Revista Session

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E S P O R T E E AV E N T U R A # 4 Setembro 2013 | R$ 5,00

JOAQUINA

BONFIM E O SONHO DE VIVER DO ESPORTE “...enquanto o jiu-jitsu me veste, o boxe me alimenta e o judô banca os estudos que garantirão um futuro mais estável...”

SECRET POINT ENTENDA O PORQUÊ DE TANTO MISTÉRIO

MOTOCICLISMO DIVIRTA-SE DURANTE O PERCURSO

# 4 Junho 2013 | R$ 5,00

BLITZ SESSION SÃO LOURENÇO DA MATA

SETE IMPORTANTES LIÇÕES SOBRE PATROCÍNIO ESPORTIVO REVISTA SESSION

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JOAQUINA BONFIM

O GATO RUIVO

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BLITZ SESSION

Pernambuco 1951, o início da democratização do jiu-jitsu.

Os melhores picos de São Lourenço da Mata

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EU NÃO ABRO MÃO

Os skatistas pernambucanos Lau e Cleber Negão explicam como encontrar uma companheira compreensiva pode fazer toda diferença na sua evolução e permanência no esporte.

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SECRET POINT

A cultura que para alguns pode parecer egoísta, para outros é uma tentativa de resgatar o lado mais romântico do esporte.

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DE PAPO COM

Conheça Soraya Ribeiro, Presidente da Federação Pernambucana de Paraquedismo.

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A atleta conta sua história, que ilustra bem as dificuldades de quem tenta sobreviver através do esporte no nosso Estado.

MARKEING ESPORTIVO

Tudo o que você precisa saber para conseguir patrocínio.

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EVENTOS

Veja o que rolou de importante no nosso cenário esportivo.

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BIKE POLO

Mais um motivo para tirar sua bicicleta de casa


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Foto: Renan Souza

| EDITORIAL |

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aro leitor, “adorei a revista, pena que terminei de ler tão rápido”, é algo que nossa equipe vem escutando desde o lançamento da primeira edição. Confessamos que essa recorrente “queixa”, de certa forma, tem sido algo agradável. Afinal, ao comunicar a sensação de ter lido um periódico curto, as pessoas não apenas sinalizam o fato de estarem “devorando” o nosso produto, como também, a vontade de escutar mais do que temos a dizer. Nada poderia ser mais encorajador que a atenção de vocês, por isso, ao invés de 36, contamos agora com 52 páginas, o que permite, entre outras coisas, aumentar o tempo de interação entre nós dois. Nosso objetivo é continuar crescendo e, para isso, é extremamente importante saber o que você está achando do trabalho até aqui e o que gostaria de ver daqui para frente. Para isso, o facebook é, sem dúvida, a melhor ferramenta. Caso ainda não tenha curtido nossa fanpage, pedimos que digite Revista Session na barra de busca e na sequência clique no ícone que oficializará o nosso relacionamento, revista, leitor. [ícone de curtir]. Agora, caso você seja um estudante de jornalismo apaixonado por surfe, aproveite que entrou no facebook para curtir a fanpage e fique por dentro da nossa seleção: como a revista está crescendo, é natural que nossa equipe também cresça. Por isso, estamos à procura de um jovem talento com disposição para sentar na areia e escrever sobre tudo que anda acontecendo no universo do surfe pernambucano. Se houver interesse, leia a pauta com atenção e, mãos a obra!

| EXPEDIENTE | DIRETOR COMERCIAL César Albino | 81 9664.0018 cesar@revistasession.com.br

FOTOGRAFIA Renan Souza, Thiago Barros, Tiago Giordani

DIRETOR DE REDAÇÃO Gustavo Bione bione@revistasession.com.br

JORNALISTAS Adauto Cunha, Carolyne Ramos, Mônica Louize Sarabia

DIRETOR EXECUTIVO Thiago Henrique thiago@revistasession.com.br

ILUSTRADOR Miguel Rojas

WEB Carlos Silva

PERIODICIDADE Bimestral

REVISÃO Fabiana Ferreira

PUBLICIDADE - IDEALIZAÇÃO E EXECUÇÃO

Diagramação Renaldo Segundo, Elton Queiroz PROJETO GRÁFICO Renaldo Segundo

81 3032.5825 Os textos contidos na revista foram revisados ortograficamente, respeitando as particularidades linguísticas de cada grupo entrevistado.


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| Espaço do Leitor |

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MAGNO MARQUES Via Facebook

P MAIS ARTE Weston Carreiros Duarte Neto Via Facebook A revista tem que ter uma sessão da arte do leitor. Assim veremos grafites, desenho e outras formas de expressões artísticas relacionadas ao esporte. Abraço, galera, sucesso! Resposta: Excelente dica, Weston. Vamos analisar a possibilidade de criamos este espaço. Obrigado. MAIS INCLUSÃO SOCIAL Manuela Garcia Via Facebook O que acham de tentar cobrir ao menos uma matéria por edição sobre atletas portadores de deficiência física? Não esqueçam que o esporte é uma ótima ferramenta de inclusão. Resposta: Já estamos com uma matéria engatilhada com um grande skatista pernambucano que é referência no cenário mundial. Você não perde por esperar, Manuela. MAIS LONGE Rita Galiza Via Facebook Moro no Estados Unidos e encontrei a primeira edição de vocês em cima de uma das mesas da padaria brasileira de Frammigham, aqui em Massachusestts. Apesar de não fazer nenhum tipo de esporte, sou pernambucana e morro de saudades do meu estado, então li a revista inteirinha e fiquei surpresa com a quantidade de coisas legais para se fazer aí em Recife atualmente. Achei um belíssimo estúdio de escalada indoor por aqui e já estou na minha sexta aula. Gostaria de sugerir que reservassem uma área da revista para falar de Pernambucanos residentes em outros estados ou até mesmo em outros países, como “euzinha” aqui. Resposta: Rita, você não imagina o quanto estamos surpresos e felizes por saber que conseguimos chegar tão longe e em tão pouco tempo.

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arabéns a equipe da session!!! Sou filósofo formado pela ufpe, pratico artes marciais mistas como ferramenta de aprimoramento pessoal e estreei em um desses eventos de mma amador do qual vocês falaram na segunda edição da revista. Retrataram tão bem o que passa pela cabeça de um estreante, que resolvi escrever o que achei do resto do trabalho até aqui. De cara, dá pra notar que a Session preenche uma lacuna notável, não apenas pelo recorte geográfico do cenário pernambucano, mas também pela maneira original com que os temas que casam esporte e aventura são tratados. Entre outras utilidades, a revista serve como um guia valioso para quem pretende vivenciar experiências intensas e profundas. No tocante, particularmente, às matérias de luta, achei que foram bem sucedidas no sentido de demonstrar, de maneira prazerosa e acessível ao público, o quanto tais experiências podem contribuir para a evolução pessoal tanto do praticante (em suas dimensões física e psíquica) quanto da arte ou atividade que pratica. Vocês trataram de problemáticas instigantes, dessas que realmente fisgam a atenção do leitor com interesse no tema. Mais que isso, deulhes respostas originais e enriquecedoras, que só poderiam ser dadas por quem tem não apenas interesse, mas, sobretudo, envolvimento pessoal com o tema. De fato, acho que é natural que quem vivencie intensamente uma arte ou estilo de vida e se proponha a refletir com profundidade sobre aquilo que vive, tenha a dizer algo sincero e significativo a respeito. O processo de aprendizagem que vocês descreveram na matéria INGENUO É AQUELE QUE ACREDITA EVOLUIR SOZINHO traz conceitos que devem mesmo balizar a didática da luta, orientando o aperfeiçoamento do jogo de cada praticante em sua busca infindável por desenvolver um arsenal de técnicas adaptadas às suas condições físicas e ao seu estilo. A leitura desse texto me proporcionou o prazer de reencontrar no âmbito do Jiu-Jitsu, a imortal lição socrática sobre a vaidade como inimiga da aprendizagem e do progresso do conhecimento. Com efeito, em muitos treinos percebemos que os mais graduados, rolando mais para “vencer” que para evoluir, evitam “ criar a cobra que tenta lhes picar” e,

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com isso, perdem a oportunidade de voltar à fase do “consciente incompetente”, pela qual poderiam reiniciar o ciclo da aprendizagem em um novo patamar. Fruto da vaidade, essa atitude de optar pela zona de conforto do território conhecido, como vocês bem demonstraram, impede o praticante de explorar novos territórios da luta, o que é contrário tanto à evolução da arte quanto ao seu progresso pessoal. Já em “O RADICAL ESTADO DE PRESENÇA”, o tema geral da evolução focou não a questão do aprimoramento técnico, mas do desenvolvimento interior, isto é, psíquico do praticante de qualquer esporte radical. Gostei muito da pergunta que o texto pretende responder e da resposta dada. No tratamento do tema, vocês conseguiram evitar que a influência do Zen viesse a se manifestar, por exemplo, como acontece com alguns autores, numa linguagem hermética ou numa visão tão particular que fosse difícil para o leitor acompanhar. Ao invés disso, a ideia do Zen serviu para enriquecer até mesmo o leitor que não está familiarizado com a doutrina, apontando um motivo relevante e significativo que de fato justifica a prática de esportes radicais e mostra como ela pode ser positiva e desejável. Não há dúvidas de que há uma demanda por esse tipo de matéria que precisa ser suprida. Eu mesmo pretendo recomendar a revista aos que têm interesse no tema. OSs!!! Resposta: Magno, vejo que captou bem a alma da Revista Session. Não seria nada mal poder contar com um filósofo no nosso time, o que acha? OSs?


A LUTA DE JOAQUINA BONFIM PARA CONSEGUIR VIVER DO ESPORTE

Foto: Thiago Giordani

JIU-JITSU, JUDO E BOXE

Texto: Walter Ramos

Se você é um observador atento, há grandes chances de já ter se deparado com a imagem dessa moça cruzando a cidade na sua caloi 10. O fato de Joaquina Bonfim não ser exatamente a fotografia fiel do estereótipo de atleta que ocupa nosso inconsciente coletivo, provavelmente não tenha lhe permitido desconfiar que se trate de alguém que vive única e exclusivamente do esporte. Enquanto o jiu-jitsu lhe veste, o boxe lhe alimenta e o judô paga os estudos que lhe renderão um futuro mais estável. Conheça agora um pouco da história, dores e planos dessa guerreira. A equipe da Session deu um pulinho até a MXA para acompanhar duas das muitas sessões de treinos diários que fazem parte dessa rotina da atleta. Após três horas de socos, arremessos e chaves de braço, desligamos nossas máquinas fotográficas e começamos a gravar o áudio que deu origem ao texto a seguir. Descobrimos que não é de hoje que a vida de Joaquina encontra batalhas e desafios pela frente. Nascida numa família cujo histórico remonta a prática de diversos esportes, essa filha de um ex-jogador de futebol do Santa Cruz e de uma entusiasta do volei, recorda dos inúmeros “peneirões” dos quais participou nos principais clubes de Recife, sempre com a presença de sua mãe, a quem perdeu precocemente no final da adolescência.

