Revista TEMA, n.3

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Luis Rocha . Bruno Castro . Nuno Morais . Pedro Nunes

n.3


t Propriedade Movimento de Expressão Fotográfica

Diretor Bruno Castro

Edi­­to­­rial e Coordenação Bruno Castro e Luís Rocha

Colaboradores Luis Rocha, Bruno Castro, Nuno Morais, Pedro Nunes

Gra­­fis­­mo Joana Tubal

Redação e Administração Palácio de Laguares, R. Prof. Sousa da Câmara, 156, 1070 Campolide, Lisboa

Contactos geral@mef.pt www.mef.pt 962527453


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Ă?NDICE 9

Luis Rocha Mercado da Ribeira

29

Bruno Castro A Idade do Vinho

59

Nuno Morais Lugar de Azeite

85

Pedro Nunes O Encadernador


EDITORIAL Se este fosse um editorial mal escrito, começava com “não há duas sem três, e este é o terceiro número da revista TEMA”. Mas esta não é uma revista mal escrita, é um espaço dedicado à antropologia da imagem fotográfica, ao lançamento de perguntas em vez de respostas, é um contributo do Movimento de Expressão Fotográfica para a reflexão sobre a Cultura Portuguesa. E depois disso tudo é uma revista de fotografia, documental, autoral, pensada, trabalhada, malhetada. Ao terceiro número, vamos atrás da ideia de “Artífice”. A linguística moderna configurou o termo em redor da ingenuidade e da malvadez, do “esquema” para enganar o outro, da “falta de honestidade” para convencer quem surge. Mas, como bons aprendizes de antropólogos da imagem, sabemos que “artífice” vem da “arte de fazer”, mais do que da arte de enganar. O terceiro número da TEMA é, assim, dedicado à honestidade do fazer, à arte enquanto acção humana sem fim que não seja existir ou dar lugar a outro. Não é inédito a TEMA apresentar inéditos. Já o fizemos em ambos os números que antecedem este, dando espaço a novos talentos e projectos recentes. O que é inédito é a apresentação de imagens saídas do baú, repescadas por casualidade ao tempo. Nunca como agora o trabalho de Luís Rocha fez tanto sentido. “Mercado da Ribeira”, que abre a revista, é um olhar nunca antes visto sobre o espaço hoje recuperado das cinzas, fotografado em película há um quarto de século. No tempo em que os mercados de Lisboa se arrastavam passando ao lado da cidade, Luís Rocha dedicou madrugadas a fotografar a actividade daquele que era o maior e mais importante mercado da cidade, antes de abrir portas ao público. As imagens, para além do grão mono-cromático, revelam

uma realidade rural dentro do urbano, num espaçotempo habitado por personagens agora estranhas. As relações construíam-se com ramos de alho francês nos braços ou migrando balanças ao longo do pavilhão aberto, enquanto alguns procuravam o conforto do cigarro, nunca o primeiro da manhã. Luís Rocha apresenta uma visão documental integrada com o meio, aproveitando a velocidade do que o rodeava como um espectador de sorriso honesto. Há rostos cansados e bigodes despreocupados, há olhares que observam outros olhares, tudo na desproporcionalidade de legumes e produtos empilhados no tempo em que o cliente não chega. Uma Lisboa que já não existe, preservada de mãos cruzadas na barriga, honesta na forma como mostra a arte de fazer.

Bruno Castro, conhecedor de vinhos e de toda a sua vivência, produz o ensaio fotográfico “A Idade do Vinho”, onde, ao contrário do que seria expectável, não opta por uma abordagem vincadamente etnográfica. Olha para o acto da vindima e do quotidiano da produção de um vinho como quem espreita o saber


fazer, observando-o de forma a não estar presente, como não querendo interferir na produção da sua própria imagem. É nesse registo que encontramos o olhar de alguém que não procura o exótico, nem o lado mediático do trabalho rural, mas que dialoga visualmente com as gentes e paisagens que compõem o seu ensaio.

Nuno Morais traz à TEMA um trabalho já exposto, em 2014, no espaço DOCUMENTA. “Lugar de Azeite” é uma paragem no tempo humano do óleo mais mediterrânico de todos. Fotografado em digital, as imagens do fotógrafo não se limitam a documentar uma actividade ancestral, mas tentam olhar para a dimensão humana implícita. É uma realidade portuguesa, assumida como natural e presente, mas que se vai desenvolvendo na inércia dos dias da industrialização. Nuno Morais procura não só a luz e a cor próprias do “lugar” como nos passa uma visão interior de uma actividade virada para si própria, feita de líquidos e de sólidos, de avanços e paragens, numa dinâmica mecanizada pelos que a habitam. No fim ficamos com a textura do quotidiano de um lugar, convertido numa imagem de eminente portugalidade.

“O Encadernador” já se mostrou exposto na Padaria do Povo, em Lisboa, no final de 2014. Chega agora à TEMA carregado de simbolismo e dotado de uma sensibilidade incomum na imagem fotográfica portuguesa, porque não dramática. Pedro Nunes encontrou uma realidade paralela aos nossos dias e trabalhou o vulto do “encadernador”, qual fantasma artífice do papel. O preto e branco de Nunes aproveita a nuvem que se lhe depara, criando um ambiente químico em que a imagem se forma lentamente antes de captada pela lente. “O Encadernador” surge, assim, uma figura atemporal, mecânica e precisa, sanguínea e reflectida, detida nos seus processos de fixação do texto disperso. Dentro ou fora do reflexo, dentro ou fora da documentação de si mesmo, “O Encadernador” é uma visão documental artística mais do que realista e cumpre de forma autoral o pressuposto a que a TEMA se propõe desde a sua criação.

Nota: a revista TEMA vai passar por uma pequena evolução. Manteremos os objectivos documental, autoral e antropológico da imagem, mas vamos, já a partir do próximo número, surgir com uma organização e conteúdos diferentes, abertos à comunidade, numa dinâmica que se quer em permanente desenvolvimento.




Luis Rocha Mercado da Ribeira





















Bruno Castro A Idade Do Vinho































Nuno Morais Lugar de Azeite



























Pedro Nunes Encadernador




















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