Revista Culturama

Page 1

CULTURAMA

Ano 1 - Nº 1 - Abril/2011

Criminal D: o estivador e rapper santista que tem Hip Hop na veia!

Ser palhaço não é brincadeira! Conheça Helena Figueira, palhaça profissional

E +: Tanah Corrêa dedicação e amor à arte


E aí, galera? Falar de arte para jovens de todas as tribos! Essa é a idéia da Revista Culturama. Nas próximas páginas você vai descobrir que diversão e arte caminham lado a lado e podem estar bem próximas da sua casa. Santos, assim como diversas cidades da região, oferece opções de programas culturais para todos os gostos, de rock ‘n’ roll e museus (e logo mais você vamos mostrar que eles não são “coisa de velho”!). Onde quer que você esteja e para todos os lados da cidade que olhe, com um pouco de atenção você ouvirá o som, acordes, rimas e manifestações que envolvem desde a música clássica até o rap. Você vai conhecer um pouco da história do rapper Criminal D, santista que encara a estiva com coragem e firmeza e ainda canta, dança e vivencia o hip hop. Batemos um papo superlegal com o diretor de teatro Tanah Corrêa, que falou sobre algumas das suas inúmeras experiências no universo artístico, ao longo de seus 70 anos de vida. Ah! E se você acha que ser palhaço é brincadeira, vai ver que não é bem assim. Helena,

palhaça profissional (isso mesmo!), conta como trilhou caminhos nacionais e internacionais que lhe ensinaram a arte dos picadeiros. E ainda tem samba, chorinho, cinema cult, teatro amador e diversas informações que esperamos que você curta! Divirta-se! Elizabeth Soares Editora Expediente Culturama Revista Laboratório da Faculdade de Jornalismo da Unisanta - FaAC Alunos do 3º Ano Professora Orientadora: Elaine Saboya Editora-Chefe: Elizabeth Soares Sub-Editor: Carlos Norberto Editora de Planejamento Visual: Joanna Flora Editoras Multimídia: Jéssica Amador, Joanna Flora e Larissa Pimentel


Índice Museu da Imagem e do Som de Santos

6 12

Uma viagem no tempo entre vídeos e discos de vinil para todas as idades

Teatro Amador

Os perrengues de quem está no palco só por amor à arte

Um cinema à beira-mar?

18

Isso mesmo! E mais perto do que você imagina

22 Athanazildo, ou simplesmente Tanah Homenageado pela X-9, fala de suas experiências artísticas

Do black power ao rap

28

A trajetória de um estivador que encontrou no rap uma arte próxima

42

Uma profissão que não é brincadeira

46 52

58 62

Conheça a história de Helena, uma palhaça profissional

Aqui tem Choro sim, Macaco Velho! Chorinho e samba de raiz que fazem a cabeça dos jovens

Coro e cores despertam os sentidos no Coral Zanzalá Conheça um pouco do premiado coral cubatense

Que banda você toca?

Banda alternativa conta a dificuldade para tocar seu projeto

Fique ligado na programação cultural da cidade!


MUSEU

MISS – Memórias gravadas e expostas em um só lugar O Museu da Imagem e do Som de Santos, localizado no Teatro Municipal, possui cerca de 16.000 arquivos, entre filmes e discos de vinil, que estão disponíveis para toda a população. O local permite aos visitantes uma viagem no tempo. Joanna Flora Provavelmente você nunca precisou revelar um filme de 36, 24 ou 12 poses. Mas, se você tivesse nascido há algumas décadas, certamente reconheceria as máquinas fotográficas nas páginas seguintes. Caso você nunca tenha manuseado essa relíquia ainda existe uma chance para você conhecer um pouco mais sobre ela e outros aparelhos da mesma época: basta ir ao MISS, Museu da Imagem e do Som de Santos. Trata-se de um pavimento térreo modesto, com paredes vermelhas, laranjas e amarelas. Quadros com cartazes de filmes antigos estão expos-

6

tos em algumas dessas paredes. Dois bonecos do Vinicius de Moraes estão sentados em cadeiras no fundo do local. Um deles, inclusive, está “usando”

meios de comunicação e a vida cultural da cidade através de recursos multimídia. Não são apenas máquinas fotográficas da época dos seus pais e avós: JOANNA FLORA

fones de ouvido. Ao entrar pelas portas de vidro do local, você fará uma viagem no tempo. O lugar tem a finalidade de preservar a memória dos

no acervo é possível encontrar televisões, máquinas de telex, filmadoras, gramofones e outros aparelhos dos quais certamente você nunca ouviu falar.


JOANNA FLORA

JOANNA FLORA

Audioteca Para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a cultura das décadas passadas, o museu disponibiliza cerca de 10.000 discos que podem ser escutados lá mesmo. “Os universitários de cursos ligados às artes (música, cinema e rádio) são os maiores frequentadores do MISS”, comenta Maria Antônia da Silva, chefe da seção do local. Se você já ouviu seus JOANNA FLORA

pais ou avós comentando sobre os discos de vinil que mais gostavam e tem curiosidade de saber o tamanho, quanto pesavam ou como tocavam, sem dúvida esse é o melhor lugar. Videoteca Mas se o seu negócio é imagem, não tem problema. 5.982 vídeos (entre VHS e DVD) estão à sua disposição. Nesse caso, também é possível locar. Após um

rápido cadastro, você pode levar até três unidades para casa, por dois dias, ao preço de R$ 1,80 cada uma. Como hoje em dia quase não restam vídeos cassetes, o museu tem a intenção de desenvolver uma sala, onde será possível assistir aos vídeos que estejam nesse formato. No acervo, existem produções de diretores de diversas nacionalidades: franceses, ingleses, argentinos, gregos, indianos, itaJOANNA FLORA

7


que ocupou o local onde o cinema exibiu suas sessões por 44 anos. Exposições

JOANNA FLORA

lianos, entre outros. Exibições de Filmes O museu conta com o auditório “Chico Botelho”. Nele, são exibidos filmes, que podem ou não serem seguidos de debate. No projeto “Cinema no MISS” ou “Sessão Retrô” você pode dar a sorte de encontrar em cartaz o filme que você sempre quis assistir, mas não podia, por estar em formato VHS. O projeto Cinema no MISS tem a finalidade de mostrar o melhor do cinema nacional e internacional. Já o Sessão Retrô expõe, especialmente, clássicos do cinema mundial. Os fil-

8

mes são escolhidos pelo coordenador do local, Nivio Mota, e a programação é publicada no Diário Oficial da cidade, e em panfletos distribuídos aos visitantes do museu. Os adultos terão a sensação de voltar no tempo mesmo antes de começar o filme e os mais jovens terão a oportunidade de conhecer um pouco do passado de Santos. Isso porque os 75 lugares disponíveis no auditório são especiais. Os assentos chegaram ao museu em 2007 e são os mesmos do antigo Cine Indaiá que existiu na cidade até 2004. Eles foram doados pelos responsáveis pela construção

Quem entra no museu não imagina, mas em meio ao salão no qual estão expostas máquinas, TVs e outras peças antigas, existe uma sala de exposições, um pouco escondida. Nela, é possível encontrar partes de grandes comemorações que acontecem na cidade. Já ocorreram mostras sobre carnaval, propaganda e de fotos. A divulgação é feita nas rádios locais. Em 2009, ano da França no Brasil, ocorreram durante um mês JOANNA FLORA


exibições de filmes de diretores franceses e de óperas, também de produção francesa. Nos 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil (2008) não foi diferente. Durante no mês de junho foram feitas diversas homenagens no local. Tributos a diretores também já aconteceram. Fique ligado, pois a qualquer hora pode acontecer mais alguma e você não pode perder!

JOANNA FLORA

final desse processo, o visitante poderá ver as fotos da população e dos carnavais santistas da época. Oficinas e cursos também acontecem no Serviços Especiais espaço do MISS. AmO local dispõe de um bos são divulgados no estúdio para gravações Diário Oficial de Santos de áudio. A locação ou por meio de pancusta R$ 35,00 a hora. Durante um período, o MISS possuía uma espaço no qual era possível fazer gravações de vinil para CD. “Essa atividade foi suspensa permanentemente por conta de ter sido considerada “pirataria” pela legislação”, explica Maria Antônia. O museu realiza um processo de catalogação de fotos antigas da cidade de Santos, muitas da década de 60. Ao

fletos que ficam nas portarias principal e do fundo, na Hemeroteca e no próprio museu. Uma série de depoimentos já foi gravada no MISS ou recebida de empresas que fazem essas gravações e edições. Os convidados são pessoas ilustres da região que contam um pouco sobre a própria vida. Os depoimentos que foram gravados no MISS não podem ser locados, pois fazem parte do acervo interno do museu. Já os outros, fazem parte do processo de locação. Roberto Peniche, Carlos Pinto (atual SeJOANNA FLORA

9


cretário de Cultura de Santos) e Guga (Maestro da Orquestra Sinfônica de Santos) são algumas das celebridades que tiveram seus depoimentos gravados pelo próprio MISS. Já os depoimentos de Plinio Marcos (escritor), Tanah Corrêa (ator e produtor de artes cênicas) e Edmur Mesquita (ex-deputado estadual) são alguns dos que foram doados. Frequentadores Adultos e idosos são os maiores frequentadores do local. “Nas sessões de cinema, a minoria são pessoas que estão sempre por aqui. Tem alguns visitantes que são bem assíduos”, explicou a chefe da seção do museu. Pelo menos uma vez por mês, o MISS recebe a visita de escolas públicas ou particulares. Crianças de 4 a 10 anos ficam fascinadas pelos objetos expostos. Nossos avós e pais estão tendo a oportunidade de conhecer todas as tecnologias presen-

10

tes em nossa geração. No entanto, nós só temos condições de saber um pouco mais sobre o passado com as histórias contadas por eles. Mas as palavras transformam-se em imagens que ficam distantes, só

na nossa imaginação. Visitar o MISS é uma excelente forma de transformar estas imagens em peças concretas e entender um pouco mais sobre o passado, quando a forma de transmitir infor-


JOANNA FLORA

der a função de todos aqueles aparelhos. Sem dúvida, uma oportunidade imperdível para conhecer o passado, tanto quanto seus pais e avós conhecem (ou tentam conhecer) o seu presente. Doações

mações era tão diferente. Uma dica: o passeio será ainda mais proveitoso ao lado dos mais experientes. Isto porque provavelmente você vai precisar da ajuda deles para enten-

são feitos rodízios e as peças em exposição são trocadas por aquelas que estavam guardadas. Para doar algum tipo de material com o perfil do MISS, basta entrar em contato através do telefone: 3226-8000 Ramal 8181. Os funcionários receberão a peça, farão a catalogação e pronto: mais um objeto para o acervo e mais conhecimento para quem o visita. Se for um volume de grande porte, existe a possibilidade de agendar um veículo para a coleta.

O MISS existe graças a doações. Quando foi criado, em 1996, as doações eram feitas por pessoas ligadas à prefeitura que conheciam o projeto. Hoje, o visitante encontra, ao lado de algumas peças, além de pequenas informações sobre elas, o nome de quem as doou. Reforma Como não há espaço para todas as doações, Atualmente o MISS de tempos em tempos passa por uma reforma. Por este motivo, alguns dos projetos ciSessão Retrô: tados estão tempora2ª feira -15h30 e riamente suspensos. 18h30 Veja os horários das atividades do MISS, no Cinema no MISS: box abaixo. 4ª feira - 15h30 e O MISS fica na Ave18h30 nida Pinheiro Machado, 48. O horário para visiÓpera no MISS: tação é segunda a sexÚltimo domingo do ta-feira, das 8h às 18h. mês - 16h

11


TEATRO

NĂŁo quero dinheir

O teatro amador ĂŠ o palco para os apaixonados pela peram recompensas financeiras. Apesar da falta de grupos de dedicados artistas ainda resis

12


ARQUIVO PESSOAL

ro...

a arte que não ese incentivo, alguns stem.