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O JIU-JITSU COMO FERRAMENTA DE TRANSFORMAÇÃO Perder a mãe fez com que a garota passasse a beber todas as noites. “Passei a me desencontrar com meu pai por que virava a noite bebendo e os horários não batiam mais. Quando ele chegava do trabalho, eu já estava de saída e, quando eu voltava, ele já estava a caminho do trabalho novamente. Foram três anos nessa pisadinha, até que uma amiga finalmente me convenceu a entrar num tatame pela primeira vez”. Terciana Pereira, que era a atleta de jiu-jitsu mais graduada do estado em 2004, já vinha insistindo, havia algum tempo, na ideia de apresentá-la ao esporte, mas Joaquina sempre dava um jeito de se esquivar. “Eu fui pega de surpresa. Estava me preparando para almoçar quando a Terci ligou e disse que estava estacionada na frente da minha casa com um quimono para mim. Ainda tentei arranjar alguma desculpa, mas ela realmente estava decidida a me resgatar”. Três anos sem atividade física haviam deixado Joaquina 30 quilos mais pesada, mas nada conseguiram fazer a sua personalidade competitiva. “Terciana me levou para o treino da Universidade Federal que rola exatamente ao meio dia. Fora o calor, calhou de eu chegar num período de pré-competição. Na época a galera estava se preparando para Copa Voador e o clima era de pressão total. Acho que foi exatamente isso que fez com que me sentisse em casa”. O tamanho e a disposição da garota chamaram a atenção do treinador e dos companheiros de treino, mas não foi nada comparado à admiração geral que tomou conta do tatame, quando no treino seguinte ela chegou com um caderninho, contendo anotações e desenhos sobre tudo que aprendera na aula anterior. “No meu primeiro dia de treino, o professor falou algo sobre programação neurolinguística, justificando o fato de parar de falar faltando uma palavra

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para terminar a frase e esperar que a gente completasse a sentença. Isso, às vezes dava um tom infantil a didática e, terminava fazendo com que algumas pessoas ficassem constrangidas e não interagissem nesse momento. Ele disse que não se tratava apenas de um artifício para verificar quem estava e quem não estava atento durante a aula, e sim, uma forma de ativar outro canal de fixação do conhecimento. Foi aí que eu pensei, ‘se falar ajuda a fixar, imagina escrever’”. Em pouco tempo a rotina de Joaquina havia mudado completamente. Apesar dos treinos só terem início ao meio dia, ela fazia parte de uma turma que chegava à Federal por volta das 10 horas da manhã para conversar sobre jiu-jitsu. Às duas horas, quando o treino terminava e todo mundo entrava nas salas para assistir aula ou ia embora trabalhar, essa galera se reunia no gramado do laguinho e passava o resto do dia jogando conversa fora e estudando o tal caderninho de anotações. “A gente fazia uma cotinha para comprar açaí, sentava na grama e só saia de lá quando o sol começava a se esconder. Depois eu ia para casa e jantava enquanto fazia as anotações no caderninho. Com certeza, foi essa ‘secura’ toda que acelerou meu processo de aprendizagem. Não era apenas uma questão de gostar de treinar, minha vida estava precisando daquilo. ”O resultado do comprometimento da atleta começou a dar frutos já nas primeiras competições e fez com que ela recebesse a faixa-azul com apenas nove meses de treino, algo extremamente raro dentro do jiu-jitsu. “A verdade é que eu sempre gostei de competir. No início era mais uma questão de testar se o que fazíamos na academia realmente funcionaria numa situação real de combate. Mas, quando a Shirley, uma das minhas companheiras de treino, foi campeã mundial, botei esse título como um dos REVISTA SESSION

meus objetivos de vida e comecei a treinar em função disso. O problema é que, a essa altura do campeonato, minha família já vinha dando sérios sinais de insatisfação com o fato do esporte não me dar nenhum retorno financeiro e, não demorou muito para eu ter que arrumar um emprego”. “Comecei a trabalhar na Cissex, uma empresa carioca de empréstimo consignado, em 2005, poucos meses depois de receber a faixa-azul. Como a vaga de trabalho era em Garanhuns e a carga horária só permitia que eu treinasse à noite, meu rendimento dentro do tatame diminuiu bastante durante esse período. Acho que foi essa sensação de declínio o que mais me motivou a pedir que o dono da empresa patrocinasse meu primeiro mundial. Lembro-me de pensar algo do tipo, ‘se não for agora, não vai ser nunca mais’ quando o doutor Mário Peixoto passou por mim no salão do hotel onde estávamos para assistir a uma dessas palestras motivacionais de treinamento obrigatório. Eu nunca o tinha visto pessoalmente, mas segurei o braço dele e disparei: ‘meu nome é Joaquina Bonfim e estou precisando de patrocínio para o mundial de jiu-jitsu no Rio de Janeiro’. Ele olhou para mim por alguns segundos e depois disse: ‘está feito’. Na hora, eu nem acreditei”. O acordo era que a empresa pagaria as passagens aéreas, o hotel e depositaria algum dinheiro para transporte e alimentação. Mas, até o momento do embarque o pessoal do marketing ainda não tinha efetuado o depósito. O fato de Joaquina só ter sete reais no bolso e dias antes ter sofrido uma séria lesão no joelho, quase fizeram com que ela desistisse da viagem. Mas como o hotel estava pago e ela ainda não conhecia o Rio de Janeiro, resolveu embarcar sem maiores pretensões.


QUANDO DECIDIU VIVER DO ESPORTE “Foi a postura profissional de Mário Peixoto em relação ao meu patrocínio o que me fez decidir viver do esporte. Eu cheguei ao Rio sem a grana do táxi e extremamente longe da pousada que haviam reservado para mim. Mas por algum motivo, ao invés de ficar desesperada, entreguei na mão de Deus, subi no primeiro ônibus que encontrei e contei a história toda para o motorista. Coincidência ou não, o cara conhecia o prédio da Cissex e resolveu desviar da rota só para me deixar na porta da empresa. Eu subi e me apresentei. A recepcionista entrou numa sala de reunião e em seguida voltou acompanhada do próprio Mario Peixoto e mais um monte de executivos. Depois de me abraçar como se me conhecesse há anos, o dono da Cissex falou que a desatenção da equipe de marketing seria reparada e em seguida me deu um cartão com mil reais para alimentação durante a semana. Ele ainda deixou um carro com motorista à minha disposição e me colocou no hotel mais próximo da competição, onde só a nata do jiu-jitsu estava hospedada. E só para completar a pressão, antes de se despedir, avisou que todo aquele pessoal que estava na sala de recepção, inclusive ele, iria para o estádio torcer por mim”. No dia da competição, Joaquina chegou ao ginásio escoltada por dois fotógrafos profissionais contratados pela Cissex para registrar cada movimento que a atleta fizesse, o que deixou os competidores curiosos a respeito de sua identidade e, ao mesmo tempo, levantou sua moral. A despeito das fortes dores no joelho, ela venceu todas as lutas e terminou o dia de posse do seu primeiro título mundial. “Na manhã seguinte, o motorista me pegou no hotel e me levou para o auditório onde estava em andamento uma daquelas palestras motivacionais de Mário Peixoto. Só que eu não fazia a menor ideia que dessa vez eu seria usada como exemplo de determinação. Assim que cheguei ao local, pediram para que subisse e permanecesse no palco enquanto ele contava toda minha história para as mais de três mil pessoas que estavam presentes. Depois, Mário me entregou um computador novinho como prêmio e me deu os parabéns pela conquista. Foi naquele momento que decidi: independente das dificuldades que encontrasse pela frente, eu daria um jeito de conseguir viver do esporte”.

O BOXE Contra a vontade da família, Joaquina pediu demissão do emprego, voltou para Recife e para a sua velha rotina de treinos. Apesar de continuar destacando-se nas competições e de conquistar vários outros títulos importantes, a atleta não conseguiu outros patrocínios e, à medida que foi graduando-se, enxergou nas aulas de jiu-jitsu uma possível ferramenta de sobrevivência. Mas, nem mesmo o fato de ser a primeira e única faixa-preta feminina do estado, compensou a concorrência existente no setor. “Mesmo com essa popularidade toda das lutas, graças ao fenômeno do UFC, a quantidade de profissionais no mercado fez com que a coisa ficasse muito concorrida. Hoje, para viver de ministrar aulas, é essencial ter um curso de educação física. Quem sustenta o professor é o público da ‘luta executiva’, que é um público extremamente exigente, pois busca no esporte qualidade de vida e não quer, de forma alguma, arriscar-se na mão de ‘aventureiros’. O título universitário é o que dá credibilidade ao conhecimento adquirido pelo instrutor durante anos de envolvimento com a modalidade. Como eu não tinha tempo, muito menos grana para começar a estudar àquela altura do campeonato, pensei seriamente em desistir e voltar a procurar emprego”. Foi em 2011, durante a preparação do atleta Thiago Boi para um evento de MMA, que Joaquina Bonfim calçou as luvas pela primeira vez. Ela estava ali apenas com a função de afiar o jiu-jitsu do atleta, mas quando o treino de luta de solo terminou, e o treinador Jayme Moraes soube que o sparring de boxe de Thiago não chegaria, pediu à Joaquina que subisse no ringue apenas para oferecer alguma movimentação ao atleta. Mas Jayme ficou impressionado com a habilidade natural que Joaquina demonstrou . “Quando eu desci ele disse que eu levava muito jeito para a coisa e me falou da possibilidade de conseguir uma bolsa atleta através do boxe. Disse que na minha categoria de peso só havia duas garotas devidamente federadas, o que queria dizer que mesmo que eu perdesse para as duas, receberia a bolsa integral. Eu topei na hora e, um mês depois já estava em São Paulo treinando com a equipe da seleção brasileira. Perdi já na minha luta de estreia na Olimpíada Matutina (SP), mas como não fiz feio, me qualifiquei para o Campeonato Brasileiro de Boxe que rolou dois meses depois em Aracaju. Lutei bem e fiquei em segundo lugar. Em 2012, na edição seguinte do Campeonato Brasileiro, em Palmas (TO), Eliminei a campeã brasileira da edição anterior e conquistei a tão sonhada bolsa atleta”. REVISTA SESSION

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O JUDÔ Apesar de não pretender aposentar o quimono e as luvas tão cedo, Joaquina sabe que a vida de atleta tem prazo de validade e resolveu aproveitar a estabilidade proveniente da bolsa atleta para providenciar um curso de graduação em educação física. Embora não precise mais se preocupar em trabalhar para pagar as contas, a bolsa de 925 reais mensais não é o suficiente para arcar com os custos de uma faculdade particular. Como as instituições de ensino pernambucanas ainda não oferecem bolsas, nem para atletas de jiu-jitsu, nem para atletas de boxe, ela resolveu aproveitar a experiência com as técnicas de projeção do jiu-jitsu para tentar a bolsa através do judô. Menos de seis meses depois de entrar para o time de judô da FASNE, onde conseguiu uma bolsa integral no curso de educação física, Joaquina sagrou-se campeã nos Jogos Universitários de Pernambuco e ajudou a equipe salesiana a ficar com o 2º lugar geral da competição. Além da oportunidade de estudar, o vínculo com a FASNE permitiu que Joaquina pudesse treinar sob os cuidados do professor Robson Bacelar. “Robson está ciente da minha necessidade de atuar em três modalidades distintas, por isso, direciona meu treinamento de acordo com as necessidades específicas de cada uma delas. Diferente do que eu imaginava, meu rendimento, tanto no boxe quanto no jiu-jitsu, só melhorou, depois que comecei a treinar judô.”

TRÊS MODALIDADES, TRÊS VEZES MAIS EXPOSIÇÃO “Outra vantagem em atuar em três modalidades diferentes diz respeito à prospecção de patrocinadores. Eu ainda não tinha atinado para o fato de que hoje consigo mostrar as marcas que visto dentro de três universos distintos. Depois que a MXA enxergou essa vantagem, uma série de outras marcas de roupa começaram a me procurar. Mas agora minha busca é por alguém interessado em cuidar da minha alimentação. Uma marca de bike também seria bem vinda, já que passo o dia cruzando a cidade de um treino para o outro em cima da minha”, diz Joaquina antes de piscar o olho e se despedir da equipe da Session.

