青春ブタ野郎シリーズ
Autor: Kamoshida Hajime Ilustrador: Mizoguchi Keeji Tradutor: JoséGui - Draconic Translations
Ilustrações Prólogo Capítulo 1 – Minha Senpai é uma Coelhinha Capítulo 2 – Compensações de Reconciliação Capítulo 3 – Problemas Surgem com um Primeiro Encontro Capítulo 4 – Nossas Memórias Capítulo 5 – Um Mundo Sem Você Epílogo – Assim, Amanhece Posfácio Bônus – Quão Rápida é a Evolução? Créditos
Hey, vamos nos beijar. Disse a garota que veio me provocar, e então desapareceu de vista depois de um tempo. No final, isso poderia ser chamado de um conto sobre o romance entre eu, ela e elas‌ provavelmente. Talvez.
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No último dia da Golden Week [NT: Semana Dourada japonesa], Azusagawa Sakuta encontrou uma coelhinha selvagem. Fazia cerca de vinte minutos desde que ele tinha saído de seu apartamento. A paisagem urbana ao redor da Estação Shonandai, onde as linhas municipais de metrô Odakyu Enoshima, Sotetsu Izumino e Yokohama se cruzam, apareceu em sua vista. Era uma calma cidade dormitório, com relativamente poucos edifícios altos como os típicos dos subúrbios. Ao passar pela estação à sua esquerda, Sakuta virou à direita no semáforo e depois de menos de um minuto chegou ao seu destino: a biblioteca. Sakuta deixou sua bicicleta no estacionamento quase cheio e seguiu para o prédio. Não importava quantas vezes ele viesse, ele nunca conseguia se acostumar com o particular silêncio característico das bibliotecas, e levemente se endireitou. Simplesmente porque era a maior biblioteca da região, havia um grande número de frequentadores. Havia um homem de meia-idade o qual Sakuta costumava ver no canto das revistas e dos jornais que ficava bem ao lado da entrada, lendo a seção de esportes com uma expressão
descontente.
O
time
de
beisebol
dele
provavelmente havia perdido ontem. Quando ele chegou em frente ao balcão de empréstimos, seus olhos foram em direção as mesas que 16
preenchiam a maior parte do interior. Alunos do ensino médio, estudantes universitários e trabalhadores se destacavam, com laptops abertos em suas frentes. Enquanto ele distraidamente reconhecia a presença daqueles, Sakuta moveu-se para as estantes de livros com romances contemporâneos de capa dura. Inclinandose ligeiramente, ele deslocou seu olhar através das colunas em ordem alfabética; ele estava procurando por um livro que começava com “Yu” e comparado à sua altura de 172 centímetros, a pequena estante mal alcançava sua cintura. Ele logo encontrou o livro que sua irmã havia pedido. Era escrito por Yuigahama Kanna, seu título era A Maçã Venenosa do Príncipe e fora lançado quatro ou cinco anos atrás. Ela gostava do trabalho anterior do autor e tinha decidido que iria atrás de todos eles. Sakuta pegou o livro bastante esfarrapado da pequena estante de livros. Foi
exatamente nesse
instante, quando ele levantou a cabeça para levá-lo ao balcão de empréstimos, que aquilo preencheu sua visão. Uma coelhinha estava de pé entre as estantes de livros. “…”
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Ele piscou várias vezes, sem saber se era uma ilusão ou algo diferente, e percebeu a aparência e a existência dela. Ela tinha saltos altos pretos lustrosos em seus pés. Suas
pernas
estavam
envoltas
por
meias
pretas
levemente transparentes e que mostravam a cor da sua pele. Da mesma forma, um collant preto enfatizava suas curvas e, embora seu peito fosse modesto, seu decote era bem exibido. Em seus pulsos haviam pulseiras brancas ao redor; acentuando a aparência e, claro, uma gravata preta estava em volta do pescoço. Removendo a altura de seus saltos, ela tinha em torno de 165 centímetros. Seu rosto refinado tinha uma expressão um pouco entediada e, uma apatia adulta e sex appeal fluíam a partir dela. No começo, ele se perguntou se havia algum tipo de filmagem acontecendo, mas quando ele olhou ao redor não havia adultos que parecessem ser funcionários de TV. Ela
estava
completamente
sozinha,
uma
perdida.
Surpreendentemente, ela era uma coelhinha selvagem. Claro, a presença dela preenchia a biblioteca no começo da tarde. Seria ‘fora do lugar’ o termo…? Os únicos lugares em que Sakuta podia pensar que eram habitados por coelhinhas eram os cassinos de Las Vegas e restaurantes ligeiramente sombrios, mas em todo caso: ela estava fora do lugar. No entanto, a verdadeira razão 18
para a surpresa de Sakuta era algo completamente diferente. Isso era que, embora ela estivesse com uma roupa tão chamativa, ninguém estava olhando para ela. “Que diabos?” Ele não conseguiu segurar sua voz e um bibliotecário próximo lançou um olhar para ele, dizendo-lhe para ficar quieto.
Enquanto
ele
acenava
de
volta
para
o
bibliotecário, ele pensou Não, não, há um outro alguém com quem você deveria se preocupar. Mas isso em si era o que a estranha convicção de Sakuta havia firmado. Ninguém estava preocupado com a coelhinha: não havia nem mesmo um distúrbio reprimido por ignorar algo, nenhum sinal de que alguém a tivesse notado. Normalmente, se eles tivessem uma coelhinha tão estimulante ao lado deles, até mesmo o estudante que estava segurando livro de estatutos, com sua testa franzida, teria olhado. O velho homem lendo o jornal continuaria fingindo ler e lançaria olhares para ela, enquanto
o
bibliotecário
teria
que
educadamente
repreendê-la com algo como: “Essas roupas são um pouco…” Isso era estranho, era claramente estranho. Era quase como se ela fosse um fantasma que só Sakuta podia ver. 19
Um rastro de suor frio correu pelas suas costas. Ignorando o desconforto dele, a coelhinha pegou um livro e se dirigiu a um canto de estudo dentro da biblioteca. Em seu caminho, ela olhou para o rosto de um aluno e mostrou a língua para fora, acenou com a mão entre o rosto de um trabalhador e o PC tablet dele, como se para garantir que ele não pudesse vê-la. Quando ela reconheceu que eles não reagiriam, ela sorriu satisfeita e depois pegou o assento vazio que estava mais à frente. O estudante universitário em frente a ela não a notou. Mesmo quando ela ajustou a área dos seios do collant que tinha escorregado um pouco, ele não reagiu nem um pouco. Mesmo quando ela deveria certamente estar na frente do campo de visão dele… Depois de um tempo, o estudante recolheu seus livros e começou a se preparar para sair. Então, como se nada tivesse acontecido ele saiu e, ao fazer isso, elenão olhou para os seios da garota. “…” Depois de se preocupar com isso por um tempo, Sakuta se sentou no lugar do aluno que acabara de desocupar o assento. Ele olhou fixamente para a coelhinha. Para as curvas de seus braços que fluíam dos ombros nus, a pele pálida do pescoço aos seios, os movimentos estranhamente sensuais e delicados que 20
acompanhavam cada uma de suas respirações. Apesar de estar em uma biblioteca, que deveria dar a ele uma impressão de diligência, parecia que seu humor tomaria um tom estranho. Não, seu humor já estava estranho o suficiente.
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Depois de um tempo, seus olhos encontraram com os da garota enquanto ela levantava o olhar do livro em sua mão. “…” “…” Os dois piscaram duas vezes e a garota foi a primeira a abrir a boca. “Isso é uma surpresa,” a voz dela possuía uma energia travessa acerca disso, “você ainda consegue me ver.” O comentário dela soou como se ela esperasse que outras pessoas não pudessem vê-la. Mas esse era provavelmente o jeito certo de interpretar tais palavras, porque nenhuma das pessoas ao redor tinha notado a existência da garota, que era como uma massa de sensações discordantes… “Nesse caso.” A garota fechou o livro e se levantou. Normalmente, este seria o lugar onde eles se separariam, e ele poderia conversar mais tarde sobre como ele conheceu uma pessoa estranha. Mas Sakuta tinha um motivo para evitar simplesmente se separar; o que ele estava incomodado era o fato de que ele conhecia a garota. Ela frequentava a mesma escola que ele e estava no ano acima, no terceiro ano na Escola Secundária da Prefeitura de 23
Minegahara. Ele sabia o nome dela também, o nome completo. Sakurajima Mai. Esse era o nome da coelhinha. “Um”. Ele gritou baixinho para as pálidas costas que se despediam. Ela parou e perguntou “o que?” apenas com seu olhar. “Você é a Sakurajima-senpai, certo?” Ele manteve o volume de sua voz em mente enquanto falava o nome dela. “…” Os olhos de Mai mostraram surpresa por um instante. “Se você se dirige a mim assim, você é um estudante da Escola Secundária de Minegahara?” Mai mais uma vez se sentou e olhou diretamente para Sakuta. “Eu sou Azusagawa Sakuta da classe 2-1. Azusagawa Sakuta é formado por Azusagawa de “Área de Serviço de Azusagawa”, e Sakuta de “Flor de Taro1 Desabrochando”. “Eu sou Sakurajima Mai, Sakurajima Mai é formado por Sakurajima de ‘Sakurajima Mai’ e Mai de ‘Sakurajima Mai’.” “Eu sei, você é famosa, Senpai.” “Sim.” Desinteressadamente,
Mai
colocou
a
mão
na
bochecha e deixou seu olhar vagar para a janela. Ela 24
estava inclinada para frente, o que enfatizava seu decote e, naturalmente, atraía os olhos de Sakuta. Certamente, um colírio para os olhos. “Azusagawa Sakuta-kun” “Sim?” “Eu vou te dar um conselho.” “Conselho?” “Esqueça o que você viu hoje,” antes que Sakuta pudesse dizer uma palavra, ela continuou, “Se você conversar com alguém sobre isso, você será considerado insano e tratado como tal.” De fato, isso certamente era um conselho. “E de maneira alguma você deve se envolver comigo.” “…” “Se você entende, diga ‘sim’.” “…” Mai olhou de maneira sombria para ele enquanto Sakuta permanecia em silêncio. No entanto ela logo voltou à sua indiferença anterior e mais uma vez se levantou, e depois de devolver o livro à prateleira, caminhou em direção à saída. Naquele momento, nem uma única pessoa prestou atenção nela. Mesmo quando ela passou calmamente em 25
frente
ao
balcão
de
empréstimos,
a
bibliotecária
silenciosamente continuou seu trabalho. Sakuta era o único a observar com fascínio as belas e esguias pernas delas cobertas por meias. Quando ela tinha completamente sumido, Sakuta se debruçou sobre a mesa. “Dizendo-me para esquecer,” ele murmurou para si mesmo, “de maneira alguma eu conseguirei esquecer uma coelhinha tão excitante.” O erotismo dos ombros até os seios dela tinha sido exposto nu para ser visto, e Mai colocando a mão na bochecha enfatizava seu decote. Ela havia deixado um aroma agradável e o murmúrio de sua voz só tinha sido audível para Sakuta. Ele olhou diretamente nos olhos brilhantes dela. Todas essas coisas tinham estimulado a masculinidade de Sakuta, e certa parte de seu corpo tinha ficado bastante energética. Graças a isso, ele se preocuparia com os olhares de todos se ele se levantasse, então ele não podia se levantar da cadeira. Ele só teria que sentar lá em silêncio por um tempo. Essa era a razão pela qual, apesar de ter muitas coisas que ele queria perguntar a ela, ele não foi atrás de Mai.
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⟡⟡⟡ No dia seguinte, Sakuta acordou de um estranho sonho de ser esmagado por uma ninhada de coelhos. “Eu pensei que seria um da coelhinha, ma…” ele foi se levantar enquanto reclamava de seu sonho. “Hmm?” Mas ele não conseguia levantar, seu ombro esquerdo estava muito pesado. Revirando a colcha, a razão para isso ficou clara. Havia uma garota vestida de pijama dormindo enrolada em seu braço como se estivesse abraçando-o. Ela tinha uma expressão inocente enquanto dormia. Ela se aproximou de Sakuta como se estivesse com frio sem a colcha. Esta era Kaede, sua irmã mais nova que completaria quinze anos este ano. “Kaede, é de manhã, acorde.” “Onii-chan, está frio…” Ela ainda estava adormecida e não mostrava nenhum sinal de acordar, então Sakuta levantou sua irmã e se levantou. “Pesada!” Ela era sua verdadeira irmã mais nova, com 162 centímetros
de
altura,
ela
estava
crescendo
bem
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recentemente e seu desenvolvimento de menina para mulher estava evidente na sensação em seus braços. “Isso é porque metade de mim é amor por você, Oniichan.” “O que há com esse cenário dramático? O que você é, analgésicos que são amabilidade pela metade2? De qualquer forma, levante-se se estiver acordada.” “Mghh~” Mesmo
enquanto
fazia
beicinho
em
descontentamento, Kaede desceu dos braços de Sakuta. Talvez porque no ano passado a aparência dela tinha se desenvolvido mais parecida como uma adulta, sua aparência e suas ações não se combinavam, então havia uma estranha sensação de corrupção na inocente afeição física entre os irmãos. “Além disso, amadureça e para já de se rastejar para a minha cama.” Ao mesmo tempo, ela deveria também parar de usar seu pijama com capuz e estampa de panda. “Eu vim para te acordar, mas você não queria acordar, Onii-chan.” A cara emburrada dela parecia muito mais imatura do que sua idade. “De qualquer forma, você já está envelhecendo.” 28
“Ah, você estava excitado esta manhã, Onii-chan?” “Quem cobiça a própria irmã mais nova?” Ele cutucou levemente a testa dela e saiu do quarto. “Ahh~, espere.” Depois disso, ele preparou o café da manhã para os dois e comeu com Kaede. Sakuta terminou primeiro e rapidamente terminou de se vestir para o colégio. “Vejo você mais tarde, Onii-chan.” E, observado pelo rosto sorridente de Kaede, ele saiu sozinho. Ele bocejou logo depois de sair do apartamento. Porque ele havia visto coisas tão estimulantes ontem que ele tinha ficado excitado e incapaz de dormir. Além disso, acordar
com
um
sonho
tão
estranho
não
foi
particularmente agradável. Ele bocejou novamente quando passou pela área residencial. No caminho, ele cruzou uma ponte. Os edifícios ao redor dele aumentavam à medida que ele se aproximava da estação de trem; o número de pessoas aumentava também e todos caminhavam na mesma direção que Sakuta. Cruzando os semáforos no final da estrada principal e passando por um hotel de negócios e um atacadista de eletrônicos, a estação estava finalmente à vista. Fazia dez minutos desde que ele tinha saído de casa. 29
Ele continuou caminhando pelo corredor por mais trinta metros aproximadamente, e chegou à frente da Loja de Departamentos Oda Express. Ele não ia fazer algumas compras ali, as lojas nem sequer estavam abertas afinal. À direita dessas portas fechadas havia outra plataforma.
A Estrada de Ferro Elétrica de
Enoshima, comumente chamada Enoden. Era uma única rota que parava em treze estações antes de chegar a Kamakura. Ele usou seu bilhete sazonal3 e passou pelos portões de segurança, embarcando no trem. O trem tinha um aspecto retrô, com uma cor creme ao redor das janelas, cercada por verde acima e abaixo. Era um trem pequeno de quatro vagões. Sakuta tinha andado até o final da plataforma e entrado no primeiro vagão. Havia muitos passageiros com uniformes escolares do ensino primário, fundamental e médio, e os demais eram trabalhadores vestidos de terno. Parecia apenas uma linha de turismo até que você residisse ali, mas era um trajeto diário para as pessoas que chamavam isso de pátria. Sakuta se sentou em um assento perto da porta. “Eaí.” E alguém chamou por ele. A pessoa que chegou ao seu lado, terminando um bocejo,
era
uma
pessoa
bonita
que
parecia
que 30
trabalhava em um famoso escritório de ídolos. Seu rosto tinha uma estrutura acentuada e havia um ar intimidante à primeira vista, mas quando ele sorria, os cantos externos de seus olhos se moviam para trás, dando lugar a uma tenra amabilidade. Era um charme que as garotas não podiam resistir. Seu nome era Kunimi Yuuma, um aluno do segundo ano que era membro do clube de basquete. Ele tinha uma namorada. “Haaah…” “Oi, oi, você não deve soltar um suspiro quando vir o rosto de alguém.” “Sua energia logo de manhã é um veneno para os meus olhos, isso me deprime.” “Sério?” “Sério.” Enquanto a habitual conversa sem sentido se desenvolvia, a campainha de partida soou e as portas fecharam. O trem só estava avançando rápido o suficiente de forma que ainda parecia estar acelerando, como alguém arrastando seu pesado corpo para a frente. Quando isso veio à mente, o trem já havia começado a diminuir sua velocidade para parar na próxima estação: Estação Ishigami. “Hey, Kunimi.” 31
“Hmm?” “Você conhece a Sakurajima-senpai—” “Minhas condolências.” Mesmo ele ainda não tendo dito nada, Yuuma o antecipou e colocou uma mão amiga no ombro de Sakuta. “Para o que você está me consolando?” “Estou feliz que você esteja mostrando interesse em uma garota que não seja a Makinohara, mas be~~m, ela já é atéééé demais.” “Eu não disse que iria me confessar ou que gostava dela.” “O que é então?” “Eu estava apenas imaginando que tipo de pessoa ela era.” “Mhhhmmmm, bem, ela é famosa, não é?” “Bem, sim.” Isso
estava
certo,
Sakurajima
Mai
era
uma
celebridade, todos os alunos da Escola Secundária da Prefeitura
de
Minegahara
sabiam
dela.
Não,
provavelmente era mais ou menos setenta ou oitenta por cento da população do país como um todo. Ela era uma verdadeira celebridade, de tal forma que não parecia ser um exagero dizer isso.
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“Ela estreou no mundo do showbiz [NT: ‘showbiz’ é uma abreviação de ‘show business’] como uma atriz infantil aos seis anos de idade. Começou com um drama exibido no horário matinal que ostentava classificações e popularidade a par com grandes sucessos, e se tornou uma sensação da noite para o dia, certo?” Ela tinha aparecido em muitos filmes, dramas e anúncios desde seu início explosivo, e alcançou tamanha popularidade que literalmente nem um único dia se passava sem ela estar na televisão. Claro, depois de dois ou três anos desde sua estréia, ela perdeu a influência de ser ‘Sakurajima Mai, em toda e qualquer coisa’, mas, ao contrário, ganhou ainda mais ofertas pelo seu talento em atuação. Entre os muitos atores que desapareceram após um único ano, sua carreira de atriz continuou bem, mesmo quando ela entrou no ensino fundamental. Só isso era muito impressionante, mas ela até mesmo teve sua segunda pausa. Aos quatorze anos, Sakurajima Mai tinha se transformado em uma bela jovem com aparência de uma adulta, e com o filme que estava sendo exibido na época, ela mais uma vez ganhou atenção rapidamente, e em uma semana, as gravuras em capas de revistas tinham sido completamente cobertas pelo seu rosto sorridente.
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“Eu gostava dela no ensino fundamental. É mesmo, sabia? Eu não podia resistir àquela mistura misteriosa de fofura e erotismo.” Não era apenas Yuuma, muitos jovens tinham tido seus corações roubados por ela. Sua popularidade estava mais uma vez a caminho de seu apogeu mas, enquanto isso estava acontecendo, ela de repente anunciou que faria uma pausa em suas atividades. Foi pouco antes dela se formar no ensino fundamental, e nenhuma razão específica foi dada. Desde então, dois anos e alguns meses tinham se passado. Claro, quando eles descobriram que Sakurajima Mai foi para a mesma escola que eles, eles ficaram surpresos, e
simplesmente
pensaram as
celebridades
realmente são reais. “Havia muitos rumores. Ela era tão conhecida que estava trabalhando com prostituição, que estava tendo um caso com seu produtor, e coisas assim.” “Ela ainda era uma estudante do ensino fundamental naquela época.” “Foi assim desde que ela se tornou uma estudante do ensino fundamental. Além disso, havia rumores de que a mãe dela era sua empresária e agora está começando um escritório de entretenimento, certo? Eu vi na TV semana passada.” 34
“Hmmm, eu não sabia disso. Mas, no que diz respeito aos rumores, eles são apenas divagações sem base.” “Há a expressão “não há fumaça sem fogo”, sabia?” “E vivemos em uma época em que não é apenas a própria pessoa que acende o fogo”. A informação se espalharia e seria compartilhada em um instante na internet. E mesmo que não tivesse base… Os
destinatários
dariam
pouca
importância
à
sua
veracidade, e só iriam querer falar sobre isso, fazer piadas sobre isso, achar engraçado, divertido ou se satisfazer com isso. “É realmente persuasivo quando você diz isso, Sakuta.” Ele levemente ignorou essas palavras. O trem, lentamente como sempre, passou por quatro estações, Yanagi-Koji, Kugenuki, Parque Costeiro de Shonan e Enoshima. Olhando para fora da janela, eles estavam passando por uma seção da estrada. Era uma visão estranha ter carros bem ao lado do trem, mas, no momento em que você pensasse em comentar sobre isso, você teria retornado aos trilhos normais. Nessa área o trem e os prédios pareciam estar tão próximos que colidiriam, e se você pusesse a mão para fora da janela, seria capaz de tocar as paredes das casas 35
e se perguntar se as folhas e galhos de cada jardim batiam no trem. Deixando de lado essas preocupações, o trem passou vagarosamente pelas casas e chegou à próxima estação: a Estação Koshigoe. “Mas eu não a vejo com ninguém na escola.” “Hmm?” “Sakurajima-senpai, foi você quem trouxe esse assunto.” “Ah, é mesmo.” “Ela está sempre sozinha, sabia.” Não só isolada de sua classe, ela ficava sozinha também na escola. Sakuta também tinha essa impressão dela. “Eu ouvi de um senpai no clube de basquete, mas ela aparentemente não veio para a escola no início do primeiro ano.” “Por quê?” “Trabalhos. Mesmo depois que ela anunciou que estava dando uma pausa, ainda acontecia as coisas que ela já estava no elenco. ” “Ah, é isso que você quer dizer.”
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Mas nesse caso, não teria sido melhor terminar tudo e depois anunciar isso? Deve ter havido algo o qual fez ela ter dito isso primeiro, mas… “Aparentemente ela começou a vir corretamente quando as férias de verão terminaram.” “…Isso deve ter sido difícil.” Ele poderia facilmente imaginar como era a sala de aula quando Mai foi para a escola no outono. Durante o primeiro período, os colegas de classe dela devem ter cimentado completamente os relacionamentos e o equilíbrio de poder dentro da classe. “E você pode imaginar como foi a partir daí.” Yuuma provavelmente estava imaginando o mesmo que ele. Uma vez decidida que a estrutura de uma turma não mudaria tão facilmente, e aliviadas em encontrar um lugar, as pessoas se apegariam a tais lugares e protegeriam sua posição dentro da classe. Mai, tendo começado a frequentar no segundo período, teria indubitavelmente tido dificuldade de lidar com isso. Claro; ela era uma atriz, eles teriam se interessado, mas não poderiam interagir indelicadamente com ela também. Fazer um esforço especial para falar com Mai faria com que eles se destacassem, e se eles se destacassem, alguém poderia começar a chamá-los de irritantes ou dizer que eles estavam sendo convencidos. 37
Por essa razão, ela estava agora isolada de sua classe. Todos sabiam que não havia como evitar isso desde quando aconteceu; essa era a atmosfera de uma escola. Por causa disso, Sakuta achava que Mai não teve uma chance de se familiarizar com a escola. No final do dia, apesar de as pessoas reclamarem das coisas serem entediantes, ou de pedirem algo interessante para acontecer, ninguém realmente queria qualquer mudança. Mesmo Sakuta era assim, as coisas eram mais fáceis quando não havia nada de especial. Ele gostava das coisas sendo fáceis, não cansando sua mente ou corpo. A tranquilidade eterna e o tempo livre eram os melhores. O som dos sinos de partida soou e as portas se fecharam com um silvo. Novamente o trem correu entre as casas vagarosamente. Diante deles seus olhos estavam construindo paredes: parede após parede, casa após casa
e, ocasionalmente, pequenas travessias
ferroviárias. Então, quando se perguntaram se as paredes continuariam, a linha de visão deles se expandiu de repente até o horizonte. O mar. Os azuis e intermináveis mares estavam visíveis, cintilantes enquanto refletiam a luz do sol da manhã.
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O céu. Os azuis e infinitos céus estavam visíveis, a límpida atmosfera da manhã criando um gradiente de azul para branco. Diretamente
entre
os
dois
estava
a
linha
perfeitamente reta do horizonte, com o poder de irresistivelmente atrair o olhar deles. Por um tempo, o trem percorreu o litoral de Shichirigahama que dava para a Baía de Sagami. Era uma visão fascinante, com Enoshima à direita e Yuigahama, conhecida por suas áreas de natação oceânica, à esquerda. “Mas por que a citou tão de repente?” “Você gosta de coelhinhas, Kunimi?” Perguntou Sakuta, ainda olhando pela janela. “Não, eu não gosto.” “Então, você as ama?” “Sim, eu as amo.” “Eu não vou te dizer então.” “Huh? Que diabos, me diga.” Yuuma cutucou o estômago de Sakuta. “Digamos que você tenha encontrado uma coelhinha encantadora na biblioteca, o que você faria?” “Olharia novamente.” 39
“Certo.” “E então: me deliciaria com os meus olhos.” Essa seria a reação de uma pessoa normal. Ou pelo menos a reação de um homem normal. “O que isso tem a ver com a Sakurajima-senpai?” “Quero dizer, acho que tem algo a ver com ela, mas eu me pergunto o que.” “Que diabos?” Sakuta evitou a pergunta e, não querendo mais questioná-lo, Yuuma apenas riu. Ainda correndo ao longo da costa, o trem parou em outra estação, e então chegou à estação para a escola deles: Estação de Shichirigahama. As portas se abriram e o cheiro de sal encontrou seus narizes. Dentro desse perfume, grupos de estudantes usando o mesmo uniforme desceram para a plataforma. Havia apenas um único portão de passagem, com uma figura parecida com um espantalho para escanear os passes deles. Durante o dia a estação teria atendentes, mas não havia ninguém lá no momento em que eles se dirigiram para a escola. Sair da estação e passar por um único cruzamento colocaria você bem na frente da escola. “Ah sim, como vai a Kaede-chan?”
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“Você não terá minha irmã.” “Que insensível, Onii-sama.” “Você tem uma namorada fofa, Kunimi.” “Sim, é verdade.” “Ela ficaria com raiva se ela ouvisse.” “Tudo bem, eu também gosto do rosto zangado da Kamisato. Huh? Falando no diabo.” Seguindo a linha de visão de Yuuma, ele viu Sakurajima Mai andando sozinha cerca de dez metros à frente. Suas longas pernas, seu rosto pequeno e sua constituição esbelta e semelhante a uma modelo. Embora vestisse o mesmo uniforme, ela parecia diferente dos outros alunos. Nada disso encaixava… não as meias pretas ao redor das pernas, nem a saia escondendo as nádegas, ou o blazer de tamanho perfeito. Parecia que ela estava usando um uniforme emprestado: mesmo que ela já estivesse no terceiro ano, o uniforme não era familiar para Mai. Na verdade, as três garotas perto dela que estavam conversando usavam o uniforme de maneira muito melhor. O sênior saudando energicamente os membros do clube era o mesmo, e até mesmo um estudante do sexo masculino que estava chutando levemente as costas de seu amigo estava cheio de energia.
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A curta estrada da estação para a Escola Secundária Minegahara estava cheia de vozes alegres e risadas. Dentro
disso,
Mai
parecia
estranhamente
isolada,
andando silenciosamente, sozinha. Como uma pessoa de fora que havia se perdido e acabado em um colégio comum da prefeitura. Uma existência estranha, um patinho feio. Essa era a impressão que Sakurajima Mai mostrava aqui. Não, pelo contrário, ninguém estava prestando atenção
nela.
Apesar
de Sakurajima
Mai estar
ali,
ninguém se virou para olhar. Nem um único aluno estava fazendo barulho, isso era normal para a Escola Secundária de Minegahara. Se ele tivesse que colocar em palavras, Mai era como a “atmosfera” aqui. Algo que todo mundo aceitava. A visão fez Sakuta lembrar as reações das pessoas que ele viu na biblioteca de Shonandai, e um sentimento estranhamente desconfortável subiu em seu estômago. “Hey, Kunimi.” “Hmm?” “Você pode ver Sakurajima-senpai, certo?” “Sim, claro como o dia. Meus olhos são bons sabia, 2.0 em ambos. ” Uma reação como a de Yuuma era normal para esse tipo de pergunta. Algo tinha acontecido ontem. 42
“Vejo você depois.” “Sim.” Yuuma e Sakuta estavam em turmas separadas este ano, e assim se separaram no corredor do segundo andar, onde Sakuta entrou na sala de aula para a turma 2-1. Cerca de metade dos alunos já estavam lá. Ele sentou no primeiro assento perto das janelas. Graças ao seu nome ser “Azusagawa”, ele estava aproximadamente no mesmo lugar que na primavera. Enquanto não houvesse um ‘Aikawa’ ou ‘Aizawa’, ele seria o primeiro na lista de presença. Havia de alguma forma muitas desvantagens em relação a esse “primeiro”, mas quando ele veio para a Escola Secundária de Minegahara, ele tinha a garantia do assento na janela, então ele não achava que era tão ruim assim. E isso era porque o mar podia ser visto das janelas, e várias velas de windsurfistas que estavam indo atrás do vento desde aquela manhã eram visíveis. “Hey.” “…” “Eu disse hey.” Ele notou uma voz perto dele e olhou para cima. De pé em frente à sua mesa, uma garota olhava para Sakuta com desagrado. Ela era o centro do grupo de 43
garotas mais atraentes da turma. O nome dela era Kamisato Saki. Seus olhos eram largos e bonitos e seu cabelo alcançava seus ombros, curvando-se suavemente para dentro. Seus lábios eram um lindo rosa com uma leve camada de maquiagem, e ela era famosa entre os garotos por ser fofa. “É bastante rude me ignorar, não é?” “Desculpe, eu não achei que houvesse mais alguém nesta sala que falasse comigo.” “Você sabe—” O sino soou e, seguindo-o, o professor da turma entrou na sala. “Nossa. É importante, então venha para o telhado. Depois da escola. Jure isso.” Ela bateu as mãos na mesa dele, e então Kamisato Saki voltou para sua própria mesa, diagonalmente atrás da dele. “Eu não tenho nada a dizer sobre isso?” Ele murmurou para si mesmo, e descansou em seu cotovelo, olhando para o mar. O mar novamente estava lá hoje, mas isso era tudo o que havia. “Isso vai ser irritante…” Mesmo que ele tenha sido procurado quando as aulas terminaram por uma garota, Sakuta não ficou feliz nem um pouco, seu coração não pulou a menor batida. Afinal, Kamisato Saki era a namorada de Kunimi Yuuma.
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⟡⟡⟡ Depois da escola, Sakuta tinha se dirigido para as prateleiras de sapato, ele tinha fingido esquecer, mas depois apareceu no telhado como solicitado de qualquer maneira. Ele havia reconsiderado o aborrecimento que apareceria para ele se fingisse ter esquecido. Não era bem o certo dizer, mas ser lento e firme vence a corrida. E ainda assim, quando ele foi imediatamente repreendido com um “Você está atrasado!” de Kamisato Saki, que tinha chegado lá primeiro, ele se arrependeu profundamente. “Eu tive que fazer a limpeza.” “E eu me importo?” “Então, o que você quer.” “Eu vou direto ao assunto”, com essa introdução, Saki olhou diretamente para ele, “se ele continuar com você, Azusagawa Sei-Lá-O-Que, Yuuma irá ter uma imagem ruim.” “…” Ele tinha ouvido algo horrível, ela realmente tinha ido direto ao assunto. “Você sabe muito sobre mim por falar comigo pela primeira vez hoje.” Ele respondeu monotonamente. “Todo mundo sabe sobre o ‘incidente do hospital’.” “Sim… o ‘incidente do hospital’.” 45
Sakuta
repetiu
vagamente,
não
parecendo
interessado. “Eu sinto muito por ele, então não fale mais com o Yuuma.” “Por essa lógica, sinto pena de você agora; você deve estar com uma aparência horrível, não é?” Havia outros estudantes no telhado e a visão deles foi atraída para Sakuta e Saki, que pareciam estar em desacordo.
Havia
pessoas
mexendo
em
seus
smartphones também, provavelmente gravando, o que era um incômodo. “Estou bem, é pelo Yuuma afinal de contas.” “Entendo, você é incrível, Kamisato-san.” “Huh? Por que você está me elogiando?” Ele
na
verdade
estava
provocando
ela,
mas
aparentemente, o sarcasmo não foi compreendido. “Bem, eu não acho que você precise se preocupar. Kunimi vai ficar bem. Ele não vai ficar com uma imagem ruim apenas por estar comigo. Ele é alguém que sempre diz que os almoços que própria mãe faz para ele são deliciosos e agradece por eles todos os dias; ele é um cara legal que entende atos de consideração desse tanto.” Yuuma sempre ria que alguém valorizaria a própria mãe se crescesse sem um pai, mas mesmo um idiota poderia dizer que não era assim tão simples, e definitivamente 46
havia pessoas que iriam inutilmente refutar isso. “Então não se preocupe, Kunimi é um cara tão legal que está perdendo tempo com você, Kamisato-san.” “Você está atrás de uma briga?” “Eu irei brigar, mas não é você quem está atrás de uma, Kamisato?” Provavelmente porque ele estava irritado, Sakuta esqueceu o ‘san’. “E isso! Isso é irritante! Por que ele te chama pelo seu nome, mas ainda me chama pelo meu sobrenome, mesmo eu sendo a namorada dele?” Ela se agarrou estranhamente àquela única palavra e de repente mudou de assunto. Ele ficou em silêncio, apenas pensando como se eu me importasse. Ele tinha recusado a ser vencido pelo amor dela. Mas as palavras que vieram aos seus lábios podem ter sido algo que ele não deveria ter dito. “Kamisato, você está no seu período? Ficando com raiva disso.” “O qu—!” Em um instante, o rosto de Saki ficou vermelho. “Por que vo—morra! Idiota! Morra! Apenas morra!” Saki voltou para o centro do telhado, tendo perdido completamente sua compostura, e bateu a porta do telhado atrás dela. 47
Sakuta ficou para trás e, enquanto coçava a cabeça, disse. “…Porra, bem na mosca, huh?” Sakuta ficou de pé na brisa do mar por um tempo antes de sair para casa, então ele não se encontrou acidentalmente com Kamisato Saki. Ele chegou às prateleiras de sapatos quando o céu tinha se tingido de vermelho. Não havia mais ninguém que estivesse indo direto para casa, havia apenas estudantes participando de suas atividades de clube agora. As desertas prateleiras estavam silenciosas e as vozes que podiam ser ouvidas de vários membros dos clubes pareciam demasiadamente distantes. Ele tinha certeza de que ele era o único ali. Ele possuía a estrada para a estação quase inteiramente para si mesmo também, e quando ele chegou na Estação Shichirigahama logo depois, a mesma estava vazia também. A pequena plataforma, que era cheia de alunos da Escola Secundária de Minegahara logo após o término das aulas, agora tinha apenas algumas pessoas nela. Entre elas, Sakuta notou uma certa pessoa: uma aluna em pé, de maneira altiva, bem no final da plataforma. Ela tinha uma atmosfera sobre si que parecia recusar o contato com o que a cercava, e o fio para um par de fones de ouvido caíam languidamente de suas orelhas em um bolso do uniforme. 48
Era Sakurajima Mai. Seu rosto, iluminado pelo sol poente, era de algum modo apaticamente lindo e mesmo que apenas estivesse ali, ela certamente resultaria em uma pintura. Era o suficiente para fazê-lo sentir vontade de olhar para ela por um tempo… mas outro interesse moveu Sakuta agora. “Olá.” Ele falou coma ela quando se aproximou. “…” Não houve resposta. “Olááá.” Ele falou mais alto que antes. “…” Claro, não houve resposta. Mas de alguma forma parecia como se ela tivesse notado a presença de Sakuta. Esperando o trem na plataforma silenciosa estavam Sakuta, Mai e três outros estudantes de Minegahara. Então, um casal na forma de estudantes universitários fazendo turismo chegou e mostrou o seu bilhete diário “Noriori-kun4” para o atendente da estação. O casal chegou ao centro da plataforma e notou Mai pouco tempo depois. “Hey, aquela é?” “Tem que ser, certo?” 49
Ele podia ouvi-los sussurrar um ao outro enquanto apontavam. Talvez Mai não tenha notado, visto que ela continuava a encarar os trilhos. “Hey, pare com issoooo~” A voz da mulher não parecia nem mesmo um pouco estar tentando pará-lo. A conversa lúdica do casal era inevitavelmente
desagradável
para
os
ouvidos
na
silenciosa plataforma. Quando Sakuta não aguentou mais e se virou para eles, o homem apontava seu smartphone para Mai. Pouco antes do obturador ser disparado, Sakuta entrou na frente do quadro, e quando o obturador disparou, era definitivamente um close-up de Sakuta que havia sido capturado. “Que diabos!?” Mesmo que ele tenha ficado surpreso por um momento, o homem veio para a frente confiantemente. Ele provavelmente não poderia se deixar ser exposto por um colegial. “Eu sou um humano.” Ele respondeu com uma expressão séria, e ele certamente não estava errado. “Huh?” “E você é um tarado então?” 50
“O qu! N-não!” “Você não é uma criança, então pare de ser estúpido, cara. Apenas observar você é vergonhoso como um ser humano. ” “Eu disse que não estava fazendo isso!” “Você ia twittar a foto e se gabar, certo?” “!?” Sakuta estava certo na mosca pelo jeito, visto que o rosto do homem estava cheio de raiva e vergonha. “Se você quer atenção, eu posso tirar uma foto sua e fazer upload da mesma com ‘eu sou um tarado’ se você quiser?” “…” “Você foi informado na escola primária, certo? ‘Trate os outros como você quer ser tratado’.” “C-cale-se, idiota!” Finalmente, depois de dizer isso, o homem foi guiado pela mão da namorada para o trem com destino a Kamakura. Os trens nesta estação paravam na mesma plataforma fosse qualquer direção que seguiriam, porque a estação só tinha um único conjunto de trilhos. Enquanto observava placidamente o trem sair, Sakuta sentiu um olhar em suas costas. Ele lentamente se
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virou quando Mai estava cansadamente removendo seus fones de ouvido. Seus olhos se encontraram e ela falou. “Obrigada.” “Eh?” Sakuta soltou um som de surpresa pela reação inesperada de Mai. “Você achou que eu estaria com raiva e diria a você ‘não faça coisas sem sentido’.” “Eu achei.” “Estou me contentando com apenas pensar nisso.” “Eu preferia que você não dissesse isso também.” Ele não achava que ela estava se contentando de fato quando ela imediatamente disse isso. “Estou acostumada com isso.” “Isso deve ser irritante mesmo se você estiver acostumada com isso.” “…” Talvez ela não esperasse essas palavras, porque os olhos de Mai mostraram uma pequena surpresa. “Irritante… realmente é.” Um pequeno sorriso apareceu nos lábios dela como se estivesse apreciando algo.
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Sentindo que ele poderia falar com ela agora, Sakuta ficou ao lado dela. Mas a primeira a falar foi Mai. “Por que você está aqui tão tarde?” “Uma menina da minha turma me chamou para o telhado.” “Uma
confissão?
Você
é
surpreendentemente
popular.” “Foi uma confissão de ódio, embora”. “O que é isso?” “Foi dito pessoalmente a mim “eu realmente te odeio”. “Isso está muito na moda recentemente.” “Ao menos, é a primeira vez que eu experimento isso. E você, Sakurajima-senpai, por que você está aqui tão tarde?” “Eu
estava
perdendo
tempo
para
que
não
encontrasse você.” Ele não podia dizer se ela estava falando sério ou brincando a partir de seu rosto. Decidindo que ele odiaria se ele checasse e ela estivesse falando sério, Sakuta decidiu não perguntar, e olhou para o horário para mudar de assunto. “Que horas são exatamente?”
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“Você não tem um relógio?” Ele puxou as mangas para cima e mostrou seus pulsos vazios. “Então verifique seu telefone.” “Eu não tenho um.” “Você quer dizer um smartphone?” “Eu não tenho telefone ou smartphone, não quero apenas dizer que esqueci hoje também.” Ele não só não havia trazido, ele simplesmente não tinha um. “…Mesmo?” Mai olhou para ele incrédula. “Mesmo mesmo. Eu costumava usar um, mas fiquei irritado e o joguei no mar. ” Ele ainda se lembrava bem disso. Foi o dia em que tinha ido ver os resultados dos exames de entrada da Escola Secundária de Minegahara… Ele
pesava
cerca
de
120
gramas.
Aquele
conveniente dispositivo de telecomunicações que poderia se conectar ao mundo inteiro havia deixado sua mão, tracejando uma graciosa parábola para o mar. “Jogue entulhos no lixo.” Ela repreendeu-o, naturalmente. “Eu vou fazer isso da próxima vez.”
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“Você não tem amigos, certo?” Você não poderia sair com amigos se não fosse alcançável por um telefone… era assim como o mundo era hoje. A declaração de Mai estava correta, trocar números, endereços de e-mail e IDs era o primeiro passo em direção à amizade, por isso, não ter nenhuma dessas coisas significava que ele falhara em seguir essas regras da sociedade. No pequeno mundo da escola, aqueles que não podiam seguir essas regras eram deixados de fora desde o início. Então, graças a isso, era difícil para ele fazer amigos. “Eu tenho dois amigos exatamente.” “Você ainda tem dois amigos?” “Dois amigos são mais que suficientes, eu acho. Eles só precisam ser amigos para toda a vida.” A lógica de Sakuta era que os algarismos dos números de telefone, e-mails e IDs armazenados em seu telefone eram insignificantes, e ter muitos não era bom. Além disso, havia o problema… onde você desenhava a fronteira de ‘amigo’? Sakuta colocava esse nome no tipo de relacionamento onde, mesmo se você ligasse para eles no meio da noite, eles relutantemente conversariam com você. “Hmmmm.”
