Red Carpet Janeiro 2009

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INDÍCE 4 Críticas 16 Capa O Milagre Segundo Cate Blanchett 22 Outras Estreias de… Janeiro 24 Estrela em Ascenção Evan Rachel Wood 26 TOP10 Os Melhores Filmes de 2008 42 Cinema Português Juventude em Marcha 44 O Universo de David Fincher 50 Versus RocknRolla Versus Snatch 52 Sob o Signo de… Ugetsu Monogatari

ficha técnica Editor Marco A. Paulo Design Gráfico Filipe Lopes www.filipelps.net Redactores Álvaro Banaco André Barbosa Berto Carvalho Carlos Pereira Leonor Pinela Luís Alves Luís Costa Luís Mendonça Marco A. Paulo Maria Carvalho Nuno Cargaleiro Nuno Gonçalves Pedro Pereira Rafael Jorge Sónia Carvalho

54 20 Apostas Para 2009

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58 Cinema Clássico Angel Face: A Essência de Um Olhar (II)

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62 Só Para Adultos O Piano por Nuno Cargaleiro

Periodicidade Mensal

64 Série Doctor Who

Agradecimentos Zon Lusomundo Castello Lopes Multimedia Prisvideo LNK Notro Filmes Columbia Tristar Warner

70 DVD A Lista de Schindler


Filho de Rambow - Um Novo Herói por: Berto Carvalho

Filho de Rambow - Um Novo Herói, é o segun-

do filme de Garth Jennings, autor da adaptação de À Boleia pela Galáxia que dividiu tanta gente em 2005. Eu faço parte do leque de pessoas que não gostaram de À Boleia pela Galáxia, e por isso, parti com algumas reticências para este novo filme. Felizmente, esta segunda tentativa é bem mais sólida do que a sua estreia como realizador.

CRÍTICAS 4

No filme acompanhamos duas crianças, Lee Carter e Will Proudfoot que embora sejam muito diferentes, acabam por construir uma forte amizade. Will pertence a uma família extremamente conservadora cuja religião e tradições proíbem o contacto com o mundo moderno, enquanto Lee é uma criança rica que vive com o seu irmão negligente e longe dos pais. No início, a ingenuidade de Will e a astúcia de Lee leva-os a uma relação conflituosa, no entanto, por causa de um filme, a sua amizade acaba por ficar cada vez mais forte. Com o intuito de participar num concurso onde se pede às crianças para realizarem um filme, os dois protagonistas decidem fazer uma sequela do seu herói favorito, Rambo. Nasce assim, o Filho do Rambow. A acção decorre durante os anos 80 e a representação dessa década é óptima …

se por ventura viveu esse período, vai gostar de relembrar as diversas referências dessa época. Os dois jovens actores são pequenos prodígios que agarram de forma brilhante todo o filme. Bill Milner e Will Poulter são valores a ter em atenção para o futuro e o resto do elenco infantil está igualmente em bom plano. Jessica Hynes tem aqui um papel bem diferente do que estamos habituados fugindo completamente do registo de comédia para um papel de mãe sofrida, o que limita um pouco o seu enorme talento. Este é um filme simpático, destinado para todas as idades e que vai divertir e emocionar todos os espectadores. É uma daquelas agradáveis surpresas que passam despercebidas no meio de tantas produções multimilionárias nesta fase do ano.

RECOMENDADO Argumento Garth Jennings Realização Garth Jennings Com Bill Milner, Will Poulter, Jessica Hynes 2008

8/10 Comédia Drama


Crepúsculo por: Maria Carvalho

O enredo é, tal como já era o livro em que se baseia, superficial e inconsistente, e não há em todo o filme qualquer tipo de desenvolvimento de personagens. Todos os actores parecem ter sido escolhidos a dedo de acordo com os níveis de plástico no corpo - nunca ajudados pela maquilhagem que é merecedora de um Razzie - e incapacidade de representar. Até Kristen Stewart, que já tinha dado provas interessantes nas suas películas anteriores, parece ter sido afectada pelo clima de representação exagerada.

Mas não há aqui enganos, este filme cumpre certamente tudo a que se propôs - é um filme para a pipoca, não é preciso usar o cérebro para o ver, e o tempo corre rápido ajudado por uns segmentos musicais. É óbvio que o problema reside precisamente na premissa, um filme de vampiros adolescentes baseado num inesperado (e injustificável) bestseller internacional que tem um seguimento já comparado à loucura pelos livros do Harry Potter. Crepúsculo não é mais que um filme altamente publicitado pelos canais mais comerciais e cujas sequelas já estão a ser planeadíssimas, e por pior que o filme seja, o box-office fala por si - é isto que, infelizmente, a juventude quer.

CRÍTICAS

Não é grande surpresa que de um livro que parece ter sido escrito a pensar na geração da MTV surja uma adaptação que não passa de uma colagem de trailers e videoclips musicais. Aliás, todo o filme parece ter sido criado com base no tipo de audiência que esperava ter, com sequências de imagens dramáticas e previsíveis, cores soturnas e muito pó de talco, movimentos de câmara incoerentes e planos que tentaram forçosamente ser artísticos e falharam redondamente.

É certo que se trata de um filme de vampiros, mas a verdade é que calafrios, só com os maus momentos de representação e realização. A sequência mais memorável, e mais insuportável, é a de um jogo de basebol entre vampiros, toda ela filmada ao som de uma música dos Muse; videoclip é a única palavra que descreve este momento, e mau videoclip descreve ainda melhor.

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Baseado no primeiro livro da saga para adolescentes de Stephenie Meyer, Crepúsculo conta-nos a história de Bella, uma rapariga de 17 anos que se apaixona por um vampiro.

ARGUMENTOMelissa Rosenberg (argumento), Stephenie Meyer (livro) Realização Catherine Hardwicke Com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Billy Burke, Cam Gigandet etc. 2008 - 123min

3/10 Fantasia Romance Thriller


Mulheres! por: Marco A. Paulo

CRÍTICAS 6

Quem seja fã de séries como O Sexo e a Cidade com certeza ficou desperto para este filme, Mulheres! Quatro amigas unidas, que se ajudam umas às outras nos momentos mais problemáticos das suas vidas, que contam tudo umas às outras e sabem que podem contar umas com as outras é algo bem característico da série acima mencionada, que também foi usado neste filme.

Ainda nos tentam surpreender colocando uma outra personagem, a amante do marido de Mary, que dá início a toda a série de eventos que já todos conhecemos, mas como acabei de dizer, ela é só o pretexto para que tudo tenha início, pois muitos outros poderiam ser usados, por exemplo, a morte de uma quinta amiga… e nesse caso não estaria a mencionar O Sexo e a Cidade mas sim as Donas de Casa Desesperadas.

É bem normal que seja usado esse molde… praticamente é usado em todo o lado e mais algum. Resulta bem, cria um ambiente agradável e é fácil de o estragar quando se quer criar tensão no espectador. Não há como falhar… porém, há como evoluir e fazer crescer esta fórmula! Coisa que este filme não faz. Basta reconhecer os traços gerais das personagens para que percebamos todo o caminho que elas vão tomar. Mary é a Carrie… saídas da mesma fábrica, ambas loiras, paixão pela moda, vida amorosa atribulada e com uma filha de atrelado que se não existisse, seria exactamente o mesmo! Silvya é uma Samantha com menos sexo, a cópia chapada dessa personagem. Até mesmo a sua fase final é totalmente idêntica à da personagem ninfomaníaca. Edie é a Charlotte de serviço. Vive para ser a dona de casa perfeita, na sua vida perfeita, com os seus filhos, ou cães, e quando se trata de falar sobre temas mais escaldantes, tenta sempre atenua-los. Por fim, Alex, é a Miranda, o “homem” da casa. Preocupa-se sempre com ela, até que surge algo na sua vida que lhe vai mostrar outra perspectiva das coisas.

Um ponto interessante do filme é que nunca, em instante algum, durante duas horas, vamos ver um homem no filme. Não é de estranhar que tal situação aconteça, já que o filme se chama Mulheres!, mas é muito bem conseguido que toda a história tenha início por causa da traição do marido de Mary e que em instante algum o vejamos, ou a qualquer outro homem, mas que ele esteja sempre presente. Infelizmente, não basta isso para que o filme seja bom, já que desde a história, escrita e adaptada de uma peça de teatro escrita por uma mulher, até às representações, por mulheres, passando ainda pela realização, que também é uma mulher, tudo está tão simplório e sem sabor que acabamos por visualizar este filme completamente desligados de tudo o que está a acontecer.

Argumento Diane English, Clare Boothe Luce, Anita Loos, Jane Murfin Realização Diane English Com Meg Ryan, Annette Bening, Jada Pinket-Smith e Debra Messing 2008 - 128min

3/10 Drama


Austrália

Se pensarmos que Hugh Jackman é um dos actores com maior futuro (e presente) em Hollywood, Nicole Kidman é a mesma que brilhou em Moulin

Rouge, As Horas, De Olhos Bem Fechados, Cold Mountain, Disposta a Tudo e tantos outros que não

há linhas suficientes para mencionar, há que dizer que as expectativas para este filme não poderiam ser outras que não extremamente altas. A verdade é que os dois actores até que nem ficam mal na fotografia, pois Hugh Jackman consegue cativar o espectador com o seu talento natural para interpretar personagens com o estilo peculiar de Drover e Nicole Kidman, embora longe das suas melhores interpretações, acaba por encantar com o seu tal-

ento para interpretar personagens obstinadas, com modos de duquesa e com enorme coração. Contudo, o filme falha quando apresenta ao espectador, vilões extremamente mal caracterizados, com uma importância fundamental para o desenrolar da história. Sendo significativamente diferente das anteriores obras de Baz Luhrman, Austrália é um filme com ambições épicas, um orçamento enorme e recheado de planos de imagens deliciosos, capazes de agradar aos mais cépticos. No entanto, ao contrário dos filmes que constituíram a sua trilogia anterior (Strictly Ballroom (1992), Romeu e Julieta (1996) e Moulin Rouge (2001)), este é um filme que não enche as medidas do espectador. Na verdade, faltando-lhe os diálogos geniais do melhor Romeu e Julieta dos tempos modernos, a musicalidade e o extravagantismo de Moulin Rouge, pouco sobra, além dos efeitos visuais em que Luhrman é mestre, para marcar a distinção deste Austrália para um banal filme de western. Assim, com um argumento simplório, personagens fracamente caracterizadas e um misticismo capaz de arruinar qualquer película, Austrália é um filme de possibilidades imensas, mas que falhou por completo no mais importante, os detalhes que servem para retirar o filme da banalidade.

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Austrália, o mais recente filme do realizador australiano Baz Luhrman, conta a história de uma mulher, Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman) que nos tempos da segunda guerra mundial tenta a todo o custo cumprir o sonho do seu falecido marido, estabelecendo-se como uma mulher de sucesso, no negócio da ganadaria, das paradisíacas paisagens australianas. Para a ajudar, Sarah contará com ajuda do rude Drover (Hugh Jackman), um conhecido vaqueiro marginalizado da sociedade por estar contra a distinção de raças (branca, negra e aborígenes) e de Nullah (Brandon Walters), uma criança aborígene perseguida pela sociedade e que acredita que possui poderes mágicos. Contra Lady Sarah está Neil Fletcher (David Wenham), um vaqueiro corrupto e ambicioso que tudo fará para destruir o sonho de Lady Sarah.

CRÍTICAS

por: Pedro Pereira

Argumento Baz Luhrman, Stuart Beattie, Ronald Harwood e Richard Flanagan Realização Baz Lurhman Com Nicole Kidman, Hugh Jackman, Brandon Walters, David Wenham e Bryan Brown 2008 - 165min

5/10 Aventura Drama Guerra Western


Sete Vidas por: Nuno Cargaleiro

Antes de se falar de Sete Vidas, temos de falar sobre Will Smith, até porque Will Smith é Sete Vidas. Todo o filme é suportado por este actor que já provou uma versatilidade imensa no mundo da interpretação. Seja em comédia, acção ou drama, ao actor mais rentável da actualidade só lhe falta o Óscar, e este projecto, numa nova aventura com Gabriele Muccino, parece que o objectivo é procurar abrir-lhe caminho para a estatueta dourada numa personagem tão diferente, dorida, humana e trágica.

CRÍTICAS

O secretismo à volta deste projecto deve-se ao facto do enredo perceber-se em poucas linhas, e assim que se torna revelado, o embate emocional que é dado ao espectador torna-se na própria viagem que o filme representa. O essencial a apreender é que Smith é Bem Thomas, um homem que se cruza com diversas pessoas, e ao se apresentar como um representante do IRS aproveita esse contexto para alterar a vida das mesmas positivamente. Ao se cruzar com Emily Posa (Rosario Dawson), a sua vida irá alterarse e o desenrolar de uma relação entre ambos poderá colocar em causa a fé de Ben Thomas em cumprir os seus objectivos.

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Sete Vidas é um melodrama romântico que se propõe a derreter o espectador mais resistente. O realizador Gabriele Muccino, que repete a colaboração com Smith desde Em Busca da Felicidade, mostra-se especialista em retratar histórias invulgares sobre gente normal em condições estranhas. Esse factor torna-se importante para

garantir o sucesso do empreendimento, já que se no filme anterior existia uma base verídica, neste a direcção vive à custa da ficção. Desse modo, o maior sentido de controlo que se pretende é tornar o enredo verosímil e não deixar cair no tipo de história de cordel que normalmente até tem algum sucesso, mas que não deixa de ser mais do que isso. Contudo, embora mantenha o equilíbrio necessário para não transpor essa linha, Sete Vidas não deixa de pecar, sobretudo nos segmentos finais, carregando o filme a cenas finais desnecessárias. Para além disso, este é o tipo de história e enredo que se concentra sobretudo nas mãos do protagonista. Embora permita o ténue desenvolvimento de outras figuras, estas servem para acentuar a imagem de Bem Thomas, na sua demanda. Esse tipo de perspectiva, embora seja uma concepção válida, pode enfraquecer o enredo para alguns olhares, acentuando nestes o aspecto melodramático. Em suma, Sete Vidas é um bom filme, com óptimos actores, especialmente Will Smith, e com um enredo capaz de manter o interesse e o envolvimento do espectador. Contudo, a mensagem que transmite, assim como o impacto que traduz nos seus espectadores, poderá ser relativo, atendendo à receptividade para o tom em que Sete Vidas narra a sua história. Argumento Grant Nieporte Realização Gabriele Muccino Com Will Smith, Rosario Dawson, Woody Harrelson 2008

7/10 Drama


Caos Calmo por: Carlos Pereira

A obra de Grimaldi é também uma cirúrgica representação sobre a intensidade dos con-

Caos Calmo é evidentemente um portento neste

final de ano: um filme maduro, adulto, sem artificialismos, funcionando com base num prodigioso trabalho de ideias concretas sobre a vida. O cinema, no seu âmago, nunca procurou outra coisa. CRÍTICAS

É um dia de verão e Pietro (Moretti) salva uma desconhecida na praia. Ao mesmo tempo, Lara, a sua mulher, morre inesperadamente em casa. Ao levar a sua filha à escola, após o incidente, Pietro resolver esperar todo o dia por ela. Algo que, rapidamente, adopta como hábito. Observando o que o rodeia – as outras rotinas, os imprevistos, as rupturas quotidianas –, Pietro começa a readquirir coragem para encontrar quietude na desordem das suas próprias relações.

tactos humanos. Daí que a cena de sexo de Moretti, regresso à liberdade de Pietro, seja imprescindível. Já não se via uma cena de sexo assim desde Uma História de Violência de Cronenberg, numa indistinção entre animal e homem, entre amor e ódio, com dois corpos num permanente devir de emoções selváticas e ásperas. Trata-se de uma abordagem transparente de dependência do outro, do corpo do outro.

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Já sentíamos saudades de Nanni Moretti. Caos Calmo pode não ter a sua realização, mas a sua interpretação é tão grandiosa que enche todo o filme. Além disso não andamos longe do registo do O Quarto do Filho, quanto mais porque também se trata de uma obra sobre o trabalho de luto, sobre formas de viver a ausência (embora consideravelmente diferentes). Mas Caos Calmo é, acima de tudo, um excelso retrato de convivência com a própria solidão. Sem cair em lugares-comuns – e sem nunca abandonar a simplicidade das coisas e dos olhares –, é um dos milagres cinematográficos do ano.

Argumento Nanni Moretti, Laura Paolucci, Francesco Piccolo, baseado no livro de Sandro Veronesi Realização Antonio Grimaldi Com Nanni Moretti, Valeria Golino, Alessandro Gassman, Silvio Orlando 2008 - 107min

8/10 Drama


RocknRolla - A Quadrilha por: Nuno Cargaleiro

Guy Ritchie é facilmente reconhecido por dois trunfos do seu início de carreira: Lock, Stock and Two Smoking Barrels e Snatch. Conhecido pela sua realização rápida, brincando com a história e parodiando com o mundo do crime, Ritchie consegue preparar um espectáculo que cativa o espectador, reconstruindo desse modo a tipologia de filmes de gangsters.