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Uma marca de bike também seria bem vinda, já que passo o dia cruzando a cidade de um treino para o outro em cima da minha



Conheça

GEORGE GRACIE E descubra que pernambuco teve um papel fundamental na história do jiu-jitsu

Texto: Gustavo Bione

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os cinco irmãos Gracie, que formam a primeira geração do jiu-jitsu brasileiro, Hélio, é sem dúvida o mais lembrado. Isso, por que em 1992, durante a transmissão da primeira edição do UFC, seu filho Rorion, idealizador do evento, aproveitou o espaço para apresentar o pai, em rede nacional americana, como o inventor do Brazilian Jiu-Jitsu. Carlson, filho de Carlos, o primeiro Gracie a ter contato com as técnicas de luta agarrada, estava presente no momento da injusta homenagem, mas, por não entender uma palavra sequer em inglês, foi facilmente induzido pelo primo a acenar com a cabeça confirmando a mentira. Afirmar que o caçula dos irmãos inventou o jiu-jitsu significa desconsiderar todas as conquistas que ocorreram enquanto o mestre Hélio não passava de uma criança. Carlos Gracie, Oswaldo Gracie, Gastão Gracie e George Gracie, o elo dessa história toda com Pernambuco e, consequentemente, o foco dessa matéria, participavam de desafios de Artes Marciais Mistas antes mesmo de Hélio ter começado a treinar jiu-jitsu. Os desafios tinham a função de demonstrar a superioridade daquelas técnicas e arrebatar novos alunos dispostos a pagar caro por elas. Algo extremamente importante para uma família que, em 1921, resolveu tirar todo seu sustento de aulas particulares ministradas no Rio de Janeiro. Para entender melhor o desenrolar dessa história, é importante livrar-se da versão romântica de que Hélio Gracie teria “reinventado” o jiu-jitsu por que as técnicas ensinadas pelo irmão não funcionavam para alguém com o seu corpo franzino. A verdade é que a Arte Suave “vive” em contínua evolução graças a uma de suas características mais marcantes: a adaptabilidade. Não é à toa que o próprio Hélio passou a vida inteira pregando que qualquer um poderia

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aprender jiu-jitsu. Seus fundamentos, os axiomas dessa luta, pedem que o praticante busque trabalhar com o máximo de vantagem mecânica e mínimo gasto de energia, algo que cobra um posicionamento diferente de biotipos diferentes. Não que os Gracies não tenham mérito algum, muito pelo contrário. Assim como Mitsuyo Maeda, o japonês que treinou Carlos Gracie durante a adolescência, muitos outros japoneses, insatisfeitos com a conversão do jiujitsu em judô, viajavam o mundo com a missão de abrir novas escolas e impedir que a forma tradicional do jiu-jitsu se perdesse na linha do tempo. Porém, foi apenas no Brasil que essa semente germinou. E, parte significativa desse mérito, com toda certeza, pertence ao solo onde a semente foi plantada. A paixão de Carlos pela Arte Suave foi o que manteve a arte viva. Carlos Gracie era um garoto hiperativo e com sérios problemas comportamentais que, assim como os irmãos, Oswaldo e Gastão, havia largado a escola e não possuía nenhuma expectativa profissional. Porém, três anos depois de iniciar o treinamento com Mitsuyo Maeda, Carlos tornou-se um homem bastante equilibrado. Quando a família mudou-se para o Rio de Janeiro e passou a viver das aulas de defesa pessoal, todos os irmãos, com exceção de Hélio, que começou a lutar um pouco mais tarde, passaram a treinar diariamente e a participar de desafios contra capoeiristas, pugilistas, estivadores e toda espécie de valentão que estivesse disposto a tentar a sorte contra os Gracies. Até mesmo lutadores internacionais entravam para lista deles, especialmente os judocas japoneses, que viajavam pelo mundo com a missão de divulgar o judô de Jigoro Kano. Sempre que um lutador oriental passava pelo Rio, Carlos ia até a rádio e lançava o desafio. Mesmo que o viajante não comprasse a briga, a simples recusa tratava de gerar um marketing positivo para o jiu-jitsu Brasileiro. REVISTA SESSION

GEORGE GRACIE No livro Biografia de Carlos Gracie, a autora Reila Gracie, apresenta seu tio George como o mais talentoso dos irmãos. O Gato Ruivo, como era conhecido, costumava receber uma atenção especial da parte de Carlos graças as suas habilidades excepcionais. Dos cinco, foi quem mais participou de disputas de MMA e jiu-jitsu durante a carreira de lutador. De espírito livre e inquieto, viveu em varias regiões diferentes do país e foi o único da família a não aderir à rigorosa Dieta Gracie desenvolvida por Carlos. Sem dúvida, a rebeldia de George Gracie foi um fator determinante para que o jiujitsu atingisse o patamar de popularidade que possui hoje. Naquela época, como já foi dito anteriormente, as aulas eram ministradas individualmente. Manter um professor por aluno tornava a prática cara e, consequentemente, restringia o número de adeptos. Foi apenas em 1951, 30 anos depois de Carlos ter aberto sua primeira escola de jiu-jitsu, que a coisa começou a mudar. Naquele ano, George estava morando em Recife e dava aula para as forças armadas. Foi exatamente graças a esse trabalho que ele se viu na necessidade de desenvolver uma didática que lhe permitisse treinar de 20 a 30 indivíduos simultaneamente. O laboratório do Gato Ruivo com os militares deu tão certo que ele resolveu abrir uma academia para civis de frente ao antigo colégio marista, exatamente onde hoje se encontra a nova ala do Shopping Boa Vista. E foi ali, no coração da nossa cidade, que a arte-suave tornou-se a ferramenta de interação social que nós conhecemos. Durante um bom tempo, Recife era o único lugar onde se podiam encontrar médicos, engenheiros e advogados convivendo e treinando com estudantes e trabalhadores pertencentes a camadas mais baixas da pirâmide social. Naquela época, no Rio de


Janeiro, a luxuosa academia dos Gracies era frequentada apenas pela “nata” da sociedade carioca, porém, aquilo estava prestes a mudar. Ao perceber que havia criado um novo nicho de mercado, o Gato Ruivo resolveu voltar para o Rio e abrir uma filial a pouco mais de um quarteirão do bem sucedido negócio da família. Ele distribuiu folhetos divulgando o novo método e seus preços mais acessíveis. E com isso, não demorou para que Hélio batesse a sua porta exigindo que o nome Gracie não fosse mais utilizado por ele caso a didática tradicional de ensino não voltasse a ser adotada. Como a exigência não foi atendida, a relação entre os irmãos ficou abalada. Em pouco tempo, as demais academias do Rio de Janeiro, inclusive a de Hélio, se viram na obrigação de adotar aquele novo formato de treinamento para poderem-se manter competitivas no mercado, uma transformação que mudou para sempre a cultura do jiu-jitsu no nosso país. ACOMPANHE AGORA NOSSA CONVERSA COM ALBERTO FERRAZ, ALUNO DIRETO DE GEORGE GRACIE. ESSE SENHOR DE 85 ANOS FEZ PARTE DA PRIMEIRA CLASSE DE AULAS EM GRUPO DA HISTÓRIA DO JIU-JITSU. Senhor Alberto, gostaríamos muito de conhecer os motivos que levavam um rapaz a matricular-se numa academia de jiu-jitsu naquela época. Como foi o seu primeiro contato com a arte-suave, você já se interessava por alguma outra luta antes? Eu já tinha tentado treinar boxe durante o ginasial no Colégio Estadual, mas não deu muito certo. No primeiro dia de treino o professor me botou dentro do ringue e me pediu para fazer sombra com Reginaldo, um pugilista experiente que na primeira oportunidade me deu uma pregada no queixo com toda vontade do mundo. Assim que me recuperei, fui tirando as luvas, peguei a trave que eles usavam para fechar as janelas e falei, “não sou bom de boxe, mas vou matar você de cacetada, você sabendo boxe e tudo”. Foi uma confusão danada, eu correndo atrás dele e o pessoal correndo atrás de mim para evitar que o pior acontecesse. Depois desse incidente lamentável, fiquei pensando que não tinha espírito esportivo para lutar. Até que comecei a estudar na Faculdade de Ciência Econômica Federal na Rua do Hospício com a Avenida Conde da Boa Vista. Do primeiro andar, onde ficava nossa sala, dava para ver parte do que acontecia dentro da academia do George Gracie e vez por outra a gente ficava ali de cima assistindo. Com o tempo eu fui-me identificando e resolvi passar lá e ver a coisa um pouco mais de perto. Matriculei-me no mesmo dia. Qual foi a primeira impressão que o George Gracie lhe causou?

Ele me passou muita segurança e, consequentemente, ganhou minha confiança. Lembro que uma das primeiras coisas que me disse foi, “aqui em Pernambuco não é muito vantajoso deixar que os outros saibam que você está treinando”. Eu achei aquilo meio estranho, mas, resolvi seguir o conselho do professor sem questionar muito. Deixava minhas coisas guardadas no cantinho da academia, então descia da faculdade, treinava e depois ia para casa sem fazer propaganda da atividade nova. Só algum tempo depois, quando entrei no exército, foi que entendi o que ele tinha em mente quando me aconselhou a não fazer alarde sobre o jiu-jitsu. Eu e os demais recrutas fomos levados para o curso de tiro e eu vi que o protocolo de treinamento envolvia coisas muito básicas. Resolvi então comunicar ao instrutor que eu já possuía bastante experiência com armas por que na minha família a gente tinha acesso a elas desde muito cedo. A minha ideia era apenas ser dispensado da atividade, mas depois de realizar alguns testes para confirmar se eu estava falando era verdade, ele me promoveu a auxiliar. Lembro exatamente o que ele disse naquele momento, “fico muito feliz de saber que vou poder contar com a sua ajuda para ensinar os demais a atirar. Mas escute uma coisa: não há muita vantagem em sair por ai mostrando que é bom de tiro. Se por um motivo ou por outro você tem um desentendimento com alguém que conhece o REVISTA SESSION

seu poder de fogo, ele vai agir na covardia lhe privando da possibilidade de defesa”. Aquelas palavras do instrutor eram a vida confirmando, na prática, a teoria que eu tinha aprendido no Dojô. E isso aconteceu inúmeras outras vezes no decorrer da minha vida. Então o segredo está em esconder que treina jiu-jitsu? Não meu filho, não é isso que estou dizendo. Hoje os tempos são outros e, como você sabe, o jiu-jitsu é uma ferramenta de transformação maravilhosa. Vocês têm mais é que chamar todo mundo para treinar e fazer propaganda da coisa. Naquela época o negócio era visto com certo preconceito e, às vezes, despertava alguns sentimentos negativos nos outros. A história que acabei de contar trata apenas da importância de acatar as ordens do mestre, mesmo quando elas não parecem fazer muito sentido no primeiro momento. A hierarquia é uma das ferramentas mais importantes no refinamento do caráter através do jiu-jitsu. É preciso confiar no professor independente de qualquer coisa. O George, por exemplo, costumava brincar comigo dizendo que eu parecia um carro da Citroen e que era quase impossível me virar. A verdade é que ele me derrubava com uma facilidade que dava dó. Mas, de tanto escutar aquilo e, principalmente, de tanto acreditar naquilo, o resto da academia penava para botar minhas costas no chão.

