Revista tec ed16

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SUMÁRIO

EDITORIAL A eventual má impressão causada pelo uso de uma expressão em processo crescente de banalização perde importância caso o benefício que proporcione, ao comunicar uma ideia, supere amplamente tal desvantagem. Sociedade do conhecimento é uma expressão com tal característica. A despeito da frivolidade com que muitas vezes tem sido citada, nada há que sintetize, de modo tão objetivo e com tanta singularidade, a

ARTIGO Educação profissional e tecnológica: das Escolas de Aprendizes Artífices aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia Eliezer Moreira Pacheco Luiz Augusto Caldas Pereira Moisés Domingos Sobrinho

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ENTREVISTA Crise e oportunidade no Brasil: o papel das engenharias Marcos Túlio de Melo

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ARTIGO Educação tecnológica na Amazônia: onde, quem, quantos? Walterlina Brasil

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ARTIGO Formação de jovens cientistas indígenas na Comunidade Tunui Cachoeira Rinaldo Sena Fernandes Paulo Assis Cavalcante Nascimento

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REPORTAGEM O estágio no contexto profissional Cristina Monte

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ARTIGO A trajetória da Fucapi na educação tecnológica Antônio Luiz da Silva Maués Rosanna Lacouth da Silva

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ARTIGO Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas José Carlos Nunes de Mello

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ARTIGO Estruturas de mercado do Pólo Industrial de Manaus: educação e inovação profissionalizante Ana Maria Oliveira de Souza Elane Conceição de Oliveira

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Pontos de Vista Altigran da Silva Elane Medeiros da Silva Wilson Périco

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ARTIGO Educação profissional técnica de nível médio Vicente de Paulo Queiroz Nogueira

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ARTIGO Iniciativas e perspectivas dos programas de pós-graduação stricto sensu em educação tecnológica no Estado do Amazonas Marcílio de Freitas

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noção de que a sociedade contemporânea tem no conhecimento o responsável direto pelo ritmo e direção de sua trajetória. Aqui, sociedade do conhecimento é um termo de que nos socorremos para expressar a percepção do paradigma vigente: associada a um espaço geográfico, com características econômicas e culturais próprias, uma determinada sociedade, no enfrentamento do desafio de seu desenvolvimento futuro, pavimenta seu caminho por meio das capacidades de absorver, criar, renovar e utilizar conhecimento. Tecnologia, ao conectar ciência e produção, é uma categoria de conhecimento com um vínculo especial com o mundo prático. A tecnologia é capaz de proporcionar ferramentas para lidar com problemas reais e criar instrumentos para, com base em ciência, gerar conhecimento novo e essencial. Refletindo essa importância, T&C Amazônia dedica esta edição a olhar para a tecnologia, mas fazendo-o por meio de uma dimensão especial, a educação. Nada mais oportuno que refletir sobre como diferentes experiências, na Amazônia, estão procurando formar e treinar profissionais para desenvolver e usar conhecimento tecnológico. Profissionais essenciais ao desenvolvimento sustentável desta Região. Educação tecnológica, nesse sentido, pode abranger iniciativas no ensino técnico-profissional, superior ou pós-graduado, em quaisquer áreas do conhecimento capazes de albergar o desenvolvimento e a difusão de soluções e melhorias técnicas de produtos e processos engendrados pelas atividades de produção; contempla competitividade econômica, melhoria da qualidade de vida e também sustentabilidade da interação sociedade-natureza. Conforme o leitor pode conferir, o resultado é rico e motivador, mas confirma um padrão já atestado, aqui mesmo, em outros temas: existem iniciativas interessantes sendo conduzidas, há claros avanços conquistados a partir dos esforços empreendidos, mas a Amazônia continua a cobrar uma atenção maior, que seja compatível com sua dimensão e importância.

ARTIGO Educação tecnológica – novos paradigmas e confluência com a educação aberta e a distância Marcos Formiga

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ARTIGO Centro de Treinamento de Produtores Rurais em Negócios Sustentáveis do Município de Manaquiri - Am Juan David Revilla Cárdenas

NOTÍCIAS T&C

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artigo

Educação profissional e tecnológica: das Escolas de Aprendizes Artífices aos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia Eliezer Moreira Pacheco Luiz Augusto Caldas Pereira Moisés Domingos Sobrinho

Resumo No ano em que a educação profissional e tecnológica completa 100 anos, começam a funcionar, em todo o país, os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, ou simplesmente Institutos Federais (IFs), criados pela Lei nº 11.892, em 29 de dezembro de 2008. A criação desses Institutos implica na construção de um novo paradigma para a educação profissional, cuja consolidação passa pelo diálogo com um passado que remonta às Escolas de Aprendizes Artífices (1909) e percorre importantes conjunturas econômicas e políticas da vida republicana brasileira. Reflete-se aqui sobre os principais elementos estruturantes e demarcadores da identidade dessas novas instituições, as quais são potencialmente portadoras de uma dupla missão: qualificar e elevar a escolarização dos trabalhadores e trabalhadoras e contribuir para o desenvolvimento científico-tecnológico do país.

Introdução Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, ou simplesmente Institutos Federais (IFs), criados pela Lei nº 11.892, em 29 de dezembro de 2008, representam um importante desafio para a educação profissional e tecnológica, porquanto, ao se procurar romper com a tradicional missão de vincular essa modalidade da Educação às demandas exclusivas do mercado, entra em cena, a necessidade de construção de um novo paradigma para a mesma. Não se trata, nesta ótica, de preparar o cidadão ou a cidadã para servir aos exclusivos interesses do mercado, como foi a tônica ao longo da história da educação profissional, mas de qualificá-los e elevar o seu grau de escolarização, capitais imprescindíveis à efetiva participação na consolidação democrática do país. A ideia da criação dessas novas instituições surgiu no bojo do segundo mandato do presidente

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Lula, o qual, dentre vários outros aspectos, será marcado pela determinação do presidente em assegurar à Educação e, particularmente à educação tecnológica, um lugar privilegiado nas políticas do seu governo. Quanto a esta última, é preciso destacar que, para assegurar a atual expansão, modernização e criação dos Institutos, foi necessário desenvolver um forte esforço político visando revogar o aparato legal, herdado do governo anterior, responsável por impedir a ampliação da mesma por todo o país. Neste breve texto, expõem-se os pressupostos e objetivos que norteiam as atuais ações da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec), visando concretizar esse novo projeto para a educação profissional. Ao final, adverte-se para a complexidade que envolve a sua implementação, a qual vai dos embates políticos e econômicos às disputas simbólicas pela construção do sentido das novas instituições.

As Escolas de Aprendizes Artífices A justificativa do Estado Brasileiro, em 23 de setembro de 1909, através do Decreto nº 7566, conforme Figura 01, assinado pelo presidente Nilo Peçanha para a criação de um conjunto de 19 Escolas de Aprendizes Artífices, mencionava a necessidade de prover os “desfavorecidos da fortuna

com o indispensável preparo técnico e intelectual”, isto é, prover as classes proletárias de meios que garantissem a sua sobrevivência, assim como levá-las a “adquirir hábitos de trabalho profícuo” que as afastassem “da ociosidade, escola do vício e do crime”. (BRASIL: Decreto nº 7566/09). Aí está o embrião da atual Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica instituída na Lei no 11.892 de 29 de dezembro de 2008. Essa rede de escolas surgiu num contexto ainda sob o domínio do capital agrário-exportador, porém, em um tempo de industrialização vicejante, no qual proliferavam greves operárias lideradas pelas correntes anarco-sindicalistas que se difundiam pelo país. Para as classes dirigentes, o ensino profissional passou a ser tido, então, como uma estratégia de reação à “inoculação de ideias exóticas” no proletariado brasileiro pelos imigrantes estrangeiros (CUNHA, 2000, p. 94). Em contraposição a essa visão conservadora dos processos em curso, Cunha destaca haver outra de caráter progressista, a do industrialismo, segundo a qual seria inerente ao desenvolvimento industrial a afirmação de valores como progresso, emancipação econômica, independência política, democracia e civilização. O autor ainda enfatiza: Só a indústria, nessa visão, seria capaz de resolver “os problemas Foto: Arquivo UFPR

Figura 01 - Oficina de Sapataria da década de 1920

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Das Escolas Industriais e Técnicas às Escolas Técnicas Federais Seguindo as tendências das mudanças na economia, em 1942, as Escolas de Aprendizes Artífices são transformadas em Escolas Industriais e Técnicas e, dessa forma, passam a oferecer formação profissional em nível equivalente ao do secundário. A partir de então, inicia-se, formalmente, o processo de vinculação do ensino industrial à estrutura do ensino do país como um todo, uma vez que os alunos formados nos cursos técnicos ficam autorizados a ingressar no ensino superior em área equivalente à da sua formação. O ano de 1942 é

também marcado pela criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), outro espaço de qualificação para o trabalho vinculado aos interesses do capital industrial. No governo de Juscelino Kubitschek (19561961), a indústria automobilística surge como o grande ícone da consolidação da indústria nacional. O Plano de Metas desse Governo prevê investimentos maciços nas áreas de infraestrutura e, pela primeira vez, contempla-se o setor de educação com 3,4% do total de investimentos previstos, pois o objetivo era a formação de profissionais orientados para as metas de desenvolvimento do país. Consequência desses novos tempos, em 1959, as Escolas Industriais e Técnicas são transformadas em autarquias e passam a ser denominadas Escolas Técnicas Federais, conforme Figura 02. Ganham, então, autonomia didática e de gestão, intensificam a formação de técnicos e melhoram as qualidades dos cursos “pelo aumento da produtividade dos recursos e pela maior capacidade de resposta às necessidades locais e regionais” (CUNHA, 2005, p. 135). Foto: Arquivo CEFET/MG

econômicos que afligiam o Brasil (...) só ela seria capaz de propiciar o desenvolvimento das forças produtivas (...) e levar o progresso a todas as regiões” (ibid.). Não obstante o vigor desse discurso ideológico, vale a pena evocar os argumentos desenvolvidos por Brandão (2007, p. 17) para quem, ao se relacionar o texto da lei com a realidade da época, deve-se considerar que, naquele momento, tratava-se muito mais de preparar uma mão de obra para trabalhos artesanais ou, quando muito, manufatureiros. Dessa forma, a profissionalização almejada baseava-se num conhecimento adquirido de forma empírica, basicamente manual: “Naquele momento, o que se buscava desenvolver, portanto, era ainda o artesanato, a manufatura, a arte do ofício”. Somente no período entre 1930 e 1945 a economia brasileira altera definitivamente o seu eixo, deslocando-se da atividade agroexportadora para a industrial e é assim plantada a semente do capitalismo industrial nacional, com pesado apoio estatal (PEREIRA, 2003). A iniciativa da criação de uma rede de escolas de formação para o trabalho destaque-se, nesta breve contextualização, vincula-se, desde os seus primórdios, tanto às necessidades concretas do mundo produtivo quanto às concepções ideológicas que orientam as ações das elites dirigentes em relação ao desenvolvimento nacional. E assim será ao longo de toda a sua trajetória.

Figura 02 - Laboratório de Modelagem de Fundição da década de 1970

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Essas escolas continuaram, ao longo de todo o período dos governos militares, desempenhando um importante papel na formação de técnicos a ponto de se tornarem forte referência nacional no âmbito da educação profissional.

Dos Cefet’s aos Institutos Federais Em 1978, três Escolas Técnicas Federais (Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro) foram transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica. Essa mudança conferiu àquelas instituições mais uma atribuição: formar engenheiros de operação e tecnólogos, processo esse que se estendeu, mais tarde, às outras instituições da rede. Entrava em cena, assim, mais uma estratégia estatal para adequar o ensino profissional às demandas do desenvolvimento econômico e ao projeto das elites dirigentes para a Educação. Retomava-se o esforço iniciado com a reforma universitária de 1968, para a ampliação do número de cursos de curta duração ofertados por instituições não universitárias, visando redirecionar a demanda pela universidade para o mercado. Instalou-se, pois, uma tendência de estruturação da educação técnica e tecnológica que foi acentuada, em 1997, com o Decreto nº 2208, o qual propiciou a separação da educação técnica do ensino médio, com a extinção dos cursos técnicos integrados, a priorização dos cursos superiores de tecnologia, a “cefetização” das Escolas Técnicas e a criação da Universidade Tecnológica do Paraná (CUNHA, 2005; FILHO; TAVARES, 2006). Sem espaço para maiores desenvolvimentos, introduzimos de imediato, o tema dos Institutos Federais, os quais, na perspectiva aqui adotada, podem ser vistos, por um lado, como continuidade de certas tendências, embora, por outro lado, devem ser muito mais vistos como esforço de ruptura frente à visão hegemônica de subordinação da educação profissional aos interesses estritos do mercado. Como destacou Manfredi (2002), muito oportunamente, a reforma da Educação Profissional de 1997 legitimou um dos projetos que estavam em discussão na sociedade civil naquele momento. Na atual conjuntura, da mesma forma, as ações em curso T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

traduzem muito bem a visão estratégica do governo Lula quanto ao lugar a ser ocupado pela Educação e pela educação profissional e tecnológica, em particular, decorrente do projeto de nação defendido por esse. Nessa direção, ao anunciar as prioridades de atuação da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica, Pacheco (2008), secretário dessa pasta, destaca ser imperativo observar a relação entre escolarização e profissionalização, dada a existência no país de cerca de 60 milhões de pessoas, com 18 anos ou mais, que não conseguiram concluir a educação básica. Destaca, ainda, a necessidade de se fortalecer o caráter público da educação profissional e desenvolver uma estreita articulação desta com as políticas de desenvolvimento nacional, regional e local. O conjunto das ações da Setec deve, dessa forma, pautar-se pela indissociabilidade entre formação geral e profissional, na perspectiva da educação integral, e manter uma vinculação orgânica com os arranjos produtivos, sociais e culturais das diferentes regiões brasileiras, visando à inclusão de milhares de mulheres e homens deixados à margem da sociedade brasileira, seja no que tange à escolaridade, seja na perspectiva de sua inserção no mundo do trabalho. A operacionalização dessa nova visão estratégica exige que a Educação Profissional e Tecnológica seja fortalecida em todos os níveis e formas, objetivando alcançar, de modo isonômico, os diversos segmentos sociais, sobretudo aqueles historicamente situados à margem das ofertas educativas. Esse fortalecimento, como enfatiza Pacheco, passa pela democratização da oferta da EPT, pela adoção de políticas diferenciadas no sentido de assegurar o acesso e permanência e pela manutenção da qualidade do ensino ofertado. Os Institutos nascem, por conseguinte, num contexto onde ocorrem dezenas de ações de fortalecimento dessa modalidade da Educação, visíveis no aumento do número de unidades por todo o país (expansão que obedece fundamentalmente a critérios técnicos e não a critérios político-eleitorais), na consequente ampliação das vagas, passando a beneficiar populações nunca contempladas pela educação profissional, na contratação, por meio de concursos públicos, de servidores em todos os níveis e nas medidas que visam à melhoria salarial e


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aperfeiçoamento do Plano de Carreira dos mesmos, dentre outras. Considerando-se a primeira e a segunda fase da expansão, serão acrescidas às 160 mil vagas atuais 274 mil vagas, sendo a meta, até 2010, atingir um número em torno de 500 mil. Os Institutos nascem também buscando construir um novo paradigma de educação profissional porquanto, como diz o texto da Lei nº 11.892, de 30/12/08, no seu Artigo nº 2º, “são instituições de educação superior, básica e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializadas na oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino”. Apresentarão nas particularidades da formação profissional ofertada, assim como na peculiaridade de suas práticas científicotecnológicas e na inserção territorial, os principais aspectos definidores de sua existência, traços que os aproximam e, ao mesmo tempo, os distanciam das universidades clássicas. Quanto ao desenho curricular, os Institutos deverão ofertar educação básica, notadamente em cursos de ensino médio integrado à educação profissional técnica de nível médio, ensino técnico em geral, cursos superiores de tecnologia, licenciatura e bacharelado em áreas em que a Ciência e a Tecnologia são determinantes, como é o caso das engenharias, “sem deixar de assegurar a formação inicial e continuada do trabalhador e dos futuros trabalhadores” (BRASIL, SETEC/MEC: 2008, p. 27). Outro forte diferencial diz respeito à verticalização do ensino, devendo essa traduzir-se na oferta dos vários níveis da educação profissional e tecnológica, de modo a assegurar possibilidades diversas de escolarização e abrir caminho para a instituição de itinerários de formação. Essa arquitetura curricular tornar-se-á possível dado o fato de os profissionais dessas novas instituições poderem dialogar, simultaneamente e de modo articulado, “da educação básica à pós-graduação, trazendo a formação profissional como paradigma nuclear” (ibid.). Outro importante desafio posto para os Institutos, em consequência da estreita vinculação da trajetória da educação profissional no país com

as demandas do mundo produtivo, diz respeito à relação entre ensino, Ciência e Tecnologia: “[...] o fazer pedagógico desses (...) ao trabalhar na superação Ciência/Tecnologia e teoria/prática, na pesquisa como princípio educativo e científico, na (...) extensão como forma de diálogo permanente com a sociedade” (ibid., p. 32) cria a possibilidade de lidar com o conhecimento de forma não fragmentada e aplicada, construindo soluções tecnológicas para o desenvolvimento, em particular, dos espaços regionais e locais onde os mesmos estão inseridos (o princípio da territorialidade defendido pela Lei). Por esse ângulo, os Institutos poderão desempenhar um destacado papel de ator do desenvolvimento tecnológico nacional, dado o fato da rede, ao longo de sua trajetória, além de vir cumprindo sua “missão social”, ter igualmente criado as condições para assumir um lugar de destaque no desenvolvimento tecnológico nacional, na medida em que o aumento da qualificação do seu quadro de pessoal, a consolidação e ampliação dos seus grupos de pesquisa, a articulação com o mundo econômico, particularmente regional e local, e a forte expansão de suas unidades estarem abrindo os espaços necessários à sua consolidação enquanto destacado produtor de pesquisa aplicada e inovações tecnológicas.

Considerações finais Desde sua criação em 1909, ousamos dizer, a rede federal experimenta hoje o seu melhor momento. Além das medidas positivas aqui referenciadas, a criação dos Institutos e da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica abre amplas possibilidades de consolidação de um projeto para essa modalidade da Educação que supere a sua exclusiva subordinação às demandas do mercado, responsável por relegar, ao segundo plano, as necessidades de qualificação e escolarização das populações excluídas, capitais imprescindíveis ao seu melhor posicionamento no mundo social e no processo de consolidação democrática. Todavia, é preciso considerar que atravessamos apenas uma conjuntura favorável, resultante da T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


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ação coletiva de vários atores sociais sobre determinados condicionantes históricos. A consolidação desse projeto, para além da conjuntura de um governo, dependerá tanto dos embates normalmente travados no âmbito do Estado, quando da elaboração de suas políticas quanto dos embates a serem travados no interior da sociedade civil e do campo econômico, mas também, e para não ficarmos restrito às leituras macro do mundo social, das disputas simbólicas em torno das significações e ressignificações do que deverá ser um Instituto Federal, posto que, cada grupo de agentes, a partir dos seus referentes culturais (mundo rural ou urbano, Escola Agrotécnica, Escola Vinculada ou Cefet, Universidade Tecnológica, realidade regional e local) procurará “impor” aos demais a sua verdade sobre essa nova instituição. Cabe ao Estado, pois, um árduo, porém gratificante trabalho de negociação e pactuação em torno desse novo projeto.

BIBLIOGRAFIA BRANDÃO, Marisa. Da arte do Ofício à Ciência da Indústria: a Conformação do Capitalismo Industrial no Brasil vista através da Educação Profissional, p. 17. Disponível em www.senac.br/BTS/253/boltec253b.htm: Acesso em 27 de fevereiro de 2009. BRASIL. Leis, Decretos. Decreto nº 7.566, de 23 de setembro de 1909. Apud, BRANDÃO, Marisa, op. cit., p. 17. ______. Lei nº. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Seção 1, p. 1, 30/12/2008. ______. Ministério da Educação/SETEC. Concepção e Diretrizes – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Brasília, 2008. CUNHA, Luiz Antônio. O ensino industrial-manufatureiro no Brasil. In: Revista Brasileira de Educação. Mai/Jun/Jul/Ago, Num. 14, 2000. T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

_______, Luiz Antônio. O ensino profissional na irradiação do industrialismo. 2 ed. São Paulo, Editora UNESP; Brasília, DF: FLACSO, 2005. LIMA FILHO, D. L. A universidade tecnológica e sua relação com o ensino médio e a educação superior: discutindo a identidade e o futuro dos Cefets. In: LIMA FILHO, D. L.; TAVARES, A. G. (Org.). Universidade Tecnológica: Concepções, limites e possibilidades. Curitiba. MANFREDI, S. M. Educação profissional no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002. PACHECO, Eliezer Moreira. Bases para uma Política Nacional de EPT (2008). Disponível em http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf3/artigos. Acesso em: 08 de janeiro de 2009. PEREIRA, Luiz Augusto Caldas. Educação profissional e desenvolvimento local. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e Gestão de Cidades). Universidade Cândido Mendes. Campos dos Goytacazes, RJ, 2003. SINDOCEFET – PR, 2006. Eliezer Moreira Pacheco é mestre em História, ex-presidente do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e atual secretário de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC/MEC). Luiz Augusto Caldas Pereira é mestre em Planejamento e Gestão de Cidades, ex-diretor do Cefet Campos/RJ e atual diretor de Políticas para a Educação Profissional e Tecnológica da SETEC/ MEC. Moisés Domingos Sobrinho é doutor em Sociologia, professor de Pós-Graduação em Educação da UFRN, atuou como coordenador-geral de Estatísticas Especiais (INEP/MEC), coordenador-geral de Desenvolvimento e Modernização e diretor de Programas Especiais da SETEC/MEC e, atualmente, é pró-reitor de Pesquisa e PósGraduação do Instituto Federal de Brasília.


Entrevista

Crise e oportunidade no Brasil: o papel das engenharias Marcos Túlio de Melo

Foto: Alberto Ruy

M

arcos Túlio de Melo, engenheiro civil e especialista em Engenharia Econômica, atua como presidente reeleito para o triênio 2009-2011 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea). O engenheiro, que conquistou uma rica experiência profissional, a qual inclui dois mandatos ocupando a Presidência do Confea/MG, participação no Conselho Municipal de Habitação da Prefeitura de Belo Horizonte, atuação como membro da Junta de Recursos Fiscais do Governo de Minas Gerais, entre outras atividades – mantém suas ações pautadas pela transparência e integridade, sob uma gestão moderna que inclui o diálogo permanente entre todos os atores. Nesta entrevista exclusiva, o presidente do Confea fala sobre o cenário da Engenharia no Brasil. Acompanhe a seguir.

Revista T&C - Como está a engenharia brasileira? Em que áreas somos internacionalmente fortes e T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Crise e oportunidade no Brasil: o papel das engenharias

no que poderíamos melhorar? Marcos Túlio de Melo - Nossa Engenharia, assim como a Arquitetura e Agronomia são referências mundiais. Atualmente, a exemplo de outros países, o Brasil carece de profissionais habilitados para atender à demanda. Em nosso caso, vivemos as consequências da falta de investimentos em infraestrutura, fato registrado nos últimos 30 anos. Como a Engenharia é diretamente ligada ao desenvolvimento, diminuiu também o interesse dos jovens pela profissão. Acredito que as soluções para o problema passem, necessariamente, por uma nova visão da Engenharia, o que exige a participação dos jovens - hoje mais voltados para a área social. A Engenharia é a responsável pela maioria das soluções dos problemas sociais. A questão do saneamento é um bom exemplo. Geologia, Engenharia de Minas, Siderurgia e a própria Engenharia Civil também sofrem os reflexos da falta de investimento. O Brasil forma hoje 23 mil engenheiros, se formasse o dobro, ainda seria insuficiente. A falta de mão de obra especializada no país faz com que as empresas importem esses profissionais. Acredito que uma das razões para essa carência seja a ausência do estudo completo de ciências no ensino fundamental. O déficit também acontece porque depois de formados, muitos vão atuar em outros países atraídos por bons salários. Essa fuga de cérebros é perigosa porque o profissional vai trabalhar em nações desenvolvidas e não, necessariamente, nos países em desenvolvimento. Uma das soluções para melhorar nossos índices é aproximar instituições de ensino, empresas, governo e entidades de representação de profissões regulamentadas. Investimentos em Educação e pesquisa são necessários, assim como a implantação de estágios.

Revista T&C - Nos países considerados desenvolvidos, a Engenharia tem contribuído de maneira preponderante para o desenvolvimento econômico e social. Por que, no Brasil, o desempenho não tem alcançado o mesmo nível? Marcos Túlio de Melo - Em parte pela falta de investimentos, como já disse. Mas mesmo assim, T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

o Brasil atingiu antes do tempo algumas Metas do Milênio, estabelecidas pela ONU. Temos matriculadas mais de 80% das crianças em idade escolar; diminuímos a mortalidade materna e infantil; continuamos a ser referência nas ciências e na produção agrícola. No entanto, temos muito a fazer. O domínio do conhecimento e a exportação de tecnologia são fundamentais para termos boas perspectivas de futuro. Revista T&C - A histórica deficiência em infraestrutura é um claro fator que, no Brasil, se contrapõe à ampliação da capacidade competitiva das empresas. Como investir no desenvolvimento da engenharia nacional, estimulando novos projetos e superando essa deficiência, em momentos de crise como a que enfrentamos atualmente? Marcos Túlio de Melo - Nos últimos anos, vem se modificando de forma positiva a atuação das entidades de representação das profissões regulamentadas. Como outras organizações, o Confea vem participando ativamente do debate e implantação de políticas públicas que visam melhorar a qualidade de vida do brasileiro em geral. Para colaborar com o governo e com a iniciativa privada, temos o Projeto Pensar o Brasil e Construir o Futuro da Nação, fruto do envolvimento de centenas de profissionais que em todo o país participaram de oficinas e seminários promovidos para identificar ações e projetos que materializam a proposta que objetiva o desenvolvimento sustentável e a responsabilidade social.

