PUBLICAÇÃO bimestral • 190 • NOVEMBRO/DEZEMBRO ‘10
FARMÁCIA PORTUGUESA
Novo centro empresarial no porto
Um investimento para o futuro
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PUBLICAÇÃO bimestral • 190 • novembro/dezembro ‘10
FARMÁCIA PORTUGUESA
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enquadramento
ANF INAUGURA CENTRO EMPRESARIAL NO PORTO O dia 11 de Novembro de 2010 fica para a história da ANF e das farmácias de oficina em Portugal. Esse é o dia da inauguração de um edifício que marca mais um passo em frente na construção do futuro: o Centro Empresarial do Porto.
04 EDITORIAL 06 DISCURSO
JOÃO CORDEIRO
PRESIDENTE DA DIRECÇÃO DA ANF ANF CHaiRMAN OF BOARD
somos os primeiros
O Edifício ANF — Centro Empresarial é o primeiro empreendimento a ser concretizado na “Área Empresarial do Porto”, requalificando parte significativa de um quarteirão deste pólo da cidade.
ROSA AZEVEDO
GESTORA de formação DA EPGSG EPGSG training MANAGER
25 ENTREVISTA
12 INTERVENÇÃO
28 ENTREVISTA
RUI RIO
PRESIDENTE DA CâMaRA DO PORTO OPORTO’S MAYOR
16 ENTREVISTA
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24 ENTREVISTA
HENRIQUE MOREIRA
DIRECTOR EXECUTIVO DA ANF ANF EXECUTIVE DIRECToR
19 ENTREVISTA
GINESTAL MACHADO
ARQUITECTO ARCHITECt
ALEXANDRE GOMES
CEO DA GLINTT HS GLINTT HS CEO
JOAQUIM SIMÕES
DIRECTOr GERAL DA ALLIANCE HEALTHCARE ALLIANCE HEALTHCARE GENERAL DIRECTOR
31 ENTREVISTA - MUSEU
JOÃO NETO, DIRECTOR, PAULA BASSO, CONSERVADORA JOÃO NETO, DIRECTOR, PAULA BASSO, CURATOR
22 ENTREVISTA
JOÃO ALMEIDA
PRESIDENTE DA DELEGAÇÃO NORTE DA ANF ANF NORTH DELEGATION PRESIDENT
Farmácia portuguesa
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EDITORIAL
FARMÁCIA PORTUGUESA Propriedade
Director
Dr. Francisco Guerreiro Gomes Sub-Directores
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Coordenadora Redactorial
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O Mundo Farmacêutico Avançou
Consultora Comercial
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Distribuição
FARMÁCIA PORTUGUESA é uma publicação da Associação Nacional das Farmácias Rua Marechal Saldanha, 1, 1249-069 Lisboa
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www.anf.pt
Quando a Ordem dos farmacêuticos comemorou o Dia do Farmacêutico fomos obrigados, dada a qualidade dos trabalhos e a originalidade das soluções escolhidas a dedicar-lhe todo o Editorial e a usar o título “Parabéns”. Desta vez, estamos perante uma Assembleia Geral de Delegados da Associação Nacional das Farmácias, e da Inauguração do Edifício ANF na cidade do Porto. Porque neste conjunto de actividades e temas assistiram e participaram apenas algumas centenas de sócios (os delegados de circulo e de zona) a Revista sente-se na necessidade de, com o seu conteúdo, ajudar os restantes leitores a aperceberem-se também da importância do que foi apresentado no Porto. O edifício é o paradigma do espaço arquitectónico multifacetado com multiusos, porque existem espaços que têm previstas diferentes actividades.
Já hoje ali funcionam os clássicos auditório de conferências, os escritórios, a Escola de Pós-graduação em Saúde e Gestão e uma área exclusiva da Direcção da Delegação do Norte, por exemplo. Existem além disso zonas para aluguer a empresas fora do universo ANF, bem como para as entidades do Grupo ANF ou não. Quem já avançou foi a Alliance Healthcare que tem a funcionar uma unidade automática que lhe permite receber, armazenar e distribuir os medicamentos por todo o país. No edifício estão ainda integrados a Glintt e o Museu da Farmácia. Sugerimos veementemente que leiam com atenção os textos que se seguem e visitem o edifício.
Francisco Guerreiro Gomes
Edifício anf - centro empresarial
Um investimento para preparar o futuro
ANF inaugura Centro Empresarial no Porto
O dia 11 de Novembro de 2010 fica para a história da ANF e das farmácias de oficina em Portugal. Esse é o dia da inauguração de um edifício que marca mais um passo em frente na construção do futuro: o Centro Empresarial do Porto. É um investimento estratégico da associação numa altura em que poucos se arriscam a investir no país. Mas não é pontual, antes faz parte de um projecto mais vasto de investimentos empresariais que visam preparar as farmácias para o futuro. Foram investidos cerca de 41 milhões de euros para erguer, em 48 mil metros quadrados, um pólo dinamizador que concentra actividades associativas, empresariais e culturais. E que serve o universo da ANF mas também a cidade
do Porto, na medida em que foi concebido como âncora de revitalização de uma zona que a autarquia quer nobilitar. Equipado com tecnologia de ponta, o edifício ficou operacional num prazo recorde, para acolher a plataforma logística da Alliance Healthcare no Norte, a Glintt, a Delegação Norte da ANF, os serviços da Escola de Pós-graduação em Gestão e Saúde (EPGSG) e o Museu da Farmácia. Nesta edição, Farmácia Portuguesa dá voz a todos aqueles que contribuíram para tornar realidade este projecto: ao presidente da direcção da ANF, João Cordeiro, cuja intervenção se reproduz na íntegra, ao presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, ao coorde-
nador do projecto, o director executivo da associação, Henrique Moreira, ao autor do projecto, arquitecto Ginestal Machado, ao presidente da delegação Norte da associação, João Almeida, à gestora de formação da EPGSG no Porto, Rosa Azevedo, ao CEO da Glintt HS, Alexandre Gomes, ao director-geral da Alliance, Joaquim Simões e ao director e à conservadora do Museu da Farmácia, João Neto e Paula Basso. Todos convergem no valor acrescentado que este edifício vai trazer às farmácias e aos farmacêuticos, mas também ao Porto. Todos convergem também na importância estratégica deste investimento. Um investimento numa cidade onde nasceu a unidade das farmácias a nível nacional.
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Edifício anf - centro empresarial
Inauguração do Edifício anf – Centro Empresarial 11 de Novembro de 2010
Intervenção do Presidente da Direcção da anf Sua Excelência o Presidente da Câmara Municipal do Porto, Senhor Presidente da Junta Metropolitana do Porto, Senhor Bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Senhores anteriores Bastonários da Ordem dos Farmacêuticos Prof. Doutor Carvalho Guerra, Prof. Doutor Alfredo Albuquerque e Dr. João Silveira. Senhor Presidente da Mesa da Assembleia Geral e Senhor Presidente da Direcção da Delegação Norte da Associação Nacional das Farmácias, Senhor Professora Doutora Odette Ferreira, Senhoras e Senhores representantes das entidades oficiais, académicas, associativas, empresariais e religiosas.
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Caros Colegas, Minhas Senhoras e Meus Senhores, Em primeiro lugar, desejo agradecer ao Senhor Presidente da Câmara Municipal do Porto a disponibilidade que teve para presidir à cerimónia de inauguração deste edifício. Mas, também lhe confesso, Sr. Dr. Rui Rio, que não esperava outra coisa, em face do acolhimento que desde o início deu a este projecto. Julgo ter sido a primeira vez que o sector de Farmácias e os seus representantes tiveram um relacionamento com V. Ex.ª enquanto titular de um cargo público. A construção deste edifício proporcionou esse relacionamento, que decor-
reu de uma forma exemplar, que desejo salientar neste momento. Em nossa opinião, foi um relacionamento responsável, em que cada uma das partes fez o que devia. Nós agimos sempre de acordo com as normas e os objectivos urbanísticos da Câmara Municipal do Porto. Com efeito, o respectivo Plano Director prevê a transformação da área industrial do Porto na zona empresarial do Porto. A requalificação assim pretendida vinha inteiramente ao encontro do objectivo do sector de Farmácias. Este edifício é um investimento estratégico, que faz parte de um projecto mais vasto de investimentos empresariais que visam preparar as farmácias para os desafios do futuro.
Um projecto para que as farmácias possam continuar a evoluir, quer do ponto de vista tecnológico, quer do ponto de vista da qualidade dos serviços que têm a responsabilidade de prestar à população. Este edifício será o Centro Empresarial do sector de farmácias no norte do País, onde ficarão concentradas actividades empresariais, associativas e culturais. Aqui passa a funcionar a empresa Alliance Healthcare, a maior empresa de distribuição farmacêutica do País, que tem agora ao seu dispor uma plataforma logística robotizada, do mais moderno que existe em termos europeus. Com esta plataforma, a Alliance vai prestar às farmácias um serviço de distribuição farmacêutica mais eficiente, mais seguro e mais rápido, que contribuirá para que as farmácias cumpram melhor a sua função de assistência farmacêutica à população. Aqui passa a funcionar também a Glintt uma das maiores empresas nacionais de Tecnologias de Informação e a empresa líder em tecnologias de informação na área da saúde. Nos sistemas de informação para farmácias, a Glintt é líder destacada tanto em Portugal, como em Espanha, onde mais de 12 mil farmácias utilizam os sistemas da Glintt. Queremos que este edifício seja, tal como indica a sua denominação, um Centro Empresarial na mais comple-
ta acepção deste conceito. Um centro não apenas de empresas consolidadas, mas também um centro de incubação de empresas. Para este fim, está prevista a disponibilização de espaço para desenvolvimento de novos projectos empresariais, que temos condições para apoiar não só quanto à sua instalação, mas também em muitos outros aspectos igualmente importantes para a vida das empresas, como a consultoria económica e financeira, a protecção de patentes, a formação e a promoção. Convidaremos a participar neste projecto a comunidade científica e académica. Devo dizer que já hoje participamos em algumas parcerias desta natureza. Mas, doravante, dispomos neste edifício de condições para nos envolvermos de uma forma mais estruturada nestas iniciativas. Este edifício será ainda a Sede da Delegação Norte da Associação Nacional das Farmácias e do Museu da Farmácia na cidade do Porto, designado Museu Prof. Alberto Correia da Silva. O Prof. Correia da Silva foi docente de história da farmácia e deontologia farmacêutica na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, durante mais de 40 anos. Dedicou, portanto, a sua vida ao ensino farmacêutico. Foi o estratega, na década de sessenta, da legislação sobre farmácia
e exercício farmacêutico, que perdurou até 2007. Essa legislação foi determinante na construção de um modelo de exercício profissional, em que sobressaía o interesse público do exercício farmacêutico e, consequentemente, o predomínio dos interesses colectivos sobre os interesses individuais. A profissão farmacêutica ganhou, desde então, uma nova dinâmica, que esteve na base de uma prolongada e contínua evolução só interrompida pela legislação de 2007, que liberalizou a propriedade e revogou a Lei do exercício farmacêutico. Estou certo de que todos aqueles que estudaram na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto apoiarão a decisão de dar o nome do Prof. Alberto Correia da Silva ao Museu da Farmácia na cidade do Porto. Para além da justiça da homenagem, será talvez uma forma de reparar postumamente os problemas que o Prof. Correia da Silva injustamente viveu a seguir ao 25 de Abril de 1974. Actualmente trabalham já no Edifício mais de 300 pessoas e estima-se que o número de pessoas duplicará quando estiver em plena actividade. Mas, se nós cumprimos as nossas obrigações, no nosso relacionamento com a Câmara Municipal do Porto, é justo dizer neste momento que a Câmara Municipal do Porto também cumpriu as suas. Fez o que devia para que o investimento se realizasse nos termos
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Edifício anf - centro empresarial
Um edifício equipado com tecnologia de ponta, nomeadamente no domínio do controlo energético, preparado para receber empresas também elas utilizadoras de alta tecnologia, incluindo a robótica.
