METABOLISMO 1960 | do conceito à matéria

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ME TA BO LIS MO

メ タ ボ リ ズ ム

1960


ME TA BO LIS MO

1960 do conceito á matéria


METABOLISMO 1960 | do conceito á matéria

Autora: Clara Rezende Orientadora: Maria Cláudia Candeia Banca Examinadora: Eduardo Rossetti, Maria Cláudia Candeia e Mônica Gondim Este documento apresenta o trabalho final para a disciplina de Ensaio Teórico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília. Brasília, 2019


RESUMO

O presente ensaio busca a revisão histórica do movimento arquitetônico instalado no Japão durante a segunda metade do século XX, denominado Metabolismo, e entender como o boom da economia, a guerra de 1945 e o fenômeno da megaestrutura traduziram-se na cultura do país e influenciaram o modo de se pensar a arquitetura até o momento presente. A produção gráfica do manifesto de 60, as ideias de Kenzo Tange para Tóquio e sua lógica de desenvolvimento e soluções de projetos foram tão revolucionárias que, durante dez anos, aos olhos da porção ocidental do mundo, a arquitetura japonesa resumiu-se a produção Metabolista e as ideias desenvolvidas pelo Grupo acerca de megaestruturas, estruturas em cápsulas, planejamentos urbanos em solo artificial. O acervo desse período conta tanto com obras que nasceram já com a pretensão de não saírem do papel, tendo apenas teor crítico e encaixando-se no ramo da arquitetura especulativa, levantando importantes discussões nas rodas de conversa; como também obras efetivamente construídas, e que se tornaram símbolos do modernismo japonês. Este trabalho retoma o pensamento da época e busca levantar as questões e definições discutidas pelos arquitetos.


A B S T R ACT

The present essay seeks the historical review of the architectural movement installed in Japan during the second half of the twentieth century, called Metabolism, and to understand how the boom of the economy, the World War II and the phenomenon of the mega-structure were translated into the culture of the country and influenced the way of thinking architecture to the present moment. The graphic production of the 1960 manifesto, Kenzo Tange's ideas for Tokyo and the logic of development and project solutions were so revolutionary that for ten years, in the eyes of the western part of the world, Japanese architecture was summed up in the production Metabolist and the ideas developed by the Group on mega-structures, capsule structures, urban planning on artificial ground. The collection of this period counts as much with works that were born already with the pretension of not leaving the paper, fitting in the branch of the speculative architecture and critical thinking, raising important discussions in the architecture society; as well as constructed buildings, which became symbols of Japanese modernism. This work resumes the thinking of the time and seeks to raise the issues and definitions discussed by the architects.


agradeço à minha Família; aos professores Eduardo Rossetti, Monica Gondim, Paola Ferrari e Ricardo Trevisan pelos (brilhantes) direcionamentos; à professora Maria Claudia, pela inspiração e por me guiar nesta aventura.


B I B L I O G R A F I A E I M AG E N S

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C O N S I D E R AÇ Õ E S F I N A I S

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84 c a t á l o g o d e p ro j e to s

PA R T E D O I S M E TA B O L I S M O R E V I S I TA D O

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57 o J a p ã o e m 1 9 6 0 78 o J a p ã o e m 1 970

PA R T E D O I S M E TA B O L I S M O R E V I S I TA D O

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9 o mundo no século 20 29 o J a p ã o n o s é c u l o 2 0

PA R T E U M C O N T E X T U A L I Z AÇ ÃO

I N T R O D U Ç ÃO

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SUMÁRIO


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I NTR O D UÇÃO


presente ensaio revisa a trajetória histórica do movimento arquitetônico instalado no Japão durante a segunda metade do século XX, denominado Metabolismo, e entender como o boom da economia, a guerra de 1945 e o fenômeno da megaestrutura - conceito predominantemente desenvolvido na parte ocidental do mundo - traduziram-se na cultura do país e influenciaram o modo de se pensar a arquitetura até o momento presente. Antes, porém, de aprofundar a discussão voltada à visão japonesa, é necessário esclarecer o contexto no qual o movimento inseriu-se não apenas no Japão, mas também em relação aos acontecimento no mundo, entendendo como o pensamento avant-garde permeou a ideias dos arquitetos do século XX, os pretextos para seu desenvolvimento teórico e as consequências de seu impacto no cenário arquitetônico, sobretudo no oriente. O conceito de megaestrutura remete às primeiras formulações de Le Corbusier, sobretudo em suas especulações sobre o conjunto habitacional em Argel, ainda em 1931 (BANHAM, 1978, p.8), onde a dimensão

do edifício ainda era a característica singular para a identificação como megaestrutura. A definição atual é bastante associada à produção de Rem Koolhas, sobretudo quando associado ao seu “Hyperbuilding” de 1996, e suas teorias sobre bigness. Talvez o grande marco da definição, porém, acabou vindos sob a influência do projeto de Kenzo Tange para Tóquio (1960). Tentando debruçar-se em cima dos problemas urbanos do Japão pós-guerra, o arquiteto começou a inserir os primeiros conceitos de megaestrutura em seu plano de reconstrução para a capital; quatro anos após a publicação do projeto, a primeira aparição formal do conceito de megaestrutura viria com os japoneses Fumihiko Maki e Masato Otaka, na publicação “Investigations in Collective Form" (1964). Percebe-se, portanto, que a relação do Japão com a megaestrutura ocidental sempre foi especial. Não apenas a palavra foi primordialmente concebida por um teórico japonês, como o próprio Manifesto Metabolista, fruto dos pensamentos reunidos na Conferência Mundial de Design na cidade de

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Tóquio (1960), pode ser considerado como a primeira intenção de se apresentar o conceito para o cenário mundial. Esse fato é visto como uma contribuição estritamente japonesa para a arquitetura moderna mundial, e marca a independência cultural e filosófica em contraposição à visão neocolonialista ainda admitida por outros países sobre o Japão (BANHAM, 2001). Reunindo o pensamento futurista e, por vezes promissor, de seis japoneses quatro arquitetos (Kisho Kurokawa, Kiyonori Kikutake, Fumihiko Mak e Masato Otaka), um jornalista (Noboru Kawazoe) e um designer industrial (Kenji Ekuan) - acerca dos planos urbanísticos e soluções para o rápido crescimento da cidade contemporânea japonesa e a falta de espaço territorial passível de abrigar esse crescimento, a publicação do manifesto de 1960 representa a síntese do que seria o rumo da arquitetura japonesa pós-guerra até os anos 80. Deslumbrados com o avanço tecnológico, mutabilidade e flexibilidade tornaram-se elementos-chaves nas discussões do Grupo Metabolista; segundo Kawazoe (o jornalista

do Grupo), a ideia seria desenvolver um sistema construtivo que conseguisse acompanhar as rápidas mudanças da sociedade moderna, ao mesmo tempo que mantivesse estabilidade da condição humana dos cidadãos (ROSS, 1978). A produção gráfica do manifesto de 60, as ideias de Tange para Tóquio e sua lógica de desenvolvimento e soluções de projetos foram tão revolucionárias que, durante dez anos, aos olhos da porção ocidental do mundo, a arquitetura japonesa resumiu-se a produção Metabolista e as ideias desenvolvidas pelo Grupo acerca de megaestruturas, estruturas em cápsulas, planejamentos urbanos em solo artificial. O acervo desse período conta tanto com obras que nasceram já com a pretensão de não saírem do papel, tendo apenas teor crítico e encaixando-se no ramo da arquitetura especulativa, levantando importantes discussões nas rodas de conversa; como também obras efetivamente construídas, e que se tornaram símbolos do modernismo japonês. Este trabalho retoma o pensamento da época e busca levantar as questões e definições

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discutidas pelos arquitetos. A produção arquitetônica do Metabolismo, porém, é pouco conhecida pelos estudantes de arquitetura. Esse desconhecimento talvez se dê pela escassa atenção a arquitetura especulativa do século XX no ramo acadêmico, sobretudo o pensamento desenvolvido pelos japoneses e suas soluções para o crítico urbanismo do período, que deveria ser capaz de abrigar uma sociedade moderna sempre em constante mudança e regeneração. Retomar essas questões não apenas supre um desejo pessoal desta pesquisadora, mas também buscam trazer a tona importantes debates de arquitetura e urbanismo desenvolvidos na segunda metade do século XX, podendo (ou não) neles encontrar soluções para o descontrole e problemas da cidade contemporânea, questionando principalmente o real caráter utópico dos projetos e até onde os japoneses foram capazes de chegar a fim de propor a reconstrução de uma nação inteira. O trabalho, portanto, é divido em três partes e funciona como uma linha do tempo do histórico do Metabolismo, desde sua

primeira aparição em 1960, até o momento de desaparecimento, em 1985 (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Permeia inicilmente os contextos que culminaram nos movimentos de avant-garde ao redor do mundo; faz-se um panorama internacional da primeira metade do século XX, com o surgimento do termo “megaestrutura”, inserindo-o nos “anos megadourados” de Hobsbawn (HOBSBAWN, 1995). E em seguida, debate-se o histórico oriental, dissertando sobre a influência de conceitos ocidentais e inserindo a figura de Kenzo Tange no cenário arquitetônico e social japonês anterior a consolidação do Movimento. Posteriormente, buscou-se adentrar ainda mais no arquipélago, entendendo as circunstâncias internas de sua arquitetura as quais culminaram no desejo de seis intelectuais em montar um manifesto em favor da reestruturação arquitetônica e urbana do Japão. Sintetiza-se o acervo de importantes projetos japoneses desenvolvidos no recorte escolhido e de acordo com a metodologia apresentada, questionando a real situação dessas obras - quais foram de fato construí-

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das e quais permaneceram apenas como repertório especulativo. Para a pesquisa teórica inicial, levou-se em consideração principalmente a disponibilidade bibliográfica de cada texto. Os autores foram selecionados a fim de obter a “espinha dorsal” da pesquisa, dando enfoque naqueles que debruçaram sobre os conceitos trazidos pelo Metabolismo e o histórico do Movimento; em seguida, coube a leitura de artigos e teses de pesquisadores que, ora revisavam os grandes autores escolhidos, como Fumihiko Maki e Masato Otaka (1964), ora criticavam e questionavam seus argumentos, como Cláudia Cabral (2007), Meike Schalk (2014), Tomoko Tamaki (2014), e outros. Compreende-se que as propostas para os conceitos e as questão levantadas pelos Metabolistas caminham concomitantemente ao panorama histórico, político, social, econômico e cultural da era contemporânea, por isso a importância dada a contextualização histórica não apenas do Japão, como também do mundo Para a pesquisa de repertório de obras Metabolistas, a escolha dos arquitetos

e respectivos projetos baseou-se sobretudo na bibliografia de Michael Franklin Ross (1978), que conseguiu reunir de forma mais didática uma “árvore genealógica” dos principais nomes da arquitetura moderna japonesa; e no livro “Project Japan: Metabolism Talks..” de Rem Koolhaas e Hans Ulrich Obrist (2011), que conta com entrevistas com arquitetos japoneses que viveram no período do Metabolismo ou fizeram parte dele; Koolhaas consegue detalhar de forma minuciosa os acontecimentos da época e os projetos mais relevantes a serem estudados. Ao debruçar-se mais especificamente sobre o repertório arquitetônico Metabolista, o ensaio buscou primeiro reunir cronologicamente os projetos e arquitetos, e posteriormente identificar as obras contruídas e não-construídas. A escolha dos arquitetos e projetos foi baseada na disponibilidade bibliográfica encontrada no livro de Ross (1978) e de Koolhaas e Obrist (2011), e a metodologia para a catalogação das obras foi baseada na desenvolvida por Koolhaas e Obrist (2011). Ressalta-se que a produção arquitetônica é aqui entendida como um

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todo, seja em obra escrita, representações gráficas, projeto e construção. A finalidade da catalogação não é encontrar todas as obras do período, mas reunir um número sufiente de projetos a fim de caracterizar a finalidade do Movimento perante a arquitetura japonesa e a crítica projetual a que tanto foram submetidos no período, sobretudo na década de 80. O fechamento crítico das informações coletadas coube ao último capítulo, relacionando os projetos Metabolistas no âmbito temporal e confrontando a real funcionalidade de suas megaestruturas e cápsulas, característica tão almejada e comentada no discurso dos arquitetos japoneses do período em estudo. O objetivo, portanto, não é o esgotamento de cada autor ou arquiteto Metabolista, ou tentar apresentar o histórico de sua produção de forma linear. O foco é no processo de nascimento das teorias acerca desses arquitetos da avant-garde japonesa no mundo e como essas especulações tornaram-se esperanças para uma nação que viu suas cidades (e sua identidade) serem

devastadas pela Grande Guerra. O anseio é analisar a trajetória de cada arquiteto considerado, observando como foram desenvolvidas suas ideias dentro das limitações tecnológicas e filosóficas encontradas, os pretextos para suas decisões de projeto e como incorporaram (ou criticaram) os conceitos ocidentais modernistas em sua arquitetura, fazendo o mundo despertar à produção arquitetônica japonesa da segunda metade do século XX. ____

