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Angela Davis

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Drik Barbosa

Drik Barbosa

Mulheres e Interseccionalidade

por CAROLINA CASSESE (@carolcassese)

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No último Dia Internacional da Mulher, a editora Boitempo lançou A Liberdade é uma Luta Constante, da ativista e autora Angela Davis. Esse é o terceiro título de Davis disponível no Brasil, considerando que o primeiro, Mulheres, Raça e Classe, de 1981, foi traduzido apenas em 2016. Com a crescente discussão sobre questões de cunho social na sociedade brasileira, a autora se consolida cada vez mais como uma referência.

Nascida em 1944, Angela Davis carrega uma trajetória de luta. Em 1970, integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos e o grupo Pantera Negra. No mesmo ano, foi acusada de conspiração e sequestro e passou a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI, sendo inocentada de todas as acusações 18 meses depois. Na época, artistas como John Lennon, com Angela, e os Rolling Stones, com Sweet Black Angel, homenagearam e pediam a libertação da ativista em canções. Dirigido por Shola Lynch, o documentário Libertem Angela Davis (2012) também retrata esse período.

Nas palavras da ativista brasileira Djamila Ribeiro, que assinou o prefácio de Mulheres, Raça e Classe, a esquerda tem muito o que aprender com Angela Davis. “Num momento em que as militâncias negras ganham mais visibilidade no Brasil e com isso são covardemente atacadas – inclusive por integrantes de esquerda –, é fortalecedor termos Angela Davis no País ressaltando a importância da luta das mulheres negras, ainda à margem da sociedade em sua grande maioria”, escreveu em um artigo da Carta Capital. Outra importante autora que tem Davis como referência é Judith Butler, filósofa pós-estruturalista, comentando que “Angela Davis reúne em palavras lúcidas nossa história luminosa e o mais promissor futuro de liberdade".

Em Mulheres, Raça e Classe, a autora analisa, por um viés marxista, as opressões sistêmicas sofridas por grupos minoritários. Retratando a história do marxismo e também do feminismo, a escritora reforça a importância de se pensar em esferas interseccionais, pois em uma sociedade capitalista, colonialista e patriarcal, as opressões se relacionam profundamente.

A autora também é categórica ao afirmar que no Brasil e nos Estados Unidos não se pode dizer que a escravidão foi de fato abolida, já que os dois países carregam resquícios desse período, como a violência policial sistêmica e o encarceramento em massa da população negra. Documentários como Eu Não sou Seu Negro (2016) e 13ª Emenda (2016) ilustram a colocação de Davis.

Já em Mulheres, Cultura e Política, o segundo livro da escritora lançado no país, a abordagem é mais ampla e engloba também as lutas de países periféricos. Esse, aliás, é um dos fatores que faz com que Angela Davis seja uma boa referência para a militância brasileira: seus estudos não são centrados apenas na sociedade norte-americana. Uma das ideias mais interessantes presentes na obra é a maneira com que a autora procura tirar o estigma negativo da palavra radical. “Radicalismo significa, simplesmente, entender as coisas desde a raiz”, escreveu.

A Liberdade é Uma Luta Constante reúne uma coleção de seus artigos e discursos proferidos entre 2013 e 2015. Em julho de 2017, a ativista veio ao Brasil e participou de palestras e conferências. No Dia Latino-Americano e Caribenho da Mulher Negra, lotou a reitoria da Universidade Federal da Bahia.

Em tempos de um crescente e aterrorizante conservadorismo, conhecer Angela Davis é preciso. //

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