e prazos projectados, tendo agido sempre connosco como uma entidade eficiente, que cumpriu as regras em vigor, que não burocratizou as soluções e que, ao longo da obra, demonstrou uma vontade inequívoca de que pretendia cooperar com o investidor, no pleno respeito pela legalidade instituída. Agradeço-lhe Senhor Presidente a confiança e o interesse que desde o início manifestou neste projecto e, na pessoa de V. Ex.ª, agradeço também aos Serviços da Câmara o espírito construtivo com que sempre se relacionaram connosco. Minhas Senhoras e Meus Senhores, Quando todos fazem o que devem, o resultado só pode ser positivo. Em Agosto de 2009, havia apenas neste mesmo local um buraco gigantesco. Decorridos 15 meses, temos um edifício com 48 mil metros quadrados de área de construção, acabado e pronto a funcionar! Um edifício equipado com tecnologia de ponta, nomeadamente no domínio do controlo energético, preparado para receber empresas também elas utilizadoras de alta tecnologia, incluindo a robótica. São devidos e justos alguns agradecimentos àqueles que mais contribuíram para a realização deste projecto, para além da Câmara Municipal do Porto e do Seu Presidente, a que já anteriormente me referi.
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Em primeiro lugar, ao Sr. Arquitecto Ginestal Machado e à sua equipa, pelo excelente trabalho de concepção e de acompanhamento de um projecto complexo, cujos objectivos foram plenamente alcançados. Em segundo lugar, à empresa Teixeira Duarte e aos seus colaboradores, que demonstraram estar à altura da dimensão do projecto. Foi a empresa Teixeira Duarte que construiu a sede da ANF em Lisboa e o bom trabalho aí realizado fez-nos crer que realizaria trabalho da mesma qualidade no edifício que agora inauguramos. Em terceiro lugar, um agradecimento muito especial ao Sr. Henrique Moreira, inestimável Director da ANF, pessoa que em nossa representação dirigiu com grande competência, determinação e espírito de sacrifício este empreendimento. Por último, agradeço a todas as outras empresas e colaboradores que ajudaram a concretizar este projecto. Alguns de vós perguntarão porquê um investimento superior a 40 milhões de euros nas actuais circunstâncias que o país atravessa? Que razões motivaram as farmácias e os seus dirigentes a avançar para um projecto desta dimensão? Compreendo a pergunta e vou responder-lhe com absoluta sinceridade. O sector das farmácias foi escolhido em 2005, pelo Governo, como um
alvo a abater durante a legislatura. O mote foi dado pelo Sr. Primeiro-Ministro no discurso de tomada de posse no qual defendeu a liberalização da dispensa de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias. Nos anos seguintes assistiu-se a um massacre permanente do nosso sector. Só haviam duas atitudes possíveis. Ou nos resignávamos, e o sector desagregar-se-ia a breve prazo, ou resistíamos na tentativa de controlar os danos e ultrapassar a crise. Optámos pela resistência e iniciámos um período de investimentos estratégicos para dotar as farmácias de estruturas de apoio que lhes permitissem enfrentar o desvario político do Governo em relação ao sector. Com o esforço colectivo das farmácias e o apoio do sistema financeiro, nunca investimos tanto como nos anos posteriores a 2005. Temos hoje investimentos estratégicos em várias áreas, das quais destaco a prestação de cuidados de saúde, a distribuição farmacêutica, a inteligência de mercado e as tecnologias de informação. Iniciámos, também, a internacionalização da nossa actividade empresarial. As farmácias quiseram preparar-se para resistir aos solavancos da actividade política, sempre irregulares, sempre incertos e sempre inesperados.
Não investimos por haver um clima de confiança política, económica e financeira. Investimos por necessidade de autodefesa e porque, apesar de tudo, o País parecia querer sair da situação de estagnação económica em que se encontrava. O investimento neste edifício foi decidido há cerca de três anos e confesso-vos que se a decisão fosse tomada hoje não garanto que fosse no mesmo sentido. É que para tudo na vida há limites e os investidores não têm grandes motivos para investir hoje no nosso País. Estamos afundados numa crise sem precedentes. E ao fundo de cada túnel há sempre outro túnel, cada vez mais difícil de ultrapassar. A política de saúde está à deriva. Aumentam hoje as comparticipações para diminuírem amanhã. Aprova-se uma metodologia de preços, mas ninguém a cumpre. Tudo depende de ciclos eleitorais. O Governo, quando não tem dinheiro para pagar as comparticipações,
reduz os preços dos medicamentos, violando os critérios que ele próprio definiu. A previsibilidade é um instrumento de gestão impossível no sector da saúde. As decisões são, frequentemente, tomadas sem identificação dos problemas que visam resolver. O saneamento financeiro do SNS é uma história sem fim. O agravamento da crise financeira do Estado e das empresas é galopante e dificilmente poderá ser pior. Já ninguém pára para pensar. Entrámos numa fase de desvario político. Dou-vos dois exemplos. O Governo impôs às farmácias, no princípio da anterior legislatura, um período mínimo de abertura semanal de 55 horas. Na mais longínqua das vilas ou aldeias a farmácia teria de cumprir esta obrigação. Paralelamente, durante a mesma legislatura, o Governo desenvolveu um projecto de encerramento sucessivo de instalações e serviços de saúde por todo o País. Ou seja, a uma maior
disponibilidade imposta aos serviços privados, correspondia uma menor disponibilidade dos serviços públicos. Dou-vos outro exemplo. O Ministério da Saúde publicou há semanas um diploma que elimina das embalagens dos medicamentos a indicação dos respectivos preços. O diploma tem o óbvio propósito de ocultar dos consumidores os preços dos medicamentos. Se esta medida for por diante, os utentes deixam de ter ao seu dispor na embalagem o preço do medicamento, tornando-se impossível a comparação de preços. A opção dos doentes por medicamentos iguais e mais baratos será mais difícil. Foi uma medida inesperada, que nunca havia sido apresentada publicamente, nem sequer como mera intenção do Governo, apesar de alterar profundamente o relacionamento dos utentes com os medicamentos e com as farmácias. Aparece, assim, de surpresa, sem se saber quem a reclamou e que razões terão levado o Ministério da Saúde a
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“Dirijo-me agora a vós para vos transmitir uma palavra de tranquilidade. A vida não está fácil para ninguém e as farmácias não fogem à regra. Temos, apesar de tudo, a força da nossa unidade, que sempre nos tem ajudado até hoje a vencer as dificuldades.” implementar de forma tão sigilosa uma medida desta dimensão. Enquanto os sectores de actividade económica em geral são obrigados a afixar preços, por razões de transparência com os consumidores e para estimular a concorrência, os preços dos medicamentos vão ser escondidos dos utentes. Até ao momento, nenhum responsável do Ministério da Saúde considerou necessário dar uma explicação pública e fundamentada sobre a originalidade do processo legislativo e os objectivos da medida. A Assembleia da República solicitou, entretanto, a ratificação do diploma. Há um coro generalizado de protestos das associações de doentes e consumidores. É previsível que a medida seja revogada. Mas, este episódio evidencia que é necessário mais verdade e transparência na vida pública e que o País entrou numa situação de quase absoluta impunidade política. O Estado não respeita ninguém e em vez de estar ao serviço dos cidadãos, cada vez mais são estes que estão ao serviço do Estado. Não pode haver pior clima do que este para desincentivar o investimento. Quero terminar esta breve incursão pelos temas da actualidade política com uma nota de optimismo. O País parece estar a acordar, finalmente, para a necessidade de reformas duras e profundas na nossa vida política, económica e social. Esta disponibilidade da opinião pública era aquilo que, a nosso ver, faltava
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para se poder iniciar uma fase de regeneração da vida nacional. Vai ser difícil. Vai ser dura. E vai ser prolongada. Mas, é inevitável e será a única forma de podermos ser absolvidos pelas gerações futuras. Os problemas do País têm solução. O que não tem havido é verdade na política e a capacidade para assumir com frontalidade os problemas e falar verdade aos portugueses. Temos bons líderes, bons empresários e bons trabalhadores. É preciso que se mobilizem para uma maior participação política e para a construção do futuro do País.
Caros colegas, Dirijo-me agora a vós para vos transmitir uma palavra de tranquilidade. A vida não está fácil para ninguém e as farmácias não fogem à regra. Temos, apesar de tudo, a força da nossa unidade, que sempre nos tem ajudado até hoje a vencer as dificuldades. E deixem-me fazer aqui um parêntesis para vos dizer que a unidade do sector de farmácias a nível nacional nasceu na cidade do Porto. A circunstância de funcionar aqui, até ao final dos anos 60, a única Faculdade de Farmácia a nível nacional fez com que gerações sucessivas de estudantes de farmácia, entre as quais me incluo, aqui
se conhecessem, aqui estudassem e aqui se tornassem amigos para a vida. Podiam exercer a sua profissão nos mais diferentes pontos do País. Mas, todos se conheciam e mantinham as amizades com origem nos tempos da universidade. Esta circunstância, aparentemente inócua, foi fundamental para que o sector não se tivesse desagregado e, bem pelo contrário, se tivesse mantido coeso até aos dias de hoje. Como diz o poeta, não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe. Se as farmácias continuarem a prestar serviços farmacêuticos de qualidade, como têm prestado até hoje, podem encarar o futuro com confiança. Este investimento que hoje inauguramos foi pensado para ajudar as farmácias na melhoria da qualidade dos serviços que prestam à população. Estamos muito tranquilos com a natureza, a dimensão e a rentabilidade esperada deste investimento. Confio em que ele contribuirá para ajudar a construir, sob os escombros da crise profunda que o País atravessa, um sector de farmácias renovado, em permanente modernização tecnológica, ainda mais próximo dos doentes e das populações em geral e, como tal, mais importante e incontornável na melhoria da qualidade do nosso sistema de saúde.
Muito obrigado.