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PA R T E U M

CONTEXTUALIZAÇÃO

o mundo no século 20 o Japão no século 20


os anos megadourados

om o fim da “Era da Catástrofe”, definida por Eric Hobsbawn (1966) como o intervalo entre as duas Grandes Guerras Mundiais, observou-se um período de prosperidade global, pautada na reconstrução e expansão da economia mundial e as rápidas transformações tecnológicas impulsionadas pelas guerras, tudo em um curto espaço de tempo (HOBSBAWN, 1995). Em meio a esse otimismo global, que durou até meados dos anos 1970, surgem as primeiras idéias acerca das megaestruturas. Os Estados Unidos, saindo como vitoriosos das guerras, começavam a ocupar uma forte posição em relação à economia global. Sob o preceito de extinguir o socialismo ainda presente em diversos países, o mundo assiste os norte-americanos agilmente colocarem em ação os planos para a recuperação de países capitalistas

europeus, plano que posteriormente alcançaria o Japão. A consequência dessa política internacional estadunidense foi o fortalecimento das indústria nacionais e o aquecimento do mercado internacional, por consequência. Seu crescimento chegou a tanto que, entre 1950 e 1980, o PIB mundial fez um salto de dois trilhões de dólares para oito trilhões de dólares (SEVCENKO, 2001). A fome, problema agravado com as guerras, foi praticamente erradicada com o boom da produção alimentícia e aumento de terras cultiváveis em países de economia majoritariamente agrícola. O grande legado da Segunda Guerra Mundial , além das destruições e catástrofes, foi a enorme expansão tecnológica dos países. Desesperados perante a corrida mundial para a inovação de seus equipamentos, sobretudo de guerra, o investimento em projetos de pesquisas inovadores percorreu o mundo, trazendo consigo adventos como fogão, geladeiras, lavadoras, além da novidade no espaço da telecomunicação, com o telefone e o rádio, produtos como relógios digitais, discos de

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vinil e a televisão. Isso possibilitou maior comunicação não apenas entre cidadãos de um mesmo país, mas também interligou pessoas separadas por milhares de quilômetros, em fusos horários e culturas diferentes. A Segunda Guerra Mundial também inaugurou uma nova fase no cenário político e militar de cunho internacional, definida pela inviabilidade de qualquer conflito direto entre as grandes potências mundiais, muito em virtude do advento do poderio atômico que assombraria a população mundial com a iminência da destruição em massa (HOBSBWAN, 1995). O conflito sucessor a Segunda Grande Guerra, portanto, caracterizou-se pelo medo constante e culminou em enfrentamentos de cunho indireto entre blocos de países capitalistas, liderados pelos Estados Unidos, e blocos de países socialistas, liderados pela então União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS). Os confrontos da Guerra Fria, portanto, foram mais sutis, apenas em duelos propagandistas, controle por meio da rede de telecomunicações e cultura, e

posteriormente a famosa corrida espacial (SECVENKO, 2001). A tecnologia atingiu também o campo das ciências biológicas; o avanço da indústria farmacêutica trouxe o surgimento de importantes remédios, como os anticoncepcionais . Talvez a descoberta que mais tenha afetado contexto científico, porém, foi a formulação do modelo de dupla-hélice do DNA humano pelos cientistas Francis Crick e James Watson, em 1953, mudando para sempre o entendimento do ser humano acerca do mundo microscópico. Em 1957, a União Soviética avança na “colonização” em escala global. Extrapola os limites terrenos quando faz o lançamento do primeiro satélite artificial da Terra, “Sputnik I”; um mês depois, dão mais um passo na corrida espacial lançando o primeiro ser vivo no espaço — a cadela Laika viaja junto ao “Sputnik II” — e, posteriormente, o primeiro homem no espaço, com o astronauta Yuri Gagarin, em 1961, o qual afirma pela peimeira vez que “a Terra é azul”. Na tentativa de alcançar seus

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rivais, o então presidente norte-americano John F. Kennedy inicia sua movimentação almejando não somente a chegada do país ao espaço, mas também a chegada do primeiro estadunidense à Lua. Em julho de 1969, Neil Armstrong e Buzz Aldrin colocam, pela primeira vez, os pés em solo lunar. O lançamento de satélites artificiais e a constante busca por tecnologias de mídia encurtaram as distâncias entre os países e abriram um novo campo de propagação de cultura e modo de vida. Nesse contexto, os Estados Unidos iniciam sua divulgação do “American Way of Life” — programa governamental onde qualquer pessoa, independente de sua condição social, poderia atingir padrões de vida superiores sobre o pretexto de trabalho e esforço individuais. Mesmo com a conquista da Lua sendo atribuída aos Estados Unidos, muitas das reflexões tecnológicas feitas na arquitetura na segunda metade do século XX tiveram origens européias; a ida para o espaço significou investimentos e pesquisas acerca de estruturas em capsulas espaciais,

a obtenção de um espaço mínimo de sobrevivência e conforto, sob o conceito de compactação espacial e ergonometria. Essas especulações chegaram aos ouvidos da elite arquitetônica do período, a qual começava a se debruçar sobre os estudos acerca das megaestrutura e novas formas de habitar diante da descrença do modernismo. Ao mesmo tempo, ocorria o que Hobsbawm (1995) chamou de a era “a mais desastrosa na história da urbanização urbana […]” — quando o processo de produção em massa desenvolvido pelo americano Henry Ford chega ao velho continente, os países passam a utilizá-la como método de construção de habitações em massa e em estilo internacional. Esse cenário dava início à cultura dos subúrbios, caracterizados pelo afastamento das pessoas dos centros das cidades impulsionado pelo advento dos meios de transporte e engenharia de infraestruturas. A década de 1960 marcou o início do período de transição da economia de diversos países, sobretudo após o desenvolvimento da nova divisão

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internacional do trabalho: em países dominantes, a máquina e a industrialização substituiriam o trabalho manual; posteriormente, as grandes indústrias desses países alcançariam nações de economias emergentes, as quais não estavam preparadas para recebê-las tanto em questão de leis de proteção ambiental como do próprio operariado. Assim, os países em desenvolvimento acabaram ficando às margens da exploração de seus recursos naturais e da força de trabalho de sua população. Enquanto conturbada e caótica na época da Segunda Guerra, a política durante os anos megadourados parecia adormecer. As questões mais preocupantes para as grandes potências mundiais eram as ameaças de conflitos nucleares, o avanço do comunismo e as crises internas. Essa calmaria só chega ao fim com as revoluções estudantis que ocorreram em quase todo o mundo a partir ds segunds metade do século XX. A geração intelectual da época nascida durante a Segunda Guerra Mundial entrava na fase adulta amedrontada e insegura

diante de fortes crises de desemprego e grandes inflações nos mercados internacionais. A gota d’agua para o desequilíbrio do anos megadourados, porém, foram as crisesda economia americana (HOBSBAWN, 1995). A primeira ocorria em detrimento das implicações da Guerra do Vietnã, quando o presidente americano Richard Nixon estabelece unilateralmente que o dólar não seria mais conversível em seu equivalente em ouro, causando a desestabilização financeira de seus aliados que dependiam desse vínculo. Já desgastada tanto interna como externamente, a economia norte-americana sofre seu ataque final com a crise da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), em 1973. E não apenas os Estados Unidos, como as economias de diversos países dependiam estritamente do consumo de petróleo tanto para fins de transporte de mercadorias como na fabricação de produtos para exportação. Assim, a década de 70 inicia-se em crise nos países hegemônicos e emergentes, fechando o período de ouro trazido pela prosperidade econômica e avanços tecnológicos do pós-guerra.

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Entender a dinâmica mundial do Ocidente no período de ascensão do Metabolismo no Japão esclarece diversos aspectos de inspirações e justificativas para as propostas urbanas do metabolismo, e o movimento de aceitação/rejeição do mundo externo no país tradicional. O trabalho do grupo Archigram, um dos “colegas” de revolução arquitetônica do Grupo Metabolista, apresenta diversas alusões ao período — a própria palavra é uma brincadeira com os termos “architecture” e “telegram”, o que indicava que os projetos deveriam ser de fácil compreensão em sua totalidade, como a “instantaneidade de um telegrama” (SILVA, 2004). Isso resultou no uso da representação por colagens, imagens publicitárias, aplicações tipográficas semelhantes á cartazes publicitários, etc. A crítica do grupo estendia-se além da cultura de consumo quando incorporou as novas tecnologias e o otimismo por ela trazido em seus projetos. Os grandes avanços nas áreas da ciência biológica influenciaram a produção dos Metabolistas, quando propunham em

seu próprio nome, um movimento de arquitetura avant-garde que produziria projetos de caráter semelhante ao comportamento biológico de um organismo, o qual regenera e se renova constantemente. Kisho Kurokawa inspira-se nos modelos de DNA de dupla-hélice (Imagem 05) para desenhar as edificações e estruturas de sua Helix City em 1961 (Imagem 06); Fumihiko Maki busca inspiração formal na célula humana quando desenvolve as Golgi Structures (1968), projeto em capsulas incorporadas a grandes núcleos de torres. O próprio Nagakin Capsule Tower, também de Kurokawa (1972), faz alusão ao modo de organização biológico quando propõe a conformidade do espaço mínimo para sobrevivência em células habitacionais, semelhantes também às capsulas espaciais mínimas experimentadas durante a corrida espacial na Guerra Fria. Percebe-se, portanto, a intrínseca relação entre o contexto histórico mundial, a trajetória das conquistas globais e arquitetura, mesmo quando potencialmente localizadas em diferentes partes da Terra. As

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mudanças na forma como o ser humano passa a enxergar as transformações sociais, culturais, políticas e econômicas, além da relação entre tecnologia e vida humana, traduzem-se para o mundo construído por meio da arquitetura, ora de caráter mais palpável, ora exagerando o cenário vivenciado por aquela sociedade. ____

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Francis Crick

James Watson

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megaestruturas

m se tratando do contexto histórico, as primeiras proposições e teorias acerca do conceito de megaestruturas nasceram em meio ao naufragado otimismo dos anos sessenta (CABRAL, 2007), inseridas em um pós-guerra calcado em grandes revoluções de ideais humanos e crises no sistema socioeconômico moderno. Reyner Banham em seu livro “Megaestructuras: futuro urbano del pasado reciente” (1978) busca organizar as diferentes visões acerca das megaestruturas repercutidas pelos arquitetos pioneiros na conceituação do termo, evidenciando principalmente as divergências de significados a que lhe foi atribuído. Os conceitos propostos, porém, são apresentados por Banham não apenas por questão de nomenclatura; são organizados de forma a expor a trajetória histórica do surgimento das megaestruturas e a tentar

entender como ela culminou no esgotamento da ideia. Ao reunir os principais expoentes e suas respectivas experimentações, coloca em pauta as relações da megaestrutura ora apresentada como tradição moderna, ora como cultura não-arquitetônica (CABRAL, 2007). O crítico inglês inaugura seu discurso exemplificando o que não seria uma megaestrutura, com o clássico americano Vertical Assembly Building, em Cabo Cañaveral – um edifício de montagem de veículos espaciais que atingiu proporções gigantescas para os anos sessenta. Banham ressalva, porém, que mesmo se tratando de uma das maiores edificações já construídas pelo homem, não se constituiu de fato uma megaestrutura (BANHAM, 1978, p.7). A origem mais profunda e o precursor do que viriam a ser megaestruturas é apontada pelo autor como sendo o Conjunto Habitacional de Le Corbusier para Argel em 1931 (Imagem 07). O projeto constitui uma curva de comprimento aparentemente ilimitado, em que é possível identificar a presença de uma grande

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estrutura reguladora principal e pequenos anexos de variabilidade adaptável às necessidades individuais (BANHAM, 1978). Essencialmente, o projeto representa a visão Corbusiana de reproduzir a dinâmica de uma unidade de vizinhança em forma de complexos edifícios (BARNETT apud VERAS, 2015), pensamento o qual vinculou diretamente as cidades modernas da segunda metade do século XX à multifuncionalidade das megaestruturas (VERAS, 2015). Entende-se, desse modo, que o conceito de megaestrutura vai além de seu porte físico e dimensão enquanto proposta arquitetônica. Mas o que de fato caracterizaria uma megaestrutura? Na tentativa elucidar essa questão, Banham recorre à alguns teóricos pioneiros no assunto. O primeiro conceito apresentado é encontrado no livro “Investigations in Collective Form” (1964) de Fumihiko Maki, arquiteto japonês e um dos principais expoentes do movimento Metabolista. Em parceria com Masato Otaka, contribuiu para a

publicação do manifesto “Metabolism 1960: proposals for a new urbanism”, onde vários metabolistas expuseram suas teorias e expectativas acerca das novas formas de ordenação urbana perante à crise do Japão pós-guerra. Mesmo apresentando propostas ligadas ao rápido avanço tecnológico observado na época, os conceitos aplicados a elas eram basicamente orgânicos, uma vez que a cidade, assim como a natureza, apresenta um ciclo metabólico de constante modificação e regeneração de suas partes (ABLEY, 2006). Na publicação de 1964, Maki conseguiu esclarecer melhor os objetivos dos Metabolistas ao retomar suas teorias acerca da dinâmica das cidades Em “Investigations in Collective Form”, o arquiteto inicia seu discurso afirmando que o progenitor de qualquer idéia formal inclui sobretudo aspectos políticos e econômicos, e posiciona a sociedade urbana na qual estava inserido como produto da mudança estrutural do modo de viver frente ao constante avanço tecnológico. Assim, o objetivo dos Metabolistas, e sobretudo de Maki, não seria a criação de um “plano