Revista T&C - Qual a sua percepção sobre a relação entre o ensino e a prática da Engenharia no Brasil? Como é possível fortalecê-la? Marcos Túlio de Melo - Sem dúvida é preciso aperfeiçoar o ensino da Engenharia e isso inclui a implantação de estágios nas empresas e ampliação da quantidade de tecnopólos. Se não atrairmos os jovens para a Engenharia será difícil cobrir o déficit que só tende a crescer. Outro fator que dificulta a formação é a velocidade da evolução tecnológica, que muitas vezes atropela nossos conhecimentos e nos coloca diante da necessidade de uma reciclagem constante de informações.


artigo

Educação tecnológica na Amazônia: onde, quem, quantos? Walterlina Brasil

A

través da Lei nº 11.892/2008, publicada no mês de dezembro, todos os vinte e sete estados da federação estão formalmente articulados no Sistema de Educação Tecnológica no país, por conta da instituição da Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica. Os 37 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, criados por transformação dos Centros Federais de Educação Tecnológica ou integração das escolas técnicas já existentes, as oito Escolas Técnicas integradas como IET, e as 24 Escolas Técnicas vinculadas às universidades federais passam a constituir a Rede de Institutos de Educação Tecnológica. As características dos Institutos Federais são as mesmas atribuídas às universidades, enfatizando em todos os seus artigos a função da educação profissional, incluindo todas as atividades de cursos de formação inicial e continuada, pós-graduação, pesquisa e extensão, o que as consagra como instituições de ensino superior, mas que podem também oferecer cursos de educação básica. Como a forma de criação e integração incorpora o patrimônio das instituições existentes, a estrutura

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administrativa ocorre mediante caracterização multicampi e o sistema dirigente através de reitoria, pró-reitorias e diretor-geral de campus. Nessa legislação, o sistema de educação superior se mantém como um forte apelo para que a sociedade também entenda o ensino tecnológico como uma oportunidade de maior acesso ao ensino superior e ação do governo como um dos mecanismos para rearticular a formação geral e específica. O processo se arrasta desde o debate promovido com o Projeto de Lei nº 1.603, de 03/04/96 e o Decreto nº 2.208, de 17/04/1997, quando no primeiro já se mencionava a criação e organização da Rede Federal de Educação Profissional e no segundo, preocupava-se com a regulamentação do Artigo nº 36 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que trata da educação profissional e estabelecia a vinculação da educação básica obrigatória para as instituições que oferecessem a educação profissional. Mesmo revogados, esses expedientes legais expressaram, em síntese, uma disputa sobre diferentes visões acerca de como a educação básica

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Educação tecnológica na Amazônia: onde, quem, quantos?

e a superior devem se relacionar no âmbito da profissionalização tecnológica; as possibilidades de constituição de espaços hegemônicos em áreas, setores, serviços, produção e interesses específicos, sejam progressistas ou conservadores; a articulação entre o trabalho intelectual e o manual; a abordagem curricular em relação à flexibilização e desenho por competências; e a destinação desses cursos aos jovens e/ou agentes econômicos (CORDEIRO, D. 2006; DELUZ, N.2004; FRIGOTTO, 2003, GENTILLI, 2002). Aqui, reconhecendo as diversas facetas do tema, é necessário chamar a atenção para um aspecto fundamental da Lei nº 11.892/2008 que corresponde à efetiva construção e consolidação de uma política que considere o desenvolvimento regional da Amazônia: o caráter sistêmico e o avanço do governo na implementação do processo de expansão da oferta e características do ensino superior. Duas circunstâncias dizem respeito ao processo de expansão do ensino superior no país e ambas estão igualmente incorporadas às políticas para o setor na Amazônia: a primeira é sobre a ampliação do acesso, promovendo a massificação do ensino, expandido a rede física e virtual, com vistas a atingir segmentos sociais, especialmente aqueles mais desfavorecidos ou historicamente excluídos do acesso público a educação superior. A segunda circunstância é que o nível educacional de um país, especialmente quando referido ao ensino superior, é um pretenso indicador de desenvolvimento, qualidade de vida e, na maioria dos casos, mobilidade social. Ambas as circunstâncias não têm encontrado na realidade e na pragmática do cotidiano, através da consciência política, saberes e formação escolar disponível, uma aplicação imediata e confiável. Portanto, não há um consenso entre o que se propõe e se faz, o que se deve ser feito e o que é possível fazer, transformando a expansão em um fenômeno abordado a partir de um jogo calculado pelas possibilidades que envolvam os discursos da globalização, dos agentes econômicos, da reorgani-

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zação da produção, do trabalho e das perspectivas de desenvolvimento em pautas de sobrevivência do mercado e/ou do Estado. O que se observa, ainda e de fato, na Amazônia, é a perspectiva do “ajuste” (BRASIL, W. 2007a; BRASIL, W. 2007b). Tratar da oferta, massificação, ampliação e diversificação do ensino superior envolve uma complexidade de eventos e fatores sociais que ainda não estão resolvidos de forma adequada o suficiente no campo da formulação de políticas públicas que envolvam permanência, qualidade do ensino, coerência entre resultados testados e resultados divulgados, além de competência acadêmica, científica e tecnológica. Sabemos disso. Mas afinal, uma Rede Federal de Educação Tecnológica não é uma coisa boa para a Amazônia? É importante aclarar, de imediato, que não se trata do que é bom ou ruim, mas do que pode ser adequado e prioritário na região. Estudos importantes já expressam o quanto é fundamental que a pesquisa, a inovação e o desenvolvimento econômico se integrem a partir de uma adequada relação com os arranjos produtivos locais e que gerem, a partir da Ciência, impactos econômicos. Um pouco dessa influencia pode ser lida a partir do campo tecnológico dentro das universidades (CAMPOS e VALADARES, 2008). Educação tecnológica sempre envolve observações em torno das áreas, dos resultados e das oportunidades de pesquisa e inovação. É necessário considerar seu destino, investimento, retorno, benefício social e interesse público. Se for possível articular questões tão tensas, do ponto de vista da gestão pública, a readequação do sistema de educação superior, no nível tecnológico, envolve também reflexões sobre significados e riscos. Por sua vez, atributos que ofereçam distinção na concepção das políticas dos governos federais dos últimos catorze anos no campo da educação superior e técnica, de tão tênues, são pouco consistentes a ponto de se perceber mecanismo de real transformação do sistema educativo nesta área (FRIGOTTO, G. 2005; FERRETI, 1997). Apesar de serem legalizados a partir de 1996,

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somente em 2000 os cursos tecnólogos começam a ser implantados e o crescimento sofre uma maior evolução a partir de 2003. Na divulgação do catálogo das profissões tecnológicas pelo Ministério da Educação estão contidas 98 graduações tecnológicas organizadas em 10 eixos tecnológicos, que organizam e orientam o processo de credenciamento e avaliação de cursos, em possibilidades que envolvem todos os campos de conhecimento. A constituição desse catálogo auxilia em informar que o sistema tecnológico é parte de eixos prioritários como ações políticas para o desenvolvimento, incluindo-se dentro das perspectivas de avaliação e regulação do sistema de ensino. Em termos gerais, a expansão do ensino superior está caracterizada pelo ingresso de profissionais já integrados ao mercado de trabalho, pelos egressos da Educação de Jovens e Adultos (EJA), pelos egressos do ensino médio atual e de anos anteriores, com perfil sociocultural diversificado e pelas mulheres. A taxa de cobertura dos 18-24 anos permanece tímida em relação à ampliação do ensino médio (DIAS, A. 2007). Até dezembro de 2007, as estatísticas do INEP, apresentavam uma evolução para além dos cinco milhões de estudantes, com destaque para o ano de 2006, onde a matrícula na graduação superou os quatro milhões e meio. Conforme demonstra DIAS (2007), “são em média 736.829 novos profissionais egressos do ensino superior. Desses, 25% são financiados diretamente com recursos do Estado brasileiro para IES públicas, sendo 5% da Região Norte”. Os dados relativos ao Programa PROUNI (anteriormente alunos financiados pelo FIES) - a partir de 2005 - devem ser contabilizados nos dados de financiamento público porque, pela origem do custeio, embora atendidos pela iniciativa privada, são estudantes do poder público. O atendimento, porém, passa por uma identificação considerável. O tamanho da oferta e o tipo

de atendimento remetem à proliferação de IES. Das 2.270 Instituições de Ensino Superior do Brasil, até 2006, entre públicas e privadas - em sua maioria - 67,5 %, são consideradas de pequeno porte por possuírem um número estimado de até 1000 alunos. Apenas 9,5 % das IES são de grande porte, possuindo mais de 5.000 alunos¹. A mesma autora adverte que esses dados “não revelam os grupos de empresários brasileiros com capital estrangeiro que, nos últimos anos, têm comprado as IES brasileiras, suas mantenedoras e mantidas, em regiões com altos índices de alunos matriculados, como é o caso especialmente das regiões Sudeste e Nordeste. Esses grupos são formados por empresários que estão reunindo pequenas e médias instituições do país em capital de sociedade anônima com ações na bolsa de valores. A quantidade de alunos em determinados grupos empresariais, em alguns casos, ultrapassam os 150.000 alunos” (DIAS, A. 2007, p.46). Por sua vez, o potencial tecnológico e os investimentos na Região Amazônica não podem ser desprezados como atrativos para este tipo de organização no campo educativo, mas uma via de internacionalização com benefício duvidoso ao impacto regional necessário. Em 2003, o governo federal reuniu no estado do Acre, os governadores do Amapá, Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima; as ministras do Meio Ambiente e de Minas e Energia; e os ministros da Integração Nacional, do Planejamento, do Desenvolvimento Agrário, da Educação, da Saúde, da Justiça e Secretaria Especial da Presidência dos Estados da Região Norte. Eles aprovaram o documento com o título Amazônia Sustentável que serviu de referência para a elaboração e implementação do Programa Amazônia Sustentável. Foi assinado um termo de cooperação entre o presidente e os governadores onde foi estabelecida como princípio metodológico a consulta aos diversos setores da sociedade regional e nacional e, como prioridade, os

¹ Um ponto de vista a ser considerado pode ser estimulado na leitura da coluna de Edson Nunes, no texto Contradições e Desafio Estratégico do Ensino Superior Brasileiro. Disponível em http://www.asuntosdelsur.org/columnas/Educacion-Edson-Nunes.html

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eixos estruturantes em que são identificadas cinco prioridades: a produção sustentável com tecnologia avançada, novo padrão de financiamento, gestão ambiental e ordenamento territorial, inclusão social e cidadania e infraestrutura para o desenvolvimento. A demora na sua implementação, o esforço de consolidação de um discurso efetivamente articulado e as consequências políticas quanto à estrutura de poder interministerial já reiteram a dificuldade que se tem em constituir um panorama de efetiva compreensão política do interesse pela Amazônia como uma agenda e problema nacional. De fato, o desenvolvimento regional não pode se basear em ações isoladas nas Políticas Públicas e sua condução deve receber a efetiva participação das IES. O contrário constitui um ato grave das ações governamentais. Caso se despreze as contribuições e construções de décadas de trabalho que demonstram a negligência à cooperação, articulação interuniversitária, experiências inovadoras ocasionam prejuízos aos estudos sobre ecossistema mundial, a limitação da capacidade competitiva no mercado nacional e internacional, além da restrição das oportunidades de geração de emprego e renda pela reiterada necessidade de efetiva incorporação de recursos humanos e massa crítica capaz de promover, pensar e propor alternativas viáveis para alavancar com autonomia requerida a economia regional. As limitações publicamente conhecidas e reconhecidas pelos gestores das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável para a região tropeçam em circunstâncias fortes, como a estrutura produtiva excessivamente concentrada, a deficiência no sistema de gestão do território, a reduzida capacidade científica e tecnológica instalada, a escassez e deficiência de infraestrutura econômica, os baixos níveis educacionais, a desorganização fundiária, o desordenado processo de urbanização e a incipiente utilização de proces-

sos ordenadores de gestão ambiental. Nas atuais circunstâncias o panorama de desenvolvimento e propostas programáticas para seu enfrentamento exige um diálogo objetivo da educação superior brasileira, sobretudo pelos seus interlocutores locais, compreendendo as IES da Região Amazônica. Esse ambiente encerra nele mesmo a contradição da oportunidade. Mas para onde deve se dirigir a formação tecnológica em termos amazônicos? As universidades federais - com a nova Lei - já distinguem internamente a oferta conforme a natureza dos seus cursos. É preciso identificá-los em termos de relação com os setores que demandam maior investimento, correspondem aos anseios já conhecidos pelos pesquisadores da região e de algum modo são ignorados no âmbito da formulação de política de resultado. A educação tecnológica pode ser crucial neste processo de criação de alternativas para interação entre formação, interesse social e agenda para o desenvolvimento. O ensino superior se diversifica e diferencia progressivamente, ao mesmo tempo em que as propostas caminham para a articulação de todo o sistema, integrando as noções de diversificação com diferenciação². O Ingresso dos candidatos na Região Norte no ensino superior privado está na ordem de 88,29% do sistema de oferta de ensino superior, acima da média nacional de 72,19% do ingresso no país. A oferta nos CETs se mantém com essa tendência (INEP, 2008). No início do ano de 2008, o censo do INEP divulgou dados onde os Centros de Educação Tecnológica (CETs), que ainda não incorporavam a rede existente foram apresentados. Nesses dados, em relação às vagas do país, os CETs representam 3,06 das vagas oferecidas, 3,97% das vagas aos candidatos inscritos e 3,47% dos ingressos. Dentro da ocorrência entre os CETs, as áreas de Ciências Sociais, Negócio e Direito, Ciências, Matemática, Computação, Engenharia, Produção e Construção

² A diversificação se refere à ampliação do acesso, por meio da quantidade de cursos, vagas e instituições, estando relacionada com a relevância do ensino superior. A diferenciação se refere ao conteúdo interno da oferta da educação superior em termos de melhoria institucional das IES e capacidade de envolvimento no processo de desenvolvimento regional, relacionada com a pertinência do ensino superior na região (BRASIL, W. 2007a). Os conceitos foram estudados também em DIAS, Alessandra C. S. M.(2008).

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representam o maior índice de vagas oferecidas, sendo a primeira (Ciências Sociais) a obter o maior número de ingressos, embora a terceira (Engenharias), com menor quantidade de vagas, possui o maior número de inscritos (Gráfico 01).

região sempre demonstrou necessitar. Um dos principais riscos é, portanto, tornar cada vez mais insustentável o viés politécnico, formalizante e de baixo potencial transformador e produtor de inovações que esses cursos encerram.

Gráfico 01 - Vagas por curso dos Centros de Educação Tecnológica, por grande área, 2007 Fonte: MEC/INEP/Deep, 2008

Ora, se no censo 2007, divulgado em 2008, já se inclui as escolas de ensino superior técnico e os dados são crescentes ao considerarmos a complexa articulação da rede criada na Lei nº 11.892/2008, temos como recado o gigantismo pretendido para impulsionar uma visão tecnológica à formação no ensino superior. Todavia, a dicotomia entre a destinação do ensino de tipo tecnológico com ensino básico e a associação ao ensino superior se torna difusa, porque o abrigo como nível superior pode funcionar apenas como veículo para a assimilação social da proposta apresentada, mas não traz dados sobre sua compreensão ou impacto. Os dados não apontam para uma mudança no cenário, mas acentuam as contradições. No caso de uma rede federal, o que ocorre é uma redução da articulação regional. Em lugar de consolidá-la, promove – por entrar atravessado no conjunto do sistema educacional – uma ordenação desordenada se ignorar os atores econômicos e a vivência política que a

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Apesar do aparato legal, não são capazes de promover o avanço prometido e o desenvolvimento há décadas aguardado. Enfim: sem tirar vantagens da expansão que possivelmente guarda uma rede de educação tecnológica, do potencial tecnológico regional e sem administrar as já conhecidas demandas potenciais humanas, científicas e sociais de desenvolvimento ambientalmente sustentável e economicamente viável e do justo valor, a Amazônia continuará um adorno no discurso de desenvolvimento brasileiro e a educação tecnológica, uma lâmpada de Aladin nas mãos de um mudo.

Bibliografia BRASIL, Walterlina. Ciência e Educação Superior na Amazônia. Editora da Universidade Federal de Rondônia-EDUFRO, Porto Velho, 2007a.

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BRASIL,

Walterlina. Educação Superior na Amazônia Brasileira: Urgências, Carências e Premências. In: ARAGÓN, Luís E. VINTE ANOS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NA AMAZÔNIA. UFPA/NEAUNESCO, Belém, PA, 2007b.

GENTILI, Pablo. Educar para o desemprego: a desintegração da promessa integradora. In: FRIGOTTO, Gaudêncio (Org.). EDUCAÇÃO E CRISE DO TRABALHO. PERSPECTIVAS DE FINAL DE SÉCULO. 6. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2002.

CAMPOS, Ivan M e VALADARES, Eduardo. Inovação Tecnológica e Desenvolvimento Econômico. 2008. Disponível em http:// www.schwartzman.org.br/simon/blog/ inovacaomg.pdf.

INEP, INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. MEC. Censo do Ensino Superior-2007. Disponível em: www.inep.gov.br.

CORDEIRO, Denise. Jovens pobres e educação profissional no contexto histórico brasileiro. Revista Trabalho Necessário, ano 4, nr. 4, 2006. Disponível em http://www. uff.br/trabalhonecessario/TN4%20COR DEIRO,%20D.%20COSTA,%20E..pdf. DELUIZ, Neize. A Globalização Econômica e os Desafios para Educação Profissional. Revista Eletrônica BOLETIM TÉCNICO DO SENAC, Vol.30, nr.3, set./dez. 2004. Disponível em http://www.senac.br/informativo/BTS/222/boltec222b.htm.

Walterlina Brasil é doutora em Ciências Socioambientais pelo NAEA/UFPA. Pedagoga, professora do Departamento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Rondônia e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Superior-GEPES.

DIAS, Alessandra C. S. M. A Expansão do ensino superior na Amazônia. Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (Dissertação). Universidade Federal de Rondônia, Porto Velho-RO, 2008. FERRETTI, Celso João. Formação profissional e reforma do ensino técnico no Brasil: anos 90. Educ. Soc. [online]. 1997, v. 18, n. 59, pp. 225-269. FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. 5. ed. São Paulo: Cortez Editora, 2003. FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria and RAMOS, Marise. A política de educação profissional no Governo Lula: um percurso histórico controvertido. Educ. Soc. [online]. 2005, v. 26, n. 92, pp. 10871113.

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ARTIGO

Formação de jovens cientistas indígenas na Comunidade TunuÍ Cachoeira Rinaldo Sena Fernandes Paulo Assis Cavalcante Nascimento

RESUMO Dentre as tecnologias socioambientais, os sistemas agroflorestais são apontados como alternativas para o contexto das comunidades indígenas do alto Rio Negro, de forma que os conhecimentos tradicionais das populações locais possam ser articulados com conhecimentos científicos para criação de novas formas de manejo e tecnologias sustentáveis. Este trabalho tem o objetivo de relatar o desenvolvimento de competências e habilidades na formação dos agentes agroflorestais na comunidade indígena Tunuí Cachoeira através do planejamento, implantação, manejo e avaliação experimental de parâmetros agronômicos e ecológicos em unidades demonstrativas de sistemas agroflorestais. Na metodologia foram realizados cursos de formação em Metodologia de Pesquisa em Sistemas Agroflorestais; um levantamento etnobotânico; uma oficina de Diagnóstico e Desenho Agroflorestal a fim de capacitar os Jovens Cientistas para o planejamento agroflorestal, implantação de

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Unidades Demonstrativas e viagens de intercâmbio para as trocas de experiências e estímulo à observação e reflexão da realidade de outras comunidades, além de outras atividades práticas em grupo que conduziram o aprendizado mútuo de educandos e educadores. Palavras-chave: Educação Agroflorestal; Unidades Demonstrativas; Etnobotânica; Espécies nativas.

INTRODUÇÃO Os sistemas agroflorestais como tecnologia agroecológica foram mencionados no documento base do Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável elaborado pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN, 2003), como uma das alternativas aplicáveis no contexto das comunidades indígenas do alto Rio Negro, considerando a possibilidade de interação entre os conhecimentos tradicionais das populações locais com conhecimentos científicos

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necessária para criação de novas formas de manejo compatíveis com a realidade socioambiental. A partir do diálogo com a sociedade local a EAF assume papel importante como agente público na mobilização de esforço institucional para delinear suas ações educacionais orientadas pela definição de alternativas econômicas que garantam, prioritariamente, a segurança alimentar nas comunidades indígenas voltadas para o uso sustentável dos recursos naturais e concomitantemente a geração de renda, visando à melhoria da qualidade de vida dessas populações. O Projeto “Educação Agroflorestal” iniciado em fevereiro de 2007 pela Escola Agrotécnica com o apoio do Programa Jovem Cientista Amazônida (JCA/FAPEAM) desenvolveu ações educacionais na comunidade Tunuí Cachoeira, localizada no médio Rio Içana, com o objetivo de formar alunos do Ensino Médio como Agentes Agroflorestais. Esses alunos estão inseridos no processo de pesquisa sobre a diversidade regional para difusão das práticas agroflorestais na região do Rio Içana, como

forma de conservação dos recursos naturais, através de modelos de exploração sustentável do solo, que combinam a produção de cultivos agrícolas de subsistência com espécies animais e vegetais de múltiplos usos da flora local. Este trabalho tem o objetivo de relatar o desenvolvimento de competências e habilidades na formação dos Agentes Agroflorestais na comunidade indígena Tunuí Cachoeira através do planejamento, implantação, manejo e avaliação experimental de parâmetros agronômicos e ecológicos em unidade demonstrativas de sistemas agroflorestais.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO A cidade de São Gabriel da Cachoeira é um pequeno centro urbano, com aproximadamente 23.000 habitantes, cercado por terras indígenas, cuja população indígena encontra-se dispersa em cerca de 700 pequenas comunidades e povoados que praticam uma agricultura de subsistência com lavoura de coivara em meio florestal denso ou em capoeiras, conforme Figura 01.

Foto: Divulgação

Figura 01 - Comunidade de São Gabriel da Cachoeira

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A partir de 2006, como mais uma conquista da comunidade, foi implantada uma sala de extensão do Ensino Médio da Escola Estadual Nossa Senhora de Assunção do Rio Içana, atualmente sob a administração da Escola Dom João Marchesi localizada na sede do município e que conta com a participação de 15 alunos, dos quais 6 foram selecionados como bolsistas do Programa JCA da FAPEAM.

DELINEAMENTO METODOLÓGICO O instrumental metodológico adotado seguiu os moldes da formação dos Agentes Agroflorestais Indígenas no Estado do Acre, conforme descrito por Gavazzi (2002), e foi estruturado numa sequência de diagnóstico socioambiental, levantamentos etnobotânicos, formação teórica/prática e experimentação em unidades demonstrativas. Os conteúdos foram delimitados tendo por base a competência “Planejar e implantar Sistemas agroflorestais” com ênfase nas habilidades, onde as atividades de ensino-aprendizagem são desenvolvidas durante as oficinas, cursos de formação e em viagens de intercâmbio com outras comunidades para troca de experiências fundamentais na consolidação do aprendizado, conforme Figura 02. Foto: Divulgação

A comunidade Tunuí Cachoeira tem esse nome proveniente do termo “Toonoda”, que em Baniwa significa certa espécie de pium, complementada pela expressão “Cachoeira” em referência à cachoeira existente na comunidade que representa uma grande barreira natural para a navegação. Está localizada na margem esquerda do Rio Içana, afluente do Rio Negro (1º 23’26”N - 68º 9’13”W), onde vivem cerca de 300 pessoas em 42 famílias da etnia Baniwa, subdivididas culturalmente nos clãs Waliperi dakenai, Dzawinai, Hoohodeni, Moliweni, Kadaopoliro e Paraattana, dentre outros menores. Os produtores indígenas na região do Rio Içana desenvolvem diversas práticas de manejo florestal e agroflorestal tais como rodízio de capoeiras e roças, manejo das espécies da capoeira e plantio de espécies úteis no entorno da comunidade. São detentores de conhecimento muito rico sobre espécies de plantas úteis da floresta com potencial para alimentação humana e animal, fibras, corantes, plantas medicinais e madeira, que podem ser manejadas em sistemas agroflorestais. As roças são conduzidas no sistema de policultivo de curta duração, utilizando espécies de frutificação rápida tais como: mamão (Carica papaya), banana (Musa spp.), cucura (Pourouma cecropiifolia), biribá (Rollinia mucosa), caju (Anacardium ocidentale), dentre outras, associadas ao cultivo da mandioca. Passados 3 a 5 anos a roça é abandonada para recuperação da fertilidade em virtude da queda de rendimento da mandioca e infestação de plantas invasoras. A partir de 2005 durante a construção de seu Projeto Político Pedagógico, a Escola Municipal Indígena Tunuí recebeu a denominação de Escola Maádzero, nome em Baniwa, que significa “orientador ou mestre Baniwa”, oferecendo o Ensino Fundamental completo através de salas de extensão, abrangendo além da comunidade Tunuí Cachoeira no Rio Içana mais duas comunidades no Rio Cuiari, na proximidade da fronteira internacional do Brasil com a Colômbia, Warirambá e Vista Alegre.

Figura 02 - Alunos indígenas na aula de Botânica

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cursos de formação, abrangendo as Metodologias de Pesquisa em Agroecologia, a fim de dispor aos Jovens Cientistas ferramentas para execução de levantamentos e diagnósticos participativos: Botânica, com o intuito de inserir os conceitos básicos de Botânica e Morfologia Vegetal; Sistemas Agroflorestais, abordando os conceitos relativos à Ecologia das Espécies Agroflorestais; Produção de ração, alternativa com a finalidade de mostrar o aproveitamento de resíduos domésticos e utilização dos produtos da flora local na composição de ração para peixes; e Inventário Florístico, a fim de capacitar os alunos para a coleta herborização e identifiFoto: Divulgação

Visando reunir informações sobre as plantas consumidas pelos peixes na natureza para apoio ao projeto de piscicultura, bem como sobre as diferentes espécies de abelhas nativas sem ferrão produtoras de mel para criação em caixas racionais, os Jovens Cientistas realizaram um levantamento etnobotânico totalizando 30 horas de pesquisa na comunidade, através de entrevistas estruturadas, com uso de formulários confeccionados pelo grupo conforme descrito por ALBUQUERQUE, (2004). Os colaboradores foram solicitados a responder perguntas previamente estabelecidas sobre nome das plantas, local onde encontrar, época de coleta de frutos, modo de preparo e tipo de peixe que as consome. A partir do início das atividades práticas do projeto em março/2007, paralelamente iniciou-se a coleta de sementes de espécies nativas para produção de mudas no viveiro agroflorestal e plantio nas Unidades Demonstrativas implantadas em uma área cedida pela comunidade. Os modelos empregados assumiram as características definidas por ALCORN, (1990) que sugere a integração de espécies da vegetação nativa em sistemas agroflorestais indígenas. Com histórico de uso de alguns anos com roças, encontrando-se no início dos trabalhos com capoeira baixa e solo arenoso visivelmente empobrecido, foi realizada nas UD´s amostragem do solo nas camadas 0 - 20 e 20 - 40 cm. As amostras foram levadas para análise química para fins de avaliação da fertilidade do solo, segundo método de análise da EMBRAPA, (1999) para posteriormente ser comparada com nova análise, a fim de se verificar o efeito do manejo com Sistema Agroflorestal sobre o solo. Com o apoio do Grupo de Pesquisas em Abelhas - INPA na capacitação e implantação da criação racional de abelhas sem ferrão, conforme Figura 03, integrando-se ao manejo agroflorestal, ficou evidenciada a possibilidade de diversificação fortalecendo a produção de alimentos agregados a valores sociais e culturais. Os conteúdos teóricos totalizaram 200 horas em

Figura 03 - Aluno em aula: estudo sobre abelhas nativas

cação de espécies florestais e Meliponicultura. Os alunos fizeram quatro viagens de intercâmbio, nas comunidades de Itacoatiara Mirim na zona comunitária indígena de São Gabriel, Uarirambá no Rio Cuiari, Canadá no Rio Ayari e Parintins no baixo Amazonas, totalizando 100 horas de atividades práticas. Foram realizadas duas oficinas de meliponicultura e uma oficina de Diagnóstico e Desenho Agroflorestal - totalizando 100 horas, a fim de capacitar os Jovens Cientistas para a implantação de meliponários e planejamento

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agroflorestal com seleção das espécies de acordo com a finalidade do sistema pretendido. Durante a Oficina de Desenho e Diagnóstico Agroflorestal foi confeccionada uma lista de plantas com base no levantamento de plantas úteis realizado por FERNANDES, (2005), reunindo algumas características principais, tais como ambiente preferencial, altura da planta adulta, diâmetro da copa, formas de usos e ciclo de vida, para facilitar a seleção de plantas que deverão compor cada sistema com base no comportamento e na ecologia das espécies agroflorestais a serem utilizadas, conforme Figura 04. Todos os dados de pesquisa coletados através de diagnósticos, experimentações em campo ou coletas botânicas durante as etapas de formação, conforme Figura 05, estarão sendo disponibilizados à comunidade através de material impresso, sistematizados em forma de Guias para Agentes Agroflorestais Indígenas, além de material em vídeo para uso em outros cursos de capacitação. A conclusão de todas as etapas de formação previstas no projeto totalizou 430 horas, fato que garantiu aos Jovens Cientistas a obtenção de um Certificado de Formação da Escola Agrotécnica,

atualmente Campus São Gabriel da Cachoeira do IFET Amazonas. Está disposto no Decreto nº 5.154/2004, que possibilita a formação inicial e continuada através de cursos de capacitação ofertados segundo itinerários formativos, com o objetivo de desenvolver aptidões para a vida produtiva e social.

CONCLUSÃO Assim, a definição da estratégia metodológica com a inclusão de atividades práticas, avaliação das atividades de forma coletiva e a apresentação dos relatórios ao final de cada atividade, visando à solução de algum “problema” - levaram os alunos a uma compreensão bem maior sobre a temática, com possibilidade de interagir de forma mais autônoma com os novos conhecimentos adquiridos. A realização de estudos experimentais nas Unidades Demonstrativas favoreceu a compreensão sobre sistema agroflorestal, exatamente por permitir a observação das interações que ocorrem, facilitando a apropriação de conhecimentos que levem à compreensão multidisciplinar desta tecnologia socioambiental.