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O Senhor disse que o jiu-jitsu é uma ferramenta de transformação. Ele lhe transformou de alguma forma? Com certeza. Pela história que contei sobre a minha curta carreira no boxe do Colégio Estadual, deve ter ficado claro que eu costumava ter um gênio forte. Isso, somado ao contexto cultural ligado à família Ferraz representa grandes chances de tragédia. O jiu-jitsu me tornou um indivíduo bem mais consciente. Não é que eu tenha virado alguma espécie de santo ou qualquer coisa do gênero. Mas a segurança que essa prática proporciona ao praticante diminui bastante as chances dele se envolver em episódios de violência desnecessária. A violência está totalmente ligada ao medo. Pode ter certeza do que vou dizer agora: quando encontrar um sujeito fazendo barulho demais, dizendo que vai fazer e acontecer, isso e aquilo, é sinal que ele está aterrorizado. Andar seguro de si é o que traz paz ao coração do indivíduo. É possível que o senhor nos conte um pouco de como os treinos costumavam se desenrolar? O professor George Gracie costumava abrir os treinos falando sobre alguma questão social que acreditasse ser relevante e depois tentava trazer aquilo para dentro do contexto da luta em si. Nós Fazíamos uma breve sessão de ginástica e em seguida ele começava a mostrar as técnicas que deveríamos por em prática durante a luta. Trabalhávamos também muita coisa relacionada à defesa pessoal contra arma branca, arma de fogo e grupo de pessoas. A ênfase do discurso era sempre em cima da questão da atenção durante a execução dos movimentos. Ele costumava dizer que não adiantava repetir a técnica 100 vezes com a cabeça em outro lugar. Mas valia fazer dez repetições, dando o devido valor aos detalhes. Essa questão da atenção foi outro ponto forte que terminei trazendo para o meu dia a dia. O senhor pegou a faixa-preta das mãos do próprio professor George Gracie? Até a marrom eu recebi a faixa diretamente das mãos dele, mas, quando chegou à hora de pegar a faixa-preta ele já não estava mais

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morando aqui em Recife. O protocolo pedia que o aluno fosse para o Rio ou para São Paulo, dependendo de onde o professor George estivesse para ser graduado. Como eu sempre tive um acordo comigo mesmo de só morrer de desastre de avião caso um resolvesse cair em cima de mim, nunca fui. Terminei recebendo a autorização para usar a faixa-preta mesmo sem viajar, porém, usei bem pouco tempo. O que aconteceu? Assim que terminei a faculdade, pouquíssimo tempo depois de amarrar a faixa-preta na cintura, fui contratado por uma multinacional americana e tive que me afastar do jiu-jitsu enquanto pegava o jeito das coisas por lá. Quando tudo já estava sobre controle e eu comecei a cogitar a possibilidade de voltar para os treinos, surgiu outra excelente oportunidade de emprego, dessa vez na Souza Cruz. E assim foi, uma coisa, depois outra... e, quando eu finalmente retornei,descobri que a academia do George já havia fechado. E depois disso o senhor nunca mais treinou jiu-jitsu? De faixa-preta não. Como assim? Só uns dez anos depois de parar de treinar, já casado e pai de família, foi que voltei a ter algum contato com o jiu-jitsu. Como não era na academia do meu professor e como, para mim, a imagem de George Gracie era insubstituível, na época me pareceu que a coisa certa a fazer era treinar com uma faixa-branca amarrada na cintura. O meu vizinho, um médico judeu chamado Imá Bancovsky, treinava numa academia na Rua Paissandu. O dono do lugar era o faixa-preta Francisco Diniz, que achou aquilo meio estranho no começo, mas respeitou meu ponto de vista e cedeu o espaço para que eu fizesse sparring com o Imá e com quem mais quisesse treinar com a gente. Depois de um tempo, o próprio Diniz passou a participar das sessões. Ele também havia sido aluno direto do George e era um lutador bastante competente. Nós terminamos virando grandes amigos. Mas a faixa, de certa forma, é um sinalizador do conhecimento do atleta. Isso

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nunca deu problema ou gerou algum mal entendido? Problema não. Mas houve algumas situações engraçadas. Certa vez, por exemplo, eu estava esperando o Imá no tatame quando entrou um sujeito enorme chamado Marcha Lenta que era cabo da Rádio Patrulha. Ele perguntou se podíamos treinar juntos enquanto não chegava ninguém e eu respondi que não via problema nenhum nisso. Nos cumprimentados e trocamos algumas pegadas. O camarada era tão forte que o peso dos braços dele era o suficiente para desestabilizar minha postura. Então fui me ajeitando por ali e, quando surgiu a oportunidade, fiz uma pegada de gola cruzada na altura do pescoço e em seguida fiz uma pegada similar no lado oposto. Ele pareceu não acreditar muito na eficiência daquilo quando eu comecei a estrangular e terminou dormindo em pé. Coincidiu de o Francisco Diniz chegar na mesma hora em que o sujeito estava tornando do cochilo. O Diniz quase morreu de rir quando ele disse: “é rapaz, acho que o aprendizado na polícia não anda muito bem. Como é que eu chego aqui e durmo em pé lutando com um faixa-branca?” [risos]. Seu Alberto, tem mais alguma coisa que o senhor queira falar a respeito do jiujitsu? Na verdade eu queria agradecer por essa conversa. Fez-me reviver muita coisa boa. E aproveitando que a matéria de vocês fala sobre meu professor. Queria encerrar lembrando um conto popular que enfatiza a sabedoria do mestre. Ele diz que um gato, depois de muita insistência, aceitou ensinar os segredos do combate a uma onça extremamente empenhada em aprender. Depois de anos de treinamento, a onça solenemente recebeu a faixa-preta das mãos do mestre gato e, logo em seguida lançou uma patada mortal em sua direção. Num pulo ligeiro seguido de uma cambalhota o gato se livrou do golpe e pousou suavemente a alguns metros da onça, que encantada com a maestria do movimento protestou, “mas esse o senhor nunca me ensinou”. “ Se eu tivesse ensinado, agora estaria morto”, respondeu o gato.


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Foto: Renan Bob

BLITZ

São Lourenço

Texto: Thiago Henrique

Finalmente, depois de uma semana inteirinha de chuva pesada, a Revista Session conseguiu uma trégua climática e deu um pulinho em São Lourenço da Mata, a cidade pernambucana da copa, para conferir o que tem de bom por lá em matéria de skate. Nosso guia local foi o skatista Antônio Junior, que nos levou num rolé a procura de gaps, picos e pistas que proporcionassem boas imagens para a matéria e, assim, apresentassem todo potencial do local aos nossos leitores. Então, como disse certa vez o consagrado capoeirista pernambucano, Mestre Bimba, “deixe que sua arte lhe apresente um novo mundo de possibilidades”. Afinal, é exatamente essa a proposta da Blitz Session, incentivar o turismo esportivo interno e o esporte de uma forma geral.

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Antônio Jr.

Antônio Jr. executando um big ollie melon na pista de São lourenço

Antônio contou que a história do skate da cidade teve suas origens nos degraus da Igreja Matriz, nos quais a galera começou a arriscar as primeiras manobras e ocorreu uma das histórias mais conhecidas do skate de São Lourenço da Mata. “Um belo dia o ‘carrinho’ de um dos rapazes escapou do pé dele e foi bater no carrão de um juiz que mora no bairro. O homem da capa preta ficou tão furioso que tentou proibir os skatistas de se reunirem em volta da igreja. Foi aí que o padre responsável pelo local disse que ali o skate estaria liberado enquanto ele permanecesse por lá. É uma história legal porque mostra que uma figura religiosa pode ter muito mais noção dos benefícios sociais da prática esportiva do que alguém que lida diariamente com casos tristes que poderiam ser evitados através do esporte”.

Parece que depois do vigário ter abençoado o skate de São Lourenço, nem mesmo as pistas mal construídas e o descaso geral com o esporte dão conta de abaixar o ânimo dessa turma. “O skate aqui cresce mais a cada ano. Toda noite tem uma galera grande espalhada pela cidade andando e andando bem. Claro que a gente sonha que com essa ideia toda de deixar a cidade no ‘PADRÃO FIFA’, sobre um investimentozinho para o resto dos esportes e o skate se beneficie. Mas enquanto isso, brother, a gente segue treinando, porque, como vocês mesmos podem ver, o que não falta aqui é ladeira, obstáculos e criatividade”, finaliza Antônio. REVISTA SESSION

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EU NÃO

ABRO MÃO NEM POR VOCÊ

NEM POR NINGUÉM Texto: Gustavo Bione

Lau mandando um hardflip na pista coberta da Macaxeira

Eles não precisaram largar o skate para tornarem-se excelentes pais de família.

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astou atingirem idade suficiente para começarem a sair de casa sozinhos e o que antes não passava de brincadeira de criança, transformou-se em filosofia de vida. Lau (João) e Cleber Negão (Alberlando) se conheceram no início década de 90, quando o prédio dos Correios ainda estava se transformando no símbolo do skate street pernambucano. Hoje continuam na ativa graças ao fato de que, com muita destreza e um pouco de sorte, sobreviveram às lesões e escolheram bem suas mulheres. “Não é apenas uma questão de escolher a garota certa. Antes de tudo é preciso escolher ser leal consigo mesmo. Respeitar as coisas que fazem você ser quem você é. Eu passei no concurso

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da polícia andando de skate, terminei a escola andando de skate, entrei e saí da universidade andando de skate. Eu sou skatista desde que me entendo por gente. Se, de uma hora para outra, minha esposa se tornasse uma dessas pessoas possessivas e resolvesse enfiar na minha cabeça que eu já ando velho demais para continuar no esporte, com certeza teríamos um problema. Mas o segredo para evitar isso é entender que, geralmente, tudo o que a mulher precisa é de uma satisfação. A pior coisa que o skatista pode fazer é criar mistério em torno do esporte. Se ela quiser acompanhá-lo durante a sessão, leve-a junto. É assim que você não deixa espaço nenhum para fantasias negativas”, ensina Lau, casado com Ana Clara e pai do pequeno João, REVISTA SESSION

que aos três anos já tem o próprio skate e acompanha o pai nas pistas sempre que pode. Já Cleber Negão diz que o segredo está em marcar presença e saber dividir bem as coisas: “eu, provavelmente, não seria o pai e nem o marido que sou se fosse obrigado a parar de andar de skate por ciúmes da minha parceira. Quando você não está feliz, dificilmente consegue fazer alguém feliz. Agora, claro que nós precisamos compensar as coisas. É aquela velha matemática dos direitos e deveres. Querendo ou não, o esporte termina levando algumas horas da sua semana que, somadas ao tempo que você gasta no trabalho, podem facilmente fazer com que você pareça ser um cara ausente demais. Ser mulher ou filho de skatista não é


O ciúme é um monstrinho lindo que você vê e imediatamente sente vontade de alimentar. O problema é que o bicho come o lixo fantasioso que damos para ele, cresce, se transforma num monstrengo bizarro e começa a estragar tudo o que existe de bom na relação. Ninguém é dono de ninguém, brother. O segredo é explicar para a garota que são as coisas que fazemos separados que nos dão motivos para continuarmos juntos. CLEBER

Cleber Negão mandando um grind com estilo na pista da Caxangá

Às vezes parece que todos os problemas resolvem aparecer de uma só vez e, quando isso acontece, o rendimento em cima do skate cai ao ponto de o cara pensar que já perdeu o jeito da coisa. Mas quando tudo se acalma é que você percebe que o esporte cumpriu sua função. Quando alguém me pergunta se eu posso dizer que o skate é uma muleta, eu respondo: ‘uma não, brother, duas. LAU

bem como ser mulher ou filho de surfista. O sol quente na pista de skate é diferente do sol quente na beira da praia, onde você pode esperar pegando um bronze e tomando uma aguinha de coco. É por isso que, quando estou em casa, faço questão de participar de tudo. Tenho um bebê de seis meses, um garotão de 13 anos e uma esposa maravilhosa, não dá pra voltar dizendo que estou morto de cansado e simplesmente entrar em ‘coma’ em cima do sofá. O esporte tem que deixar o cara mais ativo, recarregar suas baterias, não o contrário”. O conhecimento prático foi o que permitiu que Cleber Negão se tornasse consultor de marketing de uma das maiores redes de skateware do estado. “Diferente de Lau, que sabia separar uma hora para o skate e uma hora para os estudos, eu estava sempre matando uma aulinha para fazer uma sessão de street no meio do dia. Quando fui me ligar na burrada REVISTA SESSION

que estava cometendo, já era tarde demais. Mas assim que as coisas começaram a ficar difíceis, Deus abriu outra porta. Fiquei sabendo de um empresário que, apesar de não entender tanta coisa de skate na época, estava muito a fim de investir no esporte. Dei um jeito de conhecer o cara e mostrei vontade de trabalhar. Foi uma parceria boa para os dois lados: enquanto ele me ensinava os conceitos básicos do mercado, eu ia contribuindo com meus conhecimentos sobre o ‘carrinho’. Foi assim que terminei me tornando consultor de marketing. Não ganho rios de dinheiro, mas, fico feliz em poder sair de casa para trabalhar com uma coisa que gosto. Acreditem ou não, aquele papo de ‘arrume um trabalho que ame e não vai ter que trabalhar um único dia da sua vida’, é a mais pura verdade. Teríamos menos neuróticos no mundo se tivesse mais gente trabalhando nessas condições”, diz Alberlando Lúcio.