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Presidente da Câmara do Porto elogia ANF
“País precisa de mais luzes como esta” O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, considera que o investimento da ANF na cidade constitui um bom exemplo que o país pode seguir. É – disse – uma luz que se acende na crise. A crise económico-financeira que o país atravessa foi o pano de fundo da intervenção do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Rio, na inauguração do edifício ANF na cidade. As suas palavras seguiramse às do presidente da associação, João Cordeiro, que se debruçou igualmente sobre o contexto em que este investimento se concretiza.
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Foi uma intervenção que Rui Rio gostou de ouvir, como ele próprio sublinhou, porque foi proferida com “a autoridade moral de quem está a procurar empurrar o país para a frente”. Como português e como presidente da autarquia, agradeceu à ANF este investimento na cidade do Porto, considerando que se trata de “uma
luz que se acende numa altura em que o país só tem visto o apagar de luzes e em que não se vê luz ao fundo do túnel mas apenas outro túnel”. E esta luz que se acende dá “algum ânimo” necessário a todos perante uma “situação bem mais difícil” do que se pode pensar, com uma dívida pública que ultrapassa largamente o PIB e com uma dívida externa igualmente avantajada. Para superar esta situação é preciso que todos estejam disponíveis para fazer sacrifícios: “Trabalhar mais é o que se exige a todos os portugueses em nome do país”. Mas – alertou – “serão precisos muitos anos para pôr o país direito e é preciso que as pessoas se consciencializem disso”. E para sair da crise é preciso também rigor e criatividade nacional, disse Rui Rio, citando João Cordeiro quando disse que o país tem bons líderes, bons empresários e bons trabalhadores. Mas – sublinhou o autarca – “é preciso que não se atrapalhe a vida aos que são bons. O ambiente macroeconómico não pode perturbar os que têm capacidade para crescer”. O edifício ANF no Porto é um exemplo da capacidade de tornar o país mais competitivo. “Não é um investimento igual a dez estádios de futebol que agora estão abandonados. É um investimento que cria emprego num sector com utilidade, que melhora a qualidade de vida”. Aludindo ao teor da sua intervenção, Rui Rio justificou as “primeiras palavras mais pesadas” com a necessidade de “alertar as pessoas, num enquadramento positivo, um bom exemplo que o país pode seguir”. “Para se ver se depois de amanhã estamos melhor”. “Se se acenderem mais luzes como esta no Porto ou fora do Porto, torna-se mais simples andar para a frente e resolver os problemas do país”, concluiu. Rui Rio aproveitou igualmente a oportunidade para dar os parabéns ao arquitecto Ginestal Machado, por, mais uma vez, ajudar a cidade com uma solução criativa que melhora a qualidade de vida.
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Edifício ANF — Centro Empresarial é o primeiro empreendimento a ser concretizado na “Área Empresarial do Porto”, requalificando parte significativa de um quarteirão deste pólo da cidade. Anteriormente conhecida por “Zona Industrial do Porto”, esta área foi dotada, através do novo P.D.M., dos mecanismos que permitem a sua requalificação urbana, para torná-lo num atractivo pólo empresarial e tecnológico. A sua localização estratégica e rápidas ligações ao aeroporto Sá Carneiro, porto de Leixões, Metro do Porto e principais eixos rodoviários (Lisboa, Braga, Vila Real, Galiza, etc), reforçam a sua centralidade e poder de atracção. O edifício concentra num único espaço várias empresas do grupo da Associação Nacional das Farmácias, bem como a sua Delegação Norte e o Museu da Farmácia. O edifício desenvolve-se ao longo de dez pisos, sendo seis pisos acima da
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cota de entrada, e quatro pisos abaixo da cota. Os quatro pisos abaixo da cota, que perfazem um total de 26 mil m2, destinam-se a: - o primeiro e segundo a actividades de logística e distribuição da Alliance Healthcare; - o terceiro e quarto a um parque de estacionamento público com 570 lugares. Nos pisos acima do solo, com uma área de construção de aproximadamente 21 mil m2, encontramos o Museu da Farmácia (r/c), um Auditório de 278 lugares (1º andar) com salas de apoio e a Escola de Pós-graduação em Saúde e Gestão (5º andar), a Glintt, empresa de tecnologias de informação (4º andar). Uma nota especial para o Museu da Farmácia, que em breve se tornará uma referência da cidade do Porto, e para o auditório, cujo corpo balançado sobre a entrada, marca a imagem arquitectónica da fachada principal do edifício. O edifício distingue-se também pelo elevado grau de efi-
ciência energética, garantindo aos seus utilizadores um excelente nível de conforto e equipamento. As preocupações com o consumo energético do edifício reflectiram-se não só no estudo da composição das paredes exteriores e coberturas (isolamento térmico sem pontes térmicas, caixilharia com ruptura térmica, vidro com factor solar), como na escolha dos equipamentos a instalar. Dentro destes princípios, foi implementado um complexo sistema de gestão técnica centralizada, que permite gerir e monitorizar os diversos equipamentos de climatização, iluminação natural e artificial, informática e segurança. As lâminas sombreadoras, que se encontram nas fachadas principal e laterais, são disso exemplo. O sistema de gestão controla a abertura das lâminas, conforme o ângulo de incidência solar, em cada dia do ano, permitindo o controlo energético e luminoso, no interior do edifício.
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Henrique Moreira, director executivo da ANF
Objectivos foram alcançados Foi a Henrique Moreira que a direcção da ANF atribuiu a incumbência de coordenar a execução do Edifício ANF - Centro Empresarial, no Porto. Tarefa cumprida, com a satisfação de terem sido alcançados todos os objectivos. É – diz -uma vitória de todos, já que o seu trabalho foi muito facilitado pela excelência das equipas.
Farmácia Portuguesa – O que esteve subjacente à decisão de construir um edifício desta natureza e desta dimensão no Porto? Henrique Moreira – A Direcção da ANF, há cerca de quatro anos, através do Imofarma, decidiu construir o Centro Empresarial do Porto, com o objectivo, entre outros - de concentrar serviços da ANF e empresas do seu grupo empresarial num mesmo espaço. Outro objectivo prende-se com o facto de, sabendo-se que a Câmara Municipal do Porto pretendia transformar aquela zona, predominantemente industrial numa zona empresarial, se ter aproveitado a oportunidade para rentabilizar o investimento através da construção de espaços para escritórios de empresas das áreas das tecnologias e da saúde. Um outro objectivo passou por ofere-
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cer ao Porto um espaço museológico com uma dimensão bem merecedora da cidade, um auditório com cerca de 300 lugares e um conjunto de salas multiusos, capazes de satisfazer diferentes públicos. Outro objectivo importante foi o de dotar a Escola de Pós-graduação de condições adequadas à sua actividade. A escola funcionava na delegação, num espaço de área bastante reduzida, que obrigava a recorrer com frequência a soluções externas, com os inerentes custos com o aluguer. Finalmente, e tendo em vista as dificuldades de estacionamento existentes no local, foi construído um parque de estacionamento com 600 lugares, dos quais, cerca de metade, para ser utilizado por colaboradores das empresas a funcionar no edifício e outra metade para ser explorado em regime de par-
que público. Ou seja, houve uma confluência de interesses entre a cidade e o Imofarma, que foi muito importante para a concretização deste projecto. Farmácia Portuguesa – Que critérios presidiram à escolha do arquitecto Ginestal Machado? HM - Em primeiro lugar o da escolha recair sobre um arquitecto sediado na cidade do Porto; e em segundo lugar que fosse um nome de referência pelo conjunto da obra já realizada. Na verdade, entendeu-se que o arquitecto a seleccionar deveria ter obra realizada no Porto, o que facilitaria o trabalho a desenvolver na fase de preparação do projecto e, bem assim, na fase da sua execução. Ora, o arquitecto Ginestal Machado, responsável pelo gabinete APEL, apresentava obra feita, na cidade, que nos
últimos anos se traduziu num elevado número de projectos executados, quer para habitação, quer para escritórios e serviços. Daí a escolha. Farmácia Portuguesa – Em que pressupostos assentou o diálogo com o arquitecto? HM – O diálogo com o arquitecto Ginestal Machado foi muito facilitado pelo facto da ANF e as empresas do seu grupo empresarial, enquanto futuros utilizadores do espaço, terem ideias muito claras do que pretendiam em termos de ocupação do seu interior, ou seja, da forma de organização dos espaços que lhes seriam destinados. O que mais condicionou o desenvolvimento do projecto de arquitectura foi a implantação do armazém destinado à Alliance Healthcare, dada a enorme área de ocupação, cerca de 16.000 m2. Também o condicionaram, em menor grau é certo, a necessidade do espaço museológico ficar instalado no piso da entrada do edifício e o espaço do auditório ser totalmente amplo, apesar da sua grande dimensão. Foram as únicas condicionantes colocadas ao arquitecto Ginestal Machado. De resto, toda a concepção do edifício, nomeadamente a fachada, o átrio de entrada e o auditório, é resultado da liberdade criativa do arquitecto. O único projecto que não é da sua responsabilidade é o que respeita ao interior do museu, que foi desenvolvido por Nuno Gusmão. Mas, apesar dessas condicionantes, relacionadas com os objectivos de construção do edifício, parece-nos, agora que a obra está terminada, ser bem visível no edifício as marcas que são referências na cidade da obra do arquitecto Ginestal Machado. Farmácia Portuguesa – A direcção da ANF confiou-lhe a coordenação do projecto. Quais eram exactamente as suas funções? HM – A minha função principal era a de coordenar a obra, desde o desenvolvimento do projecto até à execução da empreitada. E em paralelo, assegurar o cumprimento dos prazos de execução e controlo dos respectivos custos.
