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Pabllo Vittar

Pabllo vai longe demais e isso não deve parar não!

por GUILHERME LUIS (@euguilhermelsf)

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O grande nome da música pop nacional em 2017 foi Pabllo Vittar. Conhecida nacionalmente a partir do seu hit Todo Dia (com Rico Dalasam), no Carnaval, a artista colecionou sucessos durante todo o ano, como K.O., Corpo Sensual (com Mateus Carrilho) e Sua Cara (este, do Major Lazer, contando também com Anitta). Foi um período de muito orgulho pra comunidade LGB- TQ+ brasileira, que até então não havia presenciado uma drag queen tocando em tanto lugar como aconteceu com Pabllo. A artista ainda passou por momentos marcantes em sua carreira, como quando subiu ao Palco Mundo do Rock In Rio, convidada por Fergie, e ao quebrar recordes de visualizações em seu clipe lançado juntamente de Major Lazer e Anitta.

A drag queen libertou, desamarrou e deu voz à uma minoria, não só escancarando a arte drag brasileira, como também dando espaço para uma revolução do nosso pop que não acontecia há anos. Agora, com Não Para Não, seu segundo álbum, lançado dia 4 de outubro, ela carrega a responsabilidade de continuar com o sucesso do primeiro disco e ainda demonstrar muita evolução. Depois do incrível Vai Passar Mal, esse desafio não seria nada fácil.

O primeiro trabalho da cantora ficou muito conhecido exatamente por misturar muito do pop atual com influências dos ritmos tradicionais de todo o país, que acabou por se tornar uma expectativa para seu segundo álbum. Problema Seu, o carro-chefe do projeto, trouxe um pop com influências do eletrônico e uma sonoridade moderna que não esquece raízes brasileiras. O clipe é o melhor da carreira: o investimento monetário é visível e garante um clipe repleto de looks, com historinha, muita coreografia e efeitos visuais. Um marco para a videografia de Pabllo e um possível hit de baladas e festas. Bom início.

Disk Me é o segundo single e ganhou clipe quase que junto com o lançamento do disco. A música é um dos pontos mais altos do álbum, na qual Pabllo assume uma faceta mais romântica. A faixa, diferentemente dos hits de balada anteriores, não deixa de ser dançante: seu pós-refrão pede pra uma dancinha agarradinha ou até mesmo sozinho. É a "sofrência" do pop, com letra excelente (ótimo trocadilho com o título), e produção impecável, além de possuir um clipe simples e suficiente.

O primeiro ponto positivo de Não Para Não é ser um álbum conciso e direto. Apesar de 27 minutos parecerem pouco, são bem distribuídos em suas 10 músicas, que não se estendem além do necessário e cumprem o que têm a cumprir. Buzina é a canção que abre o disco, recebendo o ouvinte com muita animação. Essa faz o papel de música-carnaval do álbum.

Composição da própria cantora, a música fala sobre “uma viagem muito doida em uma nave espacial”, de acordo com entrevistas da própria. O ritmo acelerado contagia e anestesia pro resto do álbum que, surpreendentemente, desacelera em todas as faixas seguintes. Destaque pra inserção inusitada de sanfona no meio da faixa que encaixa muito bem – coisa que se torna característico em todo o resto do disco.

Seu Crime tem tantas virtudes que pede pra ser single. Ainda no ritmo lento e romântico de Disk Me, a letra fala sobre um relacionamento que terminou por culpa do outro, trazendo um forró no refrão que funciona perfeitamente e não dar uma dançadinha é impossível. Pop genious!

O álbum ainda conta com participações especiais de outros cantores. Ouro leva a voz de Urias, grande amiga de Pabllo, e acaba por ser uma das mais diferentes do disco – graças aos versos em que Urias solta a voz quase em um rap. O refrão pode até parecer repetitivo, mas é um dos que mais gruda na cabeça. Ponto alto!

Em seguida, Trago Seu Amor de Volta, com participação de Dilsinho, traz uma linda letra, sobre desistir de um relacionamento sem grandes complicações. A harmonia entre as duas vozes é bem encaixada, e diferentemente das outras duas, Pabllo e Dilsinho cantam mais juntos. Apesar disso, a faixa carece de influências mais explícitas do pagode para ter a marca Pabllo Vittar.

A aguardadíssima Vai Embora, com Ludmilla, é um trap que quase chega no funk. Letra agressiva, vocais sensuais e poderosos fazem da música um dos destaques do disco. Tudo isso graças a combinação das duas cantoras e pela transmissão poderosa da mensagem (com frases marcantes como “Ministério da Saúde não me recomenda!”), cantada num batidão cujo refrão final está pronto para as pistas. Obrigatório que ganhe um clipe impactante!

No Hablo Español é a mais diferente – e também uma das mais legais. A letra é divertidíssima e os vocais mais graves de Pabllo estão super sensuais. Apesar de não ser uma faixa totalmente em espanhol, parece sim um primeiro passo para a drag chegar onde Anitta tem pisado tanto: hits por toda a América Latina.

Já Não Vou Deitar e Miragem ficam apagadas perto do resto da tracklist. A primeira, apesar de ter um forró escondido em seu refrão, parece pedir tanto por uma ponte mais impactante quanto por uma letra mais explorada, que fica parecendo muito simplória. A segunda tem uma composição que parece totalmente tirada de Perfect Illusion, de Lady Gaga, e não encerra o disco de forma tão impactante quanto foi no álbum anterior, com Indestrutível. Uma pena.

O Não Para Não cumpre sua grande missão. É ótimo, conciso, coeso e apresenta grande evolução da cantora (seja de letras, produção, vocais e etc.). Talvez o disco careça de faixas chicletes e hits daqueles prontos para estourar, como era com os singles do Vai Passar Mal. Contudo, isso talvez só dite uma nova fase de Pabllo.

Talvez seu desejo de agora vá além de tocar nas pistas, mas sim nas rádios, nas playlists, nos ouvidos e nos corações das pessoas. Fazer de Disk Me seu segundo single do álbum denota muito dessa mudança. Pabllo entrega, definitivamente, um dos melhores discos do ano. E é muito orgulho que nessa lista tenha tanta coisa nacional. //

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