Revista tec ed13

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SUMÁRIO

EDITORIAL Conhecimento e inovação tecnológica ganharam incrível impulso, na última década, como motores do crescimento econômico sustentado.

ENTREVISTA Inovação e os caminhos para o desenvolvimento da Amazônia Roberto Mangabeira Unger ARTIGO Relação universidade-empresa e o resultado em inovações José Manoel Carvalho de Mello

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A afirmação encontra respaldo na constatação da importância que países e regiões desenvolvidos têm imputado a esses temas, tratando-os como elementos estratégi-

ARTIGO Políticas públicas e o desenvolvimento da Biotecnologia em Cuba Tirso Walfrido Saenz Sanches

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REPORTAGEM Inovação: a estratégia competitiva Cristina Monte

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OPINIÃO O momento da inovação: oportunidades para o Brasil Evando Mirra de Paula e Silva

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ARTIGO A política de inovação no Brasil e seus impactos sobre as estratégias de desenvolvimento tecnológico empresarial Maurício Mendonça

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cos centrais de suas políticas de desenvolvimento, com claras repercussões nas dimensões social, política e, principalmente, econômica. No caso do Brasil, uma questão fundamental é o desafio de estabelecer adequada articulação entre políticas públicas, conhecimento, tecnologia e mercado, considerando novos modelos econômicos emergentes que sejam apropriados a distintas realidades. Dada a riqueza e amplitude associadas à inovação, T&C Amazônia opta por um recorte que procura discutir e exemplificar a recente trajetória do tema e sua crescente participação

ENTREVISTA Características da inovação nas micros e pequenas empresas Anne-Marie Maculan

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nas agendas nacional e local, sempre fiel ao compromisso de oferecer opiniões qualificadas de diferentes personagens e profissionais, colocando-as à disposição de um interesse maior, representado pelo objetivo comum do crescimento econômico e do desenvolvimento. Que esse esforço, refletido ao longo de suas páginas, resulte em alento para uma ainda mais contundente incorporação da inovação nas políticas públicas e nas estratégias e práticas das diferentes configurações empresariais da Amazônia.

Pontos de vista Alceu Castello Branco Elisabete Brocki João César Dotto José Eduardo Cassiolato

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ARTIGO A emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas: contribuições para sua análise e fortalecimento Guajarino de Araújo Filho Niomar Lins Pimenta Dimas José Lasmar

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ARTIGO Inovação na indústria do Amazonas Mariana Martins Rebouças

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ARTIGO Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação José Roberto Casarini ARTIGO A gestão da inovação tecnológica em uma empresa de confecções: um exemplo no estado do Amazonas Augusto César Barreto Rocha

NOTÍCIAS T&C

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ENTREVISTA

Inovação e os caminhos para o desenvolvimento da Amazônia Roberto Mangabeira Unger

Foto: Valter Campanato - ABr

O

ministro do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Roberto Mangabeira Unger, nasceu no Rio de Janeiro e se formou na Faculdade Nacional de Direito, obtendo o doutorado na Universidade de Harvard. Sua obra de pensamento político, econômico, jurídico e filosófico é publicada e discutida em todo o mundo, e traduzida para muitas línguas. Caracteriza-se pela proposta de métodos e de idéias contrárias às concepções intelectuais dominantes e pela imaginação de alternativas institucionais para as sociedades contemporâneas. Em janeiro, o ministro visitou a Região Norte acompanhado de comitiva interministerial. Seu objetivo com a viagem foi promover a articulação entre os atores locais de modo que o resultado contribua para a elaboração de uma estratégia nacional em prol da sustentabilidade da Região Amazônica. Sob o ponto de vista do desenvolvimento da Amazônia, a seguir ele expõe suas idéias em entrevista exclusiva a T&C.

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Inovação e os caminhos para o desenvolvimento da Amazônia

Revista T&C - Que argumentos podem convencer a população brasileira de que o desenvolvimento da Amazônia é essencial para um projeto de nação socialmente justa e competitiva? Na prática, alcançar esse consenso nacional é um desafio de governança ainda possível de ser vencido durante o atual mandato do presidente Lula? Roberto Mangabeira Unger - A Amazônia não deve ser vista como uma causa regional. A floresta é o nosso grande laboratório, o lugar onde precisamos construir políticas e instituições que terão relevância no resto do País. A Amazônia é a vanguarda, não a retaguarda. Todo o eixo do projeto que estamos encaminhando e o ponto de partida desse novo modelo de desenvolvimento econômico para o País começam pelo zoneamento econômico e ecológico da Amazônia, baseado na solução das questões fundiárias, que permitirá uma definição de estratégias econômicas distintas para diferentes partes da região. Agora, esse trabalho que me proponho a iniciar, essa minha tarefa, não substitui o Plano Amazônia Sustentável, o PAS. A idéia é aprofundar o PAS e definir os novos rumos para o País. Fora o PAS, o governo ainda tem o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que organiza grandes obras de infra-estrutura na Região Norte e no resto do País. Então, é preciso definir projetos para a Amazônia desflorestada, a Amazônia verde e ainda temos a problemática do complexo industrial urbano. Meu trabalho é combinar todos esses elementos e colocá-los dentro de uma visão estratégica para o País. Para que isso funcione, a nação toda precisa abraçar a causa. E não pode ser o pleito de um lobby, de um setor ou de um lugar. Precisa ser construída como uma causa que comova e esclareça o País. Para isso, temos que dar início à construção não de um consenso, mas de uma convergência preponderante. Não trabalho com prazos, mas acredito que é preciso dar o passo inicial e é isso que o governo Lula está fazendo ao dar início a essa discussão sobre a Amazônia. Revista T&C - Que inovações, por parte das

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diferentes esferas de governo, seriam capazes de harmonizar crescimento econômico e sustentabilidade na construção de um projeto de desenvolvimento para a Amazônia? Roberto Mangabeira Unger - A Amazônia não é composta apenas por árvores, mas pelos 25 milhões de brasileiros que vivem na região. Qualquer estratégia de defesa na Amazônia será precária se não estiver fundada em um projeto econômico consistente. A Amazônia não pode ser apenas um santuário, um parque ecológico para o deleite da humanidade. Mas também não pode ser entregue às formas devastadoras da produção. Hoje, a maior vilã do desmatamento na Amazônia é a pecuária extensiva. Esse é um problema do País todo. Para enfrentá-lo, temos que ter uma estratégia para a parte já desmatada da floresta, outra para a Amazônia verde e uma terceira para as áreas urbanas. Tenho conversado com os ministros do governo para avançarmos na definição de ações para essas várias Amazônias. É um desafio enorme que temos pela frente. Até porque é preciso conciliar ações sem perder de vista o conjunto e a definição clara da estratégia. Por isso, é preciso levar em consideração todas as variantes. Na Amazônia que já sofreu os efeitos do desmatamento, por exemplo, teremos oportunidade de construir um modelo econômico que associe o Estado aos pequenos produtores, vinculando diretamente as formas mais atrasadas e as mais avançadas da produção. Nós teríamos que substituir a pecuária extensiva em alguns lugares por pecuária intensiva, combinada com a agricultura avançada, porém de padrão familiar. E também a produção de biodiesel com o dendê, por exemplo. Em outros lugares, poderemos ter o replantio de árvores ou lavouras perenes. É uma grande tarefa econômica, que só vai prosperar dentro de um novo modelo institucional. Revista T&C - O senhor corrobora com a percepção de que são várias as “amazônias” e, nesse caso, isto implicaria em diferentes soluções de desenvolvimento? Roberto Mangabeira Unger - O eixo da solu-


Inovação e os caminhos para o desenvolvimento da Amazônia

ção é um projeto de zoneamento econômico e ecológico que possibilite a formulação de estratégias econômicas distintas para as diferentes partes da Amazônia. Há muito que se reconhece a importância de tal zoneamento. Em grande parte da Amazônia, ainda não se traduziu o princípio em realidade. É que zoneamento econômico e ecológico não representa exercício de cartografia. Significa tradução espacial de um pensamento econômico. É esse pensamento que tem faltado - na forma e no grau requeridas - à Amazônia e ao Brasil. Zoneamento econômico e ecológico é simplesmente uma maneira de decidir o que pode - e deve - ser produzido e onde deve ser produzido. Não se confunde com a pretensão de planejar atividades produtivas determinadas e de designá-las como adequadas ou inadequadas para certas regiões. Estabelece os limites do que pode e não pode ocorrer em cada área zoneada. Daí ser a contrapartida ao zoneamento econômico e ecológico um conjunto de estratégias econômicas - e de idéias institucionais que as acompanhem - para cada um dos territórios classificados pelo zoneamento. Revista T&C - Como estimular a capacitação e o desenvolvimento tecnológico apropriados para a valorização dos recursos naturais, de modo a dificultar a extração predatória e o beneficiamento de matérias-primas fora da Região? Que papéis a pequena e a grande empresa desempenham nesse cenário? Roberto Mangabeira Unger - A questão tecnológica é fundamental. Na questão da Amazônia que sofre os efeitos do desmatamento, há uma falta de instrumental adequado para o aproveitamento de florestas com as características da nossa. A tecnologia à disposição no mundo para o aproveitamento florestal evoluiu para trabalhar com as florestas temperadas - muito menos ricas e muito mais homogêneas do que a nossa. Disponível no mundo está uma tecnologia que se adequa às florestas da Finlândia muito mais do que às florestas do Brasil. Não convém aguardar que o mercado mundial providencie, em algum momento longínquo do futuro,

a necessária resposta tecnológica. Tratemos nós de fazer fabricar a de que precisamos. Pode ser por acerto do governo, via BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com grandes empresas privadas brasileiras do setor de bens de capital. Ou pode ser por ação direta do governo. Pode o governo fundar e capitalizar, no regime de mercado, sem monopólio ou oligopólio e com gestão profissional independente, empreendimento destinado a inventar e a fabricar a tecnologia melhor para nós. Poderia logo que possível ser vendido a investidores privados, mas sempre por preço de mercado ou em troca de participação acionária nos empreendimentos privados subseqüentes, como faria um “venture capitalist”. O problema técnico é a necessidade de organizar a prestação de serviços ambientais. Tais serviços incluem todo o monitoramento do manejo da floresta. Não se limitam, porém, a vigiar as florestas, dentro e fora das reservas ecológicas; implicam, também e, sobretudo, orientar todas as atividades econômicas ligadas à selva, desde o simples extrativismo até as iniciativas mais avançadas que se desenvolveram ao redor da produção florestal controlada e sustentável. Trata-se, portanto, de verdadeiro extensionismo tecnológico. Como tal precisa ser organizado como responsabilidade do serviço público federal, a partir do Serviço Florestal, em colaboração com os governos dos estados e dos municípios da Amazônia. Teremos de formular critérios para distinguir os serviços florestais que os agentes privados devem remunerar dos florestais que se devem oferecer gratuitamente. Revista T&C - Nesta etapa de planejamento, de que modo o conhecimento acumulado a partir do projeto Zona Franca de Manaus está sendo considerado para acelerar o fortalecimento de uma economia nascente, baseada em bionegócios, na Região? Roberto Mangabeira Unger - Ao contrário do que se supõe, a Zona Franca não se compõe em sua maior parte de meras maquiladoras: indústrias que apenas montam passivamente bens cujos componentes são fabricados no estrangeiro. A

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Inovação e os caminhos para o desenvolvimento da Amazônia

Zona Franca serve de palco para espectro amplo de experimentos industriais, que combinam, em graus variados, fabricação vertical, montagem e inovação. Lá se encontra muito de industrialmente primitivo ao lado de bastante de industrial avançado. Todas as características do modelo econômico alternativo lá teriam a melhor oportunidade para desenvolverem-se. Os governos da União e do Amazonas já estão engajados, por meio do próprio estabelecimento da Zona Franca, dos incentivos que a possibilitam e de políticas que incentivam a substituição das atividades de montagem por atividades de transformação. As práticas de “concorrência cooperativa” se desenvolveriam com naturalidade e com proveito no ambiente de um parque industrial. Falta ainda construir e estreitar vínculos diretos, na Zona Franca, entre empresas mais e menos avançadas dentro das mesmas cadeias produtivas. A questão central é se a Zona Franca deve ser entendida apenas como entreposto dependente do favor fiscal e montador de produtos padronizados ou se deve ser compreendida, também e, sobretudo, como laboratório de práticas e de empreendimentos inovadores. Como laboratório, estaria livre de alguns dos entraves que a produção enfrenta Brasil afora. E poderia acalentar empreendimentos de significado exemplar. A questão é como empreendimentos avançados podem produzir máquinas e bens que outros mais atrasados possam assimilar. Precisamos estabelecer um vínculo entre a vanguarda e a retaguarda produtiva. Na Região, precisaríamos estabelecer esse vínculo de maneira a qualificar o manejo controlado e sustentado da floresta, com a qualificação tecnológica e organizacional das empresas urbanas. Sobretudo das pequenas empresas, para que elas aproveitem produtos da própria floresta na produção de soluções e máquinas da própria indústria florestal. Teríamos então uma revolução simultaneamente produtiva, ambiental e social na Amazônia.

de desenvolvimento sustentável será construído a partir de uma nova perspectiva, mais descentralizada? Qual a capacidade de interlocução na Região para isto? Segundo esse enfoque, o que mais chamou sua atenção nessa breve passagem? Roberto Mangabeira Unger - O projeto Amazônia tem de ser em primeiro lugar projeto brasileiro de construção nacional. Ao assumi-lo como nosso, podemos em seguida levá-lo a um plano de maior autoridade e eficácia quando o tornarmos fulcro de projeto sul-americano. Deve ser um projeto a ser desenvolvido em parceria com as repúblicas com que compartilhamos a Amazônia. Essa dimensão maior não resultará de boas intenções. Não nascerá indutiva e espontaneamente como o mínimo denominador comum de uma série de estratégias nacionais fracas e pontuais. Por todas as razões, somos nós que temos a primeira responsabilidade para provocar a discussão com nossos vizinhos. Só a provocaremos se tivermos, em primeiro lugar, o que propor para nós mesmos. A partir daí é que se pode iniciar dinâmica sul-americana que tenha por conteúdo não apenas os problemas comuns evidentes - de transporte, energia e defesa - mas também e, sobretudo o conteúdo de nossas idéias a respeito da ocupação da Amazônia, com e sem mata. Esse projeto não deve ser apenas a reivindicação dos estados e da sociedade da Amazônia junto ao governo federal e ao País. Se for, será visto, ainda que injustamente, como mais um pedido de mais um “lobby”. A idéia é percorrer todos os estados e discutir com os governos estaduais e representantes da sociedade civil a importância de a Amazônia estar no centro das discussões nacionais. Daí porque estou percorrendo os estados para chegar a um entendimento com todos os governadores e organizações sociais da Amazônia.

Revista T&C - O seu recente esforço de conversar com alguns atores na própria Região pode ser entendido como uma sinalização de que o modelo

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ARTIGO

Relação universidade-empresa e o resultado em inovações José Manoel Carvalho de Mello

RESUMO A relação universidade-empresa é um importante aspecto do processo de inovação e vem merecendo crescente atenção por parte dos formuladores de políticas públicas. São bastantes heterogêneas as contribuições dadas por universidades para esse processo, permeando suas atividades de ensino, pesquisa, transferência/comercialização de conhecimento e geração de empresas. Neste trabalho buscamos apresentar uma síntese destas principais contribuições permeada de casos de êxito.

INTRODUÇÃO Fruto de uma sistemática política de fomento as atividades de pesquisa e de pós-graduação em curso desde meados de 1960, no Brasil se forma um número expressivo de pós-graduados, cerca de 35.000 mestres e de 11.000 doutores no ano de 2007, através de seus 1.819 programas de pós-graduação stricto sensu ofertados por 196 instituições científicas e tecnológicas (em sua grande maioria

por instituições universitárias). São nessas instituições científicas e tecnológicas e principalmente nas universidades públicas que se produzem os trabalhos científicos que tornam o Brasil detentor de cerca de 1,8% da produção científica indexada mundial, praticamente equivalente a participação percentual de seu PIB no PIB mundial. (Mello, Maculan, Renault 2007). As empresas brasileiras, por outro lado, não têm demonstrado capacidade em gerar idéias relevantes que possam gerar patentes. O percentual das patentes depositadas pelo Brasil em relação ao total depositado pelo mundo no escritório americano de patentes é da ordem de 0,06%. Podemos dizer então que nossa participação no total mundial de patentes é 30 vezes menor que a nossa participação no total mundial da produção científica indexada. (Mello, Maculan, Renault 2007). Uma das causas desse baixo desempenho inovador das nossas empresas resulta de que, do total de cientistas brasileiros, apenas 23% (menos de 20 mil) desenvolvem pesquisas em laboratórios industriais, enquanto que na Coréia do Sul e nos Estados T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Relação universidade-empresa e o resultado em inovações

Unidos, por exemplo, cerca de 54% (94 mil) e 80% (790 mil) dos cientistas, respectivamente, estão empregados nas indústrias para o desenvolvimento de produtos e processos inovadores (Brito Cruz 2007). Mais ainda, dados recentes indicam que apenas um terço das empresas industriais brasileiras com mais de dez empregados, pouco mais de 30 mil, declararam ter feito algum aperfeiçoamento em seus produtos (ou em seus processos) ou introduzido no mercado algum produto novo (ou processo novo) ao menos à empresa (IBGE 2007). Em que pese tal cenário macro desfavorável, encontramos empresas, individualmente ou associadas em redes, buscando nas universidades competências para ampliar suas capacitações tecnológicas para inovarem, muitas vezes procurando soluções para pontuais gargalos tecnológicos, outras vezes para o desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa em fase pré-competitiva. Por outro lado, temos também exemplos de grupos de pesquisa em universidades, conjugando excelência acadêmica seja com a comercialização de tecnologia gerada a partir das atividades de pesquisa para empresas via patenteamento e licenciamento ou seja com a criação de empresas por parte de seus pesquisadores a partir das tecnologias por eles desenvolvidas (as assim chamadas empresas spin-offs). Para melhor exemplificar tais modalidades de relacionamento universidade e empresa acima mencionadas, selecionamos três respectivos casos de êxito, a seguir apresentados.

Casos de êxito no relacionamento universidade-empresa Empresas interagindo com universidades Um expressivo exemplo de interação entre empresas e universidades articuladas em redes para o desenvolvimento de soluções inovadoras para gargalos tecnológicos é o que se passou com a indústria de queijos de Minas Gerais, relatado num

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recente trabalho de Paula e Silva (2005) e aqui transcrito. Trata-se de fato do surgimento da indústria de pão de queijo no Brasil. Tudo começou quase vinte anos atrás quando alguns fabricantes pensaram em congelar a massa do pão de queijo motivados pela onda dos alimentos congelados que então começava a tomar força no mercado. Num primeiro momento nada se conseguiu, pois a massa congelada não fermentava quando do reaquecimento. Chamados para analisar o caso, pesquisadores do Grupo de Tecnologia de alimentos da Faculdade de Farmácia da UFMG descobriram que o problema advinha do fato de que as baixas temperaturas destruíam o fermento natural existente na massa. Após inúmeras tentativas sem êxito deixou-se de lado a busca de um novo fermento e buscou-se uma solução biotecnológica que gerasse uma variante do fermento natural, que fosse resistente ao frio. Uma solução foi encontrada fruto de um trabalho de pesquisa que envolveu a Universidade Federal de Viçosa, assim como outras instituições como a Universidade Federal de Lavras e o Centro Tecnológico de Minas Gerais. O impacto da descoberta foi extraordinário, como salientou Paula e Silva, possibilitando o surgimento de cerca de 400 empresas dos mais variados portes, criando oito mil pontos de venda do produto no Brasil e gerando um mercado externo, para exportação, até então inexistente (notadamente os EUA, Canadá, México, Argentina, Venezuela, Inglaterra, Alemanha, Itália, Portugal, Espanha, França, Israel, Cingapura e Japão). Não bastassem tais impactos, vale continuar transcrevendo o caso narrado por Paula e Silva, quando então ele nos mostra alguns dos efeitos gerados por tal transformação desencadeada: “A rápida expansão do empreendimento viu-se limitada pela falta de queijo em Minas Gerais. Isso significou um forte impulso para a indústria queijeira, obrigada ainda a elevar seus padrões de qualidade para responder às exigências da exportação. A importação de queijos da Nova Zelândia abriu, nesse contexto, um novo segmento de mercado, com a introdução do pão de queijo light. A implantação no


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mercado português gerou o novo segmento do pão de queijo com recheio doce. Surgiu também uma engenharia de projetos para a instalação de unidades de fabricação de pão de queijo. Facilmente acessíveis pela internet, os projetos são desenhados para qualquer porte do empreendimento e são facilmente obtidos.” Universidades interagindo com empresas e comercializando seus resultados de pesquisas Recentes exemplos de grupos de pesquisa em universidades interagindo com empresas e comercializando seus resultados de pesquisas nos é apresentado entre outros por Fernanda Sobral (2007) e por Antonio Botelho (2007). Deste último selecionamos o caso estudado sobre a interação com empresas do Laboratório do Prof. Fernando Galembeck, do Departamento de Físico-Química do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a seguir por nós sumarizado. A interação com empresas num processo de mão dupla tem sido uma constante na trajetória desse grupo de pesquisa. Pesquisas de ponta são feitas para a solução de problemas tecnológicos nas empresas e novos temas de pesquisa surgem quando da busca pela solução desses problemas. Este grupo de pesquisa é um dos mais produtivos em termos científicos dentro do Instituto de Química, que por sua vez é um dos três departamentos no País com nota máxima da CAPES para a área de avaliação Química dentre os 43 cobertos pela avaliação trienal de 2005. O próprio Galembeck nos últimos anos tem apresentado uma produção média anual de seis artigos publicados em periódicos internacionais indexados. Desde o final dos anos 1980 esse grupo de pesquisa vem trabalhando em pesquisa básica em pigmentos, inicialmente com o apoio do CNPq e da FAPESP. A partir de 1994 o seu grupo recebeu financiamento ao longo de mais de uma década no valor de cerca de R$ 1 milhão da empresa multinacional que opera no Brasil, Bunge Fertilizantes (an-

teriormente Serrana Mineração), para desenvolver uma série de pesquisas que resultou na produção de um pigmento especial para tintas e outras aplicações, registrada em 2005 sob a marca Biphor, à base de nanopartículas de fosfato de alumínio, cujo mercado potencial chega a US$ 5 bilhões. Pesquisas em nanocompósitos têm sido também desenvolvidas em parcerias com a Rhodia-Ster (hoje Mossi e Ghisolfi – M&G), no desenvolvimento de processo de fabricação de nanocompósitos de poliéster com argilas, com patentes depositadas no Brasil e nos Estados Unidos e com a empresa Orbys, no desenvolvimento de nanocompósitos de borracha natural e argila, com patente depositada e licenciada. Por outro lado, pesquisas para o desenvolvimento de tensoativos também foram feitas em parceria com a empresa Oxiteno e com recursos do Fundo Verde-Amarelo da FINEP, e pesquisas para o desenvolvimento de fibra precursora de poliacrilonitrila e de fibra de carbono foram feitas novamente com o apoio da FINEP (Fundo Verde-Amarelo) e em parceria com o Centro Tecnológico da Marinha e com a empresa Crylor/Radice. Mais recentemente o referido grupo de pesquisa vem trabalhando no desenvolvimento de nanocompósitos de borracha natural para adesivos e outros produtos, em parceria com o IBTeC de Novo Hamburgo e a empresa Orbys, com aplicações para a indústria de calçados e em parceria com a empresa Montana Química, para aplicações na preservação e acabamento de madeiras. Para termos uma idéia da importância da contribuição dessas empresas no financiamento das pesquisas realizadas pelo grupo, dados do ano de 2004 indicam que o valor total de financiamentos ao grupo foi de R$ 1.100.000,00, sendo cerca de 60% provenientes de financiamentos de empresas e cerca de 40% provenientes de financiamento público. Como fruto desta aliança entre excelência acadêmica e interação com empresas, cabe por último salientar que o Professor Fernando Galembeck possui 13 patentes depositadas, das quais 4 con-

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Relação universidade-empresa e o resultado em inovações

cedidas e 6 licenciadas, cinco delas (1991, 1994, 1997, 2004 e 2005) relativas à sua bem-sucedida interação com a Bunge, que resultou no pigmento branco Biphor, sendo um dos professores do Instituto de Química com o maior número de patentes. Universidades criando empresas spinoffs a partir de seus resultados de pesquisas De um trabalho de pesquisa em andamento de Thiago Renault*  selecionamos seu estudo de caso sobre o Laboratório de Processos com Membranas da COPPE/UFRJ e a formação de uma empresa spin-off, por nós sumarizado e apresentado a seguir. No Laboratório de Processos com Membranas do Programa de Engenharia Química da COPPE/ UFRJ pesquisas vêm sendo desenvolvidas nesse campo desde o início dos anos 1970, dirigidas por três pesquisadores seniores, num estreito relacionamento com laboratórios no exterior e com parcerias com diversas empresas tais como a PETROBRAS e Filtros Europa. Ao longo desses anos foi então se consolidando o desenvolvimento de um processo pioneiro de fabricação de membranas poliméricas porosas que permitem processos de microfiltração. Trata-se de uma tecnologia que pode ser aplicada no tratamento de efluentes industriais, no reúso e purificação de água, na indústria de alimentos, na indústria de biocombustíveis, na purificação e esterilização de ambientes, entre outros. Era uma tecnologia, portanto, de forte potencial mercadológico. Tem-se então uma tecnologia com um alto conteúdo científico, fruto de um trabalho de pesquisa ocorrido ao longo de trinta anos, desenvolvido por um grupo de pesquisadores de alta competência acadêmica. Tecnologia esta por sua vez, com um amplo espectro de aplicações. Acresce-se que esse era o único grupo que dominava tal tecnologia no cenário latino-americano. Desenvolvida a tecnologia em escala laborato-

rial, o próximo passo para viabilizar suas aplicações seria a sua comercialização para um posterior desenvolvimento em escala industrial, em uma outra estrutura organizacional mais adequada para tal. O caminho escolhido para a comercialização foi justamente através da constituição de uma empresa spin-off – a PAM Membranas – de cuja composição societária participaram os três pesquisadores seniores do laboratório, detentores do know-how, sendo que se juntaram dois ex-alunos de pós-graduação. Na ocasião o pesquisador mais sênior se aposentou da universidade para dirigir então a empresa, enquanto que os outros dois pesquisadores seniores permaneceram trabalhando no laboratório. Foi realizado então um acordo formal de cooperação em transferência de tecnologia através do qual a empresa PAM Membranas repassará um percentual de seu faturamento para o Laboratório de Processos com Membranas. A PAM Membranas, embora criada recentemente, no ano de 2002, tem sua trajetória já permeada por resultados marcantes. Ainda no ano de sua constituição legal, ela firmou convênio com a empresa de filtros domésticos Europa e foi também contemplada pelo edital do Fundo Verde-Amarelo com bolsas RAHE. Mais adiante, em 2005, foi selecionada e ingressou na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da COPPE/UFRJ. Nesse mesmo ano foi contemplada pelo edital Rio Inovação I e efetuou a venda do seu primeiro equipamento de aplicação industrial para a empresa Molecular Ambiental e ainda em 2005 efetuou a venda de outro equipamento de aplicação industrial para a Dupont. No ano de 2006 a PAM Membranas processou a instalação de uma unidade piloto para a PETROBRAS, e em 2007 ganhou o prêmio ANPROTEC de melhor empresa incubada do Brasil. A PAM Membranas por sua vez continua mantendo uma estreita colaboração com a sua célula mater, o Laboratório de Processos com Membrana da COPPE/UFRJ, a qual pode ser exemplificada pela presente parceria para o desenvolvimento de

* Parte integrante de sua tese de doutorado em andamento, desenvolvida no Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ, orientada por Anne-Marie Maculan e José Manoel Carvalho de Mello.

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Relação universidade-empresa e o resultado em inovações

uma nova tecnologia em membranas que permitirá a extração do álcool da cana de açúcar com baixa utilização de energia. Esse projeto recebeu apoio da FINEP no edital 01/06 Subvenção Econômica e terá duração aproximada de dois anos. Temos no caso que acabamos de narrar um encadeamento de atividades indo desde a transformação de resultados de pesquisas de ponta em uma tecnologia de alta densidade tecnológica que foi alçada ao mercado através da constituição de uma empresa spin-off, a qual continua interagindo com o seu laboratório de origem, realizando pesquisas conjuntas e repassando parte de seu faturamento para investimentos no laboratório de origem, completando assim um ciclo virtuoso.

BIBLIOGRAFIA Botelho, A.J.J. (2007) Capítulo Síntese Brasil, Projeto IANAS /Ford Foundation / IETS, The Leading Latin-American Universities and their contribution to sustainable development in the region (mimeo).