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principal” a ser seguido, mas sim a produção de um “programa principal” que, ao invés de criar normas para a organização das cidades, traça diretrizes e sugere ações alternativas para atingir seus objetivos (MAKI, 1964). Frente à incessante discussão na arquitetura sobre o caráter singular de conceber edifícios “independentes” uns dos outros, Maki apresenta o conceito de “collective form”. Definida como um conjunto de edificações que compõem a cidade, ele ressalta no conceito o caráter de interdependência entre as partes para que formem o todo. A fim de aprofundar-se na extensa discussão, ele delimita três formas de abordar o desenho urbano: collective form, megaform (megaestructure) e group form (Imagem 08). Compositional form possui caráter histórico oriundo do processo de formação das cidades, onde arquiteturas diversas e singulares são colocadas em coexistência a fim de criarem espaços urbanos, mantendo relações funcionais, espaciais, visuais e, por hora, simbólicas entre si. Megaform (megaestructure) constitui o

corpo principal da cidade, é definida como “uma grande estrutura a qual comporta todas as funções de uma cidade ou de parte dela. A tecnologia atual tornou isso possível. De certo modo, é uma característica artificial da paisagem. É como a grande colina na qual as cidades italianas foram construídas” (MAKI apud BANHAM, 1976, p.8). Retomando seu discurso inicial, o ideal, portanto, não seria a criação de um sistema rígido, mas sim uma “grande forma” que possibilitaria a evolução da cidade e seus componentes rumo ao equilíbrio, mantendo a consistência visual de sua composição e sua ordem contínua a longo prazo. Em contrapartida à compositional form, princípio da criação de espaços urbanos a partir da individualidade de cada edifício, Maki para seu group form busca inspiração em cidades medievais europeias, vilas em ilhas gregas e vilarejos no norte africano, propondo o desenho urbano a partir da repetição de uma tipologia edilícia genérica. O que no passado fez-se por artesãos e matéria-prima locais, no presente essa produção possuiria caráter industrial e

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compositional form

megaform (me

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egaestructure)

group form


alcance internacional. Mesmo tendo sido creditado como o primeiro de sua geração a conceituar a megaestrutura (ou megaforma) e explorar o termo nos ateliês de projeto durante seu tempo em Harvard, Maki rejeita a idéia e em favor do conceito de forma grupal. Para ele, essa abordagem evidencia a estrutura principal do desenho urbano, enquanto as partes anexas são mostradas em estado de “equilíbrio dinâmico”, passíveis de serem modificadas (ABLEY, 2006). Na prática, porém, o arquiteto conclui necessária a exploração das três abordagens no processo do desenho urbano, sejam combinando características ou misturando seus conceitos (MAKI, 1964). A segunda definição trazida por Banham em 1968 coloca em pauta quatro pontos chaves relacionados à megaestruturas, definidos por Ralph Wilcoxon, bibliotecário de projetos da College Environmental Design (Berkley). Na introdução de seu livro “Megaestrutucture Bibliography”, ele propõe um estudo etimológico da palavra megaestrutura, definindo-a sobretudo como

“não apenas uma estrutura de grande tamanho, mas também uma estrutura que frequentemente”: 1 está construída em unidades modulares 2 é capaz de ampliar-se de forma ‘ilimitada’ 3 é uma armação estrutural na qual se podem construir – ou mesmo ‘ligar’ ou ‘sujeitar’, após ter sido pré-fabricada em outro local – unidades estruturais menores (por exemplo, habitações, casas ou pequenas edificações de outros tipos); 4 é um armação estrutural a qual se supõe ter uma vida útil maior do que as unidades menores que este poderia suportar

(WILCOXON apud BANHAM,2001, p.9).

Pela definição de Wilcoxon, percebe-se que o bibliotecário levanta uma série de questões e implicações acerca do conceito as quais não são encontradas nas

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teorias de Maki. O peso de seu discurso, porém, ainda cai sobre a mesma definição perpetuada pelos teóricos da época: uma estrutura permanente e dominante a qual são acoplados anexos subordinados e transitórios. E mesmo carregada de características predominante formalistas e grande estímulo à tecnologia, essa definição acabou marcando a história das megaestruturas, atribuindo ao seu surgimento o estopim da crise não apenas no pensamento arquitetônico nos anos 60, como também da própria estrutura da arquitetura moderna tal como é conhecida (BANHAM, 1978). ____

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PA R T E U M

CONTEXTUALIZAÇÃO

o mundo no século 20 o Japão no século 20


os precedentes do metabolismo

esmo atravessando um conturbado cenário político, econômico e social no século XX, sobretudo após a Segunda Grande Guerra e o choque do embargo do petróleo de 1974, o Produto Interno Bruto (PIB) do Japão crescia de forma crônica, caracterizando-se como um dos maiores índices no painel mundial, apesar do consequente desaquecimento industrial. As razões para os constantes crescimento e desenvolvimento do país são diversas, mas a principal motivação japonesa encontrou-se na sempre determinante tentativa de apagar a primeira grande derrota do país em dois mil e seiscentos anos de sua história, evento o qual ainda permanece recente na memória cultural do Japão durante os anos conseguintes e até os dias atuais. Paralelamente ao vulnerável crescimento industrial em tempos de crise, percebe-se uma necessidade de entender,

absorver e apropriar-se da cultura ocidental, seja em sua culinária, modo de vestir, organização social ou estrutura urbana. E esse grande anseio em “devorar” a estética do Ocidente e inseri-la em seu contexto não deixa de alcançar a produção arquitetônica moderna japonesa, seja no âmbito de design, projetos e estética de edifícios, os quais acabam por criar os precedentes para o restante do mundo. (ROSS, 1978). A fim de entender a evolução da arquitetura moderna no Japão e o porquê da grande importância dada à produção moderna ocidental no país, é necessário retomar a atenção à alguns parâmetros culturais e, sobretudo, tradicionais japoneses, visto que é um país enraizado em rituais e tradições. Muitos destes, porém, são embasados em rígidos padrões de conduta moral e cumprimento de regras, formando cidadãos ambíguos em comportamento: são pessoas ambas insolentes e educadas, ambas rígidos e adaptáveis, conservadores e receptivas a novas idéias. Essa característica de guiar-se moralmente por duas posições

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contraditórias, aceitando ambos os valores como modos de conduta, coloca o Japão em posição de vantagem para com o avanço da modernidade sem deixar sua rígida essência de lado. Permanecendo conservador e ao mesmo tempo avant-garde em seu desenvolvimento, o país consegue solidificar sua tradição e adaptar-se às mais recentes inovações ocidentais. É possível observar esse fenômeno de ambiguidade também no modo de produção arquitetônica moderna do Japão. Robert Venturi apelida de “both/also phenomenon”, o qual inclui na arquitetura elementos que são ao mesmo tempo “bons e esquisitos, grandes e pequenos, fechados e abertos, contínuos e articulados, circulares e quadrados, estruturais e espaciais” (VENTURI apud ROSS, 1978, p.8). Traduzindo para a matéria, uma mesma nação conseguiu produzir o “elaborado e delicado” Toshogu Shrine em Nikko, em 1617 (Imagem 10) e, na mesma era, construiu o “simples e sereno” Katsura Detached Palace em Kyoto em 1624 (Imagem 11). Como aponta Ross, a arquitetura

japonesa torna-se única: encontra na “dualidade de sua linguagem o modo de expressar seu passado ao mesmo tempo que tenta adaptar-se ao futuro”; enquanto nostálgica em estética, apresenta-se futurista em estrutura; combina-se o tradicional hereditário e rígido, intrínseco à sociedade, ao modo de vida moderno vendido no Ocidente (ROSS, 1978). A cultura do “both/and” combina ambos o passado e presente japoneses, fazendo-os coexistir na macro e na microescala, seja na combinação de letreiros de plástico e lanternas de papel, telhas de barro e carpas de algodão (koinobori), tornando o espaço urbano e a estética arquitetônica complexos e contraditórios por essência. Essa preocupação em preservar o valor cultural de suas tradições e rituais que perduram por centenas de anos e traduzi-los para a vida moderna é uma herança do modo como o povo japonês estabeleceu-se como nação nos primórdios de sua história. Após absorver alguns elementos-chave da cultura chinesa do século XVI, sobretudo das Dinastias Sung e Yung, o Japão fechou suas

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Imagem 10


Imagem 11


portas para o mundo externo na procura de desenvolver e fortalecer sua estrutura social interna, estabelecendo uma cultura a qual poderiam chamar de própria. O Japão manteve-se em “retiro” perante o mundo até meados do século XVII, quando a Revolução Industrial atingiu grande parte dos países da Europa. Com a decisão do governo japonês em reabrir o país para as influências do Ocidente, incluindo sua transição de uma sistema econômico feudal e agrário para uma economia de caráter industrial, a arquitetura moderna ocidental apresentou-se como um grande atrativo para a nova era cultural japonesa . A industrialização do país, portanto, foi uma tomada de decisão estratégica por parte do governo que acabou influenciando diretamente a arquitetura, e a preocupação com o sistema estrutural de seus edifícios e engenharia de suas construções levou a influência moderna ocidental ao extremo - a arquitetura e o papel do arquiteto começavam a ser considerados uma forma de arte/expressão em detrimento do poder cultural que são capaz de transmitir, além de

sua importância na tradução de valores em feitos materiais (ROSS, 1978). Segundo Noboru Kawazoe, esse pensamento acerca da arquitetura moderna fez com que os arquitetos japoneses utilizassem “apenas técnicas e formas externas da civilização industrial do Ocidente, sem entender seus precedentes e valores espirituais” (KAWAZOE, 1973, p.19). É válido ressaltar que o Japão é característicamente um país vulnerável a catástrofes naturais as quais destroem constantemente seu patrimônio, sobretudo terremotos e tsunamis. Isso contribuiu para o fortalecimento do discurso da engenharia estrutural na produção arquitetônica do país no século XX. Durante seus primeiros anos, enquanto os engenheiros japoneses estudavam tecnologias de produção ocidentais, o governo fomentava o interesse pelo estilo de arquitetura europeu entre artistas e artesãos, fazendo com que tradicionais famílias de carpinteiros desenvolvessem a habilidade de reproduzir edifícios e construções ocidentais. Incentivadas pelo anseio de alcançar

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um nível de produção de alto padrão, essas famílias desenvolveram-se e tornaram-se triplamente capacitadas em arquitetura, engenharia e incorporadoras no ramo da construção japonesa. A partir desse momento, surgem empresas como Shimizu Construction Company, Takenaka Komuten (Takenaka Construction Company), Kajima Corporation, Ohbayashi-Gumi e Taisei Coporation. Além de manter a excelência de produção em arquitetura e engenharia, as grandes empresas familiares contribuíram para o desenvolvimento no ramo de pesquisa e gestão de marketing, caracterizando-as como grandes influenciadores e patrocinadoras do desenvolvimento da cultura arquitetônica moderna no Japão. E o fato de manterem-se “em família” proporcionava-lhes o contato com o espectro tradicional do modo de produção e do operariado, sobretudo carregando influências advindas ainda do Japão feudal (ROSS, 1978). Imediatamente antes do estouro da Segunda Grande Guerra em 1945, o fanatismo militar levou os agentes do

governo a proibir o uso de aço nas construções de “cunho pacífico” em 1937, justificando que a arquitetura japonesa, a partir daquele momento, deveria aproximar-se mais da estética oriental. A arquitetura do Japão passou a expressar-se por meio de mescla entre o Ocidente e o Oriente, produzindo edifícios híbridos de fachada essencialmente modernista e telhados em telhas de barro tradicionais japoneses, mantendo “uma horrível e anacrônica aparência” (KAWAZOE, 1973, p.21). Ao mesmo tempo em que as grandes empresas familiares construíam efetivos e prósperos impérios construtivos embasados no uso de tecnologia moderna e design total dos edifícios, o quesito mais filosófico e profundo da concepção do que caracterizaria de fato a arquitetura moderna japonesa ficava sobre a responsabilidade de arquitetos japoneses mais teóricos, muito dos quais aprofundaram suas idéias acerca do modernismo trabalhando em estúdios juntamente com grandes expoentes do movimento no Ocidente: Kunio Maekawa e

