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nosso teMpo
nosso tempo Considerações em torno de verdades nem sempre verdadeiras
a importância das revistas do rotary diante das novas tecnologias
Jorge Bragança* “Contra quem é reputado, só com muita dificuldade se conspira.” – Nicolau Maquiavel
dois fenômenos sociais têm apresentado expressivo protagonismo nos tempos atuais: as narrativas e as tecnologias. o primeiro deles, a narrativa (novo nome para “discurso”), é um velhinho de barbas brancas que circula pelo mundo desde tempos imemoriais. atuou na religião, mitologia, política e na vida social. mobilizou, seduziu e continua a criar “fatos” até hoje. o segundo, a tecnologia, vem impressionando as mentalidades e, para muitos, deixou de ser uma ferramenta importante para, na atualidade, contribuir com a funcionalidade e a administração das coisas, tornando-se a gloriosa solução para nossos grandes desafios, para o progresso e outros avanços notáveis. tanto as narrativas como a tecnologia constituem frequente e simultaneamente o meio e a mensagem daquilo que se chama, com credibilidade frequentemente duvidosa, tanto de parte do “jornalismo profissional” como de expressão da liberdade de qualquer indivíduo por intermédio das redes sociais, como as conhecidas “tias do zap”, sendo assim difícil avaliar quem veicula, com acabamento de maior ou menor qualidade, as famigeradas fake news.
Com sua rede de revistas, o rotary international tem o privilégio de possuir seu próprio veículo de imprensa, que conecta, informa e divulga sua importante missão, construindo a cada dia sua marca e firmando sua grife. o rotariano tem assim o privilégio de ostentar esse símbolo, pode-se afirmar, idôneo e duradouro, gozando de um jornalismo próprio, que divulga com precisão nossos valores e ações. recentemente, com alguma frequência alguns poucos rotarianos têm procurado extinguir esse importante veículo, enquanto outros sugerem que ele seja mantido apenas em formato digital, e outros ainda defendem a opção de subscrição voluntária. ao que parece, esses companheiros ainda não se detiveram na avaliação da importância de se ter um veículo de imprensa próprio, com a força e a penetração da mídia impressa, de forma a gerar uma imagem com a plenitude, o alcance, o tamanho e a importância da nossa instituição. outros revelam uma certa ingenuidade ao pensar que o formato digital não tem custos, esquecendo das imprescindíveis atividades para se produzir uma revista, mesmo em formato eletrônico, como pautar os temas, apurar e escrever as matérias, produzir o design, as imagens e revisar todo o conteúdo antes de publicá-lo numa plataforma confiável, o que demanda, como na versão impressa, o trabalho de uma equipe técnica qualificada, constituída por editores chefe e adjunto, repórteres, redatores, coordenador de arte, designers e fotógrafos, além de profissionais de marketing e vendas, administração e, acrescido a tudo isso, o suporte do time de tecnologia da informação.
FATOS
os argumentos são de toda ordem, como “o ‘custo rotary’ está alto por causa da revista” (que atualmente equivale ao preço de um café expresso ao final de uma reunião) ou “o uso do papel agride o meio ambiente” (sendo que temos prezado pela utilização de papel certificado, recomendado pela legislação ambiental). há até aqueles que afirmam que “ninguém lê a revista”...
Uma naRRativa?
teria ocorrido aqui uma narrativa conduzida por alguém que pensa desse modo e que, por esse caminho, alcançou certos grupos, induzindo as propostas de extinção da revista ou de sua substituição exclusiva pela versão digital? Creio que seria o caso de refletir e avaliar melhor a respeito. no último Conselho de Legislação, realizado no mês de abril, o Brasil apresentou algumas proposições contrárias às revistas. pois bem: colocadas em votação, essas proposições foram rejeitadas, tendo prevalecido o bom senso e demonstrando-se que a imprensa do rotary é particularmente relevante. mais: em inédita pesquisa de opinião realizada pelo rotary international com os leitores de suas revistas no mundo inteiro, 74% dos brasileiros disseram ler a Rotary Brasil do começo ao fim ou pelo menos alguns artigos – a maioria daqueles que não leem a revista alegou a falta de tempo como principal motivo. dos que leem a revista,
MITOS
iStockphoto