Conclusões Os exemplos acima por nós selecionados podem ser vistos como uma amostra de como os resultados das pesquisas desenvolvidas nas nossas universidades e instituições científicas e tecnológicas em geral podem ser utilizados para elevar a capacitação tecnológica das empresas para inovarem e também para gerarem empresas spin-offs, dando sua contribuição para um aumento no dinamismo na incorporação de conhecimentos e inovações ao processo produtivo e consequentemente para a constituição de um sistema de inovação melhor estruturado, mais maduro. Nos exemplos selecionados fica evidente também a presença de uma miríade de agências e órgãos federais e estaduais que atuam no fomento à pesquisa e à inovação, incluindo CNPq (bolsas e auxílios à pesquisa, bolsas RAHE); FINEP (Fundo Verde-Amarelo, Subvenção Econômica); CAPES (Apoio a Pós-Graduação e Pesquisa); FAPESP (bolsas e auxílio à pesquisa) e FAPERJ (Rio Inovação I). Como pano de fundo têm-se a Lei da Inovação e a atuação dos Núcleos de Inovação Tecnológicas tanto da UNICAMP quanto da COPPE/UFRJ e a atuação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da COPPE/UFRJ. São agentes fundamentais na construção de um ambiente favorável à inovação.

IBGE (2007). Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica – PINTEC 2005. Rio de Janeiro: IBGE, 2007.

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Brito Cruz, C.H. (2007). Apresentação no Painel “Políticas de Inovação e parcerias públicoprivadas: o que precisa ser feito”, Seminário “O desafio da Inovação no Brasil”, São Paulo, Novembro 2007 (sumarizado por Thiago Romero, Agência Fapesp, Novembro 2007). Fernanda Sobral (org.) (2007) Talentos para Inovação – Engenharias, Física, Matemática e Química. Brasília (mimeo).

Mello, J.M.C.; Maculan, A-M.; Renault, T. (2007) Universidades brasileiras e sua contribuição para a inovação e o desenvolvimento. Position Paper / Projeto UniDev :Universities and their contribution to development (mimeo). Paula e Silva, E.M. (2005). Modelos de inserção de C,T,I para o desenvolvimento nacional. Parcerias Estratégicas. No dia 20 Junho 2005 pp 1339-1345

José Manoel Carvalho de Mello é pesquisador associado ao Núcleo de Estudos em Inovação, Conhecimento e Trabalho da Universidade Federal Fluminense e ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação da FUCAPI. Professor credenciado junto ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal Fluminense e assessor do reitor para Políticas de Inovação na Universidade Federal Fluminense. E-mail: josemello@pesquisador.cnpq.br T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Artigo

Políticas públicas e o desenvolvimento da biotecnologia em Cuba Tirso Walfrido Sáenz

Introdução A biotecnologia moderna com aplicações médicas é uma das atividades científico-tecnológicoprodutivas em Cuba que mostra resultados da mais alta relevância em termos de processos bem-sucedidos de inovação. Neste trabalho busca-se mostrar a importante e decisiva influência de uma política pública e da adequada utilização de métodos gerenciais e organizativos¹.

res, requer uma política e uma estratégia coerentes. O governo cubano, desde o início dos anos 80, identificou o desenvolvimento da biotecnologia como prioridade nos programas nacionais² de desenvolvimento . No início do Período Especial³, voltou a enfatizar a importância estratégica do programa de biotecnologia como um dos três pilares da economia cubana.4 e 5

Política nacional de biotecnologia em saúde Um grande esforço, como criar, desenvolver e alcançar de forma sustentada resultados positivos de inovação, com a participação de múltiplos ato-

O Pólo Científico-Produtivo (PCP) do Oeste de Havana Uma das medidas organizativas mais importantes nessa direção foi a criação do Pólo CientíficoProdutivo do Oeste da Havana (PCP), no começo

¹ O tema do desenvolvimento da biotecnologia em Cuba foi amplamente tratado em Thorstendottir et al, 2004, e Säenz, 2005. ² Sobre esta questão ver Castro 1982, 1984 e 1986; e Partido Comunista de Cuba, 1986. ³ “O Período Especial”, denominação usada em Cuba para caracterizar o período de radicais medidas econômicas e sociais tomadas para enfrentar os inúmeros problemas ocasionados pela queda da URSS e dos países europeus do campo socialista, junto à intensificação do bloqueio e outras medidas impostas contra Cuba pelos EE.UU. 4 Os outros dos programas eram o alimentar e o turismo. 5 Sobre esta questão ver Castro 1990a, 1990b & 1991.

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Políticas públicas e o desenvolvimento da Biotecnologia em Cuba

dos anos 90. Para um setor como a biotecnologia, que requer forte base de conhecimentos, as curtas distâncias geográficas entre os diferentes atores que participam dos diversos processos inovativos, e as comunicações diretas, assim como um monitoramento permanente das atividades são fatores importantes para o êxito de processos inovativos. O PCP é uma estrutura organizativa virtual integrada por um conjunto de unidades que, numa forma organizada, juntam seus esforços, cooperam e se integram em processos de inovação para a inovação e difusão de tecnologias biotecnológicas de importância econômica e social. Esta concepção favorece a utilização de modelos de inovação mais avançados e integrados 6 . Poderíamos dizer que o PCP foi criado e firmou-se como uma experiência que apresenta características do que a teoria organizacional chamaria de “cluster”. As bases que possibilitaram essa iniciativa estavam dadas pelos esforços anteriores para o fortalecimento e institucionalização da ciência e tecnologia no país. Em 1962, foi criado o Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CENIC) cujas tarefas iniciais focalizavam, principalmente, a medicina. O CENIC se converteu num centro multidisciplinar com excelentes possibilidades para o trabalho interdisci7 plinar . Nele, um pequeno grupo multidisciplinar se dedicou à pesquisa básica em biologia molecular. Em 1980, o Dr. Lee Clark, ex-presidente do M. D. Anderson Cancer Center em Houston, no Texas, visitou Cuba e despertou o interesse dos mais altos níveis do governo cubano acerca das possibilidades da utilização do interferon para a cura do câncer. O grupo de cientistas da biologia molecular do CENIC assumiria esta tarefa. Alguns de seus participantes foram à Finlândia e outros aos EE.UU. para receberem treinamento na produção de interferon. Ao voltarem, em menos de dois meses, conseguiram produzir essa sustância em um laboratório instalado numa pequena casa na periferia de Havana. Entre 1981 e 1982, criou-se o Cen-

tro de Pesquisas Biológicas (CIB), com as tarefas principais de produzir o interferon recombinante e anticorpos monoclonais. Essa experiência inicial relacionava-se à biotecnologia e ao desenvolvimento de equipamentos e instrumentos para uso médico, tendo como objetivo primeiro o de apoiar as políticas de saúde pública no país. Em 1986, inaugurou-se o Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia (CIGB), que constituiu o núcleo principal de uma rede de centros vinculados à biotecnologia e produz vários dos produtos farmacêuticos e vacinas desenvolvidas internamente. A concepção e o sentido estratégico do trabalho dos centros do Pólo se expressam nos objetivos básicos do CIGB: incorporar as principais recentes disciplinas científicas, como a genômica, a proteônica e a nanotecnologia; alcançar os mercados do Primeiro Mundo; converter-se em um dos principais setores econômicos do país; contribuir efetivamente à saúde e à nutrição (por meio da agrobiotecnologia, um novo ramo do Centro) da população cubana 8. Nos anos 80, foram construídas muitas das instalações principais do Pólo, além daquelas já mencionadas acima. Entre elas, o Instituto Finlay, dedicado, principalmente à produção de vacinas; o Instituto de Medicina Tropical “Pedro Kourí”, para o monitoramento de doenças epidêmicas, mas também para o desenvolvimento de vacinas; o Centro Nacional de Biopreparados, para a produção de reagentes; o Centro Nacional para a Produção de Animais de Laboratório, para a pesquisa. Mais tarde, em 1994, inaugurou-se o Centro de Imunologia Molecular, voltado à pesquisa, desenvolvimento e produção de anticorpos monoclonais para o tratamento do câncer. Consultoria Biomundi é o nome comercial do Centro de Inteligência Empresarial, cuja missão é oferecer serviços de consultoria em perfis estratégicos, estudos de mercado e de prospectiva, assim

Sobre os diferentes modelos de inovação tem sido amplamente tratado na literatura. Ver, por exemplo, Kline (1985), Rothwell (1992), Etzkowitz e Leydersdorf (1996) e Sáenz & García Capote (1999, 135-151). 7 Vários dos mais importantes centros do Pólo do Oeste de Havana foram incubados no CENIC. 8 Comunicação verbal do Dr. Luis Herrera, diretor do CIGB. 6

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como a implantação de sistemas de inteligência tecnológica e organizacional. Com a criação do Biomundi, introduziu-se no país uma nova forma de manejar e difundir informação, em virtude dos 9 investimentos em inteligência empresarial . No Pólo estão presentes centros científico-tecnológicos e universitários de excelência, serviços - incluindo hospitais -, e áreas de produção. A maioria deles está concentrada fisicamente na zona ocidental de Havana. São 47 instituições integradas ao Pólo, com mais de 12.000 empregados, entre os quais sete mil cientistas e engenheiros, sendo mais de 500 com nível de doutorado10.

O potencial humano e material: formação e atividades A política de vacinação maciça e a necessidade de uma ampla distribuição de medicamentos para garantir a política de saúde em Cuba desempenharam papel central no desenvolvimento da biotecnologia. Entre outros exemplos, em 1997, havia 212.000 diabéticos em Cuba, dos quais 33.000 eram dependentes de insulina. Em 1984, foi possível produzir insulina recombinante, para o que foi construída uma planta no CIGB. Esse foi o primeiro êxito cubano na produção de um medicamento biotecnológico. Grandes recursos materiais e financeiros11 foram dedicados ao Pólo para construir prédios, laboratórios com modernos e sofisticados equipamentos, assim como facilidades de produção de medicamentos e vacinas, que cumprem todos os requisitos contemporâneos de controle de qualidade. Outro elemento primordial foi a qualificação de um número apreciável de recursos humanos de alto nível: cientistas, engenheiros de projetos e de produção, desenhistas, pessoal especializado em marketing, vendas e serviços pós-venda. Esses diferentes atores foram treinados para trabalhar de forma interativa entre eles e também com os usuá9 10 11 12

rios atuais ou potenciais. Dessa forma, criaram-se capacidades competitivas que abriram um novo, importante e crescente campo para exportações. A experiência cubana indica que para desenvolver e inovar no campo da biotecnologia é necessário formar capacidade em pesquisa básica e aplicada. Ao mesmo tempo, deve-se construir e desenvolver capacidade em desenvolvimento experimental, engenharia e produção. Essas capacidades devem ser estreitamente vinculadas e interconectadas. As atividades de pesquisa básica são realizadas com uma perspectiva de longo prazo, para obter novas gerações de produtos e conseguir, continuadamente, maior originalidade nos seus resultados. Um exemplo recente é a vacina contra o hemófilo tipo B, a primeira vacina sintética obtida no mundo; resultado de trabalhos de pesquisa básica continuados até à inovação. Uma das maiores fortalezas do CIGB é sua excepcional capacidade de engenharia. Um exemplo é a planta para a produção da vacina contra a hepatite B. É a única planta de moderna tecnologia desta vacina aprovada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela foi completamente desenhada e construída pelo pessoal de engenharia do próprio Centro. Exceto a Faculdade de Química Farmacêutica da Universidade de Havana, pouca pesquisa básica ou aplicada em biotecnologia para usos médicos é realizada nos centros de ensino superior de Cuba. A base material necessária para realizar trabalhos de alta qualidade nessa esfera exige recursos muito vultosos. Portanto, a grande maioria das pesquisas necessárias para essa atividade se 12 realiza nas instituições do Pólo . No caso da Faculdade de Química, o prédio onde está instalada foi construído na área geográfica do Pólo sem necessidade de custosas instalações de laboratório. Considerou-se mais racional utilizar os excelentes laboratórios existentes nos centros do Pólo para incorporar professores e estudantes aos atuais pro-

Ver Pedrosa Izquierdo (2004). Grogg (2006). Em redor de um bilhão de dólares (Kaiser 1998). Nota verbal do Dr. Luis Herrera, diretor do CIGB.

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jetos de pesquisa. Isto foi mais racional. Estudantes universitários de ciências básicas e engenharia, mas também de economia e administração, entre outras carreiras, começam a integrarse de forma parcial aos centros do Pólo nos dois últimos anos de estudo. Por sua vez, os centros têm o direito de selecionar os melhores estudantes, depois de formados, para compor as equipes de que necessitam13. Desde o estabelecimento do Pólo, os salários para todos os seus empregados nas diferentes instituições, incluindo o pessoal administrativo e o não qualificado, são significativamente mais altos que em instituições similares no país. Além disso, busca-se oferecer facilidades quotidianas que facilitam o trabalho, como moradia, escolas e creches nas áreas do Pólo.

Principais aspectos organizativos e gerenciais A indústria biofarmacêutica é altamente multidisciplinar e intensiva em informação. Sua integração com outras disciplinas é uma característica que a distingue. Esta se realiza mediante alianças, colaboração, licenciamento, mecanismos de harmonização, produção compartilhada, pesquisa por contrato e muitas outras modalidades de articulação. Isto obriga tanto ao conhecimento cabal das contrapartes comerciais, dos aliados e dos clientes como ao profundo conhecimento científico para a obtenção de novos medicamentos, assim como para o desenvolvimento das suas bases científicas e tecnológicas. Vários centros do Pólo estão subordinados a diferentes ministérios. Dez deles - vinculados diretamente à biotecnologia - estão subordinados ao Conselho de Estado e atendidos pelo Secretário do Conselho, e dele recebem parte dos respecti-

vos orçamentos. Quando um centro necessita de financiamento adicional, a questão é discutida no âmbito do Pólo e da Oficina. Se há disponibilidade de recursos nos fundos dos outros centros, a quantidade solicitada é concedida. Portanto, os centros do Pólo vinculados ao Conselho de Estado funcionam, no seu conjunto, como uma holding. Cada centro possui instalações de produção, de vendas e marketing, além da capacidade interna de pesquisa e engenharia. Mas atuam também em cooperação com outros centros do Pólo, de modo a ampliar as possibilidades de transformar resultados científicos em produtos comercializáveis14. Estes centros têm uma unidade comercial para a exportação e outra para o consumo nacional. Ou seja, eles têm sua própria fonte de recursos e são rentáveis tanto em moeda nacional quanto em divisas15. Eles podem ser considerados como empresas de produção e comercializadoras com um alto conteúdo científico e tecnológico.

Alguns importantes resultados Muitos produtos biotecnológicos de relevância econômica e social foram obtidos pelas instituições do Pólo. Entre eles, mais de 20 novos medicamentos e vacinas, dos quais dois são únicos em escala mundial: a vacina contra a meningite bacteriana 16 tipo B e a estreptoquinasa recombinante contra os infartos. Mais de 200 produtos farmacêuticos foram desenvolvidos para satisfazer as demandas do sistema nacional cubano de saúde e as exportações. A vacina contra a meningite bacteriana tipo B foi o primeiro medicamento cubano premiado com a Medalha de Ouro da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI). Mais de 34 patentes foram depositadas nos EE.UU 17. Com a aplicação da vacina contra a meningite, toda a população cubana com menos de 20 anos está imunizada contra esta doença18 .

Nota verbal do Dr. Eduardo Orozco, diretor da Biomundi. Nota verbal do Dr. Agustín Lage, diretor do CIM. 15 Nota verbal do Dr. Agustín Lage, diretor do Centro do CIM. 16 Cuba é um dos maiores produtores de uma vacina recombinante contra a hepatite B e o único produtor de uma vacina contra a meningite bacteriana tipo B. 17 Nota verbal do Dr. Agustín Lage, diretor do CIM. 18 Granma 14/08/2002. 13 14

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Estão em processo de desenvolvimento numerosos produtos, entre eles uma vacina recombinante contra o dengue, vacinas contra a AIDS, uma vacina terapêutica contra o câncer e anticorpos monoclonais para imunoterapia do câncer.

Conclusões Vários fatores relevantes podem ser colocados com relação ao desenvolvimento bem-sucedido da biotecnologia com fins médicos em Cuba: • Explícita política científica e tecnológica na esfera da saúde pública, vinculada a metas de desenvolvimento social e econômico. Essa foi a motivação social inicial para produzir medicamentos por via biotecnológica, que abriu as portas para importantes impactos econômicos; • Vontade política do Estado forte e sustentada, promovendo e fornecendo os necessários recursos para gerar conhecimentos científicos, desenvolver novas e avançadas tecnologias, produzir e colocar nos mercados nacional e internacional medicamentos e vacinas; • Estratégia e definição das principais características das tecnologias a serem desenvolvidas, tomando em consideração os usuários finais; • Desenvolvimento antecipado de um sólido potencial humano científico e tecnológico, e a criação de uma infra-estrutura capaz de produzir com elevados requisitos contemporâneos de qualidade; • Complexa e interativa rede de inovação, pela integração da pesquisa básica e aplicada, do desenvolvimento experimental, da engenharia de projetos e de produção, do controle da qualidade, do marketing, dos serviços pós-venda e das modernas técnicas de gestão empresarial; • Concepção moderna e instrumentação de continuados processos de gestão da inovação para assegurar a competitividade; • Estabelecimento e gestão do Pólo Científico e Produtivo do Oeste de Havana como uma eficaz rede de inovação. T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

A experiência cubana no campo da biotecnologia para usos médicos indica que um empreendimento público pode ser eficiente e inovador se funcionar com um apoio político forte e sustentado, estratégias e conceitos claros, sólidas capacidades científicas e tecnológicas, de produção e de marketing; pessoal altamente estimulado e motivado, adequado uso de tecnologias gerenciais e lideranças efetivas.

Bibliografia Castro, F. (1982): Versión de la intervención en la reunión donde se definió el trabajo para constituir el Primer Contingente del destacamento de Ciencias Médicas “Carlos J. Finlay”. La Habana, 6 de enero de 1982. Granma. La Habana, 7 de enero. Castro, F. (1984): Conclusiones en el VII período ordinario de sesiones de la Asamblea Nacional del Poder Popular. Granma, La Habana, Suplemento del 4 de enero. Castro, F. (1986): Versión de las palabras pronunciadas en la inauguración del Centro de Ingeniería Genética y Biotecnología, La Habana, 2 de julio de 1986, Granma,3 de julio. Castro, F. (1990a): Discurso pronunciado en la clausura del XVI Congreso de la Central de Trabajadores de Cuba. La Habana, 28 de enero de 1990, Granma, 30 de enero. Castro, F. (1990a): Discurso pronunciado en la clausura del XVI Congreso de la Central de Trabajadores de Cuba. La Habana, 28 de enero de 1990, Granma, 30 de enero. Castro, F.

(1990b): Discurso pronunciado en la clausura del IV Congreso de la Federación Estudiantil Universitaria. La Habana, 20 de diciembre de 1990. Granma, 31 de diciembre.

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Políticas públicas e o desenvolvimento da Biotecnologia em Cuba

Castro, F. (1991): Discurso pronunciado en las conclusiones de la Asamblea Provincial del Partido Comunista de la provincia de La Habana. La Habana, 3 de febrero de 1991, Granma, 4 de febrero. Etzkowitz, H. & L. Leydesdorff (1996): The Triple Helix: University-Industry-Government Relations. A Laboratory for Knowledge Based Economic Development. (mimeo)Paper presented at workshop The Triple Helix: University-IndustryGovernment Relations. A Laboratory for Knowledge Based Economic Development, Amsterdam, January 4-6. Grogg, Patricia (2006): Duas décadas de avanços em biotecnologia. http://www.tierramerica.net/portugues/2006/0826/pacentos2. shtml. Accesado en 18.04.2007.

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Tirso Walfrido Sáenz é graduado em Engenharia Química pela Rensselaer Polytechnic Institute e doutor em Ciências Técnicas pelo Ministério de Educação Superior. Atualmente é pesquisador associado da Universidade de Brasília (Unb), professor visitante do Instituto Superior de Ciencias y Tecnologías Nucleares de La Havana, entre outras funções que exerce.

Kline, S.J. (1985): Innovation is not a linear process. Research Management, july-aug., 36-45. Partido Comunista de Cuba (1986): Informe al Tercer Congreso del Partido Comunista de Cuba. Editora Política, La Habana. Pedrosa Izquierdo, E. (2004): Peculiaridades del desarrollo de las ciencias de la información en Cuba. http://bus.sld.cu/revistas/ aci/vol 12_1_04/#cargo. Accesado en 26.11.2007. Rothwell, R. (1992): Development Towards the Fifth Generation Model of Innovation. Technology Analysis & Strategic Management, 1:4, 73-75. Sáenz, T. W. (2005): Biotechnology for medical applications: the Cuban experience. Science, Technology and Development. New Delhi, Vol2, September. Sáenz, T. W. y E. García Capote (1993): El desarrollo de la ciencia y la tecnología en Cuba: algunas cuestiones actuales. Interciencia. Caracas, 18:6, 289-294, nov.dic.

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REPORTAGEM

Inovação: a estratégia competitiva Cristina monte

A

inovação passou a ser considerada em anos recentes a mola do desenvolvimento econômico e tem nas diferentes formas de conhecimento os recursos vitais para sua dinamização e progresso. No mundo empresarial nunca se falou tanto em inovação como nos tempos atuais. Algumas justificativas explicam sua disseminação, eis uma: se antes o modelo de produção se baseava sob os moldes da extração dos recursos naturais, hoje, pela constatação da sua finidade é certo que sua sustentação agora é fundamentada em novos insumos, matérias-primas, meios e métodos. Portanto, é nesse cenário que a inovação cresce - quando ela busca criar oportunidades de negócios sustentáveis -, grosso modo aliando pesquisa científica tecnológica a novas estratégias e métodos organizacionais e de mercado. Sob a perspectiva comercial, ganha força em virtude de minimizar a concorrência, já que sua

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implementação pode representar serviços ou produtos diferenciados por preços competitivos. Um dos maiores problemas relacionados à inovação é que não há uma fórmula que sirva de modelo e que uma vez implantada defina a empresa como inovadora. Há toda uma análise de gestão e de processos conjunturais que deve ser considerada. Ou seja, os processos inovativos devem ser integrados às demais atividades da empresa, conciliando com a estrutura e modelo de negócio. No ambiente externo, há a necessidade de análise macroestrutural, envolvendo fatores que vão desde a disponibilidade de recursos naturais, incentivos financeiros, leis associadas e políticas local e internacional. A constatação da importância da inovação nos negócios não surge no senso comum apenas pela observação de que é necessário mudar, mas sim, pelo embasamento científico, sobretudo, por intermédio da pesquisa e desenvolvimento (P&D), e de preferência que o resultado se efetive no chão das fábricas e nas práticas de produção e de re-

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Inovação: a estratégia competitiva

lações sociais nos vilarejos longínquos ou nas comunidades carentes. Os desafios para sua implantação são muitos:

pode ser definida como algo novo para a organi-

para o empresário, decidir quando e quanto investir em inovação não parece uma tarefa fácil, con-

zação. A palavra inovar, do latim, significa tornar novo, renovar, enquanto inovação traduz-se pelo ato de inovar. Já o teórico Joseph Schumpeter dizia que a

siderando as nuances e oscilações do mercado

inovação é o impulso fundamental que coloca e

globalizado; para o governo, criar uma estrutura operacional e a complementaridade entre os órgãos afins, de modo a dispor de recursos e instrumentos legais, atuando eficientemente, é uma

mantém em movimento a engrenagem da economia. O desafio em efetivar um processo inovativo é imenso – não basta ter uma boa idéia, a qual pode

missão que exige esforços; e para o pesquisador,

ser revertida em oportunidade, e nem mesmo

o desafio não é menor, atuar em um ambiente com infra-estrutura necessária e entender o funciona-

achar que a possível solução para um problema completa um cenário inovador. Até que o produto ou serviço chegue ao consumidor, há uma série

mento mercadológico do ambiente empresarial, exige muito mais do que conhecimento científico. Portanto, analisar o conceito inovação e sua sinergia com os ambientes envolvidos merece uma análise que transcende a superficialidade, dada a densidade que o assunto exige, principalmente em virtude de cada realidade empresarial e do ambiente institucional para a prática da inovação.

Nada se cria tudo se renova Capaz de adentrar nos mais distintos ramos de atividades, a inovação está presente nos setores químico, telecomunicações, terapêutico até no da moda. Isso comprova que não há limites quando se quer criar ou renovar processos que sejam eficazes e monetariamente interessantes. Mas, afinal o que é inovação? Consta no Wikipédia algumas definições sobre inovação, como por exemplo a publicada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e traduzida pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP): inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas. Em outra definição no mesmo site, há a afirmação: inovação, em seu sentido mais genérico,

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de etapas a ser superada, o que exige mais que espírito empreendedor e criatividade. Os obstáculos são muitos: as vezes o processo pode ser interrompido pela falta de avanço tecnológico associado, pela ausência de financiamento ou até mesmo pela falta de conhecimento sobre a área, entre tantos outros. Portanto, consumar um processo de inovação não é tão simples quanto pode parecer, porém, a decisão em não implementá-lo pode representar a mortalidade empresarial, principalmente no caso das micros e pequenas empresas que além dos escassos recursos financeiros para a aquisição de tecnologia, ainda sofrem com a falta de informação.

Inovação requisito para a sobrevivência das MPEs Exemplificando, no Estado do Acre, são registradas mensalmente, somente na Junta Comercial do Acre, cerca de noventa empresas, no entanto, a maioria delas pede falência logo após a sua abertura. A afirmação é da reportagem intitulada “Inovação é chave para a sobrevivência de micros e pequenas empresas”, assinada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Acre (Sebrae/AC) e exibida no site da Agência de Notícias do Acre, no dia 14 de janeiro. Observouse, na matéria, que há algumas falhas em comum entre as que encerram suas atividades precoceT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Inovação: a estratégia competitiva

mente, destacando-se: a falta de planejamento,

ção tecnológica no final do ano passado, espera-

de controle financeiro e estoques ou de conhecimento sobre o mercado em que atuam, seguindo o padrão do País.

se que o País salte para o futuro. Dessa forma, o governo federal demonstra a inclinação de priorizar as áreas, conforme a apresentação do Plano

Para minimizar esses problemas, o Sebrae/AC está investindo no estímulo à inovação como forma

de Ação 2007-2010: Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional, que integra

de evitar a mortalidade das empresas acreanas. Dessa forma, dentre outras medidas, realizará um acompanhamento acirrado, por meio de visitas

o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ocorrida no dia 20 de novembro de 2007. Para sua implementação o governo disponibilizará cerca de

monitoradas, com o objetivo de diagnosticar a situação, elaborar um plano de ação personalizado

41 bilhões de reais para as áreas da Ciência e tecnologia.

e orientar os micros e pequenos empresários através de palestras e seminários. Para Célio Luís Picanço de Matos, especialista

Na ocasião do lançamento, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, explicou que o plano tem duas metas: formar recursos huma-

como Agente de Difusão e Informação Tecnológica e líder da Unidade de Inovação Tecnológica do Sebrae/AM, há diversos impeditivos às MPEs quando o assunto é inovação. “Os maiores gargalos das MPEs são a falta de acesso à tecnologia (informação e serviços); disponibilidade de infra-estrutura tecnológica (interno às empresas e externo às Instituições de Ciência e Tecnologia - ICTs); ambiente inadequado (incentivo e legislação); custo e a ausência da cultura inovadora que a maioria não tem; falta de gestão empreendedora e de conhecimento sobre programas que financiam capital de risco ou capital semente, por isso não investem em P&D&I e praticamente não fazem parcerias institucional e empresarial; não cooperam entre elas e as ICTs. Tudo isso, em sua maioria, eleva as taxas de mortalidade das MPEs”, declara o líder.

nos qualificados e fazer com que a inovação faça parte da agenda das empresas nacionais. Para isso, o programa está dividido em quatro prioridades que norteiam todas as suas ações: expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; a promoção da inovação tecnológica nas empresas; a pesquisa, o desenvolvimento e inovação em áreas estratégicas e a ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social. O diferencial do plano consiste na sua articulação com os demais ministérios e instituições afins. Esse sim é o maior desafio da implantação do plano, segundo Ivan Rocha Neto, doutor em Eletrônica, assessor de Planejamento da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI) e chanceler da Universidade Corporativa Alberto Pereira de Castro da ABIPTI

Diante da situação exposta, Célio explica a importância da inovação: “A inovação, no mínimo, permite a sobrevivência da MPE no mercado glo-

(UCA). “O governo federal tem feito esforços para investir no desenvolvimento de áreas estratégicas para o País. A questão principal não tem sido o

balizado. Caso ocorra maior investimento planejado por parte dela em tecnologia, aumentará ainda

volume de recursos disponíveis, mas se concentra na gestão do sistema em pequena dimensão,

mais sua capacidade de crescimento e faturamento”, finaliza o especialista.

e na infra-estrutura física e de pessoal da base técnica, científica e tecnológica. Em virtude de diversos problemas, sobretudo relacionados à falta

Brasil o país do presente Com as medidas anunciadas pelo governo Lula para áreas estratégicas como a Ciência e a inovaT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

de cuidados em remover os entraves burocráticos e legais para o desenvolvimento de projetos de C&T. Para se ter uma idéia, o Brasil é o quarto País em investimentos per capita (R$/Grupos de

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Inovação: a estratégia competitiva

Pesquisa)”, analisa o assessor da ABIPTI.