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QUER TER VIDA LONGA NO ESPORTE? AQUEÇA ANTES E ESTIQUE DEPOIS Texto: Gustavo Bione

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om o intuito de melhorar sua performance e diminuir suas chances de se lesionar, a equipe da Session saiu em busca de informação e conversou com dois especialistas em movimento e consciência corporal. O educador físico Halisson Ivo e o fisioterapeuta Tito Livônio nos deram sugestões preciosas de como manter o corpo em dia e garantir uma vida longa no esporte. Confira: TITO LIVÔNIO Trabalho na recuperação de atletas de diversas modalidades distintas utilizando técnicas de alongamento e reeducação postural. Na grande maioria das vezes o problema está na pressão e na falta de mobilidade articular causado pelos encurtamentos dos músculos. Uma hérnia de disco, por exemplo, não é algo que simplesmente aparece em alguém. Geralmente é resultado da pressão causada pelos encurtamentos de uma determinada cadeia muscular que faz com que os discos da coluna sofram ainda mais pressão do que já sofrem com a ação natural da gravidade. Quantos skatistas, surfistas ou patinadores que você conhece, cultivam o hábito de se alongar depois de um treino? Eles geralmente contraem a musculatura durante horas de exercícios sem planejamento e depois vão para casa como se não tivessem dado motivo de sobra para o músculo encurtar. Reeducação postural não é apenas rever a forma como você senta, anda ou corre. Trata-se de reavaliar sua postura em relação à responsabilidade com o seu próprio corpo. Não alongar no pós-treino é exatamente como não lavar a bike depois de uma trilha. A única diferença é que as lojas de esporte ainda não começaram a vender joelhos, ombros nem coluna. Sem peça de reposição, o jeito é correr atrás do prejuízo. Já vi muito marmanjo chorando por que não ia mais poder pedalar, sufar ou jogar bola. Felizmente, na grande maioria das vezes, a gente consegue reverter o quadro e o susto termina servindo para

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tornar o indivíduo mais consciente de si. Mas acredite, ainda é bem melhor prevenir do que remediar. Então segue a dica: Uma forma inteligente de evitar a sensação de queima do estica e puxa, tornar o alongamento mais dinâmico e resistir a tentação de voltar para casa sem colocar a musculatura no seu devido lugar é utilizar o alongamento americano Active Isolated Stretching (AIS). Nele, você segura cada posição por no máximo três segundos e faz de 10 a 12 repetições por músculo tratado. Essa técnica acelera a recuperação por inibir a dor, aumentar a circulação e melhorar a oxigenação. HALISSON IVO Além de educador físico sou praticante e professor de jiu-jitsu a mais de uma década, o que tem me dado a oportunidade de conviver tanto com pessoas que simplesmente buscam na academia de ginástica o aprimoramento estético e a manutenção da saúde, como com os atletas de alto rendimento do MMA e modalidades de luta como wrestling, boxe e o próprio jiu-jitsu. Estar inserido com regularidade em dois universos tão diferentes tem sido um excelente laboratório de observação que, entre outras coisas, permitiu-me comprovar os benefícios do aquecimento articular antes da prática esportiva. Segundo o ACSM (Colégio Americano REVISTA SESSION

De Medicina Esportiva), aquecer antes de dar início a qualquer atividade física, não apenas previne lesões, acidentes e desequilíbrios musculares, como também garante um melhor desempenho ao praticante, já que libera a movimentação das articulações e eleva nosso grau de consciência corporal. Sei o quanto é difícil resistir à tentação de pular o aquecimento e ir direto para aquilo que realmente gostamos de fazer, por isso, mostrarei uma forma rápida e ainda assim bastante eficiente de deixar seu corpo preparado para próxima session, seja ela uma trilha, um surfe ou qualquer outra coisa que exija mobilidade e estabilidade articular. Levará algum tempo até que você desenvolva o hábito de se aquecer antes das atividades esportivas, mas insista e, quando menos esperar, será algo tão natural como lavar as mãos antes de comer. Comece acelerando os batimentos cardíacos e aumentado a temperatura corporal com um pequeno circuito de exercícios numa janela de tempo que dure de um a cinco minutos e siga com alguns movimentos circulares que além de prover a mobilidade e estabilidade articular, devem fazer com que o indivíduo tome total consciência do seu corpo e das potenciais limitações que ele possa estar apresentando naquele momento. Imagine esse processo como um scaner que começará a leitura nos seus pés e terminará na sua cabeça.


Polichinelo

Movimentos circulares dos joelhos para ambos os lados.

Giro da cabeça para ambos os lados.

Simulação de corrida

Movimentos circulares do quadril para ambos os lados.

Giro dos cotovelos.

Movimentos simultâneos do quadril para um lado e dos ombros para o outro.

Saltos verticais.

Saltitar alternando os pés

Movimentos que girem os tornozelos para ambos os lados.

Giros dos braços em ambos os sentidos. Utilize esse protocolo da forma que se sentir mais à vontade, oscilando entre movimentos mais rápidos e movimentos mais lentos, observando sempre o ritmo dos batimentos cardíacos e a temperatura corporal. Faça no mínimo duas vezes cada exercício com pelo menos 3 movimentos para cada lado. Em caso de dor, pare imediatamente e investigue as causas. Ao término do aquecimento, boa diversão!

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Fotos: Maurício Träsel Drunn

O Drop Knee de Daniel Alves DE ALAGOAS PARA PERNAMBUCO E O MUNDO Texto: Gustavo Bione

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Daniel Alves cavando com atitude em Backdoor

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oi para melhorar seu nível de treino, conseguir exposição na mídia e participar de mais competições, que nove anos atrás Daniel Alves resolveu trocar a Praia do Trapiche, litoral sul de alagoas, pela nossa belíssima Enseada dos Corais. Ao fechar o primeiro semestre de 2013 como terceiro melhor drop knee do mundo, não restam mais dúvidas de que ele está no

caminho certo. Daniel começou a sufar de body board por influência de um tio, mas só mais tarde, quando conheceu Rogério Falcão, precursor do drop knee em alagoas, foi que resolveu que viveria do esporte. “Eu me encantei pelo dinamismo da modalidade. Identifiquei nela uma mescla entre o body e surfe de pranchinha que me permitia surfar de um jeito que jamais havia imaginado.

Quando eu não tiver mais que trabalhar e puder me dedicar única e exclusivamente aos treinos, garanto que trago o título mundial para o Brasil. REVISTA SESSION

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Fotos sequancia: Renan

Quando me ajoelhei na prancha pela vez, resolvi que levaria a coisa a sério até o final”. Levar a coisa a sério significa ser o primeiro campeão mundial de drop knee brasileiro, o que implica, além de muito treino, ter grana para viajar e correr os principais campeonatos. Esse ano, com ajuda de amigos, trabalhos paralelos e o apoio da prefeitura do Cabo de Santo Agostinho, Daniel finalmente conseguiu chegar ao berço da modalidade e disputar a etapa mais mágica e cara do circuito mundial, a de Pipeline. Surfar as ondas mais conhecidas e temidas do mundo renderam ao atleta mais do que experiência e pontos no ranking. Os contatos e toda a exposição fizeram com que o surfista voltasse para casa com contratos de patrocínio assinados com a Wax, a Thurchill e a Cabeça Ativa. “Agora as coisas vão ficando um pouco mais fácies. Enquanto estava lá, dei uma entrevista para uma importante revista australiana e agora estou aqui cedendo essa entrevista para revista Session. Espero que toda essa exposição sirva para despertar o interesse de outros patrocinadores. Quando eu não tiver mais que trabalhar e puder me dedicar única e exclusivamente aos treinos, garanto que trago o título mundial para o Brasil”.

Drop insano de backside em Enseada dos Corais



| DICAS DE NUTRIÇÃO |

ANTES DE ENTRAR NO MAR CONFIRA AS DICAS DA NOSSA NUTRICIONISTA ESPORTIVA Ana paula Casé

EVITE BEBIDAS ALCOÓLICAS NA VÉSPERA E NO DIA DA SESSION Além de acelerar o processo de desidratação e promover a queda da temperatura corporal, o álcool libera insulina, o que faz com que o açúcar no sangue despenque e, consequentemente, sua energia também. Levando em consideração o elevado gasto energético dessa modalidade, beber durante ou na noite anterior é sem dúvida uma das formas mais eficientes de sabotar o tempo e a qualidade do seu surfe. Então, se o objetivo final não for apenas desfilar na praia vestido de surfista, e sim fazer bonito dentro d’água, trate de arrumar uma alternativa mais saudável para matar sua sede.

NO CAFÉ DA MANHÃ DÊ PREFERÊNCIA AOS ALIMENTOS DE FÁCIL DIGESTÃO E FONTES DE CARBOIDRATOS SIMPLES COMO PÃO, MEL, GELEIA, FRUTAS E SUCOS Com o açúcar em baixa no organismo por causa das horas de jejum noturno, é essencial que o surfista consuma uma fonte de energia rápida antes do início da session. Como o surfe costuma ter início já nas primeiras horas do dia, nem pense em reaproveitar aquele restinho de feijão com arroz do almoço de ontem. Diferente das frutas, os cereais são fontes de carboidratos complexos e precisam de mais tempo para ser processados. Se você inicia a prática esportiva sem que o alimento tenha começado a fornecer seus nutrientes, permite que o corpo queime massa muscular em busca de energia, enfraquece e fica mais suscetível ao aparecimento de infecções, o que na praia, é um prato cheio para as micoses.

APOSTE NO AÇAÍ COMPRE UM RELÓGIO A PROVA D’AGUA E MARQUE UM COCO A CADA DUAS HORAS Se você pretende passar o dia inteirinho surfando, essa dica deve melhorar bastante o seu rendimento. Programe o relógio para alarmar a cada duas horas e saia do mar direto para uma barraca de coco. Além de hidratar, a água de coco fornece carboidratos e nutrientes como sódio e potássio, importante para o equilíbrio hídrico e ótimo para evitar cãibras.

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Se vai continuar surfando, as refeições no meio do dia precisam e devem seguir o mesmo padrão do seu café da manhã. Por isso, continue passando longe das carnes: não adianta consumir algo que só começará a ser metabolizado horas mais tarde e com grandes chances de lhe causar alguma espécie de desconforto gástrico já que o sangue necessário para a digestão neste momento será utilizado nas suas braçadas e manobras. Para sentir-se um pouco mais saciado, o açaí é uma ótima opção. Com ele, além de satisfeito, você ainda volta hidratado para o mar.