um total de 90% avaliou como excelente ou boa a relevância do conteúdo da publicação em sua experiência no Rotary; 85% concordaram totalmente ou de certa forma com a afirmação de que a revista fortalece sua conexão com o Rotary; e 88% concordaram totalmente ou de certa forma que a revista os ajuda a entender melhor o Rotary. esses e outros resultados da pesquisa foram publicados em nossa edição de abril de 2021. Cumpre reconhecer que a leitura da edição digital deve crescer com o tempo, sobretudo pelas seguintes razões: o aumento do custo do papel e da tinta para produzir a versão impressa; o fato de os rotarianos mais jovens tenderem a preferir a versão digital; e as dificuldades que se ensaiam no mundo relativas a outros insumos. Não há dúvida de que a mídia digital é uma tendência e tem um protagonismo no presente que somente se incrementará no futuro próximo. Mas uma certa cautela deve ser observada. A mídia digital tende à superficialidade, a “uma passada de olhos”, na maioria das vezes, sem aprofundamento. A neurocientista cognitiva americana Maryanne Wolf costuma ser abordada em suas palestras por pessoas que se queixam de não conseguir mais se concentrar em textos mais longos ou “mergulhar profundamente” na leitura como antes. Ela conclui que, dispendendo longo tempo diante das telas de computadores, celulares e tablets, estamos mudando a forma como processamos as informações que adquirimos, e afirma que esses hábitos digitais “podem estar dilapidando nossa capacidade de entender argumentos complexos, de fazer uma análise crítica do que lemos e até mesmo de criar empatia por pontos de vista diferentes do nosso”. já na primeira metade do século 20, Aldous huxley sugeria em seu livro Admirável mundo novo que a ciência e a tecnologia deveriam ser usadas pelo homem, e não como fazemos no presente, como se o homem tivesse de ser adaptado e escravizado por elas. Na obra Ansiedade: como enfrentar o mal do século, o brasileiro Augusto Cury define a questão nos seguintes termos: “Estamos na era do conhecimento, da democratização da informação, mas nunca produzimos tantos repetidores de informações, em vez de pensadores (...). Por não termos investigado o fenômeno fundamental que nos torna seres pensantes, vivenciamos ainda hoje erros grosseiros e gravíssimos na sustentabilidade das relações humanas, inclusive na inserção social.” o Brasil tem sofrido muito com o panorama cruel traduzido no desinteresse pela leitura. Monteiro Lobato já pregava que “um país se faz com homens e livros”. Eis então uma importante missão, oportuna para os rotarianos do Brasil: estimular os jovens a ler profundamente, discutindo e debatendo os temas abordados. Cabe novamente citar a professora Maryanne Wolf, para quem “em um cenário de leitura apenas superficial, o circuito da leitura no cérebro não vai alocar tempo suficiente para um conhecimento cognitivo necessário para um processamento crítico”.
ideias paRa novas mídias
Feitas essas considerações, informamos que a Rotary Brasil está trabalhando em novas modalidades de oferta de conteúdo aos leitores. em breve, facultaremos aos nossos assinantes a versão impressa da revista e a digital como opção, como já vem sendo feito há alguns anos, e ainda a alternativa de enviar a edição impressa diretamente ao domicílio do assinante que assim nos solicitar – atualmente a revista é remetida aos clubes. estamos trabalhando também no projeto de um podcast que levará conteúdo de áudio, a
exemplo do antigo rádio, ao número cada vez maior de adeptos desse tipo de programa. A produção de conteúdo para o YouTube é outro projeto próximo. o importante é desfazer mitos inconsistentes, ideias desprovidas de fundamentos concretos, divorciadas do interesse da nossa instituição e, também, afugentar os “fantasmas” que surgem, ideias que diminuem o protagonismo da importante marca que nós ostentamos. Amadurecer ideias e compreender o sentido da imprensa são fatores relevantes ao nosso trabalho.
Citando um fórum de comunicação ocorrido na escandinávia, nosso ex-diretor do Rotary International Mário César de Camargo informou que a mídia impressa recebeu o apelido de push (empurrar, em inglês) por ser aquela que impulsiona a notícia, enquanto a digital foi chamada de pull (puxar, em inglês) por servir como arquivo de informações para serem baixadas pelos consumidores. Uma coisa é a mídia com comunicação específica, de interesse e reflexão. Veículos digitalizados podem ter um reduzido índice de leitura, embora certamente cumpram o papel relevante de informar.
Avaliar os méritos, conveniências e, certamente, os custos de todas as mídias é nossa obrigação. Escolher as mais eficientes para cada finalidade é trabalho da gestão competente. dispender investimentos sem saber por que e para quem, mesmo que tenhamos recursos ou desejemos apenas um hobby, não é efetivamente o nosso caso. RB
*O autor é presidente da revista Rotary Brasil , governador 1995-96 do distrito 4571 e associado ao Rotary Club do Rio de Janeiro, RJ.