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Mesmo quando ela fez ruídos educados enquanto escutava, Mai pegou seu smartphone do bolso, ele tinha uma capa vermelha com orelhas de coelho. Ela mostrou a tela para Sakuta, e o horário 16:37 foi exibido nela. O trem chegaria em pouco tempo. Assim que ele pensou nisso, o telefone começou a vibrar em resposta a uma chamada recebida. “Empresária” estava escrito na tela que ele estava olhando. Mai colocou o dedo no botão de rejeição e a vibração parou. “Está tudo bem em fazer isso?” “O trem está chegando… e eu sei o que ela quer, quer eu responda ou não.” Pode ter sido sua imaginação, mas ela parecia irritada com as últimas palavras. O trem com destino a Fujisawa parou lentamente na plataforma. Ele entrou no trem pela mesma porta que Mai, e eles se sentaram em assentos vazios adjacentes. As portas se fecharam e o trem se avançou lentamente. Havia um bom número de passageiros e cerca de oitenta por cento dos assentos estavam cheios, com várias pessoas em pé.
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Duas
estações
passaram
em
silêncio,
o
mar
desapareceu e o trem estava atravessando o centro da área residencial. “Sobre ontem.” “Eu te aconselhei a esquecer isso ontem.” “Você estava sexy demais naquela roupa de coelho, Sakurajima-senpai, não tem como eu esquecer aquilo.” Ele soltou um bocejo controlado. “Graças a isso eu estava excitado ontem à noite e não dormi nada”. Ele olhou reprovadoramente para Mai. “H-hey! Não me imagine e faça coisas estranhas.” Em vez do olhar enojado e das palavras desdenhosas que ele esperava, o rosto de Mai ficou vermelho e ela entrou em pânico. Ela olhou para ele como se para lidar com seu constrangimento. Foi realmente uma ação adorável. Mas, quando ela ocultou seu desconforto, ela deu uma desculpa para manter as aparências. “E-eu estou bem com um garoto mais novo imaginando coisas pervertidas comigo.” As bochechas dela ainda estavam escarlates, e era óbvio que ela estava blefando. Sua aparência adulta talvez contradissesse a sua inesperada inocência. “Você se afastaria um pouco?” Mai empurrou o ombro de Sakuta como se estivesse limpando algo sujo.
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“Uwaahh, isso dói.” “Eu vou ficar grávida.” “Como vamos chamar o bebê?” “Você…” o olhar de Mai se endureceu, parecia que ele tinha se envolvido demais em algo que não pretendia. “Eu não estava dizendo para você esquecer minha roupa…” “Então o que foi aquilo ontem?” “Ei, Azusagawa Sakuta-kun.” “Você se lembrou do meu nome.” “Eu me certifico de lembrar os nomes quando os ouço.” Era uma atenção que ele gostaria de aprender. Ela provavelmente cultivou isso enquanto trabalhava no show business, ou parecia ter sido assim. “Eu ouvi os rumores sobre você.” “Rumores… huh.” Ele podia adivinhar o que eles eram, assim como ele poderia adivinhar porque ele tinha sido chamado para o telhado. “Tecnicamente falando, eu os vi em vez de ouvi-los.” Assim dizendo, Mai pegou seu smartphone novamente e abriu um quadro de avisos. “Você foi para o ensino fundamental em Yokohama.” “Está certa.” 58
“E você teve uma explosão violenta e mandou três colegas para o hospital.” “Sou surpreendentemente habilidoso em lutas.” “E por causa disso, embora você fosse para o ensino médio lá, você se mudou para cá e prestou os exames secundários para a Escola Secundária de Minegahara.” “…” “Havia muitas outras coisas, devo continuar?” “…” “Alguém disse ‘trate os outros como você quer ser tratado’ mais cedo.” “Isso não é realmente algo para se intrometer, mas pelo contrário, eu estou honrado que você esteja tão interessada em mim.” “A internet é incrível, muita informação pessoal como esta está disponível.” “Isso é verdade.” Ele respondeu sem rodeios. “Bem, não há garantia de que o que está escrito é verdade”. “O que você acha, Senpai?”
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“É óbvio se você pensar um pouco sobre isso. Não há como uma pessoa que fez algo tão grande ir à escola como se nada tivesse acontecido.” “Eu gostaria que você contasse isso aos meus colegas.” “Se eles estão errados, diga-lhes você mesmo.” “Rumores são como a atmosfera. A ‘atmosfera’ naquele ‘tipo de atmosfera’… O tipo de ‘atmosfera’ que você tem que ler.” “Apenar por falhar em lê-la faz com que você seja maltratado… E você sabia, aqueles que criam essa atmosfera não estão envolvidos com isso, então se eu explicar a verdade, provavelmente isso acabaria em uma piada dizendo ‘O que é isso? Estúúúpido’.” Ele não estaria lutando contra as pessoas à sua frente, então mesmo que ele dissesse algo não haveria nenhuma resposta. E ainda, se ele fizesse alguma coisa, haveria uma reação concentrada de algum outro lugar. “E lutar contra a atmosfera é ridículo.” “Então você está deixando o mal-entendido como está e desistindo sem nem mesmo tentar.” “De qualquer forma, está tudo bem, não estou tão confiante de que seria capaz de ser amigo daqueles caras simplórios que simplesmente acreditam em rumores e
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postagens sem pensar nada sobre ou saber quem os criou.” “Essa é uma maneira rancorosa de dizer isso.” O sorriso de Mai assumiu um tom de simpatia. “É a sua vez, Senpai.” “…” Mai olhou de maneira infeliz para Sakuta por um momento,
mas
depois
de
ter
ouvido
falar
das
circunstâncias de Sakuta, ela abriu a boca em derrota. “Eu notei no primeiro dia dos quatro feriados.” Em outras palavras, quatro dias antes, no dia 3 de maio, o Dia Memorial da Constituição. “Eu fui para o aquário em Enoshima por um capricho.” “Sozinha?” “Isso é um problema?” “Eu só queria saber se você tinha um namorado.” “Eu nunca tive um.” Mai franziu os lábios desinteressadamente. “Hehhh.” “Existe um problema em eu ser virgem?” Mai olhou para Sakuta, provocantemente. “…” “…” 61
Seus olhares se encontraram. Mai ficou vermelha instantaneamente, vermelho puro, até ao pescoço. Aparentemente ela estava envergonhada com a palavra ‘virgem’, mesmo que ela tenha começado isso. “Ahh, eu tenho uma regra de não me preocupar com esse tipo de coisa.” “C-certo… de qualquer maneira! Eu notei que ninguém estava olhando para mim naquele aquário, que estava cheio de famílias.” A expressão levemente mal-humorada de Mai a fez parecer mais jovem e adorável. Porque ele só tinha visto a aparência adulta dela antes, isso foi uma experiência nova de várias maneiras. Se ele apontasse isso, ele descarrilaria
a
conversa
novamente,
então
Sakuta
manteve isso em mente. “Eu pensei que era apenas minha imaginação no começo. Já faz dois anos desde que eu estava ativa, e todo mundo estava distraído com os peixes.” O tom da voz dela ficou lentamente e cada vez mais sério. “Mas ficou claro quando entrei num café a caminho de casa. Ninguém me recebeu e eu não fui conduzida a um assento.” “Era um self-service?” “Era uma cafeteria tradicional, com assentos nos balcões e apenas quatro em cada mesa.” “Então você foi lá no passado e foi banida?” 62
“Não tem como ser isso.” A bochecha de Mai mudou de raiva e ela pisou no pé de Sakuta. “Senpai, seu pé.” “O que tem o meu pé?” Mai perguntou seriamente, realmente agindo como se ela não soubesse, ele realmente refletiu ali que ela era uma profissional. “Nada, eu apenas estou feliz por você estar pisando em mim.” Ele quis dizer isso como uma piada, mas Mai recuou e se afastou de Sakuta tanto quanto ela podia, no mesmo momento que o homem que estava sentado ao lado dela desceu do trem. “É uma piada.” “Eu senti pelo menos um pouco de seriedade.” “Bem sim, como homem, estou feliz de ter uma linda senpai se importando comigo.” “Certo, certo, eu estou continuando agora, então fique quieto. Onde eu estava?” “Você estava falando sobre como foi banida de um café.” “Você vai me deixar com raiva.” O olhar de Mai ficou afiado com isso, e não importava como ele olhasse, ela já 63
parecia zangada. Para mostrar seu pedido de desculpas, Sakuta fez um movimento de fechar um zíper em sua boca, e Mai continuou com uma expressão infeliz. “Mesmo quando falei com os funcionários, eles não responderam e nenhum dos outros clientes me notou também. Obviamente fiquei surpresa, então corri de volta para casa.” “Quão longe?” “Para Fujisawa. Mas nada aconteceu quando cheguei lá. Todo mundo olhou para mim como normalmente ficariam surpresos em ver “Sakurajima Mai”. Então eu pensei que realmente tinha sido minha imaginação, mas… eu estava curiosa, então comecei a investigar se isso acontecia em outros lugares.” “E essa coisa de coelhinha?” “Nessa roupa, se as pessoas pudessem me ver, elas iriam olhar tanto que não haveria espaço para dúvidas.” Isso estava exatamente correto, a reação de Sakuta naquele dia provou a eficácia disso. “Então,
por
outros
lugares…
a
mesma
coisa
aconteceu em Shonandai então…” “Isso mesmo, agora eu só estou esperando até que eu fique invisível para o mundo todo.” Por algum motivo, ela olhou reprovadoramente para Sakuta. “Tudo estava normal na escola hoje… até agora.” 64
Mai indicou indiretamente a porta interna, onde um aluno com uniforme de outra escola estava checando seu telefone e lançando olhares para eles. Claro, a mira dele não era Sakuta, mas sim Mai. “Parece que você está se divertindo Senpai, mesmo que você esteja tendo uma experiência tão estranha.” Sakuta deu suas impressões francas, Mai não parecia estar particularmente triste com isso. “Bem sim, isso é divertido.” “Você está sã?” Ele virou um olhar questionador para ela, não entendendo o que ela queria dizer. “Eu sempre fui o centro das atenções, não é? Vivendo sob os olhares dos outros. Então, quando eu era pequena, fiz um desejo de poder ir a um mundo onde ninguém me conhecesse.” Ela não parecia estar mentindo, mas mesmo se o que ela dissera fosse uma atuação, havia razões suficientes para acreditar nela. Ela era uma atriz que tinha tido a capacidade de se tornar uma verdadeira atriz depois de ter sido uma atriz infantil. Enquanto eles conversavam, Sakuta notou que os olhos dela se moveram em direção a um dos anúncios pendurados no trem. Era um anúncio de uma adaptação de um romance em um filme. A atriz principal era uma 65
mulher popular que havia sido promovida recentemente, e ele achou que ela era da mesma idade que Mai. Ela provavelmente tinha as tendências no mundo do showbiz em sua mente, ou talvez ela estivesse nostálgica? Não, ele tinha a sensação de que não era isso. Ele pensou que os olhos de Mai, que pareciam estar olhando para algum mundo distante, tinham alguma emoção ardendo neles. Colocando de outra forma, parecia ser algum tipo de arrependimento ou apego. “Senpai?” “…” “Sakurajima-senpai?” “Eu posso ouvir você.” Depois de um piscar de olhos, Mai olhou de soslaio para Sakuta. “Estou feliz com esta situação. Então não interfira.” “…” Antes que percebessem, o trem havia chegado à plataforma final da Estação Fujisawa, as portas se abriram e Sakuta apressadamente seguiu Mai, que saíra primeiro. “Se você entende o quão estranha eu sou agora, tudo bem.” “…” “Não associe mais comigo.”
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Mai falou sem rodeios e saiu em disparada pelo portão de passagem, e continuou, abrindo a distância entre ela e Sakuta depois que eles se separaram. Ele seguiu a figura em partida dela, porque esse era seu caminho para casa de qualquer maneira, passando pelo corredor do prédio da JR (Japan Railways) na estação. Mai estava em frente a um armário operado por moedas em um canto e pegou um saco de papel. Ele pensou nisso e ela então saiu apressada para uma barraca de padeiro. “Um bolinho de creme por favor.” Ela chamou a mulher que cuidava da barraca. Não houve reação, como se a mulher não pudesse ouvi-la. “Um bolinho de creme por favor.” Mai repetiu seu pedido. Mas, é claro, a mulher não reagiu. Como se ela não pudesse vê-la, a mulher pegou uma nota de mil ienes do funcionário de escritório que havia chegado depois, e como se não pudesse ouvi-la, entregou um pão de melão para uma garota do ensino fundamental. “Com licença, um bolinho de creme por favor.” Sakuta aproximou-se de Mai e falou em voz alta para a mulher. “Aqui, um bolinho de creme.” 67
Sakuta entregou 130 ienes pelo saco de papel que ela passou por cima do balcão. Ele se afastou da bancada e entregou o pacote para Mai, que olhou envergonhada para o chão desconfortavelmente. “Você realmente não se incomoda?” “Estou incomodada por não poder comer os bolinhos de creme daqui.” “Certo.” “Mas … Você acredita nas coisas loucas que eu tenho dito?” “Como devo dizer, eu sei sobre esse tipo de coisa.” “…” “É a Síndrome da Adolescência.” As sobrancelhas de Mai se ergueram de surpresa. Ele não tinha ouvido falar de alguém tornar-se invisível, mas havia muitos rumores de ‘ser capaz de ler mentes’, ‘ver o futuro’, ‘trocar corpos com alguém’ e outras ocorrências misteriosas assim, e se você olhasse nesses tipos de fórum de discussão, haveria muitos outros. Psicólogos normais assumiam que isso era um sinal de
instabilidade
e
ignoravam
isso
completamente.
Especialistas autoproclamados chamavam isso de um novo tipo de ataque de pânico causado pela sociedade moderna, e os comuns e entretidos grupos de pessoas 68
que monitoram os pensamentos dos outros tinha opiniões como ‘é um tipo de hipnotismo em grupo’. Havia também pessoas que a chamavam de uma doença da mente provocada pelo estresse causado pela lacuna entre um mundo desumano e o ideal de uma pessoa. O único ponto em comum era que ninguém levava a sério. A maioria dos adultos ignorava isso como ‘apenas sua imaginação’. Entre essa troca irresponsável de ideias, embora ele não
soubesse
quem
as
havia
dito,
as
estranhas
ocorrências como o que estava acontecendo com Mai passaram
a
ser
chamadas
de
“Síndrome
da
Adolescência”. “A Síndrome da Adolescência não é uma lenda urbana comum?” Mai estava exatamente certa, era uma lenda urbana. Normalmente, ninguém acreditaria e todos teriam tido a mesma reação que Mai. Mesmo que eles mesmos tivessem experimentado algo estranho, eles pensariam que era a imaginação deles e não aceitariam isso, porque eles estavam vivendo em um mundo onde essas coisas não deveriam acontecer. Mas Sakuta tinha uma base inegável para sua crença. “Há algo que eu quero te mostrar, então você vai acreditar que eu acredito em você, Senpai.” 69
“Algo que você quer me mostrar?” Mai
franziu as
sobrancelhas para
Sakuta
em
suspeita. “Você viria comigo um pouco?” Depois ela pensou sobre a sugestão dele por um tempo antes de concordar e dizer baixinho. “…Certo.” ⟡⟡⟡ Sakuta tinha trazido Mai para a esquina de uma rua residencial, a cerca de dez minutos a pé da estação. “Onde estamos?” Mai estava olhando para um bloco de apartamentos de sete andares. “Minha casa.” Um olhar de desconfiança e suspeita o apunhalou pelo lado. “Eu não vou fazer nada,” ele disse, e acrescentou em voz baixa, “provavelmente”. “Você acabou de dizer algo, não é?” “Eu disse que se você me seduzir, eu não tenho certeza se vou conseguir me controlar.” “…”
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A boca de Mai ficou no formato de uma linha reta. “Oh, você está preocupada, Senpai?” “P-preocupada? Eu?” “Sua voz está traindo você.” “E-Entrar no quarto de um garoto mais novo não é nada para mim.” Soltando um suspiro, Mai caminhou rapidamente até a entrada, e resistindo a uma risada, Sakuta seguiu imediatamente e ficou ao lado dela. Eles usaram o elevador para subir cinco andares, e a terceira porta à direita era onde Sakuta morava. “Estou em caaasa.” Não houve resposta ao grito dele na entrada. Normalmente, sua irmã Kaede o teria emboscado, mas ele tinha voltado para casa em um horário incomum hoje, então ela provavelmente estava emburrada, ou talvez apenas dormindo, ou se concentrando em ler e não tinha notado sua volta. “Pode entrar.” Ele convidou Mai, que estava de pé de maneira rígida na entrada e com os sapatos ainda calçados. Eles entraram e foram direto para o quarto de Sakuta. Mai pôs a mochila e o saco de papel que carregava em um canto, depois abaixou-se para se sentar 71
na cama. Quando Sakuta deu uma olhada no saco de papel, ele viu orelhas de coelho, ela provavelmente estava planejando ser uma coelhinha selvagem em algum outro lugar. “Hmmm, está limpo.” Mai deu uma opinião cansada depois que ela olhou ao redor do quarto dele. “Eu simplesmente não tenho muitas coisas para deixar jogado por aí.” “Isso é o que parece.” A única mobília era uma escrivaninha, uma cadeira e uma cama, fora isso o quarto estava vazio. “Senpai, você—” “Hey.” Mai o interrompeu. “O que foi?” “Pare de me chamar de ‘Senpai’, não me lembro de me tornar sua senpai.” “Sakurajima-san?” “Meu sobrenome é muito longo.” “Então, Mai… ack!” Mai tinha agarrado a gravata e puxado-o para baixo. “Use ‘san’.” 72
“Pensar que você seria tão ousada…” “Eu odeio pessoas indelicadas”. Por um instante havia uma atmosfera tensa causada pela Mai. Não havia espaço para brincar sobre isso. Esse senso de valores, que parecia rígido à primeira vista, certamente era algo cultivado no mundo do showbiz. “Então, Mai-san.” “Azusagawa não combina com você, então eu irei te chamar de Sakuta-kun”. Que tipo de imagem de ‘Azusagawa’ possuía Mai? “Bem então, o que você quer me mostrar, Sakuta-kun?” “Se você não me soltar, eu não poderei.” A mão de Mai de repente voou da gravata dele. Sakuta levantou-se e afrouxou-a, depois desabotoou a camisa e naturalmente a removeu junto com a camiseta que ele estava usando por baixo, ficando seminu. “P-por que você está tirando a roupa!?” Mai gritou e desconfortavelmente olhou para longe. “V-você disse que não faria nada. Lascivo! Pervertido! Exibicionista!” Lançando vaias para ele, Mai lentamente voltou seu olhar para Sakuta. E então, solte um ‘ah’ de pura surpresa. Havia três cicatrizes vívidas esculpidas no peito dele. Parecia que ele havia sido arranhado por uma enorme 73
fera e cortado do ombro direito para o lado esquerdo. Elas eram como uma enorme minhoca em seu peito, e no momento em que as viu, Mai percebeu que elas eram incomuns. Nem mesmo ser atacado por um urso resultaria nisso. Parecia que ele tinha sido ferido por uma escavadeira. Mas, infelizmente, Sakuta nunca havia lutado contra uma escavadeira. “Você foi atacado por um mutante?” “Eu não sabia que você era interessada em quadrinhos americanos, Senpai.” “Eu só assisti aos filmes.” “…” “…” Mai olhou fixamente para as cicatrizes. “Elas são reais.” “Você acha que eu sou o tipo de idiota que faria esse tipo de maquiagem?” “Posso tocá-las?” “Vá em frente.” Mai se levantou e estendeu sua mão, colocando suavemente a ponta do dedo na abertura da ferida no ombro dele. “Ah.”
74
“Hey, não faça sons estranhos”. “Eu sou sensível ai, então seja gentil, por favor.” “Assim?” O dedo de Mai traçou ao longo da cicatriz. “Isso é muito bom.” Sem mudar sua expressão, Mai beliscou o estômago dele. “Ow, ow! Me solte!” “Parece que você está gostando.” “Isso realmente dói!” Talvez ela pensasse que era sem sentido, visto que Mai o soltou. “Então, como isso aconteceu?” “Ah, eu realmente não sei.” “Huh, o que você quer dizer? Não era isso que você queria me mostrar?” “Não, isso não importa, não se preocupe com isso.” “Claro que isso me preocupa. Além disso, se não, por que você se despiu?” “É um hábito se trocar logo depois que eu chego em casa, então não pude evitar.”
75
Assim que ele explicou, Sakuta estendeu a mão para sua gaveta trancada e pegou uma foto dele antes de entregá-la para Mai.” “É isso.” “…!?” No momento em que os olhos dela se voltaram para a foto, eles se abriram de surpresa. Sua expressão logo ficou séria, e ela procurou por uma explicação de Sakuta. “O que é isso?” Estava retratado uma garota do ensino fundamental. Seus braços estavam à mostra com o uniforme de verão, e esses junto com as pernas, estavam cobertos de hematomas e cortes dolorosos. “Minha irmã, Kaede.” Sakuta sabia que o estômago e costas dela, cobertos pelo uniforme, eram os mesmos. “…Ela foi agredida?” “Não, ela apenas sofreu bullying na internet.” “…Eu não entendo o que você está dizendo.” Isso era compreensível, a maioria das pessoas teria essa reação pelo fato da irmã dele ter sofrido bullying. “Ela deixou uma mensagem lida sem responder, e a ‘líder’ de sua classe a odiou. Então suas colegas escreveram coisas como ‘você é a pior’, ‘morra’, ‘você é nojenta’, ‘você é irritante’ e ‘não venha para a escola’ na 76
rede social que elas usavam.” Sakuta desabotoou seu cinto enquanto ele falava. “E então um dia, isso aconteceu com o corpo dela.” “Mesmo?” “No começo achei que alguém a tinha agredido também. Mas ela já não ia à escola e não saía. Eu realmente
pensei
que
Kaede
poderia
estar
se
atormentando com isso.” Ele tirou as calças e pendurou-as nas costas da cadeira para não se amassarem. “Há pessoas que pensam que estão erradas por sofrerem bullying e se culpam por isso.” De alguma forma, Mai estava olhando em outra direção. “Eu queria saber o que estava acontecendo, então matei aula e fiquei com ela.” “Hey, antes de você continuar?” “O que é?” “Sério, por que você está se despindo.” Ele olhou para seu reflexo na janela, ele estava apenas usando um par de roupas íntimas. Não, ele estava usando meias também. “Eu te disse, é um hábito de se trocar quando eu chego em casa.” 77
“Então se apresse e se vista!” Ele abriu o guarda-roupa e procurou por uma troca de roupas. Enquanto ele fazia isso, ele continuou falando. “Umm, onde eu estava?” “Você matou aula e estava com sua irmã.” “No momento que Kaede olhou para a rede social, novas feridas apareceram em seu corpo. Suas coxas se abriram de repente, e até mesmo jorrou sangue… Cada vez que ela via um post, ela se machucava e elas continuavam se acumulando.” Quase parecia que as feridas no coração dela foram cortadas em seu corpo. “…” Mai se preocupou em como aceitar isso. “…É difícil acreditar tão de repente, mas não há motivos para ir tão longe a ponto de fazer essa foto para uma história inventada.” Tirando a foto de Mai, Sakuta a colocou de volta na mesa e trancou a gaveta. “Essas cicatrizes são da mesma época.” Ele assentiu com a cabeça ligeiramente. “Um ser humano não as fez.” “Eu não tenho ideia do que as causou. Eu acordei coberto de sangue e fui levado para o hospital… Eu pensei que ia morrer.” “Poderia isso ter sido o incidente do hospital?” 78
“Sim, eu fui enviado para o hospital.” “É completamente o oposto, você realmente não pode confiar em rumores.” Mai soltou um suspiro e sentou-se novamente. Então a porta se abriu e Nasuno, um gato de chita, entrou no quarto com um miado. E atrás— “Onii-chan, você está… aqui?” —Kaede espiou da porta com seu pijama. “Eh?” Ela soltou um som de confusão. No quarto de Sakuta, ela podia ver seu irmão de cueca, e uma mulher mais velha sentada na cama. “…” “…” “…”
79
Os três ficaram em silêncio e seus olhares se encontraram por um momento, com apenas Nasuno divertidamente rolando sobre os pés de Sakuta. Kaede foi a primeira a agir. “E-Eu sinto muito!” Assim que ela se desculpou, ela saiu do quarto por um momento mas logo espiou pela fresta, e depois de olhar entre os outros dois, chamou Sakuta. “O que?” Sakuta pegou Nasuno e respondeu, parado na frente da porta. De pé na ponta dos pés, Kaede escondeu sua boca com as duas mãos e sussurrou no ouvido dele. “S-Se você for chamar uma dama da noite, me avise primeiro!” “Kaede, você está seriamente entendendo errado as coisas.” “O que mais poderia ser isso além de você se divertindo
com
o
fetiche
de
uniforme
com
uma
prostituta?” “Onde diabos você aprendeu sobre isso?” “No livro que li há cerca de um mês, havia uma garota que trabalhava nessa indústria, ela era uma garota adorável que guiava homens deploráveis ao Nirvana.”
81
“Bem, embora a explicação varie entre as pessoas, você normalmente não veria isso e acharia que seu irmão trouxe a namorada para casa?” Ele pensou que isso seria uma suposição muito mais natural, mas… “Eu não quero imaginar o pior caso assim.” “O pior caso, irmãzinha?” “O pior caso, do tanto que a Terra seria destruída.” “Certo, então eu vou arrumar uma namorada e destruir a Terra!” “Hey, já podemos continuar?” Ele se virou para o quarto quando Mai o chamou, e Kaede aproveitou a oportunidade para se agarrar às costas dele. Ambas as mãos dela estavam em seu ombro enquanto ela se escondia atrás dele, espiando Mai de vez em quando. Mas porque ela era alta, ela não conseguia realmente
se
esconder.
Ser
vista
pela
Mai
era
simplesmente demais. “Onii-chan, ela não está aplicando um golpe em você, não é?” “Ela não está.” “Você não prometeu ir ver pinturas?” “Eu não.” “Ela é—” 82
“Ela não é, relaxe. Ela não faz encontros pagos, ela é uma senpai da escola.” “Eu sou Sakurajima Mai, prazer em conhecê-la.” Kaede voltou atrás de Sakuta quando Mai se dirigiu a ela, como um pequeno animal confrontado por um carnívoro. Então, ela colocou a boca nas costas dele e disse algo através das vibrações. “Uh, isso
foi
‘Prazer
em
conhecê-la,
eu sou
Azusagawa Kaede’.” “Certo.” “‘Este é Nasuno.’ Foi desta vez.” Ele mostrou o gato em seus braços para Mai, onde este soltou um miado e se inclinou de maneira relaxada. “Obrigado por me dizer.” Kaede mostrou seu rosto em resposta às palavras dela, mas depois roubou Nasuno dos braços de Sakuta e saiu correndo do quarto como um coelho em fuga, e a porta se fechou de maneira barulhenta atrás dela. “Desculpe por isso, ela é muito tímida, então perdoea.” “Não se preocupe com isso e diga isso a ela também. Estou feliz que os ferimentos dela parecem ter sarado devidamente.”
83
Estranhamente, até as cicatrizes tinham curado. Ele realmente estava feliz com isso, ela era uma garota depois de tudo. E ainda, ainda havia a questão do porquê que as cicatrizes de Sakuta permaneceram, mas… isso não era o que eles estavam pensando sobre, então ele se concentrou em Mai, que se recostou em suas mãos e cruzou as pernas. “Mas é uma rara garota que não me conhece.” “Bem… ela não assiste muita TV.” “Hmmm.” Ela tinha uma expressão vaga, como se ela não concordasse. “Então, voltando ao ponto… Mai-san, quão séria você estava quando disse ‘eu quero ir a um mundo onde ninguém me conhece’, o quão séria você estava?” “Cem por cento.” “Mesmo?” “…Tem vezes que eu penso assim, mas quando eu não posso comer bolinhos de creme, isso acaba sendo um problema em si, e eu penso assim.” Mai pegou o bolinho, segurou-o com as duas mãos e deu uma pequena mordida. “Eu estava te perguntando seriamente.”
84
“…” Mai mastigou, e depois de cerca de dez segundos, engoliu e respondeu. “Eu estava respondendo seriamente, o humor muda com o tempo, certo?” “Bem, eu acho que sim.” “Então, eu tenho uma pergunta, por que você me perguntou isso?” Os olhos de Sakuta olharam para a porta, para Kaede que já havia saído. “No caso da Kaede, removê-la da internet resolveu mais ou menos as coisas.” Ela não podia ver as redes sociais, ou postar num fórum de discussão, ou usar conversas em grupo. Ele havia cancelado o contrato do smartphone da Kaede e o jogado no mar, e não havia nem mesmo um computador nesta casa. “‘Mais ou menos’, huh?” “O médico disse que era o mesmo que as pessoas que pensavam que o estômago doía, então realmente começava a doer. No final, eles decidiram que as próprias feridas foram infligidas pela própria Kaede…” Sakuta não concordou com tudo o que o médico tinha dito, mas havia partes da explicação que ele poderia concordar. Ser insultada por seus amigos iria rasgar o coração dela, e isso apareceria em seu corpo. Não havia mais nada que você pudesse pensar ao ver Kaede, e a 85
sensação de o estado mental dela estar influenciando seu corpo
físico era
compreensível. Todo
mundo teve
experiências como… se sentir mal e ficar doente, sentir que vomitaria ao ver comida de que não gostava, ou se sentir enjoado ao redor de uma piscina. Então, embora o escopo fosse completamente diferente, “pensar que o estômago dela doía e assim por diante” soou relevante para Sakuta. “E então?” “A questão é que a razão pela qual ela foi ferida foi por causa das suposições de Kaede.” “Eu entendi. Então você está dizendo que isso tem algo a ver com a minha situação?” “Afinal, Mai-san, você está fazendo o papel da ‘atmosfera’ na escola, não é?” “…” A expressão de Mai não mudou, e mesmo quando ela mostrou um pouco de interesse, seus olhos simplesmente disseram
‘então?’,
friamente
pedindo
que
Sakuta
continuasse. Pessoas comuns não conseguiriam aguentar isso. “Bem, então para a situação não piorar, acho que você deveria voltar ao show business.”
86
Sakuta rapidamente desviou o olhar e tentou dizer isso levemente. Não havia necessidade de fazer uma estranha barganha, mesmo que eles estivessem lutando na mesma arena, ele não teria chance de ganhar. “Por que isso?” “Se você se destacar na TV, não importa o quão bem você se faça de atmosfera, as pessoas não poderão ignorá-la, assim como antes de sua pausa.” “Hmmm.” “E eu acho que você ser capaz de fazer o que você quer seria ótimo também.” Sakuta disse, enquanto olhava para ela para julgar sua reação. “…” As sobrancelhas de Mai se moveram em surpresa, era a menor mudança a qual você não teria visto sem olhar com cuidado. “E o que seriam essas coisas que eu quero fazer?” O tom dela ainda era franco. “Retornar ao show business.” “Quando eu disse uma coisa dessas?” Mai soltou um suspiro e pareceu enojada, mas Sakuta achou que era uma atuação. “Se você não está interessada, por que você estava olhando com inveja para aquele anúncio no trem?” 87
Sakuta interrompeu imediatamente. “É um romance que eu gosto, então eu estava apenas um pouco interessada”. “Você não queria atuar como a heroína?” “Você é obstinado, Sakuta-kun.” Mai deu um sorriso relaxado, a máscara dela não quebrara. Mesmo assim, Sakuta continuou sem desistir. “Acho que é bom ter algo que você quer fazer. Você tem a habilidade e você tem o histórico. Além disso, você tem sua empresária querendo que você volte, então qual é o problema?” “…Não tem nada a ver com ela.” Ela falou baixinho, mas as palavras foram controladas, com o ar de um estrondo atrás delas. Como prova disso, as sobrancelhas de Mai haviam se reduzido a um olhar penetrante. “Não se intrometa nas coisas.” Parecia que ele tinha acertado um nervo. “…” Mai ficou de pé em silêncio. “Ah, se você precisar do banheiro, está aqui fora e à sua direita.” “Estou indo embora.” Mai pegou sua bolsa e abriu a porta.
88
“Kya!” Um grito veio de Kaede, que tinha trazido o chá em uma bandeja e acabado de chegar em frente à porta. Mesmo que ela estivesse com um pijama mais cedo, ela agora estava vestindo uma blusa branca e uma saia. “U-umm, umm… eu trouxe chá.” Kaede estava completamente em pânico na frente de Mai, que parecia terrivelmente brava. “Obrigada.” Mai sorriu brevemente e pegou a xícara enquanto agradecia a Kaede, antes de esvaziá-la em um só gole. “Estava saboroso.” Cuidadosamente, Mai colocou a xícara de volta na bandeja que Kaede estava segurando e se dirigiu para a entrada. Sakuta saiu apressadamente do quarto e correu atrás dela. “Ah, espere, Mai-san!” “O que!?” Mai estava colocando seus sapatos. “Isso.” Ele levantou o saco de papel com a roupa de coelho para mostrá-la. “Você pode ficar com isso!”
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“Então pelo menos deixe-me acompanhá—” Pouco antes de ele dizer ‘você até sua casa’, ela falou com raiva. “É próximo daqui, então está tudo bem!” E saiu da entrada. Ele foi persegui-la, mas. “Onii-chan, você vai ser preso!” Kaede apontou que ele estava de cueca, e ele não tinha mais nada a fazer senão desistir. Sakuta e Kaede foram deixados no caminho da entrada. “…” “…” Vários segundos se passaram e, de alguma forma, ambos os olhares caíram sobre saco de papel, com uma roupa completa de coelhinha. “O que você vai fazer com isso?” “Eu me pergunto…” Ele tirou as orelhas e, como ela estava carregando a bandeja e não podia resistir por enquanto, colocou-as na cabeça de Kaede. “E-Eu não usarei isso!”
90
Ela escapou para a sala de estar com passos cuidadosos, para evitar derramar o resto do chá. Forçar ela não seria bom, então ele desistiu de fazer Kaede usar isso por enquanto. Ele acreditava que chegaria o dia em que ela ficaria interessada em brincar de coelhinha e o colocou em seu guarda-roupa. “Isso está resolvido.” O que não estava resolvido era Mai, ela estava completamente zangada. “Vou ter que me desculpar amanhã.”
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↑ [1] taro: nome comum dado a uma espécie de plantas, a Colocasia esculenta. ↑ [2] Havia um anúncio para o Bufferin no Japão que usava a frase “feito pela metade com felicidade”, que tem sido usado/alterado e etc pela internet, e substituído aqui por ‘amabilidade’. ↑ [3] bilhete sazonal: é um bilhete que concede acesso ilimitado ao serviço durante um tempo prédeterminado. Coloquei uma nota por não ter encontrado o nome deste serviço no Brasil, se é que existe. ↑ [4] Noriori-kun: um bilhete diário para o Enoden, particularmente para o turismo, custa 600 ienes para adultos e 300 para crianças. O nome é literalmente apenas ‘Embarque e Desembarque’-kun.
92
Apesar de sua determinação em tentar, Sakuta foi incapaz de se desculpar no dia depois de irritar Mai. Suas esperanças de encontrar-se com ela no trem pela manhã foram totalmente despedaçadas. Ele tinha então pensado que, nesse caso, iria para a sala de aula dela no curto intervalo após o primeiro período, mas ele não a encontrou em nenhum lugar. Quando ele falou com a garota do terceiro ano perto da porta, ela fez uma cara um pouco confusa, e então disse: “Sakurajima-san? Hmm, ela veio hoje?” E então voltou para a conversa dela com as amigas com “Bem, ela veio ontem.” “…” A sala de aula, da qual ela estava ausente, estava preenchida pelo riso dos garotos e da tagarelice das garotas, a atmosfera do intervalo não mudava muito entre o segundo e o terceiro ano. Quando ele imaginou Mai, isolada dentro dali, seu peito se apertou um pouco. “Onde é o lugar dela?” “Eh? Ah, ali.” A garota apontou para um assento na segunda fileira a partir das janelas, bem no fundo da sala. Vendo que a mochila dela estava na mesa isolada, Sakuta voltou para sua própria sala de aula.
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Em cada intervalo depois disso, ele foi para a sala do terceiro ano, mas Mai
não estava lá.
Sua bolsa
permanecia e os livros da próxima aula estavam arrumados na mesa, então ele estava certo de que ela estava no colégio, mas cada viagem terminava como uma perda de tempo. Sua última esperança agora era quando as aulas terminassem, e com o fim de sua aula, Sakuta correu para a entrada. Ele procurou por Mai, procurando por cerca de vinte minutos. Uma vez que ele sabia que não a encontraria lá, ele deixou a escola e desceu a rua para a estação. Claro, ela não estava lá; ele não conseguia encontrá-la nem na plataforma Shichirigahama. No final, ele não conseguiu nem sequer encontrá-la hoje, muito menos se reconciliar com ela. Isso continuou por três dias, depois dos quais até mesmo um idiota teria percebido que ela estava propositadamente evitando-o. O problema era que a atitude completamente forçada dela não relaxou nem depois disso. Duas semanas haviam passado desde então, e ela ainda o estava evitando perfeitamente. Ontem, a caminho de casa, ele ficou à espera na estação, mas nem mesmo isso tinha colhido frutos. Parecia que ela tinha caminhado para a próxima estação e pego o trem lá, ela não tinha aparecido mesmo depois de uma hora de espera. 96
De qualquer forma, ela estava tornando isso difícil. Ela provavelmente estava usando técnicas que aprendera no mundo do show business para evitar câmeras de notícias, desaparecendo como a névoa às vezes. “Eu acho que realmente toquei numa grande ferida.” Esse pensamento tinha se fortalecido dia após dia devido ao comportamento teimoso de Mai. Ele estava sugerindo que ela voltasse para aquele mundo que causara
sua
raiva,
e
o
gatilho
específico
era
provavelmente a palavra “empresária”. Isso o fez pensar que havia uma razão para ela ter feito um hiato e hesitar em voltar, mesmo que ela quisesse. Quando ele usou um computador do colégio para procurar as coisas, os únicos tipos de razões que ele conseguia encontrar eram rumores inúteis, fofocas como ‘excesso de trabalho talvez?’, ‘alguma coisa deve ter acontecido com o produtor dela’ e ‘deve ser um cara’. Tinha chegado ao ponto em que a única coisa que ele poderia fazer seria perguntar diretamente a ela, mas ela ainda estava perfeitamente evitando Sakuta, então não havia mais nada a fazer. Depois do colégio naquele dia, Sakuta decidiu que a perseguição imprudente era inútil e mudou um pouco a sua abordagem. Depois de terminar o serviço de limpeza, ele foi até o laboratório de física.
97
Para encontrar sua outra amiga. Ele bateu levemente na porta e abriu-a sem esperar por uma resposta. “Eu vou me intrometer.” Ele entrou e fechou a porta atrás dele. “Você está se intrometendo, então saia.” E
foi
imediatamente
atacado
por
palavras
impiedosas. Havia uma única aluna dentro do grande laboratório, a qual estava preparando uma lamparina a álcool e um béquer na mesa do professor. Ela nem olhou para Sakuta quando ele entrou. Ela era pequena, com 155 centímetros de altura e usava óculos. O jaleco branco sobre o uniforme atraía o olhar e sua postura reta era atraente. Seu nome era Futaba Rio, uma aluna do segundo ano da Escola Secundária de Minegahara. Ela tinha sido da mesma classe que Sakuta e Yuuma no ano passado e era a única membro do clube de ciências. Ela era conhecida como uma pessoa estranha que às vezes causava falta de energia ou pequenos incêndios enquanto realizava experimentos para o clube de ciências. O fato de ela estar constantemente usando seu jaleco de laboratório era outro motivo para chamar atenção.
98
Sakuta pegou uma cadeira próxima e sentou-se na frente dela, com a mesa entre eles. “Como você está?” “Não aconteceu nada que eu informaria a você, Azusagawa.” “Diga-me algo divertido.” “Não me arraste para as conversas de alunos do ensino médio com muito tempo em suas mãos.” Rio levantou o olhar e olhou para Sakuta. Talvez ela realmente achasse que ele estava se intrometendo. “Nós realmente somos estudantes do ensino médio com muito tempo em nossas mãos, podemos agir assim.” Rio ignorou a tentativa de Sakuta de continuar a conversa e acendeu a lamparina com um fósforo. Ela a colocou debaixo de um béquer cheio de água, e provavelmente
pretendia
fazer
algum
tipo
de
experimento. “Como você tem estado, Azusagawa?” “Bem, eu realmente não tenho nada para relatar.” “Mentiroso. Você tem estado obcecado por uma popular atriz infantil, não é?” Sem sequer pensar nisso, ele sabia que ela estava falando sobre Mai.
100
“Ela se formou como atriz infantil há muito tempo, ela é uma atriz, performer ou artista.” Ou talvez ele devesse chamá-la de pessoa normal enquanto estivesse em hiato. “De qualquer forma, de quem você ouviu isso?” “Essa é uma pergunta estúpida.” “Bem, apenas pode ser o Kunimi.” Yuuma era o único que sabia sobre as coisas que Sakuta estava envolvido. Ele também era, é claro, o único além de Sakuta que falava com Rio, tão esquisito quanto ela por sempre usar seu jaleco de laboratório. Era isso, QED. [NT: ‘QED’ é uma expressão em latim, recomendo procurar para entenderem melhor] “Eu tenho me preocupado que você esteja se intrometendo
em
lugares
estranhos
novamente,
Azusagawa.” “O que há com esse ‘novamente’?” “Preocupando-se com um imprestável como você… Kunimi é muito gentil.” “Se você souber como isso funciona, vá em frente e me diga.” Ele achava que a frase ‘uma boa personalidade’ existia para Yuuma, do fundo do seu coração. Quando os rumores tinham se espalhado sobre o incidente do hospital no ano passado, foi apenas Yuuma 101
que não mudou seu comportamento. Ele não tinha acreditado nos rumores e havia perguntado sinceramente a Sakuta quando eles estavam em dupla na aula de educação física. “Claro que não.” “Eu imaginei.” Kunimi tinha sorrido. “…Você acredita em mim, Kunimi?” Francamente falando, isso tinha sido um choque. A maioria dos colegas de classe dele acreditava nos rumores e se distanciaram dele sem descobrir a verdade. “Bem, você não fez isso, certo?” “Bem, não.” “Então, em vez de rumores de quem sabe quem, eu irei
acreditar
em
você
de
pé
na
minha
frente,
Azusagawa.” “Você é o pior, Kunimi.” “Huh? Como você chegou a isso?” “Mesmo a sua personalidade é perfeita, você é realmente o inimigo de todos os homens.” “Que diabos?” Isso tinha acontecido há um ano e ele sempre conversara com Yuuma desde então. 102
Ele olhou para a chama com um olhar desfocado. “O mundo é injusto, não é?” E então ela deu um olhar um pouco rude. “As pessoas são tão diferentes.” Rio estava claramente olhando para Sakuta com pena. “Pare de me comparar ao Kunimi.” “Eu estou apenas zombando de você, não se preocupe com isso.” “Obviamente eu me preocuparia. Bem, pessoas como ele escondem todos os tipos de perversões indescritíveis, assim o equilíbrio do mundo é mantido.” “Você
é
tão
desagradável
socialmente
como
sempre.” Rio falou com um suspiro. “Como?” “Chamando seu amigo de pervertido pelas costas quando ele está se preocupando com você.” A declaração do Rio era irrefutável. “…Acho que apenas pensei em uma diferença para com o Kunimi.” “E então.” Rio prolongou sua fala. “Então o que?” 103
Sakuta retornou. A água começou a borbulhar dentro do béquer. “Você superou a Makinohara.” “…Por que você e o Kunimi mencionaram isso?” “Você não entende isso melhor do que ninguém, Azusagawa?” Rio perguntou, antes de ter apagado o fogo e transferido a água fervente para uma caneca, seguindo isso
com
uma
colherada
de
café
instantâneo.