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| SESSÃO RELAX |

UM PROFESSOR PESO PESADO Acredite ou não, essa comédia ilustra bem melhor a base do relacionamento entre integrantes das equipes de MMA do que qualquer “filme sério” já feito sobre o tema. Em meio a grandes nomes do esporte como Joe Rogan, Chael Sonnen, Wanderley Silva e Bas Rutten, um apático professor de biologia de 42 anos entra cena com a missão de nos fazer rir e pensar. Quando cortes no orçamento da escola ameaçam cancelar as aulas de música e, consequentemente, demitir um de seus colegas de profissão, Skott Voss se comove com a situação e resolve arrumar uma maneira de arrecadar fundos para instituição. O plano brilhante dessa criativa mente ociosa é subir no octógono para perder algumas lutas e levar a grana da participação nos eventos.

ONDA DURA 30 anos de skate em 114 páginas. Essa foi a proposta dos historiadores César Gyrao, Fábio dos Santos, Marcos Cunha e Guto Jimenez. As três primeiras décadas do cenário brasileiro foram reviradas por essa equipe que, além de conseguir garimpar um riquíssimo acervo fotográfico, resgatou histórias que estavam prestes a se perder no tempo. Com um capítulo inteiro dedicado ao astro do skate mundial Bob Burnquist, a obra tem sido ainda, fonte de pesquisa para diversos trabalhos acadêmicos, mostrando que diferente do que muitos imaginam, existe sim, espaço para esse tipo de literatura no Brasil.

A ARTE CAVALHEIRESCA DO ARQUEIRO ZEN Apesar de escrito há mais de 60 anos, as observações do filósofo e psicólogo alemão Eugen Herrigel sobre a tradição japonesa de transformar qualquer exercício numa prática meditativa, continuam extremamente atuais. No livro, o autor conta sua experiência como discípulo de um mestre zen, com quem aprendeu a arte de atirar com o arco, durante os anos que viveu no Japão − como professor da Universidade de Tohoku. Com apenas 91 páginas e escrito numa linguagem extremamente simples, a obra lhe mostrará que “a arte genuína, a que não conhece nem fim nem intenção”, faz com que o praticante tome posse de um elevado estado de presença que carrega consigo para as demais tarefas do dia, tornando-se assim, um indivíduo muito mais consciente. O melhor de tudo é que, como você mesmo perceberá, essa filosofia pode ser aplicada ao surfe, ao skate ou a qualquer outra modalidade esportiva. REVISTA SESSION

DESALMA Criado em 2007, na cidade do Recife, o Desalma evita rótulos, mas é inegável a forte influência do Thrash e Death metal, em meio a passagens experimentais caóticas, quebradas e dissonantes. Mesmo com pouco tempo de estrada, o Desalma já participou de importantes festivais no Brasil: Festival Quebramar (AP), Big Bands(BA), Jambolada(MG), DOSOL(RN), Mundo(PB), Abril Pro Rock(PE), Maionese(AL), Festival de Inverno de Garanhuns(PE), entre outros, além de algumas turnês pelas regiões, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, e, assim, vem se firmando dentro do cenário da música independente. Depois de um longo período de espera, em julho de 2013, o Desalma finalmente lançou seu primeiro álbum: FODA-SE. O disco foi todo produzido por Mathias Severien e Renato Corrêa no Estúdio Bigorna. FODA-SE é o estado de espírito da banda, que, ligada à música, mantém-se disposta a fugir dos clichês em prol de continuar fazendo música pesada, rápida e agressiva.

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Fotos: Thiago Giordani

A ROTA ZEN

MINHA DOSE DE ATENÇÃO DIÁRIA

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Texto: Mônica Luise Sarabia

equipe da Session estava presa no trânsito das cinco horas da tarde da Avenida 17 de Agosto, quando o ronco da moto parada ao lado da van fez com que todos virassem a cabeça ao mesmo tempo. Imediatamente o fotógrafo Thiago Giordani falou: “essa cena dá uma foto, resta saber se esse cara dá uma pauta”.

forma, se encaixaria numa revista de esporte e aventura. Mas mudei de opinião ao escutar o dialogo dos dois.

Confesso que quando Thiago baixou o vidro para falar com o motociclista, não acreditei que pudesse sair alguma coisa produtiva dali. Provavelmente se tratava de uma questão de mobilidade urbana. Com tanto engarrafamento na cidade, é óbvio que iremos ver cada vez mais pessoas trocarem seus carros por motocicletas. Simplesmente não consegui identificar como um indivíduo de paletó e gravata, de alguma

Motociclista: Só vou de carro quando está chovendo. Quando não, vou sempre de moto. É mais divertido! Recarrego a bateria no caminho e termino rendendo muito mais durante o dia.

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Fotógrafo: Com licença meu amigo. Você é advogado? Motociclista: Sou sim. Fotógrafo: E vai sempre de moto para o trabalho?

Bom, ficou claro que o cara tinha algo a dizer, então resolvemos estacionar para escutar com mais atenção e descobrimos que o nome do advogado é Fábio Arribas, um jovem de 28 anos que, há três, pratica moto velocidade. REVISTA SESSION

Como assim, recarrega as baterias e rende melhor durante o dia?

Quando vou de carro, geralmente entro no piloto automático. É o que acontece com a maioria das pessoas no trânsito. Elas logo começam a dirigir sem se dar conta do que está acontecendo à sua volta. Isso pode até parecer uma forma de economizar energia, mas é exatamente o contrário. Se você não foca naquilo que está fazendo, deixa a mente vagar entre um pensamento mais improdutivo que o outro e termina exausto. É por isso que, hoje em dia, há tanto executivo fazendo sessões rápidas de ioga ou meditação no meio do expediente. Essa tática é milenar: parar de pensar para em seguida pensar de forma mais resolutiva. Em cima de uma moto como a minha, não dá para ficar viajando na maionese. Toco no acelerador


e ela responde feito uma bala, por isso, tenho que permanecer atento o tempo todo. É como se eu fizesse duas sessões de meditação diárias, uma antes e uma depois do trabalho. Então a ideia é correr para sair do automático? Calma aí, lugar de andar forte é no autódromo. Lá você testa seus limites e procura desenvolver novas habilidades. A caminho do trabalho meu tesão são as curvas. Sempre encontro 4 ou 5 curvinhas que fazem o meu dia valer a pena. As melhores são, sem dúvida, as do bairro de Santo Amaro − sentido “Tribunal Federal”. Dá para deitar legal por ali. Então para você, o inverno deve ser um tormento. Nada, eu me adapto. Passo a fazer um pouco mais de exercícios, corro, jogo uma capoeira ou treino um jiu-jitsu, qualquer coisa que me leve a esse estágio meditativo do qual estávamos falando. Na realidade, a evolução é cíclica e, esse “time off” faz parte do nosso

espiral evolutivo. Serve para gerar saudade, uma energia extremamente efetiva por que aumenta nosso entusiasmo. Quando a chuva passa, e eu finalmente tiro a moto da garagem, a sensação é ainda melhor. O que você tem a dizer para quem está interessado no esporte? A primeira coisa a fazer é procurar um curso de pilotagem sério. Aqui no estado, eu

Sempre encontro 4 ou 5 curvinhas que fazem o meu dia valer a pena

REVISTA SESSION

indico a KF Racing School e a AGB Racing School. A segunda coisa é nunca descuidar dos equipamentos de segurança ou da atenção. Quando começar a ficar “confortável” demais em cima da moto, faça uma reciclagem. O maior indicador de que o cara está perdendo o estado de presença é chegar ao destino sem conseguir se lembrar do que viu durante o percurso. Se não lembra, é porque não viu. E se não viu, parceiro, é porque já esqueceu o quanto é divertido pilotar uma moto como essa. Enquanto você estiver se divertindo, vai estar seguro. Então, divirta-se. Como é que a gente faz para te ver correndo de verdade? Bom, próximo dia 15 de setembro eu estarei no evento Garagem 83 que vai rolar autódromo de Caruaru. Mas se vocês pintarem por lá, há grandes chances de perderem o interesse por mim. A nata da moto velocidade pernambucana vai está pilotando por lá. Vale à pena conferir.

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REVISTA SESSION


Freesurf Tanaka

SECRET POINT

Texto: Gustavo Bione Fotos: Thiago Cavalcante

Fizemos um pequeno teste para descobrir o nível de relevância dessa matéria antes de começar a escrevê-la. O teste consistia em: 1- abordar surfistas pernambucanos, 2 - mostrar as fotos que agora estão na reportagem e 3 - comunicar que todas haviam sido tiradas aqui no estado. Os indivíduos que abordamos durante o teste basicamente demonstravam dois tipos de reação: 1 - os poucos que conheciam o pico mostravam-se indignados com o fato de o estarmos expondo. 2 - Os que não conheciam o pico, simplesmente se recusavam a acreditar no que estávamos dizendo. Diante do resultado do teste e, principalmente, da reação apresentada pelos que gostariam que a identidade do local fosse mantida em sigilo, resolvemos investigar um pouco mais essa cultura de não se divulgar determinadas ondas. Para isso, recorremos à experiência do fotógrafo de surfe Clemente Coutinho. REVISTA SESSION

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CLEMENTE: Bom, conscientemente, mantém-se segredo sobre um determinado local para tentar evitar o crowd. Quanto menos gente sabe do lugar, mais chances você tem de surfar sossegado. Mas existem outros fatores mais subjetivos que fazem com que a galera, inconscientemente, se identifique com a ideia do secret point. Um deles é o resgate do romantismo da busca. Antes da internet e dos GPS, o pessoal tinha que entrar no carro e sair procurando. Isso sempre fez parte da cultura do surfe. É por isso que eu sou a favor desse tipo de matéria. O lance é mostrar o potencial desconhecido do estado e incentivar a galera a correr atrás do resto. Como esse que vocês estão mostrando, conheço alguns outros points escondidos por aqui. Vale a pena correr atrás. Freesurf Júlio Pereira

Freesurf Júlio Pereira

Atleta: Bruno Rodrigues

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REVISTA SESSION


| EVENTO |

Foto: Renan Souza

GO SKATE DAY

EXPOSIÇÃO GARANTIDA

O Go Skate Day nasceu em 2004 nos Estados Unidos, espalhou-se pelo mundo e em 2009 passou a fazer parte do calendário esportivo de Recife. No último dia 21/06, na quinta versão do evento, milhares de skatistas com câmeras e celulares na mão registraram e compartilharam instantaneamente tudo o que aconteceu durante a passeata que teve início na Avenida Guararapes, ao lado do prédio dos Correios, e terminou no Skatepark da Rua da Aurora. Segundo os organizadores do evento, a ideia é mostrar para os empresários e autoridades políticas o número de praticantes existentes na cidade para que medidas sejam tomadas a favor do esporte. REVISTA SESSION

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Mahalo Pernambuco Winter Festival Fotos: Thiago Giordani

Com mais de 500 atletas divididos em nove modalidades distintas, o Mahalo Winter Festival ajudou a transformar Pernambuco na capital do surfe brasileiro durante o mês de julho. O evento aconteceu nos dois últimos finais de semana do mês e, além do Nordeste Surf Pro, contou com campeonatos de stand up, long borad, body board, kite surf, slack line, futevôlei, vôlei de praia e corrida de jangada. Segundo a organização, existem motivos de sobra para comemorar. “Além de superar todas as nossas expectativas, a prefeitura do Cabo de Santo Agostinho já nos garantiu mais quatro edições, o que, sem dúvida alguma, é tempo mais que suficiente para fazer com que o evento permaneça para sempre no calendário esportivo do estado. A julgar por toda repercussão positiva que estamos tendo, podem esperar algo

