1
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
Devoção que atravessa um século!! Espírito Santo do Pinhal, no interior do estado de São Paulo ainda é uma cidade repleta de costumes e tradições, principalmente no que diz respeito a religião. Anualmente existe pelo menos três eventos de apelo religioso fortíssimo na cidade, um deles é a centenária Festa de Santa Luzia que acontece no mês de Dezembro, embora segundo muitos devotos as visitas a imagem e a fonte de água localizada a frente da igreja aconteça quase que todos os dias. São milhares de romeiros devotos que visitam o pequeno santuário localizado na área rural do município, vindos de diversas partes da região e até do país, alguns mitos e lendas habitam o histórico desta festa religiosa que é organizada pela comunidade local e recebe ajuda de famílias ao longo do trajeto que se percorre para chegar ao local. Este especial conta um pouco da história de Santa Luzia, do bairro e da tradição da festa que começou a partir da devoção de uma senhora, moradora do bairro rural.
2
EXPEDIENTE: EDIÇÃO DIAGRAMAÇÃO: Xandy Aurieme PESQUISA/FOTOS: Mayte Silva
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
3
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
A HISTÓRIA DA SANTA DA BOA VISÃO! Todos os anos a mesma cena se repete no santuário de Santa Luzia, milhares de pessoas enfrentam uma fila enorme para passar em frente a imagem, rezar e passar as fitas presas no altar nos olhos, em seguida lava-los nas águas da fonte localizada a frente da igreja, alguns levam galões desta água para casa. Mais quem foi Santa Luzia?? Qual a sua história? Luzia ou Lúcia (Santa Luzia) nasceu em Siracusa, em uma ilha da Cicília, no Sul da Itália, local de viagens missionárias do Apóstolo São Paulo (Atos 28:11, 12), para onde o apóstólo Pedro enviara São Marciano, seu discípulo, em 39, para evangelizá-la; terra também do célebre matemático Arquimedes, um dia visitada, entre outros, por Ésquilo e Platão (este último a convite de Dionísio, o sábio). Ela, Luzia, viveu entre os anos 283304 do início da era cristã, no período do reinado do Imperador Dioclesiano (284 a 305). A santa era de família nobre e rica, filha única, órfão de pai ainda na infância. Por isso, sua mãe, Eutíquia, desejou que a filha tivesse um esposo para que cuidasse e amasse a sua jovem e indefesa filha. Luzia foi convertida ao cristianismo sob a dinâmica da devoção dos primeiros cristão aos santos mártires da igreja nascente, sendo ela comovida de admiração e veneração a Santa Águeda ainda criança, quando sua mãe Eutíquia, já viúva de Lúcio (?) seu pai, aceitou Jesus como Filho de Deus. Já mais moça, Luzia consagrou-se a esse Deus, oferecendo-lhe a garantia de sua virgindade como voto perpétuo de seu esposamento divino. Com a mãe, Eutíquia, vitimada por uma doença hemorrágica incurável, Luzia conseguiu convencê-la de peregrinar até o túmulo de Santa Águeda em Cantânia, onde achou que sua mãe conseguiria curar-se, o que aconteceu. Mesmo agradecida a Deus e a interseção de Santa Águeda para a sua cura, Eutíquia não queria que Luzia ficasse sozinha quando ela estivesse ausente neste mundo, então insistiu para que sua filha aceitasse o noivado com o nobre e rico Múcio. Luzia não aceitou, em razão de seu voto de castidade, para a fúria da paixão de Múcio, que apesar da grande beleza da pretendida noiva, deveria também estár de olho em seu rico dote nupcial, fortuna esta que Luzia se apressou em distribuir aos pobres, antes do suplício que a tornaria lembrada para sempre por várias gerações de admiradores e devotos. 4
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