Políticas públicas em CT&I e seus benefícios A primeira vez em que o governo federal buscou dar unicidade às políticas públicas de CT&I desenvolvidas pelos estados foi em 1975, quando criou o Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Naquele momento as instituições organizaram-se na forma de um sistema nacional. Adiante, seguiram-se os Planos Básicos de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, sob a administração do Conselho Nacional de Desenvolvimento

inovação tecnológica apenas ao Imposto de Renda sobre o lucro real. Ora, esse regime fiscal é praticado quase exclusivamente pelas grandes empresas (6% do total). As demais empresas estão no regime do lucro presumido e não têm direito aos incentivos. Sob competição agressiva de produtos importados, as empresas terão baixos lucros, ou nenhum, e não poderão recorrer aos incentivos justamente quando mais estiverem precisando investir em inovações tecnológicas competitivas. A Lei de Inovação (Lei 10.973/2004), em seu artigo 19, oferece subvenção econômica para projetos de inovação com recursos do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Para isso foi criada uma

Científico e Tecnológico (CNPq). Somente em 1985, foi criado o Ministério da Ciência e Tecnologia como órgão central do sistema federal de C&T. A abertura de mercado, proporcionada pela política econômica do governo Collor, na década de 1990, contribuiu para que as empresas aumentassem os investimentos na área da inovação tecnológica. E, ao final da década, surgiram os fundos setoriais, que apesar das dificuldades devido ao contingenciamento de seus recursos, foi uma política bem-sucedida e, em virtude do controle da inflação e o conseqüente investimento em inovação efetuado pelas indústrias, empresas e o estado, o governo federal elaborou a Lei de Inovação, tendo sido sancionada em dezembro de 2004, sob o número 10.973. A lei foi criada com o objetivo de melhorar a eficiência do setor produtivo, de forma a capacitá-lo tecnologicamente, por meio de um amplo conjunto de medidas cujo objetivo maior é ampliar e agilizar a

Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide, Lei 10.332/2002) que tira recursos das empresas a pretexto de promover o desenvolvimento tecnológico. Mas em 2006 apenas menos de 10%

transferência do conhecimento gerado no ambiente acadêmico para a sua apropriação pelo setor produ-

de São Paulo detém a maior produção científica da

tivo, estimulando a cultura de inovação e contribuindo para o desenvolvimento industrial do País, sendo considerada um marco legal. Em relação às políticas públicas do setor, a opinião não é unânime quanto ao estímulo à inovação. O doutor Ivan Rocha Neto da ABITPI analisa: “As políticas públicas não têm criado um ambiente de real estímulo às inovações tecnológicas. A Lei do Bem (Lei 11.196/2005) restringe o incentivo fiscal para

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desses recursos e de royalties de concessões reverteram para essa finalidade”, expõe Neto.

Capital intelectual, Ciência e a indústria Segundo estudo apresentado no painel “Políticas de inovação e parcerias público-privadas: o que precisa ser feito”, realizado na cidade de São Paulo em novembro de 2007, e durante o seminário “O Desafio da Inovação no Brasil”, o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Carlos Henrique de Brito Cruz, mostrou que as universidades brasileiras formam mais doutores do que as americanas, sendo que o Estado América Latina. Brito apontou a Universidade de São Paulo (USP) como a que mais forma doutores, são em média dois mil por ano; em seguida vem a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com cerca de 870; só então, em terceiro lugar, aparece a Universidade da Califórnia em Berkeley, com mais de 760; seguida da Universidade do Texas em Austin, com 700; e da Universidade da Califórnia em Los Angeles, com 660 doutores formados. T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Inovação: a estratégia competitiva

Mas, apesar disso apenas 10% dos cientistas brasi-

ampliado para os pesquisadores que estão cursando

leiros estão atuando na indústria, enquanto na Coréia

fora do Estado do Amazonas. Nesses casos, o aumen-

esse porcentual se aproxima de 80. Outro exemplo vem

to será de 30%. Portanto, as bolsas de mestrado serão

da Espanha, que mantém quase 60% dos pesquisado-

de 1.356 reais para os pesquisadores que cursarem

res atuando na indústria.

no Estado do Amazonas e de 1.762 reais para bolsas

No Brasil, um possível impeditivo dessa transferên-

concedidas em outros Estados. Já as de doutorado

cia de ambiente pode estar relacionado ao receio que o

serão de 2.008 reais para o Amazonas e 2.610 reais

empresário tem das constantes mudanças legais e falta

para os pesquisadores que estão em outras unidades

de políticas públicas de longo prazo.

da Federação. Os novos valores também vigorarão a

Por isso, como forma de estimular a produção cien-

partir de março.

tífica e dentro do Plano de Ação apresentado, o presi-

É bom que se lembre que a Região Norte conta

dente Luis Inácio Lula da Silva anunciou que concede-

com um número ínfimo de doutores, já que no Estado

rá em março de 2008 um aumento de 20% no valor

do Amazonas eles somam 650 titulados.

das bolsas de mestrado e doutorado, além de aumen-

O estímulo incentiva a produção científica e conse-

tar o número de bolsas concedidas pela Capes e pelo

qüentemente a inovação. São as pesquisas, através

CNPq.

do processamento de métodos e viabilizadas tecnica-

O objetivo do governo com a iniciativa é superar o número de bolsas concedidas no País, já que em 2006 foram 65 mil bolsas de estudos oferecidas, e em 2007 o número passou para 95 mil. Segundo informações da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), instituição associada à ABIPTI, haverá um acréscimo de 20% nas bolsas de mestrado e doutorado, em relação ao que será pago pelo CNPq e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério

mente que melhoram a vida das pessoas, das empresas e dos países. As revolucionárias descobertas científicas como,

por exemplo, as leis de Newton, o princípio da relatividade e a evolução das espécies continuam sendo objetos de estudos, mas, atualmente, os avanços científicos têm proporcionado pesquisas em outras áreas. Conheça os principais ocorridos no campo científico em 2007, segundo a revista Science, publicação mundialmente reconhecida.

da Educação (Capes). O valor das bolsas também será

Os dez avanços científicos mais importantes de 2007, segundo a revista "Science": 1º - GENÉTICA DA DIFERENÇA Em 2007, cientistas descobriram que cópias "repetidas" ou "apagadas" de genes modificam radicalmente o organismo. O avanço da tecnologia também permitiu ver que a diferença entre o DNA de duas pessoas pode ser o quíntuplo daquela imaginada. Cientistas produziram as primeiras células humanas pluripotentes (com potencial terapêutico) sem usar material embrionário. O achado acalmou os ânimos de grupos antiaborto contrários à destruição de embriões para pesquisar células-tronco. 2º - CÉLULAS SEM POLÊMICA

Físicos descobriram a origem dos raios cósmicos de alta energia. São partículas emitidas a partir dos núcleos de galáxias, que acabam se acelerando no campo magnético de buracos negros. 3º - ONDE NASCEM OS RAIOS

Químicos elucidaram a estrutura do receptor "beta2-adrenérgico", molécula que gerencia os efeitos de diversos neurotransmissores e hormônios no corpo. A descoberta ajudará a criar remédios mais seguros e eficazes.

4º - SUPERMOLÉCULA

5º - ELETRÔNICA DOS ÓXIDOS Uma série de estudos revelou que placas de óxidos de metais de transição possuem propriedades eletrônicas mais versáteis que o silício, material mais comumente usado em informática.

6º - INFORMÁTICA DOS ELÉTRONS Cientistas descobriram uma nova maneira de separar elétrons de acordo com seu spin (propriedade semelhante à rotação), que pode vir a ser usada como uma forma de armazenar informação em chips. Médicos desvendaram como as células imunológicas TCD8 se dividem em grupos para combater invasores no organismo. Enquanto parte delas vai direto para o ataque, outra guarda na memória as informações sobre os inimigos. 7º - ESTRATÉGIA IMUNOLÓGICA

8º - QUÍMICA EFICIENTE

Na química sintética, pesquisadores relataram a descoberta de vários métodos mais eficientes e baratos paraconstruir moléculas complexas. O que ajudará tanto a farmacologia quanto a microeletrônica. 9º - FÁBRICA DE MEMÓRIAS Uma série de trabalhos confirmou o papel do hipocampo - estrutura cerebral central - na confecção de novas memórias. Cientistas mostraram como ele trabalha associando memórias para o cérebro imaginar cenários futuros.Uma série de trabalhos confirmou o papel do hipocampo estrutura cerebral central - na confecção de novas memórias. Cientistas mostraram como ele trabalha associando memórias para o cérebro imaginar cenários futuros.

Num marco da inteligência artificial, canadenses criaram um programa de computador imbatível no jogo de damas. Foi o jogo mais complexo até hoje a ter uma solução matemática definitiva. 10º - FIM DE JOGO

FONTE : Folha de São Paulo

T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

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Inovação: a estratégia competitiva

Industrialização e a inovação

presários discorreram sobre as dificuldades para realizar a inovação tecnológica em seus negócios. São elas: os elevados custos, riscos econômicos excessivos e escassez de fontes de financiamento.

De acordo com a Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2005 (Pintec), do Ins-

tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aproximadamente 33 mil empresas implementaram inovação tecnológica seja em produtos ou seja em processos. Desse total de empresas, cerca de 30 mil são industriais e as restantes são de serviços de alta intensidade tecnológica (telecomunicações, informática e pesquisa e desenvolvimento). O Estado de São Paulo reúne mais de 35% das empresas industriais inovadoras e, do total do investimento industrial em inovação em todo o País, mais da metade (55,6%) foi efetuada pelas empresas paulistas. A referida pesquisa de 2005 aponta um aumento no número de empresas que passaram a utilizar a inovação tecnológica em relação à edição passada que considerou os dados de 2003. O número passou de 28.036 para 30.377, um aumento que representa 8,4%, conforme tabela abaixo. Ainda na pesquisa da Pintec 2005, os em-

Inovação tecnológica e desigualdade social Em artigo publicado no O Estado de São Paulo de 19 de novembro de 2007, José Goldemberg, professor da USP, abordando a questão da energia e as academias de ciência, inicia seu texto recorrendo à História. Cabe-nos a reflexão da possível analogia entre a inovação, a sociedade e as MPEs na atualidade: “Existe uma crença generalizada de que os avanços científicos e tecnológicos dos últimos 200 anos resolveram muitos problemas da humanidade, como a eliminação de doenças, o aumento da vida média das pessoas, e permitiram estender conforto e prosperidade a um terço do gênero humano (cerca de dois bilhões de pessoas), o que não

Número de empresas e participação percentual do número de empresas industriais que implementaram inovações Faixas de pessoal ocupado

Nº de empresas do âmbito

2001-2003 2003-2005

Nº de empresas inovadoras 2001-2003

2003-2005

Taxa de inovação 2001-2003

Produto novo para o mercado nacional

2003-2005

2001-2003

2003-2005

Processo novo para o setor no Brasil

2001-2003

2003-2005

Total

84.282

84.282

28.036

30.337

33.3

33.4

2.7

3.2

1.2

1.7

De 10 a 49

67.165

67.165

20.894

20.923

31.1

28.9

2.1

2.1

0.7

0.9

De 50 a99

9.165

9.165

3.200

4.076

34.9

40.6

2.3

3.7

0.8

1.2

De 100 a 249

4.881

4.881

2.140

2.962

43.8

55.5

3.9

6.5

1.7

3.8

De 250 a 499

1.695

1.695

813

1.201

48.0

65.2

5.8

9.4

3.4

6.1

Com 500 ou mais

1.364

1.364

989

1.216

72.5

79.2

26.7

33.4

24.1

27.1

FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Industria, Pesquisa de Inovação Tecnológica

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T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Inovação: a estratégia competitiva

tem precedentes na História. Roma, no seu esplendor, deu aos romanos um excelente nível de vida, mas à custa do trabalho de cerca de 100 milhões de outros seres humanos escravizados. Apenas 1% da população mundial da época se beneficiou dos confortos da Cidade Imperial”, descreve o professor. Como se vê a proporção de beneficiados com as conquistas tecnológicas vem crescendo, entretanto, há um fosso - não só social - que impede os micros e pequenos empresários, por exemplo, de desfrutarem da inovação. Por isso, nem todos comungam que o desenvolvimento econômico traga a premissa da igualdade social. É o caso da professora e coordenadora da Comissão Setorial de Investigação Científica da Universidade da República, no Uruguai, Judith Sutz, que afirmou no Seminário Internacional RedeSist “Dez Anos de Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais”, ocorrido em novembro no Rio de Janeiro: “A ordem de prioridades deve ser vista de modo inverso: o investimento nas questões sociais leva a uma economia estável, por meio da eliminação das desigualdades e do conseqüente acesso de todos à informação, aos bens culturais e econômicos”. Ela ainda pontuou: “Enquanto as primeiras beneficiariam a parte mais rica da população, o desenvolvimento seria uma forma de tentar alavancar as populações mais pobres, alheias aos processos de inovações tecnológicas”, afirmou a professora. Uma forma de estimular a inserção social e articulação de pequenas instituições com o intuito de impulsionar a inovação e o desenvolvimento parte da Rede Norte de Propriedade Intelectual, Biodiversidade e Conhecimentos Tradicionais (RNPIBCT), criada em 2003, com a proposta de promover a função social da propriedade intelectual, o uso sustentável dos recursos da biodiversidade e dos mecanismos diferenciados para a proteção dos co-

T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

nhecimentos tradicionais oriundos da Região Norte. Sua criação ocorreu em virtude do desenvolvimento da Ciência e Tecnologia nas últimas décadas, o que estimula o crescimento da propriedade intelectual, devido a diversos fatores, entre os quais destacam-se: o rápido avanço científico e tecnológico, a criação de tecnologias de caráter diferenciado em relação àquelas tradicionais, novas formas de agregar valores a produtos e serviços, diferentes padrões de inovação entre os países, surgimento de novas formas de proteção ao trabalho intelectual e questionamentos sobre os requisitos tradicionais para a concessão da proteção. Entre as instituições integrantes da rede, a Fucapi participa coordenando a Comissão do Amazonas/Roraima, por meio da colaboradora Sônia Tapajós, que atua no Núcleo de Propriedade Intelectual e Informação Tecnológica (NUPI/FUCAPI). Ela aponta os desafios da Rede Norte: “Apesar de sua importância estratégica para o desenvolvimento científico e tecnológico do País, esse assunto ainda é pouco difundido, principalmente quando falamos em Região Norte. A comunidade científica e tecnológica, bem como o empresariado local, ainda conhece pouco sobre as vantagens da utilização do sistema de propriedade intelectual, tanto para suas pesquisas quanto seu uso como ferramenta estratégica pela competição no mercado. No entanto, graças à ação do próprio governo federal, através do INPI e de seus parceiros regionais, como a Fucapi, SECT-AM, CESUPA, Museu Emílio Goeldi, por exemplo, esse cenário está começando a mudar, haja vista, o número de cursos, treinamentos e eventos realizados ano passado na região, na área de propriedade intelectual”, afirma Sônia. Apesar de o conceito “inovação” ter se tornado o motor da economia mundial, é preciso que ele se incorpore às mais diferentes configurações empresariais, de modo a proporcionar um crescimento solidário, inserindo outras

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Inovação: a estratégia competitiva

camadas sociais no contexto econômico. Mas isso é um esforço conjunto – como afirmava um dos maiores inventores da História, Thomas Edson, toda invenção tem 1% de inspiração e 99% de transpiração, portanto, trabalhar é preciso.

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T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


opinião

O momento da inovação: oportunidades para o Brasil Evando Mirra de paula e silva

Q

uando BusinessWeek e o Boston Consulting Group divulgaram seu ranking das empresas mais inovadoras de 2007 o resultado causou alguma surpresa. O ranking é liderado por duas firmas de informação e comunicação (Apple e Google), reconhecimento da liderança das TICs no ambiente inovador. Seguem-se Toyota, GE, Procter & Gamble, Microsoft, 3M, Disney, IBM, Sony, lojas Wal-Mart e Honda. A nanotecnologia e a biotecnologia, como era de se esperar, estão presentes no sucesso de alguns desses empreendimentos, como Procter & Gamble e 3M. Novidade maior foi a 4ª posição assumida pela General Electric, que se relaciona a seu crescimento focado nos mercados emergentes da tecnologia verde (green tech). Questões relativas à sustentabilidade permeiam ainda as estratégias inovativas de muitas das firmas vencedoras. Wal-Mart, por exemplo, utiliza sua escala de operação para inovar no combate ao desperdício de embalagens e de combustível, além de criar lojas ambientalmente amigáveis e sistemas de iluminação energeticamente mais eficientes. A Honda tem seu T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

green approach não mais limitado aos automóveis: painéis solares e diesels “verdes” fazem parte também da nova linha de produtos. Esses indicadores dão visibilidade à tendência que se manifesta de forma crescente na inovação, traduzindo uma sensibilidade maior às condições que circunscrevem o crescimento. Embora esteja-se ainda distante do desenvolvimento globalmente sustentável deve-se reconhecer que resultados como esses são encorajadores. Além disso, a diversidade das campeãs da inovação mostra mais uma vez que inovar não é privilégio do high-tech, é antes uma atitude, que concerne qualquer tipo de atividade. No Brasil, a Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica (Pintec 2005), do IBGE, registra que 33,4% das 95.000 empresas industriais e de serviços com mais de dez empregados introduziram inovações no período 2003-2005. São resultados modestos quando comparados com a Europa, por exemplo, onde, nos países mais avançados, as empresas inovadoras representam cerca de 50% do total. A taxa de inovação no Brasil é, contudo, crescente. Além disso, embora minoritárias, as empresas

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O momento da inovação: oportunidades para o Brasil

inovadoras, além de serem mais produtivas, respondiam por 75% do valor agregado da indústria brasileira. Os casos de sucesso são muito expressivos. A agroindústria (não explorada diretamente pela PINTEC) é uma das manifestações mais extraordinárias do poder transformador da cultura de inovação. Foi com P&D que se gerou tecnologia para a produção de soja em condições inéditas. No semi-árido nordestino, uma região como Petrolina tornou-se um prodígio da horticultura, hoje responsável pela quase totalidade da exportação de uva e manga do País. Esforço semelhante gerou a competência em bioenergia do País, que tornou o Brasil líder mundial em bioetanol. Na Petrobras,

culturais em que as ressonâncias são às vezes mais importantes do que sua parte mais visível. O Brasil tem demonstrado competência nos espaços em que tem enfrentado os desafios da inovação. Trata-se agora de transformar esses sucessos isolados numa autêntica postura coletiva e incorporar definitivamente a vitalidade dessas estratégias no desenvolvimento do País.

investimentos em pesquisa permitiram que, em 20 anos, a produção em poços marítimos passasse de 300 mil para 2 milhões de barris/dia, conferindo à empresa a liderança mundial em tecnologia para águas profundas. A aposta na pesquisa transformou

Evando Mirra de Paula e Silva é diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).

Bibliografia BusinessWeek Special Report, 04/05/2007.

também uma pequena fábrica do interior de Santa Catarina no que é hoje a WEG Motores, implantada em mais de 50 países. Nossos clusters produtivos fornecem outras manifestações. No pólo de Santa Rita do Sapucaí, por exemplo, o investimento em inteligência transformou uma pequena cidade do interior de Minas Gerais em um complexo com mais de uma centena de empreendimentos em eletrônica, informática e telecomunicações. Gerando cerca de 7 mil empregos, seus produtos representaram um faturamento de US$ 380 milhões em 2006. Mas, além dos números, a implantação de estratégias inovativas transforma toda a cultura da região. Encontra-se hoje em Santa Rita uma comunidade motivada para a educação e o desenvolvimento. Os trabalhadores têm elevado grau de escolaridade. As ações cooperativas passam-se entre as empresas e entre elas e o aparelho de ensino e pesquisa. O processo movimenta amplo universo cultural e empreendedor que envolve, em última análise, toda a sociedade. Quaisquer que sejam o porte e a abrangência da atividade econômica, a postura inovadora desencadeia uma aventura humana rica e de múltiplas dimensões, geradora de riqueza, promovendo níveis mais elevados de educação e qualificação, provocando transformações

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T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Artigo

A política de inovação no Brasil e Seus impactos sobre as estratégias de desenvolvimento tecnológico empresarial Maurício Mendonça

Resumo O artigo trata das dificuldades enfrentadas pelas empresas brasileiras para inovar. A argumentação se baseia na perspectiva do empresário que deseja inovar e desenvolver novos produtos e processos, mas que tem dificuldade de acesso a crédito, incentivos ou apoio de diversas modalidades para realizar tal objetivo. Discute, também, a essência da política pública brasileira de inovação: a oferta de serviços tecnológicos sem uma conexão com a demanda empresarial e as necessidades do empresariado.

Introdução A aprovação da Lei 11.540/07 que regulamenta o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – FNDCT encerrou um capítulo da história recente da política científica e tecnológica brasileira. Seu início foi marcado pelas alterações iniciadas com a criação do Fundo Setorial do Petróleo – CT-Petro, em 1997, que preconizava duas T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

tendências que se afirmaram durante uma década: a recuperação da capacidade de investimento do governo federal em C&T e a participação crescente da inovação empresarial no contexto da produção de conhecimento e desenvolvimento tecnológico do País. Ao longo deste período, o Brasil alterou profundamente seus instrumentos de fomento à inovação e o interesse do setor empresarial se ampliou, tanto sob a forma de participação mais efetiva nos diversos espaços de representação, quanto no campo da formulação de propostas e na demanda concreta por recursos e participação em programas públicos. Este artigo procura, de forma abreviada, apresentar os principais traços constitutivos desse processo e discutir alguns avanços que ainda são necessários para consolidar e ampliar a participação do setor empresarial no processo de desenvolvimento socioeconômico brasileiro, com base em uma indústria inovadora.

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A política de inovação no Brasil e seus impactos sobre as estratégias de desenvolvimento tecnológico empresarial

A evolução recente da política de inovação O Brasil é um país de tradição na adoção de medidas de apoio ao desenvolvimento científico e tecnológico. Desde a época do Império, logo após a chegada da Família Real ao país, foram criadas instituições públicas de pesquisa nas áreas de botânica, agronomia, medicina e engenharia. O ensino superior também foi logo instituído, com faculdades de direito, medicina, escolas de engenharia e outras. No século passado, o País manteve-se atualizado com a criação do CNPq e da Capes, nos anos 50, e mais tarde nos anos 70, com a criação da FINEP. Foram instituídas universidades federais em praticamente todos os Estados, além de institutos de pesquisa estaduais e federais, bem como centro de pesquisas e desenvolvimento de empresas estatais, tais como Petrobras, Eletrobrás, Telebrás, Nuclebrás, Embraer, CSN, Usiminas, CVRD, entre outras. Em particular nos anos 70, no auge da política industrial de desenvolvimento nacional, mesmo com os incentivos à importação de tecnologia de processos e produtos, o País manteve uma preocupação com o desenvolvimento tecnológico em setores de ponta como eletrônica, energia nuclear e biotecnologia aplicada à agricultura. Contudo, a política brasileira de ciência e tecnologia sempre foi baseada no conceito de que a oferta de bens e serviços tecnológicos – recursos humanos qualificados, laboratórios científicos atualizados, serviços tecnológicos prestados por instituições públicas de pesquisa e a própria realização de pesquisas científicas – seriam uma força determinante na consecução do objetivo maior de estimular o desenvolvimento econômico e, em particular, o progresso técnico da economia. Em muitos casos, a participação determinante do Estado na economia, em especial em setores sensíveis do ponto de vista tecnológico – telecomunicações, energia nuclear, petróleo, siderurgia, petroquímica – permitiu a adoção de uma estratégia semi-autônoma de desenvolvimento tecnológico, por meio da criação de centros de pesquisa esta-

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tais e programas de desenvolvimento tecnológico apoiados por agências de fomento, tais como a Finep e o BNDES. Ao setor privado formado por empresas multinacionais coube o papel de provedor de tecnologia, em particular na produção de bens intermediários, bens duráveis e bens de capital. Setores importantes para a dinâmica de incorporação tecnológica na indústria, tais como eletrônica, informática, automação industrial, automobilística, entre outros, não foram estimulados a produzir tecnologias no País, exceto em casos específicos. Ao contrário, muitas vezes as empresas multinacionais visavam atender à demanda local com produtos com menor grau de sofisticação e, até mesmo, defasados tecnologicamente em relação aos mercados dos países de origem. Da mesma forma, a empresa nacional – muitas vezes estimulada a fornecer para cadeias produtivas internacionais – não contava com estímulo fiscal ou creditício para produzir bens e serviços tecnologicamente avançados, nem mesmo constituir uma base de P&D local, com ou sem a parceria de universidades e centros de pesquisa. Pode-se até afirmar que, em muitos casos, os grandes projetos do setor público alijavam a participação de empresas nacionais, pela excessiva verticalização de suas atividades de pesquisa ou pela ausência de uso do poder de compra estatal. Em resumo, o desenvolvimento tecnológico empresarial foi excluído, de certa forma, das políticas públicas de desenvolvimento econômico, ao contrário da intenção expressa nos planos brasileiros de desenvolvimento científico e tecnológico dos anos 70. Mais especificamente, a ação governamental visou ampliar a oferta de conhecimento científico e tecnológico – via expansão do sistema universitário e de pesquisa público – em contraposição a uma criação de incentivos às empresas. Nos anos 90, diversos analistas começaram a ressaltar os resultados destas políticas, que justificavam o fraco desempenho da indústria brasileira no comércio exterior – elevada participação das commodities de origem em recursos naturais e a baixa participação de produtos manufatureiros de T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


A política de inovação no Brasil e seus impactos sobre as estratégias de desenvolvimento tecnológico empresarial

alta intensidade tecnológica –, o irrisório número de patentes depositadas no escritório americano (USPTO) e o baixo nível de investimento privado em P&D. Na medida em que, a economia global caminhou para uma sociedade baseada na informação e conhecimento, na qual a informática e a eletrônica, ao lado da biotecnologia e dos novos materiais, se tornavam a base da inovação tecnológica, o Brasil apresentou fragilidades no seu sistema de inovação, que se revelou precocemente envelhecido e funcionando mal. A política de oferta sujeita a necessidade de crescentes recursos públicos passou a ser alvo de cortes nos orçamentos, levando a uma rápida deterioração da infra-estrutura de pesquisa, professores e pesquisadores desestimulados e desatualizados e baixa interação entre as instituições de pesquisa e empresas. Por outro lado, a crise fiscal nos anos 80 induziu um processo de privatização de empresas estatais que levaram a uma desarticulação dos seus centros de pesquisa e dos institutos de pesquisa públicos criados ou estimulados pela política de C&T federal. Esse processo resultou em forte retrocesso no desenvolvimento tecnológico local e afetou também algumas empresas privadas nacionais que desenvolviam tecnologia para as empresas estatais. Esse quadro começou a ser revertido no início dos anos 90, com a adoção da Lei de Incentivos Fiscais (Lei 8.661/93) e a nova Lei de Informática. Contudo, a política pública de C&T continuou fortemente assentada nos financiamentos, agora decrescentes, do PADCT, da Finep, do CNPq e da Capes. A mudança mais profunda só ocorreu na segunda metade da década, quando a política pública de C&T incorporou a dimensão da inovação tecnológica empresarial. Esse processo, explicitado na realização da II Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, em 2001, implicou em uma revisão substantiva dos instrumentos de fomento ao desenvolvimento tecnológico nos anos seguintes. Entre os principais avanços registrados nos últimos anos destacam-se: a criação dos fundos seT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

toriais, a criação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), a possibilidade de equalizar e subsidiar as empresas, a Lei de Inovação, o capítulo III da Lei do Bem, a Lei do FNDCT, a reformulação do INPI, o aumento dos investimentos no Inmetro, a reformulação e atualização dos quadros técnicos da Finep, a criação das linhas de crédito do BNDES, a ampliação e criação de programas de capital de risco no BNDES e na Finep, entre outros. Estas alterações legais e institucionais possibilitaram que o conjunto de instrumentos de incentivo existentes no País se aproximasse daqueles que encontramos à disposição das empresas nos países desenvolvidos. Ou seja, as opções existentes no menu de incentivos aqui são semelhantes às disponíveis nos concorrentes do Brasil.