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Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Figura 04 - Alunos conhecem características de plantas

Figura 05 - Dados coletados comporão guia

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Formação de jovens cientistas indígenas na Comunidade Tunuí Cachoeira

Na proposta pedagógica de formação dos Agentes Agroflorestais a formatação de um currículo com base nas necessidades locais e ausência de conteúdos presos a disciplinas específicas de um currículo fechado, fortaleceu a experiência dos alunos possibilitando um aprendizado mais contextualizado. Desta forma, a metodologia se mostra flexível e adaptável a outras situações considerando a diversidade sociocultural da Região Amazônica, uma vez que o conhecimento da realidade local - conforme Figura 06 -, a valorização e incorporação dos diferentes saberes, o diálogo, a problematização e a construção conjunta do conhecimento são as bases que sustentam um processo educacional livre, autêntico e democrático.

FOIRN. Programa Regional de Desenvolvimento Indígena Sustentável. FOIRN. São Gabriel da Cachoeira, 2003. FERNANDES, R.S.; FONTOURA, S.B. Levantamento etnobotânico das espécies frutíferas nativas na comunidade indígena de Tunuí Cachoeira, região do Rio Içana – AM. In Congresso Nacional de Botânica. Curitiba, 2005. Anais. CD-ROM. GAVAZZI, R.A.; VIVAN, J.L.; MONTE,N.L. Implantação de tecnologias de manejo agroflorestal em terras indígenas do Acre. Experiências PDA/Comissão Pró-Indio do Acre/ N.03. Brasília, agosto 2002.76p.

Foto: Divulgação

Figura 06 - Moradores da comunidade Tunuí Cachoeira

BIBLIOGRAFIA ALCORN, J.B. Indigenous agroforestry systems in the Latin América Tropics. In: Altieri, M.A. & Hecht, S.B. (Eds) Agroecology and small farm development. CRC Press, 1990, Inc P 203-220. ALBUQUERQUE, U.P. & LUCENA, R.F.P. Métodos e técnicas na pesquisa etnobotânica. Recife: Editora Livro Rápido/NUPEEA, 2004, 189P. EMBRAPA. Manual de análises químicas de solos, plantas e fertilizantes. EMBRAPA, Brasília, 1999, 370p. T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

Rinaldo Sena Fernandes é mestre em Ciências Agrárias pela Universidade Federal do Amazonas (2003). Atualmente é diretor geral da Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira. Paulo Assis Cavalcante Nascimento é graduado em Agronomia pela Universidade Federal da Bahia (1991) e em Licenciatura Plena em Disciplinas Especializadas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1997). Atualmente é professor titular da Escola Agrotécnica Federal de São Gabriel da Cachoeira.

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reportagem

E

O estágio no contexto profissional cRISTINA MONTE

ntre a escola e o mercado de trabalho há um caminho fundamental para quem quer se qualificar – trata-se do estágio. Essa nova etapa do aprendizado representa a transição e a complementaridade entre a área educacional e o mundo empresarial. O objetivo central do estágio é poder suprir a falta de “experiência” dos alunos dando-lhes a oportunidade de atuar na prática, conhecendo o dia a dia do negócio, minimizando a distância entre o que se aprende nos bancos escolares e o que efetivamente é exigido no mercado de trabalho. Entretanto, mesmo demonstrando tratar-se de uma fase importante para o aperfeiçoamento técnico-profissional, pesquisas mostram dados desanimadores relacionando jovens e o desemprego: deixa-se de qualificar mão de obra para atender às necessidades de desenvolvimento e crescimento do Brasil, em virtude, principalmente, da pouca quantidade de vagas oferecidas no mercado. O que empresas, agentes integradores e o governo estão fazendo no intuito de ampliar as possibilidades para este contingente que – todos

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os anos – parte em busca de uma colocação profissional? Para dificultar, sabe-se que os esforços precisam se sobrepor às tendências mundiais que apontam a elevação nas taxas de desemprego, o que torna a situação ainda mais desafiadora aos jovens.

Educação: primeiro processo de aprendizado Até chegar à condição de estagiário, o primeiro grande desafio do estudante é conseguir um aprendizado de bom nível, o que nem sempre é possível. Em virtude disso, a Educação no país está passando por uma transformação: o governo federal, por meio do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), estabelece programas e diretrizes para uma guinada total na forma de “educar”. A boa notícia se estende ao orçamento da pasta – em 2009 serão 40,5 bilhões de reais para investimentos na área educacional. T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


O estágio no contexto profissional

As propostas para o novo arranjo educacional do governo federal esperam minimizar depois de implantadas - diferenças regionais, desigualdades sociais e, principalmente, contribuir para o desenvolvimento nacional, explorando as potencialidades de cada região do Brasil conforme a cultura e costumes locais. Espera-se que as novas medidas possam reduzir a problemática crônica que existe na Educação, como aponta Maria Rachel Coelho Pereira, que entre outras atividades é doutoranda em Ciência Política e coordenadora do Movimento Educacionista, o qual consiste em colocar a Educação como elemento central da transformação social. “As taxas de evasão e repetência são grandes e não são combatidas. Segundo relatório divulgado recentemente pela UNESCO apenas 53,8% das crianças brasileiras concluem o ensino fundamental, situação que piorou em relação a 1999, quando 61,1% dos jovens concluíram. Temos uma das maiores taxas de repetência do planeta. Repetência maior que a nossa, só nos países africanos. O Brasil cometeu dois equívocos simultaneamente: criou uma indústria da repetência e uma indústria da aprovação automática. Porque não podemos esquecer os que completam o ensino fundamental, mas pouco ou nada aprenderam. É preciso que os alunos ingressem, permaneçam, mas, acima de tudo, aprendam”, diz Rachel.

Estágio regulamentado Para atender ao universo de estagiários foram criadas leis e outros dispositivos legais, de modo que haja uma garantia mínima de condições aos estudantes-trabalhadores, pois, segundo a Associação Brasileira de Estágios (Abres), em setembro de 2008, havia 1,1 milhão de estagiários, sendo que 715 mil cursavam o ensino superior e 385 mil estavam no ensino médio ou técnico. É bom lembrar que estágio não é emprego e, portanto, não é regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho, mais conhecida como CLT. Assim como também não há recebimento de salário e sim de bolsa-auxílo. T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

Primeiramente, o estágio foi regulamentado pela Lei nº 6.494, de sete de dezembro de 1977, no governo de Ernesto Geisel. Em 1994, sob o governo do presidente Itamar Franco, foi criada a Lei nº 8.859, de 23 de março, que alterou o artigo da Lei nº 6.494, estendendo os benefícios do estágio aos alunos de ensino especial. Entre revogações de artigos e medidas provisórias – chegamos no dia 26 de setembro de 2008 – quando passou a vigorar no país a Lei nº 11.788, conhecida como “Lei dos Estágios”. Segundo a Lei, estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. Aqui vale o registro de que o estágio só é obrigatório se constar no Plano Pedagógico dos cursos. A Lei dos Estágios trouxe alterações positivas para os estudantes dos níveis médio, médio técnico e superior. As principais mudanças dizem respeito à redução da carga horária, recesso remunerado de 30 dias - desde que o estágio seja superior a um ano - e aquisição do vale-transporte. Entretanto, mesmo com a concessão dos benefícios, ainda há partes da Lei que – além de provocar certa confusão – gera discordância de opinião. “Em referência aos auxílios, a nova Lei aparenta certa incoerência no tratamento aos estagiários, ou seja, alunos que cumprem estágio curricular obrigatório, não têm, obrigatoriamente, direito a qualquer tipo de remuneração, sendo que, para estágios nãoobrigatórios a bolsa-auxílio e o vale-transporte são compulsórios, conforme o artigo 12”, explica Dirceu Luiz Garcia Orione, responsável pela Coordenação de Estágios do Centro Educacional Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque, conhecido pela sigla CEEF e integrante da Fucapi. Supõe-se que grande parte da queda de vagas deve-se à implantação da Lei, entretanto o que não

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O estágio no contexto profissional

se estabelece é até que ponto a crise econômica contribuiu para essa redução, já que no último trimestre de 2008 e os primeiros meses de 2009 - apontaram elevação na taxa de desemprego. De qualquer forma - segundo a Abres - houve uma redução mensal de 22 mil vagas de estágio. O levantamento da associação mostrou que antes da Lei entrar em vigor eram oferecidos 55 mil postos de estágios por mês e, após a sua aprovação, o número caiu para 33 mil.

Crise ou Lei: Manaus mantém número de vagas No Instituto Euvaldo Lodi (IEL), instalado em Manaus, não houve queda no recrutamento de estagiários. “Até o momento não sentimos nenhum impacto em relação à crise, pois em função do lado social e não-inclusão de encargos sociais, vínculo empregatício e dedução no imposto de renda o programa de estágio é e será bem aceito pela comunidade empresarial”, diz Wilson Colares da Costa, administrador e superintendente do IEL. Para Wilson, o que ocorre é a falta de estudantes para atuar em algumas áreas. “Os números vêm sendo mantidos, entretanto, no que concerne

ao nível técnico, o número de vagas oferecidas não é atendido plenamente, em função da escassez de estudantes, principalmente nos cursos de mecânica, mecatrônica e eletrônica”, comenta o superintendente do IEL. Na unidade do Centro de Integração EscolaEmpresa (CIEE), localizada em Manaus, as vagas estão sendo mantidas. “A crise não afetou o estágio e através de alguns eventos como cafés da manhã e visitas que realizamos nas empresas e organizações públicas, estamos conseguindo manter as oportunidades de estágio”, diz Sérgio Alencar da Silva, gerente regional de formação acadêmica do CIEE.

Estagiários no Brasil No total geral, há aproximadamente 900 mil estagiários atuando no Brasil, sendo que 650 mil cursam o ensino superior, conforme Tabela 01, e 250 mil o médio. Os números abaixo são da Abres e se referem aos estudantes do nível superior. A tabela mostra os índices de estudantes e estagiários por região. Dessa forma, pode-se ter um parâmetro entre número de alunos e de estagiários atuando.

Tabela 01 - Dados do estágio no Brasil por região

No nível superior temos 4.880.381¹ estudantes, destes 650 mil² fazem estágios, 13,3% do total. Os dados indicam que 86,7% dos alunos não conseguem uma oportunidade de estágio. Fontes: 1.Inep/MEC - 2.Abres

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T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


O estágio no contexto profissional

Para facilitar o entendimento sobre a Lei dos Estágios e elevar a contratação de estagiários, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lançou a Cartilha do Estágio, de modo a orientar e eliminar dúvidas referentes ao assunto.

Desemprego na juventude Cada vez mais cedo os jovens precisam atuar profissionalmente: renda familiar baixa e a necessidade de custear os estudos, entre outros problemas, acabam refletindo na busca precoce por uma colocação no mercado de trabalho. Mas, em tempos de crise aguda, a concorrência por uma vaga de emprego ou estágio fica mais acirrada, o que limita a contratação dos adolescentes. Na Tabela 02, elaborada no ano de 2001 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pode-se verificar a relação entre jovens, população ocupada e população residente. Para um montante de jovens entre 10 e 14 anos, um pouco mais de 10% mantinham alguma ocupação, ou seja, estavam trabalhando no período da pesquisa. Já entre os jovens de 15 e 17 anos, cerca de 30% estavam na mesma situação anterior e, entre os jovens de 18 e 19 anos, aproximadamente 50% deles estavam atuando profissionalmente.

trabalho. Um deles diz respeito à faixa etária dos desempregados brasileiros: os jovens entre os 15 e 24 anos somam quase metade das pessoas sem emprego no país, sendo que esse valor representa 3,5 vezes mais do que entre os adultos acima dos 24 anos. Para a realização do trabalho foram pesquisados dez países e embora o fenômeno de desemprego entre os jovens aponte uma tendência global, o Brasil apresentou a taxa mais elevada, ficando com 46,6%. Em seguida, apareceu o México com 40,4%; Argentina, 39,6%; Reino Unido, 38,6%; Suécia, 33,3%; Estados Unidos, 33,2%; Itália, 25,9%; Espanha, 25,6%; França, 22,1%; e Alemanha, 16,3%.

Carreiras e vagas de estágio Conforme informações coletadas no site da Abres, existem no país cerca de 150 mil vagas disponíveis para estágio, sendo que 105 mil são para nível superior e 45 mil para o ensino médio. “Estas vagas são referentes à estimativa do primeiro trimestre de 2009 e serão preenchidas, salvo casos específicos de áreas com escassez de profissionais e alunos matriculados. Em 2008, foram 220 mil vagas preenchidas nesse período

Tabela 02 - População residente e ocupada por grupos de idade - Brasil/2001

Grupos de idade

População ocupada

População residente

10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 19 anos

1 935 269 3 250 541 3 539 355

16 664 591 10 308 707 7 111 846

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de Emprego e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2001.

Em comparação ao ano de 2008, observa-se uma mudança significativa: a pesquisa Juventude e Políticas Sociais no Brasil do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada em maio de 2008, aponta índices desanimadores quando o assunto relaciona-se aos jovens no mercado de T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

e em 2007, foram 200 mil. Este ano, em janeiro, tivemos uma queda grande do número de contratos novos de estagiários e renovação de contratos antigos”, explica Seme Arone Junior, engenheiro eletrônico, especialista em Gerência de Negócios e em Comunicação Organizacional e presidente da

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O estágio no contexto profissional

Abres. O valor das bolsas-auxílio varia conforme o grau de ensino. Uma pesquisa inédita realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), da qual participaram 15 mil estagiários de todo o país, mostra que a média da bolsa-auxílio para o ensino médio é de 429,94 reais e para o ensino superior é de 760,78. Segundo os índices, a bolsa-auxílio pode chegar a 1.900 reais e o menor valor recebido pelos estagiários entrevistados ficou em 428 reais. O estudo também mostrou que a carreira que melhor remunera é a de Engenharia, com 1.469 reais por mês; seguida da Administração Pública, 1.114 reais por mês; na terceira posição ficou o curso de Secretariado-Executivo Trilingue, 1.051 reais mensais. Já no nível médio destacou-se a remuneração de estágios em Mecânica de Precisão, 869 reais mensais. Em segundo lugar ficou o estágio em Construção Civil, 808 reais por mês; em seguida a pesquisa aponta como melhor remuneração o estágio em Edificações, 661 reais mensais.

Instituição de ensino: interface aluno e colocação profissional O CEEF, pertencente à Fucapi, iniciou atividades na área educacional em 1994 e desde então sua principal missão é aprofundar o conhecimento técnico, formando uma base sólida ao estudante, de modo que ele chegue ao mercado de trabalho preparado profissionalmente. Do efetivo de alunos matriculados em 2009 nos cursos técnicos (nível médio) que são: Habilitação Técnica em Informática, Habilitação Técnica em Eletrônica com Ênfase em Digital, Habilitação Técnica em Telecomunicações, Habilitação Técnica em Gestão de Processos Industriais e Habilitação Técnica em Biotecnologia com Ênfase em Cosmetologia - cerca de 50% dos alunos atuam no mercado por meio dos estágios. Desde 2000, o CEEF dispõe da Coordenação de Estágio, a qual é responsável pela captação e colocação dos alunos do ensino profissionalizante no ambiente de trabalho. ”Os contatos são efe-

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tuados de duas formas principais: empresas que nos procuram e outras empresas que nós contatamos por apresentarem potencial para a oferta de vagas. Em ambos os casos, os contratos são individualizados por aluno, através dos Termos de Compromisso de Estágio”, diz Dirceu Orione, responsável pela Coordenação. Conforme legislação e para manter a qualidade do ensino é feito acompanhamento por parte da Coordenação. “Duas vezes por semana, são realizadas visitas nas empresas, onde registramos as condições de trabalho, adequação ao Plano de Atividades Compromissados, desempenho, entre outros”, explica Dirceu. O resultado do esforço é observado quando se efetiva uma contratação. “Comecei a estagiar no quarto período e hoje sou contratada pela Bertolini da Amazônia Comércio e Indústria Ltda. e atuo no setor da Engenharia”, diz Orguelly da Silva Muniz, estudante do curso em Gestão de Processos Industriais do CEEF. Recentemente outro aluno do CEEF iniciou estágio na Ericsson Gestão e Serviços de Telecomunicações (EGS). “Como positivo vejo a escola nos proporcionando oportunidades para começarmos a estagiar em nossas áreas. É a forma onde nós - estudantes - conciliamos a parte teórica com a prática e, assim, podemos tirar todas as dúvidas, por meio de profissionais que nos ensinam como trabalhar corretamente”, explica Gessinei Mady de Oliveira, aluno do curso de Telecomunicações. Já o Instituto de Ensino Superior Fucapi (CESF), que foi criado em 1998, mantém desde 2005 o Núcleo de Integração Escola-Empresa (NIEM), com o mesmo objetivo que é o de inserir os alunos no mercado de trabalho. ”O papel do NIEM é promover a interface entre a instituição de ensino e demais empresas, portanto, o NIEM acaba atuando como um agente de integração: auxiliando os alunos, orientando-os a efetuar o cadastro no sistema do NIEM, onde eles inserem ou atualizam informações pessoais e acadêmicas de modo que recebam oportunidades de estágio via e-mail”, diz

T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


O estágio no contexto profissional

Ivna Perez Braga, coordenadora do Núcleo. No ano de 2008 o NIEM colocou 158 alunos no mercado de trabalho. Cabe lembrar que há alunos que são contratados para trabalhar na própria Fucapi. “É importante destacar que tanto o CESF quanto a mantenedora recrutam alunos para desenvolver atividades de estágio e que parte deles acaba sendo contratada, levando em consideração o desempenho dos mesmos durante o processo”, explica Ivna. Foi o que aconteceu com Rodrigo Carlos Silva e Silva, engenheiro de Comunicações pelo CESF/FUCAPI, especialista em Gestão da Inovação pelo CPGE/FUCAPI e coordenador do curso de Engenharia de Comunicações do CESF/FUCAPI. “Iniciei estágio na Fucapi em 2002 e fui contratado antes de terminar a faculdade em 2004. Na época, atuava como técnico e em seguida como engenheiro de Desenvolvimento”, diz Rodrigo. Para Rodrigo o estágio tornou-se um processo importante para seu amadurecimento profissional. “Durante o estágio pude desenvolver habilidades profissionais que dificilmente são passadas nos bancos escolares e também aprendi a lidar com pessoas, prazos e responsabilidades. O estágio serviu como vitrine para o meu trabalho, possibilitando a minha contratação na empresa”, diz o coordenador do curso.

Os melhores programas de estágio Para as empresas, talvez a grande vantagem do estágio seja poder qualificar mão de obra específica a algumas áreas em que se tem dificuldade de obter no mercado. Além de poder moldar o futuro profissional conforme a cultura organizacional. Por isso, muitas delas mantêm bons programas de estágio. Em 2007, uma pesquisa realizada pela consultoria Great Place to Wok (GPTW) com 100 firmas identificou que - entre as 98% melhores empresas para se trabalhar - 20% mantinham bons programas de estágios, conforme Tabela 03. Para se

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chegar ao resultado do estudo, foram pesquisadas 366 empresas, o que envolveu a participação de 270 mil profissionais. Tabela 03 - As empresas com melhores programas de estágio

Fonte: Great Place to Work

Empresas e contratações de estagiários À primeira vista, apesar de o estágio parecer um recurso de baixo investimento para as empresas, isto não acontece na realidade. “Se pensamos que as empresas estão contratando estagiários para, simplesmente, driblar os encargos trabalhistas, menosprezamos o investimento feito no recrutamento e no treinamento dos estagiários. Segundo pesquisa do CIEE, 67% dos executivos inseridos no mercado de trabalho iniciaram a vida profissional por meio de estágio. Nesse sentido, o estágio se comporta também como uma forma de avaliar o futuro profissional”, diz o professor Abraão Dantas dos Santos Junior, responsável pela Coordenação de Estágios e Carreira do Centro Universitário Adventista de São Paulo e integrante do Grupo de Coordenadores de Estagiários e Trainees (GCET), o qual conta atualmente com 170 empresas instaladas em São Paulo e na região de Campinas, como por exemplo, Alpargatas, Bradesco, Claro, Coca-Cola, Natura, Pão de Açúcar, Sadia, entre outras. O problema mais agravante no momento relacionado ao estágio é o enxugamento que as empresas estão fazendo, reduzindo verbas. “Estágio é

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O estágio no contexto profissional

Educação e demanda supervisão adequada, treinamento específico e jornada de estágio limitada. Em tempo de crise existe uma contenção das despesas com eliminação de reposição de vagas. Novas contratações são proibidas. Verbas de treinamento e seleção são extintas. Estágio como Educação e treinamento também sofrem com a crise”, diz Seme da Abres. Sob esse ponto de vista, o professor Abraão concorda com a opinião do presidente da Abres. “O momento de crise fez com que algumas empresas não abrissem novas vagas. O mercado vive uma fase onde prudência e planejamento são palavraschave”, afirma o entrevistado.

O jovem e a expectativa de um futuro melhor Em um país como o Brasil - marcado por acentuadas diferenças socioeconômicas - muitas vezes o estágio passa a desempenhar um papel que transcende a esfera educacional. “O estágio além de um processo acadêmico-pedagógico de aprendizagem prática tem uma função social no nosso país. A maioria dos estagiários usa a bolsaauxílio para custear seus estudos e muitos deles até ajudam em casa com esse benefício. Num país de tantas carências e desigualdades sociais, onde

mais de 70% dos jovens que ingressam no ensino superior têm que pagar mensalidade em instituições particulares, o estágio se torna imprescindível para sua entrada no mercado de trabalho”, diz o coordenador do GCET. Atualmente, o cenário profissional que desponta logo no início da vida adulta traz consigo uma realidade dura, onde cada vez mais as oportunidades são ceifadas assim como parte dos sonhos juvenis, que vão ficando no passado. Em muitos casos, o baixo nível escolar, a baixa renda econômica e a falta de perspectivas profissionais conduzem grande parte da juventude à desagregação social, levando o jovem ao consumo de bebidas alcoólicas e drogas, aumento nos casos de prostituição e de violência. ”Hoje 18 milhões de jovens entre 15 e 24 anos de idade estão fora da escola, segundo o PNAD/IBGE. Somente 9% dos jovens entre 18 e 24 anos estão no nível superior. A Abres entende que o estágio é a melhor política pública de inserção do jovem no mercado de trabalho, pois o mantém na escola, dá renda e melhora a sua empregabilidade”, diz Seme. Agora é torcer para que o pacote educacional proposto pelo MEC dê certo – assim o tripé Educação, juventude e mercado de trabalho poderá, finalmente, contribuir para o crescimento socioeconômico do país. Composição: Osvaldo Relder

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T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


ARTIGO

A trajetória da Fucapi na educação tecnológica ANTôNIO LUIZ DA SILVA MAUÉS ROSANNA LACOUTH da Silva

RESUMO

Amazonas e embora o modelo não seja bem compreen-

Neste artigo, a trajetória da Fundação Centro de

dido por muitos, especialmente por aqueles que não o

Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (Fucapi) na

estudaram adequadamente, a história de seu desenvol-

área da educação tecnológica é apresentada de forma

vimento até o estágio em que se encontra atualmente é

cronológica a partir da contextualização evolutiva do

muito rica.

Pólo Industrial de Manaus (PIM), considerando os marcos temporais que definiram os diversos cenários que o caracterizam. Essa abordagem evidencia o papel da Fundação no processo de desenvolvimento da região, bem como a sua contribuição para a capacitação de profissionais responsáveis na consolidação e desenvolvimento do PIM.

A TRAJETÓRIA DA FUCAPI NA EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA Até o ano de 1976, predominava nas empresas do PIM a percepção de um processo de reembalagem. Havia pouca agregação de valor aos produtos industrializados, como, de resto, em todo o País. Ainda não havia cultura industrial e as empresas demandavam por profis-

INTRODUÇÃO

sionais sem qualificação técnica elevada. O nível profis-

A partir do final da década de 1960, com a criação

sionalizante dos funcionários era suficiente para atender

da Zona Franca, premissas foram estabelecidas para

às necessidades das indústrias instaladas em Manaus.

a implantação, em Manaus, de um pólo industrial que

Naquela época, a Escola Técnica Federal do Amazonas

abrigasse empresas produtoras de bens contendo alta

(ETFAM) e a antiga Universidade de Tecnologia da

tecnologia agregada em seus produtos. E, nessa época,

Amazônia (UTAM) atendiam - em sua maioria - às neces-

o segmento industrial que mais crescia na região era o

sidades de recursos humanos das primeiras empresas

setor eletroeletrônico.

aqui instaladas.

Hoje, mais de quarenta anos se passaram desde

No período entre 1976 e 1985, o PIM passou por um

que as primeiras indústrias se instalaram na capital do

processo de substituição de importações. O governo

T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

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A trajetória da Fucapi na educação tecnológica

federal passou a exigir das empresas o estabelecimento

postos de trabalho deviam ter visão gerencial e maior

de quotas de importação para seus insumos, dando início

grau de especialização nas áreas de atuação das em-

ao que determinou de Programa de Nacionalização. Esse

presas.

programa demandou o desenvolvimento de fornecedores

As transformações originadas pelas políticas in-

de componentes locais e nacionais, o que passou a exigir

dustriais, no entanto, não tinham como encontrar con-

uma maior qualificação dos recursos humanos necessá-

trapartida imediata na formação de recursos humanos

rios para sua consecução. A graduação em áreas de tec-

qualificados, no mesmo ritmo das necessidades das

nologia tornou-se requisito importante para a contratação

empresas. Iniciou-se, por esse motivo, um processo de

de profissionais pelas empresas do PIM. Tratando-se a

importação de recursos humanos qualificados que, de

nacionalização e, preferencialmente, a regionalização de

certa forma, perdura até os dias de hoje em algumas

insumos uma exigência formal, o conhecimento básico so-

áreas do conhecimento, porém, não na mesma dimen-

bre componentes passou a ser fundamental para a contra-

são da época em análise.

tação, por parte das empresas, de profissionais habilitados

Atenta a essa situação e visando atender às deman-

a realizar pequenas adaptações em produtos. Uma das

das das empresas do PIM, a Fucapi realizou diversas

estratégias para que essas exigências fossem atendidas

ações com impactos a curto, médio e longo prazos.

foi a criação - em 1982 - da Fundação Centro de Análise da

No curto prazo, foram ministrados cursos de curta

Produção Industrial (Fucapi), idealizada pela Federação

duração, abertos e in company, nas áreas de Eletrônica,

das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e pelo

Metrologia e Qualidade Industrial, dentre outras. Para

Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM),

ministrar esses cursos, a Fundação utilizava seus pró-

em conjunto com a Superintendência da Zona Franca de

prios colaboradores e instrutores locais ou oriundos de

Manaus (SUFRAMA) e o Grupo Executivo Interministerial

outras regiões do país, utilizando-se de convênios fir-

de Componentes e Materiais (GEICOM), que tinha como

mados com institutos nacionais e internacionais. Dessa

objetivos apoiar à SUFRAMA nos setores de nacionaliza-

forma, ao longo de sua existência, a Fundação atingiu a

ção da produção, produtividade industrial e incrementos

expressiva marca de mais de 20.000 profissionais trei-

na qualidade e treinamento de pessoal. Salienta-se, ainda,

nados, nas diversas áreas do conhecimento.

a criação, em 1976, do curso de Engenharia Elétrica da

No médio prazo, a Fucapi iniciou, em 1985, um pro-

Fundação Universidade do Amazonas (FUA), atualmente

grama que promoveu a realização de vários cursos de

Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

pós-graduação lato sensu, a partir de acordos de coo-

A primeira metade da década de 1980 marca, ainda,

peração firmados com instituições como a Coordenação

uma crescente expansão no processo de implantação das

dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia

indústrias em Manaus.