Aparentemente, isso não era uma experiência. “Me dê um pouco também.” “Infelizmente, eu só tenho um copo. Bem, você pode usar esse cilindro de medição.” Rio calmamente estendeu o fino cilindro de vidro de trinta centímetros de comprimento. “Se eu bebesse nisso, a bebida acabaria em um único gole.” “Você precisa experimentar para verificar se sua hipótese está correta, Azusagawa. Além disso, não há mais nada que você possa usar.” “Não lhe ocorreu de usar o béquer em que você ferveu a água?” “Isso seria chato, muito óbvio.”
104
Mesmo enquanto reclamava, Rio acrescentou café instantâneo à água restante no béquer. “Açúcar, Futaba?” “Eu não tenho.” Rio removeu uma garrafa de plástico de uma gaveta e a colocou com força na frente de Sakuta. Dióxido de manganês estava escrito no rótulo. “Está tudo bem…” “É provavelmente açúcar. É branco afinal de contas.” “Até eu sei que existem muitos pós brancos”. Ele também sabia que o dióxido de manganês era preto. “Vamos experimentar um pouco primeiro.” Sakuta ignorou o conselho realista de Rio e pegou seu café. O rosto dela ficou de certa forma arrependido com isso e ela mais uma vez acendeu a lamparina. Ele pensou que desta vez ela iria mesmo fazer um experimento, mas ela colocou uma tela metálica sobre aquela e começou a esquentar algumas lulas secas e seus tentáculos se enrolaram. “Me dê um pouco também.”
105
Ele não tinha pensado que seria bom com café, mas o cheiro o fez querer comer. Rio rasgou um único tentáculo e deu a ele. Enquanto mastigava, Sakuta levantou sua principal questão. “Hey, você acha que as coisas podem se tornar incapazes de serem vistas?” “Se você está preocupado com sua visão, por que não ir ver um oftalmologista?” “Não, não é isso que eu quero dizer… não ser capaz de ver as coisas, mesmo que elas estejam lá, como o homem invisível.” Mai também tinha o sintoma de ser inaudível, então era um pouco diferente na realidade, mas… ele queria entender o básico primeiro. “E o que, esgueirar-se nos banheiros das garotas?” “Eu não tenho fetiche por scat, então vamos dizer os vestiários.” “Esse sim é você, um traste.” Rio estendeu a mão para a própria mochila e tirou o celular de um bolso. “Para quem você esta ligando?” “A polícia.”
106
“A polícia não fará nada antes que um crime aconteça.” “Isso é verdade.” Rio colocou o celular de volta em sua mochila. “Voltando à sua pergunta anterior, o mecanismo por trás da visão está no livro de física. Você só precisa estudar sobre luz e lentes.” Rio colocou um livro de física na frente dele com um baque. “Isso é chato, então eu estou perguntando a você.” Sakuta educadamente devolveu o livro. Rio ignorou isso e mastigou sua lula. “Luz é a coisa importante. Ela atinge o objeto e é refletida por ele, entrando no olho, permitindo que as pessoas vejam a forma e a cor. Você não pode ver as coisas no escuro, onde não há luz.” “Reflexão, huh.” “Se você não entendeu, pense em ecolocalização, você já deve ter ouvido falar de golfinhos usando ultrassom.” “Algo sobre medir a distância entre eles e um obstáculo ouvindo as ondas ultrassônicas refletidas?” “Está certo. Parece que eles também podem distinguir a forma das coisas. Sonar em barcos é o mesmo. Quando é difícil imaginar com a luz, geralmente 107
é porque não há luz suficiente para perceber o brilho, ou não há sensação de luz entrando no olho. ” “Hmmm.” “Então, coisas que não refletem a luz como vidro transparente são difíceis de ver.” “Ahh, eu entendi.” Então seria a luz que não atingia Mai. Isso acontecer com apenas uma simples intérprete em hiato é tão improvável que nem era engraçado. Ou talvez ele pudesse pensar nisso como a luz não refletindo a partir dela como o vidro… mas havia muitas coisas que não se encaixavam. A voz dela e o fato de que havia pessoas que podiam e não podiam vê-la. Era uma situação complicada. “Eu meio que entendo o que você está falando.” “Mesmo?” Ela olhou para ele duvidosamente. “Você deve pensar que eu sou um idiota.” “De modo algum.” “Então você acha que eu sou um super idiota?” “Eu acho que você é um incômodo que sai do seu caminho para dizer algo assim quando pode adivinhar o que eu quero dizer.” “Você é um incômodo.”
108
“Eu acho que você é o tipo desagradável de pessoa que finge não entender o que está acontecendo, embora saiba na verdade.” “Foi mal, pare de me atormentar, você poderia?” “Você seria capaz de sair disso tão facilmente.” Rio bebeu seu café, sem se impressionar. Ele deveria trazer a conversa de volta aos trilhos. “Umm, então vou colocar algumas condições sobre isso. É possível que você não possa mais me ver quando estou apenas sentado na sua frente assim? ” “Se eu fechar meus olhos, sim.” “Com os olhos abertos, olhando diretamente para mim.” “É possível.” A resposta do Rio era exatamente o oposto do que ele imaginou, e ela veio tão prontamente também. “Se eu estivesse me concentrando em algo e estivesse desligada do meu redor, eu não iria mais notar você.” “Não, é um pouco diferente disso.” “Bem, analisando isso inteiramente, de um ponto de vista diferente da luz… ‘ver’ é muito mais influenciado pelo cérebro de uma pessoa do que pelos fenômenos físicos.” Aparentemente, ela tinha terminado seu café, 109
enchido outro béquer com água e o colocado acima da lamparina. “Por exemplo, eu posso parecer pequena para você, mas um estudante do ensino fundamental me chamaria de grande.” “Não, você é grande. Você está sempre vestindo o jaleco de laboratório e se protegendo, mas pode-se até mesmo notar através disso.” O olhar dele foi em direção aos seios dela. “N-não fale sobre os meus seios.” Rio se cobriu como uma garota. “Ahh, desculpe, isso te incomodou?” “Você não tem nenhum senso de delicadeza ou vergonha.” “Talvez eu tenha deixado cair em algum lugar.” Ele olhou em volta, procurando. “Vá embora se você não for me levar a sério, a aula acabou.” Rio se levantou da cadeira. “Desculpe, vou levar você a sério. Eu não vou olhar para os seus seios também.” “Como eu disse, não fale sobre os meus seios.” Ele na verdade não tinha certeza de que conseguiria evitar olhar. Seu olhar inconscientemente era atraído 110
para lá, e pondo isso em prática seria difícil sem modificálo no nível genético. Ele colocou seu café na boca e evitou olhar. “Então as coisas que são visíveis se tornam subjetivas?” “Isso mesmo. O cérebro de uma pessoa é capaz de não ver coisas que a pessoa não quer ver. ” Assim como havia as frases ‘fingindo não ver algo’, ‘não considerando alguma coisa’, ‘não prestando atenção a algo’ e ‘não se concentrando em algo’, havia muitas maneiras de dizer isso, mas ele podia concordar com muitas delas. Era apenas que, as sugestões do Rio foram completamente negadas pela situação de Mai assim como ele as viu. Colocando de forma mais simples, ele achava que ela estava desempenhando o papel de ‘atmosfera’ e estava invisível ao seu redor, e pensou que havia uma causa com Mai, mas Rio só tinha falado do ponto de vista de alguém que vê. Em outras palavras, não tinha nada a ver com aquele que estava sendo visto ou o lugar. “Há também algo chamado teoria da observação.” “Teoria da ob… servação?” Ele apenas repetiu as palavras que não tinha ouvido antes.
111
“Colocando isso de forma extrema, é que tudo o que existe neste mundo ‘primeiro tem sua existência definida através da observação de alguém’… é uma teoria impensável, normalmente.” Rio falou de maneira nada emotiva. “Você deve ter ouvido falar de um gato em uma caixa, o gato de Schrödinger.” “Ahh, eu já ouvi o nome pelo menos.” Rio pegou uma caixa de papelão vazia debaixo da mesa e colocou na frente de Sakuta. “Você coloca um gato aqui,” enquanto falava, Rio primeiro colocou um maneki neko na caixa de papelão. Era um que o professor de física usava para guardar 500 ienes em moedas, mas parecia bastante leve, “e então você
coloca
uma
fonte
radioativa
que
tem
uma
probabilidade de emitir radiação dentro de uma hora…” ela continuou, colocando o béquer que ela tinha fervido água dentro, “e coloque um recipiente de gás venenoso que se abrirá se detectar a radiação ao redor. Se ele abrir, o gato vai respirar o gás venenoso e morrer.” Por fim, ela adicionou a garrafa de plástico com dióxido de manganês na caixa. “Você então fecha e espera trinta minutos.” Assim dizendo, Rio fechou a tampa. “Agora, aqui está uma em que foi passado os trinta minutos.” “Isso é um programa de culinária?” Rio ignorou a interrupção dele e continuou. 112
“O que você acha que aconteceu com o gato?” “Hmm, há uma probabilidade de emitir radiação uma vez em uma hora? Então, o recipiente de gás venenoso detecta isso e abre?” Rio assentiu inexpressivamente. “E trinta minutos é metade disso, então… é uma probabilidade de 50%?” “Estou surpresa, você entendeu.” “Se eu não entendesse esse tanto, eu seria ou um idiota, ou não teria ficado ouvindo.” “Então, esse gato está vivo ou morto?” “É cinquenta-cinquenta, certo? Você pode apenas sacudir a caixa.” “A caixa é de metal e não pode ser movida.” Era uma caixa de papelão na frente dele. “Então, eu vou acreditar que ele está vivo.” “Qualquer palpite que você faça não importa nesta situação.” “Então não pergunte.” “Não há nada a fazer para ‘definir’ o estado do gato, além de olhar.” “Esse é um método bastante normal”.
113
Rio abriu a caixa e, é claro, o maneki neko, o béquer e a garrafa de dióxido de manganês estavam dentro. “No instante em que a caixa é aberta, o destino do gato é definido. Em outras palavras, até que você abra a caixa e verifique, o gato está meio vivo e meio morto. No mundo da mecânica quântica, pelo menos.” “O que há com essa lógica? E se ele morresse depois de dez minutos? O gato não estaria morto mesmo se você não tivesse os vinte minutos extras antes de abrir? ” Ou pelo menos para o gato, a sua personalidade estaria acabada. Não, seria gatonalidade neste caso… de qualquer forma, o resultado era o mesmo. “É por isso que eu disse que isso era uma teoria impensável. Bem, mesmo deixando de lado em explicar a mecânica quântica, acho que a maneira de pensar sobre as coisas em si tem alguma verdade nisso.” “Verdaaade, huh?” Isso era inquestionavelmente suspeito. “As pessoas veem o mundo como esperam que seja. O boato sobre você é um bom exemplo. As pessoas dão precedência à teoria mesmo sobre a verdade. Se você fosse o gato na caixa, e os outros estudantes fossem os observadores, você poderia pensar na realidade sendo substituída, não?”
114
Parecia que ela estava tentando dizer… que não eram as circunstâncias dentro da caixa, mas sim a subjetividade daqueles que enxergavam isso depois do acontecido. Não tinha nada a ver com Sakuta, a pessoa em questão, a imagem de Sakuta era decidida pelos observadores. “Isso não é nem engraçado…” No entanto, era difícil conciliar isso com a situação de Mai. Sakuta podia vê-la e os outros não, e ele não conseguia entender que tipo de condições tornar-se invisível exigiria. Isso havia sido interessante, mas ele tinha a sensação de que as peças não se encaixavam perfeitamente. Além disso, um fenômeno falso como a Síndrome da Adolescência poderia não ser explicado fisicamente. Parecia que algumas das conversas entre eles eram provavelmente pistas, mas discutir isso com Rio parecia ter tornado as coisas mais difícil. Apenas retornar ao show business poderia não resolver
o
problema
de
Mai,
e
esse
sentimento
desagradável se instalou no peito de Sakuta. Rio tinha falado sobre as pessoas enxergarem do começo ao fim, então… uma mudança apenas no estado mental de Mai poderia não ajudar em nada. “Isso é suplementar, mas existem exemplos físicos da observação alterando o resultado.”
115
“É sério?” “Há algo chamado experimento da dupla fenda… Falando de maneira muito simples a conclusão é que, observar o experimento ao longo do curso e apenas observar os resultados faz com que os resultados mudem entre cada caso.” “Então, é como… se o time de futebol japonês tiver um jogo e se eu apenas checar as notícias, eles ganharam, mas se eu for assistir, eles perderam?” “O que eu estou falando é aplicável apenas a partículas…
o
mundo
microscópico.
Antes
de
ser
observada, a posição de uma partícula é probabilística e é uma forma de onda, não importa o que. Observar isso limita a importância.” “Mas quando você coloca todas essas coisas microscópicas juntas, isso forma as pessoas e as coisas, certo?” Mesmo Sakuta sabia que pessoas e coisas eram feitas de moléculas, átomos, elétrons e várias outras coisas. “Se o que eu estava dizendo ocorresse no mundo macroscópico, sua explicação estaria certa. Além disso, você deveria nunca assistir ao futebol novamente em consideração a nossa equipe. Não pense duas vezes.”
116
Ele recebeu alguns conselhos úteis de Rio quando o interfone da escola soou: “Kunimi-kun da classe 2-2, por favor venha até a sala dos professores para conversar com o conselheiro do time de basquete, Sano-sensei.” “Ele fez alguma coisa?” “Ele não é você. Além disso, provavelmente é para confirmar o cronograma de treinamento deles.” Ela não parecia estar interessada, mas Rio ficou do lado de Yuuma. Assim que ele olhou para o alto-falante, ele checou a hora, um pouco depois das três. “Ah, eu tenho trabalho, então vou para casa.” “Apenas saia.” “Obrigado por tudo, o café estava ótimo também.” “Se você vai agradecer a alguém, agradeça ao professor de física, não é meu.” Rio pegou o pote de café e mostrou-lhe o nome na tampa. “Bem, ele não vai notar um pouco faltando.” Ele disse isso e se levantou, alongou os ombros e foi saindo. Assim que ele tocou a porta, ele de repente se lembrou de algo e olhou para trás. Rio estava cuidando de uma chama da lamparina a gás como se ela realmente quisesse fazer uma experiência desta vez. 117
“Futaba.” “Hmm?” Ela só o respondeu verbalmente e manteve seu olhar na chama azul pálida. “Você está bem com o Kunimi?” Ela olhou para ele com os olhos hesitantes, e logo disse. “Eu estou…” então parou no meio da frase. Ela provavelmente quis dizer ‘Eu estou bem’ e falhou, sua voz soava vazia, e sua expressão usual de concentração endureceu. “Estou acostumada com isso.” Ela desistiu de dizer que estava bem e deu um sorriso fraco. Sakuta não podia fazer nada, ele não podia fazer nada além de assistir de lado o amor não correspondido dela. “Você vai se atrasar para o trabalho.” Ela gesticulou com o queixo para ele sair, e então o observou ir embora enquanto ele saía do laboratório de física. Fechando a porta atrás dele, ele inconscientemente murmurou. “‘Acostumada’… você não desistiu de jeito nenhum.”
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⟡⟡⟡ “Azusagawa-kun, faça a sua pausa antes de começarmos a correria do jantar.” “Certo.” Sakuta entrou no espaço que funcionava tanto como vestiário dos homens quanto sala de descanso com essas palavras do gerente do restaurante familiar. Yuuma tinha acabado de se trocar e saído do lado de seu armário, mesmo que ele já tivesse tido atividades no clube, ele não mostrava nenhum sinal de estar cansado. Yuuma notou Sakuta. “Yo.” “Hey.” Sakuta respondeu sem rodeios a Yuuma enquanto este amarrava seu avental. “Você está no intervalo?” “Eu estaria no refeitório se não fosse o caso.” “Verdade… certo”. Ele tinha habilmente amarrado o avental e estava checando sua aparência diante do espelho. “Ah, certo, Sakuta.” Ele
falou
com
Sakuta
novamente,
como
se
lembrasse de algo. 119
“Hm?” Sakuta se sentou em uma cadeira de tubo e se serviu de chá que tinha no pote sobre a mesa. “Você tem escondido algo de mim.” “O que há com essa frase, você é minha namorada?” Por um momento, ele ficou surpreso, pensando que era sobre o amor unilateral de Rio. Mas foi um nome diferente que saiu da boca de Yuuma. “Não é uma piada, é sobre a Kamisato.” “Ahh” Sakuta olhou para longe enquanto relaxava. Isso em si não era algo que ele queria falar sobre. Mas aparentemente, Yuuma sabia sobre a Kamisato Saki tê-lo chamado até o telhado. Ele provavelmente tinha ouvido a partir da própria garota. Não havia como evitá-lo agora. “Sua namorada é incrível.” “Certo, ela é minha namorada maravilhosa.” “Ela me disse para não falar com você.” “Ela me quer para si mesma, ela me ama muito.” “Aparentemente eu vou fazer você parecer ruim. Quão ruim você está agora?” “Eu sinto muito!” Yuuma juntou as mãos e curvou a cabeça. 120
“Você é incrível também.” “Como?” “Ela é tão irritante e você não diz uma palavra contra ela.” “Bem sim, eu estou saindo com ela porque eu a amo. Ela às vezes parece um pouco feroz, mas é uma garota boa e honesta.” Ele tinha a sensação de que ela era um pouco honesta demais… “Você parece uma esposa sendo abusada pelo marido.” “O que, do tipo ‘ele às vezes é gentil’? Não seja idiota.” “Bem, não se preocupe comigo. O que quer que ela diga não vai me machucar ou até mesmo fazer cócegas. “Isso é complicado em si.” Yuuma sorriu com uma expressão perturbada. “Mais importante, me desculpe.” “Por que diz isso?” “Não deve ser divertido me ouvir reclamar sobre sua namorada.” “Não se preocupe com isso.” “Isso não é justo para com a Kamisato.” 121
“Ah, isso é verdade.” Yuuma deu um sorriso despreocupado. “De qualquer forma, está tudo bem. E Sakuta, não preste muita atenção no futuro, me evitar só vai me deixar com raiva.” “Eu não vou assumir a responsabilidade se você entrar em uma briga com ela.” “Eu vou lidar com esse problema quando ele aparecer… Eu meio que sinto que ela estará mais focada em você, então está tudo bem.” Ele falou de um incômodo tão facilmente. “Oi, espere um minuto, hey!” “Se não machuca ou faz cócegas, está tudo bem certo?” Yuuma sorriu triunfantemente. “Você também é inacreditável em, ser capaz de perguntar a uma garota ‘você está no seu período’? Que coração é esse seu? É feito de ferro?” Yuuma gargalhou. “Ah, droga, está na hora.” Kunimi apressadamente passou seu cartão no relógio de ponto assim que avistou a hora. “Batendo o poooonto.” E então ele saiu para o refeitório. Mas, antes mesmo de um minuto ter passado, ele estava de volta à sala de descanso. Talvez ele tivesse
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esquecido alguma coisa, apesar de Sakuta não conseguir ver nada que ele teria. O olhar de Yuuma caiu sobre ele sem hesitação, e ele parecia querer dizer alguma coisa. “O que?” “Aquela mulher está aqui de novo.” A expressão de Yuuma ficou fechada, e havia um toque de preocupação misturado com seriedade em seu rosto, dizendo de forma eloquente a Sakuta que era uma cliente que ele deveria cumprimentar. Sakuta ignorou seu intervalo e saiu para o refeitório, indo em direção a uma mesa interna. Na poltrona estava sentada uma mulher na segunda metade de seus vinte anos. Ela usava uma saia na altura do joelho e uma blusa de manga curta que tinha um toque de um dia fresco de primavera. Ela tinha uma maquiagem natural que evitava a cafonice. Ela parecia um tanto intelectual e como uma apresentadora.
Ela
era
uma real apresentadora,
embora… “Posso pegar o seu pedido?” Perguntou Sakuta, sendo teimosamente profissional. “Já faz algum tempo.” “Quem seria você mesmo?”
123
“Entendo, é assim que vai ser. Pois bem, prazer em conhecer você, essa é quem eu sou. ” A
mulher
estendeu
o
cartão
de
visita
com
movimentos educados. O logotipo da estação de TV, sua posição como apresentadora, e no meio estava o nome dela, ‘Nanjou Fumika’. Ele tinha falado com ela dessa maneira, mas ele realmente a conhecia. Ele a conhecera quando sua irmã sofreu bullying e Fumika estava fazendo um trabalho chamado ‘Sobre os Problemas do Bullying no Ensino Fundamental’, e já fazia quase dois anos desde então. “O que você quer hoje?” “Eu vim para fazer uma reportagem sobre petingas e estou livre esta noite, então eu vim ver você.” A expressão de Sakuta permaneceu imóvel diante da forçada alegria dela. Ele sabia do que ela estava atrás, quando ela estava cobrindo o caso de bullying, ela sabia e tinha interesse na Síndrome da Adolescência. Claro, ela não acreditava em uma lenda urbana como essa. Ela duvidava e era cética, mas poderia ser um grande furo se fosse real, então ela não podia desistir disso, e a própria Fumika falava indiferentemente sobre isso desde então.
124
“Se você está livre, por que não convida um jogador de beisebol para um encontro? Como uma apresentadora faria.” “É uma sugestão encantadora, mas as principais equipes estão trabalhando, já que é a temporada de beisebol”. Eram seis da noite e partidas iriam ser disputadas. “Além disso, eu posso ter um encontro aqui.” Fumika virou um olhar sugestivo para ele. “Eu não tenho nenhum interesse em mulheres mais velhas.” “Uma criança como você simplesmente não conhece os encantos de uma adulta.” Ela olhou para o rosto dele enquanto segurava um dedo na bochecha. “Eu sei que você está mais gorda do que quando nos encontramos há três meses. Seu braço está muito feio.” “…kh!” Ela levantou as sobrancelhas e se sentou em sua cadeira, fazendo beicinho de certa forma, e disse. “Você não é fofo.” “Você poderia ao menos dizer bonito… seu pedido?” “Um Sakuta-kun para levar.” “Você parece um pouco doente, então eu vou pedir uma ambulância.” 125
Ele respondeu de forma apática. “Vou querer o conjunto de cheesecake e bebida, com um café quente.” Ela pediu sem olhar para o menu. Toda vez que ela vinha aqui, Fumika pedia a mesma coisa. Como ele poderia dizer isso? Era como alguém que agia antes de pensar. “Isso é tudo?” “Você ainda não está com vontade de falar sobre o incidente?” Fumika tirou o smartphone da bolsa e começou a verificar seus e-mails. “Nunca.” “Eu só quero uma foto das cicatrizes no seu peito.” “Não.” “Por quê?” Ela rolou a tela com o dedo. “Então você vai me deixar tirar uma foto sua nua, Nanjou-san?” “Sim, claro.” “Temos uma mulher promíscua aquiii.” “Apenas para uso pessoal, okay? Eu seria demitida se isso se espalhasse na internet.” 126
Parecia que falar com ela ainda mais seria estúpido, e Sakuta saiu sem responder. Mas, depois de dois ou três passos, ele de repente pensou em alguma coisa. “Um.” Ele voltou e falou com ela. “Hm?” Ela respondeu distraidamente, ainda olhando para o celular. “Nanjou-san, você conhece Sakurajima Mai?” Ele disse, com uma ligeira hesitação antes do nome. “Existe alguém que não a conheça?” O olhar de Fumika ainda estava focado em seus emails. “Você sabe… por que ela entrou em hiato?” Ele sabia que Fumika trabalhava como assistente de um programa de variedades e fazia coberturas sobre o show business. “…”
Ela
olhou
para
ele
com
perplexidade,
provavelmente se perguntando por que ele estava perguntando sobre Sakurajima Mai. Mas seu rosto rapidamente
assumiu
outra
expressão.
Ela
estava
interessada que ele tinha perguntado isso, mas mesmo que se mostrasse em seu rosto, ela não disse nada. “Eu 127
acho que sei ao menos de algumas coisas que as pessoas normais não sabem.” “Entendo.” “Então, isso é um pedido como uma criança? Ou uma negociação entre adultos?” “Pare de me tratar como uma criança.” “Nesse caso, então, eu não posso te dizer de graça, posso?” “Você pode ter uma foto.” “Fu fu, temos um acordo.” Ela devolveu o telefone para a bolsa e, quando Sakuta a pediu com os olhos para prosseguir, ele se sucedeu ao mundo adulto. Sakuta parou em uma loja de conveniência a caminho de casa, depois de trabalhar até as nove horas. Havia poucas pessoas nas ruas enquanto ele se arrastava pelas áreas residenciais por cerca de dez minutos até chegar ao seu prédio. O elevador subiu para o quinto andar de uma só vez, e quando ele se aproximou de sua porta, ele notou alguém lá. Era Mai, sentada contra a parede e usando um uniforme escolar de Minegahara, com os joelhos para cima e os braços ao redor deles. Ela estava sentada como uma garota na aula de educação física, com os ambos 128
joelhos e coxas juntos, e apenas as pernas separadas. Ela provavelmente havia seguido alguém através das portas de travamento automático abaixo. Ela olhou para ele de forma reprovadora quando ele se aproximou. “Você está finalmente em casa.” “Eu estava trabalhando.” “Onde.” “No restaurante familiar perto da estação.” “Hmm~” “Mai-san.” “O que?” Primeiro, ele fez um gesto como se estivesse fritando algo para ‘pan’, depois colocou as mãos em forma de T para ‘ties’, seguido por juntar um dedo em forma de R para ‘estão’ [NT: R = ‘are’], e então estendeu a mão com a palma para cima, para “a mostra”. [NT: ‘pan’ = ‘panela’ por isso a ação de fritar / ‘panties’=’calcinha’] “Do que você está brincando?” Ela olhou para ele como se ele fosse um idiota, aparentemente, ela não tinha percebido que sua calcinha puro branco estava visível através de sua meia-calça preta, ela estava muito indefesa. Ele não tinha outra escolha. 129
“Eu posso ver sua calcinha.” Ele disse a ela sem rodeios. Mai entrou em pânico e verificou a si mesma. “N-não é como se eu me importasse se um garoto mais jovem visse minha calcinha.” Enquanto ela falava, ela colocou a mão entre as pernas e puxou a saia para baixo. Ele se perguntou por que ela tentando esconder era mais erótico do que estar completamente visível. “Mesmo que você esteja brilhando vermelho?” “I-isso é porque eu estou excitada!” “Uwah, há uma promíscua aqui também.” “Quem você está chamando de promíscua!”
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Mai o encarou. “Bem, você deveria apenas se levantar por agora.” Ele estendeu a mão para ela. Mai a alcançou até que eles estavam quase se tocando e, em seguida, como se tivesse repensado as coisas, retirou-a, levantando-se com um “hmph”. “Eu não quero tocar na mão de um garoto, eu não sei onde ela foi colocada.” Ela sorriu de forma triunfante, aparentemente se divertindo. No entanto, seu triunfo não durou muito, visto que seu estômago roncou. “…” “…” “Você parece estar faminta.” Ele prosseguiu, monotonamente. “Você tem uma personalidade horrível.” “Eh, eu sei.” Sakuta pegou um bolinho de creme da loja de conveniência de sua sacola. Depois de alguma ligeira hesitação, ela estendeu a mão. Parecia que ele estava alimentando um gato de rua. Mai abriu o pacote e mordeu o bolinho de creme.
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“Quando você se transformou na personagem faminta?” “…” Ela continuou mastigando silenciosamente e depois de engolir disse. “Eu não posso fazer compras.” Com um tom que soou como se fosse culpa de Sakuta. “Ahh, entendi.” Outras pessoas não podiam vê-la, então ela não conseguiu fazer o que tinha planejado. Assim como ele tinha visto acontecer quando ela tentou comprar um bolinho de creme da padaria na estação e a mulher pareceu ignorá-la. Foi uma cena lamentável. “Há muitos mais lugares onde me tornei invisível. A área em torno da estação de Fujisawa desapareceu completamente e, mesmo que eu compre coisas on-line, não consigo receber o pacote, então é a mesma coisa. ” “Então, você vai entrar?” Sakuta pegou sua chave e apontou para a porta. “Compre comida para mim.” “Essa é uma maneira estranha de pedir isso.” Mai olhou fixamente para ele, mas infelizmente não era assustador nem um pouco, na verdade, era fofo. “Eu vou fazer isso então.”
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“De jeito nenhum, entrar no quarto de um garoto tão tarde é apenas implorar para que algo aconteça.” “Entendo, então há consentimento de sua parte, eu vou lembrar disso.” “Esqueça isso.” Mai bateu na cabeça dele com a ponta da mão. “Ow” “Não seja estúpido, apenas venha fazer compras comigo.” “Ah, então espere um pouco, preciso dizer a minha irmã que estou em casa.” “Entendi, eu vou esperar lá embaixo.” Mai virou as costas para Sakuta enquanto ele girava a chave e se dirigiu para os elevadores. Demorou quinze minutos para convencer Kaede e outros quinze para pacificar Mai depois que ela esperou quinze minutos. Demorou dez minutos para se locomover, e quando finalmente chegaram a um supermercado perto da estação, o relógio já tinha passado das dez da noite. A loja ficava aberta até as onze e tinha alguns clientes, jovens de terno espalhados ao redor. Eles provavelmente viviam sozinhos e estavam fazendo compras a caminho de casa. Era a loja que Sakuta costumava frequentar, mas era raro para ele ir neste 134
horário, então havia de certa forma um sentimento revigorante. E então, revigorando-o ainda mais havia o fato de que ele não estava sozinho, ele tinha Sakurajima Mai com ele. Ela estava um pouco à frente, escolhendo comida. Empurrar o carrinho atrás dela era de certa forma divertido, e seu rosto relaxou naturalmente. “Isso definitivamente nos faz parecer um casal.” “Você disse alguma coisa?” Mai olhou para trás, segurando uma cenoura em cada mão. “Não, nada.” “Está tudo bem, além disso, ninguém pode me ver.” Aparentemente, ela realmente ouviu isso. “Eu me pergunto se essa é a situação em que uma garota me visita pela primeira vez e cozinha para mim.” “Se continuar tendo ilusões idiotas, você acabará ficando idiota.” Ela devolveu a cenoura na mão direita à prateleira com um olhar depreciativo. “Então eu ficarei sério.” “Eu duvido.”
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Ele podia dizer que o tom dela era totalmente descrente. “Como essa cenoura parece para as pessoas que não podem ver você, ela está flutuando?” “Aparentemente imediatamente,
ela
fica
invisível.”
Mai
provavelmente
respondeu já
havia
experimentado. Ela então balançou a cenoura na frente do rosto de um trabalhador que passava e ele não teve reação. “Vê?” “Então é assim.” “Eu tentei levar as compras para um caixa antes, mas isso também não funcionou. Além disso, eles também não podem ver minhas roupas, podem?” Isso era verdade, era completamente diferente com apenas a própria Mai se tornando invisível. “Eu me pergunto se as coisas se tornam invisíveis se eu tocá-las.” “Por essa lógica, a Terra ficaria invisível.” “Você está pensando grande.” “Eu sou um cara grande.” “Certo, certo.” Ela ignorou isso. “Então… o que aconteceria se você me tocasse?” “Essa é uma maneira indireta de pedir para ficar de mãos dadas?” 136
“Não, apenas uma experiência.” Ele já tinha experimentado tocá-la, quando ela entrou em seu quarto e tocou as cicatrizes em seu peito, e quando seus ombros se tocaram e ela iria ‘engravidar’ enquanto eles estavam no trem. Mas Sakuta não tinha ficado invisível. Ele provavelmente seria capaz de finalizar a compra com as coisas no carrinho se ele as levasse para o caixa. Se ele tivesse que dizer, ele queria saber o que aconteceria enquanto eles estivessem se tocando “Eu não vou dar as mãos para isso.” Ela caminhou rapidamente até a carne. “Eu estava escondendo o meu constrangimento ao chamar isso de experiência, eu realmente só queria ficar de mãos dadas.” Ele respondeu para as costas dela enquanto a observava. “E?” Mai sorriu em satisfação por cima do ombro. “Por favor me dê, nunca tendo segurado a mão de uma garota antes, minha primeira vez.” “Isso é um pouco desagradável… mas bem, você passou.” Mai esperou que Sakuta a alcançasse e, em seguida, o calor envolveu o lado direito do corpo dela assim que 137
ela colocou seu braço no dele. Ele estava, é claro, surpreso e seu coração disparou. O rosto de Mai estava ao lado dele por causa de sua altura, ela estava perto o suficiente para que ele contasse todos os seus cílios individuais. “…” Com o passar do tempo, ele se tornou mais e mais consciente
da
sensação
suave
do
peito
dela
pressionando-o. Ele sabia quando a viu na roupa de coelhinha, mas pelo seu corpo esbelto, ela certamente tinha algumas curvas. A leve fragrância dela fez sua cabeça girar. “Você está pensando em algo pervertido, não está.” “Algo cem vezes mais pervertido do que você imagina.” Mai de repente se separou devido a honestidade dele. “Mas bem, uma adulta como você estaria bem com isso.” “Está certo. Um garoto mais novo imaginando coisas pervertidas não é nada para mim.” Mai teimosamente segurou o braço dele. “Uhah”
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Ele não pôde deixar de soltar um barulho estranho. Por causa disso, um trabalhador próximo olhou para ele de forma intrigada. Seus olhos se encontraram e o homem definitivamente podia vê-lo. Mas ele não pareceu notar Mai, ela ainda estava invisível. “Um, Mai-san?” “Isso não é suficiente.” “Sinto muito, esta é minha derrota. Qualquer coisa a mais dificultará o ato de caminhar por certas razões, então, por favor, me deixe ir.” “Esta é sua punição por provocar as pessoas.” Mai estava se divertindo e não se afastou dele. Aparentemente, ela estava gradualmente se tornando imune a esse tipo de declaração. Dito isto, o ato de Mai não era de fato um castigo, era muito agradável e estava mais para uma recompensa. “Ah, isso me lembrou, não estamos brigados?” “Isso é verdade.” Mai estava sorrindo gentilmente e agora se afastou de Sakuta em aparente aborrecimento. A velocidade com que ela mudou sua atitude foi surpreendente, e ele não sabia se ela estava falando sério ou atuando. Ele pensou que era uma pena, mas ainda se divertiu muito no resto das compras.
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Havia uma pequena quantidade de desconforto restante, mas a comida que Sakuta estava carregando foi toda paga. Ele pagou normalmente e empacotou os legumes, a carne e os doces em sacos. Sakuta saiu da loja com uma sacola em cada mão e caminhou para casa ao lado de Mai. Apesar disso, Sakuta não sabia onde a ‘casa’ ficava. “Mai-san, onde você mora?” Ir às compras na estação de Fujisawa significaria que ela vivia a uma curta distância. “Terra.” Ela disse desinteressadamente, e Sakuta apenas a seguiu obedientemente. Eles estavam indo na mesma direção que Sakuta vivia. “Estou ansioso para ver sua casa.” “Você não vai entrar.” Ela
se
recusou
categoricamente,
com
uma
expressão séria. “Ehhh.” “Não se queixe como uma criança. Além disso, estamos brigados, não estamos?” “Isso é porque você não é honesta.” “Huh? Eu disse algo que eu não deveria ter dito?”
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“Você continua seguindo em frente embora queira voltar a atuar.” “Não mencione coisas que não lhe dizem respeito.” Ela falou baixinho, mas com força. Foi mais do que uma negação, foi uma rejeição, visto que ela recusou friamente. “É porque eu não sei de nada?” “Isso mesmo, não abra a boca se você não souber de nada.” “Que pena então, eu sei sim. Pelo menos o porquê você entrou em hiato do show business.” “Certo, certo.” Mai sorriu indulgentemente. “É o álbum de fotos que foi lançado no seu terceiro ano do ensino fundamental.” “!?” A compostura desapareceu do rosto dela. “Mesmo que você tenha dito que os trajes de banho estavam fora de cogitação, havia um com tal traje requisitado e sua empresária, sua mãe, assinou o contrato.” Até então, mesmo nos ensaios, ela não tinha usado um traje de banho, embora houvesse demanda mais
do
que
suficiente.
Pelo
contrário,
ela
tinha
estabelecido uma posição de não mostrar a pele, e estava 141
muito bem em apenas mostrar sua beleza. “E então, você brigou com sua mãe e se vingou com a melhor maneira de chocá-la ‘se retirando do mundo do show business’.” “…” “Mas isso foi inútil”. “Fique quieto…” “Jogar fora seus próprios desejos ao mesmo tempo não tem sentido.” “Fique quieto!” “Não, você é quem deve ficar quieta, você vai perturbar as pessoas dormindo…” Enquanto ele falava, um tapa voou em sua bochecha esquerda e ressoou pela rua. “Eu estava obviamente muito incomodada!” “…” “Eu ainda era um estudante do ensino fundamental, sabia!? E ainda assim eles me presentearam com um traje de banho no estúdio, e havia apenas adultos por perto… me disseram que o contrato já estava assinado, e mesmo que eu odiasse isso, eu teria que fazer o meu trabalho, que eu tinha que vestir aquilo… que eu tinha que forçar um sorriso!” Se ela fosse alguém mais comum, ela poderia ter falado por si mesma, feito uma birra e recusado. Mas ela 142
era Sakurajima Mai, que trabalhava profissionalmente naquele mundo desde os seis anos, entre os adultos… Ela não teria permissão para causar uma cena naquele momento. Ela teve que ler a atmosfera e escolher inteligentemente. Ela teve que agir como uma adulta, embora fosse uma criança. “Ela me usou, ela não me enxergava como nada além de uma maneira de conseguir dinheiro.” Ela praticamente cuspiu as palavras com uma voz rouca. E assim Sakuta percebeu que essa era a primeira razão, rebelar-se contra a mãe que apenas a via como mercadoria. Ele não iria dizer que ele entendia esses sentimentos, ele não entendia nem um pouco, mas havia uma coisa que ele tinha certeza. “É por isso que eu acho que você deve voltar ao show business.” “Por quê?” “Apenas largas as coisas com esses sentimentos desagradáveis significa apenas que você vai ficar com esses sentimentos desagradáveis.” “Eh…” “Se você quer fazer alguma coisa, não se segure, apenas faça. Até eu sei disso, então você definitivamente deveria saber.
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“…” Mai olhou para baixo, como se sua raiva ardente tivesse esfriado. “…” Dez segundos se passaram em total silêncio. “Sinto muito por bater em você.” Ela pediu desculpas em voz baixa. A bochecha dele ainda latejava de dor. “Você costuma bater nas pessoas que estão carregando suas coisas?” “Eu não te dei um soco, ao menos.” “…Muito obrigado.” Ele a agradeceu honestamente, mas sem emoção. “Você não parece realmente grato.” “Bem sim, você me deu um tapa. Ahhh, isso dói, isso dóóói~” “Você está exagerando.” “Dói tanto que eu talvez chore. Apenas o carinho de uma bonita senpai pode me curar.” “Você colheu o que plantou.” “Eh, onde eu plantei alguma coisa?” Ele não achava que tinha feito algo errado aqui. 144
“E quem foi que propositalmente me deixou com raiva?” Mai denunciou Sakuta com seu olhar insatisfeito. “O que você quer dizer?” Era tarde demais para se fazer de idiota agora, mas ele não iria admitir isso aqui. “Você estava tentando me fazer dizer o que eu realmente queria ao me deixar emotiva, não é?” “Nem um pouco.” “Você realmente tem uma boa personalidade.” A mão de Mai se estendeu até a bochecha dele, e quando ele achou que ela iria acariciá-lo, ela gentilmente a beliscou, beliscando a bochecha que não tinha esbofeteado. [NT: nesse parágrafo há mais uma parte dizendo “e separou suas mãos dele”, mas prefiro não colocar por não fazer sentido com as próximas ações] “Owowow.” “A propósito, Sakuta-kun.” Mai tinha completamente voltado a si mesma e virou um olhar questionador para ele. “De quem você ouviu sobre isso?” “…” Ele olhou para o céu. “Me olhe nos olhos.”
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Ela comprimiu o aperto de seus dedos. “Owowow” “Então, quem foi?” Ela não iria deixá-lo ficar em silêncio, e tentar enganá-la provavelmente não funcionaria também. Mai sabia que isso não era uma informação que a maioria das pessoas conhecia. Afinal, isso não tinha sido descoberto até agora. “Eu tenho uma conhecida que é uma apresentadora de quando as coisas aconteceram com a Kaede.” “Quem?” “Nanjou Fumika…” “Ah, ela.” “Você conhece ela?” “Ela tem sido uma assistente naquele show de variedades da tarde. Ela também me ajudou.” A palavra ‘ajudou’ não foi, obviamente, dita de uma maneira boa. “Então, por que você ainda se associa com ela, a coisa com sua irmã foi há dois anos, não foi?” “Ahh, bem~” “Conte-me.” “Quando fazia o noticiário, ela tinha interesse na Síndrome da Adolescência. Ela viu as cicatrizes no meu
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peito e às vezes aparece querendo fazer uma história sobre isso.” Aliás, ela havia dito que o que ela estava lhe contando sobre Mai era suposição em parte, e que havia pressão de várias fontes para não ir a público com isso. “E então, o que você disse àquela mulher para obter as informações sobre mim?” Mai olhou para ele com um olhar penetrante. “Nada.” Ele respondeu calmamente, mesmo enquanto seu coração disparava. “Mentiroso, essa mulher é uma repórter, além disso, a mídia não vai apenas dar informações de graça, você deve ter tido algum tipo de acordo.” Mai era muito mais entendida sobre o mundo da televisão, é claro, ele não podia continuar a mentira, e ela provavelmente não o deixaria ficar em silêncio. Sakuta aceitou a situação e confessou. “Eu deixei ela tirar uma foto, das cicatrizes no meu peito.” Ele tinha ficado quieto sobre ter ido ao banheiro com ela para tirar a foto, definitivamente seria melhor não dizer que o doce perfume dela o tinha colocado em um estado levemente excitado. 147
“Idiota.” “Isso é maldoso.” “Você realmente é, o que você está pensando!?” Ela olhou para ele com raiva, mostrando sua verdadeira raiva. “Bem, em você.” “…” “Eu realmente estou.” Ele não conseguia olhá-la no rosto por medo e olhou para o lado. “Haaaah…” Em desgosto ou exausta, Mai deixou suas mãos caírem do rosto dele e o soltou, mas ele ainda podia sentir o olhar dela. “Suas cicatrizes vão se tornar uma lembrança ruim para você, e podem até machucar sua irmã.” Mai olhou para ele seriamente. “Eu protegerei Kaede disso.” “Se eles fizeram uma reportagem há dois anos sobre o bullying, eles podem noticiar algo sobre ela também?” “Bem, eu realmente não posso ajudar isso.” “Você não pode.”