Joyce Salles Eles são advogados, médicos, dentistas, balconistas, psicólogos, seguranças, engenheiros, jornalistas... e todos têm algo muito forte em comum: a paixão pela arte de atuar, ainda que não seja como profissionais. Talvez pelo amor incondicional pelo teatro, recebam o nome de artistas “amadores”. Para mergulharem ainda mais nessa paixão, alguns dedicam-se a cursos e ganham experiência. Outros vão além, e se tornam profissionais. Mas o ator de teatro amador costuma atuar por hobby, na maioria das vezes sem receber cachê. Em muitos casos, os próprios atores bancam o espetáculo. Recebi a missão de caçar companhias de teatro amador em Santos. Internet? Anúncios de jornais? Listas telefônicas? Nada! Nestas fontes, pouco se encontra a respeito.

Descobri que, infelizmente, os grupos estão se extinguindo devido às dificuldades que os artistas encontram em manter as produções. Resolvi, então, procurar festivais de teatro que recebem inscrições de grupos amadores. Foi assim, finalmente, que achei o Festival de Teatro Amador (FESTA), que deveria ter algum registro. Cheguei até Leandro Taveira, coordenador do Festival, que me recebeu no “Quintal da Pagu” antiga “Cadeia Velha”, espaço onde grupos de teatro e circo ensaiam seus espetáculos. Baners dos festivais anteriores enchiam as paredes da sala, na qual rolou nosso papo. Leandro, além de fornecer os contatos de alguns grupos, ainda contou sobre como FESTA vem esse ano. Ele relembrou os tempos em que o “Quintal da Pagu” era movimentado por atores maquiados entran-

13


do e saindo pela enorme porta de madeira. Das antigas celas, sempre lotadas, vários grupos faziam seu palco e inúmeras fantasias enfeitavam as paredes brancas daquele lugar, que um dia foi uma cadeia, um ambiente de aflição e tristeza. “Hoje ainda se podem ver grupos, atores e até fantasias, mas não como antigamente”, lamenta Leandro. Após ouvir essa declaração, sabia que a coisa não ia ser fácil. Agora, eu tinha uma lista enorme nas mãos. Comecei a fazer os contatos. Logo de cara, um deles, deixou bem claro: “Olha, eu não sou amador, eu sou PRO-FIS-SI-O-NAL!” Resolvi mudar de tática. E através do professor de artes do curso de Produção Multimídia da Unisanta, Gilson de Melo, comecei a perceber porque eu estava tendo problemas. “O termo ‘amador’ já está batido, por isso a dificuldade de encontrá-lo. Hoje, esses

14

grupos se profissionalizaram ou fizeram algum curso. Por este motivo, não gostam de ser mais chamados de amadores. Porém, há aqueles atores que mesmo formados ainda fazem trabalhos amadores, seja atuando ou dirigindo algum grupo. Obviamente, não recebem cachê pelo espetáculo feito. É a arte pela arte”, explicou Gilson. O instrutor de artes da Secretaria de Cultura de Santos – Secult, Ricardo Menezes se interessou pelo teatro em 1990, na escola onde estudava. Lá, os alunos tiveram contato com o Projeto Carlitos, no qual atores de teatro amador iam às escolas e elaboravam oficinas de cenografia, atuação etc. Ricardo se profissionalizou, mas o teatro amador ainda faz parte da sua vida. Ele dirige há 10 anos o “Arte Supernova”, grupo que tem na bagagem 14 peças e diversos prêmios. Sua atual peça, “Para

um amor de Vinicius”, é um tributo ao poeta Vinicius de Moraes. O enredo consiste em uma seleção de cenas que retratam o cotidiano de casais apaixonados, embalados por canções do autor. Menezes conta que manter um grupo amador não é fácil: “O grupo fica muito vulnerável à saída dos componentes que, por terem compromissos com o trabalho e com a casa, acabam tendo dificuldades em fazer espetáculos fora da cidade e por um longo tempo. É uma pena esse teatro estar acabando por preconceito da sociedade que desmerece o amador alegando falta de qualidade. As pessoas procuram como referência atores globais que estão na mídia, em detrimento dos que estão nascendo na sua própria região”, desabafa. Egbert Mesquita, diretor do grupo Cia Kabuk, também é formado e concorda com a visão de Ricardo. Ele começou no te-


das de forma que arrecademos algum dinheiro para cobri-las. Não temos patrocinadores e nem apoiadores financeiros, mas temos muitos parceiros que colaboram com o que atro em 1984, mas foi podem”, afirma. em 1987, com a ajuda de três amigos que Festa fundou a Cia Kabuk de teatro com o espetácuCriado em 1958, o lo “Lagrimas de Cris- FESTA é o festival de tal”. Em 1996, após es- teatro em atividade tudar Artes Cênicas em mais antigo do País. São Paulo e no Rio de Sua criação começou Janeiro, Ricardo voltou com Patrícia Galvão, a a Santos e retomou o Pagu, com apoio do teKabuk, que deu origem atrólogo Paschoal Cara mais dois outros gru- los Magno e do dramapos, direcionado a fai- turgo Plínio Marcos. xas etárias específicas Desde 2009, o Fes(crianças e adolescen- tival de Teatro Amador tes). (FESTA) deixou de ter Atualmente em car- apenas grupos amadotaz com o grupo ado- res e passou a incluir lescente “Fúrias de produções profissioTeatro” no espetácu- nais em sua programalo infantil “A Bruxinha ção, transformando-se Cor de Rosa”, Mesquita no Festival Santista de ainda vê o teatro ama- Teatro. dor como uma grande Nos mais de 50 anos família, onde todos se de festival, já passaajudam. ram por seu palco ta“As tarefas são re- lentos como os irmãos alizadas com o empe- Cláudio e Sérgio Mamnho dos componentes berti, Greghi Filho, Tado grupo. As despesas nah Corrêa, Jandira geralmente são banca- Martins, Ney Latorraca,

Bete Mendes, Carlos Soffredini, entre outros. Neste ano, com o tema “Respeitável publico” o 53º FESTA foi programado para os dias 15 a 23 de abril. Além de Santos, os trabalhos também serão apresentados em outras cidades da Baixada, como São Vicente, Guarujá, Cubatão, entre outras. O coordenador geral Leandro Taveira explica que o tema foi escolhido propositalmente para seguir a idéia de trazer de volta o público ao teatro, “Este ano estamos com a proposta “pague quanto quiser”, os ingressos serão cobrados de R$2,00 à R$8,00”, explica. Leandro conta que neste ano o número de inscrições foi recorde: ao todo, 368 trabalhos inscritos de todo Brasil. “Tivemos inscrições de grupos de diversos estados, como Amazonas, Pernambuco, Santa Catarina e muitos outros”. A secretária do evento, Sarah Antunes, con-

15


ta como foi a seleção dos candidatos. “Encaminhamos as fichas técnicas e os DVDs para os jurados em cada categoria. Na categoria Rua, Lindolfo Amaral, de Sergipe; no infantil, Simone Grande, de São Paulo e no adulto, Imara Reis, do Rio de Janeiro. Escolhemos jurados de fora da região para evitar qualquer influência nossa”, diz. Este ano, o FESTA virá com oficinas no “Quintal da Pagu” e oferecerá aos grupos que permanecerem na cidade durante o festival, estadia e comida. O FESTA é uma realização da Comissão FESTA, com patrocínio do Governo do Estado de São Paulo (Secretaria de Cultura), por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC), e parceria com Prefeitura de Santos, Sesc-Santos, Associação dos Artistas, e Santos e Região Convention & Visitors Bureau. Veja no quadro ao lado as mostras que já estão inscritas no evento.

16

Elenco da CIA de Teatro “Arte SuperNova”, na peça “P


ARQUIVO PESSOAL

Para um amor de Vinicius”

Mostra de Teatro de Rua “Palhaços à Vista” – Cia Circunstância Circo Teatro – Belo Horizonte (MG) “Contos de Lua no Chão” – Grupo do Trecho – São Paulo (SP) “Cidade das Donzelas” – Troupp Pas D’Argent – Rio de Janeiro (RJ) “Circo Godot” – Cia Circo Godot – Recife (PE) “O Último Suspiro” – Gaia’thos Cia Circense – Santos (SP) Mostra de Teatro Infantil “Sobrevoar” – Cia do Abração – Curitiba (PR) “Casos Cascudos” – Cia da Tribo – São Paulo (SP) “Chapeuzinho Vermelho” – Cia Le Plat Du Jour – São Paulo (SP) “Magia da Lua” – Coisas de Teatro Cia de Arte – Santos (SP) “O Marajá Sonhador e Outras Histórias” – Os Buriti – Brasília (DF) Mostra de Teatro Adulto “Strangenos” – Teatro Labirinto – São Paulo (SP) “Deolinda e Genoveva” – Cia Lúdica – São Paulo (SP) “E Agora, Nora?” – Cia Temporária de Investigação Cênica – São Paulo “Olhos de Fazer Morder” – Teatro Experimental de Pesquisas (TEP/Unisanta) – Santos (SP) “Encontro de Dois” – Quase9 Teatro – São Paulo (SP) “Kd Eu?” – Cia Dramática de Teatro – São Paulo (SP) “Pai e Filho” – Pequena Cia de Teatro – São Luís (MA) “O Caderno da Morte” – Cia Zero Zero – São Paulo (SP) “O Homem que Queria Ser Rita Cadillac” – Grupo de Teatro Presta Atenção – São Paulo (SP)

17


CINEMA

“Um cinema à beira-mar?”

BRUNA DALMAS

18

Criado há 20 anos por intelectuais, o Cine Arte Posto 4 exibe filmes “de arte” para um público hoje diversificado da região interessado em conhecer o que é produzido pelo mundo na sétima arte. Com cerca 3.000 expectadores por mês, é uma boa pedida para quem quer fugir da “mesmice” dos cinemas comerciais. Bruna Dalmas “Caramba! Existe uma sala de cinema na praia?” É assim que a maioria dos turistas reage quando descobrem a existência do Cine Arte Posto 4. Pelo menos é o que conta o coordenador Nivio Mota, em um bate-papo descontraído em seu escritório. Surgido da idéia de intelectuais, o Cine Arte Posto 4 foi criado há 20

anos para suprir a falta de espaço reservado aos filmes de arte. E ao contrário do que muitos podem pensar, o local possui público suficiente para as três sessões exibidas diariamente. Localizado nos jardins da avenida da praia de Santos, ao lado do canal 3, o Cine Arte Posto 4, mantido pela Secretaria de Cultura de Santos, foi alvo de reclamações quando algumas das 48


poltronas encontravam-se rasgadas e o som estéreo não era mais eficiente. Porém, no segundo semestre do ano passado, o espaço passou por uma grande reforma na estrutura hidroelétrica e elétrica, nas poltronas, sistema de som e projeção. De qualquer maneira, a estrutura do local é bem diferente de um cinema convencional. Um cubículo simpático, em que as pequenas poltronas possuem um tom laranja forte dentro de uma sala completa-

mente preta. Há 11 anos na coordenadoria do Cine Arte Posto 4, Nivio Mota é quem seleciona os filmes que entrarão em cartaz. Ele me recebeu em seu escritório, dentro do MISS (Museu da Imagem e do Som de Santos) e contou que é rigoroso no critério de escolha da programação. “É necessário que o filme tenha padrão de qualidade. Levo em consideração a importância do filme, se ele já foi premiado em festivais e qual a importân-

cia do diretor no mundo”, afirma. Nívio explica que os filmes de artes possuem poucas cópias em película e por isso o agendamento é feito de acordo com a disponibilidade nas distribuidoras. “Diferentemente dos filmes comerciais, os filmes de arte possuem cerca de três cópias em um país, às vezes apenas uma, então a programação tem que ser pensada com muita antecedência. Estamos em março, mas já estou pensando em filmes BRUNA DALMAS

Cine Arte é alternativa para quem quer fugir do cinema convencional

19


para julho”. Com um público de aproximadamente 3.000 pessoas por mês, o objetivo do cinema é dar oportunidade aos moradores da região para terem acesso àquilo que se faz pelo mundo na sétima arte e é diferente do comercial. “De repente as pessoas começam a descobrir um novo universo, porque realmente é diferente do que é convencional nos cinemas de shopping. Se você parar para pensar, o cinema não é arte, mas não me entenda mal. O que quero dizer é que roteiro é a arte. A história é a arte. O filme pronto é um produto.” Aqueles que pensam que os frequentadores dos cinemas de arte são estereotipados estão muito equivocados. Claro que depende muito da sessão e do roteiro do filme, mas Nivio afirma que o público é variado. “Existem os intelectuais, a turma dos tatuados com cabelo azul, a velhinha, os curiosos, os universitários e as pessoas que