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Junzo Yoshimura, dois gigantes do modernismo japonês foram estagiários de Antonin Raymond, e tiveram contato com Frank Lloyd Wright; Junzo Sakakura desenvolveu o Pavilhão do Japão na Exposicão Internacional de Paris (1937) durante seu período de atuação no ateliê de Le Corbusier; Tetsuro Yoshida e Sutemi Horiguchi obtiveram sua formação arquitetônica embasada nos princípios de Walter Gropius na Bauhaus. Esse cenário foi favorável ao surgimento de um dos principais nomes que ditaram o rumo da arquitetura moderna japonesa - e deu início a pesquisas e especulações acerca do que viria a ser o Movimento Metabolista posteriormente em 1960. Recentemente graduado pelo Departamento de Engenharia pela Tokyo University, Kenzo Tange trabalhou no escritório de Maekawa por quatro anos, durante os quais manteve contato com os princípios de estilo internacional ditados pelo Modernismo de Le Corbusier. A contribuição de Tange extrapolou a arquitetura quando ele volta à universidade para aprimorar suas

ideias acerca do urbanismo e design urbano; neste período, revolucionou o modo de se fazer urbanismo no país ao centralizar a chave de suas teorias no conceito de “communication space” - um grande espaço público permeando o tecido urbano onde os japoneses pudessem se encontrar e conviver em sociedade (ROSS, 1978). O lado revolucionário de sua teoria encontra-se no fato de que, tradicionalmente, o Japão até então dispunha suas edificações de forma densa e sem o “respiro” urbano representado na Europa pelas grandes praças abertas e parques da cidade. Destacando-se sobre os demais arquitetos de sua geração, Kenzo Tange torna-se uma espécie de representante da arquitetura moderna japonesa no âmbito internacional, chegando a ser convidado a fazer parte do CIAM (Congrès Internationaux d’Architecture Moderne) de 1951. Sua visibilidade e popularidade entre o Movimento Moderno ocidental levou o modernismo japonês aos olhos do mundo, sobretudo em 1960 quando a cidade de Tóquio foi o palco principal da WoDeCo

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(World Design Conference). A atuação japonesa na conferência de 60, com o Plano para Tóquio de Tange e as primeiras manifestações do Movimento Metabolista, deram início à nova postura diante do modo de pensar e fazer arquitetura no país, marcando o amadurecimento de seu modernismo e a total independência em relação à visão neocolonialista que outras culturas mantinham em relação ao Japão, sobretudo em exportação de cultura e filosofia, e conquista de mercado e território (BANHAM, 1976). ____

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Imagem 12


tabula rasa

Movimento Moderno surgido na porção Ocidental do globo no século XX pregava a renovação da cultura e do modo de produção arquitetônicos em meio a constante ascensão de novas tecnologias de construção. Desse modo, o novo papel do arquiteto moderno seria o de promover a harmonia social (FISHMAN, 1982). Para Le Corbusier, isso tratava-se de um mantra para sua arquitetura - o bem-estar social dependia diretamente da organização e da estética harmônicas das edificações em uma cidade. Na busca pela cidade ideal, apresentou seu primeiro plano urbano no livro “The Contemporary City for Three Million People” (1922), o qual resume sua teoria - a criação de um ambiente no qual homem, natureza e máquina pudessem conviver pacificamente. As soluções apresentadas refletiam os reais problemas

enfrentados pela sociedade urbana moderna e traduziam seus dilemas em desenhos gráficos, sendo levados a um extremo científico que os afastava de meras idéias utópicas e poderiam ser aplicados em cidades modernas. Uma dessas especulações foi a Ville Radieuse em 1924 (Imagem 12), proposta para a cidade de Paris. Desse modo, a fim de “afastar-se de circunstâncias contingentes”, ele pousa sua cidade ideal em uma superfície perfeitamente plana e desprovida de qualquer alteração do homem ou elemento natural - uma perfeita tabula rasa (FISHMAN, 1982). Justificando seu argumento de escolha do terreno, ele compara seus estudos aos de um cientista em um laboratório experimental, construindo uma rigorosa estrutura teórica e tentando encontrar a regra de conduta para os próximos planos urbanos. O caráter orgânico e circunstancial das cidades, que moldam-se de acordo com as necessidades de seus habitantes, havia ficado no passado (FISHCMAN, 1982). A era

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da máquina, segundo Le Corbusier, exigia a harmonia do planejamento urbano baseado em formas puras, ruas em gride e ângulos de perspectivas estrategicamente colocados para fins de contemplação da paisagem que, de certo modo, tornar-se-ia uma fabricação do homem. Ao mesmo tempo em que a arquitetura ocidental teoriza o planejamento e design urbano em cima do mito da tabula rasa, representando a visão otimista de um novo começo no velho mundo (KOOLHAAS; OBRIST, 2011), o Japão encara a sufocante falta de espaço para suas cidades, considerando que parte majoritária de sua superfície é montanhosa e não passível de receber habitantes. Até o início do século XX, portanto, o almejado planejamento urbano de Le Corbusier é enxergado como futilidade e, de certa forma, não aplicável à situação do arquipélago. O início da mudança desse pensamento em relação ao planejamento e design das cidades japonesas acompanhou uma série de fenômenos tanto naturais como provenientes da ação do homem. Ocorridos

em pequenos intervalos de décadas, os desastres enfrentados pelo país na primeira metade do século XX destruíram grande parte das cidades japonesas e forçosamente promoveram a abertura de novos terrenos, instigando o Japão a repensar sua arquitetura e urbanismo especulativos, agora em escala nacional. Koolhaas e Obrist, em “Project Japan: Metabolism Talks…”, apontam três principais datas determinantes: 1923 O Grande Terremoto Kanto. Devastou grande parte da cidade de Tóquio, fato o qual abriu espaço para a criação de masterplans que propusessem soluções para a reorganização do deteriorado espaço urbano da capital. Os planos, porém, por ora elaborados no anseio de suprir as necessidades de uma nação recém-industrializada, muitas vezes esbarravam em entraves políticos e econômicos. Um dos masterplans considerados foi de autoria do então primeiro-ministro Shinpei Goto, resgatando idéias que propôs para Tóquio quando ainda exercia o cargo de

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prefeito, em 1920. Seu dircurso era embasado na reconfiguração da cidade aos moldes europeus, mais especificamente no estilo revolucionário deliberado por Haussmann em Paris no século XIX: ruas tornando-se largas avenidas, implementação no sistema de saneamento básico, abertura de praças e parques urbanos, grandes pontes. Diante das dificuldades de gestão territorial que iriam ser criadas após a implementação de sua impactante reforma e a escassez de recursos econômicos para tal, o plano de Goto foi reduzido drasticamente e grande parte de suas idéias foram desconsideradas. Não obstante, seu masterplan não foi por total desperdiçado, impulsionando algumas reformas pontuais na cidade, como a construção de novas vias e duas pontes sobre o rio Sumida, e a abertura de mais de 50 parques recreacionais ao longo da densa malha urbana. 1932 Expansão para o Leste da Ásia. Com o desejo de apaziguar as relações entre as cinco nações (China, Japão, Coréia, Manchúria e Mongólia) e mostrar a força de

sua cultura frente a corrida imperialista que traçou com a então União das Repúblicas Soviéticas Socialistas (URSS), o Japão toma controle da Manchúria e estabelece um estado anexo na região, denominado Manchukuo. A nova conquista, porém, significou mais do que a expansão de seu domínio sob o territorio asiático - enquanto o Japão configurava-se em um arquipélago de 330 000 quilômetros quadrados de terras montanhosas e inabitáveis, Manchukuo eram 1 300 000 quilômetros quadrados em terras planas. A tabula rasa modernista de Le Corbusier fazia-se real nas mãos dos japoneses, e os mais célebres arquitetos e urbanistas da época lançavam suas propostas para a expansão do país sob a perspectiva do otimismo ocidental moderno (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Com a missão de abrigar 200 000 fazendeiros que migravam de suas casas no norte do Japão para a região de Manchukuo, A definição do rumo da colonização ficou inicialmente sob a responsabilidade de Yoshikazu Uchida, professor da Tokyo Imperial University. Juntamente com seu

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time de arquitetos e urbanistas, do qual faziam parte Toshiro Kasahara e Hideto Kishida (mentor de Kenzo Tange), enxergou a oportunidade de planejar nos mínimos detalhes a expansão japonesa pelo vasto território agrícola de Manchukuo em uma escala total e abrangente, impossível de ser aplicada em planos como o da reconstrução de Tóquio. Assim, o grupo propõe a ocupação em padrões uniformes de pequenas cidades isoladas, cada uma com 10 hectares, lembrando projetos como a Green City (1920), dos russos Moisei Ginzburg, Mikhail Barsch e Konstantin Melnikov; e a Broadacre City (1932), de Frank Lloyd Wright (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). No projeto de Uchida, cada unidade habitacional na cidade funcionaria como uma pequena unidade agrícola desenhada em referência à arquitetura vernacular local. O plano para a colonização da Manchúria foi apenas o início da conquista territorial japonesa através da delimitação de espaços urbanos. Posteriormente, Uchida e seu time voltam ao leste asiático para requalificar e propor um plano geral para a

região de Datong, no interior da Mongólia. Em 1937, a tabula rasa encontrada em Manchukuo repete-se em Shanghai, onde Kunio Makeawa propõe uma densa ocupação residencial de 1 500 unidades habitacionais e um centro centro cívico. 1945 Bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Após a tardia corrida imperialista japonesa numa tentativa de expansão do território para além do arquipélago, as duas bombas atômicas e os incessantes ataques de fogo por parte dos norte-americanos durante a Segunda Grande Guerra ironicamente transformam o território japonês em uma tabula rasa. A experiência de Hiroshima e Nagasaki dividiu os teóricos acerca do futuro das cidades - enquanto uns aproximam-se de uma visão mais pessimista, outros conseguiam enxergar além da realidade, vendo na devastação o potencial do recomeço e reconfiguração total do território japonês - uma oportunidade de requalificação dos centros urbanos assim como prevê as teorias acerca da cidade ideal de Le Corbusier. Em meio à esse cenário,

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iniciam-se as primeiras manifestações da geração de arquitetos a qual futuramente configurar-se-iam no Grupo Metabolista, e pode-se assim dizer que seus integrantes desde o início compactuavam com a mais nova obsessão dos japoneses pela tabula rasa (KOOLHAAS;OBRIST, 2011). A Segunda Guerra Mundial representou um marco na história japonesa o cenário distópico encontrado no pós-guerra e os bombardeios dos Estados Unidos sobre o arquipélago fragilizaram o Japão cultural, social, econômica e politicamente, além de devastar grande parte de suas cidades já consolidadas e que carregavam grandes heranças culturais em sua arquitetura e modo de organização. Tóquio teve 50% de sua estrutura completamente destruída, Osaka e Nagoya chegaram a quase 40%, Fukuyama aproximou-se de 80% e Toyama teve 99% de seu tecido urbano devastado. Por último, duas bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, com um intervalo de apenas três dias entre elas, marcando o fim do confronto. O estado emergencial do território

japonês instiga arquitetos do período a voltarem-se para o problema das cidades, propondo novos planos para a reconfiguração das diversas tabulas rasas deixadas pela guerra. Kenji Ekkuan e Atsushi Shimokobe visitam as ruínas de Hiroshima logo após o bombardeio; no ano seguinte, Kenzo Tange, Sachio Otani e Takashi Asada, integrantes do Tange Lab, grupo de arquitetos da Tokyo University, iniciam suas especulações projetuais e propostas de planos de reconstrução de Hiroshima e distritos de Tóquio. O grupo, porém, depara-se com um desafio: a destruição do tecido urbano não produz um espaço vazio onde tudo é possível (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). As especulações modernistas acerca do planejamento urbano ideal desenvolvidas nos primórdios do movimento, portanto, não cabem à situação em questão, e novas idéias surgem na tentativa de entender a dinâmica espacial das cidades japonesas pós-destruição.