Como já era de se esperar, o malvado Múcio denunciou Luzia para Pascásio, Governador da capital da Provincia Senatorial da Sicília, a cidade de Siracusa. Pascásio, cumpria ordens do Imperador Dioclesiano quanto à perseguição aos cristãos, seita legalmente proibida nas províncias romanas. Diante do tribunal de Pascásio, Luzia confessou-se Cristã e rejeitou adorar os ídolos pagãos de Roma, caracterizando-se, por isso, no entendimeto jurídico romano, como traição aos deuses nacionais. Entre as sentenças, os fatos miraculosos: arrancaram-lhe os olhos (mais a vista foi divinamente restabelecida); prostituição de seu corpo (que os soldados nem sequer conseguiram mover); a de queimá-la em uma fogueira mantida acesa com resina, azeite e pixe (que não lhe fez nenhum efeito) e por fim a sua decapitação, que de fato, que lhe fez tombar: era o dia 13 de dezembro do ano 304, aos prováveis 21 anos de idade. A tradição conta que antes de morrer Luzia anteviu o castigo de Pascácio e o fim da perseguição de Diocleciano (que governava como Augusto), que não voltaria a reinar, e a morte de Maximino (que governava como Cesar). Uma devoção que atravessou séculos: Século IV: O culto a Santa Luzia se espalhou por toda a Itália e mais tarde por toda a Europa e outros continentes, até chegar ao Brasil, com os portugueses. Só em Roma havia vinte igrejas dedicadas à Santa Luzia. Ela foi uma das quatro virgens, junto com as Santas Inês, Cecília e Águeda, que gozavam de ofício próprio e cujos nomes tiveram o privilégio de serem invocados no Cânon da Santa Missa. No mesmo lugar onde ela foi morta teve uma sepultura onde em 313 foi construído um santuário a ela dedicado Já nos século V e VI: Mencionada no antigo Martirológio Romano e no Martirológio de Beda, o Venerável, Santa Luzia é ainda mencionada no Tractatus de Laudibus Virginitatis e no poema De Laudibus Virginum de Santo Aldheim. Século IX: Quando, em 878, os árabes conquistaram a ilha da Sicília, o corpo de Luzia foi escondido. Século X: Mais tarde, em 972, o imperador Otão I tramsferiu as relíquias da santa para a igreja de São Vicente, em Metz, de onde um seu braço foi levado para o mosteiro de Luitburg, na diocese de Spire. Quando os francos conquistaram Constantinopla encontraram algumas das relíquias da santa que o Doge de Veneza levou para o mosteiro de São Jorge, em Veneza. www.facebook.com/revistascreshy 5
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
Século XI: No ano 1039 o general bizantino Giorgio Maniace transferiu o que sobrou do corpo de Santa Luzia de Siracusa a Constantinopla, para tirá-la do perigo de invasão da cidade de Siracusa da parte dos Saracenos (mulçumanos). Século XII: Segundo o monge Sigebert (1030-1112), de Gembloux, no seu sermão de Sancta Lucia, dizia que o corpo de Santa Luzia tinha ficado incorrupto durante 400 anos na Sicília, antes de o Duque de Spoleto conquistar a ilha e o ter levado para Corfinium, na Itália.
Século XIII: No ano 1204 durante a quarta cruzada, o Doge de Veneza, Enrico Dandolo, encontra em Constantinopla os restos mortais da Santa e as leva para Veneza, para o mosteiro de São Jorge e no ano 1280 a faz transferir para igreja a ela dedicada, em Veneza. Algumas citações se encontram na Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino (1225-1274). Entre os seus devotos encontramos Santa Catarina de Siena e São Leão Magno. Século XIV: Na obra “A divina comédia”, de Dante Alighieri (1265-1321) Luzia, mártir e santa, é apresentada como símbolo da graça iluminante. O imortal poeta italiano agradecia a Santa Luzia pela cura de uma doença nas vistas. Século XVI: Já no ano de 1513, os venezianos presentearam Luís XII de França com a cabeça da santa que ele depositou na igreja catedral de Bourges. O próprio Dante declarou-se um fiel devoto de Santa Luzia. Século XIX: Descoberta arqueológica revela o testemunho mais antigo em uma epígrafe marmórea em grego, do século IV, descoberta no ano 1894 nas catacumbas de Siracusa, prova da existência e comprovação de seu martírio. Século XX: Em 1939, seu corpo, bastante conservado, foi colocado numa urna nova. O patriarca Ângelo Roncalli, depois papa João XXIII, em 1955 fez com que se confeccionasse uma máscara de prata para envolver as santas relíquias.