20

buscam um bom filme depois do expediente”. Ao ser questionado sobre ser também um ponto turístico, Nivio diz que sim, mas que a primeira impressão do turista é de espanto, no bom sentido. “Eles curtem a idéia e assistem aos filmes”, afirma. Freqüentador do Cine Arte, Eduardo Ricci, coordenador do Cineclube Lanterna Mágica, localizado na Universidade Santa Cecília, explica a diferença entre os filmes comerciais e os de arte. “A diferença na estética é que os filmes comerciais geralmente possuem mais brilho, os personagens usam roupas da moda, por exemplo. Mas no geral o que muda mesmo é o estilo que o diretor possui.”. Sobre suas preferências, Eduardo diz buscar um bom filme que mexa com seu imaginário. “Eu gosto do filme que me faz querer mais, não faz diferença se é de arte ou comercial, contanto que seja bom. Vou ao Cine Arte pelo menos uma vez por mês nas sessões em que nor-

Com preços acessíveis e v

malmente já conheço o filme.”. O público é fiel Funcionária pública concursada da prefeitura de Santos, a inspetora de alunos Silvia Maria Veloso, de 47 anos, conta que começou a frequentar o Cine Arte Posto 4 há pouco mais de 10 anos para acompanhar seu marido (Na época, apenas namorado). “Ele é um grande fã de cinema e certa


BRUNA DALMAS

uma checada de vez em quando na programação e vai ao local quando surge o interesse. “É a oportunidade de ter acesso a um tipo de arte totalmente alternativo, sem ficar refém de Hollywood”, comenta apressadamente, no caminho para a sessão. Bilheteria

vista para o mar, o Cine Arte conquista um público fiel

vez me levou ao Cine Arte. Até então eu não conhecia esses filmes, mas passei a admirar o diferente. Você raciocina com o tema. Percebe aqueles que são bons e originais, que não seguem o padrão dos demais, sabe? Você não prevê o fim como acontece com os filmes comerciais”. O estudante universitário de Audiovisual, Flávio Pontes, de 21 anos, conta que filmes de arte são uma fon-

te de inspiração para seu sonho de trabalhar com produções cinematográficas. “Vou umas três vezes por mês, no mínimo. Tiro idéias para os meus vídeos. Adoro inventar ‘moda’, não gosto de mesmice. Eu e meus amigos buscamos novidades e fazemos algumas filmagens. O Cine Arte é um lugar em que encontro de tudo e tenho acesso a produções de vários lugares do mundo.” Camila Almeida dá

O funcionamento da bilheteria é a partir das 15 horas. O valor do ingresso é de R$ 3,00 inteira e R$ 1,50 meia (estudantes, maiores de 60 anos e menores de 18 anos, com apresentação do RG e professores da rede estadual de ensino). As reservas (somente para o dia) podem ser feitas pelo telefone (13)32884009. Os ingressos ficam em nome do solicitante até 15 minutos antes de iniciar a sessão. São geralmente três sessões, a partir das 16 horas. A programação pode ser conferida nos jornais locais de Santos e no site da Prefeitura: www.santos.sp.gov.br.

21


PINGUE-PONGUE VAGNER LIMA

Athanazildo, ou simplesmente Tanah Tanah Corrêa desempenha vários papéis em seu dia a dia. É ator, diretor de teatro e cinema, roteirista, pai e, aos 70 anos, ele tem muita história para contar.

22


Vagner Lima Athanazildo Corrêa Neto, ou simplesmente Tanah Corrêa, é um santista de coração. Nascido em Bauru, veio para Santos ainda criança. E foi nesta cidade que começou os primeiros passos em sua premiada carreira de ator e diretor. Tanah vem de uma família na qual a arte era apresentada às crianças no meio das brincadeiras, e assim também criou seus filhos: levando-os consigo para atrás das coxias. Ao longo dos seus 70 anos de vida, dirigiu premiadas peças de teatro, fez participações em filmes e telenovelas como ator e diretor, trabalhou com gente como Plínio Marcos e Regina Duarte, dirigiu a Encenação da Fundação da Vila de São Vicente, foi secretário de Cultura de Santos e membro da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, do Ministério da Cultura. Nessa entrevista, concedida gentilmente em seu apartamento na Ponta da Praia em Santos, que tem uma privilegiada vista de toda a orla Santista, Tanah fumou três cigarros durante mais de uma hora de conversa, e relembrou - com uma memória afiada - entre outras coisas, como foi ser convidado para dirigir uma peça de Mirian Rios, ex-mulher de Roberto Carlos. Um detalhe: foi o próprio Roberto quem o convidou.

Tanah fala também do orgulho que sente do filho e também ator Alexandre Borges, conhecido por suas atuações em telenovelas da TV Globo, e da honra de ser homenageado e virar tema de enredo da escola de samba santista X-9, vencedora do Carnaval 2011. Você nasceu em Bauru. Como veio para Santos? Fale um pouco sobre sua infância. Meus pais se separaram e a família da minha mãe tinha uma casa em Santos, então viemos morar aqui. Meu avô era uma artista múltiplo, tocava violino, cantava. Minhas tias faziam teatro em casa. Não posso dizer o quanto eles influenciaram minha carreira, mas minha família me mostrou uma bagagem que não era comum entre as famílias na época. Como você viu que queria fazer teatro, como começou na carreira? Quem começou a fazer teatro amador primeiro foi a minha irmã. Fui para São Paulo, e lá comecei a trabalhar como vendedor de livros para me sustentar. Vi no jornal um anúncio de um curso de teatro e me inscrevi aleatoriamente. Me envolvi com o grupo e foi assim que comecei no teatro.

23


Como foi sua estréia no teatro profissional? Depois de ser demitido do meu emprego na Petrobras, fui para São Paulo. Lá reencontrei amigos, inclusive o Plínio Marcos e comecei a procurar emprego. Um amigo meu estava montando uma peça chamada ‘O Santo Inquérito’, com texto do Dias Gomes, direção e adaptação do Flávio Rangel e tinha Regina Duarte como atriz principal. O Flávio estava precisando de um assistente de direção e eu fiz uma entrevista com ele. Nos demos bem, tivemos uma química e assumi o cargo de assistente. Até aí já havia feito umas quinzes peças no teatro de amadores, e essa foi minha primeira peça no teatro profissional. Houve uma época em que você tinha vários espetáculos sendo apresentados, não é? Tinha montado ‘Os Saltimbancos’ e ‘A maravilhosa estória do sapo Tarô-Bequê’ em São Paulo. O espetáculo ‘Os Saltimbancos’ recebeu convite para ser apresentado no Rio. Lá montei também um espetáculo chamado ‘Viveiro de Pássaros’, em parceria com o Braguinha, com músicas dele. Fiquei com dois espetáculos no Rio. Um dia recebi um recado para que eu ligasse para o

24

Roberto Carlos, o cantor. Eu não acreditei, achei que fosse uma brincadeira, o pessoal de teatro brinca muito. Fui até lá e o Roberto e a Mirian Rios, que na época era casada com ele, estavam me esperando. Ele me cumprimentou ‘ô bicho’, daquele jeito dele. Eu fiquei meio assustado em ver aquele ícone popular na minha frente. Eles tinham ido assistir aos meus espetáculos no Rio e queriam que eu fosse o diretor da Mirian. Ela queria escrever uma peça infatil, mas não tinha idéia de nada, nem de texto, A partir daí fizemos um estudo e apresentei para eles uma peça chamada ‘O sonho de Alice’. Eu fiz todas as letras. O Eduardo Laje e o Erasmo Carlos também ajudaram. Isso tudo foi antes da Mirian fazer televisão. Você atuou em peças do Plínio Marcos e foi o fundador do Teatro Plínio Marcos, em São Paulo. Como era sua relação com ele? Conheci o Plínio na minha juventude aqui em Santos. Ele morava a três, quatro quadras da minha casa, em um conjunto habitacional. O Plínio sempre foi uma figura meio estranha, era diferente dos outros garotos da época, se vestia mais à vontade, ia a circos, ao teatro. Tive a oportunidade de encenar a peça


Barrela em 1978, quando uma série de pessoas, encabeçadas pelo falecido Francisco Milanni, se uniram para encená-la, vinte anos após ela ter sido censurada. Eram apresentações clandestinas. Vendíamos ingressos de mão em mão e, no dia das apresentações, fechávamos a porta do teatro e só abríamos para quem estava com o nome na lista, porque ainda havia perigo de prisão.

SITE CURTA SANTOS

A maioria dos seus trabalhos é como diretor. Você prefere mais ficar por trás das câmeras? Eu não gosto de trabalhar como ator porque é um trabalho que exige uma continuação, um período de dedicação à peça. Já o trabalho de direção tem mais maleabilidade, você pode até fazer outros trabalhos ao mesmo tempo. Fiz algumas coisas como ator, mas prefiro a direção. Que trabalhos você fez na TV? Eu fiz O Rei do Gado, a primeira fase, fiz diversas participações nos Saltimabancos, dos Trapalhões, inclusive o Renato Aragão ia sempre ver a peça para adaptar para o cinema. Também fiz Mangueira, Meu Amor para a TV Brasil e A Maravilhosa Estória do

Tanah, ao lado de Alexandre Borges, um de seus dez filhos

Sapo Tarô-Bequê, para a TV Educativa. Que trabalhos você fez em cinema? Tive participações pequenas em cinema. Fiz O Invasor, Mangueira, Meu Amor, que depois foi para a televisão, fiz Um Copo de Cólera, com meu filho Alexandre e Júlia Lemertz. Como foi para você dirigir a encenação da fundação da Vila de São Vicente? A primeira foi em 1998, e depois em 2008 e 2009. Uma das

25


características do espetáculo era ser encenado durante o dia, porque São Vicente não tinha equipamentos para encenação à noite. Sugeri ao Márcio (França) que me desse o último dia da encenação de 1998 para que eu fizesse à noite e pedi os equipamentos da prefeitura de Santos emprestados. E até hoje a apresentação é feita à noite, e é um espetáculo lindo. O projeto é muito gostoso porque envolve atores e atrizes da Baixada Santista toda, muita gente participa, e os atores conhecidos que vêm se envolvem com os atores regionais. Como foi sua passagem pela Secretaria de Cultura de Santos, em 1984? Primeiro foi uma surpresa, porque eu não tinha nenhuma intenção de ter um cargo público. O meu projeto era dar mais apoio à área cultural e valorizar os talentos de Santos. Quando chegamos havia dois grupos de teatro, quando saímos havia trinta. Quando entramos, dez pessoas assistiam aos espetáculos locais, quando saímos, eram lotados. Como foi sua passagem pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura? Eu comecei na Comissão nos

26

VAGNER LIMA

Tanah falou sobre carreira e filhos

últimos dois anos do governo FHC, eu fui representando a área teatral. Quando o Gilberto Gil assumiu o Ministério da Cultura no governo Lula, deixamos o cargo à disposição, mas o Gilberto me pediu para ir à Brasília e continuar. Fiquei mais quatro anos. Não se ganha nada, apenas uma ajuda de custo, passagens de avião, hospedagem, alimentação. Posso garantir que 98% dos projetos apresentados são aceitos, mas muito poucos são realizados, porque é muito difícil captar os recursos junto às empresas. Como o senhor vê o cenário cultural na Baixada Santista hoje? Não existe um isolamento do cenário cultural, a Baixada Santista é um retrato do cenário de todo o Brasil. Eu acho que o povo brasileiro ainda está no experimento do doce que se chama televisão. A televisão domina e


dita a linguagem da produção cultural. Isso dificulta a verdadeira importância das raízes culturais, principalmente nos estados mais urbanos. Isso é ruim para os estados menos urbanos, eles não conseguem transformar isso em consumismo, não em ação cultural. Quando não se tem um reconhecimento da identidade cultural, valorizamos mais o que é de fora. Que conselho você daria para quem quer ser ator? Abdicação, renúncia. Ser atriz ou ator não é fácil. Você vai perder festas, precisa se concentrar no estudo e na formação. Um milhão de passos começam com o primeiro. É difícil ver alguém dizendo que o pai quis que ele fosse ator ou atriz. Isso parte de você, então é preciso se dedicar para levar esse ideal adiante. Onde você acredita que há mais talentos? TV, teatro ou cinema? Talento não se encontra em um lugar específico. Mas a formação vem do teatro. É no teatro que o ator aprende a construir um personagem, onde pode esmiuçar o texto. Como seu filho Alexandre Borges começou na carrei-

ra de ator? Foi por influência sua? Tenho dez filhos, todos eles iam comigo para a coxia. Até mesmo nos espetáculos proibidos eu os levava. Não via problemas em eles ajudarem na técnica. Alexandre deslanchou depois de entrar para grupos de teatro. Quando você vê o Alexandre na televisão, o que sente? É um prazer muito grande, porque a gente vê a seriedade com que ele leva o trabalho de ator. E me surpreende como ele não se deslumbrou com a fama, com a exposição. Ele continua o mesmo, tratando o público com respeito. Como foi para você ser homenageado pela X-9? Foi uma surpresa. Na verdade eles me pediram. Fui levar um enredo e eles recusaram, porque diziam ter outro na cabeça. E esse enredo era uma homenagem para mim. Foi uma honra. Entrei na X-9 aos seis anos de idade e tenho um carinho muito grande por ela, que é minha escola de coração. Sempre torço pelas escolas de samba, elas são trincheiras na defesa da cultura brasileira.