A quadrilha que o título português apresenta é sem sombra de dúvida o ambiente criado pelo argumentista e realizador Ritchie. Apesar das diferenças de vagueiam por entre as suas personalidades, são símbolos de figuras que pretendem boa vida: sexo, dinheiro e oportunidades. Todos eles são retratados com alguma piada pelo meio, abusando por vezes no estereótipo para fins de enredo.

Após algumas tentativas de demonstrar a sua versatilidade, que se revelaram infrutíferas, este realizador regressa com RocknRolla, onde tenta ir mais longe no espírito de cultura gangster, e com uma ambição de transformar este filme num conjunto de três que descrevem a evolução das várias personagens centrais. Não é claramente nenhum Snatch, pois falta-lhe o espírito de conclusão que reside nas suas produções anteriores. Contudo, este novo projecto é uma maravilha para a vista ao constatar que Ritchie ainda não perdeu o jeito para fazer aquilo que sabe fazer melhor.

Nessa aventura que se torna ver um filme de Ritchie, o espectador vê-se numa montanha russa onde o inesperado surge em cada esquina. Até os protagonistas não estão totalmente a salvo num filme de Ritchie. Embora se note o amor que este tem pelas suas personagens, dando-lhes espaço para brilharem, não deixa de ser impiedoso com elas, reservando alguns destinos trágicos a alguns. O facto de poder tornar-se numa trilogia não faria esperar isso, mas mais uma vez somos surpreendidos, e com expectativa por mais.

CRÍTICAS 10

Num enredo que apresenta vários núcleos principais, encontramos um gangster especialista em vigarices relacionadas com imobiliário que está na iminência de dar a volta a um homem de negócios russo, este também com cara de poucos amigos. Para tudo ficar acertado, a transacção necessita de seis milhões de euros. Contudo, no meio desta disputa, que já se espera ser renhida, encontramos um grupo de pequenos vigaristas com sentido de honra, uma economista sensual em busca de alguma emoção na sua vida chata, um homem de confiança que cada vez mais começa a observar melhor o que se passa à sua volta, e uma estrela de rock & roll inconsequente que se esperava morta, mas que reaparece, com consequências directas a todos os membros restantes do elenco.

Será nesse sentimento de uma história inacabada que o filme peca. Talvez se a trilogia de Ritchie for observada num todo, acabe por fazer maior sentido, mas existe um desperdiçar de oportunidades e de conclusões que tornam o filme quase como o primeiro episódio alargado de uma série de acção. Os actores conseguem representar o pedido, com especial destaque para Thandie Newton, Mark Strong e Toby Kebbell, que aproveitam a divergência social das personagens de Ritchie. Contudo, resta esperar que exista um segundo capítulo nesta saga, e que possamos ver um desenvolvimento positivo do argumento.

Argumento Guy Ritchie Realização Guy Ritchie Com Gerard Butler, Thandie Newton, Tom Wilkinson, Mark Strong, Toby Kebbell 2008 - 128min

7/10 Acção Comédia


O Dia Em que a Terra Parou

Misteriosas esferas começam a aparecer por todo o globo, e teme-se um ataque extraterrestre. A esfera principal aterra no Central Park em Nova Iorque, e dela sai o enviado alienígena, mas como nós humanos somos seres violentos e sempre desconfiados, apesar de este emissário não tomar qualquer acção hostil, é recebido com violência.

é tudo o que interessa. Se efeitos especiais são melhores, é um aspecto secundário. Os efeitos especiais de hoje, serão ultrapassados no amanhã, a história, a mensagem, irá sempre persistir, e a mensagem é o fundamental nesta história, e foi ela que fez O Dia em que a Terra Parou original, perdurar na memória de amantes de ficção-científica e cinéfilos em geral.

Este enviado é Klaatu (Keanu Reeves), e vem para nos avisar de que a destruição do nosso planeta é iminente, dado que os males dos nossos avanços tecnológicos e as nossas acções o estão a fazer morrer. Klaatu esperava conseguir dirigir-se aos principais órgãos mundiais de modo a preveni-los, nas Nações Unidas, mas sendo tratado com violência, e sendo esta reunião dificultada, a decisão de que o Homem precisa de ser destruído e é necessário dar à Terra uma oportunidade de recomeçar, torna-se final. O que se segue agora, é a tentativa de uma intrépida cientista que se consegue aproximar de Klaatu, de o convencer a dar uma nova oportunidade à Humanidade.

Esta nova versão do filme, não lhe introduz muito de novo, apenas o actualiza aos nossos tempos, dando-lhe um contexto mais de ameaça ecológica, mas para além disto e efeitos especiais, que como não poderia deixar de ser, foram muito bem conseguidos, não traz nada de novo. Até não tenho motivo de queixa quanto a Keanu Reeves, que penso estar bem na pele de Klaatu, dada a característica que este já tinha apresentado anteriormente, de ficar com ausência de grandes expressões faciais, que resulta muito bem aquando de encarnar o enviado extraterrestre. Jennifer Connelly é uma excelente actriz, e não está mal no filme, mas é simplesmente mais um desempenho que poderia ter sido feito por muitas outras actrizes, sem grandes diferenças para o resultado final.

Ora, ir tocar num grande clássico da ficção-científica de 1951, considerado “sagrado” e “intocável” por muitos, não era uma manobra muito segura. A ideia de actualizar a mensagem do filme, de que a humanidade se tornou demasiado cruel e um perigo para si própria, e que na altura surgiu devido ao desenvolvimento de armas nucleares, poderia ter-se revelado proveitosa, actualizando essa ideia aos nossos tempos, mas o filme necessitava de maior originalidade, ou pelo menos, de tentar mostrar um pouco mais, ou desenvolver um pouco mais a história. O problema de um remake é estar sempre preso à história original, e daí muitos fracassarem, já que acabam por ser apenas repetições do que já foi feito, de forma ligeiramente diferente, mas na qual o conteúdo permanece igual, e isso

Mas o filme tem um lado positivo, o de introduzir bem esta mensagem profunda ao espectador do Presente, porém, esta mensagem advém do produto original, que se recomenda muito mais, a quem fique interessado pela história. A mensagem é no fundo aquilo que se espera que domine a mente do espectador, nem que seja por meros minutos após ver o filme: não deveremos nós corrigir as nossas atitudes, não seremos nós, demasiado violentos, demasiado egoístas? Não deveremos melhorarnos para evitar o colapso de tudo o que construímos? Mas a mensagem é de esperança. Debaixo da camada de ódio temos capacidades extraordinárias, apenas nos cabe a nós nunca as perdermos, lutando pelo que somos e pelo que queremos ser, dia após dia

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Os remakes não têm uma boa reputação hoje em dia, mas dada a falta de originalidade que começamos a ver atacar Hollywood cada vez mais, é comum começarmos a ver novas versões de velhos clássicos. Actualmente começa até a haver alguma falta de respeito por certos trabalhos, e qualquer filme com uma dúzia de anos começa já a ser considerado como candidato a remake.

CRÍTICAS

por: Rafael Jorge

Argumento David Scarpa Realização Scott Derrickson Com Keanu Reeves, Jennifer Connelly, John Cleese, Kathy Bates 2008

6/10

Ficção - Científica


Sim!

por: Nuno Cargaleiro

Um filme de Jim Carrey é naturalmente um projecto fadado ao sucesso. Sobretudo se for uma comédia, como é o caso desde Sim!. Carrey tornou-se, com o tempo, uma das figuras mais fiáveis para se apostar numa comédia. Mesmo que não sejam considerados um sucesso absoluto, o seu nome no elenco é uma garantia para o avanço da produção, e desencadeador de curiosidade por parte dos espectadores.

CRÍTICAS

Em Sim!, Carrey é Carl Allen, um homem desiludido com a vida, seja a nível amoroso, social ou laboral. Desse modo, Allen vive num coma acordado de apatia, sem interesse com o que se passa à sua volta. Este comportamento acaba por atingir a sua relação próxima com os poucos amigos que lhe restam, minando ainda mais a sua vida. Tudo isto muda, quando é persuadido por um antigo colega de trabalho a assistir um seminário de auto-ajuda. Num confronto do com guru da filosofia de positivismo, Allen vê-se a prometer que será mais aberto às possibilidades que se lhe apresentam, aceitando dizer sim a todas os convites e oportunidades, sejam de que natureza for.

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A premissa deste projecto ganha consistência ao ser baseado numa experiência real, colocada em livro, por parte do jornalista e romancista Danny Wallace, que também é produtor

de Sim!. Contudo, cada situação é levada ao extremo, provocando momentos de pura gargalhada. Devido à versatilidade de Jim Carrey, este projecto não se fica somente num conjunto de gags, aparentemente sem um sentido lógico, mas consegue discutir a noção de aproveitamento a vida, e a não julgar as utilidades das nossas experiências. Contudo, o factor que o torna mais apelativo também se torna, a certo ponto na sua maior fraqueza: Jim Carrey. Embora demonstre a competência que o trouxe para a ribalta, a sensação que fica no final é que assistimos a mais uma demonstração do mesmo. Mesmo com a postura à Jerry Lewis seja mais contida em Sim!, Carrey não demonstra novidade, mantendo-se na segurança confortável da sua imagem. Desse modo, Sim! não é uma demonstração do sentido de aventura de Carrey, que cometeu alguns riscos proveitosos na sua carreira, tornandose simplesmente de uma plataforma blockbuster, onde Carrey terá uma percentagem dos lucros, e uma hora e meia de entretenimento de alguns risos satisfatórios, mas com um entusiasmo relativo. Argumento Nicholas Stoller, Jarrad Paul, Andrew Mogel Realização Peyton Reed Com Jim Carrey, Zooey Deschanel, Bradley Cooper, Terence Stamp 2008

5/10 Comédia


Bolt

por: Marco A. Paulo

Além de parecer que é só um pretexto para levar um cão a um ambiente diferente daquele a que estava habituado, causando portanto situações divertidas para o espectador de palmo e meio, vai mostrar que toca em pontos bem mais sérios que a pura diversão, que é algo que cada vez vem ficando mais evidente neste tipo de filmes, acabando por ser divertidos mas ao mesmo tempo sensibilizam o espectador mais crescido sobre o impacto que temos nos outros seres que, supostamente, são inferiores a nós, além dos nossos actos mostrarem que

O abandono de animais de estimação por parte dos humanos, que acabam por contrariar a definição de humano ao serem desumanos o suficiente para deixar um animal indefeso à sua própria mercê no meio da rua, ou mesmo o uso de animais para o nosso próprio entretenimento esquecendo aquilo que eles acabam por sentir já que não entendem que o que fazem pode pura e simplesmente ser tudo uma grande mentira que lhes escapou quando foram apanhados pelas garras de grandes estúdios que só querem ganhar uns trocos à custa destes animais. Aparentemente o filme mais parece um drama que uma comédia, após esta pequena descrição, mas não caiam em erro de pensar isso. A magia do filme está mesmo em conseguir passar esta mensagem enquanto vai intercalando os momentos mais tensos com outros bem mais cómicos e divertidos. Deixa a lágrima bem mais além que o canto do olho mas a diversão e mensagem que ganhamos após a visualização do filme é tão gratificante que o filme acabou por valer cada cêntimo que custou, já que em muitos lados a versão 3D deste filme já é uma, óptima, alternativa.

CRÍTICAS

Bolt é um cão que à nascença foi escolhido por uma criança que acabou por entrar numa série televisiva de enorme sucesso onde a estrela principal era mesmo o cão. Porém, ele não percebe que tudo o que ele faz é mentira, incluindo os seus poderes e as investidas do seu vilão para com Penny, a sua dona. Quando o cão vê uma oportunidade, escapa dos estúdios onde a série é filmada para ir salvar a sua dona que, na última cena que filmou, foi raptada pelo vilão da série.

nós somos ainda piores que eles.

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Este ano está bastante concorrido no que diz respeito à animação infantil. A parte boa é que os filmes acabam por ser grandes obras que continuam a surpreender bastante! Bolt é exactamente um desses exemplos, aparentando ser somente mais um filme de animação mas que no final mostrou ser muito mais do que isso.

Argumento Dan Fogelman e Chris Williams Realização Byron Howard e Chris Williams Com John Travolta, Miley Cirus, Susie Essman e Mark Walton 2008

8/10 Animação Aventura Comédia


Fome

por: Carlos Pereira

Como reflectir a violência? O artista plástico Steve McQueen dá-nos, na sua primeira longa-metragem, um vasto leque de respostas. Em Fome, a impetuosidade humana vem do mais profundo interior, sem que com isso se esqueça o corpo – o corpo em sofrimento, o corpo derradeiro. Afinal, são as agitações físicas, da carne e do sangue (as cicatrizes, o lavar das mãos ensanguentadas) que nos implicam nas maiores complexidades, transportando-nos para as fraquezas e para o que está escondido. É perturbador observar a agressão física, vivida/observada/praticada, apresentada lado a lado com a verticalidade moral e ética. CRÍTICAS 14

Partindo de Bobby Sands, activista do IRA na Irlanda de 81, observamos a demanda contra o mau tratamento dado aos reclusos, que exigem o estatuto de prisioneiros políticos por parte do governo de Thatcher. McQueen apresenta esta luta política quase sem diálogos, atento aos pormenores denunciadores de medos e anseios. Entre sensações mescladas de morte e liberdade, filma-se um permanente abismo de corpos que não cessam o combate, crentes e sôfregos. A greve de fome encetada por Sands funciona dentro de um realismo vis-

ceral, tão inquietante como comovente. Sem cair em maniqueísmos, mostrando a fundo as fraquezas das duas forças de oposição, Fome é uma obra capaz de reinventar uma linguagem estética, intimamente cinematográfica, onde cada plano é uma janela aberta contra a banalização das imagens. Equilibrado no seu próprio descontrolo, Fome vai construindo-se, gradualmente, até atingir verdadeiros cumes de poesia – apogeus de crueldade a que se seguem tomadas serenas de consciência, atitudes face ao medo, decisões irreversíveis. Fome é um regresso ao domínio do som e da imagem: o silêncio contrastado com os ruídos ensurdecedores, os gritos redundantes de não conformismo; a imagem cristalina, o plano da conversa Bobby/padre, etc. Sublime obra de arte.

Argumento Steve McQueen, Enda Walsh Realização Steve McQueen Com Michael Fassbender, Stuart Graham, Rory Mullen 2008 - 96min

9/10 Drama


Uns Sogros do Pior por: Nuno Cargaleiro

Quando um nevoeiro inesperado atrapalha a viagem de Natal que ambos iriam fazer, revelando inesperadamente o seu plano aos seus familiares, estes vêem-se na obrigação de visitar os pais de cada um (Robert Duvall, Sissy Spacek, Jon Voight e Mary Steenburgen) na véspera da Consoada. Filhos de pais divorciados, são obrigados a quatro momentos, cada um o pior, onde reencontram o seu passado, os medos, e a si mesmos.

Se olharmos dentro do género de comédia para passar tempo, Uns Sogros do Pior será um projecto que poderá distrair, mas do qual não se espera mais após o termino do filme. Apesar do enredo abrir uma porta para uma possível sequela, será de surpreender se esta veja a luz do dia.

CRÍTICAS

O conceito inicial incide num casal (Vince Vaughn e Reese Witherspoon) que se adora, vivendo juntos há vários anos, mas que evita reuniões familiares, sobretudo em épocas festivas como no Natal. Através de estratagemas, nos quais ambos são cúmplices, inventam desculpas, e desse modo também escondem segredos sobre o seu passado.

Embora a premissa seja interessante num estilo de comédia romântica meets comédia de natal, o casal de protagonistas não consegue transmitir maior impacto às suas personagens a não ser o próprio estereótipo das suas personalidades. O Brad de Vince Vaughn é o mesmo fala-barato a que este actor nos habituou, e Reese Witherspoon continua com a mesma expressão girl next door, muito concentrada no guião e nas expressões faciais como criação de comédia. Contudo, o pior desta dupla é que não se sente a química que seria necessária. Nessa perspectiva, o desenrolar do filme torna-se mais plástico, e menos emocionante para o espectador.

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Normalmente encontramos filmes que têm tudo para serem um sucesso, e possibilitar sequelas proveitosas. Uns Sogros do Pior (de título original, Four Christmases) é um desses casos, contudo o produto final, apesar do elenco de luxo, não deixa de ser simplesmente satisfatório, tornando-se incapaz de ultrapassar a fasquia de memorável.

