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filmes: "ME CHAME PELO SEU NOME"
O FLORESCER DOS PESSEGUEIROS
por ROBERTO BARCELOS (@rmqbarcelos)
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O interior da Itália e os pomares de pêssegos são palco para o filme Me Chame Pelo Seu Nome (2017), baseado no romance homônimo escrito pelo egípcio André Aciman e dirigido por Luca Guadagnino. O encanto da ambientação onde acontece a história é incontestável na direção de fotografia feita por Sayombhu Mukdeeprom, com o uso da própria luz natural para dar cores e evidenciar a beleza das locações. Contudo, a história se desenvolve entre tropeços, sustentada pelo carisma dos personagens e a beleza do norte italiano.
Durante as férias de verão com a sua família em um casarão campestre, a rotina monótona de Elio (Timothée Chalamet) muda com a chegada do estadunidense Oliver (Armie Hammer) para ser orientado pelo pai do jovem em sua pesquisa sobre a cultura greco-romana. A presença inesperada do homem desperta a atenção de Elio, mas o protagonista da trama, à princípio, camufla o interesse no estrangeiro com doses de indiferença e implicância.
Mesmo com as tentativas de tentar manter distância de Oliver, a atenção de Elio pelo homem torna-se latente após passarem algum tempo juntos em um tour pela pequena cidade. Nesse momento, o roteiro desenvolve com calma a aproximação entre os personagens e a maneira como o protagonista percebe o desejo de estar ao lado do outro homem. O romance dos dois ultrapassa as barreiras criadas para cristalizar a orientação sexual como algo cerceado entre o heterossexual e o homossexual, surgindo como uma experimentação durante as férias e o desabrochar de sentimentos inéditos para as duas partes.
A relação entre eles, quando confrontada pelos próprios personagens, é encarada como uma situação atípica. Apenas Oliver compreende o tabu de se relacionar com outro homem, o que faz com que o mais velho crie barreiras e até mesmo trate o relacionamento como algo menor e passageiro. Nesse ponto, o roteiro peca por não criar profundidade o suficiente para compreendermos as concepções desse personagem. Em um romance homoafetivo – algo tão pouco abordado no cinema que quase se torna um gênero entre os interessados – é comum procurar justificativas capazes de solucionar o porquê do afastamento de alguém, principalmente quando o outro já está entregue a essa tentativa de fazer o relacionamento dar certo.
O filme não cria sinais sobre as motivações de Oliver e o seu relacionamento com Elio, como se fosse uma vontade que surgiu durante o verão e chegou ao fim no inverno. Por esse motivo, a visão do mais velho como um personagem homossexual se fragmenta quando ele se envolve com uma mulher durante a trama. Como espectador, é possível compreender a dificuldade de assumir a homossexualidade, sobretudo na década de 80. Em um diálogo entre os amantes, Oliver conta sobre as dificuldades que o seu pai teria em aceitá-lo caso fosse gay ou assumisse um relacionamento com um homem. Contudo, deve-se atentar o olhar à existência da bissexualidade quando os corpos se atraem.
Me Chame Pelo Seu Nome é uma história sobre a jornada de autoconhecimento de Elio, principalmente com o amadurecimento do protagonista e o florescer frente os próprios sentimentos juvenis. A presença do estrangeiro em sua casa criou a possibilidade de compreender a própria sexualidade de uma maneira não-heteronormativa ao se sentir atraído por outro homem, algo inédito na vida do garoto.
Porém, a temática gay da obra segue um caminho diferente do usual, principalmente ao não representar o protagonista preso em questões que evidenciam fobias. Os próprios pais do garoto evidenciaram na sutileza de seus diálogos sobre como o aceitaram independente de sua orientação sexual, algo que não afetou Elio já que o protagonista não criava dilemas ou indagações sobre a própria sexualidade, ele apenas queria estar ao lado de Oliver.
O foco do filme é o auto-descobrimento e os momentos de romantismo entre os personagens principais, mas que falha em alguns momentos no roteiro por não explorar ao certo o que esperar de cada um deles. O espaço aberto para a interpretação não cria nuances de ser algo proposital para que a história continue viva mesmo com o fim do longa-metragem, mas sim por ir devagar demais em certo momentos e precisar acelerar a narrativa quando ela precisa ser mais lenta e detalhada. Todavia, ele é de extrema importância para pensarmos sobre a representação da orientação sexual no cinema e a forma como personagens que não são héteros ganham, e precisam, de cada vez mais espaço nos grandes festivais de cinema. //