VENTURA Turismo ecológico e de emoção
Junho de 2011, ANO 1 Nº 1
Conhece essa noiva? A cachoeira Véu de Noiva é uma das mais belas paisagens naturais da Baixada Santista, mas pouco visitada
ECOLOGIA EM PARCERIA COM EMPRESAS Passeio ecológico ajuda a resolver problemas entre funcionários e exalta suas qualidades
Voo de parapente Nossa reportagem fez essa aventura e conta como foi
Faça as malas Os cuidados que você precisa tomar antes de sair para acampar
E +: Tirolesa, rapel, trilha, praia, canoagem no mangue e passeio de barco pelo rio
Nessa edição nós preparamos... 6 | 15 segundos de muita emoção!
Nossa repórter fez tirolesa e descreve as sensações para você! Conheça também a Trilha do Conde.
12 | É de subir nas pedras!
No Guarujá, quem gosta de esportes radicais pode fazer rapel!
14| Além da visão!
50 |
Uma noiva que todos olham, mas não visitam!
O caminho até a cachoeira Véu de Noiva é difícil, mas a paisagem recompensa!
Trilha na Serra do Guararu leva visitante à ruína. Conheça a história de um monitor com deficiência visual. 32| Mangue, árvores
18 | Ecologia e trabalho unidos!
e guará-vermelho!
Visões que a canoagem no manguezal proporciona! A importância da preservaEmpresas recorrem ao ecoturismo para solucionar ção ambiental também faz desavenças de funcionários. parte do passeio.
36 | Por cima do rio de Voo de parapente e quem Itanhaém! 24 | Como uma ave!
vive por isso. Leia ainda sobre o contraste entre a cidade e o meio ambiente. 4 | VENTURA - Junho/2011
Natureza e emoção: a Gênese da Ventura
Passeio de barco mostra as belezas naturais que quase ninguém vê.
40 | Três dias de aventura!
Expedição à Ilha do Montão de Trigo promete muitas emoções.
46 | Gosta de surfar?
A Prainha Branca é uma ótima opção. Saiba por quê!
56 | Quer acampar?
Veja o que preparar antes e no que prestar atenção durante!
Diante da tecnologia e das cidades complexas, estamos cada vez mais estressados, trancados horas no trânsito ou em frente ao computador. Esquecemos de respirar o ar puro, passear com a família e contemplar e curtir a natureza. É isso o que a revista Ventura trará mensalmente para você — a oportunidade de conhecer novas paisagens que estão o tempo todo perto de você na Baixada Santista, mas que são pouco conhecidas ou mesmo lembradas. Nessa viagem pela Ventura, há aventuras para todos os gostos e bolsos! Da canoagem no mangue ao parapente. Do esporte solitário à expedição à mais alta e inacessível cachoeira da região — a Véu de Noiva. A Ventura quer que você reviva o espírito aventureiro que há dentro de cada um de nós. Leia, aproveite as dicas e lembre-se: tudo isso só é possível porque a Natureza existe. Boa leitura e boa viagem! Caroline Leme, Editora VENTURA- Junho/2011 | 5
JÁ PENSOU EM VOAR?
FOTOS: VITOR RICARDO
Um pouco ave, um pouco Tarzan. Sensações da tirolesa O Instituto Litoral Verde promove atividades que pretendem nos aproximar da natureza. Nossa reportagem foi até lá, viveu a aventura e conta como foi Joanna Flora “Voar não é o que você pensa na cabeça, mas sim o que sente no coração”. Com essa frase, no filme Rio, o tucano Rafael tentou explicar à arara Blu como é voar. Posso dizer que foi essa a sensação que tive ao fazer tirolesa. É claro que para quem pular de asa-delta ou parapente, esse tipo de sensação faz bem mais sentido. Mas vou chegar nesse ponto. Morro de medo de altura, seja de um primeiro andar ou de estar dentro de um avião. Assim, qualquer atividade que envolva estar mais de um pé acima do chão já me arrepia a espinha. Porém, existem momentos em que precisamos aceitar e enfrentar de-
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safios. Considero essa reportagem um deles. Não sabia o que me esperava, mas (ainda) não estava com medo. O Instituto Litoral Verde é uma ONG que tem como objetivo aproximar as pessoas da natureza e da conscientização de preservação ambiental. Uma das atividades que a entidade promove é a tirolesa, na qual um cabo aéreo posicionado em dois pontos fará com que o praticante deslize por meio de roldanas presas a um cinto. A aventura não é feita sem a presença de um monitor, que será o responsável por frear o praticante quando ele chegar perto do ponto final. Para aguardar a chegada dele fui fazer uma das ramificações da Tri-
lha do Conde. O topo, de onde quem se aventura a praticar a tirolesa deslizará, está localizado em uma das partes da trilha. Aproveitei para dar mais uma olhada na altura e por onde eu iria passar, isso para ir me acostumando. — Tem um galho na direção da corda — comentei com um dos funcionários do Instituto que fez a trilha conosco. — Relaxa. Quando você for saltar, o cabo cede e aquele galho vai passar bem longe. Essa foi a resposta que obtive. Lá se foi uma desculpa que eu tinha para adiar o medo. Quando terminamos a trilha, o monitor não só já tinha chego como já estava com todos os equipamentos de segurança e necessários
Nossa repórter fazendo a tirolesa para poder narrar essa aventura VENTURA- Junho/2011 | 7
Com a ajuda de um monitor são colocados os equipamentos de segurança necessários. Depois, é só aproveitar para a atividade, separados. Não dava mais para fugir. Era a hora de colocar o cinto, capacete e saltar. O cinto é ajustado no corpo e preso a uma fita que será encaixada no na roldana que fica no fio da tirolesa. Próximo passo — capacete, que também recebe os devidos ajustes para quem for utilizá-lo. Estava na hora de subir até o ponto do salto. Junto com quem for fazer a tirolesa, vai um responsável que prenderá a fita no cordão de aço que vai até o ponto final. Enquanto isso, o monitor fica perto do fim 8 | VENTURA - Junho/2011
do passeio para arrumar aquela corda, citada anteriormente, que servirá de freio. Eu já estava pronta para salvar, bastava um “ok” do monitor e a aventura começaria. Em meio a brincadeiras de que já encontraram uma onça na região por onde a tirolesa passa e que eu deveria abrir os braços para dar mais emoção, o salto foi autorizado. Não é necessário um empurrãozinho ou qualquer ajuda desse tipo. A partir do momento em que você vai para a ponta da pedra e “senta”, a pressão do peso abaixa a corda e a pessoa começa
a “voar”. Não consegui abrir os braços como me foi sugerido, mas isso não interferiu em nada na minha emoção. Você passa por dentro de um túnel de árvores e plantas que te dão uma sensação que jamais se tem na cidade. Tudo o que eu já tinha visto de flora pela trilha, pareceu nada perto do sentimento de passar no meio das misturas de árvores. A corda acabou virando e eu não desci de frente. E sim, acabei indo a maior parte do tempo de costas para o ponto final. Ou seja, pude olhar com mais atenção todas aquelas folhas, galhos e
à minha volta, que aos poucos iam se tornando mais distantes. “Aos poucos” é forma de dizer, já que tudo ocorre muito rápido, mas dura o tempo suficiente para sentir uma liberdade digna de Tarzan, só que com roupa. Lembrei também de Ed Mota: “Dois mundos distintos são. Deixa o seu destino agir, guiar seu coração por sobre as árvores viver”. Definitivamente é tipo de sensação que você só vai sentir nessa atividade e nesse lugar. A apenas um pouco mais de uma hora da cidade de Santos, o Instituto Li-
toral Verde tem em volta a Mata Atlântica. Um local totalmente diferente do que nós, seres urbanos, estamos acostumados. Não é apenas quando se chega ao instituto que se percebe as paisagens. Por todo o caminho da estrada já é possível se maravilhar com a natureza. Ter a oportunidade de conhecer essa região e ainda realizar essa atividade é o tipo de aventura que todas as pessoas deveriam fazer pelo menos uma vez na vida. Afinal, não é em qualquer lugar que você pode se sentir um pouco ave ou um pouco Tarzan. Além
das árvores e sons de pássaros que são possíveis de perceber no caminho até o ponto final da tirolesa, ainda corre água que vem da piscina natural e se transforma em uma pequena cachoeira. A vida é muito mais do que carros, prédios e poluição. Que existem outras formas de viver totalmente desconhecidas, mas que valem muito a pena o nosso tempo para desvendá-las. A tirolesa dura um pouco mais que 15 segundos, mas proporciona uma sensação tão renovadora. Quando acaba, você quer saltar mais e mais. VENTURA- Junho/2011 | 9
OS CAMINHOS DA MATA
JOANNA FLORA
A Trilha do Conde
Esculpidas pela natureza: No meio da trilha, surgem piscinas naturais com água vinda de uma cachoeira
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Enquanto aguardava para fazer a tirolesa, aproveitei e fiz uma das ramificações da Trilha do Conde. A atividade é dividida em partes, pois existem níveis de dificuldade. Fiz a mais curta, já que estava guardando minha energia para a tirolesa. Para fazer a trilha, é imprescindível que se vá de tênis. É a única forma para conseguir firmar os pés nos troncos e pedras, a fim de tomar impulso. Os funcionários do Instituto Litoral Verde alertam para não se apoiar em algumas árvores, pois dependendo da espécie têm espinhos. Por mais que se perca a atenção na caminhada para admirar a paisagem, é necessário contê-la para que tombos e machucados sejam evitados. As pedras têm limo e a chance de escorregar é muito grande. Digo isso, pois escorreguei várias vezes — mas não caí — e isso rendeu um sacrifício para tirar depois toda a lama do tênis. Sem contar que, às vezes, os passos precisam ser largos; pessoas pequenas como eu têm certa dificuldade e acabam pisando em falso. Deixando as instruções de segurança de lado, e partindo para os detalhes da trilha, não é como deslizar em um fio em alta velocidade. Porém, é preciso ter “pique” para aguentar o passeio, que vale totalmente o esforço. São subidas e curvas que exigem equilíbrio. Não existe
no que se apoiar. Na trilha, não vi nenhum animal. Em todo o trajeto, só ouvi a sinfonia dos pássaros. A paisagem vista na tirolesa pode ser encontrada em maior abundância na trilha, já que o visitante passa do lado e por cima de todo esse verde. Em alguns trechos, é até possível encontrar pequenas cachoeiras que formam minipiscinas naturais. Nessa época do ano, quando o frio está quase batendo à nossa porta, se banhar nas piscinas fica apenas na vontade. Mas no verão é uma ótima opção para se refrescar ou mesmo relaxar com a água batendo no corpo. A ida parece bem maior do que a volta, já que no retorno você já se acostumou por onde vai passar. Assim, consegue aproveitar melhor a paisagem. Os funcionários do instituto fazem esse passeio algumas vezes na semana, para que os galhos que estejam no meio do caminho possam ser removidos e o visitante não se machuque ou tenha dificuldade para atravessar. Ainda assim, durante a trilha, eles levam um facão, caso algum obstáculo precise ser retirado. A primeira ramificação da trilha dura dez minutos e custa R$ 10,00 por pessoa. Mas as paisagens com as quais o visitante depara e a adrenalina, por ter que tomar cuidado por onde passa, valem o preço. (J.F.)
Áreas históricas dos séculos 15 e 16
O Instituto Litoral Verde zela pela preservação da Reserva Particular de Patrimônio Natural Tijucopava, onde ele está instalado. O Centro de Estudos do Meio Ambiente, que também fica dentro da reserva, disponibiliza alguns de seus espaços para outras atividades. Como por exemplo, a sala de artesanato. Lá, artesãos da região podem expor e vender produtos. É preciso passar por esse recinto para chegar à sala de palestras. Qualquer entidade pode ministrar esse tipo de evento ou treinamentos voltados para o meio ambiente ou preservação ambiental. Alunos que tenham interesse em fazer estudo de campo também podem utilizá-la mediante agendamento com antecedência e pagamento
de taxas de manutenção. Existe também uma área de treinamento em manutenção de trilhas, ecoturismo e prática de esportes de aventuras. As trilhas são interpretativas e passam pelo Manancial Bariguy com pequenas quedas d’água e piscinas naturais e áreas históricas dos séculos 15 e 16. Bem como restos de uma construção de uma usina geradora de energia particular. Para praticar qualquer atividade no Instituto Litoral Verde é preciso ligar antes. Assim, poderá marcar o passeio em um dia que algum monitor esteja disponível. Os telefones são (13) 3305-1512 ou 3305-1752. O Instituto Litoral Verde está localizado no Km 14,5 da Estrada Guarujá-Bertioga.