Argumento Matt Allen, Caleb Wilson, Jon Lucas, Scott Moore Realização Seth Gordon Com Vince Vaughn, Reese Witherspoon, Robert Duvall, Sissy Spacek, Jon Voight e Mary Steenburgen 2008

3/10 Comédia


tema da capa Cate Blanchett POR: Nuno Gonรงalves

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Rainha Isabel I de Inglaterra. Socialite dos anos 50. Veronica Guerin. Dona de casa desesperada. Galadriel, rainha dos elfos. Terrorista atormentada. Katharine Hepburn. Toxicodependente acorrentada. Femme fatale alemã. Pedófila crucificada. Bob Dylan. São apenas alguns dos passos daquele que é provavelmente o percurso curricular mais imaculado de todos os actores contemporâneos. Não é por acaso que o seu nome é sinónimo de classe. A associação de Cate Blanchett a qualquer projecto parece ter-se tornado num fiável barómetro de qualidade, mesmo para o público menos atento. A realidade é que a sua mera presença ilumina a tela de forma quase religiosa, com uma aura de imersivo misticismo e simultaneamente, intensa vulnerabilidade. Até o mais fugaz dos seus filmes torna-se inesquecível. Curioso então que a mais prodigiosa actriz de cinema dos nossos tempos provenha de uma educação exclusivamente teatral. Filha de um militar norte-americano e uma professora australiana, Blanchett cedo descobriu a sua verdadeira vocação. Enquanto criança fascinava-se com a ideia de ser outras pessoas e com apenas 23 anos encontrava-se a contracenar com Geoffrey Rush numa peça em Sydney, cidade que viu a formação de todo o seu talento. Talvez por isso que seja ainda hoje a fundação da sua arte e onde vai muitas vezes redescobrir a sua paixão pela representação depois de algumas extenuantes aventuras no cinema. Hoje é, com o seu marido Andrew Upton, a directora artística da Companhia Teatral de Sydney.

capa CRÍTICAS

Apesar de parecer fadada a ser a dama principal do teatro australiano, o seu destino reservava-lhe algo mais. Depois de alguns pequenos mas notórios papeis em televisão como em Heartland, ao lado do colega recorrente Hugo Weaving, surgiu a oportunidade de se estrear na 7ªarte num papel secundário em Paradise Road, ao lado de Glenn Close e Frances McDormand. O protagonismo viria logo a seguir, bem como as primeiras menções de reconhecimento, com Óscar e Lucinda, onde contracenou com Ralph Fiennes e desempenhava o papel de uma mulher confinada a um estatuto diminuído numa sociedade dominada pela influência masculina. A aclamação não tardava.

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Em 1998 era lançado em cinema Elizabeth, um filme que relatava os primeiros anos de regência uma das mais famosas e importantes monarcas da História Mundial, a rainha Isabel I de Inglaterra. Oriundo de um realizador indiano a bio-


São estes pequenos milagres que fazem com que a notícia de que uma actriz irá interpretar o papel de Bob Dylan no esquizofrénico biopic de Todd Haynes, I’m Not There, seja encarada com relativa leveza quando o nome dessa actriz revela-se ser Cate Blanchett. Apesar da surpresa e

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Esta fervorosa capacidade em desempenhar personagens reais, de importância mais ou menos histórica, tem sido uma constante no decorrer da sua carreira. Não só reinterpretou Isabel I em Elizabeth: A Idade do Ouro, que lhe valeu outra nomeação ao Óscar, e Veronica Guerin, uma jornalista irlandesa assassinada pelo desmascaramento de um cartel de droga, como também nos proporcionou nova visão sobre personalidades que julgávamos conhecer com confortável segurança. A cobiçada estatueta foi finalmente ganha em 2005 com O Aviador de Martin Scorsese, uma adaptação cinematográ-

fica da vida de Howard Hughes, desempenhado por Leonardo DiCaprio, um produtor da idade de ouro de Hollywood e o primeiro playboy milionário, conhecido pelo seu amor por mulheres (actrizes) bonitas e tecnologia de aviação. Blanchett desempenhava Katharine Hepburn, uma das maiores lendas do cinema norte-americano e também uma das mais enigmáticas. A actriz trouxe mais do que uma pormenorizada e espantosa imitação ao papel. A profundidade e relevância emocionais atribuídas a cada gesto e olhar são inimagináveis. Numa cena chave do filme, Hughes confronta Blanchett, companheira de vários meses apesar dos escapes noctívagos, com o facto de ela não ser nada mais que uma actriz. O momento que se segue é de uma tremenda identificação e ressonância imensurável: todo um conjunto de sentimentos contraditórios e acutilantes passa pelo seu rosto, como um turbilhão indomável que encontra a crua vulnerabilidade da sua existência. Sem nada dizer, vira costas e sai, para nunca mais o voltar a ver.

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grafia afastava-se muito dos padrões televisivos para os dramas de época traçados pela BBC, mas a revelação só poderia ter um nome. Descrita na altura como “magnética” e “espectral”, Cate Blanchett convocou o ininvocável. A sua interpretação da célebre rainha, um cândido retrato de inocência perdida, é muito mais que uma força da natureza, ultrapassando quaisquer esperanças que pudessem ser depositadas na assimilação de um papel de tamanha notoriedade. Valeu-lhe, além de uma série de prémios da crítica, um Globo de Ouro e um BAFTA, a primeira nomeação ao Óscar. Ainda hoje a sua “derrota” é mencionada como uma das muitas e mais memoráveis injustiças da Academia.


estranheza automaticamente experimentadas, se há alguém capaz de ultrapassar tão infinito obstaculo é ela. E num brilhante e inebriante filme que dividiu opiniões, a constante foi novamente Blanchett. A interpretar Dylan numa fase da sua carreira em que se encontrava sob incessante escrutínio pelo seu aparente abandono da folk e adopção dos blues e do rock and roll, a actriz australiana é exímia no retrato refundido de um dos mais misteriosos e insondáveis ícones da nossa cultura. Não só a fisicalidade é perfeita, como a própria desmistificação do ser humano por detrás do homem é estonteante, especialmente porque retém as características da sua inata contradição. Quando Cate Blanchett, ou Jude, ou Bob Dylan, cantam The Ballad of a Thin Man em frente de uma multidão enfurecida, outra assombração ocorre. Apesar de ainda não ter 40 anos, torna-se uma tarefa ingrata e injusta mencionar apenas alguns dos feitos do seu já impressionante legado. Apesar da proficiência na encarnação destas realidades de forma revigorante, a paixão e entrega à ficção está sempre presente. Algo bem patente na sua última aparição em cinema no drama épico de David Fincher intitulado O Estranho Caso de Benjamin Button, a história de um homem que cresce no sentido inverso, nascendo totalmente envelhecido e rejuvenescendo à medida que os anos passam. Mas é acima de tudo a história de amor de Benjamin e Daisy, interpretada por Blanchett, uma jovem que Button conhece em infâncias permutadas e cujo caminho é repleto de arrebatadores e inesquecíveis reencontros. Finalmente apaixonam-se no meio das suas vidas numa relação condenada à partida.

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Numa carreira que parece traçada com o maior cuidado e minúcia, e não negligenciando a invulgar inteligência da mulher por detrás da actriz, ela é marcada, por admissão própria, por uma série de fortuitas e felizes coincidências. Cate Blanchett é incapaz de explicar o seu processo de caracterização, apenas conseguindo afirmar que ele muda de papel para papel e surge instintivamente. Mas se existe certamente um árduo trabalho de investigação e preparação por detrás de cada um deles, a naturalidade do resultado final é desarmante. Porque no cerne oculto de uma extraordinária e sagrada presença mora o mais honesto retrato de um ser humano em todas as suas inerências. Mas um ser humano que, à semelhança de todos os outros, é capaz de atingir todas as suas potencialidades e tornar-se divino. É este o vertiginoso e eterno milagre de Cate Blanchett.


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capa


EIRO AN J m e . . . s a i utras estre

O

galeiro

POR: Nuno Car

1 de Janeirorai a atenção rilha - m d a u Q e at A a l l lpe ilionário qu RocknRo orquestra um go efão, uma sexy perigoso ch afioso russo Sinopse – Um m s - entre eles, um ões de fundo de quintal. re nd Lo de os id dr de todos os band ico corrupto e meia-dúzia de la lít contadora, um po

neiro as - 8 de Ja Sete Viddo a lista começa com um

Tepos, George Sinopse – Tu Apelgren, Connie ica coisa que ly ol H , as om Th n ún de sete nomes: Be ams, Ezra Turner e Emily Posa. A Ad de viragem na s o la nt ho po ic N um a, Ristucci egaram a ch s do to e qu é ntidos: finaneles têm em comum precisa de ajuda em diferentes se uma destas um osamente cada sua vida, e cada n escolheu cuidad Be e. rio. Mas é Emily úd sa l, ua rit dimir-se ele próp ças, espi re a o od m de , ar ud nsegue uma coipessoas para as aj cardíacos, que co as m le ob pr m co a sentimental. te Posa, uma pacien er com ele de form do mundo… ex m – el ív ss po im ha sa que Ben achava ily transforma a visão que Ben tin Em e qu a rm fo É desta

A Troca - 8 de Janeiro Sinopse – Christine Collin (Angelina Jolie) é uma mãe que ora fervorosamente para que o seu filho Walter (Gattlin Griffith) volte para casa. O menino foi raptado numa manhã de sábado, depois dela ter saído para trabalhar. Com a ajuda de Briegleb (John Malkovich) e após meses de buscas intensas, o rapaz é finalmente encontrado. Mas algo está errado e, no seu coração, Christine desconfia que ele não seja o seu filho verdadeiro.

Marley e Eu - 15 de Janeiro Sinopse – Uma família apr ende importantes lições do seu adorável porém travesso e neurótico cão. Ba seado no livro e na memória de John Grogan. John e Jenny eram jovens, apaixonad os e estavam a começar a sua grandes preocupações, até ao vida juntos, sem momento em que levaram par a casa Marley, “um bola de pêlo amarelo em forma de cachorro”, que, rapidame nte, se transformou num labrador enorme e enc orpado de 43 quilos. Era um cão como não havia outro nas redondezas: arrom bava portas, arranhava parede s, babava em cima das visitas, comia roupa do est endal alheio e abocanhava tud De nada lhe valeram os tranqu o o que pudesse. iliz cola de boas maneiras”, de ond antes receitados pelo veterinário, nem a “ese, aliás, foi expulso. Mas, aci ma de tudo, Marley tinha um coração puro e a sua lealdade era incondicional.

CRÍTICAS

Frost / Nixon - 22 de Janeiro Sinopse – A história conta com o foi a dramática entrevista do Richard Nixon ao apresenta presidente americano dor de TV britânico David Fro st logo após o escândalo político de Watergate, em 197 2. Um Amor de Perdição

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29 de Janeiro

Sinopse – Cinema Português, com base na obra literária de Camilo Castelo Branco, vemos nesta adaptação a tra nsposição para a vida real, ond e as diferenças sociais são retratadas. Com realização de Mário Barroso e argument encontramos no elenco nom o de Carlos Saboga, es como Virgílio Castelo, Ana Moreira, Ana Padrão, Catarina Wallenstein, Patrícia Fra nco e Tomás Alves.ras”, de ond Mas, acima de tudo, Marley tin e, aliás, foi expulso. ha um coração puro e a sua lealdade era incondicional.


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CRÍTICAS


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estrela ascenção

Evan Rachel Wood por: Catarina Oliveira


A descendência francesa e germânica é bem visível pela simultaneidade da delicadeza e harmonia de traços e a imponência de fundos olhos azuis e estatura. 1987 e 1994 distam uns escassos 7 anos, mas foi com essa mesma idade que Evan Rachel Wood deu os primeiros passos numa carreira que viria a ser, anos mais tarde, elogiada e altamente distinguida. Wood iniciou a sua carreira fazendo uma série de pequenas participações em filmes para televisão como A Father for Charlie com o Oscarizado Louis Gossett Jr. A primeira tentativa de incursão pelo mundo do cinema acabou por sair furada; na luta pelo papel de Claudia em Interview with a Vampire, acabou por perder o lugar para Kirsten Dunst. Mas Wood não desistiria do sonho do grande ecrã e, depois de mais algumas participações televisivas, 1998 marca o início oficial da sua carreira cinematográfica. “Penso que foi nessa altura que realmente me dei conta que representar era algo que nunca deixaria de querer fazer” são as palavras de Wood quando relembra Digging to China, o tal marco inicial que contou com a presença de Kevin Bacon.

Cimentado a opinião geral que a considerava “uma das melhores actrizes da sua geração”, seguiram-se Pretty Persuasion (2005), Down in the Valley (2006), Running With Scissors (2006), todos eles independentes (bem como Thirteen), denotando a preferência marcada da jovem actriz e o desinteresse pelos holofotes de Hollywood.

2007 trouxe mais três filmes. O destaque vai para a produção musical nomeada para Globos de Ouro e Óscares, Across the Universe, onde Wood e Jim Sturgess vivem um jovem casal que se envolve nos movimentos de contracultura dos anos 60. Em Janeiro de 2009, regressa às salas portuguesas com o já aclamadíssimo The Wrestler, onde vive a filha do carismático lutador Randy The Ram (Mickey Rourke), e onde se espera não outra que a mesma constância de qualidade e excelência que tem vindo a demonstrar até hoje. Evan Rachel Wood está a chegar, e em grande.

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Todavia 2003 foi o ano que lhe trouxe a definitiva glória com o aclamado porém controverso Thirteen. Wood interpretou Tracy, uma jovem estudiosa que se deixa levar por uma espiral decadente de sexo, drogas e mentiras. A crítica rendeu-se ao talento inegável e foi mesmo nomeada para Melhor Actriz nos Globos de Ouro e nos Screen Actors Guild. Seguiu-se The Missing, de Ron Howard, onde actuou ao lado de Tommy Lee Jones e Cate Blanchett, interpretando a filha desta última.

Estrela CRÍTICAS Ascenção

Alternando entre o pequeno e grande ecrã, o primeiro papel de protagonista de Wood aconteceu em 2002 com a comédia dramática Little Secrets onde viveu Emily Lindstrom, uma menina que aspira a ser violinista e que guarda os segredos de toda a vizinhança. No mesmo ano, ainda participou no filme de ficção científica S1m0ne, protagonizado por Al Pacino.


Os Filmes de 2008

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1 Filho de Rambow - Um Novo Herói 2 The Darjeeling Limited 3 Por Favor Rebobine 4 O Orfanato 5 O Comboio das 3 e 10 6 O Cavaleiro das Trevas 7 Os Fragmentos de Tracey 8 Ensaio Sobre a Cegueira 9 Procurado

Marco A. Paulo

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Este ano teve direito a imensos bons filmes… por estranho que pareça, aqueles que mais acabaria por apostar como sendo grandes obras, foram os que mais facilmente, e rapidamente, me escaparam e ainda hoje tenho pena de tal situação. Não os deixarei de ver num futuro próximo, mas por agora terei de me contentar com os que vi e pensar quais deles são merecedores da minha lista dos 10 melhores filmes do ano. Certamente que a amizade que sobrevive a todas as divergências que possam ocorrer liderou a lista que criei. No primeiro, a amizade de duas crianças sobreviveu quando valores mais fortes, para alguns, limitavam a mesma; no segundo, três irmãos reencontram-se numa viagem que lhes mostra que a união faz a força; no terceiro, a amizade que duas pessoas tinham por alguém que acreditava neles, levou a lutarem para salvar tudo aquilo que restava na vida dessa mesma pessoa. Três filmes, que por variadas razões que vão para além das já mencionadas, são merecedores dos três primeiros lugares. Os restantes filmes, acabam por ser uma amalgama de experiências que acabam por constar da lista por razões bem distintas. Desde a histórias fantásticas, a efeitos especiais que nos fazem sentir dentro do filme, até filmes mais experimentais que criam um estilo único, são vários os nomes que compõem esta lista e que, além de não representar o melhor que 2008 teve, e se calhar até representa, são os que para mim, melhor representam o que este ano senti numa sala de cinema.

POR: MARCO A. PAULO

10 [Rec]


1 Este País não é para Velhos 2 Juno 3 O Lado Selvagem 4 Os Falsificadores 5 Haverá Sangue 6 O Orfanato 7 O Cavaleiro das Trevas 8 Lars e o Verdadeiro Amor 9 Ensaio sobre a Cegueira 10 Expiação

POR: Berto Carvalho os filmesCRÍTICAS de 2008

2008 foi um bom ano para o nosso passatempo favorito, se é verdade que este verão foi algo pobre na quantidade e qualidade de estreias, não é menos verdade que o inicio de 2008 presenteou-nos com muitas obras de grande qualidade . As minhas escolhas recaíram acima de tudo nos filmes que acabaram por me marcar e que sei que daqui a largos anos ainda os vou relembrar e sentir da mesma forma que senti no meu primeiro visionamento, são filmes intemporais que dificilmente cairão no esquecimento. Não houve um filme que se demarcasse de forma muito clara nas minhas preferências, muitos deles poderiam ter acabado em 1º lugar neste top (que não foi nada fácil de fazer), no entanto o escolhido para figurar em primeiro acabou por ser a obra dos irmão Coen, que como sabemos foi o vencedor da anterior edição dos Óscares. O que me fez colocá-lo no topo? É difícil explicar, todos os outros partilham qualidades igualmente merecedoras, mas tudo conjugado foi o filme com o qual mais me liguei, e cuja história e mundo mais me absorveu. 2009 afigura-se como mais um excelente ano, daqui a 12 meses cá nos encontramos para tirar a prova dos nove.