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Mai, de repente, estendeu a mão como se exigisse alguma coisa. Ele não tinha a menor ideia do que ela queria, então ele colocou as duas sacolas em uma mão e esticou sua mão de volta. Mas ela deu um tapa antes delas se tocarem. “Eu lhe disse para me dar os detalhes de contato dela.” “Você disse?” Ele pensou de volta, mas não conseguia se lembrar dela dizendo uma única palavra. “Deduza isso a partir das circunstâncias.” “Você é muito parecida com uma rainha, Mai-san.” “Você é muito ingênuo sobre a mídia. Ingênuo o suficiente para ser descuidado. Se a mídia se interessar por você, você será cercado por repórteres, sabia? Imagine isso, câmeras apontadas para a sua casa. Ele imaginou exatamente como ela disse, o duro holofote sobre alguém envolvido em um escândalo, o flash das câmeras, o rude questionamento… se colocando em um filme que ele havia assistido no passado. “…” Ele engoliu em seco. “…Me sinto doente.” A cor sumiu do rosto dele. 149
“Você vai se sentir cem vezes mais doente se isso realmente acontecer.” Mai deu um perverso golpe final. Sakuta começou a pensar que ele poderia ter feito algo que ele não conseguiria consertar, e sentiu um arrepio nas costas. “Tenha mais cuidado, okay?” Mesmo que ela estivesse irritada, ele não sentia nenhum desagrado dela. Ela parecia cordial, apesar de estar com raiva, Sakuta percebeu que era provavelmente porque ela estava realmente preocupada com ele e repreendendo-o. “Sua resposta?” “Certo, eu entendi. Eu vou tomar cuidado. Mas a foto já está…” “É por isso que eu disse.” Mai esticou a mão dela novamente. “Você deve ter os detalhes de contato dela, certo?” Sakuta tirou o cartão de visita que ela havia lhe dado antes e entregou a Mai. Ela olhou na frente e então o virou imediatamente. “Ela escreveu o número de celular dela atrás, nojento”. Por alguma razão, ela condenou Sakuta. “Eu gosto de
garotas
mais
velhas,
mas
não tãovelhas assim.”
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“Hmmm~” Ainda descontente, Mai digitou o número em seu telefone. “Hey, Mai-san, o que você está fazendo?” “Fique quieto.” Ela colocou o telefone no ouvido e deu as costas para Sakuta. Aparentemente, ela atendeu imediatamente. “Peço desculpas por uma chamada tão súbita, eu sou Sakurajima Mai, você me ajudou no trabalho antes. Não é um trote, então não desligue, por favor… Sim, aquela Sakurajima Mai. Já faz algum tempo. Podemos conversar agora?” Mai desenvolveu a conversa rapidamente. “Você falou com Azusagawa Sakuta hoje e deu a ele seu contato. Ele está no ano abaixo de mim. Sim…” O tom calmo de Mai no telefone a fazia parecer estranhamente como uma confiável adulta. “Eu gostaria que você não publicasse a foto das cicatrizes dele. Eu também gostaria que você evitasse perguntar a especialistas se você pudesse… Sim, claro que eu não pediria isso de graça, eu vou te dar um furo jornalístico em troca.” “E-espera, Mai-san.” Ele pensou que sabia o que ela ia dizer e entrou em pânico, pensando que ela iria se oferecer em seu lugar. 151
Mai virou por cima do ombro e colocou um dedo nos lábios como se estivesse dizendo a uma criança para ficar quieta. “Sim eu sei. É uma informação adequada, então fique tranquila.” Ela virou as costas para ele novamente e continuou. “Eu voltarei ao show business em breve. Eu darei a você e à sua empresa direitos exclusivos para isso… sim, é claro, eu sei que isso não seria suficiente, mas tenho certeza que você concordará quando ouvir isso.” Ela então fez uma pausa, e falou palavras que pareciam quase ensaiadas. “Eu não voltarei para a agência da minha mãe, voltarei com outra.” Sakuta provavelmente ficou mais surpreso que Fumika com isso. Apenas no outro dia, apenas em outro momento… eles estavam brigando sobre isso, com Mai lutando contra a sugestão de Sakuta de voltar… E ainda assim ela estava dizendo exatamente isso. Se isso não tivesse surpreendido ele, então nada mais iria. “Eu acho que esta será uma história muito mais eficaz do que a que você tem do Azusagawa-kun, a qual fará as pessoas duvidarem de sua sanidade, não é? Espero que você considere isso.” Por um tempo, ela apenas respondeu com frases curtas como ‘sim’, ‘certo’ e ‘eu compreendo’. “Então nós temos um acordo. Estou ansiosa para trabalhar com você.”
152
Tendo mantido sua educação até o fim, Mai desligou e imediatamente se virou para Sakuta. “E é isso.” “Desculpe.” “Por que você está se desculpando?” “Obrigado.” “Você é muito fofo quando está triste.” Pela primeira vez, ele não tinha nada para responder e não conseguia levantar a cabeça. O arrepio de estar cercado por câmeras não estava mais em lugar algum e ele estava preenchido por uma sensação de segurança. E, sem dúvida, Mai foi quem lhe dera isso. “Mas você disse que voltaria.” E ela até dissera que mudaria de agência. “Eu pensei que você estava certo.” Ela fez beicinho como se ela não quisesse admitir isso. “Eu gostava de trabalhar em programas de TV e filmes, valia a pena fazer isso e foi divertido. Eu sempre achei que gostaria de continuar fazendo isso. Eu não posso evitar, mesmo se eu mentir
sobre
esses
sentimentos…
existe
algum
problema?” “Há um grande problema.” “O-o que, esse é o momento onde você me perdoa.”
153
“Você diz isso depois de me evitar nas últimas duas semanas?” “Eu apenas ajudei você, não é?” “Isso e aquilo são coisas separadas.” “Uuhh… me desculpe por ser teimosa, okay?” Mesmo quando ela parecia irritada, ela admitiu seu erro e pediu desculpas. “Mais uma vez.” “Por favor, me perdoe, eu me arrependo.” “Isso teria sido perfeito se você tivesse ficado tímida e com os olhos virados para cima.” “Não se empolgue.” Mai beliscou o nariz dele. “Uwah, o quu você está fazendd?” Sua voz estava mais abafada do que o habitual e Mai riu disso. Foi então que ele percebeu por que ela havia ido à sua casa. Ela tinha ido dizer a ele que voltaria ao show business. Não tinha nada a ver com seus problemas com a Fumika, era algo que Mai havia decidido por si mesma. Ele estava um pouco arrependido disso, mas também feliz. “O mundo continua girando, huh”. “O que você disse?” 154
“Eu estava falando comigo mesmo.” Eles caminharam lado a lado, e seus passos eram muito mais leves do que antes. Tudo o que restou foi a determinação de Mai em acabar com sua Síndrome da Adolescência. Três minutos depois, Mai parou e disse. “Chegamos.” Eles estavam parados em frente ao prédio em que Sakuta morava. “Eh?” “Sim, eu moro aqui.” Mai apontou para o prédio em frente. Era tão perto que ele não precisaria ver a casa dela, mas era uma surpresa que ela vivia tão perto. Hoje foi um dia de choques, e ele ficou ainda mais surpreso do que quando ela disse que estava voltando ao show business. “Obrigada por carregá-las.” Ela disse isso enquanto pegava as sacolas dele, infelizmente, parecia que ela realmente não o convidaria para entrar. “Isso mesmo, Sakuta-kun.” “O que é, minha Rainha?” “Saia comigo neste fim de semana.”
155
As palavras dela eram estranhamente apropriadas porque ele a chamou de rainha. “Quando eu voltar, vou estar ocupada e não terei tempo para sair. E apesar de eu ter vivido aqui por dois anos, nunca estive em Kamakura, é estranho, certo? Então eu quero ir pelo menos uma vez.” “Você consegue trabalho assim tão facilmente?” Ele olhou para ela duvidosamente e ela respondeu naturalmente. “Eu sou Sakurajima Mai.” Era incrível que ela não soasse arrogante ao dizer isso, mas sim revigorante. Apesar disso, parecia realista e ele sentiu que, sendo Mai quem ela era, sua agenda realmente seria preenchida rapidamente.” “Ah, mas Domingo é—” “Você tem algo mais importante do que o meu convite?” “Eu tenho um expediente de manhã até o almoço no fim de semana.” “Troque com alguém… bem, eu não vou te dizer isso.” E quem foi aquela a dizer isso de forma tão franca. “Eu meio que tenho a sensação de que você prioriza o trabalho sobre mim e isso é irritante.” “É até as duas, então depois disso está bem.” 156
“Bem, pode ser isso.” Parecia que ela estava relutante e não concordava nem um pouco, mas disse que sim. Ele não sabia se devia chamá-la de adulta ou criança. Em vez disso, ela era uma mistura dos dois, ele pensou. “Não sorria tanto.” “Você me chamou em um encontro, como eu não poderia?” “Ah, não é um encontro.” Ela rejeitou isso imediatamente. “Eh?” “Um encontro seria tão bom assim?” “Claro.” Ele assentiu energicamente. “Nós vamos ter um então.” “Sim!” E, é claro, ele fez uma pose triunfante. “Você está feliz com isso?” “Bem sim.” “Então eu vou estar esperando no portão de embarque para a estação Enoshima Fujisawa às duas e cinco.” “Eu disse que terminaria às duas, não foi?” 157
“É por isso que eu disse cinco minutos depois.” “Por favor, me dê um pouco mais de tempo para caso o restaurante esteja lotado e eu não possa sair imediatamente.” “Duas e meia então, se você estiver atrasado um segundo, eu irei embora.” “Entendido.” E assim, Sakuta inesperadamente ganhou o direito ao seu primeiro encontro. Naquele dia, no banheiro da casa Azusagawa, um rugido feliz podia ser ouvido. “Yahooo~!”
158
O céu estava claro e o clima neste domingo tão esperado era ideal para um encontro. Ele tinha sido capaz de deixar o trabalho às duas horas em ponto e realmente havia algum tempo antes de seu compromisso, então Sakuta foi para casa por um tempo. Demorou cerca de três minutos, voando pelas ruas em sua bicicleta. “Bem-vindo de volta.” Kaede o cumprimentou e, com um afago na cabeça dela, ele foi direto ao banheiro. Ele lavou o corpo suado devido ao esforço excessivo de pedalar e, por via das dúvidas, vestiu um novo par de roupas íntimas. Kaede observava-o com um olhar confuso. “Um homem tem que estar preparado para qualquer coisa,” disse ele, como se transmitisse grande sabedoria. “Eu estou indo, Kaede.” “Ah, certo. Vejo você mais tarde.” Kaede o assistiu sair de casa mais uma vez às duas e vinte, enquanto segurava Nasuno em seu peito, desta vez indo para a Estação Fujisawa a pé. Seu corpo estava de alguma forma leve, de modo que ele se sentia como se estivesse de certa forma pulando, apesar de estar andando normalmente. Como se ele tivesse crescido asas. 161
As familiares ruas das casas pareciam diferentes hoje, as
flores
que
brotavam do
asfalto
rachado
chamavam sua atenção e o chilrear de um pardal nas linhas de energia soava claramente pelo ar. Como ele gostava dessas coisas, seu humor se acalmou. Três ou quatro minutos depois de sair de casa, um alegre e feliz Sakuta ouviu uma pequena garota chorando. Adiante dele havia uma garota chorando em voz alta na entrada do parque. “Você está bem?” A garota parou de chorar ao ser chamada por alguém próximo, e olhou para Sakuta. Mas imediatamente depois disso: “Uwaahh, você não é minha Mamãe!” Ela disse e começou a chorar. “Você está perdida?” “Mama desapareceeeu.” “Yup, você está perdida.” “Mamãe está perdida.” “Bem, isso também funciona.” Ela tinha um jeito com as palavras.
162
“Vamos, pare de chorar.” Sakuta se agachou na frente da garota e colocou a mão na cabeça dela. “Eu vou ajudá-la a procurar por ela.” “Mesmo?” “Sim”. Ele sorriu e deu-lhe um aceno firme. A menina parecia estar prestes a sorrir, mas depois inclinou a cabeça de forma confusa. “Vamos então.” Então, no instante em que Sakuta pegou a mão da garota depois de se recompor— Surgiu um grito energético atrás dele. “Morra, seu lolicon pervertido!” Ele se perguntou o que diabos estava acontecendo e foi dar uma olhada ao redor, mas antes que pudesse ver o rosto da pessoa, uma dor aguda atingiu seu traseiro. Era como se ele tivesse sido chutado no cóccix por um par de botas afiadas. Na verdade, isso foi exatamente o que tinha acontecido… “Uoooh!” Ele se contorceu no asfalto enquanto gritava. Ele podia ver uma garota que não parecia ter a idade muito diferente da dele no canto de sua visão. Provavelmente uma estudante do ensino médio. Ela tinha um cabelo macio estilizado em um corte bob cut [NT: também conhecido como corte chanel] e 163
uma saia curta. É claro que as pernas dela estavam nuas, e até mesmo sua maquiagem leve era a imagem exata de uma comum garota do ensino médio. “Rápido, corra!” A estudante apressou a garota seriamente. A garota apenas fez sons de confusão devido aos eventos repentinos. “Vamos, depressa!” Ele não sabia por que ela estava dizendo “Vamos”, mas a estudante pegou a mão da garota e iria levá-la embora. “Antes que o lolicon se levante!” “Quem é um lolicon pervertido?” Sakuta ficou de pé, segurando o traseiro. A força tinha desaparecido de suas pernas por causa da dor esmagadora. Suas pernas de pombo tremiam e ele parecia um potro recém-nascido. [NT: ‘pernas de pombo’ é
uma
expressão
devido
ao
formato
da
mesma,
recomendo procurar por ‘pigeon-toed legs’] “Ele estava me ajudando a procurar a Mamãe.” “Eh?” A estudante exclamou violentamente. “Ele não é um lolicon?” “Eu gosto de mulheres mais velhas.” “Mas você é um pervertido!?” Mesmo quando ela disse isso, o rosto da estudante estava apreensivo. Agora que ele olhou, ela era uma fofa estudante do ensino
médio. Seu rosto ainda era 164
ligeiramente cercado pela juventude, e seus olhos bem abertos e a sua maquiagem leve davam-lhe uma impressão agradável e suave. Sakuta sempre via as garotas na escola exagerando na maquiagem, e achou que, caso fossem usá-las, elas deveriam tomar esta garota como exemplo. “Eu estava a ajudando a procurar juntos por sua mãe perdida.” “Espere, espere, ela é quem se perdeu, certo?” “Mamãe está perdida.” A garota concordou com a explicação de Sakuta, afastando-se da estudante para o lado de Sakuta e agarrando a manga dele com força. Uma reversão completa. A estudante tinha um sorriso aflito, reconhecendo seu erro. “Ahh, meu traseiro está doendo.” “D-desculpe, ahaha.” “Ele pode ter se dividido em dois.” “Eh? Isso é terrível! Espere, ele já é dividido em dois! “Ahh, isso dói, isso dói.” “Entendi. Eu enteeendi.”
165
A estudante soltou um grito descuidado… então imediatamente se virou e colocou as mãos em um poste de telefone. “Aqui!” Ela empurrou o traseiro coberto pela mini-saia na direção de Sakuta com um grito energético.
166
“Não, não ‘aqui’.” Ela provavelmente queria que ele a chutasse, mas ele realmente não tinha interesse em chutar o traseiro de uma estudante do ensino médio enquanto pessoas andavam ao redor. “Apenas se apresse, eu prometi encontrar minhas amigas.” Sakuta
também
tinha
uma
promessa,
uma
importante por sinal. Enquanto ele fazia isso, o tempo passava. Ele também tinha que ajudar a garota perdida, então ele definitivamente se atrasaria, então agora não era a hora de perder tempo fazendo coisas sem sentido. Neste ponto, chutá-la seria o mais rápido. “Aqui vai então.” Ele chutou levemente o traseiro da estudante. Ela deveria ficar satisfeita com isso, ele pensou. “Mais forte!” A estudante pediu olhando por cima do ombro. “Sério?” Ele a chutou mais forte do que antes, fazendo um baque. “Mais forte!” Ainda não era suficiente. “Tudo bem, eu não sei o que vai acontecer!” 168
Ele se decidiu. Era um bom homem que concedeu o pedido de uma garota. Sakuta puxou a perna para trás, girando-a para ganhar força extra. Ele avistou o traseiro de seu alvo, firmou sua mira e liberou um sério chute no meio. Isso produziu um baque baixo. Um momento passou. “S-s’doloroso!” [NT: há uma influência do dialeto da garota, seria como “isso foi doloroso”] Então, ela gritou com a fusão característica de adjetivo e verbo do dialeto Hakata. “Uuu~” Ela se agachou
enquanto
soltava
um
gemido,
segurando
suavemente o traseiro com as duas mãos. Ela abriu e fechou a boca várias vezes, como um peixe-dourado, incapaz de falar por causa da dor. “M-meu traseiro se dividiu em dois…” Finalmente, ela conseguiu arrancar essas palavras. “Está tudo bem, ele estava em dois desde o início.” “Ah, com licença.” Uma voz chamou por trás. Ele e a estudante se viraram ao mesmo tempo e um policial de meia-idade uniformizado estava parado ali, com uma expressão perplexa. “Um parque em plena luz do dia durante um feriado não é o lugar para desfrutar de atividades pervertidas como essa.” “Não, ela é a única pervertida.” 169
Ele apontou para a estudante, porque era a verdade. “N-não! Não é isso! Há uma razão para isso!” A garota ficou agitada devido ao estranho malentendido. “Vamos ouvir esse motivo na delegacia.” De repente ele agarrou os braços deles e eles não puderam se mover. Esse era um policial, mesmo que ele fosse de meia-idade, ele era bem treinado e firme. A paz da cidade estava assegurada. “Eu tenho algo importante para fazer, então me deixe ir!” Gritou Sakuta. A parte da delegacia não seria brincadeira. Mai poderia esperar por cinco minutos, dez se houvesse um milagre, mas ela não esperaria mais. Afinal, ela era Sakurajima Mai. “Certo, certo. Acalme-se e venha em silêncio. Você também vem, pequena senhorita. Sua mãe está te esperando na delegacia.” “Mamãe? Viva!” Sakuta ficou aliviado com o problema da garota sendo resolvido. Mas mesmo isso… “Dor
está
na
moda
entre
a
juventude
recentemente?” Foi arruinado pela pergunta do homem. 170
O homem deixou-os ir uma hora e meia depois que chegaram. O ponteiro do relógio balançava terrivelmente perto da marca das quatro horas. Ele realmente queria encontrar alguém que lhe desse uma máquina do tempo. “Hahh, nossa, isso é o pior~” A
garota
falou
com
uma
expressão
cansada
enquanto andava ao lado dele. “Essa é a minha fala, idiota.” “Por que você está me chamando de idiota? Foi porque você deu-lhe uma impressão errada.” “Você é a pior por compreender errado as coisas.” “Isso são desculpas esfarrapadas.” “Não é uma desculpa, é a verdade. Além disso, é culpa sua que isso demorou tanto, Koga.” A garota se mexeu de surpresa. “…Espere, como você sabe meu nome?” “Koga Tomoe. É um nome fofo.” “Meu nome completo também!?” Ela não devia se lembrar de ter dado seu nome na delegacia. Ele sabia que escola ela frequentava também. Na verdade, era a mesma escola que ele, Escola Secundária de Minegahara. Ela estava no ano abaixo dele, sua kouhai.
171
“Eu sei tudo sobre você.” “Hah, você é um idiota?” “Você veio de Fukuoka.” “Como você sabe?” “…” “Ah.” A apavorada estudante, Koga Tomoe, colocou as mãos na boca. “Você também gritou ‘s’doloroso!’ mais cedo.” “E-eu não sei nada sobre isso.” Ela desviou o olhar. Ele realmente não entendeu, mas ela não parecia querer que as pessoas soubessem isso. Era tarde demais para esconder isso agora. “Bem, voltando ao assunto, você foi a errada”. “Me diga seu nome. Não é justo que só você saiba o meu.” “Eu sou Satou Ichirou.” Ele não tinha a delicadeza para contar a ela, então contou uma mentira óbvia. Ele achou que era um nome que qualquer um perceberia ser falso, mas— “Então, Satou, como eu sou a errada?” Tomoe prontamente aceitou isso. Aparentemente, ela não sabia duvidar das pessoas e era uma garota boa 172
e honesta. Seria apenas um incômodo admitir que era falso agora, então Sakuta decidiu ficar quieto sobre isso. “Eu vou te dizer se você não consegue entender. Mesmo que o policial tenha entendido o equívoco nos primeiros trinta minutos, você estava apenas no seu smartphone, brincando com ele, sem ouvir a conversa.” Na verdade, a hora restante foi um sermão sobre não se concentrar apenas no seu ‘telefone’ quando as pessoas conversavam com você. Sakuta não tinha um telefone ou um smartphone, então foi totalmente sem sentido. Mas… “Isso é verdade… não seja tão lógico sobre isso.” Ela disse, fazendo beicinho. “Você refletiu sobre isso?” “Mas eu recebi mensagens, então não pude evitar.” “Não poderia evitar o quê?” “Responder, se eu não fizesse isso rapidamente, perderia minhas amigas.” Tomoe encurvou a cabeça para a frente com vergonha. “Ah, então você estava desesperadamente digitando as respostas?” “Se eu não fizesse isso, elas ficariam bravas.” Tomoe estufou as bochechas e olhou para ele.
173
“Hehhh~” “O que há com essa reação? É assustadora.” “Naaaada~” “Você provavelmente está pensando: ‘se elas parassem de ser amigas com você por causa disso, eles não seriam amigas de verdade’.” Ela provavelmente tinha ouvido isso antes e seu tom se alterou levemente enquanto ela recitava isso. “Você também não acha isso?” “C-cale-se.” Sakuta colocou a mão na cabeça dela e bagunçou o cabelo. “Wah! Idiota! Meu cabelo estava todo feito.” Ela sacudiu para longe a mão dele e rapidamente colocou o cabelo em ordem. “Bem, dê o seu melhor, estudante colegial.” “O que? Você está tirando sarro de mim?” “Você está desesperadamente vivendo por essas regras estúpidas, não é? Então eu não vou tirar sarro de você. Embora eu vou pensar que você é um idiota.” ‘Você deve enviar um e-mail’, ‘você deve enviar uma mensagem’, ele não sabia quem queria e tinha feito as regras, ou para que elas existiam. Essas eram regras que 174
estavam lá, a princípio, para fazer as pessoas ‘se sentirem bem’, mas se elas prestassem atenção em tais regras, veriam também que elas se tornavam restrições que as prejudicavam. Uma vez que as pessoas decidiam fazer regras para si mesmas, resultava isso. Se você não seguisse as regras,
você seria excluído, isolado. Simplesmente
perdendo seus amigos. E quando você fosse excluído uma vez, você não conseguiria voltar para o rebanho. Sakuta sabia disso bem, Kaede tinha sofrido muito com isso. Era um desperdício, mas mesmo assim essas regras criavam vínculos entre as pessoas, conectando-as, fazendo com que elas precisassem ter um lugar para pertencer. E-mail por e-mail, mensagem por mensagem; você teria trocas como “Você está bem?”, “Eu estou bem”. Pessoas que não podiam se afirmar eram afirmadas por outras pessoas. E quando isso era compartilhado entre todos, elas simpatizavam e podiam relaxar com um lugar para pertencer. Ensino fundamental, ensino médio… dentro da sociedade, a escola em geral era um mundo em si. Claro que todo mundo era desesperado quanto a isso. Sakuta passara a se sentir como se tivesse entendido essa parte da sociedade depois de ter entrado no ensino médio, quando ele tinha começado a trabalhar e entrou em contato com estudantes universitários e 175
funcionários adultos. Ao assistir a atmosfera chamada “escola” de uma perspectiva externa, ele achou que entendeu: o que eles queriam era um lugar para pertencer… “Você está tirando sarro de mim.” “Você parece uma boa pessoa, Koga, então tanto faz.” “O que isso significa?” “A coragem de tentar salvar uma garotinha de um pervertido deve ser respeitada. Embora seja perigoso, você deve chamar alguém no futuro. Você teria sido atacada se fosse um verdadeiro pervertido; porque você é fofa.” “N-não me chame de fofa!” Tomoe recuou, com o rosto vermelho. Talvez ela estivesse surpreendentemente não acostumada a ouvir isso. “Bem, não esqueça seu senso de justiça e continue levando a vida.” “Ah, sim, obrigada.” Tomoe
agradeceu-lhe
surpreendentemente
de
forma honesta. Ele julgou que ela realmente fosse uma boa pessoa no coração, deslumbrantemente pura.
176
Um smartphone tocou. Sakuta não tinha um, então era, claro, o de Tomoe. “Ah, droga! Eu tinha planos. Até logo!” Ela saiu correndo. Porque ela estava usando uma saia
curta,
sua
calcinha
ficou
visível
em
alguns
momentos, mas gritar e apontar isso chamaria a atenção. Então Sakuta ficou em silêncio e a assistiu sair. “Branco, huh.” Quando Tomoe tinha desaparecido completamente, ele pensou em voltar para casa e começou a andar. Ele parou depois de cerca de três passos. Ele estava esquecendo de algo importante? “…Ah.” O rosto de Mai passou por sua cabeça. Ela não estava sorrindo gentilmente, e ela não estava fazendo beicinho também. Era a lembrança da única vez que ele a viu seriamente zangada. “Droga.” Suas pernas emaranharam enquanto ele corria em direção ao local de encontro designado. ⟡⟡⟡ Sakuta tinha corrido até a estação que ele usava para ir à escola todos os dias, a Estação Enoden Fujisawa,
177
e estava na frente das catracas de acesso. Este era o lugar onde Mai tinha decidido que eles iriam se encontrar. Ao recuperar o fôlego, ele olhou para a direita e depois para a esquerda. Não demorou muito para verificar a área de seis ou sete metros de largura na frente das barreiras. “…” Infelizmente, Mai não estava lá. “Bem, claro que não.” Sakurajima Mai não teria esperado por uma hora e meia por ele. “Uwahh, eu realmente fiz isso…” Arrependimento o preencheu por dentro. Mas ele não poderia ter apenas passar do lado e não ter feito nada quando viu aquela garota perdida, e ele nunca tinha pensado que a garota colegial com um senso de justiça iria se envolver, então ele não pode evitar isso. Ele se ressentia por não ter telefone ou smartphone. Se ele tivesse, ele poderia ter ligado para ela. Bem, uma vez que ele explicasse, ela teria dito ‘Hmm, então você tem algo mais importante do que um encontro comigo’ ou algo assim, e o encontro não teria acontecido de qualquer maneira. Neste ponto, como ele iria fazer com que ela o perdoasse? Ela provavelmente estava extremamente zangada por Sakuta não ter vindo e tinha voltado para 178
casa, ou ido para algum lugar sozinha. Ele não achava que ela esqueceria de sua raiva tão facilmente. Uma série de passos se aproximou por trás da forma abatida de Sakuta. Eles pareciam familiares, mas também pareciam extremamente irritados a julgar pelo seu ritmo. “Você deve ser bem convencido para me manter esperando por uma hora e trinta e oito minutos.” “…” Ele se virou incrédulo e Mai estava em pé ali, vestindo roupas casuais. “O que? Você parece um cervo diante dos faróis.” “É só que a Mai-san não é o tipo de mulher que tem a elegância de esperar por um retardatário por uma hora e trinta e oito minutos! Você deve ser uma farsa!” Os olhos de Mai se estreitaram e a temperatura ao redor pareceu diminuir em vários graus. “Eu sei exatamente como Sakuta olha para mim.” Ele provavelmente foi descoberto por olhar para ela principalmente num sentido pervertido. “Você esqueceu o ‘kun’.” “Sakuta é o suficiente para você.” Mai provavelmente quis dizer isso como uma punição, mas francamente falando, não soava como algo além de uma recompensa para Sakuta. Se ele dissesse 179
isso, ela voltaria a chamá-lo de “Sakuta-kun”, então ele ficou quieto. “Do que você está sorrindo?” “Nada mesmo.” Lutando contra a expressão dele suavizando, ele olhou para Mai novamente. Foi a primeira vez que ele a viu em roupas casuais. Ela vestia um colete de malha com capuz sobre a blusa de mangas compridas. Sua saia era da altura do joelho e tinha um design ligeiramente adulto, sendo alargada na orla [NT: pelo que pesquisei, seria um saia evasê ou godê]. Além disso, ela usava botas que alcançavam até bem abaixo dos joelhos. Sua roupa era refinada e elegante, mas conseguia um bom equilíbrio em não ser demais. Ela se encaixava muito bem com Mai, com seus traços adultos. “…” Mas nada estava exposto, o máximo que ele podia ver era uma pequena área logo acima dos joelhos. “Hahh…” Ele não pôde deixar de soltar um suspiro. “O que há com essa reação indelicada?” “Mai-san, você está sã?” “O-o quê?” Mai se afastou, cautelosamente. “Um encontro exige uma minissaia e pernas nuas!” 180
“Eu vou bater em você.” Mai apertou seu punho. “Hahh…” “Você está chateado com isso?” “Eu estava bastante ansioso por isso.” “Você tem coragem depois de ter chegado tão tarde.” “Você está sempre usando meia-calça com seu uniforme.” “O-o quê? Eu pensei bastante sobre o que colocar…” Ela desviou o olhar e murmurou. “Bem, ficou muito fofo”. “…” Com um olhar de lado, Mai exigiu mais. “Você está muito atraente, Mai-san.” “É bom que você seja honesto.” “Meu coração dispara, eu quero pegá-la, levá-la para casa e colocá-la como decoração no meu quarto.” “Qualquer coisa a mais do que isso é assustador, você não precisa dizer essas coisas.” “Vamos então?” Ele tentou indiretamente se mover para eles saírem. 181
“Espere, a conversa não acabou.” “Havia mais alguma coisa?” Era algo que ele queria evitar, então ele fingiu ignorância. “Já chega com a atuação horrível.” “Atuar na sua frente seria aterrorizante.” “Faça a sua desculpa por estar atrasado, então sinceramente implore por perdão.” Mai parecia estar se divertindo de alguma forma, e sua expressão estava animada. “Se não for bom o suficiente, eu irei para casa.” Talvez ela tinha esperado por uma hora e trinta e oito minutos para provocá-lo. Isso é o que ele achou. “Enquanto eu estava no meu caminho, encontrei uma criança perdida na esquina da área residencial.” “Eu estou indo para casa.” “Parece uma mentira, mas é a verdade!” “Se você veio do trabalho, por que você passou pela área residencial?” Mai olhou de forma aguçada para ele. “Eu fui para casa primeiro.” “Por quê?” “Eu tinha tempo, então tomei um banho e troquei minha roupa íntima para o momento crítico.” 182
“…Nojento.” Mai se afastou dele. “Bem, isso é apenas o esforço inútil de um garoto mais novo, então eu vou ter que aceitar isso.” “Muito obrigado.” “No entanto, não chegue mais perto que trinta metros de mim.” Isso não poderia mais ser chamado de encontro, Sakuta se pareceria com um stalker. “Vamos, continue sua história.” “Eu realmente fui com ela para uma delegacia de polícia.” “A criança perdida era uma menina?” “Ela era.” “Você tem alguma coragem para me manter esperando para encontrar outra garota.” “Mesmo que ela tivesse seis anos!?” “Mesmo assim.” Ela negou sem hesitação. Neste ponto, havia o risco de ser muito honesto e contar tudo a ela. O dia em que ele diria a ela que estava com uma linda garota colegial chamada Koga Tomoe… ela na verdade era uma estudante do ensino médio bastante bonita, que sabia de que forma ele seria agredido. “Mas há uma delegacia bem ali?” 183
Mai apontou um pouco além da entrada da estação. “Ela me pediu para ficar até que eles encontrassem seus pais e estava chorando.” “Hmmm.” O olhar de Mai o apunhalou com dúvida. “Eu odeio mentiras.” “Que coincidência, eu também.” “Se você estiver mentindo, você irá comer pocky com o nariz.” “Um palito?” “Uma caixa.” Era o tipo de tortura que poderia ser feito com pressa, e as situações que ele podia imaginar eram coisas que ele preferia evitar. “Eu não acho que você deveria desperdiçar comida.” “Você vai comer, então está tudo bem.” “…” “…” Ela moveu o rosto para perto dele e o encarou cuidadosamente,
pressionando-o
a
confessar.
A
respiração dela fez cócegas em sua bochecha e ela cheirava bem. “Você é teimoso.” “…” 184
Ele definitivamente não podia dizer a verdade agora. Ele não queria comer pocky pelo nariz. “Bem, tudo bem. Eu não vou te perdoar, mas eu vou em um encontro com você.” Ele poderia se alegrar com isso. “Muito obrigado.” Então, no instante em que Sakuta relaxou: “Ah, aquele lolicon de antes.” Ele ouviu uma voz familiar. Ele olhou para o corredor que conectava as estações JR e Oda Express e viu Koga Tomoe, com quem ele estivera junto antes. As três garotas com quem ela estava eram provavelmente as amigas com quem ela tinha planos. Elas eram um grupo de quatro garotas que tinham uma atmosfera chamativa sobre si e pareciam se dar bem. Elas pareciam ser o grupo central de sua turma. “Aquela mulher de Hakata de antes.” Tomoe se aproximou apressadamente de Sakuta reagindo a ele e tentou cobrir sua boca. “N-não diga isso!” Ela silenciosamente ameaçou-o. “A mulher de Hakata?”
185
“Ah, você sabe, aquela lembrançinha de Fukuoka? Aquela
com
yokan
em
Baumkuchen.
Embora
a
personagem feminina não seja lida como ‘mulher’, mas sim como ‘pessoa’.” “Ah, eu já comi isso, era gostoso.” “Hey, Tomoe!” Outra das suas amigas agarrou-a pelo braço e afastou-a de Sakuta. “O-o quê?” “Esse é o cara do incidente do hospital.” Mesmo sussurrando, a voz dela era claramente audível. Tomoe então murmurou. “Eh? Ele chama Satou Ichirou.” E por ai vai. “Huh? O que você está… de qualquer maneira, olhe.” Desta vez, as meninas reunidas olharam para Mai. Aparentemente, elas conseguiam vê-la. “Venha, vamos.” Puxada por suas amigas, Tomoe correu através barreira. Enquanto as observava, Sakuta percebeu seu erro. Ele reflexivamente respondeu para Tomoe, mas ele deveria fingir que não a conhecia, isso teria sido muito melhor. Ele olhou para Mai. Ela tinha um rosto perfeitamente inexpressivo. 186
“Hey, Sakuta.” “É um engano…” “O que Tomoe-chan disse.” “Mais ou menos.” “Não se preocupe, eu não vou para casa.” Mai colocou o braço ao redor dele. “Primeiro precisamos comprar o pocky.” “Você pode comprar os mais finos?” “Não~” Ele não conseguia parar para apreciar o tom travesso dela, nem a sensação envelopando seu braço. “Por favor!” “Não, seu lolicon.” E assim… Seu primeiro encontro com Mai começou indo em direção à loja de conveniência em frente à estação. ⟡⟡⟡ O estalo de um palito de pocky quebrando ressoou. Sakuta estava sentado ao lado de Mai em um vagão no trem Enoden, nos assentos voltados para o mar. Outro estalo soou. Mai estava comendo o pocky que comprara na loja de conveniência, palito a palito. A pequena abertura da boca dela o encantava. Claro, Mai 187
não estava fazendo isso intencionalmente, mas o pouco tempo que ela tomou antes de mastigar para comer apenas a ponta doce do pocky prendeu a atenção dele. No entanto, ele não podia meramente apreciar a cena. Ele não sabia quando ela iria perfurar o nariz dele com um palito de pocky, então ele estava desconfortável. E então, essa hora chegou surpreendentemente rápida. Mai estendeu um palito de pocky e disse: “Pegue.” “Estou cheio,” ele respondeu firmemente. “Eu não quero engordar, então coma o resto.” “De que maneira.” “Você pode comê-los normalmente.” Mai olhou de soslaio para ele com um suspiro. “Obrigado pela comida.” Ele pegou a caixa inteira. “Você realmente achou que eu faria você comê-los com o nariz?” “Você parecia completamente séria.” “Isso era uma atuação.” “Foi impressionante.” “Bem, eu pensei que poderia fazer você tentar pelo menos um.” 188
“Uwahh, você é um verdadeiro demônio.” “Parece que você não se arrependeu corretamente, não é?” “Eu sinto muito, isso foi uma mentira. Oh grande e linda Mai-sama, por favor, me perdoe.” “De alguma forma, você não parece ser muito sincero.” Mai voltou seu olhar cansado para a janela. Apesar de estarem apenas três estações de distância da Estação Fujisawa, o mar não estava visível. Em pouco tempo, o trem chegou ao trecho dos trilhos passando entre as casas de ambos os lados. Como estava no fim da tarde, o vagão não estava tão cheio e ainda havia lugares vazios. Ele indiretamente checou as reações dos passageiros nas proximidades, mas
eles
não
pareciam
ter
notado
ela…
eles
provavelmente não conseguiam vê-la, ele pensou. “Hey.” “Você vai me dizer para me desculpar com minhas mãos e joelhos no chão?” “Não. Sakuta, por que você se importa comigo? Sua punição é confessar o porquê.” “Por que mencionou isso?”
189
“Normalmente, você não gostaria de se envolver com uma mulher problemática como eu.” “Então você percebeu isso sozinha.” “Qualquer um perceberia se olhasse as reações de todo mundo.” Mai estava isolada de sua turma e da escola como um todo. Todos a tratavam como a atmosfera, não sendo algo para se relacionar. “É porque você é assim não cooperativa que você não tem nenhum amigo, Mai-san.” “Você também não é cooperativo.” Ele fingiu não ouvir o cinismo de Mai. Ele sabia que, mesmo que ela não tivesse dito isso, Yuuma e Rio sempre diriam o mesmo. “Não só, você é estranhamente corajoso.” “Eu sou?” “Você é o único que fala comigo sem medo.” “Isso é verdade, você parece bastante assustadora, Mai-san. Eu acho que é por isso que você não consegue fazer amigos.” Seria difícil falar com ela se ela fosse apenas bonita, mas ela também era conhecida em toda a nação como uma atriz. “Cale-se.” “Mai-san, você gosta da escola?” 190
“Se você está perguntando isso como em ‘apesar de não ter amigos’, então esse é o caso desde a escola primária, então eu realmente não penso em nada disso. Contudo eu não acho que a escola seja agradável, não.” Isso não foi um blefe, nenhum engano, era sem dúvida os verdadeiros sentimentos dela. Ela não sentia nada sobre não estar acostumada à escola, não sentia nenhum desconforto com a diferença entre ela e as pessoas ao seu redor. Ela havia se conformado com isso há muito tempo, e Sakuta achava que esses sentimentos haviam desaparecido. “E não mude de assunto.” Ela olhou de forma aguçada para ele do seu lado. “Eu fiz uma pergunta e você ainda não respondeu.” “O que foi mesmo?” “Por que você está interferindo tanto comigo, indo tão
longe
a
ponto
de
dar
àquela
apresentadora
informações que o colocam em uma posição ruim? Você deve ter um motivo para fazer isso.” Ela estava falando muito mais duramente do que antes. “Eu apenas tenho esse tipo de personalidade; eu não posso deixar sozinho alguém que precise de ajuda.” “Eu estava te perguntando seriamente.” “Malvada.” Sakuta respondeu. 191
“Você é de bom coração, mas não por natureza.” “Eu não sou?” “Nem todo mundo é gentil. Algumas coisas horríveis foram ditas por aquele casal da Estação Shichirigahama que tentou tirar uma foto minha.” “Acho que eles diriam aquilo mesmo que não fosse eu.” “Eu
estou
dizendo
que
você
não
conversou
gentilmente, você poderia ter dado um leve aviso, não é?” “Mesmo que eu estivesse com raiva?” “Você poderia ter feito isso se quisesse, não poderia? Se você não estivesse calmo o suficiente, você não teria sido capaz de encurralá-los verbalmente daquele jeito.” “Quanto mais eu ouço, pior a minha personalidade soa…” “Você achou que ela era boa?” Mai olhou para ele com uma falsa surpresa. “Há alguém com uma personalidade pior aqui.” “Já é o suficiente disso, apresse-se e diga-me.” Mai não deixaria que ele evitasse o assunto, como de costume. “Eu responderei seriamente e, em seguida, farei uma pergunta séria.” 192
“Continue.” “Foi uma chance de me aproximar da minha linda senpai, então eu fiquei motivado.” “Quem disse para ser tão franco sobre isso?” “Você foi aquela que me disse para ser sério, Maisan, não foi?” “Diga-me o seu verdadeiro motivo.” Normalmente,
ela
não
gostaria
de
ouvir
as
verdadeiras intenções dele. Talvez. Ele ainda não entendia o senso de valores dela. “Porque é irritante não ter ninguém em quem confiar quando você está em apuros.” “…” Desta vez ela não disse nada, ele provavelmente tinha passado. “Quando Kaede teve a Síndrome da Adolescência, ninguém acreditou no que estava acontecendo bem na frente de seus olhos…” Ele pegou um palito de pocky e levou-o à boca. Mai ficaria zangado com as maneiras dele se continuasse falando enquanto comia, então ele engoliu primeiro e depois continuou. “Ninguém me ouviu, e todo mundo se afastava de mim. E mesmo que estivesse dizendo a verdade, todos me chamavam de mentiroso.”