27


HIP HOP

Do black power ao

rap As histórias do cantor e b-boy, indicado no VMB de 2001, na categoria Melhor Clipe de Rap, por “Carro Cinza”. Um dos primeiros a usar animação num vídeo de rap, logo em seu 1º álbum solo. Não ganhou. Mas já era um dos melhores rappers da Baixada. Carlos Norberto Espessas e cinzas nuvens preenchem o céu neste fim de tarde de sábado. Logo mais à noite elas derramarão a já esperada chuva tão comum nessa época do ano - que hora mais

28

inconveniente de aparecer na casa dos outros para meter o nariz onde não fui chamado. Papel de repórter. Quase duas horas atrás, do lado de fora do alto portão de alumínio, desses que têm em cima umas pontas de lança antila-

drão, escutei a voz de dona Rosângela - nem sabia que o nome dela era Rosângela: - Quem é? Identifiquei-me e disse que havia combinado de entrevistar o esposo dela. Eis a resposta: - O Daniel não está!


ARQUIVO PESSOAL

Acho que ele vai chegar lá pelas 5 horas (da tarde). E no horário impreciso, revelado pela companheira do personagem principal dessa história, voltei. Desta vez, tive mais sorte, ao bater palmas, minha presença é pressentida por ela: - Ele já vai! E ele veio. O nome de batismo é Daniel Paixão, mas é conhecido no universo do hip hop como Criminal D, b-boy desde a adolescência e rapper há mais de 20 anos. - Ô, doutor! – brinca, cerimonioso, ao me ver vestindo calça jeans, tênis e uma camiseta vinho, certamente fazendo uma comparação a nossa primeira conversa, em que eu usava apenas chinelo, bermuda e camiseta. Daniel, quer dizer, Criminal D (chamem-no como quiserem), acaba de ser arrancado de um cochilo iniciado após a volta do trabalho pesado na estiva,

Criminal D ensaia passos que o destacaram na noite

onde é encarregado, junto com os colegas, do embarque e desembarque de caminhões recheados de produtos. Mas, dona Rosângela é impiedosa. A casa passa neste momento por uma faxina completa e, por isso, nossa presença lá dentro não será tolerada. Por esse motivo, o dois blocos de concreto defronte

à calçada tornam-se os assentos onde será feita a entrevista. Não é nenhum sofá do Jô, mas serve. Filhote da Zona Noroeste de Santos, de Maria Cecília de Oliveira Paixão e de Ademar da Paixão, há 42 anos, Daniel era uma criança cheia de energia (não sei se hiperativa, só um especialista po-

29


deria afirmar). Igual a qualquer garoto de dez anos, pelas ruas barrentas da ZN, como os moradores daqui chamam a região, empinava pipa e jogava bola. Mas o pequeno Criminal D tinha uma peculiaridade: - Minha infância era trocar porrada com a molecada. Gostava muito de brigar na rua. Queria ser o dono do território, parecia um cachorro. Se alguém passasse pela minha rua, eu ia lá pegar. Nessa época, a Areia Branca vivia a febre da Capoeira. Daniel conta que o bairro era o “foco” do esporte, contagiava a todos. - Bandeira, Lima, Carneirinho, Eli, Marinheiro, eram ‘os caras’ da Capoeira, de atitude. Capoeira fight, mesmo. Todo mundo tinha medo deles. Um dia, ele foi visto por um grupo de pessoas vestidas de roupas brancas, carregando berimbau e outros instrumentos, plantando bananeira e fazendo outras “macaqui-

30

ces”. Era o pessoal do mestre Bandeira. Logo perguntaram se ele não gostaria de aprender também “a arte marcial brasileira”, como muita gente gosta de denominar esse esporte, cujas raízes estão nos negros escravos vindos da África. Mas a mãe dele, dona Maria Cecília, por causa do batuque e dos cânticos, não nutria muita simpatia por essa arte

afro-brasileira: achava que era “macumba”, no sentido depreciativo da palavra. Não era o som dos instrumentos nem o canto os objetos do encanto de Daniel, mas sim o gingado e as acrobacias. No rap “Voltando a fita”, está retratado um pouco desse período. Nessa época, por influência de Jorge, irmão três anos mais velho, ele já ouvia e dançava funk. Não o ARQUIVO PESSOAL

Atitude e equilíbrio são imprescindíveis para o b-boy


ARQUIVO PESSOAL

O Black Power Criminal D

funk carioca, mas o ritmo nascido nos guetos negros dos EUA. Jorge ia à Elos, uma pequena casa, que existe até hoje, onde aconteciam bailes regados a funk e soul music. Aqui, estamos no final dos anos 70. - Eu via os caras dançarem de black power, eu ficava maluco, falava: É isso que eu quero ser!, relembra Daniel. O black power (poder negro), como era chamado aquele cabelo volumoso, moda na época, simbolizava o orgulho de ser negro. Jorge ensaiava em casa para ir dançar na

Elos, ao som de James Brown, George Clinton, Funkadelie, e por aí vai. Não demorou para Daniel começar a dominar os passos e se destacar. Ah, ele também aprendia observando os outros. Por falar em Elos: - Eu era barrado. Teve uma vez que eu falsifiquei a carteirinha da escola para entrar na Elos. Só podia entrar com 15 anos, mas eu ia fazer 12. Quando eu vi a galera lá dançando funk, falei: Tô em casa! Começou cedo a fazer apresentações de dança em um grupo de dez integrantes chamado Black Time Soul - o irmão dele era um dos membros. Por ser um grupo numeroso, foi dividido: a BTS de Santos e a BTS de São Vicente. Eles freqüentavam os bailes da Beira-Mar (em SV), do Raízes (Rua Bahia, no Gonzaga) e do Praia Clube (também em SV, que ainda existe). Havia ainda a Drops, que ficava na Vila Mathias, Centro de Santos. A lis-

ta não acaba por aqui. Onde existisse baile, a Black Time Soul estava lá para mostrar o que sabia. A fissura era tanta, que eles “penetravam” em festas de casas particulares para dançar, diziam ser amigos do dono. Transformavam-se na atração e, no final, o dono da ARQUIVO PESSOAL

Daniel no estúdio

festa os abraçava, oferecia Coca-cola e salgadinhos. Em 1982, Toni Tornado fez um show no Ginásio Poliesportivo do Dale Coutinho, reinaugurado como Conjunto Poliesportivo em 2008. Com a canção BR-3, Toni era a referência da black music da época,

31


no Brasil. E, claro, não perderiam o show por nada nessa vida. No começo da década de 80, começou, no Brasil, a transição da soul music para o hip hop e para o break. Enquanto alguns continuaram na black music, outros ‘pegaram o bonde’, cuja partida foi dada nos EUA, em direção ao hip hop. Aqui o pessoal ainda dançava o funk, mas lá fora o break já dominava, era uma continuação da cultura de rua. Criminal D percebeu isso por meio de um videoclipe: “O grupo Chic, americano, tinha uma música que a gente dançava muito, mas nunca tinha visto uma imagem de clipe. Nós dançávamos só ouvindo a música. Mas em meados de 83, eu vi o cara fazendo um wave (um movimento ondulatório usando os braços) e falei que p... é essa!?! – a história do videoclipe era a de um menino que havia matado aula para dançar break na rua, e no final, a mãe do garoto corria atrás dele com a

32

ARQUIVO PESSOAL

Concentração na hora de gravar as músicas

cinta na mão”, lembra. Daniel só viu essa parte, não pôde gravar para ver outra vez, já que não possuía videocassete, mas tinha certeza de que havia mais coisa ali. Como não havia a opção de alguém ensiná-lo, ele se viu obrigado a inventar passos buscando inspiração pelos meios de que dispunha, principalmente, em filmes. Nas películas sobre mitologia grega, por exemplo, ele assimilava os movimentos

de estátuas que se mexiam, dos seres míticos e, a partir daí, criava novos estilos. A mesma coisa fazia ao assistir a filmes de animais pré-históricos, reproduzia o jeito de andar de dinossauros e misturava os movimentos. Pinçando de tudo um pouco, ele produzia uma verdadeira miscelânea de criatividade. “Tudo que eu via e achava que dava pra transformar em dança, eu usava.” Em meados da déca-


da de 80, o Brasil já era tomado pela febre do break, principalmente nas grandes metrópoles, como São Paulo. Assunto que chegou a ser abordado no Fantástico, em 84. A reportagem pode ser vista no YouTube, pesquisando-se a “A febre do ‘break’ – ‘Fantástico’, 1984”. As imagens mostram as ruas de Sampa tomadas por fãs do ritmo e da dança, durante um festival na Praça da Sé. Daniel estava no meio dessa multidão. “São Paulo era o coração e uma das artérias trazia o break para Santos”, afirma. Durante anos Daniel SSOAL ARQUIVO PE

ia para SP toda semana, mas se dependesse exclusivamente da vontade dele, teria ido todos os dias. A galera dançava nas ruas. Há pessoas que ainda pensam que ele mora lá. Pelas curvas das ruas paulistanas, santistas e da vida, esbarrou com nomes hoje conhecidos da cultura hip hop como Mano Brown, Thaíde e Nelson Triunfo. Além da praça da Sé, ele também dançou na rua 24 de maio, no Centro, onde também havia a Galeria do Rock, point da música black desde a década anterior. Não podemos esquecer a Estação São ARQUIVO

PESSOAL

Bento do Metrô, templo do hip hop. Já existe um documentário intitulado “Nos Tempos da São Bento”, de Guilherme Botelho, que retrata a importância da estação para a história do hip hop. Daniel é um dos personagens entrevistados. Mas, segundo ele, por aqui o novo estilo de dança ainda tinha menos força, quase ninguém dançava break. Por essa razão: “Eu caçava. Em todo lugar que eu sabia que tinha alguém que dançava, eu ia lá para ver qual era nível. Quando eu via que os caras estavam muito fracos, eu SSOAL ARQUIVO PE

Momentos de prazer: Criminal D no palco e no ringue

33


falava: não dá meu irmão! Porque o “classe a” (o ideal) era duelar, mas não tinha ninguém para isso.” Em um lugar de São Paulo, onde ninguém o conhecia, todos pensaram que o paulista vindo da Baixada Santista era um b-boy importado da terra do Tio Sam. Um amigo deu a idéia: ele não falou, só dançou. No final as pessoas pediram autógrafos e o “americano do Paraguai” assinava “Daniel D”. O já citado Thaíde, Daniel conheceu em 1985, no Programa Barros de Alencar, da TV Record. Neste ano, o grupo de break do qual fazia parte já se chamava Gangue de Rua. A primeira equipe dele (de 83) foi a The Masters Boys Breakers. A década foi acabando, o Hip Hop ocupando novos espaços e o Daniel Paixão passando por nova transição na vida. Aos 19 anos tornouse pai, nascia Érick, agora com 23 anos. No ano seguinte, em 1989, trocaria alianças com