Farmácia Portuguesa – Como recebeu essa incumbência? HM – Com enorme vontade de a concretizar, uma vez que sempre gostei de me envolver em projectos aliciantes, como o que então me estava a ser proposto coordenar. E como foram claramente transmitidos os objectivos pretendidos, bem como a data para os alcançar, o meu trabalho estava à partida, bastante facilitado. De resto, rapidamente me envolvi no projecto, e de tal forma, que o que por vezes poderia parecer um sacrifício, acabava por realizar com verdadeiro prazer, sobretudo, num enquadramento em que a ANF proporciona os melhores meios e a maior liberdade de acção. Nesse contexto, com suporte em equipas bem estruturadas e o apoio dos futuros utilizadores do edifício – ANF, Escola, Museu, AH e Glintt a coordenação do projecto foi ficando cada vez mais simplificada. Também o bom relacionamento com o gabinete projectista, a empresa construtora (Teixeira Duarte) e a empresa de fiscalização (DHV) facilitou a minha actividade. Farmácia Portuguesa – E como foi a articulação com a câmara? HM – O relacionamento foi o melhor possível. Por um lado, a Câmara do Porto, desde o início do projecto, estava interessada em acolher o tipo de investimento que o Imofarma lhe propusera. Por outro, estando os serviços da Câmara bem organizados, o facto de sempre apresentar os pedidos de aprovação de projectos e licenciamentos na forma e nos prazos legalmente estabelecidos, o relacionamento não podia deixar de ser no sentido pretendido. Farmácia Portuguesa – Um projecto desta dimensão apresenta sempre algumas dificuldades. Quais foram as principais? HM – No final da obra, e em jeito de balanço, sempre podemos referir que a principal dificuldade que sentimos na coordenação da obra, teve a ver com o cumprimento do prazo de execução
da empreitada. Na verdade, quer o gabinete projectista, quer a empresa construtora consideraram sempre que os 15 meses previstos era um prazo difícil de alcançar, muito embora ambos tivessem aceite esse desafio. Que no final se cumpriu! Houve, naturalmente, alguns constrangimentos no decorrer da obra, trabalho que obrigou a esforços suplementares e também, momentos de muito cansaço. Não vou negar. Às vezes parecia que a obra não avançava. Mas nas reuniões de acompanhamento sempre conseguimos ultrapassar todos os obstáculos. Inicialmente, ia ao Porto um dia por semana, depois foi necessário aumentar a permanência semanal no Porto para dois dias e por fim para três, por vezes trabalhando 12 ou mesmo 14 horas. Mas no final foi com alegria que atingimos os objectivos pretendidos. Julgo, por isso, poder afirmar que tais dificuldades são próprias da coordenação de um projecto da dimensão do que tivemos de concretizar. Farmácia Portuguesa – Disse, anteriormente, que gosta de trabalhar com um objectivo. Qual era o seu objectivo neste projecto? Foi alcançado? HM – Foram diversos os objectivos intercalares que ao longo da obra foram sendo estabelecidos para se concretizar a construção do edifício. Recordo que quando a direcção da ANF entregou a coordenação do projecto, face ao prazo estabelecido para conclusão da obra, impus a mim próprio tudo fazer para no dia 4 de Outubro de 2010 o armazém da AH estar em funcionamento. E conseguiu-se: nesse dia o armazém funcionou e satisfez as primeiras encomendas às Farmácias. Foi por esse objectivo que a equipa que coordenei trabalhou e julgo poder afirmar que foi plenamente alcançado. Nos dias imediatos fez-se a transferência das outras empresas e dos outros serviços da ANF, que ficaram devidamente instalados antes da inauguração do edifício. Farmácia Portuguesa – E quanto aos custos? HM – Estava previsto um investimento
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Edifício anf - centro empresarial
Os números do Edifício ANF - Centro Empresarial Os números permitem conhecer melhor a dimensão do Edifício ANF, inaugurado a 11 de Novembro último: • Investimento – cerca de 41 milhões de euros, 24 milhões dos quais relativos à obra propriamente dita e 11,7 milhões para aquisição dos terrenos; o restante distribui-se por projectos, licenças, fiscalização e taxas; • Período de execução – 15 meses, de 1 de Julho de 2009 a 30 de Setembro de 2010; • Área total – 48.283 m2, distribuída por sete pisos à superfície e quatro subterrâneos; • Nº global de trabalhadores na empreitada – 1.363, com uma média mensal de 171; • Sub-empreiteiros – 170.
de 24 milhões de euros no que respeita à empreitada propriamente dita, e embora ainda não estejam finalizadas as obras em relação aos acabamentos dos escritórios, podemos afirmar com segurança que não, vamos ultrapassar o orçamento previsto para as obras contratualizadas. Com efeito, ao fazer-se o contrato com a empresa construtora do tipo “chave na mão” assegurou-se, em princípio, a possibilidade de não serem ultrapassados os valores contratualizados para a execução da empreitada. E tal foi possível, porque houve a preocupação de preparar muito bem o caderno de encargos para evitar aumentos dos custos previstos para a execução da empreitada.
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Farmácia Portuguesa - Quais foram para si os principais momentos da obra? O que lhe deu mais satisfação? Foi vê-la concluída? HM – Foram diversos. Mas a ter de eleger o momento da obra que mais satisfação me deu, esse foi seguramente aquele em que AH deu cumprimento às primeiras encomendas a 4 de Outubro. Posso dizer que foi um momento-chave, que me deixou mais satisfeito da que o da conclusão do edifício. Também me deu uma enorme satisfação não terem ocorrido acidentes de trabalho na obra. Estiverem envolvidas na obra mais de 1.300 pessoas e, no mês mais intenso, que foi em Abril, do corrente ano, estiveram em simultâneo 277 pessoas. Foi um resultado excepcional não ter havido acidentes, o que se deve em boa parte ao facto das 170 empresas subcontratadas terem exercido um controlo rigoroso sobre os seus trabalhadores. No final, pelo resultado conseguido, todos quantos trabalharam na obra deverão estar de parabéns. Foi um trabalho árduo e o Edifício é hoje uma vitória de todos eles. Farmácia Portuguesa - Não foi a primeira vez que a direcção da ANF lhe confiou a tarefa de coordenar projectos estratégicos. Que significado tem para si? HM – É uma distinção, mas também uma responsabilidade. Julgo, por isso, que sempre que me entregam um projecto, aceito-o como sendo um voto de confiança no trabalho das equipas com que me envolvo. E é uma satisfação saber isso, pois é algo do que me faz mover. Também acredito, com a experiência que fui adquirindo ao longo dos anos com as equipas que me foram acompanhando, ser capaz de continuar a executar novos projectos, Mas voltando ao que afirmei no princípio: só será possível levá-los a cabo com a colaboração preciosa das equipas que é possível formar com os recursos
existentes na ANF. Costumo dizer que tenho vivido na ANF 15 anos de grande dinamismo, dada a possibilidade de ter sempre projectos novos e diferentes, para fazer. Esse dinamismo bebe-se nesta casa, faz parte da sua cultura, está no ambiente. É um privilégio trabalhar com as pessoas que a integram. Neste contexto, estarei sempre disponível para aceitar novos desafios e sempre com o mesmo entusiasmo.
Uma dedicação com 15 anos Foi há 15 anos que Henrique Moreira iniciou a sua colaboração com a ANF, então como consultor na área da saúde. O percurso profissional do actual director executivo da associação está em grande parte ligado à administração fiscal, onde desenvolveu uma carreira de duas décadas durante a qual integrou a equipa responsável, nomeadamente, pelo projecto de implementação do IVA em Portugal. O seu contacto com a área da saúde aconteceu mais tarde, primeiro no Conselho de Administração do Hospital de S. José e, depois, na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. E foi a experiência acumulada nestes anos que o conduziu à ANF, onde desempenha actualmente as funções de director executivo. E é nessa qualidade que tem coordenado alguns projectos estratégicos para a associação, entre eles a implementação do Sifarma 2000 e o lançamento do Programa Farmácias Portuguesas. O Centro Empresarial do Porto é a obra mais recente em que participou, a ela permanecendo ligado como administrador da empresa que gere o edifício, a JUTAI. Em mãos tem actualmente a responsabilidade pelo armazém da Alliance Healthcare na zona de Lisboa. É este o projecto em que agora está a “investir tudo”.
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Arquitecto Ginestal Machado
Farmacêuticos sentem o edifício como seu É este o olhar do arquitecto Ginestal Machado sobre a dinâmica dos farmacêuticos, utilizadores do espaço que exibe o seu traço e que acredita se transformará num pólo dinamizador da projectada zona empresarial do Porto. Farmácia Portuguesa – Como arquitecto com uma estreita ligação ao Porto, que valor considera ter este empreendimento para a cidade? Ginestal Machado – Como o presidente da ANF, Dr. João Cordeiro, e o presidente da câmara, Dr. Rui Rio, referiram na inauguração, este projecto surge como um empreendimento-âncora na requalificação da zona onde se localiza. A revisão do Plano Director Municipal prevê que a antiga zona industrial se transforme em empresarial e este edifício, com
a dimensão que tem e o impacto que causa, é o primeiro nesse processo de transformação. É um edifício compacto que vai ao encontro dos objectivos da câmara do Porto e que, como tal, foi bastante acarinhado. Acredito que será um pólo dinamizador da zona. Farmácia Portuguesa – Como recebeu o convite para ser o autor do projecto? GM – Há uns três ou quatro anos, a ANF procurava um terreno para
criar este pólo logístico e pediu a minha ajuda, uma vez que sabia da minha ligação ao Porto e às cidades periféricas. A dimensão do projecto exigia uma área que respondesse às necessidades da associação, não só no espaço físico como nas acessibilidades. O prazo curto para a sua execução também condicionava a escolha. Abordei alguns autarcas nesse sentido e considerei que – os outros que me desculpem – devia ser o Porto a receber este empreendimento, até
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Não imaginava que as pessoas se congregassem tanto à volta da associação. Os farmacêuticos assumiram o edifício como deles. Em todos os aspectos esta foi uma boa experiência para mim.
pela parte museológica que lhe era inerente, nomeadamente por conter a Farmácia Estácio, um ícone da cidade. Apontou-se, pois, baterias à cidade, tendo havido várias reuniões, incluindo com o presidente da câmara. Originalmente, pensava-se na eventual disponibilidade de um terreno da autarquia mas acabou por surgir, por acaso, um espaço confinante ao antigo armazém da Alliance Healthcare. Farmácia Portuguesa – Qual foi a encomenda da ANF? A partir de que conceito trabalhou? GM – Este projecto foi, desde o início, uma peça viva e ainda agora está em evolução. O que me foi transmitido foi que a âncora do edifício seria o armazém da Alliance e a seguir as instalações da própria ANF. Depois surgiram a Glintt e o museu. Há alguns espaços que foram sobrando e que poderão ser aproveitados, nomeadamente no hemisfério do grupo. Os objectivos estavam perfeitamente definidos e o projecto foi evoluindo em função deles. Farmácia Portuguesa – Em que medida conseguiu articular as necessidades da ANF com o seu perfil como arquitecto? GM – Sou arquitecto, mas compreendo a vertente comercial dos meus clientes. Entendo que não podemos ser rígidos quando delineamos um projecto, quando o imaginamos temos de ter a mente aberta e ser capazes de o transformar num pólo vivo. Não podemos criar uma imagem e esquecer tudo o resto; temos de lhe dar vida e isso só compreendendo os seus utilizadores.