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ainda mais grandioso para o ano que vem”, disse Geraldinho Cavalcanti, presidente da Associação Nordestina de Surf. Segundo Nonato Oliveira, Coordenador da Escola Superior De Marketing, esse tipo de evento é essencial para divulgação das modalidades menos difundidas, como por exemplo, a corrida de jangada. Mas também é extremamente benéfica para todas as outras. “O que acontece é que ao realizar um evento com várias atividades esportivas acontecendo simultaneamente, você simplesmente transforma praticantes e simpatizantes de uma determinada modalidade, em público potencial para todas as outras. É por isso que os festivais esportivos são excelentes ferramentas de marketing, não apenas de serviços e produtos, mas das próprias modalidades esportivas”. REVISTA SESSION


| EVENTO |

Surf Masculino Brasileiro Pro Halley Batista (PE) Franklin Serpa (BA) David Do Carmo (SP) Edvan Silva (CE)

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Foto: MXA

| EVENTO |

SEMINÁRIO DE MMA COM WANDERLEY SILVA EM RECIFE O evento que aconteceu no último dia 27 de julho na Academia MXA Fight Club, atendeu 40 atletas que receberam instruções de trocação, quedas e luta de solo de uma das maiores lendas do MMA mundial. Para quem não sabe, Wanderley Silva foi um dos lutadores responsáveis por fazer com que os brasileiros fossem respeitados mundialmente e se tornassem sinônimo de nível técnico e grande força de vontade. Numa época em que as regras eram mais dinâmicas e as lutas muito mais sangrentas, Wand ficou conhecido como o Cachorro Louco e era tratado como Rei no Japão. No seminário, após ensinar, corrigir e mostrar na prática a funcionalidade de cada uma das técnicas, Wanderley concedeu algumas entrevistas e, à noite, retornou a MXA para participar de um coquetel e assistir a um desfile da marca patrocinadora do evento. Em conversa com os repórteres locais, Wanderley brincou sobre a possibilidade de se mudar para Recife e falou sério sobre lutar pelo cinturão dos pesos médios do UFC. Como o Anderson Silva é meu amigo, nunca cogitei essa possibilidade, mas agora que o cinturão está em outras mãos e eu venho de quatro vitórias e três bônus, quem sabe?”.

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Como o Anderson Silva é meu amigo, nunca cogitei essa possibilidade, mas agora que o cinturão está em outras mãos e eu venho de quatro vitórias e três bônus, quem sabe?

REVISTA SESSION


Fotos: Renan Souza

| EVENTO |

GOLD ISLAND SURF PRO

Pela segunda vez, Itapuama foi palco do Gold Island Longboard PRO, valendo pela segunda etapa do Brasileiro de Longboard. O evento reuniu grandes nomes do esporte, entre eles o bi campeão mundial Phill Rajman, que elogiou bastante a estrutura do evento e disse pretender voltar no ano que vem. Carlos Bahia também não escondeu a simpatia pelo local e ressaltou a seriedade do trabalho que vem sendo desenvolvido em prol do pranchão aqui no nordeste. Enquanto conversávamos com o pernambucano Harley Batista, que apesar de ter surfado muito bem, não conseguiu repetir o feito de sagrar-se campeão como na primeira etapa em Noronha, o Carioca Rodrigo Sphaier levou a melhor sobre o paulista Jefesson Silva e terminou em primeiro. Confira a seguir os campeões das demais categorias: Feminino: Atalanta Batista (Pernambuco) Open Junior: Gabriel Farias (Pernambuco) Máster: Rogério Vasconcelos (Bahia) Super Máster: Nilton Santos (Paraíba) REVISTA SESSION

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Fotos: Divulgação

de papo com

SORAYA RIBEIRO Texto: Carol Ramos

PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO PERNABUCANA DE PARAQUEDISMO

Além de advogada militante e presidente da Federação Pernambucana de Paraquedismo, Soraya ainda surfa, voa de parapente, pratica skate donwhill e wakeboard com regularidade. Com tanta coisa importante para fazer, nem preciso dizer o quão foi difícil para que a moça encontrasse um tempinho na agenda para essa entrevista. Então, leia com atenção e, caso nunca tenha saltado, comece a considerar essa possibilidade.

Quando você começou a saltar de paraquedas? Sempre sonhei em saltar, mas só em 2006, depois de assistir a um vídeo de um amigo saltando, foi que resolvi concretizar este sonho. Depois do primeiro salto, inscrevi-me num curso e nunca mais parei. Já saltei na Europa, Suíça, Espanha, Portugal e no Brasil quase todo. Você consegue enxergar algum tipo de preconceito ou machismo em relação ou até mesmo dentro do universo dos esportes radicais? Infelizmente, em relação a alguns esportes como o skateboard, por exemplo, criou-se um estereótipo de passatempo de desocupado. O que

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nada tem a ver com a realidade, já que sou advogada pós-graduada e ando de skate com frequência. Assim como eu, conheço muitos outros profissionais bem sucedidos que também andam. O preconceito ainda existe, mas dá para perceber que é algo que está com os dias contados. Quanto ao machismo, posso dizer que nunca encontrei obstáculos em qualquer uma das modalidades que resolvi praticar. Pelo contrário, acabo sempre virando a mascote do grupo e recebendo uma atenção especial. Lembro-me de quando realizei um voo de longa entre Aliança e Trigueiro, no interior do estado, e quando pousei o parapente em um campinho de futebol que havia na cidade, já me vi cercada


de crianças e curiosos. Foi muito engraçado ver a reação de surpresa das pessoas quando tirei o capacete e eles perceberam que se tratava de uma mulher. Mas não foi algo que tivesse haver com machismo, e, sim, com admiração. E como a família, seus pais, encarou esta sua atração pela adrenalina? Desde pequena meus pais me incentivaram a praticar esportes. Comecei a surfar brincando com meu pai em Porto de Galinhas. Mas aí o lance dos ataques de tubarão me deixou um tempo de molho. Mas, uns anos depois, meu pai desistiu da ideia e resolveu me tirar do castigo. Comprou até uma prancha nova para mim na época. Quando comecei no paraquedismo, também houve certa resistência por parte deles. Mas, com o tempo, o contato com a modalidade foi despertando o apoio natural que os pais depositam para ver a felicidade dos filhos. Algum esporte já trouxe más consequências para sua vida? Os esportes só trouxeram benefícios e contribuíram indubitavelmente para a minha formação moral e espiritual. O máximo que tive foram uns probleminhas em um relacionamento por causa de ciúmes. É que a maioria dos atletas dos esportes que pratico são homens e isso deixava um noivo que tive um pouco inseguro sem motivo nenhum. É por isso que devemos pensar bem antes de entrar em um relacionamento. Na época eu nem pensei duas vezes, minha felicidade está intrinsecamente ligada aos esportes que pratico, então escolhi ser feliz. Terminou que fui muito bem recompensada, hoje tenho um namorado super parceiro que também é paraquedista e sempre me acompanha. E no futuro, você pretende incentivar seus filhos a saltarem? Bom, costumo dizer que todos deveriam fazer ao menos um salto de paraquedas para aprender a dar valor ao que de fato temos na vida. Acabo sempre tentando convencer as pessoas disso. Sem dúvida irei incentivar meus filhos a praticarem esportes desde cedo e desejo ter muita saúde para acompanhá-los em todos eles, inclusive no paraquedismo. Voar é importante e nada resume melhor a sensação do que a frase do genial Leonardo da Vinci, inventor do paraquedas: “uma vez que você tenha experimentado voar, você andará pela terra com seus olhos voltados para o céu, pois lá você esteve e para lá você desejará voltar”.

estava lá há dois anos quando decidiram realizar uma votação para presidência e colocaram-me no lugar. Eu costumava dizer que não aceitaria o convite, mas no fim não tive muita escolha. A equipe conseguiu me convencer de que minha presença ali seria de grande ajuda. Já faz quatro anos que concordei em assumir a presidência. A quantas anda o paraquedismo brasileiro e o pernambucano? Por ter crescido muito no Brasil nos últimos anos, apesar de ainda ser um esporte caro, vem adquirindo mais adeptos a cada dia. A Federação Pernambucana de Paraquedismo foi fundada em 1997 e desde então vem trabalhando para o desenvolvimento do esporte no estado. Em dezembro de 2012 foi realizado o recorde de maior formação em queda-livre com o apoio da Força Aérea Brasileira, o que colocou Pernambuco num lugar de destaque no cenário nacional. A nova tentativa de quebra de recorde já está marcada para outubro deste ano. Bem que a Session poderia cobrir. Como é associar os compromissos de uma advogada a rotina esportiva que você leva? Acredito que a prática de esportes é uma importante ferramenta na formação física e

psíquica das pessoas. Contribui bastante para um desenvolvimento saudável. Mesmo com a vida agitada e a rotina cansativa do trabalho, procuro sempre organizar o meu tempo reservando algumas horas para a prática dos esportes de que gosto. Não abro mão disso. O paraquedismo já pode ser visto como um esporte seguro? Com a tecnologia, o paraquedismo se tornou um esporte extremamente seguro. Os possíveis riscos começaram a ser eliminados com a adaptação dos vários equipamentos de subsídios que nos garantem segurança. Mas para isso temos que obedecer às normas e praticá-las dentro dos parâmetros exigidos. Ao despertar o interesse pelo salto, a primeira indicação é procurar um curso. No Recife, existem duas instituições indicadas: “Atreva-se” e “Gravidade” que, dependendo do conhecimento, do condicionamento mental e das habilidades demonstradas pelo aluno, dura em média uma semana, obedecendo a uma carga de três horas diárias. O diretor técnico é responsável por garantir a segurança na operação do salto. Qualquer acidente e incidente deve ser reportado à Federação Técnica Brasileira, que por sua vez, ficará responsável pelo preenchimento de um relatório e redigir as penalidades necessárias.

Como assumiu o cargo da Presidência da Federação de Paraquedismo? Não esperava chegar ao cargo de presidente, nunca quis e nem lutei muito por isso. Adorava trabalhar na diretoria jurídica da federação, já REVISTA SESSION

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Foto: Divulgação

| MARKETING ESPORTIVO |

CONHEÇA O VALOR DA SUA IMAGEM SETE IMPORTANTES LIÇÕES SOBRE PATROCÍNIO ESPORTIVO Texto: Gustavo Bione

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dificuldade em conseguir viver exclusivamente do esporte não é nenhuma novidade, tampouco um problema enfrentado apenas por atletas pernambucanos.

Na matéria de capa dessa edição, vimos como a lutadora Joaquina Bonfim divide-se entre três modalidades distintas para poder sobreviver, sem ter que abrir mão dos seus sonhos. A busca por patrocínio é sem dúvida um assunto de grande importância e, por isso, tentaremos ajudá-lo a otimizar esse processo através das dicas de experientes personalidades ligadas ao cenário esportivo pernambucano. O discurso do manda chuva do UFC, Dana White, sobre a dificuldade que o carismático lutador Roy Nelson encontra em conseguir patrocinadores dispostos a vincular suas marcas à imagem desleixada do gordinho barbudo, tem o intuito de mostrar que, independente de onde e em que nível do esporte você esteja atuando, o cuidado com a imagem é algo que deve e precisa ser levado em consideração.