Espécies vegetais e animais Pássaros— Cambacica, periquito, tié-da-mata, tucano-do-bico-verde, tucano-do-bico-preto, maritaca verde, beija-flor, bem-te-vi, sabiá-da-mata, chupim (pássaro preto), tico-tico, biguá, andorinha, tangará, sanhaço, surucuá grande- de-barriga-amarela, saí-verde. Animais — Preguiça-de- três- dedos, furão, cachorro-do-mato, quatí, esquilo, cotia, rato comum, tatu-peba, gambá, cobra-cipó, perereca, sapo, calango. Flores exóticas — Bromélias de diversas espécies e helicônias, entre outras Árvores — Diversas espécies arbóreas de grande porte, cipós de vários diâmetros, trepadeiras lenhosas, epífetas (plantas que vivem de outras plantas), samambaia-açu, gesneriáceas (em fase de extinção), gramíneas, manacás, quaresmeiras. Árvores Frutíferas — Cajá-manga, jaqueira, goiabeira, limoeiro. VENTURA- Junho/2011 | 11
UM DIA DE HOMEM ARANHA
ARQUIVO DO INSTITUTO LITORAL VERDE
O chamado do rapel Realizada no Guarujá, a atividade é opção para quem deseja fugir da rotineira visita às praias Vagner de Lima
Saí de casa às dez da manhã de um sábado de maio para fazer rapel no Centro de Estudos do Meio Ambiente, mantido pelo Instituto Litoral Verde. São 45 hectares de Reserva Particular do Patrimônio Natural. No local, vivem 20 famílias que já estavam instaladas ali antes de virar reserva. Agora, as invasões estão proibidas. Foi só passar pelo portal no começo da estrada que identifica o início do Parque Serra do Guararu e o calor que eu estava sentindo transformou-se em uma sensação de leveza. Sentir o ar puro entrando faz quase seus pulmões sorrirem. Menos de dez minutos de estrada e uma tímida placa identifica a entrada do Cema. Para quem passa apressado de carro deve ser difícil mesmo reparar que ali há a possibilidade de se praticar o rapel. O local é pouco visitado. A Prefeitura do Guarujá se preocupa mais em divulgar as praias e o instituto acaba fazendo parcerias com agências de turismo para atrair mais visitantes. Durante a semana é 12 | VENTURA - Junho/2011
preciso agendar a visita. Mesmo aos fins de semana, é comum não aparecer ninguém por lá. O público em geral são escoteiros, escolas ou gente que tem paixão pela natureza. Biólogos interessados em fotografar aves e turistas de outros países visitam o local. Moradores do Guarujá ou de outras cidades da Baixada Santista é muito rara. De qualquer modo, aos desatentos que não costumam reparar à sua volta, esqueçam um pouco as praias do Guarujá e se arrisquem a fazer um programa diferente. A rampa até chegar onde fica a área onde se pratica o rapel é íngreme. Para os sedentários, pode tirar o fôlego. Já imaginei que teria de escalar um paredão enorme. Mas pelo contrário, o lugar é super acessível. Crianças, jovens, adultos, qualquer um pode fazer o rapel, como me contou o instrutor, Eduardo Macena, que foi extremamente atencioso e prestativo. A área onde está instalado o instituto é enorme, e abrange desde a estrada Guarujá-Bertioga até a praia do outro lado do morro. Uma trilha que ain-
da espera regulamentação para começar a funcionar levará o visitante até o alto do morro onde se pode avistar todo o canal de Bertioga. Certamente, por ali, há séculos, os nativos podiam avistar a chegada de inimigos. Se ali passaram índios, portugueses ou corsários não se sabe. Essa certeza só virá quando forem concluídos os estudos da Universidade de São Paulo sobre um sítio arqueológico perto da trilha. É comum os monitores encontrarem pedaços de utensílios domésticos antigos espalhados pela área. Eles são todos guardados e se evita chegar perto do local. Mas o estudo ainda está em fase inicial por falta de investimento. Talvez esses habitantes tenham praticado rapel sem saber. Sei lá, fugindo de algum inimigo. Tinha chegado a hora de eu experimentar a sensação. O rapel foi criado em 1879 na França por Jean Charlet-Stranton, que se baseou na técnica do alpinismo. Rapel, em francês, é algo como “chamar”. É como se você fosse desafiado a fazer o rapel. A atividade, que custa
Na hora do rapel é necessário tomar cuidado com o limo De crianças a idosos, essa é uma ótima opção de lazer em meio à natureza R$10,00, tem que ser feita com segurança. Capacete e o equipamento de proteção são fundamentais. Depois de equipado, é só segurar na corda com uma luva para não machucar a mão, controlar o atrito entre a corda e uma peça de aço que parece um oito, e ir descendo. Nem precisa de muito esforço. Você deve tomar cuidado só com o limo das pedras para não escorregar, como
aconteceu comigo uma vez durante a atividade. O tempo depende de você. Acredito que tenha descido em dez minutos. Entre as pedras corre água que vem da nascente e desce até o canal de Bertioga que margeia a estrada lá embaixo. A sensação é ótima, o contato com a natureza te deixa leve. Passou tão rápido que eu até esqueci dos pernilongos que me
incomodavam, rondando minha cabeça enquanto conversava com o monitor. Para quem tem medo de altura, não se preocupe. A pedra onde é feito o rapel nem é tão alta, de lá de cima até a pequena piscina natural que se forma embaixo quando você desce, o trajeto deve medir no máximo dez metros. Super recomendado, para qualquer idade, desde que a pessoa se sinta segura. VENTURA- Junho/2011 | 13
FOTOS: TÁSSIA MARTINS
ECOTURISMO E HISTÓRIA SE MISTURAM
Trilha ecológica além dos cinco sentidos
No Guarujá, o exercício nas matas pode ser feito na Serra do Guararu. Nossa reportagem foi até lá conferir Tássia Martins
FOTOS: tássia martins
Quem for se aventurar nessa trilha deve estar atento o tempo todo para não se machucar
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O cenário é comum para os aventureiros. Já para uma recém-aventureira como eu nem tanto. A trilha estreita em meio à mata apresenta poucas dificuldades. Alguns barrancos próximos de onde se caminha ou então a mata fechada em pontos históricos. Isso mesmo, os visitantes que entrarem na Serra do Guararu irão deparar com destroços dos séculos 15 e 18. O caminho até o local é uma atração à parte. Partindo do Centro do Guarujá, mais precisamente da Praça dos Expedicionários, na Praia de Pitangueiras, seguimos pela rodovia SP 61 — Ariovaldo de Almeida Viana ou Guarujá-Bertioga. No Km 5,5, o aviso: “Reserva da Serra do Guararu. Respeite a Natureza”. Seguimos pela estrada até nos esquecermos que estamos no meio da “selva de pe-
dras”, pois a bela paisagem verde começa a predominar e um lindo céu em tons de azul e branco emolduram a paisagem. O tempo que se leva para chegar até o local é de aproximadamente 40 minutos de carro. A entrada da trilha fica bem perto de Bertioga, antes de chegar à balsa que dá acesso à cidade. Deixamos o carro estacionado próximo a um bar que beira à estrada e logo começamos a caminhada. Confesso que não estava preparada fisicamente; então, adentrei a mata com receio de acordar no dia seguinte com dores musculares de uma recém-aventureira. Tranquilizo-me ao ser informada pelo guia da Secretaria de Turismo, João Henrique dos Anjos, que não há muitos obstáculos na trilha. Na rota da Serra do Guararu, o cheiro de mato predomina. Muitas árvores nativas da Mata Atlântica, como os ipês
e quaresmeiras, florescem no começo do ano. As sementes de algumas plantas servem de alimento para os ligeiros esquilos e pássaros. Aliás, em um ponto especifico da trilha, um cheiro forte impregna no nariz e logo se vê manchas brancas na vegetação. Ali é o “banheiro” dos pássaros. Depois de caminhar cerca de 20 minutos chegamos às Ruínas arqueológicas da Armação das Baleias. Em seguida, encontramos o Forte de São Felipe e a Ermida de Santo Antônio do Guaibê. João Henrique conta que a Armação das Baleias teria dado início à industrialização do País, já que foi a primeira fábrica a produzir óleo de baleia, que servia na produção de argamassa para construções. Já no Forte foram celebrados os primeiros cultos religiosos pelo padre José de Anchieta, em terras tupiniquins. VENTURA- Junho/2011 | 15
Hoje, o cenário atrai as mais variadas plantas, borboletas de asas coloridas, que no silêncio e calmaria do lugar até se deixam ser fotografadas. Em contraste, algumas paredes dos destroços pichadas por vândalos. O passeio segue e logo deparo com outra trilha: a de acesso para a Prainha Branca. Apesar das picadas de mosquitos do tipo borrachudo, no fim do passeio, o saldo é positivo. Seguimos até a trilha que leva à Prainha Branca. Lá me surpreendi com uma vista paradisíaca. O sol estava se despedindo e em
contraste com o mar, formou-se um lindo cenário. Depois de nos reabastecermos com água gelada, João Henrique e eu enfrentamos mais uma longa caminhada, com descida acentuada. Se você for um aventureiro iniciante, não se esqueça de ir com uma roupa leve (tipo de ginástica), passe repelente, não leve bolsas pesadas ou muitos acessórios. Uma garrafa de água é o suficiente — isso se só for fazer a caminhada histórica, que dura cerca de 45 minutos. Além disso, o passeio só será possível, quando não es-
tiver chovendo. Próximo à balsa existem estacionamentos, inclusive particulares, que custam R$ 10,00 o dia inteiro. Há também alguns barzinhos. Não precisa pagar para entrar na trilha. A melhor rota é a opção do caminho de baixo, para quem vai conhecer as ruínas. A outra passagem leva ao paraíso da Prainha Branca, habitado por famílias de pescadores. Ali existem pousadas simples que recebem surfistas e turistas que gostam de lugares incomuns e com placas indicativas “Prainhaterapia”.
ARQUIVO PESSOAL
Um monitor especial
Miguel, 13 anos e deficiente visual, é responsável por mostrar o local para os turistas Miguel Almeida Flávio é um dos monitores da Serra do Guararu. O garoto de apenas 13 anos leva turistas do mundo inteiro para conhecer o lugar. Até aí tudo bem, se não fosse por um detalhe. Miguel é cego. Sua deficiência visual no olho esquerdo lhe faz ter apenas 5% de visão e no olho direito, 10%.
Ruínas, flora e animais são algumas das paisagens proporcionadas por esse roteiro 16 | VENTURA - Junho/2011
Ele quebrou os tabus e soube enxergar muito além. Incentivado por Silvia Cabral, coordenadora do grupo de monitores da Serra do Guararu, o garoto aproveitou a oportunidade e hoje é o monitor mirim do local. Miguel já guiou cinco grupos, sempre com crianças deficientes visuais. No total, 25
crianças já percorreram o percurso histórico da Serra do Guararu, sendo guiadas por ele. No percurso, é acompanhado por algum adulto, mas com o apoio de uma corda com oito nós ele indica as partes culturais e o tipo de vegetação da mata atlântica sem nenhuma dificuldade. (T.M.)