Os impactos da política de inovação sobre o setor empresarial A introdução dos mecanismos de financiamento e de incentivo à P&D e à inovação empresarial no final dos anos 90 não foi concluída até 2007. Alguns instrumentos, na verdade, só começaram a operar em 2006 e não é possível ainda fazer uma avaliação plena de seus impactos no setor empresarial. As alterações introduzidas no modelo de financiamento das atividades de P&D&I diversificaram as modalidades de apoio às instituições de pesquisa e empresas, e promoveram uma distribuição mais equânime entre as esferas acadêmica e empresarial. Os principais instrumentos adotados foram: concessão direta de recursos financeiros, tais como crédito, capital de risco, subvenção econômica, auxílios financeiros e bolsas de pesquisa e estudo, bem como os incentivos fiscais, que não envolvem diretamente recursos financeiros. Um importante instrumento foi a possibilidade de se realizar financiamentos com cláusula de equalização de taxas de juros, o que reduziu os encargos para níveis inferiores à taxa básica de juros de longo prazo, a TJLP, por meio da Lei n. 10.332 de 2001. Este financiamento, embora praticamente

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A política de inovação no Brasil e seus impactos sobre as estratégias de desenvolvimento tecnológico empresarial

restrito às grandes empresas e exigente em termos das garantias, na prática recriou a linha de financiamento da FINEP e tornou seus produtos competitivos no mercado financeiro. Outro destaque foi o estabelecimento de subvenção direta aos projetos de inovação de empresas (Lei da Inovação nº 10.973/2004) e a subvenção à absorção de pesquisadores, prevista na Lei do Bem. Esses instrumentos criaram a possibilidade de a FINEP ofertar soluções diferenciadas e ampliar o volume de recursos para empresas. Cabe ressaltar que, no caso da subvenção, foram realizados apenas dois editais (2006 e 2007) os quais restringiram as candidaturas às áreas de interesse do governo. Mesmo neste caso, no caso do Edital 2006, mais de 50% das propostas contratadas se enquadraram no “Tema Geral”, como mostra a figura abaixo, não exatamente associadas às áreas priorizadas pelo governo. Depreende-se que, de maneira geral, o interesse público pareceu apontar para oportunidades de produtos inovadores que os agentes privados consideraram ter mercado mais restrito, uma vez que apresentaram projetos de subvenção para a inovação em outras áreas, conforme gráfico abaixo.

não seriam postos em prática às condições de mercado; e o “Inovação Produção”, com o objetivo de estruturar áreas de inovação dentro das empresas e tornar rotineira a atividade inovadora incremental. O BNDES também foi o responsável por linhas de financiamento aos setores prioritários da política industrial, como software e farmacêutico: o “Programa para o Desenvolvimento da Indústria Nacional de Software e Serviços Correlatos” (PROSOFT) e PROFARMA, voltado ao desenvolvimento da cadeia produtiva farmacêutica. Até meados de 2007, foram aprovadas 137 operações do PROSOFT, no valor de R$ 817 milhões, e 37 operações do PROFARMA, no valor total de R$ 730 milhões. Quanto ao apoio ao desenvolvimento do capital de risco como mecanismo de suporte às empresas inovadoras, embora existam iniciativas desde os anos 70, os resultados são pouco significativos. Neste campo, as iniciativas do BNDES, como o “Programa de Capitalização de Empresas de Base Tecnológica” (CONTEC), e da Finep, com o “Programa Inovar”, desenvolveram metodologias voltadas a construir um ambiente institucional para esti-

Distribuição % dos Projetos Aprovados Por Tema - Subvenção Econômica - 2006

TV Digital

53%

11% 11%

Aplicações mobilizadoras Fármacos e Medicamentos Bens de capital Aeroespacial Nanotecnologia

2% 3%

Biotecnologia Biomassa/Energia alternativas

7%

Temas Gerais

2% 3%

8%

Fontes: FINEP/MCT, 2007.

Em 2006, o BNDES criou programas, com recursos de R$ 500 milhões: o “Inovação PDI”, com objetivo de financiar novos produtos e processos; incentivar a vocação inovadora das empresas e apoiar bons projetos que, por envolverem risco,

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mular um mercado ainda incipiente. Os resultados do Inovar, que realizou sete chamadas públicas desde 2001, registram o apoio a sete fundos em operação e quatro fundos em fase de captação e o comprometimento de R$ 90 milhões. T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


A política de inovação no Brasil e seus impactos sobre as estratégias de desenvolvimento tecnológico empresarial

O BNDES, com grande experiência na área de private equity e capital de risco, registrou uma atuação discreta ao longo dos anos noventa. O Banco apóia 21 fundos com participação do BNDESPAR, sendo 12 destes de empresas emergentes e investimentos de R$ 193 milhões. Mais recentemente, o Banco decidiu estruturar um novo fundo de investimento, o CRIATEC, com recursos disponíveis de R$ 80 milhões para capitalizar as empresas inovadoras com capital semente e prover um adequado apoio gerencial. Em suma, pode-se afirmar que a política de inovação evoluiu nos últimos anos, mas sua implementação ainda deixa muito a desejar. Em especial, no que se refere ao volume de recursos e instrumentos de apoio à P&D empresarial, o acesso aos recursos está concentrado nas grandes empresas e naqueles que já praticavam de alguma forma ações de desenvolvimento tecnológico. Ou seja, essas políticas ainda não permeiam a estrutura industrial, em particular as empresas de menor porte.

Sugestões de aperfeiçoamento da política de inovação A política de inovação no Brasil precisa se intensificar e ampliar seu grau de abrangência. Os instrumentos precisam ser redesenhados para incluir o apoio às pequenas e médias empresas, criar um custo de oportunidade elevado para as atividades de P&D das empresas e garantir um funcionamento adequado do sistema de inovação. Os recursos públicos devem premiar as melhores práticas de pesquisa cooperativa e permitir uma racionalização da infra-estrutura de pesquisa. A Lei de Inovação, com foco na relação público-privado, procurou incentivar o uso eficiente da infra-estrutura laboratorial e possibilitar a criação de novas empresas de base tecnológica a partir das universidades e centros de pesquisa públicos. Porém, as barreiras culturais e os riscos inerentes à atividade de pesquisa são mais arraigados do que parecem à primeira vista. A subvenção econômica precisa ser utilizada T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

de forma a mitigar os riscos empresariais da inovação e viabilizar projetos de alta complexidade tecnológica e institucional. O número de empresas demandantes desses recursos precisa crescer. A qualidade dos projetos precisa melhorar. Não será possível para a Finep operar no varejo, com centenas de projetos individuais. Os diversos instrumentos – subvenção, equalização, capital de risco, fundos setoriais – precisam ser articulados para viabilizar a colaboração em projetos pré-competitivos, que aumentem o grau de interação entre os agentes da inovação e permitam a criação de “plataformas tecnológicas” para a indústria. Outro elemento fundamental é o estímulo mais efetivo aos ambientes de inovação, em particular os parques tecnológicos e incubadoras. Esses ambientes são essenciais para garantir um dinamismo tecnológico da indústria, criar uma rede de provedores de soluções de alta tecnologia e criar as empresas vencedoras do futuro. Por fim, o regime de incentivos fiscais da Lei do Bem precisa ser aprimorado, seja para reduzir os riscos jurídicos da atual legislação ou seja para torná-la mais inclusiva. O acesso das micros e pequenas empresas aos incentivos fiscais é vital para consolidar seu uso pelas indústrias e garantir uma ampla base de empresas inovadoras, independentemente do setor e do grau de desenvolvimento tecnológico das empresas. Em suma, pode-se concluir que a indústria brasileira tem a sua disposição uma série de instrumentos e mecanismos de incentivo à P&D, mas os problemas existentes no marco regulatório, na institucionalidade e na sua implantação reduzem a eficácia de seu uso e os tornam muito onerosos para as indústrias.

Maurício Mendonça é doutor em Economia pela Unicamp e Université de Paris e atua como gerente-executivo de Competitividade Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

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ENTREVISTA

Características da inovação nas micros e pequenas empresas Anne-Marie Maculan

Foto: Divulgação

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nne-Marie Maculan é francesa, nasceu em Chalon-sur-Saone, mais precisamente na região da Borgonha, famosa pelos seus vinhedos. Veio para o Brasil em 1971, e ao longo dos anos realizou estudos e pesquisas para instituições como a FGV, o CNPq, a CAPES, a FINEP e o Banco Mundial. Ela é bacharel em direito pela Universidade de Lyon (França), mestre em Ciências Políticas pelo IUPERJ (RJ) e doutora em Sociologia Econômica pela Universidade do Québec em Montreal. Desde 1985, Anne-Marie é professora adjunta da COPPE/UFRJ no Programa de Engenharia de Produção (PEP), tendo orientado mais de quarenta dissertações e teses. Pesquisa o processo de inovação tecnológica das empresas brasileiras, as mudanças organizacionais das instituições de pesquisa e a emergência do empreendedorismo acadêmico. Nesta entrevista concedida com exclusividade, a pesquisadora expõe seu pensamento sobre a inovação nas MPEs. T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


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Revista T&C - Quais as práticas de inovação das MPEs no País? Existe alguma diferença assinalável entre as diferentes regiões? Anne-Marie - O Brasil tem em torno de 5 milhões de empresas, 83% delas têm até 4 pessoas ocupadas. Essas empresas não têm muita condição de desenvolver práticas inovativas relevantes devido à fragilidade da base tecnológica e financeira, ou da capacidade de definir uma estratégia mercadológica. Além disso, somente 10% são empresas da indústria de transformação e aproximadamente cinco a seis mil – entre 0,1% e 0,12% - são pequenas empresas consideradas de base tecnológica, isto é, mais propensas a inovar. Por outro lado, existe uma grande diversidade de disponibilidade de recursos, nível de capacitação e competências dentro do universo das MPEs. Há situações bastante diferentes, dificultando chegar-se a uma visão consistente das práticas inovativas dessas empresas. Na literatura nacional, os raros estudos de caso são principalmente descritivos e pouco analíticos. Alguns estudos do SEBRAE oferecem perspectivas interessantes. Apesar de tudo, há três pesquisas recentes do IBGE sobre as práticas inovativas das empresas industriais brasileiras: as PINTEC 2000, 2003 e 2005 que oferecem dados interessantes para se refletir sobre a capacidade tecnológica e inovativa dessas empresas. O IBGE classificou as empresas pesquisadas em função do número de pessoas ocupadas, mas não analisa aquelas com menos de 10 pessoas. As empresas que têm entre 10 e 50 pessoas representam quase 80% do universo estudado (por volta de 80 mil empresas). Portanto, a pesquisa é bastante representativa para o universo das pequenas empresas, mas não para as microempresas. Quais são os resultados? Globalmente, um terço das empresas pesquisadas declararam ter inovado. Quando se analisa os resultados de 2005 de maneira detalhada, nota-se que na faixa de empresas com 10 a 50 pessoas ocupadas, somente 18% delas inovaram em produtos e 24% em processos. É muito pouco. Como inovam? Principalmente comprando máquinas. Quase não ocorrem atividades de desenT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

volvimento tecnológico interno ou de cooperação com instituições de pesquisa que são as verdadeiras geradoras de conhecimentos novos e, por isso, permitiriam introduzir produtos novos no mercado. As empresas utilizam principalmente informações encontradas em feiras ou em redes informatizadas disponíveis para todos, portanto, são pouco estratégicas e não permitem desenvolver inovações mais avançadas que estariam na origem de vantagens sobre os concorrentes. Elas estão ainda num estágio imitativo com pouca capacidade para mudar a tecnologia que utilizam: somente 5% das empresas que inovaram em processo consideram que sua inovação representava uma novidade para o mercado nacional. Em nível regional, há, de fato, contextos mais propícios à inovação. Regiões com forte tradição industrial e grande densidade de atividades produtivas funcionam como ambientes mais dinâmicos - o que os autores chamam de “milieu innovateur”. São regiões que reúnem os principais responsáveis pela geração de conhecimento e pela estruturação de um sistema de inovação: grandes empresas, instituições de educação e treinamento, universidades e institutos de pesquisa, agências de fomento. Dispõem de mais recursos humanos qualificados, melhores profissionais com grau maior de mobilidade, isto é, que passam de uma empresa para outra - e, dessa maneira, disseminam conhecimentos e experiências -, compradores com demandas mais sofisticadas, cultura industrial mais intensa. Não há dúvida de que um dos elementos mais favoráveis à inovação é a densidade do tecido industrial que favorece as interações entre empresas de setores e tamanhos diferentes. Manaus apresenta algumas “externalidades” positivas desse tipo devido à presença de grandes empresas industriais do PIM que têm contribuído para difundir melhores práticas de gestão e inovações organizacionais, além de um número crescente de universidades e instituições de pesquisa.

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Revista T&C - Quais são as principais dificuldades para as MPEs brasileiras inovarem e como podem ser contornadas? Anne-Marie - Para qualquer empresa, inovar é ao mesmo tempo necessário e arriscado. Mas as MPEs enfrentam dificuldades maiores porque dispõem de menos recursos. Algumas dessas restrições são de âmbito interno: escassez de recursos para contratar pessoas com mais qualificação ou ter acesso a conhecimentos avançados, limitadas competências de gestão, cultura empresarial avessa à cooperação, falta de experiência com parcerias ou com participação em redes, falta de estrutura para coletar, analisar e usar informações mercadológicas e limitado acesso a financiamento. Outras dificuldades são de natureza sistêmica: falta de compradores com necessidades avançadas que pressionariam para inovar, fragilidade da cadeia produtiva que não favorece a troca de informações, e escassez de mão-de-obra treinada e capacitada. Como driblar essas limitações? Com um intenso processo de capacitação tecnológica, com a inserção generalizada de engenheiros e técnicos nas pequenas empresas. Eles são os intermediários indispensáveis para aumentar o conhecimento tecnológico interno e pensar soluções técnicas novas. Eles são capazes de identificar fontes de conhecimentos, interagir com instituições de pesquisa e coordenar atividades inovativas internas. Eles são os interlocutores indispensáveis para negociar o repasse de tecnologia das grandes empresas em benefício das pequenas quando há oportunidade para terceirização. Reduzir a passividade inovativa passa, em grande parte, pela melhora da educação, em especial da educação tecnológica, e pela oferta de recursos humanos mais qualificados capazes de captar, traduzir e inserir conhecimentos novos nas empresas. Infelizmente, o Brasil não forma engenheiros em número suficiente. Revista T&C - As políticas públicas são adequadas para incentivar a prática da inovação pelas MPEs brasileiras? O que falta?

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Anne-Marie - Elas são importantes, mas nem sempre têm o impacto esperado. Em parte, porque se conhece mal a dinâmica das MPEs. Em parte, porque não há avaliação a posteriori das medidas adotadas, portanto não se sabe o que corrigir ou como adequar melhor os objetivos. O anúncio de um novo programa ou de uma nova lei é mais valorizado pelas agências que a avaliação do balanço das medidas anteriores. Falta feedback. Em parte porque as medidas são generalistas demais. Mas, na realidade, as MPEs de base tecnológica não precisam do mesmo tipo de apoio que as MPEs de produção tradicional. Seria importante raciocinar mais em termos de setores, de cadeia produtiva, de interações, de aprendizado, de fluxos de conhecimentos e troca de informações. Por outro lado, precisaria de atitude mais proativa dos governos locais. Tudo não pode passar apenas pelo federal. O federal cria um quadro, mas o “recheio” deve ser feito localmente. É preciso pensar em função do potencial local, dos recursos já acumulados, definir metas concretas, estruturar um ambiente favorável à inovação promovendo uma demanda por bens mais sofisticados, utilizar normas técnicas mais rigorosas, favorecendo a disseminação de melhores práticas gerenciais, de uma cultura de cooperação e investir em educação técnica. São decisões múltiplas que precisam ser articuladas entre si com participação de diversos atores locais, sistematicidade e perseverança. Revista T&C - Qual a importância da ampliação do número de incubadoras e a criação de Parques Tecnológicos como estímulo à inovação em MPEs? Anne-Marie - As finalidades das incubadoras e dos parques são diferentes. As incubadoras são destinadas à criação de empresas, em muitos casos - não exclusivamente - “spin-off” da universidade ou instituto de pesquisa que gerencia a incubadora. Essas empresas têm atividades produtivas incipientes ou incompletas, um pequeno número de pessoas ocupadas, um faturamento possivelmente negativo durante vários meses. O desafio principal

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é desenvolver produtos ou serviços para se poder inserir de fato no mercado. Nos parques, podem-se instalar empresas já constituídas, tanto as empresas graduadas quanto grandes empresas ditas “âncoras”, organizações comerciais ou de serviços. Os parques, a princípio, seriam projetos da iniciativa privada com um projeto imobiliário importante, investimentos consideráveis e retorno demorado. Em relação à inovação, as propostas tendem a se confundir. Os dois visam a intensificação da transferência de tecnologia do setor pesquisa para o setor indústria e o estímulo ao empreendedorismo. São projetos interessantes e valiosos porque contribuem para a formatação de um espaço físico e um ambiente de cultura empresarial com foco na inovação. Sem dúvida são importantes para a criação de empresas com orientação tecnológica e capacidade para desenvolverem inovações. Em nível da economia nacional, os impactos globais sobre a capacidade inovativa das MPEs ou a atuação como alavanca do desenvolvimento econômico local não devem ser idealizados ou superestimados. As incubadoras têm escala pequena, ou seja, raramente abrigam mais que duas dúzias de empresas, muitas delas encontram dificuldades para sobreviver. A experiência dos parques no Brasil ainda está em fase inicial. Não sabemos como eles vão atuar. Cada projeto de parque tem suas especificidades. Alguns vão conseguir se estruturar, outros provavelmente não. Essas experiências são importantes porque elas conseguem gerar uma nova cultura empresarial. Mas seria exagerado pensar que terão força suficiente para eliminar a morosidade inovativa das empresas brasileiras. Aliás, a literatura internacional sobre parques se mostra cética quanto ao seu efetivo desempenho, salvo os casos muito famosos nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Em todos, o desafio é promover uma verdadeira sinergia entre empresas instaladas bem como entre estas e as instituições de pesquisa.

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Revista T&C - Representam uma solução também para regiões menos desenvolvidas, como a Amazônia? Anne-Marie - Solução milagrosa não são. Mas são instrumentos a considerar. A Amazônia é uma região com peculiaridades e grandes contrastes. Minha resposta só considera Manaus não a Amazônia inteira. Incubadoras ou parques são instrumentos que podem ajudar. Não se deve desprezá-los. Eles fazem parte de um sistema de inovação. Manaus tem um conjunto de atores importantes para a inovação: grandes empresas do PIM, universidades e centros de pesquisa conceituados. Mas tem um mercado local pequeno, uma localização geográfica que encarece os custos de produção e dificulta o acesso aos recursos financeiros, humanos e tecnológicos e ao mercado. Alguns estudos sobre pequenas empresas do setor de fitocosméticos e de piscicultura mostram muito bem que há um potencial a desenvolver, que há redes de conhecimentos e base de informações se estruturando. As grandes empresas podem ter um papel significativo pela disseminação de padrões mais avançados de gestão. Os responsáveis pela implementação de políticas de desenvolvimento local precisam formular propostas para os obstáculos que bloqueiam esse potencial. Vou citar algumas: difundir a prática de parcerias; definir normas e padrões para processos produtivos setoriais; organizar redes de fornecimento de insumos; estruturar cadeias produtivas; garantir a disponibilidade de recursos humanos qualificados; e investir em instituições de pesquisa, priorizando alguns campos de investigação. Nesse contexto as incubadoras têm o papel de oferecer condições para a criação de empresas de base tecnológica. Creio que pode ser estratégico o papel de um instituto como o CBA, quando ele realmente deslanchar. Revista T&C - Considerando a disseminação do conceito de inovação em anos recentes e a sua importância para a robustez da atividade econômica, o que fazer para que a MPE inclua a inovação

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em sua agenda? Anne-Marie - Mesmo nos países que têm uma base industrial mais sofisticada e um sistema de pesquisa mais avançado, isso representa um desafio! A União Européia promoveu diversos estudos e avaliações sobre esse tema nos últimos anos e se mostra preocupada com a capacidade dos países-membro passarem para o estágio de uma economia do conhecimento. É claro que o Brasil tem muitas coisas a fazer. O governo federal nos últimos oito ou dez anos adotou um complexo arcabouço jurídico-legal – Lei da MPME, SIMPLES, fundos setoriais, programas de apoio a parques e incubadoras, PITCE e a Lei da Inovação, entre outros. Nós precisamos agora operacionalizar essa estrutura. Como? Pensando em abordagens setoriais: o que pequenas empresas de software precisam para inovar e serem competitivas? O que pequenas empresas de fitocosméticos precisam? O que pequenas empresas de piscicultura precisam? É esta dinâmica que está sendo introduzida, por exemplo, no setor de petróleo no Estado do Rio de Janeiro, com participação importante do SEBRAE. É pensar em levar as empresas a sofisticarem suas demandas e articularem entre si as ferramentas legais, fiscais e financeiras. Mas, antes de tudo, precisamos formar recursos humanos com bom nível de qualificação e inserílos nas pequenas empresas. Uma pequena empresa, quando conta com engenheiro ou doutor, muda completamente. Nesse sentido, a Lei da Inovação oferece várias possibilidades que precisam ser aproveitadas. As MPMEs precisam de mais engenheiros e técnicos. São as pessoas que entendem os princípios básicos da tecnologia de produção e são capazes de identificar fontes de informações relevantes e combinar entre si conhecimentos científicos. Isso vai fazer uma enorme diferença quando comparamos com a situação atual em que inovação significa compra de maquinário novo. Precisamos promover um processo generalizado de capacitação tecnológica. É ele que condiciona a capacidade de inovar, entendida como um processo de gerenciamento dos diversos conhecimentos

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que compõem a tecnologia. Para serem capazes de inovar realmente, as empresas precisam desenvolver um processo de aprendizado, de domínio da tecnologia de produção, tanto em nível conceitual quanto pela experiência prática. Mas para as MPEs, isso é um exercício bastante complicado porque elas são prejudicadas pela escassez de recursos financeiros, informacionais e cognitivos. A segunda pré-condição indispensável é romperem o isolamento e aprenderem a trabalhar em cooperação - principalmente com as empresas compradoras - e a integrarem-se em redes. Revista T&C - Em sua opinião, o capítulo X da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas, que exige a aplicação de no mínimo 20% dos recursos previstos nos orçamentos federal, estadual e municipal para desenvolver atividades de tecnologia e inovação em MPE, representa um objetivo factível? Anne-Marie - É um objetivo ambicioso. Será que as MPEs têm condições - mesmo com financiamento - de realizar internamente essas atividades? Será que as micros e pequenas empresas têm condições organizacionais para realizar atividades inovativas baseadas em pesquisa? Se forem muito “descoladas” das práticas das MPEs, as medidas vão ficar no papel porque elas foram pensadas como oferta de facilidades sem conhecimento da situação real das empresas. Deve beneficiar as empresas de base tecnológica, em particular as spin-off de instituições de pesquisa que já têm assimilado o “vírus” da inovação e sabem se relacionar com os setores de pesquisa. Provavelmente, não funcionará muito bem para as outras que precisam realizar uma pequena revolução nos seus comportamentos e métodos. Outra dúvida: será que todos os governos e instituições públicas de pesquisa vão de fato assumir esses compromissos orçamentários? Quanto aos municípios, por enquanto as políticas de apoio às MPEs passam exclusivamente pela isenção fiscal que tem pouco a ver com a capacidade de inovação.

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ara esta seção T&C Amazônia convidou quadro representantes de diferentes instituições para responderem as mesmas perguntas, de modo a proporcionar aos leitores maior compreensão sobre o tema inovação. Os convidados são: Alceu Castello Branco, gerente da Unidade de Informação e Gestão Tecnológica da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI); Elisabete Brocki, doutora e professora da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), João César Dotto, diretor-presidente da Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC); e José Eduardo Cassiolato, pós-doutor e coordenador da Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (Redesist – IE/UFRJ). Acompanhe as respostas.

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A inovação já é um conceito adequadamente compreendido e utilizado por formuladores de políticas públicas e empresas? Alceu C. Branco - Creio que aos formuladores das políticas públicas brasileiras não permanecem dúvidas quanto ao entendimento da importância da inovação tecnológica para o desenvolvimento econômico e social. É o que sinaliza o lançamento recente, pelo Governo Federal, com um lastro de 21,5 bilhões de reais (especificamente para inovação - 2007/2010), do Plano de Aceleração do Crescimento 2007/2010 (PAC Tecnologia) - MCT/F, que já possui, inclusive, as suas vertentes para as áreas da educação, da saúde, da ciência e tecnologia, entre outros segmentos. Todas guardando espaço para proposições na linha da agregação de valor pela via do esforço inovador. O que não é um fato novo: a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE), elaborada no governo anterior, é um exemplo de política focada na lógica da promoção do desenvolvimento econômico e so-

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cial pela via da inovação tecnológica, a qual trouxe, inclusive, um elemento novo que foi a sua formulação conjunta por pelo menos dois ministérios: o MDIC e o MCT. O PAC está, inclusive, fortemente integrado à PITCE. É oportuno lembrar que no bojo dessas políticas foram e ainda estão sendo criados elementos complementares como é o caso da Lei de Inovação, da Lei do Bem e principalmente do novo modelo de financiamento da pesquisa científica, tecnológica e de promoção da inovação, denominado Fundo Setoriais (recursos oriundos de setores das indústrias – informática, petróleo, aeroespacial, etc.) No âmbito do PAC Tecnologia, por exemplo, está sendo proposta a criação do Sistema Brasileiro de Tecnologia (SIBRATEC), um instrumento da política de incentivo à inovação que visa constituir uma rede de serviços tecnológicos em apoio à demanda das empresas brasileiras. O SIBRATEC, conforme apresentado no site do MCT, “vai organizar não só as ações do MCT, mas também do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e de todos os demais ministérios que contam com institutos federais, no sentido da aplicação de recursos”. Porém, o que acredito oportuno debatermos, e esse espaço é muito oportuno nesse aspecto, não é exatamente a consciência da importância, mas as soluções estratégicas que estão sendo propostas para promoção da inovação, complementares inclusive às já existentes, tendo em vista a dimensão dos desafios que essa mesma lei busca solucionar. Sugiro, para reflexão, alguns desses desafios: (i) as históricas e persistentes desigualdades regionais na distribuição de recursos para a promoção da inovação tecnológica devem inspirar fortemente o “design” dos instrumentos dessa política – a metodologia dos editais competitivos pode não ser a mais adequada e a exigência de qualificação do coordenador do projeto (doutorado) poderia ser complementada ou mesmo substituída, quando oportuna, por outros ativos de conhecimento e competência; (ii) a existência de recursos financeiros “a fundo perdido” (como inadequadamente é nomeada essa fonte e deveria deixar de ser) não

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é o elemento - pelo menos não o mais importante - na equação do processo de inovação tecnológica nas médias e grandes empresas. Falta, para a maioria dos setores e empreendedores, possivelmente, a “motivação”. Quanto ao entendimento dos empresários, a situação tem dimensões distintas, como reconhecido pelo próprio ministro da C&T, “há uma reduzida percepção, de vários setores empresariais quanto à importância da inovação tecnológica para que as empresas brasileiras possam competir no mundo globalizado”. O estudo conduzido pela Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI) Inovação Tecnológica no Brasil - A indústria em busca da competitividade global, que corrobora a visão do ministro, aponta que 79,3% empresas (do universo de 84.262 empresas pesquisadas) atribuíram baixa importância à realização de P&D interna. O segmento empresarial especialmente “familiarizado” com a emergência da inovação é o das empresas exportadoras ou que operam em segmentos de negócio com forte influência de concorrência externa. Elas têm a motivação, e o recurso “a fundo perdido” parece oportuno mas assessório. Cadeias produtivas inteiras estão sob ameaça constante – a exemplo da de calçados, no sul do País, em razão da importação de produtos de origem asiática com diferenciais (mesmo que expúrios) competitivos, como custo de mão-de-obra e outros. Recente estudo conduzido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) mostra que as micros e pequenas empresas que participaram do 1º edital de subvenção econômica à inovação, desenvolvido pela FINEP, apresentaram problemas com a utilização dos instrumentos de elaboração e submissão de propostas. Do total de empresas consultadas - 446 - dois terços das que responderam ao edital, consideraram satisfatório o tempo para respostas. Das restantes (que consideraram o tempo insuficiente), parte considerável teve dificuldades no preenchimento e envio. Às micros e pequenas empresas, segmentos que podem estar necessitando dos dois elementos T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


