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Mac Miller
from ZINT ⋅ Edição #16: Atypical
by ZINT
O legado de Mac Miller
por GIOVANA SILVESTRI (@giisilvestri)
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O setembro amarelo foi triste para os fãs de Mac Miller. O rapper, que havia acabado de lançar um álbum falando sobre os recentes últimos meses de sua vida e estava se preparando para um turnê, faleceu na sexta-feira (7) de uma suposta overdose.
O artista foi encontrado morto ao meio-dia em sua residência após uma ligação de emergência vinda de sua própria casa em San Fernando Valley, nos Estados Unidos. Miller morreu de ataque cardíaco decorrente de uma overdose. Segundo o áudio gravado e divulgado pelo TMZ, a ligação era um pedido de resgate para um caso de parada cardíaca. Não se sabe quais substâncias o cantor usou, mas o exame toxicológico sai entre quatro e seis semanas após a data do falecimento.
Ainda segundo o site, amigos estiveram na casa do rapper na noite anterior, para uma festa, deixando o local na madrugada. Suspeita- -se que um dos amigos de Miller realizou a ligação. O rapper nunca escondeu dos fãs sua luta, há anos, contra o abuso de drogas, com suas produções musicais contemplando o tema – a mixtape de 2014, Faces, autobiográfica, revela a relação do artista com as drogas.
LINHA DO TEMPO
O capriconiano Malcolm James Mc- Cormick, conhecido artisticamente como Mac Miller, nasceu no dia 19 de janeiro de 1992 em Pittsburgh, Pensilvânia, Estados Unidos. Desde criança apresentava vocação para a música – no clipe de Best Day Ever é possível ver vídeos da infância de Mac onde ele canta, dança e rima. Filho de Karen Meyers, fotógrafa e judia, e Mark McCormick, arquiteto e cristão, Miller foi criado judeu, teve um Bar Mitzvah e devido sua religião se descrevia como “o rapper judeu mais legal”.
Iniciando aulas de piano aos 6 anos, Mac Miller era um músico autodidata, tocando piano, guitarra, bateria e baixo. Durante o ensino médio, aos 14 anos, começou a produzir seus próprios conteúdos e a se dedicar ao estilo hip hop, se identificando e levando a seguir carreira no gênero. Com 15 anos, sob o pseudônimo EZ Mac, ele lançou a mixtape But My Mackin' Ain't Easy (2007) e How High, em 2008, ao lado do grupo de rap The III Spoken. Logo depois, vieram mais duas mixtape, The Jukebox: Prelude to Class Clown e The High Life, além de um lugar, em 2009, entre os finalistas da Rhyme Calisthenics, a competição do MC no Shadow Lounge.
Em 2010 assinou com a Rostrum Records, uma gravadora independente de Pittsburgh, sua cidade natal. Em 2011 veio o seu quinto projeto, agora sob o selo da gravadora: a mixtape Best Day Ever trouxe singles como Donald Trump, Wear My Hat e All Around the World. No mesmo ano, anunciou o título de seu primeiro álbum de estúdio, Blue Slide Park, em seu canal no YouTube. Lançado em novembro do mesmo ano, a coletânea estreou no topo da Billboard 200, vendendo na primeira semana 144.000 cópias, sendo a primeira estreia distribuída de forma independente a ocupar o primeiro lugar na parada, desde o lançamento de Dogg Food, do grupo Tha Dogg Pound, em 1995.
Miller lançou sua própria gravadora, a REMember Music, e seu segundo álbum de estúdio, Watching Movies with the Sound Off, em 2013, desfazendo seu contrato com a Rostrum Records em 2014. Em outubro do mesmo ano, o rapper entrou para o catálogo da Warner Bros. Records, passando a atuar como produtor de discos com o pseudônimo Larry Fisherman.
Larry também é o pseudônimo que Miller adota para o projeto You, um EP exclusivo lançado no iTunes. No projeto, asinado como Larry Lovestein & The Velvet Revival, aposta no jazz, gênero musical presente na mixtape Faces.
Em trabalhos mais recentes, como o disco Swimming, o artista mostra uma nova configuração na forma de produzir. Com uma maturação em suas produções, tanto na parte musical quanto em suas letras, as músicas revelam uma nova fase nas produções musicais de Miller, vista de forma positiva pela crítica e pelos fãs.
FACES
Faces é a maior produção musical em peso numérico de Mac Miller, com um total de 24 faixas. A décima mixtape solo do artista é também a última a ser lançada. Lançada gratuitamente, o projeto foi lançado de forma independente e online no Dia das Mães, 11 de maio de 2014, sendo um marco na carreira de Miller ao expor e explorar a luta do rapper contra o abuso de drogas. A coletânea é a continuação do seu segundo álbum de estúdio, Watching Movies with the Sound Off, sendo considerada por muitos fãs como o melhor trabalho do artista.