Berto Carvalho

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1 Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street 2 O Cavaleiro das Trevas 3 Ensaio Sobre a Cegueira 4 Expiação 5 Wall-E 6 O Acontecimento 7 Este País Não É Para Velhos 8 I’m Not There - Não Estou Aí 9 Haverá Sangue

Rafael Jorge

os filmes de 2008 29

2008 trouxe-nos, como tem sido habitual, um pouco de tudo. Quanto à minha lista, confesso que o que me guiou foi apenas o coração, e no fundo, como poderia isto ser mentira, se sem paixão não existe Cinema? Indy faz uma aparição nesta lista, devido à grande paixão que tenho pela sua saga, e por ter considerado que esta quarta aventura faz justiça aos capítulos anteriores. “I’m Not There Não Estou Aí”, possui enorme originalidade, e faz um retrato formidável de uma personalidade, ao retratar as suas várias facetas. Shyamalan voltou a mostrar o excelente domínio que tem tanto a nível técnico como a contar uma história. “Expiação” é uma obra dotada de uma força extraordinária, sobre a paixão, os erros e a ingenuidade. A adaptação de Fernando Meirelles do livro de Saramago, sendo talvez difícil de “digerir”, acarreta uma profunda mensagem sobre o desmoronar da sociedade. “WALL-E” é um dos filmes de animação que mais me emocionou, e que não deve ser subestimado, já que não são todos os filmes que alcançam a beleza desde pequeno robô. “O Cavaleiro das Trevas” impôs novos limites na moral do vigilante de Gotham, num filme que é perfeito. O desempenho fenomenal de Heath Ledger é uma das peças fundamentais que move toda a engrenagem no filme de Nolan, que leva todos os valores ao seu extremo. “Sweeney Todd” de Tim Burton, ocupa já um lugar nos meus filmes de eleição. É paixão e arte, apaixonou-me e arrebatou-me. É profundamente belo, e trágico. Um poema sobre a vingança e a alma humana, que nos mostra verdadeira emoção. Esta lista representa assim, as paixões que vivi em 2008 na sala de Cinema, sendo este, um ano que trouxe filmes arrebatadores.

POR: Rafael Jorge

10 Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal


1 Haverá Sangue 2 O Cavaleiro das Trevas 3 Este País Não É Para Velhos 4 O Lado Selvagem 5 I’m Not There - Não Estou Aí 6 Juno 7 A Turma 8 Persépolis 9 Antes que o Diabo Saiba que Morreste 10 WALL-E

POR: Luís Costa os filmes de 2008

Este ano foi um ano com excelentes estreias em Portugal. Os dois primeiros meses foram óptimos pois estavam recheados de nomeados aos mais variados Oscares. Portanto é normal que alguns destes filmes (que até são de 2007) figurem entre os primeiros da minha lista. É interessante verificar que na lista os três primeiros filmes são todos visões um pouco negras e violentas da realidade, com personagens cruéis, egocêntricas e sem escrúpulos. Dos restantes filmes talvez só Antes que o Diabo Saiba que Morreste possui uma abordagem tão negativa da vida. Os filmes que de alguma forma se basearam em factos ou personagens reais também abundam com obras como O Lado Selvagem, I’m Not There - Não Estou Aí e Persépolis. Foi também um bom ano para a animação e isso está aqui representado através de: Persépolis e WALL-E. Em jeito de conclusão posso afirmar que 2008 foi um ano de que gostei bastante, deixando vários filmes que ficarão certamente na minha memória por muito tempo, apesar de não existir um que me tenha marcado tanto como Haverá Sangue, um filme que para além de liderar este top 10, luta por um lugar no meu top 10 geral.

Luís Costa

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1 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias 2 Este País Não É Para Velhos 3 Gomorra 4 Ensaio Sobre a Cegueira 5 Destruir Depois de Ler 6 WALL-E 7 Expiação 8 O Cavaleiro das Trevas 9 Mamma Mia!

Nuno Cargaleiro

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Eleger os melhores filmes num determinado espaço temporal é sempre uma tarefa algo ingrata. Embora existam aqueles que nos marcam de uma maneira especial, há sempre alguns que se mantêm na nossa memória por alguma qualidade revelada, mas que não conseguem equipar outros que concorrem à mesma lista. Para além disso, graças ao atraso de algumas estreias dos filmes, que concorreram aos Óscares passados, a dificuldade fica acrescida. Por isso mesmo, filmes como Este País Não É Para Velhos, Expiação e Haverá Sangue acabam por encontrar lugar nesta lista, embora a sua estreia em Portugal tenha sido no início do ano. Desse modo, as listas nacionais acabam por diferir das estrangeiras. A minha escolha não procurou propositadamente distribuir por entre vários géneros. Contudo, verifiquei que isso acabou por acontecer. Seja na comédia do musical Mamma Mia!, da animação do espantoso WALL-E, na acção e construção dramática de O Cavaleiro das Trevas, na comédia irónica e inteligente de Destruir Depois de Ler, ou na adaptação cinematográfica do maravilhoso Ensaio Sobre a Cegueira. Especial destaque para Gomorra, um dos melhores filmes de sempre sobre a máfia (os fãs de O Padrinho que me perdoem!), e 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias que demonstrou a qualidade que a Palma de Ouro em Cannes lhe atribuiu. Este último consegue ser ao mesmo tempo chocante, emotivo, próximo, real, inteligente, e verosímil. Ainda hoje me recordo do olhar de Otília no jantar de aniversário da mãe do namorado, enquanto que a melhor amiga, a inconsequente Gabita, padecia de cuidados num quarto de hotel. O realismo e a naturalidade de todo o filme é algo que demonstra aquilo que o cinema permite: capturar a realidade e comunicála ao espectador. Para além do facto de revelar o cinema romeno como capaz de uma construção muito superior na sua reprodução do dia à dia das pessoas que retrata. Esta lista talvez seja uma perspectiva muito pessoal, contudo, nenhuma lista deixa de ser algo absolutamente individual e intransmissível.

POR: Nuno Cargaleiro

10 Haverá Sangue


1 Expiação 2 Juno 3 Quantum of Solace 4 Joy Division 5 Fome 6 O Silêncio antes de Bach 7 Tren de Sombras 8 Cavaleiro das Trevas 9 Diário dos Mortos 10 Terra Sonâmbula

POR: Leonor Pinela os filmes de 2008

Como felizmente tenho acesso a bastantes filmes que passam pelos festivais de cinema de Lisboa, nos últimos anos cada vez mais tenho a tendência de abandonar o cinema comercial, pelo que me foi bastante difícil elaborar esta lista. De todos os filmes que vi elejo Expiação como o meu favorito pois foi o que mais me encheu as medidas em três factores que me são importantes: tem uma história que surpreende, é filmado de modo impecável incluindo até um arriscado mas belíssimo plano-sequência e tem bons desempenhos de todos os actores principais, é visualmente estonteante sem perder o rumo ao filme. Depois vêm uma série de filmes de que gostei, Juno, Quantum of Solace, Joy Division, seja por motivos exclusivamente pessoais ou porque superaram de alguma forma as expectativas cinéfilas que tinha para eles. Por fim três filmes que me emocionaram no Indie Lisboa: O Silêncio Antes de Bach, pela sua subtileza, profundidade e pela música, Tren de Sombras, por “disfarçar” o lado antropológico do cinema com uma encenação romântica e Terra Sonâmbula, porque me fez ver um filme português que nunca me fez pensar que era português, mas do mundo. Incluí também o Cavaleiro das Trevas, que apesar de me ter desiludido ainda acho um bom filme, e Diário dos Mortos por ter sido o primeiro filme de zombies de que gostei verdadeiramente.

Leonor Pinela

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1 Expiação 2 O Cavaleiro das Trevas 3 O Lado Selvagem 4 Sweeney Todd: O Terrível Barbeiro de Fleet Street 5 Juno 6 Quantum of Solace 7 WALL-E 8 Brincadeiras Perigosas 9 Haverá Sangue

Pedro Pereira

os filmes de 2008 33

Após um ano de 2008 muito marcado pela greve dos argumentistas, que fez atrasar muitas das grandes produções inicialmente previstas para este ano, pode-se dizer que no final, apesar dos largos períodos sem cinema de inequívoca qualidade, acabamos por ter uma mão cheia de filmes que fizeram toda diferença. Não querendo cair numa análise detalhada dos filmes, que pelo seu lugar na lista já dizem quase tudo sobre as minhas preferências, não posso deixar de fazer três ou quatro destaques de maior. O primeiro será obrigatoriamente para o mau hábito de estreias no nosso país, que faz com que a cada edição dos Óscares, sejamos obrigados a torcer por filmes que não tivemos qualquer oportunidade de ver, o que leva a que apenas os possamos eleger como melhores, numa qualquer eleição de Top, no ano seguinte ao da sua real estreia. Tal leva-me ao segundo destaque, o meu favorito da cerimónia passada, o filme que arrebatou o meu coração este ano, Expiação. A obra de Joe Wright é um exemplo de mestria cinematográfica, com uma fotografia fantástica e uma história portentosa, um filme que concerteza irei rever mais algumas vezes ao longo da minha vida. O terceiro destaque vai para as minhas grandes surpresas de 2008. Nesta categoria incluo o excelente remake Brincadeiras Perigosas, que apesar de nunca ter visto o filme original de Michael Haneke, fiquei deliciado com esta nova versão do mesmo realizador. Incluo também WALL-E, não tão bom como Ratatouille (2007), mas ainda assim suficientemente bom para estar neste Top10, o magnifico Quantum of Solace, o melhor Bond de todos os tempos e ainda o grande Joker do malogrado Heath Ledger, que elevou O Cavaleiro das Trevas para um patamar completamente inesperado. Por fim, destaque para os esquecidos O Sabor do Amor, Tropa de Elite e o surpreendente O Golpe de Baker Street, bem como para os filmes que não tive oportunidade de ver e que por isso não podem ter lugar na lista.

POR: Pedro Pereira

10 I’m Not There - Não Estou Aí


1 Haverá Sangue 2 O Segredo de um Cuscuz 3 A Turma 4 A Fronteira do Amanhecer 5 Mal Nascida 6 Os Amores de Astrea e Celadon 7 Nós Controlamos a Noite 8 Aquele Querido Mês de Agosto 9 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias 10 Este País não é para Velhos

Em apenas um ano, calhou estrear-se por cá o maior filme norte-americano desde Magnólia chamado Haverá Sangue e uma das mais sublimes incursões pelo cinema verité europeu, O Segredo de um Cus-

cuz.

POR: Luís Mendonça os filmesCRÍTICAS de 2008 34

PT Anderson e Abdel Kechiche fabricaram imagens de poderosa humanidade e deram vida a duas das personagens mais singulares do cinema recente: Daniel Plainview (interpretado pelo actor do ano, Daniel Day-Lewis) e Slimane Beiji (o Ventura de 2008?). O ano foi excelente para o cinema europeu. Desde logo, destaco A Turma, a segunda Palma de Ouro a estrear nas salas portuguesas este ano, a seguir ao assombroso filme de Cristian Mungiu. Depois houve o regresso – que é sempre uma ressurreição fantasmática – de Philippe Garrel. Foi através da sua câmara que vi “o plano do ano”: aquele em que Garrel (pai) inventa no reflexo de um espelho o contra-campo de Garrel (filho), no momento em que este se despede do seu primeiro (e único?) grande amor. Por falar em cinema francês, por falar na nouvelle vague, por falar em amor, o que dizer da coerência estética – e ética – do universo de Eric Rohmer? Os Amores de Astrea e Celadon foi, sem espanto, o filme mais moderno de 2008; obra fulgurante sobre a essência do Cinema. A mesma que James Gray procura forjar em Nós Controlamos a Noite, filme que evoca o Lumet, Friedkin, Scorsese e Coppola dos anos 70 e que, ao mesmo tempo, não deixa de se deslumbrar (secretamente) com o último grito do progresso tecnológico: a cena da perseguição, pejada de CGI, é o efeito especial do ano, aquele que posiciona Gray como o grande falsário pós-De Palmaniano. Outro acto de precisão foi Este País não é para Velhos, filme que vai muito para lá da personagem mal resolvida de Javier Bardem: há Tommy Lee Jones num papel secundário (o outro actor do ano) e o melhor dos Coen investido num minucioso trabalho de montagem. Não estiveram sós nesta matéria: Miguel Gomes cria toda uma encantadora e encantada viagem pelo interior português a partir da mesa de montagem. Ainda em Portugal, Canijo dá sequência a Noite Escura e volta a filmar uma tragédia. Mal Nascida é um enorme exercício de mise en scène. Aqui como em qualquer parte do mundo.

Luís Mendonça


1 Expiação 2 [REC] 3 Wall.E 4 Cavaleiro das Trevas 5 Orfanato 6 Juno 7 Haverá Sangue 8 Sweeney Todd 9 Destruír Depois de Ler

Catarina Oliveira

os filmes de 2008 35

Dificultando a já árdua tarefa de elaborar uma lista com apenas 10 dos melhores filmes do ano, 2008 foi um ano pleno em variedade e com fortes pinceladas de qualidade em determinados momentos. Contrariamente ao que a maioria possa pensar, a arte de fazer rir tem tanto de complexa como de difícil. Não deixo de notar o quão raro é ver comédias com lugar de destaque neste tipo de listas, e 2008 até foi um ano regado por boas fitas cómicas. O meu tributo às comédias personifica-se nas presenças do enérgico e irresistível Mamma Mia!, o negro e hilariante Destruir Depois de Ler e a grandiosa comédia dramática e surpresa do ano, Juno. Afinal, rir é o melhor remédio. Numa cidade de Londres em tons escuros salpicados pelo vermelho vivo de sangues alheios, o mestre Tim Burton tem também, invariavelmente, a sua marca com a brilhante vingança musical do barbeiro Sweeney Todd. Também uma nota especial para o excepcional e perturbante Haverá Sangue, marcando o regresso do grande homem do método, Daniel Day-Lewis! Duas das mais carismáticas personagens do ano surgem de filmes tão distintos como azeite e água. Wall.E e O Cavaleiro das Trevas são duas das grandes esperanças para os Óscares da Academia de 2009, sendo o primeiro tão excepcionalmente conseguido que corre sérios riscos de ser a segunda animação da história a concorrer na categoria de Melhor Filme. Não poderia esquecer-me de incluir “nuestros hermanos” nesta listinha . Num renascimento do género de terror, Orfanato e [REC] são duas das revelações do ano; duas arrepiantes e sublimemente dirigidas histórias que nos fazem acreditar novamente que o terror de excelência ainda respira. Gracias! A encabeçar a lista está aquele que é, para mim, o filme mais completo do ano. Expiação. Uma direcção irrepreensível, fotografia espantosa e banda sonora singular aliam-se a interpretações poderosamente portentosas e um argumento absolutamente apaixonante que até tem direito ao seu quê de thriller. Extraordinário. 2008 já está nas últimas; 2009 afigura-se como cheio de grandes promessas para o cinema. Por isso, para o ano, cá estarei de novo. Mesmo sítio, mesma hora?

POR: Catarina Oliveira

10 Mamma Mia!


1 Este País Não é Para Velhos 2 Haverá Sangue 3 Nós Controlamos a Noite 4 Sedução, Conspiração 5 O Cavaleiro das Trevas 6 Wall-E 7 I’m Not There 8 O Voo do Balão Vermelho 9 Antes que o Diabo Saiba que Morreste 10 A Fronteira do Amanhecer

POR: Nuno Gonçalves os filmes de 2008 36

Não se pode afirmar que o ano de 2008 tenha sido abastado em inumeráveis estreias de grandes obras cinematográficas, mas a realidade é que no meio de muitos lançamentos desinteressantes se elevaram uma série de filmes cujo valor não pode ser menosprezado. Foi um ano especialmente favorável para o cinema europeu cujo exemplo máximo terá sido o assombroso romance de Phillipe Garrel com A Fronteira do Amanhecer. Também em terreno parisiense teve lugar O Voo do Balão Vermelho, um absorvente pedaço de vida do realizador chinês Hou Hsiao-Hsien. Trocando as anteriores e audaciosas experiências no cinema ocidental, Ang Lee regressa às origens com Sedução, Conspiração, um tentador e assombroso conto de lascívia e espionagem no pós-guerra. É no entanto de destacar a força autoral do cinema americano, mais ou menos independente. Trouxe o regresso de valores clássicos como o de Sidney Lumet em Antes que o Diabo Saiba que Morreste e a consagração de muitos outros. É o caso da perícia cénica esquizofrénica de Todd Haynes em I’m Not There na construção da mais audaciosa biografia a surgir na última década. Surge também Nós Controlamos a Noite, o drama policial de enorme envolvência emocional de James Gray. Os grandes filmes do ano são no entanto Haverá Sangue e Este País Não É Para Velhos, respectivamente de Paul Thomas Anderson e dos irmãos Coen, duas obras tão divergentes que encontram o mesmo chão no derrubamento dos limites de um género tão circunspecto, evidenciando que as possibilidades do cinema continuam infindáveis. Não esquecendo no entanto os dois filmes que mais terão facturado no mundo e que também figuram no melhor que a 7ªarte nos deu em 2008: o fenomenal prodígio de animação que é Wall-E e na extasiante redefinição do blockbuster e do vulgo comic-book-movie em O Cavaleiro das Trevas.