(COPPE) e as Universidades Federais da Paraíba, de

No período entre 1985 e 1990, as preocupações dos

Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, para citar al-

governos federal e estadual com relação (i) aos avanços

guns exemplos. Foram promovidos cursos nas áreas de

tecnológicos, especialmente na área de microeletrônica, e

Eletrônica Digital, Engenharia de Produção, Automação

(ii) a dependência de insumos importados e seus impac-

Industrial, Qualidade e Produtividade, Desenvolvimento

tos nas indústrias locais, preponderantemente nos seg-

de Recursos Humanos e Marketing.

mentos de áudio e vídeo, exigiram ações que ampliaram

No longo prazo, a Fundação iniciou, em 1986, um

os programas oficiais denominados de nacionalização e

programa de estímulo à capacitação de seus recursos

regionalização de componentes. Esse processo ensejou

humanos, atualmente denominado de Programa para

a implantação de indústrias regionais de componentes e

a Formação de Especialistas, Mestres e Doutores

maior especialização das empresas do PIM. Esses mo-

(PROEMD). Por meio desse mecanismo, a Fucapi en-

vimentos de política industrial exigiam profissionais mais

caminhou e continua enviando seus colaboradores para

qualificados para atender às demandas das empresas.

participarem de cursos de pós-graduação stricto sensu

Nesse sentido, os profissionais exigidos para os novos

(mestrado e doutorado) em diversas universidades brasi-

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T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


A trajetória da Fucapi na educação tecnológica

leiras e estrangeiras, nas áreas de Eletrônica, Mecânica,

tos adquiridos ao longo de seus 11 anos de existência e

Informática, Engenharia Econômica, Engenharia de

o fato de ter em seu quadro de colaboradores inúmeros

Produção e Administração.

docentes, amadureceu a ideia de que a Fucapi possuía a

Ainda mirando nas estratégias de longo prazo, a

capacitação e a competência necessárias para planejar,

Fucapi uniu-se à Secretaria de Estado da Educação

implantar e administrar um centro de educação tecnoló-

(SEDUC) e com o apoio da SUFRAMA participou,

gica que abrangesse desde o ensino profissionalizante

em 1986, da criação de uma das primeiras escolas

até a pós-graduação. Inovador na maneira de formar

técnicas em informática do País: o Centro de Ensino

profissionais, dinâmico nos currículos dos cursos que

Profissionalizante em Informática (CEPI). Funcionando

promovesse, aberto às mudanças tecnológicas, sociais

inicialmente na própria Fundação, a escola foi transfe-

e de gestão, capaz de motivar os alunos a explorar suas

rida, no ano seguinte, para a gestão do grupo SHARP,

capacidades empreendedoras e apto a compreender a

tendo sido criada a Fundação de Ensino e Pesquisa

revolução em curso na organização dos processos de

Mathias Machline (FEPEMM). A partir dessa iniciativa,

trabalho, no domínio e na utilização da informação e das

que contou, ainda, com o apoio inicial das empresas

técnicas mercadológicas.Com esse intuito, inicialmente,

Dismac e Gradiente, foi possível formar uma geração de

foi criado em 1994, o Centro Educacional Fucapi (CEEF),

profissionais para atuar na área de Informática. O inte-

aproveitando toda a estrutura de recursos humanos, equi-

resse do grupo SHARP no projeto levou à transferência

pamentos e instalações de sua mantenedora, a Fucapi.

da escola para a gestão dessa empresa, mostrando que

O primeiro curso do CEEF foi profissionalizante, inova-

a iniciativa havia sido bem-sucedida. Além disso, forne-

dor e pioneiro no País. O curso de Tecnologias Industriais

ceu à Fucapi uma considerável experiência em gestão

Básicas (TIB), com duração de três anos, abrangeu, de

na área educacional.

forma concatenada e articulada, disciplinas nas áreas

No ano de 1987, a Fucapi assumiu uma nova di-

de Design, Produção Industrial, Marketing, Informação

mensão institucional, que contemplou a implementação

Tecnológica,

Qualidade,

Informática,

Metrologia

e

de políticas de formação e especialização de recursos

Formação de Empreendedores. O principal objetivo do

humanos, a cooperação técnica, a pesquisa e o desen-

curso de TIB era propiciar aos egressos uma visão multi-

volvimento de novas tecnologias. A partir daí, passou a

disciplinar e abrangente dos novos processos produtivos

denominar-se Fundação Centro de Análise, Pesquisa e

e das relações homem-tecnologia-trabalho para o século

Inovação Tecnológica, mantendo, no entanto, sua sigla

XXI, onde, considerando-se a visão daquele período, as

original.

indústrias seriam - como de fato têm se tornado, orga-

Em 1990, a experiência obtida na criação do CEPI

nismos complexos e dinâmicos, em constante mutação,

foi utilizada para auxiliar na implantação do Centro

ajustando-se continuamente na busca da crescente flexi-

Amazonense de Ensino Técnico Lindolfo Collor (CAET),

bilidade na produção.

do qual a Fucapi foi gestora durante dois anos, por for-

O ano de 1996 representa um marco no processo de

ça de convênio estabelecido com a interveniência do

desenvolvimento científico, tecnológico e educacional, da

Ministério da Educação (MEC) e o apoio da SUFRAMA.

região, especialmente de Manaus. Nesse ano a Lei de

Nesse projeto foi realizada a reformulação dos cursos

Informática nº 8.387/91 foi regulamentada pelo Decreto

de Informática Industrial e de Mecânica, adaptados que

Lei nº 1885/96 e passou a exigir das empresas, em tro-

foram às necessidades das empresas do PIM. Concluída

ca de incentivos fiscais, investimentos em projetos de

sua participação no projeto, a Fundação retirou-se do

pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D). Essa lei

processo e a gestão do CAET retornou para a Escola

suscitou a criação de inúmeras instituições de P&D em

Técnica Federal do Amazonas, constituindo-se em uma

Manaus, algumas delas associadas às próprias empresas

Unidade de Ensino Descentralizada (UNED).

investidoras, outras ligadas a instituições públicas e as

A experiência adquirida nos projetos educacionais que participou, o interesse em transferir os conhecimen-

T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

demais a fundações e organismos sem fins lucrativos. A Lei de Informática, embora necessitando de contínuo

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A trajetória da Fucapi na educação tecnológica

aperfeiçoamento, teve o mérito de produzir diversos

competitivas globalmente, com foco na exportação e (ii)

benefícios, dentre os quais a aproximação entre as empresas

a diversificação das atividades econômicas regionais,

do PIM nos segmentos eletroeletrônico e de informática,

aproveitando o potencial da biodiversidade e buscando

e a academia, trazendo em seu bojo a possibilidade de

novas formas de dinamizar a bioeconomia regional.

desenvolvimento de projetos e produtos conjuntos. As

De acordo com Costa (2008, p. 45), “as estratégias

empresas passaram a demandar profissionais de alto

devem ser planejadas a partir de situações que aten-

nível, preferencialmente pós-graduados, com capacidade

dam plenamente tanto ao propósito como ao ambiente

para realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico.

e à capacitação da organização”. Partindo desse pres-

A Lei também incentivou a expansão de cursos de

suposto, no início do novo milênio, as áreas educacio-

graduação e de pós-graduação lato sensu e stricto sensu,

nais da Fucapi entraram em processo de expansão e

em Manaus, principalmente na área tecnológica. Embora

de consolidação planejada. Novos cursos profissiona-

essa expansão tenha sido intensa, o número de vagas

lizantes foram criados, dentro da estratégia traçada.

criado para cursos de graduação não conseguiu atender

Cursos de Eletrônica, Telecomunicações e Informática

plenamente à necessidade das empresas para trabalhar

atendem às demandas do mercado de trabalho na área

na produção. Em algumas áreas como a Informática, por

de Tecnologias da Informação. Considerando o fato de

exemplo, as empresas “concorriam” com as instituições

o PIM ser um pólo constituído de empresas fabricantes

de P&D, demandantes de profissionais para participar

de bens finais, o domínio das técnicas de produção é

dos inúmeros projetos que as indústrias solicitavam. De

fundamental para a produtividade. Nesse particular,

certa forma, até antes da crise global instalada a partir do

as indústrias de Manaus possuem classe mundial.

segundo semestre do ano passado, esse cenário ainda

Aproveitando a experiência institucional acumulada,

era bastante atual.

foi criado o curso profissionalizante em Gestão de

Em 1997, já sob a avaliação do Conselho Federal de

Processos Industriais que visa transferir aos alunos co-

Educação (CFE), a Fucapi obteve a aprovação de seu

nhecimentos necessários para atuarem em processos

primeiro curso de graduação, o de Análise de Sistemas. O

produtivos no chão de fábrica. Considerando a vocação

Instituto de Ensino Superior Fucapi (CESF), ou Faculdade

regional sustentada pela biodiversidade da Amazônia,

da Fucapi, foi estrategicamente concebido para atuar

o curso de Biotecnologia com ênfase em Cosméticos

em áreas onde sua mantenedora possui reconhecida

busca (i) formar profissionais para trabalharem na ainda

competência: Tecnologia, Gestão, Informática e Design.

incipiente indústria local, nesse segmento e (ii) incenti-

Seguindo as diretrizes de atuação da Fundação, o CESF

var os egressos a se tornarem empreendedores.

tornou-se, em 1999, a primeira faculdade do Brasil a al-

Os cursos de graduação da Faculdade da Fucapi

cançar a certificação de seu sistema da qualidade com

têm similaridade com os cursos profissionalizantes e

base nas Normas ISO 9000 (ISO 9001).

coerência com as áreas de atuação do setor de desen-

Na mesma linha de ação, o CEEF tornou-se, no mes-

volvimento tecnológico da mantenedora. Esses cursos

mo ano, a primeira escola a alcançar a certificação de seu

podem ser categorizados pelas áreas de Engenharia

Sistema da Qualidade com base na Norma ISO 9001 e a

(Produção Elétrica, Comunicações, Computação e

5 do Brasil a alcançar certificação ISO, tendo em vista

Ambiental), Informática (Análise de Sistemas e Ciência

que as demais escolas eram certificadas pela Norma ISO

da Computação), Design e Administração, com linhas

9002.

de formação em Inovação, a primeira do País, Negócios

a

A partir do ano 2000, foram aceleradas as discussões

e Serviços.

sobre o processo de desenvolvimento sustentável da

Como pode ser observado, o posicionamento es-

Amazônia. Governos federal e estadual, instituições aca-

tratégico da Fundação na área educacional teve como

dêmicas, empresas e a sociedade em geral passaram a

fator principal a qualidade, uma vez que o crescimento

discutir, de forma mais incisiva, (i) ações voltadas para a

da Fucapi não se deu em termos quantitativos de cur-

consolidação do PIM, no sentido de tornar as empresas

sos, mas no processo de ensino-aprendizagem que

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T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


A trajetória da Fucapi na educação tecnológica

torna os egressos de seus cursos profissionais respei-

(Nepi), que tem por objetivo aprofundar a compreensão

tados em suas áreas de atuação. Vale ressaltar ainda o

do papel desempenhado pela inovação na trajetória de

compromisso da instituição com o aspecto humano da

desenvolvimento da economia local, de modo a estimular

formação profissional de seus alunos na medida em que

a ampliação do uso desse importante conceito na formu-

insere, no contexto acadêmico, discussões e debates

lação de políticas públicas. Cabe ao Nepi a organização

sobre temas relevantes para a formação geral do aluno

da revista T&C Amazônia, que tem como propósito dis-

tais como: ética, cidadania, empreendedorismo e etc.

cutir temas relevantes ao desenvolvimento da Região

Para fortalecer ainda mais as suas atividades edu-

Amazônica.

cacionais, a Fucapi conta com a parceria, por meio de convênios, (i) com importantes empresas multinacionais instaladas no PIM, que oferecem estágios e bolsas de estudos a alunos selecionados para participarem de diversos projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e, também, (ii) com instituições de ensino superior norte-americanas, que permitem o intercâmbio de alunos entre os dois países, propiciando a esses discentes uma visão globalizada dos problemas socioculturais e empresariais dos diversos países representados por essas empresas e instituições. Greenspan (2008) ao analisar o cenário norte-americano enfatiza que à medida que a globalização aumentava o ágio sobre o salário dos trabalhadores qualificados, a inovação tecnológica também impunha seu preço aos trabalhadores não-qualificados, uma vez que as tarefas repetitivas foram sendo substituídas pela tecnologia em forma de programas de com-

CONCLUSÃO Em sua missão, a Fucapi afirma que “seu compromisso primeiro é com o desenvolvimento sustentável da região. Sua contribuição potencial configura-se, de modo particular, através das dimensões tecnológica e educacional desse desenvolvimento”. Em um olhar para o futuro, a Fundação acredita que o desenvolvimento da Amazônia deve ser realizado a partir da busca de necessário conhecimento para desenvolvê-la sem degradá-la, desenvolvê-la com sustentabilidade. Existem diversas propostas para o futuro da região. Todas, no entanto, devem passar pela pesquisa para o seu conhecimento. Este é o desafio. Formar profissionais e cidadãos para essas finalidades deve ser uma ação de todos que têm compromisso com a Amazônia.

putador e pela robótica. Portanto, os convênios firmados pela Fucapi contribuem para consolidar e aprimorar a produção de conhecimento na instituição, qualificando os seus egressos para vencerem o desafio da inovação tecnológica. Além disso, a instituição tem incentivado e desenvolvido a criação de Núcleos de Pesquisa. Chiavenato e Sapiro (2004) enfatizam que no século XXI, o conhecimento (informação, inteligência e competência) será o recurso mais valorizado da organização. Nessa direção, dois núcleos já foram criados e estão em plena atividade: 1. O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Computação (NEPComp), que tem por objetivo fortalecer a capacidade institucional de investigação e tratamento de questões relacionadas à computação. A iniciativa busca o envolvimento de pesquisadores, alunos e professores em projetos e pesquisas da área, além de estimular a cooperação técnico-científica com as demais instituições; 2. O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Inovação

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BIBLIOGRAFIA Brasil. Decreto-Lei nº 1885, de 26 de abril de 1996. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/45428/decreto -1885-96. Acesso em: 30 mar. 2009.

CHIAVENATO, Idalberto.; SAPIRO, Arão. Planejamento Estratégico. Rio de Janeiros: Elsevier, 2004. COSTA, Eliezer Arantes da. Gestão Estratégica: da empresa que temos para a empresa que queremos. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 2008. GREENSPAN, Alan. A Era da Turbulência: aventuras em um novo mundo. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. Antônio Luiz da Silva Maués é mestre em Engenharia de Produção e diretor do Instituto de Ensino Superior Fucapi. Rosanna Lacouth da Silva é pedagoga e diretora do Centro Educacional Fucapi Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque.

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aRTIGO

Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas José Carlos Nunes de Mello

RESUMO O presente artigo pretende apresentar algumas contribuições para a formação de recursos humanos que favoreçam a evolução tecnológica e a inovação em empresas e instituições de pesquisa, localizadas na região industrial de Manaus, a partir dos desafios impostos pela evolução de CT&I, analisando o papel da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT).

INTRODUÇÃO Na medida em que cresce a economia do País, aumenta a demanda por novos conhecimentos e novas tecnologias em todos os setores que possam sustentar e ampliar este desenvolvimento. A capacidade de acompanhar os constantes avanços tecnológicos e de promover a transformação de conhecimento em riqueza representa grandes desafios estratégicos para o Brasil e especificamente, para o Estado do Amazonas. Esses desafios influenciam diretamente na formação de pesquisadores, professores e trabalhadores, exigindo ca-

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pacitação constante e ações perenes de combate ao analfabetismo tecnológico, presente em grande parte da população. No Amazonas, notoriamente, apesar de todos os esforços e políticas aplicadas para manter a competitividade de seus produtos e serviços, ainda há uma carência de recursos humanos para atuar em ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico, em áreas consideradas estratégicas para a região como Petróleo/Gás, Eletroeletrônica, Energias Renováveis, Mineração, Logística, Biotecnologia, Bioindústria, Microeletrônica, Informática e Agronegócio. Este entrave constitui um gargalo à expansão do sistema de CT&I e de inserção de mão de obra qualificada nos programas de P&D de instituições públicas ou privadas ou indústrias/ empresas para firmar o ciclo que vai da produção científica à inovação, possibilitando sua apropriação econômica e social, caminho para geração de empregos e renda. Hoje, o grande desafio é produzir novos bens e serviços com valor agregado, aliado ao conhecimento e, para tanto, a Ciência, tecnologia, Educação T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas

e inovação são indispensáveis ao fortalecimento de parcerias estratégicas entre as instituições de pesquisa, de Educação Profissional e Tecnológica, universidades com segmentos produtivos e a sociedade. Essa articulação tem sido objeto das ações conjuntas do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) e do Governo Estadual do Amazonas com seus órgãos de fomento. Eles procuram expandir investimentos através da criação dos fundos setoriais, buscando a valorização e a melhor gestão das atividades de CT&I, integrada aos programas prioritários do desenvolvimento no Estado, fomento à participação em redes de pesquisa nacionais, temáticas, na Rede Amazonas de Tecnologia e REPAM, cooperação Internacional com países vizinhos e proficientes em CT&I, formulação, gestão de projetos de inclusão digital com vistas à interiorização de núcleos de C&T em todos os municípios amazonenses e principalmente melhoria da renda da população pela geração de postos de trabalho e de oportunidades que devem ser ocupadas por cidadãos trabalhadores tecnologicamente e criticamente mais capacitados e preparados, seja no meio rural, industrial ou comercial. Neste contexto, entendemos que a Educação Profissional e Tecnológica será uma grande aliada ao atendimento destas demandas crescentes, por capacitação tecnológica, difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos e de suporte aos arranjos produtivos locais, em todos os níveis e modalidades de ensino, da qualificação ao doutoramento.

O SETOR PRODUTIVO E AS DEMANDAS POR INOVAÇÃO A Ciência, a tecnologia e a inovação são, no cenário mundial contemporâneo, instrumentos fundamentais para o desenvolvimento, o crescimento econômico, a geração de emprego e renda e a democratização de oportunidades. O trabalho de técnicos, cientistas, pesquisadores e acadêmicos e o engajamento das empresas são fatores determinantes para a consolidação de um modelo de desenvolvimento sustentável, capaz de atender às justas demandas sociais dos brasileiros e ao T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

permanente fortalecimento da soberania nacional. Essa é uma questão de Estado, que ultrapassa os governos (PAC da Ciência e Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Nacional, 2007). A relação da Educação com esses instrumentos é contextualizar e interagir de forma ampla com os mesmos, para a formação e preparação de cidadãos críticos, desde o ensino formal até a pósgraduação, para atuarem no mundo do trabalho e para a sociedade, dentro de uma prática educativa, capaz de criar e adaptar soluções técnicas e tecnológicas com hábitos e atitudes condizentes às exigências promovidas pelo desenvolvimento tecnológico. O conhecimento é utilizado a serviço da humanidade, para gerar bens, processos e serviços que atendam às necessidades do homem. A Educação, Ciência e tecnologia relacionamse sinergicamente para o domínio do saber pensar, saber aprender, saber fazer, fazer e porque fazer, especialmente em projetos mobilizadores que utilizem CT&I como ferramenta para o desenvolvimento regional. Com a inovação pretende-se desenvolver e difundir soluções e modificações tecnológicas voltadas à melhoria da competitividade dos produtos e processos das empresas e das condições de inserção da economia brasileira no mercado internacional. Assim, o grande desafio é criar as condições necessárias para que prioritariamente a população, seja no local de trabalho, no estabelecimento de ensino ou à distância - planeje e realize sua formação profissional; tenha a oportunidade contínua de capacitação, de formação e inclusão tecnológica; e tenha acesso ao conhecimento científico e tecnológico para o engajamento no mundo do trabalho. Por outro lado, é vital o apoio governamental e empresarial para a expansão e melhoria da infraestrutura de pesquisa, formação de massa crítica voltada para CT&I e professores para a Educação Científica e Tecnológica. Essas ações devem ser estimuladas na busca de investigações e soluções dentro de um espírito de contribuição e transformação de produtos que representem inovação e competitividade, buscando sua articulação com as prioridades econômicas, sociais e regionais.

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Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas

Cabe destacar as contribuições de qualidade e valor social das instituições públicas e privadas de Ensino e Pesquisa do Estado do Amazonas que, articuladas às políticas públicas, interagem diretamente com o setor produtivo e a sociedade, por meio de ações como capacitação profissional e tecnológica da população, prestação de serviços tecnológicos, concessão de bolsas via projetos de P&D, empreendedorismo, escritórios modelo, incubadoras de empresas, ofertas de estágio, visitas técnicas, eventos científico-tecnológicos, pesquisa aplicada, participação em conselhos deliberativos das instituições de ensino e na constituição de redes e pólos de tecnologia e inovação. Pretende-se para o futuro o aprimoramento e incremento dessas ações, principalmente no ensino tecnológico, nas tecnologias e nas formas organizacionais decorrentes do gerenciamento das inovações tecnológicas. Para acompanhar esses avanços, o domínio da informação é a chave para o conhecimento, sendo necessária a oferta de programas contínuos de capacitação tecnológica, voltados para as suas necessidades práticas, de acordo com a capacidade de absorver informação e com o conhecimento técnico-científico de cada um. Quanto mais produtos e processos inovadores mais necessidade de capacitação.

O ENTENDIMENTO DA EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA NO ÂMBITO DE CT&I Alguns conceitos para capacitação tecnológica: Pode-se conceituar capacitação tecnológica como um conjunto de aspectos do processo educacional que envolve, adicionalmente à educação geral, o estudo de tecnologias e ciências afins, além da aquisição de habilidades práticas, atitudes, percepções e conhecimentos relacionados a ocupações em vários setores da vida econômica e social (UNESCO, 2003). Como significando a disponibilidade de recursos humanos qualificados, com alto grau de acumulação de conhecimentos científicos e tecnológicos e dispondo da organização e infraestrutura necessárias ao desenvolvi-

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mento desses conhecimentos e a sua aplicação em benefício da Sociedade (SYLLUS, 2006). Ou, ainda, como um “conjunto composto pela tecnologia, habilidades individuais e capacidades organizacionais”, ou como “o conjunto de conhecimento codificado – explícito em normas, procedimentos e manuais – e de conhecimento tácito (implícito nas rotinas da empresa e na sua experiência acumulada) que uma empresa domina”. (HASENCLEVER & CASSIOLATO, 1998). Pode-se dizer também que a capacitação tecnológica tem adquirido grande importância no contexto atual. Nos casos de sucesso, esses programas se inserem sob um contexto mais amplo de investimento continuado em Educação. Diversos países realizaram grandes saltos de desenvolvimento econômico e social após investimentos em educação tecnológica, num cenário maior de necessidade de se aumentar a transferência de tecnologia, a geração de conhecimento e de inovação, através da capacitação. Essa orientação é prioritária para atender à crescente demanda de formação da população desde a educação básica até a pós-graduação, para acesso e competitividade no mercado. Para cada demanda há um conjunto de habilidades e competências gerenciais, intelectuais, comunicativas, comportamentais, culturais, organizacionais e analíticas a serem trabalhadas e formadas, desde a produção até a pesquisa tecnológica. Nesse processo, citamos algumas palavras-chave que devem balizar a capacitação tecnológica na formação dos recursos humanos pelas organizações educacionais (universidades, centros de pesquisas, sistemas de formação, fundações, escolas e institutos) ofertadas de forma sistemática e continuadas para a formação da autonomia intelectual e estímulo à criatividade dos alunos, pela aplicação do conhecimento científico e tecnológico:  Interação teoria e prática: é necessário que se conheçam os fundamentos (teoria), mas que se desenvolva as habilidades necessárias à transformação desses fundamentos em ações do dia a dia, através da prática, desenvolvendo apti-

T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas

dões.  Pesquisa e investigação: a necessidade de gerar conhecimentos a partir de uma prática interativa com a realidade, visando acompanhar o acelerado ritmo das descobertas e avanços do mundo científico e inovações tecnológicas que colocam à disposição dos setores produtivos novos materiais, sistemas informatizados de produção e novos processos e técnicas de gestão.  Currículo contextualizado, flexível e atual: conteúdos programáticos sintonizados com o mundo do trabalho, podendo ser atualizados rapidamente e que permitam ao aluno planejar sua formação.  Senso crítico: aprimoramento da intelectualidade. O aluno começa a ser reflexivo passando a analisar o emprego de tecnologias na sociedade, analisar e resolver problemas de maneira coesa.  Ética: é fundamental no respeito de limites. Sempre haverá necessidade de rever valores e nos posicionar diante dos avanços científicos e tecnológicos.  Empreendedorismo: estímulo à criatividade e trabalho coletivo através do desenvolvimento da capacidade intelectual para iniciativa, investigação, solução de problemas e tomada de decisões. Dessa forma, para se viabilizar um processo de capacitação e desenvolvimento tecnológico é necessário utilizar recursos e mecanismos de articulação existentes entre o setor produtivo e a sociedade, visando à efetiva articulação da CT&I, utilização de tecnologias inovadoras de capacitação como ensino a distância, internet e simuladores. Nesse quadro é importante destacar o papel do governo nas ações que regulamentam e estabelecem o sistema de normas, propriedade, metrologia e a certificação das equipes técnicas, dos equipamentos e das instalações a serem utilizadas em pesquisa e treinamento; promoção, incentivo e financiamento das atividades de CT&I; além da criação de órgãos e instrumentos legais para viabilizar essas ações. Neste contexto, os recém criados Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e a ex-

T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

pansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica surgem como novas entidades educacionais que certamente contribuirão para a diversificação das atividades de pesquisa, inovação, formação verticalizada em todos os níveis de ensino, ampliando sua atuação para atender às novas configurações do mundo do trabalho.

A REDE FEDERAL DE EPT E SUA CONFIGURAÇÃO NO AMAZONAS A atual Rede de Educação Profissional e Tecnológica, atualmente vinculada à Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) do Ministério da Educação tem sua origem no ano de 1909, quando o Presidente Nilo Peçanha criou as Escolas de Aprendizes e Artífices, que após diversas transformações de identidade e alterações de nomenclatura são denominadas atualmente de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, por força da Lei Federal n° 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Até 2010, o plano de expansão do Governo Federal terá aumentado em cerca de 150% o número de unidades de ensino existentes, atingindo todas as capitais e as principais cidades do interior brasileiro. Na Região Amazônica será ampliada para os Estados do Acre, Rondônia e Amapá. No Amazonas, o Instituto Federal foi formado pela integração das Escolas Agrotécnicas Federais de São Gabriel da Cachoeira e de Manaus com as unidades instaladas no Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas: Centro, Manaus e Coari e as que serão instaladas nas cidades de Presidente Figueiredo, Maués, Tabatinga, Lábrea e Parintins. Com uma estrutura multicampi e proposta orçamentária anual identificada para cada campus, o instituto será dirigido por um reitor e haverá autonomia, nos limites legais e da área territorial, para criar e extinguir cursos e registro dos diplomas de conclusão de cursos. A Rede Federal de EPT deverá ganhar nova dinâmica e função social, sobretudo no que se refere

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Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas

à oferta pública e gratuita de formação verticalizada de cursos técnicos articulados com o Ensino Médio, de formação continuada, na formação de professores nas áreas das ciências exatas e da natureza e Educação Profissional, de cursos de engenharias e superiores de tecnologia e a implantação de programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado). Nos institutos serão estimulados a pesquisa aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo e o cooperativismo, tendo em vista apoiar processos educativos que contribuam para a geração de trabalho e renda, em sintonia com os arranjos produtivos econômicos, sociais e culturais locais. Nas sociedades modernas a institucionalização das áreas de pesquisa científica, tecnológica e de inovação fortalece o campo de atuação do estado como agente de indução e mediação junto ao setor produtivo. Certamente os institutos apresentarão contribuições significativas para a educação brasileira, tanto básica como superior, uma vez que a pesquisa perpassa em todos os níveis educacionais com vistas à construção da unidade ensino-pesquisa-aprendizagem. Articuladas com essas atividades surgem, naturalmente, as ações de extensão garantindo a qualidade e legitimidade do trabalho acadêmico, a liberdade intelectual e a produção e divulgação de resultados, favorecendo a constituição de parcerias e acordos de intercâmbios com entidades, empresas e centros de excelência do país e do exterior, favorecendo a transferência de tecnologias sociais e a aplicação dos programas inclusivos do Governo Federal. Este novo ente educacional formado com experiência centenária de serviços prestados à região e à nação, certamente será um grande aliado às demais organizações formativas para composição de um sistema regional para formação e capacitação de professores, pesquisadores, técnicos e demais trabalhadores para CT&I no Estado do Amazonas, além da difusão de conhecimentos científicos e suporte aos arranjos produtivos locais.