193
Mesmo assim, ele não achava que eles poderiam ajudar quanto a isso. É mesmo, eles não poderiam. Mesmo Sakuta teria fechado os olhos e ouvidos para isso, não vendo e nem ouvindo tal acontecimento. Era mais fácil viver assim. Todo mundo sabia disso. “Posso perguntar uma coisa?” Mai falou, um tanto hesitante. Sakuta assentiu para ela, já quase certo do que ela perguntaria. “E seus pais?” Ela
perguntou
cuidadosamente.
Ela
tinha
um
relacionamento ruim com sua própria mãe, então estava receosa de causar qualquer conflito desnecessário. Sakuta a admirou se colocando no lugar dele assim. Ela poderia agir como uma rainha, mas ela entendia os sentimentos de seu povo. “Nós vivemos separadamente agora.” “Eu sei disso, imaginei isso quando entrei em sua casa.” Ver os quartos deles eliminara a necessidade de uma explicação, não havia sinal de um adulto ali e não havia sapatos na entrada além dos de Sakuta. Quando eles foram para o quarto dele, a atmosfera era a mesma onde normalmente haveria um senso de território separado do da família. “O que eu quero perguntar é…” “Eu sei.” Claro, ele sabia o objetivo da pergunta de Mai, ela estava perguntando sobre a reação deles aos problemas com Kaede. Ele pegou três palitos de pocky, 194
esvaziando a caixa antes de esmagá-la e colocá-la no bolso. “Minha mãe, bem, ela tentou aceitar isso, mas foi demais, algo aconteceu… ela ainda está no hospital. Ela estava bastante preocupada com o fato de que Kaede estava sofrendo bullying, mas isso é apenas sensato com algo incompreensível como a Síndrome da Adolescência. Meu pai está cuidando dela.” Sakuta ainda não sabia como se sentir sobre isso. Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, as coisas tinham mudado e ele só percebera quando esse era o caso. Tudo o que restou foram os resultados. Ele não tinha sido capaz de fazer nada, e não havia nada que ele pudesse fazer. “Com o choque de ser rejeitada pela mãe, e pensando que era por causa de si mesma… Ela não abraçaria ninguém além de mim, seu irmão mais velho.” “Quantos anos ela tinha mesmo?” “Dois anos mais nova que eu, no seu terceiro ano do ensino fundamental. Desde então ela ama a casa e não vai à escola. ” Estritamente falando, ela não podia sair… Se ela colocasse os sapatos e ficasse na entrada, ela não se moveria ao dar um passo para sair pela porta, e
195
começaria a chorar como uma criança dizendo “Não, não!” “Você… se ressente da sua mãe?” “Bem, sim, claro que sim”, respondeu Sakuta com sinceridade e sem rodeios. “Eu achei que era óbvio que nossos pais nos ajudariam, que eles acreditariam em mim e em Kaede.” Mas também havia coisas que ele aprendera ao viver separado. Por exemplo, todos os dias, sua mãe cozinhava para eles, lavava para eles, limpava a banheira e o toalete e assumia todos os tipos de responsabilidades sozinha. Quando eles tiveram que viver juntos, Sakuta achou que isso era apenas natural. Havia coisas que ele percebeu agora que ele tinha que fazer alguma coisa se a quisesse feita, coisas que haviam mudado. Podia ser nada demais, mas quando ele se sentou no banheiro, por exemplo. Ele pensou que sua mãe tinha que suportar algumas situações, as quais ela queria que sua família notasse, mas ela nunca tinha dito uma palavra sobre isso na frente de Sakuta. Nunca mostrado isso em seu rosto. Ela nunca pedira uma única palavra de agradecimento. Quando ele pensou em não ser capaz de agradecêla por aqueles dias, ele tinha a sensação de que seu ressentimento poderia estar equivocado. Foi assim que 196
ele tinha se sentido durante o ano que passou. Ele sentia o mesmo em relação ao pai, que se reunia com eles mensalmente para saber como eles estavam. Enquanto cuidava de sua mãe, ele reservava dinheiro para os gastos deles. Mesmo que Sakuta trabalhasse o máximo que podia, ele sabia que na realidade, ele não seria sequer capaz de pagar o aluguel do apartamento em que moravam e tinha que admitir isso. Admitir que ele não conseguia viver sozinho… “O que aconteceu com Kaede me fez entender. Ainda sou uma criança e até adultos não conseguem resolver tudo… claro que eles não conseguem. ” “Hmm, isso é incrível.” “Uwahh, eu estou sendo chamado de incrivelmente idiota.” “Isso não é o que estou dizendo. Há muitos de seus colegas que não percebem isso, certo?” “Eles simplesmente não tiveram a chance de perceber isso, se tivessem que enfrentar o problema, todos perceberiam.” “Então, para onde esta indo essa conversa?” Mai estava prestando atenção na janela, e estava chegando ao ponto em que o mar estava visível. Ele podia lembrar a pergunta perfeitamente.
197
“Sakuta, por que você se importa comigo?” Este foi o começo dessa conversa. “Eu estava sozinho. Havia alguém que ouvia seriamente o que aconteceu com Kaede com a Síndrome da Adolescência… Se ele não tivesse sido capaz de conhecê-la, Sakuta não achava que ele teria sido capaz de superar o incidente com Kaede. Foi quando ele percebeu algo. Que havia coisas piores do que estar sozinho neste mundo. Não haver ninguém era o pior. Ele tinha certeza de que todos percebiam isso subconscientemente. Então, eles ficavam aterrorizados com isso, e não perdoavam as respostas tardias aos emails, ou deixavam as mensagens como ‘lidas’, sem saber que isso também piorava as coisas… Não sabendo que isso em si tornava um motivo para você não ter ninguém… “Havia alguém que acreditava em mim,” ele terminou. Foi um tanto doloroso lembrar-se dela, e pensar no nome dela o fez morder o lábio inferior. “Essa era uma mulher.” “Eh?” 198
Sakuta ficou surpreso com a afirmação franca dela. Sua fria e calma voz tinha alguma força por trás. “Você estava fazendo esse tipo de expressão.” Ela não parecia interessada. O trem estava a uma estação antes de onde eles normalmente desciam, Estação de Shichirigahama… a parada em frente a Escola Secundária de Kamakura. No instante em que as portas se abriram, Mai de repente se levantou. “Estamos saindo.” Seus planos deveriam ter sido na última estação, e eles precisariam andar de trem por mais quinze minutos. “Eh, Kamakura?” Quando ele pediu por confirmação, Mai já havia saído do trem. “Ah, espere.” Ele seguiu apressadamente. Alguns segundos depois, as portas do trem se fecharam e ele, lentamente, deixou a plataforma. Mai observou até que o trem saísse do local e depois olhou para o mar. A estação foi construída de frente para o mar e no topo de uma colina, então não havia nada para obstruir o local. Apenas por ficar de pé na plataforma, esperando por um trem, dava-lhe o monopólio da vista do mar. Era um local que parecia passível de aparecer em filmes e 199
dramas. Aparentemente tinha sido de fato usado para gravar, já que Sakuta já havia visto grupos de pessoas com Câmeras de TV antes. “Já é noite porque você estava uma hora e trinta e oito minutos atrasado.” O sol começara a tingir o céu de vermelho enquanto se dirigia para Enoshima. “É uma pequena caminhada.” Mai apontou para o mar e saiu da estação sem esperar por uma resposta. Mesmo quando ele deu um sorriso aflito para o contínuo comportamento estranho dela, Sakuta andou feliz ao lado. Sakuta e Mai cruzaram a Estrada Nacional 134, que tinha semáforos que raramente ficavam verdes, depois desceram uma escada que tinha cerca de vinte degraus e foram para a praia de Shichirigahama. Eles se afastaram de Shichirigahama e se dirigiram na direção de Kamakura. A areia em seus pés faziam seus passos ficarem pesados. “Você sabia? Mesmo que Shichirigahama seja escrito com “sete ri”, ela não é tão longa assim?” “Um ri tem cerca de quatro quilômetros e a praia não tem sequer três.” 200
Em outras palavras, sequer era questão de ler as medidas erradas. “Isto é chato.” Aparentemente, isso era uma informação importante para Mai. “Kujukurihama de Chiba também não tem noventa e nove ri de comprimento, aparentemente.” [NT: ‘hama’ = ‘praia’, então ‘Kujukurihama’ = ‘Praia de 99 ri’ e ‘Shichirigahama’ = ‘Praia de 7 ri’] “Você sabe de algumas coisas chatas.” Mai disse por cima do ombro, como se estivesse realmente entediada. “Mesmo que você tenha trazido o assunto?” “Então, que tipo de pessoa ela era?” “Hm?” Correndo um risco, ele fez como se não entendesse. “A garota de conto de fadas que acreditou em sua fofoca.” “Você está curiosa?” “Qual era o nome dela?” “Você está curiosa.” “Apenas me diga o nome dela.”
201
“O nome dela era Makinohara Shouko. Ela tem cento e sessenta centímetros de altura e é ao todo menor que você. Eu não sei o quanto ela pesa.” Sakuta recitou enquanto ouvia as ondas. “Se você soubesse, eu teria que perguntar o porquê.” “Como devo dizer isso, ela escutava as pessoas, mas… não as deixava mudá-la e era estranhamente antipática”. “Hmmm.” Mai reagiu friamente, apesar de ter sido ela quem perguntou. “Se eu tivesse que pensar em um traço particular dela, seria que ela usava um uniforme da Escola Secundária de Minegahara.” “…” Nesse ponto, Mai finalmente olhou para ele. “Você tentou entrar na Escola Secundária de Minegahara para persegui-la?” “As coisas estavam difíceis em casa depois do que aconteceu com Kaede, então decidi me mudar. Havia um assunto de mudar ainda mais longe, mas eu não achava que a distância importava muito para as fofocas na internet… E então, bem, a razão pela qual eu vim para cá é como você disse.”
202
Ele confessou honestamente, agora que ele havia dito isso, não havia sentido em esconder. “Mas ela rejeitou você.” Mai parecia gostar de um pouco de tristeza alheia. [NT:
por
curiosidade,
o
texto
utiliza
a
palavra
‘schadenfreude’, que é um empréstimo linguístico do alemão] “Acabou do mesmo jeito, mas eu não confessei.” “Mesmo que você tenha feito um esforço para ir para a mesma escola?” “Eu não consegui encontrá-la.” Ele pegou uma pedra da praia e a jogou no mar. Agora que ele pensou nisso, essa poderia ser a praia em que ele jogou seu telefone. “Então ela se graduou.” “Nós nos conhecemos quando eu estava no terceiro ano no ensino fundamental, e ela disse que estava em seu segundo ano do ensino médio.” “Então ela transferiu?” “Se fosse isso até estaria tudo bem.” “Você diz isso como se alguma outra coisa tivesse acontecido.” “Eu passei por todas as salas de aula do terceiro ano e falei com todos os alunos.” 203
“E eles disseram?” Sakuta balançou a cabeça lentamente. “Que eles não conheciam uma aluna chamada Makinohara Shouko.” “…” Mai parecia perdida em como compreender isso. “Eu olhei para os registros dos alunos, até achei que ela teria que repetir o ano… e olhei todos os álbuns de formatura dos últimos três anos.” Mas, é claro, ele não conseguiu encontrá-la. Não
havia
registros
de
uma
aluna
chamada
Makinohara Shouko. “Eu realmente não entendo, mas eu definitivamente conheci alguém chamada Makinohara Shouko, e ela definitivamente me salvou.” “Certo.” “Parece que eu não vou ser capaz de retribuir o favor para ela, então eu pensei em tentar fazer isso com você.” Isso era algo que não poderia ser resolvido sozinho, você precisaria de alguém ao seu lado para sentir salvo. Essa foi a experiência de Sakuta dois anos atrás. “E há algo que eu quero saber.” “Algo que você quer saber?”
204
“Por que a Síndrome da Adolescência ocorre, se eu soubesse disso…” A mão de Sakuta se aproximou do peito dele. “Você está preocupado com a sua cicatriz?” “De certo modo.” As aulas de natação eram bastante deprimentes quando o verão se aproximava, se ele pudesse se livrar da cicatriz, ele participaria a qualquer custo. “E se eu puder resolver isso, pode ajudar Kaede também.” “Entendo.” Ele pensou que seria uma pena se ela nunca pudesse sair de casa. Desperdiçando todos os dias lendo e brincando com Nasuno, o gato, era definitivamente uma pena. Ele queria trazê-la para esta praia. Então ele queria saber muito sobre a Síndrome da Adolescência e encontrar uma maneira de resolver o caso da Kaede. Essa foi a razão pela qual Sakuta tinha se interessado primeiramente por Mai… Mesmo sem expressamente dizer isso, o perfil de Mai tinha um sorriso que dizia que ela tinha visto através dele. Sakuta pegou outra pedra e atirou-a para o mar, onde traçou um arco e caiu com um respingo. “Hey.” “…”
205
Ele esperou silenciosamente pelo o que ela diria em seguida. “Você ainda gosta dela?” “…” Se ele gostava, ou se não gostava, ele poderia responder imediatamente, e nem mesmo Sakuta iria desviar-se disso com um sorriso. “Você ainda gosta da Makinohara Shouko-san?” Ele mentalmente repetiu as perguntas dela mais uma vez. “Você ainda gosta dela?” Poderia ser um problema que ele evitou até hoje. “Você ainda gosta da Makinohara Shouko-san?” Até hoje, sempre que ele pensava nela, seu peito ardia, e se ele pensasse muito nela, iria ficar dolorido e ele não conseguiria dormir. Mas agora que um ano tinha se passado desde então, isso era diferente. Isso havia mudado. Ele achava que chegara a uma conclusão há muito tempo, mas inconscientemente evitava colocar isso em palavras. Ele pensou que poderia ser capaz de dizer isso aqui. “Eu seriamente gostava dela.”
206
Ele falou seus sentimentos enquanto olhava para o mar. Simplesmente fazendo isso, era como se uma carga tivesse sido retirada de seu peito. Mesmo sem a oportunidade, os sentimentos se alteravam para lembranças com o passar do tempo. Mesmo uma ferida de amor não correspondido iria gerar uma cicatriz, e essa cicatriz cairia sem aviso prévio. E assim, as pessoas seguiam em frente. “Você pode muito bem dizer mais alto.” “Se eu desse a você esse tipo de material, eu seria provocado pelo resto da minha vida.” “Eu vou gravar para você.” Mai pegou seu telefone. “Vamos, diga.” De alguma forma ela parecia ter ficado com um olhar afiado, mas provavelmente era a imaginação dele. “Você parece muito zangada?” “Hah? Eu? Por quê?” Ela estava claramente com raiva e irritada. Seu olhar afiado e suas emoções pareciam estar atacando Sakuta. “Eu que fiz a pergunta…” “Existe alguém que ficaria feliz com o seu parceiro de encontro confessando que gostava de outra pessoa?” “Eu disse ‘gostava‘, isso é importante! “ “Hmm.” 207
Ela não pareceu realmente concordar. Levaria algum tempo para agradar a ela novamente. Assim que Sakuta pensou nisso: “É o maaaaaar.” Ele ouviu uma voz despreocupada. Olhando, ele viu um homem e uma mulher descendo as escadas para a praia. O homem tinha os cabelos despenteados e um grande par de headphones em volta do pescoço. A mulher era magra e usava óculos. Ela estava olhando para o namorado enquanto ele corria pela praia. Seus saltos estavam afundando na areia e dificultando a caminhada. Ambos pareciam ser um pouco mais velhos que Sakuta e Mai, provavelmente estudantes universitários. O namorado dela retraçou seus passos até onde ela estava lutando contra a areia, e então de repente. “N-não brinque comigo.” Ele levantou sua resistente namorada como se carregasse uma noiva e levou-a para a beira da água. “Nossa, não acredito que você fez isso.” As bochechas dela estavam vermelhas quando ele a soltou. Sakuta era o mais próximo e ele indiretamente os observava.
208
“Você tem alguma coragem.” Mas o namorado a deixou e estava gritando nas ondas, não ouvindo de fato. Eles eram um casal estranho. “Está frio, estou saindo.” Ele imediatamente a abraçou por trás quando ela disse isso, e Sakuta não pôde deixar de soltar um grito. Mas, felizmente, o casal paquerador parece não ter ouvido. “Você está realmente quente.” Disse o homem. “…” A mulher pareceu resmungar alguma queixa, mas se enterrou nos braços dele de maneira fofa. Sakuta olhou de soslaio para Mai. “Eu não estou com frio.” Sua estratégia falhou com o aviso preventivo dela. “Caaara, com certeza está frio.” Ele olhou para o mar e murmurou, recebendo um olhar de nojo de Mai. O casal saiu pela orla, de mãos dadas. Era como uma cena em um filme. “Cara, isso seria bom.” “Seria.” “Hm?” “N-nada.” 209
Mai
aparentemente
soltou
seus
verdadeiros
sentimentos e rapidamente se virou. “Devemos dar as mãos?” “Por que você é tão arrogante?” Mesmo quando ela disse isso, Mai obedientemente colocou a mão sobre a palma estendida de Sakuta. No entanto, isso não era para dar as mãos. Quando a mão dela se afastou, seu telefone permaneceu na mão dele, um smartphone com uma capinha de coelho vermelho. “Você está me dando?” “Eu não estou.” “Então…” Quando ele estava prestes a continuar sua pergunta, o olhar de Sakuta caiu na tela. Havia uma mensagem escrita nele. Ele perguntou em silêncio se podia ler, e Mai assentiu com uma expressão um tanto desconfortável. No dia 25 de Maio (domingo), venha à praia de Shichirigahama às 17h. Isso era hoje e seriam cinco horas dentro de cinco minutos. Ele não sabia por que Mai estava mostrando a ele a mensagem.
210
Ele entendeu quando olhou para o campo “Para”. A palavra “Empresária” estava escrita lá. Em outras palavras, foi um e-mail enviado para a mãe de Mai e, além disso, a tela dizia que ele já havia sido enviado. Foi enviado no dia em que eles concordaram em ir nesse encontro. O dia em que Mai lhe dissera que voltaria ao show business, depois de terem se separado. Logo chegaria a hora do compromisso. “Você irá encontrá-la?” Ele perguntou, enquanto retornava o telefone. “Eu não quero.” “Então não vá.” Mai tinha se afastado de sua mãe em seu terceiro ano do ensino fundamental devido a discussão sobre seu photobook. Ela já havia decidido mudar de agência, então agora não haveria necessidade de falar diretamente com a mãe dela. “Ah, há coisas ainda para lidar no contrato?” “Eu deixei o contrato com a agência dela ao mesmo tempo em que entrei em hiato, então está tudo bem.” E então tinha que ser um problema do coração. Se ele tivesse que distinguir o tipo… Mai tinha um rosto triste enquanto observava as ondas. Embora ela possa ter decidido encontrá-la, ela ainda parecia não querer. 211
“Minha lógica é ‘não faça coisas que você não quer’.” Ele falou para ninguém. “E há algo a mais?” “Bem, ‘você só tem de fazer o que for necessário’ vai junto na frase.” Ele olhou para o mar e falou resolutamente. Havia coisas que você poderia evitar. E havia coisas que você não poderia. Havia esses dois tipos de coisas neste mundo. Não havia necessidade de fazer coisas que você podia evitar, mas afastar-se das coisas que não poderiam ser evitadas interromperia seu progresso. E, nesse caso, Mai sentia que encontrar sua mãe era o último desses dois tipos. “Você está bem?” Sakuta perguntou diretamente. “É algo que eu me decidi, então… Além disso, parece que ela já está aqui.” Mai tinha notado uma pequena silhueta vindo da direção de Enoshima. “Ela é uma pessoa pontual.”
212
Ela ainda estava longe, então Sakuta não conseguia distingui-la. Mas a certeza de Mai era, é claro, porque eram mãe e filha. “Vamos lá.” Mai sacudiu o pulso para ele como se fosse espantar um cachorro de rua. “Talvez eu devesse cumprimentá-la, visto que estou aqui.” “…” Mai olhou seriamente para ele e ele não podia fazer nada além de levantar as mãos em sinal de rendição. “Continuaremos nosso encontro quando eu terminar, então espere um pouco.” “Okay.” Ele andou ao longo da beira da água e sentou-se em um pedaço de madeira que tinha sido carregado pela água. A distante figura gradualmente cresceu e Sakuta conseguia vê-la claramente. Ela era uma incrível beleza que era semelhante a Mai. Estritamente falando, Mai seria semelhante a sua mãe, mas… Ela era magra, alta e ainda parecia jovem. Ao menos, ela não parecia ter idade suficiente para ter uma filha em seu terceiro ano do ensino médio. Ao vê-la pessoalmente, Sakuta lembrou dos rumores de que ela deu à luz a Mai quando ela tinha vinte anos. Se isso fosse verdade, ela deveria estar em seus trinta anos. Ela não parecia diferente de uma mulher mais 213
velha, mas ela não tinha a aura de “mãe”, e seu traje brilhante reforçava essa impressão ainda mais. A mãe de Mai se aproximou dela passo a passo, e estava a cerca de uma dúzia de passos de distância. Ele viu Mai dizer algo, provavelmente algo como ‘já faz um tempo’, o som das ondas abafou as palavras e ele não conseguiu ouvi-las. A mãe dela apenas diminuiu um pouco a velocidade e não parou, e não deu sinais de responder. Mai disse outra coisa, inclinando-se para frente e falando desesperadamente. “…” Como ele achava que as coisas estavam estranhas, ele notou, o olhar da mãe dela não tinha parado, estava balançando para a esquerda e para a direita, parecendo para Sakuta quase como se estivesse procurando por quem a convocou. E mesmo que ela estivesse bem na frente de Mai, ela não mostrou nenhum sinal de parar. “…De jeito nenhum.” Ele teve um pressentimento horrível. Enquanto Sakuta gritava mentalmente para ela parar… a mãe dela passou direto por Mai. Quase como se ela não pudesse vê-la… 214
Como se ela não pudesse ouvir a garota chamando por sua mãe… Ela passou por Mai com muita facilidade. Ele pode instantaneamente ver que algo estava acontecendo entre as duas mulheres separadas. Seu coração se apertou. Ele se sentiu chocado e o medo fluiu através de seu corpo. Mai correu para a frente de sua mãe, gesticulando e implorando. “Você não consegue me ver?” Sua voz foi carregada até Sakuta. Mas a mãe dela mais uma vez passou por ela, e os braços de Mai caíram frouxamente. Naquele momento, Sakuta se moveu em direção a Mai, aproximando-se da mãe dela. Quando ele estava a cerca de dez metros, a mãe dela notou sua aproximação, e quando ele chegou aos cinco, ela falou irritada para ele, procurando por confirmação. “Era você?” Ela era semelhante a Mai nessa maneira, e Sakuta ficou surpreso. “Por que você me chamou aqui? Quem é Você? Eu já vi você antes, mas não nos conhecemos, não é?” Ela perguntou sucessivamente.
215
“Eu sou Azusagawa Sakuta. Um estudante colegial. Daquele lugar.” Ele
apontou
para
a
Escola
Secundária
de
Minegahara, depois da Estrada Nacional 134. “Entendo.
Então,
o
que
você
quer
comigo,
Azusagawa Sakuta-san? Estou ocupada.” “Ah, não sou eu quem quer algo com você.” Ele podia sentir o olhar de Mai por trás de sua mãe. Ela pareceu se preocupar e fez algumas outras tentativas, mas no final ela lentamente assentiu. Mai provavelmente tinha pensado que isso poderia acontecer, e trouxe Sakuta aqui como uma preparação para o pior caso. Usando o encontro como isca… “Quem é então?” Ele achou que essa era uma pergunta estranha. “É a Mai-san, você sabe certo?” Foi por causa do e-mail que a mãe dela tinha vindo aqui. Mesmo que ela não pudesse ver Mai no momento, isso não deveria mudar essa realidade. “…” A mãe de Mai o avaliou fixamente. “Você pode me dizer mais uma vez, quem me chamou aqui?”
216
“Mai-san a chamou.” “Ela chamou?” “Sim.” A mãe dela segurou o cabelo enquanto o mesmo balançava ao vento e depois falou. “Quem é essa.” “!?” Os olhos de Mai se arregalaram em choque. Ele podia ver os olhos dela tremendo impetuosamente. Isso era natural, a mãe dela tinha perguntado quem ela era. “Sua filha!” Sakuta respondeu emocionalmente. Elas podiam ter se separado, mas a reação da mãe dela tinha sido muito cruel. “Eu não tenho uma filha chamada Mai, pare de brincar.” “Qual de nós está brincando!?” Em contraste com as emoções ardentes de Sakuta, a mãe dela estava apenas calma. “O que é isso? É porque você quer se tornar parte da minha agência?” “Por que eu iria querer? O que você está…” No instante em que ele olhou para os olhos dela novamente, 217
Sakuta ficou em silêncio. Ele notou os olhos dela olhando com pena para ele… A pergunta anterior dela era genuína, ela não sabia quem era ‘Sakurajima Mai’ era… Foi por isso que ela disse essas palavras… Os olhos da mãe dela não tinham sequer uma pitada de engano. “Isso mesmo, a mensagem! Mai-san enviou uma mensagem dizendo que ela iria encontrá-la aqui hoje, certo?” “Se eu te mostrar isso, você vai parar com essa farsa incompreensível?” A mãe de Mai tirou o smartphone de sua bolsa e virou a tela para Sakuta. “…O que?” Isso tinha sido enviado por Mai, que olhava para a tela ao lado dele. Claro, a mãe dela não podia ver Mai ou ouvi-la. O corpo da mensagem era o mesmo que Mai lhe mostrara antes. No dia 25 de Maio (domingo), venha à praia de Shichirigahama às 17h. ‘Mai’ estava escrito no campo ‘de’, não havia nada de estranho nisso e, ainda assim, por algum motivo.
218
“O remetente é desconhecido, mas eu fiz um esforço para colocar isso no meu diário, e até liberei algum tempo para isso… o que é isso?” Sakuta era quem queria perguntar isso. ‘Mai’ estava claramente escrita ali e, no entanto, a mãe dela não conseguia ver esses caracteres. O que ele poderia dizer dessa discussão era que pelo menos quando a mensagem foi enviada três dias atrás, ela sabia que o remetente era sua filha, Mai. Foi por isso que ela tinha liberado um tempo para ter a oportunidade de vir aqui. Mas em algum momento, enquanto o dia se aproximava, a mãe de Mai a havia esquecido. Não apenas ela não podia vê-la ou ouvi-la… ela tinha esquecido completamente dela. Ele não podia acreditar nisso, mas o comportamento
da
mãe
dela
não
deixava
outra
explicação. “Algo
tão
ridículo
assim
aconteceu?”
Ele
inconscientemente colocou isso em palavras. E mesmo ouvindo isso o fez arrepiar e sua voz ficar seca. “Pode uma coisa tão ridícula assim acontecer?” Ele disse duas vezes para a mãe dela. “Essa é uma interessante forma de se promover, mas é absurda demais. Estude a sociedade um pouco mais e tente novamente. ” 219
A mãe de Mai se virou e voltou pelo caminho que tinha vindo. “Você é a mãe dela!” “…” Ela não se virou e nem parou. “Como você pode esquecer sua filha?” “…Isso é o bastante.” Essa foi a voz calma de Mai. “Por quê!?” “É o bastante…” “Nós não terminamos de falar!” Sakuta estava colocando todas as suas emoções em seus gritos nas costas dela. “…Por favor pare.” Sua voz quase chorosa congelou o corpo inteiro dele. Ele notou que estava machucando Mai ainda mais e ficou em silêncio. “Eu sinto muito.” “…” “Eu realmente sinto muito.” “…Mhmm, está tudo bem.” “…” 220
O que diabos tinha acontecido com Mai? Sakuta tinha pensado que ela se tornara invisível e inaudível no momento. A própria Mai também pensara isso. Vir aqui os fez encarar a realidade de que eles poderiam ter tido um grande mal entendido. Sakuta e Mai podiam não saber de nada. Ela não podia ser vista, não podia ser ouvida… e até mesmo sua própria existência havia desaparecido completamente das memórias de sua mãe. “…” Quanto
mais
ele
pensava
sobre
isso,
mais
desconfortável ele se sentia. “Sakuta.” Os olhos de Mai boiavam ansiosamente. Vendo isso, Sakuta percebeu que Mai tinha a mesma dúvida. [NT: eu tive certa dúvida em qual verbo usar aqui, visto que a tradução usa ‘swam’, então interpretei que ela moveu os olhos em meio a algumas lágrimas] Não será apenas a mãe dela, ela pode até desaparecer das memórias de outras pessoas. Ele não sabia quando isso iria acontecer, mas isso poderia acontecer quando ela estivesse invisível. Ou talvez não.
221
Mas se ela realmente desaparecesse das memórias das pessoas… Não demorou muito para que essa dúvida se tornasse convicção. ⟡⟡⟡ Sakuta e Mai tinham percorrido o caminho que costumavam viajar até a Estação Shichirigahama e rapidamente entraram no trem para casa. Eles não tinham realmente discutido isso, mas eles naturalmente seguiram pela estrada de volta a casa. No caminho, Sakuta tinha falado com os turistas e com os moradores locais. É claro, isso foi para perguntarlhes sobre ‘Sakurajima Mai’. Ele perguntou a dez ou mais pessoas, e todos disseram a mesma coisa. “Eu não sei quem é ela.” Não havia uma única pessoa que dissesse que a conhecia. E nenhum deles podia vê-la também. Mesmo assim, Sakuta desejava profundamente, desejava que ele tivesse apenas falado com pessoas que não a conheciam. Mas essa pequena esperança logo se extinguiu. Assim que chegaram à Estação Fujisawa, Sakuta usou um telefone público para ligar para a apresentadora,
222
Nanjou Fumika. Ele estava certo em ter mantido o cartão de visita dela em sua carteira. “Alô.” Uma voz um tanto formal respondeu ao telefone. “É o Azusagawa Sakuta.” “Oh meu,” a voz dela de repente se avivou, e seu tom certamente subiu. “Em pensar que eu receberia uma amorosa ligação sua, este deve ser um dia especial.” “Não há sequer um pingo de amor aqui.” “Você não fantasia ter um relacionamento ardente com uma mulher mais velha? Estou feliz em brincar com fogo.” “Esse é o equívoco de uma mulher mais velha.” “Então, o que é.” Aparentemente, Fumika tinha o hábito de não escutar as coisas que a incomodavam, visto que ela mudou de assunto. “É sobre a Sakurajima Mai.” “O que é isso de repente?” Oh, pensou Sakuta, isso foi uma resposta. No entanto, suas expectativas foram destruídas pela continuação dela. “Quem é essa?” “…” “Alô?” 223
“Você não conhece alguém chamada Sakurajima Mai?” Ele perguntou novamente. “Eu não, quem é ela?” “Então… sobre aquela foto?” A foto das cicatrizes no peito dele. Ela deveria pelo menos ainda ter isso, e prometera a Mai para não publicála. Em troca de um exclusivo no retorno de Mai para o show business… “Eu prometi que não iria publicá-la, certo? Eu lembro, não vou.” “Para quem você prometeu?” “Para você obviamente, Sakuta-kun. O que foi? Você está bem?” Ela parecia meio interessada e meio preocupada com a condição de Sakuta. Sakuta achou que deveria parar a conversa ali, antes que ele causasse problemas para si mesmo. “Estou bem. Desculpe, eu estava preocupado com a foto e acabei dizendo algo um pouco estranho ”. “Tão desconfiante~” “Sinto muito por incomodar você quando estava ocupada. Com licença.”
224
Enquanto ele podia se manter calmo, Sakuta desligou. Ele colocou o receptor
de volta,
suas
mãos
estranhamente pesadas. Ele lentamente se virou para onde Mai estava esperando, e balançou a cabeça. Ela provavelmente não esperava muito para começar, não mostrando nada em seu rosto e simplesmente dizendo. “Entendo.” Ela então continuou monotonamente com “Obrigada por hoje, tchau,” antes de se virar. Não houve hesitação nem insegurança. Mai seguiu direto para o caminho de volta para casa. Afastando-se com seu habitual andar indiferente. O peito de Sakuta doía enquanto ele a observava ir. Ele foi impulsionado por um mal-estar, que se ele a deixasse ir, ele nunca mais a veria. E então, seu corpo se moveu sem seu comando. “Mai-san, espere.” Ele correu atrás dela e agarrou seu pulso. Embora ela tenha parado, Mai não se virou, apenas olhando para frente. “Vamos.” “…” Mai levantou seu rosto um pouco. “Ir para onde?” “Pode ainda haver alguém em algum lugar que se lembre de você.”
225
“Já está bem claro que todo mundo, exceto você se esqueceu de mim.” Mai riu secamente. “…” Ele não negou isso. Ele não conseguia. Ele não conseguia pensar em mais nada nessa situação. E a própria Mai pensava da mesma maneira, foi por isso que ela disse isso. Mas ainda assim, ele queria acreditar. Acreditar que se eles fossem a alguma cidade distante, alguém saberia de Mai, seria capaz de vê-la e apontar para ela dizendo: ‘Aquela não é a Sakurajima Mai?’ Ele ainda queria acreditar nisso. “Vamos verificar.” “Em que irá mudar ao verificar? Em que irá mudar ao saber que ninguém mais pode me ver, que ninguém mais consegue se lembrar de mim?” “Pelo menos, poderei estar com você enquanto fizermos isso.” “!?” Claro que ela ficaria apreensiva. Ela não poderia não ficar, ela estaria sobrecarregada por isso. Ela não saberia o que estava acontecendo, ela não sabia por que isso estava acontecendo, ou o que seria dela amanhã. É claro que ela ficaria assustada se voltasse assim para sua casa deserta. E como prova disso, os ombros dela tremiam levemente enquanto ela olhava para baixo. 226
“Ou pelo menos, eu quero estar com você, Mai-san.” “…Você é atrevido.” “Estamos em um encontro, afinal.” “Você é tão atrevido, mesmo sendo mais jovem.” “Eu sinto muito.” “Minha mão dói, solte-a.” Ele notou que estava segurando a mão dela com força e rapidamente a abriu. “Eu sinto muito.” “Eu não vou te perdoar com apenas um pedido de desculpas.” “Eu sinto muito.” A curta troca de palavras entre eles foi quebrada ai. E então, depois de um minuto de silêncio. “…Okay.” Mai sussurrou. “Hmm?” “Se você está dizendo que não quer me enviar para casa ainda, eu irei continuar nosso encontro.” Mai olhou para cima e provocativamente cutucou o nariz de Sakuta. Em algum momento, o tremor dela havia parado.
227
Eles tinham gasto quase uma hora no trem com direção contrária ao centro, tendo partido da Estação de Fujisawa na linha Tokaido, e viajado cerca de 50 quilômetros ao oeste. Os vagões prateados com linhas laranja e verde ao longo dos lados tinham passado pela prefeitura de Kanagawa e chegado em Atami, na prefeitura de Shizuoka, famosa por suas fontes termais. Eram sete da noite. Independentemente da hora, havia algo que eles precisavam saber. O que estava acontecendo com Mai… E se alguém que já a tivesse visto conseguia se lembrar dela. Eles precisavam saber em que escala o caso de Síndrome da Adolescência que estava afetando Mai a faria sofrer. Eles já tinham descido na Estação de Chigasaki e na Estação de Odawara, mas ninguém tinha sido capaz de enxergá-la. Quando Sakuta perguntara às pessoas, ele só tinha recebido reações como ‘Huh?’, ‘Eu não a conheço’ e ‘Eu não entendo as crianças de hoje em dia’. Assim que chegaram na Estação de Atami, ele imediatamente perguntara
às pessoas,
mas não houve nenhuma
mudança para melhor… Todos realmente haviam se esquecido de Sakurajima Mai, ou pelo menos agiam como se nunca a tivesse conhecido. 230
Mai assistiu tudo isso sem expressão. Ela engoliu qualquer surpresa, tristeza ou medo, sem qualquer abalo no rosto. Como um lago parado. Sakuta olhou para cima de onde ele estava na plataforma, para as placas elétricas com os horários de partida do trem. Para o próximo trem, mesmo que continuassem
na
linha
Tokaido,
eles
precisariam
transferir para um outro, visto que o trem no qual haviam andado até aqui terminava nessa estação. Ele encontrou um trem que chegaria às sete e onze e ia para Shimada. Ele não sabia qual prefeitura era ou onde ficava a estação, mas… verificar o mapa da rota revelou que ficava ainda mais ao oeste do que Shizuoka, e isso era bastante. Ele partiria em seis minutos então, embora não fosse muito, ele tinha algum tempo. “Vou telefonar para minha irmã.” Com essas palavras para Mai, ele correu para um telefone público ao lado de uma loja. Ele usou um trocado e levantou o receptor antes de discar o número, o deixando tocar. Após um curto período de tempo, ele foi transferido para a secretária eletrônica. “Kaede, sou eu.” Kaede nunca atenderia um telefonema de qualquer outra pessoa, então uma ligação sempre começaria dessa maneira com a secretária eletrônica. 231
“Alô, é a Kaede.” “Ótimo, você está acordada.” “São apenas sete horas.” Mesmo sem ver o rosto dela,
ele
conseguia
imaginá-la
fazendo
beicinho.
“Aconteceu algo?” “Desculpe, eu não vou voltar para casa hoje.” “Eh?” “Surgiu uma coisa que preciso fazer.” “O-o que é essa ‘uma coisa’?” “É…” Por um momento ele estava sem palavras, mas Sakuta logo percebeu que deveria perguntar a Kaede também e falou ao telefone. “Kaede, você se lembra da garota que veio à nossa casa, Sakurajima Mai?” “Eu não conheço ninguém chamada assim.” Ela respondeu, muito facilmente. “…” Ele não conseguia responder imediatamente e levemente mordeu o lábio, tentando se acalmar. “Quem é ela?” Kaede resmungou com inveja. Sakuta ouviu isso de longe. Era realmente complicado ter a realidade jogada em sua cara dessa maneira por alguém que ele conhecia tão bem. Foi o mesmo que quando ele falou com Nanjou 232
Fumika, muito mais complicado do que ouvir isso de alguém que ele não conhecia e nunca tinha visto. “Tudo bem se você não sabe. Coma o macarrão instantâneo esta noite, pode comer qual você quiser. Certifique-se de alimentar o Nasuno também. Escove os dentes antes de ir dormir. Eu vou ligar de novo. Tchau.” [NT: eu preferi colocar ‘tchau’ para fazer mais sentido, mas no final ele fala ‘night’ como se fosse falar ‘boa noite’ de forma mais casual sem o ‘boa’] “Ah, eh? Onii-chan!” No meio do grito de Kaede, o telefone desligou com o barulho de uma moeda de dez ienes. Ele foi para o trem. “Vamos, Mai-san.” “Vamos.” Sakuta e Mai embarcaram no trem em direção a Shimada na plataforma dois. ⟡⟡⟡ O trem deixou Atami ao longo da costa do Pacífico, indo mais ao oeste. Eles trocaram de trem ao longo do caminho na Estação de Shimada e na Estação de Toyohashi. Eles foram da prefeitura de Shizuoka para a prefeitura de Aichi e partiram da prefeitura de Aichi para a prefeitura de Gifu, viajando centenas de quilômetros. 233
Enquanto faziam isso, Sakuta perguntou para as pessoas de lugares que ele não conhecia sobre Mai, mas é claro que não havia um único que soubesse dela, nem um único que pudesse vê-la. Os dois estavam agora sacudindo com o trem a caminho de Ogaki. Isso era provavelmente o mais longe que eles iriam para confirmar as circunstâncias em torno de Mai. Por volta do momento em que chegaram, a data havia mudado. Por cada estação que passavam, o número de passageiros diminuía. À medida que o número de pessoas ao redor diminuía, o rangido das rodas e dos trilhos e os solavancos causados
pelas
junções
nos
trilhos
gradualmente
começaram a soar como uma canção de ninar. Quando um conjunto de poltronas opostas ficou livre, Sakuta e Mai sentaram lado a lado nas mesmas. “Na prefeitura de Gifu, lá possui o maior número de pessoas depois da cidade de Gifu.” Mai falou de repente enquanto olhava para seu smartphone. “Do que você está falando?” Quase não havia pessoas no mesmo vagão. Havia algumas pessoas sentadas em lugares distantes, então não havia muita diferença no humor comparado a eles estarem sozinhos. 234
“Sobre Ogaki.” “Ah.” Graças
a
isso,
as
baixas
vozes
deles
eram
claramente audíveis para um ao outro. “Além disso, é dito haver muita água subterrânea.” “Eu daria uma calorosa boas-vindas em algum lugar com água limpa.” “…” “…” Os dois ficaram em silêncio e o barulho do trem preencheu o espaço. É claro que os arredores fora do trem estavam
escuros
como
breu,
então
não
havia
divertimento em olhar pela janela. Mesmo assim, Mai apoiou o cotovelo na mesa embaixo da janela e olhou para as terras desconhecidas. Ele pensou que cerca de dez minutos haviam passado sem que eles dissessem nada. “Hey, Sakuta.” “O que foi?” “Você consegue me ver?” O reflexo dos olhos de Mai no vidro manteve o perfil do rosto de Sakuta à sua vista. “Eu consigo ver você.” 235
“Você, você consegue me ouvir?” “Alto e claro.” “Você se lembra de mim?” “Sakurajima Mai, aluna do terceiro ano na Escola Secundária de Minegahara na prefeitura de Kanagawa. Você estreou no mundo do showbiz ainda jovem e, bem, você já teve um bom número papéis.” “Por que esse ‘um bom número’?” “É provavelmente porque você passou tanto tempo no mundo do showbiz desde que era criança, que sua personalidade se deformou e você não é honesta.” “Como?” “Escondendo-a, embora você esteja apreensiva.” Sakuta disse isso e corajosamente segurou a mão de Mai. As sobrancelhas dela se levantaram de surpresa e seu olhar foi em direção a ele segurando sua mão. “Eu não disse que você poderia segurar minha mão.” “Mas eu quero.” “…” “Eu acho que você pode me dar uma pequena recompensa, não é?” “…Eu acho que não tenho escolha.” Mai voltou seu olhar para a janela, e seus dedos deslizaram entre os de 236
Sakuta. O aperto de mão de uma namorada, isso fez cócegas nele e o fez arrepiar. “Esta é uma ocasião especial.” O perfil de Mai parecia um pouco envergonhado quando ela disse isso e, ao mesmo tempo, ela parecia estar se divertindo ao ver a confusão de Sakuta. Finalmente veio o anúncio de que a próxima parada seria a estação terminal de Ogaki. Sakuta e Mai não se soltaram até que tinham chegado. Quando eles desceram na plataforma, a data já tinha mudado há muito tempo e era meia-noite e quarenta. Sakuta perguntou ao funcionário sobre Mai e depois dele responder ‘Não, eu não a conheço,’ eles saíram pelos portões de bilhetes. Eles acabaram saindo pela entrada sul e depois caminharam até perto do terminal de ônibus antes de pararem. Se essa fosse uma estação sem nada ao redor, eles teriam se preocupado com o que fazer, mas visto que esta estação ficava no centro da cidade junto a todos os estabelecimentos, eles deveriam ser capazes de pelo menos encontrar um lugar para passar a noite. O problema era onde ficar. Se Sakuta estivesse sozinho, ele poderia ter usado um mangá café, mas ele não podia levar Mai para um e ela havia dito a ele mais cedo que queria tomar um banho, como se fosse um aviso 237
para ele. Sakuta concordou com isso, a brisa do mar na praia
de
Shichirigahama
tinha
coberto
eles
completamente em sal e ele queria lavar isso no chuveiro. Ele estava um pouco melado e achava que suas roupas poderiam estar cheirando a sal. Levando em conta as várias considerações, Sakuta decidiu contar com o hotel de negócios em frente à estação como um lugar seguro. Quando ele perguntou se havia um quarto livre, a recepcionista olhou para ele com desconfiança, uma reação natural a um estudante do ensino médio que estava quase de mãos vazias dizendo que queria passar a noite. Independentemente disso, eles passaram pelo check-in sem problemas. Para evitar mais perguntas desagradáveis, ele pagou primeiramente pela noite de estadia. Como Mai era invisível, não havia motivo para fazer o check-in. Sakuta se virou para perguntar se ela estava bem em dividir um quarto, mas não havia necessidade, já que Mai tinha ido direto para o elevador. Eles utilizaram o elevador até o sexto andar. O quarto deles ficava no final do corredor, quarto 601. Sakuta inclinou a cabeça para o lado em completa confusão sobre como usar o cartão-chave, então Mai estendeu a mão e abriu a porta.