34

Rosângela, cuja voz escutei logo no início desta reportagem, e ainda ecoava em meus ouvidos. Ah, já estava esquecendo de dizer também que Daniel ganhou a medalha de bronze nos Jogos Abertos do Interior de 87, em Santos, quando concorreu como boxeador. Porém, o boxe não era uma prioridade. A dança, essa sim, desfrutava de total zelo e dedicação. Ele costumava sair da concentração para ensaiar break. Nessa época, as rimas estavam pipocando, prenunciando o que, nos anos 90, seria a explosão do rap no Brasil. Shows de grupos de rappers estrangeiros começaram a acontecer por aqui. Um dos que marcaram a vida do Daniel foi o show do conjunto norte-americano, Public Enemy, em 1991. Neste mesmo ano, a Zimbábue, uma equipe de música black de SP, que tinha um programa radiofônico, veio realizar um baile em Santos. Como perceberam

ARQUIVO PESSOAL

Momento de descontração

que havia muita gente cantando rap, promoveram um concurso para escolher o melhor rapper da Baixada Santista. Criminal D ganhou. Existiam ainda outras equipes de som como a Chic Show, a Black Magic e a Circuit Power, todas com programas de rádio. Quem era do movimento hip hop, sintonizava nelas. Antes da chegada da Internet, o pessoal “atualizava-se” por meio desses programas (diziam ter conexão direta com Nova Iorque), de revistas especializadas e de pessoas com maior poder econômico, que traziam as novidades do exterior. Além da TV, natural-


mente, estas eram as fontes de informações sobre o hip hop no Mundo. São Paulo estava mais próxima das informações, por isso, todo mundo queria estar lá. “Uma revista trazida dos Estados Unidos era tudo pra nós”, recorda, Daniel. Criminal D viu todas as metamorfoses do hip hop em nossa terra. Antes, cultura dos guetos. Hoje, apreciado por gente de todas as classes sociais. Isso é bom. Mas a maioria das baladas de black music existentes, pelo menos em Santos, são para públicos seletos, mais abastados economicamente. Criminal reclama que, por esse motivo, quem não pode pagar para entrar em lugares como, Bikini Barista e Coqueluche, é deixado de lado. O que vai totalmente de encontro à essência do hip hop. Ou seja, quem vive o break, o rap diariamente, perde espaço para outros que estão ali só para curtir uma balada, e nada mais. Integrante da primei-

ARQUIVO PESSOAL

No alto de uma construção, ele dá um show de dança

ra geração do hip hop, atualmente ele, que deixou de ser Daniel D (em 89), pois “o nome não tinha aquela imponência” não tem mais tempo para se dedicar ao break. O novo nome artístico foi inspirado no disco Criminal Mind, de Burkdow Production. A família cresceu. Nasceu Daniele, hoje com 21 anos, e os gêmeos Denner e Deyver, de 10 anos. Para sustentar o “clã”, ele foi cabeleireiro, guarda municipal, dava aulas de boxe e agora é

estivador. Mas, como Criminal D participou de coletâneas com outros rappers e artistas de estilos musicais diferentes. Em 2000, lançou seu primeiro CD solo junto com o videoclipe da música “Carro Cinza”. Este clipe foi indicado, no ano seguinte, ao Vídeo Music Brasil (premiação da MTV Brasil), na categoria Melhor Clipe de Rap. MV Bill ganhou o prêmio com o videoclipe “Soldado do Morro”. Apesar de não ter levado o prêmio, Crimi-

35


nal gravou participação em um DVD do cantor Jair Rodrigues, já fez parceria com Pedro Mariano, filho de Elis Regina, e Rappin Hood. Por falar nele: o grupo do Rappin Hood chamava-se “Posse e Mente Zulu”. E um dia, conta Daniel, eles foram cantar numa favela. A polícia chegou lá, fazendo o maior papelão, atrás do “tal Zulu, dono do pó e da semente”. Segundo Daniel, o Hood sempre conta esta história marcante da carreira dele. E são tantas histórias contadas por Criminal D, que fica difícil inseri-las numa só matéria. Após um tempo sem fazer apresentações, Daniel quer retornar apenas quando lançar seu novo CD, lá pelo meio do ano. Será um disco com oito músicas. Há ainda o videoclipe da canção “Catraca 14”, que está em fase de gravação. Assim, Daniel, ou Criminal D segue vivendo o hip hop e cuidando de sua família.

36

Origem do Hip Hop O Hip Hop originou-se dos bairros pobres e oprimidos socialmente de Nova Iorque. Afrika Bambaataa é reconhecido como o criador oficial do movimento e idealizador da junção dos seguintes elementos: o rap, o DJ, a breakdance e a escrita do grafite. Habitados essencialmente por negros, hispânicos e membros de demais minorias étnicas, esses bairros eram verdadeiros guetos onde as taxas de criminalidade cresciam proporcionalmente ao desemprego. Neste contexto de exclusão social, as gangues encontraram o terreno ideal para se multiplicarem. Um delas, segundo o livro “Hip Hop – Cultura Marginal”, de Jessica Balbino e Anita Mota, era a Black Spades, “com uma proporção que permite a sua divisão em facções, partidos e sub-gangues, marcando o bairro com atos de van-

Hip Hop: cultura marg

dalismo”. Isso em meados dos anos 60. Eram grupos compostos por jovens desses “guetos”, que reagiram à opressão social por meio de violência. Por tradição norte-americana, os grupos étnicos não se misturavam, por isso, existiam gangues de negros, hispânicos, asiáticos, etc. Confrontos armados eram freqüentes entre elas. Nos idos dos anos 70, os índices de criminalidade chegavam ao auge. O jovem Bambaataa, cujo nome de batismo é Kevin Donovan, era um dos líderes de uma das facções da Black


Spades “cansado das do o refrão criado por brigas, colecionador de Afrika Bambaataa: “pediscos e apaixonado por ace, unity, love and haCARLOS NORBERTO ving fun” - paz, união, amor e diversão.” Foi com essa ideologia que Bambaataa fundou o Hip Hop: a troca da violência pela disputa artística.

ginal que virou popular

música”. E produtor de festas no Bronx, onde tocava seu som. “Estas festas vão aos poucos tomando o espaço das ruas, enquanto as gangues são esquecidas, dando lugar aos bailes, conhecidos como block parties, festas de quarteirão”, afirmam as autoras. Ou seja, os membros das gangues passaram a trocar as disputas violentas por território por duelos de dança. As gangues tornaram-se crews (equipes, turmas, grupos). “As crews mantiveram a postura de protesto das gangues, mas sem violência, levando ao mun-

Os pilares da cultura hip hop Break O breakdance, criado por porto-riquenhos para demonstrar insatisfação com a Guerra do Vietnã, foi inspirado em movimentos de artes marciais, como o Kung Fu. Esse estilo de dança se expandiu com as gangues nova-iorquinas, que demarcavam território deixando suas assinaturas (grafite) pelos muros da cidade. Porém, nos momentos de festa e descontração seus membros dançavam o break. Com o tempo, gangues de rua passaram a abandonar as brigas por dispu-

tas de dança. O b-boy (breaker boy) é o dançarino de break. Esta expressão surgiu nas festas do Bronx (NY), nos anos 70, onde os b-boys dançavam ao som do funk de James Brown, George Clinton, entre outros artistas. O break foi o primeiro elemento do Hip Hop a ser introduzido em nosso país. Nelson Triunfo, o Nelsão, foi o pioneiro e responsável pela difusão da cultura hip hop pelo Brasil. Lockin O Lockin é a dança mais clássica do hip hop. Surgiu no início dos anos 70, em Los Angeles, Califórnia, criado por Don Campbell. Anos depois, Campbell formou o The Lockers, primeiro grupo profissional de street dance de que se tem notícia. Influenciado pelo funk, os passos são compostos por movimentos detalhados de braços, cotovelos, mãos, dedos. Existem poucos lockers por aí.

37


Power move São giros, saltos, acrobacias e todos os demais movimentos corporais. Não é considerado um estilo de dança, mas o nome de um conjunto de movimentos de altos níveis de dificuldade, que acrescentam muito às habilidades de um b-boy. Poppin Surgiu também na década de 70, numa cidade da Califórnia, chamada Fresno. Criado por Boogaloo Sam, idealizador do grupo Electric Boogaloo, o poppin é a evolução da robot (apenas a reprodução dos movimentos de um robô). Hoje, este estilo é muito mais complexo, tem efeitos ilusionistas, mímica, dança indiana e muitas influências. DJ Um Disc Jockey, ou DJ (dí-djei) é quem utiliza técnicas de som para misturar músicas, usando suportes como

38

CARLOS NORBERTO

vinil, CDs e efeitos sonoros digitais - a mixagem. Os DJs surgiram nos anos 50, mas só se consagraram três décadas depois, na era das discotecas. O primeiro DJ do mundo, Kool Herc, jamaicano de Kingston, criou os “sound systems”, aparelhos de mixagens de músicas. Existem também registros de que o DJ “Big Youth” já tocava na Jamaica, na década de 50. O DJ é um elemento do Hip Hop fundamental para o Rap, que, sem ele, perderia o ritmo e o brilho. No Brasil, temos nomes de destaque como KL Jay (Racionais MCs), DJ King, DJ Negro Rico, DJ Primo, DJ Cia, DJ Hum, “Toaster”, espécies de entre outros. MCs (os MCs eram os mestres de cerimônia, Rap animavam as festas. Rythm and Poetry Agora eles são as atra(RAP) significa “rítmo ções principais). No coe poesia”. Nos anos de meço dos anos 70, esse 1960, no país de Bob meio de expressão foi Marley, em volta dos levado aos Estados “souds systems”, os ja- Unidos, pelo DJ Kool maicanos reuniam-se Herc, junto com milhapara ouvir um som de res de conterrâneos, protesto, feitos pelos que emigraram para a


América, em busca de melhores condições de vida. Esse estilo teria dado origem ao rap. Não demorou para surgirem diversos grupos em todos os guetos de Nova Iorque. No Brasil, o rap começou a se expandir nos anos 80, com MC’s pioneiros como Pepeu e Mike. Mas o auge do rap nacional só aconteceu a partir de meados dos anos 90, com grupos como o Racionais MCs. FreeStyle É a rima improvisada. Há MCs que fazem rimas sobre qualquer assunto a qualquer hora. Os duelos são o que há de mais empolgante no Freestyle. Um nome importante da atualidade é o rapper Emicida.