ROTaRy NO BRasIL: 100 anos de história
Criação do primeiro clube brasileiro se deu entre o respeito ao passado e a confiança no futuro
Edmílson Caminha*
em 1922, uma grande mostra internacional, com o que havia de mais avançado na ciência e na indústria de 14 países, comemorou, no Rio de Janeiro, o centenário da Independência do Brasil. A então capital da República também se tornaria, no ano seguinte, a sede do primeiro Rotary Club brasileiro, cuja fundação, em 1923, é plena de significado, porque se deu entre o respeito ao passado – os 100 anos da Independência – e a confiança no futuro, representado pelo que havia de mais moderno na tecnologia mundial, em exposição que entusiasmava o público. Como a própria linha do tempo, assim também começava a mover-se, no Brasil, a roda denteada do Rotary: do ontem para o hoje, do passado para o futuro, da história que se encontra nos livros para o mundo novo que todos queremos, em que a dignidade humana, a justiça social e a prosperidade deixem de ser privilégios de poucos para se tornar, definitivamente, direitos de todos.
Este o ideal de Paul Harris, fundador da instituição que, criada nos Estados Unidos em 1905, chegaria ao Brasil 18 anos depois: uma realidade melhor para bilhões de pessoas vítimas da fome, da doença, do analfabetismo, da pobreza. Luta que haverá de ser vencida não com armas de guerra, mas com instrumentos de paz: o companheirismo e a prestação de serviços, valores que continuam a animar e a fortalecer os associados ao Rotary.
ConsCiênCia planetária
Como inspiração maior, o trabalho que inclui Paul Harris entre os maiores pacifistas
Um dia histórico: em 5 de dezembro de 1922, 18 profissionais liberais se reuniram na antiga sede do Jockey Club, no Centro do Rio, para realizar o sonho de fundar o primeiro clube do Rotary no Brasil, que acabou oficialmente admitido pelo Rotary International em 28 de fevereiro de 1923. Assim nascia o Rotary Club do Rio de Janeiro, quarto clube da América do Sul – o primeiro foi o seu padrinho, o Rotary Club de Montevidéu, no Uruguai, surgido em 1918 – e o primeiro de língua portuguesa. O primeiro presidente do clube carioca foi o engenheiro e senador José Thomé de Saboya, que preencheu a ficha de associado nº 1
do século 20, ao lado de Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon, Madre Teresa de Calcutá e Nelson Mandela. Homens e mulheres que não viam a paz como utopia inalcançável, sonho impossível, mas como construção dos povos, conquista da sociedade, obra das pessoas, a partir da generosidade humana, da solidariedade fraterna e do amor ao próximo sem os quais muitos não vivem, apenas passam pela vida.
Com os clubes de Interact, nas escolas, e de Rotaract, nas universidades, plantam-se as sementes do humanismo rotário, verdadeiro farol a iluminar o caminho dos profissionais que, juntos, continuarão a trabalhar por um mundo melhor, em que a nenhum indivíduo se neguem a dignidade e o respeito como bens comuns a todos. Representantes dos mais diversos ofícios e profissões, homens e mulheres do Rotary são a prova de que a cada ser humano incumbe uma tarefa na construção da realidade em que queremos viver.
em 1923, a então capital da República se tornaria sede do Rotary Club do Rio de janeiro, o primeiro do Brasil e dos países de língua portuguesa
Move-os o que podemos chamar de “consciência planetária”, o sentimento de que, além das fronteiras que separam e das ambições que dividem, pertencemos todos a uma mesma espécie, a uma sociedade acima de diferenças e de convenções, passageira da nave Terra, o magnífico planeta que silenciosamente viaja pela solidão do cosmos. Assim, cumpre-nos preservar a natureza, cuidar do meio ambiente, defender as florestas, zelar pela pureza do ar e das águas. Como frutos, colheremos uma vida saudável, ao vencer doenças como a poliomielite, luta que é marco na história do Rotary no Brasil.
São 100 anos de idealismo e de trabalho desde que se fundou no Rio de Janeiro, em 1923, o primeiro clube rotário do país, sob a inspiração e o exemplo do fundador Paul Harris. Aos homens e mulheres que mantêm viva a chama desse belo ideal, o reconhecimento, a homenagem e o respeito de que são merecedores. RB
*Jornalista e escritor, o autor é membro da Associação Brasileira de Imprensa, da Academia Brasiliense de Letras, do PEN Clube do Brasil e do Observatório da Língua Portuguesa (em Lisboa).
saiba mais sobre os eventos que estão sendo preparados pelo Rotary Club do Rio de Janeiro
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sugestões?
Se você, seu clube ou distrito têm ideias para as comemorações do centenário ou gostariam de compartilhar as ações que estão sendo planejadas em sua região para que elas também sejam divulgadas nos canais do evento, entrem em contato com a jornalista Mariana Caminha, gerente de comunicação do Centenário Rotary 100, pelo telefone/WhatsApp (61) 98135-1800 ou pelo e-mail mcaminha@me.com