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Sobretudo agora, há que tornar as peças arquitectónicas em peças rentáveis, adaptando o lado estético aos clientes. Farmácia Portuguesa – Que preocupações teve no desenrolar do projecto? GM – A imagem exterior foi concebida dentro do que entendi como sendo a vontade e as necessidades do Imofarma: um edifício sóbrio, mas com muita transparência, muito clean, até pela ligação às farmácias, à saúde. O resultado foi um edifício austero mas, digamos assim, virado para a frente, porque incorporámos tecnologia de ponta, procurando torná-lo o mais sustentável possível. As questões energéticas são fundamentais, pelo que tivemos essa preocupação ao nível da domótica, da parte térmica e acústica. Foi tudo pensado, nomeadamente nos materiais, no sentido de tornar o edifício sustentável e agradável para o utilizador. Farmácia Portuguesa – Disse que um projecto de arquitectura deve ser uma peça viva. Há grandes diferenças entre o conceito original e a obra construída? GM – De facto, olhando para o primeiro estudo percebe-se que a solução final não é igual, mas sente-se que o traço é o mesmo. Houve evoluções, porque é preciso ir ao encontro das necessidades do cliente e da rentabilidade do produto. Se o projecto se faz com um objectivo e depois nos esquecemos disso, tornamos os nossos edifícios em fracassos financeiros. Concretizando, posso dizer que a
solução que tínhamos imaginado para o revestimento exterior era outra, mas alterámos devido, nomeadamente, a questões relacionadas com a certificação energética. Tínhamos a ideia de uns sombreadores e acabámos com uma solução de controlo solar: todo o edifício é controlado por um cérebro que introduz ou retira luz do exterior em função das horas do dia e da exposição solar; consegue-se gerir melhor os gastos de energia e também se obtêm benefícios em termos de acústica. Já o átrio de entrada eu não aceitaria de maneira nenhuma que se adulterasse. Foi tudo feito de acordo com o projecto, ainda que ele não tenha sido originalmente concebido para acolher a colecção de arte contemporânea que acabou por lá ficar exposta. Mas foi tudo feito debaixo da nossa alçada. Quanto aos espaços dos utilizadores, demos o nosso parecer mas não podemos mexer demasiado com os hábitos de gestão de cada empresa, com os hábitos de vivência dos seus colaboradores. O que é importante é termos a mente preparada para a evolução, para que cada obra seja uma peça viva. E conseguimo-lo. Farmácia Portuguesa – O que permite identificar o edifício como um projecto do arquitecto Ginestal Machado? GM – Julgo que uma marca minha, desde sempre, é a minha preocupação de ir ao encontro do cliente, tornando os projectos rentáveis. Já tenho sido criticado por assumir uma postura de arquitecto comercial, pela positiva: eu entendo que os projectos ou são rentáveis ou não se fazem. Penso até que é por
Marcas pela cidade Ginestal Machado diz-se, antes de mais, português. Depois, alentejano de alma e coração. Mas é ao Porto, onde concluiu a licenciatura, que está mais ligado profissionalmente, com obra feita um pouco por toda a cidade: o Oporto Centro, os Edifícios do Lago, o Capitólio, o Dolce Vita e o Arrábida Shopping e, mais recentemente, a sede da EDP na envolvente da Casa da Música e, agora, o Edifício ANF. São apenas exemplos de um currículo que passa também por Angola, Cabo Verde, São Tomé e Brasil.
Mas, no fim, fiquei satisfeito. Olho para a obra e revejo-me; é mais um filho que pus no mundo. Quando passo no edifício, seja de dia, seja de noite, sinto orgulho. É uma peça marcante.
esta minha particularidade que não trabalho para instituições públicas, só para privados. Sempre me habituei a encarar o cliente numa perspectiva de fidelização, sempre com projectos de qualidade. E penso que esta é uma das razões pela qual, neste momento de crise, ainda tenho trabalho. Farmácia Portuguesa – Com essa perspectiva comercial, só pode ser rigoroso nos prazos e nos orçamentos… GM – Sou rigorosíssimo. Não aceito desvios de maneira nenhuma, em parte nenhuma do mundo e muito menos num país como o nosso. Se calhar nem sou convidado para fazer obras públicas exactamente por isso, porque não posso admitir que uma obra seja lançada por seis milhões e acabe em 30… Tenho casos em que consigo fazer
a gestão da obra e no fim ainda reduzir os custos. Quando há uma derrapagem de 5% fico muito preocupado. Este edifício deve ter tido um desvio de 1% num orçamento de 25 milhões, mas foi devido às alterações que foram introduzidas e ao prazo apertado, foram 13 meses. Mas de certeza que não era convidado para fazer as novas instalações da Alliance em Lisboa se isto tivesse sido um fracasso. E isto não acontece porque eu adultere a arquitectura, mas porque tenho em mente que os projectos têm de ser contidos, rigorosos. Farmácia Portuguesa – Quais foram as condicionantes e os desafios desta obra? GM – Esta obra foi desgastante para mim e para a minha equipa pela complexidade, pelo rigor e pelo prazo.
Farmácia Portuguesa – Como foi a articulação com a ANF? GM – Foi excelente. Eu não conhecia o Dr. João Cordeiro, só o conheci nestas andanças, mas foi-se desenvolvendo uma relação mais próxima, de respeito mútuo. Era uma figura pública de grande relevo de que ouvia falar. Muito francamente não tinha noção da dimensão do grupo, foi uma novidade. E foi uma agradável surpresa ver o investimento da associação no património, na cultura. Também não tinha noção da dinâmica. Eu pertenço a uma classe que não é unida, pelo que fiquei agradavelmente surpreendido com a avalanche de pessoas que apareceram na inauguração, encheram o auditório, e muitas ficaram de fora. Não imaginava que as pessoas se congregassem tanto à volta da associação. Os farmacêuticos assumiram o edifício como deles. Em todos os aspectos esta foi uma boa experiência para mim.
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Edifício anf - centro empresarial
É nisto que acredita João Almeida, presidente da Delegação Norte da ANF. No novo edifício vê um pólo dinamizador da cidade, da região e do país. Para a delegação, uma oportunidade de ampliar serviços e congregar os associados.
João Almeida, presidente da Delegação Norte da ANF
Edifício vai aproximar farmácias da associação Farmácia Portuguesa – Como presidente da delegação do Norte da ANF como recebeu de um projecto desta dimensão? João Almeida – Quando este investimento foi decidido eu ainda não era presidente da delegação, embora estivesse na direcção. Mas obviamente que foi com muito agrado que percepcionámos que a direcção nacional tinha esta visão para o Norte do país. Todos sabemos que há grandes investimentos em redor da capital, não só na nossa área de actividade, pelo que acolhemos com grande satisfação este projecto. Farmácia Portuguesa – Para a delegação que mais-valias traz este edifício? JA – O edifício vem responder a uma necessidade que já tínhamos identificado e que se prendia com o espaço e a funcionalidade. A delegação ocupava uma moradia no Passeio Alegre, fan-
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tástica mas que não havia sido idealizada nem construída com o intuito de ser uma sede funcional. Tinha muitas limitações, nomeadamente a nível da formação, que é uma área que nos é muito querida e que traz muitos associados à delegação. Na sede anterior, essa capacidade não estava instalada. Mesmo a nível dos serviços da delegação, a sede começava a estar sobrecarregada, pelo que haveria necessidade de obras que alterassem a estrutura do espaço, o que não era muito interessante. A delegação dá, pois, um salto muito positivo com estas novas instalações, mas não nos podemos focar na delegação, há um edifício completo com uma vasta panóplia de serviços. Farmácia Portuguesa – Como é que o novo espaço vai ser potenciado? JA – O espaço é muito bom, muito fun-
cional, com potencialidade para ampliar os serviços da própria delegação. É, aliás, um repto que já deixei à direcção nacional. Hoje estamos muito centralizados em Lisboa, mas penso que, sem duplicar serviços, há projectos novos que facilmente se poderão instalar no Norte, dando outra projecção ao Norte. Os projectos são, naturalmente, da associação como um todo, é uma questão de haver vontade da direcção nacional para alocar alguns deles à delegação. Da nossa parte há todo o interesse. Farmácia Portuguesa – Já tem planos concretos nesse sentido? JA – A incumbência primária da delegação é dar apoio a tudo o que for emanado da direcção nacional, implementando o programa que foi sufragado nas eleições. Nesse sentido, acolhemos os dinamizadores do Departamento de
Apoio aos Associados, prestamos apoio aos delegados de círculo e de zona, ajudamos a resolver eventuais problemas dos associados com as instituições. Além disso, acolhemos um conjunto de projectos de âmbito nacional, como o ProFarmácia, de apoio à instalação e transferência de farmácias. Também proporcionamos consultoria jurídica, que é um serviço a que as farmácias recorrem cada vez mais e que, por isso, já foi ampliado. Penso que poderá existir espaço para lançar a consultoria na área fiscal, uma área complexa com a qual as farmácias se têm vindo a preocupar e que não existe na Delegação Norte com carácter permanente. Neste momento, existe pontualmente, por solicitação das farmácias, mas penso que deveremos avançar de modo a que este apoio possa ser prestado com alguma rotina. Com o novo edifício, teremos também mais facilidade em levar à prática o nosso programa de palestras, que desenvolvemos para além da formação. Escolhemos temas impactantes, que estão nos media, e sobre os quais consideramos importante as farmácias estarem informadas. Há ainda uma componente lúdica, que não é de menosprezar. É importante que os associados tenham um espaço onde possam conviver, debater ideias, um espaço diferente das palestras onde há apenas alguns minutos para debate. A nossa ideia é promover eventos sociais, mais descontraídos mas
que proporcionem um encontro entre os colegas e que permitam congregar mais pessoas na delegação. Farmácia Portuguesa – Acredita que este projecto vai aproximar as farmácias da delegação? JA – Há ainda muitos colegas, mesmo do Porto, que não conhecem o edifício, mas a receptividade que tenho tido é muito positiva. De uma forma geral, os associados participam na vida da delegação, aderindo aos projectos que são propostos. Isso é bem visível nas palestras que já organizámos. Mas, estou esperançado que correspondam ainda mais. E que, com o novo edifício e com todas as valências que ele oferece, haja uma maior aproximação. Acredito que se vai criar uma nova dinâmica que traga ao edifício, não só os farmacêuticos, mas todas as instituições ligadas ao sector. Farmácia Portuguesa – O que ganham as farmácias e os farmacêuticos do Norte com este edifício? JA – Não gostava de ver o edifício como sendo um investimento no Norte, vejo-o como um investimento a nível nacional focalizado no Norte e no qual o Centro também se apoiará. Vejo o edifício do ponto de vista integrado e penso que esta integração de serviços trará uma maior aproximação dos associados. Vamos fazer um esforço para que as
empresas que se instalarem no edifício sejam, de algum modo, ligadas à nossa área de actividade – empresas tecnológicas ou da saúde - para que este possa ser um pólo dinamizador. Com este edifício ganham as farmácias, mas também a cidade ganha com este contributo dos farmacêuticos. Estamos a criar um núcleo com uma capacidade de expansão bastante interessante, gerador de emprego relativamente qualificado. E ganha também porque temos um auditório e salas multi-usos que não há no Porto. Não estamos a falar de um espaço de grande dimensão como um centro de congressos, mas de uma estrutura mais realista que acaba por ser mais interessante para as empresas e para as instituições. Farmácia Portuguesa – Na sua opinião, que imagem projecta este edifício sobre o empreendedorismo da ANF e das farmácias? JA – Tenho receio que, em vez de uma imagem de investimento, passe uma imagem de ostentação, por termos edificado este projecto numa altura de crise. Mas a verdade é que o edifício começou a ser planeado muito antes, quando o cenário do país era outro. Mas, espero que, independentemente de alguma posição inicial mais crítica, se perceba que as farmácias querem dar o seu contributo e que este projecto venha a ser identificado como dinamizador do Norte e do país.