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AS PROPOSTAS PARA O ÊXITO Citamos e sistematizamos dez propostas que possam contribuir para a capacitação tecnológica no Estado do Amazonas, a serem executadas continuamente pelo setor produtivo, organizações governamentais e instituições de ensino: 1. Promoção da cultura de inovação, favorecendo uma formação apropriada em todos os níveis de ensino. 2. Introduzir nos currículos nas instituições de ensino profissional os conceitos e técnicas de inovação. Ofertar cursos de formação continuada e pós-graduação em inovação. 3. Popularizar a Ciência e a tecnologia. 4. Ampliar e democratizar os recursos para programas de desenvolvimento e inovação. 5. Garantir o acesso a dados científicos e tecnológicos. 6. Formação de um comitê gestor interinstitucional local de capacitação para CT&I. 7. Promoção de maior articulação entre o setor produtivo e as instituições locais de ensino e pesquisa. 8. Ampliar os programas de incubação tecnológica. 9. Promoção de eventos gratuitos de inovação com participação de especialistas nacionais e internacionais. 10. Investir em capacitação de tecnologias emergentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A demanda por capacitação de recursos humanos em CT&I é crescente e acompanha a contínua evolução das tecnologias dos processos produtivos do Estado do Amazonas, em diversas áreas. A capacitação de recursos humanos é uma tarefa de primordial importância e um constante desafio a ser superado principalmente para significativa parcela da população brasileira que necessita de conhecimento e inserção social. O papel da capacitação em Ciência, tecnologia e inovação é indispensável quando se trata do desafio de produzir valor agregado e melhorar a T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Contexto, desafios e possibilidades da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (EPT) no Estado do Amazonas

competitividade e produtividade na produção de bens e serviços. Relevante é o papel social aplicado na diminuição do número de analfabetos funcionais e tecnológicos nas pequenas empresas. Devem ser desenvolvidas capacitações que trabalhem empregabilidade e empreendedorismo. Nesse cenário, destacamos que a atuação das instituições locais de ensino e pesquisa deve ser ampliada com a aplicação de ações que possam reforçar a formação de trabalhadores e o desenvolvimento tecnológico do Estado do Amazonas, com especial destaque para a formação de professores e pesquisadores. Essas ações serão reforçadas com a implantação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas - integrante da Rede Federal de Educação Tecnológica e Profissional, que certamente dará uma grande contribuição à comunidade científico-tecnológica para implementação das atividades de capacitação e formação em CT&I.

BIBLIOGRAFIA ANDRADE-BORGES, J. E. Treinamento, desenvolvimento e educação em organização e trabalho: fundamentos para a gestão de pessoas, Porto Alegre: Artmed, 2006.

OLIVEIRA, J. B. A. Tornando sua empresa inteligente. Rio de Janeiro, SENAI/DN/ DT, 1995. PACHECO, E. Os Institutos Federais – uma revolução na Educação Profissional e Tecnológica. Disponível em http://portal.mec.gov.br/setec/arq u i v o s / p d f / i n s t i _ e v o l u c a o . p df , março /2009. ROCHA NETO, I. Gestão estratégica de conhecimentos & competências: administrando incertezas e inovações, Brasília: ABIPTI, UCB/Universa, 2003. SYLLUS, C. Capacitação Científica e Tecnológica. Disponível em www.esg.br/Dactec/ leitura/capacitacao.html., fev/2009. VALENTE, A; MAZZONE, J; BARANAUSKAS, M, C.(orgs). Aprendizagem na era das tecnologias digitais, São Paulo: Cortez: FAPESP, 2007.

José Carlos Nunes de Mello é licenciado em Formação Profissional pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mestre em Educação Superior pela Universidad de Matanzas/ Cuba e atualmente exerce a função de reitor Pro-tempore do Instituto Federal do Acre.

BOOG, G. G; BOOG. M.T (coords). Manual de treinamento e desenvolvimento: gestão e estratégias, São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. DAHAB, S, S. Competitividade e Capacitação Tecnológica para pequena e média empresa, Salvador, BA: Casa da Qualidade, 1995. MARTINS, G. M. Universidade federativa, autônoma e comunitária, Brasília: AThalaia Editora 2008. MEC. Concepção e Diretrizes. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Brasília, jun, 2008. T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

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Estruturas de mercado do Pólo Industrial de Manaus: educação e inovação profissionalizante Ana Maria Oliveira de Souza Elane Conceição de Oliveira

RESUMO O artigo em pauta preocupa-se em realizar uma análise dentro das características das estruturas de mercado, sob a ótica de concentração, utilizando em parte, o estudo de mercado encomendado pela Fundação Nokia de Ensino (FNE), no ano de 2008, o qual se voltou para o diagnóstico, análise e compreensão da mão de obra técnica empregada no Pólo Industrial de Manaus (PIM). Para tanto, utilizando-se da pesquisa da FNE, este trabalho procura interceptar as principais variáveis identificadas sobre o comportamento da mão de obra técnica empregada no PIM com as respectivas estruturas de mercados diagnosticadas em harmonia com a comprovação da teoria da polarização técnica.

ESTRUTURAS DE MERCADO DO PIM: UMA VISÃO SOB A ÓTICA DA CONCENTRAÇÃO O PIM representa um grande laboratório para estudo e aplicabilidade das teorias de comportamento das estruturas de mercado, pela ótica dos

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fatores de produção. São mais de 500 empresas classificadas em dezenove subsetores de atividades, nos quais estão contidos nove pólos industriais específicos. A aglomeração desses pólos industriais na cidade de Manaus configura, no âmbito das teorias de desenvolvimento regional, o que se pode denominar de pólos de crescimento, em face da forte presença de indústrias motrizes. Estas, conforme Souza (2005) atraem empresas satélites, fornecedoras de insumos ou utilizadores dos produtos das primeiras como insumos, desencadeando o crescimento local e regional. Além do mais, entre as características das indústrias motrizes apontadas por Souza (2005), três delas permitem diagnosticar literalmente as principais estruturas de mercado de bens e serviços e de fatores de produção do PIM em uma visão holística, quais sejam: (a) possui grande poder de mercado, influenciando os preços dos produtos e dos insumos e, portanto, a taxa de crescimento das atividades satélites a elas ligadas; (b) apresentase como uma atividade inovadora, geralmente de T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Estruturas de mercado do Pólo Industrial de Manaus: educação e inovação profissionalizante

grande dimensão e de estrutura oligopolista; e (c) possui inúmeras ligações locais de insumo-produto, através da compra e venda de insumos. A primeira característica não chega a ser um mercado monopolista, apesar de alguns pólos concentrarem grande parte da produção e, por conseguinte, deter poder de mercado, como é o caso da produção de celulares, mas sim é um mercado monopolisticamente competitivo. Neste, segundo Pindyck (et. al. 2006), as empresas competem vendendo produtos diferenciados, altamente substituíveis uns pelos outros, mas que não são substitutivos perfeitos, além de haver livre entrada e livre saída de empresas nesse tipo de mercado. Quanto à segunda característica, nos mercados oligopolistas, os produtos podem ou não ser diferenciados. O importante é que apenas algumas empresas são responsáveis pela maior parte ou por toda a produção, revela ainda Pindyck. O pólo de duas rodas do PIM constitui um grande modelo deste tipo de mercado. O mercado de motocicletas do País é abastecido pelas indústrias de Manaus, principalmente pela Moto Honda da Amazônia Ltda. e Yamaha Motor da Amazônia Ltda. Outra e última característica são as ligações industriais locais de insumo-produto. A aquisição de insumos do PIM provenientes do mercado regional, em 2007, representou quase 30% da aquisição total de insumos, e, em 2008 (dados até novembro),

este percentual já alcançava praticamente 27%. Em alguns casos a produção de algumas empresas de componentes abastece apenas um determinado segmento industrial ou, se não, apenas uma empresa. O que pode ser considerado razoavelmente como um monopólio bilateral. E, no que tange ao comportamento das estruturas de mercado desses pólos, sabe-se que estas estruturas são determinadas pela conduta mercadológica de atuação dessas empresas - em que, de um lado, está a quantidade de empresas e, de outro, o tipo de bem (intermediário ou final) e o faturamento delas. A partir de uma análise dessas variáveis foi possível avaliar o grau de concentração¹ dos pólos estudados e mensurar a estrutura de mercado de cada um deles. A predominância de mercado foi mensurada por dois instrumentos: (a) Grau de Concentração e (b) Índice de HirschmanHerfindahl (IHH)². a) Grau de Concentração – GC³: b) Índice de Hirschman-Herfindahl – IHH4:

GCn =

[

Fat ( n ) Fat ( n ) IHH

[

si2

¹ O grau de concentração de uma indústria, qualquer que seja o indicador utilizado para medi-lo, constitui um dos principais indicadores de sua estrutura de mercado. Então, quanto maior for o índice de concentração maior a possibilidade de se encontrar estruturas oligopolistas; e quanto menor, maior o grau de concorrência entre as firmas (Leite & Santana, 1996). ² O Índice de Hirschman-Herfindahl, consiste do somatório dos quadrados dos valores referentes ao marketshare de cada empresa. O valor máximo para o Índice de Hirschman-Herfindahl é a unidade, correspondente a um mercado formado por uma única empresa (um monopólio). Em estruturas muito pulverizadas, a medida se aproxima de zero (KUPFER, 2001). Logo, este índice pode ser interpretado como a soma dos quadrados das parcelas de mercado representadas pelas indústrias que atuam neste mercado. ³ A variável escolhida para calcular o GC foi o faturamento, sendo que: GCn equivale ao grau de concentração de cada empresa; Fat é o faturamento; n é o número de empresas do setor de atividade. Se GC ≡ 100% o segmento é altamente concentrado (monopólio); se GC ≡ 0% o segmento é de baixa concentração (maior grau de concorrência); se GC < 40% o mercado é concorrencial (competitivo); se GC > 60% o setor é mais concentrado. 4 A variável utilizada para calcular o IHH foi o faturamento, sendo que si é a participação de cada segmento no faturamento em termos percentuais ao quadrado. De acordo com KUPFER (2002), elevar cada parcela de mercado ao quadrado implica atribuir um peso maior às empresas relativamente maiores. Assim, quanto maior for HH, mais elevada será a concentração e, portanto, menor a concorrência entre os produtores. O Índice HH varia entre 1/n e 1. O limite superior do índice está associado ao caso extremo de monopólio no qual uma única empresa opera no mercado. O limite inferior decorre de que HH é uma função convexa definida no simplex. Assim, o índice assume o valor mínimo HH = 1/n, isto é, quando todas as empresas têm o mesmo tamanho (si=1/n). Temos então 1/n ≤ HH ≤ 1.

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Estruturas de mercado do Pólo Industrial de Manaus: educação e inovação profissionalizante

Dentro do ambiente avaliado o único segmento com menor grau de concentração é o pólo de componentes dos produtos eletroeletrônicos com 38,61%, identificando-se como um mercado de concorrência monopolística. O restante dos pólos é considerado mercado oligopolista, com exceção do pólo termoplástico e mecânico, que consideramos como um mercado em transição, ou seja, entre a concorrência monopolística e o oligopólio (Tabela 01).

identificadas sobre o comportamento da mão de obra técnica empregada no PIM com as respectivas estruturas de mercados diagnosticadas no item 1, até porque as indústrias sediadas na Zona Franca de Manaus (ZFM) funcionam como catalisadores de mão de obra profissionalizante, portanto, comprovando a teoria da polarização técnica mencionada anteriormente. A mão de obra do PIM é constituída entre 8288% de mão de obra permanente, com exceção do

Tabela 01 – Grau de Concentração – por pólo/setor estudado

Fonte: próprias autoras

EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE E AS ESTRUTURAS DE MERCADO DO PIM A FNE, com o fim de direcionar a política de ensino da Instituição de forma estratégica e sustentável para o ano de 2009, procurou diagnosticar, analisar e compreender a dinâmica da mão de obra técnica empregada no PIM através de uma pesquisa de cenário de mercado. Para tanto, no âmbito da pesquisa da FNE, este artigo procurou interceptar as principais variáveis

pólo de bebidas. Dessa mão de obra permanente, entre 90-96% não possuem formação técnica, com exceção do pólo de papel e celulose (Quadro 01). Os pólos com maior presença de formação técnica profissionalizante são os de papel e celulose (20%), químicos e farmacêuticos (10%), metalúrgico (10%), sendo que todos possuem características de estruturas de mercado oligopolistas, com alto grau de concentração (superior a 60%) produtiva entre as quatro maiores indústrias de seus

Quadro 01: Perfil da mão de obra técnica do PIM Fonte: adaptação a partir da pesquisa de mercado da Action Pesquisas de Mercado

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respectivos segmentos. Isto nos permite afirmar, a priori, que estes pólos com estruturas de mercado oligopolistas são os que mais demandam mão de obra especializada. Naquilo que diz respeito ao porte de mercado, o pólo de componentes, caracterizado como concorrência monopolística, é o mais expressivo pela quantidade de empresas de médio porte (mão de obra varia entre 100 e 500 funcionários) e grande porte (acima de 500 funcionários). Esse pólo detém uma baixa concentração no mercado, ou seja, as empresas competem vendendo produtos diferenciados, altamente substituíveis uns pelos outros, mas que não são substitutivos perfeitos. No campo da polarização técnica, mais de 30 tipos de cargos técnicos foram identificados, dos quais apenas cinco são os mais demandados pela indústria de transformação do PIM: técnico em Segurança de Trabalho, técnico em Mecânica, técnico em Eletroeletrônica, técnico em Processo Produtivo e técnico em Manutenção. Observando-se essa identificação dos pólos com os cargos técnicos demandados, verificase que o pólo de componentes e mecânico, com menores graus de concentração, demanda cargos técnicos em Eletrônica, Segurança do Trabalho e Mecânica, inclusive em maior proporção que o pólo de bebidas, caracterizado como oligopolista de altíssima concentração de mercado. No que tange às políticas empresariais que es-

timulam o ingresso de mão de obra à realização de cursos técnicos, a maior parte das empresas pesquisadas possui pouquíssimas ações nesse sentido, com exceção do pólo de papel e celulose (Quadro 02). Além do mais, na estrutura de mercado de concorrência monopolista, verificou-se que 43% das empresas não possuem ações e/ou políticas que venham a estimular o ingresso de funcionários em cursos técnicos. Fator mais preocupante ainda quando se observa o pólo de bebidas. Considerado um oligopólio com alta concentração para o monopólio, o mercado de bebidas destaca-se por não possuir políticas de incentivos de capacitação, quando 71% das empresas pesquisadas responderam que não tinham nenhuma ação nesse sentido. Em segundo lugar - com a mesma característica - vem o pólo químico/farmacêutico com 67% das empresas pesquisadas sem nenhuma ação, indicador este preocupante para um mercado oligopólio de alta relevância para a região. Os pólos de papel e celulose e metalúrgico são os únicos que possuem razoáveis políticas profissionalizantes voltadas para a mão de obra. Verificou-se ainda que os oligopólios preferem a contratação de profissionais técnicos com formação e evitam desenvolver políticas de capacitação, treinamento e qualificação. Com exceção do pólo químico/farmacêutico que

Quadro 02: Políticas de incentivo em curso técnico e preferências de contratação no PIM Fonte: adaptação a partir da pesquisa de mercado da Action Pesquisas de Mercado Nota 1: A=não possui; B=bolsa de estudos; C=financiamentos; D=convênios com instituições de ensino; E=outros; F=não informou; G=prefere pessoas c/formação técnica; H=prefere desenvolver internamente; I=preferências por ambas as formas de contratação anterior: G e H. Nota 2: * mercado competitivo não muito concentrado (oligopólio); ** oligopólio com alta concentração para o monopólio.

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mantém a preferência em desenvolver sua mão de obra técnica.

INOVAÇÃO PROFISSIONALIZANTE NO PIM: UMA PROPOSIÇÃO A questão da inovação, no âmbito da teoria econômica, surge com Joseph Schumpeter, a partir da difusão de suas ideias após a Segunda Guerra Mundial. Para ele o cerne do desenvolvimento econômico estava na inovação como ferramenta fundamental para a mudança econômica e social de uma sociedade. Hasenclever (2002) relata que, para Schumpeter, a inovação propicia uma ruptura no sistema econômico, no interior das indústrias, revolucionando as estruturas produtivas e criando fontes de diferenciação para as empresas. Isto porque, segundo Souza (2008, grifo nosso), o dinamismo da economia deriva da ação do empresário inovador, que põe em prática novos processos de produção, gera novos produtos e abre novos mercados. O que justifica, assim como os economistas clássicos, Schumpeter enfatizar fundamentalmente o lado da oferta e não o da demanda, para explicar o crescimento econômico, especialmente a questão da inovação tecnológica para o desenvolvimento, acrescenta Souza. Nessa perspectiva, no presente artigo - temos a pretensão de propor a denominação “inovação profissionalizante” como aquela que é difundida

pela atuação do empresário que investe na capacitação da mão de obra técnica permanente da empresa com o fim de obter uma maior competitividade no mercado de processos e de produtos a partir da especialização profissional. A inovação profissionalizante, dependendo da capacidade criativa e inovadora e do comprometimento do recurso humano com a empresa, é capaz de propor mudanças nos processos produtivos e transformar o ambiente organizacional a partir dos novos paradigmas concebidos pela mão de obra técnica. Pelo perfil da pesquisa de mercado da FNE sobre a mão de obra técnica empregada no PIM, deixa-nos bastante a vontade para propor a implementação de políticas direcionadas para a inovação profissionalizante no interior das empresas, uma vez que, além de haver insuficiência de mão de obra técnica permanente, determinados mercados não possuem sequer políticas de incentivos à capacitação profissional, especialmente àqueles mercados considerados intensivos de novos processos tecnológicos. Pela visão Schumpteriana de desenvolvimento econômico a partir da inovação e pelo próprio conceito atual de inovação (introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços), entendemos ser a inovação profissionalizante um indicador relevante para as empresas do PIM, especialmente porque as empresas locais, além de terem dificuldades na contratação, enfrentam escassez de mão de obra técnica no mercado local.

Composição: Osvaldo Relder

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BIBLIOGRAFIA Action Pesquisas de Mercado. Pesquisa de Cenário de Mercado: estudo quanto à mão-de-obra técnica empregada no PIM. Manaus, nov./ dez., 2008. HASENCLEVER, Lia. Estrutura de mercado e inovação. IN: DAVID, Kupfer et al. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002, 4ª reimpressão. Editora Campus. KUPFER, David. Mudança estrutural nas empresas e grupos líderes da economia brasileira na década de 90. Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Grupo Indústria e Competitividade. Rio de Janeiro, 2001.

Ana Maria Oliveira de Souza é graduada em Ciências Econômicas, especialista em Comércio Exterior e mestra em Desenvolvimento Regional pela UFAM. Atua como substituta na Coordenação Geral de Estudos Econômicos e Empresariais na SUFRAMA. Elane Conceição de Oliveira é graduada em Ciências Econômicas pela UFAM e doutoranda em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS-UNB. Atualmente atua como analista de nível superior na Coordenação Geral de Estudos Econômicos e Empresariais na SUFRAMA.

_____________. Economia Industrial: fundamentos teóricos e práticos no Brasil. Rio de Janeiro: Campus, 2002. LEITE, André Luís da Silva; SANTANA, Edvaldo Alves de. Índices de Concentração na Indústria de Papel e Celulose. 1996. Acesso em 09/02/2008. Disponível em http://www. abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1998_ ART158.pdf. PINDYCK, Roberto S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 6ª edição. São Paulo: Person Prentice Hall, 2006. SOUZA, Nali de Jesus de. Desenvolvimento Econômico. 5ª edição. São Paulo: Atlas, 2008. SOUZA, Nali de Jesus de. Teoria dos pólos, regiões inteligentes e sistemas regionais de inovação, Análise, Porto Alegre, v.16, nº 1, p. 87-112, jan/jul.2005.

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PONTOS DE VISTA

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o intuito de ouvir três representantes de diferentes setores sobre mão de obra especializada, T&C Amazônia formulou a mesma questão para Altigran da Silva, doutor em Ciência da Computação e professor adjunto da Universidade Federal do Amazonas, onde leciona em cursos de graduação e pós-graduação; Elane Medeiros da Silva, administradora de empresas e advogada, que atua como superintendente de Recursos Humanos das Lojas Bemol e presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-AM); e Wilson Périco, economista e presidente do Sindicato das Indústrias dos Aparelhos Eletroeletrônicos e Similares do Amazonas (Sinaees). Acompanhe as respostas dos convidados.

É usual reputar ao setor produtivo a opinião de que a academia não consegue atender às necessidades de mão de obra especializada

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em áreas técnicas e tecnológicas, o que contraria a visão apresentada pelas instituições de ensino. Como você analisa esta questão? Altigran da Silva - Em minha opinião, isso é um mito que felizmente foi ultrapassado na década de noventa do século passado e que muita gente faz questão de repetir porque gera certa polêmica. Qualquer um que lide diariamente com o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação pode observar o grande investimento feito no período pré-crise pelas empresas de tecnologia de ponta em recrutar os melhores cérebros direto dos bancos escolares para os seus departamentos de inovação. Certamente essas empresas não fariam isso se esses profissionais não tivessem o perfil que elas procuram. Por outro lado, empresas como o Google e como a Akwan - no Brasil - são produtos diretos de resultados de pesquisa. Outra evidência clara são as políticas públicas praticadas pelo governo no sentido da subvenção de negócios com alta barreira tecnológica para entrada, que já deram resultados expressivos no início desT&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Pontos de Vista

ta década. Elane Medeiros da Silva - A velocidade com que as mudanças técnicas e tecnológicas vêm evoluindo é incompatível com o tempo necessário para a formação de pessoas especializadas. Corre-se o risco de formar uma pessoa numa competência obsoleta. Em decorrência dessa necessidade, as ações ou ofertas de meios de qualificação que visam ao desenvolvimento e capacitação de pessoas também vêm aumentando. No âmbito do setor público, por meio de ações governamentais com leis de incentivo à inovação, criação de institutos e etc. No setor privado, por intermédio da criação de instituições de ensino privadas. Vide o crescimento do número de cursos oferecidos pelas instituições no âmbito de nossas fronteiras sejam eles presenciais ou com recursos de ensino a distância. Quanto à questão levantada, acredito que, mesmo considerando as incertezas e cuidados quanto à segurança de informações, segredos industriais e concorrência, parte desta problemática poderá ser equacionada com maior brevidade, por meio de mais diálogo e comunicação entre os segmentos produtivos e as instituições de ensino, no sentido de oportunizar aos acadêmicos que vivenciem a teoria e a prática como potencializador de suas competências humanas e aprendizado organizacional. Somente dessa forma, teremos uma sinergia necessária para visualizar as necessidades atuais e tendências do mundo do trabalho, promovendo pessoas qualificadas e sedimentando o desenvolvimento econômico sustentável de nosso estado. Wilson Périco - Não percebo dissonância no entendimento entre academia e o mercado de trabalho, das questões tecnológicas e a velocidade de suas inovações e a consequente necessidade de alinhamento de alguns cursos para atender à demanda profissional causada por essas inovações. Existem áreas acadêmicas onde a grade curricular tem pouca alteração de ano para ano, porém outras em que temos que buscar a adequação necessária dessa grade ou novos cursos para atender às necessidades do mercado com uma frequência muito maior. Entendo todo o esforço e dedicação das instituições de ensino na busca pela aprimoraT&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

ção de seus cursos, acredito que poderíamos estar mais próximos do mercado de trabalho, através das indústrias ou de suas entidades de classe e academia, compartilhando necessidades e recursos para melhor prepararmos nossos jovens para o mercado de trabalho futuro, dentro do dinamismo do segmento industrial. Aproveitar para diversificar ainda mais a oferta de cursos, não só com foco nas necessidades do PIM, mas também com toda a diversidade que nossa região irá demandar nas áreas de pesquisa da biodiversidade, fármacos, ecologia, turismo, entre outras tantas. Tenho muito respeito pela classe acadêmica, a qual reputo de maior importância para um futuro melhor. Costumo dizer que saúde e alimentação são muito importantes, mas, em se tratando de um futuro diferente e melhor, a educação é primordial e devemos estar juntos para identificar as necessidades futuras.

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Artigo

Educação profissional técnica de nível médio Vicente de Paulo Queiroz Nogueira

INTRODUÇÃO A formação do adolescente e do jovem adulto para a vida e para o mundo do trabalho é um tema que apaixona todos aqueles que sobre ele se debruçam. Como consequência natural, as discussões sobre Ensino Médio e sua possível inter-relação com a Educação Profissional têm provocado debates acirrados entre educadores de diversas gerações e de diversos matizes sobre todos os seus aspectos, desde os de natureza teórico-conceitual até os de natureza mais prática, como a estruturação acadêmica e administrativa. Curiosamente, nem no Ensino Fundamental nem no Superior ocorrem desentendimentos tão agudos. A história da Educação no Brasil registra experimentos frequentemente antagônicos no campo dessa inter-relação do que hoje é denominado Ensino Médio com a Educação Profissional, fruto de visões distintas sobre sua organização e finalidades e de eventual hegemonia decisória de um ou outro grupo de interesses. A profissionalização obrigatória do então se-

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gundo grau, estabelecida em pleno regime militar pela Lei nº 5.692/71; o abandono dessa obrigatoriedade face ao seu insucesso, reconhecido pela Lei nº 7.044/82; a proibição do ensino profissional integrado, determinada pelo Decreto nº 2.208/97 do governo Fernando Henrique Cardoso, gerando o divórcio forçado do Ensino Médio com a Educação Profissional, e o atual esforço concentrado do governo Lula de ressuscitar, a partir da edição do Decreto n º 5.154/2004, exatamente a até então proibida integração entre o Ensino Médio e a Educação Profissional Técnica de nível médio - são alguns exemplos do vaivém conceitual e organizacional que, ao longo do tempo, tem caracterizado a formação do jovem adulto visando a sua inserção no mundo do trabalho, em nosso país. A produção intelectual sobre o assunto, alinhada ou não à posição teórico-conceitual eventualmente adotada, tem sido abundante. No entanto, não obstante haver no plano acadêmico disponibilidade de soluções para todos os problemas, permanece irresolvido um conjunto substancial de desafios típicos de nossa realidade educacional, caracteriT&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Educação profissional técnica de nível médio

zada pelo fosso entre as intenções e ideias enunciadas e a realidade objetiva, e de que se queixava Anísio Teixeira já em 1947, e que vão mais além dessa gangorra organizacional provocada por esse ziguezague conceitual. Esses desafios a serem superados são típicos da sociedade brasileira e são antigos. Dentre os exemplos de problemas que infestam grande parte da Educação Profissional brasileira de nível médio incluem-se: o transplante da rigidez de organização dos sistemas acadêmicos tradicionais para o segmento da Educação Profissional de nível médio, tornando-os anacrônicos e em descompasso com as realidades do mundo do trabalho; requisitos cartoriais ou inexequíveis para a formação do docente da Educação Profissional; ausência de financiamento regular; formação excessivamente teórica por falta de experiência prática do docente ou por defeito de desenho curricular; falta de integração efetiva com o setor produtivo; maior preocupação institucional com o acesso dos alunos ao ensino Superior do que ao mundo do trabalho, refletindo o baixo nível de valorização do profissional técnico. A lista é longa e não se limita aos problemas citados. Muito além das peculiaridades típicas do sistema educacional brasileiro, a Educação Profissional de nível médio enfrenta ainda desafios de outra natureza, característicos dos novos tempos. Alguns deles são de natureza planetária e são relativamente recentes. As mudanças radicais nas estruturas econômicas e na sociedade, tais como globalização, cenários tecnológicos e mercadológicos em permanente alteração, a revolução das tecnologias de informação e comunicação, dentre outros fatores, afetaram diretamente a capacidade de resposta dos sistemas de formação profissional, mesmo aqueles já robustos e estáveis, e passaram a exigir, correspondentemente, ajustes e respostas à altura. Flexibilidade, adaptabilidade e inovação no processo formativo passaram de atributos desejáveis a requisitos indispensáveis para a manutenção da relevância das instituições formadoras nessa sociedade em mutação.

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Neste trabalho, o autor analisa dois desses desafios. Debruça-se particularmente sobre a forma organizativa e o sistema de gestão mais adequados para o atendimento das necessidades de uma sociedade em permanente mutação e sobre a formação de professores para Educação Profissional. As ideias e propostas aqui defendidas decorrem de experiência concreta adquirida pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM), autarquia estadual responsável pela Educação Profissional.