Outras pessoas que vivem o Hip Hop O Engajado

André Cardoso da Rocha, 25 anos, é cria-

dor do site “DeRua” (http://derua.com. br/), cujo objetivo é promover e divulgar qualquer tipo de evento e ação sobre o movimento hip hop do Litoral Paulista. Participou também da organização e criação do Coletivo Hip Hop Caiçara, em outubro de 2009, que articulou com o Poder Público e sociedade civil dos nove municípios da região a realização de encontros municipais e um Encontro Metropolitano, este realizado em janeiro de 2010, em Guarujá. O objetivo dos encontros foi discutir a realidade e futuro da cultura hip hop. Foi deliberada ainda a produção de um documentário para registrar a história do movimento na Baixada, em fase inicial de pesquisa, com a ajuda de estudantes universitários voluntários adeptos dessa “cultura de rua”, e, no futuro, a realização de um censo para saber quantos e quem são os integrantes do

Hip Hop por aqui. Em breve será lançado o caderno com tudo o que foi debatido. Uma outra meta é ajudar o hip hop a sair da informalidade, envolvendo o Poder Público. Ele é morador de São Vicente, onde participava de um grupo chamado Breakdance. Formado em Educação Física, na Universidade Santa Cecília (Santos/ SP), também integra o Conselho Municipal da Juventude de sua cidade. O CMJ-SV atua em favor da autonomia e protagonismo social dos jovens. CARLOS NORBERTO

Um b.boy professor Ele nasceu em São José dos Campos há 19 anos. Aos 12, veio para Santos com sua mãe, que havia se separado do esposo e pai

39


de Douglas dos Anjos. “Eu achava que eles estavam brigadinhos. Mas tinham se separado. Fato!”. A mãe, segundo ele, não o deixava sair muito. Mas quando se mudou para a casa do pai, começou a frequentar “baladinhas black” com os amigos da escola. Estudava na escola “Cleóbulo Amazonas Duarte”, no Canal 3. Curtiu o que os b.boys dançavam. Na dança, o break foi sua primeira paixão. É, segundo Douglas, o “mais famoso”, o que chama mais atenção. Ele morava parte do tempo com a mãe, parte com o pai. Quando seu pai morreu, Douglas ficou perdido e até meio revoltado. Era nas baladas que ele extravasava. “Não queria fazer mais nada, só queria ir pra balada”. Hoje, o jovem está encontrando seu caminho. Sua mãe descobriu o Centro da Juventude da Zona Noroeste, onde Douglas participou de um projeto de comunica-

40

A arte do grafite é um dos pilares do movim

ção. Nesse período, fez ainda teatro e curso de produção audiovisual no Instituto Arte no Dique. Desde 2010, ensina Dança de Rua para crianças e adolescentes no Centro da Juventude. Pode parecer clichê, mas suas

aulas são brincadeiras muito sérias. “Na atividade” “Eu sou um cara tímido para c..., muito nervoso, genioso. Mas sou inteligente.”. Nessa hora eu brinco


CARLOS NORBERTO

mento Hip Hop

acrescentando “e modesto”. Michael considera-se uma pessoa cheia de defeitos “Até minhas qualidades são defeituosas”. Já o chamaram de metido, egoísta, mal-encarado, retardado. Ele confessa que é inse-

guro. Mas a sinceridade é muita, como podem ver. E prejudica-o. “Eu falo mesmo, na cara!” Seu pior defeito, na opinião dele mesmo, é a demora para agir. “Eu penso demais e, às vezes, não faço”. Talvez a melhor qualidade de Michael (ele se diz prestativo e proativo), é o sonho que nutre. O sonho de ser um rapper reconhecido. Ele começou a curtir rap aos 9 anos, por causa do pai. Primeiro ouvia só rap estrangeiro. O cantor norte-americano Eminem foi inspiração. Depois só rap nacional. Aí misturou tudo. Mas foi de muito escutar rap brasileiro, de escutar as músicas cantadas em português, que Michael fez as primeiras rimas. No início, “bobas”, como ele mesmo diz. Mas ao tomar gosto pela coisa, ficou viciado em fazer letras. Caminhando pela casa, fazia rimas com os móveis e os eletrodo-

mésticos que via. Coisa de maluco! Em suas letras ele gosta de falar da realidade. Do que acontece nas esquinas escuras, nas ruas, na favela. Sem meias palavras. Os cadernos que guarda embaixo da cama, numa caixa de sapatos, estão cheios delas. Ele mesmo é um alvo de suas letras, cuspidas das entranhas. Ele é fã de Criminal D, de Histórias em quadrinhos e videogames. Lê de tudo: livro, dicionário, palavras cruzadas. Sherlock Holmes e a Bíblia são as melhores leituras para fazer rap, segundo Michael. Sempre com um pedaço de papel para anotar as rimas que brotam da cabeça, ele anda por aí. Quem sabe ele chega lá. Sempre “na atividade”. Informações do site “DeRua” e do livro “Hip Hop – Cultura Marginal”, de Jéssica Balbino e Anita Motta.

41


PERFIL

: o ã fiss

Pro

Artistas que exercem uma atividade talvez tão antiga quanto a própria civilização passam por situações curiosas. Toda vez que Helena Figueira, 34 anos, revela sua profissão, as pessoas pensam que é gozação. Co-fundadora e integrante da Cia. Suno, ela tem vasta experiência nesta arte em que, de rosto pintado e tirando sarro de si mesma, desmascara a hipocrisia presente em nós.

o ç a h l a P AVELINO FERNANDES

Aline Almeida “Se chacoalhar uma árvore, cai um palhaço!” Se você acha exagero, é porque não está observando com atenção o mundo à sua volta. Todos os anos acontecem quatro grandes festivais que reúnem milhares de artistas circenses. Há também o Anjos do Picadeiro, encontro internacional que reúne palhaços do mundo inteiro. Palhaços? Em árvores? Mas o circo não morreu? Ora, não está ele fadado à extinção? É difícil que exista alguém que não tenha, mesmo que poucas, lembranças de um palhaço. Na infância de muitos marmanjos, há na memória

42

Helena: dedicação e muita alegria


a imagem de circos, muitos deles de famílias tradicionais que seguiam por centenas de cidades mostrando a arte dos malabares, trapézios, contorcionismo, pirofagia (a prática de engolir fogo), e muita palhaçada. Mas, e hoje? Muitas destas famílias não conseguiram manter a vida itinerante e saíram de cena. E mesmo assim, se olharmos ao nosso redor, o circo está presente. Enquanto as pessoas discutem, uma revolução acontece no picadeiro. Enquanto algumas só falam, muitas estudam para serem palhaças. E não é apenas em grandes eventos que os palhaços estão ‘em pencas’. Em Barão Geraldo, distrito de Campinas, a realidade é essa. Lá existem por volta de 25 grupos de palhaços. Grande parte são estudantes e concluintes do curso de Artes Cênicas da Unicamp. Mas Campinas é apenas um exemplo.

AVELINO

FERNAND

ES

No palco, palhaçadas de uma profissão que não é brincadeira AVELINO

ES

FERNAND

Distante da raridade “Sou palhaça”. Aos 34 anos, Helena Figueira, já deu essa resposta milhares de vezes. Seja no consultório médico, no banco, a reação é sempre a mesma. “Acham que é brincadeira”, diz, sorridente. “...Tanto riso Oh, quanta alegria São mais de mil palhaços no salão...” (Máscara Negra – Composição: Zé Kéti e Pereira Matos)

43


Ela é bonita, jovem, perspicaz e foge de qualquer estereótipo que se criou sobre palhaços. Ela e o amigo Victor Nóvoa são fundadores e integrantes da Cia Suno que existe há 12 anos. “Eu sou a mais séria”, revela, comparando-se aos demais participantes da companhia. Hoje, o terceiro integrante é Eduardo Becker, seu marido. Helena começou cedo. Aos três anos começou a fazer dança e nunca mais a arte se distanciou de sua vida. A artista plástica foi para a França aos 18 anos e entrou na Escola Nacional de Circo (École National Du Cirque Annie Fratelinie) após processo de seleção. Helena especializou-se em trapézio e contorcionismo. “Lá todos faziam de tudo. Éramos palhaços, malabaristas, equilibristas...” E foi nesta escola técnica que a aluna de sorriso fácil chamou a atenção de um professor russo. “Ele, apesar de frio, acreditou que meu jeito espontâneo era interessante”. Por conta disso, o professor incentivou Helena a participar de um processo seletivo para a Paris Action Clown Théatre. “Ele achava que lá precisavam de alguém com vigor. Eram quinze selecionados, e eu entrei”. A mascote da turma concluiu os dois anos de curso. “Nos fins de semana ficávamos vestidos de palhaço todo o tempo. Acordando, dormindo, comendo... criando. Chegamos a simular a convivência do palhaço com o homem primitivo”, lembra. A garota dos olhos brilhantes voltou ainda mais três vezes para a França,

44

Eduardo Becker, Helena e Victor Nóvoa com

e deu o ar de sua graça em Londres, por seis meses. Quantas Helenas em uma? Por ter nascido em 24 de agosto, dia do artista, tentar resumir o universo de Helena ao mundo do circo seria injustiça. Ela foi protagonista de filme Jardim Europa (direção de Mauro Baptista Vedia), atuou em várias peças de teatro, e foi professora durante alguns anos. Nessa última ocupação, conseguiu a prova de que o circo conquista todas as gerações. Helena contava com uma turma de 120 alunos em uma escola de classe alta. Mesmo a disciplina sendo optativa, existia até lista de espera.


AVELINO FERNANDES

mpõem a Cia. Suno, que existe há 12 anos

Para a criança que, não por mera coincidência, nasceu no dia da infância, essa é a maior prova da força do circo. Em pouco tempo, o leitor passa a pensar que, ao invés de 34 anos, a encantadora de risos poderia ter 70, por conta do vasto currículo profissional. Agora acrescente a esta artista a profissão mãe. Um anjo chamado Ciro, aos cinco dias de idade, já acompanhava a mãe durante o desfile de uma escola de samba, da qual a ela foi coreógrafa. Palhaçada e Helenismo No teatro grego, durante o perío-

do helenístico (32 a.c.3 a 146 a.c.), surge a Comédia Nova, em que críticas eram feitas aos bons costumes da sociedade. Se fizermos uma comparação aos dias de hoje, as análises são tão atuais que parecem brincadeira. O palhaço e o circo estão presentes em diversas artes. Da literatura à TV, do rádio ao teatro, das ruas à internet. Após breve análise, nos deparamos com uma figura tão próxima a nós, que somos levados a assumir, no íntimo, que muitas vezes nos sentimos um deles. “Eu continuo a ser uma coisa só: um palhaço, o que me coloca em nível mais elevado do que o de qualquer político”. (Charles Chaplin) Para Helena, o palhaço tem a obrigação de dizer o que ninguém tem coragem de falar. “É um ser que ri de seus próprios defeitos e erros, e por isso muitos se identificam com ele”. A veia crítica e o humor inteligente dão aos detentores do nariz vermelho a missão de falar quando todos calam, de mostrar quando todos os olhos se desviam, de ser quando todos tentam se mascarar. A arte da palhaçada é a arte da verdade. A pintura facial não esconde um rosto. Na verdade, revela mais do que um rosto limpo. Helenas, Eduardos, Victors, Carequinhas e Arrelias, são nossos espelhos vivos. “A única obrigação e função do palhaço é divertir” (Helena Figueira)

45


MÚSICA

Aqui tem Choro sim, ARQUIVO PESSOAL

Macaco Velho!

ARQUIVO PESSOAL

Com o crescimento do pagode entre os jovens, alguns gêneros da MPB, como Choro e Samba de Raiz, acabaram perdendo seu espaço na mídia. Contudo, não deixaram de ser essenciais para a alma de jovens talentos santistas, que se dedicam a continuar batalhando para mostrar que o belo não morre jamais.

46


Jéssica Amador É numa quarta-feira, às seis da tarde que acontece nosso encontro. O local escolhido, o Auditório do Teatro do SESC em Santos, seria dali a uma hora, palco de um show de música popular brasileira. A musicista (isso, mesmo! ela não suporta quando, erroneamente, chamam-na de “música”), Vanessa Ribeiro, de 26 anos, me aguarda preparada com seu instrumento preferido na mão: a flauta. Por influência de seu pai, a música foi despertando interesse em Vanessa. Desde pequena, era comum ouvir chorinho e MPB. Imaginar o quanto seria difícil aprender aquelas canções foi o pontapé inicial para que ela aprendesse a tocar. “Para se tocar choro não basta só técnica, tem que ter emoção e trejeito.” O primeiro instrumento foi o teclado, que aprendeu sozinha.