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Edifício anf - centro empresarial cionais e com grandes limitações, que não respondiam às necessidades da formação. Dispúnhamos apenas de duas salas para a formação, o que limitava muito quer o número de acções que podíamos realizar, quer o número de formandos em cada uma. Quando a formação envolvia equipamento informático tínhamos de nos deslocar à Glintt. Agora temos uma sala que responde a esta necessidade. Essa falta de aptidão das anteriores instalações para albergarem a Escola, tinha naturalmente reflexos, desde o atendimento até ao conforto proporcionado aos formandos, traduzindo- se numa menor satisfação dos mesmos.
Rosa Azevedo, gestora de formação da EPGSG
Novas instalações são mais motivadoras
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Farmácia Portuguesa – Diria que esta melhoria nas condições físicas se reflecte na qualidade da formação? RA – Penso que sim. A qualidade dos formadores nunca esteve em causa, mas a verdade é que trabalhar nas actuais condições é muito mais motivador para todos. Por muito bom que seja o formador, as “ferramentas” que utiliza não deixam de ter impacto no resultado final.
Responsável pela coordenação da formação no Norte do país, Rosa Azevedo acredita que as novas instalações da escola se vão reflectir na qualidade da formação.
Farmácia Portuguesa – Que reacções tem recebido dos formandos? RA – Temos tido reacções individuais muito positivas, contudo, o aspecto mais evidente resulta dos questionários de avaliação da satisfação, onde é já visível a respectiva melhoria na avaliação das instalações.
Farmácia Portuguesa – Com a concretização deste edifício, a escola passou a beneficiar de melhores condições. Quais foram as melhorias? Rosa Azevedo – É um espaço muito melhor, quer ao nível das salas para formação propriamente ditas, quer ao nível das acessibilidades e do estacionamento. O facto de dispormos de um parque de estacionamento funcionará como um novo factor de comodidade que será certamente muito apreciado. Quanto às salas, a melhoria é em quantidade e qualidade. Dispomos de cinco salas. Três com capacidade para cerca de 25 pessoas cada e outras duas que poderão receber cerca
Farmácia Portuguesa – De que modo é possível potenciar o novo espaço? RA – Potenciar o novo espaço, passa por conseguir fazer crescer o número e o tipo de acções de formação, contudo para isso é necessário que a classe interiorize que é na formação que reside a sua capacidade de diferenciação, como ferramenta para fazer face às novas ameaças. A formação deverá ser entendida como um investimento prioritário e essencial. A Escola tem portanto aqui, um desafio no sentido de conseguir fazer passar esta mensagem. A Escola tem condições pra proporcionar toda e qualquer formação, quer através do seu plano anual de formação, quer organizando formação à medida.
de 18 formandos. São salas amplas, devidamente equipadas com meios audiovisuais, com luz natural, conferindo um ambiente agradável e adequado à formação. Paralelamente, dispomos ainda de um auditório e uma sala multiusos para a realização de conferências, o que nos permitirá passar a realizar as mesmas nas nossas próprias instalações. Farmácia Portuguesa – Que limitações apresentavam as anteriores instalações? RA – A escola funcionava no anterior edifício da Delegação Norte, num edifício apalaçado típico na Foz do Douro, com uma envolvente lindíssima, mas com instalações pouco fun-
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A segurança em foco em 2011
Alexandre Gomes, CEO da Glintt HS
Consolidar a empresa como centro de excelência É a partir do novo edifício no Porto que a Glintt HS se quer consolidar como centro de excelência em I&D na área das soluções em saúde.
Farmácia Portuguesa – Em que condições funcionava a Glintt no Porto antes da mudança para o novo edifício? Alexandre Gomes - A Glintt Healthcare Solutions resulta da aquisição da CPC HS pela Consiste. A integração foi extraordinária, fomos muito bem recebidos, mas vivíamos separados da restante Glintt. Enquanto em Lisboa a primeira coisa que fizemos foi mudar de instalações, o que foi muito importante em termos de partilha de sinergias e experiências, no Porto isso não aconteceu. Era como se fôssemos duas empresas autónomas. Isso nunca nos impediu de fazer o nos-
so trabalho e não condicionava propriamente o dia-a-dia. Temos estratégias e mercados-alvo diferentes e complementares, mas também situações em que trabalhamos os mesmos clientes. E quando tínhamos de apresentar uma solução conjunta era como se estivéssemos a trabalhar com uma empresa não pertencente ao grupo. Farmácia Portuguesa – Que melhorias e vantagens trouxe a mudança? AG – O que para nós foi muito importante foi fazer a mudança com o mínimo impacto possível. Já tínhamos passado por uma mudança de instalações, pelo que tinha presen-
te a preocupação de evitar a perda de eficiência. E esta mudança iria ocorrer perto do fim do ano, quando estamos a trabalhar no fecho de muitos projectos. É uma altura crucial, em que, mais do que nunca, temos de estar focados no cliente. Por isso, o objectivo primordial da mudança era que fosse rápida e eficaz e conseguimos isso: preparámos a mudança na sexta-feira anterior à inauguração e na segunda estávamos a trabalhar como se nada tivesse acontecido. Por outro lado, o facto de a Glintt Business Solutions também ter mudado para o mesmo espaço tem muitas vantagens. Funcionarmos
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Estamos todos a trabalhar na mesma área, o sucesso de uns depende do sucesso dos outros.
como um todo, com equipas juntas, vai certamente produzir sinergias. Sempre que uma área precise de um pouco mais de intervenção, o facto de estarmos juntos permitirá ajustarmo-nos rapidamente a essa realidade e prestar o apoio necessário. Cada vez mais, a saúde é uma conjugação de esforços das várias áreas da Glintt. A nossa ligação à farmácia, por exemplo, faz-se a vários níveis, desde logo porque partilhamos os mesmos equipamentos nas soluções para farmácia de oficina e farmácia hospitalar. A ligação das equipas é, pois, importante: estarmos juntos, conhecermo-nos uns aos outros, permite-nos dialogar e testar soluções que depois implementamos nos clientes.
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Farmácia Portuguesa – E em que medida é que o novo espaço reflecte a filosofia da Glintt, uma empresa que vende inovação? AG – É um edifício mais moderno que nos permite aparecer perante os clientes com uma imagem mais de acordo com a empresa. E a primeira imagem é importante: de facto, a Glintt vende inovação e agora funciona num espaço de qualidade e eficaz, mas sem ostentação. A dimensão também conta: mostra solidez e que estamos preparados para enfrentar o futuro com confiança. Farmácia Portuguesa – Como é a Glintt projecta tirar partido dessas potencialidades? AG – O edifício está bem prepara-
do para o tipo de eventos que organizamos. Tem um bom parque de estacionamento, o que significa que tem condições para receber um grande número de pessoas. Tem um átrio de entrada imponente e funcional, com acesso a um museu que retrata a realidade da Farmácia ao longo dos tempos, o que constitui logo um factor diferenciador face à realidade nos edifícios empresariais convencionais. No primeiro piso, as infra-estruturas de apoio, como o auditório, também são à nossa medida, permitindo, por exemplo, promover eventos de utilizadores das nossas soluções para partilha de informação. As salas anexas são muito flexíveis e funcionais. Antes tínhamos de estar sujeitos à disponibilidade
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dos hotéis, agora temos tudo à mão. Estou a falar de eventos que nos permitem apresentar novas soluções e mostrar o nosso caminho. São esses eventos que marcam a diferença; um evento com qualidade perdura na memória dos clientes. Farmácia Portuguesa – Uma das utilizações previstas para o novo espaço passa pela exposição das soluções desenvolvidas pela Glintt. Qual é o objectivo? AG – De facto, vamos montar um showroom de soluções, que mostre como trabalhamos, como somos inovadores. Em Lisboa também existe um espaço de exposição mas mais vocacionado para a farmácia. No Porto, queremos mostrar sobretudo as soluções hospitalares, fazendo uma apresentação mas num ambiente real. Em vez de os clientes olharem para uma projecção, vamos evidenciar na prática como os equipamentos podem e devem ser utilizados. Será diferente mas acreditamos que muito eficaz. Farmácia Portuguesa – Que estratégia persegue a Glintt no mercado das soluções em saúde? AG – A aposta da Glintt HS em termos de Investigação & Desenvolvimento está focada no Porto e o nosso objectivo é continuar a desenvolver produtos inovadores, robustos e fiáveis que nos permitam consolidar como uma empresa de excelência na área da saúde. Entre 50 a 70 por cento dos nossos colaboradores estão alocados ao desenvolvimento de soluções, no âmbito de uma política de rotação: promovemos esse sistema porque é importante que quem se dedica à investigação também conheça o outro lado, da utilização dos nossos produtos por clientes reais. Estou certo de que vai ser um centro de excelência. Farmácia Portuguesa – Qual é, em sua opinião, a chave do sucesso da Glintt? AG – Consideramos fundamental para o sucesso a satisfação dos
diversos stakeholders, nomeadamente: os accionistas, porque se não estiverem satisfeitos não nos vão apoiar; os colaboradores, porque se estiverem insatisfeitos a empresa terá de olhar para dentro, para resolver problemas internos, em vez de olhar para fora; e os clientes, na medida em que é importante que vivam a Glintt, que confiem na Glintt. Temos de lutar para atingir este objectivo. Sabemos que temos de melhorar sempre porque, se não melhorarmos, vamos ser ultrapassados e quem é ultrapassado ou morre ou tem de lutar ainda mais para recuperar. Mas temos orgulho no que fizemos até hoje. Farmácia Portuguesa – O que é que as farmácias têm a ganhar como clientes da Glintt? AG – É muito importante para as farmácias que a Glintt seja forte porque, assim, poderá continuar a prestar-lhes um serviço de qualidade. Hoje em dia, é raro alguém ir a uma farmácia e não ser atendido porque há problemas com os sistemas de informação, por exemplo. Já todos tivemos essa experiência noutras instituições, mas as farmácias sabem que estão tranquilas nesse domínio. E agora estarmos no mesmo espaço onde há outros serviços do universo das farmácias pode potenciar ainda mais o diálogo. Farmácia Portuguesa – Encontra, pois, mais-valias nessa partilha do edifício? AG – Claro. Nós somos fornecedores de soluções e o nosso mercado-alvo é a saúde, pelo que estarmos num edifício com mais instituições na área da saúde é uma vantagem. Queremos, cada vez mais, ter a ANF e a Alliance como parceiros e o novo espaço potencia essa colaboração. Estamos todos a trabalhar na mesma área, o sucesso de uns depende do sucesso dos outros.