Nuno Gonçalves


1 O Lado Selvagem 2 Juno 3 Os Falsificadores 4 Este País não é para Velhos 5 Ensaio sobre a Cegueira 6 Haverá Sangue 7 O Orfanato 8 Austrália 9 Lars e o Verdadeiro Amor

os filmes de 2008

Sónia Carvalho

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2008 revelou-se um bom ano em termos cinematográficos, o que acabou por complicar a ordenação daqueles que eu considero como sendo os melhores filmes do ano que passou. As minhas escolhas baseiam-se muito nos sentimentos que os filmes me despertaram e O Lado Selvagem revelou-se a grande surpresa deste ano. Sean Penn, além de ser um excelente actor, provou-nos que também sabe realizar. Uma história simples mas ao mesmo tempo muito envolvente que conseguiu tocar muitos corações e deu-nos a conhecer a história de Chris McCandless, magistralmente interpretado por Emile Hirsch. Na 2ª posição surge o filme independente que surpreendeu ao ser nomeado para os Óscares de 2008. Gostei da forma como Diablo Cody conseguiu falar de temas sérios sem ser deprimente e da interpretação de Ellen Page. Os próximos lugares da lista são ocupados por filmes que contêm uma carga dramática forte. Os Falsificadores é passado num campo de concentração; Este País não é para Velhos foi o grande vencedor dos Óscares e acompanha a tentativa desesperada de Llewelyn Moss para escapar ao psicopata Anton Chigurh; e Ensaio sobre a Cegueira que com a história de Saramago, a realização de Fernando Meirelles e as excelentes interpretações convenceram-me a colocá-lo na 5ª posição.

POR: Sónia Carvalho

10 O Corpo da Mentira


1 Haverá Sangue 2 A Turma 3 WALL-E 4 Corações 5 O Acontecimento 6 A Fronteira do Amanhecer 7 Os Amores de Astrea e Celadon 8 Nós Controlamos a Noite 9 Austrália 10 Aquele Querido Mês de Agosto

POR: Carlos Pereira os filmes de 2008

Num ano de magnífico cinema, o destaque vai para o regresso de PT Anderson. Já falaram de Haverá Sangue como o primeiro Citizen Kane do novo milénio, e é-o de facto. Trata-se do complexo regresso às origens de uma nação, numa batalha interior de ambição, religião, sangue e demência. Da América continuam a vir fascinantes cumes cinematográficos, como a primeira meia-hora de WALL-E, sem uma única palavra; a redenção de Bobby em Nós Controlamos a Noite; ou a redescoberta do amor como força no prodigioso filme de M. Night Shyamalan, o incompreensivelmente subvalorizado O Acontecimento. Austrália, de Baz Luhrmann, prova que a gigante máquina de produção não aniquila forçosamente o humano. Cinema francês? O novo Garrel, o novo Rohmer, o novo Resnais, tudo obras-primas com a maior consciência moderna, sem abandonar a linguagem dos primórdios. Três filmes que condensam à essência àquilo que verdadeiramente interessa. E depois existem óvnis, como A Turma, de Laurent Cantet, que nos vêm relembrar a importância de olhar, de repensar o mundo e as suas contradições, levantando as questões mais relevantes. E depois é impossível esquecer Aquele Querido Mês de Agosto, de Miguel Gomes, olhar cirúrgico sobre Portugal – ou o cinema português à procura de um lugar.

Carlos Pereira

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1 Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street 2 O Cavaleiro das Trevas 3 Ensaio Sobre a Cegueira 4 Expiação 5 Wall-E 6 O Acontecimento 7 Este País Não É Para Velhos 8 I’m Not There - Não Estou Aí 9 Haverá Sangue 10 Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Saíram bons filmes para o grande ecrã este ano mas, infelizmente, o meu tempo disponível para os ir ver ou pelo menos a maioria foi muito pouco. Ainda assim consegui ver cinema de qualidade e cumprir os meus três objectivos cinematográficos do ano que eram ver os filmes Sweeney Todd: O Ter-

Álvaro Banaco

os filmes de 2008 39

Juno foi uma surpresa, conquistou-me com a sua história simples e um argumento muitíssimo bem escrito e com a presença de Ellen Page que já tinha mostrado a sua qualidade em Hard Candy. Destruir Depois de Ler foi mais um filme dos irmãos Coen de que gostei, não superior a Fargo mas agrada com aquelas personagens recheadas de um pouco de loucura. No género terror fiquei agradavelmente surpreendido com O Orfanato e [REC] a mostrarem que ainda se fazem bons filmes de terror hoje em dia criando boas atmosferas e proporcionando alguns sustos. Haverá Sangue, um dos favoritos do ano, tem um grande argumento que envolve família, religião e dinheiro e conta com uma excelente prestação de Daniel Day-Lewis vencedor do Oscar de Melhor Actor. E falando em actores, a presença de Russel Crowe e Christian Bale em O Comboio das 3 e 10 confirmam um grande filme com duas excelentes personagens bastante diferentes que criam uma ligação muito interessante. E como a animação não pode faltar, WALL-E é merecedor de estar neste Top, com personagens marcantes e uma história a lembrar os grandes filmes mudos com também grandes referências ao cinema. Para toda a família e para rever. Chegando ao Top 3. O Assassíno de Jesse James agarrou completamente a minha atenção com uma boa história, boas representações, Jesse James e as belas paisagens mostradas. O Lado Selvagem mostra a magia do cinema ao fazer sonhar todos aqueles que gostariam um dia ter a coragem de fazer o mesmo que Chris McCandless fez na sua viagem pela vida, é um filme obrigatório. Para filme do ano escolho Sweeney Todd, que foi o que mais me marcou pela sua intensidade, beleza, argumento, surpresa e actuações. Fiquei completamente colado à cadeira durante o tempo todo e foi o único filme que vi duas vezes.

POR: Álvaro Banaco

rível Barbeiro de Fleet Street (Sweeney Todd), O Assassíno de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford (O Assassíno de Jesse James) e o WALL-E.


1 O Assassínio de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford 2 Haverá Sangue 3 The Darjeeling Limited 4 O Comboio das 3 e 10 5 Austrália 6 Sweeney Todd: O Terrível Barbeiro de Fleet Street 7 I’m Not There - Não Estou Aí 8 Expiação 9 Em Bruges 10 Juno

Um top dos dez melhores filmes de um ano regese sempre, para além das questões óbvias como a subjectividade, por certas questões logísticas incontornáveis, ou seja, são um top formulado a partir dos filmes vistos por um cinéfilo, e não por todos os filmes lançados, já que, infelizmente, nunca há tempo para ver tudo.

POR: Maria Carvalho

Mas mesmo dentro dos filmes vistos há aqueles que ficam connosco, os que ainda hoje, passados tantos meses, recordamos vividamente e que estão intimamente unidos pelo nosso gosto pessoal, pelos sentimentos que nos provocaram e provocam. No caso da minha lista, pode-se traçar quase uma linha palpável entre os dois estilos de filmes, de um lado a tragicomédia agri-doce, como The Darjeeling Limited, Em Bruges e Juno, de outro os westerns que não parecem viver no nosso tempo, como O Comboio das 3 e 10, Haverá Sangue e principalmente O Assassínio de Jesse James

pelo Cobarde Robert Ford.

os filmes de 2008

A habitar na linha entre estes dois géneros há espaço para tudo, por vezes tudo no mesmo filme, como no magnífico Não Estou Aí de Todd Haynes; ou uma mistura de filme de guerra e drama, em Expiação, e ainda um clássico há moda antiga, como Austrália, e até mesmo um musical sangrento como Sweeney Todd.

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A qualidade de todos estes filmes poderá ser questionada, afinal, esta é apenas a minha humilde opinião! Não obstante, a verdade é que daqui a uns anos, quando me perguntarem que filmes me marcaram neste ano, ainda me irei certamente lembrar destes filmes que aqui menciono, e valha isso o que valer, já é alguma coisa…

Maria Carvalho


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os filmes de 2008


Cinema Português

Juventude em Marcha por: Carlos Pereira

cinema português

Pedro Costa é sem dúvida dos cineastas mais inquietantes dos últimos anos. Desde que se estreou com O Sangue, em 1989, Costa não tem cessado de crescer. Repensemos Juventude em Marcha, o seu último filme estreado em Novembro de 2006, e descortinemos os sinais de esperança que o seu cinema comporta. Voltamos às Fontainhas, bairro suburbano, que já tínhamos visitado em Ossos e em No Quarto da Vanda. Um lugar filmado como se fosse um outro mundo, um outro tempo. Talvez seja ficção científica e não saibamos. Costa tem conhecimento de que o cinema é uma arte do tempo, e o que ele filma em Juventude em Marcha é a lembrança do que foi e do que já não é. Ao tentar não apagar as memórias, a não as deixar cair no esquecimento, cria um conjunto de milagres.

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Os moradores das Fontainhas, após a demolição do seu bairro, são conduzidos para novas casas: um novo mundo urbano que aniquila, porque marginaliza, as suas especificidades. E no entanto há focos de luz, há a Vanda e a sua criança, há o mais belo poema do mundo em infinita construção (”Às vezes tenho medo de construir esta parede/Eu, com picareta e cimento/E tu, com o

teu silêncio/Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento”), e há Ventura. O pai Ventura, o herói Ventura, acarretando às costas as feridas do universo perdido. Um rasgo de humanidade, portanto, capaz de reconstituir no olhar todo um altruísmo paternal. As Fontainhas formavam, de certo modo, uma cartografia de afectos que este mundo geométrico já não pode oferecer, e Ventura é o elo de ligação entre passado e presente. Marcha lenta? Não, pelo contrário. Demasiado alarmante, veloz. Um apelo contra o ritmo ilusório dos efeitos especiais, demolidor das imagens ocas. Em Juventude em Marcha sentimos efectivamente os acontecimentos, do presente e do espaço off, e somos atingidos por todas as perturbações e oscilações em estado bruto. Trabalho prodigioso, também, de indistinção entre documentário/ficção - existe uma base, uma verdade, e Pedro Costa reinventa um mundo sem nunca, no entanto, se afastar das suas necessidades e da sua índole. Objecto de vanguarda, claro.


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O Universo DE

DAVID FINCHER por: Pedro Pereira


David Fincher é indiscutivelmente um dos realizadores americanos mais talentosos do momento. Os seus filmes marcadamente negros e enigmáticos, com personagens fortes e misteriosas e twists finais imprevisíveis, têm dado origem a inúmeros blogs a si dedicados na internet, que procuram acima de tudo espelhar todo o efeito que os seus filmes tiveram e continuam a ter sobre toda uma geração. Como tal, aproveitando o ansiado lançamento no nosso país de O Estranho Caso de Benjamin Burton, um filme que promete mostrar uma nova vertente de todo um imaginário de David Fincher, a Red Carpet aproveita o momento para decalcar toda a carreira do talentoso realizador americano, incluindo os aspectos mais importantes do seu estilo cinematográfico.

A carreira de Realizador…

Apesar da experiência na ILM ter sido muito importante para o seu desenvolvimento profissio-

nal, foi apenas quando abandonou a ILM para fazer o seu primeiro trabalho como realizador, que Fincher teve finalmente o seu primeiro momento de glória. O anúncio chocante para a Sociedade Americana Contra o Cancro, que mostrava um bebé ainda embrionário a fumar foi um sucesso e depressa surgiram novas oportunidades para a evolução na carreira. Neste período de crescimento profissional, David Fincher foi um dos realizadores mais desejados para a realização de anúncios televisivos e de premiados videoclips musicais, tendo inclusivamente trabalhado com Rick Springfield, Mark Knopfler, Sting, Madonna, Aerosmith, Billy Idol e George Michael no campo musical e Nike, Adidas e Levi’s entre outros no campo televisivo. Todos estes anúncios e videoclips tiveram a sua marca própria, procurando-se focar essencialmente nas pessoas e na curta história que estava a contar, deixando para segundo plano a publicidade irrealista e inverosímil que habitualmente era (e ainda é) utilizada.

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Nascido em Denver, Colorado em 1962, David Leo Fincher descobriu o seu talento para o cinema com apenas 8 anos, quando inspirado pelo filme Butch Cassidy and the Sundance Kid, pegou na câmara de filmar de 8mm dos seus pais e começou a fazer os seus pequenos filmes. No entanto, só em 1980 ao ver a segunda parte de A Guerra das Estrelas, O Império Contra-Ataca é que finalmente se decidiu a enveredar pelo género cinematográfico. Desprezando a experiência académica cinematográfica, Fincher começou como operador de câmara na empresa de John Korty, a Korty Films. Contudo esta experiência não durou muito, sendo que depois de uma breve passagem por uma empresa de animação, começou aos 18 anos a trabalhar para a Industrial Light and Magic (ILM) de George Lucas. Na ILM, David Fincher permaneceu alguns anos, tendo evoluído a trabalhar em filmes importantes tais como O Regresso de Jedi (1983) e Indiana Jones e o Templo Perdido (1984).

O Universo DE DAVID FINCHER

Como tudo começou…


O Cinema segundo David Fincher…

O Universo DE DAVID FINCHER 46

Alien 3 - A Desforra (1992) é o filme que marca a estreia de David Fincher como realizador de cinema. O filme não foi a melhor das experiências para o realizador americano. Isto porque a rodagem e montagem do filme foi sempre rodeada de polémica com a 20th Century Fox que entre lutas sobre argumentos e orçamentos, tentou a todo o custo que o filme fosse diferente do que Fincher pretendia fazer. Segundo ele, apesar de aquele ter sido até então, o filme mais caro a ser realizado por um estreante, os produtores do filme não depositavam a confiança necessária nele e estavam mais interessados em fazer um filme rentável, do que propriamente um bom filme. De qualquer forma, apesar do falhanço nas bilheteiras e de o produto final não ser exactamente aquilo que Fincher desejava fazer, o filme contém ainda assim algumas daquelas que viriam a tornar-se imagens de marca do realizador, ou seja, os ambientes obscuros e claustrofóbicos, as personagens dúbias e anti-morais e o autosacrifício do ser humano. Contudo a má experiência marcou-o de tal forma, que mais tarde veio a negar participar no comentário áudio feito para o box-set de DVD Alien Quadrilogy e retirou o filme da sua filmografia nos lançamentos para DVD dos filmes

Clube de Combate e Sala de Pânico.

O desaire que foi Alien 3, fez com que David Fincher recuasse novamente para o seu terreno seguro, a publicidade e videoclips. Contudo os seus constantes sucessos levaram-no a um dos pontos altos da sua carreira cinematográfica, em 1995, através da adaptação de um argumento de Andrew Kevin Walker, que contava história de dois policias que perseguiam um assassino em série que matava segundo os conhecidos Sete Pecados Mortais. O filme de nome Se7en - Sete Pecados Mortais, contou com Morgan Freeman, Kevin Spacey e Gwyneth Paltrow em alguns dos principais papéis, mas foi Brad Pitt quem verdadeiramente foi a estrela mediática que catapultou o filme para os headlines de Hollywood. Em Se7en, Fincher é brutal na forma como demonstra os violentos crimes, minucioso na forma como vai revelando a identidade do assassino e simultaneamente explora o lado negro e dramático da psicologia das suas personagens. Além de tudo isto, Fincher é ainda inteligente e audaz ao colocar a cabeça de Gwyneth Paltrow numa caixa, uma cena chocante que uniu o realizador ao elenco uma vez mais contra uma produtora (desta vez a New Line Cinema), que lutava para alterar a cena final do filme, algo que apenas não conseguiu devido às ameaças de Brad Pitt e David Fincher em abandonar o filme. No final, o filme lucrou 300 milhões de dólares


Após o sucesso que foi Se7en, foi com desalento que o público recebeu a sua obra seguinte O Jogo (1997). O filme que até foi bem recebido pela crítica, aparentava muitas semelhanças com Se7en, a história era obviamente diferente, mas os seus já tradicionais ambientes sombrios, o uso de silhuetas com cara escondida na sombra e a personagem principal (Michael Douglas) psicologicamente alterada por circunstâncias reais “irrealistas” que o levam ao desespero final, não foram suficientes para fazer singrar o filme nas bilheteiras.