A Serra do Guararu está aberta à visitação todos os dias. Quem preferir visitála acompanhado de um monitor local precisa agendar pelo telefone (13) 33056119. Outras informações na Secretária de Turismo do Guarujá: (13) 3344-4600. VENTURA- Junho/2011 | 17
ECOLOGIA PODE SER A SOLUÇÃO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Quando trabalho e ecoturismo caminham juntos Empresas buscam no turismo ecológico uma alternativa para solucionar problemas entre funcionários Elizabeth Soares Muito verde, cheiro de mato e de terra, sons de pássaros e outros animais silvestres quebrando o silêncio... e colegas de trabalho reunidos. Não, não é um sonho daqueles em que personagens e ambientes da sua vida, que aparentemente não têm relação alguma, misturam-se em uma imagem que não faz sentido. Essa cena é real e já aconteceu algumas vezes nas trilhas, cachoeiras, parques ecológicos e travessias da Baixada Santista e do Vale do Ribeira. De acordo com algumas agências especializadas em turismo ecológico, é possível despertar características para atuar no mundo corporativo, a partir de experiências que aproximem os homens da natureza. Liderança, autoconfiança, capacidade de ouvir e cooperar com o grupo são qualidades que as empresas querem que venham à tona ao optar por essa alternativa nada 18 | VENTURA - Junho/2011
convencional de treinamento. Cercada pelo mar de antigas e modernas construções, a Harpya, empresa de Ecoturismo que há 22 anos atua em Santos, se assemelha a uma ilha verde, um pedaço de natureza perdido no espaço dominado pelo concreto. Ao entrar pelo portão da modesta casa, que parece totalmente feita de materiais naturais, fui recebida por Nina, uma cadela dócil e carismática. Sua dona, Lucia Valente, é a responsável pela agência. Há cinco anos ela desenvolve o trabalho de ecoturismo voltado para empresas. Com um sorriso que tenta ao mesmo tempo me cumprimentar e se desculpar pelo arroubo de felicidade com que Nina me recebeu, ela abre a porta da Harpya, que em nada lembra as suntuosas e pedantes construções atuais. Lucia conta um pouco da história desse tipo de atividade que pouca
O rio jaguareguava é uma das programações da Harpya para as empresas gente conhece. Seu interesse por essa trilha do ecoturismo começou com o Projeto Cooperação, um trabalho de pós-graduação desenvolvido na Universidade Católica de Santos, do qual participou. O projeto pretendia desenvolver o cooperativismo em empresas,
mas com atividades que se davam em ambientes urbanos. Com a troca de experiências entre grupos de São Paulo e de outras cidades, durante eventos que reuniam agências de ecoturismo, surgiu a ideia de transferir este tipo de trabalho do ambiente urbano para
o ambiente natural. Desde então, Lucia realiza passeios ecológicos com atividades específicas para a necessidade de cada empresa. Nessa caminhada, muitas histórias foram marcantes. Ela conta que, certa vez, o proprietário de um salão de beleza procurou
a agência para tentar inibir um problema aparentemente comum nesse ambiente, mas que dificultava o a ascensão do seu negócio: a fofoca. “Ele dizia que um funcionário sabotava o outro e isso o fazia perder clientes”, lembra. Neste caso, o roteiro do passeio foi voltado para a manifestação e o reforço das características positivas de cada membro do grupo e, em seguida, o cooperativismo. Ao longo da conversa, notei que o mundo corporativo tem sede de profissionais que se destaquem por qualidades que beneficiem a equipe e, consequentemente, mantenham ou melhorem o nível da produção. A natureza das “virtudes” exigidas no perfil do funcionário varia de acordo com a expectativa do mercado. Considerando essa diversidade de metas e perfis, a agência de ecoturismo sugere as trilhas adequadas aos objetivos da empresa-cliente, respeitando a faixa etária e a capacidade física dos funcionários para determinadas atividades. O passo seguinte é planejar as estratégias para atuar com o grupo. Para isso, Lucia se reúne com o gerente Paulo do Carmo e uma equipe de monitores que acompanharão o grupo pelo “desafio ecológico”. Nessas atividades, os participantes VENTURA- Junho/2011 | 19
A empresa especializada em turismo ecológico promove passeios com a finalidade de aflorar são estimulados a trabalhar características como capacidade de cooperação, liderança, entre outras. Para que os impactos humanos no ambiente natural não sejam danosos ao ecossistema dos locais de visitação, os grupos aceitam no máximo 15 pessoas. “Caso a empresa tenha um número maior de funcionários, estes são divididos. Isso evita, por exemplo, que o cheiro de perfumes ou o excesso de pessoas pisando nos mesmos locais do solo gerem incômodos à fauna e prejuízos à flora”, explica Lucia. Mas este trabalho vai além do despertar para características individuais e coletivas adormecidas, segundo Paulo do Carmo, que trabalha na Harpya há dez anos. Ao longo das atividades, os monitores refletem junto ao grupo questões ligadas ao consumo, sustentabilidade, respeito à natureza e à relatividade 20 | VENTURA - Junho/2011
do conceito de riqueza e pobreza. Para os responsáveis pela agência, essas reflexões frequentemente são contrárias à visão das empresas-clientes, interessadas no aumento da produção e dos lucros. “Por isso, precisamos ser sutis”, conclui Paulo. As consequências de uma experiência como esta podem gerar mudanças íntimas importantes, com reflexos tanto na vida profissional quanto pessoal dos participantes. Foi exatamente o que aconteceu com Ana Claudia Ometti em um desses passeios, promovido pela empresa de logística internacional na qual trabalhou até 2006. Formada em comércio exterior, na ocasião era
assistente de importação. Ela lembra que no dia do passeio participou de várias atividades e interagiu com pessoas diferentes das quais tinha maior contato na empresa. “Fomos separados em grupos, nos quais as panelinhas foram desfeitas”. Envolvida pelo contato com a natureza, talvez inebriada pela naturalidade, Ana Claudia resolveu remover o verniz social. Limpa, viu-se melhor. E viu também seus companheiros de trabalho. Despidos dos crachás e dos títulos, todos estavam nas mesmas condições. Sentiu-se à vontade entre eles pela primeira vez. Finalmente, podia ser ela mesma, sem precisar seguir
as qualidades dos funcionários de acordo com a necessidade da empresa
“
Os participantes são estimulados a trabalhar características como capacidade, cooperação e liderança.
”
o padrão de perfil e de comportamento ditado pela empresa. Contaminados pelo vírus da natureza, ainda não identificado, também os chefes mudaram a postura. Desenvergaram a coluna, curvada pelo peso dos cargos, e se esqueceram da dureza que quase sempre vem aliada ao poder. Por instantes, aliviaram-se. Como prêmio ou castigo, foram
compelidos a verificar, ao longo das atividades ao ar livre, que para o grupo alcançar o intento todos precisam ser ouvidos e ter as opiniões consideradas. Respeito é isso. Mas será que, como todas as viroses desconhecidas, esta se foi da mesma maneira misteriosa que chegou? Ana Claudia responde por si. Ela recorda que entrou no mundo corporativo por influência da mãe, que já trabalhava no ramo e possuía contatos com empresas de logística internacional. A então adolescente Ana passava por aquela fase de dúvidas quanto ao futuro profissional. Deslumbrou-se com a possibilidade de contato com pessoas do outro lado do mundo. Decidiu cursar comércio exterior, acreditando que com o apoio da mãe seria mais fácil conquistar seu espaço no universo do trabalho. E de fato isso ocorreu por certo período. Mas com o passar do
tempo, como bem ensina a natureza, até a mais dura das rochas se transforma em poeira. O encanto foi aos poucos soprado para longe. O interesse se decompôs. A adulta Ana Claudia decidiu que algumas coisas precisavam mudar. Aprendeu com o tempo que sentia falta dele. Queria e merecia ser mais valorizada por seu trabalho. E nem sempre um desejo como esse pode ser realizado no concorrido mundo dos negócios. Faça, conheça, produza mais e mais! Estas ordens nunca eram ditas assim, tão claramente, talvez impedidas pela cortina de fumaça dos cigarros dos chefes ou distorcidas pelo verniz inventado e usado pelos seres humanos, sem restrições. Mas ao decodificá-las, a moça franzina e de olhar meigo percebeu que quanto mais as aceitava, mais era cobrada. Num lampejo, viu que talvez fosse a hora VENTURA- Junho/2011 | 21
de desobedecê-las. Como o rio sempre segue o destino em direção ao mar, surgiu no curso de Ana Claudia a possibilidade de trabalhar em contato com a natureza. Não teve dúvidas. Hoje, tem uma pequena empresa que oferece produtos orgânicos a internautas. Distante da rotina que a prendia por oito horas diárias em um escritório, diz ter encontrado no cam-
po, o novo ambiente de trabalho, uma maneira mais sensata e paciente de perceber o mundo: “Da natureza, você não pode cobrar nada. Com ela, você aprende a esperar, a cobrar menos do outro e de você mesma. Estou me encontrando nesse novo ramo, apesar das dificuldades iniciais, sempre comuns”. Hoje, percebe-se como uma mulher que conhece a sua natureza. Aquele passeio ecoturístico, enxertado às lembranças das experiências difíceis, aproximou-a da sua essência. “Mudei muito de vida, mas na verdade sempre foi este o meu perfil. Agradeço por tudo o que tenho, embora às vezes a vida pareça árdua”. Apesar de todas as metamorfoses na história da microempresária, ela acredita que não existem fórmulas mágicas e instantâne-
Cuidado com o ‘desestresse’
as para a transformação do modo de olhar o mundo. É preciso ter uma sensibilidade já desperta para notar, durante um passeio como o oferecido pela empresa onde Ana trabalhava, que o contato com a natureza pode melhorar as relações interpessoais. “Quem não tem essa sensibilidade, esse olhar para os benefícios trazidos pelo contato com a natureza e com os outros semelhantes, não consegue perceber, tão rapidamente, o quanto isso é importante”, conclui.
Passeios programados de acordo com o objetivo da empresa Trilha do Rio Jaguarenguava, em Bertioga Objetivo: Resistência, autoconfiança Travessia Salesópolis/ Boiçucanga, em São Sebastião Objetivo: Liderança, capacidade de planejamento 22 | VENTURA - Junho/2011
Parque das Neblinas, Bertioga/Mogi Objetivo: Integração
Objetivo: Percepção do externo, superação, solidariedade
Trilha Praia do Camburizinho, em Guarujá Objetivo: Integração, resistência
Reserva indígena do Rio Silveira, em Bertioga Objetivo: Adaptação a novos ambientes, conceito relativo de riqueza/pobreza
Trilha D´água, em Bertioga
Regina Lopes Tavares, psicóloga especialista em desenvolvimento de competências e técnicas em vivências, concorda com Ana Claudia. Para ela, que há 20 anos se dedica a este trabalho e há 10 presta consultoria em recursos humanos, a transformação de um perfil não ocorre da noite para o dia, como num passe de mágica. E um fator preocupante nesse contexto é o possível despreparo das pessoas que desenvolvem o trabalho direto com as equipes nos ambientes naturais. De acordo com a psicóloga, as atividades podem ser realizadas para “desestressar” os funcionários, mas é imprescindível a parceria com profissionais capacitados e que possuam experiência em treinamento de vivências ao ar livre. Os desafios impostos ao longo do passeio geram uma tensão que, se não tiverem o respaldo dos monitores, podem ter consequências sérias: “Se as técnicas não forem aplicadas com responsabilidade e conhecimento, podem desencadear desentendimentos entre os funcionários ou problemas comportamentais que terão o efeito inverso do esperado pela empresa”.
Regina também avalia que os empresários precisam ficar atentar para que, contaminados pelo imediatismo, não imponham aos funcionários a participação em determinadas atividades. “Este tipo de exigência submete algumas pessoas a situações que não querem vivenciar, o que pode ser considerado violência psicológica”.
Acredito que agora seja possível responder à pergunta que Ana Claudia não conseguiu. Talvez, o vírus da natureza não sobreviva muito tempo longe do ar puro e só contamine poucos. Destes, possivelmente quase todos forcem o bichinho submicroscópico a incubar por longos anos ou por uma vida inteira. Talvez, simplesmente o eliminem quando novamente inspiram o ar urbano. (E. S.)
Fazenda Cabuçu e rio Passariuva são alguns destinos VENTURA- Junho/2011 | 23
É um pássaro? É um avião?
Quero voar de novo!