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1923

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1932

1945

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Os inconstantes movimentos de ganho (conquista de Manchukuo) e perda (destruição das cidades na guerra) de território criam um trauma no urbanismo e na arquitetura do Japão, e um anseio por renovar e reafirmar sua identidade como nação e potência não apenas no Oriente, como no mundo. Isso traduziu-se também no campo da arquitetura, no surgimento de uma nova geração de arquitetos que posteriormente dariam origem ao movimento avant-garde japonês que revolucionaria o modo de pensar e planejar as cidades, chamado de Metabolismo. O objetivo em comum dos integrantes do Movimento seria a idéia de uma reconstrução total do Japão, a restruturação de suas cidades diante da tabula rasa que configurou-se no pós-guerra (Imagem 16), pensmento o qual foi diretamente influenciado pelas idéias de Kenzo Tange, que acabava de voltar do Ocidente após estagiar no escritório de Le Corbusier. 46


Imagem 16

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tange lab

“When we saw our national land turned into scorched earth with sporadic burnt concrete structures, we had a dream and hope of drawing a new city as if over a blank white sheet. But soon we learned that there’s a thick opaque layer of political, economic and social realities beneath the scorched earth of each city…” Kenzo Tange “Trajectory of Urban Design”, Shinkenchiku Agosto de 1971

ntre os anos seguintes à Segunda Guerra Mundial e o surgimento do Movimento Metabolista em 1960, o cenário arquitetônico do Japão foi dominado pela busca incessante por soluções emergenciais para a reconstrução das cidades e da identidade cultural da nação, ambas destruídas pela guerra. Nesse meio, concomitante ao despertar japonês para modernismo ocidental, surge a figura de Kenzo Tange, cuja criatividade, método de trabalho e organização profissional seriam, posteriormente, as bases para a configuração do Grupo Metabolista. Com o forte objetivo de mudar o papel do arquiteto na sociedade japonesa, inicia sua carreira internacional trabalhando estrategicamente em três escalas: publicamente, Tange torna-se o principal arquiteto modernista japonês de sua geração com o lançamento de seu Parque Memorial da Paz em Hiroshima, em 1955, projeto responsável por trazer visibilidade para a arquitetura do Japão em escala global e que virou referência para a geração de arquitetos japoneses dos anos 50; na Tokyo University,

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monta o Tange Lab, seu grupo de pesquisa na universidade no qual mentora e leciona figuras como Fumihiko Maki e Kisho Kurokawa, dois futuros integrantes do Metabolismo, e Arata Isozaki, com quem desenvolve importantes projetos especulativos caracteristicamente metabolistas (Imagem 18); em sua própria casa e na Tokyo’s International House, organiza grupos e comícios nos quais auxilia arquitetos e designers no desenvolvimento de sua identidade criativa, na tomada de senso do coletivo e os caminhos para impulsionar e lançar suas jornadas como profissionais. Como aponta Rem Koolhaas (KOOLHAS; OBRIST, 2011), apesar de sua fama internacional como “o arquiteto do Japão”, dedicou boa parte de seu tempo de atuação em ateliers auxiliando os jovens arquitetos que formariam a próxima geração da arquitetura japonesa, preparando-os para enfrentar o desafio da carreira internacional que tanto almejava. Nos anos passados em guerra, Tange dividiu-se entre o trabalho junto a Kunio Maekawa em seu escritório e na Tokyo

Imperial University, onde rapidamente tornou-se professor e desenvolveu o Tange Lab. Koolhaas ressalta que, no Japão, arquitetura é considerada uma ciência (rikei) e não uma forma de arte (bunkei); desse modo, o kenkyushitsu de Tange recebeu o título de laboratório e não de estúdio (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Aos poucos, importantes figuras e estudantes juntaram-se ao Tange Lab, como Takashi Asada e Sachio Otani, e o laboratório acaba por tornar-se um “formador” de pesquisadores e teóricos de arquitetura e planejamento urbano. Fazendo parte do War Recovery Institute, o grupo fez várias visitas á cidades mais devastadas durante a guerra - como Hiroshima, Wakkanai, Fukushima - com o objetivo de estudar as melhores estratégias para sua reconstrução; a maioria dos planos não chegam a ser realizados, mas já serviam como acervo teórico para futuras gerações. Nesse momento, pairava sobre os arquitetos uma certa frustração, uma vez que deparavam-se com a oportunidade única de projetar e planejar para verdadeiras “cidades

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Kenzo Tange

Imagem 18


tabulas rasas”, mas suas idéias ainda não vingavam ou faziam-se possíveis para a realidade do Japão. O primeiro contato de Tange com o mundo da arquitetura ocidental veio na forma de um convite para ele e Kunio Makeawa, por parte de Josep Lluís Sert - um dos arquitetos integrantes do estúdio de Le Corbusier para o encontro do Congrès Internationaux d’Architecture Moderne (CIAM), em junho de 1951 na cidade de Hoddeston, Reino Unido. A partir do evento, Tange passa a ser reconhecido internacionalmente e a representar a face da arquitetura japonesa no Ocidente. E essa inserção do Japão no mercado internacional de arquitetura levanta alguns questionamentos acerca da real influência que um movimento externo e radical exerceria sobre a cultura arquitetônica em um país derrotado pela guerra que tentava resgatar sua força como nação. Os principais debates arquitetônicos no Japão pós-guerra voltavam-se para aestética e identidade histórica (KOOLHAAS; OBRIST, 2011) - isso porque sua cultura

tradicional estava em risco de extinguir-se com a ocupação americana de 1945 a 1952. Tange, com sua popularidade internacional cada vez maior, ficou como o responsável em mediar o que ficaria do legado tradicional puramente japonês e o que seria absorvido das influências ocidentais que chegavam com força no país. Em 1955, publicou o artigo “How to understand modern architecture in Japan today - for the creation of tradition”, na revista Shinkenchiku - editada por Noboru Kawazoe, futuro integrante do Movimento Metabolista. No artigo, ele expõe sua opinião contrária à adequação da arquitetura japonesa ao estilo modernista por mera questão estética - como uma pátina - ou por mistura do tradicional japonês com o moderno ocidental (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Mostrou-se, dessa forma, como um grande defensor de pensar a tradição como um modo de inovação. E mesmo quando inserido em um contexto de extrema exploração do modo de produção modernista, altamente tecnológica e avant-garde, durante a segunda metade do

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século XX, ainda defende o tradicionalismo em sua arquitetura. Por consequência, esse pensamento de tentar mediar o tradicional com o moderno acaba por muito influenciar o pensamento do Grupo Metabolista, uma vez que seus membros foram todos praticamente discípulos ou colegas de trabalho de Tange. O passo final para o reconhecimento internacional do Japão como uma potência (arquitetônica) talvez tenha sido a participação de Tange no décimo primeiro e último encontro do CIAM, onde ele apresenta seu Plano de reforma para Tóquio após a destruição da guerra. Segundo Reyner Banham, o projeto configurou a primeira manifestação gráfica de uma megaestrutura, onde ele propõe o avanço em mar do tecido urbano, organizado por um eixo principal e monumental, do qual ramificam-se os eixos de habitação e comércio. Em 1959, reunidos em um grupo de 43 arquitetos de diferentes nacionalidades e culturas em Otterlo, na Holanda, o evento marca a dissolução do CIAM perante a discordância entre eles a respeito do rumo sociológico e tecnológico da arquitetura

moderna, um movimento que culminou na criação do Team X, do qual Tange fazia parte (Imagem 19). Um ano após o encontro, e na tentativa de trazer o espírito internacional de volta a Tóquio, ele propõe que a cidade seja a sede da World Design Conference, do qual faziam parte importantes arquitetos modernistas como Lous Khan, Peter Smithson, Ralph Erskine, e onde formaram-se os primeiros burbúrios a respeito do Metabolismo. Logo após a conferência, o Grupo Metabolista divulgaria seu primeiro manifesto em 1960, mudando o rumo da arquitetura japonesa no conturbado pós-guerra, sempre sob a orientação e influência das idéias de Kenzo Tange, apesar de ele sempre negar sua participação no mesmo.

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George Candilis

Alison Smithson

Imagem 19


Kenzo Tange Aldo van Eyck


Imagem 20


PA R T E D O I S

M E TA B O L I S M O R E V I S I TA D O

o Japão em 1960 o Japão em 1970


o nascimento do Movimento

visibilidade internacional que o Japão ganharia em 1960, após a participacão de Kenzo Tange com o Plano para Tóquio na reunião do Team X (Imagem 20) e sediar a WoDeCo, foi o pretexto para a formação de uma nova frente arquitetônica no país. Coordenando o cenário da conferência direto dos laboratórios do MIT em Boston, Tange confere à Takashi Asada, seu braço direito no Tange Lab, o cargo secretário geral da WoDeCo e a missão de reunir arquitetos e designers para participar do evento. Em uma espécie de “caça de novos talentos”, Asada e Kawazoe reúnem jovens arquitetos para intensas discussões e conversas sobre o tradicionalismo da arquitetura japonesa e os meios de adaptá-la no cenário moderno internacional. Percebe-se, nesse momento, uma movimentação cultural e filosófica mais profunda; e quando o próprio Kawazoe

apelida essa nova reunião de “Metabolismo”, nascia o movimento de renovação da arquitetura japonesa tão almejado por Kenzo Tange. Formalmente, a primeira contribuição do recém-formado grupo vem na forma de um manifesto que reuniu seus principais conceitos (renovação, especulação em solos artificiais, group form, adaptabilidade): Metabolism 1960: The Proposal for New Urbanism. Apesar de ser um grupo de manifestação não-autorizado, conseguiram manter suas idéias frescas na mente dos arquitetos da conferência com a ajuda de Tange e Asada (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Sob os olhos de 227 arquitetos internacionais e alguns importantes membros do movimento moderno ocidental - Jean Prouvé, Paul Rudolph, Alison e Peter Smithson, Louis Khan, Ralph Erskine -, os arquitetos Fumihiko Maki, Kisho Kurokawa, Kiyonori Kikutake e Masato Otaka, juntamente com o designer industrial Kenji Ekuan, sobre a “curadoria” de Noboru Kawazoe, apresentam-lhes suas propostas para uma nova visão de arquitetura e

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urbanismo. A partir de então, edificações e cidades deveriam ser capazes de adaptar, crescer, elevar ou até mesmo flutuar se assim fosse necessário diante das pressões da rápida modernização e inevitáveis mudança na natureza de seu território (KOLHAAS; OBRIST, 2011). Cristalizam-se, nesse momento, os membros do Grupo Metabolista. As idéias do Movimento Metabolista sempre estiveram conectadas com os acontecimentos no restante do mundo, sobretudo as soluções arquitetônicas encontradas tanto pelo enorme acervo modernista, como pelo anseio à utopia especulativa em meio ao cenário distópico do pós-guerra mundial. No início de suas carreiras ainda na década de 50, por exemplo, obcecados em pensar no tradicionalismo japonês em meio à pressão da contemporaneidade - e o possível futuro de sua nação -, Tange, Kurokawa e Maki viajaram o mundo movidos pela curiosidade e em busca de inspiração para a formulação de suas teorias acerca de arque-tipo (group form, no caso de Maki) e

futurismo especulativo (soluções em urbanismo aquático, no caso de Tange). Nesse contexto, é válido destacar o particular interesse de Tange pelos acontecimentos na arquitetura brasileira nessa década, sobretudo com a construção de Brasília. Em 1957, realizou uma visita à cidade ainda em construção para analisar mais de perto o nascimento do que seria uma das únicas experiências concretizadas nos moldes de urbanismo utópico. A World Design Conference em 1960 (Imagem 21), de certa forma, funcionou em uma espécie de movimento contrário à “migracão” dos arquitetos japoneses - ela levou os olhos do exterior ao país, e foi o momento em que o mundo parou para prestar a devida atenção nas propostas para a arquitetura e urbanismo do Japão. E como mencionado anteriormente, esse era um dos anseios de Kenzo Tange, priorizar a arquitetura e o pensamento japoneses na formação de uma cultura arquitetônica moderna caracteristicamente do Japão e feita no Japão. 59


Apesar de não estar presente fisicamente no país, Tange caracterizava-se como o líder de sua geração de arquitetos e o único capaz de mobilizar os círculos sociais da arquitetura e do design para participar de uma conferência mundial sediada em território japonês pela primeira vez (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Assim, empenhou-se em concretizá-la trabalhando nos bastidores da organização, enquanto dava aulas no MIT em Boston. Na tentativa de juntar os dois eventos mundiais direcionados à propagação das idéias e filosofias de design, arquitetura e urbanismo, tentou um diálogo com os membros da International Conference in Aspen (IDCA) realizada em 1956, na qual a WoDeCo baseou-se em estrutura de atuação. Ao mesmo tempo, no Japão, um complexo sistema de liderança começou a cristalizar-se diante da tomada de consciência dos japoneses de que um cenário internacional chegava ao país. Este, portanto, seria o momento perfeito para o lançamento de um Movimento Moderno de caráter estritamente japonês. Sob o comando

a distância de Tange, Takashi Asada e Noboru Kawazoe ficam com a missão de reunir o grupo de talentos emergentes no contexto arquitetônico do Japão. Engajando políticos, burocratas, empresários, jornalistas e acadêmicos pelo dia, e articulando um movimento de avant-garde pela noite, Asada conseguiu finalmente juntar os membros de seu comitê de atuação na WoDeCo, cinco dos quais posteriormente dariam origem ao Grupo Metabolista. Kawazoe deixa o cargo de edição da revista Shinkechiku em 1957, a revista de arquitetura mais importante do Japão até então. Asada, à pedido de Tange, transfere ao editor a missão de “caça-talentos” para a WoDeCo de 1960. Kikutake já reconhecido pelo seu projeto da Sky House de 1958, formenta especulações acerca do urbanismo em água e em terrenos artificiais, como sua Marine City. Otaka passava a maior parte de seus dias supervisionando a construção do Tokyo Cultural Hall e Harumi High Apartments, de Maekawa, em 1958; à noite, encontrava-se com o restante dos membros