GARANTIR OFERTA OU ATENDER DEMANDA? As escolas de Educação Profissional, particularmente as de natureza pública, estão organizadas de maneira idêntica às escolas de educação básica regulares. Dispõem de quadros docentes permanentes, formados por meio de concursos públicos em áreas específicas do conhecimento. Essa forma organizativa, por sua estabilidade, é indispensável ao sucesso da educação básica regular. A existência de um corpo docente permanente e estável leva, por um processo de repetido contato e observação, a um conhecimento mais preciso das características e necessidades de uma determinada comunidade estudantil e em muito contribui para a solução de seus problemas peculiares. Essa mesma forma de organização revela-se, no entanto, completamente inadequada para o enfrentamento das necessidades da Educação Profissional em nível médio. A oferta de oportunidades educacionais profissionais passa obrigatoriamente a ser repetitiva porque é limitada às competências e experiências desse corpo docente estável. As habilidades das pessoas na organização e não as reais necessidades e demandas da sociedade definem a oferta disponível. Tem-se, nesse modelo, um sistema supply-driven, em que os estudantes estudam o que lhes é oferecido, independentemente de sua relevância social. A rápida obsolescência dos sistemas supply-driven pode ocorrer tanto pelo desatendimento das necessidades efetivas da sociedade

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como pela possibilidade de esgotamento da demanda. No interior do Amazonas, a oferta repetitiva de cursos técnicos ou de qualificação, em razão da pequenez das economias locais, produz uma rápida ocupação das oportunidades de ocupação e renda e logo em seguida o desemprego garantido, configurando-se a sua continuidade em desperdício de recursos públicos e em fonte de frustração e desestímulo aos estudantes que neles investiram tempo e talentos. É frequente, nos fóruns de Educação Profissional, ouvirem-se condenações daqueles que ousam expressar a indispensável necessidade de se reconhecer a importância do mercado, por entender como subalterna essa atitude e em razão do jugo que, a partir desse reconhecimento, o mercado impõe aos sistemas formativos. Aliás, mercado é palavra banida dos textos em que se discute Educação Profissional. No entanto, ainda que não subordinado e subjugado pela crueza do mercado, é impossível ignorá-lo. Conhecê-lo para entendê-lo não se configura em um “mal necessário”. É, na realidade, requisito indispensável para relevância social da instituição formadora no mundo do trabalho. Por tão evidente, desnecessário é dizer que formação profissional por si só não tem o condão de gerar ocupação e renda. A efetividade da Educação Profissional está ligada à sua sintonia às demandas e aos requisitos atuais e emergentes da sociedade. O descompasso entre a oferta de oportunidades de formação e a realidade concreta do mundo do trabalho é uma das principais razões do fracasso de programas de Educação Profissional que buscam objetivos sociais sem levarem em conta adequadamente o contexto econômico. É evidente que o modelo supply-driven não tem condições de sobrevivência relevante em um mundo tão exigente quanto mutável. Para isso, se faz necessário que as instituições de Educação Profissional Técnica de nível médio se reorganizem para funcionarem antenadas com as transformações e inovações porque passa a sociedade, adotando um modelo organizativo demand-driven. No entanto, como atender demandas em mutação

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contínua com um corpo docente fixo e permanente? Como ajustar a organização educacional às transformações porque passa a sociedade, sem ofender o ordenamento jurídico que as tutela? O Centro de Educação Tecnológica do Amazonas, autarquia do Governo do Estado do Amazonas, criada em julho de 2003 com o objetivo de levar Educação Profissional a todo o Amazonas, ao examinar as peculiares características da economia amazonense, optou por não constituir um corpo docente permanente e também por não ter um elenco fixo de ofertas de cursos, exatamente para, de forma flexível e ajustada às realidades econômicas distintas da capital e dos municípios do interior do Estado, atender plenamente às suas necessidades. Assim, cada curso técnico oferecido é tratado como um projeto específico, com recursos humanos e materiais específicos, a ocorrer em local e data próprios. Essa opção, sustentada na realidade objetiva do Amazonas, possibilitou que, decorridos menos de seis anos de efetivo funcionamento, o CETAM estivesse atuando em todos os 62 municípios amazonenses, oferecendo aproximadamente 50 cursos técnicos distintos e mais de 300 cursos de formação inicial e continuada para os mais de 200 mil estudantes que passaram por suas salas de aulas e laboratórios, nesse curto período de existência. É importante que se diga que tal modelo de funcionamento não se dá sem sobressaltos, particularmente pelo caráter público da instituição. Tribunais de Contas e Procuradorias do Trabalho têm cobrado insistentemente a realização de concursos para professores. Caso isso venha a ocorrer algum dia, estará decretada a falta de flexibilidade da instituição, determinando assim a sua obsolescência precoce. Ou talvez até a sua total irrelevância.

Quem pode ser professor dos cursos técnicos? A formação de um quadro docente apropriado para o exercício do magistério na Educação Profissional de nível médio é um problema persistente que tem incendiado muitas discussões e T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Educação profissional técnica de nível médio

desafiado os especialistas que, nesse ponto, estão longe do consenso. A Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), não estabeleceu exigências específicas para a Educação Profissional Técnica de nível médio, a despeito das referências gerais feitas com relação à formação de professores. Já o Decreto nº 2.208/97, que regulamentou os artigos da LDB referentes à Educação Profissional, reconheceu implicitamente a importância de se adotar uma postura mais flexível e autorizou em seu Artigo 9º que não apenas professores, mas também instrutores e monitores, com preparação pedagógica prévia ou em serviço, pudessem exercer a docência. Com o advento do Decreto nº 5.054/2004, no entanto, voltou-se à indefinição da regra geral, pois esse Decreto, em seu último artigo, revogou integralmente o Decreto nº 2.208/97, e com isso, pelo menos do ponto de vista formal, desapareceu a flexibilidade para a docência nele contida. Essa nova situação de indefinição legal reacendeu a discussão sobre o assunto. Produção nitidamente acadêmica, oriunda majoritariamente das faculdades de Educação, reacendeu antigo movimento no sentido de se exigir o estabelecimento de licenciaturas específicas para a formação de professores para a Educação Profissional. Ainda que ninguém seja insano o suficiente em contestar a importância de a formação técnica e pedagógica específica para o exercício da docência na Educação Profissional, esse é um desiderato que ainda permanecerá por muitos anos no plano estrito das boas ideias e muito distante de se transformar em realidade concreta, mesmo que esteja ou venha a estar contido em algum imperativo legal. Na realidade, o impedimento, nesse caso, não é de natureza conceitual. É de natureza prática e operacional. Em um país em que nem sequer existem em número suficiente professores de Matemática, Física, Química, Biologia e Línguas Estrangeiras para o atendimento das necessidades mínimas da Educação Básica, será que alguém acredita que teremos, em quantidade e qualidade adequadas, licenciaturas especificas para a docênT&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

cia de carreiras técnicas tão variadas e díspares quanto Mecânico de Aviação, Prótese Dentária, Mineração, Piscicultura ou Design de Móveis? O reconhecimento, ainda que um tanto envergonhado, dessa dificuldade de natureza prática tem evitado a adoção de qualquer medida concreta seja para facilitar, seja para estabelecer empecilhos à formação de docente para a Educação Profissional. A esse respeito, vale lembrar que dentre as metas contidas no Plano Nacional de Educação, aprovado em 9 de janeiro de 2001, por meio da Lei nº 10.172, no segmento que tratava da Educação Tecnológica e Formação Profissional, encontra-se a seguinte: “Modificar, dentro de um ano, as normas atuais que regulamentam a formação de pessoal docente para essa modalidade de ensino, de forma a aproveitar e valorizar a experiência profissional dos formadores.” Decorridos mais de oito anos, essa meta continua letra morta e o assunto permanece em um limbo. O problema da formação pedagógica de docentes de Educação Profissional Técnica de nível médio será exacerbado nas instituições em que, buscando sintonia com as demandas e necessidades da sociedade a qual deseja servir, se adote um modelo organizacional demand-driven, sujeito, portanto, a ajustes permanentes de sua oferta e, em consequência, dos recursos humanos em que sustenta a sua atuação educativa. No Centro de Educação Tecnológica do Amazonas, para fazer face ao atendimento de demandas diferenciadas dos 61 municípios do interior do Estado e de sua capital Manaus, que sedia um vibrante pólo industrial, foram recrutados centenas de profissionais de diferentes formações, licenciados e bacharéis, para atuarem como docentes em seus cursos técnicos. A esses profissionais foi proporcionada orientação pedagógica direcionada à sua atuação específica. Abrigada no espírito da meta enunciada no Plano Nacional de Educação e no permissivo do revogado Decreto nº 2.208/97, tal providência possibilitou que cerca de 20.000 alunos tivessem a oportunidade de participar em mais de 40 cursos técnicos distintos, em todos os municípios do Estado.

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Afinal, mesmo reconhecendo formação pedagógica específica ser de todo desejável - ainda são profissionais em efetivo exercício e com experiência ampliada pela formação avançada que, no mundo inteiro, formam outros profissionais no ensino superior. Analogamente, na falta de melhor alternativa concreta, não há nenhuma razão lógica ou ética para adotar-se procedimento diferente na Educação Profissional Técnica de nível médio e assim impedir, por via indireta, que milhares de jovens cidadãos sejam excluídos da possibilidade de se inserirem competentemente no mundo do trabalho.

SÃO MUITOS OS DESAFIOS Há muitos outros problemas a desafiar continuamente os sistemas de Educação Profissional Técnica de nível médio, e que aqui não serão debatidos. Vale a pena, no entanto, mencionar alguns deles. O financiamento da Educação Profissional é um desses problemas cruciais. A instabilidade de oferta nas instituições públicas é consequência direta da insegurança no aporte regular de recursos financeiros. A discussão sobre estrutura de gestão, contratação de professores, estrutura curricular, estrutura física ou qualquer outro assunto se torna inócua se não forem assegurados os recursos para as atividades a que se propõem as organizações. Programas desenvolvidos pelo Governo Federal, como o finado PROEP e o atual Brasil Profissionalizado têm contribuído para a expansão da Educação Profissional Técnica no Brasil, ainda que de forma espasmódica, por sua natureza eventual. Os resultados positivos registrados pelo Centro de Educação Tecnológica do Amazonas devem-se certamente ao fato de que, a par de haver sido tomadas as medidas pedagógicas e administrativas adequadas, os recursos financeiros necessários ao seu bom funcionamento foram devidamente assegurados nesses seis anos de atividades. Um outro desafio de fundamental importância está na estruturação acadêmica dos cursos ofer-

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tados. Ainda que as instituições se organizem de forma flexível para o atendimento de demandas sociais, cada uma a seu tempo e em seu lugar, é indispensável notar que a formação de seus estudantes deve conter os fundamentos necessários para que eles possam, em um processo de permanente ajuste, manter incólumes suas vidas profissionais. Interação real e efetiva entre as instituições formadoras e o setor produtivo é outro desafio a ser enfrentado, essencial para promover o conhecimento mútuo e a ampliação das oportunidades educacionais, bem como facilitar a inserção profissional dos egressos. No CETAM, além da interação já existente em seus programas técnicos regulares, foi desenvolvido um programa próprio de qualificação profissional para atuação no ambiente das próprias empresas que acolheu, desde o seu início em 2005, mais de 25.000 trabalhadores-estudantes. Muitos outros desafios permanecem e merecem discussão mais aprofundada.

CONCLUSÃO Mudanças radicais nas estruturas econômicas e nas relações sociais são características dos tempos atuais. A era da carreira profissional estável, com trajetória conhecida, como se fosse um míssil, não mais existe. A realidade objetiva é dos itinerários profissionais imprevisíveis, mais comparáveis à trajetória de uma borboleta em vôo. Não podem os sistemas educacionais ficar alheios a essa realidade. A Educação Profissional Técnica, para manter a sua relevância social, tem de se reorganizar com flexibilidade e inovação, em seus diversos aspectos, sejam eles de natureza pedagógica ou de gestão, ciente de que sua missão tem o duplo objetivo de formar o cidadão-aluno para o enfrentamento das necessidades de hoje e sua inserção imediata no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, de provê-lo dos fundamentos necessários para garantir a sua sobrevivência profissional, preparando-o para as mudanças que ainda virão. Aprender a aprender se torna essencial, cada dia mais. T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


Educação profissional técnica de nível médio

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Vicente de Paulo Queiroz Nogueira é engenheiro civil e bacharel em Direito pela Universidade Federal do Amazonas, master of Science pelo Massachusetts Institute of Technology - MIT (EUA) e Ph.D. pela Colorado State University (EUA). Atualmente atua como diretor-presidente do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas e diretor da Escola Superior de Tecnologia – EST da Universidade do Estado do Amazonas.

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aRTIGO

Iniciativas e perspectivas dos programas de pós-graduação stricto sensu em educação tecnológica no Estado do Amazonas marcílio de freitas

Resumo Este artigo apresenta os fundamentos e os alcances temáticos dos programas de pós-graduação, stricto sensu, em curso no Estado do Amazonas. Ciências da natureza, Ciências da Saúde, Ciências da Terra, Ciências Humanas, Ecologia, Cultura, Engenharias, Educação e Ensino de Ciências, Biotecnologia, Tecnologias de Informação e Comunicação, Estudos Sociais, Administração e Economia constituem os eixos estruturantes que movimentam estes programas de pós-graduação no Amazonas. Ênfase é dada aos impasses e avanços da educação tecnológica pós-graduada no Estado, em especial aos programas que se encontram em processo de institucionalização e se entrelaçam ao paradigma da sustentabilidade. Também se especula sobre os macrocenários que movimentam o crescente investimento do Estado brasileiro em C,I&T, os nexos da integração cultural e ecológica com a inovação e a competitividade tecnológica, melhor articulação e conectividade da política tecnológica pública com as entidades de

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classes e com os setores privados, e o alinhamento das políticas federal e estadual de fomento a C,I &T com as propostas dirigidas à solução de problemas tecnológicos complexos da região. Finalmente, projetam-se as tendências de diversos cenários tecnológicos que contribuirão para um futuro mais promissor do Pólo Industrial de Manaus (PIM) e para o desenvolvimento sustentável na região, propiciando mais dignidade e alteridade ao povo amazonense. Palavras-chave: educação tecnológica-cultura; pesquisa tecnológica-integração regional; Amazônia-desenvolvimento tecnológico-Brasil.

Questão central – Amazônia; imagens reais e realidades virtuais A crença em que a Amazônia é um lócus relevante para o futuro da humanidade constitui uma realidade que atravessou diversos momentos da formação geo-histórica brasileira e continua movimentando muitas ações isoladas e/ou institucioT&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


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nais. A industrialização tardia do Brasil e, especialmente, da Amazônia, resultou num processo de desconexão técnica e cultural entre este país e esta região; e entre ambos, em forma desigual, e os processos econômicos e políticos comandados pelos países centrais. A consolidação do pólo mínero-metalúrgico no Estado do Pará e do Pólo Industrial de Manaus, através da exploração e processamento intensivo de minerais estratégicos e da produção de bens, principalmente, forçou a articulação duradoura da Amazônia com a macroeconomia mundial, ainda que em condições de fragilidade política e de assimetria social. Durante esses ciclos industriais induzidos e inacabados, diversas realidades se superpuseram para compor fragmentos de uma estética global na Amazônia (Freitas, 2004). Em forma ampla, este patamar civilizatório é caracterizado por grandes transformações na região: maior presença do Estado, indústrias, empresas, sindicatos, redes bancárias, partidos políticos, e fortalecimento do núcleo familiar; revitalização da democracia representativa e cristalização de um conjunto de redes de relações internacionais, gestão socioterritorial, transporte, distribuição de produtos e de recursos humanos; consolidação de uma nova matriz ocupacional composta por operários, engenheiros, empresários e escriturários; emergência de novos processos operacionais articulados com os meios de produção, matérias-primas, patentes e produtividade; transformações urbanas como as instalações industriais, fábricas, escritórios e revitalização das cidades; ampliação da oferta de energia, sistemas de transporte regionais e nacionais, e processos tecnológicos; emergência de desafios como crise ambiental, alienação, poluição, eficiência, segurança no trabalho; ampliação das contradições entre capital-trabalho; conformação de um mercado caracterizado por crescente poder de compra e competitividade; emergência de novos atores sociais tais como empresários, trabalhadores e sindicatos; fatores de coesão como a solidariedade mecânica, ideologia, solidariedade

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de classe e organização formal; criação de novos espaços científicos e tecnológicos caracterizados por metodologias como o empirismo, descoberta, organização científica, padronização, formação especializada avançada, sincronização e maximização; concepções relacionais como adaptação conjuntural, planejamento em médio prazo, vida centrada no tempo do trabalho e ritmo padronizado e imposto; dimensionamento local caracterizado por forte componente multicultural, separação dos lugares de trabalho e de vivência e fragmentação do tempo e do espaço; estrutura psíquica com prevalência de uma personalidade edipiana; vantagens projetadas para um consumo de massa, mobilidade geográfica e social, êxodo rural e degradação ambiental; desvantagens centradas na alienação cultural, competitividade excludente, desperdício, anomia, fadiga psicofísica e a exclusão social de ampla parcela da população regional (De Masi, 1999, p. 49-52; Freitas, 2006), dentre outras. Este quadro movimentou a dinâmica socioeconômica da Amazônia, em diferentes gradações, até o final do século 20, se reverberando em suas instituições de ensino e pesquisa. Processo que sofreu uma forte ruptura com a cristalização da questão ecológica no século 21, reafirmando a importância geopolítica da Amazônia, em especial, do Estado do Amazonas nos megaprocessos econômicos, científicos e políticos mundiais.

Uma nova concepção estética da Amazônia e do Estado do Amazonas A era ecológica comprovou a importância da Amazônia para as perenidades do planeta e da espécie humana. Introduziu também a necessidade de mudanças radicais nas matrizes industriais e de formação profissional, em âmbitos regional e mundial. Incrustou nas pautas políticas e empresariais o paradigma do desenvolvimento sustentável, situado e localizado, e simultaneamente, mundial e universalizado. Fortaleceu, de um lado, a Ciência e a Tecnologia enquanto âncoras dos processos de

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globalização, e do outro, a Educação e a Cultura enquanto agentes civilizatórios no processo de unificação planetária e de construção da cidadania mundial. Emblematizou a importância do Pólo Industrial de Manaus para a região e o Brasil, e pôs novas questões e nexos nacionais e mundiais à Amazônia e ao Estado do Amazonas. Amazônia; breve introdução A importância da Amazônia para o Brasil constitui unanimidade nacional. Ela é parte da região sul-americana com condições climáticas caracterizadas por altas temperaturas, umidade e precipitação pluviométrica, e que engloba parte do Brasil, Peru, Equador, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa, totalizando cerca de 6,5 milhões de km2, dos quais cerca de 4,5 milhões de km2 são constituídos de florestas primárias. Nessa região encontra-se uma das maiores biodiversidades mundiais, 1/3 das reservas mundiais de florestas tropicais, 1/5 da água doce superficial do planeta convergindo para o maior e mais volumoso rio do mundo, além de se constituir em entidade física relevante nas estabilidades termodinâmicas e climáticas dos processos atmosféricos em escala global. A Amazônia brasileira é formada pelos Estados do Amazonas, Acre, Pará, Amapá, Roraima, Rondônia, Tocantins, parte dos Estados do Maranhão e Mato Grosso, totalizando 4.987.247km2, 3/5 do território brasileiro e 2/5 da América do Sul, que corresponde a 1/20 da superfície terrestre. Nesses 9 Estados habitam cerca de 24 milhões de pessoas, em torno de 4/1000 da população mundial, com mais de 60% desses habitantes morando em áreas urbanas, dentre os quais 163 povos indígenas, que totalizam cerca de 204 mil pessoas, ou 60% da população indígena brasileira. A Amazônia também possui uma complexa hidrografia com mais de 70.000 quilômetros de rios navegáveis, cerca de 16-20% do potencial de recursos hídricos superficiais do planeta, uma frota de aproximadamente 300 mil

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navios de médio e grande porte, 50% do potencial hidrelétrico do Brasil, 12 milhões de hectares de várzeas, grande potencial madeireiro e fonte de biomassa, pouco mais de 11.200 km de fronteiras internacionais e ricas reservas minerais. A Amazônia é atravessada pelo Rio Amazonas que drena mais de 7 milhões de km2 de várzeas com um fluxo médio de 176 milhões de litros de água por segundo, que faz dele o maior rio do mundo em volume de água. A institucionalização de políticas públicas na Amazônia exige a implantação de modelos de desenvolvimento sustentável integrados às suas características culturais, ecológicas e socioeconômicas. Modelos alicerçados em inovações tecnológicas complexas, dirigidos à integração regional e nacional da Amazônia, disponibilizando estruturas e tecnologias sociais a todos, criando perspectivas reais de geração de renda, emprego e cidadania para a sua população, e com preservação ambiental. A grandiosidade geo-histórica da Amazônia abarca uma multiplicidade de diversidades de ambientes, economias e de culturas que põe o Estado do Amazonas em destaque. O Estado do Amazonas; fragmentos de modernidade: quem somos nós ? O Estado do Amazonas possui uma população estimada de 3.232.330 habitantes (IBGE - 2006) que representa: 1/50 da população brasileira e 3/7000 da população mundial. Conta, também, com a matriz industrial nãopoluente e mais sofisticada do Brasil. O Pólo Industrial de Manaus possui mais de 500 indústrias nacionais e transnacionais, gerando mais de 105 mil empregos diretos e 350 mil indiretos para uma arrecadação efetiva de cerca de 30 bilhões de dólares em 2008. Os setores eletroeletrônicos, duas rodas, produtos computacionais, biotecnologia com ênfase em cosméticos, fitofármacos e alimentação constituem os eixos-motores dessa importante matriz produtiva de Manaus que movimenta ampla parcela da socioeconomia da Amazônia ocidental.

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O Estado do Amazonas é formado por 62 municípios, abrangendo uma área de 1.570.745,680 km², cerca de 2.525 km de fronteiras internacionais com a Colômbia, Venezuela e Peru. Representa 3/16 do território brasileiro; um pouco mais de 3/16 da Amazônia pan-americana; 3/25 do continente sul-americano; 3/200 da superfície terrestre; 1/50 da população brasileira e 3/7000 da população mundial; 1/10 da disponibilidade mundial de água doce; mais de 20% do potencial hidrelétrico do Brasil; 6 milhões de hectares de várzeas; 25.000 quilômetros de rios navegáveis; uma frota de cerca de 70 mil barcos de médio e grande porte, 1/15 da biota terrestre universal; uma enorme diversidade étnica e cultural do Brasil, com 70 povos indígenas com cosmogênias próprias e que correspondem a mais de 100 mil pessoas (cerca de 30% dos índios brasileiros) com cerca de 72 etnias e 70 línguas faladas; possui aproximadamente 52 milhões de hectares de áreas protegidas, distribuídas entre 38 unidades de conservação federais e 34 unidades de conservação estaduais legalmente criadas, o que representa cerca de 32% de seu espaço territorial. Representa também 10% de toda reserva florestal contígua dos trópicos úmidos do planeta distribuídos ao longo de mais de 96% de sua superfície, com um estoque de biomassa de aproximadamente 40 bilhões de toneladas dos quais 18 bilhões de toneladas são de carbono (Freitas, 2008). As florestas do Estado do Amazonas ocupam papel relevante no processo de estabilização termodinâmica do planeta, com sequestro efetivo em torno de 132 milhões de toneladas de carbono por ano (cerca de 1,8% do total de carbono efetivamente lançado na atmosfera terrestre por ano, em escala mundial), contribuindo para o resfriamento do planeta. Esta absorção de carbono daria para compensar as emissões do Canadá, por exemplo, que são de 124 milhões de toneladas de carbono por ano (Higuchi, 2007). O Amazonas é composto por áreas espaciais diferenciadas, marcadas pelas peculiaridades constatadas na organização dos seus espaços regionais com grandes extensões e difíceis acessi-

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bilidades, principais entraves ao desenvolvimento de suas estruturas produtivas segundo a matriz de desenvolvimento standard do capitalismo. Estas grandes extensões territoriais contrastam com os baixos índices demográficos, distribuídos não uniformemente ao longo dos 10 grandes vales fluviais que compõem o Estado, e que constituem o principal fator de integração física e cultural da região. É neste universo socioeconômico complexo e multidimensional que foi concebida e está sendo consolidada uma política pública de Ciência e Tecnologia, integrada às características culturais, às potencialidades e à matriz produtiva do Estado, apoiada nos programas de formação tecnológica avançados.

Educação, Ciência, Tecnologia e sustentabilidade no Amazonas A Educação e a Tecnologia têm um papel importante para o futuro do Amazonas. A construção e a implantação de modelos de desenvolvimento sustentável neste Estado têm forte correlação e dependência das inovações tecnológicas adaptadas aos trópicos; dependem também da evolução do PIM e da articulação e do entrelaçamento do conhecimento técnico com o saber dos povos nativos, acelerando várias etapas constitutivas de cadeias e plataformas tecnológicas, que compõem setores produtivos estratégicos à região. A fusão das tecnologias hightech do PIM com o saber tradicional constitui um diferencial e um paradigma complexo para os programas de formação avançada em processo de institucionalização na região. A composição ponderada do saber acumulado pelas populações endógenas com as inovações tecnológicas contemporâneas, e com o desenvolvimento de tecnologias apropriadas para micros e pequenas empresas, põe perspectivas concretas para um salto das sociedades do conhecimento para as sociedades de saber, com a criação de um mercado sustentável centrado na valorização das culturas regionais, gerando riqueza, inclusão social e preservação ambiental. Engenharias Mecânica, Mecatrônica,

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Computação, Elétrica, Eletrônica, Ambiental, Química, Florestal, Pesca, Produção e Naval; Tecnologias de Informação e de Telecomunicações mediadas por satélites; Nanotecnologia, Cibernética e Robótica; Navegação, Habitação e Agricultura nos trópicos; Etnociências e Antropologia; bioindústria e doenças tropicais; matriz energética e monitoramento ambiental; serviços ambientais e redes meteorológicas e hidrológicas; mudanças climáticas e uso da terra; monitoramento sociodemográfico e segurança do território; recursos hídricos e recursos minerais; ciclos biogeoquímicos com ênfase aos ciclos hidrológico, do carbono, do nitrogênio e do fósforo; manejo florestal e fruticultura; piscicultura e bioindústria, dentre outros, constituem focos de interesse institucional que se encontram na política científica do Estado do Amazonas, com ações incorporadas, em diferentes intensidades, às suas diversas políticas públicas. Ênfase especial para a progressiva demanda e integração de setores produtivos associados à bioindústria, à biotecnologia e à bioinformática com o desenvolvimento de pesquisa avançada no campo da física e da química moleculares. Destaque à bioprospecção e às tecnologias de ruptura incorporadas às plataformas tecnológicas de fitofármacos, fitoterápicos, fitocosméticos e alimentação. Empreendimento que tem uma forte dependência dos programas de pós-graduação, mestrado e doutorado, em biotecnologia, em especial do programa de doutorado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) que possui, atualmente, mais de 100 alunos matriculados e mais de 30 teses apresentadas. A invenção de novos produtos e materiais constitui o eixo-motor deste programa que funciona em rede com o Centro Brasileiro de Biotecnologia (CBA) e com os programas similares da Universidade do Estado Amazonas (UEA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). A institucionalização de programas econômicos integrados aos trópicos úmidos constitui uma questão muito complexa a ser resolvida. Proteção ao conhecimento tradicional; desenvolvimento com

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inovação, formação e difusão científica e tecnológica; geração de produtos e gestão multitemática de redes e plataformas; integração de ações interinstitucionais de universidades, institutos de pesquisa, associações comunitárias, secretarias municipais e estaduais, e a integração dinâmica entre os processos produtivos e o mercado, são dimensões socioeconômicas necessárias ao funcionamento e a normatização desses programas. O produtor e as redes mercadológicas desempenham um papel privilegiado neste empreendimento, desdobrando-se na necessidade de se construir diversas janelas e/ou subplataformas atendendo demandas plurais e diversificadas das sociedades, em diversos graus de complexidade e de gestão. Estruturas pequenas, porém bem equipadas e com recursos humanos qualificados, garantindo maior agilidade e conectividade entre todos os nós das redes e das plataformas. O asseguramento de metodologias e processos focados na engenharia de produtos é uma das principais garantias da natureza sustentável deste empreendimento, que tem uma forte dependência das inovações tecnológicas a serem incorporadas aos programas. Destaque à implantação de mecanismos técnicos que possibilitem medir o grau de sustentabilidade socioambiental das populações, dos biomas amazônicos e da matriz industrial do Amazonas, em forma integrada e conforme os fundamentos pré-estabelecidos pelos princípios de responsabilidade, prevenção e de precaução (Freitas, 2003). A institucionalização de políticas de Educação e Ciência, em âmbito municipal, põe uma perspectiva inovadora aos processos de expansão do PIM fortalecendo as representações políticas das populações endógenas e criando novos espaços produtivos e sociais no Amazonas.

