5 minute read
filmes: "O REI DO SHOW"
O MAGNÍFICO SHOW CRIADO PORMICHAEL GRACEY
por BRUNA CURI (@escritorawhoviam)
Advertisement
P.T. Barnum (1810-1891) ficou conhecido na história por ser um showman e empresário do ramo do entretenimento norte-americano, sendo lembrado também por estar envolvido em fraudes famosas e por criar o circo que mais tarde viria a se tornar o Ringling Bros. and Barnum & Bailey Circus. Apesar de ser conhecido por ser seu comportamento abusivo, agressivo, preconceituoso e egóico com seus funcionários, Barnum teve um papel fundamental na história do entretenimento norte-americano.
O filme O Rei do Show (2017) retrata a vida do empreendedor; mas a impressão que o longa traz, do início ao fim, é de que se trata de um verdadeiro conto de fadas devido o uso de cores fortes e vivas, as músicas e coreografias e aos cenários, que ajudam a construir essa impressão, transformando a vida do showman em uma história fantasiosa e não só uma mera cinebiografia – que, ao final, torna-se algo positivo.
A trama do longa gira em torno de P.T. Barnum (Hugh Jackman) um homem de origem humilde e sonhador, que conseguiu se casar com a mulher de seus sonhos, Charity (Michelle Williams), desafiando as barreiras sociais da época. A sua grande motivação é conseguir proporcionar uma vida melhor para sua mulher e filhas e o pontapé inicial que Barnum dá é abrir um museu de curiosidades, um de seus maiores desejos.
Na cabeça de Barnum, o museu tem tudo para ser um verdadeiro sucesso, mas o empreendimento acaba fracassando. É nesse momento que ele decide colocar em prática uma alternativa ousada para a época: produzir um show estrelado por freaks, bizarrices e fraudes. Uma mulher barbuda, um anão com voz grossa e o homem mais gordo do mundo passam a ser estrelas do show criado por Barnum, que não se importa em vender algumas mentiras. Para ele o mais importante é o sorriso do seu público, que sai mais feliz do que quando entrou para o espetáculo.
Um dos pontos positivos do filme são as canções originais – destaque para The Greatest Show, A Million Dreams, Rewrite the Stars e This is Me, fazendo o espectador sair cantando do cinema – produzidas pela famosa dupla: Benj Pasek e Justin Paul (que participaram do departamento de música que compôs a trilha sonora do filme La La Land). O trabalho é eficiente, fazendo com que as belas canções ajudem na construção da trama, como exige um bom musical.
A trilha de O Rei do Show é tão marcante, que vem se destacando nas últimas semanas. No domingo 7/jan., a soundtrack passou do 63° lugar para o 1° na Billboard 200 (responsável por classificar semanalmente os álbuns mais populares e vendidos nos EUA), permanecendo no topo por duas semanas consecutivas.
De acordo com o diretor, Michael Gracey, houve uma insistência muito grande para que o musical fosse como Moulin Rouge (2001), que utiliza de canções já existentes. “Houve uma época em que sentíamos muita pressão em fazer um 'musical jukebox', porque você sabe que as pessoas já amam as músicas. Se você usa hits, você já tem meio caminho andado. Mas Hugh e eu queríamos fortemente criar um musical original com todas as músicas originais, e essa pequena decisão resultou na demora de anos e anos até acharmos as pessoas certas”, explicou.
Hugh Jackman já é um conhecido dos musicais, destacando-se por seu papel como Jean Valjean, em Os Miseráveis (2012), mas em O Rei do Show ele se sobressai por cumprir com o desafio de cantar e dançar ao mesmo tempo, apesar de a coreografia do longa ser mais singela se comparada aos clássicos Footloose (1984) e Chicago (2002). Outros atores também merecem comentário, como Zac Efron (o eterno Troy Bolton de High School Musical), que mostrou amadurecimento como ator; Zendaya (outra ex-estrela da Disney, mais conhecida pelo seu papel no seriado Shake It Up), fazendo suas próprias cenas do trapézio e mostrando cada vez mais o seu potencial para ser uma estrela de Hollywood; e a carismática e veterana da Broadway, Keala Settle, que mostrou o quão poderosa é sua voz ao cantar This Is Me.
A parceria entre os personagens de Hugh Jackman e Zac Efron (na trama ele interpreta o burguês Philip Carlyle) também foi outro acerto de O Rei do Show. A química presente entre os personagens ficou evidente na cena musical embalada por The Other Side, em que os dois cantam, dançam e atuam ao mesmo tempo. A sincronia presente nessa cena é espetacular. A ótima relação entre os dois personagens não fica restrita as cenas musicais, sendo uma parceria interessante no desenvolver da trama.
O longa peca em mencionar, de forma superficial, algumas temáticas que são contemporâneas, como a estratificação social, indivíduos marginalizados e excluídos da sociedade (no caso do filme isso acontece por que alguns personagens são considerados como aberrações) e até mesmo sobre o racismo. A maior discussão promovida em O Rei do Show é sobre a cultura erudita e a popular, deixando a mensagem de que arte é apenas questão de opinião.
A estreia de Michael Gracey como diretor foi marcada por alguns acertos: a fotografia utiliza de várias cores, o figurino extravagante e alguns pequenos detalhes inteligentes como, por exemplo, os edifícios de Nova York com as roupas estendidas nos varais. Com um passo na publicidade, de comerciais de TV, Gracey demonstrou o talento de um diretor veterano.
Da mesma forma que Barnum fazia as pessoas sorrirem com o seu show, o filme consegue causar essa mesma sensação no público. O seu objetivo é entreter, fazê-lo esquecer dos problemas da vida por quase duas horas, ao entregar um longa recheado de belas canções, um cenário colorido e figurinos extravagantes. O Rei do Show consegue trazer à tona inúmeros sentimentos que cativam, emocionam e empolgam. //