O Universo DE DAVID FINCHER

em todo o mundo e abriu por completo as portas de Hollywood para David Fincher.

Em 1999, David Fincher vive aquele que para muitos é o momento mais alto da sua carreira. O filme Clube de Combate, mais conhecido pelo seu título original Fight Club, representa o auge da criatividade do realizador. Neste filme adaptado da obra invulgar de Chuck Palahniuk sobre um trabalhador com insónias que abre um clube de combate exclusivo, com regras bastante especiais, Fincher recria com mestria tudo aquilo que explorou nos seus anteriores filmes, juntando-lhe ingredientes únicos e polémicos de lutas anti-sociais, personalidades distorcidas e efeitos visuais chocantes. À imagem de O Jogo, o filme não foi um sucesso de bilheteiras estrondoso, mas viria a fazer milhões no mercado de vídeo e DVD, constando até hoje nos tops de preferências das maiores revistas internacionais de cinema. Fight Club marcou ainda positivamente as carreiras dos actores principais Edward Norton, Helena Bonham Carter e Brad Pitt, o actor fetiche de Fincher, que interpretando irrepreensivelmente a personagem Tyler Durden entrou para a história do cinema. Depois de Fight Club, David Fincher decidiu baixar o ritmo, filmando apenas mais dois filmes em sete anos. Sala de Pânico (2002) é o parente pobre da sua filmografia (isto se excluirmos o rejeitado Alien 3), o filme protagonizado por Jodie Foster e Forest Whitaker consistia numa premissa simples de uma casa com um quarto inviolável, que quando assaltada, leva uma mãe e uma filha a fecharem-se na dita divisão. A tentativa de filmar em planos curtos e claustrofóbicos é indiscutivelmente bem conseguida, sendo que todo o ritmo do filme desenrola-se em torno de uma marca exclusivamente “Fincheriana”. Contudo é no argumento que existe a grande falha, a decomposição de alguns personagens importantes é demasiado simplista e a imprevisibilidade bastante acentuada nos filmes anteriores do realizador torna-se assim menos imprevisível, o que leva ao menor envolvimento do espectador com o filme.


Zodíaco (2007) marca a primeira adaptação de acontecimentos reais ao cinema por parte de David Fincher. O filme protagonizado por Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo e Robert Downey Jr. é adaptado da obra de Robert Graysmith que explora os casos referentes à perseguição nos anos 70 do famoso assassino do Zodíaco. Apesar de Zodíaco ter estado regularmente presente na maior parte dos tops sobre os melhores filmes do ano, o filme acabou por não ganhar qualquer dos maiores prémios de cinema.

Futuros Projectos…

Além de O Estranho Caso de Benjamin Burton que volta a juntar o realizador com Brad Pitt e que estreia em Portugal já este mês, David Fincher tem já acordado a realização do filme Ness, onde voltará a contar com a colaboração Jake Gyllenhaal e ainda de Matt Damon na adaptação ao cinema da obra de Marc Andrevko, Torso. Outro projecto que Fincher tem o nome fortemente associado é o de Heavy Metal, um filme animado produzido pela Paramount baseado na BD com o mesmo nome.

O Universo DE DAVID FINCHER 48


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RocknRolla versus Snatch POR: Nuno Cargaleiro Com o regresso de Guy Ritchie ao seu velho estilo provoca comparações inevitáveis entre o seu actual RocknRolla, e o mais conhecido filme da sua anterior cinematografia: Snatch. De modo a auxiliar o espectador no que esperar deste novo projecto, a revista Red Carpet incide no assunto, comparando semelhanças e diferenças entre ambos, de modo a que cada um determine por si o que existe de criatividade em RocknRolla, o que é baseado em projectos anteriores, e simplesmente aquilo que se mantém que é indispensável. - A cena decorre por entre o mundo underground do crime de Londres - Andam todos à caça de um diamante. - Todas as personagens de relevo são masculinas. - Deu visibilidade internacional a Jason Statham, que era para ser o protagonista de RocknRolla. - Os corpos de cadáveres são dados como comida a porcos. - Brad Pitt, na altura já uma estrela de Hollywood, baixou o seu cachet para poder participar. - Existe uma personagem viciada em jogo. - Ritchie cruza personagens de diferentes nacionalidades: irlandeses, britânicos, russos e americanos. - O enredo tinha como cenário o mundo do boxe. - Nunca houve perspectivas de uma sequela.

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- O cenário é Londres, e as personagens situam-se entre a elite das figuras do crime. - Existe um quadro roubado, que se torna no alvo de cobiça pelo elenco. - A sensual Stella de Thandie Newton e a exótica June (Gemma Arterton) são as mulheres de um elenco carregado de testosterona. - Apostou no talento, pouco conhecido internacionalmente, de Toby Kebbell. - Os lagostins são o mecanismo de eleição para fazer desaparecer cadáveres. - As únicas figuras americanas de relevo são Jeremy Piven e Ludacris, sendo o resto britânico. - Existe uma personagem importante que é dependente de drogas. - Verifica-se a presença de personagens russas, britânicas, e americanas. - O argumento centra-se no mundo dos negócios de imobiliário ilícitos em Londres. - Escrito com o objectivo de dar origem a mais dois filmes.


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Sob o Signo De

Ugetsu Monogatari por: Nuno Gonçalves

O nome Kenji Mizoguchi parece ainda hoje não ter a mesma relevância ou reconhecimento para o grande público quanto, por exemplo, Jean Luc Godard ou o conterrâneo Akira Kurosawa. No entanto ambos consideravam-no como um mentor e o reflexo máximo do papel do realizador enquanto criador de arte. Ugetsu Monogatari, ou em português Contos da Lua Vaga, é uma das suas mais reputadas obras e talvez a crucial para a sua imortalização a nível global. Inspira-se em fontes quase opostas - dois contos tradicionais de Akinari Ueda do sec. XVIII e uma história do escritor francês Guy de Maupassant – e localiza-as temporalmente numa época de grande tumulto da História do Japão, o período Sengoku, de guerra constante entre diversas facções de poder e estatuto social. É por isso interessante que saliente as aparentemente singelas histórias de ambição de dois irmãos. Um deles, Genjuro, percebe que os tempos instáveis e bélicos são ideais para a proliferação de uma fortuna feita através da venda da sua cerâmica. O outro, Tobei, entende que a guerra incessante é o palco de sonho para finalmente desfazer a pele de camponês e se tornar num grande herói, um samurai. Ambos parecem ignorar as suas mulheres nos apelos, mais ou menos audíveis, de contenção em tamanhas aspirações. São forçados a abandonar a sua aldeia por um grupo de soldados insurgentes e decidem trilhar um perigoso caminho até à cidade para concretizarem os seus desejos, sem olhar a consequências.

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Pode-se dizer que Contos da Lua Vaga é um ensaio doloroso sobre estes sonhos ilusórios e fatais que colocam em perigo vivências de fortuna oculta na busca doentia de fama e glória, aqui num decadente cenário de guerra. É interessante a forma como Mizoguchi estabelece este espelho de antiguidade numa época de explosivo desenvolvimento e modernismo, os anos 50, utilizando-o como metáfora dos perigos eminentes de tão desenfreada ambição. Esta é atribuída especialmente aos protagonistas masculinos, que insatisfeitos com as suas pacatas existências procuram ferozmente aquilo que pensam que os vai aproximar da derradeira felicidade. O contraste é


mos à cruel morte da sua mulher Miyagi às mãos de bandidos vorazes que a assassinam para roubar a última comida que lhe resta. Tudo isto parece reforçar a teoria hipotética que Miyagi e Wasaka são essencialmente duas faces da mesma mulher. Quando Genjuro está no mercado, imediatamente antes de cruzar olhares com Wasaka pela primeira vez, tem uma visão da mulher na sua casa depois de a presentear com dispendiosos quimonos, a sua interpretação do que a fará feliz, mesmo quando ela já lhe tinha expressado, aquando de uma oferenda similar, que a única coisa que lhe era importante era o seu amor. Depois de quebrada a ilusão de Genjuro ele volta a casa apenas para, num primeiro olhar, a encontrar vazia e fria. Num plano interrupto de intervenção divina, Mizoguchi segue-o enquanto deambula pela casa e o seu exterior até encontrar Miyagi no centro da sala que há alguns segundos se encontrava envolta na penumbra. Apesar do próprio só ter noção da fantasia no dia seguinte, o espectador sabe que se trata também de um fantasma. Mas este é dócil e salvador, como que a perdoar Genjuro por tudo o que tinha acontecido e urgir que a partir daquele momento viva com a honestidade que sempre conheceu, honrando assim a sua memória. Contos de Lua Vaga é uma obra de irrevogável perpetuidade, uma avaliação alegórica do sentido da vida. Nesta fábula vivem personagens, vivas ou mortas, que batalham com os seus demónios interiores e a inadequação da condição ditada pelo exterior, incapazes de vislumbrar a luz da redenção antes de quase tudo perderem. Por estes aspectos, e inumeráveis outros, trata-se de uma das maiores manifestações de Humanidade em cinema. Talvez por isso seja um filme que, cada vez que é (re)descoberto, parece capaz de mudar uma vida.

sob o signo de

de um rio envolto em neblina mostrando que as personagens passam a existir em ambos os mundos. Um dos capítulos mais importantes da história pertence a Genjuro que, quando finalmente chega à cidade para vender a sua cerâmica, se deixa encantar com os elogios de Dama Wasaka, uma estranha senhora da nobreza que, envolta num véu imaculado e se faz ouvir através de uma criada, expressa a sua admiração pela sua arte. Genjuro mais tarde é também enfeitiçado pela sua pura beleza, mas a mesmerização começa mesmo quando ela reconhece aquilo que ele há muito cobiçava: não o utilitarismo da sua cerâmica mas a sublimidade da arte e de todo o trabalho que morava por detrás. Esta é uma temática também invulgar, a do artista sedento por autenticação, que pode ser muito nefasta e destrutiva quando finalmente alcançada. E enquanto a mulher procura o regresso a casa com o filho de ambos às costas numa terra minada por guerra, ele deixase seduzir por esta misteriosa figura. Viaja até ao seu palácio, inicialmente envolto em sombras, mas que subitamente ganha vida numa luz frágil. No desenrolar deste romance proibido percebemos que ela se trata de uma alma que já não pertence ao mundo dos vivos e encontra em Genjuro, tal como ele nela, o veículo para a materialização de sonhos nunca alcançados. Mizoguchi demonstra uma mestria infinita na forma como polariza os dois planos: o real é provido de uma visão quase documental das agruras da guerra, sujo e impiedoso; o dos espíritos é ingénuo, etéreo e de uma beleza raramente transposta na tela de cinema. Existe uma cena, talvez das mais pungentes da História da 7ªarte, em que vemos Genjuro com Wasaka, deliciado nos prazeres bucólicos e celestiais do outro mundo. Enquanto isso assisti-

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dado pelas suas esposas, que apenas parecem ambicionar a manutenção de uma vida desprovida de luxo mas plena de contentamento. Retratadas como heroínas numa época em que o papel da mulher era ainda muito menosprezado, são elas a força moral e núcleo emocional da história, cujos sacrifícios e amor pelos maridos parecem não ser suficientes para os mesmos, que só os reconhecem tarde demais. Aí percebem a irreversibilidade dos seus actos e o subterfúgio emocional que encontraram na procura da riqueza e aclamação. Todos estes temas parecem ser centrais na obra de Mizoguchi, um realizador reconhecido pela sua meticulosa encenação e revolucionária utilização da câmara enquanto expressão do olhar. É quase sempre necessário exercer um paralelismo com outro grande cineasta da altura, Yasujiro Ozu, ambos reconhecidos pela atenção dada ao detalhe cénico e interpretativo, instaurando nos seus filmes longes cortes contínuos que compunham uma única cena, atribuindo-lhes assim uma fluidez visual e narrativa sem antecedentes no cinema japonês. No entanto diferem em algo notável: enquanto a câmara de Ozu se mantém sempre estática como se estivesse a observar na primeira pessoa, a de Mizoguchi nunca está imóvel nem mesmo quando aparenta estar. Como que de um olhar divino se tratasse ele desloca-a em cena não só horizontalmente mas prioritariamente em movimentos verticais, evidenciando a distância tão ténue entre o mundo terreno e o dos espíritos. Imediatamente a seguir aos créditos iniciais o realizador informa-nos que esta é uma história de fantasmas. E mais do que influências do tradicional teatro Nô, ele faz a ponte entre os dois planos de uma forma admirável e singular, começando por uni-los numa memorável sequência de travessia


20 Apostas para 2009 por: Nuno Cargaleiro e Nuno Gonçalves

The Curious Case of Benjamin Button de David

Fincher

Depois de Zodiac, David Fincher prepara um épico dramático que acompanha a história de um homem, Benjamin Button (Brad Pitt), que nasce totalmente envelhecido e subverte os padrões de crescimento, ficando cada vez mais novo. Uma história de amor, com Cate Blanchett, cruzada em tempos opostos e vidas diferentes.

The Wrestler de Darren

Aronofsky

Tido como o derradeiro regresso de Mickey Rourke aos grandes papéis, este filme do realizador de A Vida não é um Sonho e The Fountain, conta a história de um antigo lutador de wrestling que se vê confrontado com o amadurecimento, enquanto prova conseguir ainda vencer duros campeonatos.

Gran Torino de Clint

Eastwood

20 apostas para 2009

Tido por muitos como a canção de cisne de Clint Eastwood, pelo menos enquanto actor. A personagem, um veterano reformado com pouca tolerância racial, que o realizador incorpora, trata-se de um resumo de toda a sua carreira e personalidade enquanto ícone. E um hino ao seu cinema.

Shutter Island de Martin

Scorsese

Outra colaboração de Scorsese e Leonardo DiCaprio, um thriller passado nos anos 50 que relata a busca policial de uma assassina demente. Um elenco de luxo também composto por Mark Ruffalo, Michelle Williams, Max Von Sydow e Patrícia Clarkson.

The Tree of Life de Terrence Malick

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Outro filme de Brad Pitt desta feita com um dos mais intrigantes cineastas norte-americanos, Terrence Malick, autor de A Barreira Invisível e O Novo Mundo. Um drama familiar passado na América em meados do século XX que também conta com a presença de Sean Penn.


Two Lovers de James Gray

James Gray promete diversificação do seu cinema depois de Nós Controlamos a Noite neste triângulo amoroso constituído por Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw. Um romance nova-iorquino passado em Brooklyn que promete deter uma elevada carga emocional.

Public Enemies de Michael

Mann

Quentin Tarantino

O filme cujo planeamento se iniciou há mais de uma década tem finalmente data marcada. Numa França minada pela ocupação nazi, um grupo de soldados americanos judeus aterroriza as tropas de Hitler. No meio da campanha encontram uma jovem adolescente que terá de salvar. Novamente Brad Pitt com Mike Meyers, Eli Roth e Maggie Cheung.

Jackson

A adaptação cinematografia do aclamado romance de Alice Sebold que marca o regresso de Peter Jackson a projectos mais modestos, na veia do glorioso Amizade Sem Limites. Conta a história de uma menina (Saoirse Ronan) que dolorosamente olha para a vida dos seus pais, Rachel Weisz e Mark Wahlberg, depois do seu assassinato.

Ponyo on the Cliff By The Sea de Hayao Miyazaki

Outra longa metragem do mestre da animação, Hayao Miyazaki, responsável por obras-primas como Nausicaa, Princesa Mononoke e A Viagem de Chihiro. Uma fábula infantil de um rapaz que mora à beira mar e trava uma invulgar amizade com uma princesa, um pequeno peixe que deseja ser humano.

20 apostas para 2009

Inglorious Basterds de

Lovely Bones de Peter

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O esperado regresso aos grandes ecrãs do “pai da acção moderna” depois do blockbuster Miami Vice. Reúne Johnny Depp, Christian Bale e Marion Cottilard num conto de perseguição criminal nos anos 30 numa América imersa uma gigantesca onda de crime.


Changeling de Clint East- Angels and Demons de Ron

wood

Howard

Após reaver o filho que julgara ter perdido, Christine Collins (Angelina Jolie) começa a suspeitar que aquela criança poderá não ser realmente aquela que lhe levaram. Numa luta que outros parecem querer parar, esta mulher procura descobrir a verdade até às últimas consequências. Uma realização de Clint Eastwood.