Do público ao privado A Glintt abrange o universo da saúde, oferecendo soluções a todos os intervenientes, das farmácias de oficina às hospitalares, das unidades de saúde públicas às privadas. Assim está presente em: • Cerca de 90% das farmácias de oficina; • Nas farmácias dos principais hospitais do SNS, cobrindo praticamente 80 % das camas; • Nos grandes hospitais do país, com soluções globais para a gestão de doentes: Centro Hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria e Pulido Valente), Hospitais da Universidade de Coimbra, IPO do Porto são apenas exemplos, mas também as mais recentes parcerias público-privadas como Cascais e, brevemente, Braga; • Nas unidades privadas dos grupos José de Mello e HPP (grupo Caixa). É esta dimensão, para a qual contribui a presença em Espanha através da Pulso, da Consoft e da Farmasoft, que faz da Glintt o maior fornecedor europeu de soluções na área da farmácia.
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Joaquim Simões, director-geral da Alliance Healthcare
Nova plataforma reforça parceria com a farmácia O novo armazém do Porto faz parte da estratégia da Alliance para enfrentar o futuro e ajudar as farmácias a ganhar competitividade: concentrar operações é o caminho da sustentabilidade. Farmácia Portuguesa – A Alliance Healthcare surge como motor deste investimento da Farminveste no Porto. É assim de facto? Joaquim Simões – É uma percepção 100% correcta. A Alliance identificou a necessidade de restaurar a sua plataforma logística tendo em vista fornecer às farmácias um serviço da melhor qualidade e o mais eficiente possível. Assim, foi decidido criar dois pólos, um em Lisboa e outro no Porto. No Porto, os estudos promovidos conduziram à conclusão de que o ideal seria ficar o mais próximo possível da nossa localização original. Não só por
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razões logísticas, relacionadas com a própria distribuição, mas também tendo em vista gerar o menor impacto para os nossos clientes e para os nossos colaboradores. Sabemos que as mudanças de instalações podem ser um foco de desmotivação se causarem transtorno aos trabalhadores e não queríamos isso, o que queremos é trabalhadores motivados. Ao lado do armazém antigo da Alliance havia dois terrenos passíveis de adquirir e foi tomada uma decisão nesse sentido, tanto mais que se verificou que a legislação permitia ali um índice de construção bastante interessante e
rentável. Além de que a zona estava a ser convertida numa zona mais nobre, de serviços, pelo que fazia todo o sentido aproveitar. A direcção da ANF assim pensou e a obra nasceu. Farmácia Portuguesa – Que realidade justifica a estratégia de concentração das operações logísticas seguida pela Alliance? JS – É um facto que essa é a estratégia da empresa, mas gostava, antes de mais, de sublinhar que isto não significa que o futuro da Alliance em Portugal passe apenas por duas plataformas logísticas. Já está, aliás, decidido que
não será assim: para já, a empresa tem quatro armazéns – Lisboa, Porto, Almancil e Castelo Branco – e não está decidido qualquer encerramento. Quanto à ideia de termos menos armazéns, mas mais eficientes, surge do conhecimento que a empresa tem de outros países. A Alliance Healthcare é uma parceria entre a ANF e a José de Mello Saúde com a Alliance Boots, que é líder europeu nesta área, com presença em 120 mercados. E o que se verifica são mudanças substanciais na forma como as empresas se organizam e praticam o seu modelo de negócio. Temos vindo a assistir à criação de plataformas bastante eficientes, que fazem todo o sentido num tempo em que as vias de comunicação encurtam distâncias e tempos entre os pontos de produção e de entrega das encomendas. Por outro lado, a farmácia tem pela frente um desafio muito grande, pois tem concorrentes muito orientados para as questões económicas e com uma grande eficiência ao nível da logística. Daí que a farmácia tenha toda a vantagem em ter um operador que seja um parceiro, que lhe ofereça uma excelente qualidade de serviço e que a possa ajudar a ultrapassar as dificuldades inerentes à mudança. Através destas plataformas, a Alliance irá proporcionar não só a distribuição convencional de medicamentos mas outros serviços que a ajudarão a ser mais competitiva. Farmácia Portuguesa – O modelo de negócio da Alliance passa por essa parceria com a farmácia? JS – O nosso foco é o cliente, está na nossa missão, nos nossos valores. Se tivermos um cliente forte seremos fortes, se tivermos um cliente fraco seremos fracos. E julgamos que é possível ajudar o cliente, neste caso a farmácia, a ser forte. Como? Dando-lhe um serviço ímpar e ao mesmo tempo a um preço muito competitivo. Numa lógica de crescimento, quanto
maior for a actividade maior a rentabilidade e menores os custos. Por isso, as farmácias têm todo o interesse em concentrar as suas compras e fazer negócio com a Alliance. De resto, é preciso não esquecer que a Alliance é delas… Farmácia Portuguesa – Em que medida é que as farmácias beneficiam com a nova plataforma? JS – Há duas componentes, uma é de raiz, que é o próprio custo da operação. Este armazém permite que se consigam preparar encomendas ao mais baixo custo. Por outro lado, irá permitir uma qualidade de serviço ímpar. Porque tem espaço, tecnologia de ponta e inovação. Possibilita a distribuição convencional mas também a exploração de produtos de marca própria, como os genéricos da Almus, as linhas da Alvita, dos solares do Serum 7… E não escondo que, se vierem a ser implementados em Portugal outros modelos de negócio que já existem na Europa, estamos preparados. Falo, nomeadamente, de programas de compliance, da unidose. Temos condições para sermos parceiros da farmácia e também da indústria. Aproveito para lançar um repto às farmácias: não se esqueçam de apostar nos produtos da Alliance! Farmácia Portuguesa – Mencionou o custo como vantagem proporcionada pelo novo armazém. Mas o preço não é cada vez menos um factor decisivo? JS – Nos momentos de crise, como este, as pessoas ficam mais sensíveis ao preço, mas é um facto que está nos manuais de logística que há três vectores num sistema – o preço, o tempo e o serviço. E um mexe com os outros. É fundamental optimizar cada um dos vectores, mas é difícil trabalhar os três ao mesmo tempo – ou seja, é difícil ter o melhor preço, o melhor serviço, no menor tempo. Mas posso dizer
que é um desafio que temos permanentemente, é um objectivo pelo qual lutamos. As farmácias podem estar tranquilas porque vamos tentar ter o melhor serviço, ao melhor preço e no menor tempo. Farmácia Portuguesa – A que se refere exactamente quando fala em serviço? JS – Falo numa parceria com a farmácia visando ajudá-la a evoluir no seu modelo de negócio. Sem nos querermos substituir a serviços prestados por outras empresas do universo ANF, estamos preparados para proporcionar chave-na-mão tudo o que as farmácias precisam. Entregar medicamentos é básico, todos entregam. Mas, mesmo assim, a maneira como isso é feito também é importante e nós podemos fazê-lo de uma forma diferenciada, com valor acrescentado. Dou-lhe um exemplo: vamos brevemente dar à farmácia a possibilidade de rastrear a temperatura dos medicamentos que recebe desde que saem das nossas instalações. A nossa estratégia é dar passos mais curtos mas sólidos. Sabemos que a ânsia de estar à frente na inovação nem sempre resulta no melhor serviço. Mas uma coisa é certa: as farmácias podem contar com a Alliance. Farmácia Portuguesa – Mencionou que as farmácias enfrentam o desafio de concorrentes com grande experiência em logística. Neste contexto, como é que a Alliance as pode ajudar a comprar melhor? JS – As farmácias têm, efectivamente, como concorrentes as grandes superfícies, que têm anos de experiência a nível logístico, da cadeia de abastecimento. Ainda há pouco tempo recebemos a visita de um destes grupos que nos pediu a melhor cotação para abastecer os seus pontos de venda apenas uma vez por semana. É com estes concorrentes que a farmácia tem de lutar. E não será capaz de
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Uma plataforma para o futuro A plataforma logística da Alliance Healthcare no Porto foi desenhada para abastecer sem qualquer problema toda a zona Norte do país, de Pombal para cima. Tem capacidade para responder em volume e tempo, nomeadamente nas concentrações de actividade à hora de almoço e ao fim do dia. O director-geral da empresa diz mesmo que, numa situação limite, poderia abastecer todo o país, ainda que se colocassem algumas questões de serviço, nomeadamente o tempo de entrega das encomendas. Dentro de meses, funcionará em Lisboa um armazém à imagem e semelhança do Porto: será em Santa
fazê-lo se receber três ou quatro encomendas por dia da Alliance, mais três ou quatro do distribuidor A, do B e do C. Isto não é eficiente, tem um custo que os armazenistas repercutem no preço final. Estamos todos a desperdiçar dinheiro na cadeia. Então porque o fazem? Porque ainda não houve a coragem de mudar. E enquanto houver operadores que tenham uma estratégia diferente, que abram
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Iria da Azóia, na cintura industrial da cidade, com a acessibilidade proporcionada pela via férrea, de modo a trazer o mínimo de inconveniente aos trabalhadores. Com os dois armazéns, a Alliance ganha capacidade para vender mais do dobro do que actualmente. A eles juntar-se-á um armazém renovado em Almancil, para o qual já existe projecto e calendarização. Castelo Branco completa a operação. A plataforma do Porto está na vanguarda tecnológica em matéria de distribuição. Assim: • Área de 16 mil m2; • Nível de automação superior a 95%; • Capacidade para processar até 250
mil embalagens/dia; • Capacidade para armazenar 4 mil paletes; • Capacidade para 17 mil referências de produtos; • 720 rampas de expedição. Enquanto as obras decorreram, a Alliance funcionou provisoriamente num espaço próximo, menor do que o antigo, o que trouxe alguns inconvenientes em matéria de serviço. Daí que Joaquim Simões faça questão em deixar um agradecimento: aos clientes pela compreensão, porque “souberam entender as dificuldades e esperar por melhores dias”. “Isto é que é a parceria”.
armazéns e estejam numa lógica do imediato para conquistar mercado, não mudará. Mas vai ter um preço complicado. Na Europa, são tomadas decisões no sentido de optimizar estruturas e nós, em Portugal, estamos num processo inverso, caminhamos para processos menos eficientes, o que é espantoso. A farmácia tem de reflectir sobre isto: ter muitas distribuições por dia não
significa que seja um bom negócio. Faz reduzir um pouco os stocks, mas uma ruptura de stocks tem custos que a farmácia não valoriza mas devia: vale a pena ter um pouco mais em armazém porque torna o processo operacional mais leve e não tem risco – o risco de o produto não existir na distribuição, o risco de o cliente ir à farmácia ao lado… Julgo que, face às dificuldades que o país e, em particular, o nosso sector atravessam, estão criadas as condições para que a distribuição repense muito rapidamente o seu modelo de negócio. A Alliance está a fazê-lo, porque num futuro próximo não será sustentável ir à farmácia mais do que duas vezes por dia. Se a farmácia continuar a exigir do distribuidor este tipo de serviço vai pagar uma factura muito pesada e só estará a dar cartas para que outros pontos de venda tenham mais sucesso. A farmácia tem de pensar no futuro. E a distribuição também. A pedagogia devia ser transversal, mas não há união no sector e assim é difícil que haja bom senso.