FOTOS: JOYCE SALLES
Pular de parapente. Muitos têm vontade alguns têm curiosidade, mas poucos têm coragem Joyce Salles 1,2,3 corre, corre, corre até os pés saírem do chão. — UHUUUUUUUUL! Foi esse grito que ficou entalado na minha garganta. Esportes radicais nunca foram minha aptidão, ainda mais um esporte que envolvesse altura. Quando surgiu a ideia de fazer uma reportagem sobre parapente, confesso que fiquei com medo. Desde o início. No meu primeiro contato com o esporte, fiquei mais calma quando vi um dos alunos do Morro do Voturuá voando pela primeira vez, me pareceu mais tranquilo do que imaginava. O parapente é uma espécie de para-quedas que já sai aberto, e isso me transmitiu uma sensação de segurança. Conversei com instrutores, monitores e pilotos e a pergunta que não deixava de fazer era: — Você já se envolveu em algum acidente? — perguntei. As respostas eram sempre as mesmas 24 | VENTURA - Junho/2011
— Uma vez só, mas nada grave. Fiquei imaginando que isso era um bom sinal. Confesso, demorei para tomar coragem. Fui diversas vezes para a rampa e olhar me agradava mais do que estar no lugar daquelas pessoas. Minhas limitações não estavam apenas no medo, mas também no tempo. A melhor época para se voar é de janeiro a abril, quando a mãe natureza é mais generosa, e dá condições de voo quase todos os dias. Com a entrada de uma frente fria, fiquei mais receosa ainda. Meu celular tocou. Era Reginaldo, o “Baratta”, instrutor de umas das escolas de parapente: — Alô, Joyce, corre aqui para a rampa, o tempo está bom para pular... Saí correndo de casa, de moto. Ao chegar à rampa — estava deserta. Semanas atrás estava cheio de pilotos colorindo o céu com seus parapentes. Preenchi o formulário com os meus
dados e paguei o voo, R$ 120,00. Depois disso, fui rumo à rampa localizada ao lado da sede. Meus passos já não estavam firmes. A terra já não recebia mais as pegadas do meu tênis. Na rampa me equipei — capacete e uma espécie de mochila, que ia até meu joelho. Nela, um acento (chamado de selete); cintos saiam e prendiam-se em minhas pernas e barriga. O instrutor ficou atrás de mim preso pelos mosquetões. Naquele momento, recebi a seguinte instrução: — Coloca a mão para trás e segura no acento. Assim que a gente decolar, você a empurra para baixo de forma que sente nela. Por um momento descontraio dizendo que sou um pouco escandalosa e pergunto se posso gritar. O instrutor respondeu: — Sem problemas, é o que mais acontece. O monitor é quem auxilia, para esperar uma corrente de vento. Segura numa das minhas alças e coordena a minha
Para quem tem curiosidade, o voo de parapente é uma ótima aventura VENTURA- Junho/2011 | 25
MONITOR ‘CHOCOLATE’
corrida. As pontas dos meus dedos estão geladas. Não é por conta do frio que faz. Meu coração, que já estava acelerado, parece que vai parar na boca e faz com que minha garganta dê um nó. Lá fui a 180 metros de distância do chão. Minha voz não saiu, meus olhos olhavam para meus pés fixos no chão que em segundos ficariam pendurados. Na minha cabeça não vem nada, mas minhas mãos por conta própria empurram a selete e me acomodo. O silêncio paira durante alguns segundos e o barulho do vento comanda. Escuto uma voz: — Joyce, pode soltar a cadeirinha e segurar essas alças. Meu coração sossega, o medo parece que ficou na rampa — paz — meus olhos não param, lacrimejam com a batida do vento. Olho para o horizonte. No mar os navios mais parecem barquinhos de brinquedo. Santos, São Vicente,
Praia Grande e Guarujá parece ser uma cidade só. Passo pertinho do morro. “Como é linda a natureza aqui de cima”, penso. As pessoas que caminham na praia, mais parecem formigas, os carros não param na avenida movimentada, mas o vento é o único barulho que ouvimos. Os surfistas que se aventuram no mar parecem pontinhos. O voo é tranquilo e depois de alguns minutos no ar consigo conversar como se nem estivesse voando bem mais alto que os pequeninos prédios de 20 andares da praia. Cercados por urubus, o instrutor conta que é uma ave preguiçosa e fica em térmicas de ar onde não é preciso bater as asas. É impressionante como os pensamentos vêm e vão rapidamente. Uma manobra um pouco mais ousada para o meu gosto, meu medo volta, mas vai embora
MONITOR ‘CHOCOLATE’
Antes do voo todas as instruções são passadas para que as dúvidas sejam esclarecidas
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antes mesmo que ficasse tensa de novo. O instrutor pergunta se estou enjoada e respondo que não. Mas depois de ficar olhando muito para baixo o enjoo vem me visitar e comunico o instrutor, que então resolver terminar o voo para não haver problemas. Vamos abaixando, em busca de correntes de vento e tem horas que conseguimos sobrevoar o mar. A instrução do pouso é simples: — Vai saindo da cadeirinha e quando os seus pés começarem a tocar o chão continua correndo até eu pousar. E assim eu faço, antes mesmo de tocar no chão vou batendo as pernas no ar. Assim que toco, dou alguns passos e acabo caindo sentada no chão. — Normal — ele diz. Uma sensação vem, o enjoo passa, o que me resta é tristeza pelo voo ter terminado. — Quero de novo! — peço. REGINALDO AMARAL
Momentos antes e durante o voo. Adrenalina a todo vapor VENTURA- Junho/2011 | 27
Bate asa, bate asa!
O telefone toca no Clube de Voo livre do Litoral Paulista: — Alô, bom-dia! Eu gostaria de saber como está o vento aí em cima? — Olha, está com uma brisinha e aumentando — responde a secretária Jurema. De equipamentos no porta-malas do carro, lá vai Jarbas da Rocha, piloto de parapente há três anos, sentir a energia da natureza, como ele mesmo intitula o seu voo. Ele é comerciante e aos 62 anos pode-se dizer que é um dos mais velhos pilotos do clube. Conheceu o esporte através do neto, que estava passeando pela orla de São Vicente e viu os equipamentos no chão. Curioso, o garoto pediu para ir ver mais de perto. O avô dedicado levou-o para conversar com o piloto. Daí renasceu sua vontade de fazer um voo. Afinal, já havia tido uma
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experiência em pilotar helicóptero. Na época, por questões financeiras teve a vontade amargurada. Agora, como piloto de parapente, Jarbas não sai mais da rampa. Se bobear, passa o dia todo lá. — O que é voar? — pergunto. — É emocionante, é sentir a energia da natureza. Quando estou voando a impressão é de tudo estar no meu poder. Jarbas só lamenta em não conseguir ler a meteorologia: — Gostaria de poder saber mais, ler as nuvens, o céu, o vento. Na beira da rampa, o instrutor Eládio do Nascimento passa as informações pelo rádio comunicador aos alunos: — Bate asa, bate asa! Cuidado com a massa de ar, copiou? Dono e instrutor da escola WindCoast umas das quatros escolas as-
sociadas no CVLLP e umas das cinco maiores escolas do País, Eládio, ou Vovô, como é chamado no rádio, está no ramo há 18 anos. Fisioterapeuta formado, conheceu o esporte por conta da mulher que fez um voo e então tomou gosto. Abandonou a profissão e se dedicou ao esporte. Depois de se formar como piloto, abriu uma escola. Hoje, com mais de 800 alunos formados, diz que está perdendo
a excitação pela atividade: — Faço por que gosto, mas quando chegar em mil alunos formados quero parar. Não tenho mais descanso, trabalho de segunda a segunda, e quero voar por esporte. (J.S.)
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Contraste do urbano com o
O M o r r o d o Vo t u ruá — ou Morro da Asa Delta, em São Vi cente — é um contraste do urbano com o meio ambiente. Casas humildes, crianças jogando bola, vizinhas sentadas em frente à s s u a s c a s a s jogando c o n v e r sa fora, ruas asfaltadas. Confor m e v a m o s s u bindo, o asfalto vai se deteriorando, com imensos buracos. Em direção ao morro, as p l a c a s d i z e m : “ Vo o livre”, com setas indicando o caminho. As placas estão penduradas em árvores e nos postes de luz. As árvores de várias espécies ainda predominam no morro. Além de cachorros e gatos, se pode também encontrar animais exóticos como o macaco-sagui. Dependendo da sorte, podemos receber a visitinha dele, enquanto aguardamos a vez no voo. Aos que preferirem o acesso à rampa p o d e m c hegar ao alto do morro pelo teleférico. Paga-se R$15,00 por uma v i a g e m d e ida e volta. Idosos acima de 60 anos pagam meia, e crianças menores de oito
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meio ambiente
No Morro do Voturuá é possível ver as cidades de Santos e São Vicente. Construções e natureza tão perto e tão longe anos não pagam. A duração de subida e descida leva 22 minutos. Atualmente, a sede d o C l u b e d e Vo o L i -
vre do Litoral Paulista, que é responsável pela rampa, está passando por reformas para ser ampliada, mas as obras não
interferem em nada nos voos. Os sócios pagam matricula trim e s t ral e as quatro escolas associadas também pag a m a m e s m a
t a x a . D i n â m i c a d o A r, W i n d Coast, Horizonte e Butterfly são as escolas associadas ao clube. Além de fazer
voos d e a p t i d ã o — como é chamado pela Agência Nacional de Aviação Civil —, as escolas também oferecem cursos. O cronograma do curso inclui aulas teóricas e praticas. Na aula teórica se aprende meteorologia, aerodinâmica, aerologia, regras de tráfego, noções do espaço aéreo e técnicas de pilotagem. Já nas aulas práticas a inflagem do parapente, controle de vela e treinamento no solo como decolagem e pouso. O curso todo sai por R$ 1,2 mil. Depois de realizado o curso e as provas, o piloto recebe uma carteira de habilitação desportiva. Os equipamentos obrigatórios são cinto, mosquetão, capacete, pára-quedas e rádio c o m u n i c a d o r. Va l e lembrar que essa não é uma modalidade de baixo custo, pois o parapente pode valer de R$ 6 mil a R$ 10 mil, o solo; e R$ 12 mil a R$ 14 mil, o duplo. Para os interessados em fazer o voo único o preço é de R$ 120,00. Mais informações no telefone (13) 35688043. (J.S.)
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SE A CANOA NÃO VIRAR.... FOTOS: BRUNA DALMAS
O passeio é uma oportunidade de conhecer outras partes de Praia Grande e São Vicente
A diversidade esquecida
Muito importante na natureza e pouco lembrada, a beleza do mangue é cenário de canoagem Bruna Dalmas O barulho da água cortada pela canoa e o remo, o som dos pássaros e as vozes humanas presentes é tudo o que se pode ouvir durante as duas horas de canoagem pelo manguezal que corta Praia Grande e São Vicente. A beleza pode ser observada antes mesmo de partir. O Portinho de Praia Grande — parque que fica logo na entrada da cidade — agrega várias opções de recreação e lazer. Antes de entrar na água, o guia e sócio-proprietário da Caiçaras Expe32 | VENTURA - Junho/2011
dições, Renato Marchesini, propõe aos visitantes uma sessão de alongamento e passa uma série de instruções. Dando início ao alongamento o foco é parte superior do corpo, já que costas e braços serão trabalhados durante o percurso. “Coloca os braços lá no céu. Inspira e respira. Sinta a natureza e deixa ela sentir você”. Marchesini diz que a canoa nunca virou ; caso vire, instrui: “Solta o corpo e olha para o céu. A areia do manguezal é fina, como se fosse movediça, pode alcançar a altura da barriga da uma pessoa.
Se alguma embarcação motorizada passar e formar uma onda, encare a onda de frente, como os surfistas fazem com a prancha”. O guia também conta que a canoagem nessa região é feita há mais de 500 anos. Começou com os índios. Hoje, o passeio ecoturístico é equipado com canoas canadenses. “Se o remo está do lado esquerdo, a canoa vai para a direita e vice e versa”, diz. O equipamento tem três assentos. Quem fica na parte traseira possui 80% da direção. Para participar da canoagem, não é preciso ter ex-
No percurso, o visitante ainda tem o prazer de ver a ave guará-vermelho periência. Crianças a partir de sete anos já podem embarcar. O guia segue de acordo com o ritmo do grupo, que precisa ter de quatroa 11 integrantes para ser realizada. Após as primeiras remadas, quem dá as boas-vindas é o guarávermelho, ameaçado de extinção. Durante o percurso, é facilmente notado em bandos quase que o tempo todo. De longe, parecem frutas frescas em árvores, de tão intensa que é a sua coloração. Marchesini, que também é professor de ecologia, vai explicando sobre o ecossistema do man-
guezal, pertencente ao bioma de Mata Atlântica. Toda paisagem, fauna, flora e interações com o homem é vista de perto e encanta os olhos de quem nunca esteve em um contato tão próximo. La existem 17 espécies fixas de aves. Entre elas, o socó-dorminhoco, a garça e o exibido biguá, que faz pose em cima de um galho com as asas abertas. Existem também os pássaros transitórios, como a batuíra, que na ocasião, ainda estava em território brasileiro, e em breve deverá migrar para o Canadá, em busca do calor do verão.