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de seu novo grupo. Maki era professor da Washington University; realizou importantes estudos acerca de padrões urbanos na Ásiae Oriente Médio em1958, os quais levou até os colegas de conferência em 1960 e aprofundou suas idéias juntamente a Otaka. Kurokawa, membro do Tange Lab e em estado de desilusão após uma visita à União Soviética em 1958 e a dissolução do CIAM um ano depois, torna-se o integrante problematizador do Grupo, apresentando sua proposta para a Agricultural City na WoDeCo (Imagem 21). É válido mencionar que, apesar de a produção arquitetônica caracteristicamente mebatabolista ser principalemente atribuída aos nomes citados, vários outros importantes arquitetos individualmente constribuíram de forma indireta para a consolidação do movimento, seja seguindo/sendo influenciado por suas ideologias (como Sachio Otani), ou propondoalternativas as soluções metabolistas (como Arata Isozaki). A motivação inicial do grupo foi a procura por soluções para as crises urbanas causadas pelo grande crescimento

econômico do país e a situação inconstante do arquipélago japonês, sempre vulnerável a eventos naturais de grande escala de destruição. Encontram nos precedentes históricos japoneses - sobretudo a reforma cíclica do Ise Shrine e o crescimento em módulo do Katsura Detached Palace - a inspiração para mudar o rumo da arquitetura no Japão. O termo metabolismo é de origem biológica, e foi primeiramente pronunciado por Kawazoe para definir o nome do recém formado grupo; descreve as reações catabólicas e anabólicas que ocorrem em um ser vivo. No meio arquitetônico, foi primeiramente utilizado por Ernest Burgess em seu artigo “The Growth of Cities”, publicado em 1925 no livro “The City”. Como a cidade comportava-se semelhante a um organismo, em constante mudanças, sua natureza seria sempre um ciclo de renovação e desintegração de suas partes. Como observa Meike Schalk (2014), Movimento carregava essa conotação universal científica presente em seu nome. O principal conceito trazido pelos

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Kisho Kurokawa

Imagem 21


membros do Movimento é a reorganização da relação entre sociedade e indivíduos. Acreditavam que um planejamento compreensivo poderia libertar e reestruturar uma nação inteira — a dissolução da cidade em células corresponde à quebra da estrutura patriarcal familiar e fortalece o indivíduo enquanto membro de uma comunidade (SCHALK, 2014). Kawazoe tomou a frente do grupo e lança os preceitos para a fundação do Metabolismo um mês antes do início da conferência de 1960. Não obstante às idéias da tabula rasa ocidental, apresentou o conceito de solo artificial (jinko tochi) derivado da idéia dos modernistas e comum aos trabalhos multidisciplinares que seriam realizados pelos Metabolistas. Já que o Japão não possuía uma tabula rasa que sustentasse seus projetos e especulações, o Metabolismo iria adaptar e construir seu próprio terreno a partir de então. O plano de Kawazoe tornou-se um espécie de preparatório para o passo seguinte, com a compilação de trabalhos/projetos já realizados por ele,

Kikutake e Kurokawa, e contribuições posteriores de Maki e Otaka com seu conceito a respeito da group form. Ainda que nunca descrito como tal, o lançamento do livro Metabolism 1960 e seu forte discurso de renovação da arquitetura lhe confere a característica de manifesto, sobretudo na forma como foi escrita sua introdução (Imagem 23). Com 89 páginas e 2 000 impressões iniciais, o livro começou a ser vendido na entrada do Sankei Kokusai Hall, palco da WoDeCo em Tóquio. Os seis autores finalmente colocavam o Metabolismo no cenário internacional. Nas palavras de Kawazoe para a introdução:

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Imagem 22


’Metabolism is the name of the group in which each member proposes future designs of our coming world through his concretedesigns and illustrations. We regard human society as a vital process — a continuos development from atom to nebula. The reason why we use such a biological word, metabolism, is that, we believe design and technology should be a denotation of human vitality. We are not going to accept the metabolism as a natural historical process, but we are trying to encourage active metabolic development of our society through our proposals.’

(KAWAZOE apud KOOLHAAS; OBRIST, 2011, p.187)


Durante a conferência, porém, os Metabolistas apresentaram-se mais como teóricos individuais do que como um grupo que acabava de lançar seu manifesto no cenário arquitetônico japonês. E mesmo dispersos, os seis integrantes obtiveram a visibilidade internacional almejada desde o início — Kikutake e Kurokawa, por exemplo, são recomendados para a exposição “Visionary Architecture” de Arthur Drexler no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova York, em 1960, no qual apresentam seus projetos especulativos para Marine City (Kikutake/Imagem 23) e Agriculture City (Kurokawa/Imagem 24), ambos presentes em detalhes no Metabolism 1960. Pode-se dizer, portanto, que o Metabolismo, um movimento estritamente japonês, acabava de entrar no contexto internacional avant-garde. Finalmente, pode-se dizer que o Movimento não buscou apenas reorganizar o cenário arquitetônico do Japão, fragilizado com a guerra e tentando fortalecer-se em meio a influências ocidentais. Foi também uma expressão de crítica (SCHALK, 2014). A área sócio-política do país é acusada de

falhar em adaptar-se ao rápido crescimento econômico e utilizar seu poder de forma não-transparente. Tange e o Metabolistas, portanto, buscavam na essência criar um conceito que conseguisse sustentar a regeneração do Japão após a guerra propunham o aceite de que o país encontrava-se em um marco zero a partir de então, criando um elo orgânico entre a manifestação da cultura tradicional e os indivíduos que se identificam com ela. O principal objetivo dos Metabolistas seria a obtenção de um ambiente democrático de igualdade de direitos à moradia; e acreditavam firmemente no poder transformador da tecnologia para tal (TAMARI, 2014). Ao mesmo tempo, porém, percebe-se que a dinâmica de funcionamento e organização de uma megaestrutura, elemento no qual baseiam a maior parte de seus projetos, requer caráter centralizador e planejado do poder, contradizendo a filosofia de seu pensamento com a emergência de sua atuação. ____

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Imagem 23

Imagem 24


Takashi Asada

Kiyonori Kikutake Kisho Kurokawa

Noboru Kawazoe

Imagem 25


os Metabolistas (e agregados)

s seis figuras mencionadas ficaram a frente do movimento em 1960, ganhando maior visibilidade ora por sua popularidade internacional e nacional já consolidadas, ora pela produção e atuação durante a WoDeCo e no cenário da arquitetura japonesa. Os mais reconhecidos projetos japoneses desse período de avant-garde geralmente levam o nome de algum dos quatro arquitetos (Otaka, Maki, Kikutake e Kurokawa), os quais tiveram Kenzo Tange como maior mentor e influenciador, visto que todos tiveram um breve período de atuação no Tange Lab antes de dar início aos trabalhos Metabolistas. O Movimento, porém, não resumiu-se aos “grande quatro” — muitos outros arquitetos, tanto no mesmo período, como posterior ou anterior a ele, são válidos de serem mencionados pela sua contribuição no

conjunto. Alguns negavam a estética metabolista, outros procuraram segui-la fielmente por acreditarem no anseio na reestruturacão japonesa através da arquitetura, enxergando-a como meio e não como fim. Seja em forma de estudos teóricos (Arata Isozaki), idéias (Kenzo Tange) ou projetos (Sachio Otani), as contribuições desses arquitetos para o Moviemento Metabolista estão em número considerável, e mostraram uma outra face do movimento. Observa-se, desse modo, que houveram contribuições e circunstâncias externas a esse círculo social que auxiliaram na publicação do manifesto, o qual gerou suas próprias ramificações.

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PREDECESSORES TA N G E + C O L A B . TANGE LAB+ AGREGADOS

Yoshikazu Uchida 内田祥三 (1885—1972) arquiteto

Hideto Kishida 岸田日出刀 (1899–1966) arquiteto

Junzo Sakakura 坂倉準三 (1901–1969) arquiteto

Kunio Makeawa 前川國男 (1905—1986) arquiteto

Eika Takayama 高山英華 (1910—1999) urbanista

Hisaakira Kano 久朗 加納 (1886–1963) burocrata

Isamu Noguchi イサム ノグチ (1904–1988) artista

Taro Okamoto 岡本太郎 (1911–1996) artista

Kenzo Tange 榮久庵憲司 (1913–2005) arquiteto

Takashi Asada 浅田孝 (1921–1990) arquiteto

Mamoru Kawaguchi 川口衛 (1932–) engenheiro estrutural

Atsushi Shimokobe 下河辺淳 (1923–2016) burocrata

Sachio Otani 大谷幸夫 (1924–2013) arquiteto

Akira Tamura 田村 明 (1926–2010) urbanista

Kiyoshi Awasu 粟津潔 (1929–2009) designer gráfico

Kenji Ekuan 榮久庵憲司 (1929–2015) designer industrial 70


METABOLISTAS COLABORADORES COMENTARISTAS

Masato Otaka 大高正人 arquiteto (1923—2010)

Noboru Kawazoe 川添登 jornalista (1926—2015)

Fumihiko Maki 槇文彦 arquiteto (1928—)

Kiyonori Kikutake 菊竹清訓 arquiteto (1928—2011)

Kisho Kurokawa 黒川紀章 arquiteto (1934–2007)

Arata Isozaki 磯崎新 (1931–) arquiteto

Shomei Tomatsu 東松照明 (1930–2012) fotógrafo

Isamu Noguchi イサム ノグチ (1904–1988) artista

Arata Isozaki 磯崎新 (1931–) arquiteto

Hiroshi Hara 原広司 (1936–) arquiteto

Charles Jencks (1939–) arquiteto e escritor

Toyo Ito 伊東豊雄 (1941–) arquiteto

Takashi Onishi 大西隆 (1946–) urbanista

Hajime Yatsuka 八束はじめ (1948–) arquiteto e crítico

Akira Asada 浅田彰 (1957—) crítico e curador

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Masato Otaka 大高正人 1923 nasce em Fukushima 1947 graduado em Arquitetura pela Tokyo University 1948 começa a trabalhar no escritório Maekawa Kunio Associates, Architects & Engineers 1960 selecionado por Kawazoe para participar da World Design Conference, onde conhece os futuros colegas metabolistas; em parceria com Fumihiko Maki, contribui para o manifesto Metabolism 1960 com seu plano para a estação de Shinjuku em Tóquio, baseado no conceito desenvolvido pela dupla acerca de group form 1962 abre seu próprio escritório em Tóquio, onde desenvolve sua arquitetura baseado em conceitos de mescla entre pré-fabricação, arte e arquitetura 1964 escreve a continuação de sua teoria acerca do conceito de group form junto com Maki, onde detalham e expõe melhor suas teorias 1965 projeto Sakaide Housing Complex — reestruturação urbana em artificial ground, um dos principais conceitos ditados pelos metabolistas 1966 desenvolve uma proposta para o Tochigi Prefectural Council Building 1969 desenvolve o projeto para a Chiba Prefectural Library marcando o começo de sua nova fase na arquitetura 1980 projeto para o Museu Histórico da Prefeitura de Gunma, em Takasaki 1984 projeto para o Museu de Arte Moderna em Kamakura 2010 falece aos 87 anos

Imagem 26 72


Noboru Kawazoe 川添登 1926 nasce em Tóquio 1953 graduado pela Waseda University 1955 torna-se o editor-chefe da revista japonesa Shinkenchiku 1958 inicia seus trabalhos nos preparativos para a World Design Conference em Tóquio junto com Takashi Asada, recrutando jovens arquitetos e designers para participarem 1960 trabalha como membro do comitê executivo na WoDeCo; contribui para o lançamento do livro-manifesto Metabolism 1960, lançando o movimento no cenário internacional; publica os artigos Kenchiku-no-metsubou (“A extinção da arquitetura”) e Tami-no-kami-no-sumai (“Casa para deuses e pessoas”) 1962 trabalha na publicação do Metabolism 1965, segundo livro do Movimento Metabolista, o qual nunca chegou a ser terminado 1967 torna-se sub-produtor para a Expo ’70 1968 funda a Japan Futurology Academy, da qual também passou a fazer parte; viaja o mundo junto com Maki, Kurokawa e Ekuan convidando diversos arquitetos para a Expo ’70 1973 participa do ritual de reconstrução do Ise Shrine 1977 Atsushi Shimokobe, membro do National Land Planning Agency, recruta o CDI para iniciar um grupo de pesquisa 1981 cria o Keikaku Rengo com colegas Metabolistas para iniciarem o planejamento da Tsukuba Science Expo, última manifestação oficial do Movimento Metabolista 2007 publica o livro de sua história no Japão, denominado “Ise Jingu: A Temple of Forest and Peace” 2015 falece aos 89 anos

Imagem 27 73


Fumihiko Maki 槇文彦 1928 nasce em Tóquio 1952 graduado pela Tokyo University, onde fez parte do Tange Lab antes de migrar para o Cranbrook Academy of Arts, em Michigan 1959 junta-se aos Metabolistas e inicia o desenvolvimento de seu projeto para o Plano de Shinjuku, em parceria com Otaka 1960 participa da World Design Conference em Tóquio; publica “Group Form” junto a Otaka no manifesto Metabolism 1960; conclui seu projeto para o Toyoda Memorial Hall na Nagoya University; participa do encontro do Team X na França 1962 torna-se professor associado no departamento de design urbano em Harvard 1964 elabora as idéias acerca do conceito de group form no seu livro Investigations in Collective Form, novamente em parceria com Otaka 1965 abre seu próprio escritório na capital 1967 início do projeto para Hillside Terrace, em Tóquio 1968 desenvolvimento das Golgi Structures 1970 finaliza o projeto para o Senri Civic Center Building, em Osaka; apresenta as instalações de suas Golgi Structures na Expo ’70 1985 publica Miegakure-suru toshi (“Cidade que aparece e desaparece”); realiza projeto para pavilhões internacionais na Tsukuba Expo ’85 1986 realiza o projeto para o National Museum of Modern Art de Kyoto 1993 ganha o prêmio Pritzker 2004 convidado a projetar o novo edifício da ONU UN5, em Nova York 2010 finaliza o novo edifício para o Media Lab do MIT.