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(motivação e recurso), na minha opinião, faltam informação na escala, dinâmica e formato adequados. Elisabete Brocki - Embora a idéia do que hoje consideramos inovação seja secular, somente nas últimas décadas é que o conceito de inovação tem sido difundido no Brasil e, conseqüentemente, utilizado por gestores das esferas pública e privada. O que acontece é que existem diferentes entendimentos do que é inovação, inclusive, no âmbito acadêmico, pois é um conceito em evolução. Assim sendo, é arriscado afirmar sua compreensão adequada. Todavia, podemos observar, nos diversos meios de comunicação, o termo inovação associado aos de competitividade, globalização, tecnologia e conhecimento. Então, há um sentimento comum de que a inovação traduz a idéia de criação, evolução e diferenciação. E reflete, portanto, o entendimento de que são necessárias as interações para aumentar a capacidade produtiva do País. No que diz respeito aos formuladores de políticas públicas,considero a Lei da Inovação, em 2004, um marco histórico, pois propiciou condições favoráveis à interação com o segmento empresarial. Mas é necessário ampliar a cooperação entre os dois lados, colocando a agenda governamental ao lado da empresarial. É desejável, então, a formação de ambientes que favoreçam a inovação. João C. Dotto - Temos testemunhado uma articulação direta e estreita entre os usuários e produtores de conhecimento e a organização de sistemas de inovação seja no setor público, no setor privado ou seja na sociedade civil organizada. Quem está de alguma forma inserido na produção de conhecimento voltado á inovação não pode prescindir de referenciais como uma profunda transformação nos padrões organizacionais da pesquisa. Dentre as transformações percebe-se que, de um lado, há a emergência de novos atores, e de outro, há uma reconfiguração de papéis dos atores tradicionais. Temas como trabalho em redes, consórcios, e a busca de economias de escala também fazem parte desta transformação. No caso do setor público, ator privilegiado na T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

definição da política científica e tecnológica, assim como na própria execução da pesquisa voltada à inovação, observam-se transformações igualmente expressivas. Como formulador de políticas, uma das preocupações centrais passa a ser justamente a de promover a organização de sistemas de inovação, sejam estes nacionais, regionais ou sejam locais. Como executor, tem que envidar esforços para que as instituições a ele ligadas insiram-se com eficiência nas redes e nos sistemas de inovação, buscando não apenas o avanço do conhecimento, mas também o maior benefício social. Diversos estudos e pesquisas recentes indicam que a inovação é um desafio para a competitividade das empresas, revelam ainda que a maioria desconhece a existência de programas, projetos e legislação de apoio à inovação. O Ministério da Ciência e Tecnologia tem procurado difundir e disseminar o conceito de inovação através de um processo de desconcentração espacial na aplicação dos recursos federais em C&T, intensificando as parcerias com estados e regiões e focando a aplicação desses recursos na constituição e aperfeiçoamento de sistemas locais de inovação. José Eduardo Cassiolato - Em um texto que escrevi recentemente eu dizia mais ou menos o seguinte: “na segunda metade dos anos 90, a palavra mágica ‘inovação’ chegou ao Brasil, mas parece ainda não ter sido assimilada e talvez sequer bem compreendida”. A idéia é que, se por um lado há um reconhecimento generalizado sobre a importância da inovação no quadro atual do desenvolvimento brasileiro, por outro há uma confusão ainda grande sobre o que significa inovação em - mais complicado ainda - que políticas deveriam ser objeto da ação pública voltadas a ela. De fato, apesar de que a “inovação” tenha sido incluída na agenda das políticas industriais e tecnológicas não se percebem resultados mais concretos das políticas implementadas, e o desempenho inovativo da economia brasileira continua modesto. Assim, a resposta à pergunta é um pouco complexa, na medida em que não me parece que haja um consenso sobre o conceito de inovação. Este

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texto argumenta que a incompreensão das particularidades do processo inovativo e de suas conseqüências para o desenvolvimento tem levado a equívocos que impedem avançar no sentido de criar propostas e implementações políticas que dêem conta dos desafios e oportunidades colocados atualmente à sociedade e à economia brasileira. Sabe-se que até mesmo economistas que colocaram o processo de inovação no centro de suas teorias de desenvolvimento, como Joseph Schumpeter, não o estudaram em profundidade. É apenas a partir do final dos anos 60 que, através de diversos estudos empíricos, houve um avanço da compreensão sobre o significado da “inovação”. Até então, ela era vista como ocorrendo em estágios sucessivos e independentes de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento, produção e difusão (visão linear da inovação). Geralmente a discussão sobre as fontes mais importantes de inovação polarizava-se entre aqueles que atribuíam maior importância ao avanço do desenvolvimento científico (science push) e os que destacavam a relevância das pressões da demanda por novas tecnologias (demand pull). Esta discussão é relevante, porque apesar dos inúmeros avanços na compreensão de como a inovação ocorre no capitalismo, muito da política voltada a dinamizá-la ainda parte da visão linear da inovação. Uma visão que privilegia os investimentos em projetos de pesquisa em instituições de P&D e sua posterior “difusão” para a economia como um todo. Ora, sabemos que nas décadas seguintes - especialmente nos anos 1980 -, ocorre uma revisão em tal conceituação. A inovação passou a ser vista não como um ato isolado, mas sim como um processo: o processo de inovação desenvolve e utiliza recursos produtivos para gerar produtos com maior qualidade e/ou menor custo. Por definição um processo de aprendizado caracteriza o processo inovativo: se soubéssemos como gerar produtos de maior qualidade ou menor custo, não necessitaríamos inovar. É através deste processo de aprendizado, que gera e integra conhecimento, que se

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inova. Os principais pontos que a pesquisa trata sobre o processo inovativo nos últimos trinta anos têm revelado que ele é cumulativo, coletivo e carregado de incertezas. Isto é, a inovação é um processo eminentemente sistêmico, específico da localidade e conformado institucionalmente. Para que ocorra inovação uma série de fatores devem ser agregados num “sistema inovativo”. Esses fatores incluem: os atores críticos à inovação, o nível de capacitação destes atores, as conexões entre os diferentes atores que possibilitem aprendizado e inovação e, finalmente, as políticas e estruturas de apoio que permitam aos mencionados atores realizarem as mudanças inovativas. A idéia de “sistemas de inovação” parte do princípio (o qual tem sido verificado empiricamente) de que apesar de no capitalismo as empresas produtivas encontrarem-se no centro do processo inovativo, elas não podem inovar isoladamente, mas apenas o fazem em interação com outras empresas e com os demais atores. Porém esses “microfundamentos” de uma conceituação da inovação é colocado num quadro de referência mais amplo. Este por sua vez - o Sistema Nacional de Inovação - compreende não apenas as organizações de pesquisa (algumas vezes chamadas de “infra-estrutura do conhecimento” ou de “infra-estrutura de C&T”, mas também o conjunto de instituições e políticas públicas que direta ou indiretamente afetam as estratégias tecnológicas e inovativas das empresas. Eu tenho a impressão de que uma boa parte do empresariado – pelo menos implicitamente – tem clara esta noção sistêmica da inovação. Tenho dúvidas, porém de que ela tenha sido suficientemente compreendida pelos diferentes atores do sistema nacional de inovação brasileiro.

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No Brasil, a cultura para a inovação como instrumento para a competitividade tem se fortalecido satisfatoriamente? O que ainda falta? Alceu C. Branco - Os avanços dos últimos anos no rumo da promoção da pesquisa científica e tecnológica, e da sensibilização para a inovação (políticas de CT&I e seus instrumentos específicos) são inegáveis. O crescimento no volume de recursos financeiros é um bom exemplo: R$ 41, 2 bilhões (até 2010), como o é, também, o firme propósito do Governo Federal (com apoio do legislativo) de preservar (não contingenciar) os recursos desse segmento e de garantir o seu descontingenciamento progressivo, o que já se observa. Antonio Corrêa de Lacerda, em recente artigo “Exportações brasileiras e o mercado mundial”, disponível na internet, afirma: “segundo o relatório mundial de exportações, divulgado pela OMC (Organização Mundial de Comércio), apesar de ter o nono maior PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil é o vigésimo quarto exportador, detendo apenas 1,1% do mercado mundial, bem abaixo de países de porte equivalentes, como Coréia do Sul, com US$ 326 bilhões (11º lugar), Rússia, com US$ 305 bilhões (13º lugar) e México com US$ 250 bilhões (15º lugar)”. Creio, portanto, que uma boa referência a nos inspirar na resposta a essa questão, como um bom indicador do desempenho inovador do País, é o perfil das exportações brasileiras, na qual ainda persiste uma presença majoritária das chamadas “commodities”. Faltam, como disse na pergunta anterior – motivação e informação: (i) um cenário de motivação: nenhuma das alternativas do mercado para aplicações financeira do lucro da empresa será mais promissora para a sua sustentabilidade no médio e longo prazos, do que investir na competitividade de seus produtos ou serviços, na manutenção e conquista de novos mercados, frente a produtos com melhor equilíbrio custo-benefício; (ii) um cenário de Informação: as empresas brasileiras, de qualquer porte, estarão devidamente in-

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formadas das facilidades existentes em apoio ao seu esforço inovador, tanto quanto estão sobre o rendimento das suas aplicações financeiras. Elisabete Brocki - Acho que foi adquirido um grau de sinergia decorrente dos instrumentos criados a partir das leis que levam ao fortalecimento da cultura para a inovação. Mas o processo é lento, ao considerarmos o hiato tecnológico e barreiras culturais existentes no País. A cultura de inovação está mais fortemente difundida nos meios acadêmicos, em universidades e institutos de pesquisa, e a criação e consolidação de Núcleos de Inovação Tecnológica é um exemplo nessa direção. É preciso reconhecer, contudo, que há muito a avançar para popularizar a inovação, principalmente nas micros e pequenas empresas. Nesse sentido, iniciativas de difusão e discussão da inovação, promovidas principalmente pelo segmento empresarial e não governamental, favorecem o diálogo e reduzem assimetrias entre ciência e empresa. São contribuições importantes, dentre outros, os eventos realizados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que promove o Congresso Brasileiro de Inovação na Indústria e as conferências da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (ANPEI) e da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI). Todavia, ao considerarmos a inovação na gestão e organização do trabalho, podemos identificar um fosso enorme, pois ainda é pouco difundida, diante de sua importância. João C. Dotto - Ao longo dos anos, as empresas passaram por diversos estágios de evolução na prática da gestão. Na década de 1960, a maior preocupação concentrava-se nas atividades de produção de altos volumes, em muitos casos com demanda maior do que a oferta. A qualidade tinha seu conceito norteado apenas como uma atividade de controle de algum tipo de conformidade. Logo a quantidade ou a oferta de novos produtos era pequena. Mais adiante, a qualidade passou a fazer parte dos novos conceitos de produção para

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atender às necessidades dos clientes, que juntamente ao marketing e ao conceito de qualidade, o desenvolvimento de novos produtos tornou-se uma atividade com visão de mercado. Nesse momento o conceito da flexibilidade/rapidez na diversificação dos produtos introduz o paradigma da competitividade no cenário das empresas e no seu próprio ambiente, que as obriga a produzir considerando “qualidade x custo”, no atendimento das necessidades dos clientes. Por último, temos o paradigma da inovação, vetor de mudanças profundas nas relações de mercado e na busca de soluções para os diversos setores da economia. Neste ambiente, o viés estratégico está na capacidade de criação, apropriação de novos conhecimentos e na gestão. O que ainda falta para consolidar este novo paradigma consiste no desafio de administrar inúmeras variáveis existentes que envolvem o processo de inovação. O desenvolvimento de ambientes colaborativos para aumentar a criatividade, o compartilhamento de conhecimento que o indivíduo adquiriu ao longo da vida, e a maior proximidade entre a academia e o setor produtivo. José Eduardo Cassiolato - Aqui eu acho que o nosso problema com a inovação não é cultural. Surpreendentemente para alguns o povo brasileiro é muito inovador, muito empreendedor e apresenta níveis de cooperação extremamente elevados. As pesquisas que a RedeSist têm realizado nos últimos dez anos (mais de 70 estudos empíricos sobre as características de sistemas produtivos e inovativos locais brasileiros) revelaram, entre outras coisas, uma alta capacidade inovativa, a existência de laços cooperativos em todas as regiões brasileiras, mas também algumas dificuldades enormes em transformar esses ativos em produtos e processos novos. As razões dos insucessos variam muito, mas fundamentalmente percebe-se que há algumas características do “Sistema Nacional de Inovação” brasileiro que inibem e dificultam os processos inovativos virtuosos. Algumas vezes, essas

se relacionam a falhas na provisão de educação e treinamento em diversas áreas, mas particularmente no ensino técnico e de engenharia, outras vezes são as chamadas políticas implícitas de inovação que atrapalham. O que falta, talvez, não tenha muito a ver com aspectos “culturais”, mas com o foco das políticas.

Os marcos regulatórios existentes, especialmente a Lei de Inovação, no âmbito federal, revelaram-se apropriados? O que pode ser aperfeiçoado? Alceu C. Branco - A Lei de Inovação, lançada em 2004 e regulamentada em 2005, trouxe propósitos importantes no sentido do apoio à criação de um ambiente inovador, dos quais apontaria alguns: o estímulo à criação de parcerias estratégicas na aplicação de recursos de fomento – institutos de pesquisa e empresas – orientação já adotada em alguns dos editais e chamadas mais recentes e com o potencial de estimular os IPTs e as ICTs para priorizarem a demanda do mercado/cliente na definição do seu plano de negócio; o estímulo a que os institutos de P&D compartilhem as suas infra-estruturas laboratoriais com as empresas, inclusive as empresas de micro e pequeno porte; e por último o foco na criação de redes de pesquisa e desenvolvimento. Mas a Lei ainda é recente e alguns ajustes e aperfeiçoamentos são demandados nesses instrumentos. O “cronograma” das empresas e a emergência pela inovação (quando chamadas a serem parceiras no recurso de fomento) é diferente do cronograma das agências, no processamento dos editais, e dos IPTs, na organização e condução dos projetos e não creio que parcerias tecnológicas possam ser constituídas apenas pelo cronograma dos instrumentos de fomento. O elemento motor (motivação para inovar) do empresário e conseqüentemente da parceria tem outro perfil: pode ser, como sugere Ivan Rocha¹, o da disseminação da

Ivan Rocha é Chanceler da ABIPTI, autor de vários livros sobre o tema inovação e estudioso do processo de agenciamento da inovação tecnológica. ¹

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informação com formatos e mídias adequadas às distintas partes interessadas. Os empresários estão devidamente informados sobre essas facilidades? Afinal, o recurso de fomento à inovação (dos fundos setoriais, por exemplo) vem de seu esforço como empreendedor. Outros elementos podem ser incluídos nessa equação: a criação de um novo (embora não tão inovador assim) modelo de gestão de recursos, trazido pela Lei de Inovação, evidenciou questões até então não tão evidentes: o tamanho da demanda reprimida – projetos a financiar (apenas cerca de 10 a 20 por cento dos projetos encaminhados às agências são aprovados); e as demandas de aprendizado trazidas pela lei que as agências têm que assumir, que indicam a necessidade de melhoria da qualidade dos projetos, da adequação da metodologia de análise de propostas e etc. Mas a Lei de Inovação está tomando perfis distintos com as iniciativas de promulgação da versão estadual - o Estado do Amazonas já elaborou a sua, Santa Catarina está nesse rumo, bem como outros estados. Creio que pode ser oportuno que análises e melhorias a esse marco legal da inovação, bem como dos seus instrumentos operacionais, sejam feitas à luz da realidade de cada estado ou região e o mais próximo possível da demanda (segmento empresarial local), evitando a cópia pura e simples da versão federal tornando-os mais adequados às várias realidades brasileiras. Instituições como o Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de C&T (CONSECTI) e a Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI) têm papel importante nesse aspecto, arregimentando suas partes interessadas e apoiando a construção de instrumentos os mais identificados possível com as demandas locais de inovação, preservando as diferenças e reforçando as igualdades. Isso é particularmente importante quando se observa que parte considerável dos recursos em apoio à promoção da inovação (Fundos Setoriais) será operacionalizado pelas secretarias estaduais, via acordo com o MCT e suas agências CNPq e FINEP.

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Elisabete Brocki - Os marcos regulatórios podem não ser os mais apropriados, mas cumprem papel crucial para proporcionar a inovação no Brasil. Na Lei de Inovação a crítica maior reside no fato de ter um caráter muito mais “acadêmico”, voltado à parceria entre instituições de ciência e tecnologia e empresas. Porém, o principal mérito na lei está em possibilitar a conjugação de recursos públicos aos de empresas, com o objetivo de compartilhar os riscos dos investimentos em inovação. Então, a combinação de leis, incluindo a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE) e, mais recentemente, a Lei do Bem, buscam induzir a inovação em empresas. Porém, para o aperfeiçoamento dos marcos regulatórios, é tarefa importante medir e avaliar o que foi alcançado. Há, também a necessidade de uma estratégia nacional, de médio e longo prazos, articulada às unidades da federação para aperfeiçoamento dos marcos, pois é preciso reduzir as desigualdades regionais. Para nós, que vivemos na Amazônia, essa é uma questão crucial! João C. Dotto - Podemos identificar os efeitos dos marcos nos processos de aprendizagem e desenvolvimento de competências, na geração e gestão do conhecimento, nos processos e mecanismos referentes à inovação tecnológica, onde se deve observar a efetividade de um modelo em que a demanda e a oferta se encontrem quase que de forma natural por ligações entre a academia e a empresa, o que resulta, em descompasso e atraso que são fatais no processo de inovação e no estímulo e incentivo à pesquisa. Um aperfeiçoamento nos marcos e, sobretudo na Lei de Inovação, deve passar por uma análise profunda nos fatores metodológicos, ambientais e acadêmicos das instituições científicas e tecnológicas. A lei resultou na quebra de paradigmas do serviço público, possibilitando ao pesquisador público, a capacidade de empreender. No entanto, não é estimulado o desenvolvimento das competências empreendedoras, quer seja no ambiente das universidades, muito menos no serviço público. Para melhorar a eficiência de vários pontos da Lei de

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Inovação se faz necessário disseminar a cultura empreendedora no cenário das universidades e no setor público em geral. José Eduardo Cassiolato - A Lei de Inovação brasileira é uma cópia, com algumas mudanças, de tentativas de mudanças de legislação visando aumentar o empreendedorismo acadêmico e o envolvimento de empresas privadas com a inovação. Diversos países têm seguido o mesmo caminho. Nada contra a lei em si, pois, pelo menos, ela coloca a inovação no centro da agenda de políticas. Mas a lei parte de um diagnóstico - pelo menos muito parcial e reducionista - dos problemas da inovação em nosso País. Não é por acaso que as diferentes legislações sobre a inovação em diferentes países têm tido resultados muito modestos. Ela tem como suporte conceitual maior o que chamamos de visão estreita da inovação, aquela em que os atores do processo inovativo se restringem a empresas e instituições públicas de pesquisa e que enfatiza demasiadamente a P&D como elemento constituinte do processo inovativo. Apesar de que já faz aproximadamente trinta anos que se sabe que “Innovation is much more than R&D”, continua-se a pensar no Brasil que as duas coisas são a mesma coisa. Nelson e Rosenberg no capítulo primeiro da coletânea sobre sistemas nacionais de inovação editada por um deles em 1993², já explicitavam claramente que P&D era apenas uma parcela reduzida dos recursos que são necessários à inovação: “It is important to recognize the lack of distinctness surrounding the concept of R&D …. Many small firms engage in significant design and development work, yet do not have a formally designated R&D department or facility; their design and development work may or may not be accounted and reported as R&D. In many firms process engineering is located organisationally in production, not in R&D; again the work involved may or may not be counted as R&D. The lines between R&D and other

activities such as designing products for particular customers, problem solving on production processes or monitoring a competitor’s new products are inherently blurry. … Moreover, even if it is defined quite broadly, R&D is usually only a small part of the resources and problem-solving that go into innovation …..” (p. 11) No Brasil, isso é muito mais grave, pois a rica diversidade de nosso País exigiria uma política que desse conta dela e que não fosse centrada – e quase exclusivamente executada - na execução de projetos conjuntos de P&D por parte de empresas e instituições de pesquisa. Há vários equívocos nessa formatação da política que não podem ser detalhadamente tratados nestas poucas linhas. Um deles é que projetos conjuntos de P&D representam uma das formas menos usuais de articulação entre firmas e instituições de pesquisa em qualquer país. Mas há um outro mais importante para um país como o Brasil: as diferentes características regionais e respectivos padrões de especialização produtiva demandariam formas também diferenciadas de execução da política. A política de editais, com sua suposta neutralidade, sempre privilegia as necessidades e preocupações dos atores mais organizados e vocais que estão nos centros mais desenvolvidos. Ocorre uma concorrência desleal e as reais necessidades da inovação das diferentes regiões dificilmente são contempladas. É um processo vicioso que se perpetua e que é um dos principais responsáveis pela excessiva concentração de recursos da política de C&T. Existem importantes elementos de uma política de inovação que seriam extremamente úteis para diversas regiões brasileiras (e para a Amazônia em particular) que nem sequer são incluídos no debate da política de inovação. Ações voltadas à aprendizagem a treinamento, à formação de recursos humanos que não os de pós-graduação são muitas vezes ignorados. Por outro lado, não creio que tenhamos um problema de inadequações no marco regulatório, mas

Nelson, R. R. and Rosenberg, N. (1993), Technical innovation and national systems. In Nelson, R. R. (Ed.) (1993), National innovation systems: A comparative analysis; Oxford University Press, New York e Oxford. ²

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sim de que a política tenha se centrado principalmente neste binômio: projetos conjuntos de P&D e apoio aos investimentos privados via especialmente redução da carga fiscal. Seria importante haver um melhor balanceamento da política e uma maior preocupação regional.

Corre-se o risco de que a inovação seja utilizada como uma “panacéia da competitividade”, assim como a qualidade no início da década de 1990? Alceu C. Branco - Creio que o “movimento pela qualidade”, iniciado na década de 90 (a FNQ foi criada em 91), tenha sido um elemento sensibilizador importante para a melhoria dos padrões de gestão nas empresas brasileiras, como foram movimentos similares a esse para as empresas de países como o EUA e Japão. Sua gênese está relacionada a um conjunto novo (para a época) de desafios como: novas exigências dos mercados consumidores, evolução tecnológica acelerada (vide o ciclo de vida de alguns produtos como o de celulares), globalização, todos demandando aumento da competitividade como condição básica para a manutenção dos negócios e sobrevivência das empresas, e em especial, para atuação em ambientes multinacionais. Algum percentual do sucesso da expansão da economia brasileira, conquistado nessa última década, há de ser computado ao amadurecimento do conceito (e a melhoria efetiva) da “qualidade na gestão” e o “movimento pela qualidade” certamente trouxe a sua contribuição. Embora os elementos que deram origem e justificaram o “movimento” ainda estejam presentes para a maioria das empresas e setores industriais (inovação está na origem dos fundamentos do modelo FNQ), o desafio do momento é o da incorporação de valor (inovação) à economia, produtos, processos e também à gestão. A literatura é farta em demonstrar a influência da “cultura da inovação”, como componente relevante do sucesso, por exemplo, das economias de industrialização mais recentes - China, Coréia, Índia. Esses três países estão entre os que, nas úlT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

timas décadas, mais estudantes enviaram para as universidades americanas e a lógica por trás desse procedimento é acelerar o processo de agregação de valor à economia - investir na cultura da inovação pelo caminho da educação. Iniciativa que o Brasil não teve. Creio ser por essa razão, entre outras, que a maioria dos produtos de alta tecnologia (principalmente os de ciclos de vidas mais acelerados), comercializados em todo o mundo, tem hoje em seu verso um selo “Made in China” e que a Índia responde por um terço da oferta mundial de software (em especial para a área de segurança). Tenho a certeza de que o movimento pela qualidade pode trazer aprendizados importantes para inspirar a criação de um “movimento pela inovação”. Apostaria em dois deles: 1. a operação em rede (vide Rede QPC), o compartilhamento do desafio da geração de soluções (planejamento do programa) e da implementação, conduzido em parceria com o maior número possível de organizações de todos os formatos institucionais (inclusive as privadas) e; 2. a capacidade de arregimentação de voluntários - desde a sua criação, a FNQ contabiliza 3.345 membros da Banca Examinadora, com mais de 180 mil horas de trabalho voluntário. Elisabete Brocki - É necessário admitir que a competitividade é dependente de outros fatores que não só inovação e P&D. Envolve, por exemplo, a formação adequada e contínua de recursos humanos e a dotação de infra-estrutura para as tecnologias industriais básicas. O financiamento com aporte de recursos da iniciativa privada também é importante. Porém, já podemos constatar resultados concretos de investimentos voltados à inovação, como a I Mostra de Inovação Tecnológica e Apoio à Pesquisa em Empresas no Amazonas, uma iniciativa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas (SECT) e com a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP/MCT) que divulgou os frutos iniciais dos 17 projetos desenvolvidos no âmbito do Programa Amazonas de Apoio à Pesquisa em Empresa (PAPPE).

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Os novos programas de fomento e incentivo à inovação passam a priorizar áreas estratégicas, pois buscam foco nos investimentos em áreas como biotecnologia, nanotecnologia e energia - as chamadas tecnologias portadoras de futuro. Acompanhar as diversas iniciativas nacionais e locais auxiliará na consolidação das estratégias para a inovação no Brasil. João C. Dotto - No começo dos anos 90, aconteceram alguns discursos políticos que versavam sobre a capacitação tecnológica da estrutura produtiva nacional. Identificaram-se duas situações distintas, mas relacionadas entre si, o que se caracterizou por uma completa submissão nacional ao desenvolvimento de bases tecnológicas adquiridas fora do País. Entre 1990 e 1993, direcionado pela abertura comercial indiscriminada da economia, aconteceu um contundente ajuste defensivo da indústria nacional. Com o advento do Plano Real, verificou-se uma verticalização ainda maior da abertura, culminando com um movimento de desregulamentação dos mercados e do processo de privatização das empresas públicas, responsáveis pela continuidade da reestruturação produtiva iniciada no período anterior. Alicerçada na estabilidade econômica do Brasil e no aprendizado conseguido nas últimas décadas, com a abertura de mercado, a Lei de Inovação, as políticas públicas formuladas devem se reverter no atendimento das expectativas da sociedade, para o seu desenvolvimento, e com possibilidades do acompanhamento efetivo dos resultados esperados. Estes resultados serão alcançados se a sistemática e mecanismos utilizados tiverem eficácia, e que sejam abrangentes o suficiente para garantir o atendimento das expectativas do maior número possível de interessados e beneficiários. Por essa ótica, a eficácia da Lei da Inovação deve ser constantemente avaliada e acompanhada, sobretudo, nos aspectos que remetem para a regulamentação posterior, ou delegam à administração dos ICTs a definição dos procedimentos necessários para a obtenção de recursos e de outros benefícios previstos. A Lei de Inovação é um marco extremamente

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importante para a concretização de uma nova realidade nacional. Isto se evidencia pela possibilidade do relacionamento transparente e proativo entre o Estado, a academia e as empresas, o que pressupõe a possibilidade de criação de padrões mais refinados de relacionamento e integração entre as instituições. Alargam-se os horizontes de cooperação, bem como a responsabilidade dos administradores, dos pesquisadores e do setor produtivo na busca da consecução da efetividade da Lei, diante das expectativas da sociedade. José Eduardo Cassiolato - Infelizmente sim. Uma boa parte da mídia e até dos setores empresariais e também formuladores de política têm uma certa atração por modismos. Eu, pessoalmente, penso que a questão da inovação tem a sua faceta de “moda” mas também tem o seu lado de “modo”, e este sem dúvida vai resistir. O lado de “modo”, que sem dúvida resistirá, tem a ver com as especificidades que a questão da inovação tem no quadro atual. Ressalte-se que a importância da inovação no desenvolvimento humano não é algo que ocorre apenas nos últimos vinte anos. A busca por novos produtos, novos processos, por novidades é algo intrínseco na evolução da espécie. O que é diferente atualmente é que as novas tecnologias de base microeletrônica permitem uma utilização mais intensiva do conhecimento em praticamente todas as atividades produtivas e, mais importante, que a diminuição de custos que ela permite amplia significativamente as possibilidades de se encontrar soluções técnicas mais “apropriadas” a problemas de todos os tipos. Até há pouco tempo se quiséssemos consumir música através da compra de discos, CDs, etc. estávamos restritos àquilo que os grandes grupos nos desejassem oferecer. Hoje em dia a produção econômica de conteúdo musical, por exemplo, foi de tal maneira barateada que diversos sistemas produtivos de pequenas empresas produzem e comercializam seus bens em diferentes partes do Brasil. Os exemplos são inúmeros e percebemos uma alta inovatividade espalhada pelo Brasil que não é captada pelos indicadores tradicionais de P&D e patentes. Este lado de “modo” da inovação não vai passar. T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


ARTIGO

A emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas: contribuições para sua análise e fortalecimento Guajarino de Araújo Filho Niomar Lins Pimenta Dimas José Lasmar

Resumo Este artigo ressalta a relação entre inovação e desenvolvimento econômico e discute fortalezas e fragilidades de um emergente sistema de inovação no estado do Amazonas, a partir do relato histórico dos principais fatos que contribuíram para o atual ambiente local de CT&I. A análise enfatiza a diversidade de atores como um ponto positivo, mas a escassez de conexões entre eles pode ser apontada como um dos gargalos para maior prática da inovação no estado. Apresenta, ainda, como principal estratégia de fortalecimento do sistema, a ampliação do nível de interlocução a partir do estímulo a mais e melhores práticas de governança.