Educação tecnológica e instituições regionais: compromissos e impasses No século 20, o capitalismo se estabeleceu definitivamente na Amazônia. Os macrocenários econômicos que emergiram na região durante esse T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009


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período revelam a natureza de sua ocupação e organização política; revelam também importantes aspectos relacionados aos avanços e retrocessos dos processos de formação cultural e tecnológica na região. As fronteiras tênues da Ciência e Tecnologia mostram que o futuro desta última depende da ciência básica, em todos os graus de interdisciplinaridade. Exemplos ilustrativos são as contribuições da UFAM, do INPA, e mais recentemente da UEA, à formação pós-graduada no Estado do Amazonas. A UFAM se origina da Escola Universitária Livre de Manáos, primeira instituição de ensino superior do Brasil, fundada em 17 de janeiro de 1909. Organizada para atender à demandas criadas pelo ciclo da borracha, foi instalada com os cursos de Ciências Jurídicas, Ciências Naturais e Farmacêuticas, Agrimensura e Agronomia, e Ciências e Letras. Em 1913 foi reorganizada com o nome de Universidade de Manáos e após passar por um longo período de desestruturação e desativação, foi incorporada à Fundação Universidade do Amazonas, em janeiro de 1965, com a função de formar recursos humanos especializados e de desenvolver programas de pesquisa avançados. Em seus 100 anos de existência, a UFAM possui 28 programas de mestrado e 8 programas de doutorado. Passa atualmente por um vigoroso processo de expansão técnica e administrativa com a criação de vários Campi no interior do Estado, e a organização de um conjunto de programas de pós-graduação em ciência básica e Tecnologia, estratégicos para a região, tais como: Física (mestrado e doutorado – em organização), Química (mestrado e doutorado), Matemática (mestrado), Ciências da Computação (mestrado e doutorado), Geociências (mestrado), Patologia Tropical (mestrado), Farmácia (mestrado), Agronomia Tropical (mestrado e doutorado), Ciências Pesqueiras (mestrado e doutorado), Biotecnologia (mestrado e doutorado), Diversidade Biológica (mestrado e doutorado), dentre outros. Conta também com programas importantes na área tecnológica, com ênfase para as Engenharias de Produção (mestrado), Elétrica (mestrado) e Civil T&C Amazônia, Ano VII, Número 16, Fevereiro de 2009

(mestrado) (UFAM, www.ufam.edu.br). O INPA foi instalado em Manaus em 27 de julho de 1954. Resultado do processo político decorrente da nova divisão geopolítica mundial emergente da segunda grande guerra, o INPA já nasceu comprometido com as grandes linhas de pesquisa que articulavam as instituições multilaterais com as políticas transnacionais em escala planetária. Em conjunto com institutos de pesquisas similares, criados simultaneamente, na África e na Ásia, o INPA articulava um conjunto de interesses científicos importantes para esta nova ordem econômica e política mundial. Projetos que abarcavam programas de pesquisas sobre natureza e cultura, antropologia e costumes das populações dos trópicos, problemas hidrobiológicos e condições gerais agrícolas e de alimentação nas regiões tropicais, dentre outros (Malina, 1948), que já faziam parte da pauta de investigação do Instituto da Hiléia Amazônica proposto pela Unesco para a Amazônia pan-americana, em 1948. O INPA possui programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) em Botânica; Ecologia; Entomologia; Genética, Conservação e Biologia Evolutiva; Clima e Ambiente (em parceria com a UEA); Agricultura no Trópico Úmido; Ciências de Florestas Tropicais; e Biologia de Água Doce (www.inpa.gov.br). Esse instituto tem um papel importante no desvendamento e na implantação de plataformas articuladas com arranjos e redes tecnológicas adaptadas aos trópicos úmidos. O seu grande acervo científico e tecnológico sobre a Ecologia amazônica o credencia como uma instituição estratégica para a primeira grande revolução da bioindústria brasileira. Contribuições técnicas que compõem parte do substrato cultural que mantém a Amazônia inserida nos processos científicos mundiais, num patamar civilizatório pós-moderno. A partir de 1967 instalou-se na Amazônia Ocidental, o Pólo Industrial de Manaus, matriz industrial e plataforma de exportações dos maiores grupos eletroeletrônicos transnacionais presentes no Brasil. A contínua consolidação deste modelo e da política industrial para o Estado, tem priorizado

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três linhas de ação: a) ampliação e nacionalização de seu parque industrial agregando mais Ciência e Tecnologia aos processos e produtos; b) fortalecimento das instituições de pesquisa, inovação e tecnologia da região, induzindo o desenvolvimento de tecnologias voltadas à solução de problemas complexos da região; e, c) criação de um programa tecnológico estratégico que possibilite o aproveitamento racional dos recursos naturais da Amazônia, mantendo a floresta em pé. Finalmente, desde os anos 80, a Amazônia é definitivamente incorporada ao mercado mundial, por meio da consolidação do PIM e de uma rede transnacional de interesses econômicos entrelaçados entre si, com destaque às demandas mundiais relativas à biodiversidade e às dinâmicas dos processos atmosféricos, com impactos em todos os setores produtivos mundiais. Efeito estufa, ciclo hidrológico, desmatamento e sustentabilidade, também passam a nortear a presença da Amazônia nos fóruns científicos e econômicos mundiais. A cristalização dessa era ecológica criou novas perspectivas institucionais para os programas de pós-graduação na região. Maior conectividade e integração destes programas com as demandas produtivas e com os processos de gestão da matriz industrial local aceleraram suas consolidações; expuseram também suas contradições, fragilidades e limitações heurísticas. A implantação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a partir de 2001, pôs elementos novos na matriz científica e tecnológica estadual. Comprometida com o desenvolvimento regional, a UEA desenvolve atualmente o mais audacioso programa de pós-graduação interinstitucional brasileiro. Ela propõe-se a, no período entre 2008-2012, implantar 25 mestrados e 25 doutorados, a saber: Biotecnologia; Engenharias Elétrico-Eletrônica, Mecânica, Mecatrônica, Química, Ambiental, Naval, Transporte, Produção, Computação e Molecular; Odontologia, Ensino de Ciências e Matemática, Educação, Geografia Física, Geografia Humana, Antropologia, Arqueologia, Lingüística, Direito Ambiental, Meteorologia e Hidrologia, Geologia,

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Direito Ambiental, Doenças Tropicais, e História. Em parcerias acadêmicas com a Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense, Universidade de Campinas, Universidade Federal de Pernambuco e Universidade de Brasília, a UEA formará, cerca de 300 mestres e 250 doutores, em temáticas vinculadas ao desenvolvimento regional com forte impacto nas matrizes produtiva e de ocupabilidade do Estado do Amazonas. Projeta a possibilidade de na próxima década, em parceria com instituições locais, implantar seus próprios programas de pósgraduação estratégicos para o desenvolvimento do Estado. Planeja também direcionar as dissertações e teses desses programas em curso, à solução dos problemas complexos da matriz produtiva do Amazonas. Novas matrizes energéticas, transporte, saúde e habitação, segurança alimentar, educação científica e tecnológica, fortalecimento do PIM, cultura e desenvolvimento sustentável nos trópicos constituem prioridades destes programas. A burocracia do governo federal e a ausência de um compromisso mais solidário e realista dos Ministérios de Planejamento e da Fazenda com o futuro da Amazônia e do Brasil, constituem, atualmente, os principais entraves ao desenvolvimento do Amazonas. As restrições exacerbadas aos marcos fiscais e regulatórios do PIM e a dificuldade de se estabelecer um amplo programa tecnológico amazônico que integre a educação tecnológica pósgraduada com a matriz produtiva regional, numa escala nacional e internacional, constitui uma dívida histórica do governo federal com as populações dessa região. Por outro lado, a visão estratégica e a determinação do governo do Estado em institucionalizar uma revolução tecnológica no Amazonas por meio da UEA, e o apoio e a sensibilidade das entidades de classe em consolidar plataformas tecnológicas fortalecendo e ampliando a matriz produtiva da região em forma sustentável são elementos que têm garantido o sucesso desse empreendimento. A implantação do mestrado em Biologia Urbana

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no Centro Universitário Nilton Lins e do mestrado em Mecânica, de natureza interinstitucional, no Centro Federal Tecnológico (CEFET) de Manaus, também constituem marcos importantes para a formação tecnológica no Estado do Amazonas. A presença qualificada da FUCAPI tem ampliado o alcance e a importância dos programas de formação tecnológica gerando novas demandas e compromissos institucionais com o futuro do Amazonas. A solução dos problemas complexos postos em âmbito mundial, em geral, e ao Estado do Amazonas, em particular, exige a consolidação de uma matriz de formação pós-graduada integrada às características socioeconômicas e culturais da região. Exige também uma sinergia política na construção de estratégias, metodologias e projetos que melhorem a infraestrutura laboratorial e logística das redes, plataformas e dos programas de Ciência e Tecnologia estratégicos para o desenvolvimento da matriz produtiva e da indústria de ponta do Amazonas. Atualmente, o Estado do Amazonas constrói os programas tecnológicos que garantirão sua permanência, com alteridade e soberania, na era da sustentabilidade de uma civilização ocidental mais hierarquizada e regulamentada. A história desvendará o alcance desse empreendimento.

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no

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eletrônico:

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Marcílio de Freitas é físico e mestre em Física Aplicada. Atua como professor do Departamento de Física da UFAM desde 1978, e como secretário executivo de Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas desde 2007 - mfreitas@vivax.com.br

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ARTIGO

Educação tecnológica – novos paradigmas e confluência com a educação aberta e a distância MARCOS FORMIGA

ALGUNS CONCEITOS BÁSICOS PARA COMPREENDER A ABRANGÊNCIA DA EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA E DA EAD O “Glossário da Educação Profissional” do SENAI (1999) conceitua: Educação Profissional - processo que tem por finalidade preparar o homem para o exercício pleno da cidadania e sua qualificação para o trabalho, visando ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva, integrando as diferentes formas de Educação, incorporando processos que desenvolvem o raciocínio crítico e criativo e que ocorre em instituições especializadas ou no próprio local de trabalho. Educação Profissional Básica - sem exigência de escolaridade prévia. Educação Profissional de Nível Técnico - nível da educação profissional destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio. Educação Profissional de Nível Tecnológico - nível da educação profissional correspondente a

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cursos de nível superior na área tecnológica, destinados aos egressos do ensino médio e técnico. Outras palavras-chave de fontes diversas: Aprendizagem - s.f. ato ou efeito de aprender. Especialmente uma profissão. Exercício ou prática inicial da matéria aprendida; experiência, tirocínio. “In Aurélio, Novo Dicionário da Língua Portuguesa”. Educação - s.f. ação e efeito de educar, de desenvolver as faculdades físicas, intelectuais e morais do ser humano. (Caldas Aulete – “Dicionário Contemporâneo de Língua Portuguesa”) Educação Aberta e a Distância (EaD)- modalidade de Educação formal ou não-formal que estimula a autoaprendizagem e utiliza as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) com o objetivo de ampliar a cobertura aos beneficiários, libertando o conhecimento das amarras de tempo e espaço (MF). Paradigma - (Gr. parádeigma, pelo Lat. paradigma). s.m. 1. Modelo, padrão, estalão. “In Aurélio, Novo

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Dicionário da Língua Portuguesa”.

rado pelo Ministério da Educação em dezembro de

Os conceitos iniciais facilitam a abordagem do

2003, estabelece os fundamentos desta vinculação

assunto. Todavia, ao mesmo tempo em que não

e acena para o financiamento do setor por meio da

devemos desprezar sua importância, não podemos

criação de um Fundo Nacional de Desenvolvimento

a eles ficar presos, visto que, quase sempre, são

da Educação Profissional e Tecnológica (FUNDEP).

fiéis ao pensamento dos legisladores e gestores

O mesmo resultaria da soma dos recursos disponí-

da Educação de cada época, os quais, inequivoca-

veis atualmente, acrescidos daqueles advindos dos

mente, modificam-se com o tempo.

fundos setoriais, BNDES, exportações e etc. Após

Pela natureza dinâmica dos processos sociais,

a bem-sucedida batalha de transformar o FUNDEF

tecnológicos e cognitivos, tais conceitos devem re-

em FUNDEB, o FUNDEP poderá se constituir

fletir a realidade atual, porém, sem perder de vista

na próxima e desafiadora questão da Educação

o futuro, pois Educação além de compromisso com

Nacional. O imperativo do Governo Federal será

o presente deve preocupar-se, sobretudo, com o

conseguir aprovar em 2009 a emenda constitucio-

futuro.

nal que estende a Educação obrigatória (hoje de

O passado serve como referência para sinalizar

6 a 13 anos) para incluir a educação infantil (4 e 5

a forma de se evitar os erros e equívocos já cometi-

anos) e o ensino médio para adolescentes e jovens

dos. Em um País de legislação educacional prolixa

adultos (de 14 a 17 anos).

e caótica, assiste-se, constantemente, à inócua

Enquanto os países com alto índice de escolari-

prática do marco legal que aprisiona a Educação

dade tendem a diminuir o tempo escolar, no Brasil,

– atividade fértil à criatividade, que para o bom

a extensão e maior cobertura da obrigatoriedade

funcionamento, em vez de amarras, necessita fle-

são ainda dívidas sociais não acertadas com a so-

xibilidade.

ciedade naquilo que lhe é mais importante: suas

Segundo interpretação dos atuais dirigentes

crianças e jovens.

da Educação Nacional nesse limiar do século, a

Esta visão vinculada (educação básica com a

Educação Profissional e Tecnológica rege-se por

educação profissional e tecnológica) até certo pon-

parâmetros alicerçados na velha economia indus-

to se justifica pela situação crônica de calamidade

trial e não na economia do conhecimento. Na atual

da educação nacional. Tal preocupação não mais

concepção do MEC, defende-se a estreita ligação

existe em países que levaram a Educação a sério,

à Educação básica e a sua vinculação ao ensino

e não como simples retórica política de significado

médio.

vazio, uma vez que todo jovem ao completar 16

A propósito, o Decreto Federal nº 2.208/97, que

anos também conclui sua educação básica.

regulamentava a Educação Técnica e Tecnológica

A Rede Federal de Educação Tecnológica tinha

foi extinto há cinco anos. A nova legislação, em

por volta de 186 unidades educativas no final de

parte, retorna aos conceitos vigentes até 1997.

2007. Para o corrente ano, exatamente quando a

Trata-se do Decreto nº 5.154/04, que restaura a

Rede completará cem anos (2009), com a entrada

articulação da educação técnica de nível médio

em funcionamento de novos cursos, estima-se a

integrado. Ou seja, da visão estanque e compar-

superação da marca de 300 mil matrículas nos cur-

timentada entre os níveis citados, a partir de 2004

sos técnicos, superiores e de educação de jovens

- a complementaridade e a integração passam a

e adultos.

nortear estas duas modalidades de aprendizagem.

Frequentam atualmente as escolas técnicas

O documento “Proposta de Políticas Públicas

mantidas pela União, Estados e Municípios e pela

para a Educação Profissional e Tecnológica” elabo-

rede particular, aproximadamente 795 mil alunos,

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sendo 55% (cinquenta e cinco por cento) nas instituições privadas e 45% (quarenta e cinco por cento) na rede pública. No que diz respeito às estatísticas de Educação Aberta e a Distância os números disponíveis são precários, e até mesmo os indicadores oficiais do INEP deixam muito a desejar. Parte desta lacuna tem sido corrigida com o lançamento do “Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância” (ABRAEAD), o qual não deve ser verdadeiramente classificado como censo, mas como uma amostragem. Seu conteúdo rende-se à forte burocracia de uma legislação inibidora e restritiva que privilegia os cursos formalmente reconhecidos, quando se sabe, de antemão, que a EaD é uma modalidade que necessita liberdade de ação para funcionar bem. As limitações ainda existentes para se quantificar com segurança o uso de EaD nos cursos técnicos e profissionalizantes são em muito recompensadas pela clara indicação do significativo número de 2,5 milhões de alunos que cursavam a modalidade em 2007. Desse total, 972 mil alunos estavam matriculados nas instituições credenciadas, seguindo-se os cursos providos pela educação corporativa com 583 mil alunos. A propósito desta última, a experiência brasileira se destaca pela qualidade em EaD, exemplificada em recente avaliação internacional que considera a Universidade Corporativa da Petrobras como a melhor do mundo. O Sistema “S” (SENAI-SEBRAE-SENAC) no mesmo ano totaliza 880 mil alunos em cursos de perfil predominantemente técnicos. (Também falta “preparação” linguística para introduzir esta afirmação em conexão com a ideia desenvolvida anteriormente).

TRANSFORMAÇÕES EM CURSO COM CARACTERÍSTICAS DE NOVOS PARADIGMAS • Da Pedagogia à Andragogia Os novos paradigmas da Educação tiveram na Sociedade da Informação e do Conhecimento

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sua caixa de reverberação. Tanto aqueles quanto a nova sociedade prestaram inúmeros serviços à afirmação e disseminação da Educação Aberta e a Distância. Nesse contexto, o professor e educador tradicionais foram, e, são, frequentemente, questionados. Em ambas - EaD e Educação Tecnológica -, a utilização intensa do computador e da Internet acelera a tendência de substituição do ensino tradicional, aquele transmitido por via unilateral (professor-aluno) de domínio exclusivo do professor, pela aprendizagem compreendida como uma via dupla de interação aluno-professor ou vice-versa, bem como entre o aluno e a instituição provedora da formação. As diferentes formas de aprendizagem em tempo real, no momento requeridas pelo alunoaprendiz, subvertem os conceitos tradicionais de tempo-espaço e provocam crises na histórica relação pedagógica entre o aluno e o professor. O aluno passa a ser o centro, além de sujeito da aprendizagem, responsável maior pelo processo educativo. É difícil para o professor, que se considerava o detentor do conhecimento e único capaz de transmitir o saber, imaginar-se ameaçado em seu domínio e a lhe faltar terra firme para pisar. O ciberespaço será responsável pela progressiva substituição das relações pedagógicas (de fato, na escola básica, pela natureza do público infantil, esta relação permanece, porém, em caráter de contínua modificação), pela valorização crescente da andragogia. O jovem adolescente e o jovem adulto – aqueles com idade entre 14 e 17 anos – e que se iniciam na Educação Profissional formam o universo potencial inicial da Educação Aberta a Distância. Este potencial se estende continuamente para a fase adulta das pessoas que, como ressalta Pierre Furter in “Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural”, continua até o final da vida. Ensina o mestre que deve prosperar a conscientização de que o homem é essencialmente um ser inacabado e constitui um conjunto de possíveis que, justamente, cumpre realizar e concretizar. Desde então, a passagem da Pedagogia à Andragogia, isto é, a

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uma teoria da formação permanente do homem, não somente revela quanto a ação educativa se tornou campo fascinante para experimentações inéditas, como também nos mostra que, através dessas experiências, vai-se revelando uma nova imagem do homem e de seu futuro. Uma vez que a formação se torna cada vez mais permanente, outro aspecto marcante da Andragogia caracteriza-se pelo fato de que, cada vez menos, ela se enquadrará em um sistema. O educador que sempre se prestou a atuar em uma perspectiva de continuidade, “ensinando” ou “transmitindo” o conteúdo programático em função do tempo concedido (hora-aula), agora, diante da Andragogia, se vê obrigado a uma ação descontínua e muitas vezes fragmentária. Na perspectiva da Andragogia, o professor pode ser entendido como o maior beneficiado, por ter consciência do conhecimento que domina e daquele que ainda precisa aprender, ou seja, mais importante do que usar sua autoridade dentro e fora da sala de aula é aventurar-se na construção do conhecimento. Assim, em vez de preocupar-se em transmitir informações e conhecimento, deve iniciar e vivenciar uma nova forma de trabalhar o saber, permitindo-lhe analisar, interpretar e dar sentido às situações vitais, ou seja, atuar como agente de transformação. Conclui Furter: “a Educação é, portanto, um processo em que cada um aprende a se formar e se informar a fim de transformar-se e transformar o mundo”. Definitivamente, a perspectiva andragógica deixará de vez a ilusão da proposta pedagógica “de cursos e conteúdos”. Enfim, a Educação deixará a sua dimensão infantilizada – já que esta fase da vida é finita e só dura até os 16 anos. A Educação ao longo da vida A Educação ocupa, e tende a ocupar cada vez

A divisão tradicional da educação infantil e do jovem, comparada à educação escolar, à vida profissional do adulto e à época de aposentadoria já não corresponde à realidade da vida atual e, muito menos - às múltiplas exigências do futuro. O indivíduo-aprendiz, agente de sua própria transformação, não pode mais se contentar com certa bagagem de conhecimento adquirida na juventude. A evolução rápida do mundo exige uma atualização contínua de conhecimentos e saberes, a despeito do alongamento da educação inicial dos jovens. A propósito, o Brasil, por meio do Conselho Nacional de Educação, aprovou a 9ª série da Educação Fundamental, ora em fase de implementação. Em contrapartida reduz-se no mundo desenvolvido o período de atividade profissional, enquanto os progressos da ciência e da medicina prolongam a esperança de vida, aumentando assim o tempo disponível para o lazer e outras atividades lúdicas. Se o mundo do trabalho está em permanente transição, o universo da educação provoca, dá consequência e dinamiza esta mutação. Multiplicamse as oportunidades de aprender, oferecidas pelo mundo exterior à escola tradicional. A noção tradicional de qualificação é substituída pelas noções de competência evolutiva e contínua capacidade de adaptação. Portanto, o conceito de Educação ao longo da vida irá revolucionar a Educação neste século XXI, pois ultrapassa a distinção tradicional entre a escolar formal e a educação permanente (não-formal). Fala-se aqui, da sociedade instruída, na qual tudo pode ser ocasião para se aprender a desenvolver os próprios talentos, competências e adaptações. Nessa nova perspectiva, a educação permanente é concebida como algo muito além do até agora praticado. Deve alargar todas as oportunidades de Educação, com vários objetivos, quer se trate de oferecer uma segunda ou terceira chance; de dar

mais espaço na vida das pessoas, como resposta ao papel de causa-efeito que desempenha na dinâmica das sociedades modernas em constante transformação.

respostas à sede de conhecimentos, de superação de si próprio; ou ao desejo de aperfeiçoar a formação profissional, na qual a educação profissional tem importância assegurada pela possibilidade de

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aumentar a empregabilidade do indivíduo. No futuro próximo, onde o emprego em sua forma tradicional tende a desaparecer, o mundo do trabalho, em permanente mutação, irá exigir cada vez mais flexibilidade na formação para a pessoa capacitada/instruída galgar diferentes profissões que irão surgir e que desaparecerão na velocidade das mudanças tecnológicas.

ficada pela presença física de professores e alunos em uma edificação. O então sistema dual, “à distância” e o “presencial” - concorrentes irreconciliáveis -, cede pouco a pouco e começa a ruir os preconceitos acumulados em ambos os lados. Na verdade, uma Educação de qualidade de padrão mundial não mais pode prescindir do uso da tecnologia como facilitador e mediador da aprendizagem. O que varia é o grau

DA CONVERGÊNCIA DOS MEIOS À OTIMIZAÇÃO DOS FINS O percurso da EaD no Sistema “S” é uma projeção do que aconteceu e vem acontecendo no cenário brasileiro. A educação por correspondência se modernizou além dos Correios, responsável pela sua viabilização via sistema postal. Passou, em ritmo lento e gradual, a agregar os valores qualitativos dos outros meios concorrentes. Com a chegada do rádio e, depois, da televisão (em especial em broadcasting) - e variados meios eletrônicos, gravador, telex, fax, fita cassete, vídeo cassete VHS, CD, DVD, áudio e imagem - foram se aproximando de modo a constituir convergência plena de meios, em que o computador em rede e a internet são responsáveis pelo enorme ganho de escala da EaD. A revolução tecnológica dos meios de informação e comunicação permitiu o progresso da EaD e sua simbiose com a aprendizagem até formar o que se denominaria “knowledge media” (Eisenstadt,1995), compreendida como a combinação de computação, telecomunicações e ciências cognitivas. Desse modo, ao encerrar-se o século XX, a EaD alcançou a maturidade e não mais se questiona sua eficiência e eficácia na aprendizagem em todos os níveis: da educação básica à educação técnica, da educação superior à pós-graduação. A

da utilização e o nível de sofisticação tecnológica. E a favor da educação midiatizada corrobora a crescente queda de preços dos equipamentos, que à medida que populariza o meio, torna-o mais acessível do ponto de vista financeiro. Essa experiência tem se repetido com o rádio, que em seus primórdios se fazia necessário numa “sociedade” de privilegiados pagantes para acessá-lo. O rádio portátil de pilha se encarregou de democratizar este veículo. Semelhantemente, a TV surge em preto e branco a um preço quase proibitivo para a maioria, daí o surgimento do chamado “televizinho”. Com a queda nos preços, dissemina-se o uso e a criação de uma cultura televisiva, que fez do Brasil um país que se comunica fortemente pela imagem. A TV em cores se popularizou, e hoje, depois do fogão, é o eletrodoméstico com maior presença nos lares brasileiros. Agora, é grande a expectativa pela televisão digital e pela TV interativa: dois avanços tecnológicos que certamente trarão à TV a revalorização de seu potencial educativo, reforçando o fenômeno da convergência dos meios de comunicação: Somar para Multiplicar. Tal qual agora acontece com a popularização do computador pessoal e do telefone celular, o qual atingiu 151,9 milhões de usuários, majoritariamente (81,5%) no sistema pré-pago. (Fonte: Google consulta em 26/02/2009).

convergência de meios e a mídia do conhecimento deixam de ser exclusivas da Educação a Distância e invadem, no bom sentido, a educação formal tipi-

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UM PONTO DE CHEGADA OU APENAS DE PASSAGEM? O jovem adulto deve estar bem informado das mudanças intensas ocorrendo nos universos do trabalho e da Educação, uma vez que no início da idade adulta, o aluno terá de cruzar caminhos e fazer escolhas que entrelaçam a formação educacional com o mundo do trabalho. Além do conhecimento terá de desenvolver habilidades, atitudes e competências. Esta exigência dos nossos dias desenha o perfil de um futuro trabalhador polivalente cuja qualificação se constrói pela educação contínua: em sequência à escola básica será a vez da formação profissional, plena de novidades advindas da sociedade da informação e do conhecimento. Esta fase tem na Educação Tecnológica e na EaD um rico manancial para consolidar sua experiência e prática. Depois de adulto, seja o indivíduo estudante, trabalhador, ou seja empresário, para todos - não haverá tempo para “férias do conhecimento”. A aprendizagem se torna permanente e a educação tecnológica, por meio da EaD, um instrumental indispensável à Educação ao longo da vida. O Sistema CNI (SENAI-SESI-IEL) vem contribuindo efetivamente para uma ação estratégica em prol da Educação Nacional, em particular, a partir da elaboração do “Mapa Estratégico da Indústria: 2007-2015”, o qual estabeleceu a Educação como pilar do desenvolvimento sustentável do País e indispensável ao aumento da produtividade e competitividade da indústria. Tendo como base o Mapa da Indústria, a CNI apresentou ao MEC e à sociedade brasileira, em 2005, o documento “Contribuição da Indústria para a Reforma da Educação Superior”. Dentre um conjunto de desafios identificados e propostas ofertadas pela indústria, destaca-se uma ação conjunta de entidades e instituições do Sistema “S” a favor da Engenharia e das profissões tecnológicas. Na visão do setor produtivo há necessidade premente de se modificar a matriz de formação da educação superior brasileira excessivamente concentrada nas áreas de ciências sociais e humanas.

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As diferentes modalidades da Engenharia funcionam como área finalística da maioria dos cursos técnicos. A ação de fortalecimento desta área implica necessariamente em propostas para os cursos pré-técnicos, técnicos, tecnológicos e profissionais. Mais uma vez, a confluência entre Educação Profissional e a Educação a Distância parece evidente. A graduação em Engenharia, na visão do Comitê Gestor do iNOVA Engenharia, continua a apresentar distorções e clamar por uma política emergencial para a área. O processo de mudança no perfil da categoria administrativa das Escolas de Engenharia, e de modo especial e urgente, a necessidade de atualização dos conteúdos curriculares, comprometem sobremaneira a qualidade de muitos desses cursos. As carências já detectadas na pesquisa contida na publicação “iNOVA Engenharia”, em 2006, lamentavelmente até agora, não foram sanadas, ou seja, as chamadas habilidades complementares (“soft skills”). Com atenção redobrada para a efetivação das necessárias correções nos sistemas de oferta e procura por profissionais de Engenharia, tecnólogos e técnicos. Neste sentido, a atual crise financeiro-econômica deve ser interpretada como uma oportunidade ímpar para o setor tecnológico brasileiro lograr um salto qualitativo em favor da competitividade e inovação.

