explicação da viagem de Sam? As pessoas à frente do projecto americano são competentes e têm provado que sabem fazer séries de sucesso, mas fica a dúvida se vão conseguir copiar a alma do verdadeiro e original Life on Mars.
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DVD do Mês
The Nightmare Before Christmas por: Álvaro Banaco
Foi a partir de uma poema intitulado The Nightmare Before Christmas, escrito por Tim Burton (Edward Scissorhands, Batman Returns) nos anos 80 enquanto era animador na Disney, e do sucesso da curtametragem Vincent por ele realizada em 1982 que o caminho se abriu para que o filme The Nightmare Before Christmas começasse a ganhar forma. Juntando Tim Burton na produção e argumento, Henry Selick na realização e Danny Elfman (Edward Scissorhands, Batman, Batman Returns, genérico e músicas de The Simpsons), na produção e composição dos temas nasceu Jack Skellington e The Nightmare Before
Christmas.
The Nightmare Before Christmas passa-se na Cidade de Halloween, uma cidade fora do imaginário comum,
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principalmente quando é inserida num conto que gira em torno do Natal. Os seus habitantes são bizarros e têm como principal divertimento assustarem-se uns aos outros. Como é de notar pelo nome da cidade, o seu dia mais festejado é o dia de Halloween, altura em que preparam um assustador cortejo onde Jack Skellington (voz falada de Chris Sarandon e cantada de Danny Elfman) é a estrela do desfile. Jack é o herói da Cidade de Halloween, é o mais eficaz nos sustos que pratica e o quebra-corações da cidade, mas está farto da rotina de ser a estrela da companhia. Um dia, para se afastar de mais uma correria desenfreada e do muito entusiasmado Mayor (Glenn Shadix) para os preparos de mais um cortejo de Halloween, Jack vai para a floresta onde encontra um conjunto de árvores com portas nos seus troncos entrando na que o irá levar à Cidade de Natal. Jack fica encantado pelo que vê, adora as cores do Natal e o espírito natalício de alegria e felicidade. Por isso, para sair da rotina pretende fazer o seu próprio Natal naquela cidade. Mas apesar de ter boas intenções algo corre mal, apesar de Sally (Catherine O’Hara), uma boneca de farrapos apaixonada por Jack, o tentar evitar. The Nightmare Before Christmas foi filmado em stopmotion, que consiste em utilizar modelos e capturar os seus movimentos fotograma a fotograma, o que
demora imenso tempo, por isso levou 3 anos a ser concluído e obteve ajuda de mais de uma centena de artistas. Estes números, a que se juntam 60 personagens com vários modelos de cada uma e a 400 cabeças de Jack Skellington para várias expressões, entre outros números, demonstram bem a complexidade deste projecto. Toda a direcção artística é exemplar com excelentes pormenores na construção dos cenários e personagens, assim como na animação trabalhosa de todas as personagens. A Cidade de Halloween é negra e disforme, onde todas as regras de arquitectura parece terem sido ignoradas, enquanto a Cidade de Natal é totalmente o contrário. Linhas direitas e cheia de luzes e cores vivas, como nos é apresentado no mundo real. A juntar à boa direcção artística temos a banda sonora de Danny Elfman, toda ela está muitíssimo bem encaixada no filme sendo divertida e negra ao mesmo tempo, assim como todos os excelentes efeitos sonoros que não descuram a qualidade do filme. The Nightmare Before Christmas é uma excelente história assustadora de Natal com personagens marcantes, belos pormenores visuais e carregadíssima de um excelente humor negro. É por isso um óptimo filme para fugir a todos os filmes de época. A edição especial de The Nightmare Before Christmas conta os sempre presentes, Comentário Áudio, Posters e Trailers do filme e o Cenas Cortadas. Para
acompanhar o desenvolvimento do filme há o interessante Making Of e o Comparação entre Filme e Storyboard. Há ainda Os Mundos de Tim Burton que nos leva a conhecer as personagens da Cidade de Halloween, da Cidade de Natal e do Mundo Real. E como extra de luxo há as curtas Vincent e Frankweenie.
Realização Henry Selick Com Danny Elfman, Chris Sarandon, Catherine O’Hara, William Hickey e Glen Shadix 1993 - 73min
9/10
Animação Comédia Negra
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