Introdução Estimulado por uma forte atividade industrial, com quase quatro décadas de operações de cres-

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cente complexidade, a economia do estado do Amazonas alcançou, no cenário nacional, o 15º posto entre os PIBs estaduais, em 2005, enquanto Manaus atingiu uma significativa 7ª posição entre todos os municípios do País, no mesmo ano [1]. A ostentação de índices econômicos relevantes tem sido um estímulo para alimentar recorrentes discussões sobre a real sustentabilidade associada ao desenvolvimento do estado, considerada a dependência de benefícios fiscais que viabilizam grande parte da indústria que lhe dá suporte, em contraposição a domínio de conhecimento como verdadeiro propulsor do bom desempenho contínuo de uma economia. Entende-se, todavia, que a maturidade da sociedade local já permite acrescentar uma nova dimensão na construção de uma agenda de interesse público, contribuindo para a formulação e implementação de políticas que consolidem os

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pilares sobre os quais um processo robusto deva estar assentado. Este artigo tem por objetivo estimular a discussão sobre a relação entre inovação e desempenho econômico contínuo, focando a emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas, evidenciando algumas de suas características e propondo estratégias para seu fortalecimento. Para tanto, na seção 2 é discutida a relação entre inovação e atividade econômica e são apresentados os conceitos mais amplamente utilizados na compreensão de sua importância e tratamento; na seção 3 são apresentados os principais fatos que contribuíram para a conformação do panorama atual das atividades de CT&I no estado do Amazonas; na seção 4 são apresentadas opções estratégicas com potencial para construir um futuro desejado; na seção final são enfatizadas as conclusões.

Conceitos e abordagens associados à inovação Predomina o pensamento de que o crescimento econômico e o conseqüente bem-estar de uma sociedade resultam de inovações que ocorrem em seu ambiente, especialmente nas empresas, que na maioria dos casos são apoiadas pela estrutura de CT&I. E que as inovações dependem da geração, exploração e difusão do conhecimento. Embora Schumpeter já considerasse, na primeira metade do século passado, outros tipos de inovação – novos mercados, novas estruturas industriais e novos materiais e insumos –, além de processos e produtos, os conceitos e estudos sobre estes últimos, entretanto, é que se popularizaram no final do século. Como a inovação é um processo dinâmico, apenas mais recentemente o Manual de Oslo [2], uma referência para todos os que estudam o tema, passou a considerar também inovações não-tecnológicas como as de marketing e organizacionais. Muito embora seja reconhecido que em alguns países em desenvolvimento o conceito de inovação não é bem compreendido – e em alguns casos

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com maior dificuldade de aplicação –, é amplamente aceito que “uma inovação é a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas relações externas” [2, p. 55]. Não obstante essas dificuldades, por definição todas as inovações devem conter algum grau de novidade: para o mundo, para o mercado a que se destina ou mesmo apenas para a empresa. Quanto à natureza, a inovação pode ser radical – relacionada ao estado da arte, quando altera um paradigma técnico-econômico, impactando o panorama mundial – ou incremental – quando configura um aperfeiçoamento menos intensivo em conhecimento técnico-científico, mais vinculado à idéia de melhoria contínua. A inovação incremental, especialmente em economias em desenvolvimento, recebe várias outras denominações, tais como tecnologias de processos, inovações de processos, melhoramentos contínuos ou incrementais, pequenas adaptações ou desenvolvimentos secundários. A complexidade do processo de inovação torna difícil o estabelecimento preciso de diretrizes para apoiá-lo. Todavia, quanto maior a compreensão da contínua mudança do processo de inovação e o apoio exercido pelas instituições de CT&I, melhores são as possibilidades da adoção de políticas mais apropriadas para que as inovações ocorram com a freqüência e qualidade pretendidas. As políticas para a inovação surgiram nas economias desenvolvidas como meio de integrar as políticas de C&T. A premissa é a de que o conhecimento desempenha um papel central no progresso econômico e a inovação ocorre em um ambiente sistêmico e complexo. Mais ainda, nas economias menos desenvolvidas, as políticas públicas e programas de C&T podem ter mais impacto sobre a inovação do que as ações das empresas privadas. Assim, a abordagem de sistemas para a inovação tem redirecionado o foco das políticas para a interação entre instituições e processos interativos no

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trabalho de criação de conhecimento e em sua difusão e aplicação. Um sistema de inovação pode ser definido como “um conjunto de instituições distintas que contribuem para o desenvolvimento da capacidade de inovação e aprendizado de um país, região ou localidade” [3, p. 24]. Esse sistema também pode incluir as instituições informais (valores culturais e sociais), assim como o sistema produtivo. A identificação dos obstáculos à inovação é igualmente importante para a adoção de políticas, especialmente porque boa parcela das medidas com o objetivo de superá-los é emanada do governo. Alguns deles, para exemplificar, dizem respeito à escassez de experiências, de competência, de financiamento e mesmo de mecanismos consolidados para a apropriação de conhecimentos. A pesquisa sobre a prática da inovação no Brasil tem constatado uma capacidade de produzir conhecimento de elevado nível, associada à dificuldade de aproveitá-lo na empresa. Uma das causas identificadas é que apenas 23% – menos de 20 mil – do total de cientistas brasileiros desenvolvem pesquisas em laboratórios industriais, situação inversa à de outros países – a exemplo da Coréia do Sul, uma economia em desenvolvimento, com cerca de 70% – onde essa prática já está bastante difundida. Esses países apenas alcançaram tal status em decorrência, sobretudo, de políticas públicas que aproximaram as instituições de C&T com o setor produtivo, com foco em inovação especialmente nas empresas. Em geral, indicadores de C&T consideram recursos direcionados a P&D e registro de patentes. Entretanto, muitas atividades que criam as condições para a inovação não são baseadas ou não são exclusivamente direcionadas a P&D. Essas atividades, denominadas “atividades de inovação” são etapas científicas, tecnológicas, organizacionais, financeiras e comerciais que conduzem, ou visam conduzir, à implementação de inovações [2, p.25]. Face às particularidades dos países da América do Sul e Caribe, o eixo central desse conceito foi deslocado para abordar mais a gestão dessas

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atividades, incluindo o esforço das empresas em elevar seu acervo tecnológico, denominado de esforço tecnológico [4, p. 36]. Outros conceitos, além dos já referidos, podem também auxiliar na compreensão das atividades e do processo de inovação e contribuir para a adoção de políticas mais apropriadas para estados como o Amazonas: • As redes de conhecimento, definidas como a identificação das diferentes formas de intercâmbios institucionais, voltados para a geração, difusão e aplicação do conhecimento, não envolvendo necessariamente processo de inovação tecnológica [5]. No contexto regional, devem ser capazes de ressaltar características específicas de cada região, evidenciando potencialidades, possibilidades, carências e riscos. • A hélice tríplice, que analisa as possibilidades de um novo modelo de relações entre universidade-indústria-governo, indicando que condições locais fornecem recursos para serem operados em rede [6]. • A Governança [3, p.14], que se refere às diversas formas pelas quais indivíduos e organizações (públicas e privadas) gerenciam seus problemas comuns, acomodando interesses conflitantes ou diferenciados e realizando ações cooperativas. Diz respeito não só a instituições e regimes formais de coordenação e autoridade, mas também a sistemas informais. Na prática, deve-se ter cautela na apropriação desses conceitos para uso na compreensão de uma determinada realidade local, especialmente o de sistema local de inovação, cuja literatura foi construída a partir de estudos realizados em países desenvolvidos.

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Marcos evolutivos da ciência, tecnologia e inovação no estado do Amazonas Nesta seção é apresentada uma cronologia de marcos evolutivos que conformaram o estabelecimento do atual ambiente local de ciência e tecnologia no estado do Amazonas, nos últimos 25 anos. A mais remota referência a um esforço de mobilização mais ampla de atores para o tema, que os autores têm conhecimento, é o I Encontro de Entidades de Ciência e Tecnologia do estado do Amazonas, promovido pela Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral (Seplan) e Centro de Desenvolvimento, Pesquisa e Tecnologia do Estado do Amazonas (Codeama), entre fevereiro e março de 1984, um evento que teve amplo predomínio de participação de instituições públicas. Ainda naquela década, merece destaque o Plano Estratégico de Educação Ciência e Tecnologia (Peect). Elaborado em 1987 pela Fundação Centro de Análise da Produção Industrial (Fucapi), por demanda da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), propunha o “fortalecimento das áreas de educação, ciência e tecnologia, tendo em vista o desenvolvimento auto-sustentado (sic) da Amazônia Ocidental, com ênfase na Zona Franca de Manaus, valorizando e utilizando a inteligência regional na criação de um saber tecnológico voltado para a solução de problemas locais” [7]. Como instrumento auxiliar para a orientação das ações, o Peect apresentava a criação de um Distrito de Alta Tecnologia (Dialtec), proposta contemporânea à de outras regiões do Brasil, notadamente Sudeste e Sul, que começavam a adotar soluções similares, implantando centros produtores de tecnologia, “verdadeiras indústrias baseadas em ciência”. Todavia, apesar da reestruturação organizacional da Fucapi para gerir o Peect, transformando-se em Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica, o plano não resistiu à mudança de prioridades na gestão pública e sua descontinuidade sinaliza uma insuficiente capacidade de articular os atores sociais da época em torno da

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importância da temática. No início da década de 1990, a abertura do mercado brasileiro às importações fez-se acompanhar pela criação de mecanismo legal para o estímulo à ampliação de gastos de P&D em contrapartida a benefícios fiscais usufruídos por empresas de segmento específico da indústria, conhecido como Lei de Informática. Estendida em legislação específica (Lei no. 8.387, de 30.12.1991) para os bens de informática industrializados na Zona Franca de Manaus (ZFM), a regulamentação previa que as empresas realizassem “a incorporação de tecnologias de produtos e de processos de produção compatíveis com o estado da arte e da técnica” e “o investimento na formação e capacitação de recursos humanos para o desenvolvimento científico e tecnológico”. A implantação de centros locais de desenvolvimento por algumas empresas privadas e maior aproximação para cooperação tecnológica com a academia e centros tecnológicos privados já existentes foram duas das mais evidentes conseqüências dessa legislação. Profissionais de maior qualificação foram atraídos, cursos de pós-graduação foram implantados e um conjunto de atividades intensivas em conhecimento passou a ser desenvolvido no próprio estado. Em janeiro de 2001 foi criado o Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Capda), responsável pela “gestão dos recursos destinados a atividades de pesquisa e desenvolvimento, oriundos dos investimentos realizados pelas empresas de desenvolvimento ou produção de bens e serviços (...) previstos na Lei de Informática”. Concomitantemente, na segunda metade da década de 1990, durante a vigência do Plano Plurianual de C&T do governo federal para o período 1996-99, foi introduzida importante mudança no ambiente nacional, com a instituição dos Fundos Setoriais de Ciência e Tecnologia como principal instrumento de financiamento para projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação, em áreas de interesse estratégico. Dentre eles,

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destaca-se o CT-Amazônia, um dos catorze fundos específicos criados, que tem o objetivo de fomentar as atividades de pesquisa e desenvolvimento na Região Amazônica, com fonte de recursos oriunda de percentual (0,5%) do faturamento bruto da produção de bens e serviços de informática industrializados na Zona Franca de Manaus. O Capda é o comitê responsável pela gestão dos recursos do CT-Amazônia. Ainda no final da década de 1990, o Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia (Probem) motivou a Suframa à criação do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), que tem o objetivo de tornar-se uma instituição de suporte tecnológico a processos produtivos baseados na biodiversidade regional, especialmente nas grandes áreas de produtos naturais e biotecnologia, a primeira grande iniciativa concreta para estímulo ao bionegócio. Dificuldades iniciais referentes à sua constituição jurídica limitaram a contribuição efetiva do CBA, aparentemente contornadas pela convergência de interesses interministeriais em 2006. No ano de 2000, a Aliança Estratégica de Inteligência Cooperativa representou outra iniciativa da Suframa para integrar organizações de base tecnológica, buscando ampliar o capital intelectual para atendimento ao Pólo Industrial de Manaus (PIM), levantar potencialidades das instituições de pesquisa locais, identificar potenciais parceiros tecnológicos de outras regiões ou países, assim como captar recursos para projetos prioritários. Primeira tentativa de articulação coletiva em torno de tecnologia e capital intelectual, embora a Aliança não tenha se materializado, acabou por suscitar a criação do Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pólo Industrial de Manaus (CT-PIM), três anos depois. Também em 2000 foi criado o Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), sociedade civil sem fins lucrativos que tem por finalidade apoiar a criação e o desenvolvimento de empresas de base tecnológica, por meio de um sistema de incubação de empresas com ênfase em biotecno-

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logia, química fina, agroindústria, tecnologia da informação e eletroeletrônica. O ano de 2001, todavia, pode ser considerado o de início de mudanças significativas no cenário de CT&I local. Convocadas pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) – à época responsável pelas ações de C&T no âmbito do governo estadual –, organismos governamentais como Suframa, Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico (Sedec) e Instituto de Desenvolvimento Agropecuário do Estado do Amazonas (Idam); instituições de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico como Fucapi, Fundação de Medicina Tropical, Utam/UEA, Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Embrapa, Cefet e Fundação Alfredo da Mata; o setor produtivo, representado pela Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), além do Sebrae, participaram, em agosto daquele ano, de reuniões preparatórias para a II Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI). Realizada em 2001, a reunião pode ser considerada um marco porque pela primeira vez os principais atores em C&T no estado manifestaram-se em documento, firmando e expressando uma opinião coletiva que, dentre outras idéias, expunha as dificuldades encontradas pelas instituições locais e ratificava a necessidade de criação de um fundo estadual ou de uma fundação de amparo à pesquisa para dinamizar o setor. O documento, denominado Ciência, Tecnologia e Inovação para o Estado do Amazonas [8], indicou prioridades e estratégias para, dentre outras, (i) dinamizar o Sistema Estadual de Informação em Ciência e Tecnologia (Seict); (ii) estabelecer uma política estadual de CT&I; (iii) desenvolver e aplicar tecnologias de alcance regional nas áreas de saúde, saneamento, educação e meio-ambiente; (iv) agregar valor a produtos que utilizem matériaprima regional; (v) promover a aproximação entre os atores governo, empresa e academia, sendo posteriormente apresentado na prévia regional da II CNCTI, realizada em Belém. Contando com um Conselho Estadual de Meio

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A emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas: contribuições para sua análise e fortalecimento

Ambiente, Ciência e Tecnologia e com um Fundo Especial de Meio Ambiente e de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico para viabilizar as atividades de fomento à pesquisa, o Amazonas ensaiava os primeiros passos para a criação de uma secretaria específica responsável pela administração dos assuntos relacionados à ciência e tecnologia, assim como de sua fundação de amparo à pesquisa. Essa última foi criada em 2002, precedendo até mesmo a criação da secretaria estadual para a área. Originalmente vinculada à Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) iniciou um apoio significativo às atividades de pesquisa no estado, incluindo programas e projetos vinculados à inovação nas empresas e o estímulo à aproximação dos setores acadêmico e produtivo. Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe), Programa Integrado de Pesquisa e Inovação Tecnológica (Pipt) e Programa de Inovação Tecnológica (PIT) são alguns dos instrumentos que exemplificam essa atuação. Em 2003, pela primeira vez a criação de uma instituição local faz referência explícita à existência de um sistema de inovação. Com o objetivo de “criar uma alternativa para o fortalecimento do Sistema Regional de Ciência, Tecnologia e Inovação e promover a geração e a aplicação de conhecimentos científicos e tecnológicos avançados (...)”, em fevereiro daquele ano a Suframa criou o CT-PIM, organização privada constituída como associação civil, sem fins lucrativos, com intenção de atuação estratégica e mobilizadora em áreas como microeletrônica e microsistemas. Nesse mesmo ano de 2003 é criada a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia (Sect), cercada de expectativas quanto à formulação de uma política científica e tecnológica para o estado do Amazonas. Incorporando em sua estrutura a Fapeam, a Sect tornou-se o interlocutor natural da comunidade científica local com os governos estadual e federal, ampliando a inserção do estado – e a visibilidade de suas atividades e demandas – no

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cenário nacional de C&T. Em episódio mais recente – e já como um resultado de atuação de Fapeam e Sect –, a evolução do ambiente de CT&I no estado convergiu para a promulgação, em 2006, da Lei de Inovação Tecnológica do Estado do Amazonas, inspirada em legislação similar no âmbito federal. Tendo como principal objetivo fomentar a inovação e a pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, a Lei é um exemplo de artefato importante para a consolidação das instituições locais, capaz de estimular a cooperação entre os atores e contribuir para a autonomia tecnológica. Ainda em 2006 a Fucapi cria o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação (Nepi), iniciativa pioneira, no estado, para o estudo de temas associados à inovação como prática sistêmica de um ambiente de C&T. O Nepi surgiu com o objetivo de aprofundar a compreensão da realidade local por meio da pesquisa científica e subsidiar a formulação de políticas de interesse público em CT&I. Paralelamente a estes episódios, as instituições de ensino foram se multiplicando, no nível técnico, mas principalmente em nível superior. Manaus conta, hoje, com mais de duas dezenas de instituições de ensino superior; as duas principais instituições públicas estão presentes em vários municípios do interior do estado, embora ainda configurem exceções os cursos em áreas tecnológicas. Em seu conjunto – e à parte de qualquer análise de mérito quanto ao desempenho dos atores –, esse quadro evidencia uma evolução do ambiente institucional local em C&T, especialmente em anos recentes, com potencial para dar suporte a diferentes escolhas estratégicas de líderes locais em relação às opções de desenvolvimento futuro.

Perspectivas de estratégias para o sistema local de inovação É essencial, na análise da dinâmica do ambiente local, ter em conta que a economia do estado do Amazonas possui grande dependência da atividade incentivada do Pólo Industrial de Manaus e que

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A emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas: contribuições para sua análise e fortalecimento

existe um enorme potencial para a criação de uma atividade econômica igualmente forte, baseada na crescente valorização do bionegócio. A primeira, ainda depende de um conjunto de incentivos para que tenha continuidade; esta última, de sólido nível de conhecimento que permita transformar potencial em realidade. Não se pode esperar, entretanto, que o aprendizado acumulado com o PIM seja transferido de modo automático para qualquer nova iniciativa de negócios. Menos ainda que isto se dê com a urgência requerida pelos prazos associados à existência do benefício fiscal. Como intensificar o uso da C&T em um projeto futuro para o estado? De que forma as complementaridades e sinergias entre esses dois ambientes – PIM e bionegócios – poderiam ser aproveitadas? Como poderiam ser aceleradas as ações – e seus resultados – associadas ao fortalecimento desse emergente sistema local de inovação? Para responder a essas questões, uma primeira reflexão – útil, ainda que simplista – poderia avaliar, com base em relação dicotômica “presença/ausência”, as principais características que representariam a robustez de um sistema. Assim, com base em conceitos e relato apresentados nas seções anteriores, é possível evidenciar a presença – em diferentes graus de intensidade – de importantes elementos necessários a um sistema local de inovação, dentre os quais se destacam: • Instituições públicas – nos níveis federal e estadual – instituídas para atuar na formulação de políticas e no fomento a projetos relacionados à temática da inovação, com considerável autonomia decisória e conhecimento da realidade local; • Conjunto de instituições de ensino técnico e superior com capacidade para formar mão-de-obra especializada em seus diversos níveis, para gerar conhecimento novo com potencial econômico, incluindo o fortalecimento – ampliação da diversidade e aprofundamento da qualidade – mais recente de cursos de pós-graduação T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

stricto sensu, e a interiorização da atuação das instituições de ensino públicas; Instituições públicas e privadas dedicadas a atividades de P&D, com ampla experiência no ambiente nacional de CT&I, além de núcleos de desenvolvimento em empresas industriais de maior porte que executam localmente parte de suas estratégias corporativas; Agências (federal e estadual) com capacidade financeira não desprezável para o apoio a projetos de pesquisa, desenvolvimento e a formação de recursos humanos qualificados em alto nível.

Além disso, existe um robusto parque industrial, com empresas de grande e pequeno portes, capaz de tornar material o esforço conjunto de inovar. Envolvendo conexões corporativas internacionais, domínio de práticas de classe mundial em gestão, além de capacidade técnica para interlocução, o PIM possui amplo potencial para apresentação de demandas. Por outro lado, também podem ser destacadas limitações mais sérias para o fortalecimento de um sistema local de inovação, nas seguintes dimensões: • Capacidade de gestão – destacadamente nas etapas de planejamento, controle e avaliação – de programas e projetos que envolvam as temáticas da ciência, tecnologia e inovação, nas quais a competência do corpo burocrático das instituições no estado do Amazonas apenas começa a se desenvolver, ainda em franca formação; • Articulação e conexão entre atores, em parte pela ausência de fóruns apropriados, mas também como uma decorrência do muito recente despertar, em nível mais amplo, para a importância do conhecimento como elemento de sustentação do desenvolvimento econômico moderno. Essa percepção é ainda mais intensa na

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A emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas: contribuições para sua análise e fortalecimento

tênue relação entre instituições de ensino e pesquisa e empresas; • Como conseqüência dos anteriores, a ausência de claras prioridades estabelecidas a partir de uma discussão que envolva um espectro mais amplo dos atores sociais, para a concatenação e “casamento” entre ofertas e demandas para o desenvolvimento futuro. Ao serem reunidos esses dois conjuntos de características, uma discussão mais aprofundada sobre as opções para o desenvolvimento local recomenda que sejam consideradas pelo menos três questões principais: (i) não há dúvida de que

mentalmente do estabelecimento de prioridades, que apenas a aproximação e colaboração entre os atores irão permitir. A liderança inicial do poder público nesse processo, especialmente por parte da Sect-Am e da Suframa, na articulação academia-setor produtivo, é essencial para que este novo rumo se consolide.

a dinâmica local conta com uma muito mais ampla diversidade de atores; (ii) essa maior diversidade, todavia, não tem se refletido na mesma intensidade em mais conexões entre esses mesmos atores – especialmente no que diz respeito a cooperação e projetos conjuntos no âmbito tecnológico –, o que justifica a intervenção para que mais e melhores resultados sejam alcançados; (iii) essa ausência de articulação tanto é causa quanto efeito de uma limitada prática de governança local, que precisa e pode, pelo nível de maturidade já alcançada pelos atores sociais, ser consistentemente elevada.

[2] Organisation for Economic Co-operation and Development – OECD, 2005 (trad. 2006). Oslo Manual: The Measurement of Scientific and Technological Activities. OECD, 3a ed (Traduzido pela Finep). Disponível em: <http://www.mct.gov.br>. Acessado em: 04.03.2008.

Conclusão A fotografia apresentada oferece uma baixa resolução, não apenas pelo limitado espaço aqui

[4] Red Iberoamericana de Indicadores de Ciência Y Tecnologia (RICYT), 2001. Normalización de Indicadores de Innovación Tecnológica en América Latina y el Caribe (Manual de Bogotá). Colombia. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/>. Acessado em: 04.03.2008.

disponível, mas também pela ausência de uma discussão local mais ampla que permita contemplar a visão e contribuição dos diferentes atores. Estimular a discussão e refletir sobre esses e outros pontos, sempre com o objetivo de fortalecer a sustentabilidade da atividade econômica, é uma das principais motivações deste artigo. A emergência de elementos essenciais a um sistema local de inovação é algo concreto e facilmente perceptível para quem acompanha o desenvolvimento científico e tecnológico do estado do Amazonas, intensificada nos últimos dez anos. Acelerar esse processo e ampliar os resultados, de forma consistente é algo que depende funda-

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Bibliografia [1] IBGE, 2005. Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005. Disponível em: <http:// www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/>. Acessado em: 03.03.2008.

[3] Lastres, Helena. M.M., Cassiolato, José E. (Coord.), 2003, Glossário de Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais. Disponível em: <http://www.redeaplmineral. org.br/biblioteca/glossario-de-arranjos-esistemas-produtivos-e-inovativos>. Acessado em: 04.03.2008.

[5] Casas, Rosalba, 2001. La Formación de Redes de Conocimiento. México, Instituto de Investigaciones Sociales. [6] Leydesdorff, Loet; Etzkowitz, Henry, 1998. “Emergence of a triple helix of university industry - government relations”. Science and Public Policy, v. 23, n. 5, p. 279-286. [7] Fucapi (org.), 1987. Plano Estratégico em Educação, Ciência e Tecnologia. Mimeo, Manaus, 56p. T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


A emergência de um sistema de inovação no estado do Amazonas: contribuições para sua análise e fortalecimento

[8] Ipaam (org), 2001. Ciência, Tecnologia e Inovação para o Estado do Amazonas. Mimeo, Manaus, 11 p.

Guajarino de Araújo Filho é doutor em engenharia de produção pela UFRJ/Coppe, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação da Fucapi e professor da Universidade Federal do Amazonas (guajarino.araujo@fucapi.br). Niomar Lins Pimenta é doutor em engenharia de produção pela UFRJ/Coppe, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação da Fucapi e professor da Universidade Federal do Amazonas (niomar.pimenta@fucapi.br). Dimas José Lasmar é doutor em engenharia de produção pela UFRJ/Coppe, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação da Fucapi e professor do Instituto de Ensino Superior Fucapi (dimas.lasmar@fucapi.br).

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Artigo

INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA DO AMAZONAS

Mariana Martins Rebouças

Resumo Este artigo visa mostrar as potencialidades analíticas da base de dados da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC), para a realização de estudos mais aprofundados e especializados sobre a indústria do Amazonas, ou de outros Estados e Regiões investigadas pela pesquisa. Com este propósito, procura-se inicialmente fazer um breve histórico das pesquisas de inovação, de modo a contextualizar a PINTEC. Em seguida, apresentam-se os temas abordados e suas principais características metodológicas, pois estes elementos definem os limites e as potencialidades da pesquisa. Por último, o artigo ilustra o uso da base explorando alguns dos mais importantes indicadores da PINTEC relativos à indústria do Amazonas. Dentre outras evidências, os resultados explorados mostram que a indústria amazonense apresenta a mais elevada taxa de inovação entre as Unidades da Federação pesquisadas, cujo nível é bem superior à média nacional, e ostenta a terceira maior parcela do faturamento das empresas industriais gasta com inovações.

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Introdução A aceitação mais ampla de que o desenvolvimento tecnológico e a inovação são essenciais para o crescimento da produção e aumento da produtividade de empresas e países só começou a acontecer nos anos oitenta, quando, instigados pela revolução tecnológica em curso, estudiosos realizaram importantes avanços sobre o entendimento do processo de inovação e seu impacto econômico. Políticas de promoção da inovação de países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) foram traçadas com base nestes estudos. Entretanto, havia uma forte deficiência de dados para auxiliar os planejadores na modelagem, monitoramento e avaliação destas políticas, pois faltavam metodologias confiáveis e padronizadas internacionalmente, que orientassem os levantamentos estatísticos na medição do fenômeno inovação nos seus mais variados aspectos, particularmente naqueles que diziam respeito às outras partes do processo inovativo que não a pesquisa e desenvolvimento (P&D). Nesta época, da série de manuais metodolóT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Inovação na indústria do Amazonas

gicos da OCDE devotados à mensuração e interpretação de dados relativos à ciência, tecnologia e inovação – a “Família Frascati”- existia apenas o Manual Frascati, para padronização de práticas de coleta, tratamento e uso de estatísticas sobre pesquisa e desenvolvimento, editado pela primeira vez em 1963¹. Extraindo daqueles estudos o modelo teórico, e de pesquisas de inovação pioneiras, realizadas na Itália e Países Nórdicos, ainda nos anos oitenta, as melhores práticas e experiências, a primeira edição do Manual de Oslo surgiu em 1992, e foi desenvolvida pelo National Experts on Science and Technology, da OCDE em cooperação com o Nordic Industrial Fund. Este manual se tornou a principal fonte internacional de diretrizes para coleta e interpretação dos dados sobre inovação. Ainda em 1992, ele foi adotado como referência na primeira Community Innovacion Survey (CIS I), pesquisa de inovação realizada pelos países membros da União Européia. A CIS I, bem como as pesquisas que se seguiram – a CIS II em 1995, e outras implementadas por países não-membros da União Européia – revelaram a necessidade de sua ampliação e revisão. Assim, a segunda edição do Manual de Oslo, publicada em 1997, trouxe, entre as melhorias, a expansão de suas orientações para o setor de serviços. Atualmente em sua terceira edição (2005), cuja revisão principal consistiu em questões relativas às inovações não tecnológicas, o Manual de Oslo é amplamente utilizado nas pesquisas de inovação realizadas nos cinco continentes, tanto nas dos países membros da OCDE, como nas de diversos outros países da Ásia, África, Europa do Leste e América Latina. Estas pesquisas, desenvolvidas ao longo de quase duas décadas, têm feito evoluir o entendimento e mensuração do processo inovativo. Elas

têm demonstrado também que é possível coletar dados, em um grande número de empresas, sobre processos complexos e diferenciados de inovação, e permitido a construção de indicadores comparáveis internacionalmente. Cabe registrar, porém, as limitações metodológicas inerentes ao seu tamanho e, principalmente, ao caráter do fenômeno em estudo. Como a inovação é um fenômeno complexo e sistêmico, é impossível investigar todas as suas dimensões através de um único tipo de pesquisa².

A Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) A Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) nasceu de uma constatação do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), sobre a necessidade de se conhecer melhor as atividades de inovação tecnológica desenvolvidas pelo setor privado nacional. Realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e do MCT, sua série iniciou-se com a PINTEC 2000, que levantou informações relativas ao triênio 1998-2000, e foi seqüenciada pela PINTEC 2003, com referência temporal no triênio 2001-2003. A partir da PINTEC 2005, cuja referência temporal foi o período entre 2003 e 2005, a pesquisa tornou-se bienal e seu universo de investigação foi ampliado para incorporar, além das atividades das indústrias extrativas e de transformação, os serviços de alta intensidade tecnológica: telecomunicações, informática e pesquisa e desenvolvimento. Isto justificou a alteração no nome da pesquisa, anteriormente denominada Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica. Suas principais características metodológicas podem ser assim resumidas³. A referência concei-

¹ Os outros quatro manuais que constituem a “Família Frascati” foram publicados nos anos noventa: o Manual de Balanço de Pagamentos Tecnológicos (1990), focando as transações comerciais de conhecimentos técnicos e de serviços com conteúdo tecnológico entre países; o Manual de Oslo (1992) sobre inovação; o Manual de Patentes (1994) para o uso de estatísticas sobre patentes como indicadores de ciência e tecnologia; e o Manual Canberra (1995) sobre recursos humanos dedicados à ciência e tecnologia. ² A apreensão do fenômeno inovação pressupõe uma abordagem sistêmica, onde várias fontes de informação alimentam a produção de um conjunto coerente e articulado de indicadores, para fornecer uma visão mais abrangente sobre suas múltiplas dimensões. ³ Informações mais detalhadas podem ser obtidas no portal do IBGE na Internet, no endereço <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/industria/pintec/srmpintec.pdf>

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Inovação na indústria do Amazonas

tual e metodológica da PINTEC é o Manual de Oslo e, mais especificamente, o modelo proposto pela Oficina Estatística da Comunidade Européia (EUROSTAT), a terceira versão da Community Innovation Survey (CIS III) 1998-2000, que aqui sofreu adaptações para responder necessidades nacionais específicas de informação, como por exemplo a de pessoal ocupado em P&D. A PINTEC busca acompanhar, temporalmente, as transformações ocorridas nas atividades inovativas das empresas brasileiras, com vistas à construção, de forma sistemática e abrangente, de indicadores setoriais, nacionais e regionais, compatíveis com as recomendações internacionais e com as demandas nacionais de informação. No limite, cada item do questionário diz respeito a um indicador, e os mais relevantes em termos quantitativos são: o número de empresas inovadoras; os gastos com as atividades inovativas e as fontes de financiamento destes gastos; o número, nível de qualificação e tempo de dedicação das pessoas ocupadas em P&D interno às empresas; e o impacto das inovações sobre o faturamento e as exportações. A pesquisa também investiga aspectos de importância crítica do processo de inovação, tais como: os efeitos das inovações no desempenho das empresas; o papel dos mecanismos de apoio de governo; as fontes de idéias e os arranjos cooperativos estabelecidos; os métodos de proteção à inovação utilizados; os obstáculos encontrados à atividade inovativa; e as inovações não tecnológicas implementadas. A abordagem da PINTEC é pelo sujeito, pois foca o comportamento inovador e as atividades inovadoras da empresa como um todo. Isto significa dizer que as questões são respondidas no nível da empresa. O âmbito, por sua vez, trata das referências temporais e do universo de empresas pesquisadas. As referências temporais são duas: a maioria das variáveis qualitativas se refere a um período de três anos consecutivos, 2003-2005, no exemplo da PINTEC 2005; e as variáveis quantitativas se reportam ao último ano do período de referência da pesquisa. O universo de investigação

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da pesquisa é constituído por todas as empresas das indústrias extrativas e de transformação e dos serviços de telecomunicações, de informática e de pesquisa e desenvolvimento, com registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica do Ministério da Fazenda, ativas, sediadas em qualquer parte do território nacional, e com 10 ou mais pessoas ocupadas no cadastro básico de seleção. Neste universo de investigação, as empresas de pesquisa e desenvolvimento são levantadas de forma censitária, enquanto que as empresas industriais e das outras atividades de serviços são selecionadas através de uma amostra probabilística. Os resultados expandidos desta amostra visam fornecer estimativas confiáveis: no recorte Brasil, para 37 atividades econômicas da indústria e dos serviços selecionados; no recorte das grandes regiões, para as atividades responsáveis por 70% do Valor da Transformação Industrial (VTI) de cada indústria regional; e no recorte das UF´s com participação igual ou maior que 1% do VTI da indústria brasileira (Amazonas, Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás), para as atividades responsáveis por 80% do VTI da indústria de São Paulo, e nos demais Estados, para as atividades responsáveis por 50% do VTI da indústria estadual. Pode-se afirmar que o aspecto mais inovador da PINTEC diz respeito aos procedimentos empregados para a captura dos dados. Para garantir uniformidade no entendimento conceitual da pesquisa, todas as entrevistas ou são presenciais (caso das empresas com 500 ou mais empregados localizadas nas UF´s citadas acima) ou por telefone (demais empresas da amostra). Primeiramente, busca-se identificar o profissional na empresa que detém as informações requeridas. Uma vez identificado, agenda-se, e no dia e hora marcados realizase a entrevista, utilizando um sistema de entrada de dados inteligente, que aponta inconsistências e dúvidas com relação às respostas, as quais são dirimidas ainda no ato da entrevista. Tendo em conta o desenho amostral e o fato

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de a empresa ser a unidade de investigação da pesquisa, a regionalização dos dados da PINTEC depara-se com a seguinte questão: como tratar as empresas com múltiplas localizações para análises na ótica espacial/geográfica? São utilizadas então três hipóteses com vistas a destinar todas as informações da empresa a uma Unidade da Federação específica: hipótese 1 - as informações da empresa são alocadas de acordo com a Unidade da Federação de localização de sua sede; hipótese 2 - as informações da empresa são alocadas de acordo com a Unidade da Federação de localização da unidade local produtiva industrial que gera o maior Valor da Transformação Industrial; hipótese 3 - as informações das empresas com mais de uma unidade local, que realizaram atividades internas de P&D, são alocadas de acordo com a Unidade da Federação de localização de seu P&D, e as informações das demais empresas são alocadas conforme a hipótese 2. Para efeito deste artigo, trabalharemos com os dados regionalizados segundo a hipótese 1.

Inovação na indústria do Amazonas Mas o que dizem os dados da PINTEC sobre a indústria do Amazonas? Em 2003, o universo de empresas com 10 ou mais pessoas ocupadas somava 530 e passou a abranger cerca de 585, em 2005. O número de empresas que implementaram produto e/ou processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado, por sua vez, elevouse de 203 para 296, o que fez a taxa de inovação de 38,4% do triênio 2001-2003, atingir 50,6% nos anos 2003-2005. Observando a Tabela 1, constata-se que o Amazonas detém a maior taxa de inovação entre as Unidades da Federação pesquisadas e em nível bem superior à média nacional, que se manteve em patamar igual (33,3% no triênio 2001-2003 e 33,4% no triênio 2003-2005), porque o número de empresas que implementaram inovação tecnológica de produto e/ou processo entre os dois períodos investigados – 28 mil nos anos 2001-2003 e 30,4 mil nos anos 2003-2005 - cresceu praticamente na mesma proporção que o contingente de empresas industriais com 10 ou mais pessoas ocupadas – de 84,3 mil para 91 mil.

Tabela 1 - Taxa de inovação e participação dos gastos com inovação e com pesquisa e desenvolvimento interno no total da receita líquida de vendas das empresas industriais, segundo as Unidades da Federação selecionadas - período 2001-2003 e período 2003-2005 Taxa de Inovação Uf´s Uf´s Selecionadas 2003-2005 2001-2003 Selecionadas

1º - AM 2º - PR 3º - ES 4º - PE

50,6 40,5 37,7 36,8

38,4 36,9 36,3 29,0

5º - RS 6º - SC 7º - PA 8º - SP

36,5 34,9 34,0 33,6

39,9 35,9 34,2 31,1

Total Brasil

33,4

33,3

9º - MG 10º - BA 11º - GO

29,5 28,8 26,8 26,1

34,9 33,2 33,2 33,8

25,7

25,0

12º - CE 13º - RJ

1º - SP 2º - MG 3º - AM 4º - GO Total Brasil

5º - ES 6º - PR 7º - CE 8º - PA 9º - RS 10º - SC 11º - PE 12º - RJ 13º - BA

Gasto Total

P&D Interno

2005

2005

2003

2003

3,4 3,2 3,1 3,0

2,8 2,4 2,7 1,9

0,7 0,5 0,6 0,2

0,7 0,3 0,7 0,1

2,8

2,5

0,6

0,5

2,7 2,5 2,5 2,3

1,4 3,8 3,6 2,3

0,2 0,3 0,3 0,1

0,2 0,5 0,1 0,1

2,2 2,2 1,8 1,6

2,2 2,1 2,1 1,3

0,4 0,5 0,1 0,6

0,4 0,3 0,1 0,5

1,4

1,8

0,3

0,2

Fontes: IBGE, Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica 2003 e Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005

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Inovação na indústria do Amazonas

Além da influência do ambiente macroeconômico na decisão empresarial de investir em inovação, duas características da estrutura industrial do Amazonas explicam, em boa medida, essa elevada taxa de inovação: contar com uma maior concentração de setores mais intensivos tecnologicamente e ter presença bem mais forte de médias e grandes empresas do que a média nacional. Estes mesmos fatores também condicionam o indicador sobre a intensidade do esforço inovativo, medido pelos gastos nas atividades inovativas como percentual da receita líquida de vendas. Segundo a PINTEC 2005, a indústria amazonense registra o terceiro maior esforço inovativo (3,1%) dentre as Unidades da Federação selecionadas. E se o foco desloca-se para os gastos nas atividades internas de P&D sobre a receita líquida de vendas, a posição da indústria amazonense pula para o segundo lugar, abaixo apenas de São Paulo, maior parque industrial do Brasil e de empresas inovadoras. Uma outra forma de observar o esforço inovativo das empresas do Amazonas é através do esforço inovativo médio por empresa. Das 30,4 mil empresas industriais inovadoras brasileiras, 35,3% localizam-se em São Paulo e apenas 1% encontra-se no Amazonas. Porém, estas 296 empresas respondem por 4% e as inovadoras paulistas por 55,6% do gasto nacional com atividades inovativas, gerando assim um esforço inovativo médio por empresa maior no Amazonas.

No universo das 296 empresas inovadoras, cerca de 51 realizaram gastos nas atividades internas de P&D em 2005, ou seja, 17,2%, percentual ligeiramente superior à média nacional de 16,4%. Com relação aos recursos humanos envolvidos nesta atividade, a PINTEC contabilizou cerca de 1,2 mil pessoas, sendo 60 delas com pós-graduação e 878 graduadas no nível superior. Também merece destaque os motivos pelos quais as empresas não inovaram e os obstáculos que encontraram no desenvolvimento de suas atividades inovativas. No conjunto das inovadoras, 44,6% afirmaram ter enfrentado problemas que tornaram mais lento ou inviabilizaram o desenvolvimento de determinados projetos, sendo que os mais indicados foram: os riscos econômicos excessivos (82,6%); a falta de pessoal qualificado (66,6%); e os elevados custos da inovação (59,0%). Já dentre as cerca de 275 empresas que não implementaram inovações de produto e processos e não desenvolveram projetos, 10,2% justificaram que não o fizeram em decorrência de terem implementado inovações prévias ao período de 2003-2005, 37,8% assinalaram outros fatores impeditivos e as condições de mercado (51,6%) constam como a principal razão apontada. Com vistas a ampliar o potencial analítico dos resultados da PINTEC, à sua base de dados são agregadas informações provenientes da Pesquisa Industrial Anual (PIA), da Pesquisa Anual dos Serviços (PAS), ambas do IBGE, e da Secretaria de

Gráfico 1- Valor da transformação industrial por trabalhador (1.000 R$) Amazonas e Brasil - 2005 150,00

144,30

142,92

134,50 109,92

82,98

100,00 39,04

50,00

0,00

Inovadoras

Total

Não Inovadoras Amazonas

Brasil

Fontes: IBGE, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005 e Pesquisa Industrial Anual 2005

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Inovação na indústria do Amazonas

Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (SECEX). Além de permitir uma qualificação dos próprios dados quantitativos da PINTEC, estas fontes fornecem indicadores interessantes para o confronto entre atividades inovativas e desempenho competitivo. Uma assertiva presente na literatura econômica, que os dados da PINTEC corroboram, diz respeito à produtividade das empresas inovadoras. Conforme ilustra o Gráfico 1, (conforme demonstrados na página anterior) a produtividade do trabalho das empresas industriais inovadoras no território nacional é quase 200% superior à assinalada pelas não inovadoras. Na indústria do Amazonas esta relação é de apenas 7%, mas mesmo assim as empresas inovadoras mostram ser mais produtivas do que as não inovadoras. E como apresentado no Gráfico 2, isto ocorre no

Brasil porque as empresas inovadoras detêm 62% do pessoal ocupado e 82,1% do valor da transformação industrial, mesmo representando 33,4% do número total de empresas. No Amazonas, praticamente a metade das empresas industriais com 10 ou mais pessoas ocupadas são inovadoras. Conforme ilustra o Gráfico 2, estas empresas são 6,1 vezes mais empregadoras do que as não inovadoras, pagam maiores salários, faturam mais e contribuem com 86,8% do total do valor da transformação industrial (proxy do valor agregado industrial) gerado no Estado. No que tange à relação entre esforço inovativo e competitividade externa, os dados do Gráfico 3 mostram que as inovadoras do Amazonas têm melhor desempenho exportador do que as não inovadoras, numa proporção 3 vezes superior à média nacional, muito provavelmente por tratar-se de um 4

Gráfico 2 - Participação das empresas inovadoras e não inovadoras no total de empresas, do pessoal ocupado, dos salários, da receita líquida de vendas e do valor da transformação industrial - Amazonas e Brasil - 2005 Amazonas 100,0

91,5

85,9

86,8

%

50,6

66,6

60,0

49,4

%

40,0

14,1

20,0

75,4

80,0

80,0 60,0

Brasil

100,0

91,6

8,5

82,1

62,0 38,0

33,4

24,6

20,0

13,2

8,4

40,0

81,0

17,9

19,0

0,0

0,0

Nº Emp

PO

Salários

Inovadoras

RLV

Nº Emp

VTI

PO

Salários

Inovadoras

Não Inovadoras

RLV

VTI

Não Inovadoras

Fontes: IBGE, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005 e Pesquisa Industrial Anual 2005 Gráfico 3 - Participação das empresas inovadoras e não inovadoras no número total de empresas exportadoras, Amazonas e Brasil - 2005 81,1

100,0

58,8 41,2

% 50,0 0,0

18,9

Amazonas Inovadoras

Brasil Não Inovadoras

Fontes: IBGE, Pesquisa de Inovação Tecnológica 2005 e MDIC, Secretaria de Comércio Exterior 2005 4 No Amazonas, o salário médio mensal em 2005 era de R$ 1.680,64 nas inovadoras e de R$ 950,53 nas não inovadoras. Na média nacional estes valores eram, respectivamente, de R$ 1.579,00 e de R$ 839,49.

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Inovação na indústria do Amazonas

contexto de zona franca.

Considerações Finais A exploração de alguns dos mais importantes indicadores da Pesquisa de Inovação Tecnológica (PINTEC) mostra que a indústria amazonense apresenta a mais elevada taxa de inovação entre as Unidades da Federação pesquisadas e a terceira maior parcela do faturamento das empresas industriais gasta com inovações. Além disso, as empresas industriais inovadoras do Estado do Amazonas são mais empregadoras do que as não inovadoras, pagam melhores salários, faturam mais, agregam mais valor à produção, têm maior produtividade e são mais exportadoras. Estas informações ilustram a potencialidade analítica da base de dados da PINTEC, que permite conhecer aspectos relevantes do processo de inovação tecnológica na indústria brasileira e fornecer informações para a construção de indicadores setoriais, nacionais e regionais, comparáveis com os produzidos por outros países. As informações geradas pela PINTEC podem ser usadas pelo setor privado para aprofundar as análises de mercado, estudos de desempenho e outras características dos setores investigados, e pelos governos para desenhar, monitorar e avaliar políticas nacionais e regionais.

VIOTTI,B.E.; MACEDO,M.M. Indicadores de ciência e tecnologia e inovação no Brasil. Campinas: UNICAMP, 2003. 614p. Mariana Martins Rebouças é gerente da Pesquisa de Inovação Tecnológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PINTEC/IBGE), especialista no planejamento, implantação e análise de pesquisas industriais e de inovação. É economista com mestrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutorado pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (IE/UNICAMP).

bibliografia OSLO manual: guidelines for collecting and interpreting innovation data. 3rd ed. Paris: Organisation for Economic Co-operation and Development and Statistical Office of the European Communities, 2005. 166p. Disponível em: http://www.mct.gov.br/upd_ blob/0005/5068.pdf. Acesso em: jan 2008. PESQUISA de inovação tecnológica – PINTEC – 2005. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 160p. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ home/estatistica/economia/industria/pintec/2005>. Acesso em: jan 2008.

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Artigo

Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação José Roberto Casarini

RESUMO A relação universidade-empresa será observada através da vivência simultânea e prioritária das duas partes. O domínio da tecnologia dos produtos e processos empregados no Pólo Industrial de Manaus (PIM) e os direcionamentos serão analisados. A tradicional divisão em produtos, conveniente para a estatística, deverá ser baseada em competências empregadas nestes produtos. A convergência digital deve ganhar novo aspecto, visando o projeto de produtos em cooperação com outros centros mundiais o que vai requerer uma via de conexão de alta capacidade.

INTRODUÇÃO As atividades universidade-empresa serão analisadas no campo das engenharias, e ciências básicas correlatas, e voltadas para o Pólo Industrial de Manaus, mostrando que mesmo mantendo os produtos atuais, o domínio das novas tecnologias de projeto e de processo é que darão sustentabili-

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dade ao pólo. Os produtos eletrônicos vão incorporar cada vez mais circuitos integrados da microeletrônica, que atuam no controle de funcionabilidade do áudio e vídeo e a interatividade. Sensores serão incorporados para captar e atuar nos sistemas. Outras tecnologias são importantes para o Amazonas, como a aplicação da nanotecnologia aos cosméticos; tecnologias para o artesanato como a secagem de sementes; e materiais para construção civil, como utilização das reservas de gesso. Compradores chineses invadiram e dominam o comércio de pedras semipreciosas no País, com a justificativa pouco plausível de que é mais barato lapidar na China. Na realidade eles estão a procura do domínio de fontes de sílica com razoável pureza (cristal de rocha) como matéria-prima de silício amorfo para aplicação em substratos de células solares. Este é outro aspecto que interessa ao Estado do Amazonas. Por isso, várias dessas tecnologias estão em estudo, mas não serão objetos deste trabalho.

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Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação

Neste quadro de incorporação de novas tecnologias aos produtos e aos processos do PIM é que a interação entre universidade-empresa vai ganhar ímpeto. Dois temas devem ser a base do desenvolvimento: Governança - aplicada à gestão dos processos industriais e também ao conhecimento tecnológico com o domínio dos métodos Indutivo e Dedutivo de geração da tecnologia [1]: Indutivo → gera invenções; quebra de paradigma; dependência do sistema para controlar processo e pessoas; Dedutivo → gera melhorias contínuas. É estratégico elaborar um cadastro de competências [2] mais viável em cada um desses métodos, e direcionar os investimentos, fixando objetivos de produtos e processos. Robustez - do componente; do projeto de produto; e dos processos de fabricação, o que significa ser validado e garantido através de ensaios próprios e cooperação com centros de desenvolvimento no exterior. Além da robustez do ensino baseado em casos e conceitos aplicados das ciências básicas em matemática, física e química, lastreado com experimentos em laboratório. Pensar em grandezas físicas. Robusto não quer dizer mais pesado, e sim comprovado e suficiente para as especificações.

IMPLANTAÇÃO As características básicas do PIM, para a finalidade de definir prioridades e competências tecnológicas a serem exploradas no meio acadêmico, devem abordar os temas segmentados nas seguintes áreas: Mecânica / Áudio / Vídeo / Materiais, em vez de Duas Rodas e Televisão. A separação por produtos é necessária para fins estatísticos e fiscais, conforme normalização aduaneira. Ao concentrar as competências em Vídeo, desenvolvem-se conhecimentos básicos e comuns a vários produtos, e irá permitir a introdução de novas tec-

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nologias ainda em desenvolvimento. Aspectos relacionados ao design (aspecto físico) já estão amplamente abordados nos institutos e universidades. A base do conhecimento é universal, enquanto que os clientes querem produtos específicos com uma grande diversidade de opções, gerando necessidades para o design. O paradigma do processo deve evoluir para a concepção: • Recuperar capacidade de projeto, mecânico e eletrônico; • Infra-estrutura de caracterização de materiais e fornecimento de matérias-primas básicas, como gases puros e monômeros poliméricos. Técnicas básicas de caracterização dos materiais nas grandezas: física; química; e óptica. A técnica de difração de raios-x é empregada em processos cerâmicos em pisos, para controlar a característica de adequação corpo-esmalte. A penetração de raios-x é técnica corrente na indústria local para detectar falhas em soldas. A caracterização magnética é importante para prospecção geológica; • Participar de projetos globais em produtos e processos [3], em vez de importar kits de projeto + processo + componentes; • Incentivo deve ser por conteúdo tecnológico gerado localmente. Micro, nanoeletrônica e os sensores são os componentes de maior conteúdo tecnológico propícios à concepção e fabricação no PIM. Atenção para os processos de produção de sensores em primeiro passo, sem aplicação de tecnologias CMOS, manipulando wafers de silício previamente fundidos. Como segundo passo, instalar processos para alterar as características do silício, construindo novos depósitos com tecnologia de implantes de íons. Atrair a direção das empresas para a questão tecnológica é um desafio. Portanto, alguns mecanismos devem ser criados para motivar as reuniões de apresentação das competências dos institutos, visitas guiadas, open-houses. O engajamento da direção local, após trabalho interno e demonstra-

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Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação

ção da capacidade de implantar inovações, vai contribuir - após varias tentativas – para que se consiga moldar a corporação sobre as vantagens de ter desenvolvimento local. A convergência digital é igual à capacidade de projeto, através de ferramentas digitais. As design houses em implantação em Manaus serão capazes de contribuir para o projeto dos Circuitos Integrados (chip’s), que estão em uso nos mais variados produtos do PIM. Hoje, esses chips’s são importados. Participar do seu projeto significa definir o produto final, retomando a capacidade de concepção de produtos que tenham Áudio/Vídeo incorporados. Atualmente, a Infovia disponível representa gargalo maior que logística terrestre. Centros de desenvolvimento de softwares em Bangalore [4], na Índia, somente se tornaram possíveis após a construção de cabos submarinos de fibras ópticas de alta capacidade entre Ásia-EUA.

TRANSFORMAÇÃO Paradigma da Formação Tecnológica; Ciência Básica mais Engenharia: • Transformar → Função atual de explicar em “como” fazer, realizar. Utilizar as grandezas físicas acima mencionadas e que já estão presentes nos processos atuais, para iniciar contato com empresas do Pólo Industrial, e aplicar em controle automático de processo; • Obter dados e depois formular um modelo. Ter consciência de que um resultado de laboratório envolvendo poucas amostras, em condições controladas, não se reproduz em condições industriais. A influência de outros fatores seja por fatores físico-químicos ou seja como fatores humanos; • Um resultado experimental deve alimentar a competência em teorias já instaladas •

para formulação de modelos; Descentralizar conhecimento no País através do intercâmbio de pessoas e projetos comuns, fazendo uso das exigências de

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um porcentual de dispêndio em institutos do Norte/Nordeste/Centro-Oeste. Se estes projetos forem voltados para si próprios, sem envolver outros centros mais avançados, com incorporação do conhecimento nos pesquisadores locais, estarão sendo criadas ilhas de conhecimento local, sem repercussão. Medir inovação, sem esquema rígido seja através da implantação da Norma ISO 9000, 14000 ou seja 6-Sigma. O sistema ISO9000 tem que estar a serviço da empresa e focado em resultados. A empresa não deve observar os investimentos em atividades relacionadas à ISO9000, como por exemplo, treinamento e auditoria interna como sendo perda de tempo. E os engenheiros precisam estar cientes da importância e considerar como uma atividade nobre e criativa a geração dos documentos de processo, como as Instruções e Normas Técnicas. Por mais automatizado que seja o processo, o treinamento em procedimentos deve ser repetido a cada seis meses, principalmente, para os operadores que manifestam sua sabedoria dizendo “para que ouvir isto de novo“. São esses os colaboradores “criativos”, que deixam as instruções de lado e executam a seu modo, sempre com um argumento que queria racionalizar, deixando de executar uma etapa de verificação que não tem efeito imediato. Todos os aspectos de um sistema de treinamento devem ser elaborados, como avaliação, registros e material didático. Inovação incremental produto e processo [1]→ Pequenos ganhos que se estendem a um grande número de máquinas, com tecnologia desatualizada ou pequena escala de produção. → Investimento é grande, em tecnologia ultrapassada. Por outro lado a concepção a partir do produto, permite grandes diferenciais competitivos. A atuação da concepção através das Design Houses, e atividades de certificação dos projetos e produtos, incluso os chip’s, conforme normas internacionais é que darão o diferencial tecnológico, conforme figura 1.

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Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação

INFOVIA cabo submarino Manaus EUA/Europa

Design House Foundry

Encapsulamento

VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO

Produto encapsulado retorna a Design House

Figura 1 - Design certificação

Gestão do Conhecimento e da geração de tecnologia no PIM → Estratégia de redução de custo por automação industrial e por incentivo fiscal está chegando ao limite. O incentivo em 2023 será a base tecnológica, com ênfase na capacidade de gerar tecnologia e vencer o paradigma Chinês → 1) ATUAL – Mão-de-obra de baixo custo e impostos reduzidos levou a conclusão de que nosso diferencial deveria ser sobre o conhecimento para “fazer melhor, mais barato e diferente daquilo que existe”. Este conceito de que brasileiro é criativo, faz diferente e melhor que os outros povos tem que ser quebrado. A formação deve ser robusta, o que não parece ser o caso, pois basta observar os resultados dos estudantes brasileiros em exames internacionais de matemática. Sobre uma base falha, é improvável construir um engenheiro para competir com outros países. 2) IMEDIATO FUTURO – O conhecimento chinês avança rapidamente, e a oferta de produtos de alta tecnologia, com concepção original e baixo custo, vão invadir mercados ocidentais. Em 2007, foi detectada a existência na China de150 Design Houses e 1500 fábricas de Dispositivos Microeletrônicos (MENS). Conclusão: o conhecimento armazenado pelos outros três países do BRIC está imensamente acima do Brasil, e esses sim irão gerar novos produtos e equipamentos de processo.