ENTENDA QUE APOIO E PATROCÍNIO SÃO DUAS COISAS DIFERENTES “Patrocínio implica investimento financeiro. Se no lugar de dinheiro o que a empresa cede para o atleta são serviços ou produtos, o que temos é apoio e não patrocínio. Levando em

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consideração que o cara tem que se vestir, treinar, alimentar-se, viajar, pagar as inscrições dos campeonatos, tratar as lesões e tudo mais que todo mundo precisa fazer para conseguir sobreviver, ele vai precisar servir de veículo de divulgação para, no mínimo, um marca de roupa, um restaurante, uma linha aérea, REVISTA SESSION

um plano de saúde e por ai vai. Não importa que tamanho esse cara tenha, ele jamais vai ter espaço suficiente no quimono para expor tanta coisa assim. Por isso, o jeito é pegar o tempo que deveria ser utilizado para treinar e utilizá-lo para transformar parte do que ganhou em dinheiro. Assim, deixa-se de ser


atleta profissional e vira-se vendedor amador. Isso, se é que o cara conseguiu encontrar algum empresário disposto a apoiá-lo, algo que anda extremamente difícil.” Marcinho Santos – Atleta faixa-preta da Pernambuco Fight Club. CONHEÇA A LEI DE INCENTIVO FISCAL “Desde setembro de 2007 está em vigor a Lei de Incentivo ao Esporte. Ela permite que as empresas direcionem 1% do que pagam de imposto de renda para dar suporte financeiro a atletas e projetos esportivos. É uma grana que, de uma forma ou de outra, vai sair do bolso do empresário. Mas, que agora, pode optar por colocar parte desse dinheiro na mão de um atleta ou de uma instituição beneficente com a qual se identifique. A matemática é extremamente simples: imagine que uma determinada empresa que paga 100 mil reais de imposto de renda resolva dar suporte a um projeto social ligado ao esporte através dessa lei. Ela entrega 99 mil à receita federal e direciona os mil restantes para o projeto que escolheu. É ai que muita gente pergunta: ‘e o que a empresa ganha com isso?’. Meu amigo, além da satisfação de estar fazendo a diferença na vida de uma ou de monte de gente, ela ganha a possibilidade de trabalhar sua imagem através da ferramenta de marketing mais eficiente que existe, o social. Para isso, basta propagar as benfeitorias na hora de trabalhar a comunicação.” Daigo Rodrigues – Idealizador do Projeto Alto Santa Terezinha EXPLIQUE OS TRÂMITES E ENFATIZE A TRANSPARÊNCIA DA LEI “Existe uma comissão formada por seis membros, três indicados pelo ministério do esporte e três indicados pelo conselho nacional do esporte, que se reúnem toda primeira terçafeira do mês em reuniões ordinárias e abertas ao público. Aprovado o projeto, o benefício fiscal é publicado no Diário Oficial, abre-se uma conta específica para que a entidade ou o atleta receba o patrocínio da empresa, o número da conta é divulgado pela União e a empresa efetua o depósito. O beneficiário emite um recibo para o empresário e um recibo para o ministério que se encarrega de informar à Receita Federal para que haja o desconto no imposto. É um mecanismo muito simples, transparente e seguro.” Hanna Bione – Assessora Jurídica do Projeto Jiu-Jitsu Zen

o sentimento de que patrocínio é pura caridade. Conseguem um contrato de patrocínio e se acomodam. Eles se esquecem da atenção e do cuidado que deve ser dada a marca da empresa patrocinadora. Não promover a marca é um dos piores erros que se pode cometer, não apenas acaba com qualquer chance do contrato de patrocínio ser renovado, como espanta novos patrocinadores. Entender os valores da marca e ter uma conduta de acordo com esses valores é o caminho para que a parceria seja duradoura, para que os contratos sejam renovados e, consequentemente, para realizar o sonho de poder viver do esporte. Recebemos mensalmente na empresa centenas de currículos e solicitações de patrocínio. Apoiar e patrocinar atletas, mestres e eventos do nosso segmento de atuação é uma peça constantemente presente no nosso plano de mídia. Mas, sempre lembramos aos atletas com os quais trabalhamos, ‘negócio para ser bom, tem que ser bom para ambos os lados’. O profissionalismo é essencial.” Max Sampaio Carvalho – Sócio proprietário na empresa MXA.

técnicos, alimentação, viagens, hospedagens e todo o resto. Dar atenção a cada detalhe sem perder o foco dos treinos é algo praticamente impossível. Por isso todo campeão precisa contar com um agente competente. Alguém que se preocupe até mesmo com o que deve ou não ser dito por ele. Uma palavra colocada num momento inapropriado pode causar transtornos irreversíveis. Mas infelizmente, no nosso estado, a maioria dos atletas ainda insiste em querer fazer tudo sozinhos. É por isso que a Nine Nine resolveu investir na categoria de base. Começar o trabalho de forma profissional desde o MMA amador traz excelentes resultados. São esses resultados que se encarregam de comprovar a importância de uma equipe multidisciplinar que conte, inclusive, com profissionais de comunicação que consigam vender o lutador como um produto. Esse profissionalismo é uma tendência mundial”. Marcos Vinícios – Presidente da Academia Nine Nine

TRATE A BUSCA PELO PATROCÍNIO COMO UMA ENTREVISTA DE EMPREGO

“O Roy Nelson me procurou reclamando que estava encontrando muita dificuldade em conseguir patrocínio. Eu brinquei dizendo que achava aquilo muito estranho e depois o aconselhei a cortar o cabelo, fazer a barba e perder algum peso. Ele pareceu entender o que eu estava dizendo. Quando nos encontramos novamente, percebi que o mullet dele estava ainda maior, a barba estava cobrindo metade da barriga e, se muito, o cara tinha perdido uns três quilos. O que eu disse foi: ‘que bom que resolveu seguir meu conselho Roy’. A verdade é que ninguém em sã consciência vai querer associar a imagem da sua empresa a um cara fora de forma que mantém um mullet saindo da metade da nuca e faz de tudo para ter a imagem mais desagradável possível. Ouvi até algumas pessoas cogitando a Burger King com um potencial patrocinador. Você já assistiu algum comercial da Burger King? São sempre uns caras magros acompanhados de mulheres atraentes. Você acha mesmo que colocariam o Big Country Nelson como garoto propaganda da empresa? É divertido para gente ver um cara com a aparência de alguém que parece que vai encontrar dificuldades até mesmo para subir os degraus do octógono, chegar lá em cima e nocautear lutadores atléticos. Mas é claro que ninguém vai querer associar a sua logomarca a essa imagem. Triste é não saber onde o Roy Nelson poderia chegar caso resolvesse levar a carreira mais a sério. Com o queixo e o coração que ele tem, um pouco mais de treino e dieta com certeza o colocariam no topo. Basta ver tudo que consegue realizar estando do jeito que está.” Dana Withe – Presidente do UFC

“Já vi muita gente saindo de casa para pedir patrocínio como se estivesse indo para academia treinar. Ninguém vai para uma entrevista de emprego com a barba por fazer, mal vestido e despenteado. Pois o mesmo deve valer na hora de apresentar seu currículo a um potencial patrocinador. É muito importante passar credibilidade, independentemente de haver ou não um futuro desconto no imposto de renda da empresa. Outra coisa que precisa ser levado em consideração é o tempo do discurso. Muitas vezes o empresário recebe o atleta por pura educação ou por que alguém próximo insistiu bastante. Se você se estende demais, termina perdendo a atenção do empresário e já não tem muita coisa que possa ser feita. Seja breve e aborde as informações que realmente são relevantes, como por exemplo, a quantidade de veículos de comunicação que cobrem os eventos em que você costuma participar, suas colocações nesses eventos e os patrocinadores que já lhe apoiam de alguma forma. “Outra dica interessante é levar alguma coisa na qual ele possa tocar, como revistas e jornais nos quais você já tenha saído”. Zé Radiola – Responsável pela Academia Gracie Barra PE ENCONTRE UM AGENTE COMPETENTE

COLOQUE-SE NO LUGAR DO EMPRESÁRIO PATROCINADOR “Muitos atletas ainda têm arraigado dentro de si

“Além de conseguir os recursos, o atleta precisa criar o hábito de comprovar seus gastos. É preciso especificar quanto foi gasto com REVISTA SESSION

ESCUTE OS CONSELHOS DO CHEFE

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Foto: César Albino

BIKE POLO

Texto: Mônica Luise Sarabia

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e você tem uma bicicleta e anda procurando motivos para tirá-la de casa, acabou de encontrar mais um: todos os domingos, a partir das sete horas da noite, a galera do bike polo se reúne na Quadra da Vila Vintém, em baixo do viaduto do Carrefour da Torre, para divulgar a modalidade. O que implica receber os novatos com um sorriso e ensinar o jogo pacientemente. Confira agora quanta coisa maneira a equipe da SESSION conseguiu aprender em uma única visita ao local. As regras fazem do bike polo uma modalidade extremamente dinâmica: cada time possui três jogadores, o jogo não para quando a bola bate nas paredes laterais e, em hipótese alguma, o jogador toca os pés no chão. Caso toque acidentalmente, precisa dirigir-se até o centro da quadra e só então volta a participar da jogada em andamento, o que consequentemente beneficia o time adversário, que por alguns instantes joga contra um atleta a menos. As partidas duram 10 minutos ou o tempo suficiente para que uma das equipes consiga marcar cinco gols. Alguns dos praticantes de bike polo que utilizam a bike como veículo oficial no dia a dia, dizem que a dinâmica do jogo eleva a capacidade de interação do ciclista com a bicicleta a um nível tão alto que é pouco provável envolver-se em acidentes de trânsito

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A dinâmica do jogo eleva a capacidade de interação do ciclista com a bicicleta a um nível tão alto que é pouco provável envolver-se em acidentes de trânsito depois de começar a treinar. depois de começar a treinar. Outro atrativo na modalidade, além da mais pura diversão, são as calorias gastas durante o jogo. Não se engane, não é por jogar sentada no selim que essa galera não sua a camisa. O fato de não poder tocar os pés no chão exige que o jogador permaneça em movimento durante toda a partida. Isso, somado as tacadas, arrancadas e a toda cadeia muscular mobilizada para manter o atleta em equilíbrio, transforma essa modalidade numa verdadeira prova de resistência física. Como o esporte é novidade em Pernambuco, ainda não contamos com lojas especializadas, por isso os tacos, ou “mallets”, REVISTA SESSION

são improvisados de forma criativa na casa de Daniel Valença, engenheiro eólico que junto com servidor público Cesar Martins, trouxe o bike polo para Recife. “Usamos um tubo de alumínio de 19 mm acoplado a um cano de polipropileno e a coisa funciona exatamente do jeito que tem que funcionar”, diz Filipe Freitas, responsável pela fanpage Bike Polo Recife. Andar de bike dentro da quadra parece ser a desculpa perfeita para pedalar rua a fora durante a semana. “Muitos dos jogadores começam a ir para o trabalho de bicicleta simplesmente para jogar melhor aos domingos. A ideia é trabalhar o sistema cardiovascular e manter o ritmo em dia. Sair e voltar para casa é o treino de muita gente por aqui. O que faz muito mais sentido do que ficar preso no trânsito rezando para chegar a tempo na academia”, finaliza Felipe. Para começar a praticar, basta aparecer na quadra da Vila Vintém montado numa bike e, de preferência, usando luvas e capacete. É verdade que não se trata uma modalidade de contato pesado como hockey sobre patins. Durante as mais de três horas que permanecemos no local, não presenciamos sequer um esbarram entre os jogadores. Mas, é sempre melhor prevenir do que remediar, afinal, ninguém quer aparecer no trabalho em plena segunda-feira de mãos raladas e cabeça aberta. A dica foi dada, agora é só botar as bicicletas na rua.


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| FOTO DO LEITOR |

Leitor: Sérgio Rocha Local: Maracaípe Foto: Thiago Giordani

Leitor: Saulo Local: Enseada dos corais Evento Mahalo.


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