238
“Você pode retirá-lo depois de inseri-lo.” Sakuta tentou apenas para praticar, mas devido a falta de resposta parecia não ter funcionado, não havia sinal da porta abrir. Mas, como Mai disse, a porta se abriu normalmente. O quarto era de solteiro e possuía uma cama, uma pequeníssima escrivaninha com armário, e um assento para ela. Ele também tinha uma televisão de dezenove polegadas, uma pequena geladeira e uma chaleira. Francamente falando, era apertado, e a cama ocupava cerca de setenta por cento do quarto. “Tão pequeno.” “Isso é de se esperar.” Mai se jogou na cama, ligou a TV usando o controle remoto e tirou suas botas. Ela passou por todos os canais antes de imediatamente desligá-la. Ela então deitou na cama a partir de sua posição sentada. Claro, ela provavelmente estava cansada também. Eles não tinham feito nada além de viajar, mas essa viagem também havia esgotado Sakuta e a pesada sensação de fadiga permeava todo o seu corpo. “Eu irei tomar banho.” Mai se levantou abruptamente. “Vá em frente, vá em frente.”
239
“Não espie.” “Tudo bem, o som por si só já é suficiente para nutrir meus pensamentos por um dia.” “…” Mai silenciosamente apontou para a porta, dizendolhe para sair. “Eu pensava que atormentar um garoto mais novo com o som do chuveiro aqui seria do gosto de uma calma mulher adulta.” “E-eu sei disso, é claro.” Mai desconfortavelmente disse como se esse sempre fosse seu plano. “Em troca, não faça nada estranho sozinho, okay?” “Algo estranho?” Ele fingiu não entender o que ela queria dizer. “C-coisas estranhas são coisas estranhas. Idiota, eu não me importo!” Mai se virou e entrou no banheiro, batendo a porta atrás dela e trancando-a com um ruído alto. “Isso foi realmente fofo…” Finalmente, o som do chuveiro preencheu o quarto. Enquanto ouvia, Sakuta checou o telefone fixo no quarto. Aparentemente, ele podia fazer chamadas externas também.
240
Ele pegou o aparelho e discou o único número que ele havia memorizado de seus melhores amigos. O terceiro toque foi cortado no meio e ele ouviu uma voz familiar responder. “Que horas você acha que são?” Foram as primeiras e sonolentas palavras de Yuuma. “Uma e dezesseis.” Sakuta imediatamente respondeu com o tempo do relógio na cabeceira da cama. “Eu sei disso.” “Você estava dormindo?” “Eu estava dormindo, cansado das atividades de clube e do trabalho.” “É uma emergência, me ajude.” “O que você precisa?” “Primeiro, eu preciso fazer uma pergunta, você se lembra da Sakurajima-senpai?” Ele achava que fazer isso era inútil, no entanto. Hoje ele havia perguntado a dezenas… talvez até centenas de pessoas sobre Mai, e nem uma vez ele tinha ouvido a resposta que queria. “Huh? Claro que eu lembro.” “Certo, você não lembra.” 241
Ele respondeu reflexivamente. “Não, eu lembro.” A voz de Yuuma ainda estava meio sonolenta e ele balançou a cabeça. O que Yuuma tinha acabado de dizer? “Kunimi!” “Woah, não fale tão alto.” “Você conhece a Sakurajima-senpai? Sakurajima Mai-senpai.” “Obviamente eu conheço.” Ele não entendia o porquê, nem um pouco, mas surpreendentemente, Sakuta havia encontrado pelo menos uma única pessoa. Esta alegria, surpresa e confusão fizeram seu coração bater com tanta força que doía. “Era só isso? Eu vou dormir.” “Espera. Me fale o número da Futaba.” “Eh, claro.” Parecia que ele tinha acordado um pouco, e Yuuma resmungou o número em meio a suas reclamações enquanto Sakuta escrevia em um papel na mesa. “Você vai ligar para ela agora?” “É por isso que eu pedi.” “Ela vai ficar com raiva e dizer que você não tem senso comum.” “Fique tranquilo, eu pensei isso também.” 242
“Claro, estou tranquilo. Trate-me para almoçar pelo menos, a Futaba também.” “Certo, boa noite.” “Sim, boa noite…” Ele desligou a ligação e depois ligou para Rio, que logo atendeu, e disse “É o Azusagawa”. “Que horas você acha que são?” A
voz
de
Rio
estava
descontente
e
surpreendentemente clara. Talvez ela ainda estivesse acordada. “Uma e dezenove.” “Esse relógio está vinte e um minutos atrasado.” “Ah, é mesmo?” Este era um hotel de negócios, então ele esperava que eles colocassem o horário correto. “Agora é um bom momento? Bem, sendo ou não, eu gostaria de falar com você.” “Entendo, você se envolveu mais uma vez em algo incômodo.” “Eu não diria realmente que foi ‘incômodo’.” “O chuveiro que eu posso ouvir atrás de você é a Sakurajima-senpai, certo?” “…Você acertou.”
243
Mesmo percepção
enquanto muito
ele estava surpreso
afiada
dela,
Sakuta
com a sentiu-se
profundamente desconfortável. “Sua fofa irmã mais nova não tomaria banho a essa hora da noite. Além disso, dá para ver que você não está ligando da sua casa apenas pela tela do identificador de chamadas.” Enquanto ele ouvia a lógica de Rio, Sakuta percebeu a razão por trás de seu desconforto. “Futaba, você se lembra da Sakurajima-senpai também, certo? Você conhece ela?” Palavras buscando confirmação escaparam pela boca dele. “Claro que conheço alguém tão famosa. Você é um idiota, Sakuta?” “É porque está acontecendo algo que eu liguei para você nessa idiota hora da noite.” Rio soltou um suspiro. “Okay. Eu vou ouvir sua idiota história, Azusagawa, seu idiota.” Sakuta levou cerca de vinte minutos para explicar o que estava acontecendo com Mai para a Rio. Ele deixou de fora seus palpites, dizendo-lhe apenas o que ele tinha
244
visto. Rio ocasionalmente intervia para confirmar algumas coisas, mas ouviu atentamente toda a conversa. “…É basicamente isso.” Rio ficou em silêncio por um tempo depois que ele terminou, antes de finalmente dizer: “Entendo,” e depois, depois de deixar escapar um suspiro de consideração, ela continuou, “Estou surpresa que o relacionamento de vocês tenha progredido tanto”. “Oi, você sequer ouviu alguma coisa que eu disse?” “Eu não queria ouvir sobre o romance de vocês.” “Eu não me lembro de ligar para você e falar sobre isso.” “Você
apenas
parecia
meloso,
especialmente
ligando tão tarde.” “Eu não estou meloso.” “Se gabando então?” “Isso é ridículo.” “Você diz isso, mas é realmente algo muito espantoso.” Rio falou em um tom de voz mostrando o quão problemático ela tinha achado isso. “Bem, eu suponho que sim… se você começar com o fato de que Sakurajima Mai e eu estamos juntos, não há 245
nada de estranho em relação as pessoas não serem capazes de vê-la, ou até mesmo ela desaparecer das memórias delas.” Ele disse. “Ah, isso é verdade.” “…sua maldita.” Ele disse isso como uma piada, mas Rio tinha imediatamente concordado. “Apesar que nós tínhamos conversado sobre isso antes, e eu neguei a existência da Síndrome da Adolescência.” “Eu sei, você disse que era ilógico, não é?” “Isso mesmo.” Mesmo assim, a razão pela qual ela não tinha o rotulado de convencido era que ele havia mostrado a ela as feridas em Kaede e as cicatrizes em seu peito. Com isso, ela tinha dito “É ilógico, mas acreditar no que você está dizendo é consistente no geral”. Claro, Sakuta não tinha falado uma única mentira. Ele ter deixado sua cidade natal e vindo para a Escola Secundária de Minegahara estava entrelaçado com a Síndrome da Adolescência de Kaede. Se não fosse isso, ele provavelmente teria ido para a escola perto de sua casa, não conhecido a Makinohara Shouko e nunca tido a oportunidade de conhecer a Escola Secundária de Minegahara. 246
“Então, o que você está esperando de mim?” Ela perguntou. “Eu quero que você pense sobre o porquê disso estar acontecendo e encontre algo para consertar isso.” “Você está sendo irracional, Azusagawa.” “Estou em pânico, por isso estou sendo irracional.” “…” Houve um silêncio por parte de Rio. “Huh? Futaba? Você está aí?” “Kunimi disse algo antes.” “Huh?” Por que ela estava trazendo Yuuma nesse assunto? “Que ser capaz de dizer ‘obrigado’, ‘desculpe’ e ‘me ajude’ era um dos seus pontos positivos.” “Ninguém além de vocês dois diria isso.” Sakuta bufou para esconder seu constrangimento. “Entendi, eu irei pensar pelo menos, mas não espere nada.” “Não, eu irei,” disse ele. “Sabe…” “Obrigado, isso realmente ajuda.” Honestamente, Sakuta também estava preocupado. O futuro era completamente incerto. Desde o caso de
247
Síndrome da Adolescência de Kaede, ele não sabia até hoje como combater esse medo. Isso o assustava. No futuro, ele poderia acabar ficando incapaz de enxergar Mai, incapaz de ouvir a voz dela, esquecendo-a completamente. Isso o assustava mais que qualquer coisa. “E quanto a escola amanhã?” “Nós estamos em Ogaki no momento, então não vamos conseguir chegar a tempo pela manhã. Por que a pergunta?” Ele não achava que Rio perguntaria, sem sentido, sobre seus planos para amanhã. “Fazendo uma breve consideração, a única coisa que você, Kunimi e eu temos em comum é a escola.” “Entendo.” “E então, eu pensei que a causa poderia estar na escola.” “…Esse poderia ser o caso.” De repente, Sakuta lembrou que hoje… bem, pela data seria ontem, o que aconteceu com a garota colegial que ele tinha conhecido junto da garota perdida, quando eles se encontraram novamente no local onde seu encontro com Mai deveria começar… Koga Tomoe. Quando eles tinham se encontrado novamente na 248
estação, Tomoe pôde ver Mai, como também as amigas dela. “Então foi uma perda de tempo vir tão longe…?” Enquanto pensava nisso, ele contou a Rio sobre Tomoe e as amigas dela. “Isso acabou sendo uma informação que ajudou a esclarecer o que está acontecendo, então não foi um desperdício. Graças a isso, fomos capazes de pensar que a
causa
poderia
estar
na
Escola
Secundária
de
Minegahara.” “Certo… isso é bom então. Eu estarei na escola amanhã, embora possa já estar perto do almoço nessa hora. Peço desculpas pela hora.” “Você deveria mesmo.” Rio desligou enquanto abafava um bocejo e Sakuta desligou
o
telefone
também.
Ele
notou
que
inconscientemente se levantara e caíra na cama. Em algum momento, o som do chuveiro parou, e ele não percebeu porque estava concentrado na ligação com Rio. “Uwah, que desperdício.” Enquanto ele expressava seu arrependimento, a porta do banheiro se abriu levemente e a partir da abertura, Mai colocou para fora o rosto com uma toalha enrolada no cabelo. Seus ombros, ligeiramente visíveis,
249
estavam brilhando rosados devido a água quente, e vapor se emanava dela. “O que eu faço quanto as roupas íntimas?” “Huh?” “Está tudo bem em usar as mesmas roupas, mas eu não quero as mesmas meias ou roupas íntimas”. “Devo lavá-las?” “Eu prefiro morrer.” “Elas são suas, então eu não me importo se eles estiverem sujas.” “E-elas não estão sujas!” “Pelo contrário, isso aumentaria o valor delas.” “Pare com seus pensamentos pervertidos.” Ela pegou a toalha em volta dos cabelos e jogou-a nele. Ela bateu direto no rosto dele, visto que Sakuta esquecera de se esquivar porque ficou atraído pela visão do cabelo levemente molhado de Mai. No entanto, essa foi a decisão correta, já que um perfume agradável emanava da toalha, embora fosse provavelmente o do xampu. “Você não está usando elas agora, Mai-san?” “Eu estou com uma toalha de banho.” “Ohhh.” 250
“Não fique excitado imaginando coisas estranhas.” “É uma ilusão, então está tudo bem.” “Por que você é tão pervertido?” “É irracional me dizer para não ficar excitado quando estou em um hotel com a minha linda senpai.” “Você está tentando dizer que é minha culpa?” “Eu
acho
que
uma
estimativa
moderada
definitivamente diria que foi sua culpa pela metade.” Sakuta ficou de pé enquanto falava e checou sua carteira. “Se você estiver okay com roupas íntimas de uma loja de conveniência, eu comprarei algumas. Eu quero trocar a minha também.” “Você tem certeza?” “Eu tenho o dinheiro.” Ele mostrou a pequena quantidade em sua carteira para Mai. Ele havia depositado seu salário antes de deixar Fujisawa, então isso não era nada comparado aos cinquenta mil ienes de antes, mas ele tinha o suficiente para um par de roupas íntimas de quinhentos ienes. “Não
é
isso
que
eu
quero
dizer…
não
é
constrangedor para um garoto comprar esse tipo de coisa?” “Hm? Ah, talvez seja, mas estou acostumado com isso.” 251
“Acostumado?” Mai olhou para ele com confusão, como se ela não entendesse o que ele queria dizer. “Comprar produtos de higiene para minha irmã mais nova me acostumou a fazer isso. Agora posso aproveitar as reações das funcionárias.” Kaede se recusava a sair de casa, então Sakuta também comprava roupas e roupas íntimas para ela. “Que cliente mais incômodo.” “Eu estou indo então.” “Espere, eu também vou.” Mai tirou a cabeça da abertura e fechou a porta, trancando-a.
Ou
ela
estava
sendo
excessivamente
cautelosa ou ela não confiava nele nem um pouco. “Você pode simplesmente deixar isso para mim.” “Tenho a sensação de que você escolheria algo exagerado”. “Embora
eu
esteja
indo
para
uma
loja
de
conveniência.” Eles só têm os modelos mais simples. “Além disso, usar roupas íntimas que um garoto escolheu é nojento.”
252
Talvez porque ela estava se vestindo em um banheiro tão pequeno, suas palavras eram intercaladas com sons de ‘ngh’, era muito erótico. Depois de um tempo, os sons do banheiro mudaram para o de um secador de cabelos. No final, levou mais de dez minutos de espera antes de Mai finalmente sair. “Venha, vamos lá.” “Ceerto”. Sakuta e Mai evitaram a recepção e saíram pela entrada dos fundos. Um estudante do ensino médio que estivesse saindo por conta própria chamaria a atenção e não haveria melhor maneira de fazer com que os olhares desconfiados que lhe foram enviados no momento do check-in diminuíssem. Era realmente útil que Mai estava invisível nesse momento. Se eles fossem um casal, isso levaria a mais especulação e poderia até envolver a polícia. Bem, se ela fosse visível, eles não teriam vindo tão longe assim de qualquer maneira… Eles procuraram por toda a rua e viram o brilho de uma placa verde sobre uma loja de conveniência a cerca de cinquenta metros da estação. Naturalmente, os dois caminharam nessa direção. Depois de terem caminhado pela deserta calçada por um tempo, Mai murmurou. “É meio estranho.” 253
Pela imagem de Mai, ela parecia estar se divertindo enquanto olhava para a pacata rua e caminhava com as mãos cruzadas atrás das costas. “Hm?” “Estar assim em uma cidade que eu não conheço.” Mai estava andando fazendo ruídos intencionais com seus saltos, como um soldado marchando. “Você já não foi a muitos lugares para filmar?” “Eu não fui a tais lugares, fui levada até eles.” “Ah, eu sei o que você quer dizer.” Ele já tinha ido muito mais longe em viagens familiares. Em uma viagem no ensino fundamental, ele tinha ido mais longe que isso para Kyoto, e na escola primária ele tinha ido para Nikko. Ele já ido para muitos lugares em viagens escolares, mas nunca se sentira como se tivesse ido para tais locais por si mesmo. Como Mai disse, ele tinha sido levado para tais locais. Então Sakuta talvez estivesse gostando disso assim como Mai, ele talvez tivesse uma sensação de alegria que ele nunca havia sentido antes, desde o momento em que ele havia embarcado no trem ao longo da linha Tokaido. Ele não tinha escolhido um destino, mas apenas escolhido um trem que foi longe o suficiente para procurar alguém que pudesse enxergar Mai, alguém que pudesse se lembrar dela… 254
Ele tinha vindo para cá por si mesmo e, é claro, não poderia
retornar
por
si
mesmo.
Essa
tensão
era
agradável. Sakuta e Mai estavam em uma pequena aventura, mesmo ignorando a Síndrome da Adolescência, era algo incomum e foi a primeira vez que ele teve esse tipo de diversão. “Eu ficava em hotéis fora dos locais das filmagens. Mesmo que fosse uma cidade que eu não conhecia, todos me conheciam, então eu não queria sair.” “Isso foi para se gabar?” “Você sabe que isso não é verdade. Você está apenas procurando por atenção?” Os olhos de Mai sorriram ao ver através dele. “Fui descoberto, huh.” Mai riu pelo nariz e o chamou de mimado em sua tentativa de esconder seu constrangimento. “Mas a coisa mais estranha é andar por uma cidade que eu não conheço com um garoto mais novo.” “Eu não pensei que eu estaria andando em uma cidade distante com Sakurajima Mai também.” “É uma honra.” “Eu nunca me esquecerei disso.”
255
Sakuta colocou isso em palavras com um claro propósito. Não havia como evitar tal fato, na realidade Mai estava desaparecendo das memórias das pessoas. “…” Mai
não
disse
nada.
Então
Sakuta
enfatizou
novamente. “Eu definitivamente não vou esquecer.” “…E se você esquecer?” “Eu irei comer pocky pelo meu nariz.” “Não brinque com a sua comida.” “Foi você quem sugeriu isso.” Mai não disse mais nada sobre isso, apenas sorriu. “…Hey, Sakuta.” “Sim?” “…Você realmente não vai?” “…” “Você realmente não vai esquecer?” Ela falou com Sakuta com um olhar hesitante, como se estivesse testando ele. “A imagem de você em uma roupa de coelhinha está gravada na minha mente.” Mai soltou um suspiro. “Você ainda tem aquela roupa, não é?” 256
O tom dela estava completamente o repreendendo. Era a verdade, então ele não se importava, mas… “É claro.” “Você provavelmente está a usando para coisas estranhas.” “Eu ainda não usei ela.” “Quando voltarmos, livre-se dela.” “Ehh.” “Não diga ‘ehh’.” “Você vai usá-la mais uma vez?” “Por que você está me perguntando isso tão seriamente?” Mai olhou para ele completamente horrorizada. Mesmo assim, ele não desistiu e continuou olhando para ela. “Como um agradecimento por hoje também… só mais uma vez.” Com isso, com um pouco de vergonha, ela cedeu. “Obrigado.” “Lidar com os desejos de um garoto mais novo não é nada.” Traindo suas palavras, Mai desviou o olhar. Ele não conseguia dizer devido ao escuro, mas ela provavelmente estava corando.
257
“Bem, precisamos escolher a sua roupa íntima primeiro.” “Eu não vou deixar você as escolher.” A discussão progrediu assim e os dois chegaram à loja de conveniência. O
som
de
boas-vindas
do
recepcionista
os
acompanhou ao entrar na loja. Não havia outros clientes na loja e o outro funcionário estava organizando as prateleiras de doces. Os itens que eles procuravam estavam nas prateleiras perto da entrada. Ele pegou uma cesta e ficou na frente delas com Mai. Havia meias, camisetas, toalhas, meias-calças e, é claro, as roupas íntimas e camisolas que eles estavam procurando. Ele não sabia já que nunca havia olhado tão detalhadamente, mas eles tinham uma variedade mais completa do que ele pensava, cada uma dessas roupas estava dobrada em um saco de plástico para facilitar o fato deles pegarem. No que diz respeito às roupas íntimas femininas, havia calcinhas e camisolas, podendo escolher entre os tamanhos pequeno ou médio, e as cores rosa ou preto. Sem hesitar, Mai pegou um par de calcinhas preta e, igualmente, uma camisola preta e as colocou na cesta antes de acrescentar um par de meias. 258
“Rosa ficaria ótimo.” “Não é como se eu fosse mostrá-las a você, então isso não importa.” “Uwah, eu realmente quero ver.” “Dizer coisas estúpidas fará de você um estúpido.” Mai foi em direção à seção de bebidas enquanto abafava um bocejo. Ser teimoso não mudaria nada, então Sakuta colocou um par de cuecas junto com uma camiseta e um par de meias na cesta para si e depois seguiu Mai. “Bem, o preto fica ótimo também.” “Você disse alguma coisa?” “Não.” Eles voltaram para o hotel e, depois de se trocar, encheram
os
estômagos
com
os
sanduíches
que
compraram. Eles tinham comido no caminho, mas isso tinha sido há quatro horas, então eles estavam com fome. Assim que terminaram a curta refeição, Sakuta tomou um banho. A primeira coisa que ele disse quando terminou foi: “Devemos ir para casa logo pela manhã.” Ela mostrou uma ligeira surpresa, mas pareceu concordar e disse. “Você deve estar preocupado com sua irmã.” 259
“Bem, eu estou, mas encontrei alguém. Alguém que se lembra de você.” “…Mesmo?” “Meus amigos que frequentam a Escola Secundária de Minegahara.” “Quando você descobriu isso?” “Eu liguei para eles enquanto você estava no chuveiro.” Ele apontou para o telefone no canto. “Você não tem senso comum telefonando tão tarde, você perderá seus amigos.” “Eu me desculpei, então está tudo bem.” “Tamanha autoconfiança.” “Eu acho que eu os perdoaria pelo mesmo.” “Isso seria bom… mas, compreendo. Ainda há outras pessoas que se lembram de mim.” “A causa pode estar na escola.” Ele não tinha provas, mas não havia outras pistas, então ele só poderia depositar suas esperanças nisso. “Entendi. Vamos dormir então.” “Ummm, onde eu deveria dormir?”
260
Ele perguntou a Mai, que havia assumido uma posição na cama. Ele olhou para ela vestindo uma camisola no lugar de pijamas. “No chão, no banheiro? Eu acho que isso vai deixar os funcionários do hotel com raiva, então fique com o chão.” O olhar de Mai recaiu na cama de solteiro depois de olhar fixamente para Sakuta. Depois de um momento pensando, ela perguntou. “Você pode prometer não fazer nada?” “Eu prometo.” Ele respondeu instantaneamente. “Mentiroso.” Ela não confiava nele nem um pouco. “Bem, fui eu quem te arrastou para um hotel.” “Não diga isso como se você tivesse me enganado.” “Eu vou deixar você dormir ao meu lado.” “Mesmo?” “Você queria dormir no corredor?” “Eu quero dormir com você.” Nesta situação, essas palavras soaram como se tivessem um significado diferente. “…” E,
na
verdade,
os
olhos
de
Mai
estavam
cautelosamente afiados.
261
“Eu quero dormir ao seu lado.” Sakuta apressadamente se corrigiu. “…Pode vir.” Mai se moveu para ocupar apenas metade da cama e Sakuta deitou-se no espaço. A cama estava quente devido a Mai estar sentada há pouco tempo atrás. “…” “…” Eles estavam silenciosamente tentando dormir. “Hey, Sakuta.” E então Mai falou. “O que foi?” “Está apertado.” Claro que estava, ter duas pessoas em uma cama de solteiro obviamente ficaria apertado e se mover faria com que um acertasse ao outro. “Você está me dizendo para sair?” Ele virou a cabeça para o lado e seus olhos encontraram os de Mai, que tinha virado da mesma maneira. O rosto de Mai estava bem na frente dele e ele sentiu como se pudesse contar os longos cílios dela na fraca luz… “Converse comigo.” 262
“Sobre o que?” “Sobre algo divertido.” “Isso é difícil. Você gosta de me incomodar?” Ele ligeiramente mudou de assunto. “Eu me pergunto.” Mai falou sem uma alteração sequer em sua expressão. “Não é horrível agir desta maneira se não for divertido?” “Você não gosta que eu te provoque?” “Você sabe disso e ainda me provoca, você realmente tem a personalidade de uma rainha.” “Eu estou apenas dando uma recompensa para você e seu masoquismo.” “Eu não acho que haja um homem que não gostaria de ser provocado por uma senpai tão bonita.” “Isso é um elogio?” “É um grande elogio.” “Hmmm.” A conversa deles parou ali. Com os dois em silêncio, o zumbido do ar-condicionado e o ventilador do banheiro reinavam por todo o quarto. Não havia barulho de tráfego
263
do lado de fora, e nem mesmo um pio dos quartos vizinhos. Era apenas Sakuta e Mai. Sakuta só podia sentir a presença dele e de Mai no pequeno quarto de solteiro. Mai também não tirou olhar para longe dele. “…” “…” Um longo tempo passou com eles em silêncio. Eles piscaram várias vezes, e a respiração longa de Mai pesou nos ouvidos dele.. Sem aviso prévio, os lábios de Mai se moveram lentamente. “Hey, vamos nos beijar.”
264
Ele ficou surpreso, mas não se abalou. “Mai-san, você está sexualmente frustrada?” “Idiooota”. Mai não estava com raiva de Sakuta depois de provocá-lo. Ela não estava perplexa ou envergonhada, ela apenas sorriu se divertindo. “Estarei dormindo agora, boa noite.” Mai virou de costas para ele. Seus longos cabelos fluíam e revelavam a nuca do pescoço dela. Pensando que ele poderia acabar abraçando-a se continuasse olhando para aquilo, Sakuta se virou e agora estava de costas para Mai. “Hey, Sakuta.” “Você não estava dormindo?” “Se eu começasse a tremer e chorar e dissesse ‘eu não quero desaparecer’, o que você faria?” “Eu te seguraria por trás e sussurraria ‘vai ficar tudo bem’.” “Eu definitivamente não vou fazer isso então.” “Huh, não é bom o suficiente?” “Você aproveitaria para apalpar meus seios.” “E que tal o seu traseiro.” “Isso está obviamente fora de questão.” Ela levou isso na brincadeira e um pouco cansada. “…Eu não posso desaparecer, decidi voltar ao show business.” 266
Sua continuação foi dita em um quase sussurro. “Isso mesmo.” “Eu queria participar em dramas e em filmes… eu queria até estar no palco. Eu queria fazer um bom trabalho com os diretores, co-atores e outros funcionários, e me sentir viva.” “E então ir para Hollywood.” “Fu fu, isso seria incrível.” “Talvez eu devesse pegar seu autógrafo agora.” “Meu autógrafo já é muito valioso.” “Ah, isso é verdade.” “Realmente… eu não posso desaparecer.” “…” “Eu acabei de conhecer um insolente garoto mais novo e comecei a gostar de ir à escola…” “Eu não vou te esquecer.” Sakuta falou suavemente, ainda de costas para ela. “…” Ela não respondeu. “Eu absolutamente não vou esquecer de você.” “Você tem essa certeza?” Sakuta ignorou essa pergunta. 267
“Porque, você pode beijar a qualquer momento, não precisa ser agora… você não precisa se apressar… não precisa ser eu. Você irá para Hollywood facilmente, eu acho, e será capaz de fazer qualquer coisa. Isso é o que eu acho.” “…” Ela ficou em silêncio por um tempo e depois respondeu. “…É mesmo. Infelizmente, essa foi sua primeira e última chance de ter o meu primeiro beijo.” “Se você tivesse dito isso antes, eu teria feito isso.” “Tarde demais.” Risadas vieram de Mai, mas elas logo pararam. “…Obrigada. Obrigada por não desistir de mim.” “…” Sakuta fingiu estar dormindo e não respondeu. Se eles conversassem mais, ele talvez realmente acabaria a abraçando. Finalmente, ele ouviu a respiração suave de Mai dormindo. Ele tentou dormir enquanto a sentia, mas estando ao lado de Mai, não havia como ele conseguir fazer isso. ⟡⟡⟡ No final, Sakuta não teve um pingo de sono e passou as várias horas até o céu ficar iluminado ouvindo a tranquila respiração de Mai. Claro, o clima tomou um 268
rumo estranho, mas mesmo quando ele arranjava coragem para olhar nela, ela não mostrava nenhum sinal de despertar, e pelo contrário, isso o fazia parecer uma criança ficando animada por conta própria. Se concentrar e pensar que era apenas ele ali sozinho fazia-o acalmar. Isso deveria ter facilitado com que ele dormisse, mas além de Mai dormir ao seu lado, o cansaço da longa viagem fez suas articulações doerem e elas mantiveram Sakuta acordado a noite toda. Enquanto o tempo passava por ele dessa maneira, o outro lado das cortinas se iluminou. Quando a hora passou das seis e meia, Mai acordou e eles se cumprimentaram. Então eles começaram a se preparar para o check-out. Dito isto, eles estavam praticamente de mãos vazias, então os preparativos de Sakuta foram quase inexistentes. Mai não terminou tão facilmente e disse que tomaria um banho primeiro, gastando mais de trinta minutos. Quando ele finalmente pensou que eles estavam prontos para sair, ela disse que tinha outras coisas para fazer e o forçou a sair do quarto, que injusto. Para matar o tempo convenientemente, Sakuta foi à mesma loja de ontem para comprar o café da manhã. Ele teria que andar devagar…
269
Quando ele voltou, cada um deles comeu seu bolinho de creme e, finalmente, fizeram o check-out quando o relógio girou às oito horas. Eles seguiram para a Estação de Ogaki, embarcaram no trem e depois viajaram por centenas de quilômetros. No entanto, ao contrário do dia anterior, eles usaram um trem-bala de Nagoya, então Sakuta e Mai retornaram rapidamente a Kanagawa e Fujisawa. Ainda era de manhã quando eles chegaram em casa. Este era o super expresso dos sonhos1, tinha sido super rápido. Depois de retornar temporariamente para suas próprias casas, eles se encontraram novamente em frente aos prédios. “Você parece tão desleixado.” Disse Mai, que havia se trocado e chegado primeiro, enquanto observava Sakuta abafar um bocejo. “E você está tão linda como sempre.” “Sua gravata está torta. Segure isso.” Mai empurrou a bolsa para Sakuta e colocou as mãos na gola dele, arrumando a gravata. “Eu não tinha pensado que você agiria como recémcasados tão rapidamente assim, Mai-san. Obrigado.” “Deixe a estupidez apenas para você.” Ela pegou a bolsa de volta e foi andando em frente. 270
“Ah, espere.” Ele correu atrás dela, encostando ao seu lado. As ruas deveriam ser familiares para ele, mas evocavam uma leve sensação de nostalgia, e um sentimento como se ele tivesse deixado a casa vazia por uma semana habitava em seu peito. E ainda assim eles apenas tinham saído no dia anterior. Chegar atrasado para o encontro prometido também tinha sido algo que ocorreu ontem, e isso já tinha se tornado uma memória. Enquanto ele pensava essas coisas: “Phwaah.” Ele soltou um bocejo. O dano de ficar acordado a noite toda foi severo, e vir para cá tinha o deixado sonolento de repente. “O queee, não dormiu o suficiente?” Mai
olhou
para
os
olhos
de
Sakuta,
eles
provavelmente estavam vermelhos. “E de quem você acha que é a culpa?” “Você está tentando dizer que é minha culpa?” “É porque você não me deixou dormir na noite passada.” “Isso não foi só porque você se excitou?” “De qualquer maneira, eu estava tenso.” 271
Sakuta falou honestamente enquanto bocejava mais uma vez. “Você também tem seu próprio charme, Sakuta.” “Você realmente não tem nenhuma preocupação no mundo, você dormiu muito bem.” “Quando eu era criança, eu ia a todos os lugares para realizar filmagens, eu até dormi no vestiário. Além disso…” Mai fez uma pausa e fez uma careta como uma criança que acabara de pensar em uma travessura. “Dormir ao seu lado não é nada.” “Isso foi bom de ouvir, vou me certificar de fazer uma pegadinha com você na próxima vez.” “Você realmente não tem coragem de fazer nada disso.” Sakuta e Mai chegaram na escola durante o intervalo do almoço. Era a hora em que quase todos os alunos estavam relaxando depois de terminar suas refeições. Eles podiam ouvir alguns dos alunos jogando nas quadras de basquete do pátio. Esse sentimento cotidiano da escola parecia um pouco estranho. Como voltar para a escola depois das férias de primavera ou inverno. Eles trocaram para os sapatos de uso interno no hall de entrada e Mai disse. “Eu vou olhar ao redor da escola.”
272
“Eu irei até a Futaba. Ah, Futaba é a amiga que se lembra de você—” “‘Futaba’, então ela é uma garota? Isso é uma surpresa.” Mai parou quando estava prestes a sair. “Futaba é o sobrenome dela.” No entanto, ela não estava errada sobre Futaba ser uma garota… “Entendo. Até mais tarde então.” Sakuta inconscientemente a observou enquanto ela saía pelo corredor. Ela passou por uma aluna segurando um monte de anotações, pelo professor de geografia segurando os slides da aula e por um grupo de garotas conversando sobre um aluno mais velho no clube de basquete. Nenhum deles prestou atenção em Mai, nem sequer olhou para ela. Sakuta não achou estranho, sempre foi assim. Essa era a posição em que Mai havia sido colocada dentro da escola. Isso era o que o ostracismo parecia em seu extremo, ia além de simplesmente fingirem não vê-la e era como se ela tivesse se tornado parte da atmosfera. Essa situação de ignorá-la era semelhante a alguma coisa.
273
Era a reação de pessoas que não podiam vê-la mesmo sem pensar sobre isso. Essa mesma atitude tinha sido o caso na Escola Secundária de Minegahara por um longo tempo, desde antes de Sakuta ter chegado… Mai passou entre as estudantes. A cena era completamente idêntica àquela causada pela Síndrome da Adolescência. “…” Havia apenas um fragmento de lógica nisso, mas ele tinha a sensação de que havia uma conexão, uma sensação de que ele vagamente estava olhando para a causa. Sakuta se sentia da mesma forma que Rio, que tinha dito que a causa poderia estar dentro da escola. “Azusagawa.” Ele se virou até onde seu nome tinha sido chamado e Rio estava de pé atrás dele, com as mãos nos bolsos do jaleco de laboratório. Ela olhou para Sakuta e bocejou, fazendo-o bocejar também. “Tenho
más
notícias.”
Com
essas
palavras
repentinas de Rio, Sakuta ficou tenso. “Todos, além de mim, podem ter se esquecido da Sakurajima-senpai.” “…!?”
274
Ele franziu a testa, isso certamente era uma má notícia. “Ao menos, o Kunimi não se lembra dela.” “Mesmo?” Rio não tinha motivos para mentir, esse não era o tipo de brincadeira para ser feita nessa situação, e Sakuta estava bem ciente de que Rio não tinha o tipo de personalidade para fazer esse tipo de piada. Mas Sakuta reflexivamente buscou por uma confirmação e queria que isso fosse uma mentira. “Quando eu disse o nome dela, Kunimi perguntou quem era, eu não verifiquei com os outros alunos, mas…” Nesse caso, Sakuta achou que eles deveriam perguntar aos outros alunos. Ele olhou ao redor, mas a necessidade disso logo desapareceu. Mai voltou correndo para eles, ofegante e em pânico… sua expressão pálida de medo. Depois que ela recuperou o fôlego, olhou diretamente para Sakuta e perguntou: “Você ainda pode me ver?” “Sim, eu posso te ver perfeitamente.” Ele respondeu com um profundo aceno de cabeça. A tensão foi drenada do rosto de Mai. “Ainda bem…”
275
Ela soltou um suspiro, escondendo seu alívio. Mas o que ele deveria fazer? Por alguma razão, ela só era visível para Sakuta e Rio, os outros estudantes provavelmente tinham esquecido dela. Ontem, pelo menos, Sakuta, Rio, Yuuma… e Koga Tomoe e suas amigas eram capazes de ver Mai. “É isso, a Koga Tomoe!” Sakuta correu sozinho para as salas de aula dos alunos do primeiro ano. Ele olhou através de cada uma das salas de aula no primeiro andar e Tomoe estava na quarta sala, classe 14. Ela estava em uma mesa na janela com as amigas que ele tinha visto ontem, comendo seus almoços. No momento que a primeira delas o viu, todas as quatro olharam para Sakuta. “Aquele—” Tomoe olhou para Sakuta e murmurou. Vendo isso, Sakuta parou em frente à mesa da professora e falou para elas. “Vocês conhecem a Sakurajima Mai-senpai?” As quatro, incluindo Tomoe, se entreolharam e começaram a falar entre si. “Sobre o que é isso, Tomoe, você sabe?” “E-eu não.” 276
“Além disso, Sakura… Mai?” “Quem é essa?” Sakuta as interrompeu novamente. “Vocês a viram ontem perto das catracas de acesso ao
Enoden
na
Estação
Fujisawa.”
As
quatro
se
entreolharam novamente e cada uma sacudiu a cabeça. “Como vocês podem ter esquecido dela? É a Sakurajimasenpai, a atriz, não é?” Sakuta deu um passo à frente. “Pense bem, ela está no terceiro ano e uma verdadeira beldade… é quem ela é!” Ele se aproximou ainda mais e a expressão de Tomoe ficou tensa. “Lembre!” Ele colocou as mãos nos ombros dela. “E-eu não sei!” Assustada, lágrimas brotaram nos olhos de Tomoe. “Por favor!” “Ow.” Ele notou a força de seu aperto. “Sakuta, pare.” Ele ouviu uma voz o contendo em sua orelha e Mai pegou seus pulsos. 277
Lentamente, Sakuta tirou as mãos dos ombros de Tomoe. “Foi mal, me desculpe.” “C-certo…” “Eu realmente sinto muito. Com licença.” Ele pediu desculpas mais uma vez e saiu da sala de aula com os pés pesados. “Azusagawa.” Rio acenou com a mão, acenando para ele ao longo do corredor de onde ela havia chegado depois. “O que?” Rio estava parada, então Sakuta não teve escolha senão deixar Mai para trás e se aproximar. “Eu tenho uma única ideia.” Ela falou baixinho, de modo que só Sakuta podia ouvi-la. No entanto, ela fez uma pausa, como se não tivesse certeza de como continuar. “Me diga.” “Diga, Azusagawa… você dormiu na noite passada?” Essa foi a questão com a qual ela começou. Depois da escola naquele dia, Sakuta voltou com Mai até a Estação de Fujisawa antes de se separarem. Mesmo 278
em um momento como esse, Sakuta tinha um turno no trabalho e não poderia faltar. Mai havia dito a ele para cumprir o turno também. Ele trabalhou até as nove com um olhar sonolento e, a caminho de casa, entrou em uma loja de conveniência. Ele caminhou ao redor da loja enquanto checava os expositores. As bebidas energéticas que ele procurava ficavam perto dos caixas, com coisas como geleias. Havia bebidas que custavam duzentos ienes cada, e aquelas que custavam o suficiente para uma tigela grande de carne. Na verdade, ele até encontrou algumas que custavam mais de dois mil ienes. O que diabos havia de diferença entre elas e qual ele deveria escolher? Por ora, ele pegou três bebidas, algumas pastilhas de menta e alguns comprimidos para mantê-lo acordado. Tudo custou um pouco menos de dois mil ienes. Combinado com o custo da viagem de ida e volta para Ogaki ontem e com a estadia no hotel de negócios, a carteira dele estava ficando mais leve e praticamente não restava mais nada. Dito isto, esta não era a hora de ser mesquinho. As palavras de Rio atravessaram sua mente. “Diga, Azusagawa… você dormiu na noite passada?” Sakuta tinha respondido ela com “Nem um pingo”. Rio parecia então saber o que era. 279
“Eu também não.” “…” Sakuta não tinha entendido o significado e esperou que ela continuasse. “Não é nada mais do que uma simples conclusão, mas eu não estava com a Sakurajima-senpai.” “…Isso mesmo.” “Você se lembra da conversa sobre a Teoria da Observação?” “Gato de Schrödinger, certo.” “Eu sinceramente pensei que isso era ridículo…” Os olhos de Rio tinham ido em direção a Mai naquele momento, que tinha ficado esperando um pouco mais distante. Rio não tinha certeza de qual expressão ela tinha, ou qual ela deveria ter, e claramente tinha ficado perplexa. “Experimentar isso pessoalmente é arrepiante.” “Síndrome da Adolescência?” “Não, antes mesmo disso acontecer, ela foi tratada como a atmosfera dentro da escola.” “Isso mesmo.” “Eu fui com o fluxo também e aceitei a situação como se ela fosse normal. Eu não tinha dúvidas quanto a isso.”