O caminho é permanentemente parecido. A água possui uma vasta expansão. As árvores de mangue possuem raízes grandes para suportar a maré que sobe e desce. Em alguns momentos era possível bater com o remo na areia de tão perto que a canoa chegava delas. O roteiro segue pelo estuário de Praia Grande, passa por São Vicente e retorna. Mas também é possível ter acesso a Mongaguá e Itanhaém. Infelizmente, Marchesini conta que a busca por ecoturismo nessa época do ano é pequena em comparação ao verão. VENTURA- Junho/2011 | 33
“No fim do ano, tivemos que recusar as buscas porque não havia mais dia disponível. Essa é a melhor época para se praticar, porque não ha o risco de pancadas de chuva no meio do caminho”. Explica que o passeio é importante para conscientizar o público sobre a preservação ambiental e chamar a atenção para necessidade de cuidar da natureza. Diversas vezes foi possível ver garrafas pet e sacolas plásticas trazidas pelo mar. O resultado da devastação do homem não para por aí. Inacreditavelmente, no meio das árvores de mangue, bem adentro do manguezal, foi possív-
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el visualizar até mesmo uma poltrona estofada e um ventilador. Buscando pela internet, a secretária de indústria naval Adriana de Souza Batista descobriu o que tinha tudo a ver com o que procurava. “Foi maravilhoso, além das minhas expectativas. Você só tem noção de preservação quando está em um ambiente agredido de fato”. É capaz de mudar a visão das pessoas? Ela garante que sim: “Pretendo não usar mais sacolas plásticas. Hoje, é o maior inimigo ambiental”. Depois de duas horas praticamente imperceptíveis, é possível
sentir uma pequena dor nas costas. Os insetos não incomodam e dificilmente são notados no momento. Mas é importante não esquecer o repelente para eventuais picadas de borrachudos. No retorno à base, entre 17h30 e 18 horas, revoadas de diversas espécies de aves se encaminhavam às árvores recolhendo-se até o dia seguinte. “De noite, elas não conseguem enxergar, por isso dormem cedo.”, explica Renato Marchesini. Ao olhar para o céu, avistava-se inúmeros pássaros sobrevoando a canoa. Um momento inexistente na civilização.
Você sabe o que é um manguezal? O manguezal é composto de água do mar e de rio. A cada seis horas a maré muda. O local é rico em peixes e crustáceos. Também e considerado uma espécie de berçário, pois diversos peixes usam o local para desova.
Para que todos estejam s preparados, informaçõe lo essenciais são dadas pe instrutor
A canoagem da Caiçaras Expedições pode ser feita todos os dias, exceto quartas-feiras. O agendamento deve programado com pelo menos três dias de antecedência pelo telefone (13) 3466-6905. O preço é de R$ 34,00, mas pode sofrer alterações.
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A BORDO DO ALVICELESTE...
Navegar é preciso!
Longe da rotina das grandes cidades, turistas se divertem no rio Itanhaem Aline Almeida Duas horas e sete minutos de imersão. Velocidade: 10 km/h. O destino? Pouco importa. Aqui, como em nossas vidas, é o caminho que interessa. As curvas que serão escolhidas, a brisa que irá compartilhar com o sol a missão de enfeitiçar os tripulantes serão os carros-chefes. O barco é simples, com oito bancos que ajeitam até três pessoas. Pequenas e brancas acomodações que se tornam tronos, tamanha é a sensação de majestade que se apodera desses aspirantes de
desbravadores. Os olhos denunciam a surpresa. Será deslumbramento com o verde da Mata Atlântica preservada? Ou o negro das águas que espelham a paisagem? E o sol? Ora, o equilíbrio é que transforma feições ao longo do percurso. O passeio pelo Rio Itanhaém ocorre duas vezes ao dia, às 9h30 e 15h30, quando se alcança o número mínimo de seis passageiros. A saída é no píer da Alameda Emídio de Souza, na Praia dos Sonhos. Desde o primeiro passo adentrando a embarcação até o motor ser liga-
do, nota-se a tensão. No teto, estão cinco coletes salva-vidas, e dentro da cabine de comando estão mais 15, além de três cadeiras. Os dois condutores não solicitam que os coletes sejam utilizados. E os tripulantes parecem não se importar com o acessório de segurança. Alviceleste, o barco é desamarrado, e a viagem se inicia. O ronco do motor, próximo à paisagem urbana não destoa, ainda. A saída é bem próxima da praia, na Boca da Barra, e o rumo que seguirá não é o mar, é rio. Se a ordem, digamos natural, dele é
FOTOS: ALINE ALMEIDA
Disponível em dois horários, o passeio de barco dura em torno de duas horas 36 | VENTURA - Junho/2011
seguir no sentido de um oceano, então o esquife está remando contra a ‘maré’ do rio. Flutua no agora denominado Rio Itanhaém. Sua cor sombria dissimula sua origem. De início flutua sob a ponte Sertório Domiciano da Silva, conhecida com ponte do Rio Itanhaém. Após algumas centenas de metros é a vez da Rodovia Padre Manoel da Nóbrega ser vencida. O cais é visualizado. É o Píer do Guaraú. Ele fica à direita, e sobre ele pescadores, comerciantes, turistas e visitantes se espalham. A partir daí, Itanhaém urbana tornar-se-á Amazônia Paulista, devido a grande diversidade de flora, fauna e bacia hidrográfica extensa. No barco, os quatro tripulantes já não visualizam a civilização. Começam a submergir lentamente, sem notar. Se no início o rio não é tão largo, após alguns minutos suas margens vão ficando cada vez mais distantes uma da outra. Ao contrário disto, os olhos vão se estreitando, com a admiração explícita. A embarcação não trepida muito, é possível caminhar com facilidade e segurança. O primeiro a se aventurar no convés é Luis Marcoto Sakamoto. Ele deixa seu banco para trás e segue para a proa do barco. Após breve observação, retorna
Belas paisagens naturais podem ser vistas no caminho satisfeito. Após breves minutos a paisagem recebe o visitante. O singelo barco de pesca branco e vermelho, com traços visíveis de ferrugem, está na margem, até então imóvel. O capitão segura sua vara, seu leme. Olha para os curiosos que estão perscrutando a região. Outros barquinhos, com um, dois ou três pescadores são avistados ao longo do caminho. Eles já estão alcançando a grande bifurcação à frente. A esquerda é escolhida. Adentram então, no braço do Rio Preto. Por lá a vegetação flutuante simula a grama de um campo de futebol. Nas margens, a vegetação muda. Galhos retorcidos que parecem ter a pretensão de se conectar com as águas. Alguns, ao longe,
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Comércios as margens dividem lugar com a natureza parecem corpos estendidos sobre a água negra. Agora quem aparece são as alegres vitórias-régias. Ao longo das margens do negro rio, elas dançam no compasso do movimento fluvial, sem se importarem com a passagem da embarcação. Formam desenhos, traços e formas que seduzem quem as admira. Após mais de uma hora de passeio, começam os passageiros a avistarem construções ao longo das margens. É aí que as feições alteram-se. Passam da mais profunda sensação de distância da realidade para a profunda e triste sensação de saber como o homem pode alcançar o ápice do egoísmo. Um paraíso como este é invadido por intrusos que além de fincarem suas instalações, fazem isso o mais próximo possível das margens. A paisagem antes intocável, agora surge com comér38 | VENTURA - Junho/2011
cios, casas, quiosques. Depois de quase uma hora no barco, agora é a vez dos passageiros desbravarem a terra firme. Chega o momento de desembarcarem por 45 minutos. A parada é em uma lanchonete no bairro Country Clube. Lá espalhadas estão 25 mesas. Assim que atraca, os passageiros seguem, em fila indiana, pela pequena ponte que separa o rio e o comércio. Os responsáveis pela embarcação autorizam a descida, apesar do receio acerca da ponte, que visivelmente irá tremer quando passarem. Os quatro passam lentamente pela precária construção e alcançam a firmeza da terra. Ainda em duplas, fazem seus pedidos, andam pelo local e comentam sobre o passeio. Luis Marcoto Sakamoto e o filho Rafael sentam em uma mesa e parecem relembrar cada pedaço do pas-
seio realizado. Os dois moram em São Bernardo do Campo e a família possui uma casa de veraneio a 16 anos em Itanhaém. É a primeira vez que realizam o passeio. Mas como ficaram sabendo da incursão ao paraíso? “Eu vi no site Globo.com, o jornalista Márcio Canuto recomendou”. Rafael Sakamoto aprovou a dica. “Gostei mesmo. Foi muito bom”. Luis, pai de Rafael, não aparentar ter os mencionados 56 anos. Ele, que trabalha em São Paulo, sabe bem como duas horas assim são importantes. “A gente que fica no trânsito quase esse mesmo tempo, dá valor para isso!”. Os outros dois tripulantes chegam à mesa ocupada por Luís e Rafael e a roda de conversa tem protagonista. A viagem conecta as pessoas, tem o poder de ligá-las. A professora e pedagoga Lucia Gualberto Badan mora em Santo André e estava de passagem pela cidade na casa da mãe. Ela fica fascinada pelo trajeto. “O verde é impressionante. Vale a pena”. Seduzidos pelo poder da aventura, eles dividem não só a porção que é servida. Dividem o valor daquele momento. A conversa segue animada. Luis conta como chegou ali. “Eu já havia tentado fazer o passeio outras vezes, mas não
deu certo. Hoje, consegui, e gostei”. Se a professora Lucia indica, não restam dúvidas. “Recomendo sim. É excelente”. Bom, o passeio possui esta escala definida em seu itinerário. Qual será o acordo que existe entre os proprietários dos barcos que ali atracam e a lanchonete? É algo que está na cabeça de todos, mas não é proferido por ninguém. A proprietária do comércio, Vania Ginalva Gonçalves, nega a existência de algum pacto financeiro. Ela o marido mantêm o negócio há 17 anos; os filhos estão no local, espalhados pelo balcão, interior da cozinha e mesas. Além do comércio de alimentos, os filhos são sustentados por outros meios de renda. “Pescamos com nossos dois barquinhos e vendemos os peixes que não usamos aqui”. A renda aumenta na temporada, quando eles alugam caiaques pelo valor de R$ 5,00. É hora de voltar — A conversa está em no auge quando o cordial Ademir Rosa Garcia, marinheiro auxiliar de convés, convoca o retorno da trupe ao barco. Todos se despedem, dão a última apreciada no estilo de vida da família e seguem de volta pela sofrível ponte até o convés. Ainda trocam ideia com Jorge Luis Gama da
Cada banco do barco acomoda até três pessoas Silva acerca dos peixes que são encontrados no rio. “Aqui tem muito robalo”. Com simpatia, o também apicultor Jorge liga o barco para a última parte do passeio. Retornam pelo mesmo caminho da ida. Agora os condutores explicam que quando na ida passaram por uma bifurcação e entraram à esquerda, escolheram o Rio Preto. Caso tivessem escolhido a direita, teriam adentrado o Rio Branco. Despedida — Assim como em qualquer viagem, o retorno traz consigo a sensação de que momentos bons duram frações de segundos. Agora, o sol começa a abandoná-los, tornando a sensação ainda mais pungente. A paisagem não é mais a mesma. Ela agora se prepara para receber a Lua. E vai se transformando ao longo do retorno. Os segundos voam, os minutos fogem do con-
trole quando percebem não é apenas o passeio que está acabando. Em cada semblante estampa-se a sensação de que ter feito o passeio foi uma belíssima escolha. Ao mesmo tempo perguntam-se: Por que não fiz isso antes? A tristeza se dá não somente pelo término e sim pela consciência da realidade que os espera fora daquele branco convés. Saem sorrindo do barco. Despedem-se um dos outros e seguem silenciosos pela alameda. O barco estará sempre lá. Com horário marcado, com seus bancos aguardando novos e velhos exploradores que certamente voltarão.