Estátua de Santa Luzia em Veneza-Itália 6
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
Século XXI: Está numa lista sumária de santos, cujos restos mortais não foram deteriorados pelo tempo. No caso de Luzia, este fenômeno sem explicação consensual entre a Igreja e a Ciência, ainda é um mistério, pois Luzia foi martirizada a mais de 1700 anos,
Corpo intacto de Santa Luzia em seu túmulo na cidade de Veneza
7
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
8
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
9
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
105 ANOS DE LOUVOR A devoção de uma moradora atravessou um século e se transformou em uma das maiores manifestações religiosas da história de uma cidade, a Festa em Louvor a Santa Luzia, realizada em um bairro rural que leva o mesmo nome. São Milhares de devotos vindos de cidades da região e outros estados do pais se juntando em um espaço que já não comporta mais tantas pessoas. A Igreja de Santa Luzia localiza-se no bairro rural de mesmo nome na cidade de Espírito Santo do Pinhal/SP. A região onde se situa era conhecida – em fins do século XIX – como Bairro Morro Azul e fazia parte da Fazenda Monte Alegre de propriedade do tenente-coronel Vicente Gonçalves da Silva, que herdara de familiares. Em 1868, o tenente-coronel casou-se com Francisca Tomázio – carinhosamente chamada de Chiquinha Ramos. Segundo consta, dona Chiquinha era mulher religiosa e os últimos anos de sua existência “foram consagrados ao bem”. Essa religiosidade alcançou maior expressividade quando ela passou a se preocupar com colonos e conhecidos que tinham problemas na vista. Na ânsia de ajudá-los, dona Chiquinha dedicou-se às orações e a devoção a Santa Luzia, a santa protetora dos olhos. O marco da devoção a Santa Luzia ocorreu em 1908, com a chegada da imagem da santa em sua residência. A imagem veio de Fuscaldo (Itália) através da Estação Ferroviária Mogiana. Existem várias versões sobre a vinda da imagem de Santa Luzia. Alguns dizem que foi uma encomenda de D.Chiquinha. Outra que foi um presente de seus familiares. Sendo a imagem de tamanho natural, não foi possível D.Chiquinha colocá-la no oratório de seu quarto, então resolveu construir (1909-1910) uma capelinha para abrigar a Santa dos Olhos. Era uma capela que comportava cerca de trinta pessoas em pé. Na entrada existia um espaço elevado reservado para o coro; no chão mosaicos brancos e pretos e no altar de madeira a imagem vinda da Itália ocupava o seu lugar. Nos vitrôs, vidros coloridos e o teto forrado de madeira. A capela era ladeada de coqueiros e um coreto de chão, de madeira, que ficava a poucos metros do templo. Esta primeira capela foi construída por dois filhos de um imigrante italiano da família Cavalheiro. 10
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
Antes mesmo da inauguração no ano de 1909, foi realizada uma grande festa patrocinada por D.Chiquinha que contratou músicos para animar o evento, tendo sido realizada, também, uma novena, costume este, que perdura até os dias atuais. A primeira missa foi rezada pelo Pe. Guilherme Landel de Moura no dia 13 de dezembro de 1910, da qual participaram os proprietários da Fazenda Morro Azul e seus familiares, bem como toda a colônia italiana ali moradora. A partir de então, tornou-se tradição a realização da festa todo dia 13 de dezembro, que ano após ano, foi crescendo, e que hoje é o maior acontecimento religioso da região. Contando sempre com a participação de milhares de devotos de Espírito Santo do Pinhal, das cidades vizinhas, do Sul de Minas Gerais e da Grande São Paulo, que chegam ao local do evento a pé, de carro ou de ônibus para agradecer benções recebidas da padroeira da boa visão. Nos primeiros anos, a festa de Santa Luzia foi promovida por D.Chiquinha Ramos e por familiares e depois pelos imigrantes italianos que trabalhavam na Fazenda Morro Azul. A comunidade recebeu desde então assistência espiritual dos Padres João Ambrósio e Monsenhor José Jeronimo Balbino Fucciolli, que iniciaram a congregação Mariana no Bairro.