280
“Pelo contrário, é porque não havia dúvidas que isso aconteceu. Se as pessoas percebessem que o que faziam estava errado, elas realmente não seriam capazes de seguir em frente, não é?” Ele não achava que houvesse muitos que pudessem perceber que algo estava errado, não era legal, era patético e tosco… e até mesmo erguer a cabeça e proclamar ‘eu estou ignorando minha colega de classe’. Algo estaria errado com eles. A garota que agia como líder quando Kaede sofreu bullying era assim, ela estava completamente perdida e só dizia: ‘Eu fiz algo de errado?’ Para
as
circunstâncias
com
Mai,
ela
mesma
provavelmente também era a causa. Ela havia tentando agir como a atmosfera em algumas ocasiões, e as pessoas que a cercavam agiam de maneira a aceitar isso. Ela tinha desejado desaparecer, se comportado como a atmosfera. Atuado. “Mas é por isso que parece provável que a causa seja a atmosfera aqui.” Rio havia murmurado para si mesma, lendo as entrelinhas da declaração de Sakuta. “Para a Sakurajima-senpai, a escola é a caixa com o gato dentro.” “…” Ninguém a enxergava, ninguém tentava enxergá-la. Porque ninguém estava a observando, a existência de Mai 281
se
tornou
indeterminada…
então
ela
estava
desaparecendo. Não era que ela estava deixando de existir, era que ela nunca tinha existido. Não ser reconhecida por todos era o mesmo que não existir no mundo… Um calafrio percorreu por ele, uma compreensão visceral das palavras de Rio. Em
essência,
a
causa
estava
na
escola,
na
consciência de todos os estudantes. Na subconsciente apatia deles em relação a Mai. Ela não adentrou nos corações deles, e Rio estava sugerindo que a Síndrome da Adolescência poderia ter induzido esses sentimentos que nem sequer poderiam ser chamados de sentimentos. Como eles deveriam mudar seu subconsciente? Eles nem perceberam que havia um problema, nem achavam que o problema era um problema. Havia cerca de mil desses alunos na Escola Secundária de Minegahara. Havia uma maneira de transformar a apatia deles em relação a Mai em simpatia? “…” Parecia que havia um vazio de escuridão diante dos olhos dele. Era a verdadeira causa do seu calafrio, a verdade por trás da origem. Algo que Sakuta teria que derrotar, algo que poderia ser chamado de seu inimigo. Não era uma 282
coisa visível, mas ela certamente existia, a ‘atmosfera’. Aquela mesma ‘atmosfera’ que Sakuta tinha dito ser ridículo lutar contra. “Se a atmosfera na escola é a causa, então por que a Mai é invisível mesmo para pessoas não relacionadas?” “Ela pode ter sido removida da atmosfera da escola.” Sakuta não tinha pensado que poderia negar essa possibilidade quando a conheceu na Biblioteca de Shonandai e quando ela havia ido ao Aquário em Enoshima. Mai tinha agido como a atmosfera, e o próprio Sakuta tinha achado que ela poderia ser a causa. Mas agora, esse não era o caso. Mai
não
queria
definitivamente
mais
declarado
desaparecer, isso.
Ela
ela
havia
havia
decidido
retornar ao show business, e apesar de ter sido uma piada, ela havia perguntado a Sakuta: “Se eu começasse a tremer e chorar e dissesse ‘eu não quero desaparecer’, o que você faria?” E dito a ele: “Eu acabei de conhecer um insolente garoto mais novo e comecei a gostar de ir à escola…” Esses eram, sem dúvida, os verdadeiros sentimentos de Mai.
283
“Mesmo assim, a atmosfera se espalha facilmente.” Rio disse desinteressadamente. “Vivemos em uma era em que as pessoas simplesmente leem a atmosfera como elas querem, e as informações podem cruzar o mundo em um instante, é como as coisas são convenientes hoje em dia”. Ele tinha ido refutá-la, tendo muitos pensamentos sobre como fazer isso. Até mesmo Rio teve que perceber que sua explicação estava cheia de buracos. Mesmo assim, ele poderia concordar que havia áreas onde as coisas
eram
conveniente
realmente era
e,
assim. ao
Esta
mesmo
era…
uma
tempo,
uma
desagradável… “…” E assim ele não tinha sido capaz de responder. Em primeiro lugar, Sakuta não tinha visto sentido em discutir sobre a causa do fenômeno se espalhando, tudo o que importava para ele era a realidade diante de si. “Voltando ao ponto…” Rio tinha assistido o silêncio dele e cuidadosamente adicionou sua explicação final. “Se a consciência e a observação são a chave, posso de certa forma aceitar a mudança que ocorre quando as pessoas estão inconscientes e adormecidas.” Quando isso acontecia, as pessoas podiam ver, pensar. Mas quando eles estavam dormindo, eles não 284
conseguiam permanecer conscientes de algo, você poderia até dizer que o poder cognitivo deles caía. Como resultado, eles aceitaram a mudança de Mai para a atmosfera enquanto a consciência deles parava. “…” Ele se lembrou da noite passada e seu interior congelou. Porque se ele tivesse dormido, ele poderia não se lembrar mais de Mai nesse momento… Ele mastigou a pastilha para se manter acordado enquanto voltava para casa e bebeu a primeira bebida energética de sua vida. Ela possuía uma doçura estranha, bem diferente de suco, e tinha uma ligeira acidez em seu sabor. Não era de forma alguma desagradável e era fácil de beber, mas ele não gostava do sabor quando o clima era levado em conta. Ele não estava esperando muito efeito, mas seu corpo estava claramente energizado, e ele estava bem acordado com sua mente clara. “Onii-chan, o que você bebeu?” Kaede inclinou a cabeça para ele quando viu a garrafa na cozinha. Eram quase
onze
horas,
e
Kaede
normalmente
estaria
dormindo, então ela estava com bastante sono. Os olhos dela estavam caídos, mas ela não fez um movimento em direção ao seu quarto, provavelmente porque ela ainda 285
tinha em sua mente a memória dele saindo ontem. Ela então acrescentou. “Eu não dormirei até você compensar ontem.” E então ele conversou com Kaede por um tempo, principalmente sobre os livros que ela havia lido recentemente. No começo, ela realmente havia dito que não iria dormir até de manhã, mas ela se enrolou no sofá com Nasuno dentro de uma hora. Ele a pegou nos braços e levou-a para o quarto dela. Inúmeros livros estavam reunidos dentro e havia pilhas de livros perto de seus pés que não cabiam nas estantes de livros. Tomando cuidado com onde ele colocava os pés, Sakuta se aproximou da cama dela e a deitou sobre. “Boa noite.” Ele colocou um cobertor sobre ela e apagou a luz antes de fechar silenciosamente a porta atrás dele. Sakuta jogou vários comprimidos de hortelã em sua boca e depois voltou para seu próprio quarto. Eles esfriaram sua boca e o nariz. Enquanto ele ainda pensava claramente, havia algo que ele tinha que fazer. Ele sentou na frente de sua mesa e abriu um caderno. Ele não ia estudar nem nada. Ele teria exames a partir de amanhã, então ele deveria, mas suas
286
notas eram medianas. Ele tinha que se preparar para o pior. Ele coçou a cabeça com o lápis e começou a escrever. Escrevendo
suas
memórias
das
últimas
três
semanas, os dias desde que ele tinha conhecido Mai… Ele continuou escrevendo a noite inteira. 6 de Maio Eu conheci uma coelhinha selvagem. A identidade dela era minha senpai em seu terceiro ano na Escola Secundária de Minegahara, a famosa Sakurajima Mai. Este foi o começo disso, nosso encontro. Eu não posso esquecer isso. Mesmo se você esquecer, lembre-se, resista, futuro eu. ⟡⟡⟡ O primeiro dia do período de três dias de exames foi um momento horrível para Sakuta. Além de não ter estudado nada na noite anterior, ele não tinha dormido por dois dias e sua concentração era quase inexistente. Mesmo quando ele tentava pensar, seus pensamentos paravam quando ele estava lendo as questões e sua mente dava um branco. Ele apenas olhou para o papel do exame, aceitando-o. 287
Após o teste, ele olhou na sala de aula seguinte em busca de Rio. Ela estava vestindo seu jaleco mesmo na sala de aula, então ela era facilmente identificável. Ela também o notou, recolheu suas coisas e saiu para o corredor. “Você se lembra?” Sakuta perguntou nervosamente. “Huh? O que você quer dizer?” Rio olhou intrigado para ele. “Ah, não importa.” “Certo, eu estou indo para o laboratório.” “Até mais tarde.” Ele levantou a mão acenando quando ela saiu. Rio saiu enquanto agitava a manga de seu jaleco. Não adiantava esperar que ela de repente se virasse e dissesse que estava brincando, ela continuou andando e desapareceu pelas escadas. “Então, sua teoria estava correta.” A própria Rio ter esquecido de Mai era prova disso. Agora, Sakuta era o único que restava. O único que poderia lembrar de Mai, ouvi-la ou vê-la. “Wheew, isso está me deixando animado.” Contra essa adversidade, Sakuta só podia se forçar a sentir seu desejo de resistir.
288
O dia seguinte era vinte e oito de Maio, o segundo dia dos exames, e não foi melhor. Ele estava sonolento, muito sonolento. Cada vez que ele piscava, ele podia sentir um chamado para dormir. Ele só queria fechar os olhos. Ele não tinha dormido desde o Domingo. Hoje era Quarta-Feira, o quarto dia sem dormir. Ele já estava muito além de seu limite. Ele se sentia enjoado, já tinha na verdade vomitado duas vezes e estava preocupado com o que aconteceria da próxima vez. Sua condição estava horrível. Seu pulso estava irregular e acelerado em seus ouvidos. Por estas razões, ele estava pálido, e Yuuma havia o chamado de zumbi no trem naquela manhã com uma expressão séria e preocupada. Sua única graça salvadora era que ele não tinha turnos de trabalho durante os exames. Trabalhar nessa condição seria demais. Suas pálpebras estavam pesadas e seus olhos não se abriam. A luz do sol era cansativa e beliscar suas coxas estava começando a não acordá-lo, o estímulo não o alcançava, a menos que fosse algo como espetar com o próprio lápis. “Você parece cansado.” 289
Mai disse a ele no caminho de volta. Mesmo que apenas Sakuta conseguia enxergá-la, ela vinha para a escola todos os dias. Ela tinha dito que não havia mais nada a ser feito, mas ele não achava que ela estivesse tão calma assim. Ele tinha certeza de que ela ficaria desconfortável ao ficar sozinha em sua casa o dia todo, e estaria esperando que, se ela fosse para a escola naquele dia, talvez tudo voltasse ao normal. “Eu sou sempre assim durante os testes. Eu só estou estudando.” “Isso só acontece com você porque você não estuda.” “Não diga isso como uma professora.” “Já que insiste…” “Hm?” “Eu vou ajudar você a estudar.” “Se você estiver no meu quarto comigo, só irei conseguir pensar em coisas pervertidas, então melhor não.” “…” Mai parecia honestamente surpresa, como se ela não esperasse que ele recusasse. “C-certo… tudo bem então.” “Vejo você amanhã então.” Eles se separaram na frente de seus apartamentos. 290
Ele entrou no elevador e deu um suspiro de alívio. Ele não podia deixá-la saber que ele não estava dormindo, e se ele dissesse, ela diria que ela não podia continuar sem dormir. Ele não queria preocupá-la e não queria que ela se sentisse responsável por algo que ele próprio decidira fazer. Depois que ele voltou para casa, ele abriu um livro de física na sala de estar. Ele havia pegado emprestado de Rio no dia em que voltou de Ogaki, na esperança de encontrar uma dica para alguma solução. Este era uma introdução destinada a desmembrar a teoria quântica. Mas mesmo isso era difícil e não entrava na cabeça dele. Ele estava ignorando os estudos para os exames do meio do semestre e lendo isso, mas suas mãos estavam pesadas enquanto ele virava as páginas. O livro de física não funcionava com suas pálpebras sonolentas, que agiam como uma forte pílula para dormir. Ele gritou para conectar sua consciência, que estava desaparecendo, ao seu desejo, e de alguma forma seguiu as notas explicativas. Ele queria salvar Mai. Isso era tudo que o sustentava. Depois de cerca de uma hora, o estômago de Kaede roncou, visto que ela havia se sentado na sala de estar com
ele,
lendo
também.
Sakuta
se
levantou
291
silenciosamente, começou a preparar a comida e depois comeu com Kaede. “Onii-chan, você parece pálido, você está bem?” Kaede disse algo do outro lado da mesa, e embora ele olhasse naquela direção, Sakuta esqueceu de responder. “…” “Onii-chan?” “Ahh, hmm?” Seus pensamentos pararam devido a fadiga. “Você está bem?” “Meus testes estão acontecendo no momento.” Ele não estava confiante de que isso funcionaria como uma desculpa. “Não se esforce demais.” “Sim, eu não irei.” Embora tivesse dito isso, se esforçando ou não, Sakuta não poderia dormir. Se ele dormisse, ele se esqueceria de Mai. Esta não era uma certeza, mas era uma grande probabilidade. Por causa disso, Sakuta não podia dormir. “Obrigado pela comida.” 292
“Obrigada pela refeição.” Depois que ele e Kaede terminaram a refeição, Sakuta foi dar uma caminhada até a loja de conveniência. Ficar sentado depois da refeição era perigoso e ele se sentia sonolento mesmo quando estava de pé. Ele estava no ponto de adormecer em pé no trem até a escola enquanto segurava nas alças. Na vez que ele havia desmaiado, seu joelho se dobrara e, graças à colisão com o homem de terno, ele acabara despertando, tinha sido realmente perigoso. Ele comprou bebidas energéticas, aquelas caras que tinham o mesmo preço que uma tigela de carne. Provavelmente
porque
ele
as
estava
bebendo
continuamente, a eficácia das mesmas havia começado a diminuir. Elas tinham um efeito enorme, mas depois de duas ou três horas, a sonolência assaltou-o. Mesmo assim, era muito melhor do que não beber. Ele saiu da loja enquanto colocava a carteira no bolso de trás. O vento acariciou sua bochecha e Sakuta ficou travado ali em apuros. Alguém estava na frente dele. Ele sentiu um arrepio de seu corpo traindo-o, que gradualmente se transformou em um suor desconfortável. “O que você comprou?” 293
Mai estava lá com suas roupas casuais olhando de maneira assustadora para ele. Ele freneticamente procurou através de sua mente travada por uma desculpa, mas não conseguia pensar em nada, sua sonolência tinha roubado suas capacidades. “Ahh, hum …” Mai pegou a sacola dele e conferiu o interior. “Eu estava certa, você não está dormindo.” Ela foi direto ao ponto. “…” Aparentemente, Sakuta estava errado sobre não ter sido descoberto. Sua condição atual era visível com um simples olhar, tanto Yuuma quanto Kaede haviam apontado isso. Teria sido estranho para Mai não ter notado. “Você achou que poderia esconder isso?” “Eu esperava que pudesse.” “Idiota, você não pode simplesmente continuar assim.” “Eu não conseguia pensar em mais nada.” Ele disse como uma criança mal-humorada. Ele sabia muito bem que ele não seria capaz de continuar com isso. Os humanos não podiam viver sem 294
dormir e, mesmo que não fosse o caso, isso não resolveria nada. Mesmo que ele soubesse que isso não fazia sentido, Sakuta não tinha escolha senão continuar com essa falta de sentido. Ele ainda não tinha encontrado nada para resolver
o
fenômeno
incompreensível
que
estava
atormentando Mai. Ele nem sequer sabia se havia uma solução. Mas ele ainda tinha que procurar por uma e ele não poderia dormir até que tivesse a encontrado. Mesmo que ele não conseguisse encontrar uma, ele não tinha intenção de desistir e ir dormir. Ele queria continuar se lembrando de Mai, mesmo que fosse só por mais um dia. Ele queria estar com ela, mesmo que fosse só mais um minuto. Ele queria reduzir a quantidade de tempo que ela estava sozinha, mesmo que fosse apenas mais um segundo. Isso era tudo que seu cérebro exausto conseguia pensar. “Você está tão pálido, você é realmente um idiota.” “Eu também pensei o mesmo, desta vez.” “Vamos lá, vamos para casa.” Ela empurrou a sacola de volta para ele e foi em direção a sua casa. Sem pensar, Sakuta a seguiu. Já passava das oito da noite quando ele voltou para casa. Kaede provavelmente estava no banho, já que ele conseguia ouvir um canto alegre do outro lado da porta.
295
Ela estava cantando um jingle de uma loja de eletrônicos. Era uma música curta, então ela cantava repetidamente. Ele foi em direção ao seu quarto, mas parou na porta. Bem no meio do seu quarto estava Mai, sentada em uma almofada e preparando uma mesa dobrável. “Se você entrar no quarto de um garoto a esta hora da noite, é o mesmo que dizer que você está tudo bem com qualquer coisa que aconteça, certo?” “Oito horas é um horário seguro.” “Mesmo assim, por que você está aqui, Mai-san.” “Eu ficarei com você.” “Hurray, uma confissão de amor.” “Não é. Você deveria saber, eu não vou deixar você dormir esta noite.” “Droga, estou ficando excitado.” “Se parecer que você vai cair no sono, eu lhe darei um tapa para acordar.” “Uwah, parece que esta será uma noite difícil.” Mai parecia estar se divertindo de alguma forma. Quantas vezes ela pretendia dar um tapa nele? Ele esperava que ela não tivesse um fetiche estranho, mas… “Vamos lá, sente-se.”
296
Mai deu um tapinha no tapete. Por ora, ele se moveu para lá. “Seu livro e caderno?” “O que tem eles?” “Você irá estudar para seus exames do meio do semestre até amanhã. Eu irei observar você.” “Ehh, tudo bem.” Estudar não o ajudaria neste momento, apenas o deixaria mais cansado. “Além disso, você é boa em estudar?” “Eu não fui para a escola no início do primeiro ano por causa do trabalho, mas desde o segundo ano, não há um número menor do que oito no meu boletim escolar.” A Escola Secundária de Minegahara tinha um sistema de pontuação de dez pontos, um sendo o mais baixo e dez o mais alto, de modo que nunca ter ganhado menos que um oito fazia dela uma excelente estudante. “Você é mais nerd do que eu pensava.” “Eu apenas estudo no meu tempo livre.” “Você normalmente se divertiria nesse tempo livre.” “Isso já é o bastante, estude. Eu não sou tudo para você.” “Você é no momento.” Se
não,
ele
não
estaria
seguindo
com
essa
imprudente estratégia de privação de sono. 297
“Mesmo que as coisas sejam resolvidas, se você continuar assim, você terá apenas uma folha de respostas em branco à sua frente.” “Estou com sono, então pare de ser lógica.” “É o bastante. Estude.” “Eu não tenho motivação.” “Embora eu esteja atuando como professora em uma visita domiciliar?” “Se você estivesse em sua roupa de coelhinha, eu poderia estar motivado.” “E alguém faria isso por você, Sakuta?” “Eu apenas diria isso para você.” “Isso não me faz feliz de maneira alguma.” Sakuta bocejou e esfregou os olhos com força suficiente para fazê-los lacrimejar. “Além disso, se eu estivesse usando aquela roupa de coelhinha, você só pensaria em coisas pervertidas e não estudaria nada.” “Bem, eu tentei.” Sua cabeça mal estava funcionando e ele estava apenas dizendo o que vinha à cabeça. “Bem, já sei… Se você obtiver nota máxima no teste, eu lhe darei uma recompensa.” Seu corpo se inclinou levemente para a sedutora oferta de Mai. 298
“Posso pedir qualquer coisa a você?” “Certo certo, eu farei.” Mai concordou com facilidade, pensando que isso era sem sentido de qualquer maneira. “Amanhã é Matemática II e Japonês, huh.” Ele verificou seu calendário e acordou um pouco. “Eu talvez seja capaz de obter nota máxima em matemática.” “Eh? Você é bom nisso?” Mai disse chocada. “Eu normalmente vou muito bem em ciências.” Foi por isso que ele sacrificaria Japonês e apostaria tudo
em
Matemática
II.
Japonês
possuía
algumas
perguntas ligeiramente vagas de qualquer maneira, por isso era difícil conseguir nota máxima. Já ao contrário, matemática tinha uma resposta definitiva e, desde que ele escrevesse o processo corretamente, ele deveria ser capaz de evitar perder pontos pequenos. Ele imediatamente abriu o livro de Matemática II. Mas ele foi roubado por Mai. “Por que você está me impedindo de estudar, mesmo que você tenha me dito para fazer isso?” “Embora eu tenha dito que faria qualquer coisa, eu não quis dizer qualquer coisa.” Ela fez beicinho, inquieta. 299
“Eu não irei tão longe assim”, ele insistiu “Mesmo?” “Vou me contentar com um ‘tome banho comigo’.” “Isso está fora de questão.” “Ehh.” “C-claro que está!” “Mesmo com trajes de banho?” “Que tipo de maníaco você é, pensando em trajes de banho no chuveiro?” Ela olhou para ele com desprezo, cutucando-o. Isso em si foi um bom estímulo. “Então eu vou usar suas coxas como travesseiro enquanto você usa sua roupa de coelhinha.” “O que você está sugerindo como se isso estivesse tudo bem?” Ele tinha sido bastante sério desta vez, mas Mai não faria isso. “Que tal termos aquele encontro em Kamakura que não pudemos antes?” Talvez por causa da súbita sugestão madura, Mai ficou chocada por um momento. “Tudo bem… mas você tem certeza?” “Eu posso pedir algo mais extremo?” 300
“Eu não disse isso.” Os dedos de Mai pareciam que iriam acariciar a bochecha dele, mas ela o beliscou com força. “Ahh, não me acorde~” “Honestamente, você é atrevido demais para sua idade.” E assim, eles passaram quase duas horas estudando juntos. No entanto, estudar Matemática II foi rejeitado e eles ficaram estudando Japonês… “Escreva as derivações corretas do radical ‘garant’ para as seguintes frases: ‘Não há ninguém que será o _________ do futuro de Sakuta’ e ‘Não há como _________ que Sakuta viverá até a velhice’.” “Sensei, acho que as questões estão zombando de mim.” “Apenas escreva-as.” Mai bateu no caderno dele. Por ora, ele escreveu ‘garantidor’ e ‘garantir’. “Qual delas seria usada em ‘Não há ninguém que será o _________ do futuro de Sakuta’?” “É…”
301
Ele não conseguia distingui-las, então ele moveu o dedo em direção à garantir e deu uma olhada na reação dela. Ele tinha esperanças em determinar qual estava correta a partir da expressão de Mai. No entanto, ela tinha visto através disso. Seus olhos se encontraram e ela sorriu muito gentilmente. Era um sorriso de lado a lado, bem de frente a ele, então era ainda mais assustador. “Podemos tentar então ‘Eu não posso _________ a segurança de Sakuta se ele trapacear’.” “Me desculpe, por favor, dê uma dica.” “Aquele
com
‘or’
tem
o
sentido
de assumir
responsabilidade, e aquele com ‘ir’ tem o sentido de proteção.” “Então seria ‘eu serei o garantidor da felicidade de Mai-san’ e ‘Há como garantir que nossa vida juntos será gratificante’?” “Não mude a questão arbitrariamente.” “Elas não eram fofas.” Aparentemente ele estava correto. Se a mesma pergunta surgisse, ele seria capaz de respondê-la, provavelmente. Ele se lembraria disso, junto com a expressão mal-humorada de Mai. Depois disso, Mai continuou fazendo perguntas semelhantes, e Sakuta conseguiu estudar as derivações como se fosse um jogo. 302
Dito isso, a concentração dele tinha seus limites e foi quando eles estavam perto de completar a primeira etapa de estudar as derivações que Sakuta se levantou e disse. “Eu vou fazer uma bebida. Café está bom para você? Embora seja instantâneo.” “Sim.” Mai estava folheando um livro de exercícios, procurando a próxima pergunta para fazer a ele. Sakuta saiu do quarto e colocou a chaleira para ferver. Enquanto ele estava esperando, ele verificou sua irmã, a luz do quarto dela já estava apagada, então ela provavelmente estava dormindo. Ele pegou duas canecas com café instantâneo e colocou uma na frente de Mai antes de perguntar a ela. “Leite
ou
açúcar?”
Sakuta
tinha
esquecido
completamente que ele iria tomar café preto para se manter acordado. “Eu vou buscá-los.” Ele saiu do quarto novamente e pegou alguns pedaços de açúcar, leite e uma colher. Quando ele voltou, Mai ainda estava olhando através do livro de exercícios. “Aqui está, Mai-san.” “Obrigada.”
303
Mai pôs o leite e o açúcar na caneca e mexeu lentamente com a colher. Sakuta tomou um gole de café enquanto desfrutava das ações delicadas dela. O líquido preto e amargo se instalou em seu estômago, onde o calor daquele o relaxou. “Como está a sua irmã?” “Ela já está dormindo.” Ela tinha olhado no quarto dele cerca de uma hora atrás, mas ao vê-lo estudando, ela apenas o deixou com um “dê o seu melhor”. “Você é filha única, Mai-san?” Ele tinha essa impressão. “Eu tenho uma irmã mais nova.” Mai usou as duas mãos para levar a caneca à boca. “Ah, você tem?” “Minha mãe se divorciou do meu pai… e ela é do segundo casamento dele.” “Ela é fofa?” “Não tão fofa quanto eu.” Mai respondeu instantaneamente, como se fosse adulta. “Uwah, quão madura.”
304
Enquanto eles conversavam, a mente dele ficou confusa. Ele se sentiu tonto e suas pálpebras caíram. “Você gosta do tipo de garota que elogia a fofura de outras garotas, embora ela mesma seja fofa?” “Eu odeio esse tipo.” “Mesmo?” “Mas, sua própria irmã é…” Ele não tinha conscientemente parado, mas suas palavras travaram antes de ele terminar. Os sentidos gradualmente deixaram seu corpo. Ele não conseguia parar isso, mesmo em pânico. Ele agarrou a borda da mesa para se sustentar. Seus olhos já estavam meio fechados. “Estou contente, elas estão funcionando.” Ele olhou para cima e a expressão conflituosa de Mai entrou em seu estreito campo de visão. Ela estava olhando gentilmente para ele, mas definitivamente havia desconforto no olhar dela e seus olhos estavam cheios de lágrimas. “Mai-san… o que você…” Os dedos delicados de Mai agarraram alguma coisa. Era uma pequena garrafa, com ‘pílulas para dormir’ escrito no rótulo. 305
“Por quê…?” Ele não conseguia levantar a voz. “Você se esforçou tanto, Sakuta.” “Eu ainda consigo…” Ele perdeu a força para ficar em pé. “Você se esforçou tanto por mim.” “…Não.” “Então, isso é o suficiente, é o suficiente.” Mai estendeu a mão e gentilmente acariciou a bochecha dele. Era uma sensação quente e agradável. Isso fez cócegas e fez seu corpo tremer. Mas mesmo essa sensação deixou seu corpo. “Não… é…” Ele nem percebeu que estava falando. “Eu sempre estive sozinha, então está tudo bem. Não importa se você me esquecer.” A figura de Mai estava desaparecendo. Mesmo agora, a mão dela estava em sua bochecha, seu dedo indicador acariciando lentamente sob sua orelha. “Mas obrigada por tudo.” Ele não tinha feito nada digno de agradecimento. “E, eu sinto muito.” Ela não tinha feito nada para se desculpar. 306
“Descanse bem…” Guiado pela voz gentil, Sakuta finalmente fechou os olhos e caiu em um sono confortável. “Boa noite, Sakuta.” Ele dormiu, profundamente, profundamente…
Está bem. Pode ter sido doloroso e triste… Mas de manhã você terá esquecido tudo isso e eu. Não se preocupe com nada, apenas descanse. Essas três semanas foram muito divertidas. Adeus, Sakuta.
307
↑ [1] super expresso dos sonhos: Ê uma expressão utilizada para os Shinkansen, os trens-bala japoneses.
308
O corpo dele estava sacudindo. Alguém o estava sacudindo para frente e para trás. “…chan.” Ele ouviu uma voz distante. “…manhã.” Ela gradualmente se aproximou. “…Onii-chan.” Era uma voz familiar. “Onii-chan, é de manhã.” Uma
luz
branca
brilhou
através
do
mundo
totalmente escuro. “…Ngh?” Sakuta lentamente abriu os olhos quando sua consciência retornou. Seu olhar sonolento encontrou o rosto de Kaede, ela estava debruçada sobre a cama. A luz que entrava pela fenda nas cortinas parcialmente abertas machucava os olhos dele. “Você tem exames hoje, certo? Você vai se atrasar.” Kaede o sacudiu novamente. “Ah, sim, isso mesmo, eu tenho os exames—phwaa.” Sakuta sentou-se enquanto bocejava. Seu corpo inteiro estava pesado, como se ele tivesse contraído um resfriado. Ele estava com um pouco de febre mas, em vez 311
de dizer que não se sentia bem, ele estava apenas muito cansado… ele tinha a sensação de que era assim que ele explicaria. Destruindo a sua vontade de voltar a dormir, Sakuta lutou contra seu cansaço e se levantou da cama. Ele não poderia se atrasar para a chamada quando tinha exames de meio de semestre. Fazer os exames suplementares seria problemático demais. O relógio mostrava que era vinte para as oito. Para chegar à escola, primeiro havia uma caminhada de quase dez minutos até a Estação de Fujisawa, depois uns quinze minutos sendo balançado pelo trem. Levaria cerca de cinco minutos para descer do trem na Estação de Shichirigahama e chegar à sala de aula. Trinta minutos tudo somado. Se ele não saísse de casa às oito horas, ele estaria em apuros. Ele não tinha muito tempo. “Você é uma heroína Kaede, obrigado por me acordar.” “Te acordar é o meu motivo para existir.” Ela sorriu de maneira fofa, mas ele não podia honestamente elogiar isso. “Você deveria encontrar algumas outras maneiras de aproveitar a vida.” “Como lavar as suas costas?” 312
“Isto é, que não me envolvam.” “De jeito nenhum.” Ela rejeitou com uma expressão séria. “Estou preocupado com o seu futuro, como seu irmão mais velho.” Enquanto ele falava, ele abriu o guarda-roupa para trocar de roupa. Ele tirou a camisa da escola do cabide e, naquele momento, sua mão escorregou e a camisa caiu sobre uma sacola embaixo dela. “O que tem aqui?” Ele olhou para a sacola enquanto pegava a camisa. Kaede observava do lado e ambos os olhares captaram uma certa coisa ao mesmo tempo. “…” “…” Um pequeno silêncio preencheu o quarto. “Onii-chan, o-o que é isso?” Kaede apontou para a sacola e falou com uma voz trêmula. Sakuta queria perguntar isso também. Havia um collant preto com um pompom branco na parte de trás. Similarmente, havia meias-calças e sapatos de salto alto na cor preta, e até uma gravata borboleta. Havia pulseiras
313
brancas e, acima de tudo, um simbólico par de orelhas de coelho em uma tiara de cabelo caiu da sacola. Não importava como eles olhassem para isso, era uma roupa de coelhinha. “Talvez eu fosse fazer você usar isso.” Essa era a única possibilidade. “Eh?” Por ora ele colocou a tiara de cabelo na cabeça dela enquanto ela estava paralisada de surpresa. “Sim, nada mal.” “E-eu não vou usar isso! Ainda é muito cedo para eu usar esse tipo de roupa sexy!” Kaede percebeu o perigo e saiu correndo do quarto. Ele particularmente não queria perseguir sua irmã e fazê-la odiá-lo logo de manhã, então ele devolveu a roupa para a sacola e a colocou de volta no guarda-roupa. “Eu estou estressado demais?” Ele colocou os braços através das mangas da camisa e abotoou-a. Depois vestiu a calça do uniforme e deu um nó na gravata. Ela estava um pouco torta. “…”
314
Ele sempre ignorava isso e partia para a escola. No entanto, por alguma razão, isso estava incomodando-o hoje, então ele refez o nó, desta vez reto. Antes de vestir o blazer, ele jogou seus livros em sua mochila. Um caderno na mesa chamou sua atenção, e Sakuta o pegou. “O que é isso?” Ele
folheou
as
páginas
e
viu
uma
frase
cuidadosamente escrita. Ele tinha achado que era seu caderno de Japonês, mas, olhando com cuidado, ele percebeu que estava errado. Havia instruções no topo e o resto foi escrito como uma espécie de diário. Honestamente, acho que o que está escrito aqui será inacreditável, mas é tudo verdadeiro, leia até o fim. Até o fim! 6 de Maio Eu conheci uma coelhinha selvagem. A identidade dela era minha senpai em seu terceiro ano na Escola Secundária de Minegahara, a famosa _______. Este foi o começo disso, nosso encontro. Eu não posso esquecer isso.
315
Mesmo se você esquecer, lembre-se, resista, futuro eu. Ele não sabia como reagir a isso. “Isso é algo do meu passado sombrio?” Uma adolescência emocional acabaria provocando diversos delírios malucos. Ele não se lembrava por que havia escrito isso, mas a caligrafia era definitivamente dele e não havia dúvida de que os caracteres eram dele. Então, Sakuta certamente escreveu isso. No entanto, quanto mais ele olhava, mais doloroso era. O papel continuou descrevendo uma namorada ideal, preenchendo metade do livro. Falava sobre eles conversando na plataforma, no trem e no encontro que tiveram e foram para Ogaki. Ele tinha realmente ido para Ogaki há vários dias, mas isso foi porque ele teve um súbito desejo de ir para um lugar qualquer e embarcou em um trem, no entanto tinha sido, infelizmente, uma viagem solitária. “…” Contudo, a coisa que o preocupava era o espaço em branco. Havia uma lacuna vazia em que o nome de alguém deveria estar na frase. Parecia um nome de quatro ou cinco caracteres.
316
“Eu escondi isso para conseguir uma namorada?” Era ainda mais doloroso. Mesmo que tenha sido um erro, ele não podia deixar alguém ver isso. Ele tinha que descartar isso rapidamente. Falando francamente, era como uma mancha em sua vida. As frases que estavam intercaladas e pareciam estar falando com ele mesmo eram ainda mais dolorosas, e constrangimento preencheu seu corpo. Quando o relógio tocou para que ele soubesse que eram oito horas, Sakuta se lembrou de sua pressa. Ele jogou o caderno na lixeira, vestiu o blazer e, com um ‘Vejo você mais tarde’ para sua irmã, ele foi para a escola. ⟡⟡⟡ Sakuta ligeiramente se apressou ao longo da rota de dez minutos até a estação. Ele passou pela área residencial, atravessou uma ponte e saiu na rua principal. Embora tenha se atrasado devido a diversos semáforos, ele caminhou até a área comercial ao redor da estação. Quando ele olhou para as casas de pachinko1 e lojas de eletrônicos ao redor, a placa da estação apareceu em seu campo de visão. A estação tinha a mesma atmosfera de sempre. Estava lotada com trabalhadores e estudantes. Pessoas estavam saindo da estação para seus escritórios ou iam para outras plataformas para trocar de trem. Sakuta era 317
um dos muitos apressados no corredor para a estação do Enoden. Quando Sakuta passou pelas catracas, o trem que ele usava habitualmente ainda estava na plataforma e ele embarcou no primeiro vagão enquanto recuperava o fôlego. Ele ficou ao lado da porta e alguém próximo chamou por ele. “Yo.” Era
Kunimi
Yuuma,
com
a
mão
ligeiramente
levantada o cumprimentando. “Hey.” O trem partiu e Yuuma examinou o rosto de Sakuta enquanto ele segurava as alças com as duas mãos. “Você parece muito melhor hoje.” “Hm?” “Você parecia um zumbi ontem. Você era do tipo de ficar estudando na noite anterior?” “Não, eu sou do tipo que desiste e vai dormir direto.” “Imaginei.” Ele devia ter ido dormir relativamente cedo na noite passada. Ele não tinha lembranças além das nove ou dez daquela noite. Mesmo que fosse a noite anterior a um teste, isso era muito mais cedo do que ele costumava 318
dormir. Ele olhou desinteressadamente para o vagão. Havia muitas pessoas com os uniformes de Minegahara, várias delas com livros abertos para ganhar um único ponto extra em seus exames. Yuuma pegou o livro de matemática de sua mochila e começou a rever as fórmulas. O trem passou pela Estação de Koshigoe enquanto Sakuta interferia com o estudo de Yuuma e o mar se estendia além da janela. Enquanto fazia isso, ele sentiu que alguém o estava observando. “…” Isso o incomodou e Sakuta se virou. “O que foi?” Yuuma olhou para ele confuso, achando as ações de Sakuta estranhas. “Apenas senti como se estivesse sendo observado.” Enquanto ele falava, seus olhos encontraram os de uma garota de pé ao lado de uma porta. Ela estava usando um uniforme que ainda parecia quase não ter sido usado. Ela era Koga Tomoe. “Hmm, ela? Ela é do primeiro ano, certo?” Tomoe desviou o olhar e Yuuma pareceu perceber. “Você a conhece, Kunimi?”
319
“Ela muitas vezes vem para assistir os treinos com a amiga ao lado dela.” Certamente havia uma garota de aparência familiar ao lado dela. “O clube acha que elas são muito fofas.” “Entendo, então elas estão olhando para você.” Ele se sentiu patético e envergonhado com seu próprio mal-entendido. “Eu acho que não.” Yuuma voltou seu foco para o seu livro. “Por quê?” “Aparentemente elas vão para assistir a um dos garotos do terceiro ano treinando.” “Hmmm.” “De qualquer forma, é meio estranho você saber o nome de uma garota do primeiro ano sendo que você nem consegue se lembrar dos nomes de seus colegas de classe. Algo aconteceu?” “Mais ou menos” “Oh, que interessante. Conte-me.” Yuuma parou de estudar e cutucou o ombro dele com um sorriso. “Nós apenas chutamos os traseiros um do outro e então nos conhecemos, nada de especial.”
320
Isso tinha acontecido no Domingo anterior. Ele havia encontrado uma garota perdida, então houve um estranho mal-entendido e um estranho desenvolvimento. “Apenas chutaram o traseiro um do outro, isso é bastante estranho…” “Esse tipo de coisa acontece.” “Nunca aconteceu na minha vida antes… você estava indo para algum lugar?” “Para algum lugar diferente de aqui, eu acho.” “Mas que diabos?” Sakuta olhou de volta para a janela como um sinal de que a conversa havia terminado. Algo estava lutando em seu coração. Tinha algo a ver com ele ter se encontrado com Koga Tomoe. Mas Sakuta não conseguia lembrar o que levara a isso. O trem chegou à Estação de Shichirigahama, e os estudantes com uniforme de Minegahara saíram para a plataforma. Sakuta era um deles e ele andou pelo curto caminho até a escola enquanto respirava a brisa do mar. Ele podia ouvir as conversas de seus arredores como ‘Droga, exames’, ‘Eu não estudei nada’ e ‘Eu acabei de fazer isso’.
321
Todos os alunos tinham a questão comum dos exames, mas fora isso, era a cena habitual. Uma cena cotidiana com conversas parecidas todos os dias. Não era particularmente agradável, mas também não era incômodo o suficiente para ele não gostar. Todo mundo estava agindo como sempre agiam. Essa ‘normalidade’ estava na frente de Sakuta. Uma dupla de alunas do primeiro ano passou correndo por Sakuta e Yuuma. Era Koga Tomoe e sua amiga, conversando sobre ir para um karaokê após os exames. “E você, Sakuta? Tem planos para depois dos exames?” “Trabalho, e você?” “Treino, o torneio está perto.” “Entendo, isso é bom.” “Hm? Como?” “Se você tivesse dito que tinha um encontro, eu ficaria com raiva.” “Isso espera por mim no fim de semana.” “Você é um cara mau, Kunimi.” “Isso vale para você, dizendo isso.” “É melhor do que apenas pensar nisso.”
322
Sakuta e Yuuma chegaram ao saguão de entrada enquanto falavam mal um do outro. Eles trocaram seus sapatos para os de uso interno na sapateira e subiram as escadas para as salas de aula do segundo ano. Sakuta estava em uma classe diferente de Yuuma, então eles se separaram no corredor e Sakuta entrou na sala de aula da turma 2-2 sozinho. Ele sentou no primeiro assento perto da janela. Ele tinha um exame de Matemática no primeiro período seguido por um exame de Japonês no segundo. Alguns de seus colegas estavam freneticamente folheando livros, e outros examinavam cuidadosamente as anotações. Havia até alguns que haviam desistido e estavam descansando. Kamisato Saki, que se sentava na carteira diagonalmente atrás dele, estava comendo pocky nesta manhã, armazenando açúcar para durante o exame. Enquanto seu nariz coçava por algum motivo, Sakuta pegou seu livro. “Talvez eu peguei um resfriado.” Ele assoou o nariz em um lenço de papel e revisou os exemplos de equações de ordem superior. Ele tinha a sensação de que tinha que conseguir boas notas. Quando ele terminou de revisar os exemplos, a área à sua frente escureceu. 323
Alguém estava em pé na frente dele. Ele podia dizer quem era mesmo sem sequer olhar para cima, o jaleco de laboratório dela se estendia para o chão mais do que sua saia, e estava levemente visível, mesmo enquanto ele olhava para o livro. “É raro você vir até mim, Futaba.” “Aqui.” Futaba, um pouco cansada, estendeu um envelope. “Uma carta de amor?” “Não.” “Imaginei.” Sakuta sabia por quem Rio tinha sentimentos. Ele aceitou o envelope e olhou dentro. Como seria de esperar, havia uma carta dentro. Ele olhou para ela, verificando se podia ler. “…” Depois de esperar pelo aceno de Rio, ele abriu a carta e deu uma olhada nela. Esta é uma definição absurdamente generalizada da Teoria da Observação, mas tudo no mundo é definido pela observação. Nesse caso, se o desaparecimento da _______ é causado pela indiferença subconsciente dos alunos em relação a ela, então se Azusagawa puder criar uma razão mais forte para que ela exista, ele poderá salvar _______. 324
Em suma, se o seu amor conseguir superar a forma de onda de probabilidade antes que _______ assuma uma forma definitiva… Em outras palavras, o subconsciente dos alunos forçam a forma de _______ para algo como a atmosfera antes mesmo da existência dela ser definida. Era uma carta bizarra com estranhos espaços em branco. Ele não conseguia entender o significado disso. No entanto, não havia engano que isto era algo que Rio havia dirigido a ele. “…” Ele pediu por uma explicação com os olhos. “Eu não entendo também. Estava no meu livro de matemática, eu notei isso ontem à noite. “Mas que diabos.” Então, Rio colocou outra carta na mesa dele. “Isso estava junto.” Ainda sem entender, Sakuta passou os olhos pela segunda carta. Havia uma pequena frase escrita nela. Não pense em nada, entregue a carta para Azusagawa. Parecia ser uma carta de Rio para si mesma. Sakuta se lembrou de uma coisa semelhante em seu quarto naquela manhã. Aquele delírio escrito em seu caderno. 325
Algo se remexeu em sua mente, mas ele não conseguia se lembrar, e um sentimento confuso se espalhou por seu corpo. “De qualquer forma, eu estou dando isso a você.” Foram as únicas palavras de Rio, e ela saiu da sala de aula. “Ah, oi!” Seu chamado e o sinal se sobrepuseram, e ele não teve escolha senão desistir por ora. Seu professor entrou na sala e a aula começou. “Este pode ser o último dia de seus exames, mas não usem isso como uma desculpa para agir de qualquer maneira.” Enquanto ouvia o aviso do facilmente irritável professor, Sakuta leu a carta que Rio lhe havia dado novamente. Esta é uma definição absurdamente generalizada da Teoria da Observação, mas tudo no mundo é definido pela observação. Nesse caso, se o desaparecimento da _______ é causado pela indiferença subconsciente dos alunos em relação a ela, então se Azusagawa puder criar uma razão mais forte para que ela exista, ele poderá salvar _______. Em suma, se o seu amor conseguir superar a forma de onda de probabilidade antes que _______ assuma uma forma definitiva… Em outras palavras, o subconsciente 326
dos alunos forçam a forma de _______ para algo como a atmosfera antes mesmo da existência dela ser definida. “…Amor, huh?” No entanto, ele não tinha ideia do significado por trás disso. ⟡⟡⟡ Ele foi razoavelmente bem em seu exame de matemática no primeiro período. Ele preencheu completamente a coluna de respostas e cuidadosamente escreveu as contas, de certa forma se sentindo que absolutamente tinha que fazer isso. Normalmente, ele não teria se incomodado com isso porque era uma chatice, mas ele havia analisado suas respostas novamente e achava que conseguiria obter uma boa nota. No segundo período haveria o seu exame de Japonês. Com o sinal os avisando, todos os seus colegas folhearam as páginas de perguntas e respostas e, em seguida, o arranhar do lápis preencheu a sala. Sakuta preencheu seu nome e número do assento e depois olhou para as questões. A primeira era uma longa questão e, depois de verificar o título, ele continuou lendo a parte principal. 327
Demorou vinte minutos para ele virar a primeira página. A próxima também era uma longa questão e uma que não estava no livro. Parecia que levaria bastante tempo, então Sakuta pulou para as últimas questões de completar. Radicais confusos. 1.