O passeio R$ 25,00 adultos R$ 10,00 crianças (até 10 anos) Telefone (13) 3426 2126 VENTURA- Junho/2011 | 39
TRÊS DIAS DE AVENTURA
Uma expedição à FOTOS: DIVULGAÇÃO
Ilha do Montão de Trigo
A cultura caiçara explorada em uma viagem ecológica pelo Litoral Norte de São Paulo Jéssica Amador A expedição à Ilha do Montão de Trigo — nome originado pela topografia em forma de monte — dura três dias e é uma verdadeira aventura. Distante 13 quilômetros do continente possui uma comunidade que até pouco tempo por não manter contato com pessoas que não fossem do próprio local acabou imprimindo à ilha a alcunha de “ilha dos monstros”. 40 | VENTURA - Junho/2011
Como só se relacionavam entre si havia problemas genéticos, o que não ocorre mais. Atualmente, vivem lá dez famílias, com 50 pessoas, conhecidos por monteiros, que unem o ecoturismo ao desenvolvimento sustentável. O empresário do turismo Rafael Chitolina Bencivenga descobriu a ilha quando fazia expedições pelo Litoral Norte, em 2006. Por não ter contato com quem vivia na
ilha, os caiçaras diziam que os moradores da ilha eram “bichos selvagens”. Num certo dia, no acampamento da Barra do Sahy, Rafael conheceu um morador da ilha que tinha ido ao continente para comprar combustível. Então, ao se oferecer para buscar de carro o que os moradores precisassem, ele despertou a admiração do habitante longínquo. A parti daí, surgiu a amizade entre
A experiência de três dias proporciona visitas a piscinas naturais e cavernas eles. “No início, tinham um pé atrás porque as pessoas que se aproximavam não queriam nada mais do que roubar o seu espaço”, conta Bencivenga. Com o passar do tempo, ele foi ganhando a confiança dos moradores e pediu para visitar: “Quando cheguei lá, me encantei. Hoje, a ilha é a menina dos meus olhos”. Ninguém sabia ao certo quando a Ilha do Montão de Trigo começou a ser habitada. Conta uma dessas lendas marítimas que os moradores seriam descendentes dos sobreviventes de um naufrágio, ocorrido há mais
de três séculos. Com a ajuda de um historiador, foi feito o levantamento histórico e cultural do local e se descobriu que é habitado desde 1700. Os moradores prezam a qualidade de vida e, consequentemente, têm uma vitalidade superior. “As nossas atividades na ilha são voltadas basicamente para o desenvolvimento sustentável do local. Lá, não existe nem energia elétrica. Eles assistem TV com o auxílio de baterias de carros”. Monitores foram formados por Rafael para que pudessem mostrar os visitantes as particu-
laridades do local. O primeiro dia do passeio começa com a montagem do acampamento. Logo após, os visitantes encontram o morador mais antigo que conta histórias da vida caiçara. Já no segundo dia, começam as atividades propriamente ditas. O visitante tem que ter fôlego de sobra. A trilha para o ponto mais alto do Montão de Trigo dura cerca de quatro horas, mesclando contato com a natureza e atividade física moderada. Ao voltar, os visitantes saboreiam um típico almoço caiçara, peixe com banana. VENTURA- Junho/2011 | 41
Os dez mandamentos do ecoturismo
Neste mesmo dia, após o descanso do almoço, é a hora de explorar cavernas e grutas de água repletas de mistérios e com fauna exótica. Durante as três horas de mergulho, o visitante encontrará as mais variadas espécies de peixes e crustáceos como piabas, pargos, bodiões, salemas, lagostas, caranguejos, garoupas e badejos. De vez em quando é possível avistar peixes de grande porte, alguns dos quais são extremamente ariscos. Os peixes frade fazem um espetáculo à parte, solitários ou em duplas são facilmente encontrados entre as pedras. No terceiro e último dia começa-se bem cedinho: já habituados ao local, os visitantes são convidados pelos caiçaras a 42 | VENTURA - Junho/2011
O primeiro passo ao chegar é montar o acampamento contemplar o amanhecer visto de dentro da água. A atividade feita com os guias locais inclui pesca esportiva e de quebra, eles garantem o alimento para o almoço. Após a pesca, ainda há o mergulho para explorar as piscinas
naturais e cavernas subaquáticas da região. A aventura à Ilha do Montão de Trigo está quase chegando ao fim. Os visitantes voltam do mergulho, almoçam o que pescaram e, em seguida, levantam acampamento rumo ao continente.
No Brasil, a Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura fiscaliza empresas do ramo e criou o Programa Aventura Segura que tem como base os 10 Mandamentos do Turista de Aventura Consciente. 1 — Pedir referências e conferir se a empresa que oferece o serviço está formalizada e se tem alvará de funcionamento. 2 — Verificar se a empresa oferece seguro que cubra atividades de aventura e natureza. O seguro é uma segurança adicional para os clientes caso qualquer coisa fora do planejado ocorrer e assegura que vai haver algum tipo de assistência. 3 — Verificar se a empresa conhece e aplica as normas técnicas brasileiras para a atividade que oferece. Pergunte à empresa se ela tem um Sistema de Gestão da Segurança (SGS) implementado, conforme a norma. Toda empresa de Turismo de Aventura deve ter um SGS funcionando em suas atividades. O sistema ajuda as empresas a se organizarem para dar o máximo de segurança para os clientes e diminuir os acidentes. Caso acidentes ocorram, a em-
presa saberá reagir bem. 4 — Os equipamentos devem estar em boas condições de uso. É necessário ficar atento ao estado do material (aparência, limpeza e condições de armazenamento). 5 — Lembre-se: sempre que tirar os pés do chão esteja de capacete e na água de colete. Empresas sérias oferecem equipamentos que aumentam a segurança, a diversão e o conforto durante o passeio. 6 — Aja de acordo com as regras ambientais em sua aventura: não faça fogo, não contamine o rio e ande sempre por trilhas demarcadas. Produza pouco lixo e traga-o de volta. Turismo de Aventura é feito na natureza, temos que ser responsáveis com o uso dos espaços que visitamos. 7 — Conferir o estado do estojo de primeiros
socorros que a empresa está levando e tenha na sua mochila seus remédios específicos. É importante sempre estar preparado para o inesperado. 8 — Ser responsável é fundamental. Conheça e respeite seus limites. Cada pessoa deve saber como fazer atividades que sejam divertidas, emocionantes e que estejam dentro do seu limite. 9 — Hidrate-se, alimente-se e mantenha-se aquecido. A melhor pessoa para cuidar de você é você mesmo! Água, alimentação e filtro solar não podem faltar na mochila. 10 — Conheça o Programa Aventura Segura e descubra o nosso País de um jeito novo. Busque empresas aderidas ao Programa Aventura Seguras nos destinos. Pratique turismo de aventura com consciência. (J.A.)
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O que é ecoturismo O ecoturismo tem como característica o turismo responsável voltado para atividades realizadas em conjunto com o meio ambiente. Dessa forma, o praticante aprecia e entra em contato direto com natureza promovendo bem-estar e desenvolvimento das populações nativas que, muitas vezes, vivem isoladas em meio à natureza. O que muitos não sabem é que para praticar esse turismo al-
gumas regras devem ser respeitadas. O principal é saber que o ecoturismo visa equilibrar a exploração turística propriamente dita, com a manutenção das características naturais do ecossistema. Características • Visita a ambientes naturais com experiência de vivência dentro da natureza. • Prática em pequenos grupos, com atividades físicas mais intensas do que outras formas de turismo.
• Os praticantes, em tese, são pessoas esclarecidas e bem-educadas, conscientes de questões relacionadas à ecologia e ao desenvolvimento sustentável. • Baixo impacto ambiental. • Patrocina a conservação ambiental. • Proporciona projetos que promovam igualdade e redução da pobreza em comunidades nativas. Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura
A Radical Life reune atividade física e divertimento em suas atividades ecológicas 44 | VENTURA - Junho/2011
Diversão, atividade física e ecologia As operadoras de ecoturismo oferecem diversas opções de passeio. Em Santos, a academia de ginástica Radical Life tem como proposta praticar ginástica de forma natural. O objetivo é buscar equilíbrio entre o corpo e a mente. Segundo o proprietário Rafael Chitolina Bencivenga, a intenção da operadora de turismo ecológico de aventura é unir atividade física às novas descobertas, formando uma consciência ecológica e o desenvolvimento sustentável nos participantes. Ele, como educador físico, acredita que com o treinamento dado, é possível conciliar as atividades na academia com o condicionamento físico proporcionado pelos esportes radicais que intensificam a musculatura. Banana boat — Os grupos têm que ter no mínimo quatro e no máximo dez pessoas. A embarcação leva os participantes que têm disponível, como item de segurança colete salva vidas, bote de apoio e a companhia de um instrutor ou guia. Mergulho livre — Iniciantes ou ao na prática de mergulho podem participar dessa atividade que une atividade física
leve e contato com a natureza, principalmente o ecossistema marinho. Diversas espécies da fauna marinha poderão ser observadas como tartarugas, peixes de diversas espécies e tamanhos, cavalos marinhos,arraias além de paisagens subaquáticas formadas por rochedos e paredes de corais. Os participantes embarcam a bordo de uma lancha, mas outros tipos de embarcações podem ser utilizados para a pratica de outras atividades como canoa polinésia e caiaques. Colete salva-vidas, equipamento de mergulho (pé de pato, máscara, snorkel – tubo que contém um bocal e permite respirar o ar do ambiente pela boca, sem levantar a cabeça da água — e boia sinalizadora são indispensáveis. O instrutor e o guia acompanham o passeio. Além disso, o participante tem direito também a tirar fotos subaquáticas. Os grupos são de dois a 12 participantes, dependendo da atividade. Canoa polinésia — O passeio feito por uma embarcação típica da colonização das ilhas polinésias e havaianas com 14 metros de comprimento. Remo, colete salva vidas, bote de apoio e a presença do instrutor estão inclusos no passeio, e o participante também po-
derá poder tirar fotos. Os grupos levam no mínimo quatro e no máximo seis pessoas. Caiaques — Caiaques duplos ou individuais podem ser usados para esta prática que une atividade física leve e contato com a natureza. Além do roteiro tradicional, o passeio passa também pelo Rio Sahy. Remos, colete salva-vidas, bote de apoio e o guia acompanham o passeio. Os grupos variam de um a dez pessoas. Trekking (trilhas) — Saindo da Ponta da Praia em Santos, o roteiro agora é na cidade do Guarujá. Lá são realizadas trilhas na Praia do Góes. Há 10 anos a trilha era intransitável. Os moradores locais foram treinados, ganharam uma profissão e de quebra, aumentaram sua renda. O número de visitantes cresceu, e a segurança também, já que não havia melhores guias do que os próprios moradores. Informações sobre valores e itinerários: Rafael Bencivega – www.radicallife.com.br (13) 3227.1773 (13) 9786.3131 ID 40721*4 Avenida Senador Feijó, 173, 1º andar, Santos (SP). (J.A.) VENTURA- Junho/2011 | 45
FOTOS: LARISSA PIMENTEL
NA CRISTA DA ONDA
Paraíso escondido
A Prainha Branca é a parada certa para aqueles que procuram boas ondas Larissa Pimentel Localizada na divisa entre Guarujá e Bertioga, a Praia Branca — ou Prainha Branca — é uma ótima opção para quem gosta de trilhas e aprecia praias tranquilas e ondas perfeitas. O caminho é pela Estrada do Guararu, seguindo até a Rodovia Ariovaldo de Almeida Viana, a partir do Guarujá. No trecho, várias praias podem ser encontradas, a maioria em condomínios fechados, como as praias de San Pedro e Iporanga. A Praia Branca tem o acesso menos restrito, mas não mais fácil. Para chegar, o visitante deve estar preparado para caminhar. Escadas no começo da trilha, bem conservada, com corrimões de madeira e cestos de lixo ao longo do caminho. No meio da caminhada, o piso muda. Em vez de escadas, chão de pedra (como paralelepípedo). A mata é mais fechada e mesmo em um dia ensolarado não se consegue ter noção de como está o tempo 46 | VENTURA - Junho/2011
fora dali. Ha muito barulho de animais, e varios mosquitos. O caminho é estreito, com partes íngremes, que podem tirar o fôlego do visitante despreparado. A caminhada leva por volta de 30 minutos. No final, já se pode notar que existem moradores no local e algumas pousadas e campings para quem procura passar mais tempo no local. Na chegada, a mata fechada dá lugar a uma praia com cerca de 300 metros de extensão, céu aberto, areia fina e mar agitado com muitas ondas. O que também pode ser visto a primeira vista, do lado direito, são cadeiras e mesas de plásticos espalhadas na areia, em frente a um bar. Esse é o Larica´s Bar, o mais antigo do local, com 22 anos de existência. O bar é construído com troncos de madeira e as telhas de palha dão um ar rústico que entra no clima do surfe. Do bar sai o som que embala os surfistas, um grande am-
plificador toca as mais diversas músicas no estilo surf music, é claro. Há também um palco, para os dias mais movimentados de temporada; ao lado, uma mesa de sinuca, uma outra opção de distração para os frequentadores. Marcilene Lemos, socia do local, conta que a maior parte do movimento é na temporada, de novembro até o carnaval. “Mas enquanto faz sol, ainda tem bastante gente”. Quando o inverno chega o movimento é tão baixo que o bar chega a fechar durante esse período. Marcilene diz que
o estabelecimento começou com a avó dela e foi passando de pai para filho. Hoje, quem toma conta do bar é ela, e da pousada que leva o mesmo nome que também pertence a sua família , quem gerencia é seu irmão Marcos. A comerciante conta que assistência médica, educação, diversão os moradores buscam em Bertioga que é a cidade mais próxima. Ela conta que a prainha é bem tranquila e sem perigos, e que só em época de muito movimento que eles se preocupam um pouco mais, por não conhecerem os turistas direito, mas que fora isso não tem o que se preocupar. A pousada e uma das mais confortáveis do local, com piscina à disposição dos clientes. Louise Carvalheiro trabalha na recepção da pousada e diz que assim como no bar, a procura é sempre
maior nas férias e no verão. Louise, que se mudou há três meses para prainha, morava em Campinas. Ela diz que gosta do local, que é calmo e bastante tranquilo. As diárias custam R$120,00, fins de semana por casal, com direito a café da manhã; e R$80,00 as diárias durante a semana, sem café da manhã. Existem outras pousadas na prainha com os mais variados valores e alguns campings que ficam na faixa de R$ 25,00 a R$ 50,00. Surfistas — Mesmo em dias de mar mais tranquilo, os surfistas podem encontrar ondas de boa formação que dão boa condição para a pratica do esporte. O que se pode encontrar na praia são muitos surfistas, alguns da região, como o engenheiro Pedro Guimarães, de 23 anos. Apesar de morar de frente para praia, no
quebra-mar, em Santos, ele gosta de explorar praias diferentes com ondas mais desafiadoras como as da Praia Branca. “Sinto falta de não surfar com mais frequência”. O veterinário Gustavo Creton, de 27 anos, mora em Jaguariúna, interior de São Paulo, diz que morou um ano na Austrália e conheceu a maioria das praias. “Lá, em algumas praias as ondas são melhores e maiores, mas as praias brasileiras são mais belas. Entre essas incluo a de Camburi”. O veterinário gosta de esportes radicais e como não pode praticar os esportes com a frequência que gostaria arrumou outras opções em sua propria cidade, como o wakeboard. Além deste, também pratica skate, mas não o tradicional, mas o longboard, que possibilita manobras de velocidade mais arriscadas.
