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NO RASTRO DAS BITCOINS

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FINTECHS

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CADA DIA MAIS, AS CRIPTOMOEDAS REPRESENTAM O POSSÍVEL FUTURO DO DINHEIRO

TEXTO: FRANCIELE FERREIRA E LARISSA RIBEIRO FOTOS: DIVULGAÇÃO DIAGRAMAÇÃO: LUIZA DE OLIVEIRA ILUSTRAÇÃO: LUIZA DE OLIVEIRA

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Descentralizada, democrática e acessível. Essas foram as palavras que apareceram repentinamente no sonho de

Maria Gazola, tecnóloga de logística, após algumas aulas de economia na faculdade. Pode parecer esquisito e até algo da cabeça dela, mas o devaneio era mais que real. “Estranhei, mas me levantei, fui direto pesquisar sobre aquilo que tinha sonhado. Achei interessante e muito promissor”, conta.

Depois desse episódio, Gazola ficou intrigada, resolveu interpretar aquela visão e se aprofundou ainda mais nas pesquisas. Foi assim que descobriu uma de suas maiores paixões, a bitcoin – uma criptomoeda digital criptografada, assim como no sonho que teve.

Por mais que já tivesse interesse pelo mundo da economia, a nova tecnologia financeira ainda parecia ser extremamente utópica para Maria, principalmente por conta de sua desburocratização, algo impensável nas agências bancárias atuais, o alto poder de compra e por não ter regulamentação governamental. “Quando descobri tudo isso, comecei a me envolver mais, não só pela lucratividade, mas para entender o fato de que o governo não consegue taxar, principalmente no Brasil, que tem impostos absurdos nas nossas ações”.

A tecnóloga não percebeu uma diferença imediata na sua vida financeira, mas por conta dos estudos, percebeu um déficit de informação sobre o tema na internet. Com isso, acabou tornando o seu sonho - um tanto quanto peculiar - em um artigo que apresentou na Fatec Log 2018 – congresso que debate logística e tecnologia.

“Quis escrever sobre o impacto dessas novas tecnologias no ramo da Logística. Eu falei um pouco sobre bitcoin, mas foi bem difícil encontrar alguém que entendesse do assunto e pudesse me orientar, por isso tive que incluir o sistema de e-

-commerce”, declara Maria.

Foi no mesmo período de produção do artigo, denominado “E-commerce e Social commerce: evolução e influências no Brasil”, que Maria resolveu acordar de seu sonho e começou a comprar e investir em bitcoin, assim como outros 1,4 milhão de brasileiros que apostam nesse investimento, segundo o site financeiro Foxit.

SABE O QUE É?

Para entender mais um pouco sobre criptomoedas é necessário despertar, espreguiçar e voltar lá para 2008. Naquela época – que para o mundo ‘internético’ já passou faz um tempão, mal existiam aplicativos de bancos ou qualquer fintech - startups que trabalham para inovar e otimizar serviços do sistema financeiro.

Porém, baseado na descentralização da internet, o mundo financeiro era discutido com afinco em inúmeros fóruns espalhados pela web. O debate principal sempre foi sobre a centralidade da política monetária daquele tempo, que, como todos sabem, ainda é a mesma.

Por conta dessas discussões, um personagem misterioso chamado Satoshi Nakamoto publicou um artigo no fórum ‘The Cryptography Mailing’. Nesse contexto ‘cyber místico’, porque nunca se descobriu quem ele era ou se era um grupo de pessoas, foi concebido o conceito de criptomoeda.

Pulando do sonho para a vida real, em 2009, ocorreu a primeira transação com uma moeda virtual realizada entre aquele tal Satoshi Nakamoto e Hal Finney, um programador americano – que para os mais ‘nerds’ é citado como o pai da moeda.

Para Fabrício Tota, criador de criptoativos e porta-voz da corretora financeira ‘Mercado Bitcoin’, a tecnologia surgiu para facilitar transações peers-to-peers – que no velho e bom português, é a compra e venda funcionando de uma pessoa para outra, sem intermediários fiscais. “Qualquer

“Comecei a me envolver mais para entender o fato de que o governo não consegue taxar

Maria Gazola, Técnologa

Em meados de 2008, um desenvolvedor identificado apenas como Satoshi Nakamoto publicou um estudo sobre o funcionamento de um mercado virtual e deu origem à criptomoeda mais famosa do mundo. A identidade de Nakamoto, no entanto, nunca foi comprovada indivíduo pode comprar bitcoin em corretoras financeiras. É algo que subverte um pouco como os produtos financeiros são, mas o canal de investimento é padrão e simples”, explica.