Imagem 28 74


Kiyonori Kikutake 菊竹清訓 1928 nasce em família latifundiária em Kurume, Kyushu 1950 graduado pela Waseda University; começa a trabalhar para a Takenaka Komuten, uma das cinco maiores construtoras japonesa 1953 abre seu próprio escritório em Tóquio, trabalhando em projetos de reconstrução do pós-guerra, habitação social coletiva 1958 inicia seus estudos acerca da Marine City e Tower-Shaped Community, ambas propostas em solo artificial (água) 1959 entra para o Grupo Metabolista; Tange apresenta seu projeto para a Marine City no CIAM de Otterlo 1960 apresenta a Marine City e a Sky House no manifesto Metabolism 1960, durante a World Design Conference em Tóquio e na exposição “Visionary Architecture” no MoMA de Nova York 1966 conclui o projeto para o Pacific Chigasaki Hotel, uma tradução factível de sua Tower-Shaped Community 1969 publica o Taisha Kenchikuron (“Discurso sobre arquitetura metabólica”) 1970 ganha o prêmio do Architectural Institute of Japan pelo projeto da Expo Tower da Expo ’70 1972 ingressa o grupo de pesquisa do primeiro ministro Tanaka para um plano de reforma nacional 1985 desenvolve projetos para pavilhões da Tsukuba Expo ’85 1993 projeto para Edo-Tokyo Museum e proposta para a Linear City 1998 fica soba direção dos estudos acerca do “Hyperbuilding”, um tipo de arquitetura de grande escala e altura em solo artificial 2011 falece aos 83 anos.

Imagem 29 75


Kisho Kurokawa 黒川紀章 1934 nasce em Nagoya 1945 presencia a rápida e total destruição de Nagoya durante o bombardeio dos norte-americanos na Segunda Guerra Mundial 1957 graduado pela Kyoto University, junta-se ao Tange Lab em Tóquio 1959 publica o New Tokyo Project: Human Type Plan na revista Kenchiku Bunka; a pedido de Tange, auxilia Kawazoe e Asada na organização da World Design Conference; associa-se aos Metabolistas logo em seguida 1960 participa da WoDeCo e na exposição “Visionary Architecture” no MoMA de Nova York, assim como Kikutake; publica seu primeiro livro “Prefabricated House” 1961 propõe a Helix City no Plano para Tóquio 1962 abre seu próprio escritório 1963 finaliza seu primeiro projeto: Nitto Food Cannery 1964 inicia seu doutorado no Tange Lab 1970 desenha o projeto para três pavilhões da Expo ’70, em Osaka 1972 projetos em cápsula: Nakagin Capsule Tower, Capsule Summer House K e Capsule Village Proposal 1976 projeto para Capsule Tower em Osaka 1977 projeto para o National Museum of Ethnology 1985 desenha cinco pavilhões para a Tsukuba Expo ’85 1988 realiza o projeto para o Hiroshima City Museum of Contemporary Art 2007 população de Tóquio lança a proposta para demolição de seu Nakagin Capsule Tower; lança sua campanha para governador de Tóquio; falece aos 73 anos

Imagem 30 76



Imagem 31


PA R T E D O I S

M E TA B O L I S M O R E V I S I TA D O

o Japão em 1960 o Japão em 1970


Expo ‘70

O anseio do Japão em sediar uma exposição de cunho internacional remete aos anos 1940, no auge de sua tardia corrida imperial. Nesse contexto, a Expo ’70 em Osaka representou algo diferente: levando em consideração as Olimpíadas de 1964 em Tóquio, ela marcou a tão almejada ascensão do orgulho japonês após a derrota na Segunda Grande Guerra, e sua rápida reabilitação econômica, o “milagre econômico” o qual tornou-lhe o país mais rico do mundo na segunda metade do século XX. Isso exprime claramente a gradual mudança no poder cultural do Ocidente para o Oriente. A Expo ’70 também marca o auge do Movimento Metabolista (KOLHAAS; OBRIST, 2011); a maioria dos projetos para pavilhões e instalações/estrutura da exposição ficam à cargo do Grupo: Kikutake desenvolve o projeto para a Expo Tower (Imagem 31),

Ekuan desenvolve e orienta a produção do material gráfico, Otaka propõe a abertura de um módulo de transporte em solo artificial. Kurokawa projeta em dois pavilhões (Takara Pavillion/Imagem 32) enquanto Tange e Kawazoe trabalham novamente na organização geral do evento. Comissionados pelo governo e patrocinados por empreendedores privados — fatores que iriam desaparecer após o fim da exposição —, os Metabolsitas enxergam no internacionalismo do evento a nova oportunidade de ganharem mais visibilidade; e como tinham recursos suficientes, realizam e idealizam suas mais pretensiosas propostas, as quais carregariam os principais conceitos filosóficos do Movimento e sem a carga de perdurarem como estrutura por muito tempo. Como observa Koolhaas (KOOLHAAS; OBRIST, 2011), do mesmo modo que a Expo ’70 caracterizou-se como o auge, representou também o início do declínio. Foi a manifestação mais intensa e ideologicamente rica das idéias Metabolistas antes que a crise do petróleo embargasse a

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efervescente economia do Japão pela primeira vez desde 1945, abolindo a utopia e o sonho por tempo indeterminado. Além disso, o contexto comercial da arquitetura começa a modificar-se nos anos 70, dando aos Metabolistas a competitividade de mercado que não lhes interessava até então, mas que se fazia necessário a fim de concretizar sua filosofia e deixar sua marca na realidade arquitetônica japonesa. ____

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Takara Pavillion

Imagem 32



Imagem 33


PA R T E T R Ê S

D O C O N C E I T O À M AT É R I A

catálogo de projetos: utopia versus construção


pós o fim da Conferência de 1960 que deu origem ao Metabolismo, o grupo passou a receber cada vez mais visibilidade, chamando a atenção por suas ambiciosas propostas e grande comissão para a relização de projetos, sobretudo individualmente. Apesar de o segundo manifesto não vingar (idealizado por Kawazoe em 1965), os membros do movimento não pararam sua produção, ora em pequenas alianças em seus escritórios, ora como time completo — expuseram suas idéias em uma exposição em Tóquio no ano de 1962 (da qual Tange também faz parte), juntaram-se para participar do concurso da ONU para Lima em 1969, organizaram e comissionaram os projetos da Expo ’70 em Osaka, e posteriormente da Tsukuba Expo ’85. Nessa dinâmica de trabalhos individuais versus projetos em equipe, fica difícil perceber o quão sistematizada foi a pesquisa desenvolvida pelo grupo. O acervo de suas propostas, tanto do lado material (construído) como do plano conceitual (utópico), é enorme e extremamente diverso.

São projetos: habitação individual, habitação coletiva, complexos habitacionais, habitação móvel, arquitetura comercial, arquitetura industrial, arquitetura monumental, arquitetura olímpica; pavilhões; parques, urbanismo especulativo, planejamento urbano, projeto de pequenas vilas, projeto quadras residenciais, planos de, reforma urbana, planos urbanos em tabula rasa, propostas urbanas verticais, etc. As classificações são inúmeras; a fim de estudar mais a fundo as caraceríticas comuns e divergentes entre os projetos, foram adotadas estratégias de organização dessas obras semelhante à desenvolvida por Koolhaas e Obrist em “Project Japan: Metabolism Talks…”. No livro, os autores utilizam como categorização geral das obras o quesito territorial, o tipo de solo (artificial ou não) no qual se pensou o projeto. Assim, eles dividem as obras relacionadas em

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on the land, on the sea, in the air, ou em português — “em terra, no mar e no ar” (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Projetos on the land são dividos em capsules (projetos em cápsula), ground/artificial ground (sítio existente/sítio utópico), proliferation/colonization (proliferação/colonização), e group form (forma grupal); Projetos on the sea são identificados apenas em floating cities (cidades flutuantes); Projetos in the air são dividos entre unicore/joint core (núcleo único/conjunto de núcleos) e megaforest (megaflorestas). O foco desse estudo, porém, encontra-se na dissociação dos projetos que foram efetivamente construídos e os que permaneceram apenas como processo especulativo. Busca-se, dessa forma, entender o porquê de ambas as circunstâncias existirem, as consequências do grande poder imaginativo e da ambição dos arquitetos japoneses, e o que de fato significou o Metabolismo no processo de amadurecimento da arquitetura no país; ou

seja, seu legado. Inspirado no preceito científico que o próprio nome do Movimento carrega,enxerga-se o apanhado de projetos como um laboratório de testes e “catalogação de espécies”, no qual experimentou-se em cima de um grupo de amostras de projetos (de acordo com a disponibilidade bibliográfica) para tentar desvendar as características dos projetos do Movimento como um todo. Desse modo, além de apoiar-se na didática classificação geral de Koolhaas e Obrist, optou-se também por acrescentar diferenciações de classe de projeto (arquitetura versus urbanismo) e de tipologia da obra (habitação versus comercial, planejamento urbano versus verticalização, etc.), além de identificar se foram materializados ou se permaneceram na utopia no campo conceitual. O resultado final da classificação apresenta-se em formato de linha do tempo em tabela de pixels, facilitando a reprsentação visual e gráfica dos dados coletados. Do catálogo serão extraídos os dados para a formulação da

86


CT

UT

AQ

quando existente, encontram-se em itálico e entre chaves. Em esquema resumido, tem-se:

UB

conclusão crítica em quantificação de “espécies” de projetos. Finalmente, a fim de entrar mais fundo na classificação, sendo portanto mais sistematizado, limitam-se os recortes autoral, temporário e regional para escolha das obras. Assim, foram selecionados apenas projetos idealizados por arquitetos japoneses, realizados/pensados no Japão, entre os anos 1960-80. Optou-se por excluir da amostra os pavilhões feitos para a Expo ’70, uma vez que a característica efêmera destas propostas, apesar de importantes manifestações enquanto arquitetura metabólica, fogem do objetivo do estudo. Para facilitar a visualização rápida e direta da classificação principal adotada neste trabalho, utilizou-se um esquema de cores frias versus cores quentes. As classes de projeto — urbanismo (UB) e arquitetura (AQ) — encontram-se em cores frias e a classificação quanto ao fim dado ao projeto — projetos utópicos (UT) e projetos construídos (CT) — encontram-se em cores frias. A classificação mais específica derivada do método de Koolhaas e Obrist,