As ondas da Prainha Branca chamam a atenção dos surfistas, que têm esse local como um dos “points” VENTURA- Junho/2011 | 47
Alguns vão sozinhos, outros levam as namoradas ou esposas. Caso não surfem, a calmaria e a paisagem fazem o passeio valer a pena
Mulher de surfista
Quando estamos em praia mais distantes e com ondas de boa formação, logo podemos notar na areia as namoradas dos surfistas, sentadas, aguardando. Algumas têm a sorte de serem amigas de outras garotas. Esse é o caso da secretária Fabiola Vagner, de 27 anos. Ela é casada com um surfista de fim de semana. “Não reclamo pois sempre quis um namorado surfista, e eu gosto de praia, mas as vezes é cansativo”. Cansa porque o tempo demora para passar para quem está na areia
apenas se “queimando”. Por isso, ela aconselha a ir preparada: “Sempre levar, algum livro, revista, MP3 ou Ipod carregados; não esquecer do protetor solar e, no caso da Praia Branca, em que se tem fazer a trilha, o repelente é indispensável Toalha e lanche não podem faltar”. Fabiola acompanha o marido mesmo em dias que o tempo não está muito bom, “Só não pode estar chovendo, por isso antes dele entrar no mar sempre aviso: ‘Se começar a chover olha para areia e veja se eu estou mandando você sair da água’. (L.P.)
Se você vem de São Paulo, saiba como chegar DE CARRO: Pegue a Rodovia dos Imigrantes e depois a Piaçaguera — Guarujá. Siga para Bertioga. Chegando lá, siga para a balsa. Atravesse-a e siga a trilha a pé. Há vários estacionamentos próximos à balsa em Bertioga. O preço é R$ 20,00 por 12 horas. É mais seguro deixar o carro no estacionamento do que na rua. Do outro lado da balsa, bem no pé da trilha, há também outro estacionamento. DE TREM: Pegando o trem em São Paulo, siga
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para a Estação Brás e pegue o trem para a Estação Estudantes. Depois, pegue um ônibus Viação Breda — (11) 4790-5882 / 4790-5882 — ou uma van para Bertioga, que chegará em frente à balsa. Deste ponto em diante, é só atravessar e subir a trilha. Esta é a forma mais econômica para quem sai de São Paulo. Se você mora na Zona Leste é rápido chegar, pois está linha de trem cruza a região. Se você for de outros lugares, o trajeto será mais longo. O preço do ônibus Breda de Mogi (Estação Estudantes) até a Balsa
de Bertioga custa R$ 16,50. DE ÔNIBUS: Saindo de São Paulo, o ideal é ir para a Rodoviária do Jabaquara e pegar o ônibus para Bertioga. Desça no ponto final dele que fica a cem metros da balsa. Depois, é só atravessar a balsa e subir a trilha para a Praia Branca. Quem faz o trajeto do Jabaquara para Bertioga é a Viação Ultra (13) 3316-6579 / 3316-6579. O custo para ir a Bertioga é de R$ 26,00 e R$ 22,00 para voltar até o Jabaquara. Horários: 6h10, 8h, 10h20, 13h30, 15h20
e 18h10 Caso você não consiga pegar esse ônibus, a opção é ir para o Guarujá e de lá pegar um ônibus de linha até a balsa que vai pra Bertioga. Ai é só pegar a trilha. Outra empresa que faz o trajeto São Paulo até Bertioga é a Viação Litorânea. Telefone (11) 32193649/ 3219-3649. Os ônibus saem do Terminal Rodoviário do Tiete nos seguintes horários: 6h30, 8h30, 10h30, 13h30, 16h30. Em todos os casos é aconselhável conferir antes os preços. VENTURA- Junho/2011 | 49
A 400 METROS DE ALTURA!
FOTOS: FELIPE DOS SANTOS
A noiva distante
A cachoeira Véu de Noiva é vista por muitas pessoas, mas poucas a visitam. A reportagem da Ventura foi até lá Felipe dos Santos Quase sempre o bom observador pode avistar das rodovias Anchieta e Imigrantes um filete de branco mesclado ao verde imponente da Costa da Mata Atlântica. Este fio perdido no meio da serra é a Cachoeira Véu da Noiva. Não é sempre, porém, que se pode vê-la. As condições climáticas, o rumo do vento, o céu limpo e aberto e a posição ideal facilitam o espetáculo. A cachoeira fica no Parque Ecológico Perequê, em Cubatão. A descida da serra de carro pode levar de 20 a 35 minutos, dependendo do trânsito e da pista em que se está. No parque, o Rio Perequê e as cachoeiras dão um show de beleza. O Véu da Noiva fica no topo da serra, a 400 metros de altura, numa trilha difícil de ser 50 | VENTURA - Junho/2011
O caminho não é fácil, mas o esforço é compensado
vencida em meio à biodiversidade da Mata Atlântica. Mas o esforço compensa. Ao chegar em frente ao parque é possível testemunhar o contraste entre a natureza e as indústrias ao redor. Uma placa desejando as boas-vindas foi pintada recentemente. No dia da visita, era possível sentir o cheiro de tinta fresca. Ao ultrapassar a placa de boas-vindas, o visitante percorre um quilômetro de asfalto até a portaria do Parque Perequê. Neste quilometro, trava-se o duelo de tons entre o verde e o cinza. A intromissão das indústrias termina após a chegada à entrada principal. Do portão pintado de verde em diante somente a natureza predomina. Na esquerda, o verde e o rio desembocam estrada afora. Na direita, o cinza representa os contêineres protegidos por muros com cercas elétricas. O Perequê permaneceu anos fechado e inacessível ao público. A relação entre o parque e a empresa Rhodia nunca foi de harmonia. Em 1976, esta assume definitivamente que, diante da falta de espaço físico no interior da fábrica, despejou clandestinamente rejeitos tóxicos ao redor do parque. Depois de anos enfrentando problemas judiciais, em janeiro de 2002 a Rhodia
Mesmo antes de chegar na cachoeira, o visual já é lindo anunciou a sua retirada da região, sem oferecer, no entanto, garantias quanto ao cumprimento das obrigações impostas perante o imenso passivo socioambiental. Travou-se, então, a luta para a recuperação do Parque Ecológico Perequê e de suas belezas naturais. Nesse período, chegar ao Véu da Noiva era praticamente impossível. Aventureiros
corriam sérios riscos, inclusive de morte. Sem mencionar os riscos de ser atacado por animais selvagens e peçonhentos que habitam a mata. O local ficou praticamente abandonado e o acesso às cachoeiras era precário. Até hoje a trilha deve ser percorrida com a presença de um guia. Agora, o Perequê oferece uma boa estrutura para os visitantes.
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WELLIGTON PINHEIRO
Durante o trajeto, o visitante se depara com algumas maravilhas da natureza.