Teoricamente, a bitcoin, por não ter ainda regulamentação, é mais democrática e lucrativa. A criptomoeda não é nada mais do que um algoritmo de um código. Da mesma forma que a moeda física tem números de série, marca d’água e outros dispositivos de segurança, a criptomoeda utiliza códigos difíceis de quebrar, para garantir transações muito mais seguras.

A partir do código são geradas inúmeras outras criptomoedas, que vêm ganhando espaço nos últimos tempos, como a litecoin, a ethereum e outras, mas foi essa primeiríssima que popularizou o conceito de criptoativo digital, é a mais famosa e a que trouxe outros tópicos tecnológicos, como a mineração, processo de validar transações bitcoin de um computador a outro, o blockchain, utilizado como uma carteira de investimentos digital, e por aí vai.

Sem falar que é a mais cara dentro desse mercado, apesar de ainda ser um sonho que está na fase 1 do mundo da internet. Atualmente, uma única bitcoin custa 66 mil reais.

Como é uma rede por computadores ligados ao redor da Terra enquanto validam transações, a famosa mineração digital, as ações nunca param de ganhar recompensas financeiras, por isso, é tão lucrativo.

Todas as transações são conectadas ao endereço bitcoin do investidor, que é armazenado na carteira digital do usuário. Se o endereço estiver vinculado à identidade real de uma pessoa, as transações serão rastreáveis.

INCÓGNITA

Sabe quando você sonha e vê uma pessoa que conhece, mas não sabe o nome? É mais ou menos isso. Esse nível relativo de anonimato torna a plataforma bitcoin uma ótima maneira de fazer compras online de forma incógnita. “Tenho um código identificando o destino das minhas transações, mas como há uma distribuição na rede, nenhum órgão governamental do mundo pode me impedir de mexer nos meus investimentos”, pontua Tota.

O número de brasileiros que investem em criptomoedas superou, em duas vezes, a quantidade de investidores cadastrados na bolsa brasileira B3 (antiga BM&FBovespa), de acordo com informações divulgadas recentemente pelo O Estado de S.Paulo.

Um dos principais fatores que podem ajudar a explicar a grande quantidade de investidores de criptomoedas no Brasil é a acessibilidade do investimento. Por ser uma moeda fracionável, há uma possibilidade maior para comprar e passar a investir, porque o valor pode ser fracionado até a oitava casa decimal, ou seja, até o 0000000,1 bitcoin, para que se aproxime de um preço interessante para quem quer adquirir.

Com liberdade bancária, livre das grandes taxações, já que em todos os países do mundo não é necessário declarar essa

criptomoeda, a bitcoin vem ganhando um lugar considerável no caminho financeiro e na indústria tecnológica.

IMPACTOS

Nessa pandemia, ao contrário da paralisia das moedas fiduciárias - qualquer título não-conversível que advém da confiança em quem as emite –, o dinheiro digital teve o seu valor elevado. Apesar de ficar praticamente estável desde janeiro, a bitcoin ficou entre os ativos de melhor desempenho no primeiro semestre de 2020, acumulando a valorização de 26,85%.

No Brasil, por causa também da disparada de 35%, a bitcoin teve um desempenho ainda melhor, avançando 72% no valor inicial, de acordo com pesquisa do portal de notícias econômicas Infomoney.

Mesmo sendo um modo de investimento inovador, com uma tecnologia ampla, rentabilidade maior e descentralização, o impacto é como qualquer outra moeda: a facilitação de troca de produtos, como uma pílula do sono que pode te ajudar a adormecer.

Para o economista Luciano Simões, por conta da circulação de criptomoedas, o comércio e o consumo se modificam, usando valores monetários diferentes, inclusive atraindo um perfil novo de investidores. “Logicamente com risco, mas é um impacto comum para a política monetária, só que sem regulamentação”.

De acordo com ele, o dinheiro tem um valor especulativo, do qual não se tem garantias legais. “Independentemente de ser uma rede sem ente central, ele tem algumas cobranças, em pequenas transações, além de que nos últimos anos, tem sido pauta para criação de um conselho monetário. Porém, a moeda não tem uma legalidade plena, sua movimentação ainda pode ser algo perigoso”, complementa.