A música sempre esteve presente na vida de Vanessa. Na 6ª série, iniciou as aulas de flauta doce e depois, por ouvir músicas interpretadas pelo flautista Altamiro Carrilho,

realizado em 2001. Nesta época, já trabalhava profissionalmente com o teclado. “Neste ano, tive meus primeiros alunos particulares, mas como não sabia dar aulas direiARQUIVO PESSOAL

Da esquerda pra direita (em pé): Nino Barbosa, Paulinho Ribeiro, Ari 7 cordas e André Amorim; abaixados: Vanessa Ribeiro, Zeck Ferreira e Jota R.

resolveu tornar o sonho realidade. Em menos de uma semana, mesmo antes da professora ensinar, já sabia tocar flauta doce perfeitamente. O próximo passo foi aprender a flauta transversal, sonho

to, acabei ficando sem eles (risos)”. Vanessa acabou indo lecionar numa escola de música da cidade e aproveitou para estudar e adquirir experiências. Aos poucos, ela foi deixando o teclado e

47


ARQUIVO PESSOAL

Aqui tem Choro: Vanessa Ribeiro com os músicos

passou a se dedicar somente à flauta. A partir de então, ficou conhecida como “Menina da Flauta”. No começo, houve preconceito por ser mulher e jovem no meio do chorinho. Mas, Vanessa mostrou

ser boa o suficiente, e convites para integrar diversos grupos não pararam de surgir. Ganhou a admiração de todos por seu talento, pela sua pessoa e também por sua disciplina. “Sempre fui muito educada e sem aqueles

vícios de músicos. Isso contou pontos, pois entre chamar uma pessoa “fera”, mas mal educada, preferiam me chamar, mesmo que tocasse um pouco menos.” Ela se refere aos músicos que já possuem hábitos enraizados na maneira de tocar e são resistentes ao aprendizado teórico da música. Voltando ao palco do SESC, a musicista apresenta os companheiros do grupo Aqui tem choro (fundado por Ari Lopes, Paulino Ribeiro e Junior). Formado por seis músicos da baixada santista, o septeto se completa com ela. Com origem no samba, o grupo santista especializou-se no choro, desenvolvenARQUIVO PESSOAL

O septeto santista durante apresentação no palco do Sesc

48


do um repertório que mescla o tradicional, que vai de Pixinguinha a Jacob do Bandolim, com o moderno, tendo na lista músicas de compositores da nova geração, como Aleh Ferreira, Danilo Brito e Hamilton de Holanda. Tanto para a modali-

mada no meio musical, se junta a Arizinho 7 cordas (violão 7 cordas), Paulinho Ribeiro (violão 6 cordas), Júnior (cavaquinho), Ezequias (clarinete) e Ederson (pandeiro) para mais um belo espetáculo de Música Popular Brasileira.

música de Dorival Caymmi: “Quem não gosta de samba, bom sujeito não é...” e é no bairro da Vila Mathias que toda semana o Macaco Velho se apresenta para os admiradores do gênero musical. O local, um restaurante que à noite se transforma num local que transpira ARQUIVO PESSOAL

Choco demostra todo seu talento e amor pelo samba de raiz

dade mais tradicional, como para as mais modernas, o grupo elaborou arranjos especiais e uma maneira própria de interpretação. É chegada a hora da apresentação. Na flauta, Vanessinha, como é carinhosamente cha-

Macaco Velho: gente nova fazendo samba de raiz

música, fica entre as ruas Júlio de Mesquita e Lucas Fortunato. Ao chegar, por volta das onze da noite, Com a mesma difi- percebo que não há mais culdade dos amantes do mesas nem cadeiras para choro, o samba de raiz foi sentar. Toda sexta, a paratingido diretamente pelo tir das dez da noite, é lá fenômeno chamado pa- que o samba mora. gode. Mas como já dizia a O contato feito através

49


do telefone se chama Julio Cesar Malaquias Alves, 26 anos. Mas ao chegar lá, percebo que ele é simplesmente o Choco. Ele não teve a mesma sorte de Vanessa Ribeiro e não vive da música. Todo o dia se levanta para exercer a função de cartazista, e aos finais de semana, assume o papel de percussionista do Macaco Velho. “O mercado da música é muito difícil em Santos, falta oportunidade para o samba de raiz.” O nosso bate-papo acontece nos intervalos da apresentação. Desde 2007, Choco integra o grupo que teve início a partir do Movimento Cultural Baixada Sambista, que tem por objetivo preservar, divulgar e enaltecer o samba tradicional. “Nossa intenção é exaltar antigos sambistas e revelar novos compositores”, me conta, entusiasmado, o rapaz que logo é chamado para voltar ao batente. Com o crescimento do pagode, o samba (principalmente o verdadeiro samba de raiz), perdeu o seu espaço na mídia. Em Santos, existem diversos grupos, porém, Choco es-

50

Os integrantes do grupo Macaco Velho

clarece que são poucos os que não se deixaram levar pelas vantagens financeiras do mercado da música. ”Nós nos dedicamos ao bom e velho samba de raiz. Já fomos taxados de radicais por não nos rendermos ao que vende, e sim, ao que é belo!” A noite vai caindo, can-

ções de sambistas consagrados como Ari Barroso, Dorival Caymmi, Zeca Pagodinho entre outros, e também canções compostas pelos próprios músicos, animam o público presente. No fim da entrevista, Choco fala pra que veio o Macaco Velho: “Nós visamos sim atingir


ARQUIVO PESSOAL

dando sangue e suor pelo samba em uma das suas apresentações

o grande público, levando ao conhecimento geral que o samba nunca vai ter seu espaço tomado pelo pagode. O samba não morreu; a verdadeira essência não se acaba.” Atualmente, integram o grupo Julio Cesar “Choco”, Éderson “Múmia” (ambos na percussão geral), Ale-

xandre Branches (no cavaco), Thiaguinho (no surdo), Marcos Vinicius “Kiko” (no pandeiro) e Fabinho (no violão). O Macaco Velho se apresenta às sextas no Bar Neuzeca (Júlio de Mesquita com Lucas Fortunato), aos sábados no Bar do Rafa (próximo à Lagoa da Saudade, no

Morro da Nova Cintra) e aos domingos no Estação Brahma (Av. Dr. Bernardino de Campos, próximo à Av. Francisco Glicério.) E uma novidade: a partir de 11 de abril, é a vez da Fênix Chopperia receber o grupo todas as segundas-feiras, no bairro do José Menino.

51


Coro e cores despertam 52

os sentidos no Coral Zanzalá DIVULGAÇÃO

Afinado e sem perder o ritmo, o Coral Municipal Zanzalá de Cubatão, encanta a todos apresentando um repertório diversificado. Da música erudita até o gênero popular o grupo vem se destacando no cenário musical. Felipe

dos

Santos

Abrem-se as cortinas! Senhoras e senhores desliguem os celulares, porque agora queremos convidar ao palco, o Coral Municipal Zanzalá. As luzes ficam mais fortes, o som das palmas mais estridentes. Homens e mulhe-

res de preto caminham para suas posições. Depois de alguns minutos e, em harmonia com a iluminação, as palmas vão diminuindo, até sumirem. Apesar disso, o desfile continua: são 60 cantores para inundar o local de cânticos com melodias e acordes típicos do


Aleluia de Handel, até as mais simples. Quando o Zanzalá se apresenta é fácil perceber suas peculiaridades. Simpatia, jovialidade e alegria, são alguns dos ingredientes que dão um tom diferenciado ao coral. Toda essa miscelânea de luzes, sons, cores, vozes de homens e mulheres, cenário e aplausos, compõem uma harmonia incomum, um som que vem do coração, inundando o palco e platéia como uma tsunami avassaladora.

O coração do Zanzalá tem nome: Fernanda Tavares Quando se relata a história do coral Zanzalá, é impossível não destacar Fernanda Tavares, que possui sua vida ligada ao coro. A regente faz parte do coral desde 1993, porém neste período, Fernanda cantava como contralto do grupo. Fernanda Tavares foi casada com o maestro e fundador do coral Zanzalá Rodrigo Augusto Tavares. Além de cantar no coral, ela era regente do grupo Renascista

DIVULGAÇÃO

som celestial. Esse ritual é comum para os componentes e equipe técnica, porém impressiona o público, pois as expressões fechadas, dos seus componentes, lembram, o coral Rundfunkchor Berlin, ganhador do 53º Grammy-Awards, em Los Angeles, na categoria “Música Clássica, pela gravação da ópera “L’Amour de Loin. As luzes, mesmo tímidas, contrastam com o preto dos ternos e blazeres dos cantores que, no decorrer do espetáculo, dão lugar a cores vivas. Azul, verde e branco compõem uma sintonia agradabilíssima que, em consonância com as palmas do público, ditam o ritmo, o que não é comum em apresentações desta natureza. Ao longo do show, o coral Zanzalá expõe sua característica principal: a simpatia. Embora seja um coral sério e de repertório refinado e variado, consegue interpretar, desde peças mais elaboradas, como

O coral em sintonia com a regente Fernanda Tavares

53


DIVULGAÇÃO

Fernanda recebe homenagem do diretor artístico de Cubatão, Roberto Farias

(outro grupo sustentado pela Prefeitura de Cubatão). A história de vida de Fernanda é completamente ligada também com a música. Mãe de quatro filhos, Nanda, como é conhecida, sempre conciliou suas atividades de dona de casa, musicista e professora de música no Colégio

54

Estela Maris em Santos. Após a morte do marido e Maestro Rodrigo Augusto, Fernanda foi indicada para assumir a regência do Zanzalá. Porém, o convite foi recusado, já que o falecimento do companheiro a deixou abalada. Ela indicou o músico Geraldo Marques (que oficializou o coral em 1993) que,

a partir daí, assumiu a frente do grupo. Com o passar do tempo, Fernanda casou-se com Geraldo Marques. Mais tarde, seus filhos Felipe Tavares e Juliana Tavares também músicos passaram a fazer parte do coral. Seu filho Felipe, hoje é o chefe dos baixos (o tom masculino mais grave) do coro.


da satisfação de pessoas que deixaram o grupo, para realizar seus respectivos sonhos: “é muito legal quando as pessoas nos deixam para realização de seus projetos pessoais. Um exemplo é a Márcia, que nos deixou para cantar ópera, que sempre foi o sonho dela” – afirma. Para a Nanda, no co-

Neste momento, a regente se emociona, pois se lembra de um querido integrante do coro: o tenor Edvaldo, que cantou durante muitos anos no grupo e hoje passa por sérios problemas de saúde que o distanciaram do Zanzalá. O coral possui um termômetro, um coração que pulsa e dita o

DIVULGAÇÃO

A união com Fernanda não deu certo e Geraldo deixou a direção do Zanzalá. Com isso, Nailse Machado (hoje exercendo o cargo de assistente de regência do coro), assumiu o posto de regente, Após a saída de Nailse, Fernanda Tavares assumiu a regência do coral Zanzalá. E já completa aproximadamente oito anos no posto. Apesar da responsabilidade, Fernanda não acha que sua ligação com o Zanzalá a sobrecarrega. “Na verdade o coral Zanzalá e o Renascita me serviram de motivação. Ambos me deram forças para continuar” – afirma a regente. Fernanda demonstra muita satisfação quando fala dos companheiros de trabalho no grupo. Ela exalta a parceria com a sua assistente Nailse Machado: “o sucesso do coral se atribui também à parceria com a Nana. Nossa união é constituída de companheirismo, sinceridade, cumplicidade, respeito e amizade” – ressalta. A regente fala, ainda,

Zanzalá e Banda Sinfônica de Cubatão

ral há diversidade de talentos. Ao todo, o coral possui pessoas com muito potencial. Por isso, o sucesso do grupo. “Todos são importantes, inclusive os que não fazem mais parte do coro. Tenho saudade dos que não estão mais conosco” – diz Fernanda.

ritmo. Se a regente não estiver bem, é provável que o desempenho do coro não seja o mesmo. Mas, se ela está firme, o coral alcança seu potencial máximo. Definitivamente, Fernanda Tavares é o coração deste corpo artístico.

55


Coral Zanzalá: uma história de sucesso O Coral Zanzalá foi idealizado pelo maestro, Rodrigo Augusto Tavares, em 1978, tendo como principal objetivo a formação de um coro composto por alunos do Conservatório de Cubatão. Porém, o trabalho se expandiu e, em 1993, o coral foi oficializado, sob a regência de Geraldo Marques. A partir dos anos 90, apenas músicos profissionais foram incorporados ao grupo. Entretanto, deste período em diante, somente as pessoas aprovadas em processo seletivo realizado pela bancada dos chefes de “naipe” e da regente do coral podem fazer parte do grupo. Atualmente, cada músico recebe uma ajuda de custo no valor de R$ 600,00. É comum encontrarmos pessoas do próprio coral Zanzalá, que sobrevivem apenas da música. Este é o caso de Abner de Souza Santana, 20 anos que reside em Cubatão e

56

está cursando música na Universidade de São Paulo - USP. Abner precisou passar por duas avaliações para ingressar no coro. O jovem promissor prestou o concurso do Zanzalá e, após o anúncio do resultado, teve seu direito de exercer a função negada. A acusação era de que o teste não era legitimo, já que o pai e o tio de Abner faziam parte do coral. Mas o músico talentoso não desistiu - passou por outro teste, dessa vez na presença de especialistas de outros grupos artísticos da cidade. O resultado foi o mesmo: o direito de exercer a função de coralista do Zanzalá. Há três anos o músico faz parte do grupo e, além de cantar, toca um instrumento chamado fagote. O jovem músico de 20 anos percorre um caminho que o levará provavelmente a uma carreira de muitas realizações, provando a quem considera coral uma “coisa de velho” que está totalmente

Espetáculo Queen: Zanzalá e

fora de sintonia. Para Abner, o excesso de concertos em datas comemorativas, atrapalha um pouco sua rotina. “Mas acredito que por meio do profissionalismo, seriedade e capacidade do coral, podemos alcançar algo muito maior” – revela. Outro exemplo de talento, é o da musicista Maria Vitória, componente do coral desde sua fundação, em 1993.