Classificado como o 18º melhor álbum de rap de 2014, pela revista Rolling Stone, o disco tem uma exploração sombria, íntima e reveladora da luta de Miller com a toxicodependência, abordada através de temas de psicose, vício e mortalidade. Aqui, o rapper deixa um pouco o trap e o rap de lado para realizar uma produção mais voltado para o jazz, criando instrumentais psicodélicos. Faces inclui várias palavras faladas e amostras de filmes que foram intercaladas ao longo do álbum, assim como um relacionamento de longo prazo que o rapper teve com uma mulher que conheceu no ensino médio e que durou quatro anos, até abril de 2013.
O VÍCIO
Mac Miller disse que se tornou toxicodependente com uma combinação de prometazina e codeína em uma bebida. A chamada Purple Drank é um exemplo dessa mistura, que visa associar a codeína com anti-histamínico, como a prometazina, um antialérgico. A codeína, um opioide, é derivado da morfina e causa efeito de euforia em altas doses. Além disso, os opioides estão entre as drogas que mais causam dependência tendo em visto os fenômenos de abstinência que a droga causa, como contrações musculares, náuseas, mal-estar, cólicas intestinais e até crises convulsivas.
O problema de associá-la a prometazina é o aumento da toxicidade da mistura, podendo causar reações no corpo como dificuldade respiratória, sonolência, vômitos, vertigens e alucinações, além da toxicidade proporcionar uma forte dependência química. Miller relatou que começou a usar a Purple Drank quando passava a enfrentava um estresse durante sua turnê Macadelic em 2012. Em janeiro de 2013, Mac fez um relato estranho a revista masculina Complex, assustando muitos fãs: “Eu amo a Purple Drank, é ótima. Eu não estava feliz e agora estou. Eu estava ferrado e o sempre era ruim. Meus amigos nem conseguiram olhar para mim da mesma forma. Eu estava perdido”.
Na época do vício de Miller, seu amigo de infância, Jimmy Murton, disse: “Eu o vi com essa mentalidade, que estava ferrado porque sentia que precisa daquilo. Ele estava tentando ficar longe de tudo enquanto ele estava bebendo, é inacreditável que ele parou de beber. É definitivamente uma das coisas mais impressionantes que ele já fez”. O artista deixou de tomar a mistura em novembro de 2012, antes de começar a filmar seu reality show Mac Miller and the Most Dope Family.
PELOS OLHOS DE CRAIG JENKINS
Poucos dias antes de falecer, Mac Miller deu sua última entrevista para a revista Vulture, em agosto. Para poder trazer um pouco da personalidade, vida e sentimentos do rapper, o crítico de música Craig Jenkins fez um perfil do artista chamado O perfeccionista Mac Miller está finalmente fazendo a música que ele sempre quis fazer. O jornalismo literário produzido pelo crítico, após dois longos dias de conversa, revela um lado exigente, lírico, pessoal e intenso de Mac Miller, que segundo o crítico, é uma pessoa detalhista, paciente, modesta, humana e, principalmente, perfeccionista.
Ao caminharem durante uma tarde nublada após uma tempestade nas ruas de Nova York, Mac ainda pensava sobre a apresentação que tinha feito no dia anterior, ponderava sobre seu desempenho, se analisava e imaginava o que poderia ter mudado e feito melhor. Por mais que a crítica tivesse o elogiado, Miller ainda pensava em como poderia melhorar: “Eu tenho uma mania, meio que penso sobre coisas e continuo cozinhando isso por um tempo. Eu vou acordar e apenas sentar aqui e pensar sobre isso por horas".
COMOÇÕES
Alguns amigos próximos, colegas de trabalho e admiradores se comoveram com a morte inesperada de Mac Miller aos 26 anos de idade. Segue algumas das declarações feitas pelas redes sociais.
HERANÇA
A fortuna do rapper foi destinada, segundo o testamento que ele fez em 2013, para seus pais. Mark e Karen McCormack são nomeados como beneficiários, enquanto seu advogado David Byrnes é nomeado como o administrador. O site menciona que há a possibilidade de vários beneficiários, mas os pais de Miller receberão a maior parcela.
O irmão do rapper, chamado Miller, também é nomeado administrador do estado no caso de Byrnes não cumprir sua obrigação. O total da fortuna do cantor não foi revelada.
A morte do rapper foi divulgada por Mark e Karen em um comunicado para a mídia.