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INTERAÇÃO EMPRESA – INSTITUTOS Dificuldades do pesquisador em acessar a empresa: - O pesquisador não pode falar de trabalhos de longo prazo, e sua produção científica serve para respaldar no que ele pode contribuir, com resultados e prazos cumpridos. Através de feiras de tecnologia, pode-se descobrir exemplos de aplicação da técnica que domina, demonstrado em casos já aplicados em outros países. O interesse das empresas pelo que faz o pesquisador será incrementado quando ele conseguir demonstrar quais as técnicas experimentais – físicas e químicas – que podem contribuir para os controles de processo em um primeiro estágio. A resolução de problemas ocasionados por materiais inadequados, em condições de processo, ou ainda em virtude das limitações ambientais, é que vai gerar necessidades para o desenvolvimento de produtos, e os novos materiais envolvidos. Observando o meio acadêmico podemos visualizar alguns aspectos como a meritocracia voltada para aspectos estritamente internos: 1) publicação em revistas de renome que são em grande maioria no exterior, serve apenas para uso de grandes corporações, é entregar ouro a quem já é desenvolvido. 2) participação em uma miríade de comissões, com fim próprio das universidades. NOVO PARA-

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Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação

DIGMA → medir inovação e transferência de tecnologia. Os critérios únicos e universais válidos para todas as ênfases do conhecimento também são um entrave. A universidade tem sido um fim em si própria que termina ao entregar um diploma. A inserção do formando e seu sucesso no mercado é que devem gerar retorno à sociedade. O empresário, seja de nível nacional ou seja de multinacional, quer projeto pronto e retorno imediato. As decisões corporativas são tomadas conforme os seguintes aspectos: a) máximo de vantagens fiscais; b) concentração da produção em poucos países; c) custos – da logística; mão-de-obra; energia; administração fiscal. Como último item a considerar tem sido a competência tecnológica local. Esta ordem de prioridades somente será invertida se o pólo deixar de ser apenas montador, para fazer parte da cadeia da concepção, e desde que os produtos incorporem maior grau de tecnologia. A concentração de produção de componentes em poucas fábricas no mundo, é um fato irreversível para o componente “commodities” assim como seus preços de mercado. A concepção eletrônica do produto, com maior grau de funções digitais, é uma das alternativas que podemos implantar no Pólo de Manaus. Falta de compromisso do pesquisador com o tempo, devido à demora natural do sistema universitário e do financiamento à pesquisa. Projetos

Tempo de Formação Acadêmica (Graduação)

aprovados e recursos liberados após um ano, e ter que explicar em detalhes aos seus pares o projeto e objetivos do trabalho. O segredo industrial é e será o maior entrave, sempre. O recurso de contrato em tempo parcial de 20 horas deve valer para os dois lados, tanto para a universidade, atuando na formação de equipes, laboratórios e pesquisadores; assim como para a empresa, atuando nas outras 20 horas (paradigma a ser quebrado, pois a empresa só admite exclusividade) gerando inovação. Um meio muito eficiente de quebrar o distanciamento é através de um estagiário na empresa, podendo ser um estudante das engenharias ou das ciências básicas, desde que supervisionado por um professor. O problema atual relaciona-se à carga horária das engenharias, superior a 28 horas por semana e não sobra tempo algum para o estágio durante o período escolar. Portanto, após a formatura, nem aluno e nem professor tem controle do tempo, sendo que as preocupações são outras, dessa forma o estágio se torna ineficiente. Por isso, é preciso vencer o paradigma atual de excesso de informações teóricas sem alinhamento com a prática, de forma que se possa oferecer ao aluno uma formação completa. A importância da existência de laboratórios equipados é atestada por pesquisadores experientes e também por formandos, que encontram melhores condições de colocação após o diploma de mestrado ou doutorado (Figura 2).

Estágio Supervisionado da Empresa

Mínimo 10 horas/semana até um período em tempo integral

Abre canal para mostrar técnicas experimentais com aplicação no processo Oportunidades para continuar com a Pós-Graduação Figura 2 - Estágio supervisionado

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Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação

É muito mais rápido iniciar um programa de estágios, e a partir daí desenvolver temas para dissertações e teses, do que partir de tentativas de propor teses às empresas. O contato pesquisadorempresa, através do aluno de graduação, vai mostrar a quem tem conhecimento (o pesquisador), no que este pode oferecer a empresa.

• IMPACTOS Paulo Figueiredo comenta em seu artigo em T&C 2004 Ed. 005 [5]: • Infra-estrutura Tecnológica = Arranjo institucional organizado; • Disseminação de tecnologia a partir de fontes relevantes, no sentido de desenvolver competências nas empresas → materializados em Provisão de Serviços: 1) Contratos de Pesquisa; 2) Assistência Técnica; 3) Certificação; 4) Consultorias; 5) Treina-

- O acúmulo de estágios - cada vez mais altos de competência tecnológica - abre espaço para campos de P&D nas empresas; - Somente o fluxo contínuo de conhecimento a partir dos institutos para as empresas vai gerar capacidade na empresa para absorver e desenvolver, atuando na concepção de produtos e processos; - A INFRA-ESTRUTURA TECNOLÓGICA é central para políticas governamentais; - O processo de aprendizado na empresa é fator-chave.

CONCLUSÃO A partir das conclusões de Paulo Figueiredo, podemos levantar algumas considerações sobre as recentes ações do governo federal: 1) A implantação da ‘Design House’ de Circuitos Integrados no CT PIM; e 2) A implantação de um Pólo de Quali-

Quatro eixos de atuação: Estágio supervisionado e direcionado, durante o tempo da graduação, em preferência ao contato via Pós-Graduação. Massa crítica de competência nas engenharias e ciências básicas, trabalhando nas empresas, nos institutos de pesquisa e nos programas de Pós-Graduação. Conceito de conhecimentos básicos: mecânica; áudio; vídeo; materiais como agregadores da formação e geração de produtos. Treinamento, promovido nas empresas, pelos engenheiros, como parte fundamental de suas atribuições, dentro dos programas ISO9000. Figura 3 - Eixos de atuação

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mento; Esta transferência de tecnologia depende de pré-condições: Estágio do desenvolvimento tecnológico; Capacidade de absorver novos conhecimentos; Expertise de recursos humanos envolvido; Capacidade financeira;

ficação de Circuitos Integrados no CT PIM. Essas duas ações atendem aos itens desta proposta. Isso permitirá a concepção e certificação de produtos de alto conteúdo tecnológico, para atender ao mercado local e exportação, levando a convergência digital ao seu verdadeiro paradigma; o projeto de novos produtos a partir de bases digitais e coT&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


Interação universidade-indústria: aprendizados e lições para aumentar sinergias em direção à inovação

mandadas por chip´s, que substituem muitas das funções analógicas dos produtos atuais. Como exemplo de atuação profícua entre instituição de pesquisa e empresa, está o CT PIM, Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pólo Industrial de Manaus. O CT PIM detém competências em projeto analógico de televisores, e atua também no projeto dos Chip´s para TV Digital, e com estas duas convergências deve participar dos projetos dos produtos finais, que vão utilizar os circuitos em desenvolvimento. A articulação com várias empresas instaladas no Pólo Industrial, ou, fornecedoras do Pólo, cumpre o aspecto de contratos de pesquisa. A articulação com centros de pesquisa e ensino em pós-graduação tem permitido ao CT PIM participar na formação de engenheiros em pós-graduação strictu sensu, e em especialização. A atuação em parceria com um fornecedor principal dos circuitos integrados que controlam todas as funções eletrônicas de uma televisão montada no Pólo tem permitido encurtar o tempo de formação de seus engenheiros. Isto dá valor pratico à formação acadêmica. A atuação no projeto de circuitos simultaneamente com engenheiros de outros países, permitirá que as novas versões destes contenham propriedade intelectual desenvolvida localmente. Isto é participar de um projeto de concepção global. Enquanto alguns engenheiros participam da concepção do produto, outros, atuam na prestação de serviços ao resolver problemas com os produtos finais que contenham os Circuitos Integrados. A Implantação de laboratórios no CT PIM é parte da consciência de que a formação dos engenheiros depende da prática sobre as grandezas físicas e forte treinamento em lidar com números. A presença em Manaus de um número significativo de competências em tecnologia de projetos eletrônicos é que vai chamar a atenção das empresas, e transferir para Manaus seus projetos de desenvolvimento.

T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008

BIBLIOGRAFIA [1] Jensen, F., Electronic Component Reliability, Ed. Wiley pp 355, (2000). [2] Ariffin, N., Figueiredo, P.N. Internacionalização de Competências Tecnológicas. Implicações para estratégias governamentais e empresariais de inovação e competitividade da indústria eletrônica no Brasil. Rio de Janeiro, Editora Fundação Getulio Vargas. [3] Pimentel, N., Desenvolvendo Competências Tecnológicas em uma empresa do Pólo Industrial de Manaus. T&C Amazônia, Vol. 2. Nº5 (2004) pp 35-44. [4] Friedman, T., O Mundo é Plano. Ed. Objetiva 512 pp. (2007). [5] Vedovello C., Figueiredo, P.N., Infra-estrutura Tecnológica e Capacidade Inovadora: Algumas evidências do Pólo Industrial de Manaus. T&C Amazônia, Vol. 2. Nº5 (2004) pp 24-28.

José Roberto Casarini é Pesquisador Sênior do Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação do Pólo Industrial de Manaus (CT PIM/Manaus), no qual atua no Laboratório de Qualificação e Confiabilidade de Circuitos Integrados, ligado à rede nacional TSQC do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Ocupou posições de Gerência de Desenvolvimento, Qualidade e Engenharia, e Direção Geral da Thomson Componentes da Amazônia, e depois da AVX Componentes. Ele é Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia de Materiais, da Universidade Federal de São Carlos.

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Artigo

A GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA EM UMA EMPRESA DE CONFECÇÕES: UM EXEMPLO NO ESTADO DO AMAZONAS Augusto César Barreto Rocha

Este artigo faz uma breve revisão bibliográfica sobre a inovação tecnológica e seu papel nas estruturas das organizações. A partir desta revisão apresenta uma empresa de confecções no Estado do Amazonas que tem adotado como um de seus vetores estratégicos a diferenciação por tecnologias. O artigo conclui com um resumo do modelo de inovação utilizado pela organização para apoiar seu crescimento.

Introdução O mundo capitalista contemporâneo está inserido em um ambiente onde a competitividade aumenta a cada dia que passa, independentemente do mercado. Esta percepção é muito clara quando se compara o presente com o passado. A mesma sensação pode ser percebida quando são comparados países menos desenvolvidos, caso do Brasil, com outros mais desenvolvidos. De uma forma sistêmica a impressão também pode ser a mesma ao se comparar uma região isolada do Brasil, como o

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caso do Amazonas, com as regiões mais desenvolvidas. A sensação de atraso só é rompida quando a atividade econômica em análise tiver tido a oportunidade de realizar inovações tecnológicas substanciais, diferenciando-a não só de seu entorno, mas também de outras regiões, propiciando uma evolução mais rápida do que seria o normal, rompendo o abismo que diferencia uma área ou atividade econômica subdesenvolvida em relação à outra desenvolvida. Este artigo defende a idéia de que a inovação tecnológica é um fator preponderante para o crescimento das organizações qualquer que seja seu porte, produto ou mercado. As inovações permitirão o desenvolvimento constante do negócio: primeiro em um posicionamento local, depois em seu entorno e a partir daí, conforme o negócio e da empresa e sua capacidade de gerar resultados, ela poderá, mesmo através de um crescimento orgânico, se posicionar em seu país e fora dele. Para sustentar esta percepção o artigo está T&C Amazônia, Ano VI, Número 13, Fevereiro de 2008


A gestão da inovação tecnológica em uma empresa de confecções: um exemplo no estado do Amazonas

assim dividido: após esta introdução é feita uma breve revisão bibliográfica sobre a inovação tecnológica e a estratégia das organizações; a seção seguinte apresenta uma empresa de confecções do Amazonas e a sua forma de diferenciação no mercado nacional por uma estratégia centrada em inovações; em seguida são apresentadas as considerações finais.

A inovação tecnológica e a estratégia das organizações Desde Schumpeter (1961) existe a sugestão de que a inovação tecnológica é um diferenciador que permite a destruição e recriação de um empreendimento capitalista, permitindo a figura do empreendedor, através das mudanças tecnológicas. Essa visão proporciona uma significativa alavanca do processo de desenvolvimento das empresas e do mercado, pois, vincula o comportamento empreendedor ao processo de transformação tecnológica e crescimento organizacional. No Brasil, as empresas estão em um ambiente cercado por incertezas, em razão da história do País, em um âmbito de mudanças dos cenários macroeconômicos, além das constantes pressões da competitividade nacional e internacional, especialmente ao longo dos últimos anos. Em um ambiente como esse, as ferramentas de inovação tecnológica são importantes para a condução das mudanças nas empresas, com o objetivo de mantê-las competitivas e preparadas para o futuro. Em Hamlet há uma passagem que diz “eu poderia viver recluso numa casca de noz e me considerar o rei do espaço infinito, onde eu não teria pesadelos” (Shakespeare, 1992). Muitas empresas e empresários consideram-se como reis do espaço infinito, ou inovadoras, sem, contudo, estarem realizando efetivo processo de inovação tecnológica, imaginando estarem tendo apenas idéias maravi-

Para o Manual Frascati, conforme a OCDE (1994), a inovação tecnológica pode ser considerada como “a transformação de uma idéia em um produto novo ou melhorado vendável ou em um processo operacional na indústria ou comércio ou em um novo método de serviço social.” Neste ambiente a ferramenta que estará a conduzir essa ação inovadora é a Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). Ainda segundo a OCDE (1994) a P&D dirige-se apenas para as atividades que conduzem o processo de inovação tecnológica, agindo não somente como fonte original de idéias inventivas, mas também como uma forma de solução de problema para algum momento da implementação. Para Schumpeter (1961), o empresário (ou empreendedor) é o centro do processo inovador, conduzindo o caminho do lucro através da criação de um monopólio, temporário ou não, que permitirá uma lucratividade significativa. Para Deza (1995) a “compreensão das relações entre P&D e a produção industrial deve ultrapassar as meras relações quantitativas e abordar uma análise qualitativa”. Assim, espera-se de uma atividade empreendedora inovadora a realização não só de resultados financeiros, mas também de resultados qualitativos, que podem, por vezes, significar posicionamentos em mercados, que possam, eventual e desejavelmente, estabelecer relações de monopólio, mesmo que temporárias. Em Collins (2001) é apresentada uma proposição que sugere o formato de comportamento de empresas vencedoras. Assim, são utilizados fatores que levam empresas a atingir aspectos e diferenciais competitivos frente ao mercado. Destaca, por exemplo, que empresas feitas para vencer “não se concentram prioritariamente no que fazer para se tornarem excelente; elas se concentraram igualmente no que não fazer e no parar de fazer.” A partir desta e outras premissas, as empresas feitas

lhosas e únicas. Como se pode deduzir, isso nem sempre é verdade, pela dificuldade de acesso à informação, especialmente no universo das empresas pequenas e médias.

para vencer são sustentadas por uma série de fatores, destacados na Figura 1, na próxima página. A proposição de Collins apresenta o formato de ruptura para o processo de transformação de um

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Figura 1 - Volante do processo de transformação de empresa boa em excelente. Fonte: Collins (2001)

negócio, após exaustiva pesquisa em um universo de empresas, classificadas como excelentes em seu desempenho. A seqüência conecta pessoas ao pensamento com a ação disciplinada, levando a ruptura de crescimento através de aceleradores tecnológicos. A tecnologia e a inovação são uma alavanca para o processo de crescimento da organização. A gestão tecnológica deve ser encarada como uma das ferramentas fundamentais para a construção do sucesso empresarial. Ela não pode ser observada como a única ferramenta, pois a empresa é um sistema vivo e cheio de ramificações que precisam ser nutridos e desenvolvidos constantemente. Assim, as empresas vão sendo constituídas por operações e processos muito visíveis e outros nem tão perceptíveis. Cada parte, independente de qual seja, possui uma grande importância, pois a empresa é um sistema. Mintzberg et al. (2006) propõem que a estrutura

sentada por seu organograma, pois aloca pessoas em cargos, conforme o seu papel na execução da mesma. A tradução da estratégia através dos cargos das pessoas vai indicar como a empresa se posicionará para atender aos mercados e para realizar seus objetivos. Portanto, uma organização que seja inovadora deve possuir uma diretoria de tecnologia ou inovação, pois a gestão da tecnologia é que vai construir organizações competitivas, por meio da constante realização de mudanças.

organizacional vai representar a sua estratégia. Assim, a tradução da estratégia da empresa é repre-

também em negócios tradicionais, diferentemente do que pode sugerir o senso comum, que normal-

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Uma empresa de confecções no Amazonas Algumas publicações como “Brasil Inovador: o desafio empreendedor” (Ganem e Santos, 2006) possui o propósito de relatar casos. Este artigo não tem a intenção de relatar o caso de uma empresa unicamente. O caso está apresentado para ilustrar a Gestão da Inovação Tecnológica sendo aplicada

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mente associa inovações tecnológicas à complexos laboratórios de alta tecnologia, com investimentos enormes. Tem sido verificada no Pólo Industrial de Manaus (PIM) uma profusão de empresas de diferentes setores, em geral com o aporte de capital estrangeiro, vindo da Ásia, Europa ou América do Norte. Mesmo com os esforços em outro sentido, nesse modelo normalmente têm sido desenvolvidas unidades fabris, com investimento estrangeiro, utilizando mão-de-obra local, para fabricar produtos a partir de tecnologias normalmente desenvolvidas nas matrizes e nos centros de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) localizados em seus países de origem. Assim, destacam-se empresas como Honda (Japão), MASA (EUA), Nokia (Finlândia), entre outras. São diversos os esforços para mudar este cenário centrado em tecnologia estrangeira, ou seja, meios de produção e conhecimento estrangeiros, complementado com o know-how nacional. Algumas empresas de capital nacional, como a Gradiente, têm tido dificuldade em se diferenciar e se manter rentável no mercado quando enfrentam a concorrência direta de empresas multinacionais, em função de uma série de fatores. O PIM faturou mais de US$ 23 bilhões em 2007 (SUFRAMA, 2008). Este dado pode, em uma análise superficial, despertar a percepção de que o Pólo Industrial possui uma capacidade muito grande de produção industrial. Isso até é verdade quando se compara essa produção com o PIB de países como a Bolívia ou o Panamá. Entretanto, quando se faz uma comparação mais ampla, verifica-se que apenas uma empresa isolada, como a Cisco System, faturou US$ 28.4 bilhões, posicionando-se como a 77ª empresa norte-americana em 2006 (Fortune, 2007) apresentou faturamento bem superior ao PIM. Outro ponto relevante é que a sensação domi-

tudo verificou que cerca de 10% da economia de cada país é global. A justificativa para este número é amplamente debatida em seu texto. O que cabe destacar aqui é que 90% das transações econômicas de um país são realizadas por atividades econômicas internas a ele. Portanto, nesse cenário competitivo e, talvez, não tão global, surgem lacunas de oportunidades para empresas também em mercados tradicionais com serviços e produtos diferenciados, ofertando sua produção para os mercados e buscando de maneira intensiva a realização de inovações tecnológicas. Para tal, qualquer empresa poderá, através de uma gestão eficiente, realizar diferentes ações que aumentem sua competitividade, buscando simultaneamente a diferenciação e redução de custos, por intermédio de competências tecnológicas, mesmo em produtos tradicionais, onde, em uma leitura apressada, não se percebam oportunidades de implementação de inovações tecnológicas. A Bicho da Seda, empresa industrial, privada, registrada sob a denominação social de BDS Confecções Ltda., com sua sede em Manaus, Estado do Amazonas, constituída em dezembro de 1989, iniciou suas atividades em instalações residenciais e, desde então, tem crescido significativamente. Desde 1999, a taxa média de crescimento anual de faturamento é de aproximadamente 30% ao ano. Em 2001, atingiu o segundo lugar no mercado brasileiro de roupas profissionais, dentre as empresas de confecção homologadas pela Santista Têxtil S/A. Em 2002, contava com pouco menos de 200 funcionários. A sua missão é “desenvolver, produzir e oferecer soluções integrais em uniformização, com qualidade, agregando auto-estima e segurança aos seus clientes.” A empresa tem certificado ISO 9001, emitido pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini, desde dezembro de 2000. O cenário ao fim de 2007, ou seja, cinco anos

nante indica que o capital tem circulado com mais facilidade a cada dia que passa. Ghemawat (2008) realizou uma pesquisa que contrapõe a percepção de globalização corrente em nossas mentes. O es-

depois, a empresa passou a integrar um grupo: BDS Confecções Ltda., Fio de Água Lavanderia Técnica Ltda. e Ecologia Participações S/A., com mais de 600 empregos diretos gerados. A empresa

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Bicho da Seda, para conseguir realizar seu crescimento utilizou elementos de inovação tecnológica que serão a seguir destacados. Estratégia: usar a Tecnologia foi um diferencial, quando em 1998 criou a Diretoria de Tecnologia na empresa, traduzindo a importância dessa área em sua estratégia. Inovação em produtos: é realizada pela empresa conforme cada cliente. Cada cliente pode possuir uma carteira de 50 ou mais produtos específicos e personalizados. São mais de mil clientes que podem solicitar mais de um milhão de peças em uma única ordem de produção. Inovação em processos: a forma de produzir pode ser reconfigurada através de células de produção, para cada produto. Almeida (2004) analisou especificamente esse modelo. Interação com a academia: vários trabalhos foram gerados a partir de interações com universidades como: UFRJ, UFSC ou UFAM e também com o Instituto Nacional de Tecnologia (INT/MCT). Dois de seus diretores atuam como professores universitários. Inovação em gestão: destacou-se como a aplicação de métodos de indicadores (Rocha, 2002) ou sobre a qualidade de vida de executivos (Rocha, 2006). Inovação em mercados: a Bicho da Seda foi a primeira empresa em seu segmento a exportar, bem como, passou a atuar fora do Estado do Amazonas. Ao final de 2007, cerca de dois terços de seu faturamento passaram a destinar-se para outros estados do Brasil, dentre os quais se destacam: SP, BA, MG, PA, MA, PE, etc. Inovação em sistemas de informação: a empresa foi a primeira de seu segmento a adotar ERP, e-mail, sítio de comércio eletrônico, CAD, fluxos de pedidos de representantes pela internet, etc. O planejamento logístico nesse tipo de indústria merece especial atenção, dada a sua complexidade (Thomassey et. al., 2005). Inovação em equipamentos: a empresa foi a primeira do Brasil a possuir 100% das máquinas de costura eletrônicas, equipamentos de bordado,

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máquinas automáticas para passantes, máquinas automáticas para bolso, etc. Também realiza intensa Vigilância Tecnológica em feiras nacionais e internacionais. Inovação em matérias-primas: foram desenvolvidos tecidos específicos em conjunto com fornecedores no Brasil, França, Austrália, com propósito de atender necessidades técnicas de projetos pontuais.

Considerações finais O crescimento deve sempre ser perseguido e a inovação tecnológica pode, portanto, ser uma das ferramentas para isso, em qualquer tipo de empreendimento. Empresas de confecções de roupas profissionais são negócios que em 2007 no Brasil ainda se posicionaram como atividades com baixa concentração. Para análise, nos EUA a empresa que detém o segundo lugar fatura mais de US$ 6 bilhões e sua participação é cerca de 30% daquele mercado. Embora a Bicho da Seda possua cerca de 2% do mercado nacional, nenhuma empresa detém mais de 2,5% deste mercado. Isso indica que a empresa poderá continuar crescendo muito, até um posicionamento de cerca de 40% do mercado, o que seria natural em um mercado mais consolidado. Dentre as ações para o futuro da organização se destaca a busca por inovação em normas e comitês, onde um dos diretores coordena atualmente um grupo de trabalho para um programa de autoregulamentação do setor, envolvendo ABDI, ABNT, ABIT e outras instituições.

BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Paulo Said Monassa. O arranjo físico como um diferencial competitivo em uma indústria de confecções. Manaus. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção, UFAM), 2005.

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COLLINS, James Charles. Empresas feitas para vencer. Rio de Janeiro: Campus, 2001. DEZA, Xavier Vence. Economía de la innovación y del cambio tecnológico. Madrid: Siglo XXI Editores, 1995. Fortune. Fortune 500, vol. 155, nº 8. New York: Time Inc., 30/04/2007. GANEM, Carlos e SANTOS, Eliane Menezes dos (Org.). Brasil inovador: o desafio empreendedor – 40 histórias de sucesso de empresas que investem em inovação. Brasília: IEL, FINEP, 2006. GHEMAWAT, Pankaj. Redefinindo a estratégia global. Porto Alegre: Bookman, 2008. OCDE (Organisation for Economic Co-operation and Development). A summary of The Frascati Manual. Paris: OCDE, 1994. MINTZBERG, Henry et. al. O processo da estratégia. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.

indicadores/Indicadores_novembro_ 2007.pdf>.Acessado em 27/01/2008. THOMASSEY, S; HAPPIETTE, M; CASTELAIN, JM. A global forecasting support system adapted to textile distribution. INTERNATIONAL JOURNAL OF PRODUCTION ECONOMICS, 96 (1): 81-95 APR 18 2005. Augusto César Barreto Rocha é professor, diretor das empresas Bicho da Seda e Fio de Água, com sede em Manaus e Ecologia Participações S/A, com sede em São Luis. Graduado em Processamento de Dados (UFAM), realizou o curso de pós-graduação em Gestão da Inovação Tecnológica (Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha) e mestrado em Engenharia de Produção (UFSC), com pesquisa voltada para a Gestão de Negócios. Atualmente é aluno do curso de doutorado em Engenharia de Transportes (UFRJ).

ROCHA, Suely Campos de Araújo. Análise da dinâmica pós-moderna e a sua influência na qualidade de vida de líderes empresariais do Pólo Industrial de Manaus. Manaus. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção, UFAM), 2006. ROCHA, Augusto César Barreto. Configuração de um sistema de avaliação de desempenho alicerçado no balanced scorecard para uma indústria de confecções de porte médio. Florianópolis. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção, UFSC), 2002. SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1961. SHAKESPEARE, William. The tragedy of Hamlet Prince of Denmark. New York: Washington Square Press, 1992. SUFRAMA. Indicadores de Desempenho do Pólo Industrial de Manaus. Disponível em <http://www. suframa.gov.br/download/

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NOTÍCIAS T&C

VIII Conferência ANPEI 2008 “As possibilidades e desafios da inovação na economia global” esse será o tema da palestra do Dr. Jay Paap, que pretende dividir suas idéias sobre a crítica da inovação para o futuro das organizações. Constam na programação: Minicursos sobre introdução à inovação, cases de sucesso, workshops e visitas técnicas. A palestra acontecerá no mês de maio em Belo Horizonte MG e está sendo organizada pela Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras ANPEI. Outras informações podem ser obtidas através do e-mail:viii_conferencia@anpei.org.br. Fonte: http://www.anpei.org.br/viiiconferencia

A ABIPTI irá realizar congresso em junho O Congresso ABIPTI 2008 abordará a temática “Os desníveis regionais e a inovação no Brasil: os desafios para as instituições de pesquisa tecnológica”, a ser realizado no período de 04 a 06 de junho em Campina Grande - PB. Em sua 5ª edição a realização do Congresso ABIPTI se consolida como importante evento de promoção da pesquisa, desenvolvimento e inovação das instituições científicas e tecnológicas - ICTs do País. Mais informações sobre o evento envie e-mail para: congresso@abipti.org.br Fonte: http://www.congresso.abipti.org.br/

Oficina de Colaboração para a Inovação O Núcleo de Inovação Tecnológica do Paraná NITPAR realizará a mencionada oficina na cidade de Curitiba PR, em 08 de Julho. O evento visa discutir os aspectos práticos e teóricos da Lei de Inovação. Tendo como público-alvo os gestores de tecnologia de ICTs. Para outras informações envie e-mail para: appi@tecpar.br Fonte: http://nitpar.pr.gov.br/index.php/nit/category/eventos/


T&C AMAZÔNIA

AOS LEITORES

Ano VI - Número 13 - Fevereiro de 2008 ISSN - 1678-3824

T&C Amazônia é uma publicação quadrimestral, criada com o intuito de discutir temas

Publicação Quadrimestral da

relevantes de interesse do País e, em especial, da

Fucapi - Fundação Centro de Análise,

Região Amazônica. Cada edição aborda um tema

Pesquisa e Inovação Tecnológica

específico, divulgando o pensamento e os estudos realizados por profissionais da área focalizada. No próximo número, T&C Amazônia irá

Conselho Editorial Alessandro Bezerra Trindade Dimas José Lasmar Evandro Luiz Xerez Vieiralves Guajarino de Araújo Filho Isa Assef dos Santos José Alberto da Costa Machado

abordar o tema Amazônia: Integração e Negócios. Como se trata de uma edição especial em virtude da realização da IV FEIRA INTERNACIONAL DA AMAZÔNIA - FIAM 2008, organizada pela Superintendência da Zona Franca de Manaus Suframa, a publicação contará, excepcionalmente, apenas com contribuições de convidados:

Niomar Lins Pimenta

autoridades brasileiras e estrangeiras, pesquisadores, estudiosos e empresários de países amazôniJornalista Responsável Cristina Monte Mtb 39.238 DRT/SP

Projeto Gráfico desenvolvido pelo curso de Design de Interface Digital - CESF/ FUCAPI Coordenação de Projeto Gráfico Narle Silva Teixeira Capa e Ilustrações Carolina Azulay de Azevedo Diagramação de Soluções Gráficas Osvaldo Relder Araújo da Silva

As opiniões emitidas nos artigos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.

cos e de estados que integram a Amazônia.



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