11
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
Em 03/04/1956 teve início a construção da nova igreja ao redor da velha capelinha para que fosse posteriormente demolida. As obras transcorreram durante cinco anos com a ajuda financeira dos próprios agricultores, sitiantes e moradores das imediações. O projeto teve autoria do Sr. José Costa e o pedreiro responsável foi o Sr José Perobelli, sendo pároco Monsenhor José Jeronimo Balbino Fuccioli. Em 13/12/1960 era inaugurado o atual templo, construído em louvor a Santa Luzia, padroeira dos olhos. O vereador Antônio Fenólio por 28 anos foi o contador da festa, mostrando seu espírito de religiosidade e dedicação à comunidade Luziense. Sem dúvidas, um dos grandes incentivadores da novena e do aprimoramento da festa de Santa Luzia foi o Padre Teodoro Peters, que por mais de 14 anos esteve à frente da comunidade. Estimado por todos, o Padre Teodorinho, celebrava missa todo sábado às 19:30 hrs e semanalmente visitaFoto: SantuarioSantaLuzia va as inúmeras famílias do bairro, levando palavras de estímulo e amizade. Os padres Eduardo Geltmeyer e Damião Van Der Zandem, ambos da Congregação dos Padres Assuncionistas, continuaram a frente da igreja por vários anos. Assumiram após, os padres Monsenhor Décio Ravagnani e Pe. Iran Rodrigues das Neves, respectivamente. Em 13 de dezembro de 2009, na festa em comemoração aos 100 anos a Capela de Santa Luzia, por decreto de Dom David Dias Pimentel, que presidiu a celebração, elevou-se a Capela a condição de Santuário Paroquial ligado à Paróquia do Divino Espírito Santo e Nossa Senhora das Dores, tendo como pároco Monsenhor Augusto Alves Ferreira.
12
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
A singularidade desta festividade municipal encontra-se no fato de Santa Luzia não ser padroeira da cidade e figurar como a festa religiosa de maior expressão no município, tornando o dia 13 de dezembro, feriado municipal desde 1995, conforme Lei n 2.132 de 28 de Junho de 1995, de autoria do vereador Antonio Ragazzo, morador do Bairro de Santa Luzia. Atualmente a comunidade continua lutando para a preservação de tamanha devoção, não medindo esforços para atender aos romeiros que vêem de diversas cidades de São Paulo e Minas Gerias. Calcula-se que durante a primeira semana de dezembro até o dia 13 de dezembro, passam pelo bairro aproximadamente 30.000 devotos a Santa Luzia, e são celebradas diversas missas principalmente no dia 13, por padres da cidade e padres vindos de outras paróquias, para melhor atender aos romeiros e devotos. Durante o ano, celebra-se missa todo sábado, às 19:30 horas.
CURIOSIDADES SOBRE A FESTA CUHVA Ja nem pode afirmar ser uma coincidencia que todo dia 13 de Dezembro chove, pelo menos 20 minutos sempre cai água, talvez seja uma benção para refrescar e aliviar os devotos que fazem o trajeto a pé para o santuário.
AJUDA AO ROMEIRO Muitos romeiros fazem o trajeto entre a cidade e o bairro de Santa Luzia a pé, caminhando e rezando, é uma caminhada longa e em alguns pontos família residentes em sítios e chácaras oferecem um café da manha para quem passa por ali. VERDADE OU MENTIRA? Há quem diga que o Rei Roberto Carlos, devoto de Santa Luzia, costuma visitar o Santuário de Santa Luzia todos os anos claro que o astro sempre estaria disfarçado, algumas histórias dizem que ele viria um dia antes, sem avisar ninguém...sera??? 13
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
FOTOS SANTUÁRIO DE SANTA LUZIA
14
Screshy Digital Especial - Santa Luzia
15
fotos: www.facebook.com/santaluzia13 Screshy Digital Especial - Santa Luzia
16
Screshy Digital Especial - Santa Luzia