A noiva à nossa espera
Com ajuda do guia Wellington Pinheiro, funcionário do parque, fomos conhecer o Véu da Noiva, a maior e mais inacessível cachoeira da região. O chão batido de terra, misturado com pedra, dificulta a caminhada. A cada passo, o trecho fica mais difícil. O nível da água do Perequê não é fundo, o que possibilita andar pelo rio. Mas as dificuldades persistem. A correnteza e as pedras enormes e escorregadias dificultam o trajeto pela água. Antes de chegar à trilha principal, o verde, o barulho das aves e os ruídos do rio se misturam aos gritos da criançada,
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ao aroma de churrasco e ao forró. São homens e mulheres que frequentam o trecho como lazer. Contudo, toda a algazarra vai ficando para trás e as águas correntes ganham força, aliadas ao verde predominante na aventura. Distante da “civilização”, a brisa é mais forte. O repelente não espanta mais os borrachudos que iniciam o ataque contra os que insistem em chegar ao Véu da Noiva. É como se a natureza reclamasse: “O que vocês estão fazendo aqui?” Um corredor cercado de árvores — foram homologadas 178 espécies no parque — e plantas raras é o primeiro indício das dificuldades e da aventura que
estão por vir. O guia para e avisa: — A partir de agora, estamos sendo observados pela natureza. Aqui, é o habitar dela e nós somos os estranhos... A secretária Patrícia Dantas Pereira dos Santos, que fazia a trilha comigo, segue com passos firmes atrás e diz: — Impressionante, o clima é bem diferente nesta parte da trilha. Wellington fala sobre as espécies vegetais neste trecho da mata. Seguindo a trilha, aponta: — Olhem o buraco naquele tronco de árvore ali... Vocês podem ver? O tronco de árvore não é grande, por isso é fácil enxergar o buraco. Foi feito por um pica-pau. Essa espécie de ave habita essa parte da selva. Pouco mais de 300 metros depois da marca do pica-pau, Wellington mostra um buraco de uns 30 centímetros no solo: é uma toca possivelmente feita por cobras jararacas ou jaracuçu, que ficam submersas no solo. Nessa primeira parte da caminhada, avistamos a samambaia de metro ou arborescente, o xaxim. — Essas plantas eram muito comuns em residências. Hoje, é proibida a retirada delas — avisa Wellington Nesse corredor, a Mata Atlântica ainda não é tão severa, mas as borboletas de várias cores so-
brevoam sobre nós. Já bem distante da entrada principal do parque, ao andarmos, sentimos algo nos rostos. São teias de aranhas. É possível encontrar no caminho variedades de aranhas, até mesmo venenosas. Fim da primeira parte da trilha. Após este trecho é preciso atravessar o rio. Agora, a tarefa ficou um pouco mais fácil, isso porque as chuvas fortes de maio provocaram deslizamentos que arrastaram mais pedras para o meio do rio, sobre as quais tentávamos nos equilibrar. A próxima parada é bem mais difícil. A natureza parece neste momento não querer que adentremos a mata. O corredor fica mais estreito. Em determinados pontos, passarmos com o glúteo no chão. O suor começa tomar conta dos corpos, as gargantas ressecam e a sede aumenta junto às dificuldades do percurso. Uma trégua da natureza no meio do caminho. Wellington nos apresenta as bromélias. Elas nascem no solo, mas há as que preferem as sombras nos troncos de árvores e as que procuram luzes difusas. As bromélias são capazes de grande absorção de água, por isso a adubação líquida é a mais recomendável para o seu cultivo. Bebemos então a água que brotava desVENTURA- Junho/2011 | 53
sas plantas. Depois, o guia nos instruiu: — Sempre que estiverem numa aventura no meio da mata, a cada 200 metros façam uma marca nos troncos das árvores. Isso evita que vocês se percam. Conheço bem essa trilha, por isso não preciso demarcar o caminho. Em seguida, avistamos os cipós, uma planta lenhosa e trepadeira, firme como corda. Típico das florestas tropicais, o cipó nasce próximo a uma árvore da espécie já existente. Esse processo ocorre para que as árvores mais novas assimilarem os nutrientes das mais velhas, até as árvores mais antigas morrerem. Todo este processo é facilmente visto na trilha rumo ao Véu da Noiva. — Muito cuidado onde colocam as mãos —
alerta o guia. — Nem sempre os que estão entrelaçados nas árvores são cipós; às vezes, são cobras e a defesa delas são os ataques. As cobras que costumam ficar nesse tipo de árvores não são venenosas, mas o ferimento demora a cicatrizar. Após uma hora e meia de aventura é preciso atravessar um pedaço complicado, até mesmo para quem está acostumado a fazer aventura. Para facilitar o acesso que a natureza insiste em dificultar, foram coladas duas cordas para uma travessia por um barranco bem estreito. Uma pedra com uns 80 centímetros — mal passam os dois pés juntos — fica rente à encosta da mata. É preciso segurar bem firme e se apoiar na corda a cada passo. O vento no corpo e as pedrinhas caindo no
precipício, que não é tão fundo observando-se de cima da pedra. Mas uma queda daquela altura pode levar à morte. — Será que vou conseguir? — indagou Patrícia. Depois de passar o sufoco da corda e do precipício, mais uma ribanceira a ser escalada. Agora, escorregamos muito nas pedras e as águas da cachoeira dificultam mais ainda a travessia. Após meia hora neste último trecho, enfim chegamos ao Véu da Noiva. No total foram duas horas e cinco minutos de caminhada até a última cachoeira do parque. — Graças a Deus, aqui estamos! Este é o Véu da Noiva — apresenta Wellington. Os aventureiros vibram e até mesmo gritam de alegria. As vozes multiplicadas formam ecos. A acústica natural
O visitante faz o passeio monitorado. Dessa forma, vários riscos podem ser evitados 54 | VENTURA - Junho/2011
O que levar
É importante o uso de roupas confortáveis é reproduzida pelas árvores, pelos pássaros, aves e tudo o que cerca esse natural cenário fantástico. O filete visto das rodovias Anchieta ou Imigrantes agora é uma cascata enorme e violentíssima de água. Nesse momento, o clima e os sentimentos se misturam. O alívio, a surpresa, o impacto, o medo, a brisa, o suor, o cansaço, a maravilha selvagem e indiferente à nossa presença. Tudo se funde no topo, a 400 metros acima do nível do mar. Embora seja a última cachoeira do parque é possível seguir a trilha: claro, à medida que se segue a viagem a trilha fica mais difícil ainda e exige maior preparo físico e mental. De acordo com Wellington, depois da cachoeira existem
dois rios absolutamente límpidos, os mais puros da região. O Sol aparece e complementa o espetáculo. Os seus raios se unem aos reflexos dos chuviscos da água jorrada da cachoeira e forma um mini arco-íris. A temperatura da água é muito gelada. Após duas horas de caminhada e aventura, vale a pena banhar-se nas bordas do Véu da Noiva. A descida proporciona os mesmo sentimentos, mas o que fica gravado na mente é a sensação de êxtase que a natureza proporciona. Depois de cumprir a trilha de volta, do portal do Parque Ecológico Perequê olhei para o topo. Como há centenas e centenas de anos, o Véu da Noiva escorria brilhante e majestoso pela Serra do Mar.
Para chegar ao Véu da Noiva é fundamental levar água e frutas para consumir durante a trilha, pois a caminhada é desgastante e exige muito esforço físico. Além de água, levamos maçãs, bananas e laranjas. Usamos roupas velhas: calça de moletom, blusa, boné e botas apropriadas. A aventura possibilita o uso de máquina digital ou filmadora, desde que protegidas com bolsas impermeáveis. Para visitar a cachoeira e o Parque Ecológico Perequê não é preciso pagar nada. Para marcar a aventura ligue para: (13) 9797 6915 e agendar com a administração, que disponibilizará um guia. O nosso foi Wellington Pinheiro, de 46 anos e há 22 envolvido com trabalhos na natureza. Ela atua também como autônomo na recuperação dos manguezais e na fauna e flora de Cubatão. A Prefeitura o convidou para fazer parte do quadro de funcionários do parque e dar continuidade ao trabalho de educação ambiental. VENTURA- Junho/2011 | 55
paisagens em que é possível montar sua barraca e estender o saco de dormir: praia, mata, fazenda, serra, e quantas mais a natureza produzir. E dois tipos de camping (em inglês, acampamento): o organizado e o selvagem. Nesse tipo há maior comodidade, pois é oferecido toda a infraestrutura: desde banheiros-químicos e energia elétrica até vigilância. É uma boa pedida para os campistas inexperientes. Mas se você gosta de se isolar, de ficar em contato com a natureza, é preciso não empor-
PARA ACAMPAR FOTOS: DIVULGAÇÃO
calhar o meio ambiente — carregar sempre sacolas para recolher o lixo produzido. Segundo o soldado da 1ª Companhia da Polícia Militar Ambiental, João da Silva, quem é surpreendido jogando lixo pode ser apenas advertido ou multado. Além do mais, cortar árvores em área de preservação permanente é crime ambiental. A pena varia de um a três anos de prisão, ou multa, ou ambas. Por causa da grande área de abrangência, as ações da Polícia Ambiental para inibir agressões ao meio am-
biente dependem das denúncias dos cidadãos. Santos, Cubatão, São Vicente, Praia Grande, Guarujá e Bertioga e cidades do Litoral Sul, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe e Pedro de Toledo pertencem à zona de fiscalização da 1ª Companhia do 3º Batalhão da Polícia Militar Ambiental, sediada no Guarujá. Ao acender fogueira, é necessário tomar cuidado com fagulhas para não incendiar a mata. Deve montá-la em um local sem vegetação seca em volta, porque pode alastrar o fogo. De preferência, cercada de
Os acampamentos estão mais organizado. Porém, alguns cuidados ainda são tomados
No acampamento ‘selvagem’ Uma prática quase extinta: acampar! Carlos Norberto de Souza No livro Na Natureza Selvagem, o jornalista Jon Krakauer refaz a trajetória real do jovem idealista Christopher McLandess, que abandonou o conforto de uma existência ma-
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terialista e um futuro brilhante, para, sozinho e sem dinheiro, e sem revelar à família seu paradeiro, viajar pelos Estados Unidos dos aventureiros, rumo ao Alasca, onde pretendia passar o resto de seus dias vivendo da terra, da natureza. Sua ins-
piração principal era o escritor Jack London. Seus planos, porém, foram interrompidos pelo frio e pela inanição. Claro que, se você deseja uma aventura ou simplesmente se divertir, este é um péssimo exemplo a ser seguido. Existem diversas
Antes de sair para acampar é importante ter certeza que nada está sendo esquecido VENTURAVENTURA-Junho/2011 Junho/2011||57 57
pedras ou num buraco no chão. Causar incêndio em mata ou floresta é crime sujeito à pena de dois a quatro anos de cadeia. E, seguindo o bom-senso, não a acenda ao lado da barraca — por motivos óbvios! Por questão de praticidade, alimentos enlatados e de preparo instantâneo são ideais para matar a fome de maneira fácil e rápida. Já em caso de expedição por vários dias, é melhor a comida desidratada. Não podemos esquecer de água para consumo, pois desidratada é a comida, não você. E, antes de acampar, faça um reconhecimento do lugar onde armará a barraca. Pergunte a alguém que conheça o local — não deixe de levar repelente para mosquitos. De acordo com o blog Turismo Consciente na Costa da Mata Atlântica (http://www.blogcaicara.com/), o terreno deve ser plano, regular e elevado para, em caso de chuva, escapar de alagamentos. E também permeável (que absorva a água), como gramado e areia, porque a terra tende a absorver menos a água, “além de sujar mais a barraca” .Ao fazer camping na praia, deve-se ficar abrigado do vento e da maré. Outra dica do blog é: não deixar 58 | VENTURA - Junho/2011
Comida desidratada ou enlatadas e de preparo instantâneo, muita água e sacos de lixo precisam fazer parte da lista do que levar na hora de acampar restos de alimentos ao redor da barraca, pois atraem animais, e você acaba transgredindo a regra de não jogar lixo no ambiente. O funcionário público, Guilherme Antunes, de 27 anos, costumava acampar com mais fre-
quência desde os tempos de colégio. Sempre pelas bandas do Litoral Norte, alcançando a divisa do Rio de Janeiro. “Ilhabela, Praia de Castelhanos, Paúba e Trindade”, cita alguns lugares. “A gente conhece muita gente diferente,
com outras experiências e outras bagagens de vida. Troca muita ideia e compartilha de momentos bons. Boa música, violão e céu estrelado, praia com gente bonita entre outras coisas que fazem valer a viagem”, relembra.
Mas contratempos já ocorreram: como chegar ao camping e encontrar tudo “absolutamente lotado”. Ou, na praia, a chuva alagar tudo e transformar num “deus-nos-acuda”. “Ou saber de gente que já foi assaltado
ou maltratado pela polícia por preconceitos idiotas.” Mas os pontos positivos prevaleceram: “Momento bom foi ter que dividir barraca apertada com duas meninas que conheci na praia porque a delas rasgou”. VENTURA- Junho/2011 | 59
O voo de parapente é uma ótima oportunidade para ver as cidades de cima
Ventura Editora Caroline Leme (carolzitah_17@hotmail.com) Editores de Arte Joanna Flora (joannaflora@gmail.com) Vagner de Lima (vagnercidlim@hotmail.com) Repórteres Aline Almeida (lines007@hotmail.com) Bruna Dalmas (brunadalmas@hotmail.com) Carlos Norberto (carlos_jornalismo@hotmail.com) Elizabeth Soares (elizabeth_soares81@hotmail.com) Felipe dos Santos (fors_sa@hotmail.com) Jéssica Amador (jessicasantos.amador@bol.com.br)
Turismo ecológico e de emoção Joanna Flora (joannaflora@gmail.com) Joyce Salles (jooyce.salles@hotmail.com) Larissa Pimentel (lali_pimentel@hotmail.com) Tássia Martins (tassiamartins@hotmail.com) Vagner de Lima (vagnercidlim@hotmail.com) Esta revista é produzida pelos alunos do 3º ano de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação, da Universidade Santa Cecília. Diretor da FaAC Humberto Challoub Coordenador do Curso Robson Bastos Professor-responsável Márcio Calafiori