BIBLIOGRAFIA 1) BENTHY, Tom – Learning Beyord The Classroom - Demor Rontledge-Fulmer – London, 1998, 199 p. 2) CNI – Mapa Estratégico da Indústria – 20072015. Brasília. 2005. 99p. 3) CNI/SENAI - Glossário de Educação Profissional – Brasília, 1999– 99p. 4) CNI/SENAI/IEL – iNOVA Engenharia – proposta para a modernização da educação em engenharia do Brasil. Brasília. 2006. 103p.

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5) FGV, Educação Corporativa, Fátima Bayma, org. Ed. Prentice Hall. São Paulo. 2004. 271p.

17) NASCIMENTO, Osvaldo Vieira. Cem anos de ensino profissional no Brasil. Ed. IBPEX. Curitiba. 2007. 461p.

6) FORMIGA, Marcos.Terminologia em EAD in Educação a Distancia: o estado da arte. Ed. Pearson. São Paulo. 2008. 468p.

18) SENAI - Homens e Máquinas – Acervo Roberto Mange: inventário analítico. Vol. I e II. São Paulo. 1991, 263p.

7) ________ Panorama Nacional e Internacional de Educação Aberta e a Distância. Artigo para o SENAC. Rio de Janeiro, Junho 2008. 29p. 8) FÓRUM

NACIONAL – Novo Modelo de Educação para o Brasil, João Paulo dos Reis Veloso e Roberto Cavalcanti de Albuquerque - Coordenador, Editora José Olímpio, Rio de Janeiro, 2004, 153p.

9) FUNDAÇÃO CESGRANRIO – Ensaio – Avaliação de Políticas Públicas em Educação – Rio de Janeiro – Volume 3 - págs. 311-488, 1995; e Volume 10, 2002, p. 405-560. 10) FURTER, Pierre – Educação Permanente e Desenvolvimento Cultural, Editora Vozes, Petrópolis, 1974, 221p. 11) LEITE, Elencice Monlia - El Descarte de La Calificación, Cintefor, Montevideo, 1996, 181p.

Marcos Formiga é graduado e pós-graduado em Economia (UFPE). Honorary Fellow e Diploma pela Universidade de Londres. Ocupou cargos de direção no MEC (CAPES, Secretaria Geral e INEP), no MCT (CNPq e FINEP), e no Ministério da Integração Nacional (Superintendente da SUDENE e Secretário de Desenvolvimento do Centro-Oeste). Atua como professor-pesquisador do CEAM/UnB, assessor especial da CNI-SENAI-DN e é o atual vice-presidente da ABED.

12) MDIC/MEC/MCT - Educação Corporativa – Contribuição para a Competitividade – Coletânea de Artigos, Brasília, 2004, 197p. 13) MEC - Educação, Tecnologia, Legislação Básica, Brasília, 1999, 51p. 14) MEC - Propostas de Políticas Públicas para a Educação Profissional e Tecnológica. Brasília, 2003, 76p. 15) MEC - Sistema Público de Emprego e Educação Profissional, Brasília, 1996, 27p. 16) MONITOR - ABED - Anuário Brasileiro – Estatística de Educação Aberta e a Distância – ABRAEAD-2008, São Paulo, 168p.

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Centro de Treinamento de Produtores Rurais em Negócios Sustentáveis do Município de Manaquiri - Am Juan David Revilla Cárdenas

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Rurais do Município de Manaquiri. Palavras-chave: Produtor-Rural, NegócioTradicional, Insumos, Botânica-Econômica.

Foto: Divulgação

RESUMO O Centro de Treinamento de Produtores Rurais em Negócios Sustentáveis, em fase de implantação, está localizado na rodovia AM-354, quilômetro 08, no município de Manaquiri - AM, a 140 quilômetros de Manaus. O Centro foi criado com objetivo inicial de capacitar 300 produtores rurais em negócios tradicionais em 10 comunidades do município de Manaquiri. Esta capacitação tecnológica destina-se à produção de insumos para diversos setores como cosméticos, fitoterápicos, corantes, artesanatos, frutas e outros. A infraestrutura do Centro, conforme Figura 01, dispõe de sala de aula com recursos áudios-visuais, áreas de cultivos (com mais de 60 espécies de vegetais), mata identificada (arboretum), herbário temático, laboratório de secagem e moagem, professores qualificados e material bibliográfico apropriado, o qual recebe apoio dos parceiros: INPA, SEBRAE, INCRA, CETAM, IDAM, Prefeitura Municipal de Manaquiri e Associação de Produtores

Figura 01 - Sala de aula e Hospedaria do Centro de Treinamento

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Centro de Treinamento de Produtores Rurais em Negócios Sustentáveis do Município de Manaquiri - Am

INTRODUÇÃO O projeto “Qualificação de produtores rurais para aproveitamento de espécies vegetais destinados a insumos de fitoterápicos e fitocosméticos”, de iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) com o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Amazonas (SEBRAE–AM), foi consagrado segundo lugar na categoria Social, na primeira edição do Prêmio Professor Samuel Benchimol 2004, motivo pelo qual o Banco da Amazônia assumiu financiar sua execução no ano de 2006. Inicialmente a instalação do Centro seria na rodovia AM-010 km 47-50, porém não atendeu aos objetivos do projeto, tendo em vista que os posseiros dos lotes não eram produtores rurais e sim caseiros. Desse modo, o local foi transferido para o Município de Manaquiri, devido às condições de trabalho e projetos já em andamento do INPA e SEBRAE neste município. Estão envolvidos na proposta do projeto, aspectos ambientais, sociais, econômicos e tecnológicos. A iniciativa incorpora as diretrizes do desenvolvimento econômico sustentável local, buscando potencializar os recursos vegetais para a produção de insumos com aplicação em fitoterápicos e fitocosméticos, artesanato, corantes, frutas e outros. As novas ideias de desenvolvimento sustentável, conservação da floresta, manutenção da biodiversidade e outros nomes e modelos são confusas e complexas para quem não é alfabetizado ou para quem tem somente o ensino básico. Mesmo que eles entendam tais terminologias e objetos: de que maneira devem influenciar suas atividades? Quem ganha com isto? E como estas ideias e projetos irão beneficiar as famílias e ao meio ambiente? Tendo em vista que os produtores usam e conhecem algumas dúzias ou centenas de vegetais, porém, muitas vezes, apesar de conhecerem os nomes não sabem para que servem, como coletá-los, conservá-los, re-

METODOLOGIA O procedimento original foi definido pelo conselho dos parceiros envolvidos no projeto, que conta principalmente com a Prefeitura Municipal de Manaquiri, por meio da Secretaria da Assistência Social a qual ficou responsável pela seleção das comunidades e de seus 300 participantes. A capacitação dos produtores não é de forma

alizar seu empacotamento e colocá-los no mercado para melhorar sua renda ou qual a melhor maneira poderiam utilizá-los em seu benefício. O objetivo do Centro é qualificá-los com técnicas

contínua, pois seria impossível mantê-los por cinco dias no Centro devido a suas obrigações familiares e alimentares. Desse modo, utilizou-se como estratégia utilizar apenas 1 dia de aula a cada 15 dias para

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visando o melhor aproveitamento (autossustentabilidade) da biodiversidade. Assim como qualquer escola – o Centro oferece aulas teóricas, literatura especializada, laboratórios temáticos, mas principalmente visa o aprendizado, fazendo que eles não apenas conheçam as plantas de valor econômico, mas também a prática do processo de beneficiamento, elaboração e demanda dos produtos.

OBJETIVOS • Capacitação de 300 produtores (proprietários ou posseiros de lotes de mata que gostariam de melhorar sua renda com produtos florestais) rurais de 10 comunidades do município de Manaquiri. • A capacitação tem como base a coleta e o cultivo de espécies com metodologias modernas, a fim de garantir a qualidade e a demanda do produto. • Realizar o inventário e manejo das espécies de uxi–amarelo, jatobá, marapuama, carapanaúba, sucuuba, de modo a se determinar o estoque e produção. Essa experiência servirá de modelo para os trabalhos com outras espécies no futuro. • Tornar o Centro um projeto-piloto na qualificação de monitores, replicadores, agentes comunitários, lideranças comunitárias, entre outros de outras localidades da Amazônia.

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a comunidade. Um dos planos mais ambiciosos da capacitação será a realização dos inventários que eles deverão executar nos seus respectivos lotes. Sempre direcionados às cinco plantas, em outras palavras, - numa primeira etapa - vão contar, marcar e medir as árvores. Os trabalhos de capacitação deverão atingir áreas do conhecimento que antes não tinham sido abordadas, assim tem-se como exemplo a marapuama (muirapuama ou mirantã), que é conhecida no seu estágio juvenil e não na fase adulta (aproximadamente 90% dos produtores desconhecem). Uma vez que eles a identifiquem o restante do trabalho será facilmente desenvolvido. No caso do jatobá existem pessoas que utilizam o fruto para o tratamento de algumas doenças em forma de lambedor, já outros usam a casca da árvore. Porém, existem várias espécies em que o emplacamento e a coleta botânica deverão oferecer a garantia na qualidade do produto. A grande diferença na qualidade do ensino está na especialização dos professores e no apoio do herbário temático que facilitará a identificação das espécies (planta certa para o uso certo). Por outro

lado, o laboratório de campo (arvoretum) mostrará as espécies de valor econômico no seu ambiente natural, previamente identificadas através de placas com números e catalogadas em um manual, e em poucos segundos é possível conhecer a espécie da planta e qual a indicação correta para sua utilização. As áreas de cultivo das plantas de valor econômico estão concentradas num espaço de 10 hectares, onde mais de 60 espécies são cultivadas, respeitando-se o relevo do terreno, o solo e o espaçamento, conforme Figura 02. A área de produção de mudas ocupa mais de 300 m2 onde são usadas as técnicas mais modernas como a quebra de dormência e o acompanhamento do desenvolvimento de mudas, desde a germinação até atingir o tamanho adequado para o transplante definitivo. Os ambientes de triagem (galpões), trituração e secagem são praticados “in sito” pelos alunos. Isto lhes permite refletir nestas respectivas etapas, sobre a importância de ofertarem matéria-prima de qualidade e receberem um valor justo por ela. O manuseio do material coletado na mata deverá ser trabalhado em ambientes limpos, secos e arejados, livres de animais domésticos e nativos. Para Foto: Divulgação

Figura 02 - Formatação do Banco de Germoplasma de Batata Doce no Centro em parceria com o SEBRAE/AM.

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isto será necessário preparar ambientes (galpões) apropriados para a realização das tarefas. Os materiais para transporte tais como sacos, caixas, ou outros tipos, deverão obedecer às exigências sanitárias, estabelecidas pelas normas de boas práticas de manipulação da matéria-prima, de modo a eliminar cheiros, óleos, poeira, penas, fezes, pêlos, lama, barro, entre outros.

CARACTERÍSTICAS DA ÁREA DO PROJETO O município de Manaquiri, onde está localizado o Centro, conta com aproximadamente 20.000 habitantes, que estão distribuídos em 36 comunidades. As atividades mais destacadas são as produções de açaí, mandioca, farinha, goma, batata doce, cupuaçu, pupunha - e outras em menor escala. As comunidades estão distribuídas nos ramais e estradas vicinais da rodovia AM-354, que é utilizada pelas comunidades de Andiroba, Limão, Italiano e Barro Alto - na terra firme, e que ultimamente está com asfalto novo. Outras comunidades estão localizadas nas áreas marginais do Rio Solimões, paraná do Manaquiri e igarapés afluentes nestas áreas. Destacam-se as comunidades da Ilha do Barroso (Lago do Açu, Nova Esperança, São Francisco e Filadélfia) Miraau, Jaraqui, Caí N’água, Bom Intento, Araçatuba, Inajá e outras. O fato de apresentar uma grande diversidade de ambientes ecológicos também nos leva a concluir que existe uma grande diversidade de plantas, garantindo a produção de insumos para atender às expectativas dos mercados de cosméticos, artesanatos, fitomedicamentos, frutos e outros. No referente à área do projeto, que é de responsabilidade mista, o Centro conta com 50 ha. - 10 ha. sobre manejo e 40 ha. de floresta nativa. Na área sobre manejo existem cerca de 60 espécies cultivadas, destacando-se a sangue-de-dragão, jucá, pau-rosa, cana-de-açúcar, ipê-roxo, jatobá, pata-de-vaca, batata doce, cará, açaí, graviola, jenipapo, babosa, sancha-inchi, tamarindo urucu, bucha, andiroba, eucalipto, amora, entre outras. Todas fazem parte do

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material didático. Na área de mata foram abertas trilhas paralelas de 100 em 100 metros, e estão sendo inventariados e emplaquetados todos os indivíduos acima de 5 cm de diâmetro. Na área de apoio didático existem sala de aula com 40 cadeiras, 4 apartamentos, cozinha, herbário temático, área de triagem e dois galpões de 150 m2 cada - para secagem e armazenamento de moagem. Conta também com uma área coberta de mais de 200m2 para exposições.

REUNIÕES DE MOBILIZAÇÃO O trabalho de sensibilização começou com a apresentação do projeto na câmara de vereadores do município. Foi explicada a relevância da comercialização de produtos florestais com regularidade, qualidade e quantidade suficiente para atender às demandas de novos mercados, bem como sobre a importância do necessário apoio dos representantes, sobretudo dos segmentos de fitoterápicos e fitocosméticos, artesanato, corantes, frutas, entre outros. Também foi esclarecido que a extração de produtos da floresta sem manejo pode gerar degradação ao meio ambiente, levando algumas espécies à extinção, devido às mudanças em todo o sistema de produção e hábitos produtivos. Ainda, que é necessário comercializar os produtos florestais, de acordo com a exigência do mercado e a satisfação dos consumidores, mas de forma sustentável, visando tanto à preservação, mantendo o ecossistema, quanto o benefício que esse tipo de atividade poderá trazer ao produtor e ao desenvolvimento da região. Outro tema importante dessa sensibilização foi chamar a atenção de que a melhor maneira para se evitar o desmatamento é descobrir o valor econômico da floresta. Com isso diminuiria a agricultura convencional em áreas florestais, e se investiria em outra opção para assegurar a fonte de renda. Ressaltou-se, ainda, que a organização jurídica da comunidade também é um fator essencial nesse processo, sendo a maior barreira para a organização o fato de a comunidade comercializar seus produtos,

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já que os produtores não dispõem de documentação que comprove a propriedade das terras.

RESULTADOS Até o momento foram capacitados 108 alunos, 56 agentes de saúde, 52 alunos da comunidade Caí n’água e Bom Intento, faltando capacitar em torno de 200 alunos de 8 comunidades, o que deverá acontecer entre os meses de abril e novembro de 2009. Deve-se lembrar que a carga horária varia entre 20 e 40 horas - dependendo do grau de necessidade, analfabetismo, familiarização com os novos empreendimentos, tipo de atividade extrativismo e/ou cultivo. As atividades a serem desenvolvidas pelos produtores dependerão da demanda pelos insumos, a fim de se eliminar frases como estas: “O que vocês têm para nos vender?” Ou outra: “O que vocês querem comprar?” - são exemplos que ocorrem com frequência, apesar de todos conhecerem a grandeza da nossa biodiversidade, ninguém tem um produto adequado para vender. As espécies escolhidas uxi–amarelo, jatobá, marapuama, carapanaúba, sucuuba deverão ter um estoque mínimo, individual de 5 toneladas e estoque pronto de pelo menos 25 toneladas nos próximos 12 meses, pois terão as vendas asseguradas - considerando-se as negociações em curso com prováveis parceiros. Uma das estratégias na gestão do Centro é a prioridade de se buscar empresas com potencial de compra de matéria-prima e que possam pagar um preço justo por ela, o que garantiria ao projeto manter sua qualidade e sustentabilidade dentro dos

rantes naturais, cosméticos, fitoterápicos, alimentos, energéticos, curtidos de couros, sucos, compotas, balas e chocolates medicinais, entre outros. Mais longe já estivemos - hoje temos a escola, alunos, matéria-prima e, sobretudo, a vontade e garra de vencer.

padrões de higiene e preservação ambiental. Nas fases seguintes do projeto deverão acontecer cursos complementares de associativismo e cooperativismo (pelo SEBRAE) e desta forma reforçar os conceitos de produção organizada e de negociação

O TRABALHO COM AS PLANTAS DE VALOR ECONÔMICO Tendo em vista a possibilidade de se comercializar as plantas que possuem um espaço no mercado, buscando superar o nível de sua produção predominantemente doméstica, foi iniciado o cultivo de espécies de valor econômico em caráter experimental. Dentre essas, tem-se plantas como a andiroba, cipó-tuíra, hortelã, arruda, eucalipto, cana, artemísia, pitanga, babosa e jucá. Para algumas espécies foram construídos canteiros, com o aproveitamento de madeiras disponíveis na área, as chamadas “costeletas”, sem o uso de qualquer produto químico, adicionando-se terra preta e adubo de galinha e de gado. As espécies disponíveis na área, com potencialidade aromática, foram extraídas no destilador do Centro em caráter experimental para a produção de “cheiros” visando à área de perfumaria. Diferentes extratos aromáticos foram elaborados e levados para São Paulo, submetidos à análise de empresas especializadas. Para se alcançar o mercado, estão sendo realizados experimentos com o aproveitamento das espécies nativas do local, para outros segmentos. Assim as espécies ornamentais disponíveis na área, entre elas marantáceas e helicôneas, receberão um incremento nos números de indivíduos por área onde ocorrem naturalmente, na intenção de concentrá-las em um único espaço para melhorar a produção, visando elevar o comércio de flores e/ou de plantas vivas.

compartilhada. O futuro é de grande esperança, pois os segmentos econômicos que o projeto deverá abranger têm mercado garantido nas linhas de artesanatos, co-

Nesse processo não se descartou a orientação do cultivo tradicional das fruteiras, para o melhor aproveitamento da produção de frutos, bem como de hortaliças, que se constituem numa necessidade

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básica para o cotidiano alimentar da região. Aproveitaram-se também algumas plantas, por exemplo, o urucum que é utilizado somente para alimentação e agora passou a ser empregado como uma planta medicinal. O mesmo ocorreu com a canade-açúcar que era usada somente na alimentação (produção de açúcar) e agora é trabalhada a aplicação medicinal das folhas dessa planta.

• ALGUMAS CONSIDERAÇÕES O trabalho desenvolvido pelo Centro pode ser adaptado em qualquer lugar da Amazônia, dependendo somente da vontade dos produtores, instituições e empreendedores interessados no progresso da região. Isto se constitui em um instrumento alternativo real para a melhoria da qualidade de vida das pessoas que ali vivem. Em relação à atividade de qualificação e treinamento dos produtores rurais para a produção de insumos, alguns pontos merecem destaque: • A demanda por novos produtos a partir das espécies vegetais da Amazônia existe, porém faltam insumos, ou quando existem muitas vezes não seguem normas e padrões de qualidade e higiene; • O desconhecimento da população local sobre a potencialidade econômica das plantas é um fato, questão observável pelo não aproveitamento das espécies quando são retiradas de seu habitat para utilização da área em roças ou pasto para gado; • Não há material didático para a qualificação dos produtores rurais nas linhas de insumos vegetais, dificultando o trabalho de capacitação. Neste projeto, estão sendo elaborados manuais educativos dos diversos setores; • Falta tradição na exploração de folhas, cascas, sementes, entre outros, gerando dúvidas sobre o retorno financeiro dessa atividade, pois as práticas mais comuns são as de agricultura e pecuária; • O acesso às comunidades ainda é um problema, face à dificuldade de locomoção nos ramais, pela inexistência de pavimentação, in-

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viabilizando o futuro escoamento da produção principalmente no período das chuvas; A falta de materiais para a elaboração dos produtos implica na elevação de custos, considerando-se que para a extração de óleo de algumas espécies é necessário um processo mecanizado. A aquisição dos equipamentos para essa extração requer recursos financeiros extras; Na maioria dos ramais ainda não há energia elétrica para o uso de máquinas, adicionando mais um problema à infraestrutura nesses locais; O manuseio dos insumos requer um espaço físico adequado, com condições ambientais e higiênicas preparadas para essa atividade, por isso há a necessidade de construção de galpões nos lotes; Para o sucesso de projetos com essas características, há a necessidade de capacitação de recursos humanos que possam ser envolvidos em diversas atividades: manejo de espécies, gestão ambiental, liderança, associativismo, entre outros; Dentre as prioridades na capacitação dos recursos humanos, é importante desenvolver, sobretudo, habilidades e competências de gestão financeira para assegurar a sustentabilidade econômica do empreendimento; No caso de projetos financiados, constantemente monitorar e avaliar o investimento dos recursos, a fim de que possam ser aplicados adequadamente; Para a obtenção da documentação completa, necessita-se trabalhar aspectos da legislação fundiária, visando resolver a propriedade da terra, para atender o certificado de origem do produto, pois esse é um dos maiores empecilhos; O estímulo à formação de cooperativas para um trabalho coordenado deve aumentar a oferta de insumos, que permitiria a negociação em bloco e o consequente favorecimento do atendimento a grandes demandas e a preços

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compatíveis com a qualidade; A busca por iniciativas que elevem os preços dos insumos, sem a necessidade de subsídios, que pode ser investindo na sua qualidade por meio de constante qualificação dos produtores rurais; O melhor desempenho no processo de capacitação dos produtores rurais, mediante a estruturação do Centro, pode ser um modelo demonstrativo a ser copiado.

CONCLUSÕES Os trabalhos de estruturação do Centro até sua implantação, de modo a iniciar as atividades levaram dois anos. A participação dos parceiros e colaboradores foi relativamente tímida no começo, porém hoje as atividades tornaram-se estimulantes para eles e para os produtores. As atividades do treinamento de 56 agentes de saúde de 36 comunidades no município de Manaquiri foram gratificantes, pois era necessário criar um quadro demandante de produtos fornecidos pelos produtores rurais. Hoje - nas comunidades - existe uma mobilização neste sentido. As comunidades de Caí n’água e Bom Intento, membros da cooperativa Coopfitos, foram as primeiras cooperadas a serem beneficiadas com o treinamento e atividades em andamento. O treinamento dos produtores de outras comunidades beneficiará suas localidades, visto que serão os fornecedores da matéria-prima, hoje carente na agroindústria (km 04 da AM-354). As próximas comunidades a se associarem já estão inventariadas e selecionadas, com início previsto para abril próximo, uma vez que a Secretaria de Assistência Social está se reorganizando, após a última eleição, e é importante no apoio ao transporte e alimentação das turmas selecionadas até o Centro de Treinamento.

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BIBLIOGRAFIA BRACK EGG, Antonio. Dicionário Enciclopédico de Plantas Utiles del Peru: Cusco: CBC, 1999, 556 p. CLAY, J. W; SAMPAIO P.T.B; CLEMENT, C.R. Biodiversidade amazônica: exemplos de estratégias de utilização. In: PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL E TECNOLÓGICO, 1., Manaus, 1999. Manaus: SEBRAE, 1999. 198 p. FLORES, F.A. Inventário taxonômico de la flora de Amazônia Peruana: herbário etnobótanico amazônico. Iquitos: Amazonian Natural Products, 1999,198 p. REVILLA, J. Plantas da Amazônia: oportunidade econômica e sustentável. 1. ed. Manaus SEBRAE/AM, INPA, 2000.405 p. _____.Apontamento para a cosmética amazônica. Manaus: SEBRAE/AM, INPA, 2002, 532 p. _____.Plantas úteis da bacia amazônica. Manaus: SEBRAE/AM, INPA, 2002. Vol.I e Vol.II 858 p. _____.Corantes naturais. Manaus: SEBRAE/AM, INPA, 2004, 184 p. _____.Cultivando a saúde em hortas caseiras e medicinais. Manaus: SEBRAE/AM, INPA, 2001, 102 p.

Juan David Revilla Cárdenas é biólogo, mestre e doutor em Botânica pela UFAM/INPA e especialista em Inventário Florístico e Botânica Econômica da Coordenação em Pesquisas Botânicas do INPA.

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NOTÍCIAS T&C

IV Jornadas Tecnológicas Entre os dias 27 e 29 de maio, realizam-se as IV Jornadas Tecnológicas, na cidade de Torres Novas/PA, nas instalações da NERSANT – Associação Empresarial da Região de Santarém. Trata-se de um evento de referência no ramo eletrotécnico, sendo que o seu principal objetivo é a atualização e o esclarecimento dos profissionais relativo às recentes novidades técnicas e tecnológicas. Pré-inscrições e informações no endereço eletrônico abaixo. Fonte - http://www.jornadastecnologicas.pt

Congresso promove intercâmbio entre academia e mercado A revista InfoBrasil promove, dos dias 27 a 29 de maio, no Centro de Negócios SEBRAE em Fortaleza/CE, o II Congresso Tecnológico InfoBrasil, onde serão discutidos os principais temas e tendências do setor de TI&Telecom. O evento reunirá pesquisadores, empresários e estudantes para discutir assuntos de interesse do mercado, apresentar as novidades do setor e realizar negócios. Para mais informações consulte: www.infobrasil.inf.br/ComoParticiparCongresso.aspx Fonte - http://www.infobrasil.inf.br

Universidade realiza Simpósio de Ciência e Tecnologia A Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) promoverá nos dias 4,5 e seis de junho de 2009, na cidade de Ponta Grossa/PR, o I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia (SINECT). No evento serão oferecidas conferências, minicursos, comunicações e painéis para promover reflexões e troca de experiências entres estudantes, profissionais da área e pesquisadores. Fonte - http://www.pg.utfpr.edu.br/sinect

UEA promove a I Mostra de Estudos Científicos do Proformar No período entre 26 e 30 de setembro, educadores brasileiros e estrangeiros estarão em Manaus para participarem da I Mostra de Estudos Científicos do Proformar, encontro promovido pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A proposta do evento é incentivar a pesquisa e o resgate da memória do maior programa de graduação de professores do Brasil, o Programa de Formação e Valorização de Professores da UEA, que já graduou com curso superior mais de 16 mil professores da rede pública de todo o Estado do Amazonas. Mais informações podem ser obtidas no portal da UEA - www.uea.edu.br Fonte - http://srvportal.amazonastur.am.gov.br/noticia.php?cod=1287


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Ano VII - Número 16 - 1º Semestre de 2009 ISSN - 1678-3824 Publicação Semestral da Fucapi - Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica Conselho Editorial Alessandro Bezerra Trindade Dimas José Lasmar Evandro Luiz de Xerez Vieiralves Guajarino de Araújo Filho Isa Assef dos Santos José Alberto da Costa Machado Niomar Lins Pimenta Jornalista Responsável Cristina Monte Mtb 39.238 DRT/SP Estagiária Juliana Carvalho

Projeto Gráfico desenvolvido pelo curso de Design de Interface Digital - CESF/FUCAPI Coordenação de Projeto Gráfico Franciane da Silva Falcão Capa e Ilustrações Anna Carolina Azulay Refkalefsky Diagramação de Soluções Gráficas Osvaldo Relder Araújo da Silva

As opiniões emitidas nos artigos publicados nesta revista são de inteira responsabilidade dos autores.

T&C Amazônia é uma publicação criada com o intuito de discutir temas relevantes de interesse do país e, em especial, da Região Amazônica. Cada edição aborda um tema específico, divulgando o pensamento e os estudos realizados por profissionais da área focalizada. O teor dos textos é de inteira responsabilidade dos autores. Com o objetivo de aprimorar o conteúdo da publicação, a partir desta edição, T&C Amazônia passa a ser produzida semestralmente. Os interessados em publicar seus trabalhos devem encaminhá-los para o endereço eletrônico tec_amazonia@fucapi.br, para que sejam submetidos à análise do Conselho Editorial. O envio de um artigo não garante a sua publicação. Os artigos publicados não concedem direito de remuneração ao autor. No próximo número, T&C Amazônia irá abordar o tema – Indústria de Duas Rodas. Os interessados em publicar seus artigos na próxima edição da T&C Amazônia devem encaminhá-los até o dia 10 de setembro de 2009 para o endereço eletrônico mencionado. O ar tigo deverá ser enviado exclusivamente por meio eletrônico, em arquivo texto, digitado em editor de texto Microsoft Word 4.0 ou superior, formatado em papel Carta, com margens laterais de 3,0 cm, margem superior de 3,5 cm, margem inferior de 2,5 cm, fonte Arial tamanho 12 e espaçamento simples. O artigo deve conter um resumo, breve currículo do autor e pode apresentar gráficos e figuras, desde que o tamanho do artigo permaneça entre 4 e 6 páginas.



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