DIVULGAÇÃO

e Banda Sinfônica de Cubatão

Além de cantar no grupo, ela é professora de Música. Para Maria Vitória, no Brasil, em termos culturais, é muito difícil sobreviver apenas de música. É preciso enfrentar o preconceito. Quando Maria Vitória resolveu estudar piano, sua tia achou que ela morreria de fome. Mas, pelo contrário, ela ficou mais forte. Maria Vitória hoje

exerce muitas funções na área musical. Trabalha e vive da música, pela qual afirma ser apaixonada tanto quanto pelo trabalho executado no coral Zanzalá. “Hoje, trabalho com formação de crianças e professores na área da educação musical. Acredito que a arte tem caminhos diferentes e o jovem pode viver da música. Porém ele precisa se dedicar, estudar muito e acreditar” – ressalta a musicista. A cantora evidenciou a emoção que o coral consegue transmitir para o público durante suas apresentações. “Se eu pudesse resumir em uma só palavra o coral Zanzalá, ela seria ‘vida’”, emociona-se, Maria Vitória. No entanto, os que não vivem somente da música têm a possibilidade de dividir as atividades do coro com outras funções. São várias histórias e diversas experiências dentro do coral. O Zanzalá possui pessoas exercendo funções muito distantes da música: desde motoris-

ta de caminhão de lixo até policial ou sargento da Marinha. O coral hoje não tem uma sede própria, o grupo se prepara no Conservatório Municipal de Cubatão, que cede gentilmente o espaço para os ensaios do coro. Apesar de o Zanzalá ser um coral desta magnitude, com tantas histórias, diversidades, conquistas e conhecido em boa parte do país, ele não tem sede própria. É isso mesmo! O coral não faz parte do Conservatório Municipal. Esse é um dilema bem antigo. Mas, o coral Zanzalá se mantém firme em seus objetivos, alcançando sucesso e destaque. A “Ópera do malandro”, interpretada pelo coro, recebeu elogios até do seu autor, Chico Buarque. É cantando e vencendo obstáculos que o coral Zanzalá tenta afinar seu destino de sucesso, mantendo-se firme rumo ao reconhecimento nacional e, quem sabe, internacional.

57


Que banda você toca? As bandas de garagem divulgam seu som em busca do reconhecimento, e em nome do amor à música. Quem entra nessa, precisa ser perseverante, dedicado e não ter medo do trabalho: suor, som e talento, sem dúvida são elementos essenciais para quem viver esse sonho. DIVULGAÇÃO

Larissa Pimentel Sucesso, fama, prestígio... ouvir milhares de fãs indo ao delírio, cantando, em coro, uma música do repertório. Esse é o desejo de centenas de bandas que correm atrás da oportunidade de viver da música. Santos é um celeiro de “bandas de garagem”. Todas desejam trilhar o caminho de glória, já desbravado por muitos músicos santistas que conseguiram reconhecimento entre o público da região - como é o caso da banda “General Tekila” - ou mesmo de todo Brasil, como fizeram os rapazes da “Charlie Brown Jr”. A “Analisando Sara” é uma dessas bandas santistas que correm atrás do sucesso. Os músicos estão na es-

58

A banda “Analisando Sara” existe há 5 anos trada desde meados de 2006. Com um estilo que eles mesmos classificam como experimental, atraem muitos admiradores. O vocalista Gilberto Júnior e o baixista Henrique Santana acreditam que, para vencer na música hoje em dia, infelizmente, é preciso ter dinheiro para custear as condições impostas por este universo. Gilberto, que já foi

barman do Studio G, diz que nessa área também vale aquela história do ter “quem indique” e, mesmo que a banda possua talento, muitas vezes ele não é suficiente. Além disso, para os integrantes da “Analisando Sara”, o Brasil ainda tem dificuldade de apreciar os artistas que fogem de um padrão mais voltado para o mercado. ”Brasileiro tem preconceito com a


DIVULGAÇÃO

arte em si”, diz o baixista da banda. Contudo, eles procuram não taxar negativamente as bandas que possuem estilos diferentes do seu, mesmo aquelas que têm forte apelo comercial, como é o caso da Restart. “Pelos menos agora o povo não olha com cara feia quem usa calça jeans justa”, brinca Gilberto, sorridente. Henrique, que além de músico é projetista de cinema, também acha que todos os artistas podem contribuir com a cultura. Discorda daqueles que depreciam o talento de artistas como o cantor teen Justin Bieber, que trabalham para atingir um público mais abrangente. “No seu filme, vimos que o menino, desde pequeno, tocava violão nas ruas para mostrar seu talento. Aqui, ninguém valorizaria um artista como esse, pelo contrário, se ele fosse brasileiro provavelmente seria menosprezado”, diz. Os músicos, que afir-

Eles já ganharam prêmio em concurso mam tocar por paixão, revelam que já dedicaram muito tempo à banda e não pretendem interromper o sonho. Querem, sim, viver da música e ter fama. Em suas músicas, buscam mostrar a realidade de experiências vividas por eles e pela socie-

dade. “Gostamos de criar coisas novas que possam acrescentar, e não fazer o que já existe”, alega Henrique. O grupo ganhou o prêmio de “melhor banda underground”, em concurso realizado na internet. Mas, mesmo depois do reconheci-

59


mento do trabalho pelo público virtual, eles não se deslumbram e tentam melhorar cada vez mais. Apesar de poderem desfrutar dos inúmeros benefícios das redes sociais, principalmente no que se refere à divulgação, os músicos acreditam que se sentiriam ainda mais realizados se todo o sucesso que já alcançaram no mundo virtual se repetisse na vida real. E, para isso, sabem que ainda precisarão ralar muito. Eles iniciaram a gravação de seu terceiro EP (seqüência de gravações mais longa que um single e mais curta que um álbum) no início desse ano, e se mostram empolgados com o novo trabalho. Também gravaram um videoclipe, que ainda não foi lançado. “Passamos a noite do ano novo pensando e bolando coisas para esse disco”, contam. Um dos grandes estímulos para que dêem continuidade ao trabalho, é saber que as

60

músicas que compõem, de alguma maneira, ajudam ou inspiram seus fãs. “Quando recebemos algum elogio às letras e às músicas que compomos, ficamos imensamente felizes. Acho que esse é o caminho da realização”, conclui Henrique. Versatilidade é a aposta dos espaços que acolhem Bandas de Garagem Estúdio de gravação e ensaio de segunda à sexta-feira e espaço para shows durante o fim de semana. O Stúdio G, localizado na Carvalho de Mendonça, 80, em Santos, é o reduto das novas bandas da região. É lá que diversos músicos se apresentam para divulgar seu som e ter a oportunidade de despontar na carreira. Nos finais de semana, a pequena casa abriga cerca de duzentas pessoas nos dias mais procurados. Tamanho suficiente para essas bandas começarem a conquistar seu

Com estilo experi espaço. Um dos organizadores de shows no Studio G, Khayan Malantrucco, de 21 anos, era um aspirante a músico quando decidiu organizar apresentações na casa. Hoje um dos eventos que organiza, o festival RockStuff tem cinco anos de existência. Khayan diz que nesse tempo muita coisa mudou. Principalmente o envolvimento das ban-


DIVULGAÇÃO

imental, eles estão gravando o terceiro EP das com seus próprios shows. Ele explica que para cada banda se apresentar, precisa vender vinte e cinco ingressos. Esse dinheiro é para bancar aluguel do estabelecimento e as despesas necessárias com o show. Caso a banda consiga vender mais que vinte e cinco ingressos, o lucro é divido entre os músicos e o organizador do evento. Contudo, Khayan

diz que muitas bandas consideram difícil vender esse número de convites. Para ele, essas não estão empenhadas o suficiente para divulgar seu som e conquistar seu público. “Cada banda tem em média cinco integrantes, todo mundo tem cinco amigos que possa comprar um convite de um show”, afirma. O jovem empreendedor acredita que mui-

tos têm dificuldade para divulgar o próprio trabalho... e aí, sobra para ele a responsabilidade de noticiar o evento. Para isso, Khayan conta principalmente com as redes sociais. São elas que o ajudam a atrair o público para seus eventos. De acordo com o organizador, ter a casa cheia é sempre importante porque ele aposta no evento antes mesmo que aconteça: tem que bancar os custos do evento e assinar os contratos de locação. “Quando uma banda dá para trás, eu tenho que me virar para não sair no prejuízo”. Khayan lembra que certa vez uma das bandas não compareceu ao próprio show, e ele precisou substituíla às pressas. Em casos como este, ele conta com as bandas coringas. “Essas bandas geralmente não precisam vender convite, já têm seu público e acabam, às vezes, compensando outras bandas”, diz.

61


Fique ligado na program

ARTE Arte por todos os lados na UNISANTA! Alunos dos cursos de Arquitetura e Urbanismo, Design de Interiores e Produção Multimídia da Unisanta desenvolvem trabalho artístico em homenagem ao artista e designer brasileiro Athos Bulcão. Pilastras, paredes, escadas, elevadores e esquinas do campus, que fica na rua Oswaldo Cruz, 277, em Santos, vão receber os projetos artísticos criados pelos alunos sob a

62

POESIA orientação do professor Gilson de Melo Barros. Vale a pena conferir! Atividades gratuitas no Tam Tam O Projeto Tam Tam oferece gratuitamente atividades educativas e culturais para crianças a partir de 5 anos e para adolescentes. Os interessados devem entrar em contato através dos telefones 91687449 ou 9104-3312, ou enviar e-mail para contato@tamtam.art.br.

Sarau Lítero Musical O Grupo Poetas Vivos homenageia o escritor Vicente de Carvalho no Café Teatro Rolidei. O “Poeta Mar”, que teve Santos como a inspiração para compor seus poemas e músicas, será celebrado no próximo dia 28 de abril, mês de seu nascimento e morte. O sarau terá início às 19 horas. O Rolidei fica no 3.º piso do Centro Cultural Patrícia Galvão, na Av. Pinheiro Machado, 48.


mação cultural da cidade! TEATRO Drama e romance no Coliseu De 30 de abril a 1º de maio estará em cartaz, no Teatro Coliseu, em Santos, a peça Mente Mentira (A Lie of de Mind), considerada a obra prima do premiado autor norte-americano Sam Shepard. Sob a direção de Paulo de Moraes, a montagem que tem no elenco Malvino Salvador e Fernanda Machado, conta a história de duas famílias afetadas pela drástica separação de seus filhos. Tensão, romance, e situações engraçadas do cotidiano conduzem o espectador a questionamentos sobre a própria vida. Sessões aos sábados, 21:30h e domingos, 20h. O ingresso custa R$50,00. Estudantes, idosos e professores pagam meia entrada. Classificação: 16 anos. O Teatro Coliseu fica na Rua Amador Bueno, 237, no Centro de Santos. Tel.: 4062-0016

DANÇA A Quasar Cia. de Dança apresenta, no dia 14 de maio, às 21 horas, no Sesc Santos o espetáculo “Por este tão próximo”, que trata da relação com o próximo, seja ele conhecido ou não, de forma pessoal e íntima. Questiona os limites da privacidade, as possibilidades de

escolhas sem a pretensão das respostas certas. Humor e irreverência dão a tônica da apresentação. Os ingressos podem ser retirados a partir de 10h no dia 14 de maio, na bilheteria do Sesc, que fica na Rua Conselheiro Ribas, 136, Aparecida. Tel.: 3278-9800

63



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.