Dan Brown já deu origem à adaptação de O Código de Da Vinci. Desse modo, a mesma equipa

Harry Potter and the Half-Blood Prince de Da-

Transformers: Revenge of the Fallen de Michael

regressa para adaptar o romance anterior a este, considerado melhor por alguns, relatando as desventuras de Robert Langdon (Tom Hanks), desta vez contra a sociedade secreta designada por Illuminati.

vid Yates

Bay

Valkyrie de Bryan Singer

Star Trek de J.J. Abrams

Um filme da saga Harry Potter naturalmente parece fadado ao sucesso. Nesta sexta incursão ao mundo criado por J. K. Rowling podemos encontrar um Harry Potter mais consciente do perigo à sua volta. Na posse de um diário misterioso, irá descobrir segredos do passado que podem afectar a guerra vivida no presente.

Com um elenco de luxo encabeçado por Tom Cruise, que também é produtor, e realizado por Bryan Singer, este projecto relata a história verídica do plano de vários generais nazis para assassinar Hitler. Situada no auge da II Guerra Mundial, este plano foi denominado de Valkyrie, e só determinados membros teriam acesso a ele.

Com perspectivas de estrear no verão de 2009, esta sequela concentra-se na reunião da mesma equipa dirigida por Michael Bay. Desta vez o enredo incide sobre o regresso de um inimigo antigo, que ainda não foi anunciado pela produção. Espera-se mais acção, mais efeitos especiais, mais figuras da animação, e mais Megan Fox. Num regresso ao início, este Star Trek Zero, como já designado, atreve-se a recontar a história da primeira missão da nave Enterprise. Eric Bana é Nero, o Romulano que servirá de principal antagonista para a mais célebre equipa de ficção científica. Mais acção, efeitos especiais, e sexo são as promessas desta direcção de J.J. Abrams.

20 apostas para 2009 56


Slumdog Millionaire de Danny Boyle

O novo projecto de Danny Boyle, arrisca-se a ser a maior surpresa de 2009. Num conceito bastante simples, sobre um jovem indiano pobre que vence a versão daquele país do Quem Quer Ser Milionário. Quando todos duvidam dele ter feito batota, este revela a história da sua vida, explicando como é que sabia todas as respostas.

The Informant de Steven

Soderbergh

No novo filme de Steven Soderbergh, encabeçado por Matt Damon, podemos acompanhar um thriller, que simultaneamente também se apresenta como uma comédia negra, sobre o desmascarar de um esquema ilegal de fixação de preços por entre grupos comerciais que se crêem concorrentes.

Milk de Gus Van Sant

Sean Penn interpreta Harvey Milk, o primeiro Mayor assumidamente gay dos Estados Unidos. Numa realização de Gus Van Sant, o filme acompanha a evolução de Harvey até ao concretizar do seu sonho, e à sua morte, assassinado por um colega da Câmara de São Francisco. 20 apostas para 2009

Influenciado por 8 1/2,de Fellini, Nine relata a história de Guido Contini (Daniel Day-Lewis), um realizador que pretende acabar o seu filme, mas que se vê a braços com várias mulheres que dominam a sua vida. Marion Cotillard será a esposa, Penélope Cruz será a amante sensual, e Nicole Kidman será a sua musa.

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Nine de Rob Marshall


Angel Face

A Essência de um Olhar (II) por: Luís Mendonça

cinema clássico 58

Para além do uso mínimo do campo-contracampo e a defesa clássica da invisibilidade da câmara, outro elemento fundamental desta “justa medida premingeriana” é o plano americano, visto como espaço médio entre o plano geral e o grande plano; nas palavras de João Mário Grilo (1994), entre a clareza descritiva e enumerativa do primeiro e a expressividade nominativa e a grandeza emocional do segundo. Por outro lado, a montagem de Angel Face caracteriza-se por uma quase total ausência de artifícios, alguns deles, típicos do noir (voz-off e flashback), e um raccord preciso e, sobretudo, necessário. Otto Preminger, conhecido pelos seus longos takes, só possíveis graças a um domínio completo sobre o espaço, vê no acto do corte a violência superlativa do cinema; expressão de um dos grandes paradoxos da Sétima Arte: o que liga os

planos entre si é, ao mesmo tempo, aquilo que os cinde.

Como evitar o corte

Também parece haver aqui uma tentativa de aproximação ao teatro, onde o olhar do espectador é livre, total e contínuo. Preminger na primeira pessoa: “Se fosse possível, eu faria todo um filme num plano, porque acredito que cada corte, não importa quão cuidadoso ele seja feito, é perturbador. Nós podemos enfatizar alguma coisa com o corte (o corte é também uma forma de destacar alguma coisa), caso contrário cada corte é feito apenas porque não se consegue contar uma coisa num só plano” (Sarris, 1971).


sua musa angelical numa espécie de exorcismo cinematográfico. Por outras palavras, quanto mais a câmara filma Diane, mais a sua mente se desvenda e contamina a mise en scène, abrindo caminho a uma “subjectivização do espaço” (Grilo, 1997). Mesmo depois de mortos, Catherine e Charles continuam a habitar a mente de Diane e, por correspondência, a grande mansão Tremayne, as suas divisões e objectos.

A fetichização do espaço

Por isso, parece-nos que, em Angel Face, Otto Preminger procura mascarar muitos dos seus cortes com encadeados - 30 ao todo, segundo Lippe - que justapõem as imagens entre si, sugerindo uma maior “continuidade no fluxo de ideias e da linha narrativa”, e com um efeito típico no seu cinema: no mesmo enquadramento, assistimos à passagem, por fusão, da noite para o dia (uma solução visual semelhante é aplicada com ainda mais sofisticação, isto é, sem corte A partir daqui, o simbolismo dos objectos torvisível, num magnífico noir que realizou em 1950, na-se fatal: o círculo diegético de Angel Face Where the Sidewalk Ends). começa a fechar-se. O carro que, lá fora, Diane não vê e o casaco desportivo de Frank que esta Para alguns críticos, a paixão de Preminger por veste servem de prenúncio ao desfecho brutal “julgamentos justos”, filmados em contínuo e do filme. Em suma, usando as palavras de Ed(quase) sem truques, põe o espectador no lugar gar Morin (1997), através da mise en scène, “os do jurado: divididos mais ou menos uniforme- objectos adquirem alma e vida. No seio do realmente entre personagens “não planas”, os el- ismo, nasce um animismo”. ementos de identificação tornam-se parcos, porque dispersos. O detachment de Preminger Mas também os olhos e o cabelo de Jean Simpode converter-se numa exigência de detach- mons e, acima de tudo, as mãos de Robert Mitment para o próprio espectador. Por exemplo, chum são objecto da pulsão fetichista da cânunca chegamos a compreender muito bem mara de Otto Preminger. Essas mãos, um dos as razões que levam Diane, personagem quase principais leitmotivs do filme, são usadas por impenetrável, a odiar tanto a sua madrasta. Frank como instrumentos de afirmação da sua Contudo, pensamos que o enigma irresolúvel e masculinidade (tantas vezes desafiada ao longo obcecante da sua mente é fundamental à con- do filme). Logo nos primeiros minutos, ele aplistrução dramática de Angel Face, uma vez que ca-as violentamente na face de Diane, e esta, torna a relação entre a câmara de Preminger e a em contracampo, retribuiu com um estalo ainda

cinema clássico

Prova disso é a fabulosa sequência em que Diane vagueia, mergulhada numa “solidão não solitária”, pelas divisões da casa. No seu quarto, vemos uma fotografia de Charles colocada, de frente para a câmara, sobre um piano que já de nada vale tocar, porque também a música, nesta altura, ganhou “vida própria”. O “planoemblema” que Preminger faz da imagem do morto, acto profano, quase necrófilo, lembra Laura. No grande corredor, o predomínio da low key light faz elevar, sobre o branco obscurecido das paredes, sombras abissais que envolvem e esmagam - o corpo de Diane. Preminger usa um longo plano geral que sugere impotência e enfatiza a pequenez da protagonista. O passeio de Diane prolonga-se, sem planos subjectivos, até aos quartos vazios, habitados por memórias, da madrasta e do pai. Neste último, Diane pega numa peça de xadrez, recordando-se dos jogos que fazia com o homem que amava e que, involuntariamente, matou.

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David Bordwell (2005) concretiza estas ideias, quando afirma que a duração média de cada plano de Angel Face é de 16 segundos, bem mais do que os 9 a 11 segundos que constituíam o mesmo valor médio para a maioria dos filmes norteamericanos produzidos entre 1940 e 1950. Para além dos longos planos das alegações finais, destacamos aquele em que Diane se mostra arrependida de ter morto a sua madrasta e revela o lado mais íntimo do ódio que a levou ao homicídio - e o jogo perverso que fazia quando era criança, “If Catherine were dead”… Em 1.27 minutos, torna-se de novo visível o paradigma de um gesto: a câmara, quase imóvel, começa por filmar em plano americano, mas passa a grande plano, não por acção própria, mas devido à aproximação de Diane. Acontece o mesmo na cena das alegações finais e no primeiro encontro entre os protagonistas: a câmara relaciona-se com o espaço como se fosse uma personagem; ou melhor, é tanto um objecto de desejo (quando os corpos se aproximam dela) como um instrumento de procura (quando é ela que se aproxima dos corpos). Ora, o corte interrompe esta possibilidade quase lírica do acto de filmar.


maior - “sexo e possessão”, dois dos principais temas do filme, estão aqui enquadrados em apenas dois planos. Noutra cena, Frank usa comicamente a mão para manipular o rosto de Mary, numa tentativa (sem sucesso) de a levar a jantar fora. Mais à frente, num plano subjectivo (sobre o ombro), Frank lança a mão ao “rosto de anjo” de Diane, domando-o como uma cobra. Com esse gesto, Frank recupera a ascendência sobre a relação (e o próprio filme). Mas o que diz anuncia, subtilmente, mais uma viragem: “I’ve got a par of hands, not much else”.

cinema clássico

Minutos depois, Diane beija Frank, sai do quarto e, próximo dos contrafortes da casa, ensaia a morte da sua madrasta, mas não só: o maço de cigarros que lança falésia abaixo representa Catherine, Charles, Frank e ela mesma num carro. É na última sequência de Angel Face que essas imagens - captadas por um dos poucos planos picados de todo o filme - atingem o auge do seu simbolismo - um presságio encadeado num outro ainda mais terrível.

O círculo que se fecha

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Os instantes finais de Angel Face vêm acentuar o lado simétrico da narrativa: dois homens falidos deixam-se guiar tragicamente por duas mulheres dominadoras, que lhes roubaram a inspiração e o amor de que dependiam para viver… As duas cenas merecem um tratamento quase idêntico: Preminger usa, excepcionalmente, o poder dramático e perturbador do corte para pôr dentro de campo aquilo que permanece du-

rante quase toda a duração de Angel Face fora de campo: a morte. A ideia de “regresso”, que estava antes mais directamente associada à noção de espaço (as divisões da casa, os objectos, os gestos e os corpos), adquire naquelas imagens do carro a rolar outra vez pelo declive toda uma dimensão temporal, que tem no automóvel a sua metáfora. Como diz João Mário Grilo, “ao arrancar para trás (no espaço), o carro avança, na realidade, para a frente (no tempo), saltando para uma outra dimensão, num mergulho desesperado, para uma temporalidade cósmica, brutal e concreta, onde o futuro (a queda e a morte) de Frank e Diane se confunde com o seu próprio passado (a morte do pai e da madrasta)”. Toda esta construção narrativa em círculo encontra o seu desfecho ideal na cena do taxista que, estacionado à frente da mansão Tremayne, chama por um morto. O táxi chega minutos depois de Simmons conduzir Mitchum ao abismo, tal como esteve quase para ser outra a ambulância que respondeu à chamada de Charles no começo do filme Bibliografia (I): BORDWELL, David, Figures Traced in light: on cinematic staging, Berkeley, University of California Press, 2005, pp. 150; GRILO, João Mário, «Figuras americanas da culpa no cinema de Otto Preminger», Comunicação e Linguagens, Dez. de 1994, pp. 221-229; LIPPE, Richard, «At the Margins of Film Noir: Preminger’s Angel Face», in SILVER e URSINI (ed.), Nova Iorque, Limielight Editions, pp.161-175; MAYERSBERG, Paul, «From Laura to Angel Face», Movie, Set. De 1979, pp. 14-16; MORIN, Edgar, O Cinema ou o Homem Imaginário, Lisboa, Relógio D’Água, 1997; SARRIS, Andrew et al., «Otto Preminger» in SARRIS (ed.), Hollywood Voices: Interviews with Film Directors, Londres, Secker & Warbur, 1971, pp. 69-84.


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SÓ PARA ADULTOS O Piano

POR: NUNO cargaleiro Falar do filme de Jane Campion, O Piano, numa secção designada Só Para Adultos pode parecer dissonante com o contexto e enredo do filme. Embora com a presença de algumas cenas de nus, é possível que o espectador fique pelo superficial da temática do filme, representando o seu significado como um conto de uma mulher incompreendida pelo mundo que ama o seu piano mais do que tudo, ou do que a sua própria vida. Contudo, esta narrativa, se vista através de um outro prisma, apresenta-nos uma vertente de sexualidade e sensualidade muito acentuada, num relato dorido sobre uma mulher demasiado emancipada emocionalmente para a época em que nasceu, e cuja mudez, quase simbólica, nada mais é do que a incompreensão que sofre por parte da sociedade. Afinal, esta figura, quase misteriosa, comunica através do seu piano, e a sua música incomoda os demais, que preferem uma melodia mais ordenada e menos passional. Como a sexualidade e a sensualidade não podem sobreviver através de paixão, O Piano com Holly Hunter é a escolha do Só Para Adultos de Janeiro de 2009.

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Algures por entre o século XIX, Ada (Holly Hunter) é uma mulher que é obrigada, através de um casamento arranjado pelo seu pai, a mudar-se com a sua filha Flora (Anna Paquin) para a Nova Zelândia. O seu novo marido, Alistair (Sam Neil), é um símbolo do Imperialismo, desprezando os nativos, e demonstrando o seu poder pela sua riqueza e vontade. Flora, acostumada com a mudez da sua mãe, serve-lhe de intérprete. Contudo, ou não fosse uma criança, acrescenta-lhe pontos que provêm da sua imaginação fértil e de alguma malícia ingénua, típica da infância. A todos os habitantes daquela nova terra, Ada parece-lhes estranha, não só como uma deficiente por não falar, mas devido à sua adoração pelo piano que a acompanhou. Devido ao caminho árido entre o local de desembarque e o povoado, este foi obrigado a permanecer por entre o areal da praia. Ada está determinada em reaver o seu instrumento, como que este fosse a sua alma, e consegue auxílio através da figura de Baines (Harvey Keitel). Contudo, este favor não vem sem um propósito. Baines pede a Ada que recupere o seu piano através de um preço: au-


Porém, a relação de ambos não passa despercebida da filha de Ada, Flora. Com uma perspectiva inocente usual na infância, e somente culpada pela sua curiosidade e imaginação, Flora descobre a relação ilícita entre Baines e a sua mãe. Quando esta última lhe pede que dê a Baines uma tecla do piano, onde está cravada a sua declaração de amor eterno, Flora prefere mostrá-la a Alistair, numa tentativa de fazer o supostamente correcto. Mas esse facto catapulta a desgraça, e os dois amantes que planeavam a sua fuga vêem-se confrontados, especialmente Ada, com as acusações de Alistair. Sentindo-se traído, e incapaz de amar aquilo que não consegue realmente perceber, Alistair tortura psicologicamente Ada, ameaçando cortar-lhe um dos seus dedos caso ela não professe o seu amor. Com uma mudez que nunca se percebe realmente se será biológica ou por opção, Ada não reage, e o sangue do seu pecado acabará por manchar a face da sua filha, que desesperada procura defender a sua mãe através do único modo que sabe: mentindo. No final, Ada abandona aquele mundo. Ao seu piano falta-lhe uma peça, e durante a travessia para o embarque, indica a Baines que o atire para

O que vemos de seguida é o resgate de Ada, a sua salvação. Irá refazer a sua vida com Baines, terá um dedo de metal que substituirá o perdido, e até começará a aprender a falar. Contudo, neste suposto final feliz vive o fantasma de ilusão, já que rapidamente percebemos que estes são os últimos pensamentos de Ada, que agora reside no fundo do mar, num lugar onde domina o silêncio idêntico àquele que sente por sentir-se incompleta. Se ao seu piano faltou a peça onde residia a declaração da sua paixão, Ada também sente o mesmo. Incapaz de poder transmitir a sua emoção e paixão, Ada sente a angústia da calmaria, e perante este destino prefere o repouso eterno, perto do seu piano, do seu coração e da sua alma. Tudo isto para procurar sentir-se completa. O mérito desta história trágica provém de um argumento generoso para as suas personagens, e uma realizadora (Jane Campion) que soube assumir a feminilidade e o desejo da sua protagonista. Ada vive enjaulada diante as normas do mundo, e embora seja apresentada como muda, é possivelmente a figura que mais se dá a conhecer de todo o elenco, nem que seja comunicando pelas suas reacções, pelas expressões e pela entrega com que toca o seu piano. Este último é um símbolo da sua alma, e se a sua melodia parece selvagem e sensual, quase como se entranhasse por entre a pele, é porque os dedos de Ada assim o comandaram. A sua tragédia não reside na suposta traição para com o seu esposo, mas do modo como a sociedade a tratou, manchando-a e marcando-a para sempre, até a um ponto onde já não conseguiria ser ela mesma. Ada consegue ser demasiado realista para seu próprio benefício, e embora ame genuinamente Baines, consegue compreender que durante o resto da sua possível vida, jamais conseguirá amar-se totalmente a si mesma, e ser feliz. A sensualidade impera neste filme. Algumas vezes subtilmente, como o observar por entre o buraco na meia de Ada, outras mais explícitas, como a cena de amor entre esta e Baines que Flora observa. Contudo, o que transpõe este drama para um patamar que permite diversas interpretações, à medida que a experiência de vida do espectador evolui, é o tom intenso, sincero, e indomável das palavras que Ada pronunciou durante todo o filme, mas que nós nunca ouvimos.

só para adultos

Entretanto, a sua relação com Alistair não conhece melhores caminhos. O seu novo marido é um homem que partilha a ideologia vigente, incapaz de ultrapassar as redes do social na relação com a sua esposa. Embora esta tente, numa altura onde ele lhe interpela na cama, partilhar com ele uma experiência sensorial e de paixão, Alistair rapidamente recusa esta estranha forma de tratar o sexo e a relação entre marido e mulher. Contrariamente, Baines despoja-se totalmente de preconceitos e abraça o afecto que vai crescendo por Ada. Não é por acaso que quando Baines decide aumentar a parada do seu negócio, decide surgir diante Ada totalmente nú, numa cena frontal essencial para compreender o encanto e motivação de aproximação deste homem para com aquela mulher. Sentindo-se a minguar num ambiente tão severo pela sua flora como pela sua gente, Ada vai descaindo as defesas e aproximando-se de Baines. Nesta altura, onde o sexo é consumado, a intimidade entre ambos é mais próxima, num amor emergente, que faz com que Baines crie sentimentos de culpa por ter “comprado” Ada aos poucos.

o mar, já que não existe conserto para o mesmo. No momento em que vê o seu piano cair nas águas, Ada coloca discretamente o pé por entre as cordas que estariam entrelaçadas no mesmo, acabando por ser arrastada para o fundo, para desespero dos que ficaram na superfície.