Eu me tornarei o garant__ dele.
2.
Garant__ a segurança do país.
Ele teria que completar com as palavras derivadas. Sem hesitação, Sakuta escreveu garantidor para a primeira resposta e garantir na segunda. “…” No momento em que terminou de escrever, Sakuta sentiu o lápis hesitar e ele parou. Uma pergunta diferente da que estava no exame veio à mente. Ele sabia dessa pergunta tão facilmente porque ele a havia estudado na noite anterior. Mas ele não se lembrava das circunstâncias em torno disso. Uma vaga sensação de mal-estar passou pelo seu corpo e gradualmente se tornou desconforto. Ele tentava lembrar, mas não conseguia. Aquele mal-estar foi para sua garganta e se limitou ali. 328
Quanto mais ele pensava, mais seu desconforto aumentava. Ele sentiu como se algo estivesse implorando para ele de dentro de sua mente. “…O que é isso?” Realmente, o que era essa sensação… Havia uma sensação agradável em seu peito. Ele encontrou tristeza. Havia também um clima alegre. E mesmo assim, uma dor dilacerante preencheu seu peito. As incontáveis sensações se debateram no coração de
Sakuta
e
depois
sumiram
antes
de
retornar
novamente, como a quebra das ondas, sacudindo-o. Então, algo pingou em sua folha de respostas. Ele achou que poderia ser catarro, mas não era. Isso havia caído de seus olhos. Eram lágrimas. Ele levantou a cabeça apressadamente. O que diabos ele tinha de errado para de repente começar a chorar em um exame? Quando ele fungou e tentou segurar as lágrimas, a voz de alguém soou em sua mente. “Qual delas seria usada em ‘Não há ninguém que será o _________ do futuro de Sakuta’?”
329
Ele conhecia essa voz. “Podemos tentar então ‘Eu não posso _________ a segurança de Sakuta se ele trapacear’.” O
nevoeiro
em
sua
‘or’
tem
mente
gradualmente
desapareceu. “Aquela
com
o
sentido
de assumir
responsabilidade, e aquele com ‘ir’ tem o sentido de proteção.” Ele as tinha colocado na coluna de respostas, assim como havia aprendido. A caneta de Sakuta rolou de seus dedos. Ele não achava que esta era a hora de fazer um exame. Seu corpo reagiu a suas emoções e ele se levantou. Completamente indiferente ao seu entorno. “Whoa.” O colega de trás recuou surpreso e a garota ao lado dele soltou um grito. A turma inteira parou o teste e olhou para Sakuta. Até o professor fiscalizando o exame estava olhando para ele confuso. “Oi, Azusagawa, o que foi?” “Há um grande problema.” Sakuta falou e a sala de aula se encheu de risadas.
330
“Oi, vocês todos, se concentrem.” Enquanto o fiscal de prova estava distraído, Sakuta saiu correndo da sala de aula. Ele passou pelos banheiros e desceu as escadas. Era muito problemático ir até ao saguão de entrada, então Sakuta pulou pela janela no andar térreo. Ele havia se lembrado de algo importante. Memórias de alguém precioso haviam retornado a ele. Havia algo que tinha que fazer por ela. “Ah, eu realmente sou o pior…” Ele naturalmente deixou escapar seus verdadeiros sentimentos. Espalhado diante dele estava o campo esportivo da Escola
Secundária
de
Minegahara.
Sakuta
estava
andando em direção ao centro como se estivesse checando cada passo antes de dá-lo. “…Eu realmente só penso em coisas estúpidas.” A dica era a carta de Rio e a sentença final nela. “Se o seu amor conseguir superar a forma de onda de probabilidade.” Ele não saberia se o que ele estava prestes a fazer estava correto até que ele tentasse. Era uma batalha perdida. Afinal, o adversário de Sakuta era a ‘atmosfera’. 331
A ‘atmosfera’ que não sofreria nenhum efeito ao ser empurrada, puxada ou ser golpeada. A ‘atmosfera’ que havia envolvido a escola. Mesmo agora, ele achava que lutar contra ela não valeria a pena. As pessoas que criam essa ‘atmosfera’ não tinham conhecimento de sua própria conexão com ela. Não importaria quanto ele implorasse aos alunos que não sentissem nenhuma conexão, isso não os influenciaria nem um pouco. Eles só ririam do pânico dele. Eles apenas teriam antipatia à dedicação dele. Eles simplesmente resolveriam tudo com palavras tão clichês que nem sequer poderiam ser chamadas de ‘ler a atmosfera’. Sakuta percebeu que estava vivendo nesse mundo. Seguir a pessoa ao seu lado facilitava as coisas. Decidir o que era bom ou ruim apenas consumia calorias, e manter suas próprias opiniões apenas levaria você a se machucar
quando
elas
fossem
negadas.
Se
você
estivesse com ‘todos’, então você poderia relaxar e ficar seguro. Você não precisava ver coisas que não queria, não precisava pensar em coisas que não queria. Você poderia tratar tudo como problema de outra pessoa. O mundo era tão insensível assim. Isso fazia as pessoas se isolarem umas das outras sem perceber, e fazia as pessoas darem as costas para 332
aquelas que estavam isoladas. A fim de proteger essa atmosfera, para se protegerem, as pessoas conseguiam desumanamente
fingir
que
não
podiam
ver.
Elas
conseguiam fazer tudo isso com um rosto inconsciente daquelas que elas estavam fazendo sofrer. O mundo era tão insensível que, usando esse entendimento implícito, ele poderia ferir os outros sem sentir dor alguma. Mas isso não significava que a lógica de ‘todo mundo está fazendo isso’ fazia com que estivesse tudo bem em machucar as pessoas, ‘todo mundo está fazendo isso, então isso é correto’ também não era o caso. Além disso, quem era ‘todo mundo’. Naquele dia, se ele não tivesse a conhecido na Biblioteca de Shonandai, Sakuta teria continuado sendo parte desse anônimo ‘todo mundo’, e teria sido parte da causa que estava machucando-a. E tendo notado isso, ele tinha que fazer a distinção. Mesmo se a escola fosse seu oponente. Mesmo se todo estudante fosse. Mesmo que fosse a ‘atmosfera’, a coisa que ele mais gostaria de não ter de lutar contra, Sakuta não podia ignorar. Isso
porque
ele
havia
encontrado
algo
mais
importante do que manter o status quo. 333
O tempo que eles tinham passado juntos foi certamente divertido. Ela estava sempre tratando Sakuta como muito mais jovem do que ela, mas se ela tentasse fazer uma piada sugestiva, ela era pega na mesma e ficava brilhando vermelha, e então era obstinada em tentar esconder esse fracasso. A garota que ficava de mau humor se Sakuta não seguisse suas expectativas. Ela
era
egoísta,
agia
como
uma
rainha
e
temperamental. Mas apesar de tudo isso, ela era surpreendentemente inocente e um ano mais velha que ele. Ela tinha pisado no pé dele, beliscado sua bochecha e lhe dado um tapa. Os dias que ele passara com ela foram os melhores. Nas vezes que ele tinha contra-atacado, ela havia ficado de mau humor e o chamara de insolente. Ele tinha ficado feliz e gostado disso, e não suportava ficar sem tais momentos. Ela era a única pessoa pela qual ele se sentia assim. A existência especial e solitária neste mundo. Agora que ele conhecia essa felicidade, não valeria a pena viver sem ela. Então, quaisquer que fossem os métodos que ele tivesse que usar, ele resgataria esses divertidos momentos. 334
Isso era necessário para resgatá-los. Ele não deixaria que eles se separassem sem se despedir novamente, assim como ele tinha feito com Makinohara Shouko. Ele não queria esses sentimentos. “Eu não irei mais ler a ‘atmosfera’, isso é ridículo.” No meio do campo, Sakuta se virou para olhar o prédio da escola. Ele estava encarando de frente um prédio de três andares. Havia ali cerca de mil alunos. Tanto em tamanho quanto em número, era imenso. E se ele fosse ignorado, seria o fim disso. Ele não tinha estratégia. No entanto, ele se decidiu. Ele parou de pensar em como isso era problemático. Com sorte iria ocorrer assim como ele pensava. Com sorte iria ocorrer assim como ele achava. As inúmeras desculpas e razões poderiam ir para o inferno. Sakuta se preparou. Ele respirou fundo e reuniu força em seu estômago. E então, com a voz mais alta que ele conseguia falar. 335
“Todos vocês, escutem!” Ele disparou sua salva introdutória. “Eu sou Azusagawa Sakuta!” A voz de Sakuta ecoou através do silêncio da escola enquanto os alunos faziam os exames. “Da turma 2-2!” Sua garganta já estava tremendo e com dor, mas ele não tinha intenção de parar. A primeira reação veio da janela da sala de professores. Alguns professores olharam da janela e gesticularam dizendo para ele voltar. “Assento número um!” O barulho gradualmente preencheu a escola. “E eu amo a aluna do terceiro ano!” Ele tinha a sensação de que alguém disse ‘o campo esportivo’, as janelas foram abertas uma após a outra e muitos estudantes olharam para ele. “Sakurajima Mai-senpai!” Arrepios cobriram seu corpo quando ele disse o nome, todos os poros em sua pele liberando suas emoções. Todas as peças espalhadas se encaixaram com uma sensação agradável, e ele estava certo de seus sentimentos nesse instante. Ele soltou um longo suspiro, esvaziando seus pulmões completamente e depois os encheu. Ele olhou 336
para a escola, vendo os alunos reunidos nas janelas e concentrando-se em Sakuta no campo esportivo. Quando os cerca de mil olhares caíram sobre ele, Sakuta deixou suas emoções explodirem. “Eu amo a Sakurajima Mai-senpai!” Ele disparou todos os seus sentimentos em direção ao prédio da escola. “Eu amo a Mai-saaaan!” Ele sentiu como se sua garganta rasgasse… Sakuta confessou seus preciosos sentimentos, querendo que todos na cidade ouvissem, e até mesmo pessoas ainda mais distantes. Tanto que eles não poderiam ser ignorados. Tanto que as pessoas não conseguiriam fingir que elas não os viam. Ele liberou tudo o que sentia. Ele não conseguia mais respirar e se curvou devido a um ataque de tosse. A primeira coisa a acontecer foi um longo silêncio. Em seguida foi um murmúrio barulhento de dúvida. Todos os alunos estavam olhando para Sakuta no campo
esportivo.
Os
olhares
de
cada
um
se
transformaram em um martelo, batendo no corpo de
337
Sakuta. No entanto, não eram golpes fortes, eram golpes indiferentes. Gradualmente tornando-se de zoação. Ele queria fugir, ir para casa. Sua confissão tinha sido em vão. “Ah, merda! Então acabou assim, apenas em constrangimento. Mas que porra?” Ele continuou xingando. “É por isso que eu não queria lutar contra a atmosfera.” Sakuta
arrancava
os
cabelos
enquanto
eles
continuavam olhando para ele. “Isso realmente é… o pior…” Ir para casa, isso cruzou sua mente, e ele olhou para os portões da escola. “…” No entanto, ele não deu um passo sequer em direção a eles. “Eu vim tão longe, isso não vale a pena sem a recompensa da Mai-san.” Sakuta encarou a escola meio em desespero e gritou novamente. “Eu quero andar de mãos dadas na praia!” Ele não estava mais pensando. 338
“Eu quero vê-la em sua roupa de coelhinha novamente!” Ele deixou isso para suas emoções, e apenas falou seus sentimentos. “Eu quero abraçá-la forte, eu quero beijá-la!” Ele nem sabia mais o que estava dizendo. “Basicamente!
Eu
realmente
amo
a
Mai-
saaaaaaaaaan! ” Seu grito viajou para o céu, chamando a atenção de todos os alunos e de todos os funcionários. Ele nunca tinha
se
sentido
pior,
mas
nesse
instante
esses
sentimentos se tornaram alegria para Sakuta. Finalmente, o ambiente voltou ao silêncio. Um silêncio tão calmo que até parecia ensaiado. Sakuta sentiu vontade de dizer isso enquanto engolia sua saliva. Ele não entendia o motivo. Do prédio, um aluno que ele não conhecia estava apontando para Sakuta. Ele não entendeu o porquê e achou que estavam zombando dele no começo. Ele duvidou disso quando viu que eles estavam apontando para um pouco atrás dele…
339
Ele sentiu alguém se aproximar dele enquanto ouvia o barulho do cascalho. A respiração de Sakuta travou quando a voz deles estimulou seus ouvidos. “Eu teria ouvido mesmo se você não gritasse tão alto.” A voz de alguma forma parecia um som há muito tempo perdido, a voz de uma garota que ele sempre desejara ouvir. Sakuta se virou apressadamente. A brisa do mar soprava ao redor das pernas dela, fazendo a saia balançar. Ele viu suas usuais meias pretas. Suas pernas estavam alinhadas com os ombros, uma mão estava em seu quadril, e a outra segurando o cabelo para que ele não soprasse ao vento. Ela tinha um rosto de aparência adulta, mas sua expressão levemente irritada ainda trazia indícios de inocência. Uma onda de emoção percorreu a partir dos pés de Sakuta. Mai estava a uns dez metros dele. “Você vai incomodar os vizinhos.” “Eu pensei que eu poderia muito bem deixar o mundo inteiro saber.” “Você
está
falando
em
japonês,
eles
não
entenderiam.” 340
“Ah, isso é verdade.” “Você é realmente um idiota…” A voz de Mai tremeu como se ela estivesse tentando segurar algo. “Eu acho que é melhor do que fingir ser inteligente.” “Um verdadeiro idiota…” Os esbeltos ombros dela tremiam. “Você vai fazer com que mais rumores estranhos comecem, chamando a atenção assim.” “Se eles forem rumores com você, então eu vou acolhê-los.” “Isso não é… seu idiota… seu idiota…” “…” “Seu idiota, Sakuta!” Lágrimas se derramavam dos olhos de Mai enquanto ela gritava. Em câmera lenta, ela deu o primeiro passo. Mai estava correndo em direção a ele. Pensando que ela iria abraçá-lo, Sakuta abriu os braços. Três passos faltando, dois, um… Imediatamente depois disso, uma slap ressoou pelos campos, ecoando no céu. Sakuta tinha o recebido diretamente e ficou estupefato por um instante, então sua bochecha começou 341
a latejar tardiamente e ele entendeu que, nesse momento, Mai havia lhe dado um tapa. “Eh? Por quê?” Essa simples questão saiu de seus lábios. “Seu mentiroso!” Mai olhou para ele através das lágrimas, com uma expressão que parecia estar prestes a se quebrar. “Você disse que nunca iria esquecer!” Ele
finalmente
entendeu
as
ações
dela.
Ela
certamente tinha um motivo para culpá-lo. Como Mai disse, ele era um mentiroso. “Eu sinto muito.” Sakuta gentilmente colocou os braços ao redor de Mai enquanto ela tremia. Com um pouco de hesitação, ele apertou seu abraço e Mai enterrou o rosto no ombro dele.
342
“Eu não vou te perdoar…” Ela disse com uma voz abafada. “Me desculpe.” “Eu nunca vou te perdoar…” Mai esfregou o rosto no ombro dele enquanto fungava. “Eu não vou deixar você partir até você me perdoar então.” “Então eu não vou te perdoar pelo resto da minha vida.” Suas lágrimas ainda estavam misturadas com sua voz. “Ehh.” “O que, tem algum problema com isso?” Parecendo ter parado de chorar, ela engoliu suas emoções. “Se eles ouvissem isso de sua linda senpai, não haveria um homem que— ow! Mai-san, você está pisando no meu pé!” “Você tem bastante coragem, dizendo isso para mim e não ter fugido.” “Um, meu pé.” “Você não está feliz por eu pisar em você?” 344
“Sinto muito, sinto muito mesmo. Eu me arrependo das minhas ações, então, por favor, me perdoe.” Ela estar apertando o calcanhar sobre o pé dele realmente era doloroso. “Se você estava com tanto medo a ponto de chorar, você não deveria ter usado pílulas para dormir.” “Essas lágrimas são apenas um ato para incomodálo.” “Então obrigado por cuidar de mim quando eu estava ficando acordado a noite toda.” “Não tem de quê, mas eu não queria ouvir seus agradecimentos.” O calcanhar de Mai estava mais uma vez sobre o pé de Sakuta. “Embora você saiba o que quero dizer.” Ela gradualmente moveu seu peso para aquele pé. Sakuta se conformou e disse as palavras que ela queria ouvir. “Eu te amo.” “Mesmo?” “Isso foi uma mentira, eu realmente amo você.” “…” Depois de um breve silêncio, Mai se afastou. Ela já tinha parado de chorar e o que restou foram as marcas. “Hey, Sakuta.” “O que.” 345
“Diga isso novamente daqui a um mês.” “Por quê?” “Se eu responder aqui, sinto que teria sido dominada pelo momento.” “Eu queria pelo menos um beijo na emoção.” “Meu coração está batendo agora, então as coisas podem acabar terminando assim.” Mai se virou e falou envergonhada. Seu rosto avermelhado era insuportavelmente fofo. “Mai-san, você está surpreendentemente calma.” Ela queria evitar o efeito da ponte suspensa2. “Eu estou dizendo para você pensar adequadamente também.” “Sobre o que?” Ele não achava que pensar sobre seus sentimentos em relação a Mai mudaria em algo. “Eu sou mais velha que você.” “Pelo contrário, isso é um ponto positivo.” “Estou hesitante em namorar um garoto mais novo.” “Porque eu não sou confiável?” “Isso não… não é o que eu quero dizer.” Ela murmurou alguma coisa. “Se eu namorar um garoto mais novo, não é como se eu tivesse enganado eles?” 346
“Você enganou, então eu não acho que você pode evitar isso.” “Eu não te enganei.” “Você sempre fica me tentando, no entanto.” Agora que ela pensou nisso, eles tinham se divertido ao ter contato físico em diversos momentos. Como ela beliscando suas bochechas, pisando em seus pés e coisas do tipo. “D-de qualquer maneira, você entende?” “Eu não.” “Não seja irracional.” “Eu não posso esperar um mês, então posso dizer isso todos os dias?” Mesmo que ela estivesse um pouco surpresa, o rosto dela relaxou, e ela não estava tão descontente quanto ela o tinha feito acreditar. “Tudo bem, mas continue assim pelo mês inteiro. Se você não fizer isso, considerarei que seus sentimentos mudaram.” Ela disse isso e pressionou o dedo no nariz de Sakuta, sorrindo provocativamente. Este era o sorriso de Mai, que ele queria manter para si mesmo. Ele não tinha escolha agora, então ele o mostrou a todos.
347
Todos
os estudantes os assistiam em
mudo,
silenciosamente espantados. Eles não sabiam como reagir e estavam olhando para os outros para ver suas reações, criando uma atmosfera de espera por um julgamento. “Todo mundo realmente gosta de ler a atmosfera, huh?” Mai riu cinicamente enquanto olhava para a escola, e então soltou um longo suspiro. “E aquele boato sobre você mandar seus colegas para o hospital! Aquilo é ridículo!” De repente ela gritou. Houve um instante de silêncio. Mai parecia bastante orgulhosa quando se virou. “Você queria contar a todos, não é?” Agora que ela disse isso, os dois tinham conversado sobre isso no Enoden. Eles estavam um pouco atrasados, mas os estudantes se aproximaram do campo esportivo olhando para eles de maneira confusa. “…A reação deles foi um pouco diferente do que eu esperava.” Isso era verdade, eles não estavam surpresos com Mai proclamando a verdade. “É porque você está se dirigindo a mim pelo meu primeiro nome e sem honoríficos.” Exclusivamente neste momento, eles não estavam lendo a atmosfera e sim compreendendo o escândalo diante deles. Eles estavam 348
seguindo seus própios desejos, assim certamente era a adolescência. “Eles estão prestando bastante atenção em nós por causa de você.” “Você está preocupado com apenas mil pessoas? Você é muito sensível.” Era obviamente diferente para uma atriz de renome nacional. “Sim, suponho que três ou quatro dígitos não sejam suficientes para você, Mai-san.” Finalmente, o professor de Sakuta, o vice-diretor e um professor de educação física vestindo uma jaqueta apareceram no campo para controlar o clamor. “Cara, eu vou levar uma bronca na sala de professores…” “Isso é bom, não é?” “Como?” “Eu vou estar sendo repreendida junto com você.” “Bem, isso não é ruim.” Pelo menos, ele poderia estar junto de Mai. Intensamente sentindo Mai ao seu lado, Sakuta dirigiu-se ao prédio da escola. Juntamente com Mai…
349
E
assim,
o
mundo
acolheu
Sakurajima
Mai
novamente.
350
↑ [1] pachinko: jogo de azar praticado em máquinas que se assemelham a um cruzamento entre pinball e slot machine. ↑ [2] efeito da ponte suspensa: efeito que ocorre quando uma pessoa atravessa uma ponte suspensa e vê alguém do sexo oposto (ou não). O medo de cair faz com que o coração bata mais forte, fazendo com que a pessoa confunda esta sensação com o fato de se apaixonar pelo outro.
351
Ao contrário dos dias de Maio, os quais ele passou envolvido com a Síndrome da Adolescência, agora era Junho, então Sakuta passava seus dias tranquilamente. Ele
tinha
uma
vida
cotidiana
tranquila,
se
confessando para Mai todos os dias assim como prometera. É claro, houve uma influência por ele ter gritado seu amor no meio do campo esportivo, mas… Ao invés de ‘cara do incidente do hospital’, todos os estudantes tinham o rotulado como ‘cara vergonhoso’ e ‘esse é o Sakuta dos rumores’. Apenas por andar pelo corredor, ele ouvia risadas abafadas e a escola tinha se tornado num lugar mais e mais desconfortável. No entanto, ele tinha sido capaz de trazer Mai de volta e assim tido uma mudança completa de atitude para ‘isso realmente não importa’. Honestamente, se ele não pensasse dessa maneira, ele não conseguiria ter feito isso. Yuuma tinha dito. “O seu coração é realmente feito de ferro!” E então rolado de rir. Rio estava com ele e dito com uma expressão séria. “Se tivesse sido eu, eu teria morrido de vergonha. Esse é o Azusagawa, um adolescente traste.” “O que está querendo dizer com isso?” 354
“Antes, quando circulavam os boatos sobre o ‘incidente do hospital’, você tinha dito que ‘lutar contra a atmosfera é ridículo’, ou você esqueceu?” “Ahh, o Sakuta havia dito isso, eu também tinha ouvido.” Ele certamente se lembrava de dizer isso, e sua opinião ainda não havia mudado. “Do que mais você chamaria alguém que não ficaria sério por si mesmo, mas que suportaria qualquer vergonha por sua bela senpai?” Ele estava sem palavras por isso ter sido dito a ele tão claramente. “…” Assim como Rio havia dito, ele não tinha pensado em mudar a atmosfera sobre si mesmo, mas quando ele pensou que era para Mai, ele ficou animado e gritou seu amor no centro do campo esportivo. “Isso é material para te provocar pelo resto de sua vida.” “Você vai continuar me chamando assim mesmo quando eu for um velho?” À sua maneira, isso não seria tão ruim… ele decidiu pensar. “Hey, Futaba.” “O que?” “Então, sua hipótese estava correta no final?” 355
“Quem adolescentes
sabe.
Instabilidades
causando
nas
intensas
mentes
dos
interpretações
subjetivas… se você disser que mesmo isso é a Síndrome da Adolescência, então isso não pode ser verificado cientificamente.” Rio tinha francamente respondido assim quando Sakuta a visitou em outro dia no laboratório de física. “Bem, acho que isso é verdade.” Mai havia se comportado como a atmosfera, e os estudantes a tratado como a atmosfera. Como tinha sido algo
subconsciente,
não
havia
diferenças
para
a
verdadeira atmosfera. Se não havia um ‘como’ e esse realmente era o caso, não haveria diferenças para a realidade. E sendo esse o caso, Sakuta achava que isso provavelmente estava acontecendo em outras escolas. Porque quando as pessoas se reuniam em grande número, sempre haveria algum tipo de atmosfera criada… No caso de Mai, o entendimento implícito dentro da escola só se espalhara pelo mundo como Síndrome da Adolescência. Nada mais. Como Rio havia dito, pensar mais nisso não ajudaria em nada.
356
“Bem, nosso mundo é simples o suficiente para que uma simples confissão consiga destruir isso. Assim como você provou.” Enquanto preparando
saía para
do
laboratório,
um
experimento
Rio e
estava
se
observou
negligentemente. Eles tinham discutido bastante, mas essa era a verdade que parecia a mais estranha. “Talvez.” Ao menos, o mundo cotidiano que cercava Sakuta tinha tido sua cor alterada por uma simples confissão. À sua maneira, Mai seguia em frente através da vida cotidiana que recuperara. Ela começara por anunciar seu retorno ao show business.
Tal
conferência
de
imprensa
tinha
sido
grandiosa porque era para Sakurajima Mai, e ela parecia ter conversado com sua mãe sobre isso, mas tinha ido ao local de trabalho de Sakuta e descarregado sua raiva de tudo, então elas não tinham se reconciliado muito bem. Mesmo assim, se elas pudessem se ver e discutir, essa seria uma relação saudável o suficiente entre mãe e filha no ponto de vista de Sakuta, e ele ficou aliviado que a
mãe
dela
conseguia
se
lembrar
de
Mai
apropriadamente. E assim, os dias passaram.
357
Já era cerca de um mês depois, vinte e sete de Junho, uma Sexta-Feira. Sakuta tinha sido acordado por sua irmã Kaede e estava se preparando para a escola. “Muito bem, Japão!” Aparentemente, a equipe nacional tinha tido uma vitória incrível no dia anterior. “Bom dia, hoje é Sexta-Feira, vinte e sete de Junho. Acho que vamos começar o dia com o futebol!” Sakuta não sabia com qual país eles tinham jogado, mas a voz animada do locutor sugeria que foi uma grande conquista. Em destaque na tela estava o chute livre logo no final do primeiro tempo, que foi bem colocado no gol do adversário. Depois de ver isso, ele disse a Kaede o seu habitual ‘Eu estou indo então.’ e saiu de casa como sempre fazia. Ele caminhou até a Estação de Fujisawa, depois passou cerca de quinze minutos sendo sacudido pelo Enoden antes de descer na Estação de Shichirigahama e passar pelos portões da escola. Nada de interessante aconteceu, mas nada de estranho também. Ele queria agradecer por esses dias normais. Durante o almoço, nesse dia Sakuta comeu com Mai em uma sala de aula vazia no terceiro andar. Não havia outros estudantes lá, estavam apenas Sakuta e Mai. 358
Seus almoços estavam dispostos na mesa da janela entre eles, e eles podiam ver o mar a partir de seus assentos. Felizmente, o almoço deles era um bentô1 feito por Mai, como resultado de uma pequena conversa que tiveram no dia anterior. Tinha sido assim: “Mai-san, você sabe cozinhar?” “Eu sei, eu vivi sozinha por um longo tempo, afinal.” “Ehh, sério?” “Quero dizer, você está sempre comendo pão no almoço.” “Então eu vou fazer um bentô para amanhã.” Havia uma rica variedade no almoço. Havia frango temperado frito, ovos fritos, salada de batata guarnecida com tomates cereja e até mesmo algas marinhas e feijão cozido. Ele provou todos eles um por um, perfeitamente ciente do olhar de Mai. Eles estavam saborosos, ligeiramente
temperados,
mas
os
sabores
suaves
estavam realmente saborosos. “Agora, peça desculpas por sua grosseria ontem e implore por perdão.”
359
Mai sorriu triunfante, certa de sua vitória a partir da reação de Sakuta. “Peço desculpas. Eu estava errado. Eu fui atrevido. Eu sinto muito.” Ele
obedientemente
abaixou
a
cabeça.
Honestamente, isso não era nada, ele tinha sido capaz de provar a comida caseira de Mai e se considerava absolutamente vitorioso. “Contanto que você entenda.” Mai estava satisfeita em mostrar sua habilidade, uma situação em que todos realmente saíram ganhando. “Um, Mai-san.” Ele levantou a cabeça e olhou fixamente para ela. “O que?” “Eu te amo, por favor saia comigo.” “…” Mai desviou o olhar e colocou o próprio ovo frito na boca com o hashi. “…” Ela o mastigou. “…” Mesmo quando ele esperou que ela engolisse, ela não deu uma resposta. 360
“É meio desestimulante.” Mai soltou um suspiro entediada. “Ter a mesma coisa sendo dita durante um mês inteiro faz com que ela perca o impacto.” “Isso é horrível, embora você tenha feito eu dizer isso.” “Eu disse ‘diga isso novamente em um mês’, foi você quem disse que queria falar isso todos os dias.” “Isso é verdade.” “Ah, é mesmo. Eu tenho um papel em um drama que vai ao ar em Julho.” “Uwah, você até mesmo mudaria o assunto assim normalmente?” Ela já havia tratado as confissões nessa maneira rude antes… Mai pegou desinteressadamente um roteiro de capa amarela da bolsa e ele viu as palavras ‘episódio seis’ nele. “É um de fim de noite, então eu só tenho um papel em um único episódio no meio do drama.” Isso podia não ser suficiente para Mai, que estava acostumada em fazer o papel principal. No entanto, ele conseguia notar que ela estava francamente feliz em ter um papel apenas olhando para ela. Ele tinha a sensação de que era a primeira vez que a tinha visto falando sobre algo de maneira tão alegre. 361
No entanto, isso não tinha nada a ver com a maneira que ele sentia sobre sua confissão ser ignorada. “Ahhh, o que se passa com a minha vida?” Ele olhou vagamente para o mar. Os céus estavam em um de seus curtos períodos de tempo claro durante a estação chuvosa, e ele sentia vontade de andar na praia. “O que? Você não está feliz com o meu retorno?” “Eu estou realmente feliz.” “Há uma cena de beijo.” “…O que disse?” Ele tinha a sensação de que acabara de ouvir algo impensável. “Há uma cena de beijo.” “Recuse por favor.” “Está tudo bem, não está? Esse não seria o meu primeiro, afinal.” “…” Podia ser sua imaginação, mas ele pensou que Mai tinha acabado de dizer algo impensável. “Espere um minuto, Mai-san.” “O que?” “Você disse que era virgem antes, certo?” “Não se preocupe com isso.” 362
“Não não, beijos também contam.” “Eu não sei no que você está pensando, mas mesmo que você tenha sido o único que eu beijei?” “…” Ele não sabia o que dizer por um minuto. “Eh?” Ele soltou um barulho atrasado de surpresa. “Você é o pior, você não se lembra embora eu tenha lhe dado meu primeiro beijo.” “Eh? Espere… huh?” Ele tentou pensar sobre isso, mas ele realmente não sabia. Ele não sabia, mas não parecia que ela estava mentindo. Seu único pensamento foi durante aquele tempo que ele tinha se esquecido de Mai. “Ah, poderia…” “Não foi como os contos de fadas. Eu pensei que você poderia se lembrar de mim se eu te beijasse.” A expressão decepcionada dela era extremamente difícil de suportar. “Eu definitivamente vou me lembrar, então me diga o lugar e a hora exata.” “De jeito nenhum.” “Apenas uma dica.” “Nunca.” “Algo, por favor.” 363
Ele juntou as mãos e se curvou para ela. “Então vamos fazer isso de novo?” Mai deu uma sugestão inesperada. Ela olhou sedutoramente para ele através de seu olhar levantado. Ela tinha cuidadosamente o provocado, então ele pensou que isso poderia ser uma armadilha também, mas os olhos dela não tinham um charme pelo qual ele conseguiria recuar. [NT: o texto usa a expressão ‘upturned eyes’, que é um formato de olho contrário aos olhos caídos. Só estou com dúvida se ‘olhar levantado’ era de fato a melhor expressão para ser usada.] “Com prazer.” “Então feche seus olhos.” “Hm? Agora?” Ele pensou que eles iam replicar a situação do primeiro beijo dela, mas aparentemente não era isso. “Você não quer?” “De maneira alguma, mas eu vou fazer isso.” Ele fechou os olhos e esperou. Seu coração estava batendo em seus ouvidos. “Aqui vou eu.” A voz de Mai estava um pouco tímida. Ele sentiu um ar em sua bochecha e o calor de Mai ao seu lado, deixando-o saber que Mai estava inclinada sobre a mesa 364
entre eles. Cerca de um segundo depois, seus lábios foram cobertos por uma sensação suave. Os lábios de Mai estavam surpreendentemente frios e tinham gosto de dashi2. O mesmo que os ovos que ele havia comido mais cedo… na verdade, isso era um ovo. Ele
abriu
os
olhos
apenas
para
ver
Mai
desesperadamente segurando uma risada enquanto pressionava um pedaço de ovo em seu hashi na boca dele. “Você realmente pensou que eu faria.” Ela sorriu provocativamente. Sem responder, Sakuta comeu o ovo, colocando o hashi em sua boca também. “Estou muito feliz por poder ter um beijo indireto com a Mai-san.” Ele falou em um tom monótono forçado. Seria fácil tornar Mai ciente disso… “…” Assim como ele pensou, o olhar de Mai estava fixado nas pontas de seu hashi. Ainda havia quase metade do almoço dela na mesa, então ela estava preocupada sobre como lidar com isso.
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“Bem, você é uma adulta, então um beijo indireto comigo, eu sendo mais jovem que você, não deve ser nada para você.” Ele cortou a rota de fuga dela. “S-sim.” Com uma ligeira hesitação, ela se endireitou e usou esse hashi para comer seu almoço. Ela continuou em silêncio e esvaziou seu bentô. Enquanto fazia isso, suas bochechas estavam cobertas por um leve vermelho, e isso era um verdadeiro banquete para os olhos de Sakuta. “Só para você saber, não sou eu.” Mai embrulhou o bentô num guardanapo. “Hm?” “A cena do beijo é do ator principal.” Sakuta olhou para ela em insatisfação enquanto ficava aliviado. “Mai-san, sua personalidade é horrível.” “Mas você não ama eu e minha personalidade?” “Certamente parece que esse amor irá se acalmar dessa maneira.” “P-por quê!?” A voz nervosa de Mai estava mais alta que o normal.
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“Bem, você não parece se sentir dessa maneira… você disse que era desestimulante, isso me deixaria desesperado.” “…Eu não disse não.” Mai fez beicinho mal-humorada e abriu o roteiro. “Então você irá?” “Isso é, um…” Mai escondeu o rosto vermelho atrás do roteiro. “Você irá?” Ele perguntou mais uma vez, e ela espiou por cima do roteiro. “…” Ela olhou timidamente para Sakuta e, em seguida, com uma voz fraca. “…Sim, eu irei.” Ela acenou para ele. Sakuta não se lembrava muito do resto do dia. Sua disposição
tinha
disparado
com
o
início
de
seu
relacionamento com Mai, e parecia que ele estava andando no ar. Sua felicidade também não mostrava sinais de abrandar na manhã seguinte. Enquanto ele se preparava para a escola, ele cantarolou e ligou a TV, olhando despreocupadamente para o noticiário quando:
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“Muito bem, Japão!” Ele ouviu a voz de um homem animado. “…” Confuso, ele olhou fixamente para a tela. Ele achou que já tinha ouvido isso antes. “Bom dia, hoje é Sexta-Feira, vinte e sete de Junho. Acho que vamos começar o dia com o futebol!” O que foi que o apresentador tinha dito? Vinte e sete de Junho Isso definitivamente foi o que ele disse. Sakuta também se lembrou dos destaques do jogo que estavam sendo mostrados. Pouco antes do final do primeiro tempo, o jogador japonês tinha acertado um chute livre dentro do gol. Ele voltou apressadamente para o seu quarto e olhou para o despertador. Ele mostrava a data também. “…O que diabos?” Até o despertador que ele sempre usou indicava vinte e sete de Junho. Naquele dia, Azusagawa Sakuta acordou na manhã de ontem.
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↑ [1] bentô: é um tipo de marmita japonesa para uma pessoa e servido em bandejas próprias que possuem repartições. ↑ [2] dashi: é um caldo rico em umami utilizado na culinária japonesa.
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Algo estranho ocorreu no auge da felicidade. Este é um novo caso de Síndrome da Adolescência. Ou Sakuta está apenas sonhando? Ele estava apenas sonhando? Ou talvez… No final, qual é o destino de Sakuta? Da próxima vez será o segundo volume da série, Um Adolescente Traste Não Sonha com ○×△□, eu espero que você esteja ansioso por isso. A parte ○×△□ ainda não foi decidida, talvez ela nem mesmo seja alterada e apenas tenha um ‘2’ adicionado. Eu acho que serei capaz de entregá-lo antes que o verão termine, mas no final, quem sabe qual será a data de lançamento? E eu sou Kamoshida Hajime. Para aqueles que eu estou me encontrando pela primeira vez, é bom conhecê-los. Para aqueles que eu não vejo há algum tempo, já faz algum tempo. Para aqueles que eu encontrei no mês passado, espero que possamos continuar nos dando bem. Surpreendentemente, você não costuma visitar áreas turísticas próximas. Eu escolhi o cenário para esta história seguindo esse sentimento. Eu passei a maior parte da minha vida na 371
prefeitura de Kanagawa, então eu sempre achei que deveria ir até lá, mas nunca tive a oportunidade. Isso é porque ela fica longe tanto da minha casa quanto do departamento de edição da Dengeki Bunko. Essa história, ambientada em uma cidade que pode ver o oceano, começa aqui. Se você continuar comigo, ficarei extremamente feliz. Espero que eu possa me dar bem com meu ilustrador Mizoguji Keeji-san e o chefe de edição Araki-san neste trabalho também, ainda que estamos continuando a partir do meu último trabalho deSakurasou no Pet na Kanojo. E assim, acredito que nos encontraremos novamente no segundo volume. Kamoshida Hajime.
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O sol estava se ponto em Enoshima, flutuando sobre a Baía de Sagami, e Sakuta olhava para o mar e o céu vermelho chamuscado a partir das janelas do trem Enoden. Ao lado dele estava uma senpai, segurando as alças de apoio assim como ele… Sakurajima Mai, uma bela mulher que não conseguia evitar chamar a atenção nas ruas e uma popular atriz que havia iniciado a carreira quando criança. Sakuta, que não era nada mais que um estudante do ensino médio, conheceu ela de maneira inesperada e se tornou íntimo a partir dessa oportunidade. Sua figura, iluminada pelo pôr-do-sol, daria um belo quadro e chamava a atenção muito mais do que o trem Enoden e suas janelas meio nostálgicas. “O que, você está sendo encantado?” Mai sorriu maliciosamente e a triunfante curva em seus lábios era extremamente fascinante. Pouco antes de Sakuta responder, uma voz veio do assento na frente deles. “Ah, ele evoluiu.” Seu ocupante era um estudante do primário e seus dois amigos que o flanqueavam olhavam para o console em suas mãos. “Sério, tão legaaaal.”
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“Não é justo, eu vou fazer isso também.” Eles estavam se divertindo bastante. “Você jogava esses jogos quando era criança?” O olhar de Mai estava no console. “Eu jogava.” “Hmmm, eu não consigo imaginar isso.” Mai examinou-o cuidadosamente. “Eu acho que é praticamente um rito de passagem para os garotos.” Aliás, Sakuta fazia parte do grupo que não permitia que eles evoluíssem imediatamente e ensinava golpes antes. “É você na escola primária que eu não consigo imaginar.” “Eu era muito fofo.” “Não diga isso de si mesmo. Eu definitivamente era mais fofa.” Ela era uma jovem atriz conhecida em todo o país, então isso era óbvio, mas não havia graça em desistir imediatamente. “Então quer vir ver meu álbum de formatura?” “E o que você pretende fazer quando chegarmos em seu quarto.” 375
“Se as coisas derem certo, perguntar se você quer fazer coisas pervertidas.” “Eu definitivamente não irei.” Ela totalmente o rejeitou. “Bem, eu estou interessada no quanto você se deteriorou, então eu irei contigo.” Mai olhou para ele de maneira um pouco tímida, com o olhar levantado. “E você cresceu deliciosamente, Mai-san.” Essas palavras foram uma sentença de morte, e Mai não foi ao quarto de Sakuta naquele dia.
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Tradução [JoséGui] Revisão [JoséGui] e-Book [JoséGui]