Como todo remédio para o sono, a bitcoin ainda tem alguns fatores negativos, mas que não estremecem a estrutura do código e não são um pesadelo. Por ser uma rede descentralizada, a moeda passa por uma volatilidade sem limite. É por isso que o preço da bitcoin pode subir 20% em um dia e descer 6% em outro, tal volatilidade é normal no mercado de criptomoedas. A instabilidade é uma fonte de possíveis rendimentos absurdos, o que deixa muita gente confusa, mas feliz. É como aquela sensação de cair enquanto dorme – normalmente, é estranho, mas quando se volta a sonhar, pode ser melhor do que antes.

Fabrício Tota contou que isso é uma situação comum no mercado de investimentos. Por isso, a preocupação deve ser moderada, deve-se ter intuição. “Isso é inerente ao ativo. Vai flutuar porque é assim que é. Por isso, para investir é necessário medir O QUE É?

Bitcoin é uma criptomoeda, ou seja, é um meio de troca que se utiliza da criptografia para assegurar transações online e para controlar a criação de novas unidades da moeda.

QUANDO SURGIU?

A bitcoin foi apresentada em 2009 por um programador identificado como Satoshi Nakamoto e é considerada a primeira moeda digital.

COMO É DIVIDIDO?

A bitcoin é dividida em Satoshis; um bitcoin equivale a cem milhões de Satoshis. A maioria desses sites e aplicativos que oferecem bitcoins grátis, na verdade oferece os Satoshis.

o tamanho da sua exposição. Ter uma visão realista da sua carteira de investimento”.

QUEM INVESTE?

Assim como a sonhadora Maria, que tem apenas 22 anos, a predominância de investidores jovens é uma realidade. Além da facilidade de acesso, que se torna cada dia mais evidente, isso acontece, também, porque os jovens que presenciaram o surgimento desse mercado cresceram junto com a moeda.

Bem no comecinho do sistema de bitcoin, Thiago Gonçalves começou a estudar sobre criptomoedas. Interessado no assunto, um tempo depois resolveu comprar a sua primeira moeda virtual. “Em 2015, estava com um dinheiro parado e não me atraía a ideia de investir em uma aposentadoria. Foi quando lembrei das criptomoedas, resolvi correr um risco maior, minerei um tempo para aprender, mas não era vantajoso com o equipamento que eu tinha”.

Para minerar bitcoin é necessário ter um computador com alta capacidade de processamento. Diante da dificuldade de minerar, atualmente não é mais possível fazer com um computador caseiro. Os mineradores compram máquinas que foram feitas especialmente para esta ação, como as ASICS, um processador que custa de 5 a 16 mil reais.

Os gastos com a mineração não param na compra de um computador robusto. O uso de energia em casa também pode subir consideravelmente, o que faz com que investir na mineração não valha tanto a pena no Brasil.

Agora Thiago mora na Tailândia – o país em que a tecnologia anda de mãos dadas com os negócios –, e nota uma extrema diferença em como as pessoas entendem do assunto por lá. “Aqui é o centro do mundo, você tem acesso a todo mercado oriental, pode fazer transação com esse tipo de dinheiro, a maioria da população é familiarizada. Isso ocorre ainda mais porque aqui há muitos chineses, que são fortes nesse cenário e praticamente comandam o mercado de mineração”.

POUCOS COMPREENDEM

Por que parece tão fantasioso o conceito de bitcoin? Apesar de as criptomoedas estarem cada vez mais comuns, muitos ainda têm dúvidas se o investimento vale a pena, ou se é apenas uma ilusão. Afinal, é uma tecnologia recente e diferente do que estão acostumados, o que pode causar certa apreensão.

“Acredito que é porque a gente não entende muito bem nem como funcionam as moedas oficiais, como o próprio real. Mas com essas, a gente se sente confortável, porque estão aí desde que o mundo é mundo”, acrescenta Tota.

Poucos serviços oferecem conversão de uma moeda tradicional

Isso é inerente ao ativo. Vai flutuar “ porque é assim que é. Por isso, para investir é necessário medir o tamanho da sua exposição

Fabrício Tota, criador de criptoativos

para a bitcoin, mas aos poucos outras camadas vão sendo criadas para que se facilite o seu uso. “Não está tudo pronto, vamos dizer assim. Uma transação com bitcoin ainda é um pouquinho cara para poder, talvez, pagar o lanche desses fast foods que existem mundo afora”, compara o economista Luciano Simões.

Por enquanto, o bitcoin ainda paira como uma tendência, que pode ou não engrenar em breve. Mas é possível que se transforme no euro da internet, facilitando transações e se tornando uma moeda única para pagamentos digitais.

A ‘moedinha’ que já engatinha no mercado de investimentos, está evoluindo, assim como o e-mail foi para carta ou como o Netflix está sendo para as locadoras. 99

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