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las de piano. Rapidamente essas aulas se transformam em algo mais, e Baines, propõe que se Ada lhe deixar tocar na sua perna, por entre um buraco das suas meias, lhe dá uma das teclas do seu piano. Rapidamente se compõe uma relação de propósito, que rapidamente se transforma em paixão, e quem sabe amor.


série

Doctor Who por: Rafael Jorge

Permitam-me apresentar-vos a minha série preferida.

DOCTOR WHO 64

É um fenómeno de popularidade em Inglaterra, vindo da BBC, que passou nas nossas televisões este ano, pela SIC Radical. É ficção-científica, humor e divertimento. Tem um protagonista fascinante, que dá pelo nome de “o Doutor”, um Senhor do Tempo do planeta Gallifrey, que viaja pelo tempo e espaço numa nave denominada TARDIS (Time And Relative Dimension In Space), cujo circuito de camuflagem avariou, tendo esta assumindo a forma exterior de uma cabine telefónica da polícia dos anos 60. Deixem-se encantar pelo seu brilhantismo, e acompanhem-me, nesta modesta apresentação a um grande marco da cultura popular inglesa.

A Origem de um Fenómeno

Doctor Who não é recente, e passou na BBC de 1963 a 1989. Muitas pessoas partilham a sua criação, mas entre elas destaca-se um nome: Sydney Newman. Canadiano de nascimento, é o responsável por estabelecer os principais conceitos da personagem, da sua nave e do próprio título da série, sendo que esteve também envolvido noutra popular série britânica, Os Vinga-

dores.

O primeiro episódio recebeu o nome de An Unearthly Child, e assim como as primeiras temporadas da série, remonta aos tempos em que a TV era a preto e branco. A natureza do protagonista permaneceu desde cedo envolta em mistério. Um ponto importante na construção deste herói, deu-se em 1966,


quando o actor protagonista, William Hartnell decide abandonar o papel. Aqui, criou-se uma das características icónicas da personagem, a regeneração. Em vez de substituir sem explicação aparente o actor principal, como é comum acontecer, a mudança de rosto do Doutor tornou-se parte da personagem, que consegue regenerar, ou seja, mudar o seu corpo quando está em perigo de vida, assumindo a forma de uma nova encarnação. A grande originalidade é que estas diferentes encarnações, apesar de continuarem a formar uma só personagem, apresentam diferenças na sua personalidade, e até escolha de vestuário. O grande auge de popularidade de Doctor Who, poderá muito bem ter sido com aquela que é por muitos considerada a melhor encarnação da personagem: a quarta, interpretada por Tom Baker. Na quinta encarnação, a BBC fez experiências com o horário da série, e finalmente, grandes mudanças que contribuiriam para o baixar do seu sucesso, deram-se com o sexto Doutor, Colin Baker. A série muda de formato, passando de episódios com duração de vinte e cinco minutos, para episódios de quarenta e cinco minutos, uma mudança que infelizmente, não alcançou sucesso. O reino de Colin Baker ficou então marcado, como uma grande ameaça à existência da série, chegando o cancelamento desta a ser anunciado em 1985. No entanto, em 1986, Doctor Who regressa após uma paragem de dezoito meses, com um novo protagonista, mas nunca conseguiu recuperar audiências, tendo sido inevitavelmente cancelada em 1989. Em 1996, numa tentativa de trazer de volta o Doutor, foi feito com um novo actor, Paul McGann, a oitava encarnação, um filme para televisão que infelizmente, não alcançou sucesso.

Mesmo com menor popularidade nos seus últimos anos, Doctor Who manteve grande importância na cultura britânica, e conseguiu nunca perder um vasto número de fãs, que aguardavam ansiosamente pelo triunfante regresso da personagem. É em Março de 2005, que, pelas mãos do produtor/argumentista Russel T. Davies, o Doutor reencarna para o novo milénio, interpretado por Christopher Eccleston, apostado em atingir um novo patamar.

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Renascimento


DOCTOR WHO

O trabalho de fazer regressar esta série de culto não era fácil, e implicava correr riscos, mantendo-se fiel à mitologia e conceitos originais. Um dos grandes problemas em apresentar a personagem a novos espectadores, era o facto de ter um passado muito vasto, com imensas histórias, mas apagar todos os anteriores feitos da personagem, poderia certamente não agradar aos fãs. Então, colocava-se a pergunta, como manter o Doutor fiel às origens e introduzi-lo de novo ao mundo? A complexidade de inimigos e personagens da vida deste herói eram um claro obstáculo a que esta pudesse vir a ser facilmente compreendida por um novo público, portanto, a solução é introduzir o Doutor com histórias cuja compreensão não requer ver um único episódio da série antiga, mas que podem muito bem decorrer na continuidade das aventuras anteriores.

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O Doutor é neste seu renascer em 2005, o último dos Senhores do Tempo, que se viu obrigado a destruir o seu planeta e o seu próprio povo numa guerra. Isto representa uma grande mudança, já que na série antiga, o seu planeta existia e este partilhava aventuras com outros Senhores do Tempo, porém como já referi, o vasto número de personagens colocaria em perigo a compreen-

são da série por parte de um novo público, estando este factor na origem desta grande mudança. Agora, a única coisa que lhe resta é a sua TARDIS, e torna-se assim, um viajante solitário, a quem percorrer o universo é a única coisa que resta. Esta componente de solidão, e de se ter visto obrigado a destruir quem amava, pelo “bem maior”, causa uma maior ligação entre a personagem e o espectador, dando ao Doutor um tom negro, adulto e humano. Estes acontecimentos decisivos na sua vida, que marcam a distinção entre as séries antigas e esta, definem profundamente a personagem, sem nunca a afastar das origens. O passado do Doutor continua presente, pela componente de saudade que representa nele, mas ao contrário de complicar a compreensão da sua História, redefine-o. A encarnação de Christopher Eccleston é marcada por um tom negro, perturbada pelos acontecimentos da guerra, mas que é também alguém com uma boa disposição e energia inabaláveis. Quanto às ameaças, os responsáveis da série encarregaram-se de criar novos inimigos, e trazer de volta outros conhecidos do Doutor, sempre de forma actualizada ao nosso tempo, como os Daleks, os mais famosos extraterrestres combatidos pelo herói, que perduram já entre as


A brilhante encarnação de Christopher Eccleston, viria a partilhar connosco apenas uma temporada, por vontade do actor, que não queria ficar demasiado identificado com a personagem, de modo a poder mais facilmente entrar noutros projectos, sendo que o Doutor reencarnou nas outras três temporadas feitas até ao presente, na pele do não menos fascinante David Tennant. A série tem alcançado uma popularidade crescente, e conquistou com a sua quarta temporada, níveis de audiências lendários. Entrou agora numa pequena paragem, pelo que em 2009 não veremos uma nova temporada, mas sim quatro episódios especiais de uma hora, e regressará ao formato habitual de uma temporada de treze episódios em 2010, com um novo actor a assumir o papel de Doutor. Os episódios especiais de uma hora, fazem também parte da marca deixada pela série na cultura britânica, já que todos os anos no dia de Natal, a BBC tem passado um episódio especial, desde este renascer da série.

DOCTOR WHO

Em Doctor Who, o protagonista é quase sempre acompanhado por outras personagens, os eternos companheiros, que são maioritariamente do sexo feminino. Tornava-se necessário encontrar uma personagem que se adequasse a este recomeço das aventuras do Doutor, e o que poderia resultar melhor, do que uma simples rapariga londrina? Rose é a típica rapariga inglesa com dezanove anos, e a sua simplicidade é essencial nesta reintrodução ao mundo de Doctor Who. Ela é, tal como qualquer espectador, alguém que desconhece por completo quem o Doutor é, mas que fica fascinada por aquilo que este poderá ser, e não hesita em querer viajar com ele, abandonando a sua aborrecida existência para conhecer o que realmente existe fora do seu pequeno mundo. Estas características adequam-se aos espectadores, e a ligação estabelecida com eles torna-

se novamente essencial. Esta companheira é também importante porque, dado que o Doutor tem de lhe introduzir o seu quotidiano, o mundo das viagens no tempo e no espaço, repleto de encontros com seres de outros planetas, introdu-los também ao espectador.

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criaturas icónicas da ficção-científica. E mesmo a nível de efeitos especiais, ainda que dispondo de um orçamento baixo, a nível técnico alcança verdadeiras maravilhas, sendo os monstros, planetas desconhecidos e locais do passado terrestre, retratados de forma irrepreensível. Pode notar-se por vezes a falta de um orçamento maior, mas isso nunca interfere na construção da atmosfera das histórias.


Puro Encanto Com as origens da personagem estabelecidas após a

primeira temporada, é tempo de, com um novo Doutor, explorar novos limites. A introdução está feita, e agora, apresenta-se a tarefa de continuar a explorar a magia da série. A segunda temporada fica marcada por uma energia diferente. David Tennant mantém a oscilação entre um tom mais agressivo e negro, motivado pelo doloroso passado da personagem, para uma disposição energética, onde não falta imenso sentido de humor, possuindo claras parecenças com a encarnação de Eccleston, mas ainda assim diferente e refrescante. Tem um enorme fascínio pelo nosso pequeno planeta, e por todos os outros, e embora não consiga evitar por vezes ser dominado pelas memórias dolorosas do seu passado, a sua boa-disposição é contagiante, e o seu ânimo, inabalável.

Doctor Who, poderá ser catalogada como uma série juvenil, ou de entretenimento familiar, mas é muito mais do que isso. É uma pequena pérola destinada a todas e quaisquer pessoas, independentemente da idade. Pode ter momentos em que evidencia o seu tom juvenil, mas não vos insultará, e está repleta de profundas reflexões que podem escapar aos mais pequenos. Sim, porque para além de nos apresentar dilemas da ficção-científica, como paradoxos temporais ou a ameaça do desenvolvimento tecnológico, coloca-nos questões que são profundamente adultas, profundamente nossas e profundamente reais. Tem aquela componente mágica que ilumina as mentes dos mais novos, por ser um pouco, as aventuras que sonhávamos viver quando éramos pequenos e deixávamos a nossa imaginação fluir, desenhando possibilidades sem fim, construindo o que desejávamos encontrar, o que desejávamos viver, fora do nosso pequeno mundo.

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O Doutor, este viajante que percorre encruzilhadas sem fim, cria connosco uma profunda relação. Segue de uma aventura para outra, numa máquina que lhe permite ir a qualquer lado, em qualquer momento. A dor do seu passado, as lembranças de entes queridos que perdeu, são o que o assombra, e o que o impede de alguma vez parar, e no fundo, poderia isto ter mais de verdade? Não queremos todos, no nosso âmago, fugir de algo, de uma vida enfadonha como Rose, ou da dor como o Doutor? Este é o puro encanto, a verdadeira alma de Doctor Who. A nave deste Senhor do Tempo, as suas aventuras, o modo como olha em frente, encontrando esperança onde ela desapareceu, nunca parando, nunca deixando de acreditar, nunca deixando de amar, é aquela chama que procuramos. Aquele sonho impossível de realizar pelo qual gritamos no nosso interior: queremos VER mais, queremos VIVER mais, queremos SER mais. E o Doutor continuará a encantar-nos, para sempre.


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DVD do Mês

A Lista de Schindler por: Álvaro Banaco

Já todos conhecem a história da Segunda Guerra Mundial e do que se passou nos campos de concentração e também já muitos viram filmes sobre este tema, mas há filmes e filmes… O filme A Lista de Schindler é baseado no livro de Thomas Keneally, Schindlers Ark, transcrito para o grande ecrã por Steven Zaillian (Hannibal, Gangs de Nova Iorque), vencedor do Oscar de Melhor Guião Adaptado e realizado por Steven Spilberg (Jaws, Jurassik Park), que ganhou os Oscars de Melhor Realizador e Melhor Filme.

A Lista de Schindler conta a história de Oskar Schindler, um industrial alemão membro do partido Nazi e próximo das altas patentes. Boémio, jogador, mulherengo e um especulador de guerra que salvou a vida a mais de 1100 judeus durante o Holocausto. É bastante interessante ver como Oskar Schindler, interpretado por um excelente Liam Nesson, que passa de um industrial que apenas quer enriquecer a um herói que perdeu toda a sua fortuna para salvar vidas humanas. Acompanha diariamente o lado Nazi e cria amizades dentro desse círculo enquanto observa calmamente o que acontece em toda a sua volta. Cria uma máscara onde apenas se vê um homem interessado nos negócios e em ter judeus a trabalhar para si, mas por pequenos gestos tenta facilitar-lhes a vida. Spielberg faz aqui um excelente trabalho ao utilizar uma personagem que aparentemente nada tem de herói mas que o é sem nunca o mostrar e é aqui que reside a misteriosidade e riqueza da personalidade de Schindler.

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Não é só Schindler que se revela uma personagem interessante mas também Itzhak Stern, numa bela interpretação de Ben Kingsley, o primeiro judeu contratado por Schindler para gerir as finanças da sua empresa. Foi também o responsável pela salvação dos judeus já que foi ele que inicialmente

quis que fossem estes que trabalhassem na fábrica com a justificação de serem mão-de-obra barata e foi também quem os escolheu e recrutou. Por outro lado, Amon Goeth (Ralph Fiennes) comandante do campo de Plaszow, é também interessante de ver, até porque era uma espécie de amigo de Schindler cujo hobby era matar a tiro judeus que andassem pelo seu campo de concentração e era com ele que Schindler negociava os judeus. No departamento técnico A Lista de Schindler não desilude. Filmado a preto e branco apresenta uma bela fotografia onde apenas uma cor é apresentada em duas pequenas cenas do filme ficando gravada na memória de quem vê. A banda sonora cumpre muitíssimo bem o que lhe é pedido conseguindo acompanhar muitíssimo bem os momentos do filme criando uma excelente atmosfera. A Lista de Schindler consegue ser visualmente violento mas não é para menos porque não se pode deixar amenizar o que se passou nos campos de concentração. Com uma excelente realização e interpretações, é um filme obrigatório. O DVD apesar de ser uma Edição Especial é pobre em extras e traz-nos apenas dois. Como extras conta com um documentário intitulado Vozes da Lista que apresenta através de testemunhas as suas experiências pessoais durante o Holocausto. A história da Fundação SHOAH através de Steven Spielberg, um olhar por detrás das cenas na organização onde estão gravados e arquivados testemunhos de sobreviventes e testemunhas do Holocausto. ARGUMENTOThomas Keneally (livro), Steven Zaillian (adaptação) Realização Steven Spielberg Com Liam Neeson, Ben Kingsley e Ralph Fiennes 1993

9/10 Biografia Drama


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