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João Neto, director, Paula Basso, conservadora
Museu mais próximo dos farmacêuticos do Norte É como que um regresso às origens: o Museu da Farmácia chegou ao Porto, cidade onde o professor Correia da Silva semeou nos farmacêuticos a consciência da importância da preservação do património. Farmácia Portuguesa – O que presidiu à decisão de criar um espaço museológico no edifício ANF no Porto? João Neto – A decisão partiu da direcção da ANF ao encontro de um desejo acalentado pelos farmacêuticos do Norte do país. Há muito que eles manifestavam a vontade de uma maior proximidade do Museu da Farmácia, pelo que, quando a direcção avançou com o projecto de um edifício daquela dimensão para o Porto, decidiu incluir um espaço museológico.
É curioso como no dia da inauguração a frase mais ouvida era “o museu está mais perto de nós”. Mostra bem como era desejado, não só pelo espólio, mas também pela oportunidade de mostrar à sociedade o património reunido e conservado pela profissão. Farmácia Portuguesa – Como é que foi pensado o museu em termos de filosofia da colecção a exibir? JN – O museu tem sido reconhecido pela qualidade da colecção mas sobretudo pela visão universal que
transmite. Continua a ser o único que abrange a história do homem através dos tempos tendo como fio condutor a saúde. E foi este conceito que levámos para o Porto. Não era a ideia original, pois tínhamos pensado incidir mais na farmácia portuguesa. Mas, depois, em articulação com o dr. João Cordeiro, pensámos que era mais adequado manter o enfoque na história universal, até porque no Porto não existia qualquer museu que desempenhasse esse papel. E quando surgiu a oportunidade de
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adquirirmos uma farmácia islâmica essa ideia consolidou-se: até pela dimensão física, acabará por ser a alavanca da visão universal que concebemos. Farmácia Portuguesa – O que diferencia o Porto face a Lisboa? JN – Uma característica fundamental é que, no Porto, a história recua 500 mil anos. O Museu da Farmácia começou por mostrar 500 anos de história, depois alargou-se a 5000 anos, mais tarde aos 30 mil e agora recuamos ainda mais, até ao início da doença. Apresentamos o mosquito numa tentativa de evidenciar que as bactérias e os animais portadores de doenças apareceram primeiro do que o homem. Procurámos, além disso, reforçar algumas áreas da história que em Lisboa estão expostas com menos desenvolvimento e que no Porto ganharam mais visibilidade: é o caso de tudo o que diz respeito a África e da evolução da cerâmica entre os séculos XV e XVI. Farmácia Portuguesa – E, em termos de museografia, o que mudou na forma de apresentar a colecção? JN – O projecto de arquitectura de interiores, no que respeita ao design e à componente técnica, é da responsabilidade do designer Nuno Gusmão que foi, de todos os que concorreram, o que mais se aproximou do nosso conceito para o museu. Foi uma colaboração intensiva de
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um ano aproximadamente, mas, antes disso, houve muito trabalho de casa, desenvolvido por mim e pela Paula Basso a partir do momento em que a direcção nos comunicou a decisão de avançar com o espaço no Porto. E o museu que hoje temos no Porto resulta desta conjugação de esforços e saberes. Engana-se quem pensa que é apenas criar umas caixas de vidro onde se colocam umas luzes e se expõem objectos de uma forma decorativa – isto não é um museu. Um museu tem de ter objectivos e tem de se encontrar a forma de os alcançar e de os comunicar. Não queríamos que o museu no Porto fosse uma cópia do de Lisboa. E conseguimos. Se Lisboa é muito escuro, o Porto é o oposto. Se em Lisboa as vitrinas são compartimentadas, no Porto há uma visão mais ampla da colecção, com um discurso fluido entre civilizações e culturas. E, ao longo do museu, há linhas do tempo, cronologias com marcos importantes da história da farmácia e da ciência farmacêutica. Entre os dois espaços há uma evolução natural: afinal, o de Lisboa foi inaugurado em 1996 e em 2002 ampliado. No Porto, há um olhar mais actual, mas com a mesma riqueza de conteúdos. Farmácia Portuguesa – Estamos a falar de dois museus ou de um museu repartido geograficamente? JN – Da mesma maneira que, no
nosso corpo, temos dois pulmões e dois rins e que o coração e o cérebro têm dois hemisférios, é necessário visitar os dois espaços para ter uma visão completa da colecção do Museu da Farmácia e da história do homem. Tal como é possível respirar só com um pulmão, também é possível visitar só uma das partes, mas respirase melhor com dois pulmões… Farmácia Portuguesa – Qual é a estratégia para este museu? JN – A nossa estratégia passa por criar uma forte ligação ao Norte e Centro do país mas também à Galiza. Estamos a trabalhar no sentido de estabelecer pontes com os farmacêuticos e outros profissionais de saúde do lado de lá da fronteira. Já encetámos contactos com os colégios farmacêuticos e as Faculdades de Farmácia. Também estamos a promover contactos com as empresas que se situam na envolvente do museu no sentido de divulgar a sua existência e captar visitantes. É que, ao contrário de Lisboa, no Porto há um grande desafio colocado pela localização: por não ser tão central dificilmente atrairá aquilo que se pode chamar o turista acidental. É o grande desafio. Devo dizer que a câmara do Porto tem sido extremamente atenciosa nestes primeiros momentos do museu, pois colocou logo imagens no site. Sinto que estamos a ser muito bem recebidos. A nossa estratégia tem de ser mais
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institucional e, além da autarquia e das empresas, passa por contactos com outros espaços culturais, como museus, a Casa de Serralves ou a Casa da Música. Farmácia Portuguesa – Um dos públicos-alvo do museu têm sido as escolas. Essa aposta vai manter-se no Porto? Paula Basso – Sim, o museu do Porto vai ter também serviços educativos, que vão funcionar nos mesmos moldes de Lisboa. Com visitas ao museu, com ateliers, com festas de aniversário. Aliás, as escolas já começaram a fazer pedidos, foi na hora. Penso que isso se deve ao facto de o museu agora estar mais próximo. Algumas escolas deslocavam-se a Lisboa, mas era mais dispendioso: agora penso que será mais fácil, embora no Norte se sinta muito a crise. Estamos a estudar uma solução para ir ao encontro das escolas e das crianças com mais dificuldades económicas. Não vamos reduzir valores, pois se-
ria injusto que os meninos do Sul pagassem mais do que os do Norte, mas será um pacote de crise para tentar que o custo não inviabilize o acesso aos serviços educativos e ao museu. Farmácia Portuguesa – Que leitura faz deste investimento da associação no património? JN – Em primeiro lugar, penso que a criação do museu no Porto mostra que a associação é nacional, que representa as farmácias a nível nacional. Parece-me, além disso, que aproximou as pessoas: se alguma dúvida existia de que valia a pena apostar numa colecção que estava apenas em Lisboa, agora essa dúvida foi dissipada. Os farmacêuticos do Norte já podem desfrutar de um investimento para o qual também contribuíram. Para o exterior, é um exemplo. Como presidente da Associação Portuguesa de Museologia, posso dizer que existem poucas instituições com uma estratégia como a da ANF de preservação do património e de fruição do conhecimento.
O Museu da Farmácia no Porto é uma homenagem ao professor Correia da Silva, mentor de muitos farmacêuticos que têm feito a história da ANF, nomeadamente do seu presidente, João Cordeiro, e de dois dos grandes obreiros do museu, Guerreiro Gomes e Salgueiro Basso, entretanto falecido. É uma homenagem que o director do museu, João Neto, entende como justa, pelo papel de Correia da Silva na génese de uma consciência colectiva orientada para a preservação do património histórico da farmácia, consciência que fomentou junto dos seus alunos mas que perdurou nas gerações seguintes. Paula Basso, filha de Salgueiro Basso e actual conservadora do museu, entende que a Correia da Silva se deve também muito da construção da identidade profissional dos farmacêuticos. “O amor pela história da farmácia e pelo seu património foi, sem dúvida, uma herança que o professor Correia da Silva transmitiu aos seus alunos, entre os quais o meu pai. Penso até que a existência do museu e o abraçar deste projecto por elementos da direcção se deve a ele a ter sabido cativar e sensibilizar os seus alunos”. “Lembro-me muito bem de o meu pai falar do seu professor com todo o carinho e admiração e do desejo do meu pai em concretizar esse sonho (porque naquela altura só nos nossos melhores sonhos) ”, recorda. Foi um sonho tornado realidade. Primeiro em Lisboa, agora no Porto como num merecido regresso às origens.
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Tributo a Alberto Correia da Silva Exmo. Senhor Doutor Rui Rio, Exmo. Senhor Doutor João Cordeiro, Exma. Direcção da ANF, Caros Colegas, Senhoras e Senhores, Foi com imensa surpresa, alegria e uma enorme honra que recebemos a notícia, da Associação, do nome do avô Alberto ao Museu da Farmácia do Porto. Ainda hoje sentimos um turbilhão de emoções. • Alegria – por ser reconhecida a dedicação da sua vida à profissão farmacêutica e pelo seu nome estar associado a um museu de projecção internacional; • Orgulho – de poder usar o nome “Correia da Silva” que está escrito nas páginas de ouro da farmácia em Portugal; • Tristeza – por não podermos viver esta imensa honra ao seu lado. No ano em que comemoraria 100 anos,
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o Dr. João Cordeiro deu-lhe a maior prenda de aniversário. Um Museu da Farmácia com o seu nome, na única instituição que ao longo dos anos tem vindo a defender a farmácia e os farmacêuticos, causas que ele abraçou ao longo da sua vida. Professor catedrático, exímio investigador com centenas de trabalhos publicados, foi sempre capaz de dizer o que tinha de ser dito. Falava o essencial, nem mais nem menos…simplesmente o essencial. Foi o grande responsável da lei da propriedade da farmácia, nessa altura transformou as ideias em palavras e as palavras em acção. E conseguiu devolver a farmácia aos farmacêuticos. O trágico incêndio na FFUP foi um momento marcante. À medida que se ia aproximando do local a emoção no seu rosto era impossível de disfarçar… era como se parte dele tivesse ardido, como se tivesse transformado parte da
sua vida em cinzas. Aquela faculdade era a sua casa e parte integrante da sua família. Faculdade essa que após a sua morte o esqueceu para sempre. Nunca precisou de agradar a todos, e por isso sofreu as consequências na altura conturbada da mudança do regime. Pertencia à estirpe dos que permanecem fiéis à sua palavra e ao seu trajecto. Resta-me agradecer, em nome de toda a família, à ANF e a todos os colegas e amigos que o conheceram e viveram com ele, mas muito em particular ao Dr. João Cordeiro poais sabemos que tudo isto foi sua obra! É difícil encontrar as palavras necessárias para expressar todo o nosso sentimento de gratidão e admiração por tudo o que tem feito para homenagear o avô Alberto. O nosso obrigado.
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