DATA

Nome do projeto Autor

{classificação segundo Koolhaas e Obrist} especificação

87


ON THE LAND

ON THE SEA

IN THE AIR

88


ON THE LAND, ON THE SEA, IN THE AIR 89

Kisho Kurokawa

Kisho Kurokawa

Fumihiko Maki, Masato Otaka

Shinjuku Project

Arata Isozaki

Iwata Girls High School

Fumihiko Maki

{proliferation/colonization} planejamento urbano

Kisho Kurkawa

Arata Isozaki

Linear City: Metamorphosis

1965

{-} residência unifamiliar

Nakayama House

{-} arquitetura institucional

Yoyogi National Olympic Gymnasium

{group form} planejamento urbano

K-Project

1964

{-} arquitetura escolar

Kenzo Tange

Kiyonori Kikutake

{ground} arquitetura institucional

Izumo Shrine Building

{proliferation/colonization} arquitetura industrial

Nitto Food Cannery Kisho Kurokawa

1963

{capsules} conjunto de habitação unifamiliar

Box-Type Apartments Kisho Kurokawa

1962

{group form} reforma urbana

{ground} planejamento urbano

Agricultural City

{ground} residência unifamiliar

Mushroom House

{artificial ground} arquitetura comercial

World Health Organization Kenzo Tange


ON THE LAND, ON THE SEA, IN THE AIR 90

Kisho Kurokawa

Kiyonori Kikutake

{proliferation/colonization} planejamento urbano

Capsule Village

{artificial ground} reforma urbana

Stratiform Structure Module

{capsules} residĂŞncia unifamiliar

Capsule Summer House K

1972

Kisho Kurokawa

Kisho Kurokawa {capsules} residĂŞncia unifamiliar

Moving Capsule

1970

Masato Otaka Fumihiko Maki

{group form} complexo habitacional

Hillside Terrace

{ground} arquitetura comercial

Odakyu Drive-in Restaurant

1969

{ground} complexo habitacional

Sakaide Artificial Ground

Masato Otaka

Kiyonori Kikutake

{ground} arquitetura institucional

Kodomo-no-kuni

{artificial ground} planejamento urbano

Kisho Kurokawa

Kiyonori Kikutake

Akira Shibuya

Yamagata Hawaii Dreamland

1967

{-} arquitetura insttuicional

Miyakonojo Civic Center

{-} planejamento urbano

Urban Megaestructure

1966


ON THE LAND, ON THE SEA, IN THE AIR 91

Fumihiko Maki

Osaka Prefectural Sports Center

Kenzo Tange

Minoru Takeyama

{-} arquitetura institucional

Osaka Museum of Ethnology

1975

{-} arquitetura insttuicional

Kisho Kurokawa

Fumihiko Maki

Okinawa National Aquarium

{-} arquitetura insttuicional

Arata Isozaki

Arata Isozaki

Gunma Museum of Fine Arts

{-} arquitetura insttuicional

Kitakyushu Municipal Museum of Art

{-} arquitetura escolar

Oran Univertsity

1975

{-} complexo habitacional

Housing Collective

{-} arquitetura insttuicional

Gunma Museum of Fine Arts

{-} arquitetura insttuicional

Arata Isozaki

Fumihiko Maki

{-} arquitetura escolar

Kato Gakuen Elementary School

1974


ON THE LAND, ON THE SEA, IN THE AIR 92

Kiyonori Kikutake

Kiyonori Kikutake

Kiyonori Kikutake

Kisho Kurokawa

{floating cities} planejamento urbano

Floating Factory

1969

{floating cities} planejamento urbano

Marine City

{floating cities} planejamento urbano

Shallow Sea-Type Community

1963

{floating cities} planejamento urbano

Ocean City

{floating cities} planejamento urbano

Floating City Kasumigaura Kisho Kurokawa

Kiyonori Kikutake

{floating cities} planejamento urbano

Disaster Prevention City

1961


ON THE LAND, ON THE SEA, IN THE AIR 93

Kenzo Tange, Arata Isozaki

Kisho Kurokawa

Kiyonori Kikutake

Kiyonori Kikutake

Kiyonori Kikutake Kenzo Tange

Yoshinobu Ashihara Sachio Otani Arata Isozaki Kiyonori Kikutake

Chigasaki Pacific Hotel {-} arquitetural comercial

{unicore/joint core} arquitetura institucional

Oita Prefectural Library

{unicore/joint core} arquitetura institucional

Kyoto Conference Center

{unicore/joint core} arquitetura comercial

Sony Building

{unicore/joint core} arquitetura comercial

Yamanashi Broadcasting Center

{unicore/joint core} planejamento urbano

Tsukiji Plan

{-} arquitetural comercial

Tokoen Hotel

1964

{megaforest} planejamento urbano

Tetra Project

{megaforest} planejamento urbano

Ikebukuro Plan

1962

{megaforest} planejamento urbano

Helix City

1961

Kenzo Tange

Arata Isozaki

{unicore/jointcore} planejamento urbano

City in the Air, Shinjuku

{unicore/joint core} arquitetura comercial

Office Buildings

1960


ON THE LAND, ON THE SEA, IN THE AIR 94

{unicore/ joint core} arquitetura comercial

Osaka Sony Tower

1976

Kisho Kurokawa

Arata Isozaki

{-} arquitetura institucional

Oita Medical Hall

{-} complexo habitacional

Sachio Otani

Kisho Kurokawa

Yoji Watanabe

Kawasaki Kawaramachi Housing

{-} conjunto de habitação individual

Nagakin Capsule Building

1972

{-} conjunto de habitação unifamiliar

Shinjuku New Sky Building

1971

{{-} arquitetura comercial

Kenzo Tange

Arata Isozaki

Kiyonori Kikutake

Shizuoka Broadcasting Tower

{-} arquitetura institucional

Fukuoka Sogo Bank

{-} arquitetura comercial

Sado Grand Hotel

1967


ON THE LAND

19 3

32 projetos 27 de arquitetura 5 de urbanismo

8 2 ON THE SEA

IN THE AIR 20 projetos 5 de urbanismo 15 de arquitetura

14

6 projetos 0 de arquitetura 6 de urbanismo

1

6 5

95


ON THE LAND ON THE SEA IN THE AIR

21

6

Já para os projetos pensados em mar, conclui-se que todos os analisados possuem característica utópica e foram pensados em aplicação no urbanismo.

6

14

A partir dos gráficos, conclui-se que a maior parte dos projetos pensados em terra foram efetivamente construídos e classificam-se como arquitetura, enquanto uma pequena parte coube a projetos utópicos de maioria pensados em urbanismo.

6

No que diz respeito a projetos pensados em ar, a maior parte foi efetivamente construída e classifica-se como arquitetura; já os projetos utópicos são minoria, sendo a maior parte pensada para urbanismo. Apresentou situação semelhante aos projetos em terra, apesar de menor número de projetos analisados.

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C O NS I D E R AÇ Õ E S F I NAI S


Expo ‘85 e o fim do Metabolismo

uando o primeiro ministro Hayato Ikeda anunciou a aplicação do Income Doubling Plan em 1960, a década seguinte caracterizou-se por um grande crescimento econômico nunca visto na história da Japão, chagando a 10% em 1970. O problema encontrou-se na raridade da situação: foi o feito histórico de choque de prosperidade das campanhas de governo, balança comercial positiva e bom planejamento urbano/arquitetura. Isso despertou nos japoneses uma fé na permanência de crescimento e prosperidade no país; o Japão tornou-se uma potência mundial em questão de anos. Os americanos, ao observar no que seu inocente “patrocínio pós-guerra” levou, chamaram o fenômeno de “Japan Incorporated”; os japoneses chamavam apenas de inteligência. Por trás do boom do crescimento

econômico, o país ainda apresentava-se fraco em sua estrutura — o território japonês continuava instável, faltavam-lhes recursos naturais e espaço para abrigar a população, essa que por sua vez, continuava má distribuída entre os terrenos passíveis de serem habitados, além da concentração excessiva de pessoas nos seus centros urbanos. Esses problemas foram rapidamente mencionados no sistemático plano de reconstrução do Japão no livro “Archipelago: Project Japan”; os Metabolistas, tendo posteriormente lançado suas idéias para o urbanismo das cidades do país nos anos anteriores, enxergaram a oportunidade de aplicá-las, promovendo a tão almejada revolução urbana em escala nacional (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Em 1962, Atsushi Shimokobe também vê essa oportunidade, acreditando no boom do planejamento em larga escala em confluência com o boom do crescimento econômico. Assim, Shimokobe molda uma série de Planos de Desenvolvimento Nacional Compreensivos, onde convida célebres e renomados pesquisadores (incluindo os

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Metabolistas) para pensar e colocar em prática suas idéias como construtores do futuro da nação. A partir de então, arquitetos e burocratas apoiam-se em uma série de idéias alternativas para planejamento, projetos de grandes corporações de concreto e propostas visionárias para as cidades japonesas; mesmo os mais pretensiosos e utópicos pensamentos eram considerados a fim de solucionar o problema estrutural de sua nação. Shimokobe e os Metabolistas tornam-se dependentes uns dos outros quando seus interesses entram em convergência — com a missão nacional de descentralizar o Japão, começando com a desconfiguração do centro caótico em Tóquio e espalhamento da capital pelo arquipélago, Shimokobe necessita dos anseios e do otimismo do Grupo Metabolista para concretizar seus vários Planos de Desenvolvimento. Na procura para novas superfícies onde pudesse ocupar, o Ministério da Construção vê no urbanismo especulativo do Movimento de avant-garde uma nova chance para o Japão. Nas palavras do burocrata

Terumi Kitabake, “the idea of artificial land, which has been explored by well-known architects like Tange, Kikutake, Otaka and Maki, can indeed provide a solution that is neither utopian nor complacent but effective for urban problems…” (KITABAKE apud KOOLHAAS; OBRIST, 2011, p.666). Efetivamente, em 1963, o ministro funda o Artificial Land Sub-Comittee dentro do Instituto de Arquitetura do Japão. Sua missão era estabelecer estratégias de atuação alternativas — “on the land, on the sea, in the air” (KOOLHAAS; OBRIST, 2011) — para a situação de superpopulação dos centros urbanos, e para o solo fragmentado e e geologicamente instável do arquipélago. Takashi Asada toma frente do sub-comitê, do qual faziam parte Akira Tamura (EDC), nove membros do Ministério da Construção, e a dupla de Metabolistas Otaka e Maki, comandando os estudos acerca de estratégias em solo artificial. O primeiro projeto comissionado pelo conjunto tem autoria de Otaka, configurando a construção de um complexo habitacional suspenso em Sakaide (Kagawa Prefecture); o plano não é

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bem visto pela população, mas sua primeira etapa acaba sendo finalizada em 1968. Pesquisas a respeito de planejamento e construções em solo artificiais continuariam por mais duas décadas sob a assistência do governo, desesperado em achar soluções alternativas para o estado caótico e saturado do urbanismo japonês. Em 1977, Kikutake lança sua proposta na corrida no artigo “Stratiform Structural Model”, onde apresenta a construção de uma elaborada megaestrutura suspensa sobre os centros urbanos japoneses (Imagem 35). O embargo dessa breve e surpresa parceria entre governo e idéias avant-garde, porêm, passa por uma série de acontecimentos que dismistificam a prosperidade japonesa: após a Expo ’70, a crise do petróleo e a ascensão do minkatsu neoliberal na década de 80, a ambição dessa colaboração dos Metabolistas para com o futuro japonês começava a tomar um rumo mais pessimista, culminando no seu fim em 1985, após o desapontamento de Shimokobe com a Expo ’85 em Tsukuba. Quando o

burocrata aparece como produtor da exposição, ele recorre aos Metabolistas e lhes oferece o projeto para o masterplan do evento em forma de renewable city, conceito primordial para o Movimento. A primeira vez que todos os membros do Grupo trabalharam em um único projeto em conjunto e ao mesmo tempo, foi também sua última colaboração como Grupo Metabolista (KOOLHAAS; OBRIST, 2011). Como estratégia de garantir que suas idéias fossem executadas, os Metabolistas fundam sua própria construtora, denominada Keikaku Rengo (“União de planejamento”). Acabam sendo guiados pelo plano conceitual de Shimokobe: o projeto da exposição foi um laboratório — uma cidade puramente metabolista que se regeneraria constantemente ao longo dos anos após o fim da exposição; seria um projeto promovedor de intenso avanço tecnológico não apenas para interesse do Metabolismo, mas também em escala nacional. Em meio a organização da exposição e após a segunda crise do petróleo em 1979, o governo modifica sua estratégia de

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atuação, e revisa os privilégios (sobretudo econômicos) concedidos a Shimokobe e seu grupo de Metabolistas. Maki, Kikutake, Otaka e Kurokawa, que antes iriam atuar no masterplan da Expo ’85 (Imagem 36), ficam a cargo de projetar apenas alguns pavilhões individuais, os quais não chegam nem perto de atingir a monumentalidade de 1970 em Osaka; o plano de Kikutake para a implementação de sua Stratiform Structure (Imagem 35) em forma de um dos pavilhões também acaba sendo vetado. Quando o governo japonês anunciou o novo plano econômico minkatsu — “reorganizing urban space in pursuit of economic growth” — isso significava projetos de lei regulamentando construções e o planejamento urbano, privatização de indústrias nacionais e a abertura do mercado. Com o parcelamento de terras e a regularização de terrenos sob essa nova direção, chega a vez do boom da especulação imobiliária tanto nas cidades como no campo. O minkatsu serviu para intensificar a obsessão nacional com sua terra, expressada agora sobre a forma da bolha

imobiliária, sobretudo na década de 1990. Chega ao fim o tão aguardado e aclamado Project Japan, cobiçado por Shimokobe há pouco tempo, mas já desejado há anos pelos Metabolistas; em substituição, o governo japonês investe no mercado livre, sobretudo no campo da arquitetura, o que agrava a situação da sobrevivência do Metabolismo em escala nacional, e o movimento perde sua força total na década de 90 após a crise na especulação imobiliária. O fim do movimento de avant-garde japonês, porém, impulsiona futuros projetos ao redor do mundo, tendo em vista sua popularidade no cenário internacional (Imagem 37). ____

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Este caderno foi impresso em papel pรณlen 75g, formato a5, fonte SanFrancisco.


メ タ ボ リ ズ ム

1960


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